A Responsabilidade Ética de Conselheiros e Dirigentes
A Responsabilidade Ética de Conselheiros e Dirigentes
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COMISSÃO DE ÉTICA DO SINDAPP
e-BOOK
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
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POSTURA DIANTE DE ERROS NÃO
INTENCIONAIS
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DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES E
17 CONSELHEIRO INDEPENDENTE: A
ÉTICA DA INDEPENDÊNCIA
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Apresentação
A disseminação dos princípios éticos é uma das principais atividades do Sindapp
- Sindicato Nacional das Entidades Fechadas de Previdência Complementar, ao
lado da defesa dos atos regulares de gestão e da representação institucional do setor.
Dirigentes
ConselheiroseeDirigentes
des das EFPC sobre a gestão de recursos de terceiros e o seu compromisso
de longo prazo.
Tamanha é a importância dada a essa pauta, que ela está na missão do nos-
deConselheiros
so Sindicato: promover a ética do sistema de Previdência Complementar e
defender os atos regulares de seus gestores, preservando os valores sociais.
Éticade
escolhido pelas entidades associadas locais, a Comissão tem entre suas competências
ResponsabilidadeÉtica
administrar e supervisionar a aplicação e a observância do Código de Condutas Recomen-
dadas para o Regime Fechado de Previdência Complementar.
e-book AAResponsabilidade
É também competência da Comissão de Ética fomentar o comportamento ético no ambiente das
EFPC, por meio de debates, participação em eventos, produção de artigos e e-books que contribuam
para a reflexão crítica em nosso meio.
A presente obra é fruto do trabalho dos membros dessa Comissão, com os quais tenho o prazer de conviver
para a realização dessa profícua missão do Sindicato, na condição não apenas de elo entre esse colegiado
e a Diretoria do Sindapp, mas também com a humildade de quem se percebe como eterno aprendiz.
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Você encontrará nas páginas a seguir o produto de algumas das mais brilhantes mentes do nosso regime,
debruçadas sobre questões que se apresentam no dia a dia dos profissionais da previdência complementar:
gestão previdenciária sob o enfoque de ASG (ambiental, social e governança) e decisões sobre investimento
responsável, a postura de conselheiros e dirigentes diante de erros não intencionais, a ética na atuação de
conselheiros independentes, obrigações de dirigentes e conselheiros no contexto do direito à informação,
dentre outros temas que perpassam essas discussões.
Posto isso, convido a mergulhar nessa instigante leitura! Cada profissional que dedicar tempo a esse
e-book certamente terá acrescentado conhecimentos que agregarão ao seu pensamento crítico. Meu
desejo é que cada um de nós, por meio do fortalecimento dessa consciência, possamos partir para a ação,
tornando-nos multiplicadores da conduta e debates éticos em nosso regime.
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e-book A Responsabilidade Ética de Conselheiros e Dirigentes
POSTURA DIANTE
DE ERROS NÃO
INTENCIONAIS
APARECIDA RIBEIRO GARCIA PAGLIARINI
Coordenadora da Comissão de Ética do Sindapp
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Postura Diante de Erros Não Intencionais
O tema central deste novo e-book preparado pelos membros da forma de gestão de cada plano por ela administrado, de
Comissão Ética com várias abordagens parece-me importante acordo com o art. 7º) e transparência;
para os momentos em que vivemos e que demandam maior re- II- exercer suas atividades com boa fé, lealdade e diligência;
flexão e cuidados com os processos decisórios dos Colegiados.
Afinal, colegiados estão na estrutura das entidades fechadas de III- zelar por elevados padrões éticos;
previdência complementar (EFPC) para tomarem decisões que IV- adotar práticas que garantam o cumprimento do seu
demandam propósito, comprometimento, conhecimento, pre- dever fiduciário em relação aos participantes dos planos
paro técnico e gerencial, transparência, alinhamento e integri- de benefícios, considerando, inclusive, a política de investi-
dade de informações, respeito às normas, diligência, prudência, mentos estabelecida, observadas as modalidades, segmen-
Nesta primeira avaliação do tema, portanto, (e especialmente Vale lembrar que quase todos os padrões de conduta trazidos
considerando o caráter de investidor institucional das EFPC), pelo CMN estão lá na Resolução CGPC nº 13, editada 14 anos an-
todas as fases do processo decisório devem observar hoje (e tes. Vale lembrar também que, ao indicar parâmetros, a norma
sempre) além dos padrões de comportamento ditados pelas nor- não está exigindo resultados, mas aponta responsabilidade de
mas que disciplinam a gestão de investimentos das reservas dos meios, responsabilidade preventiva e precavida de conselheiros
planos outros tantos padrões para assegurar que o processo e dirigentes. Aqui a prudência é tudo ou, como diria minha vó Ma-
decisório mereça credibilidade de patrocinadores, instituidores, ria: “cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.” Existe
participantes, assistidos, do mercado, dos supervisores e fiscali- prudência sem ética? Não. Primeiro, porque prudência é virtude.
zadores. Aqueles (os padrões) são as chamadas “diretrizes” pelo Segundo, porque ética é fazer o bem (não confundir com fazer
art. 4º da Resolução CMN nº 4.661/2018: o bom). Terceiro, porque ninguém é virtuoso sem se preocupar
com o bem.
I- observar os princípios de segurança, rentabilidade, sol-
vência, liquidez, adequação à natureza de suas obrigações
(considerando o porte, a complexidade, a modalidade e a
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Penso que essas ponderações estão orientadas pela transfor- Se, de um lado é esperado, de outro é o
mação de fundamentos da responsabilidade civil1 que vem sen- que deles exigem os órgãos de supervi-
do adotada por julgadores na esfera administrativa e judiciária, são e fiscalização das EFPC - PREVIC - e
segundo a regra de julgamento do negócio (ou regra da decisão do mercado de capitais – CVM – já que
empresarial) que “determina que estará amparado pelo regra o aquelas, como já se disse, são inves-
conselheiro-administrador ou diretor que atuar de boa-fé na to- tidores institucionais e qualificados.
mada de decisão, observando seu dever de diligência e não for
parte interessada no assunto da decisão ou julgamento do negó- Como eu me referi acima a “todas as
cio; estiver devidamente informado a respeito do assunto a ser fases do processo decisório”, vou re-
decidido e acreditar que as circunstâncias fornecidas para análise sumir quais são:
são apropriadas e razoáveis; e racionalmente que sua decisão es- I- a fase preliminar à reunião re-
Dirigentes
ConselheiroseeDirigentes
teja de acordo com os melhores interesses da companhia.”2 quer competência técnica com di-
ligência, principalmente, isto é, requer
Assim, os padrões de conduta acima relacionados, e outros que as que os membros do colegiado (todos
boas práticas de governança corporativa recomendam, compõem eles) se preparem para a reunião, estudan-
deConselheiros
um conjunto de atitudes técnicas e éticas que se espera de con- do a pauta, examinando documentos, pedindo
selheiros e dirigentes, na medida de suas atribuições, e de todos estudos e esclarecimentos complementares su-
que participam do processo de análise, de assessoramento e de- ficientes para firmar seu convencimento;
cisório sobre a aplicação de recursos, de acordo com a Resolução
do CMN (já me vali de outras oportunidades para manifestar meu II- a reunião do colégio, então, deve se dar com to-
Éticade
entendimento sobre a expressão “na medida das atribuições”: a dos os membros preparados para expor sua com-
ResponsabilidadeÉtica
“medida” está na Lei, nos estatutos, nos regimentos internos, códi- preensão, com a predisposição de ouvir os demais
gos de conduta e manuais). É o que esperam patrocinadores, ins- pares e, se for o caso, para rever seu encaminha-
e-book AAResponsabilidade
tituidores, participantes, assistidos e eventuais outras partes do mento e contribuir para a decisão colegiada (“de
contrato previdenciário do que se denomina deveres fiduciários. preferência” sem vieses cognitivos que levam a
1 Com a conclusão de Thais Goveia Pascoaloto Venturi: “Vale dizer: tanto a prevenção quanto a precaução, ainda que constituam princípios cujos
fundamentos e conteúdos sejam distinguíveis, comportam aplicação cada vez mais acentuada no campo da responsabilidade civil, na medida em
que buscam dimensionar concreta ou abstratamente os riscos, antecipando prováveis ou possíveis lesões decorrentes da violação de determinados
interesses ou direitos.” (Responsabilidade Civil Preventiva – a proteção contra a violação dos direitos e a tutela inibitória material, Malheiros, SP, 2014,
pág. 251)
2 Alexandre Couto e Silva, Responsabilidade dos Administradores de S/A – Business Judgment Rule, RJ, Elsevier, 2007, pág. 143
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avaliações e decisões erradas3); visando o interesse da companhia. Erros não intencionais não
III- terceira fase é superveniente, é a fase de acompanha- podem ser punidos ou considerados se provado o cumprimento
mento da decisão adotada pelo colegiado (sim, toda deci- dos deveres fiduciários: prudência, diligência, boa fé, ética, co-
são é tomada para que um fim seja atingido e é absoluta- nhecimento do negócio, alinhamento de informações, transpa-
mente necessário verificar se isso se deu). rência, cumprimento da legislação, estatuto e outros normativos
internos.
A segunda avaliação do tema, por derradeiro, diz respeito ao erro
não intencional. Somente será admissível concluir pela respon- Especialmente com relação ao conselho deliberativo das EFPC
sabilidade de conselheiros e dirigentes se não atenderam aos não é demais lembrar que o colegiado tem missão espinhosa e,
padrões mínimos de conduta legalmente estabelecidos ou con- por isso mesmo, suas decisões devem estar sempre fundamen-
trários ao que se espera do homem comum, segundo a regra do tadas na boa-fé e na ética: não é nada fácil conciliar interesses
3 O Professor Alexandre Di Miceli da Silveira formula a questão “por que as pessoas frequentemente tomam decisões erradas e descumprem regras? E
aponta três causas: limitações técnicas, conflito de interesses, e vieses cognitivos entendidos como a “tendência de tomarmos decisões erradas como
consequência de uma ‘lente distorcida’ pela qual interpretamos a realidade. Os vieses levam indivíduos e órgãos de governança a tomarem decisões er-
radas inconscientemente, mesmo quando têm convicção de que estão fazendo o melhor para a empresa.” (Governança Corporativa – o essencial para
líderes, Virtuous Company, 2020, pág. 35)
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e-book A Responsabilidade Ética de Conselheiros e Dirigentes
DIVULGAÇÃO DE
INFORMAÇÕES E
LIMITES ÉTICOS
FERNANDO SIMÕES
Membro da Comissão de Ética do Sindapp
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Divulgação de Informações e limites éticos
Nossa abordagem sobre a responsabilidade ética de conselheiros Um aspecto muito importante do estudo é a previsão de repre-
e dirigentes de entidades fechadas de previdência complementar sentação dos participantes e assistidos nos conselhos delibera-
se dará a partir das publicações das Leis Complementares nº 108 e tivo e fiscal, assegurando a esse grupo um terço das vagas em
109 de 2001, considerando a Emenda Constitucional nº 20 de 1998. ambos os colegiados.
Entretanto, antes de adentrar na análise positivada da legisla- De forma específica, para entidades fechadas de previdência
ção em comento, cumpre-nos ressaltar a importância da ética complementar com patrocinador público, a Lei Complementar
e do direito na presente análise, no sentido de que ambas as 108 de 2001, manteve a estrutura mínima mencionada na Lei
áreas tratam da normatização da conduta humana e pretendem Complementar 109 de 2001, mas ampliou a participação dos par-
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através de seus representantes, atinge, por definição legal, o Relembrada as principais atividades desses órgãos colegia-
órgão máximo de deliberação e o órgão fiscalizador, sendo que dos, que atingem a todos os praticantes, assistidos e patroci-
em algumas entidades a representação, como dito, chega até a nadores, passamos a estabelecer alguns dos princípios que os
diretoria, órgão executor. membros desses três colegiados devem seguir.
Dessa forma, o tema aqui tratado revela-se de grande importân- A Resolução CGPC 13 de 2004, estabelece a obrigatoriedade dos
cia, pois atinge o topo da estrutura organizacional, abrangendo, membros desses colegiados de manterem e promoverem o se-
assim, a todos os planos de benefícios administrados pela enti- guinte, para o que interesse a esse estudo:
dade fechada, e, consequentemente, a todos os participantes,
assistidos e patrocinadores que compõem os respectivos planos. Art. 3º Os conselheiros, diretores e empregados das EFPC
devem manter e promover conduta permanentemente
Todos os planos são abrangidos pelas deliberações dos órgãos
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Outro aspecto que deve ser comentado é a ne- fício contratado, e regulado por lei complementar.
cessidade de competência técnica e geren- § 1º - A lei complementar de que trata este artigo assegu-
cial para a execução das atividades dos rará ao participante de planos de benefícios de entidades
colegiados, sendo a ausência de compe- de previdência privada o pleno acesso às informações re-
tência entendida, também, como infra- lativas à gestão de seus respectivos planos.
ção ética. ...
A conduta ética dos membros dos O direito constitucional dos participantes e assistidos se refere
colegiados, em estudo, enfrenta o a informações relativas à gestão dos planos de benefícios que
direito dos participantes e assis- participam. Assim, devem ser amplamente divulgadas as infor-
tidos de receberem informação. mações sobre resultados dos investimentos, situação do patri-
Art. 202 - O regime de pre- Trago duas passagens do mencionado livro. A primeira fala o
vidência privada, de caráter seguinte:
complementar e organizado de
forma autônoma em relação ao O direito social tem como meta a justiça social dentro da
regime geral de previdência social, coletividade humana. É o interesse coletivo que é persegui-
será facultativo, baseado na consti- do, sendo influenciado, diretamente, pela moralidade. É a
tuição de reservas que garantam o bene- prevalência do interesse coletivo sobre o individual.
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E, continuo: mencionados podem sentir a obrigação de prestarem informa-
ção ou os próprios eleitores desses membros podem pensar que
Assim, o direito social aparece, também e de forma mar- possuem direito a toda e qualquer informação que circula nos
cante, dentro dos planos de benefícios administrados pe- colegiados, o que não condiz com a realidade legal, podendo tra-
las entidades fechadas de previdência complementar, para zer as consequências cabíveis.
trazer a paz jurídica, a exemplo da preservação do direito
acumulado, frente aos interesses divergentes dos partici- Como vimos, o direito à informação dos participantes e assisti-
pantes, que muitas vezes, esses interesses podem ser tra- dos têm regras a serem seguidas, pelo bem maior da coletivida-
duzidos como vantagem desproporcional para alguns em de, consubstanciadas nos planos de benefícios.
prejuízo da maioria.
A conduta ética dos membros dos colegiados devem seguir
essas previsões legais e principiológicas. A conduta que fere o
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E uma vez infringidos tais princípios, além das penalidades le- Concluindo, os membros dos colegiados das entidades fechadas
gais advindas da legislação de proteção de dados, além de pos- de previdência privada não estão obrigados a prestarem qual-
síveis sanções civis e penais, o próprio sistema de previdência quer tipo de informação que têm acesso aos participantes e os
complementar possui um instrumento em vigor para apurar tais assistidos, e esses não possuem o direito a qualquer tipo de in-
responsabilidades, qual seja, o Decreto nº 4.942/2003. formação dos conselheiros e dirigentes, ainda que os tenham
elegidos e, assim, sejam os seus representem nesses colegiados.
Em seus primeiros artigos, o mencionado decreto expressa ser
este o instrumento destinado a apurar a responsabilidade de A obrigação de conselheiros e de dirigentes e o direito de parti-
pessoa física ou jurídica, por ação ou omissão, no exercício de cipantes e assistidos, como mencionado, estão vinculados com
suas atribuições ou competências. acesso às informações relativas à gestão de seus respectivos
planos de benefícios, na forma mencionada nesse suscinto estu-
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Conselheiro
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Conselheiro Independente: a ética da independência
Nas últimas décadas a Governança Corporativa vem ganhando ticipação de capital;
destaque e relevância. O Conselho de Administração passou a
ser considerado um mecanismo central para a boa prática de (ii) não ser Acionista Controlador, cônjuge ou parente até
governança corporativa, tendo em vista sua função de monitorar segundo grau daquele, ou não ser ou não ter sido, nos últi-
e de mitigar os conflitos entre representantes e representados, mos 3 anos, vinculado a sociedade ou entidade relacionada
através da fiscalização dos atos dos representantes, quer sejam ao Acionista Controlador (pessoas vinculadas a instituições
eles a Diretoria, quer sejam os acionistas controladores. públicas de ensino e/ou pesquisa estão excluídas desta
restrição);
Defende-se que o efetivo desenvolvimento deste monitora- (iii) não ter sido, nos últimos 3 anos, empregado ou diretor
No Brasil, a definição de Conselheiro Independente foi introduzi- (v) não ser funcionário ou administrador de sociedade ou
da pela BM&FBOVESPA nos regulamentos do Novo Mercado e do entidade que esteja oferecendo ou demandando serviços
Nível 2 no ano de 2006, e encontra-se presente tanto no “Regula- e/ou produtos à Companhia;
mento de Listagem do Novo Mercado”, quanto no “Regulamento (vi) não ser cônjuge ou parente até segundo grau de algum
de Práticas Diferenciadas de Governança Corporativa Nível 2”, no administrador da Companhia;
item 2.1 de termos definidos de ambos os regulamentos, onde
indica todas as características excludentes que um conselheiro (vii) não receber outra remuneração da Companhia além da
não pode ter, para que seja considerado independente. Tal defi- de conselheiro (proventos em dinheiro oriundos de partici-
nição, portanto, é a que segue: pação no capital estão excluídos desta restrição).”
“Conselheiro Independente” caracteriza-se por: No Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, 5ª
(i) não ter qualquer vínculo com a Companhia, exceto par- edição, do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC,
consta três classes de conselheiros:
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(i) internos: conselheiros que ocupam posição de diretores (iii) Não estar vinculado por acordo de acionistas;
ou que são empregados da organização;
(iv) Não ter sido empregado ou diretor da organização (ou
(ii) externos: conselheiros sem vínculo atual comercial, de suas subsidiárias) há pelo menos, 3 (três) anos;
empregatício ou de direção com a organização, mas que
não são independentes, tais como ex-diretores e ex-em- (v) Não ser ou ter sido, há menos de 3 (três) anos, conselhei-
pregados, advogados e consultores que prestam serviços ro de organização controlada;
à empresa, sócios ou empregados do grupo controlador, (vi) Não estar fornecendo, comprando ou oferecendo (ne-
de sua controlada direta, controladas ou do mesmo grupo gociando), direta ou indiretamente, serviços e/ou produtos
econômico e seus parentes próximos e gestores de fundos à organização em escala relevante para o conselheiro ou
com participação relevante; e, a organização;
(ii) Não ser sócio controlador, membro do grupo de contro- (xi) Manter-se independente em relação ao CEO; e,
le ou de outro grupo com participação relevante, cônjuge (xii) Não depender financeiramente da remuneração da
ou parente até segundo grau destes, ou ligado a organiza- organização.
ções relacionadas ao sócio controlador;
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Ainda segundo o IBGC, o papel dos conselheiros independentes é (i) Em que consiste essa independên-
especialmente importante em companhias com capital disperso, cia?
sem controle definido, em que o papel predominante da diretoria
deve ser contrabalançado. (ii) Independência do que ou de
quem?
A princípio, tendo o conselheiro independente essas caracterís- (iii) Como se mensura os limites
ticas, então uma das suas principais funções é proporcionar um e a efetividade dessa indepen-
monitoramento com olhar externo à empresa. Um acompanha- dência?
mento de alguém que seja o mais externo possível à organização.
Isso pode ajudar o conselho a cumprir sua função de acompa- (iv) Quais os limites éticos dessa
nhamento e avaliação das atividades realizadas pelos gestores independência?
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Através do presente artigo não pretendemos responder e/ou divulgação e transparência, conduzido sob a orientação e su-
esgotar o assunto em tela, mas deflagrar uma reflexão e o des- pervisão do conselho deliberativo.”
pertar para o debate sobre ele.
Com efeito, estamos avançando no aperfeiçoamento da Gover-
Temos conhecimento que algumas propostas para introduzir a fi- nança das EFPC, mas o certo é que a inserção de Conselheiro
gura do Conselheiro Independente, na Governança das EFPC, já cir- Independente ainda não encontra previsão na legislação de re-
culam por aí, inclusive algumas tramitando na Câmara e no Senado, gência das EFPC, bem como não encontra guarida na lei interna
a exemplo do Projeto de Lei Complementar nº 268-A, de 2016. destas entidades, ou seja, em seus Estatutos Sociais.
As justificativas dos que defendem a ideia de inserção do Con- Outrossim, no que respeita a iniciativa de proposição dessas me-
selheiro Independente e até mesmo da terceirização da gestão, didas, quer nos parecer que quem está dentro do sistema, con-
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A Abrapp já editou o Có- Mas e a ética da independência, como se verifica?
digo de Autorregulação
de Governança Corpora- Primeiramente importa dizer que na atualidade a ética tem como
tiva para as EFPC, desde uma de suas finalidades nortear as novas relações entre os ho-
2019, podendo ser ele o mens e as recentes instituições a fim de combater ou evitar abu-
instrumento para con- sos e desmandos.
templar tais controles e
quiçá inibir tais interven- Por sua vez, o código de conduta tem por finalidade principal
ções indesejadas e conflitantes com o compromisso promover princípios éticos e refletir a identidade e cultura orga-
fiduciário dos gestores de uma EFPC. nizacionais, fundamentado em responsabilidade, respeito, ética
e considerações de ordem social e ambiental.
Acreditamos que a exigência de qualificação e certificação, dos A administração de uma EFPC é responsável por dar o exemplo
conselheiros deliberativos, em administração e em investimen- no cumprimento do código de conduta, onde o conselho deli-
tos, já seria um grande avanço para as EFPC, sem a necessidade berativo é o guardião dos princípios e valores da organização
de se cogitar na repartição da gestão das EFPC com Conselhei- e dentre suas responsabilidades está disseminar e monitorar,
ros Independentes, preservando a gestão paritária entre patro- com apoio da diretoria, a incorporação de padrões de conduta
cinadores de um lado, e de outro entre participantes e assistidos. em todos os níveis da organização.
De outro lado, entendemos que para chegarmos a uma gover- O tema está regulado no âmbito das EFPC pela Resolução CNPC
nança ideal, que contemple todos os anseios, interesses e neces- nº 13, de 2004, no caput do Art. 3º e no § único do mesmo artigo,
sidades das partes envolvidas em uma EFPC, ainda há um longo que assim dispõem:
caminho a ser trilhado, mas o importante é darmos o primeiro
passo, mediante uma clara e profunda reflexão, separando o joio “Art. 3º - Os conselheiros, diretores e empregados das EFPC
do trigo, buscando alternativas e propostas de melhorias dentro devem manter e promover conduta permanentemente
da própria indústria da previdência complementar fechada. pautada por elevados padrões éticos e de integridade,
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orientando-se pela defesa dos direitos dos participantes Corporativa da Abrapp: “A atuação de todos os profissionais das
e assistidos dos planos de benefícios que operam e im- EFPC deve ser pautada por evidente conduta ética, com base em
pedindo a utilização da entidade fechada de previdência valores essenciais que distinguem o indivíduo probo, responsá-
complementar em prol de interesses conflitantes com o vel e comprometido com seu dever fiduciário. Para a definição,
alcance de seus objetivos. disseminação e monitoramento dos valores essenciais da EFPC,
é necessário o comprometimento e o apoio dos conselheiros e
Parágrafo único. É recomendável a instituição de código dirigentes buscando fomentar uma cultura ética e uma conduta
de ética e conduta, e sua ampla divulgação, inclusive aos de respeito aos valores e às obrigações legais e regulamentares,
participantes e assistidos e às partes relacionadas, asse- a fim de se produzir força de engajamento e profundo enraiza-
gurando-se o seu cumprimento. mento na cultura organizacional.”
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e-book A Responsabilidade Ética de Conselheiros e Dirigentes
Ética na gestão
previdenciária sob
o enfoque ASG
MARCELO COELHO DE SOUZA
Membro da Comissão de Ética do Sindapp
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Ética na gestão previdenciária sob o enfoque ASG
Antes de tratarmos especifica- cisão que preservem a integridade das empresas e dos recursos
mente da ética na gestão previ- financeiros investidos pelas pessoas.
denciária sob o enfoque ASG, é
A urgência de tornar o fundamental compreender a É inegável que a pandemia da Covid-19 abateu as economias de
investimento responsável similaridade que guardam en- todo o mundo e, além de escancarar as fragilidades sociais igno-
uma realidade nas decisões tre si a previdência privada e radas pelos indicadores financeiros, reforçou as novas exigências
dos gestores de planos de as questões ambientais, sociais socioeconômicas e a busca de novas métricas, com as necessárias
previdência e de governança, que tanto têm inclusões do bem-estar e do meio ambiente em seus índices.
sido debatidas nos últimos anos.
1 Segundo Úrsula Von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, Jornal O Globo, edição de 25.4.21, página 43.
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sistentes de riscos ambientais e sociais. Nesse sentido, chama tividade. Caberá às instituições reguladas pelo Bacen observar
atenção a recente Cúpula do Clima, liderada pelo Presidente dos os ditames de tais políticas na condução de suas atividades e
EUA, Joe Biden, que deixou claro que seu trilionário plano para negócios, bem como na sua relação com as partes interessadas,
recuperar aquela que é hoje a maior economia do mundo está ou seja, seus clientes também serão diretamente impactados.
totalmente direcionado para a sustentabilidade.
Assim, ao incorporar a Sustentabilidade e a necessidade de sua
Ainda que no Brasil precisemos avançar um pouco mais nessa observância na atuação de seus regulados, o Banco Central do
agenda, já se percebe movimentos irreversíveis neste sentido. Brasil reconhece a importância, para a economia brasileira e para
O Banco Central do Brasil (“BACEN”), em linha com as melhores a manutenção da estabilidade do Sistema Financeiro Nacional,
práticas, colocou em recente consulta pública2 normas que, se do adequado e necessário enfrentamento dos desafios concer-
aprovadas, tornarão obrigatórias aos seus regulados a identifi- nentes aos aspectos sociais e ambientais, assim como os decor-
2 Edital de Consulta Pública número 85: Divulga o conjunto de propostas normativas para o aprimoramento das regras de gerenciamento do risco social, do
risco ambiental e do risco climático aplicáveis às instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, bem
como os requisitos a serem observados por essas instituições no estabelecimento da Política de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática (PRSAC)
e na implementação de ações com vistas à sua efetividade;
Edital de Consulta Pública número 86: Divulga proposta normativa com vistas ao estabelecimento de requisitos para a divulgação de informações sobre
aspectos sociais, ambientais e climáticos, aplicáveis às instituições enquadradas no Segmento 1 (S1), no Segmento 2 (S2), no segmento 3 (S3) e no Segmento
4 (S4), nos termos da resolução nr. 4553, de 30 de janeiro de 2017
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vez que o desenvolvimento do tema trouxe a conclusão de que é parte de alguns gestores de que
necessário incorporar também os impactos sociais e ambientais a adoção de critérios ASG na
dos negócios, questões fundamentais para a sustentabilidade gestão de planos previdenciários
dos ativos investidos e do próprio planeta em que seus partici- concorre com a busca de melhores
pantes e familiares irão viver no futuro. Por isso, grandes fundos retornos financeiros, quando na ver-
de pensão ao redor do mundo têm direcionado parte de seus dade o que se observa é exatamente
recursos para perfis ASG. Porém, apesar de a adoção de critérios o oposto, ou seja, que no longo prazo há
ASG na gestão de investimentos estar em franca expansão em uma correlação positiva entre a inclusão
mercados como EUA e Europa, por exemplo, no Brasil o debate de fatores ASG e o retorno financeiro dos
segue em um estágio anterior de desenvolvimento, apesar de investimentos.
importantes avanços já poderem ser observados.
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com dados coletados pelo Google Trends, a busca por termos com a responsabilidade de garantir o cumprimento de um con-
relacionados às questões ASG como “ESG” (forma como o termo trato previdenciário de longuíssimo prazo?
ASG é utilizado em inglês) e “o que é ESG” aumentaram respecti-
vamente 100% e 500% nos primeiros meses de 2021, se compa- Em primeiro lugar é importante que esses gestores sejam ca-
rados ao mesmo período do ano passado. pazes de identificar claramente as questões conjunturais e as
estruturais que afetam seus investimentos, de maneira ampla e
É certo que os normativos que regulam o sistema de previdência completa, pois só assim será possível criar as estratégias mais
complementar ainda não estão no mesmo nível de obrigatorie- eficazes para atravessar os momentos de dificuldade, que cer-
dade de observância dos riscos ASG como aqueles propostos tamente virão no decorrer do tempo.
para as instituições financeiras. Entretanto, ainda que carente
Em segundo lugar, e não menos importante, está o desafio da
de um arcabouço regulatório mais alinhado a essas questões, a
educação previdenciária de seus públicos, para que seus clien-
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ambientais e sociais para poder desfrutá-los. mesmo da Resolução CGPC 13/2004, deve o Gestor considerar
a abordagem de investimento que reconhece a relevância dos
A partir daí, o exercício da transparência e do próprio comporta- fatores ambientais, sociais e de governança juntamente com a
mento ético torna-se o principal vetor para que sejam tomadas solidez e a estabilidade no longo prazo do mercado como um
as decisões mais acertadas na defesa dos interesses dos par- todo e incorporar esses aspectos na análise do portfólio e na
ticipantes dos planos e das gerações futuras, em linha com as participação ativa dos investidores nas empresas, seja por meio
melhores práticas de mercado e com medidas eticamente res- de atividades de engajamento ou por meio do poder de voto nes-
ponsáveis e adequadas à sociedade. sas empresas.
Dessa forma, o gestor ético deve considerar em suas Esses são deveres inegociáveis para tomadores de decisões que
decisões a busca por rentabilidade atrelada a ati- podem impactar reservas de milhares de indivíduos. E essa é a
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Comissão de Ética do Sindapp
Diretor-Presidente
José de Souza Mendonça
Diretor Responsável
Erasmo Cirqueira Lino
Coordenadora
Aparecida Ribeiro Garcia Pagliarini
Membros
Fernando Nunes Simões
Jorge Luiz Ferri Berzagui
Marcelo Coelho de Souza
Poliana Lemos da Silva
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www.sindapp.org.br
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