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A Responsabilidade Ética de Conselheiros e Dirigentes

A autora discute a postura que conselheiros e dirigentes devem adotar diante de erros não intencionais. Ela argumenta que todos os processos decisórios devem observar padrões de comportamento ético ditados pelas normas do setor, visando assegurar credibilidade perante diversas partes interessadas. A autora também ressalta a importância da prudência e ética nos processos decisórios de colegiados.

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Tatiane Melo
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A Responsabilidade Ética de Conselheiros e Dirigentes

A autora discute a postura que conselheiros e dirigentes devem adotar diante de erros não intencionais. Ela argumenta que todos os processos decisórios devem observar padrões de comportamento ético ditados pelas normas do setor, visando assegurar credibilidade perante diversas partes interessadas. A autora também ressalta a importância da prudência e ética nos processos decisórios de colegiados.

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e-BOOK

e-book A Responsabilidade Ética de Conselheiros e Dirigentes


A RESPONSABILIDADE
ÉTICA DE CONSELHEIROS
E DIRIGENTES

COMISSÃO DE ÉTICA DO SINDAPP

1
COMISSÃO DE ÉTICA DO SINDAPP

e-BOOK

e-book A Responsabilidade Ética de Conselheiros e Dirigentes


A RESPONSABILIDADE
ÉTICA DE CONSELHEIROS
E DIRIGENTES
JUNHO/2021

2
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

A responsabilidade ética de conselheiros e dirigentes [livro eletrônico] / José de Souza Mendonça


... [et al.]. -- 1. ed. -- São Paulo : Sindicato Nacional das Entidades Fechadas de Previdência
Complementar, 2021.
PDF

Outros autores : Erasmo Cirqueira Lino, Aparecida Ribeiro Garcia Pagliarini,


Fernando Nunes Simões, Jorge Luiz Ferri Berzagui, Marcelo Coelho de Souza,
Poliana Lemos da Silva
ISBN 978-65-995342-0-1

1. Administração pública 2. Direito previdenciário


3. Ética 4. Gestão de negócios 5. Previdênciacomplementar - Brasil I. Lino, Erasmo Cirqueira.
II.Pagliarini, Aparecida Ribeiro Garcia. III. Simões,Fernando Nunes. IV. Berzagui, Jorge Luiz Ferri.
V.Souza, Marcelo Coelho de. VI. Silva, Poliana Lemos
da.

21-69946 CDU-34:368.4 (81) (094.98)

Índices para catálogo sistemático:

1. Previdência complementar : Direito previdenciário


: Brasil 34:368.4 (81) (094.98)

Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129


05 APRESENTAÇÃO

07
POSTURA DIANTE DE ERROS NÃO
INTENCIONAIS

11
DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES E

e-book A Responsabilidade Ética de Conselheiros e Dirigentes


LIMITES ÉTICOS
SUMÁRIO

17 CONSELHEIRO INDEPENDENTE: A
ÉTICA DA INDEPENDÊNCIA

24 ÉTICA NA GESTÃO PREVIDENCIÁRIA


SOB O ENFOQUE ASG

30 COMISSÃO DE ÉTICA DO SINDAPP

4
Apresentação
A disseminação dos princípios éticos é uma das principais atividades do Sindapp
- Sindicato Nacional das Entidades Fechadas de Previdência Complementar, ao
lado da defesa dos atos regulares de gestão e da representação institucional do setor.

A valorização da conduta ética é condição fundamental para a prevenção de riscos nas


atividades das entidades fechadas de previdência complementar – EFPC, que superam
R$ 1 trilhão em patrimônio administrado e pagam cerca de R$ 68 bilhões em be-
nefícios a participantes, dependentes e assistidos (dados de 2020). Essa agenda
colabora para a redução de questões legais e está alinhada às responsabilida-

Dirigentes
ConselheiroseeDirigentes
des das EFPC sobre a gestão de recursos de terceiros e o seu compromisso
de longo prazo.

Tamanha é a importância dada a essa pauta, que ela está na missão do nos-

deConselheiros
so Sindicato: promover a ética do sistema de Previdência Complementar e
defender os atos regulares de seus gestores, preservando os valores sociais.

A Comissão de Ética do Sindapp é agente fundamental para a promoção dos


princípios éticos em nosso regime. Composta por um membro de cada regional,

Éticade
escolhido pelas entidades associadas locais, a Comissão tem entre suas competências

ResponsabilidadeÉtica
administrar e supervisionar a aplicação e a observância do Código de Condutas Recomen-
dadas para o Regime Fechado de Previdência Complementar.

e-book AAResponsabilidade
É também competência da Comissão de Ética fomentar o comportamento ético no ambiente das
EFPC, por meio de debates, participação em eventos, produção de artigos e e-books que contribuam
para a reflexão crítica em nosso meio.

A presente obra é fruto do trabalho dos membros dessa Comissão, com os quais tenho o prazer de conviver
para a realização dessa profícua missão do Sindicato, na condição não apenas de elo entre esse colegiado
e a Diretoria do Sindapp, mas também com a humildade de quem se percebe como eterno aprendiz.

5
Você encontrará nas páginas a seguir o produto de algumas das mais brilhantes mentes do nosso regime,
debruçadas sobre questões que se apresentam no dia a dia dos profissionais da previdência complementar:
gestão previdenciária sob o enfoque de ASG (ambiental, social e governança) e decisões sobre investimento
responsável, a postura de conselheiros e dirigentes diante de erros não intencionais, a ética na atuação de
conselheiros independentes, obrigações de dirigentes e conselheiros no contexto do direito à informação,
dentre outros temas que perpassam essas discussões.

Posto isso, convido a mergulhar nessa instigante leitura! Cada profissional que dedicar tempo a esse
e-book certamente terá acrescentado conhecimentos que agregarão ao seu pensamento crítico. Meu
desejo é que cada um de nós, por meio do fortalecimento dessa consciência, possamos partir para a ação,
tornando-nos multiplicadores da conduta e debates éticos em nosso regime.

e-book A Responsabilidade Ética de Conselheiros e Dirigentes


ERASMO CIRQUEIRA
Diretor de Promoção da Ética - SINDAPP

6
e-book A Responsabilidade Ética de Conselheiros e Dirigentes
POSTURA DIANTE
DE ERROS NÃO
INTENCIONAIS
APARECIDA RIBEIRO GARCIA PAGLIARINI
Coordenadora da Comissão de Ética do Sindapp

7
Postura Diante de Erros Não Intencionais
O tema central deste novo e-book preparado pelos membros da forma de gestão de cada plano por ela administrado, de
Comissão Ética com várias abordagens parece-me importante acordo com o art. 7º) e transparência;
para os momentos em que vivemos e que demandam maior re- II- exercer suas atividades com boa fé, lealdade e diligência;
flexão e cuidados com os processos decisórios dos Colegiados.
Afinal, colegiados estão na estrutura das entidades fechadas de III- zelar por elevados padrões éticos;
previdência complementar (EFPC) para tomarem decisões que IV- adotar práticas que garantam o cumprimento do seu
demandam propósito, comprometimento, conhecimento, pre- dever fiduciário em relação aos participantes dos planos
paro técnico e gerencial, transparência, alinhamento e integri- de benefícios, considerando, inclusive, a política de investi-
dade de informações, respeito às normas, diligência, prudência, mentos estabelecida, observadas as modalidades, segmen-

e-book A Responsabilidade Ética de Conselheiros e Dirigentes


adoção equilibrada de controles e, acima de tudo, ética. Por que? tos, limites e demais critérios e requisitos estabelecidos na
Porque, num ambiente onde devem ser privilegiados meios e não Resolução; e
resultados, as melhores práticas e comportamentos adotados V- executar com diligência a seleção, o acompanhamento e a
devem se orientar por princípios que sustentam e darão credi- avaliação de prestadores de serviços relacionados à gestão
bilidade às decisões tomadas. de ativos.

Nesta primeira avaliação do tema, portanto, (e especialmente Vale lembrar que quase todos os padrões de conduta trazidos
considerando o caráter de investidor institucional das EFPC), pelo CMN estão lá na Resolução CGPC nº 13, editada 14 anos an-
todas as fases do processo decisório devem observar hoje (e tes. Vale lembrar também que, ao indicar parâmetros, a norma
sempre) além dos padrões de comportamento ditados pelas nor- não está exigindo resultados, mas aponta responsabilidade de
mas que disciplinam a gestão de investimentos das reservas dos meios, responsabilidade preventiva e precavida de conselheiros
planos outros tantos padrões para assegurar que o processo e dirigentes. Aqui a prudência é tudo ou, como diria minha vó Ma-
decisório mereça credibilidade de patrocinadores, instituidores, ria: “cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.” Existe
participantes, assistidos, do mercado, dos supervisores e fiscali- prudência sem ética? Não. Primeiro, porque prudência é virtude.
zadores. Aqueles (os padrões) são as chamadas “diretrizes” pelo Segundo, porque ética é fazer o bem (não confundir com fazer
art. 4º da Resolução CMN nº 4.661/2018: o bom). Terceiro, porque ninguém é virtuoso sem se preocupar
com o bem.
I- observar os princípios de segurança, rentabilidade, sol-
vência, liquidez, adequação à natureza de suas obrigações
(considerando o porte, a complexidade, a modalidade e a

8
Penso que essas ponderações estão orientadas pela transfor- Se, de um lado é esperado, de outro é o
mação de fundamentos da responsabilidade civil1 que vem sen- que deles exigem os órgãos de supervi-
do adotada por julgadores na esfera administrativa e judiciária, são e fiscalização das EFPC - PREVIC - e
segundo a regra de julgamento do negócio (ou regra da decisão do mercado de capitais – CVM – já que
empresarial) que “determina que estará amparado pelo regra o aquelas, como já se disse, são inves-
conselheiro-administrador ou diretor que atuar de boa-fé na to- tidores institucionais e qualificados.
mada de decisão, observando seu dever de diligência e não for
parte interessada no assunto da decisão ou julgamento do negó- Como eu me referi acima a “todas as
cio; estiver devidamente informado a respeito do assunto a ser fases do processo decisório”, vou re-
decidido e acreditar que as circunstâncias fornecidas para análise sumir quais são:
são apropriadas e razoáveis; e racionalmente que sua decisão es- I- a fase preliminar à reunião re-

Dirigentes
ConselheiroseeDirigentes
teja de acordo com os melhores interesses da companhia.”2 quer competência técnica com di-
ligência, principalmente, isto é, requer
Assim, os padrões de conduta acima relacionados, e outros que as que os membros do colegiado (todos
boas práticas de governança corporativa recomendam, compõem eles) se preparem para a reunião, estudan-

deConselheiros
um conjunto de atitudes técnicas e éticas que se espera de con- do a pauta, examinando documentos, pedindo
selheiros e dirigentes, na medida de suas atribuições, e de todos estudos e esclarecimentos complementares su-
que participam do processo de análise, de assessoramento e de- ficientes para firmar seu convencimento;
cisório sobre a aplicação de recursos, de acordo com a Resolução
do CMN (já me vali de outras oportunidades para manifestar meu II- a reunião do colégio, então, deve se dar com to-

Éticade
entendimento sobre a expressão “na medida das atribuições”: a dos os membros preparados para expor sua com-

ResponsabilidadeÉtica
“medida” está na Lei, nos estatutos, nos regimentos internos, códi- preensão, com a predisposição de ouvir os demais
gos de conduta e manuais). É o que esperam patrocinadores, ins- pares e, se for o caso, para rever seu encaminha-

e-book AAResponsabilidade
tituidores, participantes, assistidos e eventuais outras partes do mento e contribuir para a decisão colegiada (“de
contrato previdenciário do que se denomina deveres fiduciários. preferência” sem vieses cognitivos que levam a

1 Com a conclusão de Thais Goveia Pascoaloto Venturi: “Vale dizer: tanto a prevenção quanto a precaução, ainda que constituam princípios cujos
fundamentos e conteúdos sejam distinguíveis, comportam aplicação cada vez mais acentuada no campo da responsabilidade civil, na medida em
que buscam dimensionar concreta ou abstratamente os riscos, antecipando prováveis ou possíveis lesões decorrentes da violação de determinados
interesses ou direitos.” (Responsabilidade Civil Preventiva – a proteção contra a violação dos direitos e a tutela inibitória material, Malheiros, SP, 2014,
pág. 251)
2 Alexandre Couto e Silva, Responsabilidade dos Administradores de S/A – Business Judgment Rule, RJ, Elsevier, 2007, pág. 143

9
avaliações e decisões erradas3); visando o interesse da companhia. Erros não intencionais não
III- terceira fase é superveniente, é a fase de acompanha- podem ser punidos ou considerados se provado o cumprimento
mento da decisão adotada pelo colegiado (sim, toda deci- dos deveres fiduciários: prudência, diligência, boa fé, ética, co-
são é tomada para que um fim seja atingido e é absoluta- nhecimento do negócio, alinhamento de informações, transpa-
mente necessário verificar se isso se deu). rência, cumprimento da legislação, estatuto e outros normativos
internos.
A segunda avaliação do tema, por derradeiro, diz respeito ao erro
não intencional. Somente será admissível concluir pela respon- Especialmente com relação ao conselho deliberativo das EFPC
sabilidade de conselheiros e dirigentes se não atenderam aos não é demais lembrar que o colegiado tem missão espinhosa e,
padrões mínimos de conduta legalmente estabelecidos ou con- por isso mesmo, suas decisões devem estar sempre fundamen-
trários ao que se espera do homem comum, segundo a regra do tadas na boa-fé e na ética: não é nada fácil conciliar interesses

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art. 1011 do Código Civil. Isso significa dizer que, se ausentes a de patrocinadores, instituidores, participantes e assistidos (que
boa fé e conduta moralmente aceita de acordo com a cultura do muitas vezes não são os mesmos interesses dos ativos). Por isso,
ambiente das EFPC, aplicar-se-á, por analogia e considerando o quaisquer conflitos que estejam colocados para decisão devem
caso concreto, o § 6º do art. 159 da Lei das Sociedades Anônimas: ser analisados com isenção, transparência e, principalmente, de
o juiz poderá reconhecer a exclusão da responsabilidade do acordo com princípios éticos.
administrador, se convencido de que este agiu de boa-fé e

3 O Professor Alexandre Di Miceli da Silveira formula a questão “por que as pessoas frequentemente tomam decisões erradas e descumprem regras? E
aponta três causas: limitações técnicas, conflito de interesses, e vieses cognitivos entendidos como a “tendência de tomarmos decisões erradas como
consequência de uma ‘lente distorcida’ pela qual interpretamos a realidade. Os vieses levam indivíduos e órgãos de governança a tomarem decisões er-
radas inconscientemente, mesmo quando têm convicção de que estão fazendo o melhor para a empresa.” (Governança Corporativa – o essencial para
líderes, Virtuous Company, 2020, pág. 35)

10
e-book A Responsabilidade Ética de Conselheiros e Dirigentes
DIVULGAÇÃO DE
INFORMAÇÕES E
LIMITES ÉTICOS
FERNANDO SIMÕES
Membro da Comissão de Ética do Sindapp

11
Divulgação de Informações e limites éticos
Nossa abordagem sobre a responsabilidade ética de conselheiros Um aspecto muito importante do estudo é a previsão de repre-
e dirigentes de entidades fechadas de previdência complementar sentação dos participantes e assistidos nos conselhos delibera-
se dará a partir das publicações das Leis Complementares nº 108 e tivo e fiscal, assegurando a esse grupo um terço das vagas em
109 de 2001, considerando a Emenda Constitucional nº 20 de 1998. ambos os colegiados.

Entretanto, antes de adentrar na análise positivada da legisla- De forma específica, para entidades fechadas de previdência
ção em comento, cumpre-nos ressaltar a importância da ética complementar com patrocinador público, a Lei Complementar
e do direito na presente análise, no sentido de que ambas as 108 de 2001, manteve a estrutura mínima mencionada na Lei
áreas tratam da normatização da conduta humana e pretendem Complementar 109 de 2001, mas ampliou a participação dos par-

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contribuir para a ordem social, nas palavras de Chevitarese e ticipantes e assistidos nos mesmos colegiados, estabelecendo
Natalia Morais Gaspar1, e que aqui são traduzidas nas funções a representação paritária, ou seja, metade para os participan-
de dirigentes e de Conselheiros. tes e assistidos e a outra metade para os patrocinadores, sendo
previsto o número máximo de seis membros para o conselho
Ressalta-se, ainda, que a ética serve como parâmetro para o deliberativo e quatro para o fiscal.
aprimoramento das leis, de modo que estas possam refletir, de
modo mais próximo, a ética da sociedade sob o prisma de seus Algumas entidades fechadas de previdência complementar es-
conceitos e valores. tabeleceram representação dos participantes e assistidos na di-
retoria, o que, ao nosso ver, amplia a diversidade e a possibilidade
Nesse sentido, a Lei Complementar 109 de 2001, de forma geral, de aplicação ética dos valores sob diferentes pontos de vista.
e de modo a oferecer uma estrutura moderada e diversificada
para a promoção do direito e da governança, incluindo a ética, na Essas previsões atendem ao previsto no parágrafo 6º do artigo
gestão das entidades de previdência complementar, estabelece 202, com a redação dada pela Emenda Constitucional 20 de 1998,
a estrutura administrativa mínima dessas entidades, composta que prevê a inserção dos participantes e assistidos nos cole-
por três órgãos colegiados, quais sejam, conselho deliberativo, giados das entidades fechadas de previdência complementar,
conselho fiscal e diretoria. Os membros desses três órgãos serão demonstrando a importância do tema.
o objeto desse estudo sintético.
Verifica-se que a participação dos participantes e assistidos,

1 CHEVITARESE, Leandro e GASPAR, Natalia Morais; Ética e Sustentabilidade, FGV, 2019.

12
através de seus representantes, atinge, por definição legal, o Relembrada as principais atividades desses órgãos colegia-
órgão máximo de deliberação e o órgão fiscalizador, sendo que dos, que atingem a todos os praticantes, assistidos e patroci-
em algumas entidades a representação, como dito, chega até a nadores, passamos a estabelecer alguns dos princípios que os
diretoria, órgão executor. membros desses três colegiados devem seguir.

Dessa forma, o tema aqui tratado revela-se de grande importân- A Resolução CGPC 13 de 2004, estabelece a obrigatoriedade dos
cia, pois atinge o topo da estrutura organizacional, abrangendo, membros desses colegiados de manterem e promoverem o se-
assim, a todos os planos de benefícios administrados pela enti- guinte, para o que interesse a esse estudo:
dade fechada, e, consequentemente, a todos os participantes,
assistidos e patrocinadores que compõem os respectivos planos. Art. 3º Os conselheiros, diretores e empregados das EFPC
devem manter e promover conduta permanentemente
Todos os planos são abrangidos pelas deliberações dos órgãos

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pautada por elevados padrões éticos e de integridade,
colegiados pois essas decisões se referem às estratégias esta- orientando-se pela defesa dos direitos dos participantes
belecidas para dar sustentabilidade aos planos de benefícios. e assistidos dos planos de benefícios que operam e im-
pedindo a utilização da entidade fechada de previdência
Lembrando que o conselho deliberativo define matérias como:
complementar em prol de interesses conflitantes com o
política geral e alteração dos regulamentos planos de benefícios,
alcance de seus objetivos.
gestão de investimentos dos recursos dos planos, as hipóteses
atuarias etc. Parágrafo único. É recomendável a instituição de código
de ética e conduta, e sua ampla divulgação, inclusive aos
O conselho fiscal, para realizar sua atividade precípua de órgão participantes e assistidos e às partes relacionadas, asse-
de controle interno, deverá, dentre outras várias atividades im- gurando-se o seu cumprimento.
portantes, acompanhar a aderência da gestão dos recursos ga-
rantidores dos planos de benefícios às normas e a política de Verifica-se que, aos destinatários da norma, está dito para man-
investimentos, aderência das premissas e hipóteses atuariais, ou terem e promoverem conduta permanentemente pautada por
seja, chega a todos os planos de benefícios o exercício mensal elevados padrões éticos e de integridade, devendo ser conside-
de suas atribuições. rado, conforme expressamente previsto, para o cumprimento
desses preceitos, o direito dos participantes e dos assistidos. Fi-
A diretoria, como órgão responsável pela administração da enti- naliza recomendando a instituição de código de ética e conduta
dade, seguindo as políticas traçadas pelo conselho deliberativo, com ampla divulgação a todos que compõem e se relacionam
também tem suas ações refletidas em todos os planos de bene- com a EFPC.
fícios geridos pela EFPC.

13
Outro aspecto que deve ser comentado é a ne- fício contratado, e regulado por lei complementar.
cessidade de competência técnica e geren- § 1º - A lei complementar de que trata este artigo assegu-
cial para a execução das atividades dos rará ao participante de planos de benefícios de entidades
colegiados, sendo a ausência de compe- de previdência privada o pleno acesso às informações re-
tência entendida, também, como infra- lativas à gestão de seus respectivos planos.
ção ética. ...
A conduta ética dos membros dos O direito constitucional dos participantes e assistidos se refere
colegiados, em estudo, enfrenta o a informações relativas à gestão dos planos de benefícios que
direito dos participantes e assis- participam. Assim, devem ser amplamente divulgadas as infor-
tidos de receberem informação. mações sobre resultados dos investimentos, situação do patri-

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Importante entender em que mônio de cobertura dos benefícios, pagamento de benefícios,
contexto a norma pretende custos administrativos, dentre outros, com o propósito do par-
que seja preservado esse di- ticipante e do assistido acompanharem a gestão, visando, prin-
reito. cipalmente, avaliação dos riscos que passam atingir o direito ao
recebimento de benefícios.
O direito a informações foi
elevado para o nível cons- Delimitado esse direito à informação, outro aspecto muito impor-
titucional, com a Emenda tante é contextualização pelos demais normativos e princípios pá-
Constitucional 20 de 1998, trios, como a função social do contrato e a prevalência do direito
que altera o artigo 202, coletivo sobre o individual. Sobre o assunto tive a oportunidade
como aqui já mencionado, de tratar a respeito da prevalência do direito coletivo na obra “O
nos seguintes termos: Direito Acumulado dos Participantes dos Fundos de Pensão”.

Art. 202 - O regime de pre- Trago duas passagens do mencionado livro. A primeira fala o
vidência privada, de caráter seguinte:
complementar e organizado de
forma autônoma em relação ao O direito social tem como meta a justiça social dentro da
regime geral de previdência social, coletividade humana. É o interesse coletivo que é persegui-
será facultativo, baseado na consti- do, sendo influenciado, diretamente, pela moralidade. É a
tuição de reservas que garantam o bene- prevalência do interesse coletivo sobre o individual.

14
E, continuo: mencionados podem sentir a obrigação de prestarem informa-
ção ou os próprios eleitores desses membros podem pensar que
Assim, o direito social aparece, também e de forma mar- possuem direito a toda e qualquer informação que circula nos
cante, dentro dos planos de benefícios administrados pe- colegiados, o que não condiz com a realidade legal, podendo tra-
las entidades fechadas de previdência complementar, para zer as consequências cabíveis.
trazer a paz jurídica, a exemplo da preservação do direito
acumulado, frente aos interesses divergentes dos partici- Como vimos, o direito à informação dos participantes e assisti-
pantes, que muitas vezes, esses interesses podem ser tra- dos têm regras a serem seguidas, pelo bem maior da coletivida-
duzidos como vantagem desproporcional para alguns em de, consubstanciadas nos planos de benefícios.
prejuízo da maioria.
A conduta ética dos membros dos colegiados devem seguir
essas previsões legais e principiológicas. A conduta que fere o

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Dessa forma, o direito da coletividade de participantes e assis-
tidos devem ser preservados, em situação de confronto com o princípio ético enseja a aplicação das penalidades legais, aqui
direito individual. incluídas as penalidades no âmbito da previdência privada, do
mercado financeiro e do direito civil, abrangendo a lei geral de
Trazendo esse conceito para o desempenho da atividade dos proteção de dados.
membros dos órgãos colegiados, a ética da conduta desses
membros é pautada, também, pelo interesse do plano de bene- O Código de Conduta do Sindapp, entre outras previsões, quan-
fícios como um todo, fazendo desaparecer um possível direito do menciona os deveres dos membros dos órgãos colegiados
individual de informação. da EFPC, estabelece no item 3.2 que eles devem exercer suas
funções considerando os Planos de Benefícios, e assim, os parti-
Outra limitação ao direito de informação dos participantes e as- cipantes e assistidos de forma geral. Verifica-se que a preocupa-
sistidos vem do mercado financeiro, pois se a legislação impede ção é sempre com o coletivo, ficando o individualismo, inclusive
que seja utilizada ou passada informação sobre a estratégia de de grupos específicos, em plano subordinado.
investimentos, para que não ocorra um ganho com a informação,
os membros dos colegiados não poderão assim proceder. Nesse sentido, a lei geral de proteção de dados traz alguns prin-
cípios, os quais podem ser aplicados à ação dos conselheiros e
Desta forma, a relevância das atribuições dos membros dos cole- dirigentes e a responsabilidade na gestão, tais como a finalidade,
giados mencionados nesse estudo impõe o cuidado com o exer- adequação, necessidade, transparência, segurança e prestação
cício das atividades, que visam o interesse do plano de benefícios. de contas, os quais devem ser levados em consideração na pos-
tura ética de suas atribuições.
Muitas vezes, os membros eleitos dos órgãos estatutários aqui

15
E uma vez infringidos tais princípios, além das penalidades le- Concluindo, os membros dos colegiados das entidades fechadas
gais advindas da legislação de proteção de dados, além de pos- de previdência privada não estão obrigados a prestarem qual-
síveis sanções civis e penais, o próprio sistema de previdência quer tipo de informação que têm acesso aos participantes e os
complementar possui um instrumento em vigor para apurar tais assistidos, e esses não possuem o direito a qualquer tipo de in-
responsabilidades, qual seja, o Decreto nº 4.942/2003. formação dos conselheiros e dirigentes, ainda que os tenham
elegidos e, assim, sejam os seus representem nesses colegiados.
Em seus primeiros artigos, o mencionado decreto expressa ser
este o instrumento destinado a apurar a responsabilidade de A obrigação de conselheiros e de dirigentes e o direito de parti-
pessoa física ou jurídica, por ação ou omissão, no exercício de cipantes e assistidos, como mencionado, estão vinculados com
suas atribuições ou competências. acesso às informações relativas à gestão de seus respectivos
planos de benefícios, na forma mencionada nesse suscinto estu-

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Prevê, ainda, as penalidades pela inobservância das disposições do. A divulgação de informações não cobertas pela previsão legal
contidas nas Leis Complementares nº 108 e 109/2001, que vão enseja a aplicação de penalidades, conforme acima descrito.
desde a advertência, suspensão do exercício das atividades, ina-
bilitação e multas.

Interessante notar, ainda, que na descrição das penalidades exis-


te a possibilidade de circunstâncias atenuantes ou agravantes,
que denotam o grau de responsabilidade do gestor, quanto ao
efetivo prejuízo causado à entidade, ao plano de benefício ou ao
participante, além de prever ainda a responsabilização em caso OBRIGAÇÃO DE CONSELHEIROS E
de reincidência e de imprudência, demonstrando que a pena DE DIRIGENTES +
pode ser graduada conforme as ações ou omissões do gestor e
seu conhecimento do sistema no qual está inserido. DIREITO DE PARTICIPANTES E
ASSISTIDOS +
INFORMAÇÃO LEGAL =
Fonte de consultas: RESPONSABILIDADE ÉTICA
LC 108 e 109/01; Resolução CNPC 32/21, Resolução CGPC 13/04, Resolução CMN 4661/2018; Dec. 4942/03
CHEVITARESE, Leandro e GASPAR, Natalia Morais; Ética e Sustentabilidade, FGV, 2019;
Simões, Fernando Nunes; Macedo, Manoel Moacir Costa. O Direito Acumulado dos Participantes dos
Fundos de Pensão, Scala Gráfica e Editora, 2006.

16
Conselheiro

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Independente:
a ética da
independência
JORGE LUIZ FERRI BERZAGUI
Membro da Comissão de Ética do Sindapp

17
Conselheiro Independente: a ética da independência
Nas últimas décadas a Governança Corporativa vem ganhando ticipação de capital;
destaque e relevância. O Conselho de Administração passou a
ser considerado um mecanismo central para a boa prática de (ii) não ser Acionista Controlador, cônjuge ou parente até
governança corporativa, tendo em vista sua função de monitorar segundo grau daquele, ou não ser ou não ter sido, nos últi-
e de mitigar os conflitos entre representantes e representados, mos 3 anos, vinculado a sociedade ou entidade relacionada
através da fiscalização dos atos dos representantes, quer sejam ao Acionista Controlador (pessoas vinculadas a instituições
eles a Diretoria, quer sejam os acionistas controladores. públicas de ensino e/ou pesquisa estão excluídas desta
restrição);
Defende-se que o efetivo desenvolvimento deste monitora- (iii) não ter sido, nos últimos 3 anos, empregado ou diretor

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mento depende de uma conduta por parte do Conselheiro que da Companhia, do Acionista Controlador ou de sociedade
possa ser profissional, técnica, desvinculada de interesses e de controlada pela Companhia;
influências de terceiros, portanto, independente. Diante de sua
importância, a figura do Conselheiro Independente passou a (iv) não ser fornecedor ou comprador, direto ou indireto, de
ocupar o centro das discussões sobre boas práticas de gover- serviços e/ou produtos da Companhia, em magnitude que
nança corporativa. implique perda de independência;

No Brasil, a definição de Conselheiro Independente foi introduzi- (v) não ser funcionário ou administrador de sociedade ou
da pela BM&FBOVESPA nos regulamentos do Novo Mercado e do entidade que esteja oferecendo ou demandando serviços
Nível 2 no ano de 2006, e encontra-se presente tanto no “Regula- e/ou produtos à Companhia;
mento de Listagem do Novo Mercado”, quanto no “Regulamento (vi) não ser cônjuge ou parente até segundo grau de algum
de Práticas Diferenciadas de Governança Corporativa Nível 2”, no administrador da Companhia;
item 2.1 de termos definidos de ambos os regulamentos, onde
indica todas as características excludentes que um conselheiro (vii) não receber outra remuneração da Companhia além da
não pode ter, para que seja considerado independente. Tal defi- de conselheiro (proventos em dinheiro oriundos de partici-
nição, portanto, é a que segue: pação no capital estão excluídos desta restrição).”

“Conselheiro Independente” caracteriza-se por: No Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, 5ª
(i) não ter qualquer vínculo com a Companhia, exceto par- edição, do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC,
consta três classes de conselheiros:

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(i) internos: conselheiros que ocupam posição de diretores (iii) Não estar vinculado por acordo de acionistas;
ou que são empregados da organização;
(iv) Não ter sido empregado ou diretor da organização (ou
(ii) externos: conselheiros sem vínculo atual comercial, de suas subsidiárias) há pelo menos, 3 (três) anos;
empregatício ou de direção com a organização, mas que
não são independentes, tais como ex-diretores e ex-em- (v) Não ser ou ter sido, há menos de 3 (três) anos, conselhei-
pregados, advogados e consultores que prestam serviços ro de organização controlada;
à empresa, sócios ou empregados do grupo controlador, (vi) Não estar fornecendo, comprando ou oferecendo (ne-
de sua controlada direta, controladas ou do mesmo grupo gociando), direta ou indiretamente, serviços e/ou produtos
econômico e seus parentes próximos e gestores de fundos à organização em escala relevante para o conselheiro ou
com participação relevante; e, a organização;

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(iii) independentes: conselheiros externos que não pos- (vii) Não ser cônjuge ou parente até segundo grau de algum
suem relações familiares, de negócio, ou de qualquer ou- diretor ou gerente da organização;
tro tipo com sócios com participação relevante, grupos
controladores, executivos, prestadores de serviços ou (viii) Não receber outra remuneração da organização,
entidades sem fins lucrativos que influenciem ou possam além dos honorários de conselheiro (dividendos oriundos
influenciar, de forma significativa, seus julgamentos, opi- de participação não relevante no capital estão excluídos
niões, decisões ou comprometer suas ações no melhor in- desta restrição);
teresse da organização.
(ix) Não ter sido sócio, nos últimos 3 (três) anos, de firma
Importa referir que o IBGC também não define, objetivamente, de auditoria que audite ou tenha auditado a organização
o que é o Conselheiro Independente, mas relaciona as suas prin- neste mesmo período;
cipais características, as quais listamos a seguir: (x) Não ser membro de entidade sem fins lucrativos que
(i) Não ter qualquer vínculo com a organização, exceto par- receba recursos financeiros significativos da organização
ticipação não relevante no capital; ou de suas partes relacionadas;

(ii) Não ser sócio controlador, membro do grupo de contro- (xi) Manter-se independente em relação ao CEO; e,
le ou de outro grupo com participação relevante, cônjuge (xii) Não depender financeiramente da remuneração da
ou parente até segundo grau destes, ou ligado a organiza- organização.
ções relacionadas ao sócio controlador;

19
Ainda segundo o IBGC, o papel dos conselheiros independentes é (i) Em que consiste essa independên-
especialmente importante em companhias com capital disperso, cia?
sem controle definido, em que o papel predominante da diretoria
deve ser contrabalançado. (ii) Independência do que ou de
quem?
A princípio, tendo o conselheiro independente essas caracterís- (iii) Como se mensura os limites
ticas, então uma das suas principais funções é proporcionar um e a efetividade dessa indepen-
monitoramento com olhar externo à empresa. Um acompanha- dência?
mento de alguém que seja o mais externo possível à organização.
Isso pode ajudar o conselho a cumprir sua função de acompa- (iv) Quais os limites éticos dessa
nhamento e avaliação das atividades realizadas pelos gestores independência?

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e traçar as estratégias de longo prazo da empresa.
Por sua vez, direcionando o foco para
No âmbito da previdência complementar fechada não existe as EFPC, igualmente surgem diver-
Conselho de Administração, mas o Conselho Deliberativo e o de- sos questionamentos, a saber:
bate sobre o presente tema ainda é tímido, contrariamente com
o que já ocorre no âmbito das sociedades anônimas, abertas, (i) Como mensurar a eficiên-
onde o tema é uma realidade posta. cia e a eficácia do Conselheiro
Independente, na Governança
Conforme definição legal, nas EFPC o principal órgão decisório das EFPC?
é o Conselho Deliberativo, com atribuições similares as do Con-
selho de Administração das sociedades anônimas. (ii) No âmbito das EFPC, o Conse-
lheiro Independente é independente de
Destarte, considero relevante e oportuno o despertar das EFPC quem? Dos conselheiros, que representam participantes,
para o debate sobre a essência da independência desses conse- assistidos e pensionistas ou dos conselheiros que repre-
lheiros do ponto de visto técnico e, principalmente, com o enfo- sentam os patrocinadores, ou ainda, de ambos os grupos
que ético dessa independência. de conselheiros?
(iii) Faz sentido contemplar na governança de uma EFPC a
Divagando sobre a representatividade dos Conselheiros Inde- figura do Conselheiro Independente?
pendentes, em geral, ainda sem centrar o foco para as EFPC, di-
versas questões ainda emergem, a saber:

20
Através do presente artigo não pretendemos responder e/ou divulgação e transparência, conduzido sob a orientação e su-
esgotar o assunto em tela, mas deflagrar uma reflexão e o des- pervisão do conselho deliberativo.”
pertar para o debate sobre ele.
Com efeito, estamos avançando no aperfeiçoamento da Gover-
Temos conhecimento que algumas propostas para introduzir a fi- nança das EFPC, mas o certo é que a inserção de Conselheiro
gura do Conselheiro Independente, na Governança das EFPC, já cir- Independente ainda não encontra previsão na legislação de re-
culam por aí, inclusive algumas tramitando na Câmara e no Senado, gência das EFPC, bem como não encontra guarida na lei interna
a exemplo do Projeto de Lei Complementar nº 268-A, de 2016. destas entidades, ou seja, em seus Estatutos Sociais.

As justificativas dos que defendem a ideia de inserção do Con- Outrossim, no que respeita a iniciativa de proposição dessas me-
selheiro Independente e até mesmo da terceirização da gestão, didas, quer nos parecer que quem está dentro do sistema, con-

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mediante a seleção de Diretores no mercado, com a consequente tribuindo com sua força de trabalho, ou, até mesmo quem é par-
alteração da Governança nas EFPC, em tese, pretendem elidir ticipante, assistido ou patrocinador, é que podem mensurar as
indicações políticas pelas patrocinadoras públicas e eventuais vantagens, os efetivos impactos e eventuais ganhos para gestão
aparelhamentos na gestão dessas entidades, bem como, supos- das EFPC, desse eventual incremento na Governança das EFPC.
tamente, visam ampliar a qualificação da gestão e otimizar a ren-
tabilidade dos recursos garantidores dos planos previdenciários Na nossa concepção, a composição do conselho deliberativo, tal
por elas administrados. qual está hoje legalmente posta, foi sabiamente pensada e cons-
truída pelo legislador, com o estabelecimento da repartição das
Respeitando posições contrárias e considerando meritórias as responsabilidades entre participantes e assistidos, de um lado, e
propostas que visam aperfeiçoar a gestão das EFPC, acreditamos do outro lado pelos patrocinadores, oportunizando a ambos os
que as propostas de melhorias e profissionalização para a gestão polos a paridade na gestão, bem como na fiscalização das EFPC.
das EFPC devem ser feitas por quem conhece, com profundidade,
as nuances e vicissitudes da operacionalidade de uma EFPC. A questão do aparelhamento ou indicação política para a admi-
nistração das EFPC podem ser contidas mediante a introdução
Nesse passo, o Conselho Nacional da Previdência Complementar, de freios inibidores nos próprios estatutos sociais dessas en-
CNPC, através da Resolução nº 35, de 20/12/2021, introduziu uma tidades, bem como contar com um regramento específico no
nova exigência para a escolha dos membros da diretoria-execu- código de autorregulação para a indústria da previdência com-
tiva, conforme o previsto no Parágrafo único, do Art. 5º, a saber: plementar fechada, em especial para as entidades patrocinadas
“A escolha dos membros da diretoria-executiva será́ realizada por entes públicos.
mediante processo seletivo, exigida qualificação técnica, com

21
A Abrapp já editou o Có- Mas e a ética da independência, como se verifica?
digo de Autorregulação
de Governança Corpora- Primeiramente importa dizer que na atualidade a ética tem como
tiva para as EFPC, desde uma de suas finalidades nortear as novas relações entre os ho-
2019, podendo ser ele o mens e as recentes instituições a fim de combater ou evitar abu-
instrumento para con- sos e desmandos.
templar tais controles e
quiçá inibir tais interven- Por sua vez, o código de conduta tem por finalidade principal
ções indesejadas e conflitantes com o compromisso promover princípios éticos e refletir a identidade e cultura orga-
fiduciário dos gestores de uma EFPC. nizacionais, fundamentado em responsabilidade, respeito, ética
e considerações de ordem social e ambiental.

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De igual forma, a qualificação da gestão, tanto do Con-
selho Deliberativo, como da Diretoria das EFPC, também A criação e o cumprimento de um código de conduta elevam
poderiam ser melhor reguladas, com o apoio da autorregu- o nível de confiança interno e externo na organização e, como
lação, com a subida da régua das exigências de qualificação resultado, o valor de dois de seus ativos mais importantes: sua
técnica para o exercício de tais funções. reputação e imagem.

Acreditamos que a exigência de qualificação e certificação, dos A administração de uma EFPC é responsável por dar o exemplo
conselheiros deliberativos, em administração e em investimen- no cumprimento do código de conduta, onde o conselho deli-
tos, já seria um grande avanço para as EFPC, sem a necessidade berativo é o guardião dos princípios e valores da organização
de se cogitar na repartição da gestão das EFPC com Conselhei- e dentre suas responsabilidades está disseminar e monitorar,
ros Independentes, preservando a gestão paritária entre patro- com apoio da diretoria, a incorporação de padrões de conduta
cinadores de um lado, e de outro entre participantes e assistidos. em todos os níveis da organização.

De outro lado, entendemos que para chegarmos a uma gover- O tema está regulado no âmbito das EFPC pela Resolução CNPC
nança ideal, que contemple todos os anseios, interesses e neces- nº 13, de 2004, no caput do Art. 3º e no § único do mesmo artigo,
sidades das partes envolvidas em uma EFPC, ainda há um longo que assim dispõem:
caminho a ser trilhado, mas o importante é darmos o primeiro
passo, mediante uma clara e profunda reflexão, separando o joio “Art. 3º - Os conselheiros, diretores e empregados das EFPC
do trigo, buscando alternativas e propostas de melhorias dentro devem manter e promover conduta permanentemente
da própria indústria da previdência complementar fechada. pautada por elevados padrões éticos e de integridade,

22
orientando-se pela defesa dos direitos dos participantes Corporativa da Abrapp: “A atuação de todos os profissionais das
e assistidos dos planos de benefícios que operam e im- EFPC deve ser pautada por evidente conduta ética, com base em
pedindo a utilização da entidade fechada de previdência valores essenciais que distinguem o indivíduo probo, responsá-
complementar em prol de interesses conflitantes com o vel e comprometido com seu dever fiduciário. Para a definição,
alcance de seus objetivos. disseminação e monitoramento dos valores essenciais da EFPC,
é necessário o comprometimento e o apoio dos conselheiros e
Parágrafo único. É recomendável a instituição de código dirigentes buscando fomentar uma cultura ética e uma conduta
de ética e conduta, e sua ampla divulgação, inclusive aos de respeito aos valores e às obrigações legais e regulamentares,
participantes e assistidos e às partes relacionadas, asse- a fim de se produzir força de engajamento e profundo enraiza-
gurando-se o seu cumprimento. mento na cultura organizacional.”

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Como visto, princípios éticos devem estar incorporados ao com- Concluindo, a questão Ética da Independência do Conselheiro, no
portamento profissional do Conselheiro Independente, da mes- âmbito de uma EFPC, tem a ver com a sua conduta e integridade
ma forma que devem estar incorporados ao comportamento dos perante a entidade, com os demais conselheiros, com a direto-
demais conselheiros, indicados pelo patrocinadores e eleitos ria, com os empregados e com os mais diversos prestadores de
pelos participantes. Ademais, como já foi dito alhures, é dever serviços, bem como com a sua postura no enfrentamento das
das EFPC ter políticas abordando exigências éticas e enfatizando teses e das pautas, com o seu empenho na solução de conflitos,
a necessidade de seu cumprimento por todos os conselheiros, onde se espera que independentemente de quem o tenha ele-
diretores, empregados, terceirizados e demais players que se gido ou indicado para a função, a partir da sua efetiva posse, sua
relacionem com ela. conduta, do ponto de vista ético, deve ter como norte, prioritá-
ria e essencialmente a defesa da universalidade dos interesses
E é exatamente neste sentido o que consta do Código de Au- dos participantes, assistidos e patrocinadores e individualmente
torregulação em Governança Corporativa da Abrapp, onde está deverá buscar contribuir com os demais Conselheiros para que,
regulado que todos os profissionais que atuem na EFPC, incluin- coletivamente, se alcance uma gestão virtuosa, com comprome-
do os parceiros, fornecedores e prestadores de serviços, devem timento com os objetivos sociais da entidade, e empenhar-se
manter e promover conduta permanentemente pautada por ele- para cumprir o dever fiduciário e para fazer prevalecer o lema:
vados padrões éticos e de integridade, e que se esforcem por Unus pro omnibus, omnes pro uno, que em Português significa
incorporar tais aspectos éticos às tomadas de decisões. “Um por todos, todos por um”, conhecido por ser o lema dos Três
Mosqueteiros, no romance de Alexandre Dumas.
Pavimentando a conclusão do presente artigo, transcrevo a se-
guinte passagem do Código de Autorregulação em Governança

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Ética na gestão
previdenciária sob
o enfoque ASG
MARCELO COELHO DE SOUZA
Membro da Comissão de Ética do Sindapp

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Ética na gestão previdenciária sob o enfoque ASG
Antes de tratarmos especifica- cisão que preservem a integridade das empresas e dos recursos
mente da ética na gestão previ- financeiros investidos pelas pessoas.
denciária sob o enfoque ASG, é
A urgência de tornar o fundamental compreender a É inegável que a pandemia da Covid-19 abateu as economias de
investimento responsável similaridade que guardam en- todo o mundo e, além de escancarar as fragilidades sociais igno-
uma realidade nas decisões tre si a previdência privada e radas pelos indicadores financeiros, reforçou as novas exigências
dos gestores de planos de as questões ambientais, sociais socioeconômicas e a busca de novas métricas, com as necessárias
previdência e de governança, que tanto têm inclusões do bem-estar e do meio ambiente em seus índices.
sido debatidas nos últimos anos.

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É de se acreditar que, no médio prazo, ainda se considerará a
A previdência privada é, na sua essên- utilização do Produto Interno Bruto – a soma de todas as mer-
cia, uma solução focada no resultado de longo cadorias e serviços produzidos por uma nação – como referên-
prazo e voltada para pessoas que planejam e buscam cia econômica, mas já se tem claro também que ele não reflete
um futuro financeiro relativamente tranquilo e que, para adequadamente tudo aquilo que afeta diretamente a economia.
tanto, topam abdicar de consumir algo hoje para investir em Fundamental que se dê destaque nessa conta aos impactos das
uma maior qualidade de vida mais à frente. São características desigualdades sociais e da degradação ambiental, que foram
daquele que é previdente a adoção de medidas antecipadas para ainda mais realçados pela pandemia.
evitar transtornos futuros, a precaução e a capacidade de ver e
se preparar para o futuro. Ora, se “mais da metade do PIB global depende da biodiversidade
e do ecossistema1” não considerar tais questões nas matrizes de
E é esse o mesmo olhar que orienta as questões que envolvem investimentos e na escolha dos melhores negócios pode levar,
a sustentabilidade dos negócios e do próprio planeta. Afinal, a cada vez mais, os recursos investidos para projetos sem viabi-
temática ASG trata exatamente da necessária diligência que lidade no longo prazo e que poderão, em pouco tempo, serem
se precisa ter, especialmente no ambiente de negócios, para destruídos pelas novas demandas de consumo.
preservação dos recursos naturais e das condições climáticas
necessárias no longo prazo, com relações baseadas na justiça Certo é que Investidores por todo o mundo olham hoje muito
social, respeito à diversidade e com processos de tomada de de- além dos indicadores econômicos tradicionais, com análises con-

1 Segundo Úrsula Von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, Jornal O Globo, edição de 25.4.21, página 43.

25
sistentes de riscos ambientais e sociais. Nesse sentido, chama tividade. Caberá às instituições reguladas pelo Bacen observar
atenção a recente Cúpula do Clima, liderada pelo Presidente dos os ditames de tais políticas na condução de suas atividades e
EUA, Joe Biden, que deixou claro que seu trilionário plano para negócios, bem como na sua relação com as partes interessadas,
recuperar aquela que é hoje a maior economia do mundo está ou seja, seus clientes também serão diretamente impactados.
totalmente direcionado para a sustentabilidade.
Assim, ao incorporar a Sustentabilidade e a necessidade de sua
Ainda que no Brasil precisemos avançar um pouco mais nessa observância na atuação de seus regulados, o Banco Central do
agenda, já se percebe movimentos irreversíveis neste sentido. Brasil reconhece a importância, para a economia brasileira e para
O Banco Central do Brasil (“BACEN”), em linha com as melhores a manutenção da estabilidade do Sistema Financeiro Nacional,
práticas, colocou em recente consulta pública2 normas que, se do adequado e necessário enfrentamento dos desafios concer-
aprovadas, tornarão obrigatórias aos seus regulados a identifi- nentes aos aspectos sociais e ambientais, assim como os decor-

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cação, mensuração, avaliação, monitoramento, reporte, controle rentes das mudanças em padrões climáticos
e a mitigação dos riscos sociais, ambientais e climáticos. Com tal
medida, a norma proposta eleva-os ao mesmo nível dos riscos de Destacado o grande avanço que está por vir na indústria finan-
crédito, de mercado e de liquidez dentre outros, o que por si só já ceira que, inclusive, trará maiores dificuldades e grandes riscos
demonstra o quanto podem impactar diretamente os negócios de acesso à capital para aqueles que não se adequarem, é ne-
e a economia como um todo, segundo a própria visão do Bacen. cessário olhar como está o segmento das entidades fechadas
de previdência complementar - EFPC neste sentido.
Referidas propostas contemplam, ainda, a necessidade de as
instituições reguladas pelo Bacen instituírem uma Política de Ao longo das últimas décadas, os fundos de pensão internacio-
Responsabilidade Ambiental, Social e Climática, com um diretor nais têm se mostrado agentes ativos no aprimoramento de seus
responsável e com alçadas e obrigações impostas diretamente modelos de governança de investimentos. Esse movimento foi
ao Conselho de Administração, visando garantir a sua total efe- se intensificando e sendo ampliado com o passar dos anos, uma

2 Edital de Consulta Pública número 85: Divulga o conjunto de propostas normativas para o aprimoramento das regras de gerenciamento do risco social, do
risco ambiental e do risco climático aplicáveis às instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, bem
como os requisitos a serem observados por essas instituições no estabelecimento da Política de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática (PRSAC)
e na implementação de ações com vistas à sua efetividade;
Edital de Consulta Pública número 86: Divulga proposta normativa com vistas ao estabelecimento de requisitos para a divulgação de informações sobre
aspectos sociais, ambientais e climáticos, aplicáveis às instituições enquadradas no Segmento 1 (S1), no Segmento 2 (S2), no segmento 3 (S3) e no Segmento
4 (S4), nos termos da resolução nr. 4553, de 30 de janeiro de 2017

26
vez que o desenvolvimento do tema trouxe a conclusão de que é parte de alguns gestores de que
necessário incorporar também os impactos sociais e ambientais a adoção de critérios ASG na
dos negócios, questões fundamentais para a sustentabilidade gestão de planos previdenciários
dos ativos investidos e do próprio planeta em que seus partici- concorre com a busca de melhores
pantes e familiares irão viver no futuro. Por isso, grandes fundos retornos financeiros, quando na ver-
de pensão ao redor do mundo têm direcionado parte de seus dade o que se observa é exatamente
recursos para perfis ASG. Porém, apesar de a adoção de critérios o oposto, ou seja, que no longo prazo há
ASG na gestão de investimentos estar em franca expansão em uma correlação positiva entre a inclusão
mercados como EUA e Europa, por exemplo, no Brasil o debate de fatores ASG e o retorno financeiro dos
segue em um estágio anterior de desenvolvimento, apesar de investimentos.
importantes avanços já poderem ser observados.

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A inclusão de fatores ASG na análise dos
Em 2018, foi publicada a Resolução 4.661, do Conselho Monetário investimentos ajuda a antecipar as opor-
Nacional, que dispõe sobre as diretrizes de investimentos das tunidades, riscos e tendências de inves-
EFPC no Brasil. A norma trouxe a inclusão de um parágrafo que timentos em novos mercados, além de
orienta os fundos a considerarem em suas análises de riscos, possibilitar uma visão mais abrangente da
“sempre que possível” (leia-se, sempre que aplicável), os aspec- carteira de investimentos, culminando na
tos relacionados à sustentabilidade econômica, ambiental, social geração de melhores avaliações de risco do
e de governança de seus investimentos. E não há dúvidas que investimento previdenciário. Uma vez que os
sempre é possível e aplicável. gestores possuem mais informações disponíveis, é
possível tomar decisões mais bem fundamentadas e assertivas.
Posteriormente, foi publicada a Instrução Previc 35, indicando
que as políticas de investimentos das EFPC devem conter di- E companhias com boas práticas sustentáveis normalmente exi-
retrizes para observância de princípios de responsabilidade girão o mesmo de suas partes relacionadas. Esse direcionamento
ambiental, social e de governança, preferencialmente de forma é positivo não apenas para o mercado, mas também para a so-
diferenciada por setores da atividade econômica. ciedade como um todo, que se beneficia dos impactos positivos
de empresas socialmente responsáveis, em efeito cascata.
A evolução regulatória com o advento dessas duas normas é
um passo importante para efetivar as medidas de investimento Por isso, o investimento responsável se tornou pauta obrigató-
responsável na previdência complementar fechada brasileira. ria e sua execução nos próximos anos irá além de debates. Os
Contudo, ainda convivemos com uma equivocada percepção por efeitos da Covid-19 aceleraram o interesse pelo tema. De acordo

27
com dados coletados pelo Google Trends, a busca por termos com a responsabilidade de garantir o cumprimento de um con-
relacionados às questões ASG como “ESG” (forma como o termo trato previdenciário de longuíssimo prazo?
ASG é utilizado em inglês) e “o que é ESG” aumentaram respecti-
vamente 100% e 500% nos primeiros meses de 2021, se compa- Em primeiro lugar é importante que esses gestores sejam ca-
rados ao mesmo período do ano passado. pazes de identificar claramente as questões conjunturais e as
estruturais que afetam seus investimentos, de maneira ampla e
É certo que os normativos que regulam o sistema de previdência completa, pois só assim será possível criar as estratégias mais
complementar ainda não estão no mesmo nível de obrigatorie- eficazes para atravessar os momentos de dificuldade, que cer-
dade de observância dos riscos ASG como aqueles propostos tamente virão no decorrer do tempo.
para as instituições financeiras. Entretanto, ainda que carente
Em segundo lugar, e não menos importante, está o desafio da
de um arcabouço regulatório mais alinhado a essas questões, a
educação previdenciária de seus públicos, para que seus clien-

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observância de tais diretrizes não se situa no espaço da legali-
tes tenham o entendimento necessário à correta interpretação
dade nem mesmo da filantropia, sendo um dever daqueles que
dessa estratégia e a tranquilidade necessária para superar os
se propõem à observância dos mais elevados padrões éticos.
momentos de dificuldade, a partir do necessário olhar de longo
Mas se a experiência e os dados mostram essa correlação po- prazo dos planos previdenciários.
sitiva entre a adoção de critérios ASG e a obtenção de retornos
Em terceiro lugar torna-se relevante o aprofundamento das
positivos no longo prazo, onde reside o risco de desvio do com-
análises de forma a se demonstrar, de forma transparente, que
portamento ético na gestão de planos previdenciários?
os mitos de que os investimentos dessa natureza não trazem
Bom, parte desse risco está justamente relacionada com o po- uma performance inferior, não são mais caros e nem apresentam
tencial conflito entre os interesses de longo prazo dos partici- maiores restrições de escolhas no portfólio. São ricos os estudos
pantes de planos de previdência e a pressão por resultados de existentes hoje que apontam tais fatores como mitos que não
curto prazo a que muitos gestores são submetidos. E isso de- resistem a uma pesquisa mais acurada do mercado.
corre não só da nossa própria cultura imediatista, mas também
Por fim, também é necessário que os gestores de planos previ-
da realidade de que ao final de cada exercício é preciso apurar e
denciários compreendam adequadamente o mandato que lhes é
divulgar o resultado dos planos e adotar as medidas necessárias
outorgado pelos seus participantes, que abdicam de utilizar seus
à gestão diligente dos recursos de terceiros, para o cumprimento
recursos financeiros no presente e os investem na previdência
do dever fiduciário.
com o único objetivo de poder usufruir desses recursos no fu-
Como conciliar, então, a pressão por resultados de curto prazo turo e, para tanto, precisam que existam adequadas condições

28
ambientais e sociais para poder desfrutá-los. mesmo da Resolução CGPC 13/2004, deve o Gestor considerar
a abordagem de investimento que reconhece a relevância dos
A partir daí, o exercício da transparência e do próprio comporta- fatores ambientais, sociais e de governança juntamente com a
mento ético torna-se o principal vetor para que sejam tomadas solidez e a estabilidade no longo prazo do mercado como um
as decisões mais acertadas na defesa dos interesses dos par- todo e incorporar esses aspectos na análise do portfólio e na
ticipantes dos planos e das gerações futuras, em linha com as participação ativa dos investidores nas empresas, seja por meio
melhores práticas de mercado e com medidas eticamente res- de atividades de engajamento ou por meio do poder de voto nes-
ponsáveis e adequadas à sociedade. sas empresas.

Dessa forma, o gestor ético deve considerar em suas Esses são deveres inegociáveis para tomadores de decisões que
decisões a busca por rentabilidade atrelada a ati- podem impactar reservas de milhares de indivíduos. E essa é a

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vos sustentáveis, cujos aspectos gerem valor melhor interpretação do que prevê tanto a Instrução CVM 558,
para toda sociedade e representem o cum- como as Resoluções CMN 4661/18 e CGPC 13/2014 que não só
primento de seu mandato. E, no caso dos determinam que o gestor exerça suas atividades com boa-fé,
gestores das EFPC, ao assim agirem es- transparência, diligência e lealdade em relação aos seus clien-
tarão efetivamente em conformidade tes, como a necessidade de elevados padrões éticos e a defesa
com o que determina a Resolução dos direitos dos participantes e a necessidade de se garantir o
CMN 4661 que, ao traçar as diretri- cumprimento do dever fiduciário em relação aos participantes.
zes fundamentais para a aplicação
dos recursos, deixa clara a neces- Por tais razões, conclui-se que as questões ASG deixaram defi-
sidade de os gestores zelarem nitivamente de ser uma escolha para se tornarem um caminho
pelos elevados padrões éticos necessário para a sustentabilidade dos negócios e o devido cum-
e adotarem práticas que garan- primento do contrato previdenciário. A adoção desses critérios
tam o cumprimento do dever não é mais uma opção para as empresas e gestores de recursos,
fiduciário em relação aos parti- é uma questão de sobrevivência no mundo corporativo e, tam-
cipantes. bém, na gestão previdenciária.

Assim, seja em observância aos di-


tames da Resolução CMN 4661/18 ou

29
Comissão de Ética do Sindapp

Diretor-Presidente
José de Souza Mendonça

Diretor Responsável
Erasmo Cirqueira Lino

Coordenadora
Aparecida Ribeiro Garcia Pagliarini

Membros
Fernando Nunes Simões
Jorge Luiz Ferri Berzagui
Marcelo Coelho de Souza
Poliana Lemos da Silva

30
www.sindapp.org.br

31

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