37 - NATAL SIMBÓLICO Harmonias cariciosas atravessam a paisagem, quando o lúcido
mensageiro continuou: — Cada Espírito é um mundo onde o Cristo deve nascer... Fora loucura
esperar a reforma do mundo, sem o homem reformado. Jamais conheceremos povos cristãos,
sem edificarmos a alma cristã... * Eis por que o Natal do Senhor se reveste de profunda
importância para cada um de nós em particular. Temos conosco oceanos de bênçãos divinas,
maravilhosos continentes de possibilidades, florestas de sentimentos por educar, desertos de
ignorância por corrigir, inumeráveis tribos de pensamentos que nos povoam a infinita
extensão do mundo interior. De quando em quando, tempestades renovadoras varrem-nos o
íntimo, furacões implacáveis atingem nossos ídolos mentirosos. * Quantas vezes, o interesse
egoístico foi o nosso perverso inspirador? Examinando a movimentação de nossas idéias
próprias, verificamos que todo princípio nobre serviu de precursor ao conhecimento inicial do
Cristo. * Verificou-se a vinda de Jesus numa época de recenseamento. Alcançamos a
transformação essencial justamente em fase de contas espirituais com a nossa própria
consciência, seja pela dor ou pela madureza de raciocínio. * Não havia lugar para o Senhor.
Nunca possuímos espaço mental para a inspiração divina, absorvidos de ansiedades do
coração ou limitados pela ignorância. * A única estalagem ao Hóspede Sublime foi a
Manjedoura. Não oferecemos ao pensamento evangélico senão algumas palhas misérrimas de
nossa boa-vontade, no lugar mais escuro de nossa mente. * Surge o Infante Celestial dentro da
noite. Quase sempre, não sentimos a Bondade do Senhor senão no ápice das sombras de
nossas inquietações e falências. * A estrela prodigiosa rompe as trevas no grande silêncio.
Quando o gérmen do Cristo desponta em nossas almas, a estrela da divina esperança desafia
nossas trevas interiores, obscurecendo o passado, clareando o presente e indicando o porvir. *
Animais em bando são as primeiras visitas ao Enviado Celeste. Na soledade de nossa
transformação moral, em face da alvorada nova, os sentimentos animalizados de nosso ser são
os primeiros a defrontar o ideal do Mestre. * Chegam pastores que se envolvem na intensa luz
dos anjos que velam o berço divino. Nossos pensamentos mais simples e mais puros
aproximam-se da idéia nova, contagiandose da claridade sublime, oriunda dos gênios
superiores que nos presidem aos destinos e que se acercam de nós, afugentando a
incompreensão e o temor. * Cantam milícias celestiais. No instante de nossa renovação em
Cristo, velhos companheiros nossos, já redimidos, exultam de contentamento na esfera
superior, dando glória a Deus e bendizendo os Espíritos de boa-vontade. * Divulgam os
pastores a notícia maravilhosa. Nossos pensamentos, felicitados pelo impulso criador de Jesus,
comunicam-se entre si, organizando-se para a vida nova. * Surge a visita inesperada dos
magos. Sentindo-nos a modificação, o mundo observa-nos de modo especial. * Os servos fiéis,
como Simeão, expressam grande júbilo, mas revelam apreensões justas, declarando que o
Menino surgira para a queda e elevação de muitos em Israel. Acalentamos o pensamento
renovador, no recesso d’alma, para a destruição de nossos ídolos de barro e desenvolvimento
dos germens de espiritualidade superior. * Ferido na vaidade e na ambição, Herodes
determina a morte do Pequenino Emissário. A ignorância que nos governa, desde muitos
milênios, trabalha contra a idéia redentora, movimentando todas as possibilidades ao seu
alcance. * Conserva-se Jesus na casa simples de Nazaré. Nunca poderemos fornecer
testemunho à Humanidade, antes de fazê-lo junto aos nossos, elevando o espírito do grupo a
que Deus nos conduziu. * Trabalha o Pequeno Embaixador numa carpintaria. Em toda
realização superior, não poderemos desdenhar o esforço próprio. * Mais tarde o Celeste
Menino surpreende os velhos doutores. O pensamento cristão entra em choque, desde cedo,
com todas as nossas antigas convenções relativas à riqueza e à pobreza, ao prazer e ao
sofrimento, à obediência e à mordomia, à filosofia e à instrução, à fé e à ciência. Trava-se,
então, dentro de nosso mundo individual, a grande batalha. A essa altura, o mensageiro fez
longa pausa. Flores de luz choviam de mais alto, como alegrias do Natal, banhando-nos a
fronte. Os demais companheiros e eu aguardávamos, ansiosos, a continuação da mensagem
sublime; entretanto, o missionário generoso sorriu paternalmente e rematou: — Aqui termino
minhas humildes lembranças do Natal simbólico. Segundo observais, o Evangelho de Nosso
Senhor não é livro para os museus, mas roteiro palpitante da vida.
Pontos e contos Irmão X