Zilá Bernd - O Que É Negritude
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Copyright © Zilá Bernd
Capa:
Marco de Andrade
Angela Mendes
Mauro Augusto
Ilustrações:
''Pineapples Fields Forever''
Revisão:
José Waldir Santos Moraes
APRESENTAÇÃO
No ano do Centenário da Abolição da Escrava-
1 tura no Brasil - 1888-1988 - torna-se oportuna
uma reflexão sobre a polêmica questão da NEGRI-
TUDE. Embora o 13 de Maio, data da promulgação
da LEI ÁUREA, que aboliu a escravatura no Brasil,
não seja significativo para o negro brasileiro por não
corresponder a um momento de verdadeira liber-
tação, ele pode ser aproveitado justamente para que
se reavalie criticamente este período de cem anos
Há coisas que se choram muito durante os quais a situação, para o negro lib~rto,
anteriormente muito pouco se alterou em relação ao período escra-
Sabe-se então que a História vai vagista.
mudar. Último país da América a proceder à abolição
do ultrapassado sistema escravocrata, o Brasil o faz
Ruy Duarte de Carvalho, de maneira a beneficiar mais uma vez a classe do-
poeta angolano minante, não criando . as condições mínimas para
\. J
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Zilá Bernd O que é Negritude 9
que o conti ngente negro, egresso das senzal as, fos- O objet ivo deste livro, contudo, não é o de ana-
se absorvido pelo mercado de trabalho urbano na lisar a 'situação dos negros ra sociedade brasilei ra
nova sociedade brasileira.
pós-abolição, mas o de refletir sobre os movimentos
Os enredos das escolas de samba do Carnaval de tomada de consciência de ser ryegro, que se veri-
carioca de 88 comprovam que o Centenário da Abo- ficaram em praticamente todas as regiões do planeta
lição é muito mais uma data para refletir sobre o que onde pode ser registrada a presença de negros, e
ainda falta conquistar do que propriamente para fes- sua possível repercussão no Brasil, rastreando as
tejar. A Mangueira , com "Cem Anos de Liberdade: formas que adqu iriu em nosso país esse processo de
realidade ou ilusão?" (H élio Turco, Jurandir e Al- conscientização que fico u conhecido pelo nome de
vino), diz assim: NEGRITUDE.
Em 1984, publiquei, na hoje extinta coleção
Será que já raiou a liberdade "QUALÉ", da Brasiliense, A Questão da Negritude ~
Ou qu e foi tudo ilusão A presente versão, que se propôs inicialmente a ser
Será ... uma segunda edição revista e aumentada da pri-
Oue a Lei Á urea tão sonhada meira obra, terminou se c onstit ~ indo em um texto
Há tanto tempo assinada novo. Embora utilizando os mesmos conceitos e o
Não foi o fim da escravidão? mesmo referencial teórico, a reflex~o que realizeis-o-
Hoje dentro da rea lidade bre o tema, neste intervalo de quatro anos, e que re-
Onde está a liberdade sultou na elaboração e publicação de minha tese de
Onde está que ninguém viu? doutoramento com o título "Negritude e Literatura
na América Latina" (Porto Alegre, Mercado Aberto ,
1987), impôs uma reescritu ra quase que total do pri-
Também a Beija-Flor, com "Sou negro, do Egi- meiro texto .
to à Liberdade" ( lvancué, Cláudio) interpreta o sa-
ber popular: Embora minha intenção não seja a de ressus-
citar a Negritude - movimento que para muitos já
entrou definitivamente para a lata de lixo da História
Eu sou negro e hoje enfrento a realrdade -- considero oportuno, nu m período como o atual,
E abra çado à Beija-Flor de grande efervescência dos movimentos negros e
meu amor de intensa discussão do tema, que as várias acep-
. Reclamo a verdadeira liberdade . ções deste termo sejam ventiladas, mesmo que seja
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10 Zilá Bernd
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pa ra comprovar que não há mais razão para utilizá-
lo nos dias de hoje. P)\JJ y. , v JJ, v '-
Negritude/negritudes: substantivo próprio ou
comum? Movimento político, social, lit erário, tudo
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18 Zilá Bernd O que é Negritude
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22 O que é Negritude
Zilá Bernd 23
lombo dos Palmares - Zumbi - podem ser to- muitos anos mais tarde.
madas como o marco zero da negritude, na medida Pode-se considerar que o movimento de Ou,
em que esta, em suas origens, associa-se ao m_arron- Bois foi o embrião para a conquista de espaços mais
nage: comportamento revolucionário que levou os importantes de afirmação surgidos nos anos 20 no
escravos a fugirem de seus senhores em busca de bairro nova-iorquino do Harlem (bairro negro), onde
liberdade, preferindo o espaço agreste das matas à uma população estimada em 300 mil negros não ti-
condição de subm issão imposta no espaço da fa- nha deixado morrer formas artísticas herdadas de
zenda. sua ancestralidade africa na. Surge aí o Negro Re-
O Haiti foi portanto o país onde a negritude er- naissance, ou renascime nto negro, que, como o
gueu-se pela primeira vez, pois essas rebeli ões de nome indica, pretendia fazer reviver a autoconsci-
escravos e suas tentativas de organização política e ência do negro americano, propondo não uma utó-
social representaram o início de uma luta por uma pica volta à África, mas uma redef inição do papel do
vida autônoma, longe da vigilância implacável dos negro em solo norte-americano. Entre os articula-
senhores . dores do movimento estão os hoje muito lidos e tra-
Não é sem razão, portanto, a ~scolha no Brasil, duzidos escritores norte-americanos Langston Hu-
por grupos negros organizados, da data da morte de ghes, Claude Mackay e Richard Wright, entre ou-
Zu mbi - o grande líder do maior e mais conhecido tros, que passaram a fazer da denúncia da situação
dos quilombos, o dos Palmares -, dia 20 de no- de discriminação e de opressão econômica de que
ve mbro, como o Dia Nacional da Consciência Negra. eram vítimas sua temática obsessional.
Esse gérmen da insurreição foi herdado pelos Um poema de Langston Hughes adquiriu a for-
descendentes de escravos, que, na condição de li- ça de um hino para os negros não só dos Estados
bertos do regime escravista (o processo de liber- Unidos como do Caribe e da América do Sul, que
tação f oi iniciado no Haiti, em 1804, e só foi con- encontraram nele o incentivo que necessitavam
cluído em 1888, com a Abolição brasileira), tiveram pa ra fazer emergir sua consciência:
que prosseguir sua luta contra formas ora explícitas,
ora su t is de precon ceito e discriminação. O escritor EU TAMBÉM CANTO AMÉRICA
norte-americano William Edwards Ou Bois ( 1868-
1963) pode ser considerado como o "pai" do movi- Eu sou o irmão negro I Eles me mandam comer
mento de tomada de consciência de ser negro, em- na cozinha I Quando chegam as visitas I Mas
bora o termo negritude só viesse a ser cunhado eu rio I E como bem I E cresço forte I Ama-
24 Zilá Bernd O que é Negritude 25
A gestação
Que acontecimentos históricos marcaram os
anos 1920-1930, período de gestação da Negritude?
Nos Estados Unidos, grave crise econômica
\
provocada pelo crack da bolsa de Nova York; na
Rússia, início dos expurgas de Stalin, após a Revo-
lução de 1917; na Alemanha, Itália e Espanha, as-
censão do nazi-fascismo (ideário que, infelizmente,
encontrou adeptos nos demais países da Europa e
até nas Américas); na África, grande parte dos paí-
ses sob dominação do colonialismo europeu; no
Haiti, recolonização econômica pelos Estados Uni-
dos, em 1915. Completando o panorama , a situação
geral dos negros nas Américas: descendentes de es-
cravos, eles formam o proletariado (quando não o
lumpemproletariado, constituído pela camada mar-
ginal da população), sofrendo com o racismo e a
?egregação. Note-se que a Declaração dos Direitos
do Homem só será proclamada em 1-948, o que,
diga-se de passagem, não alterará muito o quadro.
Convém destacar a importância da invasão das Então. I Além disto, I E les verão como sou bonito/ E tertio
tropas estadunidenses, em 1915, no Haiti, o qual, vergonha - 1 E u tam bém sou América.
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26 Zilá Ber~d O que é Negritude 27
como já mencionamos, foi o primeiro país da Amé- O indigenismo prega o retorn o à cultura autóctone e
rica a fazer sua independência, através de uma re- popular, valorizando os f alares crioulos e o vod u,
. volta de escravos. Diferentemente da Martinica, religião que, como o candomblé brasil eiro, foi pros-
Guadalupe e Guiana Francesa, que são depàrta- crita durante muitos anos. É um período de identifi-
mentos franceses de al ém-mar, o Haiti é um país in- cação com a problemática /atino-americana, ca-
dependente. No momento em que a prodigiosa con- endo ressalta~ cjdêncja , no Brasil, com o
quista dos haitianos - a um só tempo da indepen- o ~pofágicà tt927) de Oswald de
dência da dominação francesa e da abolição da es- Andrade .
cravatura - é posta em xeque, pela situação de re- Enquanto isso, em Cu ba, uma ilha de língua es-
colonização, desta vez pelos norte-americanos, os panh ola do Caribe, está se engendrando o movi-
intelectuais haitianos são obrigados a repensar sua mento chamado de negrisrno cubano , no qual um
independência . dos autores que mais se destaco u foi o poeta negro
Coincidentemente, 1915-1920 é o período do Nicolás Guillén, cuja obra repercut iu muito no Brasil ,
Ren ascim ento Negro do Ha rlem que começa a di- na década de 60, onde um dos principais poetas ne-
fun di r idéias como preocupação com a identidade gros brasileiros - Solano Trindade - dedica poe-
do negro e recusa ao colo nial ismo. Essas preocu- mas ao "seu irmão cubano' ' .
paç ões, que buscavam essencia lmente sacudir a Não é difícil imaginar que se agudizaria a cada
alienação gera l do povo, encontram no Hait i um dia a tensão que se verifi cava pri ncipalmente entre
solo fértil para a sua expansão . Surge, então, em as elites intelectuais negras, conscientes da situação
1927, La Revue lndigene, em torno da qua l se reu- dos negros "em toda parte venci dos, humil hados e
nirã o intelectuais defensores do movimento indige- subjugados", mesmo após decorridos ta ntos anos
nista, que pode sem dúvida ser considerado como da abolição, em cada país.
uma das primeiras manifestações da negritude. Entre esses intelectuais, havia um grupo de es-
lndigenismo seria a (re)va lorização da cultura tudantes oriu ndos das Ant ilhas e da África , para es-
indígena no Haiti. Que cultura era essa? Era a cul- tuda r em Paris, os quais pela prim·eira vez em um
t ura dos povos que habitavam a região do Caribe meio branco - a Europa do período ent re-gu erras
J antes da chegada de Cristóvão Colombo, basica- - sentiam na carne a sensação de serem perce-
mente os caraíbas e os arauaques, os quais foram bidos com diferentes devido à cor de sua pele.
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totalmente . . dizimados p ~lo conquistador. ln~ígena Acrescentem-se isso os ecos do movimento ame-
passou enta o a remeter a herança cultural afncana. ricano, e poderemos imaginar uma situação seme-
28 Zilá Bernd O que é Negritude 29
lhante à de um barril de pólvora prestes a explodir. E minha negritude não é nem torre nem catedral
explodiu mesmo: da reunião desses estudantes ne- ela mergulha na carne rubra do solo
gros surge, em 1932, o Manifesto da Legítima De- ela mergulha na ardent e carne do céu
fesa, denunciando. com agressividade a exploràção ela rompe a prostração opaca 'de sua justa pa-
do proletariado negro no mundo. Q.núcleo principal ciência .
da acusação incidia sobre a dominação intelectual
q~e levava à assimilação do colonizado, fazendo-o
ac~editar- se inferior, como se pode ler neste trecho A- A maturação
do manifesto:
Surgindo na Europa, é natural que o movimento
"Progressivamente, o antilhano de cor ren eg a a tenha se valido de elementos da cultura européia :
sua raça, seu corpo, suas paixões fundamentais ele nasce na convergência de três ismos, em vog a
e particulares .. . chegando a viver em um do- desde o início do século, os quais vão conferir-lhe
mínio irreal determinado pelas idéias abstratas e muita força: marxismo, surrealismo e existencia-
pelo ideal de um outro povo. Trágica história do lismo.
homem que não pode ser ele mesmo, que tem O marxismo, por ser a forca . política mais apta.
medO, vergonha ... ". a sustentar os colonizados em sua revolta; o surrea -
lismo, por privilegiar o "primitivo", solapando os va-
Entre esses estu dantes encontravam-se os que lores racionalistas do Ocidente, adapta-se com o
hoje são reconhf}cidos como os grandes nomes da uma luva a um movimento que pretende cont rapor a
Negritude: Aimé Césaire (Antilhas), Léopold Sédar EMOÇÃO à RAZÃO, o MÁGICO ao CIENTÍFICO; o
Senghor (África) e Léon Damas (Guiana Francesa), existencialismo, por ser a f ilosofia segundo a qual o
que, em nome da crítica "do sistema colonial e da homem se define pela ação .
defesa da personalidade negra", fundam em 1935 Efetivamente, os três principais pólos da Negri-
o jornal L 'Étudiant Noir, que terá importante papel a tude: Estados Unidos, Antil has e África, traz iam em
desem penhar na difusão do movimento. seu bojo, ao menos em um primeiro momento, os
fundamentos do comunismo int ernacional, que
O termo Negritude, contudo, só vai aparecer pregava uma sociedade sem classes e sem discrimi-
em 1939 no célebre poema de Aimé Césaire Cahier nação racial.
d'un retour au pays natal: Num primeiro momento, portanto, é a perspec-
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30 Zilá Bemd O que é Negritude 31
tiva marxista de análise da sociedade que favorece o O movimento se amplia, se internacionaliza, al-
despertar de uma consciência de raça negra. Com o cançando adeptos em out ros países do Terceiro
passar do tempo, verificam-se duas tendên cias: Mundo, como o Brasil. A literatura se enriquece
umã- que opera o trânsito para uma consciência de com rom ancistas, poetas e ensaístas que atingem
c_lasse e a conseqüente identificação com todos os estatura universal.
oprimidos, independentemente da cor da pele, e
outra que permanece presa unicamente a uma cons-
ciência de raça, fato que suscitará as primeiras crí- A fratura
ticas.
Em um poema, defendendo a raça universal
dos oprimidos, J. Roumain escreve o epitáfio da Se foi possível falar, du rante largo tempo, em
negritude enquanto tendência que pretendesse pri- "universalismo da Negritude", na década de 50
vilegiar unicamente a opressão do homem negro, acontece o que ocorre co m toda palavra que se tor-
sem se preocupar com brancos, amarelos ou ver- na slogan: ela passa a sofrer um desgaste, na me-
me lhos: dida em que começa a ser empregada por diferentes
grupos com ideologias diversas, em diferentes con-
África, guardei tua memória textos e acepções.
est ás em mim Que elementos estariam ligados a essa frag-
como um fetiche tutelar no centro do povo mentação?
CONTUDO Um deles foi o recuo de Senghor, um dos artí-
quero ser apenas de vossa raça, fices da Negritude e que foi depois presidente do
operários e camponeses de todos os países. Senegal; o outro foi o célebre prefácio de J ean-Paul
Sartre "Orfeu Negro" - sobre o qual ainda torna-
Como evoluirá a Negritude nos anos seguintes, remos a falar - que alerta para o perigo de o movi-
dura nte e após a Segunda Guerra Mundial ( 1939- mento to rnar-se, pela radica lização, um racismo às
1945)? avessas. Porém, o fator determinante da fragmen-
O movimento passa rá por uma fase que pode ser tação foi a recuperação do movimento pelas elites
chamada de militante, na qual o mais importante é o dominantes, que espertamente se apercebem de
engajamento na missão pela libertação das colônias que alguns grupàs radical izam-se na reivindicação
africanas, o que vem a ocorrer na década de 60 . de uma especialidade da taça e dos valores negros,
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32 Zilá Bernd
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pondo de !ado a necessária solidariedade entre os
oprimidos, independentemente da cor da pele.
Em outras palavras, os brancos irão tirar partido
dessa espécie de cordão de isolamento proposto pe-
los próprios negros, passando a valer-se dessa con-
t ingência para discriminar mais uma vez os negros,
sob a alegação de que são eles mesmos que se que-
rem diferentes. Essa atitude acaba afastando cada
vez mais a Negritude do propósito maior pelo qual
foi criada: o de promover a igualdade entre os ho-
mens. TRILHANDO DIFERENTES
TRILHAS: AIMÉ CÉSAIRE E
LÉOPOLD S. SENGHOR
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34
Zilá Bernd O que é Negritude 35
tu rais da Eu ropa.
Em síntese: dizer um basta definitivo à sub- A grande crítica que se faz a Senghor é de,
missão do negro ao branco. . após as tão sonhadas independências das ex-colô-
C~s_a !_re_ pleiteava, pois, uma via de autentici- nias africanas, que ocorreram nos anos 60, ele se ter
dade por oposiç_ ão ao clima de inautenticidade rei- deixado utilizar pelos interesses do neocolonialismo,
nante entre os negros da América convencidos de permitindo que a Negritude fosse recuperada e uti-
que o único modelo cultural válido era o modelo lizada como arma pelo sistema imperialista .
branco ocidental. A Negritude césairiana pregava No momento em que a quase totalidade dos ne-
uma rejeição absoluta a essa concepção e suscitava gros na África e nos demais países estava indepen-
a emergência de uma personalidade antilhana. dente, Senghor não conseguiu mudar o registro do
Nesse contexto, Negritude exprime o fato de seu discurso para mostrar ao mundo que o real ini-
ser negro e propõe que os negros assumam as de- migo a ser combatido no momento era o subdesen-
corrências psicológicas e comportamentais desse volvimento e suas conseq üências naturais: miséria,
fato. r fome e analfabetismo.
Segundo um estudioso da Negritude, Alain A Negritude de Seng hor "limita-se a um pre-
Blerald , a concepção de Césaire e a de Senghor tenso reconhecimento pel a Europa da dignidade da
"participam de uma motivação comum: a busca de África, consagrando a dicotomia do mundo: a Eu-
um novo humanisn1o". O que diferencia os dois ropa, pretensamente árid a por sua tecnologia; á
poetas é o modo de ch ega r a esse humanismo. O África, mais rica de valores espirituais"
poeta martinicano tentará conciliar marxismo e hu- Aliás, essa divisão, expressa pelo ex-presidente '',
manismo, propondo uma estética de ruptura e revo- do Senegal na frase "A emoção é negra como a
lução . razão é grega", foi desde muito cedo motivo de
ataques, pois prende-se a teorias etnológicas ultra- @
~o
passadas que consideram a raça negra incapaz de
Léopold Sédar Senghor (África) atingir níveis de pensamento lógico.
A diferença de situação talvez seja uma das ra-
Senghor tentará atingir esse humanismo pela zões determinantes do su rgi mento dessas duas Ne-
via do espiritualismo, propondo uma estética da gritudes. O fato de Senghor estar inserido na reali-
conc iliação e da evolução. Para isso utiliza instru- dade africana e Césaire exilado na América faz com
mentos de pesquisa africanos e ocidentais . que Senghor admita a mestiçagem. Para ele a apro-
ximação com o Ocidente parece benéfica. Césa ire
36 Zilá Bernd ~
distancia-se cada vez mais dessa posição, identifi-
cando-se com os primeiros negros chegados à Amé-
rica como escravos, aos quais tudo foi subtraí~o: a
língua, ·a cultura, e até o próprio nome, obrigados
que foram a assimilar os padrões culturais do colo-
\
nizador. Nesta medida, para o negro tra nsplantado r
para a América não há outro caminho senão rein-
ventar o país e rebuscar sua mitologia .
Assim , a maior parte das críticas que se fazem
hoje em dia à Negritude tem como principal alvo a
configuração que ela adquiriu sob a influência de
Senghor que terminou eternizando o racismo .
BALANÇO GERA\L:
LUCROS E PERDAS
A revisão crítica
Tendo sido útil, quando de seu surgimento, por
desmascarar um apregoado universalismo cultural
dos povos dominadores e por incentivar a eclosão e
o interesse pela diversidade cultural, a Negritude
será desde logo repensada e questionada.
Será Jean-Paul Sartre quem, em 1948, fará em
um texto que se celebrizo u - "Orfeu negro" - , o
primeiro questionamento sério ao moviment o.
Neste texto Sartre sublinha o papel subversor
da Negritude, afirmando que ela representou o ato
de jogar de volta a pedra que o branco at irara no
.
·- .,.
negro ao chamá-l o de negro com desprezo , assu-
mindo-se como negro com altivez e orgulho .
"'p,, ~- , -
39
38 Zilá Bernd O que é Negritude
tou , a palavra sartreana causou profundo abalo no gro - sua situação de pr_oletário ou menos do que
movimento e desencadeou outras tantas críticas isto - e dificultando a solidariedade entre os opri-
que fragmentaram cada vez mais a Negritude.
Essas críticas podem ser agrupadas em torno midos.
É preciso, entretanto, destacar que a Negritude,
de dois pontos f undamentais: tal como foi concebida em seus pri mórdios, ao tem-
1) especificidade de raça; po de Legitime Défense (1932), concebia " o desen-
2) supremacia dada ao conceito de raça em de- volvimento dos 'valores negros' no interior do com-
trim ento do de classe. b~te político", e que a ênfase dad a à valorização pu-
ramente racial do indivíduo constitui-se já num des-
Em relação ao primeiro ponto, podemos rea-
firma r o que já foi ventilado no ca pítulo 1:_é cientifi- vio do movimento.
Em síntese, se é possível creditar pontos extre-
çamente falsa e ideologicamente perigosa a vincu-
mamente positivos à Negritude como o fato de ter
lação automática entre raça e cultura, ou seja, esta-
representado um definitivo basta a uma te ndência
belecer correspondência imediata entre as caracte-
40
Zilá Bernd O que é Negritude 41
dos neg ros nas Américas para um bovarismo co/e- ma colonial: as "metrópoles" continuam exercendo
tivo, isto é, para uma inclinação a assumir uma per- seu papel espoliador (veja-se a difícil situação dos
sonalidade fictícia que não combinava com a reali- recém-emancipados países africanos, o caos rei-
dade, a ela, ou aos seus desdobramentos, também nante no Haiti, sem mencionar a precariedade da
podem ser debitados muitos pontos negativos. condição dos negros na totalidade dos países do
... Esquematizando, são os seguintes os principais Terceiro Mundo);
lucros auferidos com o movimento:
r
3) ter servido para corroborar a tese da " emoti-
1) reconhecimento e aceitação do fato de ser vidade" do negro (Senghor) a qual traz embutida a
negro e a conseqüente revalorização da herança cul- dependência do negro à ''racionalidad e" ocidental.
tural ancestral;
2) desconstrução de uma ideologia que, "com
seus silêncios e suas lacunas", consagrava a supre-
Balanço
macia da "raça" branca;
3) devoração da imagem negativa com que as É possível concluir que se deve rejeitar uma ne-
comunidades eram rep resentadas no "mundo bran- gritude que, apoiada na crença de especif icidades
co"· I inatas entre indivíduos pert encentes a um determi-
4) início do processo de construção de uma nado grupo étnico, termi na por instituciona lizar-se e
auto-imagem positiva; servir a grupos dominantes interessados em mas-
5) tomada de consciência da necessidade de carar a realidade. É esta negritude - que camufla,
passar da condição de observado (objeto da His- em nome de uma suposta originalidade e diferença
tória) para a de observador (sujeito da própria His- dos negros, o verdadeiro problema, que passa pela
tória ). reestruturação sócio-econômica da sociedade -
que tem sido alvo das mais violentas críticas.
E as seguintes as principais perdas: Considero, contudo , p ositiva uma negritude
que, estruturando-se na noção de partil ha de um
1) encobrir a verdadeira origem do problema mesmo passado histórico, congrega os indivíduos
dos negros - fome, miséria, analfabetismo, devi- em torno da reaf irmação dos " valores negros" sem
dos à situação de subdesenvolvimento econômico excluir o combate político . Em muitos escritores, o
- atribuindo-a às origens raciais; eco de uma consciência negra ressurge nu m discur-
2) ter-se revelado incapaz de reverter o esque- so engajado na lut a contra qualquer tipo de opres-·
-;; ~ ..... .
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O que é Negritude 45
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46 Zilá Bernd O que é Negritude
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50 Zilá Bernd 51
O que é Negritude
corar seu sentimento de identidade. Estava sendo -soam como uma convocação à (re)união.
preparado o caminho para o aparecimento das asso-
ciações que iriam fornecer aos negros a força . de Seguir em frente
coesão necessária para seu ingresso na fase que Flo- Em frente seguir
restan Fernandes chamou de concorrencial, ou seja, Sem receio ou temor
aquela que corresponde à recusa do negro de ficar REXISTIR, REXISTIR, REXISTIR!
"no seu lugar".
Da Frente Negra Brasileira (1937), à Associação Um dia vai dar
de Negros Brasileiros (1945), muitos grupos se for- Vai ter que dar
maram e se desfizeram até o surgimento, em 1978, Não importa quando
do Movimento Negro Unificado contra a Discrimi- Nem o preço que va i custar!
nação Racial (MNU), visando basicamente a desfa-
(Oubu lnaé Kibuko, Cadernos Negros, 5)
zer o mit o de que o Brasil é uma democracia racial e
a conduz ir formas sistemáticas de luta contra todos
os tipos de discriminação racial.
Pode-se concluir, pela observação de todas es-
sas manifestações de consciência negra, que houve
uma vertente brasileira da negritude, entendida evi-
dentement e em seu sentido lato .
Atualmente, é sem dúvida o discurso literário o
espaço privilegiado da restauração da identidade, da
reapropriação de territórios culturais perdidos. O fio
condutor dessa literatura parece ser o desejo de re-
viver, nos dias de hoje, o espírito quilombola. Sen-
tindo-se como o guia, o condutor de seu grupo, o
poeta busca recuperar a rebeldia e os ideais de liber-
dade que outrora guiaram seus antepassados para
os quilombos. A poesia nutrida dessa seiva transfor-
ma-se em um território reencontrado, onde os ver-
'---------· -••.
sos - como os ata baques, no tempo dos quilombos
1
O que é Negritude 53
a realidade, mas é a única maneira possível de abor- ditamos que Negritude é um mito, ele próprio ge-
dar a realidade em um momento dado. rad or de mitos, e é por isso que a poesia da Negri-
Neste. sentido, a literatura negra pode so_ar tude por sua vez nutre-se de mitos .. .".
como um discurso defa sado e anacrônico; ocorre Gostaria de concluir esta reflexão sobre negri-
que ela se constrói como uma linguagem outra que tude invocando a magia da palavra angolana trazida
participa da reorganização do mundo negro na Amé- v para a avenida por Martinho da Vila: Kizomba. Nem
rica. Mais do que proporcionar prazer estético, o es- negritude, nem branquitu de, nem amarelitude ...
critor negro pretende oferecer aos membros de seu mas Kizomba, a grande festa da confraternização
grupo a consistência mítica de que eles necessitam das raças.
para fundar sua identidade. Utopia? Talvez. Será que a Kizomba pertence
Da crise de ident idade, que originou a Negri- apenas à grande ilusão do Carnaval? Será possível
tude, o movimento evoluiu para um processo con- imaginar que ela aconteça na l/vida real" , no espaço
tínu o de afirmação identitá ria que se caracteriza pela quotidiano de todos nós, estendendo-se para além
ruptura permanente dos equilíbrios estabelecidos. D dos limites estreitos dos quatro dias de folia?
Vale dizer, a identidade entendida não como circuns-
criçã o da realidade, mas como dinâmica da reapro- O sacerdote ergue a t aça
priação de espaços existenciais próprios. Convocando toda a massa
Talvez esta tentativa de explicar o que é negri- Neste evento que congraça
tude não tenha conseguido esclarecer inteiramente Gente de todas as raças
os leitores, que concluem esta leitura com o desejo Numa mesma emoção
de fazer perguntas, de recolocar questões. Não se Esta Kizomba é nossa
aflijam, trata-se de l)m tema realmente muito com- constituição.
plexo que tem ocupado um grande número de inte- "Kizomba, festa da raça" , Rodolfo, Jonas e Luiz
lectuais em discussões infindáveis. Um desses inte- Carlos da Vila)
lectuais, L.-V. Thomas, após citar mais de dez defi-
nições de negritude, conclui solenemente: "Nem
cientificamente, nem filosoficamente, o termo 'Ne-
gritude' pode definir-se com rigor: realidade histó-
\ ~i_c~ e psicológica, a Negritude nãc:> possui, verdadei-
L::_ente, realidade conceituai ... E por isso que acre-
••
O que é Negritude 57
I' -"
alcance social do movimento, e ao impecável artigo de
Helio Jaguaribe "Raça, cultura e classe", publicado na
revista Dados, Rio de Janeiro, 27(2): 125-44, de 1984.
Imprescindíveis por corresponderem às primeiras
clivagens do movimento são o texto do filósofo fra ncês
Jean-Paul Sartre "Orfeu Neg ro", in Reflexões sobre ora-
f
cismo (São Paulo, DIFEL, 1965) e a obra do pensad or
antilhano Franz Fanon, a citadíssima Peau noire, mas-
ques blancs (Paris, Seuil, 1952).
Em francês, e infelizmente ainda não t raduzidas
para o português, portanto mais difíceis de serem encon-
tradas e pesquisadas, estão escritas as obras mais impor-
tantes e que permitem acompa nhar as origens, tendê n-
INDICAÇÕES PARA LEITURA cias e perspectivas da negritu de. Do extenso rol, reco-
mendaríamos: Bonjour et adieu à la négritude (Pa ris, R.
Laffont, 1981 ), de René Depestre, poeta haitiano que faz
Para os que quiserem seguir a trilha na qual demos uma análise brilhante das fraturas no discurso da negri-
estes primeiros passos, recomendo algumas das obras tude; Les écrivains noirs de tangue française , de Ltlia n
que foram para mim fundamentais para a compreensão Kestelloot (Bruxelas, 1977), autora da primeira tese de
da negritude, e cujos ecos se fazem ouvir neste texto. doutorado sobre a negritu de; Négritude ou servitude?
Seria prov~itoso conferir de perto o artigo "Negri- (Camarões, CLE, 1971) de Marcien Towa, professor de
tude/ negritudes", de Diva Dama to, publicado no n? 1 da filosofia africano, que faz uma contundente crítica à ne-
revista Através (São Paulo, Martins Fontes, 1983), que gritude senghoriana, e Négritude et négrologues (iné-
constrói um panorama da Negritude desde os seus pri- dito), de Stanislas Adotévi, que alerta para "a funçã o
mórdios, ainda no século passado, apresentando com desprezível que, consciente ou inconscientemente, atri-
muita riqueza de detalhes e de citações a Negritude anti- '· buímos hoje a esta palavra (negritude)" .
lhana. Também em língua portuguesa, existe o livro de Para os que se interessam em aprofunda r seus co-
Kabengele Munanga, Negritude (São Paulo, Ática, 1985, nhecimentos não somente sobre a negritude mas tam-
Col. "Princípios") que expõe de forma clara e sistemática bém sobre as questões que dizem respeito à literatura ne-
os pontos mais controversos do movimento. gra, as obras mais atuais disponíveis são: Raça e cor na
Ainda em português, remetemos ao texto antoló- literatura brasileira (Porto Al eg re, Mercado Aberto, 1984),
gico de Maria Carrilho, Sociologia da negritude (Lisboa, do brasilianista inglês David Brookshaw, que empreende
Ed. 70, 1975), o qual focaliza com grande objetividade o um exaustivo levantamento dos estereótipos criados so-
'
.I
58 Zilá Bernd
t
Caro leitor:
As opiniões expressas neste livro são as do autor,
podem não ser as suas. Ca so você ache que vale a
pena escrever um outro livro sObre o mesmo tema ,
•
.r uMBEIROS · O Tráfico escravista para o
fJrasil CRIME E ESCRAVIDÃO- Trabalho, luta e
resistência nas lavouras paulistas
O NEGRO NO BRASIL
Escravo ou Camponês?· O protocampesi·
Julio José Chiovenoto - 264 pp
Fugindo dos abordagens convencionais, nato negro nas Américas
Ciro Flamarion Cardoso, 128 pp ., 14 x 21 cm
Julio José Chiavenato faz um verdadeiro
garimpo histórico para reunir crónicas e re-
gistras de época. Assim, descortina os ori- A vigência d a escravidão como relação único
~};.~~*;.:s:.·~.~~~r~:* ~~i~~
gens do . segregação racial e do desprezo Ctt.J-~wnSGao~
de trabalho n a América colonial é um mito .
pelo ser humano que tanto marcaram a es- Presente em outras colónias portuguesas,·no
cravidão no Brasil. é-<"''" ... ·"-'"f"'' o Sul dos EUA e no Caribe, havia um meio-ter-
·J><f!O'\X-H(••.':><'->1)
~l'''-•'<,.'-. tv.t•- .,..,
mo entre o escravo e o camponês: um escra vo
,,.-.;:"'-1 que, cultivando cotas de terra próprias, po-
dia arrecadar dinheiro para comprar sua li-
berdade.
A ESCRAVIDÃO AFRICANA -na América Latina e Caribe
I~
''Escrito para um público amplo ... este livro
dor norte-americano Herbert S. Klein compa-
descreve com riqueza de detalhes o dia-a-dia
ra essas duas experiências e faz uma análise
dos escravos ... um surpreendente relato das
global da ascensão e queda da escravidão n o P._ relações económicas e sociais."
Novo Mundo .
The New York Times Book Review
.... • z.a;...__.,._ •
colecão primeiros passos i Dialética 1231 Toxicomania {1491
Erotismo {1361
Êtica {177) POLÍTICA/SOCIOLOGIA
{611
2? Semestre de 1988 Existencialismo
Filosofia (37}
{13}
Anarqu ismo
Autonomia Operária
{51
{1401
Ideologia
161 Capitalismo 141
ADM INISTRAÇÃO / ECONOM IA Fotografia {82} Liberdade
{165} Com unismo 121
Indústria Cultural 181 Pós-Moderno
1721 Constituinte 11431
Buroc racia 1211 Jazz {931 Positivismo
{11 51 Deputado 11781
Capita l {64} {15}- Realidad e
Jornalismo {59} Desobediência Civil (90}
Capital Internacional {71} {182} Teoria
Museu 112} Ditaduras 1221
Coop erativismo 1189} Utopia
Música 180} Estrutura Sind ical {194}
Empregos e Salários 128}
Música Sertaneja 1186} ' LITERATURA / LI NG Ü ÍSTICA Familia 1501
Empresa 1181} {51}
Patrimônio Histórico Feminismo 1441
Inflação 1198} (
Politica Cultural 1107} Biblioteca (94} Fome {102}
Mais-Valia 165} 1135}
Rock 1681 Conto Geopolítica 1183}
Ma rketing 127} 1103} {176} {202}
Semiótica Editora Greve
Multinacionai5 126} 110} {185} {35}
Teatro Esperanto Imperialismo
Re ces são (30}
Vide o {137} Ficção {156} Marxismo {148}
Recu rsos Humanos 1661 {169}
Ficcão Cientifica Materialismo Dialético 12061
Subdesenvolvimento 114} 1144}
CIÊNCIAS EX ATAS / HU ,JI ANAS História em Quadrinhos Nacionalidade 1120}
Taylorismo 11121 174} 1180}
(1711 Leitura Nazismo
Trabalho Astronomia 145} 1184} 187}
Lingüistica Parlamentarismo
ANTROPOLOGIA / RELIG IÃO
Cibernética
Darw inismo
1129}
1192}
It Literatura
Literatura Infantil
(53}
1163}
Participação
Participação Politica
1951
1104}
1174) I
Documentação Literatura Popular (98} (24}
Astrologia
Benze ção
(106}
{142}
Ecologia (1161 I Neologismo 1117}
Poder
Politica {54}
Energia Nuclear 111} ' (63} {83}
Cando mblé {200}
Estatística {195} I Poesia
Portug uês Brasileiro (164}
Polit ica Nuclear
Politica Social {168}
Capoei ra 1961 Física {131} i Tradução (166} Propaganda Ideológica {77)
Comuniciade Ec les ia l de Base {19} Geografia {48} {18}
Questão Agrária
Es piritismo {55} História 117} MEDICINA / PSICOLOGIA Questão da Moradia 192}
Espiritismo 2~ Visão (146} Inform ática 1158} 1751
Questão Pa lestina
Etnoce ntrisrno 1124} Informática 2~ Visão (210} Aborto 1126} (7}
Racismo
Zoologia 1154) Acupuntura 1145} 1331
Folclo re 1601 Reforma Ag rári a
AIOS (197} 125}
Igreja 132} Revolução
DIREITO Alcoolismo (205} (31
Magia {78} Sindicalismo
Contracepção (173} (1}
Mito (Í51} Socialismo
Direito (62) Corpo (170} (57}
Pastoral 169} Sociologi a
Direito Autoral (187} Corpollatrial (155} {34}
Pentec ostalismo (188} Stalinismo
Direito Internacional (58} Criança 1204} (121}
(128} Tortura
Porn o grafia Direitos da Pessoa 149} Hipnotismo {175} (40}
Trotskismo
Rel ig iiio 131} Habeas-Corpus 1153} 1134}
Homeopati a
Teo loyia da Libertacão 1160} Justiça (105} 1811
Homossexualidade DIVERSOS
Umba nda 197} Poder Legislativo (56} (73}
Loucura
Vampiro 1179} Medicina Alternativa (84}
Aventura (196 )
Vio lênc ia 1851 EDUCAÇÃO / PEDAGOGIA Medicina Popular 11251
Beleza (1671
Vi olênc ia Urba n a 1421 Medicina Preventiva (1 18}
Cidade 12031
Adolescência 11591 I Morte (1501
Cometa Halley (1571
ARTES / COMUNICAÇÕES Educação (201 Parapsicologia (1221
Comunidades A lt ernativas (1081
Educação Física (79} Pessoas Deficientes (891
Arquitetura (16 1 Crime (207}
Escolha Profission al 1208} Psicanálise (861
Arte 1461 Filateli a (1321
Menor 11521 Psicanálise 2 ~ Visão (133}
Ato r Lazer (1721
11901 Método Pau lo Freire 1381 Psicologia Comunitária (161}
Cinerna Negritude (2091
191 Ped agogi a 11 931 Psicologia Social 1391
Comunicacão 167} Nordeste Brasileiro 1119}
Universidad e 191} i Psiquiatria Alternativa (52}
Comunicação Poética 1191} Numismática 11471
Remé dio 1199}
Trânsito 11621
Com unicacíio Rural (101 ) FILOSOFIA Serviço Social 11111
Transporte Urban o 1201 )
Cont racu ltura 11001 Suicldio 11271
CHltUia (1101 Aliena ção 11 41 }
C: 11lturf' Popul tH 1361 Amor 1881
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PRIMEIRO TOQUE é uma publicação corl} crôni- 1·
cas, resenhas, serviços, charges, dicas, mil atrações . I' ~~ ~
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AOS CUIDADOS DE :
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ENDEREÇO
rI I I I I I I I I I I I I I I ~- I ~- ~- ~ - I I I I I I I I I 1
BAIRRO CIDADE
I I I I I I I I I I I nJ [ I I ~- I I I I I -~-~~;-~ I I I I J
UF CEP SEXO DATA DE NASCIMENTO
DI I I I I I DI I I I I I I ÁREAS DE INTERESSE : DD
PROFISSÃ O:
-~~--------~~~~---~~~~~~~~~~-~~~~~~~~,
(vide tabela abaixo)
DO
PARA USO INTERNO :
PROF . TIPO FAIXA
~~l~ll~l\ ·.
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