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TGNJ Exame

O documento discute a teoria geral do negócio jurídico, definindo-o como um ato autônomo da vontade que tem como objetivo produzir efeitos jurídicos. Distingue entre fatos naturais e jurídicos, e entre atos jurídicos simples e negócios jurídicos, com base na relevância da vontade funcional. Também diferencia negócios jurídicos unilaterais e bilaterais com base no número de partes envolvidas e nas obrigações decorrentes.

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Vera Abreu
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O documento discute a teoria geral do negócio jurídico, definindo-o como um ato autônomo da vontade que tem como objetivo produzir efeitos jurídicos. Distingue entre fatos naturais e jurídicos, e entre atos jurídicos simples e negócios jurídicos, com base na relevância da vontade funcional. Também diferencia negócios jurídicos unilaterais e bilaterais com base no número de partes envolvidas e nas obrigações decorrentes.

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Teoria Geral do Negócio Jurídico – Exame

Relação jurídica: Conceito dogmático que visa explicar a aplicabilidade das normas aos factos da vida; numa
perspectiva material, é uma relação entre duas ou mais pessoas, sendo de que de um lado alguém é titular de um
direito e do outro lado, alguém está sujeito a um dever.

Activo Tem o poder

Sujeito

Passivo Adstrito ao dever

Poder

Imediato Binómio

Dever
Objecto

Realidade jurídica Objecto do


Relação Jurídica
Mediato sobre o qual recai direito subjectivo
o poder-dever

Constituição da
uma relação
jurídica

Modificação da
Todo o evento produtor de
Facto uma relação
efeitos jurídicos
jurídica

Constitui o conjunto de Extinção da uma


meios coercivos que relação jurídica
Garantia
asseguram a posição do
sujeito activo

Vontade humana é
irrelevante. Os
Facto natural ou
efeitos jurídicos
facto jurídico em
produzem-se
sentido estrito ou
independentement
facto involuntário
e da vontade
humana

Desconforme à
Ilíticto
ordem jurídica
Facto Jurídico Critério da relevância
da vontade

Conforme à ordem
Lícito
jurídica

Vontade humana é
relevante para a Efeitos decorrem
Acto jurídico directamente da
produção de efeito Quase
jurídico lei; projecção da negócio
Simples ou em própria lei. Basta
sentido restrito haver vontade de
acção. Ex: escrever Operações
um livro => direitos jurídicas
Relevância da vontade de autor
funcional

Efeitos decorrem
Negócio jurídico da vontade dos
autores do negócio

1
Critério da relevância da vontade funcional: distingue os actos jurídicos simples e o negócio jurídico.

- Para o NJ tem de haver vontade funcional.

- No AJS é irrelevante existir vontade funcional. Basta haver vontade de acção.

• Vontade de acção: vontade de actuar no mundo ontológico, material, quer por acção,
quer por omissão (despedida de intencionalidade).
• Vontade de declaração: vontade de que aquela actuação tenha um significado
declarativo (para um ou vários destinatários).
• Vontade funcional: vontade de produzir efeitos jurídicos com aquela declaração (não
há vontade funcional sem vontade de ação e vontade de declaração).

Negócio jurídico: acto autónomo da vontade tendente à produção de efeito jurídico.

- Principal instrumento no âmbito da autonomia privada o espaço de auto-regulação de interesses; o


nosso espaço de liberdade de acção.

vs heteronomia, espaço de intervenção do Estado nas


nossas vidas (lei e decisões judiciais).

Receptício: tem
um destinatário;
eficácia = poder ou
Pode provir mais conhecimento;
Uma só parte. Ex: 224º/1, 1ª parte
do que uma
Unilateral Testamento;
declaração de
procuração.
vontade Não receptício:
vontade
declarante
manifestada na
forma dequada;
224º/1, 2ª parte

Critério do n.º de
Negócio Jurídico
partes
Obrigação para
Unilateral uma das partes. Ex:
Doação; mútuo

Critério das
obrigações

Duas ou mais
Bilateral (contrato)
partes. Ex: Doação.
Bilateral imperfeito Ex: Comodato

Obrigações para as
Bilateral ou
duas partes. Ex:
sinalagmático
Compra e venda

Excepção Relação de corespectividade: só se entrega a coisa


428ºCC se houver pagamento do preço e vice-versa

Parte = suporte de interesse. De uma parte pode provir mais do que uma declaração de vontade: se houver mais de
uma pessoa na mesma parte, poderá haver várias declarações de vontade.
2
NULIDADE E ANULABILIDADE

Nulidade: O negócio nulo não produz, desde o início, por força da falta ou vício de um elemento interno ou formativo,
os efeitos a que tendia.

Regime da nulidade:

a) Operam «ipso iure» ou por força do direito. Não se torna necessário intentar uma acção ou emitir uma
declaração nesse sentido, nem sequer uma sentença judicial prévia, e podem ser declaradas oficiosamente pelo
tribunal (art. 286.°).

b) São invocáveis por qualquer pessoa interessada, isto é, pelo sujeito de qualquer relação jurídica afectada,
na sua consistência jurídica ou prática, pelos efeitos a que o negócio se dirigia (art. 286.°).

c) São insanáveis pelo decurso do tempo, isto é, são invocáveis a todo o tempo (art. 286.°).

d) São insanáveis mediante confirmação (art. 288.°). Pode ter lugar aqui um sucedâneo da confirmação: a
chamada renovação ou reiteração do negócio nulo.

Há algumas diferenças entre a confirmação e a renovação. A confirmação é um negócio unilateral; a renovação, nos
contratos nulos, é um novo contrato. A confirmação tem efeito retroactivo, mesmo em relação a terceiros; a
renovação opera ex nunc.

Se as partes renovam o negócio nulo, não se verificando já o motivo da nulidade, a retroactividade é meramente
obrigacional, isto é, vincula só as partes sem ser oponível a terceiros.

A renovação pode ter lugar por declaração tácita nos termos gerais, mas exige o conhecimento da nulidade.

Anulabilidade: O negócio anulável, não obstante a falta ou vício de um elemento interno ou formativo, produz os seus
efeitos e é tratado como válido, enquanto não for julgada procedente uma acção de anulação; exercido, mediante
esta acção, o direito potestativo de anular pertencente a uma das partes, os efeitos do negócio são retroactivamente
destruídos.

Regime da anulabilidade:

O negócio anulável é, em princípio, apesar do vício, tratado como válido. Se não for anulado, no prazo legal e pelas
pessoas com legitimidade, passa a ser definitivamente válido. Se for anulado, no tempo e forma devidos, considera-
se que os efeitos visados não se produziram desde o início, como nunca tendo tido lugar.

a) Têm de ser invocadas pela pessoa dotada de legitimidade. Não podem ser declaradas oficiosamente pelo
juiz. Exigem uma acção especialmente destinada a esse efeito.

b) Só podem ser invocadas por determinadas pessoas e não por quaisquer interessados. O artigo 287° declara
que só têm legitimidade para arguir a anulabilidade os titulares do interesse para cuja específica tutela a lei a
estabeleceu.

c) São sanáveis pelo decurso do tempo. O CC estabelece o prazo de um ano para a arguição das anulabilidades.
Na hipótese dos actos afectados por ilegitimidades conjugais, o prazo máximo é de três anos.

Quanto ao momento a partir do qual se conta o prazo, a lei fixa-o, expressamente, para certas hipóteses: assim, artigos
125° varia com a pessoa legitimada para invocar a anulabilidade) e 1687° (desde a celebração do acto; ou seis meses
desde o seu conhecimento); quando a lei nada disser expressamente, o prazo deve contar-se desde «a cessação do
vício que lhe serve de fundamento» (art. 287°). Por aplicação deste critério, o prazo de um ano deverá começar a
contar desde o conhecimento do erro, do dolo, do negócio consigo mesmo, desde a cessação da coacção, da
incapacidade acidental, do estado de necessidade ou de dependência, etc.
3
A arguição da anulabilidade não está sujeita a qualquer prazo se o negócio não está cumprido; poderá vir-se requerer
a anulação a todo o tempo, quer por via de acção, quer por via de excepção.

d) São sanáveis mediante confirmação (art. 288°). A confirmação é um negócio unilateral, pelo qual a pessoa
com legitimidade para arguir a anulabilidade declara aprovar o negócio viciado.

Trata-se de um negócio jurídico, e como tal, está sujeito aos requisitos gerais de validade dos negócios; só é eficaz, se
for posterior à cessação do vício que fundamenta a anulabilidade.

O fundamento da confirmação é a existência de uma intenção confirmatória, elemento este que exige, por parte do
confirmante, conhecimento do vício e do direito à anulação (art. 288°, nº2).

A confirmação tem eficácia retroactiva, mesmo em relação a terceiro (art. 288°, nº4).

Efeitos contrato CV CONTRATO VÁLIDO CONTRATO NULO CONTRATO ANULÁVEL


Transmissão da propriedade ✓ ✓/ ✓
Obrigação da entrega da coisa ✓ ✓/ ✓
Obrigação do pagamento da coisa ✓ ✓/ ✓
Se A entrega a coisa e Efeitos jurídicos
B paga o preço, não é produzem-se, mas de
o cumprimento da forma provisória ou
obrigação, mas uma precária.
mera prestação de
facto. Tem efeito
restitutivo.

• Negócio anulável é passível de confirmação.


• Negócio nulo é passível de renovação.
• Negócio ineficaz é passível de ratificação.

PRESCRIÇÃO E CADUCIDADE

Formas de extinção de direitos (e dos correspondentes deveres) em consequência do seu não exercício durante um
determinado período de tempo.

Prescrição: 300º a 327º. O direito que prescreve não se extingue; continua-se, enquanto credor, com o poder de
exercer este direito. É um direito mais fraco, débil, onde em vez de exigir, passa apenas a pretender esse pagamento.
Fica então credor à vontade do devedor de pagar, se este invocar a prescrição. Caso o devedor efectuar o pagamento
do valor prescrito, não poderá reaver o esse montante pago.

- Não pode ser conhecida oficiosamente;

- Tem de ser invocada;

- Não pode ser invocada em qualquer fase do processo; só no momento inicial.

4
Caducidade: 328º a 333º. Implica a extinção definitiva do direito (e do correlativo dever), que não subsiste, sequer, a
título de obrigação natural.

- Pode ser conhecida oficiosamente;

- Não precisa de ser invocada por aquele a quem aproveita, embora se encontra na disponibilidade das partes;

- Pode ser alegada em qualquer fase do processo.

** Desvio à regra: artigo 333º -> 303º. A caducidade não pode ser conhecida oficiosamente nem alegada a qualquer
fase do processo = segue o regime da prescrição.

REPRESENTAÇÃO

É a possibilidade de alguém praticar um acto jurídico em nome de outrem, projectando os efeitos jurídicos na esfera
jurídica do representado  artigo 258º. Actuando o procurador nos limites dos poderes que lhe foram conferidos, a
sua actuação vai produzir efeitos jurídicos na esfera jurídica do representado.

Tem duas fontes de atribuição de poderes:

- Legal: é a própria lei a atribuir poderes de representação.

- Voluntária: fonte voluntaria através do NJ (262º e segs). É a procuração que determina os poderes do
representante (procurador).

NJ unilateral atributivo de poderes ao procurador.

É o enunciado da procuração que vai determinar os poderes do procurador.

5
Divergência entre a Vontade Real vs Vontade Declarada + Vícios da vontade:

Simulação Nulidade
(240º-243º) (240º/2)
Divergência
intencional
Regime da validade
Reserva Mental
(244º)
(244º)
Excepção: nulidade

Divergências entre a Declaração não produz


Vontade Real vs Declarações não sérias
efeitos
Vontade Declarada (245º)
(245º)

Falta de consciência da Declaração carece de


declaração qualquer efeito
(246º) (246º)

Declaração carece de
Divergência não Coacção física
qualquer efeito
intencional (246º)
(246º)

Erro na Declaração Anulabilidade


(247º - 250º) (247º)

Validade
Erro sobre os motivos
(parte final 247º)
/ Erro vício
Excepção:
(252º + 251º)
anulabilidade do acto

Dolo Anulabilidade do acto


(253º-254º) (253º)

Coacção moral Anulável


Vícios da vontade
(255º e 256º) (255º)

Incapacidade acidental Anulável


(257º) (257º)

Negócios usurários Anulável


(282º e 283º) (282º)

6
Simulação

Divergência entre a vontade real


e a vontade declarada

Acordo simulatório (entre o


Pressupostos
declarante e o declaratário)

Intenção de enganar terceiros

Simulação Efeitos jurídicos do Nulidade


negócio simulado (240º/2)

Simulação absoluta: apenas um


só negócio fictício que as partes
não quiseram realizar

Tipologia Subjectiva
Simulação relativa: pelo menos
Quanto à natureza do
dois negócios - negócio simulado
negócio
e negócio dissimulado
Objectiva:

Quanto ao valor do
negócio

1. Negócio simulado = nulo: Não há lugar de propagação da nulidade do negócio simulado para o negócio dissimulado
2. O negócio dissimulado deve ser apreciado autonomamente. Devem procurar-se normas que nos deem indicações
quanto à validade/nulidade/anulabilidade.
3. Do ponto de vista formal, há propagação da forma do negócio simulado ao negócio dissimulado.

Simulação relativa e negócios simulados (241º):

- Por detrás do negócio simulado temos o negócio dissimulado, conforme o artigo 241º/1, que refere que
perante a nulidade do negócio simulado, em regra o negócio dissimulado não é afectado, é válido. Temos
então de olhar para o caso prático em questão para verificar a validade do negócio dissimulado.

- 241º/2: quando há exigência da formalidade, validade apenas se for observada a forma exigida por lei. Ex.
Simulação CCV de imóvel; Dissimulação Doação de imóvel. 3 soluções possíveis:

* Se o negócio dissimulado não prescreveu a forma que lhe é exigível por lei, é nulo por falta de forma.

* Desde que o negócio simulado tenha seguido a forma exigível para o negócio dissimulado, este
último aproveita a forma do negócio simulado, significando que o negócio está cumprido (posição mais
seguida pelos tribunais).

* Uma posição intermédia defende que a determinação terá de ser feita caso a caso, havendo uma
análise do negócio em particular e verificar se estão os elementos essenciais do negócio dissimulado. Em caso
afirmativo, a forma do negócio dissimulado, aproveita-se a forma do negócio simulado.

7
243º vs 291º: mecanismo de defesa de terceiros de boa fé

- 243º: norma específica da simulação; mais ampla e começa logo a operar desde o momento do negócio
simulado e aplica-se a qualquer tipo de negócio simulado. Esta norma dá uma protecção menor, porque diz apenas
respeito aos simuladores e protege qualquer terceiro de boa fé (com ou sem culpa).

- 291º: norma geral da invalidade. De aplicação mais restrita; apenas a negócios aplicáveis a bens imóveis e
móveis sujeitos a registo e para negócios onerosos, aplicando-se também apenas a partir do 3º ano da celebração do
do negócio. Esta norma protege o terceiro de boa fé (sem culpa) dos simuladores e de qualquer outro terceiro. A
aquisição deverá ser também anterior ao registo da acção de anulação.

Dolo

1. Qualquer sugestão ou artifício de

Pressupostos 2. Induzir ou manter em erro o autor da


(253º/1) declaração

3. Intenção de induzir ou manter em erro ou


dissimulação (pelo declaratário ou terceiro) do
erro da declaração
Dolo

Anulabilidade da declaração
(254º/1) pelo declarante. Dolo bilateral:
anulável por ambas as partes

Efeitos jurídicos do dolo


254º/2 - Dolo de terceiro: anulável se
declaratário conhecia ou devia conhecer; senão
válida para declaratário, mas anulável para
beneficiário terceiro se autor do dolo ou
conhecia ou devia conhecer do dolo

8
Erro sobre os motivos na formação da vontade

Erro sobre a pessoa do Anulabilidade da declaração (247º/2ª parte):


declaratário 1. se o declaratário conhecesse ou não devesse ignorar
2. a essencialidade (para o declarante) do elemento sobre o
(251º) qual incidiiu o erro

Erro sobre o objecto do


negócio
(251º)
Erro sobre os motivos
(251º e segs)
Erro com reconhecimento
pelas partes da
essencialidade do motivo Anulabilidade da declaração

(252º/1, parte final)

Erro sobre a base do Anulação: regime da resolução


negócio ou modificação do contrato por
alteração das circunstâncias
(252º/2) (437º)

Determinação do erro na formação da vontade (251º a 254º):

252º/1: Norma
base 4

251º 252º/2

253º-254º
Erro sobre a
Erro sobre o Erro sobre a base
pessoa do
objecto 1 do negócio 3
declaratário 2
Erro qualificado
por dolo
1. Recai sobre circunstâncias
Objecto material essenciais comuns às duas
partes, 2. sendo em regra
bilateral.

Objecto jurídico
1 ,2 ,3 e 4= passos a seguir para determinar
qual o erro na formação da vontade.

9
Casos práticos aulas:

1. A VENDE RELOGIO X AO B POR 50€ (…) pegou no relógio e levou a ele.

20 dias após, A vendeu aquele mesmo relógio a C.

Diga a quem pertence o relógio.

A B

1.º Momento 2.º Momento 10 dias 3.º Momento


C (20 dias)

- 1.º Momento: A diz que vende o relógio a B por 50€.

Não é contrato; são necessárias duas partes.

Produziu efeito jurídico? Sim. Por A ter dito a B que lhe vendia o relógio por 50€, temos um facto jurídico  Artigo
224º/1: Proposta contratual. É uma declaração destinada a contratar, inequívoca e formalmente adequada. Ou seja,
o A pretende vender de forma inequívoca e essa declaração é feita com a forma adequada.

- Efeitos produzidos? A partir do momento que a proposta chega ao poder e conhecimento de B, a proposta
tornou-se eficaz. Assim, o A fica num estado de sujeição e B fica com direito potestativo de aceitar ou não aceitar a
proposta, estabelecendo-se aqui uma relação entre A e B.

Tipo de facto jurídico: negócio jurídico unilateral.

- 2.º Momento: A leva relógio a B e tem 10 dias para decidir.

Actuação de B a partir do 10º dia: B não teve nenhum comportamento por acção, mas sim por omissão através do
silêncio. Mantendo-se B em silêncio, temos de perceber se leva ou não à conclusão do contrato:

- Artigos 217º e 218º: Por força do 218º, o silêncio não vale como declaração (apenas o seria se houvesse
acordo das partes nesse sentido ou os costumes assim o ditassem).

 Não havendo aceitação por B em virtude do seu silêncio, o relógio continua a ser propriedade de A.

MAS, se o A disse: “toma o relógio e se não me disseres nada em 10 dias, é teu”.

- O B ao nada dizer e a levar o relógio, acabou por aceitar tacitamente o acordo, onde a 218º tem neste caso,
excepcionalmente, o silêncio vale como meio declarativo.

 Podemos então concluir que o silêncio de B equivale a uma aceitação da proposta, havendo assim
um contrato de compra e venda (art. 847º, 879º e 408º/1), tendo neste momento efeitos reais (imediata
transferência do direito de propriedade da esfera jurídica de A para a esfera jurídica de B) e efeitos
obrigacionais (obrigação de entrega, onde o B já tem o relógio, e a obrigação de pagamento do preço por B ao
A). O B passou a ser proprietário do relógio.

****408/1: o efeito real dá-se por mero efeito contrato. Significa 2 coisas: 1) basta o título do contrato (sem
necessidade de pagar nem entregar) e 2) o efeito real dá-se no momento em que o contrato está concluído. ****

10
- 3.º Momento: A vende relógio a C.

Não sendo A o proprietário do relógio, este contrato é um contrato que não tem a virtualidade de transmitir o direito
de propriedade uma vez que o direito de propriedade já não está na esfera jurídica de A, mas sim de B.
Consequentemente, é uma compra e venda de bens alheios que não produz efeitos reais.

2. No dia 1 de Outubro, A enviou um email a B dizendo: “vendo-te o relógio XPTO pelo preço de 100 euros. Espero
resposta em 10 dias”.

Três dias depois, A vendeu o relógio a C.

Quatro dias depois, A recebeu um email de B, no qual este dizia que aceitava a proposta.

A quem pertence o relógio?

A B

1.º Momento: 1 2.º Momento: 3 3.º Momento: 4 10 dias


outubro dias: venda a C dias, B aceita
C proposta

- 1.º Momento: Email de A ao B

Temos uma proposta contratual nos termos do 224º e seguintes. Aqui, o B fica com o direito potestativo de aceitar ou
não aceitar e o A fica num estado de sujeição. A continua a ser proprietário do relógio.

Ao dar 10 dias para responder, por força do 228º, a proposta contratual tem um prazo de eficácia de 10 dias. B fica
com o poder de, durante esses 10 dias, quando quiser, concluir esse contrato de compra e venda aceitando a proposta,
não sendo preciso A fazer nada para que se conclua o contrato.

- 2.º Momento: venda do relógio a C

Há contrato de compra e venda (art. 847º, 879º e 408º/1), tendo-se produzido os seus efeitos normais. O direito de
propriedade passou par aa esfera jurídica de C.

- 3º Momento: Aceitação da proposta por B por email.

Virtualidade da mensagem é que se concluiu o contrato de compra venda entre A e B: há uma declaração de aceitação
que só ganha eficácia em que chega ao poder e conhecimento de A. Assim, quando o contrato de compra e venda já
está celebrado entre A e B, o relógio já pertence a C. Poderá haver uma responsabilidade civil pré-contratual de A
perante B, e ele vai responder pelos danos que poderá eventualmente ter causado.

11
3. A e B celebraram um contrato de compra e venda, pelo qual o primeiro vendeu ao segundo e este comprou uma
moradia. O contrato foi feito por escritura pública no cartório notarial.

Ficou convencionado na escritura pública que o preço seria pago no prazo de 15 dias.

Passados 3 dias, A e B trocaram mensagens de email, nos quais o 2.º dizia ao 1.º, que precisava de mais 15 dias para
pagar o preço e este respondia dizendo que nada tinha a obstar.

O preço foi pago 30 dias depois de celebrar o contrato, sendo que A vem pretende exigir a B juros de mora.

Quid iuris?

1.º Momento 2.º Momento 3.º Momento 4.º Momento

Contrato CV 3 dias: troca de 15 dias: pagamento 30 dias: pagamento


com escritura emails-mais tempo previsto do imóvel efectivo do imóvel.
pública = nova proposta

Principal problema: tem de pagar juros ou não?

- 1.º Momento: Contrato de compra e venda com celebração de escritura pública.

875º: contrato de compra e venda tem uma forma de contrato solene. Neste caso, foi feito por escritura pública. Tudo
válido.

- 2.º, 3.º e 4º Momentos

Questão colocada: declaração posterior complementar à escritura: validade? Não seguiu a forma exigida para o
contrato! Tem de o fazer, ou não?

- 221º/1: as declarações complementares, em regra, seguem a mesma forma exigida para o contrato A NÃO
SER QUE, para esse acordo complementar, não procedam as mesmas razões de forma que procedem para o próprio
contrato (princípio da liberdade de forma).

- 221/2: qualquer alteração posterior ao contrato tem de seguir a regra e a forma do contrato, A NÃO SER QUE
as razões para as quais se exige forma para o contrato não se apliquem à declaração complementar.

Assim, temos de saber as razões de forma para aquele contrato, ou seja, porque se exige forma para
aquele contrato, e depois olhar para a declaração complementar e perceber se para aquela declaração
complementar se aplicam as mesmas declarações de forma.

Porque é que se exige forma solene para a CV de imóveis? Razões de segurança (408º/1) e publicidade, que têm a ver
essencialmente com o efeito real da compra e venda.

A declaração complementar tem a ver com o pagamento do preço = efeito obrigacional. Para as partes alargarem o
prazo, procedem da mesma forma do que para a CV? Pagar o preço ou não intervém de alguma forma com a
transferência de propriedade? Não!

- Para esta declaração complementar posterior, por força do 221º/2, não é exigível a mesma forma do que é
exigível para o contrato. Para esta declaração complementar, vigora o princípio da liberdade de forma. Assim sendo,
a declaração complementar é perfeitamente válida. Neste sentido, houve uma prorrogação de prazo.

12
Logo, não estava em atraso do cumprimento  não havia atraso no pagamento  não havia lugar ao pagamento de
juros de mora.

**** Se para o mesmo caso, o contrato tinha uma cláusula resolutiva expressa que dizia que o preço seria pago no
prazo de 15 dias e, havendo incumprimento desta obrigação, o vendedor poderá resolver de imediato este contrato
sem a necessidade de qualquer interpelação.

Esta cláusula implica o afastamento do artigo 886º. Neste caso em concreto, a resolução seria praticamente a mesmo
onde, volvidos os 15 dias o contrato ficaria resolvido em vez de pedir juros de mora. O que se discutiria era novamente
a validade desse acordo, e nesse caso, seria duvidoso se o raciocínio anterior se aplicasse. Estaríamos mais próximos
de aplicar a regra das declarações complementares seguirem a mesma forma do contrato porque o pagamento do
preço ou o não pagamento do mesmo(221º/2) pode bulir com o efeito real possibilitando a resolução do contrato.
Logo, a alteração do prazo eventualmente teria de obedecer à mesma forma, teria de haver um aditamento à escritura
pública. ****

**** Se o contrato fosse feito com reserva de propriedade (409º) até o pagamento integral do preço. Aqui o
pagamento do preço teria um efeito automático na transferência da propriedade. Registo de propriedade serve
também para efeito de terceiros. Neste caso, o acordo complementar teria de obedecer à mesma forma e, mesmo
para ser oponível a terceiros, teria de ser registado. Não obedecendo à mesma forma, esse acordo seria nulo e não
teria nenhum efeito. ****

4. A enviou a B o relógio XPTO acompanhado de uma carta com o seguinte teor: “Envio-te o relógio que tu tanto gostas,
estando disposto a vendê-lo por 50€. Fico a aguardar a tua resposta por 10 dias”.

9 dias depois, B fez uma transferência bancária para A de 50€. 15 dias depois, e como B nada disse, A vendeu o mesmo
relógio a C.

A quem pertence o relógio?

A B
1.º Momento: 2.º Momento: 9 10 dias 3.º Momento:
envio relógio dias transf. 15 dias
C com carta bancária de B

- 1º Momento: Envio de relógio e carta de A para B.

Temos uma proposta contratual nos termos do 224º e seguintes. Aqui, o B fica com o direito potestativo de aceitar ou
não aceitar e o A fica num estado de sujeição. A continua a ser proprietário do relógio.

Ao dar 10 dias para responder, por força do 228º, a proposta contratual tem um prazo de eficácia de 10 dias. B fica
com o poder de, durante esses 10 dias, quando quiser, concluir esse contrato de compra e venda aceitando a proposta,
não sendo preciso A fazer nada para que se conclua o contrato.

13
- 2.º Momento: Transferência bancária de B para A.

B não diz directamente que aceitava, mas teve um comportamento do qual retiramos com toda a probabilidade que
ele quis aceitar. Significa que o depósito do preço valerá como declaração tácita de aceitação (artigo 217º). Este
contrato de CV do relógio vigora o princípio da liberdade de forma (219º). Logo, quer o envio pela carta do relógio por
A, quer depois a aceitação tácita por parte de B não estava sujeito a nenhuma aceitação com forma especial, e como
tal, neste momento, há conclusão do contrato de CV (874º, 879º e 408º/1). O B passou a ser titular do direito de
propriedade do relógio. Quanto às obrigações, já se verificaram o pagamento do preço por B e a entrega da coisa por
A, estando estes efeitos cumpridos.

- 3.º Momento: Venda de A a C do relógio ao 15º dia

B aceitou tacitamente a proposta, logo quando A vende ao C o relógio, já não é proprietário do relógio, tratando-se
de uma CV de bens alheios, que não produz qualquer efeito real.

Em conclusão, B é proprietário do relógio.

5. A prometeu vender a B e este prometeu comprar o apartamento X. Foi convencionado que o contrato de CV seria
celebrado daí a 1 mês.

Daí a 10 dias, A vendeu aquele mesmo apartamento a C, que não registou o facto aquisitivo.

Decorridos mais 3 dias, A vendeu aquele mesmo apartamento a D que de imediato registou o facto aquisitivo.

Analise e determine as consequências dos factos enunciados e conclua dizendo qual a posição jurídica que vingará face
ao imóvel.

A B
1.º Momento: 2.º Momento: 3.º Momento: 30 dias
promessa CV a B 10 dias; A vende 13 dias; A vende
NR R
C D aC aD

- 1.º Momento: A promete vender apartamento X a B.

Contrato de promessa de CV: as partes estão a vincular-se para, no futuro, celebrar um contrato de CV  só resultam
efeitos obrigacionais. Não há efeitos reais: o direito de propriedade mantém-se na esfera jurídica de A. Ou seja, daí a
30 dias o A está obrigado a vender e o B está obrigado a comprar.

- 2.º Momento: A vendeu apartamento X a C.

Ao vender ao C, está a colocar em causa o contrato de promessa CV que fez com B.

Entre A e C temos um contrato de CV (874º, 879º e 408º/1). O C passou a ser titular do direito de propriedade do
imóvel. Quanto às obrigações, há a obrigação da entrega da coisa e a obrigação do pagamento do preço.

14
- 3.º Momento: A vendeu apartamento X a D.

A, quando vende o apartamento X a D, já não tem o direito de propriedade, porque já passou para C. À primeira vista,
parece que A está a vender algo que não lhe pertence.

Contudo, tratando-se de um bem imóvel, está sujeito a registo; ou melhor, os factos que produzem efeitos
relativamente aos bens imóveis é que estão sujeitos a registo.

Neste caso, importa perceber o efeito que o registo predial tem. Pelas regras do código do registo predial (CRPredial):
Artigo 4.º

Eficácia entre as partes

1 - Os factos sujeitos a registo, ainda que não registados, podem ser invocados entre as próprias partes ou seus herdeiros.

2 - Excetuam-se os factos constitutivos de hipoteca cuja eficácia, entre as próprias partes, depende da realização do registo.

Artigo 5.º

Oponibilidade a terceiros

1 - Os factos sujeitos a registo só produzem efeitos contra terceiros depois da data do respetivo registo.

2 - Excetuam-se do disposto no número anterior:

a) A aquisição, fundada na usucapião, dos direitos referidos na alínea a) do n.º 1 do artigo 2.º;

b) As servidões aparentes;

c) Os factos relativos a bens indeterminados, enquanto estes não forem devidamente especificados e determinados.

3 - A falta de registo não pode ser oposta aos interessados por quem esteja obrigado a promovê-lo, nem pelos herdeiros destes.

4 - Terceiros, para efeitos de registo, são aqueles que tenham adquirido de um autor comum direitos incompatíveis entre si.

5 - Não é oponível a terceiros a duração superior a seis anos do arrendamento não registado.

Artigo 6.º

Prioridade do registo

1 - O direito inscrito em primeiro lugar prevalece sobre os que se lhe seguirem relativamente aos mesmos bens, por ordem da data dos
registos e, dentro da mesma data, pela ordem temporal das apresentações correspondentes.

2 - [Revogado].

3 - O registo convertido em definitivo conserva a prioridade que tinha como provisório.

4 - Em caso de recusa, o registo feito na sequência de recurso julgado procedente conserva a prioridade correspondente à apresentação
do ato recusado.

Assim, no que diz respeito ao registo dos bens imóveis, o contrato CV continua a ser um bem intransmissível (art.
408º/1 CC) e continua a transmitir o direito de propriedade, e enquanto não está registado, o acto é válido mas não
está plenamente eficaz. Essa plena eficácia só se ganha com o ónus do registo (ónus = comportamento que alguém
deve adoptar para retirar uma vantagem jurídica que lhe é dada pela ordem jurídica). Ao registar, ganha-se a vantagem
de a minha posição passar a ser oponível a erga omnes, ou seja, não dá direitos e apenas os concede.

Neste caso, A vendeu o bem a C e o direito de propriedade passou a ser de C. Mas, ao não registar, C não tem
oponibilidade erga omnes.

Contudo, A celebra contrato CV com D e este leva o contrato a registo. Com esta acção, o artigo 6.º/1 do CRPredial diz
que goza de prioridade na sua posição jurídica, e ao gozar dessa prioridade a sua posição passa a ser oponível erga
omnes (artigo 5º/1 CRPredial). Assim, o imóvel será propriedade de D.
15
6. António enviou uma mensagem de correio electrónico a Carmen, recebido no dia 1, propondo a venda de um
determinado quadro, pela quantia de 1500€ e solicitando resposta até o dia 10.

Suponha as seguintes hipóteses:

1. No dia 10, Carmen enviou um email a António que, em virtude de um problema do servidor de correio
electrónico, só foi por esse recebido no dia 11. No dia 12, António vendeu o quadro a Pedro. A quem pertence
o quadro?

2. Na situação do ponto anterior, a mensagem chegou à caixa de correio electrónico no dia 10 mas só foi lida por
António no dia 13. A solução será a mesma?

1º Momento: 2.º Momento: Dia 11; email da Dia 12; António 3.º Momento:
dia 1; envio dia 10; Carmen Carmen chega vende a Pedro Dia 13; António
proposta responde (erro servidor) lê email
contratual

- 1.º Momento: Envio da proposta contratual por António.

Ao enviar um email a propor a venda de um quadro a Carmen, António fez uma proposta contratual, de acordo com
o artigo 224º e seguintes do CC. Aqui, Carmen fica com o direito potestativo de aceitar ou não aceitar e o António fica
num estado de sujeição.

Ao dar 10 dias para responder, por força do 228º, a proposta contratual tem um prazo de eficácia de 10 dias. Carmen
fica com o poder de, durante esses 10 dias, quando quiser, concluir esse contrato de compra e venda aceitando a
proposta, não sendo preciso António fazer nada para que se conclua o contrato.

- 2.º Momento: Resposta depois do prazo (erro servidor) e venda a Pedro.

Devido a um erro do servidor de email, a resposta que Carmen enviou dia 10 (dentro do período de eficácia), apenas
foi recebida por António no dia 11 (fora do período de eficácia). Terá então de ser analisada se a resposta de C levou
à conclusão ou não do contrato.

A regra da eficácia da declaração negocial receptícia consta do 224º/1, onde a declaração torna-se eficaz quando chega
ao poder OU conhecimento

Chegar ao alcance de alguém com a possibilidade de conhecimento.

Assim, a resposta de Carmen a António para ser eficaz, teria de chegar ao seu poder ou conhecimento até o final do
dia 10, algo que não aconteceu, mesmo apesar de enviada atempadamente. Por força do 224º/1, não houve, desta
forma, conclusão do contrato.

Do 229º não resulta nenhuma solução para esta situação. Aplicar-se-ia com o princípio da boa-fé, em que avisaria a
Carmen da ausência de resposta ou resposta tardia, podendo ainda ter a faculdade de aceitação tardia da resposta.

Mas neste caso, António não quis dar por boa a resposta porque vendeu o quadro de imediato a Pedro no dia 12.
Desta forma, a venda feita a Pedro é válida e eficaz (874º, 879º e 408º/1).

- 3.º Momento: António lê email dia 13.

Neste caso, tendo o email chegado atempadamente ao poder e conhecimento de António, e, consequentemente, este
tinha condições de conhecer a aceitação, por força do 224º/1, a aceitação ganha eficácia, independentemente da sua
leitura ter sido apenas no dia 13.

16
Assim, Carmen é proprietária do quadro, tendo havido conclusão do contrato aquando da aceitação da proposta no
seu período de eficácia.

**** No caso de uma carta com aviso de recepção, não estando o destinatário e o carteiro deixa o aviso: se eu não for levantar, a carta vai
embora dos correios  não chegou ao poder nem ao conhecimento. Aplica-se, contudo, o artigo 224º/2, onde só por culpa do
destinatário é que não houve conhecimento da informação.

Tratando-se de um email apagado inadvertidamente, aplica-se o artigo 224º/3. ****

7. António, no dia 5/10/2019, enviou a Bento uma carta com o seguinte teor:

“Vendo-te o apartamento X, o qual já te enviei a respectiva documentação, pelo preço de 50 000€, e vendo-te
também o veículo XX-00-XX que tu já conheces por 10 000€.”

No dia 14/10/2019, António recebeu na sua conta bancária a quantia de 60 000€ proveniente de uma transferência de
Bento. No dia 15/10/2019, António vendeu o apartamento X e o automóvel a Carlos.

A quem pertencem os bens?


9 dias 1 dia

Dia 5; envio Dia 14; António Dia 15; António


proposta contratual recebe 60 000€ vende a Carlos
a Bento de Bento

- Venda apartamento X.

Não existe uma proposta contratual, dado que a declaração tem de ser formalmente adequada (artigo 219º), ou seja,
a declaração terá de visar a forma adequada para o contrato que visa celebrar. No caso de um bem imóvel, a CV desta
tipologia de bens só será válida se celebrada por escritura pública ou documento particular autenticado (875º CC).
Desta forma, esta carta enviada de António a Bento não é uma proposta contratual uma vez que não é formalmente
adequada, sob pena do contrato ser nulo (220º), não produzindo quaisquer efeitos jurídicos (286º e 289º). Neste caso
temos apenas um convite à contratação.

Assim, António continua a ser proprietário do apartamento até que o vende a Carlos. Aí, Carlos ficará como
proprietário do apartamento (874º, 879º e 408º/1).

- Venda automóvel.

Quanto à venda do automóvel, há uma declaração firme, inequívoca e formalmente adequada. Ao enviar uma carta a
propor a venda de um automóvel a Bento, António fez uma proposta contratual, de acordo com o artigo 224º e
seguintes do CC. Aqui, Bento fica com o direito potestativo de aceitar ou não aceitar e o António fica num estado de
sujeição.

António não determinou o tempo de eficácia para aceitação da proposta. Contudo existe um princípio geral de direito
que afirma que as situações jurídicas não se estendem ad eternum. Daí, recorre-se ao artigo 228º/1, al. b) e c). Desta
forma, convencionando que a carta demoraria a chegar 3 dias a chegar a cada destinatário (António e Bento), e
tomando o prazo afixado na alínea c) do 228º/1 (5 dias), o prazo de eficácia desta proposta contratual seria de 11 dias.
Ora, uma vez que a resposta de Bento foi dada ao 9º dia, está ainda dentro do limite do prazo de eficácia.

Quanto à forma da resposta, Bento fê-lo através de uma transferência bancária. Não houve uma manifestação directa
da vontade, mas sim um comportamento do qual retiramos com toda a probabilidade que ele quis aceitar, significando
que a transferência valerá como declaração tácita de aceitação (artigo 217º). Ao contrário da situação anterior, neste
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contrato de CV do automóvel vigora o princípio da liberdade de forma (219º). Logo, quer o envio da proposta negocial
por carta, quer depois a aceitação tácita por parte de Bento, não estava sujeito a nenhuma aceitação com forma
especial, e como tal, neste momento, há conclusão do contrato de CV (874º, 879º e 408º/1). O Bento passou a ser
titular do direito de propriedade do automóvel. Quanto às obrigações, já se verificou o pagamento do preço por Bento
e a entrega da coisa por António, estando estes efeitos cumpridos.

Quanto ao negócio efectuado por António no dia 15 da venda do automóvel a Carlos, o contrato de CV não produziu
efeitos reais, dado que se trata de uma venda de bens alheios (892º).

Logo, Bento continua a ser o proprietário do automóvel.


**** Se Carlos efectuasse o registo do automóvel, este já passaria a ser o proprietário uma vez que a venda ganharia plena eficácia.****

8. José escreveu uma carta a Manuel, recebida no dia 2, propondo a venda de uma determinada jóia pela quantia de
150€ e solicitando resposta até o dia 10.

No dia 5, Manuel respondeu, por outra carta, aceitando, tendo o funcionário dos CTT, no dia 6, deixado aviso para
levantar a carta na estação de correios, uma vez que José não se encontrava em casa.

Certo é que a carta acabou por ser devolvida a Manuel, uma vez que José não a foi levantar à estação de correios no
prazo que tinha para tal.

José, no dia 11, vendeu aquela mesma joia a Pedro.

A quem pertence a joia?

3 dias

Dia 2; M recebe Dia 5; M Dia 6; Aviso CTT Dia 10; limite Dia 11; Venda
carta com proposta responde a José proposta joia a Pedro

- 1.º Momento: Envio da proposta negocial.

Ao enviar um email a propor a venda de uma joia a Manuel, José fez uma proposta contratual, de acordo com o artigo
224º e seguintes do CC. Aqui, Manuel fica com o direito potestativo de aceitar ou não aceitar e o José fica num estado
de sujeição.

Ao dar um prazo de resposta até dia 10, força do 228º/1, al. a), a proposta contratual tem um prazo de eficácia de 8
dias. Manuel fica com o poder de, durante esses 8 dias, quando quiser, concluir esse contrato de compra e venda
aceitando a proposta, não sendo preciso José fazer nada para que se conclua o contrato.

Neste contrato de CV da joia vigora o princípio da liberdade de forma (219º). Logo, quer o envio da proposta negocial
por carta, quer depois a aceitação por parte de Manuel, não está sujeita a nenhuma aceitação com forma especial

- 2.º Momento: Devolução da carta de Manuel.

Contudo, e apesar de Manuel ter respondido dentro do prazo de eficácia estabelecido por José, a carta não ficou em
condições de ser imediatamente conhecida, dado que ficou o aviso e não a carta propriamente dita. Mas, por força
do 224º/2, como José não levantou a carta na estação dos correios atempadamente, a carta não foi por ele recebida
por sua culpa exclusiva, comportamento este censurável. Logo, a declaração de aceitação por parte do Manuel é eficaz,
tendo-se concluído o contrato de CV (874º, 879º e 408º/1).

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**** Numa situação destas, ter-se ia de provar que o destinatário não recebeu a carta por sua culpa. Considera-se
que o homem médio teria adoptado outro comportamento, tendo ido buscar a carta. Este tipo de comportamento é
censurável. Mas, caso o José tivesse estado hospitalizado ou se a carta lhe tivesse sido retirado da caixa do correio,
já não se aplicaria o 224º/2.****

- 3-º Momento: Venda da joia a Pedro.

Quanto ao negócio efectuado por António no dia 15 da venda do automóvel a Carlos, o contrato de CV não produziu
efeitos reais, dado que se trata de uma venda de bens alheios (892º).

Logo, Bento continua a ser o proprietário do automóvel.

9. Pedro contratou uma empresa especializada para proceder à entrega de um determinado quadro em casa do seu
filho, João. O quadro ia acompanhado de uma carta, na qual, singelamente, era dito: “Espero que este quadro simbolize
o fim de tantos anos de conflito”.

Um mês depois, Pedro é citado para uma acção judicial proposta pelo seu filho relativa a um diferendo pela propriedade
de um terreno.

Descontente com a situação, Pedro exige a devolução do quadro, sendo que João não o pretende restituir.

Quid iuris?

Entrega quadro 11 dias; prazo de 1 mês; citação Recusa da


eficácia da prova de acção judicial entrega da joia a
Pedro

- 1.º Momento: entrega do quadro a João.

Trata-se de uma proposta de doação nos termos do 224º e seguintes, onde a proposta torna-se eficaz no momento
em que chega ao poder ou ao conhecimento do destinatário (224º/1).

Pedro não determinou o tempo de eficácia para aceitação da proposta. Contudo existe um princípio geral de direito
que afirma que as situações jurídicas não se estendem ad eternum. Daí, recorre-se ao artigo 228º/1, al. b) e c). Desta
forma, convencionando que a carta demoraria a chegar 3 dias a chegar a cada destinatário (Pedro e Bento), e tomando
o prazo afixado na alínea c) do 228º/1 (5 dias), o prazo de eficácia desta proposta de doação seria de 11 dias.

- 2.º Momento: Aceitação da proposta de doação.

Quanto à forma da resposta, João poderá tê-lo feito através da recusa da entrega do quadro. Não houve uma
manifestação directa da vontade, mas sim um comportamento do qual retiramos com toda a probabilidade que ele
quis aceitar a proposta de doação, significando que a sua negação valerá como declaração tácita de aceitação (artigo
217º). Contudo, ao entendermos esta acção como uma aceitação tácita, teria sido feita após o prazo de eficácia da
proposta de doação. Sabemos também que o silêncio, por meio do 218º, não serve como meio declarativo. Pode-se
afirmar então que não se tinha dado como concluído o contrato de doação porque não tinha havido uma declaração
de aceitação. Chegando a esta conclusão, decorreria daqui que Pedro poderia solicitar a devolução do quadro.

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Contudo, esta poderia não ser a melhor solução para este caso concreto. A norma específica constante do 945º/2, que
afirma que, tendo havido uma tradição da coisa ao donatário, e se nada for feito em contrário, considera-se como
tendo havido uma aceitação. Neste caso, João ao não querer o quadro, teria de o devolver. Ora, como ficou com o
quadro 1 mês, representou uma aceitação tácita (217º), onde não houve uma manifestação directa da vontade, mas
sim um comportamento do qual retiramos com toda a probabilidade que ele quis aceitar. Neste cenário, o quadro
seria então propriedade de João.

10. A pretende adquirir a escultura XPTO da autoria de um famoso escultor/pintor. Uma vez que se encontra no
estrangeiro, A passa uma procuração ao seu primo B, do qual consta que lhe atribui poderes para comprar quaisquer
esculturas pelo preço e condições que entender.

Responda às seguintes questões:

1. Munido daquela procuração, B adquire a escultura XXZ, porque entende ser melhor negócio para o primo. Face
a esta situação, A fica desagradado e não pretende ficar com a escultura.

2. Pressuponha agora que B, com aquela procuração, acaba por adquirir o quadro X, daquele mesmo autor,
porque entende ser melhor negócio para o seu primo. Face a esta situação, A fica desagradado e não pretende
ficar com o quadro.

3. Pressuponha na situação do n.º anterior, A, depois de saber que o seu primo tinha comprado o quadro X, fez
uma transferência para a conta de C para pagamento do preço.

4. Na hipótese de ter dado procuração para imóvel na área urbana do Porto, mas o primo ter comprado em
Matosinhos. A ao descobrir esta aquisição, efectua o pagamento do preço.

Quid iuris?

A B C

1. A representação é a possibilidade de alguém praticar um acto jurídico em nome de outrem, projectando os efeitos
jurídicos na esfera jurídica do representado (artigo 258º). Para este caso, há aqui uma representação voluntária (262º
e seguintes), onde teremos de perceber o enunciado da procuração. A atribui poderes a B para comprar quaisquer
esculturas. Tendo B comprado a escultura XXZ (e não a pretendida pelo primo), actuou dentro dos seus poderes. O
negócio celebrado por B com C (escultor) produziu os seus efeitos (874º, 879º e 408º/1), significando que o direito de
propriedade da escultura passou para A e este tem como obrigação o pagamento do preço e C a entrega da coisa.

Tendo já estabelecido que B actuou dentro da sua esfera de poderes, este não se comportou em consonância com o
que representado A queria (escultura XPTO), tendo desvirtuado os poderes que lhe foram conferidos, tendo havido
aqui um abuso de representação (269º). Se a pessoa com que o procurador contratou sabia ou devia saber que estava
a utilizar mal aqueles poderes, por força do 269º e 268º, o negócio pode vir a verificar-se ineficaz. Caso contrário,
havendo abuso de representação do procurador e a pessoa com quem contratou desconhecia esse facto, o negócio
considera-se eficaz. Haverá, contudo, responsabilidade civil do procurador face ao representado.

No nosso caso, há claramente abuso de representação e, aparentando que C não sabia nem devia saber que o B estava
a utilizar mal os poderes que lhe foram conferidos, estamos perante um negócio eficaz.

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2. Nesta alínea, B ao comprar um quadro ao invés de uma escultura, está a agir sem poderes de representação (268º).
Aplicando este artigo, decorre que o negócio é ineficaz e que o negócio não produz os seus efeitos, e o A nada terá de
pagar a C.

3. Apesar do procurador ter celebrado o negócio ineficaz, A entende que quer ficar com aquele negócio. Pode, assim,
ratificar o negócio (268º/2), declarando desta forma que, apesar deste negócio ter sido celebrado sem efeitos, A quer
que o negócio seja eficaz.

Neste caso, tendo havido lugar ao pagamento do quadro que o primo comprou, significa que houve uma ratificação
tácita do negócio (217º).

**** Ratificação = alocação dos efeitos jurídicos. ****

4. A solução não seria a mesma da alínea anterior, dado que a ratificação está sujeita à forma exigida (268º/2),
significando que, a transferência feita por A (uma declaração tácita) não revestiria a forma exigível para o negócio
(875º), que para um imóvel teria de ser um documento particular autenticado ou escritura pública. A ratificação teria
de ser também por um destes meios.

11. Em Setembro de 2012, António doou a seu filho Basílio, um valioso relógio de colecção, ficando, no entanto,
acordado entre ambos que o relógio só passará efectivamente a pertencer ao donatário se este concluísse a sua
licenciatura até ao fim do ano de 2017.

Em 2013, como Basílio ainda estava no primeiro ano, António, convencendo-se que ele nunca acabaria o curso no prazo
apontado, vendeu o relógio a Carlos, a quem informou de tudo.

Basílio é que nunca perdeu a esperança e em 2016, apesar de ainda não ter o relógio na sua posse, vendeu-o a Daniel,
tendo-lhe dado conta do negócio que fizera com o seu pai.

Em Setembro de2017, Basílio obteve aprovação na última disciplina que lhe faltava para o fim da licenciatura.

A quem pertence o relógio?

1.º Momento: 2.º Momento: 3.º Momento: 4.º Momento:


Setembro 2012 2013 2016 2017
Doação
A B
CCV CCV
Doação relógio CCV A-C CCV B-D Conclusão
vz
A-B licenciatura
C D

Doação António a Basílio:

António celebrou um contrato de doação com seu filho Basílio (940º). É um contrato unilateral (gera obrigações para
uma das partes) e gratuito (gera vantagens e desvantagens para uma das partes), onde uma das partes doa a coisa e
a outra parte aceita-a. Assim, de acordo com o artigo 954º com remissão para o 408º/1, é obrigatória a entrega da
coisa. No entanto, e seguindo o princípio da liberdade contratual (405º), António e Joaquim apuseram uma cláusula
acessória, nomeadamente uma condição (270º) que é fazer depender os efeitos do contrato (408º/1) a um facto futuro

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e incerto. Assim, os efeitos do contrato são obstados, não se produzindo na hora. É, portanto, uma condição
suspensiva, pois queriam esperar para verificar se o facto futuro se realizará.

O contrato concluiu-se, é válido só que é ineficaz por não estar a produzir os seus efeitos desde o momento do
contrato. Neste momento, António continua a ser proprietário do relógio.

CCV António e Carlos:

No ano seguinte, convencido de que Basílio não conseguiria acabar o curso atempadamente, António vendeu o relógio
a Carlos. Tem-se um contrato de compra e venda (874º e 879º + 408º/1) que produziu os seus efeitos, pelo que Carlos
passou a ser titular do direito de propriedade, sendo um contrato válido e eficaz.

CCV Basílio e Daniel:

Em 2016, Basílio vende o relógio a Carlos, apesar de não ter o relógio em sua posse. Tem-se um contrato de compra e
venda (874º e 879º) que não produziu os seus efeitos reais (408º/1). Carlos é o proprietário legítimo do relógio.

Preenchimento da condição suspensiva: término da licenciatura por Basílio

Num quarto momento, em 2017, Basílio licenciou-se o que leva ao preenchimento da condição e, consequentemente,
à verificação da eficácia do contrato de doação. Assim, conforme os artigos 276º e 274º, tem-se a regra da
retroatividade da condição, onde a condição operando retroativamente é como se fosse eficaz no primeiro momento.
O 274º refere que todos os negócios feitos na pendencia da condição, ficam à sorte da condição, ou seja, se a condição
se verificar o negócio feito na pendencia é ineficaz, se não se verificar o negócio é eficaz. Pelo que, como a condição
se verificou, o contrato entre António e Carlos tornou-se totalmente ineficaz, padecendo de uma ineficácia relativa
por causa de Basílio. De igual modo, o negócio celebrado entre Basílio e Daniel é eficaz, pelo que, Daniel é o legítimo
titular da propriedade do relógio.

12. António, que pretendia instalar-se com caracter definitivo no Brasil, doou ao seu afilhado Bento uma quinta no
Douro e um apartamento no Porto.

Ficou acordado de, no caso de António voltar para Portugal no prazo de cinco anos, a doação da quinta fica sem efeito.

Dois dias depois de fazerem a escritura pública de doação, António e Bento redigiram um documento que assinaram,
do qual consta que no caso de António regressar com carácter definitivo a Portugal no prazo de cinco anos, a doação
do apartamento também ficaria sem efeito.

Três anos depois, António regressa a Portugal com carácter definitivo. António pretende a restituição dos imóveis, bem
como receber uma compensação pela produção de vinho da quinta relativa a esses 3 anos.

1.º Momento 2.º Momento: 3.º Momento: 4.º Momento:


Dois dias depois 3 anos depois 5 anos depois
Doação
A B

Doação quinta Doc assinado Regresso A a Limite tempo


no Douro A-B: devolução Portugal acordado
escritura apartamento

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Doação da quinta no Douro

António celebra com Bento um contrato de doação (940º), que é um contrato gratuito (gera desvantagens e vantagens
para apenas uma das partes) e unilateral (gera obrigações para uma das partes) onde uma das partes doa a coisa e a
outra parte aceita-a. Assim, de acordo com o artigo 954º com remissão para o 408º/1, é obrigatória a entrega da coisa.
Seguindo o princípio da liberdade contratual (405º), António e Bento apuseram uma cláusula acessória,
nomeadamente uma condição (270º) que é fazer depender os efeitos do contrato (408º/1) a um facto futuro e incerto.
A condição, neste caso, seria o eventual regresso com carácter definitivo do António no prazo de cinco anos a Portugal,
sendo assim uma condição resolutiva. Assim, esta doação produz os seus normais efeitos, onde neste momento o
Bento se tornou titular do direito de propriedade sobre a quinta.

Três anos depois, António regressa a Portugal, tendo-se verificado neste momento o preenchimento da condição
resolutiva (270º, 276º) e o contrato resolve-se nos termos do 432º e seguintes. Como consequência, deverá ser
restituído tudo aquilo que fora prestado, nomeadamente, Bento terá de restituir a quinta a António, conforme este
pretendia.

No que se refere à compensação da quantia pela produção do vinho na pendência da condição (três anos), e conforme
o 277º (não retroactividade), sendo naquele período o Bento quem exerceu o direito de propriedade (que, como
vimos, a doação tinha produzido os seus efeitos), este foi um possuidor de boa fé (1270º), e levou a cabo actos de
administração ordinária no que se refere à quinta (277º/3 e /2, 212º e 213º). Assim, aquele que exercer o direito na
pendência da condição, tem direito aos frutos percebidos nessa pendência, sendo Bento quem tem direito aos frutos,
ou seja, ao vinho produzido e, consequentemente, aos respectivos rendimentos. António não tem, desta forma, razão
em exigir esta compensação.

Doação do apartamento

António celebra com Bento um contrato de doação (940º), que é um contrato gratuito (gera desvantagens e vantagens
para apenas uma das partes) e unilateral (gera obrigações para uma das partes) onde uma das partes doa a coisa e a
outra parte aceita-a. Assim, de acordo com o artigo 954º com remissão para o 408º/1, é obrigatória a entrega da coisa.
Tendo sido feita a escritura pública, esta doação produz os seus normais efeitos, onde neste momento o Bento se
tornou titular do direito de propriedade sobre o apartamento.

Dois dias depois, António e Bento fazem um documento particular que estipula uma condição resolutiva ao contrato
de doação, que determinava que a doação ficaria sem efeito se António regressasse dentro do prazo de cinco anos. A
questão aqui prende-se com a formalidade deste documento (221º/2). Trata-se de saber se, para a estipulação
complementar posterior se aplica a mesma forma exigível para o contrato. Neste caso, a doação foi efectuada através
de escritura pública, tratando-se de uma questão de segurança jurídica e protecção contra terceiros por causa da
transmissão do direito de propriedade por mero efeito de contrato (408º/1). Desta forma, se se preencher os
requisitos da condição resolutiva, vai ter interferência nos efeitos do contrato, resolvendo-o. Assim, esta estipulação
complementar deverá proceder às mesmas razões de forma do contrato de doação (221º/2). Como não seguiu, e por
força do 220º, este contrato é nulo por falta de forma.

23
13. António pretende doar a Bernardo, seu filho mais novo, um imóvel, mas para que Cláudio, Diogo e Eduardo, irmãos
de Bernardo, não fiquem desagradados, António combina com Bernardo fingir que celebra uma escritura pública de
compra e venda de onde constará o preço de 50 000€, que nunca irá ser pago.

Os irmãos consentem a venda, como é exigido por lei (artigo 876º CC), e o contrato é celebrado.

Seis meses depois, os irmãos de Bernardo descobrem o sucedido. Pretendem “impugnar” aquele negócio.

Quis iuris?

Aparentemente temos um contrato de CV (874º, 879º e 408º/1) entre António e Bernardo, onde o Bernardo passou a
ser titular do direito de propriedade do imóvel, tendo aqui efeitos obrigacionais e reais. O que aparentemente consta
da escritura pública é que António vendeu a Bernardo por 50 000€ e Bernardo declarou comprar a António. Mas o que
sabemos é que António quis efectivamente doar o imóvel a Bernardo e Bernardo não pretende pagar pelo mesmo,
tendo aqui uma divergência entre a vontade declarada e a vontade real: há um acordo entre António e Bernardo para
celebrarem algo que não corresponde à sua vontade real, com o objectivo de enganar terceiros. Refira-se ainda que o
acordo entre eles de que a vontade real não corresponde à vontade declarada, com a intenção de enganar terceiros,
um pacto simulatório. Existe, então, um negócio simulado (240º/1). Conforme o 240º/2, o negócio simulado é nulo
(embora seja necessário invocar a nulidade ou que o tribunal a declare oficiosamente, 286º), não produzindo
quaisquer efeitos (289º).

Aqui, o pacto simulatório esconde algo: a doação. Assim por detrás do negócio simulado temos o negócio dissimulado,
conforme o artigo 241º/1, que refere que perante a nulidade do negócio simulado, em regra o negócio dissimulado
não é afectado. Temos então de olhar para o caso prático em questão para verificar a validade do negócio dissimulado.
Sendo a doação de um imóvel temos como requisito a formalidade do contrato (219º e 875º), onde o 241º/2 exige
que, para o negócio dissimulado ser válido, terá de ser observada a forma exigida por lei. Contudo, a formalidade do
contrato decorreu sobre uma compra e venda, e não sobre a dita doação, como era realmente pretendido por António
e Bernardo. Pode aplicar-se assim uma de três soluções possíveis:

- O negócio simulado é nulo (240º/2), tal como o negócio dissimulado, por falta de forma (241º/2, 875º; 447º
e 220º);

- O negócio simulado é nulo (240º), mas o negócio dissimulado é válido (241º/2), uma vez que o negócio
simulado seguiu a forma exigível para o negócio dissimulado, onde este último aproveita a forma do negócio simulado;

- Perante a análise deste caso em particular, verificam-se que estão presentes os elementos essenciais do
negócio dissimulado, aproveitando-se assim a forma do negócio simulado (241º/2).

Assim, sendo o negócio simulado nulo (240º/2), por força do 242º/2 e do 286º, os herdeiros têm legitimidade para
invocar a nulidade do negócio simulado. Ao fazê-lo, em princípio, o negócio dissimulado será válido, por aplicação do
241º/1. Como estamos perante um negócio dissimulado formal (947º), teremos de confrontar com as três posições
doutrinárias existentes para verificar se o negócio dissimulado seguiu a forma que lhe era exigida. Seguindo a posição
mais defendida pela jurisprudência, pode o negócio dissimulado aproveitar a formalidade do negócio simulado (CCV
feito por escritura pública), sendo, então, válido.

24
14. António, que tem várias dívidas e está com dificuldade em pagá-las, combina com Berta vender-lhe o único bem
que tem, para assim subtraí-lo aos credores. Celebram uma escritura pública de compra e venda, sendo certo que
nunca veio a ser pago qualquer preço.

Um ano depois, Berta vende aquele imóvel a Carlos, que nada sabia quanto ao sucedido.

a) António veio a descobrir o sucedido e quer reaver o imóvel. Quid iuris?

b) Pressuponha agora que, quatro anos depois, Berta fez aquela venda a Carlos. Dois meses depois da venda,
Daniel, credor de António, quer “impugnar” os negócios de forma a que o imóvel volte ao património do
devedor. Quid iuris?

1.º Momento: 2.º Momento: 3.º Momento: 4.º Momento:


1 ano depois 4 anos depois 4 anos, 2 meses
CCV CCV
A B C
Acção CCV A-B CCV B-C CCV B-C Acção D
(a) (b)
D

a) CCV António a Berta

Aparentemente temos um contrato de CV (874º, 879º e 408º/1) entre António e Berta, onde a Berta passou a ser
titular do direito de propriedade do imóvel, tendo aqui efeitos obrigacionais e reais. O que aparentemente consta da
escritura pública é que António vendeu a Berta e Berta declarou comprar a António. Mas o que sabemos é que António
não quis vender a Berta e Berta não pretende comprar a António, tendo aqui uma divergência entre a vontade
declarada e a vontade real: há um acordo entre António e Berta para celebrarem algo que não corresponde à sua
vontade real, com o objectivo de enganar terceiros (credores de António). Existe, então, um negócio simulado
(240º/1). Conforme o 240º/2, o negócio simulado é nulo (embora seja necessário invocar a nulidade ou que o tribunal
a declare oficiosamente, 286º), não produzindo quaisquer efeitos (289º).

CCV Berta a Carlos

Um ano depois, Berta vendeu o imóvel a Carlos. Tem-se um aparente contrato de compra e venda (874º e 879º +
408º/1) que produziu os seus efeitos, pelo que Carlos passou a ser titular do direito de propriedade, sendo um contrato
válido e eficaz.

António pretende reaver o imóvel

Após ter conhecimento da venda que Berta fez a Carlos, este quer o imóvel de volta. Desta forma, A pode invocar a
nulidade do negócio simulado (242ª), pretendendo com isso que haja também nulidade do negócio entre Berta e
Carlos. Teremos, assim, de analisar se este negócio será também anulável.

Em relação ao negócio simulado, C é terceiro. Desta forma, dado que havia desconhecimento do ocorrido, Carlos é
um terceiro de boa fé. Verificando o disposto no 243º, verifica-se que Carlos está protegido contra a invocação da
nulidade de António. Quanto ao disposto no 291º, Carlos não está protegido por esta norma dado que não decorreram
ainda 3 anos sobre a celebração do negócio.

Em conclusão, Carlos continua a ser o aparente proprietário do imóvel, dado que a nulidade invocada por António terá
efeito apenas sobre CCV simulado entre ele e Berta. Conforme já foi dito, Carlos está protegido enquanto terceiro de
boa fé pelo disposto no 243º.

25
b) Nesta questão aparece outro terceiro, o Daniel, que se presume estar também de boa fé nesta situação para poder
atacar os negócios inicias para cobrar as dívidas a António, porque é interessado (286º) e credor (605º), tendo uma
legitimidade especial acrescida. Consequentemente, coloca-se a questão se o outro terceiro, Carlos, está protegido.

Analisamos novamente o 243º e 291º. Carlos não está protegido pelo 243º, porque apenas o protege dos simuladores
e de outro terceiro que esteja de má fé, o que não parece ser o caso. Logo, Carlos não está protegido pelo 243º.
Quando à segunda hipótese, verifica-se que já se passaram mais de três anos sobre a data de celebração do negócio,
estando cumprido o requisito dos 3 anos. Potencialmente, o Carlos poderá estar protegido pelo 291º. Importa verificar
no /1 deste artigo ver se os requisitos estão todos preenchidos ou não. Analisando bem, verifica-se que se cumprem
os requisitos referentes aos bens imóveis, foi feito o negócio a título oneroso, pressupõe-se que a acção de nulidade
foi posta após o registo, e o terceiro (Carlos) estava de boa fé. Verifica-se, assim que Carlos está protegido pelo 291º.

Assim, Daniel poderá invocar a nulidade do negócio, contudo este será declarado ineficaz, dado que Carlos está
protegido pelo 291º. Assim, o imóvel continua na esfera jurídica de Carlos.

**Se esta situação tivesse sido aplicada dentro do período dos 3 anos, Carlos não estaria protegido pelo 293º nem
pelo 291º.

15. Abel vivia desesperado devido à grande quantidade de dívidas que havia contraído nos últimos tempos.

Receando perder a sua vivenda sita em Mirandela, propõe ao seu amigo Belmiro que, para enganar os credores, que
este aceite comprar a referida vivenda. Seria uma mera manobra de diversões para não ver a sua casa vendida em
hasta pública. Quando todos os problemas estivessem ultrapassados, Belmiro devolveria a casa.

Obtida a concordância de Belmiro, no dia 1 de Abril de 2007, celebram o negócio. Nesse dia 3, Belmiro regista a
aquisição do imóvel.

A 10 de Maio de 2008, Belmiro resolve doar o mesmo imóvel a Célio, que ignorava o que se tinha passado entre aquele
e Abel, tendo, também, registado de imediato a aquisição.

Responda às seguintes questões:

c) Abel, indignado, interpõe no dia 2 de Abril de 2009 uma acção em Tribunal para reaver o imóvel. Quid
iuris?

d) E se, a 5 de Março de 2012, Inácio, credor de Abel, interpusesse e registasse uma ação para que o imóvel
voltasse ao património de Abel? Seria procedente?

1.º Momento: 2.º Momento: 3.º Momento: 4.º Momento: 5.º Momento:
1 Abril 2007 3 Abril 2007 10 Maio 2008 2 Abril 2009 5 Março 2009
CCV Doação
A B C
Acção
CCV A-B B regista Doação B-C; C Abel interpõe Inácio interpõe
I aquisição de regista imóvel acção acção
imóvel

a) CCV António a Belmiro

Aparentemente temos um contrato de CV (874º, 879º e 408º/1) entre António e Belmiro, onde o Belmiro passou a ser
titular do direito de propriedade do imóvel, tendo aqui efeitos obrigacionais e reais. O que aparentemente consta da
escritura pública é que António vendeu a Belmiro e Belmiro declarou comprar a António. Mas o que sabemos é que
26
António não quis vender a Belmiro e Belmiro não pretende comprar a António, tendo aqui uma divergência entre a
vontade declarada e a vontade real: há um acordo entre António e Belmiro para celebrarem algo que não corresponde
à sua vontade real, com o objectivo de enganar terceiros: Existe, então, um negócio simulado (240º/1). Conforme o
240º/2, o negócio simulado é nulo (embora seja necessário invocar a nulidade ou que o tribunal a declare
oficiosamente, 286º), não produzindo quaisquer efeitos (289º).

Doação Belmiro a Célio

António celebra com Belmiro um contrato de doação (940º e seguintes), que é um contrato gratuito (gera
desvantagens e vantagens para apenas uma das partes) e unilateral (gera obrigações para uma das partes) onde uma
das partes doa a coisa e a outra parte aceita-a. Assim, de acordo com o artigo 954º com remissão para o 408º/1, é
obrigatória a entrega da coisa. Aparentemente, parece também que este contrato produziu os seus efeitos. Assim,
formalmente, face a Célio, é este o legítimo proprietário do imóvel em causa. Estando este negócio dependente da
nulidade do negócio anterior (CCV António a Belmiro), António ao descobrir o eu Belmiro havia feito, não tem outra
solução senão ir a tribunal invocar a nulidade daquele negócio para poder reaver o seu imóvel (242º). Teremos então
de perceber se A, ao invocar a nulidade do negócio, irá produzir qualquer efeito na posição jurídica de Célio, que em
relação ao negócio do CCV é terceiro. Importa saber se Célio está protegido; assim, deve-se analisar em primeiro lugar
a inoponibilidade da simulação a terceiros de boa fé (243º) que é a forma especial. Se aqui Célio não estiver protegido,
aplica-se o artigo 291º (inoponibilidade da nulidade e da anulação), que se trata do regime geral. Verifica-se assim que
no 243º ao proteger-se o terceiro de boa fé do simulador, Célio está protegido por este artigo, significando que esta
nulidade não é oponível, mantendo-se a sua posição jurídica intacta. Analisando o artigo 291º, este só se poderá aplicar
3 anos após a celebração do negócio; tendo passado apenas 2 anos sobre a celebração do negócio (2007-2009), Célio
não está protegido por este artigo.

Em conclusão, Célio está protegido pois o simulador, António, não pode invocar a nulidade contra si, sendo sua a
vivenda.

b) Inácio Interpõe acção

Nesta questão aparece outro terceiro, o Inácio, que se presume estar também de boa fé nesta situação para poder
atacar os negócios inicias para cobrar as dívidas a António, porque é interessado (286º) e credor (605º), tendo uma
legitimidade especial acrescida. Consequentemente, coloca-se a questão se o outro terceiro, Célio, está protegido.
Analisamos novamente o 243º e 291º. Célio não está protegido pelo 243º, porque apenas o protege dos simuladores
e de outro terceiro que esteja de má fé, o que não parece ser o caso. Logo, Célio não está protegido pelo 243º. Quando
à segunda hipótese, verifica-se que já se passaram mais de três anos sobre a data de celebração do negócio, estando
cumprido o requisito dos 3 anos. Potencialmente, o C poderá estar protegido pelo 291º. Importa verificar no /1 deste
artigo ver se os requisitos estão todos obedecidos ou não. Analisando bem, verifica-se que se cumprem os requisitos
referentes aos bens imóveis e pelo terceiro de boa fé; contudo este artigo aplica-se a título oneroso. Tendo sido doado
o imóvel a Célio, obteve-o a título gratuito, não estado, por isso, protegido pelo 291º.

Assim, Inácio ao invocar a nulidade do negócio, esta será declarada, senso assim o negócio ineficaz, não estado apto
a produzir os seus efeitos. Ademais, o bem que estava na esfera jurídica de Célio, passa novamente para a esfera
jurídica de António.

27
16. António, pensando que tinha ganho o primeiro prémio do Euromilhões, doou a sua casa ao seu melhor amigo Bento.

Uma semana depois, António veio a descobrir que, afinal, não tinha ganho o dito prémio e tudo não passara de um
tremendo engano.

Consequentemente, António interpela Bento pedindo-lhe a restituição do apartamento. Bento opõe-se a tal, alegando
que nada sabia. Quid iuris?

1.º Momento 2.º Momento 3.º Momento 4.º Momento


Doação
A B

A: Euromilhões Doação A-B Engano Pedido


restituição
apartamento

Como ganhou um prémio avultado, António celebra com Bento um contrato de doação (940º), que é um contrato
gratuito (gera desvantagens e vantagens para apenas uma das partes) e unilateral (gera obrigações para uma das
partes) onde uma das partes doa a coisa e a outra parte aceita-a. Assim, de acordo com o artigo 954º com remissão
para o 408º/1, é obrigatória a entrega da coisa. Esta doação produz os seus normais efeitos, onde neste momento o
Bento se tornou titular do direito de propriedade sobre o apartamento.

Contudo, após alguns dias, António percebe afinal que não houve prémio nenhum, tendo havido aqui um vício que
interferiu na formação da vontade, o erro (falsa representação da realidade), levando a uma declaração da vontade
que não corresponde à sua vontade real (247º). É, desta forma, necessário determinar a essencialidade do erro para
se determinar o porquê ter doado o apartamento. António ao pensar que lhe tinha saído o euromilhões, caiu em erro
essencial para o caso em análise, pois de outra forma nunca teria doado o seu apartamento a Bento. Desta forma, não
é um erro sobre a base do negócio porque as circunstâncias essências não são comuns às duas partes, sendo assim
um tipo de erro que cai na norma base, um erro sobre motivos em geral (252º/1). Não havendo as partes acordado
sobre a essencialidade do motivo (a doação do apartamento a Bento apenas aconteceria porque António tinha ganho
um prémio avultado), este negócio continua válido e não é, assim, anulável por António, sendo a Bento a quem
pertence o direito de propriedade do apartamento.

17. António, conhecido por ser benemérito, reiteradamente ajudava quem mais precisava. Em determinada altura,
convicto que Beatriz era sua sobrinha, resolveu doar-lhe 5 000€, o que veio a fazer.

Beatriz, por seu lado, ficou convencida que tinha sido mais uma das pessoas ajudadas por António.

1. Um mês depois, António veio a descobrir que, afinal, Beatriz não é sua sobrinha e pretende reaver os 5 000€.
Quid iuris?

2. Suponha que Manuel, namorado de Beatriz, a quem António disse a razão pela qual ia fazer a doação,
manteve-se em silêncio nada tendo dito a António nem a Beatriz. Quid iuris?

1. DOAÇÃO DOS 5 000€ DE ANTÓNIO A BEATRIZ

António celebrou um contrato de doação com Beatriz (940º). É um contrato unilateral (gera obrigações para uma das
partes) e gratuito (gera vantagens e desvantagens para uma das partes), onde uma das partes doa a coisa e a outra
parte aceita-a. Assim, de acordo com o artigo 954º com remissão para o 408º/1, é obrigatória a entrega da coisa. Neste
momento, Beatriz é a proprietária dos 5 000€.

28
ANTÓNIO PRETENDE REAVER VALOR DOADO

Contudo, um mês depois, António percebe afinal que Beatriz não é sua sobrinha, tendo havido aqui um vício que
interferiu na formação da vontade, o erro (falsa representação da realidade), levando a uma declaração da vontade
que não corresponde à sua vontade real (247º). É, desta forma, necessário determinar a essencialidade do erro para
se determinar o porquê ter doado o dinheiro. António ao pensar que Beatriz era sua sobrinha, caiu em erro essencial
para o caso em análise, pois de outra forma nunca teria doado o valor em causa. Trata-se assim de um erro sobre a
pessoa do declaratário, uma vez que António, o declarante, formou uma declaração com erro ao declaratário, a
Beatriz, dado que pensava que ela era sua sobrinha quando, efectivamente, não o era (251º CC).

De acordo com o 247º CC, os requisitos de anulação são a essencialidade e a cognoscibilidade. Conforme analisado
anteriormente, o requisito da essencialidade está preenchido. No que se refere à cognoscibilidade da essencialidade
do declaratário, este não conhecia da essencialidade do motivo para a doação, uma vez que António, sendo
benemérito e que ajudava sempre quem precisava, Beatriz não conhecia nem se apercebe que haveria uma condição
para a doação – ser sobrinha de António, não percebendo que o declarante estava em erro. Desta forma, o negócio
não é anulável, não podendo António reaver o dinheiro da doação feita a Beatriz.

2. Em relação a este negócio, Manuel é um terceiro. Tendo António dito a Manuel que ia doar a quantia a Beatriz
por ser sua sobrinha, passou assim a ter conhecimento da essencialidade do negócio, embora não tenha divulgado
nem a um ou a outro o erro. Nesta situação, e ainda decorrente da situação anterior, continuamos a ter um erro sobre
a pessoa do declaratário; contudo, o Manuel ao não informar o António, usou de dolo por omissão (253º/1 CC) criando
uma situação de erro qualificado por dolo de terceiros. Aplicando o regime do dolo (254º), verifica-se que o 254º/2 1ª
parte se aplica aos casos onde o dolo é proveniente de terceiros, onde a anulabilidade apenas se aplica se Beatriz tinha
ou devia ter conhecimento do dolo. Como a Beatriz não tinha conhecimento deste dolo, não é anulável. Quanto à 2ª
parte deste mesmo artigo, aplica-se aos casos em que a pessoa que praticou o dolo recebeu algum benefício em
relação à declaração, ou seja, no nosso caso, se o Manuel tivesse adquirido directamente algum direito por virtude da
declaração de António, o que não parece ter acontecido. Logo, também neste caso, o negócio também não será
anulável.

**** Consideremos que António tivesse dito à Beatriz que ia doar o valor por ser sua sobrinha, e se esta estaria realmente convicta que era sua
sobrinha, Manuel sabia que não era verdade e não esclareceu nenhum dos intervenientes neste negócio. Da mesma forma que foi analisado
anteriormente, pelo 254º/2, o negócio não seria anulável. MAS teríamos de verificar se, de acordo com o 247º se verificam as condições da
essencialidade e da cognoscibilidade. Neste caso, a essencialidade está verificada. Quanto à cognoscibilidade, também se verifica dado que
Beatriz sabia da essencialidade para o declarante do elemento sobre o qual incidiu o erro. O negócio seria, neste caso, anulável. ****

29
Exames:

18. Zacarias adquiriu, em Janeiro de 2015, uma fracção autónoma (pelo preço de 100 000€), em razão de o vendedor
(Teotónio) lhe ter assegurado que teria uma área bastante superior do que os restantes imóveis mostrados nas visitas
efectuadas. Zacarias, imediatamente após a compra, constata que a área do apartamento é muito mais exígua.

Em Março de 2016, Zacarias instaura uma acção judicial no sentido de procurar, pelo menos, reaver o dinheiro
entregue. Terá sucesso? Teotónio poderá opor-se a tal pretensão com eficácia?

Zacarias adquiriu uma fracção autónoma convicto de que a sua área era bastante superior aos restantes imóveis que
lhe foram mostrados, o que de facto não era, tendo havido aqui um vício que interferiu na formação da vontade, o
erro sobre os motivos (falsa representação da realidade), levando a uma declaração da vontade que não corresponde
à sua vontade real (247º). É, desta forma, necessário determinar a essencialidade do erro para se determinar o porquê
de Zacarias ter adquirido o referido imóvel. Ao pensar que o imóvel era de área maior, caiu em erro essencial para o
caso em análise, pois de outra forma nunca teria adquirido aquele imóvel. Trata-se assim de um erro sobre o objecto
do negócio, uma vez que Zacarias adquiriu um imóvel de área inferior à que desejava (251º CC). De acordo com o 247º
CC, os requisitos de anulação são a essencialidade e a cognoscibilidade. Conforme analisado anteriormente, o requisito
da essencialidade está preenchido. No que se refere à cognoscibilidade da essencialidade do declaratário, este
conhecia claramente da essencialidade do motivo para a compra daquele imóvel. Desta forma, o negócio poderá ser
anulável, podendo Zacarias reaver o dinheiro entregue.

Existe também aqui outro aspecto a analisar, que é o facto do vendedor lhe ter induzido em erro por sugestão ou
artifício ao ter afirmado que aquele imóvel era de maior área, quando na verdade, não o era, verificando-se o dolo por
acção por parte de Teotónio (253º/1). Será, também, pelo 254º/1 anulável a declaração.

Quanto ao prazo para arguir a anulabilidade, a partir do momento que Zacarias constasse que a área do apartamento
era mais exígua do a que lhe foi levado a crer, teria o prazo de 1 ano para arguir a anulabilidade (287º). Como já passou
mais de um ano (14 meses), o direito de anulação por Zacarias caducou. Como neste caso a caducidade é estabelecida
em matéria não excluída da disponibilidade das partes (333º/2), não é apreciada oficiosamente e segue o regime da
prescrição (303º), tendo o Teotónio de a invocar de forma a opor-se com sucesso à acção judicial instaurada por
Zacarias.

30
19. Em Janeiro de 2013, Aníbal vendeu uma moradia a Bento, que registou a aquisição e declarou um preço mais baixo
para evitar o pagamento de impostos. Um ano após, Bento vende o referido imóvel a Carlos que registou a aquisição
e desconhecia em absoluto o que se tinha passado anteriormente.

1. Analise o negócio celebrado entre A e B.

2. Em Junho de 2015, quem era o proprietário da moradia?

3. A poderá reaver a moradia em Junho de 2016?

1.º Momento: 2.º Momento: 3.º Momento: 4.º Momento:


CCV CCV Janeiro 2013 Janeiro 2014 Junho 2015 Junho 2016
R R
A B C

CCV A-B; B CCV B-C; C Proprietário A reaver


regista regista moradia? moradia?

1. CCV Aníbal e Bento

Trata-se de uma simulação relativa objectiva em relação ao valor do negócio. Aparentemente temos um contrato de
CV (874º, 879º e 408º/1) entre Aníbal e Bento, onde a Bento passou a ser titular do direito de propriedade do imóvel,
tendo aqui efeitos obrigacionais e reais. O que aparentemente consta da escritura pública é que Aníbal vendeu a Bento
por determinado valor e Bento declarou comprar a Aníbal por esse valor. Mas o que sabemos é que Aníbal não quis
vender a Bento e Bento não pretende comprar a Aníbal pelo valor declarado, tendo aqui uma divergência entre a
vontade declarada e a vontade real: há um acordo entre Aníbal e Bento para celebrarem algo que não corresponde à
sua vontade real, com o objectivo de enganar terceiros (fisco). Existe, então, um negócio simulado (240º/1). Conforme
o 240º/2, o negócio simulado é nulo (embora seja necessário invocar a nulidade ou que o tribunal a declare
oficiosamente, 286º), não produzindo quaisquer efeitos (289º).

Aqui, o pacto simulatório esconde algo: o verdadeiro valor do CCV. Assim por detrás do negócio simulado temos o
negócio dissimulado, conforme o artigo 241º/1, que refere que perante a nulidade do negócio simulado, em regra não
existe propagação da nulidade para o negócio dissimulado, ou seja, não é afectado pela nulidade do negócio simulado.
Temos então de olhar para o negócio dissimulado do caso prático de forma autónoma para verificar a sua validade.
Tratando-se de um imóvel, temos como requisito a formalidade do contrato (219º e 875º), onde o 241º/2 exige que,
para o negócio dissimulado ser válido, terá de ser observada a forma exigida por lei. Pode ser adoptada uma de três
posições doutrinárias:

- O negócio simulado é nulo (240º/2), tal como o negócio dissimulado, por falta de forma (241º/2, 875º; 447º
e 220º);

- O negócio simulado é nulo (240º), mas o negócio dissimulado é válido (241º/2), uma vez que o negócio
simulado seguiu a forma exigível para o negócio dissimulado, onde este último aproveita a forma do negócio simulado;

- Perante a análise do caso em particular, verificam-se se estão presentes os elementos essenciais do negócio
dissimulado, aproveitando-se ou não, assim, a forma do negócio simulado (241º/2).

Como estamos perante um negócio dissimulado formal (947º), teremos de perceber se o negócio dissimulado seguiu
a forma que lhe era exigida. Seguindo a posição mais defendida pela jurisprudência, pode o negócio dissimulado
aproveitar a formalidade do negócio simulado (CCV feito por escritura pública), sendo, então, válido. Por fim, Bento
será o legítimo proprietário do imóvel.

2. CCV Bento a Carlos

Mais de dois anos depois, Bento vendeu o imóvel a Carlos. Tem-se um contrato de compra e venda (874º e 879º +
408º/1) que produziu os seus efeitos, pelo que Carlos passou a ser titular do direito de propriedade, sendo um contrato
válido e eficaz.
31
3. Aníbal pretende reaver o imóvel

Em Junho de 2016, Aníbal quer o imóvel de volta. Desta forma, este pretende invocar a nulidade do negócio simulado
(242º), pretendendo com isso que haja também nulidade do negócio entre Bento e Carlos. Teremos, assim, de analisar
se este negócio será também anulável.

Em relação à primeira venda entre Aníbal e Bento, verifica-se que o negócio é válido, não é nulo, dado que se
produziram os efeitos reais e obrigacionais do negócio. Quanto à venda entre Bento e Carlos, sendo o negócio anterior
válido, Bento era o legítimo proprietário na altura deste negócio, significando que este segundo contrato de compra
e venda é também válido e eficaz, passando Carlos a ser o seu legítimo proprietário.

Em conclusão, Carlos continua a ser o proprietário do imóvel, dado que a nulidade invocada por Aníbal não terá
qualquer efeito.

32
20. Em 1 de Outubro do ano passado, Abel outorga procuração a Bruna, conferindo-lhe poderes para venda de uma
joia por preço não inferior a 10 000€.

Em 8 de Outubro, Carla envia a Bruna, por carta, proposta de compra da joia por 15 000€. Bruna recebe a carta a 10
de Outubro e toma conhecimento do seu teor a 12 de Outubro.

Entretanto, no dia 11 de Outubro, Bruna, encontrara Daniela que lhe propôs comprar a joia por 11 000€, dando um
prazo de 5 dias para a resposta.

No dia 14 de Outubro, Bruna, que não gostava de Carla, vende, em nome de Abel, a joia a Daniela (que nada sabia
quanto à proposta de Carla) por 11 000€.

Abel, sabendo da proposta de Carla, indignado, pretende impugnar a venda a Daniela e vender a joia a Carla.

1. Terá sucesso?

2. Como responderia à pergunta anterior se a venda da joia a Daniela fosse pelo preço de 8 000€?

1. A representação é a possibilidade de alguém praticar um acto jurídico em nome de outrem, projectando os efeitos
jurídicos na esfera jurídica do representado (artigo 258º). Para este caso, há aqui uma representação voluntária (262º
e seguintes), onde teremos de perceber o enunciado da procuração. Abel atribui poderes a Bruna para vender a joia
por preço não inferior a 10 000€. Tendo Bruna vendido por 11 000€ a Daniela, actuou dentro dos seus poderes. O
negócio celebrado por Bruna com Daniela produziu os seus efeitos (874º, 879º e 408º/1), significando que o direito
de propriedade da joia passou para Daniela e esta tem como obrigação o pagamento do preço e Abel a entrega da
coisa.

Tendo já estabelecido que Bruna actuou dentro da sua esfera de poderes, resta verificar se houve um abuso de
poderes. A procuração é muito lata (vender acima dos 10 000€) e não estipula a venda pelo melhor preço.
Evidentemente, Bruna deveria ter vendido pelo melhor preço, contudo escolheu vender pelos 11 000€ ao invés dos
15 000€ propostos por Carla, não tendo salvaguardado os interesses de Abel. Verificando-se um abuso de poderes,
tem de se perceber se o acto foi eficaz. Se a pessoa com que o procurador contratou sabia ou devia saber que estava
a utilizar mal aqueles poderes, por força do 269º e 268º, o negócio pode vir a verificar-se ineficaz. Caso contrário,
havendo abuso de representação do procurador e a pessoa com quem contratou desconhecia esse facto, o negócio
considera-se eficaz. Haverá, contudo, responsabilidade civil do procurador face ao representado.

No nosso caso, como Daniela não sabia nem devia saber que o Bruna estava a abusar dos poderes que lhe foram
conferidos, estamos perante um acto válido. Portanto, Abel não terá sucesso.

2. Nesta alínea, Bruna ao vender a joia por um valor inferior a 10 000€, está a agir sem poderes de representação
(268º/1). Aplicando este artigo, decorre que o negócio é ineficaz e não produz os seus efeitos (874º, 879º e 408º/1),
sendo que Abel terá sucesso em anular este acto.

33
21. Em Janeiro de 2015, Aloísio vendeu uma moradia a Belchior (que registou a aquisição).

1. Foi declarado um preço mais baixo (100 000€) do que o real (200 000€), para evitar o pagamento de impostos.

Em Janeiro de 2016, Belchior vende o referido imóvel a Carlos, que pagou, no acto, o valor de 50 000€, sendo
que o remanescente do preço seria pago em 5 prestações semestrais idênticas.

Este não registou a aquisição, desconhecendo, em absoluto, o que se tinha passado anteriormente.

i) Em Fevereiro de 2016, quem era o proprietário da moradia?

ii) Suponha agora que Belchior informou Carlos que “a área da moradia era de 320m 2” sendo que
efectivamente o imóvel não ultrapassava os 275m 2. Carlos toma conhecimento deste facto, em
Fevereiro de 2017, quando “consulta a caderneta predial” e pretende reagir. Analise todos os meios
de reação ao alcance de Carlos e avalie o seu eventual sucesso.

2. Admita agora que o negócio realizado tinha como único propósito a fuga de Aloísio ao fisco. Belchior, 18 meses
volvidos, vendeu o imóvel a Rodrigo (que sabia que algo se tinha passado na venda anteriormente realizada,
mas não quis averiguar), que registou a aquisição.

i) Aloísio, que desde logo conheceu a venda a Rodrigo, pretende arguir a invalidade dos actos realizados.
Terá sucesso?

ii) E se fosse Ulisses, credor de Aloísio, 38 meses após a venda fictícia, que pretende reagir. Terá êxito?

1. 1.º Momento: 2.º Momento: 3.º Momento: 4.º Momento:


CCV CCV Janeiro 2015 Janeiro 2016 Fevereiro 2016 Fevereiro 2017
R
A B C

CCV A-B CCV B-C Proprietário? C descobre área


imóvel

i) CCV Aloísio e Belchior

Trata-se de uma simulação relativa objectiva em relação ao valor do negócio.

Aparentemente temos um contrato de CV (874º, 879º e 408º/1) entre Aloísio e Belchior, onde a Belchior passou a ser
titular do direito de propriedade do imóvel, tendo aqui efeitos obrigacionais e reais. O que aparentemente consta da
escritura pública é que Aloísio vendeu a Belchior por determinado valor e Belchior declarou comprar a Aloísio por esse
valor. Mas o que sabemos é que Aloísio não quis vender a Belchior e Belchior não pretende comprar a Aloísio pelo
valor declarado, tendo aqui uma divergência entre a vontade declarada e a vontade real: há um acordo entre Aloísio
e Belchior para celebrarem algo que não corresponde à sua vontade real, com o objectivo de enganar terceiros (fisco).
Existe, então, um negócio simulado (240º/1). Conforme o 240º/2, o negócio simulado é nulo (embora seja necessário
invocar a nulidade ou que o tribunal a declare oficiosamente, 286º), não produzindo quaisquer efeitos (289º).

Aqui, o pacto simulatório esconde algo: o verdadeiro valor do CCV. Assim por detrás do negócio simulado temos o
negócio dissimulado, conforme o artigo 241º/1, que refere que perante a nulidade do negócio simulado, em regra não
existe propagação da nulidade para o negócio dissimulado, ou seja, não é afectado pela nulidade do negócio simulado.
Temos então de olhar para o negócio dissimulado do caso prático de forma autónoma para verificar a sua validade.
Tratando-se de um imóvel, temos como requisito a formalidade do contrato (219º e 875º), onde o 241º/2 exige que,
para o negócio dissimulado ser válido, terá de ser observada a forma exigida por lei. Pode ser adoptada uma de três
posições doutrinárias:

- O negócio simulado é nulo (240º/2), tal como o negócio dissimulado, por falta de forma (241º/2, 875º; 447º
e 220º);

34
- O negócio simulado é nulo (240º), mas o negócio dissimulado é válido (241º/2), uma vez que o negócio
simulado seguiu a forma exigível para o negócio dissimulado, onde este último aproveita a forma do negócio simulado;

- Perante a análise do caso em particular, verificam-se se estão presentes os elementos essenciais do negócio
dissimulado, aproveitando-se ou não, assim, a forma do negócio simulado (241º/2).

Como estamos perante um negócio dissimulado formal (947º), teremos de perceber se o negócio dissimulado seguiu
a forma que lhe era exigida. Seguindo a posição mais defendida pela jurisprudência, pode o negócio dissimulado
aproveitar a formalidade do negócio simulado (CCV feito por escritura pública), sendo, então, válido. Por fim, Belchior
será o legítimo proprietário do imóvel.

CCV Belchior a Carlos

Um ano depois, Belchior vendeu o imóvel a Carlos. Tem-se um contrato de compra e venda (874º e 879º + 408º/1)
que produziu os seus efeitos, pelo que Carlos passou a ser titular do direito de propriedade, sendo um contrato válido
e eficaz.

Considerando a falta de registo do imóvel por Carlos, a sua posição jurídica não é oponível a erga omnes, dado que o
registo não dá direito e apenas os concede.

Em conclusão, em Fevereiro de 2016, Carlos é o proprietário do imóvel.

ii) Carlos adquiriu o imóvel convicto de que a sua área era de 320m2, o que de facto não era (275m2), tendo havido
aqui um vício que interferiu na formação da vontade, o erro sobre os motivos (falsa representação da realidade),
levando a uma declaração da vontade que não corresponde à sua vontade real (247º). É, desta forma, necessário
determinar a essencialidade do erro para se determinar o porquê de Carlos ter adquirido o referido imóvel. Ao pensar
que o imóvel era de área maior, caiu em erro essencial para o caso em análise, pois de outra forma nunca teria
adquirido aquele imóvel. Trata-se assim de um erro sobre o objecto do negócio, uma vez que Carlos adquiriu um
imóvel de área inferior à que lhe tinha sido informado (251º CC). De acordo com o 247º CC, os requisitos de anulação
são a essencialidade e a cognoscibilidade. Conforme analisado anteriormente, o requisito da essencialidade está
preenchido. No que se refere à cognoscibilidade da essencialidade do declaratário, este conhecia claramente da
essencialidade do motivo para a compra daquele imóvel. Desta forma, o negócio poderá ser anulável, podendo Carlos
reaver o dinheiro entregue.

Existe também aqui outro aspecto a analisar, que é o facto do vendedor lhe ter induzido em erro por sugestão ou
artifício ao ter afirmado que aquele imóvel era de uma determinada área, quando na verdade, não o era, verificando-
se o dolo por acção por parte de Teotónio (253º/1). Será, também, pelo 254º/1 anulável a declaração.

Quanto ao prazo para arguir a anulabilidade, a partir do momento que Carlos constasse que a área do apartamento
era mais exígua do a que lhe foi levado a crer, teria o prazo de 1 ano para arguir a anulabilidade (287º). Como já passou
mais de um ano (13 meses), o direito de anulação por Carlos caducou. Como neste caso a caducidade é estabelecida
em matéria não excluída da disponibilidade das partes (333º/2), não é apreciada oficiosamente e segue o regime da
prescrição (303º), tendo o Belchior de a invocar de forma a opor-se com sucesso à acção judicial instaurada por Carlos.

2. 1.º Momento: 2.º Momento: 3.º Momento:


CCV CCV Janeiro 2015 Julho 2016 Março 2018
A BR RR

CCV A-B CCV B-R Ulisses pretende


reagir

i) CCV Aloísio a Belchior


35
Aparentemente temos um contrato de CV (874º, 879º e 408º/1) entre Aloísio e Belchior, onde a Belchior passou a ser
titular do direito de propriedade do imóvel, tendo aqui efeitos obrigacionais e reais. O que aparentemente consta da
escritura pública é que Aloísio vendeu a Belchior e Belchior declarou comprar a Aloísio. Mas o que sabemos é que
Aloísio não quis vender a Belchior e Belchior não pretende comprar a Aloísio, tendo aqui uma divergência entre a
vontade declarada e a vontade real: há um acordo entre Aloísio e Belchior para celebrarem algo que não corresponde
à sua vontade real, com o objectivo de enganar terceiros (fisco). Existe, então, um negócio de simulação absoluta
(240º/1), onde existe apenas um negócio fictício que as partes não quiseram realizar. Conforme o 240º/2, o negócio
simulado é nulo (embora seja necessário invocar a nulidade ou que o tribunal a declare oficiosamente, 286º), não
produzindo quaisquer efeitos (289º). O direito de propriedade do imóvel fica, assim, na esfera jurídica de Aloísio.

CCV Belchior a Rodrigo

18 meses depois, Belchior vendeu o imóvel a Rodrigo. Não sendo Belchior o proprietário do imóvel, este contrato é
um contrato que não tem a virtualidade de transmitir o direito de propriedade, uma vez que o direito de propriedade
não está na esfera jurídica de Belchior, mas sim, como vimos, de Aloísio. Consequentemente, trata-se de uma compra
e venda de bem alheio (892º) que não produz efeitos reais, já que ninguém pode transmitir direitos que não tem –
princípio do nemo plus iuris (240º/2). É, em conclusão, um contrato nulo.

Apesar de Rodrigo ter registado o imóvel, não significa que o direito de propriedade seja seu, uma vez que o registo
não confere direitos, apenas os concede.

Desta forma, havendo nulidade deste negócio, o direito de propriedade mantém-se, ainda, na esfera jurídica de
Aloísio.

Aloísio pretende reaver o imóvel

Após ter conhecimento da venda que Belchior fez a Rodrigo, este quer o imóvel de volta. Desta forma, Aloísio pode
invocar a nulidade do negócio simulado (242º/1), pretendendo com isso que haja também nulidade do negócio entre
Belchior e Rodrigo, dado que ninguém pode transmitir direitos que não tem – princípio do nemo plus iuris (240º/2).
Teremos, assim, de analisar se este negócio será também anulável.

Em relação ao negócio simulado, Aloísio é simulador Rodrigo é terceiro. Conforme o disposto no 243º, e apesar de ter
conhecimento que algo de estranho se passaria, Rodrigo é um terceiro de boa fé, estando este protegido contra a
invocação da nulidade de Aloísio.

Em conclusão, Aloísio, enquanto simulador, não pode arguir a nulidade do acto perante o terceiro de boa fé, o Rodrigo.

ii) Acção do credor Ulisses

Nesta situação aparece outro terceiro, Ulisses, que se presume estar de boa fé nesta situação para poder atacar os
negócios inicias para cobrar as dívidas a Aloísio, porque é interessado (286º) e credor (605º), tendo uma legitimidade
especial acrescida. Consequentemente, coloca-se a questão se o outro terceiro, Rodrigo, está protegido.

Analisamos os artigos 243º e 291º. Rodrigo não está protegido pelo 243º, porque apenas o protege dos simuladores
e de outro terceiro que esteja de má fé, o que não parece ser o caso. Quando à segunda hipótese, verifica-se que já
se passaram mais de três anos sobre a data de celebração do negócio, estando cumprido o requisito dos 3 anos.
Potencialmente, o Rodrigo poderá estar protegido pelo 291º. Importa verificar no n.º 1 deste artigo se os requisitos
36
estão todos preenchidos ou não. Analisando bem, verifica-se que se cumprem os requisitos referentes aos bens
imóveis, foi feito o negócio a título oneroso, pressupõe-se que a acção de nulidade foi posta após o registo. Contudo,
Rodrigo ao conhecer que “algo se passava” com o negócio anterior, não está de boa fé para efeito desta norma, uma
vez que no momento da aquisição ela não desconhecia, sem culpa, o vício do negócio nulo ou anulável. Verifica-se,
assim que Rodrigo não está protegido pelo 291º.

Assim, Ulisses poderá invocar a nulidade do negócio e esta ser-lhe declarado eficaz, dado que Rodrigo não está
protegido pelo 243º e 291º, não tendo sucesso na sua defesa. Com esta acção, o imóvel volta a passar para a esfera
jurídica de Aloísio, podendo, assim, os seus credores actuarem sobre ele.

37
22. Em Janeiro de 2012, Aníbal vendeu a Belchior uma fração autónoma.

O negócio realizado foi fictício, tendo em conta que Aníbal (legitimamente representado no acto por Gualter, que nada
sabia quanto às razões de Aníbal) pretendia fugir com o seu património a credores vários.

Belchior, entretanto, vendeu, em Fevereiro de 2014, o prédio em causa a Carlota, a qual, sabendo que algo de estranho
se passaria, ainda assim concluiu e registou a aquisição.

Actualmente, Carlota alega ser proprietária do imóvel em causa quando:

- Aníbal veio invocar a nulidade do acto praticado;

- Diana, credora de Aníbal, veio noutra acção (instaurada em Maio 2015) invocar a nulidade do acto em causa.

1. Aprecie o sucesso de possíveis fundamentos de defesa da Carlota.

2. Suponha agora que Gualter só tinha poderes representativos para arrendar o imóvel – tendo acabado por
vendê-lo a Belchior, por entender que se tratava de um bom preço e que Aníbal, com toda a probabilidade,
concordaria com o negócio -, diga o que sucederia se, entretanto, Dinis tivesse adquirido o prédio a Belchior
pelo preço de mercado e se Aníbal pretendesse agora impugnar o acto em causa.

1.º Momento: 2.º Momento: 3.º Momento:


CCV CCV Janeiro 2012 Fevereiro 2014 Maio 2015
A B CR
Acção CCV A-B CCV B-C Acção D

1. CCV Aníbal a Belchior

Aparentemente temos um contrato de CV (874º, 879º e 408º/1) entre Aníbal e Belchior, onde Belchior passou a ser
titular do direito de propriedade do imóvel, tendo aqui efeitos obrigacionais e reais. O que aparentemente consta da
escritura pública é que Aníbal vendeu a Belchior e Belchior declarou comprar a Aníbal. Mas o que sabemos é que
Aníbal não quis vender a Belchior e Belchior não pretende comprar a Aníbal, tendo aqui uma divergência entre a
vontade declarada e a vontade real: há um acordo entre Aníbal e Belchior para celebrarem algo que não corresponde
à sua vontade real, com o objectivo de enganar terceiros (credores de Aníbal). Existe, então, um negócio de simulação
absoluta (240º/1), onde existe apenas um negócio fictício que as partes não quiseram realizar. Conforme o 240º/2, o
negócio simulado é nulo (embora seja necessário invocar a nulidade ou que o tribunal a declare oficiosamente, 286º),
não produzindo quaisquer efeitos (289º).

Tendo havido um representante para a celebração deste negócio simulado, Gualter, este não será imputado qualquer
falta ou vício da vontade neste negócio, uma vez que ao representado de má fé não aproveita a boa fé do
representante (259º/2).

CCV Belchior a Carlota

Cerca de dois anos depois, Belchior vendeu o imóvel a Carlota. Não sendo Belchior o proprietário do imóvel, este
contrato é um contrato que não tem a virtualidade de transmitir o direito de propriedade, uma vez que o direito de
propriedade não está na esfera jurídica de Belchior, mas sim, como vimos, de Aníbal. Consequentemente, trata-se de
uma compra e venda de bem alheio (892º) que não produz efeitos reais, já que ninguém pode transmitir direitos que
não tem – princípio do nemo plus iuris (240º/2). É, em conclusão, um contrato nulo.

Apesar de Carlota ter registado o imóvel, não significa que o direito de propriedade seja seu, uma vez que o registo
não confere direitos, apenas os concede.

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Desta forma, havendo nulidade deste negócio, o direito de propriedade mantém-se, ainda, na esfera jurídica de Aníbal.

Aníbal pretende reaver o imóvel

Após ter conhecimento da venda que Belchior fez a Carlota, este quer o imóvel de volta. Desta forma, Aníbal pode
invocar a nulidade do negócio simulado (242º/1), pretendendo com isso que haja também nulidade do negócio entre
Belchior e Carlota, dado que ninguém pode transmitir direitos que não tem – princípio do nemo plus iuris (240º/2).
Teremos, assim, de analisar se este negócio será também anulável.

Em relação ao negócio simulado, Aníbal é simulador e Carlota é terceiro. Conforme o disposto no 243º, e apesar de
ter conhecimento que algo de estranho se passaria, Carlota é um terceiro de boa fé, estando esta protegida contra a
invocação da nulidade de Aníbal.

Em conclusão, Aníbal, enquanto simulador, não pode arguir a nulidade do acto perante o terceiro de boa fé, a Carlota.

Acção de nulidade do credor, Diana

Nesta situação aparece outro terceiro, a Diana, que se presume estar de boa fé nesta situação para poder atacar os
negócios inicias para cobrar as dívidas a Aníbal, porque é interessado (286º) e credor (605º), tendo uma legitimidade
especial acrescida. Consequentemente, coloca-se a questão se o outro terceiro, Carlota, está protegido.

Analisamos os artigos 243º e 291º. Carlota não está protegido pelo 243º, porque apenas o protege dos simuladores e
de outro terceiro que esteja de má fé, o que não parece ser o caso. Quando à segunda hipótese, verifica-se que já se
passaram mais de três anos sobre a data de celebração do negócio, estando cumprido o requisito dos 3 anos.
Potencialmente, Carlota poderá estar protegido pelo 291º. Importa verificar no n.º 1 deste artigo se os requisitos estão
todos preenchidos ou não. Analisando bem, verifica-se que se cumprem os requisitos referentes aos bens imóveis, foi
feito o negócio a título oneroso, pressupõe-se que a acção de nulidade foi posta após o registo. Contudo, Carlota ao
conhecer que “algo se passava” com o negócio anterior, não está de boa fé para efeito desta norma, uma vez que no
momento da aquisição ela não desconhecia, sem culpa, o vício do negócio nulo ou anulável. Verifica-se, assim que
Carlota não está protegida pelo 291º.

Assim, Diana poderá invocar a nulidade do negócio e esta ser-lhe declarado eficaz, dado que Carlota não está protegida
pelo 243º e 291º, não tendo sucesso na sua defesa. Assim, o imóvel volta a passar para a esfera jurídica de Aníbal,
podendo, assim, os seus credores actuarem sobre ele.

2.

AG B D

A representação é a possibilidade de alguém praticar um acto jurídico em nome de outrem, projectando os efeitos
jurídicos na esfera jurídica do representado (artigo 258º). Para este caso, há aqui uma representação voluntária (262º
e seguintes), onde teremos de perceber o enunciado da procuração. Aníbal atribui poderes a Gualter para arrendar o
imóvel. Tendo Gualter vendido o mesmo, não actuou dentro dos seus poderes, significando que agiu sem poderes de
representação (268º). Aplicando este artigo, decorre que o negócio é ineficaz e que o negócio não produz os seus
efeitos (874º, 879º e 408º/1), uma vez que Aníbal não o pretende ratificar. Belchior não é proprietário do referido
imóvel.

Desta forma, resta analisar se a venda sucessiva de Belchior a Dinis é ou não eficaz. Sendo que o negócio anterior não
é eficaz, este também não o será. Ao apurar a aplicação do 291º, verifica-se que não é susceptível de ser aplicada, uma
vez que a norma não prevê uma situação de ineficácia. Assim, Dinis não pode ser protegido.

39
23. João, pretendendo comprar a casa de férias de Ivo e ciente que de outro modo nunca conseguiria os seus intentos,
convence-o, mediante a apresentação de documentos falsificados, que a casa se situa numa zona que em breve será
submersa pelas águas da barragem que está a ser construída a poucos quilómetros.

O respectivo negócio foi formalizado por escritura pública em Setembro de 2013 e João registou de imediato, só vindo
Ivo a descobrir toda a verdade alguns meses mais tarde, em Novembro de 2013.

Entretanto, João vende por escritura pública, simuladamente, a casa a Luísa, encobrindo a venda uma doação.

Em Julho de 2014, a Luísa arrenda a casa a Miguel.

Em Janeiro de 2015, Luísa, convencida de que Nuno conhecia o arrendamento a Miguel, vende-lhe, por escritura
pública, a casa. Nuno, porém, desconhecia o arrendamento.

1. Pode Ivo recuperar hoje a casa?

2. Luísa era proprietária da casa no momento em que a arrendou?

3. Ao saber do arrendamento a Miguel, Nuno pretende agora invalidar a compra da casa. Pode fazê-lo?

CCV CCV CCV


I J L N 1.º Momento: 2.º Momento: 3.º Momento: 4.º Momento: 5.º Momento:
Setembro 2013 Novembro 2013 Julho 2014 Janeiro 2015
Arrenda

M CCV I-J; J regista I descobre CCV J-L encobre L arrenda a M CCV L-N
verdade doação

1.

40
24. Aloísio vendeu a Berta, observada a forma legalmente exigida, a sua moradia, pelo preço de 100 000€, de imediato
registada.

1. Imagine que o preço efectivamente pago por Berta foi de 200 000€.

Três anos e meio volvidos, João, representado por Berta e usando artifícios que iludiram Clotilde na compra do
imóvel (afirmando qualidades que este não tinha), alienou àquela a referida moradia. Diga se é possível (e a
quem, em caso afirmativo) invalidar o negócio?

2. Sucede agora que Berta (com quem Aloísio mantinha uma relação extraconjugal) entregou a este – perante o
notário – o valor em causa, que por sua vez lhe tinha sido entregue previamente por Aloísio (em
desconformidade com o disposto no artigo 2196º, n.º 1 do Código Civil, por remissão do artigo 953º do mesmo
diploma).

Joana, filha de Aloísio, tomou conhecimento da factualidade descrita 38 meses depois e pretende reagir. O que
pode fazer?

3. Suponha, por fim, que o negócio realizado tinha como único propósito a fuga de Aloísio ao Fisco. Berta, 24
meses volvidos (e sem conhecimento de Aloísio), vendeu o imóvel a Rodrigo (que conhecia que “algo estranho”
se passava relativamente à alienação prévia daquele imóvel, mas não quis indagar), que registou, de pronto,
a aquisição. Ulisses, credor de Aloísio, 30 meses após a venda fictícia, instaura uma acção de nulidade dos
negócios em causa e regista-a. Terá êxito?

41
25. No passado dia 2 de Janeiro, António outorga procuração a Bruno para venda de um quadro de Toscano por preço
não inferior a 20 000€.

Em 3 de Janeiro, em nome de António, Bruno, por email, propõe vender o quadro a Carlos por 25 000€.

Dois dias volvidos, Bruno encontra o seu grande amigo Daniel e, em nome de António, propõe vender-lhe o mesmo
quadro por 20 000€. Daniel disse-lhe que iria pensar alguns dias e que depois lhe daria uma resposta.

A 8 de Janeiro, Carlos responde a Bruno por carta, aceitando comprar o quadro, mas por 22 000€. A carta só é recebida
por Bruno a 10 de Janeiro e lida a 12 de Janeiro.

No dia 11 de Janeiro, Daniel responde, via fax, a Bruno, aceitando comprar o quadro pelos 20 000€. Bruno só lê o fax
a 12 de Janeiro, logo após ter lido a carta de Carlos.

No dia 13 de Janeiro, pela manhã, Bruno envia um email a Daniel “fechando” o negócio pelos 20 000€.

1. De quem é o quadro neste preciso momento?

2. Se António, ciente de toda a situação, lhe pedisse auxílio jurídico que conslehos lhe daria neste momento?

3. Como responderia à primeira pergunta se entre Bruno e Daniel o preço negociado fosse (desde a proposta
inicial, a 5 de Janeiro) 18 000€?

4. Como responderia à segunda pergunta se entre Bruno e Daniel o preço negociado fosse (desde a proposta
inicial, a 5 de Janeiro) 18 000€?

42
26. Por razões profissionais, Alberto pretende tomar de arrendamento um apartamento na cidade de Braga pelo prazo
de dois anos, outorgando, para o efeito, procuração a Benevides, seu amigo.

Da procuração constam poderes para Benevides tomar de arrendamento, em nome de Alberto, um apartamento do
tipo T2, sito em Braga, por renda mensal não superior a 650€.

Informalmente, Alberto comunicou ainda a Benevides que se o apartamento se situasse “no centro da cidade, tanto
melhor”.

Benevides entrou em contacto com Carlos, proprietário de dois apartamentos, tipo T2, situado um na rua X, no centro
da cidade, outro na rua Y, localizado já próximo da periferia, ambos pela renda mensal de 500€ e de idêntica qualidade.

Dois dias depois, Benevides voltou a contactar Carlos. Equivocado, supôs Benevides ser a rua Y a que se localizava no
centro da cidade, manifestando, por conseguinte, a Carlos a vontade de tomar de arrendamento o apartamento sito
na rua Y. Carlos aceitou, sendo o contrato de arrendamento do mencionado imóvel (sito na rua Y) reduzido a escrito
(em conformidade) com o preceituado no artigo 1069º do CC).

Colocado ao corrente do sucedido, Alberto pretende desfazer o contrato.

1. Terá sucesso?

2. E se Carlos se apercebesse do equívoco de Benevides e se mantivesse em silêncio por preferir dar de


arrendamento o apartamento sito na rua Y? Seria a mesma a sua resposta?

43
27. Em Maio de 2010, Aníbal vendeu a Belchior, observada a forma legalmente exigida, o seu andar-moradia, pelo
preço de 100 000€.

1. Suponha que, na realidade, Aníbal nada queria vender, apenas pretendendo ocultar bens dos seus credores,
em especial do Estado.

Entretanto, em Abril de 2012, Belchior vendeu a Carlota o imóvel em causa, que registou de imediato a
aquisição. Carlota tomou conhecimento, em finais de 2012, da realidade negocial inicial.

Aníbal, apercebendo-se, mais tarde, da realização da venda, propõe (e regista) uma acção judicial em Março
de 2013, no sentido de invalidar os actos em causa.

Carlota pode defender-se com sucesso?

2. Imagine agora que o preço efectivamente pago por Belchior foi de 200 000€, no sentido de evitar um maior
pagamento do Imposto Municipal de Transacções (IMT) ao Estado. Quatro meses volvidos, Belchior –
insatisfeito com a qualidade do imóvel – pretende destruir o negócio. É possível?

3. Suponha, por fim, que Belchior, 7 meses volvidos (em Dezembro de 2010), vendeu (na sequência do que tinha
sido combinado com Aníbal) a um dos filhos de Aníbal (Carlos) o prédio em apreço.

Gertrudes (a outra filha de Aníbal), que desconhecia em absoluto tudo o que se tinha passado, instaurou uma
acção judicial, 10 meses após a segunda alienação, com o objectivo de inutilizar todos os negócios em causa.
Terá êxito?

1.

2.

3.

44
27.

45
28. António, colecionador de moedas antigas, incumbe a Carlos de lhe comprar uma das moedas que falta na sua
colecção, que pertence a Bernardo, também colecionador.

Carlos Explica a Bernardo que a moeda se destina a integrar a colecção de António e oferece, em nome deste, um bom
preço por ela. Bernardo negoceia o preço, mas acaba por aceitar.

Quando António recebe a moeda, descobre que Carlos se tinha enganado e comprado a moeda errada.

1. Supondo que Carlos tem apenas 17 anos, diga fundamentadamente se António pode “terminar” com o
contrato atendendo a esse facto?

2. Imagine que Carlos, agora maior de idade, comprou a moeda que António lhe indicara. No entanto, vem a
verificar-se que, contrariamente ao que todos (incluindo Bernardo) pensavam, esta moeda é uma falsificação
da moeda original. Quid iuris?

46
29. Em Janeiro de 2011, Aníbal vendeu a Belchior uma fração autónoma. O negócio foi formalizado pelo valor de
100 000€, embora o preço que foi realmente pago foi de 300 000€. Tal sucedeu porque Belchior pretendia evitar o
pagamento de uma soma elevada no tocante ao imposto municipal sobre imóveis.

1. Entretanto, Belchior insatisfeito com o imóvel por si escolhido, em razão dos fracos materiais usados na
construção do prédio e atenta a fraca exposição do meso ao sol, pretende a restituição do dinheiro já pago.
Atentas as circunstâncias que especificamente invocou, Belchior terá razão?

2. É possível a Belchior reagir com outro fundamento?

3. Suponha agora que Aníbal, que acumulara várias dívidas e para evitar que o seu imóvel viesse um dia a ser
penhorado, combinara com Belchior fingir a venda desse imóvel, tendo a escritura pública sido realizada em
Janeiro de 2011. Suponha, ainda, que Belchior vende, em Outubro de 2013, a Diana (que conhecia apenas a
realização de um negócio entre Aníbal e Belchior, mas não as suas circunstâncias específicas) o imóvel em
causa. Ulisses, credor de Aníbal, pretende hoje (3 de Julho de 2014) reagir. Terá meios eficazes para tal?

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30. Afonso pretendia vender os imóveis X, Y e Z situados em Amares, na sua terra natal.

Tendo vários familiares na região, a intenção de Afonso era a de que os imóveis fossem vendidos precisamente a
parentes seus para que não saíssem da propriedade da família. O preço poderia ser abaixo do valor de mercado.

Foi o que disse a Bernardo quando lhe outorgou procuração a conferir poderes gerais para a venda dos imóveis.

Bernardo assim procedeu, vendendo os imóveis X, Y e Z por “preço simpático” a Carlos, Dália e Eliseu (respectivamentr),
primos de Afonso.

Ao saber que o imóvel Z fora vendido a Eliseu que, afinal, não era seu familiar (o que surpreendeu Bernardo e o próprio
Eliseu, pois toda a documentação existente indicava a suposta relação de parentesco), Afonso pretende recuperar o
imóvel.

1. Qual a forma exigida para a procuração?

2. Pode Afonso recuperar o imóvel?

3. Suponha agora que também Eliseu sabia não ser familiar de Afonso e que ocultara tal situação a Bernardo com
o fito de obter um “bom preço” pelo imóvel. Como responderia à questão anterior?

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31. Gualter vendeu a Gertrudes, observada a forma legalmente exigida, a sua moradia de 2 andares, pelo preço de
75 000€.

1. Sucede que Gertrudes (com quem Gualter mantinha uma relação extraconjugal) entregou a este – perante o
notário – o valor em causa, que por sua vez lhe tinha sido entregue previamente por Gualter (em
desconformidade com o disposto no artigo 2196º, n.º 1 do Código Civil, por remissão do artigo 953º do mesmo
diploma).

Joana, casada com Gualter, tomou conhecimento da factualidade descrita 18 meses depois e pretende reagir.
O que pode fazer?

2. Imagine agora que o preço efectivamente pago por Gertrudes foi de 150 000€. Dois meses volvidos, Gertrudes
insatisfeita com o imóvel por si escolhido, quer reverter o negócio. É possível?

3. Suponha, por fim, que o negócio realizado tinha como único propósito a fuga de Gualter ao fisco. Gertrudes,
18 meses volvidos (e sem o conhecimento de Gualter), doou o imóvel a Rodrigo (que desconhecia “os
pormenores” do negócio realizado com Gualter). Ulisses, credor de Gualter, 28 meses após a venda fictícia,
pretende reagir. Terá êxito?

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32. Aníbal vendeu a Belinda, observada a forma legalmente exigida, a sua moradia, pelo preço de 100 000€, de
imediato registada.

1. Imagine que o preço efectivamente pago por Belinda foi de 300 000€.

Dois anos e dois meses volvidos, Joana – representando Belinda e usando artifícios que iludiram Clotilde na
compra do imóvel (em especial, afirmando a inexistência de humidade no prédio, o que tinha sido ocultado por
efeito de pitura recente) -, alienou àquela a referida moradia.

Diga se é possível (e, em caso afirmativo, em que termos) invalidar o negócio.

2. Suponha agora que o negócio realizado tinha como único propósito a fuga de Aníbal ao fisco. Belinda, 14 meses
volvidos (e sem o conhecimento de Aníbal), vendeu o imóvel a Tiago (que desconhecia em absoluto os
contornos do negócio anterior), que registou, de pronto, a aquisição. Ulisses, credor de Aníbal, 25 meses após
a venda fictícia, instaura uma acção de nulidade dos negócios em causa e regista-a. Terá sucesso?

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33. Arnaldo, dono de um vasto património, foi contratado pela Empresa X para trabalhar na China entre 1 de fevereiro
de 2013 e 1 de Fevereiro de 2017.

Antes de partir, realizou contrato de doação com Bruno, tendo por objecto os seus apartamentos Y e W, situados em
Braga. O apartamento W encontrava-se arrendado a Carlos. Do contrato de doação constavam as seguintes cláusulas:

- “Bruno fica obrigado a devolver o apartamento W a Arnaldo quando este, após cessação do contrato de
trabalho com X, voltar da China”.

- “Durante a estadia de Arnaldo na China, Bruno fica obrigado a administrar a quinta K (de Arnaldo), situada
em Famalicão”.

- “Arnaldo tem o direito de resolver a doação de Y se não houver cuidadosa administração da quinta K”.

A 2 de Fevereiro de 2017, Arnaldo regressa. Sabendo que, em 30 de Abril de 2016, Bruno vendera a Daniel o
apartamento W e que, durante todo o tempo, administrara ruinosamente a quinta K, Arnaldo pretende saber:

1. A quem pertence o apartamento W? E o montante das rendas entre 1 de Janeiro de 2013 e 31 de Dezembro
de 2016?

2. A quem pertence o apartamento?

51
34.

52
35.

1. Aníbal pretende tomar de arrendamento a Belchior um imóvel. Para o efeito, Aníbal nomeia Carlota, como sua
representante, para outorgar em seu nome, o respectivo contrato.

Suponha que Carlota, a quem tinham sido atribuídos (por Aníbal) poderes específicos para tomar de arrendamento,
comprou o imóvel por baixíssimo preço, pois considerou (e objectivamente assim o era) que se tratava de um
magnifico negócio para Aníbal.

2. Imagine agora que Aníbal pretendia adquirir um imóvel em estado “completamente novo” e que outorgou poderes
a Carlota para o comprar a Belchior.

Na verdade, o imóvel não só não era novo, como já tinha tido vários problemas de humidade.

Todavia, foi dito (por Belchior) a Carlota que o prédio “tinha sido construído há muito pouco tempo e que era
excelente”, tendo esta, por isso, em 10/07/2017 procedido à correspondente aquisição. Aníbal pode reagir à luz da
realidade descrita?

1.

2.

53
36. Em Janeiro de 2016, Aloísio vendeu uma moradia a Bento (que registou a aquisição), declarando um preço mais
baixo do que o real, para evitar o pagamento de impostos.

Um ano após, Bento vende o referido imóvel a Carlos (que registou a aquisição), que desconhecia, em absoluto, o que
se tinha passado anteriormente.

1. Analise o negócio celebrado entre Aloísio e Bento.

2. Em Junho de 2017, quem era o proprietário da moradia?

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37. Abel, comerciante no Porto, está em negociações com Bruno, proprietário de uma oficina de artes gráficas, tendo
em vista a venda de uma máquina impressora rotativa a este último.

Em 1 de Maio, Abel envia, por correio normal, proposta detalhada a Bruno, pedindo a sua aceitação,
impreterivelmente, até 20 de Maio.

Em 16 de Maio, Bruno remete carta, por correio azul, em que declara aceitar a proposta.

A carta, porém, apenas chegou à caixa de correio de Abel em 22 de Maio, sendo perfeitamente ilegível o carimbo de
expedição.

1. Após 22 de Maio não houve qualquer contacto entre os sujeitos. Em 2 de Junho, Bruno pede a Abel a entrega
da máquina. Abel recusa. Quid iuris?

2. Como responderia à questão anterior se a carta enviada por Bruno a 16 de Maio chegasse à caixa de correio
de Abel a 18 de Maio, mas este só a visse e abrisse a 22 de Maio?

3. Suponha agora que, na carta datada de 16 de Maio, Bruno declara “aceitar a proposta, desde que o preço
sofra um desconto de 10%”. A missiva chega à caixa de correio de Abel e, 18 de Maio que a lê nesse mesmo
dia. Quid iuris?

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Outros:

Caso Prático 20:

Alfredo, convencido por Bento, combinado com Carlos, de que um terreno vai ser expropriado, vendeu-o a este por
preço muito baixo em Janeiro de 2012.

Em Março de 2014, Alfredo descobre o engano, ao saber que foi apresentado um pedido de urbanização daquele
terreno. Mas, entretanto, Carlos, para dissuadir qualquer ação de Alfredo acordou com Duarte, em Julho de 2012, fingir
que lhe vendia o terreno. Contudo, Duarte valendo-se ao registro a seu favor, em Abril de 2013, vendeu o mesmo
terreno a Eduardo, que nada sabe do que se passou.

Alfredo pretende em Julho de 2014 reaver o terreno. Terá sucesso?

Alfredo, quando formou sua vontade, foi viciado em erro (art. 874º + 879º + 408º). O erro foi relevante (achava que o
terreno ia ser expropriado – art 252º, nº1 – erros sobre motivos em geral. É um erro qualificado por dolo (253º + 234º,
nº1). O negocio é anulável. De acordo com o regime geral da anulação (art. 287º) tem um ano. Portanto, ele soube em
Março e tem legitimidade, tem um ano desde aí, logo em Junho está dentro do prazo. É válido o pedido da
anulabilidade.

Está-se perante uma simulação absoluta por parte de Duarte e Carlos (há divergência entre a vontade real e declarada
e há um acordo entre eles para enganar Alfredo (art. 240º, nº1 e 240º, nº2).

O contrato de compra e venda entre Duarte e Eduardo quer afetar a compra e venda inicial. Eduardo desconhecia da
simulação. Pelo que estava sob boa-fé (art. 243º: não dá porque não se refere à simulação; art. 291º, nº2: 3 anos e
ainda não está protegido porque só passaram 2 anos. Como Duarte está com má-fé não há normas que o protejam.

Caso Prático 21:

Afono que é dono de um prédio rústico, encarregou Bento, mediador mobiliário, de lhe encontrar um comprador,
mediante o pagamento de uma comissão no valor de 10% do preço de venda.

Bento, para ganhar comissão mais elevada diz a Afonso para pedir o prelo de 100.000€ porque teve a informação de
que o terreno era urbanizado.

Entretanto, Bento convence também Carlos, interessado na compra de que assim é. Por esse motivo, Afonso e Carlos
fazem um negócio por aquele preço. Mais tarde, Carlos veio a apurar que, afinal o terreno não é urbanizável e não vale
mais que 25.000€. Carlos pretende invalidar o negócio. Quid Iuris?

Afonso e Carlos são as partes do negócio e Bento o intermédio. Celebraram um contrato de compra e venda (art. 874º
e 879º). Está-se perante um erro sobre o objeto porque pensava que era urbano quando na realidade era rústico (art.
251º).

Trata-se de um erro simples ou de um erro qualificado? Seria simples quando o declarante cai em erro por si, e
qualificado quando o declarante foi levado por outro. Bento teve consciência e voluntariedade de enganar Carlos. O
dolo leva ao erro (vício) e o erro leva à declaração da vontade (art. 253º + 254º).

O negócio seria anulável se o dolo viesse de Afonso (art. 254º, nº1), mas neste caso proveio de terceiros e só era
anulável se Afonso soubesse. Mas assim, seria justo para Carlos? Não. Por isso, voltamos ao art. 251º que remete para
o art. 247º e tem de preencher dois requisitos: essencialidade e cognoscibilidade.

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Caso Prático 22 (exemplo de caso prático do livro do Torrão):

No dia 10 de Outubro Alzira outorga procuração a Bruno para venda da joia x de que é proprietária por valor não
inferior a 10.000€.

Sabendo que, Clotilde gostava da joia x, Bruno, em 11 de Outubro, envia-lhe uma carta propondo-lhe a venda da joia
por 12.000€ (sem estipular qualquer prazo para resposta).

No dia seguinte, sabendo que Mireille, uma sua antiga amiga colega dos tempos e estudante em França, se encontrava
em Portugal, Alzira, sabendo da sua imensa fortuna e do seu fascínio por joias, desloca-se ao hotel onde a excêntrica
cidadã francesa se encontrava, e propõe-lhe a venda da joia x por 20.000€.

Convencionaram um prazo de 10 dias para a resposta.

A 16 de Outubro, Clotilde responde por fax a Bruno, aceitando comprar a joia x, mas por 10.000€.

No dia 18 de Outubro, durante a tarde e mediante o silêncio de Bruno, Clotilde com receio de perder o negocio, envia
novo fax o Bruno declarando aceitar a compra da joia x por 12.000€.

A 19 de Outubro, Mireille desloca-se a casa de Alzira para lhe comunicar que aceita comprar a joia x por 20.000€.

Em 20 de Outubro, Clotilde recebe uma carta de Bruno (enviada dia 18 pela manhã) em que este concordava vender a
joia x por 10.000€. Quid Iuris?

Outorga procuração por Alzira a Bruno constitui-se este como representante (voluntário) daquela (em conformidade
com o disposto no art. 262º, nº1). Significa isto que, os atos que Bruno praticar em nome de Alzira, desde que
enquadrados nos poderes conferidos, pela procuração (venda da joia x por valor não inferior a 10.000€), produzem
efeitos na esfera jurídica de Alzira (art. 258º).

No exercício dos seus poderes representativos, Bruno, por carta, propõe a Clotilde a venda da joia pelo preço 12.000€.
Ao não estipular prazo para resposta prevalece, antes de mais, o preceituado na alínea b) do nº1 do art. 228º, isto é,
mantem-se a proposta “até que, em condições normais, esta e a aceitação cheguem ao seu destino”. O CC não define
concretamente o período de tempo que, em condições normais, proposta e aceitação demoram a chegar ao respetivo
destino.

Tratando-se de propostas contratuais remetidas pelo correio, recorre a maioria da doutrina, por analogia, ao regime
jurídico das notificações postais judiciais dirigidas a advogados, previsto no art. 254º, nº3 do CPC, segundo o qual a
receção se presume ocorrida no 3º dia posterior ao do registro da carta. Assim, aos 3 dias para o envio da proposta,
adicionam-se 3 dias para a aceitação da mesma. A estes 6 dias acrescentam-se, ainda, 5 dias, em virtude de não ter
Bruno pedido resposta imediata, por aplicação, desta feita, da alínea c) do nº1 do art. 288º. Fica, então, Bruno, em
nome de Alzira, vinculado à proposta feita a Clotilde pelo prazo de 11 dias, ou seja (enviada a carta a 11 de Outubro)
fica vinculado à proposta até ao dia 22 de Outubro.

A proposta de venda da joia por 20.000€ feita pessoalmente por Alzira a Mireille, no dia 12 de Outubro, implica, assim,
a violação do dever de proceder segundo as regras da boa-fé na relação pré-contratual, imposto pelo art. 227º, e que
se traduz, essencialmente, “no dever de atuação honesta, leal e transparente”, tanto nos preliminares como na
formação do contrato. Com efeito, estando Alzira vinculada à proposta feita (por Bruno, seu representante e em seu
nome) a Clotilde, não devia ter proposto a venda do mesmo bem a uma outra pessoa (Mireille).

Com tal comportamento, Alzira violou sobretudo o dever de lealdade na formação dos contratos por não ter procurado
evitar danos aos seus parceiros negociais (se Clotilde aceitar a proposta em primeiro lugar, pode Mireille ficar
prejudicada; se for Mireille a primeira a aceitar, arrisca-se Clotilde a sofrer prejuízos), desrespeitando, por conseguinte,
a máxima alterum non laedere.

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Sendo convencionado o prazo de 10 dias para a resposta de Mireille, é este o prazo de duração da proposta nos termos
do art. 228º, nº1, a) do CC, ficando, por conseguinte, Alzira, e uma vez que a proposta ocorreu em 12 de Outubro,
vinculada a essa proposta (tal como sucede, aliás, com a proposta feita a Clotilde) até ao dia 22 de Outubro.

A 16 de Outubro, Clotilde responde por fax a Bruno, aceitando comprar a joia x, mas por 10.000€. Esta declaração
negocial enquadra-se na figura da “aceitação com modificações”, o que equivale a rejeição da proposta de venda por
12.000€ (art. 233º, 1ª parte), rejeição esta que por sua vez, se torna eficaz no momento em que bruno a recebe (art.
224º, nº1) cessando, pois, em 16 de Outubro o processo negocial entre Alzira e Clotilde.

A declaração de Clotilde “aceito mas por 10.000€” vale ainda, como nova proposta (art. 233º) mas este é já um novo
processo negocial. O que significa que a posterior aceitação (via fax, em 18 de Outubro) da mesma Clotilde de compra
da joia por 12.000€ já não envolve conclusão do contrato, uma vez que deixara de ser eficaz a respetiva proposta.

Em 19 de Outubro, mediante declaração verbal na presença da destinatária Mireille aceita a proposta de Alzira, cujo
prazo caducava como se viu, a 22 de Outubro. Esta aceitação de Mireille corresponde a uma adesão total e completa
à proposta de Alzira e, sendo por esta imediatamente recebida, tornou-se perfeita, enquanto declaração, no próprio
dia 19 de outubro (art. 224º, nº1), ou seja, antes da data-limite de vigência dessa proposta (22 de outubro). Não
havendo qualquer requisito formal exigido por lei a observar, no momento em que a aceitação se tornou perfeita
concluiu-se o contrato (art. 232º) de compra e venda que tem como efeito a imediata transferência do direito de
propriedade sobre a joia de Alzira para Mireille (art. 408º, nº1).

Alzira não incorre em responsabilidade pré-contratual, uma vez que, no momento da conclusão do contrato com
Mireille, se não encontrava já vinculada a qualquer outra proposta contratual. Mireille é a proprietária da joia.

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Em 2002, antes de viajar para o estrangeiro, Henrique passou uma procuração a Miguel para este vender a sua casa.
Miguel, sabendo que não tinha poderes para o fazer, doou a referida casa a Rita nesse mesmo ano. A doação foi
encoberta por uma venda. Rita, por sua vez, vendeu a casa a Tomás em 2003, que, negligentemente por nada saber,
não registou a sua aquisição.

Em 2010, Henrique regressa a Portugal e dirige-se a Tomás, dizendo que quer reaver o apartamento. A quem pertence
o imóvel?

Doação
A BRep C
CCV

I DNR

MAL RESOLVIDO!!!

REPRESENTAÇÃO:

268 = negócio sem poderes -> não ratificado por Henrique -> negócio ineficaz

SIMULAÇÃO:

CCV = negócio simulado = nulo

Doação = negócio dissimulado = doação aproveita a forma do negócio simulado MAS ineficácia na representação =
nulo = apto Henrique

CCV RITA-TOMÁS

Apto Henrique = Venda de bens alheios = não produz efeito = apto Henrique

Mas 291 = +3anos = apto tomas

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