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Teorias Da Aprendizagem e Inclusão Digital Diagramada

O documento discute teorias da aprendizagem e inclusão digital. Aborda conceitos como construtivismo, inclusão social e os pilares da inclusão digital. Explora como educação e parcerias entre governos e sociedade podem promover inclusão digital e social.

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Cida Sousa
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Teorias Da Aprendizagem e Inclusão Digital Diagramada

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Teorias da Aprendizagem

e Inclusão Digital
1. Introdução às Teorias da Aprendizagem 4
Abordagem Construtivista da Educação 7
O Construtivismo e a Inclusão Social 9

2. Inclusão Social e Exclusão Digital 12

3. Inclusão Digital 21
Os Três Pilares da Inclusão Digital 21
Educação e Inclusão Digital 25
Pacto entre Governos e Sociedade 28
Inclusão Digital = Inclusão Social (Renda e Educação)
+ TIC’s 33

4. Referências Bibliográficas 36

02
03
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

1. Introdução às Teorias da Aprendizagem

Fonte: Educação infantil1

É importante compreender o
modo como as pessoas apren-
dem e as condições necessárias para
guística, da antropologia e da neuro-
ciência”, o que nos leva a crer que to-
do o processo que permeia a educa-
a aprendizagem, bem como identifi- ção não pertence a uma única ciên-
car o papel de um professor, por cia, mas união e interação entre vá-
exemplo, nesse processo. Estas teo- rias delas.
rias são importantes porque possibi- Na aprendizagem escolar,
lita a este mestre adquirir conheci- existem os seguintes elementos cen-
mentos, atitudes e habilidades que trais, para que o desenvolvimento
lhe permitirão alcançar melhor os escolar ocorra com sucesso: o aluno,
objetivos do ensino. o professor e a situação de aprendi-
Segundo Gardner (1996, p. zagem.
20), “atualmente, a maioria dos ci- As teorias de aprendizagem
entistas cognitivas é proveniente das buscam reconhecer a dinâmica en-
fileiras de disciplinas específicas - volvida nos atos de ensinar e apren-
em especial, da filosofia, da psicolo- der, partindo do reconhecimento da
gia, da inteligência artificial, da lin- evolução cognitiva do homem, e ten-

1 Retirado em https://educacaoinfantil.aix.com.br/teoria-de-vygotsky/

4
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

tam explicar a relação entre o conhe- tona fatores pertinentes à mediação


cimento pré-existente e o novo co- humana através da tecnologia. As te-
nhecimento. A aprendizagem não orias de aprendizagem têm em co-
seria apenas inteligência e constru- mum o fato de assumirem que indi-
ção de conhecimento, mas, basica- víduos são agentes ativos na busca e
mente, identificação pessoal e rela- construção de conhecimento, dentro
ção através da interação entre as de um contexto significativo. Na Ta-
pessoas. bela 1, encontram-se resumidas as
Os ambientes computacionais características de algumas das prin-
destinados ao ensino devem trazer à cipais teorias de aprendizagem.

Teorias de Aprendizagem

Teorias de Aprendizagem Características

Epistemologia Genética de Piaget Ponto central: estrutura cognitiva do sujeito.


As estruturas cognitivas mudam através dos
processos de adaptação: assimilação e aco-
modação.
A assimilação envolve a interpretação de
eventos em termos de estruturas cognitivas
existentes, enquanto que a acomodação se
refere à mudança da estrutura cognitiva para
compreender o meio.
Níveis diferentes de desenvolvimento cogni-
tivo.

Teoria Construtivista de Bruner O aprendizado é um processo ativo, baseado


em seus conhecimentos prévios e os que es-
tão sendo estudados.
O aprendiz filtra e transforma a nova informa-
ção, infere hipóteses e toma decisões.
Aprendiz é participante ativo no processo de
aquisição de conhecimento.
Instrução relacionada a contextos e experiên-
cias pessoais.
Teoria Sociocultural de Vygotsky Desenvolvimento cognitivo é limitado a um
determinado potencial para cada intervalo de
idade (ZPD); o indivíduo deve estar inserido
em um grupo social e aprende o que seu
grupo produz; o conhecimento surge pri-
meiro no grupo, para só depois ser interiori-
zado.
A aprendizagem ocorre no relacionamento
do aluno com o professor e com outros alu-
nos.

5
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

Aprendizagem baseada em Problemas/ Ins- Aprendizagem se inicia com um problema a


trução ancorada (John Bransford & the ser resolvido.
CTGV) O aprendizado é baseado em tecnologia.
As atividades de aprendizado e ensino devem
ser criadas em torno de uma “âncora”, que
deve ser algum tipo de estudo de um caso ou
uma situação envolvendo um problema.

Teoria da Flexibilidade Trata da transferência do conhecimento e


Cognitiva (R. Spiro, P. Feltovitch & R. Coulson) das habilidades.
É especialmente formulada para dar suporte
ao uso da tecnologia interativa.
As atividades de aprendizado precisam forne-
cer diferentes representações de conteúdo.

Aprendizado Situado (J. Lave) Aprendizagem ocorre em função da ativi-


dade, contexto e cultura e ambiente social na
qual está inserida.
O aprendizado é fortemente relacionado com
a prática e não pode ser dissociado dela.

Gestaltismo Enfatiza a percepção ao invés da resposta.


A resposta é considerada como o sinal de que
a aprendizagem ocorreu e não como parte
integral do processo.
Não enfatiza a sequência estímulo-resposta,
mas o contexto ou campo no qual o estímulo
ocorre e o insight tem origem, quando a rela-
ção entre estímulo e o campo é percebida
pelo aprendiz.

Teoria da Inclusão (D. Ausubel) O fator mais importante de aprendizagem é


o que o aluno já sabe.
Para ocorrer a aprendizagem, conceitos rele-
vantes e inclusivos devem estar claros e dis-
poníveis na estrutura cognitiva do indivíduo.
A aprendizagem ocorre quando uma nova in-
formação ancora-se em conceitos ou propo-
sições relevantes preexistentes.
Aprendizado Experimental (C. Rogers) Deve-se buscar sempre o aprendizado expe-
rimental, pois as pessoas aprendem melhor
aquilo que é necessário.
O interesse e a motivação são essenciais para
o aprendizado bem sucedido.
Enfatiza a importância do aspecto interacio-
nal do aprendizado.
O professor e o aluno aparecem como os cor-
responsáveis pela aprendizagem.

6
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

Inteligências múltiplas (Gardner) No processo de ensino, deve-se procurar


identificar as inteligências mais marcantes
em cada aprendiz e tentar explorá-las para
atingir o objetivo final, que é o aprendizado
de determinado conteúdo.

Fonte: http://www.nce.ufrj.br/ginape/publicacoes/trabalhos/t_2002/t_2002_re-
nato_aposo_e_francine_vaz/teorias.htm

Abordagem Construtivista se conserva ou se enriquece pelo


da Educação próprio processo de equilibração
majorante.
Numa abordagem construti- Da mesma forma que o sujeito
vista, em que se concebe a função do incorpora o objeto aos seus esque-
professor como a de criar situações mas, estes se ajustam às característi-
favorecedoras de aprendizagem, a cas do objeto, isto é, modificam-se,
construção do conhecimento pelos transformam-se. Esse processo só é
alunos é fruto de sua ação, o que faz desencadeado quando há a presença
com que eles se tornem cada vez de um desequilíbrio, de uma pertur-
mais autônomos intelectualmente bação - de um conflito cognitivo. É
(ROSA, 2008). na busca da reequilibração que se
Segundo Piaget e Inhelder avança no processo de construção
(1976), o conhecimento se constrói do conhecimento. Essa reequilibra-
na interação entre sujeito e objeto, ção não significa, naturalmente,
resultante das sucessivas transfor- uma volta ao estado anterior de
mações de esquemas (formas de equilíbrio, mas de uma transforma-
pensar ou resolver problemas). Es- ção deste estado anterior em outro,
sas elaborações resultam de um pro- melhorado (por isso, majorante).
cesso de equilibrações majorantes Ora, se o progresso se dá a par-
que corrigem e completam as for- tir de um conflito cognitivo, de um
mas anteriores de desequilíbrio. desequilíbrio na forma de pensar,
É na interação sujeito-objeto e então o papel da escola, do profes-
pelo processo de equilibração majo- sor, é criar situações desequilibrado-
rante - auto-regulação - que o sujeito ras, desafiadoras, que impulsionem
constrói conhecimento. Essa intera- o sujeito na busca de novas alterna-
ção implica, do ponto de vista do su- tivas de ação, desafios diante dos
jeito, em poder assimilar o objeto quais o aprendiz terá oportunidade
aos seus esquemas, entendendo-se de construir conhecimentos.
por esquema uma forma de agir, que

7
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

Ao tratar-se de educação a dis-  Atividades planejadas e orga-


tância online, na qual o professor nizadas em função de algum
não está presente, realmente, mas a material/texto específico;
intervenção tem de ser feita via ma-  Atividades organizadas a par-
tir de propostas dos alunos;
terial didático, por exemplo, Rosa
 Atividades organizadas em
(2008) pondera que é justamente
função de alguma situação
esse material que deverá criar a situ- ocorrida na interação estabe-
ação desafiadora, à qual o aluno res- lecida na aula;
ponderá autonomamente, constru-  Atividades (re) planejadas a
indo sua autoaprendizagem. E, con- partir de nossa reflexão sobre
siderando-se que o intercâmbio, a a prática (ROSA, 1991).
coordenação de pontos de vista pode
constituir-se em oportunidade de Numa perspectiva construti-
avanço, por gerarem conflitos cogni- vista, o ensino não determina a
tivos, então se pode pensar em pro- aprendizagem. Enquanto esta é uma
postas organizadas de modo a pro- atividade do sujeito que aprende,
vocar no aluno a necessidade dessa aquela é uma intervenção externa,
troca. que pode ser facilitadora (ou não). O
Assim, se à distância o aluno sujeito aprende em situações funcio-
auto-aprende, pode ele próprio, con- nais (Weisz, 1999), que podem ser
comitantemente, socializar esse co- criadas na escola, quando:
nhecimento construído. “Nesse con-  Os alunos precisam usar todo
texto, o professor é incentivado a conhecimento já construído
para resolver determinada ati-
tornar-se um animador da inteligên- vidade;
cia coletiva de seus grupos de alunos  Há, realmente, um problema a
em vez de um fornecedor direto de ser resolvido e decisões a se-
conhecimentos” (LEVY, 1999, p. rem tomadas pelos alunos, em
158). função do que se pretende pro-
Ao professor caberia criar situ- duzir;
ações de aprendizagem. As situações  O conteúdo da atividade carac-
de aprendizagem são atividades que
teriza-se por ser um objeto so-
ciocultural real, sem transfor-
podem ser propostas tanto numa edu-
mar-se em objeto escolar vazio
cação presencial, quanto à distância: de significado social;
 Atividades planejadas e orga-  A organização da tarefa pelo
nizadas a partir de nossa ob- professor garante o intercâm-
servação do processo de bio de informações.
aprendizagem dos alunos;

8
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

Na educação a distância online navegação. O professor não impõe;


esses mesmos princípios são váli- ele acompanha, sugere, incentiva,
dos, quando se considera o para- questiona, aprende junto com o
digma emergente apontado por aluno” (MORAN, 1998, p. 85).
Behrens (2000), como um paradig-
ma inovador que atende aos pressu- O Construtivismo e a Inclusão
postos necessários às exigências da Social
sociedade do conhecimento. Além
disso, na educação a distância onli- Ainda sobre o tema exposto
ne, há que se enfatizar o aspecto afe- anteriormente, a concepção atual e
tivo com respeito às relações pesso- usual, na escola, envolve a concep-
ais, que pode ser impulsionado pelos ção de construtivismo, porém este é
materiais e pelas atividades que per- um termo polissêmico, com diferen-
mitam a comunicação e o intercâm- tes acepções.
bio entre os participantes (ROSA, A predominância do construti-
2008). vismo piagetiano na pesquisa educa-
Quanto a escola, seja ela pre- cional dos últimos 20 anos teve
sencial ou a distância, tem o objetivo como principal consequência desen-
de possibilitar ao aluno a aprendiza- volver uma nova visão da aprendiza-
gem. O papel do professor sempre gem, que não se reduz simplesmente
será o de mediador nesse processo e à transmissão dos fatos. O que pode
sua formação, inicial ou continuada, ser aprendido é fortemente restrin-
pode ajudá-lo a encontrar formas de gido pelas concepções iniciais dos
exercer esse papel. A depender de sujeitos pelas situações propostas e
sua concepção de aprendizagem, sua pelos meios de ação que eles dis-
atuação se modifica, mas o objetivo põem para enfrentá-las. No entanto,
será sempre o mesmo: que os alunos a concepção construtivista piageti-
aprendam. ana é considerada hoje insuficiente
Com a utilização do computa- para modelar de forma satisfatória
dor e da Internet, novas formas de os processos de aprendizagem, prin-
ensinar (e de aprender) são experi- cipalmente de Matemática, porque
mentadas e aumentam as propostas não dá conta das dimensões sociais
que combinam a educação presen- e culturais desta aprendizagem.
cial com a educação a distância onli- O Construtivismo Social, for-
ne. “Com a Internet o professor pode mulado por Ernest, critica o cons-
estar mais atento ao ritmo de cada trutivismo piagetiano e neo-piageti-
aluno, às suas formas pessoais de ano, denominado Construtivismo

9
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

Radical, incluindo outras concep-  A conversação que se origina


ções de construtivismo, posições que no nível cultural e que inclui os
compartilham uma noção principal textos escritos, numa extensão
de que o domínio social influencia o da noção de conversação;
desenvolvimento individual de um  A conversação como uma ati-
modo formativo, em que o indivíduo
vidade interna e privada, in-
trapessoal que para Vygotsky,
constrói ou se apropria de significa-
é a origem do pensamento.
dos em resposta às experiências nos
contextos sociais (GARCIA, 2009). Todos os tipos, mesmo a con-
Esta concepção é baseada nas versação privada, referem-se a uma
ideias de Vygotsky, enfatizando a atividade socialmente construída, e a
mente, a interação, a conversação, a conversação socialmente situada tem
atividade e o contexto social, ele- importante papel na formação da
mentos que estão inter-relacionados mente.
num todo e indicam um largo espec- Com esta fundamentação, po-
tro de implicações e aplicações para de-se pensar nas múltiplas variáveis
a sala de aula e para a pesquisa. Esta que influenciam o processo de
abordagem do construtivismo vê a aprendizagem para além do triân-
subjetividade do indivíduo e a essên- gulo professor-aluno-conteúdo
cia do social como indissoluvelmen- (GARCIA, 2009).
te conectados, de tal modo que a As ações das pessoas, os signifi-
subjetividade humana é constituída cados e propósitos mobilizados nas
tanto a partir de suas interações com suas atividades, suas visões subjetiva
os outros no contexto social quanto e pessoal, sua posição no contexto,
a partir dos processos individuais. suas concepções derivadas das expe-
Estes contextos sociais são riências passadas, seus afetos e dese-
formas de vida e jogos de lingua- jos, tudo participa no processo de
gem compartilhados e a metáfora aprendizagem. Além disso, o próprio
para a mente e aprendizagem é a pensamento é produzido pela motiva-
ção, isto é, pelas necessidades, inte-
conversação, interação linguística
resses e emoções (GARCIA, 2009).
entre as pessoas (GARCIA, 2009).
Fazendo uma ponte com a
Paul Ernest define três níveis
educação a distância percebe-se a
de conversação:
importância da motivação, das ne-
 A conversação que se origina
cessidades das pessoas para que o
no nível interpessoal, é um dos
modos básicos da interação processo transcorra da melhor ma-
humana; neira para ambos, professor e aluno.

10
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

2. Inclusão Social e Exclusão Digital

Fonte: Universia2

E m muitos estudos sobre a reali-


dade nacional, constata-se que
um terço de nossa população vive na
ca consolida alguns pontos de vista.
Inicialmente, é o reconhecimento de
que a exclusão digital amplia a misé-
pobreza absoluta e com baixos níveis ria e dificulta o desenvolvimento hu-
de escolaridade, sem acesso à educa- mano local e nacional. Também de-
ção, ao trabalho, à renda, à moradia, ve-se considerar que o mercado, de
ao transporte e à informação. Ainda forma imediata, não irá incluir na
que o país tenha mudado substanci- era da informação grupos sociais
almente ao longo do último século, menos privilegiados. O mesmo se
tais desigualdades sociais mantive- passou na alfabetização da popula-
ram-se. É neste quadro que se insere ção, ela não seria massiva se não fos-
a exclusão digital. se pela transformação da educação
Assim, a ideia de transformar em política pública. Por conseguin-
a cidadania digital em política públi-

2Retirado em https://www.universia.net/pt/actualidad/vida-universitaria/a-exclusao-digital-na-sociedade-
pos-covid.html

12
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

te, é condição essencial a participa- ao poder local, dar a oportunidade


ção do Estado neste processo. Por de incluir a população nos benefícios
fim, temos de constatar que o direito do mundo em rede, promover a ci-
de se comunicar só é garantido ple- dadania digital e consolidar os direi-
namente para quem tem acesso à co- tos à cidadania. Acesso aos serviços
municação em rede. públicos, o acesso à informação e o
Segundo Martini (2005) o que controle da implementação das polí-
se objetiva tão-somente é o uso livre ticas públicas serão otimizados no
da tecnologia da informação, com a mundo da Internet.
ampliação da cidadania, o combate à A promoção da cidadania é
pobreza, a garantia da privacidade e uma iniciativa fundamental para in-
da segurança digital do cidadão, a crementar a educação da população
inserção na sociedade da informa- brasileira, assegurar a preservação
ção e o fortalecimento do desenvol- de nossa cultura (com a proliferação
vimento local. de sítios de língua portuguesa e te-
Os excluídos digitais estão à máticas vinculadas ao nosso cotidi-
margem da sociedade em rede mui- ano), iniciar a requalificação profis-
tos têm chamado tal fenômeno de sional de trabalhadores e incentivar
analfabetismo digital. a criação de postos de trabalho de
Sem inclusão digital, como maior qualidade. Também para a
uma decisiva política pública, os afirmação dos direitos das mulheres
programas de governo eletrônico e crianças, desenvolvimento tecno-
acabariam privilegiando o atendi- lógico sustentável e aprimoramento
mento das elites econômicas, das da relação entre o cidadão e o poder
elites regionais, e apenas ampliando público, enfim, para a construção da
as desigualdades. cidadania digital e ativa. É a trans-
Assim sendo, a velocidade da formação da gestão do Estado sob o
inclusão é decisiva para que a socie- enfoque do cidadão, transformação
dade tenha recursos humanos pre- fundamental dos processos de pro-
parados em número suficiente para dução nos quais os serviços públicos
aproveitar as brechas de desenvolvi- são gerados e entregues (MARTINI,
mento em nosso país (MARTINI, 2005).
2005). Segundo Martini, esses princí-
Estar incluído na sociedade é pios nortearam em 2003 o governo
condição vital para o desenvolvi- brasileiro, ao incluir, em seu progra-
mento de qualquer cidadão. Cabe às ma interministerial de governo ele-
várias esferas de governo, também trônico, um comitê técnico para in-

13
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

clusão digital. O mesmo se passa no pulações carentes. Trata-se de inse-


Projeto Casa Brasil. Trata-se um dos rir essas comunidades na sociedade
planos mais ousados de inclusão so- da informação.
cial do país. Mais do que um local de A intensa participação da co-
acesso à Internet, a Casa Brasil é um munidade é a condição essencial pa-
espaço de cidadania e cultura digital, ra o sucesso do Projeto Casa Brasil.
caracterizado pela existência de tele- Afinal, não faz sentido um projeto de
centro comunitário, espaço cultural, cidadania digital voltado para pou-
ponto para produção multimídia, cos. O envolvimento da população se
rádio comunitária, banco popular, dá não só mediante o uso livre do
banco postal e núcleos de informa- equipamento e da participação em
ção tecnológica, com laboratórios de atividades, mas, inclusive, da admi-
ciência e tecnologia. Esses núcleos nistração da Casa Brasil. Os cida-
de produção compõem um novo dãos devem ser convidados a parti-
conceito de espaço para inclusão so- cipar de sua cogestão.
cial, constituindo assim uma estru- As regras de uso da Casa Brasil
tura modular de trabalho em que os devem ser decididas por um conse-
cidadãos podem realizar projetos lho gestor, composto por represen-
comunitários, culturais, profissiona- tantes da comunidade local. Os
lizantes e educacionais. membros do conselho gestor são
O projeto, além de ser um pon- eleitos periodicamente para fiscali-
to de conexão à Internet, será um zar o seu funcionamento e sugerir
centro de capacitação real, em que a melhorias. O conselho gestor é um
população poderá aprender uma canal democrático entre a sociedade
profissão em qualquer das ativida- civil e a prefeitura para que a política
des oferecidas. O objetivo inicial da pública seja executada conforme os
Casa Brasil é ser a porta de entrada interesses da comunidade. Tem co-
das comunidades para a rede mun- mo objetivo ampliar a oferta e me-
dial de computadores e para os ser- lhorar a qualidade da prestação de
viços e informações prestadas pelos serviços e informações públicas por
agentes públicos: prefeituras, esta- meios eletrônicos.
dos e União. O objetivo estratégico é Governos democráticos e par-
romper o processo de reprodução ticipativos encontram nas tecnolo-
das condições de miséria, desespe- gias da informação e da comunica-
rança e falta de perspectivas das po- ção ferramentas fundamentais para

14
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

a desburocratização dos processos velocidade que as tecnologias da in-


de trabalho, para a melhoria da ges- teligência permitem. Um processo
tão e da qualidade dos serviços pres- de capacitação social que busca evi-
tados, para a democratização do tar que as tecnologias da informação
acesso e para efetivo controle social aprofundem as desigualdades socio-
das ações governamentais. As tecno- econômicas. É evidente que o pri-
logias da informação e da comunica- meiro passo da inclusão digital é as-
ção permitem que o Estado desem- segurar o acesso ao computador, à
penhe suas funções de forma inte- Internet e às linguagens básicas da
grada, eficiente e transparente, re- sociedade da informação.
duzindo custos administrativo-ope- O projeto visa a implantar em
racionais e propiciando melhores municípios brasileiros espaços co-
condições para ações de melhoria da munitários, nas áreas mais carentes,
qualidade de vida de todos os cida- que possibilitem o acesso livre à In-
dãos. ternet e a capacitação dos cidadãos
O Programa Governo Eletrôni- em tecnologia da informação por
co apresenta também um compo- meio de estruturas modulares, que
nente de inserção do país no contex- incluam telecentros, espaços para a
to da chamada nova economia e da produção radiofônica comunitária,
sociedade da informação. As práti- unidade bancária, espaço cultural,
cas internacionais mostram que o núcleos de informações tecnológicas
uso intensivo das tecnologias da in- e módulos de presença de órgãos fe-
formação e da comunicação pode re- derais.
percutir na progressiva universaliza- Os telecentros da Casa Brasil
ção da oferta e do acesso aos serviços serão capazes de incluir digitalmen-
e informações em meio eletrônico, te 3 milhões de cidadãos, pois cada
sobretudo na Internet, de forma telecentro terá de 10 a 20 computa-
contínua e ininterrupta (MARTINI, dores conectados em banda larga,
2005). possibilitando o acesso à comunica-
Uma das ações dentro do go- ção em rede para no mínimo 3 mil
verno eletrônico é a inclusão digital pessoas residentes no seu entorno.
mediante a implantação e manuten- Mais do que um local de acesso
ção de telecentros, que visa à capaci- à Internet, o Casa Brasil é um espaço
tação da população mais carente, de cidadania e cultura digital carac-
para o cidadão incluído digitalmente terizado pela existência de telecen-
conseguir gerar, armazenar, proces- tro comunitário, espaço cultural,
sar e distribuir informações com a ponto para produção multimídia,

15
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

rádio comunitária, banco popular, ma. Continuam marginalizados. O


banco postal e núcleos de informa- que mudou foi a maquiagem da po-
ção tecnológica, com laboratórios de breza.
ciência e tecnologia. Esses núcleos Alguns falam de política social
de produção compõem um novo “como efeito de poder” (Popkewitz,
conceito de espaço para inclusão so- 2001), para indicar que, em vez de os
cial, constituindo assim uma estru- programas construírem condições
tura modular de trabalho em que os emancipatórias, bastam-se com re-
cidadãos podem realizar projetos passe de restos e isto favorece, ao fi-
comunitários, culturais, profissiona- nal, os donos do poder.
lizantes e educacionais (MARTINI, Em contexto similar, fala-se de
2005). solidariedade muito facilmente (Se-
Mas... vamos discutir um pou- queiros, 2002), em especial quando
co sobre a inclusão social ter se tor- proposta por países e agências fi-
nado um lugar comum, palavra fácil, nanceiras, que, pregando o amor ao
cujas práticas tendem a ser o re- próximo, não vão além de atrelar os
verso. países mais pobres ao capital inter-
Por exemplo, em educação, in- nacional.
clusão social tornou-se progressão Caufield (1998 apud Demo,
automática, ou seja, imaginando-se 2002) coloca na berlinda os “mes-
favorecer estudantes com dificul- tres da ilusão” do Banco Mundial,
dade de aprendizagem, crianças são questionando seus programas de
empurradas para cima de qualquer combate à pobreza, não só porque os
maneira e logo alcançam o 9º ano, resultados até hoje são pífios, como
mais ainda não entendem o que principalmente porque se trata de
leem. Foram incluídas socialmente? solidariedade como efeito de poder.
Outro exemplo: famílias integradas Desde sempre escutamos esta
no programa Bolsa Família, de certa cantilena da distribuição da renda
maneira, melhoram suas condições com vistas à inclusão social, sem
materiais de vida, mas dificilmente proveito satisfatório. Primeiro, é
conseguem sair desta situação assis- muito diferente falar da pobreza em
tida. É isto inclusão social? Facil- países onde os pobres são minorias,
mente aceitamos como inclusão so- como foi o caso do welfare state. No
cial a inclusão na margem. contexto de uma sociedade relativa-
Como diz Demo (2005) os po- mente igualitária (predominância
bres estão dentro, mas dentro lá na expressiva de classe média), políti-
margem, quase caindo fora do siste- cas universalistas são as mais ade-

16
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

quadas, porque se supõe que todos Neste debate, existe ainda ou-
têm alguma condição de acesso tro ponto a sublinhar.
equitativo. Quando se oferece edu- Na discussão francesa sobre
cação pública gratuita, é a mesma exclusão social, aparece frequente-
para todos e de qualidade elevada e mente a ideia de que os pobres se-
todos podem usufruir razoavelmen- riam, cada vez mais, descartáveis
te. Segundo, outra é a situação de so- (Demo, 1999). Os países mais ricos,
ciedades pobres, nas quais a pobreza com efeito, já internalizaram esta
é expressiva e mesmo majoritária. perspectiva: o Terceiro Mundo, ou,
Nessas “sociedades de classe”, have- pior ainda, o Quarto Mundo, não
ria pouco sentido em tratar aos do- despertaria mais qualquer interesse,
nos dos meios de produção e os tra- nem mesmo de oferta de matéria-
balhadores do mesmo modo, porque prima, porque a economia intensiva
apenas agravaríamos as desigualda- de conhecimento teria suas próprias
des, à medida que os excluídos se- soluções tecnológicas. Demo (2005)
riam ainda mais excluídos (DEMO, considera esta visão muito equivo-
2005). cada, porque ofusca a dialética que
Por isso, oferecendo políticas une, umbilicalmente, pobres e ricos,
sociais de qualidade, os mais ricos países avançados e atrasados. Po-
delas se apropriam, restando para a breza não é mau jeito do mercado,
população mais pobre ofertas pre- mera carência material, casualidade,
tensamente universalistas, mas que mas produto histórico dialético. O
são coisa pobre para o pobre. fato de que países pobres se tornem
Terceiro, o desafio não é distri- pretensamente descartáveis indica
buir, mas “redistribuir” renda, por- que este produto histórico chegou ao
que, estando renda violentamente cúmulo do sarcasmo, mas não des-
concentrada, trata-se de diminuir a faz a unidade de contrários.
riqueza dos mais ricos e elevar as Aproveita-se esta circunstân-
condições sociais dos mais pobres. cia para lançar a “culpa” pelo atraso
Não conhecemos políticas so- sobre os atrasados, encobrindo a di-
ciais efetivamente redistributivas de nâmica neoliberal que fabrica exclu-
renda, porque o ambiente neoliberal são social como marca crucial de sua
não permite: podemos distribuir so- própria razão de ser. Segue que, di-
bras orçamentárias que não com- ante da exclusão, é mister confron-
prometam o saque do Estado pela tar-se com ela, não entregar-se ao
elite (Silva e Silva/Yazbek/Gio- opressor, porquanto, como dizia
vanni, 2004). Paulo Freire, se o oprimido não se

17
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

confrontar, adota o opressor. Hoje, pedagogia e a licenciatura não fa-


inclusão social está contaminada zem, sem falar nas condições socio-
desta malandragem: como regra é econômicas adversas de docentes
arapuca do opressor. que não possuem acesso digital:
A “digital divide”, como se diz quase 90% nunca participavam de
nos Estados Unidos (Withrow, 2004 lista de discussão através do correio
apud Demo, 2004), é problema agu- eletrônico, quase 60% nunca usa-
do de países atrasados, mas acomete vam correio eletrônico, perto de
também vastas camadas em países 60% nunca navegavam na internet,
avançados, porque muitos adultos/ por volta de 54% nunca se divertiam
idosos não se propõem mais inserir- com seu computador.
se na sociedade digital com autono- Terceiro, há de se levar em
mia. Usam produtos digitais como conta que esta precariedade docente
consumidores (da nova mídia, por contamina não só alunos pobres,
exemplo), mas não se dispõem mais mas igualmente os outros, ainda que
a desenvolver habilidades digitais de em dimensões muito diferentes. Os
manejo próprio. Interessa-nos aqui alunos mais pobres ficarão fora, na-
a discriminação digital contra imen- turalmente, até porque ainda é im-
sos segmentos sociais pobres, situa- pensável ter computador em casa e,
ção em geral agravada pela má qua- muitas vezes, na escola. Ficar fora,
lidade da escola pública. Esta ques- entretanto, precisa ser visto dialeti-
tão detém enorme complexidade. camente, porque, sendo inevitável a
Primeiro, não se pode imaginar que, penetração das novas tecnologias, os
de repente, pudéssemos saltar por pobres estarão dentro, mas como ex-
cima do atraso tecnológico nacional cluídos. Serão incluídos, de qual-
ou por cima da necessidade de infra- quer maneira, na margem. Aparece,
estruturas adequadas. então, o desafio do que seria inclu-
Em muitos interiores, a infra- são digital para eles. Como regra, a
estrutura é ainda muito precária tendência é considerar inclusão o
para abrigar a nova mídia em condi- que não passa de efeito de poder, à
ções mínimas. Segundo, a inclusão medida que se reservam para eles os
digital na escola depende, em gran- restos, tais como: equipamentos su-
de medida, da qualidade docente, catados, cursos precários, ambientes
no sentido de que os professores improvisados, treinamentos encur-
precisam enfronhar-se definitiva- tados, programas baratos (DEMO,
mente nesta seara, o que, em geral, a 2005).

18
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

Quanto aos outros alunos, a menos a mesma, enquanto os pes-


discriminação digital pode ser me- quisadores da pobreza vão de vento
nos de ordem material de acesso a em popa. A pobreza também tem
equipamentos, por exemplo, do que charme.
a pobreza do ambiente escolar, cuja O analfabetismo digital vai se
linguagem não se coaduna com os tornando, possivelmente, o pior de
desafios digitais fora da escola. todos. Enquanto outras alfabetiza-
Estando mal preparada a esco- ções são já mero pressuposto, a alfa-
la, continua falando seu próprio la- betização digital significa habilidade
tim, à revelia da realidade digital. O imprescindível para ler a realidade e
aluno perde a oportunidade de dela dar minimamente conta, para
aprender a “ler a realidade”, inci- ganhar a vida e, acima de tudo, ser
dindo em outro nível da discrimina- alguma coisa na vida. Em especial, é
ção digital: embora possa saber lidar fundamental que o incluído controle
com ela, não a sabe ler, no sentido de sua inclusão.
compreender, interpretar, recons-
truir.
Não sabe pensar os desafios de
uma sociedade e economia informa-
cionais (LASH, 2005 apud DEMO,
2005).
Sobre este pano de fundo,
emergem pelo menos dois grandes
horizontes:
 Enfrentar o atraso tecnológi-
co, para não ficar para trás de-
finitivamente;
 Enfrentar a precariedade da
escola pública, para não per-
mitir que a população seja in-
cluída na margem.

Ao mesmo tempo, há de levar


em conta a crítica de O’Connor
(2001 apus Demo, 2003), quando,
discutindo o conhecimento já amea-
lhado sobre pobreza, constata que a
pobreza estudada continua mais ou

19
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

3. Inclusão Digital

Fonte: Altio3

Os Três Pilares da Inclusão O Doutor em Ciência da Com-


Digital putação Antônio Mendes da Silva Fi-
lho versa com muita propriedade so-

N os últimos anos, tem sido


apregoado aos quatro cantos
do Brasil a necessidade de se fazer a
bre esses temas, portanto, os textos
que se seguem são todos baseados
em seus estudos e ponderações.
inclusão digital para aqueles indiví- Não é difícil vaticinar que sem
duos que não têm acesso às tecnolo- qualquer um desses pilares, não im-
gias de informação e comunicação porta qual combinação seja feita,
ou simplesmente TIC’s, como são qualquer ação está fadada ao insu-
mais comumente conhecidas. Três cesso. Atualmente, segundo o Mapa
pilares formam um tripé fundamen- de Exclusão Digital divulgado no iní-
tal para que a inclusão digital acon- cio de Abril/2003 pela Fundação
teça: TIC’s, renda e educação. Getúlio Vargas (FGV-RJ) juntamen-

3 Retirado em https://altio.com.br/2020/10/13/desafios-da-inclusao-digital/

21
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

te com outras entidades, aproxima- da era digital. Para termos uma ideia
damente 12% dos brasileiros têm da quantidade de excluídos, basta
computador em suas residências e responder a perguntas simples co-
pouco mais de 8% encontram-se co- mo, por exemplo: Quantos brasilei-
nectados à Internet. Até quando ros possuem computador pessoal
continuará a inépcia do governo bra- em suas residências? Quantos pos-
sileiro? (Se é que ele tem qualquer suem linha telefônica? Até bem pou-
real intenção de promover a inclu- co tempo atrás, era ínfima a quanti-
são digital). dade de pessoas que tinha telefones
As TIC’s têm causado mudan- em suas residências. Tudo isso em
ças significativas em toda a socieda- razão da necessidade que antes se ti-
de. No âmbito empresarial, as modi- nha de comprar a linha telefônica.
ficações decorrentes das TIC’s têm: Anteriormente, o indivíduo tinha de
 Propiciado ambiente competi- comprar uma linha e, além disso, re-
tivo as mais variadas institui- cebia ações da empresa que comer-
ções, inclusive as não tradicio- cializava as linhas telefônicas. Com a
nais; reformulação do sistema brasileiro
 Promovido o declínio de cus- de telecomunicações, esse modelo
tos de processamento;
antigo deixa de existir e, hoje em dia,
 Motivado a erosão geográfica e
de produtos; o cidadão simplesmente solicita a
 Influenciado o planejamento e instalação de uma linha e paga pela
redesenhado organizações. assinatura mensal e uso que faz da
mesma.
As TIC’s possibilitam a melho- Atualmente, embora o brasi-
ria de qualidade em diversos aspec- leiro possa dispor desse recurso e fa-
tos dos negócios. Pode-se ainda des- cilidade, caso esse indivíduo faça um
tacar a promoção de produtos bem uso modesto da linha telefônica para
como uso de novos canais de venda ter acesso à Internet, além de algu-
e distribuição, possibilitando novas mas ligações telefônicas ao longo do
oportunidades de negócios. É inegá- mês, tal uso resultará numa conta
vel as alternativas oferecidas. telefônica com valor mensal entre
Agora, se mudarmos nosso R$ 80,00 e R$ 100,00. Isto tudo
foco de empresas e instituições para considerando que ele tenha acesso à
indivíduos, é visível que a maioria da Internet através de algum provedor
população brasileira, isto é, aproxi- gratuito, dentre vários existentes. Se
madamente 90%, encontra-se ex- o indivíduo optar por financiar a
cluída do desfruto das tecnologias compra do computador em 24 paga-

22
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

mentos, ele irá pagar uma prestação Ações de inclusão digital de-
com valor médio de R$ 95,00, resul- vem estimular parcerias entre go-
tando num custo total de R$ vernos (nas esferas federal, estadual
2.280,00 (o qual compreende apro- e municipal), empresas privadas, or-
ximadamente 10 salários mínimos). ganizações não governamentais
A exclusão socioeconômica (ONGs), escolas e universidades.
desencadeia a exclusão digital ao Governos e empresas privadas de-
mesmo tempo que a exclusão digital vem atuar prioritariamente na me-
aprofunda a exclusão socioeconômi- lhoria de renda, suporte à educação
ca. A inclusão digital deveria ser fru- bem como tornar disponíveis equi-
to de uma política pública com des- pamentos à população. Algumas
tinação orçamentária a fim de que ações que podem ser promovidas
ações promovam a inclusão e equi- pelos governos e empresas privadas
paração de oportunidades a todos os incluem:
cidadãos. Neste contexto, é preciso  Disponibilizar acesso a termi-
levar em conta indivíduos com baixa nais de computadores e cor-
escolaridade, baixa renda, com limi- reio eletrônico a toda a popu-
tações físicas e idosos. Uma ação pri- lação;
 Oferecer tarifas reduzidas pa-
oritária deveria ser voltada às crian-
ra uso dos sistemas de teleco-
ças e jovens, pois constituem a pró- municações;
xima geração (SILVA FILHO,  Criar mecanismos de isenção
2003). fiscal, sem muita burocracia,
Um parceiro importante à in- para o recebimento de doações
clusão digital é a educação. A inclu- de computadores e equipa-
são digital deve ser parte do proces- mentos de infraestrutura.
so de ensino de forma a promover a
educação continuada. Note que edu- Essas ações per se não são su-
cação é um processo e a inclusão di- ficientes. É ainda necessário o de-
gital é elemento essencial deste pro- senvolvimento de redes públicas que
cesso. Embora a ação governamen- possibilitem a oferta de meios de
tal seja de suma importância, ela produção e difusão de conhecimen-
deve ter a participação de toda soci- to. As escolas e universidades cons-
edade face a necessidade premente tituem também componentes essen-
que se tem de acesso à educação e re- ciais à inclusão digital uma vez que
distribuição de renda permitindo as- diversos protagonistas (professores,
sim acesso as TIC’s. alunos, especialistas membros da

23
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

comunidade) atuam em conjunto Adicionalmente, poderíamos


para o processo de construção de co- ainda considerar o uso do software
nhecimento. Note que os três pilares livre em computadores que seria
do tripé da inclusão digital devem sem qualquer custo. Entretanto, de-
existir em conjunto para que ela ve-se considerar a facilidade de ope-
ocorra de fato. De nada adianta ração, suporte e manutenção exis-
acesso às tecnologias e renda se não tentes. Ademais, há ainda demanda
houver acesso à educação. Isto por- reprimida de usuários de sistemas
que o indivíduo deixa de ter um me- de telecomunicações, especifica-
ro papel “passivo” de consumidor de mente, o sistema de telefonia fixa
informações, bens e serviços, e então que pode e precisa ser expandido a
passa também a atuar como um pro- fim de prover a população com esse
dutor (de conhecimentos, bens e serviço básico além de permitir que
serviços). ela tenha acesso à Internet.
É também imperativo que a in- O Brasil tem condições de su-
clusão digital esteja integrada aos perar esse atraso e as vicissitudes
conteúdos curriculares e isto requer existentes. Todavia, para que isso de
um redesenho do projeto pedagó- fato ocorra, é preciso começar a
gico e grade curricular atuais de en- fazê-lo hoje, ou melhor, ontem. Do
sino fundamental e médio. É pré-re- contrário, as gerações vindouras
quisito considerá-lo também na for- continuarão com elevado índice de
mação de profissionais dos cursos de excluídos da era digital. A inclusão
Pedagogia, Licenciaturas e simila- digital tem um tripé que compreen-
res. de acesso à educação, renda e TIC’s.
Os indivíduos, que por condi- A ausência de qualquer um desses
ções de insuficiência de renda, não pilares significa deixar quase 90%
têm como dispor de computador e li- da população brasileira permane-
nha telefônica em casa, poderiam ter cendo na condição de mera aspi-
a exclusão atenuada, caso tenham rante a inclusão digital. Dentro deste
acesso através de empresas, escolas contexto, considera-se que a inclu-
ou centro de cidadãos. Esses recur- são digital é necessária a fim de pos-
sos destinariam-se prioritariamente sibilitar à toda a população, por
àqueles que não têm acesso em suas exemplo, o usufruto dos mais varia-
residências. Vale ressaltar que este dos serviços prestados via Internet.
tipo de solução tem natureza palia- Hoje em dia, ter acesso à Internet
tiva. significa acesso a um vasto banco de

24
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

informações e serviços. Este imenso produtos e serviços gerados. Atual-


repositório de conteúdo e serviços mente, as nações mais industrializa-
merece e deve ser utilizado por toda das têm de 60 a 80% de sua força de
população brasileira. É preciso que o trabalho com qualificação profissio-
governo, como principal protagonis- nal elevada, enquanto que o México
ta, assuma o papel de coordenador e detém aproximadamente 25%, e a
atue em conjunto com sociedade ci- Índia cerca de 5%. Estima-se que no
vil organizada a fim de assegurar o Brasil, esse percentual é de pouco
tripé da inclusão digital (SILVA FI- mais de 1%, o que representa uma
LHO, 2003). quantidade muito ínfima.
Essa crescente demanda por
Educação e Inclusão Digital pessoas qualificadas exige um cres-
cimento similar de formadores em
A educação é o processo pelo instituições de ensino que podem
qual a sociedade passa o conheci- ser as universidades tradicionais de
mento e experiências acumuladas tijolo e cimento, universidades vir-
das gerações passadas às novas ge- tuais (sem paredes) ou ainda unida-
rações de maneira sistemática e um des de ensino a distância. Isto re-
determinante no progresso das na- quer soluções criativas. É importan-
ções desenvolvidas. Se ousarmos te observar que uma única institui-
nos libertar dos currículos obsoletos ção ou universidade não poderá pro-
e mecanismos inadequados de en- ver todos os cursos demandados pe-
trega e disponibilidade de informa- la sociedade. A quantidade e tipos de
ção, podemos aproveitar a oportuni- cursos ofertados e demandados
dade para superar o “gap” educacio- também determinarão mudanças na
nal que nos separa das nações mais educação, tornando-a distribuída.
prósperas. Como consequência, veremos a for-
O conhecimento e habilidades mação de “consórcios” gerando a ne-
da força de trabalho de um país é o cessidade adicional de mudanças na
principal determinante na taxa de forma de gestão da educação. A edu-
crescimento econômico, bem como cação vai cruzar fronteiras não ape-
nos tipos e quantidade de postos de nas físicas, mas também de natureza
trabalho criados. Quanto maior é o cultural, tornando o educador num
nível de qualificação profissional, “facilitador” (SILVA FILHO, 2007).
maior é a produtividade, melhor é a A formação de capital humano
qualidade, e menor é o custo dos dever ter foco na capacitação profis-

25
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

sional e educação continuada. As ção das possibilidades de uso das


instituições devem buscar inovar tecnologias digitais (CASTELLS,
nas formas de capacitar e/ou fomen- 2003, p. 211).
tar a capacitação de profissionais. No campo da ciência da infor-
Esse foco em capital humano quali- mação, Marteleto situa a escola co-
ficado resulta num diferencial com- mo um locus privilegiado para o es-
petitivo às empresas gerando novos tudo das práticas informacionais e
produtos e conquistando novos mer- para uma visão da institucionaliza-
cados. Como diz Silva Filho, é preci- ção e funcionamento de nosso mun-
so pensar grande, agir (pelo menos) do cultural (MARTELETO, 1995, p.
a pequenos passos, mas rápido, te- 72).
mos de agir rápido, pois a velocidade Nessa perspectiva, “a comuni-
é que faz a diferença. cação e a interação pessoais, o aces-
Outro ponto importante que já so e a troca de informações que po-
sabemos hoje: a “inclusão digital” dem levar à mudança e à possibili-
não deve contemplar apenas o aces- dade, enfim, de reflexão”, são fatores
so físico à rede Internet e computa- que distinguem o campo pedagógico
dores, mas, especialmente, a capaci- de outros espaços de produção e uso
tação das pessoas para utilizar estes da informação (MARTELETO, 1995,
meios de comunicação da informa- p. 79). É assim que, no campo cien-
ção e, principalmente, criar oportu- tífico da informação, é possível abor-
nidades de compartilhamento e cri- dar o professor como “agente social”
ação digitais, ou seja, a produção de no processo de “transmissão do co-
“conteúdos”. Nesse sentido, a forma nhecimento para aqueles que dele
de se proporcionar este acesso deve necessitam” (WERSIG; NEVELING,
estar integrada às condições locais 1975, citados por FREIRE, 1997).
existentes, em termos de suas orga- O professor teria função de
nizações, tanto quanto em seus refe- mediador na comunicação entre
renciais culturais. Centros de produ- usuários que necessitam de conheci-
ção, criação e compartilhamento mento no seu processo de desenvol-
cultural (e de acesso à rede) devem vimento pessoal e social, e os esto-
estar integrados a associações co- ques de informação acumulados e
munitárias, centros religiosos, igre- disponíveis na sociedade. É nesse
jas etc. (LAZARTE, 2000, p. 48) sentido que Belluzzo, abordando a
Acrescentamos as escolas, questão da educação na sociedade
aceitando o convite de Castells para da informação, destaca aquela que
“dar um passo adiante” na explora- deveria ser a principal competência

26
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

dos professores no processo de en- cursos tecnológicos de informação e


sino-aprendizagem: “fluência cientí- conhecimento, bem como atuar
fica e tecnológica [ou seja,] saber como um usuário alerta, crítico e co-
utilizar a informação, criando novo nhecedor dos recursos que facilitam
conhecimento” (BELLUZZO, 2001). o trabalho intelectual.
Nesse contexto, os professores Assim, também no âmbito
precisariam constantemente estar educacional é possível perceber a re-
envolvidos em atividades de atuali- levância de uma parceria entre in-
zação profissional e interagir com formação e educação, pois na verda-
diferentes realidades e culturas es- de as salas de aulas também são es-
pecializar-se no sentido de estar em paços de informação e conhecimen-
contato com as mudanças do mundo to. E de que modo essas áreas cientí-
real, para modernizar e democrati- ficas e os profissionais que nelas
zar o sistema educativo. atuam poderiam se (re)unir, em prol
No campo da educação, Perre- da disseminação das competências
noud4 (2000) ressalta a importância em informação na educação?
de os professores estarem sempre Primeiramente, será necessá-
atualizados, propondo dez compe- rio que os professores tenham, em
tências necessárias para reflexão e sua prática, um maior contato com
orientação na prática pedagógica. as bibliotecas, para estarem mais
A oitava dessas competências preparados no momento do incen-
diz respeito à utilização de novas tivo aos alunos.
tecnologias e propõe quatro atitudes Em seguida, levar as crianças
fundamentais para o ensino: utilizar frequentemente ao espaço bibliote-
editores de textos; explorar as po- cário também é função primordial
tencialidades didáticas dos progra- deste professor, assim como propor,
mas em relação aos objetivos de en- junto aos bibliotecários da escola,
sino; comunicar-se a distância por atividades educacionais regulares
meio da telemática; utilizar as ferra- em tal ambiente (MOURA, 2006, p.
mentas multimídia no ensino. Cabe- 58).
ria aos professores a busca da atua- Uma das etapas da estrutura
lização e envolvimento com os re- formal do ensino deveria ser a alfa-

4 Competência, para o autor, refere-se “à capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos para enfrentar
um tipo de situações” (PERRENOUD, 2000, p. 101). As competências propostas por Perrenoud são organizar
e dirigir situações de aprendizagem; administrar a progressão das aprendizagens; conceber e fazer evoluir os
dispositivos de diferenciação; envolver os alunos em sua aprendizagem e em seu trabalho; trabalhar em equipe;
participar da administração da escola; informar e envolver os pais; utilizar novas tecnologias; enfrentar os
deveres e os dilemas éticos da profissão; administrar sua própria formação contínua (PERRENOUD, 2000).

27
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

betização informacional apoiada em tecnologias de produção e comuni-


tecnologias digitais de informação e cação da informação. É nessa parce-
comunicação, desde o ensino funda- ria que reside nossa esperança para
mental, de modo a produzir conteú- inclusão social e cognitiva das clas-
dos digitais compatíveis com a pro- ses desfavorecidas economicamente
posta política pedagógica da insti- e para ela deveria convergir nosso
tuição. Para isso, os currículos edu- esforço coletivo na formulação de
cacionais deveriam estimular o aces- políticas públicas que contemplem
so e uso de bibliotecas e meios digi- as competências em informação na
tais de busca e recuperação de infor- educação. (FREIRE, 1997).
mações relevantes, considerando a
informação como aspecto importan- Pacto entre Governos e Socie-
te e indissociável da educação. Pois dade
“informar”, no ambiente escolar,
não significa apenas buscar e recu- Para ampliar o acesso às tec-
perar informações julgadas relevan- nologias da informação, o governo
tes no processo de aquisição de co- brasileiro desenvolve o Programa
nhecimentos, mas, especialmente, Brasileiro de Inclusão Digital e tam-
envolver-se profundamente com o bém está estabelecendo parcerias
processo de busca e utilização do co- com governos estaduais, munici-
nhecimento representado pela in- pais, organizações não governamen-
formação, em um dado momento de tais e outras entidades da sociedade
aprendizagem. civil. Não podemos fazer uma políti-
Esta é a nossa visão do profes- ca de inclusão digital apenas do pon-
sor como agente de socialização da to de vista do Estado. Precisamos
informação, compartilhando com criar um ambiente institucional que
outros profissionais a responsabili- promova a inclusão na sociedade em
dade de transmitir o conhecimento rede. Somente com um novo pacto
para usuários que dele necessitem social conseguiremos aproveitar o
nos respectivos processos de desen- potencial transformador das novas
volvimento pessoal e social. tecnologias da informação e comu-
Nesse contexto, uma parceria nicação para construirmos uma so-
entre informação e educação pode ciedade mais inclusiva e democrá-
fazer a diferença no desenvolvimen- tica.
to do processo educativo e do ensi- Vivemos uma nova etapa na
no, contribuindo para o movimento história da humanidade. Entramos
pela democratização do acesso às na era da sociedade da informação,

28
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

que transformou radicalmente a for- Outro aspecto importante des-


ma como o conhecimento é adquiri- se processo é que o exercício da de-
do, armazenado, processado, trans- mocracia plena pode ser muito po-
mitido e disseminado. As novas tec- tencializado com a Internet. Se ela
nologias de informação e comunica- estiver bem distribuída nas diversas
ção dissolveram as fronteiras nacio- camadas sociais, as pessoas pode-
nais e propiciaram o surgimento de rão, por exemplo, votar sobre mu-
uma nova configuração social e eco- danças na sua rua, sobre o orçamen-
nômica que colocou o conhecimento to da sua cidade, sobre quais obras
no cerne dos processos vividos em devem ser feitas ou não.
sociedade. Presenciamos a dissemi- No Brasil temos grandes
nação da rede mundial de computa- exemplos disso com a aplicação do
dores, que é o maior exemplo de Orçamento Participativo, que possi-
compartilhamento do conhecimento bilitou diversas contribuições ao
e é um tributo ao pensamento cien- exercício da democracia. Esse é um
tífico, porque partiu da necessidade instrumento que pode ser ainda
de os cientistas compartilharem in- mais potencializado com a transpa-
formações sobre o andamento dos rência do Estado e a prestação de
projetos. contas à sociedade de tudo o que o
Na década de 1930, um arte- governo faz. É importante que o Es-
são provavelmente até os 30 anos de tado sempre esteja auscultando a so-
idade aprendia com seus mestres e ciedade em todos os momentos da
após passava a ensinar seus conhe- vida pública e, nesse sentido, a In-
cimentos. Hoje, um engenheiro, ao ternet nos permitirá radicalizar a de-
sair da universidade, já tem boa par- mocracia.
te do seu conhecimento desatuali- São mudanças de capacidade
zado. Há a necessidade de aprender- fundamentais que exigem dos países
mos, permanentemente, nesta soci- desenvolvidos e em desenvolvimen-
edade completamente diferente e in- to a definição de novos rumos na po-
terativa e repensarmos a forma com lítica, economia, gestão pública,
que os professores tratarão as ques- educação, cultura, entre outras. A
tões daqui para adiante. Porém, questão não é se caminhamos ou
mais importante ainda que saber é não para a sociedade da informação,
saber onde encontrar as informa- mas qual sociedade da informação
ções e saber continuar aprendendo. queremos. Qualquer que seja a so-

29
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

ciedade da informação para a qual acesso a crédito facilitado para fi-


vamos caminhar, da mais democrá- nanciar essa mudança e a sua cons-
tica a mais autoritária, ambas po- tante atualização tecnológica e ge-
dem ser construídas e, certamente, rencial.
usarão recursos da tecnologia da in- Se não tivermos uma política
formação para serem implantadas. que force a democratização, se não
Desde o porteiro até o mais alto qua- tratarmos dessas questões e da di-
lificado engenheiro de software, to- minuição do analfabetismo funcio-
dos precisarão usar esses recursos. nal e digital e da pobreza e da misé-
Mas é possível que estejamos ria também no mundo eletrônico,
correndo o risco de ter dois tipos de corremos o risco de aumentar ainda
cidadãos: de um lado, os que estão mais a diferença entre o mundo dos
incluídos no mundo desenvolvido e incluídos e excluídos. Isso não se
participam dele, têm conta no ban- aplica apenas para os países em de-
co, automóvel, cartão de crédito e senvolvimento, mas vale para o
pertencem à sociedade ocidental e mundo inteiro. Senão, aumentarão
supostamente desenvolvida; do ou- as diferenças entre pobres e ricos
tro lado, estará o conjunto daqueles mesmo nos países desenvolvidos.
que estão absolutamente marginali- A sociedade da informação
zados, que não têm a menor possibi- pode ser mais excludente e aumen-
lidade de sobreviver em um mundo tar o déficit econômico e social, mas
globalizado, que foram esquecidos podemos aproveitar suas potenciali-
pelo mundo e que morrerão das do- dades para diminuir a miséria e con-
enças mais antigas e pouco tratáveis. solidar os direitos dos cidadãos.
Por sua vez, as pequenas e mé- Nesse sentido, a inclusão digi-
dias empresas, que no Brasil ofere- tal deve ser tratada como um ele-
cem quase a metade dos empregos mento constituinte da política de go-
formais, são a contrapartida empre- verno eletrônico para que essa possa
sarial da exclusão digital. É preciso configurar-se como política univer-
simplificar os processos de acesso a sal. No Programa Brasileiro de Go-
serviços públicos, reduzindo seus verno Eletrônico, estamos tratando
custos, o tempo e o número de docu- de aumentar, de forma qualificada,
mentos exigidos. É fundamental re- não somente a oferta de mais e me-
duzir o custo burocrático de funcio- lhores serviços por vias eletrônicas,
namento das empresas, diminuir o mas também sua demanda.
número daquelas que operam precá- No Brasil, a Internet é concen-
ria ou informalmente. Garantir seu trada nas classes A e B. Os números

30
TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

da classe A, que corresponde a me- tica pública de inclusão digital. A


nos de 4% da população brasileira, ideia é induzir e fomentar a imple-
são de Primeiro Mundo. Agora, mentação de espaços públicos de
quando vamos para a classe E, que acesso comunitário por governos
reúne quase 32% da população bra- municipais, estaduais, iniciativa pri-
sileira, apenas 0,5% tem acesso à In- vada e sociedade civil, priorizando o
ternet. De acordo com a Pesquisa uso de software livre para ampliar a
Nacional de Amostra de Domicílios proporção de cidadãos, sobretudo os
(PNAD 2003), desenvolvida pelo de classe C, D e E, com acesso às tec-
Instituto Brasileiro de Geografia e nologias da informação e comunica-
Estatística do Ministério do Planeja- ção, como vimos anteriormente.
mento, há uma queda acentuada São diferentes iniciativas que
quando saímos da classe A para a vão desde o oferecimento de linhas
classe B. A classe C agrupa uma po- de financiamento específicas para
pulação maior que as classes A e B subsidiar a venda de computadores,
reunidas, e a classe B possui mais a reciclagem de computadores des-
que o dobro de acesso a computado- cartados para serem destinados a te-
res que a classe C. lecentros e escolas, entre outros, a
Por essa pesquisa, cerca de instalação de telecentros voltados
68% da população brasileira estão para diferentes segmentos da socie-
nas classes D e E praticamente não dade zonas rurais, grandes centros
têm acesso à Internet. Na Europa e urbanos, micro e pequenos empre-
nos Estados Unidos, 75% das casas sários, passando pelo levantamento
têm computador e 67% têm acesso à das iniciativas de inclusão digital em
internet. Não é por acaso que as es- curso no país.
colas conectadas no Brasil estão for- Uma dessas ações é o Compu-
temente concentradas em São Pau- tador para Todos (PC Conectado),
lo. E mesmo na cidade de São Paulo, que já começa a apresentar resulta-
a banda larga está nos Jardins, e não dos concretos. Levantamento recen-
está na zona leste. Portanto, mesmo te feito pela Consultoria IDC mos-
em uma região rica, há também uma trou que o programa, viabilizado
concentração na distribuição desses com isenção de impostos por meio
recursos em função da renda. da MP n° 252 de junho de 2005, está
A fim de ampliar esse acesso, o impulsionando a venda de computa-
governo brasileiro está desenvolven- dores no país. Estimativas apontam
do o Programa Brasileiro de Inclu- um incremento da ordem de 30% no
são Digital para estimular uma polí- mercado formal e a maior redução

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TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

do consumo do número de computa- ro e recursos. Se desenvolvermos in-


dores pirateados nos últimos 10 teligência e compartilharmos os
anos. O Computador para Todos nossos saberes, podemos alavancar
tem caráter interministerial e é coor- uma outra abordagem que seja ca-
denado pela Presidência da Repú- paz de minimizar a miséria e a po-
blica. breza do nosso país.
Países em desenvolvimento É exatamente esse o espírito
que têm grande massa da sua popu- do projeto Computadores para a In-
lação em situação de pobreza preci- clusão, que consiste na implantação
sam de abordagens diferentes, no- de centrais de recondicionamento
vas, mais adequadas à sua situação de computadores usados para serem
econômica. Então, não se pode des- destinados a telecentros, escolas e
perdiçar nenhum processador, ne- bibliotecas. O projeto também inte-
nhum equipamento. É preciso criar gra o Programa Brasileiro de Inclu-
soluções em informática que sejam são Digital e é coordenado pela Se-
melhores que as existentes, mais ba- cretaria de Logística e Tecnologia da
ratas e eficazes. É necessário o de- Informação do Ministério do Plane-
senvolvimento de computadores ba- jamento. A ação busca dar um des-
seados em hardware comoditizados, tino socialmente justo e ambiental-
em software aberto baseado em mente correto para milhares de mi-
grids5 e clusters6, que permitem rea- croprocessadores, teclados, monito-
proveitar muitas de nossas máqui- res, mouses e impressoras descarta-
nas com outra abordagem. É preciso dos anualmente por órgãos da admi-
investir na reciclagem de computa- nistração pública federal. São cerca
dores, fazendo com que esses pro- de 4 milhões de equipamentos des-
cessadores voltem e contribuam pa- cartados anualmente no Brasil.
ra diminuir a chamada brecha digi- Se cada uma das ações para a
tal. inclusão digital em andamento tiver
É central que as nações se or- 50% de êxito, vamos ter um grande
ganizem para pensar de outra ma- impacto na questão da infraestru-
neira essas questões. Telecomunica- tura. Mas para isso precisamos criar
ções e informática significam antes um ambiente institucional que pro-
de tudo inteligência e depois dinhei- mova a inclusão na sociedade em

5 Arquitetura de computação distribuída para o compartilhamento de recursos que possibilita aproveitar ca-
pacidades ociosas.
6 Sistema que compreende dois ou mais computadores ou sistemas que trabalham em conjunto para executar

aplicações ou realizar outras tarefas.

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TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

rede. Sabemos que não podemos fa- A exclusão digital significa a


zer uma política de inclusão digital exclusão do conhecimento, que é a
sem a participação dos estados, mu- pior das exclusões porque de fato re-
nicípios e das organizações sociais: tira das pessoas a possibilidade de
das ONGs, das associações de mora- mudar sua vida e de repensar seu
dores, das igrejas, das empresas e de entorno, inclusive a possibilidade de
todos aqueles que trabalham nesse participar democraticamente.
processo. Normalmente, as pessoas têm
Unindo esforços e aproveitan- muita dificuldade de participar da
do o conhecimento de quem está democracia, e com menos informa-
perto das necessidades locais, pode- ção isso fica ainda mais difícil. Ter
mos desenvolver projetos que valo- informação é votar melhor, é fazer
rizem e respeitem as potencialida- melhores negócios, é ter acesso a
des de cada região, de cada municí- melhores oportunidades de empre-
pio. go e oportunidades econômicas, é
É preciso acordarmos que não ter condições de participar politica-
há futuro para o mundo dos incluí- mente. Somente com um novo pacto
dos, se não tratarmos do outro lado social conseguiremos aproveitar o
da rua, onde está o mundo dos ex- potencial transformador das novas
cluídos. Não há como os mais ricos tecnologias da comunicação e infor-
usufruírem sua riqueza sem que as mação para construirmos uma soci-
pessoas tenham acesso aos bens mí- edade mais inclusiva e democrática
nimos, sob pena de haver uma horda (SANTOS, 2005).
de miseráveis que os roubará. Há
muitas pessoas que têm acesso a Inclusão Digital = Inclusão So-
bens muito caros e que não podem cial (Renda e Educação) + TIC’s
usá-los. Mesmos os filhos da classe
média já não conseguem sair com As políticas públicas podem
aquele tênis de grife porque vão ser aproveitar as novas tecnologias para
roubados no colégio. É necessário melhorar as condições de vida da
que repensemos socialmente essa população e dos mais pobres, mas a
distribuição da riqueza. E como po- luta contra a exclusão digital visa,
demos fazer isso? Uma das maneiras sobretudo, encontrar caminhos que
é propiciando o acesso ao conheci- diminuam seu impacto negativo so-
mento, à educação, levando o Estado bre a distribuição de riqueza e opor-
para lugares onde não está. tunidades.

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TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

É possível a inclusão digital ciais que compreendem renda e edu-


auxiliar no processo de inclusão so- cação. Estes dois fatores, por sua
cial, mas para que o processo de in- vez, juntamente com as TIC’s cons-
clusão digital seja efetivo, é preciso tituem os pilares da inclusão digital.
haver inclusão social uma vez que Isto é ilustrado na Figura 1 abaixo.
esta depende de dois fatores essen-

Inclusão Social para fazer Inclusão Digital

Fonte: http://pedagogia3021b.blogspot.com/2010/05/inclusao-digital-em-busca-
do-tempo.html

É preciso que os formuladores


de política pública do governo per-
cebam que a exclusão socioeconô-
mica desencadeia a exclusão digital
ao mesmo tempo que a exclusão di-
gital aprofunda a exclusão socioeco-
nômica.

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TEORIAS DA APRENDIZAGEM E INCLUSÃO DIGITAL

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