FICHA DE AVALIAÇÃO FORMATIVA 1
NOME: _________________________________________ N.º: ______ TURMA: _________ DATA: ________
GRUPO I
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.
Leia o poema.
Pobre velha música!
Não sei por que agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.
5 Recordo outro ouvir-te.
Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.
Com que ânsia tão raiva
10 Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora.
Poemas de FERNANDO PESSOA,
apresentação de Isabel Pascoal,
Lisboa, Editorial Comunicação, 1986.
1. Neste poema, o eu lírico recorda uma época do passado: a infância.
1.1. Explicite a importância e a expressividade do primeiro verso, tendo em conta a globalidade do texto.
2. Esclareça o sentido da segunda quadra do poema.
3. Comente os dois últimos versos do poema: «E eu era feliz? Não sei: / Fui-o outrora agora.»
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B
Leia o poema. Se necessário, consulte as notas.
EM PETIZ
I
De tarde
Mais morta do que viva, a minha companheira
Nem força teve em si para soltar um grito;
E eu, nesse tempo, um destro e bravo rapazito,
Como um homenzarrão servi-lhe de barreira!
5 Em meio de arvoredo, azenhas e ruínas,
Pulavam para a fonte as bezerrinhas brancas;
E, tetas a abanar, as mães, de largas ancas,
Desciam mais atrás, malhadas e turinas.
Do seio do lugar — casitas com postigos —
10 Vem-nos o leite. Mas batizam-no primeiro.
Leva-o, de madrugada, em bilhas, o leiteiro,
Cujo pregão vos tira ao vosso sono, amigos!
Nós dávamos, os dois, um giro pelo vale:
Várzeas, povoações, pegos, silêncios vastos!
15 E os fartos animais, ao recolher dos pastos,
Roçavam pelo teu «costume de percale».
Já não receias tu essa vaquita preta,
Que eu segurei, prendi por um chavelho? Juro
Que estavas a tremer, cosida com o muro,
Ombros em pé, medrosa, e fina, de luneta!
CESÁRIO VERDE, Cânticos do Realismo e outros poemas.
32 Cartas, edição de Teresa Sobral Cunha,
Lisboa, Relógio D’Água, 2006.
NOTAS
destro (verso 3) — ágil, hábil.
turinas (verso 8) — diz-se de uma raça de gado bovino.
pregão (verso 12) — anúncio público feito em voz alta.
pegos (verso 14) — os sítios mais fundos de rios.
«costume de percale» (em francês) (verso 16) — fato de percal (tecido de algodão, fino e liso).
chavelho (verso 18) — chifre.
4. O sujeito poético recorda um episódio da sua juventude, ocorrido durante um passeio que dera no
campo com a sua companheira.
4.1. Demonstre que a caracterização da figura feminina contrasta com o retrato que o sujeito poético faz de si
próprio. Ilustre a sua resposta com elementos textuais.
5. Ao contrário da figura feminina, o sujeito poético revela estar em sintonia com o espaço circundante.
Comprove a veracidade desta afirmação, recorrendo a elementos do texto.
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GRUPO II
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.
Leia o texto.
A literatura é uma expressão artística ambiciosa, que usa sangue e corpo, que tem de ser livre — como
todas as expressões de arte ou a própria vida. Deverá ser simples e compreensível como uma correnteza de
água, como um estremecer de folhas de árvore. Quanto a mim, o papel da literatura não é explicar o
mundo. A literatura é o próprio mundo. Porque são sentimentos, ideais, histórias experimentadas, visitas,
5 efabulações, desenhos de memórias, conquistas, alegria e desespero.
Ana María Matute é totalmente clara. Não escreve sobre o eterno Eu e o Tu e o Tu e o Eu; abraça toda a
humanidade. Por exemplo, em Paraíso inabitado, revela a inteira psicologia da vida desde os primeiros anos
da protagonista, Adriana, que são os nossos primeiros anos rumo a um salto assombroso nesse perigoso e
absurdo abismo que é a adolescência, túnel sombrio de dúvidas e indecisões que só o próprio adolescente
10 consegue resolver.
Com tantos livros escritos, tantos prémios que a têm consagrado universalmente, há um que destaco
porque me toca particularmente, e é também, pelo que sei, o livro que a escritora mais gostou de escrever:
Olvidado rei Gudú.
E o livro que hoje apresentamos, A torre de vigia.
15 Ao entrar na leitura deste livro, imergimos num cenário onírico, denso e misterioso, onde sobressai a
Natureza, por vezes assustadora, outras de uma beleza escaldante. Este ambiente enevoado e surreal de
homens-lobos, ventanias, campos de neve de fome e de frio, mais as doçuras do estio, de ameias de caste-
los, baronesas e barões, veados, javalis, gansos, lobos, cavalos brancos e cavalos pretos, jovens iniciados
cavaleiros, peles de ursos, flechas, salões, cozinhas e alcovas, todo este universo existe, atavicamente, em
20 todos nós. Está nos mais altos e escondidos sótãos da nossa memória. E, com a ironia sempre presente,
vivemos mais uma vez uma certa infância, ou como uma criança pode e consegue sublimar atos ou situa-
ções terríveis pela construção dos sonhos.
Este livro, o primeiro duma trilogia medieval, fala-nos de um filho de boas fam ílias, da sua travessia da
infância e entrada na adolescência com grande desassossego; da castelã, a baronesa de Mohl, linda, ruiva
25 e branca, que o inicia no amor carnal aos treze anos. Também essa atitude, brutal e estranha, o faz compre-
ender os mais rudimentares indícios da constituição psicológica do ser humano. Conseguimos perceber
este jovem a pensar e a transformar-se todos os dias, o que causa alguma angústia.
É, pois, uma história de desejos, de descoberta, da eterna luta entre o bem e o mal, entre a luz e as
trevas.
30 Sei, sinto que Ana María Matute tem absoluta consciência das penas que uma pessoa suporta ao longo
desta permanência por aqui. Os seus livros são documentos, de extraordinária importância, que desenham
a vida e as experiências do quotidiano de alguém que conviveu com a Guerra Civil de Espanha e a Segunda
Grande Guerra Mundial e o pós-guerra. A sua literatura é um grito de libertação através do poder imagético
de cada um. A fantasia está expressa em muitos dos seus livros, atingindo o pico em Olvidado rei Gudú e
Aranmanoth. Embora estes livros sejam um hino à poderosa fantasia humana, são também a constatação
35
da triste realidade da condição humana.
Ana María Matute enche-me de orgulho como mulher, como escritora, como exemplo de conheci-
mento, de experiência, de sabedoria, de humanidade.
CRISTINA CARVALHO, http://dererummundi.blogspot.pt/2011/10/apresentacao-de-ana-maria-matute.html,
Instituto Cervantes, 13 de outubro de 2011, consultado em 14 de setembro de 2016 (com adaptações).
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1. Com este texto, a autora visa apresentar
(A) a sua opinião sobre o que deve ser a expressão literária.
(B) o percurso literário de Ana María Matute.
(C) a escritora Ana María Matute e o seu livro Olvidado rei Gudú.
(D) a escritora Ana María Matute e o seu livro A torre de vigia.
2. Na segunda frase do texto, a referência à literatura
(A) expressa um contraste.
(B) contém uma analogia.
(C) tem um valor sarcástico.
(D) tem um valor irónico.
3. O antepenúltimo parágrafo do texto tem uma natureza
(A) valorativa.
(B) moralista.
(C) didática.
(D) prescritiva.
4. Na frase «nesse perigoso e absurdo abismo que é a adolescência» (linhas 8 e 9), encontramos
(A) uma metonímia e um animismo.
(B) uma metonímia e uma metáfora.
(C) uma dupla adjetivação e uma metáfora.
(D) uma dupla adjetivação e uma hipálage.
5. O uso da palavra «o» (linha 25) contribui para a coesão
(A) lexical.
(B) aspeto-temporal.
(C) frásica.
(D) referencial.
6. Na linha 30, as duas ocorrências da palavra «que» correspondem a
(A) uma conjunção e um pronome, respetivamente.
(B) um pronome e uma conjunção, respetivamente.
(C) uma conjunção em ambos os casos.
(D) um pronome em ambos os casos.
7. O complexo verbal «têm consagrado» (linha 11) tem um valor aspetual
(A) perfetivo.
(B) imperfetivo.
(C) genérico.
(D) incoativo.
8. Identifique a função sintática desempenhada pela expressão «dos sonhos» (linha 22).
9. Identifique o deítico presente na linha 31.
9.1. Classifique-o, tendo em conta a ideia que transmite.
10. Classifique a oração introduzida por «Embora» (linha 35).
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GRUPO III
No texto proferido no Instituto Cervantes, Cristina Carvalho afirmou: «Quanto a mim, o papel da literatura não é
explicar o mundo. A literatura é o próprio mundo.» (linhas 3 e 4).
Elabore um texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras,
em que apresente uma reflexão sobre aquela que é, para si, a função da literatura.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo
menos, um exemplo significativo.
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo
quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /opôs-se-lhe/). Qualquer número conta como uma única palavra,
independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2016/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados — entre duzentas e trezentas palavras —, há que atender ao
seguinte:
— um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
— um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.
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