0 notas0% acharam este documento útil (0 voto) 234 visualizações8 páginasQUINET. Antônio. Os Outros em Lacan
Psicanálise - Escola de LACAN
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© pequeno outro
Quem € vocé, que esti diante de mim, que é meu semelhante, ser humano como
eu —seja vocé homem ou mulher -, feito a minha imagem e semelhanga, feito
de uma corporalidade que me faz crer até que somos irméos?
E eu? Quem sou eu em relagio ao outro? Que seguranga tenho de que eu sou
eve ndo um outro? Freud revolucionou a subjetividade ao mostrar que 0 eu nao é
senhor em sua propria casa, e Lacan desfez a ilusao de totalidade, a pretensao de
sintese e a miragem da unidade do eu, mostrando que o eu é — antes de mais
nada — outro. Je est un auire, dizia Rimbaud. E aquele que vejo na minha frente,
como outro ~ foi a partir dele que eu fui feito, Eu é que sou feito a imagem e
semelhanga do outro. Mas que confusio! !!!
E isso mesmo: 0 eu e 0 outro se confundem. Eu projeto no outro contetidos,
intengdes e até pensamentos meus; eu me vejo nesse outro no qual identifico
tragos meus, eto vejo como meu ideal, que tanto admiro — como eu gostaria de
ser igual a ele! Ou o vejo como meu rival e quero que morra! Ou o vejo com
tudo aquilo que eu gostaria de ter — que inveja! Por que ele tem e eu no tenho?
Esse proximo que se assemelha a mim e a quem me ensinaram dever amar
6, antes, um intruso. O outro € igual e rival. Constituido pela imagem do outro, o
eu esta para sempre alienado a seu outro-ideal, O que Freud descreve como o eu
ideal, modelo a imagem e a semelhanga do qual o eu se constitui, é encarnado
pelo outro-ideal que 0 neurético sempre encontra entre seus camaradas. E aquela
mulher, linda, que deve saber o que é ser mulher. Ela sabe ser feminina, se vestir e
ganhar os homens! Como ela consegue? Eis a outra mulher da histérica que ela
sempre encontra na irma, na amiga, na colega de trabalho ete. Aquele é que é 0
cara! Tem poder, prestigio, dinheiro, esté sempre com belas mulheres... e eu o que
eu tenho? Eis 0 outro homem do obsessivo com 0 qual o sujeito se encontra em
competi¢fio e se compara para ver quem tem melhor desempenho no trabalho,
no sexo etc.
Esse outro intruso, que se manifesta como semelhante, é experimentado ¢
percebido como aquele que invade o que é meu e rivaliza comigo, ou seja,
compete com o meu eu pelo mesmo lugar. Pois o eu € 0 outro entram numa luta
pelo reconhecimento mittuo ¢ reciproco. Trata-se de uma luta para ver quem
tem mais prestigio do que 0 outro, e para tal é necessdrio que um reconhega 0
outro, Nessa luta, descrita por Hegel como uma luta de “puro prestigio”, na
dialética do senhor e do escravo, ha um desejo de reconhecimento de um pelo
outro que se transforma em uma luta mortal, pois eles entram na légica do “ou
eu ou vocé”. Eis a Iufa travada no ambito do narcisismo em que um quer ser
reconhecido como um eu (ego) pelo outro.
Lacan descreve 0 que ocorre na subjetividade da crianga quando nasce um
irmio como complexo de intrusdo. Ela 0 sente como um intruso que vemapropriar-se do lugar que o pequeno sujeito imagina ocupar no desejo da mae
(que representa uma outra alteridade, 0 grande Outro). Mas o sujeito identifica
se com este outro, 0 irmao, de modo imaginario, e o outro se torna indissociavel
do eu e, pior, 0 eu ¢ indissocidvel do outro. Essa bipolaridade caracteriza 0
registro imaginério e constituia infelicidade do homem, pois 0 outro, quando nao
6 objeto de desejo, é um estorvo, um inferno. Um eu nunca vem sozinho — ele
esti sempre acompanhado do outro, seu eu ideal. Eis por que a instincia do eu é
fundamentalmente paranoica.
A indissociabilidade entre 0 eu ¢ 0 outro taza marea, ¢ é datada, do estédio do
espelho. Trata-se de uma construgdo légica proposta por Lacan, a partir da
observagdo de criangas, que corresponde ao narcisismo e 4 constituigdo do eu
através da imagem do outro.
O mito de Nareiso
Narciso, jovem adolescente, de extrema e delicada beleza, cobigado por mogas
e rapazes, nfo se interessava e nao cedia a ninguém. Varias pessoas ¢ ninfas se
apaixonavam por ele somente ao vé-lo. Exemplo de beleza na Terra, objeto vivo
no mundo sensivel das imagens e dos simulacros, ele é a imagem cativante do
outro-si-mesmo, Os enamorados por Narciso, vitimas de seu desprezo,
expressavam seu édio: “Que ame por sua vez sem poder possuir 0 objeto de seu
amor.” Um dia, ao sentir sede e debrugar-se sobre a agua, Narciso é subjugado
por sua propria imagem, que ele toma por outrem. Ele é imediatamente seduzido
pela imagem de sua beleza, apaixona-se por um reflexo sem consisténcia que ele
toma por outra pessoa. Ao tentar pegar em seus bragos esse ser tao belo e
fascinante, a imagem se desfaz, até que ele percebe que esse outro imaginario do
espelho é ele mesmo. E morre. O mito mostra a conj ungio do amor e da morte,
revelando a base narcisista do amor: amo a mim mesmo através do outro, amo 0
outro eu mesmo.
O amor por esse eu que vejo no outro, o amor por esse outro mim mesmo,
amor pela imagem de mim mesmo como outro é 0 que Freud denominou de
narcisismo e que corresponde ao registro do imaginario de Lacan. £ 0 dominio
do corpo, da forma e da imagem do outro, meu proximo, que, além de rival, &
também atraente, fascinante, amante. O imaginario ¢ o registro da consciéncia e
do sentido que faz com que o homem se julgue um eu — 0 que é efetuado (sem
que ele o saiba) através da identificagao com o outro. E 0 que podemos verificar
no estadio do espelho. O outro, na paixio do amor, ¢ a imagem especular que
reina no coragao do sujeito conferindo o habitat narcisico ao olhar, objeto
pulsional inapreensivel pela visio. A épera Valquiria, de Wagner, retoma o mito
de Narciso, encenando o matema do i(a) no encontro dos gémeos amantes. Diz
Sieglinde: “No riacho, vi minha prépria imagem e ei-la novamente; como
outrora ela emerge da onda: és tu, no presente, que me envia minha propriaimagem.” Ao que responde Sigmund: “Es tu a imagem que em mim eu
escondia.” O outro é 0 gémeo do eu.
O estédio do espelho
© estédio do espelho corresponde a antecipagio, através da imagem, da
unificagao do corpo, antecipagao relativa a imaturidade neurolégica da crianga.
Retomando a descrigéo, ja efetuada por Wallon, desse momento do
desenvolvimento infantil, Lacan o eleva a dignidade de uma matriz simbolica da
constituigéo do eu. Lacan o formaliza como o esiidio do espelho: uma
experiéncia correspondente ao narcisismo primario conceitualizado por Freud.
Tal experiéneia, situada entre os seis e dezoito meses, é descrita por Lacan como
um “drama cujo impulso interno precipita-se da insuficiéncia para a antecipagao
—e que fabrica para o sujeito, apanhado no engodo da identificagao espacial, as
fantasias que se sucedem desde uma imagem despedagada do corpo até uma
forma de sua totalidade que chamaremos de ortopédica — e para a armadura
enfim assumida de uma identidade alienante, que marcaré com sua estrutura
rigida todo o seu desenvolvimento mental”. Podemos distinguir dois momentos no
estidio do espelho: o primeiro é aquele em que a imagem esta despedagada; o
segundo, é aquele em que ela esta unificada. Nesse primeiro tempo, trata-se de
uma anti-imagem, pois nao ha, propriamente, constituigao de uma imagem
visivel, de um campo visual em que todas as imagens tenham uma consisténcia
propria e nas quais seria possivel distinguir nitidamente os elementos de cada
totalidade. No segundo tempo, a imagem totalizante e totalitiria é constituida —
ela escamoteia a falta e o despedagamento originirio do sujeito.
Ao partirmos do principio de que no inicio no ha unidade, 0 corpo do
individuo pode ser concebido como um corpo retalhado, despedagado,
fragmentado pelas pulsdes autoeréticas, as pulsdes ditas parciais. A unidade do
corpo é, em seguida, prefigurada pela imagem do outro ou pela imagem do
espelho, pois ambos nao se distinguem, como nos ensina 0 mito de Narciso. As
pulsdes autoeréticas convergem para a imagem do corpo tomado por um outro:
imagem com a qual o sujeito se identifica para constituir seu eu. Essa imagem &
0 eu ideal, formado como imagem do outro, i(a), que dara a unidade do eu. Essa
prefiguracéio da unidade corporal ¢ acompanhada de uma jubilacdo que
corresponde a satisfagdo narcisica de saber-se um corpo. O eu é, assim,
constituido por essa imagem que se corporifica: corpo unificado, corpo em sua
totalidade, em suma, corpo humano. Com efeito, o eu, segundo Freud, é, antes de
tudo, corporal. A percepgao visual do corpo é a base do imaginario ¢ da
identificagdo especular. A unidade do eu é imagindria. A percepgao visual &
propria do eu sendo ele mesmo constituido pelo espelho — 0 que faz da visio o
apandgio do registro imaginario. A imagem especular, escreve Lacan, “parece
ser o limiar do mundo visivel, a nos fiarmos na disposigdo especular apresentadana alucinagdo ¢ no sonho pela imago do corpo proprio, quer se trate de seus
tragos individuais, quer de suas faltas de firmeza ou suas projegdes objetais, ou
a0 observarmos o papel do aparelho especular nas aparigdes do duplo em que se
manifestam realidades psiquicas de outro modo heterogéneas”. O mundo visual &
narcisico: 0 espeticulo do mundo visual é 0 espelho do sujeito.
O estidio do espelho é dito “um momento de insight configurador” — termo
inglés que significa tomada de consciéncia, esclarecimento, mas também
inscrigdo. In sight of significa “em vista de”, ou “do ponto de vista de” — & 0 ponto
de vista do eu. O insight confere 0 cardter narcisico ao conhecimento do eu, que
6, na verdade, um desconhecimento, pois ele se origina da projegao da imagem
de si no mundo. Lacan conserva o termo “conhecimento” para se referir a essa
vista dos objetos pela consciéncia do eu, apontando que o conhecimento &
sempre imaginario, ou melhor, paranoico, na medida em que nada mais é sendo
a projecio da conscigncia sobre os objetos. O conhecimento nao se equipara ao
saber, 0 qual, sendo da ordem do simbélico, implica elaboragio e nio esté na
dependéncia do ponto de vista do eu.
Na simetria produzida no reflexo do espelho ha inversio em relag&o ao plano
especular, fazendo do estidio do espelho um apélogo do desconhecimento: a
imagem especular € diferente daquilo que ela representa na medida em que a
direita vira esquerda ¢ vice-versa. Como diz Freud, “o eu uma superficie ¢ a
projecdo de uma superficie”, ou seja, o eu, reduplicado por sua imagem
especular, ¢ como o revirar da hava do direito para seu avesso. Essa inversio ou
reviramento presente na formacdo do eu mostra a ilusio da autoconscigncia: a
imagem do proprio corpo é enganosa e a consciéncia é a instincia do
desconhecer. Essa ilusfio é ela mesma nio reconhecida, pois nio vemos que a
imagem engana e que a consciéncia 6, por si, fonte de desconhecimento. Assim,
0 eu, conhecendo os objetos e as pessoas através do olho do espelho, caracteriza-
se mais como uma instineia de desconhecimento do que como um aparelho de
percepcfio-consciéneia que conheceria a realidade. “O olho, instrumento de
nossa visio, no encerra, ele também, algo semelhante a um espelho?”, pergunta
Sécrates a Alcibjades. Instincia de engano, o eu vé o mundo como um espelho
que reflete seu ponto de vista, sua visio de mundo. E vé 0 outro como um reflexo
de simesmo.
Essa imagem constitutiva e alienante do eu é percebida pelo sujeito, nio em
si, mas no outro experimentado como um intruso, que o invade e rivaliza com ele
pelo mesmo lugar imagindrio. Na verdade, é o eu que vem primeiramente
usurpar o lugar do sujeifo, levando-se em consideragao a “distingdo entre 0 lugar
preparado para o sujeito sem que ele 0 ocupe e 0 eu que ali vem se alojar”, 0
cu
(s)
que podemos eserever: Esse intruso, que € 0 eu, 0 sujeito o percebe comooutro, do complexo de intrusio. O eu é 0 outro para sujeito. Trata-se do sujeito
do inconsciente que se chama desejo.
A bipolaridade do eu
Essa bipolaridade do outro ¢ do cu, (a— a’), é formalizada pelo cixo imaginario
do esquema L, em que a € notado como “objetos do sujeito” e a’, “seu eu”, “
que se reflete de sua forma em seus objetos”. Assim, 0 outro (a) antecede 0 eu
(a). Trata-se do eixo imagindrio da cena visual que constitui uma barreira para a
Outra cena.
(Es) S oo —>— @ outro
™
uma cortina a determinagao do simbélico
VA
lido, rivalizo, desejo e brigo com os outros meus semelhantes desconhecendo o
Outro do inconsciente, que me determina como sujeito.
Assim, 0 outro, como semelhante, é 0 objeto do amor narcisico: eu me amo
no outro (que é 0 meu reflexo). Trata-se do amor pelo mesmo, o amor narcisico,
que Lacan qualifica como hommossexual (com dois “m”) para indicar que é um
amor de homem (genérico) pelo homem — um amor homensexual. E que faz
parte constitutiva de todo amor. Como diz a personagem Marie Caroline da minha
pega X, Ye $— Abertura do teatro intimo de Strindberg (2005)
Ai essa alma! Aimeualmor!
Quando eu a encontro eu almo.Quando a encontro me encontro.
Eu mesma! Moi-méme!
Eu mesmo! Je méme!
Eu me mesmo! Je m’aime!
Minha alma é meu amor!
Me amo na sua minh’alma!
E saio, saio, saio de mim mesmando,
Em simesmada ¢ me amo, te amo,
Me amo, me mesmo, timesmo.
O outro é 0 ew ideal: imagem desenhada e esculpida pelos significantes do
Outro — aqueles que constituem o Ideal do eu que, na verdade, ¢ 0 Ideal do Outro
que Lacan escreve com o matema I(A). O sujeito passara a vida toda tentando
se igualar ao eu ideal, tentando moldar seu eu 4 imagem e semelhanga desse eu
ideal que mam%e e papai querem que ele seja, como, por exemplo,
“inteligente”, “bacana”, “bem-sueedido”, “bonito” etc., que sio significantes que
veiculam 0 desejo do Outro.
O supereu é a instncia que mede o eu ao eu ideal i(a) para ver se ele est
altura dos ditames do Ideal do eu. O eu raramente se sente & altura do que o Ideal
do eu the manda ser — dai o sentimento de menos-valia ou, usando uma
expresso da moda, de “baixa autoestima”. O aplauso ou a vaia do supereu com
sua fungio de vigilincia (olhar) e critica (voz) so indicios de aproximagao ou
afastamento dos significantes do 1(A) imaginarizados no eu ideal [i(a)]. E desse
lugar de eu ideal que o bebé se sente uma majestade e reina no desejo do Outro:
His Majesty the Baby
© pequeno outro pode ocupar o lugar de eu ideal com que o ew se mede e
rivaliza, ou seja, essa imagem idealizada do eu que o sujeito encontra num outro,
seu colega que admira e inveja
Eis 0 engodo do imagindrio: o sujeito desconhece que o outro é a projegao de
seu eu ideal e, para se livrar de sua menos-valia em relagio a ele, entra numa
luta de puro prestigio com ele
Esse outro que é meu préximo é minha alteridade egoica, projegao narcisica
de mew eu, espelho que me envia minha propria imagem a ponto de considera-la
semelhante. Este outro, se é alter, é alter ego, nada mais do que meu ego alter-
ado. Trata-se aqui de um outro egoico.
A bipolaridade do eu, sempre acompanhado pelo eu ideal, é a repercussfio da
polaridade pulsional no imaginario, indicada por Freud nos termos de atividade e
passividade a partir da gramatica da pulsio. No especular, a bipolaridade do par
“ver — ser visto” nao pode ser partida, pois esti apoiada na pulsio escépica naqual voyeurismo e exibicionismo sio posigdes constitutivas do desejo para 0
Outro. Olhar e ser olhado estio sempre juntos, como o observador e 0 observado,
o espectador e 0 ator ~ eis o que confere a base pulsional ao par que se forma no
espelho. Na verdade, como diz Lacan, “tudo que existe de casal se reduz ao
imaginirio”. O casal do estédio do espelho, (eu — outro), ocupa o higar no
imaginirio da divisio escépica do sujeito presente na estrutura da pulsio. Na
conjungao do especular com o escépico, o eu conserva “a estrutura ambigua do
espeticulo que ... da a forma as pulsdes sadomasoquistas e escoptofilicas (dese jo
de ver e de ser visto)”.
Paixdo da mirada
O imaginario ¢ 0 registro da paixao, do pathos, do pathema. As estruturas clinicas
neurose, psicose ¢ perversio declinam as formas imagindrias da paixo
individual do sujeito pelo significante. Para além do imaginario, esta o grande
Outro, simbélico, constituido pela linguagem e¢ cujo discurso constitui o
inconsciente. E 0 segredo do gozo da imagem estd no objeto a em sua
modalidade escopica: o olhar.
© cardter visual dessa experiéneia do espelho coloca em cena uma
fenomenologia na qual o olhar é central: o espelho e o olhar nao sao apenas
indissocidveis, eles derivam um do outro. Como atesta a etimologia, miroir
(espelho) vem do latim mirare, que significa surpreender-se, espantar-se, estando
na origem de “admiravel”, “admirar”, “miragem” e “milagre”. Em portugués
temos, por um lado, sua origem latina speculum, da qual deriva “especulacao”,
mostrando seu carater imaginario, e, por outro lado, 0 verbo “mirar” (olhar)
como em espanhol, em que 0 olhar se diz mirada. O olhar como objeto a nao se
encontra na visibilidade do espelho. Mas é o seu segredo.
O olhar em cena no estadio do espelho é 0 olhar daquele que vem a ocupar 0
lugar do Outro, por exemplo, a mae. Trata-se de um olhar buscado pela crianga
— ao virar-se do espelho procurando algum sinal do lado do Outro. Essa troca de
olhares — olhares em unissono, olhares que ao se cruzarem constitiem um s6
olhar — é causa da jubilagao. O Outro é, na verdade, o espelho no qual a crianga
se vé e se admira, ajustando sua imagem enquanto cu ideal as reagdes de Outro
que vem no lugar do Ideal do eu. Trata-se “desse ser que ele viu primeiro
aparecer na forma de um dos pais que, diante do espelho, o segura. Ao se
agarrar a referéncia daquele que o olha num espelho, o sujeito vé aparecer nao
seu Ideal do eu, mas seu eu ideal, esse ponto em que ele deseja comprazer-se
em simesmo”. Para o sujeito, os aplausos daquele que esta no lugar do Outro do
espelho se conjugam com a satisfagao obtida pela captura narcisica da imagem
desejada e idealizada de si mesmo que ele vé em seu reflexo, que é 0 seu eu
ideal. O resultado ¢ a jubilagéo: goz do paleo acompanhado da ovagio do
publico. Eis 0 gozo proporcionado pela pulsio escopica que faz entrar em cena oolhar como objeto a.