Medida e Integral de Lebesgue
Medida e Integral de Lebesgue
Integral de Lebesgue
Primeira Edição V0.8
5 de Janeiro de 2010
Marco A. P. Cabral,
PhD Indiana University, EUA
Depto. de Matemática Aplicada
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro – RJ – Brasil
ii
Introdução
Nesta apostila fazemos uma introdução curta à Teoria da Medida. Os pré-requisitos são:
(a) Teoria (elementar) dos conjuntos;
(b) Conceitos de Análise Real: enumerabilidade, limite, supremum e noções de topologia
da reta.
Fomos cuidadosos nas motivações de cada capı́tulo, fazendo considerações de caráter
filosófico/histórico da matéria. Para atender ao público do livro, alunos com pouca bagagem
matemática, colocamos exercı́cios mais concretos do que os usualmente encontrados em livros
de medida e muitos exemplos para ilustrar as definições.
Quanto ao conteúdo selecionado, apresentamos a Teoria Geral de Medida, sem nos restrin-
gir à Medida de Lebesgue, pela sua importância em Probabilidade. Apresentamos a medida
de Lebesgue utilizando o método de Carathéodory pelo seu uso na construção das medidas
de Lebesgue-Stieltjes e de Hausdorff. Damos destaque a comparação entre as integrais de
Riemann e Lebesgue.
Gostarı́amos também que o aluno adquirisse um vocabulário básico da Teoria da Medida:
Teorema da Convergência Monótona e Dominada, Fubini, derivada de Radon-Nikodým, espaço
produto. Por isso incluı́mos estes resultados explicando sua importância mas sem incluir sua
demonstração (que tomaria muito tempo).
Com o estudo desta apostila o aluno estará pronto, por exemplo, para aplicações em Teoria
de Probabilidades, Finanças e em Equações Diferenciais Parciais.
iii
iv
Sumário
1 Espaço com Medida 1
1.1 σ-Álgebras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Espaços com Medida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 Medida Exterior e Método de Carathéodory . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.4 Medida de Lebesgue em R . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.5.1 σ-Álgebras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.5.2 Espaços com Medida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.5.3 Medida Exterior e Método de Carathéodory . . . . . . . . . . . . . . 15
1.5.4 Medida de Lebesgue em R . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2 Integração 19
2.1 Funções Mensuráveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2 Definição da Integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.3 Teoremas de Convergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.4 Integral de Riemann × Lebesgue . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.5 Teorema de Radon-Nikodým e Fubini . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.6 Outras Construções da Integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.7 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.7.1 Funções Mensuráveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.7.2 Definição da Integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.7.3 Teoremas de Convergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.7.4 Integral de Riemann × Lebesgue . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.7.5 Teorema de Radon-Nikodým e Fubini . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3 Probabilidade e Medida 39
Bibliografia 41
v
vi SUMÁRIO
Capı́tulo 1
Espaço com Medida
Uma medida num conjunto X é uma função que atribui um número real não-negativo para
subconjuntos de X. Pode ser interpretada como área, tamanho, massa, volume, capacidade
térmica ou qualquer propriedade aditiva, i.e., uma propriedade tal que a medida da união de
dois conjuntos disjuntos é igual a soma de suas medidas. Um exemplo importante é a medida
de Lebesgue no espaço euclidiano, que atribui comprimento, área e volume, respectivamente,
a subconjuntos de Rn com n = 1, 2, 3.
Podemos enxergar a origem do conceito de medida no conceito de contagem. De fato, a
ideia de contagem pode ser generalizada de dois modos:
(a) como cardinalidade, ou (b) como medida.
Existem conjuntos que são pequenos do ponto de vista da medida mas grandes do ponto
de vista da cardinalidade. Um exemplo é Q, que possui medida (de Lebesgue) 0 mas possui
infinitos pontos (cardinalidade infinita).
Gostarı́amos de atribuir uma medida para cada subconjunto de X mas o axioma da es-
colha implica, de forma não-trivial, que existem subconjuntos de R (conjuntos de Vitali1 , ver
Exercı́cio 40, p.17) aos quais não podemos atribuir medida quando ela generaliza o compri-
mento de intervalos de R. De fato é impossı́vel atribuir comprimento a todos subconjuntos
de R preservando a aditividade e invariância por translação.
Por isso temos que considerar uma coleção especial (usualmente menor) de subconjuntos
de X onde a medida está definida, a chamada σ-álgebra de subconjuntos de X.
Elementos da σ-álgebra são chamados de conjuntos mensuráveis. Uma função é dita
mensurável se a imagem inversa de todo mensurável é um mensurável.
Decidimos apresentar a Teoria Geral da Medida, ao invés de medida de Lebesgue somente,
pois a teoria geral é fundamental para a teoria de probabilidade e é mais fácil que a construção
da medida de Lebesgue. De fato, para construir a medida de Lebesgue é necessário antes
introduzir medida exterior e o método de Carathéodory.
Em resumo, nas duas primeiras seções definimos σ-álgebra e espaço de medida e nas duas
últimas seções apresentamos medida exterior (uma forma de construir medidas não-triviais) e
a medida de Lebesgue.
1
Giuseppe Vitali: 1875 Ravenna, Italy – 1932 Bologna, Italy.
1
2 CAPÍTULO 1. ESPAÇO COM MEDIDA
1.1 σ-Álgebras
O conceito usual de comprimento, área e volume se aplica somente a conjuntos com uma
certa regularidade. Por isso para definir o conceito de medida temos que começar definindo
uma classe de subconjuntos que podem ser medidos, a chamada σ-álgebra.
[ \
Por outro lado, Et e Et podem não pertencer a Σ (porque?).
t∈[0,1] t∈[0,1]
O próximo lema, cuja prova é um exercı́cio fácil deixado para o leitor, define um tipo
não-trivial de σ-álgebra gerado por uma famı́lia de σ-álgebras. A formulação é abstrata mas
é uma técnica muito utilizada em álgebra e análise para se obter a existência de um objeto
mı́nimo com certa propriedade: tome a interseção de todos objetos com esta propriedade.
Do lema decorrerá a definição de σ-álgebra gerada por uma famı́lia de conjuntos, cujo
exemplo mais importante é da σ-álgebra de Borel, gerada pelos subconjuntos abertos de um
espaço topológico.
LEMA 1.3 Seja S = (Σi )i∈I uma famı́lia (não-vazia) de σ-álgebras de subconjuntos de X.
Então \
Σi = {E ∈ Σi ; para todo i ∈ I},
i∈I
DEFINIÇÃO 1.7 Seja X um espaço topológico. A σ-álgebra gerada pela famı́lia de conjun-
tos abertos de X é conhecida como σ-álgebra de Borel. Seus elementos são os conjuntos
de Borel3 ou borelianos de X.
DEFINIÇÃO 1.8 Dizemos que a sequência T hEn in∈N é disjunta se nenhum ponto pertence
a mais do que um En , isto é, se Em En = ∅ para todos m, n ∈ N distintos.
De forma análoga, se hEi ii∈I é uma T famı́lia de conjuntos indexada por um conjunto
arbitrário I, então ele é disjunto se Ei Ej = ∅ para todos i, j ∈ I distintos.
Para definir medida precisamos dizer o que significa uma função assumir valores em [0, ∞].
Este conjunto é a união do elemento ‘∞’ com o intervalo [0, ∞) ⊂ R: um novo significado
para o ∞ em Matemática. Em medida ele significa comprimento, área ou volume infinito.
Precisamos definir as operações aritméticas básicas envolvendo ∞:
(a) adição: ∞ + ∞ = ∞ + a = a + ∞ = ∞ para todo a ∈ R;
(b) subtração: ∞ − a = ∞ para todo a ∈ R; mas ∞ − ∞ não está definido;
(c) multiplicação: ∞ · ∞ = a · ∞ = ∞ · a = ∞ para todo a > 0 e convencionamos (em
medida, confronte com cálculo) 0 · ∞ = ∞ · 0 = 0.
2
Émile Borel: 1871 Saint Affrique, France – 1956 Paris, France.
4
Henri Lebesgue: 1875 Beauvais, France–1941 Paris, France.
5
Johann Radon: 1887 Tetschen, Bohemia (now Decin, Czech Republic) – 1956 Vienna, Austria.
6
Maurice Fréchet: 1878 Maligny, France – 1973 Paris, France.
1.2. ESPAÇOS COM MEDIDA 5
Finalmente podemos estender a relação de ordem usual para incluir ∞: a < ∞ para todo
a ∈ R. Com isto podemos definir o sup e o inf de subconjuntos de R ∪ { ∞ }. A convenção
usual é que inf ∅ = ∞.
∞
X
Outro ponto é: como interpretar xn com xn ∈ [0, ∞]?
n=0
(a) se todos os xn são finitos, trata-se de uma série de termos não-negativos: ou converge
para um número real, ou é ilimitada, quando diremos que converge para ∞ (porque?).
X∞
(b) se um dos xn ’s é igual a ∞, escrevemos que xn = ∞.
n=0
Observação 1.3 Uma medida definida numa σ-álgebra de Borel (ver Definição 1.6, p.4)
é conhecida como medida de Borel.
Em linguagem informal, uma função é chamada de medida se atribui um número real
não-negativo ou infinito para cada conjunto, é aditiva (medida da soma é igual a soma
das medidas de conjuntos disjuntos) e vale zero no conjunto vazio. Como já dissemos, é
necessário se restringir a uma σ-álgebra pois é impossı́vel, de forma geral, se atribuir uma
medida a TODOS os subconjuntos, a não ser para algumas medidas triviais que apresentamos
na sequência (por exemplo a medida delta de Dirac do Exemplo 1.11, p.6 e a medida de
contagem do Exemplo 1.12, p.6), definidas na σ-álgebra trivial P(X).
Então µh é uma medida em P(X) (porque?). Dizemos que é uma medida pontual.
X
Observação 1.4 Definimos h(x) , 0.
x∈∅
6 CAPÍTULO 1. ESPAÇO COM MEDIDA
(f) Se hEn in∈N é uma sequência não-crescente em Σ (isto é, En+1 ⊂ En para todo
n ∈ N), e se algum µ(En ) é finito, então
!
\
µ En = lim µ(En ) = inf µ(En ).
n→∞ n∈N
n∈N
7
Paul Dirac: 1902 Bristol, England – 1984 Tallahassee, Florida, USA.
1.2. ESPAÇOS COM MEDIDA 7
Finalmente, lim µ(En ) = sup µ(En ) porque (por (b)) hµ(En )in∈N é não-decrescente.
n→∞ n∈N [
(f) Suponha que µ(Ek ) < ∞. Defina Fn , Ek \ Ek+n para n ∈ N, F = Fn ; então
n∈N
hFn in∈N é uma sequência não-decrescente em Σ e µ(F ) = lim µ(Fn ), por (e) acima. Temos
n→∞
que µ(Fn ) + µ(Ek+n ) = µ(Ek ); como µ(Ek ) < ∞, nós podemos escrever que µ(Fn ) =
µ(Ek ) − µ(Ek+n ), e portanto
Observação 1.5 Observe que em (f) acima é essencial ter que inf µ(En ) < ∞. De
n∈N
fato, tome X = N e seja µ a medida de contagem em X do Exemplo 1.12, p.6. Defina
En , {i ∈ N; i ≥ n} para cada n. Então En+1 ⊂ En para cada n, mas
!
\
µ En = µ(∅) = 0 < ∞ = lim µ(En ).
n→∞
n∈N
Observação 1.6 Um conjunto de medida nula não precisa ser mensurável, embora esteja
contida em um conjunto mensurável de medida nula.
DEFINIÇÃO 1.13 Espaços de medida em que todos os conjuntos de medida nula são men-
suráveis é chamado de completo.
LEMA 1.15 Dado um espaço de medida (X, Σ, µ), existe um espaço de medida completo
(X, Σ,
e µe) tal que Σ ⊂ Σ
e eµ=µ
e em Σ.
8 CAPÍTULO 1. ESPAÇO COM MEDIDA
Exemplo 1.14
(a) para a medida de contagem, o único conjunto de medida nula é o ∅.
(b) para a medida δa de Dirac, um conjunto A possui medida nula se, e somente se,
a 6∈ A.
DEFINIÇÃO 1.16 Se uma afirmação P (x) pode ser aplicada aos elementos x ∈ X de um
espaço com medida µ, nós dizemos que
significando que o conjunto {x ∈ X; P (x) é falso} possui medida nula com relação a medida
µ.
Observação 1.7 As expressões ‘quase todo ponto’ (qtp), ‘quase sempre’, ‘almost
everywhere’ (a.e.), ‘almost surely’ (a.s.), ‘presque partout’ (p.p.) significam a mesma
coisa.
(a) Defina a medida de um intervalo (a, b) (ou [a, b], ou (a, b], etc.) como b − a.
(b) Dado um conjunto A ⊂ R qualquer defina sua medida como o ı́nfimo da soma das
medidas de intervalos que cobrem A.
(c) Esta pré-medida não possui a propriedade natural de ser σ-aditiva (medida da união
enumerável disjunta é igual a soma das medidas) em P(R): é necessário reduzir seu domı́nio
para que seja.
De forma mais geral o Método de Carathéodory consiste do seguinte:
(a) Definimos uma função, a chamada medida exterior ou pré-medida, em P(X). Exigimos
da medida exterior menos do que da medida (subaditividade ao invés de aditividade).
(b) Restringimos esta função a um certo subconjunto, que será uma σ-álgebra, grande o
suficiente para ser interessante, onde a medida exterior é uma medida.
Este roteiro justifica o nome pré-medida, utilizado para se denominar as medidas exteriores
por alguns autores.
Embora existam outras formas de construir a medida de Lebesgue (por exemplo veja a
Seção 2.6, p.32), esta construção é utilizada para se definir outras medidas, como por exemplo
a medida (exterior) de Hausdorff, que merecerá mais comentários no final do capı́tulo na p.12.
Nós apresentamos agora o Teorema mais importante da Teoria básica de Medida. Como a
prova é longa e muito técnica, será omitida. Em resumo, dada uma medida exterior θ∗ existe
uma σ-álgebra maximal tal que θ∗ restrita a esta σ-álgebra é uma medida.
Então Σθ∗ é uma σ-álgebra de subconjuntos de X gerado pela medida exterior θ∗ . Defina
µ : Σθ∗ → [0, ∞] por µ(A) , θ∗ (A) para A ∈ Σθ∗ ; então (X, Σθ∗ , µ) é um espaço de medida
completo.
10 CAPÍTULO 1. ESPAÇO COM MEDIDA
E1 ∩ A E2 ∩ A
A A
E1 E2
E1 \ A E2 \ A
E3 ∩ A E4 ∩ A
E4
E3
A A
E3 \ A E4 \ A
DEFINIÇÃO 1.20 Definimos θ∗ : P(R) → [0, ∞], a medida exterior de Lebesgue por
(∞ )
X [
θ∗ (A) , inf λ(Ij ); hIj ij∈N é uma seq. de intervalos semiabertos t.q. A ⊂ Ij .
j=0 j∈N
Observação 1.9 Observe que θ∗ está bem definida pois todo [A pode ser coberto por
alguma sequência de intervalos semiabertos – por exemplo A ⊂ [−n, n); portanto nós
n∈N
sempre temos um conjunto não-vazio para tomar o infimum, e θ∗ (A) está sempre definida
em [0, ∞].
O fato que θ∗ é uma medida exterior é justificado pelo item (a) da próxima Proposição.
Deixamos como exercı́cio provar (a) e parte de (b).
PROPOSIÇÃO 1.21 (Medida exterior de Lebesgue) Seja θ∗ dada pela Definição 1.20.
(a) θ∗ é uma medida exterior em R.
(b) θ∗ é uma extensão de λ, isto é, θ∗ (I) = λ(I) para todo intervalo semiaberto I ⊂ R.
Como a medida exterior de Lebesgue é uma medida exterior, podemos usá-la para construir
a medida µ usando o método de Carathéodory.
DEFINIÇÃO 1.22 A medida µ obtida pela aplicação do Teorema 1.18 à medida exterior θ∗
é chamada de medida de Lebesgue em R. Os conjuntos E ⊂ R tais que
DEFINIÇÃO 1.23 Dizemos que A ⊂ R tem medida (de Lebesgue) nula se para todo
ε > 0, existe uma sequência (In )n∈N de intervalos abertos e limitados tal que
+∞
[ +∞
X
A⊂ In e |In | ≤ ε, (1.1)
n=1 n=1
sendo que |I| representa o comprimento do intervalo I, ou seja, |I| = b − a se I = (a, b).
Este resultado implica que todos conjuntos abertos e fechados e todos intervalos são conjuntos
mensuráveis a Lebesgue.
Observação 1.10 Pode-se exibir (exemplo de Lusin – ver Wikipedia: Non-Borel set) um
conjunto que não é Borel mas é Lebesgue mensurável. Por contraste, pode-se provar a
existência (o conjunto de Vitali) de um conjunto não-mensurável a Lebesgue mas este
conjunto não pode ser exibido pois a prova é feita utilizando o axioma da escolha (ver
Exercı́cio 40, p.17).
9
Haar
10
Felix Hausdorff: 1868 Breslau, Germany (now Wroclaw, Poland) – 1942 Bonn, Germany.
1.5. EXERCÍCIOS 13
interpretando inf ∅ como ∞, de modo que θ∗ (A) = ∞ se A não é coberto por qualquer
sequência em I (na caso da medida de Lebesgue isto não acontece). Podemo provar que θ∗ é
uma medida exterior em X. No Exercı́cio 31, p.16 exploramos uma construção similar porém
mais simples.
Outros exemplos importantes que utilizam esta construção abstrata é:
(a) A medida de Lebesgue-Stieltjes, apresentada no Exercı́cio 41, p.17, muita usada em
Probabilidade.
(b) A medida exterior de Hausdorff referida acima.
1.5 Exercı́cios
1.5.1 σ-Álgebras
=⇒ 1. Porque não precisamos considerar a operação de complementação enumerável na De-
finição 1.1, p.2?
=⇒ 2. Considere Σ = {A ⊂ R; A é enumerável ou A{ é enumerável} e A = {{ x }; x ∈ R}
(subconjuntos de R unitários). Prove que:
(a) Σ é uma σ-álgebra; (b) a σ-álgebra gerada por A é igual a Σ.
=⇒ 3. Considere X = { 1, 2, 3, 5, 6 }. Determine a σ-álgebra gerada por:
(a) A1 = { { 2 } }; (b) A2 = { { 1, 2 } }; (c) A3 = { { 1, 2, 3 } };
(d) A4 = { { 1, 2 }, { 1, 3 } }; (e) A5 = { { 1 }, { 2, 3 } }.
=⇒ 4. Considere as seguintes famı́lias de intervalos de R:
A1 = {(−∞, a) ; a ∈ R}, A2 = {[a, ∞) ; a ∈ R},
A3 = {[a, b); a, b ∈ R}, A4 = {[a, b]; a, b ∈ R}.
(a) Prove que todo intervalo I ∈ Ai , para algum i, é um conjunto de Borel.
(b) Prove que a σ-álgebra gerada por Ai , para cada i, é a σ-álgebra de Borel.
→ 5. Seja Σ uma σ-álgebra de subconjuntos de X e A ⊂ X. Prove que
{(E ∩ A) ∪ (F \ A); E, F ∈ Σ}
9. Prove que todo G ⊂ R aberto pode ser escrito de forma única como a união enumerável
de intervalos abertos.
Dica: Para cada x, y ∈ G, defina a relação x ∼ y se o intervalo [x, y] ⊂ G (se x ≤ y) ou
[y, x] ⊂ G (caso contrário). Prove que ∼ é uma relação de equivalência. Defina I como o
conjunto das classes de equivalência. Prove que existe uma função injetiva de I em Q. Cada
classe é um intervalo aberto.
ý 10. (extra) Prove que dado a ∈ R e um conjunto de Borel E ⊂ R, E + a é um conjunto de
Borel.
Dica: Prove que {E; E + a é Borel} é uma σ-álgebra contendo os abertos.
ý 11. (extra) Seja E ⊂ R2 um conjunto de Borel e P : R2 → R definida por P (x, y) , x
(projeção ortogonal no eixo-x). Prove que P (E) é um conjunto de Borel em R.
12. Prove que se (An )n∈N é uma sequência de conjuntos de medida nula (veja Definição 1.12,
+∞
[
p.7), então An tem medida nula.
n=1
Prove que:
(a) µmin e µmax são medidas.
(b) µmin é a maior medida e µmax é a menor medida, com domı́nio Σ, tal que
µmin (E) ≤ inf ν(E) e µmax (E) ≥ sup ν(E) para todo E ∈ Σ.
ν∈N ν∈N
Prove que:
(a) existe E ∈ Σ tal que A ⊂ E e µ(E) = µ∗ (A).
(b) µ∗ é uma medida exterior em X.
ý 31. (extra) Considere λ : P(X) → [0, ∞] uma função qualquer tal que λ(∅) = 0. Defina
θ∗ : P(X) → [0, ∞] por
(∞ )
X [
θ∗ (A) , inf λ(Cj ); hCj ij∈N é uma seq. in P(X) t.q. A ⊂ Cj .
j=0 j∈N
=⇒ 33. Identifique uma função contı́nua em R que seja igual quase todo ponto com relação a
medida de Lebesgue em R a cada uma das funções abaixo:
(a) IN ; (b) IQ ; (c) IQ{ ; (d) I[0,1] .
→ 34. Considere (a medida exterior de Lebesgue) θ∗ da Definição 1.20, p.11. Prove que:
(a) θ∗ é uma medida exterior;
(b) θ∗ ([a, b)) ≤ b−a. Provar a igualdade é uma questão mais delicada (consulte literatura).
=⇒ 35. Seja µ a medida de Lebesgue em R. Prove que:
(a) µ({ a }) = 0 para todo ∈ R; (b) µ(K) = 0 para todo K enumerável;
(c) µ([a, b]) = µ((a, b)) = µ([a, b)); (d) µ((a, +∞)) = ∞.
1.5. EXERCÍCIOS 17
36. Prove que Q é pequeno do ponto de vista da medida de Lebesgue mas grande do ponto
de vista da cardinalidade.
37. Prove que a Definição 1.23, p.11 de medida nula para medida de Lebesgue é equivalente
a Definição 1.12, p.7.
38. Considere f : [a, b] → R e X ⊂ [a, b] com medida nula com relação a medida de
Lebesgue. Prove que f (X) tem medida nula com relação a medida de Lebesgue se f é
Lipschitz ou Hölder contı́nua.
Dica: estime diam(f (I)) para I um intervalo qualquer.
39. Prove que o conjunto de Cantor (que é não-enumerável) possui medida nula de Lebesgue.
=⇒ 40. Considere a relação em R: a ∼ b se, e somente se, a − b ∈ Q.
(a) Prove que é de equivalência.
(b) Defina V (conjunto de Vitali definido em 1905) como o conjunto formado por um
elemento de cada classe de [0, 1]/Q. Seja Vq , q + V. Prove que se q 6= qe (com q, qe ∈ Q)
então Vq ∩ Vqe = ∅.
[
(c) Prove que R = Vq .
q∈Q
(d) Prove que V é não-enumerável.
[
(e) Prove que [0, 1] ⊂ Vq ⊂ [−1, 2].
q ∈ [−1,1] ∩ Q
(f) Prove que V não é mensurável.
Dica: Como Vq é translação de V, ambos possuem mesma medida. Como por (b) os Vq
são disjuntos, a medida da união é igual a soma das medidas. Por (e) a medida da união
dos conjuntos de Vitali estaria entre 1 e 3. A medida de V não pode ser zero nem positiva!
Contradição. Ver Wikipedia, Vitali set.
Obs: Note que a invariância por translação e o axioma da escolha são barreiras insuperáveis
para se atribuir medida para todo subconjunto de R.
=⇒ 41. Considere g : R → R uma função contı́nua não-decrescente. Dado um intervalo
semiaberto I = [a, b) ⊂ R defina λg (I) por
Dado A ⊂ R, defina
(∞ )
X [
θg∗ (A) , inf λg (Ij ); hIj ij∈N é uma seq. de intervalos semiabertos t.q. A ⊂ Ij .
j=0 j∈N
De forma mais geral, considere uma função h : R → R não-decrescente (não precisa ser
contı́nua). Dado um intervalo semiaberto I = [a, b) ⊂ R defina λh (I) por
Dado A ⊂ R, defina
(∞ )
X [
θh∗ (A) , inf λh (Ij ); hIj ij∈N é uma seq. de intervalos semiabertos t.q. A ⊂ Ij .
j=0 j∈N
Mostre que θh∗ é uma medida exterior em R. Podemos novamente definir a medida de
Lebesgue-Stieltjes. Em que ponto o argumento não vai funcionar se definirmos λh [a, b) ,
h(b) − h(a) ao invés da fórmula acima?
ý 42. (extra) Considere µ a medida de Lebesgue e f : R → R uma função Lipschitz contı́nua
com |f (x) − f (y)| ≤ K|x − y| para todo x, y ∈ R. Prove que para todo E mensurável:
(a) f (E) é um conjunto mensurável;
(b) µ(f (E)) ≤ Kµ(E).
Dica: Prove inicialmente para intervalos.
ý 43. (extra) Vamos mostrar que a medida exterior de Lebesgue θ∗ em R é invariante por
translação.
(a) Suponha que c ∈ R. Prove que θ∗ (A + c) = θ∗ (A) para todo A ⊂ R, onde A + c =
{x + c; x ∈ A}.
(b) Suponha que c > 0. Prove que θ∗ (cA) = cθ∗ (A) para todo A ⊂ R, onde cA =
{cx; x ∈ A}.
Dica: comece com intervalos semiabertos. Depois prove que θ∗ (A + x) ≤ θ∗ (A) + ε para
todo ε > 0 e (usando este resultado) θ∗ (A) = θ∗ ((A + x) + (−x)) ≤ θ∗ (A + x).
ý 44. (extra) Seja B a σ-álgebra de conjuntos de Borel de R e ν : B → [0, ∞] uma medida
tal que ν[−n, n] < ∞ para todo n ∈ N. Mostre que existe uma função g : R → R que é
não-decrescente tal que ν(E) = µg (E) para todo E ∈ B, onde µg é definida no Exercı́cio 41,
p.17. A função g é única?
ý 45. (extra) Seja B a σ-álgebra de conjuntos de Borel de R e sejam ν1 , ν2 : B → [0, ∞]
medidas tais que ν1 (I) = ν2 (I) < ∞ para todo intervalo semiaberto I ⊂ R. Prove que
ν1 (E) = ν2 (E) para todo E ∈ B.
Capı́tulo 2
Integração
O movimento do século XIX em direção ao rigor em matemática tentou colocar o cálculo em
bases sólidas. A integral de Riemann1 é um exemplo de sucesso destas tentativas pois fornece
o resultado esperado para muitos problemas que eram conhecidos e para outros problemas
novos.
No entanto, a integral de Riemann não interage bem com a operação de limite de
sequências de funções. Isto é importante, por exemplo, no estudo da série de Fourier2 . Já com
a integral de Lebesgue é mais fácil saber quando é possı́vel tomar o limite dentro da integral.
Estas propriedades melhores decorrem do fato que a integral de Lebesgue é, num paralelo com
séries, “absolutamente convergente”, enquanto a integral de Riemann é “condicionalmente
convergente”. Ver p. 30 para detalhes.
A integral de Lebesgue estende para uma classe maior de funções a integral de Riemann
e além disso permite definir integrais sobre espaços mais gerais que o Rn . Dedicamos uma
Seção a comparação da integral de Riemann com a de Lebesgue.
A teoria de integração sobre um espaço de medida geral (que inclui a integral de Lebesgue
como um exemplo) que apresentamos neste livro consiste de:
Este é um caminho possı́vel, mas não é o único. É possı́vel construir a Teoria de Integração
sem Teoria da Medida e utilizar a integral para definir a medida. Para detalhes ver a Seção 2.6.
Os teoremas mais importantes sobre esta integral são:
19
20 CAPÍTULO 2. INTEGRAÇÃO
Se Σ é a σ-álgebra de:
(a) Borel, então f é dita mensurável a Borel;
(b) Lebesgue, então f é dita mensurável a Lebesgue.
Exemplo 2.1 (triviais)
(a) Qualquer função constante é mensurável.
(b) Se Σ = P(X), então toda função é mensurável.
(b) Se E ∈ Σ, IE é Σ-mensurável.
(c) Se g é Borel-mensurável, então g é Lebesgue mensurável.
Exemplo 2.2 (importantes, veja exercı́cios)
(a) Toda função contı́nua f : R → R é Borel-mensurável.
(b) Toda função monótona f : R → R é Borel mensurável.
Observação 2.1 Nem todas funções Borel-mensuráveis são contı́nuas. Mas, pelo Teorema
de Luzin3 (consulte literatura), se f : [a, b] → R é Borel-mensurável, dado ε > 0, existe um
compacto E ⊂ [a, b] tal que f restrita a E é contı́nua e µ(E { ) < ε.
O próximo resultado mostra que as funções mensuráveis são bem comportadas com relação
a convergência pontual de sequências de funções.
22 CAPÍTULO 2. INTEGRAÇÃO
TEOREMA 2.5 (Propriedades de Funções Mensuráveis II) Seja hfn in∈N uma sequência
de funções Σ-mensuráveis de X em R. São Σ-mensuráveis:
(a) lim fn ; (b) sup fn ; (c) inf fn ; (d) lim sup fn ; (e) lim inf fn .
n→∞ n∈N n∈N n→∞ n→∞
Observação 2.2 Neste trabalho não apresentaremos mais propriedades de funções men-
suráveis. É verdade também que a composição de uma função contı́nua com uma men-
surável é mensurável, mas a composição de duas funções mensuráveis pode não ser men-
surável.
Uma função não ser mensurável implica na existência de um conjunto que não é men-
surável. Como já observamos, quase todo subconjunto de R é mensurável a Lebesgue. Por-
tanto, quase toda função que você encontrará será mensurável a Lebesgue e é comum em
aplicações assumir que todas as funções envolvidas são mensuráveis.
Existem outros caminhos para se definir a integral, mas este corresponde ao método
canônico de todo livro de medida e integração. Ele corresponde também ao método para
se provar resultados: provamos para funções simples, depois para não-negativas e finalmente
para uma função qualquer.
DEFINIÇÃO 2.7 (Função Simples) Seja (X, Σ, µ) um espaço de medida. Dizemos que
n
X
f : X → R é uma função simples se f = ai IEi , onde ai ∈ R e cada Ei é Σ-mensurável,
i=0
isto é, Ei ∈ Σ.
Observação 2.3 Alguns autores permitem um conjunto arbitrário Ei . Assim uma função
simples é qualquer função que assume um número finito de valores distintos.
n
X
Observação 2.4 A representação de uma função simples não-nula f com ai IEi é única
i=0
se os a0i s são não-nulos e únicos e se os Ei ’s são disjuntos (exercı́cio).
Vamos definir agora a integral de uma função simples. Ela está bem definida pelo Lema 2.9
(técnico) que apresentamos depois da definição sem a demonstração (consulte a literatura). A
dificuldade é que uma função simples f possui mais de uma representante e temos que provar
que o valor da integral independe do representante que nós escolhemos. Vamos explorar casos
particulares nos exercı́cios.
DEFINIÇÃO 2.8 (Integral de uma função simples) Seja (X, Σ, µ) um espaço de medida
m
X
e f : X → R uma função simples, isto é, f = ai IEi . Definimos a integral da função
i=0
simples f com relação a medida µ (pode ser ∞!) por
Z m
X
f dµ , ai µ(Ei ).
i=0
É comum integrarmos
Z b uma função em um subconjunto de um espaço de medida; por
exemplo integrar f (x) dx, com a < b em R.
a
Se H ∈ Σ, definimos Z Z Z
f dµ , +
f dµ − f − dµ.
H H H
2.2. DEFINIÇÃO DA INTEGRAL 25
Deixamos para o leitor refletir sobre o seguinte. Como pedimos que a parte positiva e
negativa de uma função seja integrável, a integral de Lebesgue é “absolutamente convergente”
(no sentido de séries), pois uma função f é integrável se, e somente se, |f | é integrável.
A integral é um operador linear e monotônico pelo próximo Teorema, apresentado sem
demonstração.
É claro que esta relação é de equivalência (Exercı́cio 23, p.15). A integral “não enxerga”
a diferença entre as funções f e g equivalentes. Fisicamente, por exemplo, uma força f e
g equivalentes vão realizar o mesmo trabalho. Assim, na definição dos espaços funcionais
Lp e L∞ , vamos falar na função f querendo dizer num representante qualquer da classe
de equivalência a que a função pertence. Assim como números racionais são classes de
equivalência e dizemos “considere o número racional 1/2” ao invés de dizer “considere a
classe de equivalência de 1/2”, vamos falar na função f em Lp ao invés de dizer classe de
equivalência a que f pertence.
DEFINIÇÃO 2.16 O conjunto Lp (X) = Lp (X, Σ, µ), para R 1 ≤ p < ∞, é formado pelas
p
funções f : X → R que são Σ-mensuráveis com integral |f | dµ finita.
O conjunto L∞ (X) = L∞ (X, Σ, µ) é formado pelas funções f : X → R que são Σ-
mensuráveis e limitadas µ-qtp, isto é, existe M ∈ R tal que µ{x ∈ X; |f (x)| > M } = 0.
Estes espaços são Espaços Vetoriais Normados (EVNs) pelo Teorema 2.14 se introduzimos
a norma: R 1/p
(a) em Lp (1 < p < ∞): kf kLp = |f |p dµ ;
(b) em L∞ : kf kL∞ = inf {M > 0; µ{x; |f (x)| > M } = 0} (chamado de sup essencial).
Com estas normas (devido ao fato de se tratar da integral de Lebesgue) eles são EVNs
completos, ou seja, são Espaços de Banach. Como já observamos, os elementos são classes
26 CAPÍTULO 2. INTEGRAÇÃO
de equivalência de funções iguais a menos de um conjunto de medida nula, tais quais elementos
de R são classes de equivalência de sequências de Cauchy.
Observação 2.8 Se utilizássemos a integral de Riemann este espaço NÃO seria completo.
Esta é uma razão técnica da importância da integral de Lebesgue.
Com isto, L2 será um EVN completo com norma induzido por um produto interno, que
chamamos de Espaço de Hilbert. Este é um espaço importante onde a Teoria da série de
Fourier se desenvolve. Além disso a teoria de equações diferenciais parciais se desenvolve
nos chamados Espaços de Sobolev, espaços que envolvem a existência de derivadas (num
sentido mais fraco) limitadas nestas normas integrais. Deste modo passamos do espaço das
funções contı́nuas (C(X)) ou suaves (C n (X)) para espaços de Banach, Hilbert e Sobolev.
Embora a teoria seja mais complicada, as condições para poder se trocar limite com integral
são bem mais simples na integral de Lebesgue do que na de Riemann. De fato (estude os
enunciados dos dois teoremas abaixo), na integral de Lebesgue basta se ter convergência
pontual (qtp) e uma condição extra simples (monotonicidade ou dominância por uma função
integrável). Por contraste, a integral de Riemann pede, por exemplo, convergência uniforme.
2.4. INTEGRAL DE RIEMANN × LEBESGUE 27
n
[
Exemplo 2.6 Seja an uma enumeração de Q e An = { ak }. Seja fn = IAn . Claramente
k=1 R
fn é uma sequência monótona crescente que converge
R para IQ . Como fn dµ = 0 para todo
n (fn = 0 excetoZ em número finito de pontos) IQ dµ = 0. Contraste com a integral de
Riemann, onde R IQ (x) dx não existe pois o conjunto dos pontos de descontinuidade desta
função não possui medida zero (é R).
TEOREMA 2.18 (convergência dominada de Lebesgue) Seja (X, Σ, µ) um espaço de
medida e hfn in∈N uma sequência de funções reais integráveis em X tais que
|fn (x)| ≤ g(x), µ-qtp. em X, para todo n ∈ N (dominância por função integrável).
Então f é integrável e Z Z
f dµ = lim fn dµ.
n→∞
As funções gk são iguais a zero em todos os pontos exceto num conjunto finito pontos,
e portanto sua integral de Riemann é zero. A sequência gk , claramente não-negativa,
converge monotonamente para a função IQ , que não é integrável a Riemann.
É fácil ver que cada partição do intervalo [a, b] induz a duas funções escadas: uma que
assume o sup da função em cada intervalo, e outra que assume o inf da função em cada
intervalo.
U[a,b] (f ) = L[a,b] (f ).
Neste caso definimosZ ob valor comum como sendo a integral de Riemann de f no intervalo
[a, b], denotada por R f (x) dx.
a
Pela monotonicidade da integral de Lebesgue, dada uma função escada s qualquer (que é
mensurável pois é simples) tal que f ≤ s,
Z Z
f dµ ≤ s dµ.
Tomando o inf nos dois lados com relação as funções escada s’s tais que f ≤ s,
Z Z b
f dµ ≤ L[a,b] (f ) = R f (x) dx.
a
• Teorema de Fubini, que permite calcular uma integral dupla como duas integrais simples
sucessivas, trocando a ordem de integração.
2.5. TEOREMA DE RADON-NIKODÝM E FUBINI 31
DEFINIÇÃO 2.24 Seja (X, Σ, µ) um espaço de medida. Dizemos que uma medida µ é
finita se ela não assume o valor ∞.
Dizemos que ela é σ-finita se existe uma sequência En em Σ com:
∞
[
En = X e µ(En ) < ∞.
n=1
É claro que (exercı́cio) λ é uma medida absolutamente contı́nua com relação a µ. Note que
como λ é uma medida,
Z Z
λ(E) = dλ = f dµ para todo E ∈ Σ.
E E
dλ
Portanto, em algum sentido, dλ = f dµ, ou seja, f =, a chamada derivada de Radon-
dµ
Nikodým. O próximo teorema mostra que toda medida σ-finita absolutamente contı́nua é
obtida desta forma.
DEFINIÇÃO 2.27 Sejam (X, Σ, µ) e (Y, T, τ ) espaços de medida. Existe uma medida
canônica numa σ-álgebra de subconjuntos de X × Y , a chamada medida produto π gerada
por µ e τ , denotada por π = µ × τ . Esta medida está definida na σ-álgebra gerada por A × B,
onde A ∈ Σ e B ∈ T.
2.7 Exercı́cios
2.7.1 Funções Mensuráveis
Dica (para todos itens): suponha por contradição que o conjunto {x ∈ X; f (x) > ε} (ou
{x ∈ X; f (x) < ε}) não possui medida nula. Use este conjunto ou sua função caracterı́stica.
=⇒ 18. Prove que:
(a) A função 1/x 6∈ L1 (1, ∞) mas pertence a Lp (1, ∞).
(b) A função 1/x 6∈ L∞ (R).
(c) A função f (x) = IZx(x) pertence a L∞ (R).
19. Considere f , g : X → R funções simples. Prove que são funções simples:
(a) |f |; (b) f + g (c) f ∨ g e f ∧ g, definidas no Exercı́cio 12, p.34.
20. Considere f , g : X → R funções integráveis. Prove que são funções integráveis f ∨ g e
f ∧ g, definidas como no Exercı́cio 12, p.34.
=⇒ 21. Seja (X, Σ, µ) um espaço de medida e f : X → R uma função
Z integrável. Prove que
para todo ε > 0 existe uma função simples gε : X → R tal que |f − gε | dµ < ε. Dizemos
que as funções simples são densas no espaço das funções integráveis L1 (X, Σ, µ).
Dica: Considere f ≥ 0 inicialmente.
→ 22. Seja µ a medida de contagem (Exemplo 1.12, p.6) em N. Prove que uma X função
f : N → R (uma sequência hf (n)in∈N ) é µ-integrável se, e somente se, a série f (n) é
absolutamente convergente e nesse caso
Z ∞
X
f dµ = f (n).
n=0
→ 23. Sejam µ1 , µ2 duas medidas com domı́nio na σ-álgebra Σ. Defina µ(E) , µ1 (E)+µ2 (E)
para E ∈ Σ. Prove que para qualquer função Σ-mensurável f : X → R,
Z Z Z
f dµ = f dµ1 + f dµ2 .
=⇒ 25. Seja fn (x) = nI[0,1/n](x) com a medida de Lebesgue em R. Utilize-a para mostrar que a
condição do Teorema da Convergência Dominada |fn | ≤ g não pode ser retirada.
36 CAPÍTULO 2. INTEGRAÇÃO
∞ Z
X
→ 26. Considere a sequência de funções reais hfn in∈N , todas integráveis e tais que |fn | dµ
n=0
∞
X Z ∞ Z
X
é finito. Prove que f (x) , fn (x) está definida qtp. e f dµ = fn dµ.
n=0 n=0
Dica: Assuma inicialmente que fn ≥ 0.
27. Dada uma função f : R → R qualquer, defina para cada k ∈ R a função Tk f : R → R,
o truncamento de f por
f (x), se |f (x)| ≤ k;
Tk f (x) , k, se f (x) > k;
−k, se f (x) < −k.
DEFINIÇÃO 3.1 Dado um espaço de medida (Ω, Σ, µ), dizemos que é um espaço de
probabilidade se µ(Ω) = 1. Neste caso denotamos a medida µ por P e dizemos que
(Ω, Σ, P ) é um espaço de probabilidade.
• Ω é o espaço amostral.
Exemplo 3.1 Considere um jogo onde se lançam 2 dados a cada instante de tempo. Podemos
considerar o processo estocástico discreto Xn igual a soma do valor dos 2 dados a cada
instante.
Um exemplo de processo estocástico contı́nuo é Xt o valor de uma ação a cada instante
de tempo.
39
40 CAPÍTULO 3. PROBABILIDADE E MEDIDA
O fato que o espaço de eventos é uma σ-álgebra significa, em linguagem coloquial, que
dados eventos A e B são eventos também:
DEFINIÇÃO 3.2 Dois eventos A e B são ditos independentes se P (A∩B) = P (A)P (B).
[3] Halmos P.R.; Measure Theory; Van Nostrand, 1950; Halmos, Paul R. Measure Theory.
D. Van Nostrand Company, Inc., New York, N. Y., (1950), MR0033869.
[5] Royden, H. L.; Real Analysis; Macmillan Publishing Company, New York, (1988). ISBN:
0-02-404151-3, MR1013117 (90g:00004).
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