Poemas Escolhidos-Gregório de Matos:
(UFRJ-2007) Texto para as questões 1 e 2
A Maria dos povos, sua futura esposa
Discreta, e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora,
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos e boca o Sol, e o dia:
Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora,
Quando vem passear-te pela fria:
Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trata a toda ligeireza,
E imprime em toda flor sua pisada.
Oh não aguardes, que a madura idade,
Te converta essa flor, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos – Seleção de José Miguel Wisnik. 2a ed. São
Paulo: Cultrix, [s.d.]
(UFRJ-2007) 1. O poema se constrói por meio da oposição entre dois campos
semânticos, especialmente no contraste entre a primeira e a última estrofes. Explicite
essa oposição e retire, dessas estrofes, dois vocábulos com valor substantivo – um de
cada campo semântico –, identificando a que campo cada vocábulo pertence.
(UFRJ-2007) 2. O primeiro verso da 3ª estrofe apresenta-se como consequência de um
aspecto central da visão de mundo barroca. Justifique essa afirmativa com suas próprias
palavras.
3. Leia atentamente o texto:
Que és terra, homem, e em terra hás de tornar-te,
Te lembra hoje Deus por sua Igreja;
De pó te faz espelho, em que se veja
A vil matéria, de que quis formar-te.
Lembra-te Deus, que és pó para humilhar-te,
E como o teu baixel sempre fraqueja
Nos mares da vaidade, onde peleja,
Te põe à vista a terra, onde salvar-te.
Alerta, alerta, pois, que o vento berra.
Se assopra a vaidade e incha o pano,
Na proa a terra tens, amaina e ferra.
Todo o lenho mortal, baixel humano,
Se busca a salvação, tome hoje terra,
Que a terra de hoje é porto soberano.
(MATOS, Gregório de. “Poemas escolhidos.” São Paulo: Cultrix, 1997. p. 309).
Gregório de Matos expressou em sua obra toda a tensão do século XVII, ao abordar os
temas predominantes do Barroco.
Identifique no poema elementos que atestam o comprometimento do poeta com o
respectivo momento literário.
4. (UFMG) Leia o poema de Gregório de Matos.
“Triste Bahia! Oh quão dessemelhante
Estás, e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado
Tanto negócio, e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus, que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!”
Com base nessa leitura, é incorreto afirmar que:
a) o eu poético, no poema, mantém-se distanciado do objeto criticado;
b) o poema compara o presente e o passado da cidade;
c) o futuro desejado revela, no poema, a presença de uma voz moralizadora;
d) o poema faz referência ao contexto da época.
4. No colégio dos padres, Gregório de Matos escreveu:
“Quando desembarcaste da fragata, meu dom Braço de Prata, cuidei, que a esta
cidade tonta, e fátua*, mandava a Inquisição alguma estátua, vendo tão espremida
salvajola* visão de palha sobre um mariola*”.
Sorriu, e entregou o escrito a Gonçalo Ravasco.
Gonçalo leu-o, gracejou, entregou-o ao vereador.
O papel passou de mão em mão.
“A difamação é o teu deus”, disseram, sorrindo.
(Ana Miranda, “Boca do Inferno”)
(*fátua: tola;*salvajola: variante de “selvagem”; *mariola: velhaco).
O trecho ilustra:
a) a poesia erótica de Gregório de Matos, inspirada na vida nos prostíbulos da cidade
da Bahia e que deu origem à alcunha do poeta, “Boca do Inferno”.
b) a poesia lírica de Gregório de Matos, voltada para a temática filosófica, em
linguagem marcada pelos recursos da estética barroca.
c) a poesia satírica de Gregório de Matos, dedicada à descrição fiel da sociedade da
época, utilizando recursos expressivos característicos do barroco português.
d) a poesia erótica de Gregório de Matos, caracterizada pela crítica aos
comportamentos e às autoridades baianas da época colonial.
e) a poesia satírica de Gregório de Matos, que representa, no conjunto de sua obra,
uma fuga aos moldes barrocos e ataca, no linguajar baiano da época, costumes e
personalidades.
5.Leia atentamente o poema:
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.(MATOS, Gregório de.”Poemas escolhidos” São
Paulo: Cultrix, 1997. p. 317.)
Todas as afirmativas que se seguem inserem o autor e seu texto em uma visão do
mundo de século XVII, EXCETO:
a) A retomada de elementos da natureza e da melancolia identifica o soneto com a
produção poética de inspiração byroniana.
b) A aproximação de sentimentos contrastantes, como a tristeza e a alegria, confirma a
tendência paradoxal da poesia do século XVII.
c) O poema explora a inconstância dos bens mundanos através de um jogo de ideias e
palavras que tanto motivou o escritor barroco.
d) O poeta baiano vale-se da linguagem figurada para persuadir o leitor e convencê-lo
da instabilidade da beleza e da felicidade.
e) O traço temático caracteristicamente barroco presente no texto é o caráter fugidio
das coisas do mundo.
6. Leia o soneto “15”, do livro “Muito soneto por nada”, de Reinaldo Santos Neves, e
trechos do poema “Definição do amor”, de Gregório de Matos. A seguir, leia as
afirmativas e responda à questão.
TEXTO I
“15”
Duvido ouvido tenhas pra ouvir Mingus,
ou poema algum de Cummings como Lee,
a bela irmã de “Hannah e suas irmãs”.
Estômago também duvido tenhas
pra digerir um filme de Fellini
sem que germine logo uma enxaqueca.
Duvido até que tenhas, salvo engano,
verniz algum de sensibilidade
pra ler os versos que pra ti escrevo,
compondo em forma fixa a ideia fixa
que é você e tua sombra e teu cabelo.
Mas como argumentar contra o Desejo?
Talvez seja mais baixo ainda o teu Q.I.,
mas antes quero a ti do que a Lee.
TEXTO II
“Definição do amor”
Mandai-me, Senhores, hoje
que em breves rasgos descreva
do Amor a ilustre prosápia,
e de Cupido as proezas.
(…) Uma ferida sem cura,
uma chaga, que deleita,
um frenesi dos sentidos,
desacordo das potências.
(…) Enfim o Amor é um momo,
uma invenção, uma teima,
um melindre, uma carranca,
uma raiva, uma fineza.
Uma meiguice, um afago,
um arrufo, e uma guerra,
hoje volta, amanhã torna,
hoje solta, amanhã quebra.
(…) O Amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias.
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa, é besta.
1. Mesmo duvidando do gosto e do quociente de inteligência de sua musa, o poeta do
texto I não contraria seu Desejo, ficando, entre a personagem do filme (Lee) e sua
musa, com esta.
2. Nos versos finais do texto II, predominam imagens de cunho erótico, de corpos que
se tocam; no texto I, insinua-se a relação sexual nos vocábulos “digerir” e “germine”.
3. No texto I, “15” refere-se à idade da inexperiente musa que o poeta deseja
conquistar; o texto II exemplifica a poesia gregoriana de estirpe religiosa (“Senhores”,
“chaga”).
4. No texto II, mostram-se recorrentes as imagens e palavras antitéticas (“chaga, que
deleita”, raiva/fineza, volta/torna, solda/quebra), típicas do estilo barroco.
5. O repertório cultural da musa do texto I inclui, conforme percebe e indica o poeta, o
conhecimento de artistas como o músico Mingus, o poeta Cummings e o cineasta
Fellini.
Estão CORRETAS apenas as afirmativas
a) 1 e 4. b) 1 e 5. c) 1, 3 e 4. d) 2 e 3. e) 2, 4 e 5.
7.(UFRRJ)
Moraliza o Poeta nos Ocidentes do Sol
as Inconstâncias dos Bens do Mundo.
“Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.”Gregório de Matos Guerra. Antologia poética. Rio
de Janeiro: Ediouro, 1991. p. 84.
Um dos aspectos da arquitetura do poema barroco é aquele em que conceitos e/ou
palavras são inicialmente citados ao longo do poema para, mais adiante, serem
retomados conclusivamente. Esse recurso, no soneto de Gregório de Matos, acontece
respectivamente:
a) Nos dois quartetos e no 2º terceto.
b) Nos dois quartetos e nos dois tercetos.
c) No 1º terceto e no 2º terceto.
d) No 1º quarteto e no 2º quarteto.
e) No 2º quarteto e no 1º terceto.
Respostas:
01. Os dois campos semânticos presentes na construção do poema contrastam
aspectos positivos e negativos: juventude versus maturidade; beleza versus
decrepitude; nascimento versus morte; luminosidade versus sombra. Os
vocábulos representativos desses campos semânticos são aurora, sol, dia,
flor, beleza versus terra, cinza, pó, sombra, nada.
02. O primeiro verso da 3a estrofe, que traduz o carpe diem, constitui uma
consequência da perspectiva da fugacidade, da efemeridade da vida,
aspecto importante na visão de mundo barroca.
3.A
4.E
5.A
6.A
7.B