Ebook Ciencias Da Saude CONCIS
Ebook Ciencias Da Saude CONCIS
ISBN: 978-65-88332-23-8
Editora Amplla
Campina Grande – PB – Brasil
[email protected]
www.ampllaeditora.com.br
2021
Bergson Rodrigo Siqueira de Melo - Universidade Estadual do Ceará
Carla Caroline Alves Carvalho - Universidade Federal de Campina Grande
Cícero Batista do Nascimento Filho - Universidade Federal do Ceará
Clécio Danilo Dias da Silva - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Daniela de Freitas Lima - Universidade Federal de Campina Grande
Denise Barguil Nepomuceno - Universidade Federal de Minas Gerais
Dylan Ávila Alves - Instituto Federal Goiano
Érica Rios de Carvalho - Universidade Católica do Salvador
Gilberto de Melo Junior - Universidade Federal de Goiás
Higor Costa de Brito - Universidade Federal de Campina Grande
Italan Carneiro Bezerra - Instituto Federal da Paraíba
Ivo Batista Conde - Universidade Estadual do Ceará
João Henriques de Sousa Júnior - Universidade Federal de Santa Catarina
Joilson Silva de Sousa - Instituto Federal do Rio Grande do Norte
José Cândido Rodrigues Neto - Universidade Estadual da Paraíba
Jose Henrique de Lacerda Furtado - Instituto Federal do Rio de Janeiro
Josenita Luiz da Silva - Faculdade Frassinetti do Recife
Luís Paulo Souza e Souza - Universidade Federal do Amazonas
Luiza Catarina Sobreira de Souza - Faculdade de Ciências Humanas do Sertão Central
Manoel Mariano Neto da Silva - Universidade Federal de Campina Grande
Marcus Vinicius Peralva Santos - Universidade Federal da Bahia
Marina Magalhães de Morais - Universidade Federal de Campina Grande
Natan Galves Santana - Universidade Paranaense
Nathalia Bezerra da Silva Ferreira - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Neide Kazue Sakugawa Shinohara - Universidade Federal Rural de Pernambuco
Sabrynna Brito Oliveira - Universidade Federal de Minas Gerais
Samuel Miranda Mattos - Universidade Estadual do Ceará
Tatiana Paschoalette Rodrigues Bachur - Universidade Estadual do Ceará
Telma Regina Stroparo - Universidade Estadual do Centro-Oeste
Virginia Tomaz Machado - Faculdade Santa Maria de Cajazeiras
Walmir Fernandes Pereira - Miami University of Science and Technology
Wanessa Dunga de Assis - Universidade Federal de Campina Grande
Wellington Alves Silva - Universidade Estadual de Roraima
Yáscara Maia Araújo de Brito - Universidade Federal de Campina Grande
Yuciara Barbosa Costa Ferreira - Universidade Federal de Campina Grande
2021 - Editora Amplla
Copyright © Editora Amplla
Editor Chefe: Leonardo Pereira Tavares
Design da Capa: Editora Amplla
Projeto Gráfico e Editoração: Higor Costa de Brito
Editora Amplla
Campina Grande – PB – Brasil
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2021
Esta obra é fruto da adaptação de alunos, professores e pesquisadores a uma era
digital que nos abraçou com afinco, trazendo novas perspectivas na divulgação
científica. Os trabalhos contidos neste e-book foram apresentados em formato de
resumo no Congresso On-line de Ciências da Saúde de 26 a 29 de outubro de 2020 pelo
grupo Ciência em Alvo. A possibilidade de realizar um evento totalmente on-line
modificou a maneira de pensar e participar de eventos científicos.
A pandemia do novo Coronavírus fez com que a necessidade de informação
alcançasse o máximo de pessoas além de criar uma oportunidade para nos ensinar como
a tecnologia favorece a todos os níveis acadêmicos.
A troca de informações entre profissionais da saúde foi, e continuará sendo,
fundamental para o enfrentamento dos desafios impostos no atual contexto. Desta
forma, este e-book tem o objetivo principal de atualização e promoção de conhecimento
a todos os profissionais da saúde, em especial, aos estudantes que estão iniciando na
carreira científica.
O conteúdo deste material é atualizado e diversificado com pesquisas
quantitativas e qualitativas, atuando em diferentes áreas das ciências da saúde como:
análises clínicas, microbiologia, biologia molecular/genética, imunologia, farmacologia,
entre outros.
Esta produção foi pensada como uma extensão do que foi realizado no evento
científico para continuidade dos trabalhos que foram relevantes para a construção do
mesmo e também, estimular a comunidade científica a dar seguimento aos trabalhos e
divulgá-los mesmo que em períodos difíceis.
Os organizadores desejam a todos uma ótima leitura e um bom proveito de todo
o conteúdo disponível nesta composição.
Yasmin da Silva Santos
Biomédica, professora de análises clínicas.
Fundadora do Grupo Ciência em Alvo
Mestre em Ciências pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (FIOCRUZ)
Especialista em Análises Clínicas e Microbiologia pela Faculdade do Vale
Elvira Dayrell - FAVED,
Doutoranda de Fisiopatologia e Toxicologia (USP)
capítulo xii - INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO CAUSADAS POR Corynebacterium spp. ............................... 181
capítulo xiii - IDENTIFICAÇÃO DE BACTÉRIAS NOCIVAS DECORRENTES DO MANUSEIO INCORRETO DO KEFIR .... 194
capítulo xiv - INFECÇÃO POR Treponema pallidum E DANOS NO DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO E FETAL
.......................................................................................................................................................... 200
capítulo xvii - CONTROLE DE QUALIDADE EM MEDICAMENTOS CONTENDO O PRINCÍPIO ATIVO MELOXICAM..... 245
capítulo xviii - POTENCIAL ANTIOBESOGÊNICO DO EXTRATO DE FEIJÃO-BRANCO (phaseolus vulgaris L.) ... 253
capítulo xix - AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DOS ALUNOS INGRESSOS DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO TÉCNICO
PRIVADO DA ÁREA DA SAÚDE SOBRE ISTs NO MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO/RJ .............................................. 261
capítulo xx - USO RACIONAL DAS PANCS: UM RESGATE NA REGIÃO NA REGIÃO DE AMERICANA/SP ................ 268
capítulo xxi - PREVALÊNCIA DOS TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS ENTRE OS ESTUDANTES DO CURSO TÉCNICO EM
ADMINISTRAÇÃO ................................................................................................................................... 280
capítulo xxiv - PRÉ-NATAL HUMANIZADO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA O PARTO ATIVO: PERCEPÇÃO DOS MÉDICOS
E ENFERMEIROS DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE ................................................................................. 315
capítulo xxv - Avaliação higiênico-sanitária de alface (LaCtuca sativa L.) comercializada in natura
em restaurantes self-service no município de Maringá-PR .............................................................. 329
capítulo xxvi - ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO FRENTE AO CÂNCER DA MAMA MASCULINA NA ATENÇÃO BÁSICA ... 339
CAPÍTULO I
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
Em apenas duas décadas, o mundo sofreu com três grandes epidemias causadas
por vírus pertencentes ao gênero Betacoronavírus da família Coronaviridae (PAULES et
al., 2020). De novembro de 2002 à julho de 2003 a Síndrome Respiratória Aguda Grave
(SRAG ou SARS, do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome) atingiu países Asiáticos,
9
Europeus e a América do Norte, resultando em 8.439 casos notificados, sendo 812 fatais.
A doença emergiu na China, na província de Guangdong e o SARS-CoV foi identificado
como o agente etiológico (KUIKEN et al., 2003). Uma década depois, no período de 2012
e 2013, surgiu o MERS-CoV, causador da Síndrome Respiratória do Oriente Médio
(MERS, do inglês Middle East Respiratory Syndrome), permanecendo este limitado à
Arábia Saudita, com poucos casos descritos em outros países (DE GROOT et al., 2013).
A partir de 12 de dezembro de 2019, foram relatados casos de pneumonia grave
e SRAG com etiologia não definida em Wuhan, cidade localizada na província de Hubei,
no centro da China. Foram testadas amostras de sete pacientes com sintomas graves da
infecção, admitidos na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Wuhan Jin Yin-Tan,
para investigação do agente etiológico. Tais amostras foram enviadas para o Instituto
de Virologia de Wuhan (WIV) e, através de testes moleculares como a Reação em Cadeia
da Polimerase em Tempo Real precedida de Transcrição Reversa (RT-qPCR) e testes
sorológicos como o Ensaio de Imunoabsorção Enzimática (ELISA), foi confirmada a
infecção viral dos pacientes por um vírus similar ao SARS-CoV e até então desconhecido.
O mercado de frutos do mar de Huanan foi considerado o local de origem desta infecção,
pois seis destes pacientes tinham vínculo com o mesmo, sendo entregadores ou
vendedores (ZHOU et al., 2020).
Inicialmente, esse novo vírus era denominado como 2019-nCoV. Diante da
percepção das semelhanças de sua estrutura com o agente etiológico da epidemia da
SRAG, o Grupo de Estudos de Coronavírus (CSG, do inglês Coronavírus Study Group)
pertencente ao Comitê Internacional de Taxonomia Viral (ICTV) nomeou o vírus atual
como SARS-CoV-2 (GORBALENYA et al., 2020). Em 11 de fevereiro de 2020, a
Organização Mundial de Saúde (OMS) denominou a patologia causada por esse novo
Coronavirus de Covid-19 (do inglês Coronavírus disease ou “Doença do Coronavírus”),
sendo o número 19 referente ao ano de ocorrência dos primeiros casos notificados
dessa infecção (WHO, 2020; FIOCRUZ, 2020). Em 11 de março de 2020, a OMS decretou
a pandemia pelo SARS-CoV-2, causador da Covid-19 (OPAS, 2020).
10
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
11
Nucleocapsídeo (N) com o material genético do vírus (ssRNA+), para proteção do
genoma (Figura 1A) (CRUZ et al., 2020).
12
presença de uma “cap” 7-metilguanosina na extremidade 5’ e uma cauda poliadenilada
(poli-A) na extremidade 3’. A replicase dos coronavírus é codificada por duas fases de
leitura aberta (ORFs, do inglês Open Reading Frames) que se sobrepõem (ORF1a e
ORF1b), ocupando dois terços do genoma e sendo diretamente traduzidas do RNA
genômico. Além disso, o genoma possui um grande número de pequenas ORFs
espalhadas entre os genes que codificam as proteínas estruturais (S, E, M, N e HE).
Independente da espécie de coronavírus, a ordem codificante do genoma é: 5’–
Replicase–S–E–M–N–3’ (Figura 2) (FUNG et al, 2019).
Após a sintese da replicase nas ORFs, o RNA viral positivo serve de molde para
um RNA negativo, que por sua vez, é utilizado como base para novos RNAs genômicos.
Além desse mecanismo, há outro para a produção de RNAs subgenômicos, responsáveis
pela tradução dos genes acessórios e estruturais durante o processo de transcrição e
replicação viral (FUNG et al, 2019).
Depois da produção das proteínas estruturais traduzidas a partir da ORF
5’ (ORF1a e ORF1b), a partícula viral é sintetizada com todos seus componentes no
Complexo de Golgi, transportada pela via secretora dentro de vesículas e excretada para
o meio extra celular por exocitose (Figura 3) (FUNG et al, 2019).
13
Figura 3 - Ciclo replicativo do SARS-CoV-2
Legenda: (1) adsorção do vírus ao receptor ECA2 e entrada nas células por endocitose, (2) fusão
do vírion com a membrana da vesícula e liberação do genoma viral, (3) codificação da replicase a partir
das ORFs 1a e 1b, (4) tradução de proteínas estruturais e acessórias, (5) montagem dos vírions no
Complexo de Golgi e (6) transporte das novas partículas virais pela via secretora para saída da célula por
exocitose. (Fonte: SHEREEN et al., 2020)
14
apresentaram sofrimento intra-uterino, resultando em cesárea de emergência e de
neonatos que ficaram na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal com falta de ar,
apresentando radiografia de tórax com turvação difusa, incluindo um caso fatal. Em
ambos os casos relatados, as gestantes testaram positivo para o SARS-CoV-2 (ZAIGHAM
E ANDERSSON, 2020).
A transmissão fecal-oral também não foi comprovada cientificamente.
Amostras fecais de indivíduos com Covid-19 apresentaram o RNA do SARS-CoV-2
detectável através da Reação em Cadeia pela Polimerase precedida de Transcrição
Reversa em tempo real (RT-qPCR). Entretanto, é importante ressaltar que esta técnica
detecta apenas o material genético do vírus, não a partícula viral infecciosa (BULUT e
KATO, 2020; LI et al., 2020). Outros estudos mostram que o vírus viável foi cultivado em
cultura celular a partir de fezes contaminadas (WANG et al., 2020), porém mais estudos
sobre o tema se fazem necessários para confirmar esse tipo de transmissão.
Shi e colaboradores (2020) verificaram um potencial de transmissão e
replicação do SARS-CoV-2 através de inoculação do vírus em animais que têm contato
próximo com humanos. Segundo os autores, porcos, galinhas e patos não são suscetíveis
ao vírus. Cães possuem baixa suscetibilidade. Furões apresentam alta suscetibilidade e
replicação viral localizada no trato respiratório superior. Os gatos possuem além da alta
suscetibilidade ao vírus, a replicação viral no trato respiratório inferior e a
transmissibilidade para outros gatos, o que os torna potenciais transmissores para
humanos e alvo de atenção para a vigilância epidemiológica da Covid-19 (SHI et al.,
2020).
Sobre a via parenteral, ainda não se sabe se o SARS-CoV-2 pode ser
transmitido por transfusão de sangue ou hemoderivados. Essa informação é
fundamental para evitar a transmissão do vírus pela doação de sangue por portadores
assintomáticos do vírus. Até o momento, foi encontrado apenas o RNA viral no plasma
ou soro (CHANG, et al., 2020; CHO et al., 2020).
15
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
DE GROOT, R. J., BAKER, S. C., BARIC, S. R. et al. Middle east respiratory syndrome
coronavírus (MERS-CoV): announcement of the Coronavírus Study Group.
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https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3700179/. Acesso em: 04 mai.
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CRUZ, M. P., SANTOS, E., CERVANTES, M. A. V. et al. COVID-19, una emergencia de salud
pública mundial. Revista Clínica Espanõla, 2020. Disponível em:
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https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2759815. Acesso em: 04
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SHI, J., WEN, C., ZHONG, G. et al. Susceptibility of ferrets, cats, dogs, and other
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10-20, 2020. Disponível em:
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SHEREEN, M. A., KHAN, S., KASMI, A. et al. COVID-19 infection: Origin, transmission, and
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WANG, W., XU, Y., GAO, R. et al. Detection of SARS-CoV-2 in different types of clinical
specimens. JAMA, v. 323, nº 18, p. 1843-1844, 2020. Disponível em:
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ZHOU, P., YANG, X., WANG, X. et al. A pneumonia outbreak associated with a new
coronavírus of probable bat origin. Nature, v. 579, p. 270-273, 2020. Disponível
em: https://www.nature.com/articles/s41586-020-2012-7. Acesso em: 04 mai.
2020.
19
CAPÍTULO II
RESUMO
20
1. INTRODUÇÃO
21
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
22
homóloga, ou do inglês, non-homologous end joining). A NHEJ ocorre naturalmente
através da inserção de nucleotídeos aleatórios, enquanto a HDR necessita de uma
sequência molde sintética para realizar os reparos de forma a reduzir possíveis erros e
mutações indesejadas (Le Cong et al. 2013, Yang et al. 2013).
23
utilização do CRISPR/Cas9 em modelos ex-vivo, que são preferencialmente utilizados
devido às implicações éticas da utilização de algumas terapias in vivo.
Alguns trabalhos relacionam a utilização do complexo CRISPR/Cas9 para
tratamento de câncer cervical causado por Papilomavírus Humano (HPV). O HPV-16 e o
HPV-18 estão entre os tipos virais mais perigosos, devido a sua capacidade
carcinogênica. Para estes vírus é de vital importância a expressão das oncoproteínas E6
e E7. Caso esta expressão não ocorra, isto resultará na apoptose das respectivas células
infectadas pelo vírus, bem como a aceleração de seu processo de envelhecimento
(DeFilippis et al. 2002). O mecanismo de ação da Cas9 neste trabalho está relacionado à
supressão da expressão destas duas proteínas em um sítio específico em células em
processo de oncogênese no colo do útero. Este knockout causa o aumento dos níveis
celulares de p53, gene responsável pela principal via de apoptose e de pRb (proteína do
retinoblastoma), encarregada do processo de aceleração do envelhecimento celular
(senescência) e inibe o crescimento tumoral do câncer cervical (Hu et al. 2014, Kennedy
et al. 2014).
24
teste desenvolvido por eles é capaz de detectar o material genético do ZIKV presente
em amostras de urina, sangue total, plasma, soro e saliva. Além de detectar o DENV em
sangue total, soro e saliva (Myhrvold et al. 2018).
Nesta técnica, chamada de SHERLOCK (Desbloqueio Enzimático-Específico de
Alta Sensibilidade, ou do inglês, Specific High Sensitivity Enzymatic Reporter UnLOCKing),
utiliza-se a Cas13, proteína associada ao CRISPR, que após realizar o corte específico do
RNA alvo, passa a clivar quaisquer moléculas de RNA não específico próximos a ela.
Portanto, é possível marcar essas moléculas com sondas, que serão visualizadas (através
de fluorescência) após o corte deste RNA não específico pela proteína Cas13, indicando
que anteriormente a Cas13 se ligou e clivou o RNA alvo (Gootenberg et al. 2017).
Embora, ainda hoje, a principal finalidade para a Cas9 não esteja relacionada ao
desenvolvimento de diagnóstico, o sistema CRISPR/Cas9 possui elevado potencial para
detecção de DNA. Portanto, Zhang e colaboradores (2018) desenvolveram algumas
técnicas que associam este sistema à tecnologia PCR (Reação em Cadeia da Polimerase,
ou do inglês, Polymerase Chain Reaction) (Wang et al. 2018, Zhang et al. 2018a).
Em um dos últimos trabalhos publicados por esta equipe, eles demonstraram o
desenvolvimento do Cas9/sgRNA-typing PCR, versão 3.0 (ctPCR3.0), sendo demonstrada
alta confiabilidade, especificidade e sensibilidade em detectar e identificar diversos
genótipos do Papilomavírus Humano (HPV). Para isso, foi desenhado um par de RNA
guia para os genes L1 (proteína estrutural do HPV) de 10 subtipos virais.
Inicialmente, para demonstrar a sensibilidade e especificidade da técnica, foi
realizado um experimento para detectar os genes do HPV em plasmídeos clonados. Esse
trabalho demonstrou que a técnica teve sucesso não apenas em detectar os genes,
como também em distingui-los. Além deste e de outros testes, através do ctPCR3.0, o
trabalho demonstrou a detecção e identificação dos genes L1 de diferentes subtipos do
HPV em 20 de 26 amostras (6 amostras verdadeiramente negativas) de células obtidas
a partir do muco cervical, indicando o grande potencial desta tecnologia. O ctPCR3.0
detecta e identifica o DNA alvo a partir do corte neste DNA provocado pelo Cas9/sgRNA,
que é observado a partir de uma PCR em tempo real (qPCR) (Zhang et al. 2018b).
Outro trabalho que demonstra a utilização do CRISPR para detecção e distinção
entre genótipos do HPV, também criou uma nova técnica para diagnóstico utilizando o
sistema CRISPR/Cas (Chen et al. 2018). Esta técnica, nomeada como DETECTR (DNA
25
Endonuclease Targeted CRISPR Trans Reporter), utiliza como proteína associada ao
CRISPR, a Cas12. Esta proteína age de forma semelhante à Cas13, com a diferença de
ser direcionada para o DNA alvo. A Cas12 se liga à fita dupla de DNA alvo e então, a partir
disso, passa a clivar indiscriminadamente qualquer fita simples de DNA nas
proximidades. Portanto, para utilização da Cas12 em diagnóstico, os pesquisadores
acoplam sondas às fitas simples de DNA que serão utilizadas no teste. A partir do
reconhecimento e clivagem da fita dupla de DNA alvo pela Cas12, esta passa a clivar as
fitas simples, liberando as sondas acopladas, que poderão ser visualizadas a partir de
fluorescência.
26
Para isso, utilizaram a dCas9, uma proteína Cas9 que perdeu sua função de
endonuclease, através de mutações. Portanto, essa proteína é capaz de se ligar
especificamente ao DNA alvo, no entanto, sem provocar clivagem desse material
(Guilinger et al. 2014). Após a ligação entre a dCas9 e o DNA alvo, ocorre uma alteração
do índice de refração, que aumenta a sensibilidade em comparação com o teste
realizado somente com o biosensor. Para a amplificação do ácido nucleico, é realizada
uma reação isotermal através da RPA. Ao buscar o DNA, o oligonucleotídeo iniciador se
liga ao DNA para permitir a sua extensão. Por outro lado, quando o alvo é um RNA, é
adicionada uma transcriptase reversa à reação de amplificação (RT-RPA), possibilitando
a transcrição do DNA complementar (cDNA) a partir do RNA. A dCas9 se liga ao produto
amplificado e aumenta o peso molecular na superfície do sensor, sendo medido através
da alteração do índice de refração. Como resultados, este trabalho demonstrou que o
biosensor mediado por CRISPR é capaz de distinguir os dois patógenos testados em
amostras de soro, indicando o potencial diagnóstico desta técnica (Koo et al. 2018).
27
mosaico do tabaco (TMV) e para o vírus do mosaico do pepino (CMV), ambos vírus de
RNA fita simples polaridade positiva. Para a realização desta pesquisa, foi construído um
vetor pCR01, derivado do plasmídeo pCambia1300, contendo a FnCas9 e o sgRNA
desenhado. Posteriormente, foi realizado um experimento no qual se injetou, nas folhas
de plantas Nicotiana benthamiana, bactérias contendo o vetor experimental e o vetor
controle junto de clones CMV. Os clones CMV foram injetados na parte superior da
folha, enquanto que os vetores foram injetados em áreas separadas na parte inferior da
folha. Alguns dias após a injeção foram colhidos fragmentos da parte inferior das folhas.
Através de RT-qPCR, foi verificado que o sgRNA-FnCas9 foi capaz de inibir o acúmulo do
vírus nas regiões injetadas. Para verificar resistência nas folhas de tabaco, foram
injetados nas folhas de N. benthamiana o vetor experimental e o vetor controle e, um
dia depois foi inoculado o CMV. Após duas semanas, as plantas nas quais foram
inoculadas o vetor controle apresentaram sintomas típicos da infecção. No entanto, em
plantas inoculadas com o vetor experimental não foi observado nenhum sintoma grave
relacionado à infecção por CMV.
28
observadas e testadas até a sexta geração. Com isso, todas as plantas testadas
demonstraram resistência ao CMV, sugerindo que o sgRNA-FnCas9 é capaz de gerar
plantas resistentes à vírus de RNA (Zhang et al. 2018c).
O CRISPR tem se mostrado uma ferramenta muito eficiente para diversos ramos
da ciência. Porém, embora ele esteja baseado em um sistema capaz de se ligar
especificamente ao alvo de interesse, proporcionando inúmeras possibilidades no
campo da terapia, diagnóstico, edição genômica, dentre outros, os pesquisadores ainda
acabam por esbarrar em alguns obstáculos.
29
CRISPR no alvo e sobre como cada vetor deve ser planejado, levando em consideração
as barreiras que podem ser encontradas (Lee & Kim 2019).
Além dos problemas relacionados aos vetores, também já foi observada ação da
resposta imune contra o RNA guia, a Cas9 e a Cas12, o que pode levar à redução da
eficiência do CRISPR, dano tecidual por inflamação e até mesmo formação de memória
imunológica (Mingozzi et al. 2007, Machitani et al. 2017).
A importância dos efeitos off-target no uso desta ferramenta também deve ser
levada em consideração, pois, embora o funcionamento do CRISPR tenha como princípio
se ligar à uma sequência de pares de base especificamente, ainda podem ocorrer
ligações inespecíficas. Essas ligações inespecíficas podem levar à ocorrência de
mutações indel não desejadas, na qual há inserção ou deleção de um nucleotídeo,
alterando a proteína a ser produzida por determinado gene, e ao rearranjo
cromossômico, uma alteração estrutural do cromossomo, e que pode levar à doenças
genéticas e ao desenvolvimento de câncer (Lee & Kim 2019).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diversos aspectos sobre o CRISPR ainda devem ser estudados para que esta
ferramenta possa ser utilizada em todo seu potencial, evitando desta forma, possíveis
problemas aos seres humanos. Ainda assim, desde seu descobrimento, houve inúmeros
avanços com a utilização desta técnica. Dentre os avanços, muitos estão relacionados
ao campo de estudo da virologia, área de pesquisa que se mostra extremamente
necessária por diversos motivos, como: dificuldades no tratamento de infecções virais;
necessidade de desenvolvimento de vacinas; prejuízos agrícolas causados por vírus; fácil
ocorrência de mutações no material genético viral; capacidade oncogênica de alguns
vírus; necessidade de métodos diagnósticos cada vez mais específicos e sensíveis; além
da facilidade de transmissão destes microrganismos através de insetos vetores,
principalmente em regiões tropicais, como é o caso do Brasil.
30
Deste modo, o complexo CRISPR/Cas pode ser capaz de agregar à pesquisas no
campo da virologia, proporcionando novas possibilidades para desenvolvimento de
terapias e métodos diagnósticos, além de possibilitar alterações genéticas em insetos
vetores e plantas que são parasitadas por vírus.
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34
CAPÍTULO III
Fluminense – UFF
5 Pesquisadora em Saúde Pública. Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia, Instituto Oswaldo Cruz
– FIOCRUZ
6 Pesquisadora em Saúde Pública. Laboratório de Virologia Molecular , Instituto Oswaldo Cruz - FIOCRUZ
RESUMO
35
1. INTRODUÇÃO
36
imunocomprometidos ocasionando potencialmente elevada morbidade (DUNMIRE et
al. 2015).
O Citomegalovírus Humano (HCMV), o Herpesvírus Humano 6 (HHV-6) e o
Herpesvírus Humano 7 (HHV-7) pertencem à subfamília Betaherpesvirinae. Os vírus
classificados dentro desta subfamília têm como principais características um número
restrito de hospedeiros, são citomegálicos, apresentam crescimento lento e infecções
latentes nas glândulas secretórias, nos rins e outros tecidos (REZAEI et al. 2016). São
vírus de fácil transmissão entre crianças no período pré-escolar (creches) e escolar por
via oral (secreções salivares) e a transmissão por transplantes de órgãos já foi observada
(LE et al. 2013; MOCARSKI 2004; POTENA et al. 2007). As infecções causadas pelo HCMV
demonstram alta prevalência no mundo todo, em crianças de 1 a 5 anos, pode ser baixa
(20,7%), mas em adultos de países em desenvolvimento se aproxima de 100% (DIOVERTI
et al. 2016). No Brasil foi encontrada uma soroprevalência para o HCMV de 96,4% em
estudo com doadores de sangue (SOUZA et al. 2010). O HCMV é transmitido
amplamente através da saliva, sangue, secreções genitais, urina e leite materno
(TRAVAN et al. 2016). Após a primo-infecção, geralmente assintomática ou como uma
síndrome semelhante à mononucleose infecciosa, o HCMV pode estabelecer latência
celular em monócitos e linfócitos, permanecendo no hospedeiro durante sua vida, com
possibilidade de ser reativado (IIDA et al. 2016). No entanto, são nos indivíduos
imunodeprimidos que este vírus causa doença clínica significativa e, ocasionalmente,
pode levar à morte se não tratada (DRAGO et al. 2014; SUN et al. 2015; SAI TIN et al.
2015; ADAMSON-SMALL et al. 2016). Embora exista tratamento com o fármaco
ganciclovir, o tratamento não representa uma cura para a infecção latente do HCMV
(DRAGO et al. 2015).
O HHV-6 e HHV-7 pertencem ao gênero Roseolovirus, são linfotrópicos (embora
possam infectar outros tipos celulares), altamente prevalentes e associados a doenças
exantemáticas (TANAKA et al. 1994; TOMOIU et al. 2006). Reativações são
intrinsecamente relacionadas ao estado imunológico do indivíduo, sendo comuns em
pacientes imunodeprimidos. A infecção pelo HHV-6 usualmente ocorre de maneira
assintomática na infância, e pode resultar em quadros de febre alta, diarreia, prurido e
exantema súbito (ES). Estudos mostram que 95% dos adultos possuem sorologia positiva
para HHV-6 (FREITAS et al. 1997; DE BOLLE 2005). Aos dois anos de idade, oito em cada
37
dez crianças já entraram em contato com o vírus, com pico de incidência entre 9 e 21
meses de idade (CLARK et al., 2002). Embora de uma forma mais rara, essa infecção
também pode causar convulsões febris e encefalite (ABLASHI et al. 2014 ONGRÁDI et al.
2017). No ES, ocorre febre alta nos primeiros 3 a 4 dias. Metade das crianças cursa com
temperatura acima de 40°C, que é uma das principais causas de convulsão febril. Após
o declínio da febre, as erupções cutâneas aparecem, iniciando-se no tronco ou região
cervical e disseminando-se para as extremidades.
O HHV-7 foi isolado pela primeira vez em 1990 de linfócitos TCD4+ por Frenkel e
colaboradores. É um vírus ubíquo com tropismo mais seletivo por células TCD4+, sendo
este o seu receptor. O HHV-7 pode ser observado em pele, glândulas salivares e outros
tecidos, assim como outros Betaherpesvírus (AGUT et al. 2017). O HHV-7 é transmitido
pela saliva, e alguns estudos apontam o aleitamento materno como uma potencial via
de transmissão (FUJISAKI et al. 1998). A prevalência deste vírus é bem alta, acima de
90% na população adulta (BENITO et al. 2003). A infecção primária por HHV-7 pode ser
assintomática, assim como para o HHV-6, mas já foi relatada sua associação a doenças
exantemáticas febris no Brasil (OLIVEIRA et al. 2003; FREITAS et al. 2004) e em casos
mais raros de encefalites e convulsões (embora menos documentadas). A infecção em
crianças ocorre gradualmente até quinto ou sexto ano de vida. No Reino Unido a maioria
dos casos de infecção por HHV-7 avaliada ocorreram aos 3 anos de idade (WARD et al.
2005), e no Brasil casos mais precoces (<1 ano) já foram relatados (OLIVEIRA et al. 2003).
As infecções causadas por Herpesvírus são muitas vezes assintomáticas,
benignas e autolimitadas, sendo a capacidade de permanecer em latência no
hospedeiro uma característica intrínseca a todos os integrantes da família Herpesviridae.
Em consonância com a latência viral, é esperada maior gravidade e reativações das
infecções herpéticas em pacientes imunossuprimidos, em faixas etárias específicas
como infância e senilidade, assim como durante a gravidez. Nos casos graves e não
tratados, as infecções por Herpesvírus podem levar o paciente ao óbito. O número
elevado de agentes etiológicos é um desafio para o diagnóstico exato, e
consequentemente para escolha adequada do tratamento do paciente com doença
exantemática. No contexto brasileiro em que diversos vírus emergentes como o vírus
Dengue, Chikungunya e Zika e a crescente elevação no número de casos de Sarampo
demandam a devida atenção dos órgãos públicos de saúde, as infecções herpéticas são
38
subestimadas e pouco diagnosticadas, afetando diretamente a saúde do paciente.
Apesar da maioria dessas doenças serem benignas e autolimitadas, algumas
representam um risco importante para certos grupos etários e situações clínicas
específicas, uma vez que podem evoluir com curso clínico mais grave. Por isso, é de
grande importância averiguar o diagnóstico etiológico que pode estar implicado nas
doenças exantemáticas virais, a fim de garantir um tratamento adequado e estabelecer
as medidas necessárias para o controle da doença.
2. METODOLOGIA
39
ao laboratório de análises clínicas da unidade, onde foi centrifugada a 2500xg por 15
minutos a temperatura ambiente para a obtenção do soro. As amostras de soro obtidas
foram armazenadas a uma temperatura de -20°C até o transporte para unidade
destinatária. As amostras biológicas foram acondicionadas, rotuladas, etiquetadas e
transportadas para o Laboratório de Virologia Molecular no Instituto Oswaldo Cruz de
acordo com as recomendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para
substâncias biológicas de categoria B (UN 3373).
O DNA viral foi extraído utilizando o kit comercial High Pure Viral Nucleic Acid Kit
(Roche, New Jersey, EUA) para as amostras de soro, de acordo com o protocolo do
fabricante. As amostras extraídas foram armazenadas a -70 ° C até o processamento.
40
2.5. qPCR multiplex para Betaherpesvírus
O kit AgPath-ID PCR (Life Technologies, Carlsbad, EUA) foi utilizado para
realização da qPCR. Foi preparado um mix com volume final de 25 µL, contendo 12,5 µL
de PCR Buffer 1x, 0,4 µL de oligonucleotídeos senso (3 µM) e 0,4 µL de oligonucleotídeos
anti-senso (3 µM) (HCMV/HHV-6/HHV-7) simultaneamente, além de 0,4 µL de sonda
específica (0,4 µM) para cada um dos Betaherpesvírus e 1 µL da enzima 25x, por amostra
testada. O volume de DNA incluído na reação foi de 5µL, 1uL da curva sintética padrão
(101-108 cópias/µL) para cada vírus e controles negativos também foram utilizados para
quantificação absoluta das cargas virais (Raposo et al., 2019)
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram incluídos neste estudo 54 participantes, com idade média de 1,95 ± 2,3
anos, sendo 34 (63,6%) do sexo masculino. Onze (20,37%) amostras foram positivas para
um dos Herpesvírus avaliados. O HHV-6 foi o vírus mais prevalente, sendo detectado em
6 (11,11%) das 54 amostras, seguido pelo HCMV que foi detectado em 5,5% (3/11) e o
EBV detectado em 3,7% (2/11) das amostras. O HHV-7 não foi detectado em nenhuma
das amostras. A distribuição da detecção dos herpesvírus, assim como a média da carga
viral de cada vírus, está descrita na tabela 2. Os exantemas foram observados em todos
os pacientes incluídos no estudo, o local de início e a progressão das lesões foram
avaliadas nos pacientes positivos e descritos na tabela 3. No momento da entrevista
foram relatados os sinais e sintomas dos pacientes. Os sinais e sintomas mais
41
prevalentes entre os pacientes infectados foram febre (81,8%), prurido (36,4%), diarreia
(27,3%), cefaleia, náuseas, vômito e mialgia (18,2%) e linfadenomegalia (9,1%).
Tabela 2. Prevalência e carga viral média para EBV, HCMV, HHV-6 e HHV-7 nos casos de doenças
exantemáticas.
Agente n positivos Prevalência Carga viral Idade média Sexo
etiológico (n/54) (%) média (anos)
(cópias/mL)
Feminino Masculino
HHV-7 0 - - - - -
Tabela 3. Características dos exantemas nos pacientes positivos para EBV, HCMV e HHV-6.
Agente Dias com exantema Início do exantema Progressão do exantema
etiológico (média)
EBV (n=2) >2 dias 50% Difuso pelo corpo 50% Difuso pelo corpo
50% Membros inferiores 50% Tronco
HCMV (n=3) >1 dia 33,3% Cabeça/Pescoço 100% Difuso pelo corpo
66,7% Tronco
HHV-6 (n=6) >2 dias 66,7% Cabeça/Pescoço 100% Difuso pelo corpo
33,3% Tronco
Fonte: Autoria própria.
42
e Sarampo, respectivamente, mas o diagnóstico molecular detectou a presença dos
vírus Epstein-Barr e HHV-6. Evidenciando a importância do diagnóstico diferencial e
laboratorial em pacientes com doença exantemática. A detecção qualitativa dos
Herpesvírus em soro é considerada suficiente para diagnosticar a infecção (GÄRTNER et
al. 2010; AGUT et al. 2015), no entanto, uma carga viral elevada tem sido relacionada a
maior gravidade da infecção nos casos pediátricos de ES (ASANO et al. 1991). No nosso
estudo, as cargas virais médias observadas para o EBV e HCMV foram maiores que
70.000 e 30.000 cópias/mL, respectivamente, e para o HHV-6 maior que 600.000
cópias/mL.
Este é o primeiro trabalho que retrata as cargas virais de herpesvírus em
pacientes com doenças exantemáticas. As cargas virais foram consideradas altas em
comparação as amostras de tecidos de doadores que detectaram cargas entre 102-103
cópias/µg para HHV-6 e EBV (SECCHIERO et al. 1995; CUI et al. 2020) , e em soro de
recém nascidos, 103-104 cópias/µL de HCMV (SCHÄFER et al. 1996).
Os pacientes positivos para EBV não apresentaram sintomas associados ao
exantema, exceto um paciente com linfadenomegalia. O exantema iniciou-se
disseminado ou nos membros inferiores, progrediu espalhando-se por todo o corpo. A
mononucleose infecciosa por EBV com surgimento de exantemas e febre, embora seja
mais comum em adolescentes e jovens adultos, pode ser vista também em crianças
(MUZUMDAR et al. 2019). Pacientes positivos para HCMV apresentaram febre (100%),
cefaleia, prurido e náuseas (66,6%); vômitos, mialgia e diarreia (33,3%). Os exantemas
surgiram nas regiões do tronco e da cabeça, progredindo de maneira disseminada pelo
corpo.
O Herpesvírus Humano 6 obteve a maior frequência de detecção entre os três
Herpesvírus avaliados, contudo, não foi possível fazer a comparação com outros
trabalhos no Brasil e no mundo, pois a maioria dos trabalhos que analisam doenças
exantemáticas fez apenas a detecção sorológica . Em 2008, Vianna e colaboradores
encontraram uma soroprevalência de 43,5% para HHV-6 de um total de 223 amostras,
na cidade de Niterói-RJ, com febre (93,8%) e exantema disseminado (90,7%) na maioria
dos casos. O perfil de sintomas associados a infecção por HHV-6 encontrado no atual
estudo conteve febre (100%), prurido e diarreia (33,3%); mialgia e vômitos (16,6%)
corroborando com os achados de Vianna e colaboradores. A maioria dos exantemas
43
(66,7%) nas infecções por HHV-6 teve início na cabeça ou pescoço e progrediu para todo
o corpo de maneira difusa, confirmando a descrição encontrada na literatura. Em nosso
estudo o HHV-7 não foi detectado, contudo Magalhães e col. em 2011, por meio da
técnica de Nested PCR, o detectou em 6,4% (9/141) de casos de DE em crianças (<4
anos). As diferenças encontradas na prevalência do HHV-6 e na ausência de detecção do
HHV-7 pode ter relação com número amostral maior utilizado nos estudos de 2008 e
2011, outro ponto relevante foi a triagem das amostras analisadas, pois ambos estudos
excluíram amostras previamente positivas para sarampo, rubéola, dengue e parvovírus
B19 no diagnóstico sorológico, diferente do nosso estudo que incluiu todos os pacientes
exantemáticos, sem diagnóstico etiológico prévio. A idade média encontrada para HHV-
6 (0,79), HCMV (2,91) e EBV (4,0) refletem os dados relatados na literatura, a infecção
por HHV-6 foi observada na maioria dos casos entre 6 meses e 3 anos em um estudo na
França (AGUT et al. 2017), o HCMV pode acometer crianças logo em seus primeiros anos
de vida (1 a 5 anos), devido a sua capacidade de transmissão por diferentes fluídos e alta
prevalência na população adulta, podendo ocorrer também a infecção congênita
durante a gravidez ou parto (DIOVERTI et al. 2016), na China foi relatada idade mediana
de 6 anos, com picos entre 4 e 6 anos para o EBV (GAO et al. 2011). É comum para o EBV
a ocorrência da infecção em uma faixa etária juvenil, por contato com secreções
salivares durante o beijo, porém o compartilhamento de objetos e alimentos entre
crianças pode ser uma via de transmissão, embora ainda não confirmada (DUNMIRE et
al. 2018).
4. CONCLUSÕES
44
AGRADECIMENTOS
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Novembro de 2020.
50
CAPÍTULO IV
RESUMO
51
Palavras-chave: Análise de literatura. Dengue. Saliva. Urina
1. INTRODUÇÃO
52
ser respondidas e auxiliar na criação de novos protocolos de diagnóstico, que sejam mais
rápidos, baratos e menos invasivos para o paciente.
Neste trabalho, buscou-se realizar o levantamento dos estudos publicados nas
três principais bases de dados de ciências médicas a respeito do uso da saliva e da urina
no diagnóstico da DEN.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
53
molécula e método de pesquisa, sorotipo e o tipo de infecção (primária ou secundária).
Todas as informações, bem como o título e autores dos trabalhos, foram inseridas na
base de dados Microsoft Excel. Após a montagem do banco de dados, foram
confeccionados os gráficos, tabelas e feitas as inferências.
3. RESULTADOS
Após a busca com os termos “dengue”, “urina” e “urine”, foram encontrados 166
artigos, sendo 87.3% na base de dados PubMed, 5.4% no Scielo e 7.2% no Lilacs. Do total,
14 trabalhos estavam duplicados e as cópias foram excluídas da análise, totalizando 152
artigos. Deste resultado, 135 trabalhos foram excluídos, principalmente terem como
foco outra infecção que não a DEN. Somente 17 trabalhos se enquadravam no critério
de inclusão e foram separados para posterior leitura na íntegra. A totalidade de artigos,
bem como os critérios de exclusão está explicitada no gráfico abaixo (Gráfico 1).
54
Gráfico 1 - Totalidade dos artigos encontrados utilizando os termos “dengue”, “urina” e “urine”,
duplicados, selecionados e excluídos.
Gráfico 2 - Volume de publicações no tema distribuído no período entre os anos de 2007 e 2019
(“dengue” AND “urine”).
55
trabalhos utilizaram amostras provenientes de indivíduos brasileiros, mais
especificamente do estado de São Paulo. A tabela 1 detalha o país de origem dos
indivíduos incluídos nos trabalhos selecionados.
Tabela 1 - Origem dos indivíduos incluídos nos estudos selecionados (“dengue” AND “urine”).
56
Tabela 2 - Informações pareadas referentes à amostra utilizada, molécula pesquisada e método
diagnóstico escolhido (“dengue” AND “urine”).
Tabela 3 - Sorotipos detectados e tipo de infecção (“dengue” and “urine”). NI: Não informado.
57
3.2. Dengue e saliva
Após a busca com os termos “dengue” e “saliva”, foram encontrados 163 artigos,
sendo 94.4% na base de dados PubMed, 1,8% no Scielo e 3,6% no Lilacs. Do total, 16
trabalhos estavam duplicados e as cópias foram excluídas da análise, totalizando 147
artigos. Deste resultado, 134 trabalhos foram excluídos, principalmente utilizarem a
saliva do vetor como amostra de pesquisa. Ao final da triagem, 13 trabalhos foram
separados para posterior leitura na íntegra. A totalidade de artigos, bem como os
critérios de exclusão está explicitada no gráfico abaixo (gráfico 3).
Gráfico 3 - Totalidade dos artigos encontrados utilizando os termos “dengue” e “saliva”, duplicados,
selecionados e excluídos.
58
Gráfico 4 - Volume de publicações no tema distribuído no período entre os anos de 1998 e 2017
(“dengue” AND “saliva”).
Tabela 5 - Origem dos indivíduos incluídos nos estudos selecionados (“dengue” AND “saliva”).
59
somente a saliva como amostra de análise. Onze trabalhos pesquisaram anticorpos nas
amostras, com predomínio da pesquisa por IgM e IgG, esta última pesquisada sozinha
em três trabalhos. Dois trabalhos investigaram a presença de NS1 nas amostras e apenas
um voltou-se para a pesquisa do RNA viral. Por conta da predominância da pesquisa por
anticorpos, a metodologia mais utilizada foi a sorológica, representada em sua maioria
pelo ELISA. Apenas dois estudos utilizaram a metodologia de RT-PCR para as análises. A
tabela 6 mostra as informações pareadas referentes à amostra utilizada, molécula
pesquisada e metodologia escolhida.
60
Tabela 7 - Sorotipos detectados e tipo de infecção (“dengue” AND “saliva”). NI: Não informado.
4. DISCUSSÃO
61
Após a triagem dos resultados da busca com os mediadores “dengue” e “urine”,
a maioria dos artigos foi excluída por ter como foco outra infecção que não a DEN. Esses
trabalhos tratavam quase que em sua totalidade da associação do ZIKV com a amostra
de urina e essa informação pode ser entendida por conta da forte associação desse
arbovírus com fluidos, como o sêmen, secreção vaginal e a própria urina (LAMB et al.,
2016; KURSCHEID et al., 2019). Em comparação, após o mesmo processo utilizando as
palavras chave “dengue” e “saliva”, a exclusão da maioria dos trabalhos encontrados se
deu pelo fato dos mesmos utilizarem a saliva do vetor, o mosquito Ae. aegypti, como
base das análises. De fato, diversos estudos já demostraram a importância de proteínas
presentes na saliva do vetor para o sucesso da infecção e da imunopatogênese, sendo
investigadas também para atuar em formulações vacinais (PINGEN et al., 2017;
MANNING et al., 2018).
Quando analisados os períodos de publicação, notou-se que trabalhos de DEN e
urina foram publicados entre os anos de 2007 e 2019, com média de 1 artigo por ano.
Observou-se um aumento na publicação no tema entre os anos de 2014 a 2016, com
média de 3 artigos por ano. Este dado pode estar relacionado à epidemia de ZIKV
ocorrida no mesmo período, que aumentou o interesse dos pesquisadores pela
utilização de secreções, como o sêmen, como amostras de diagnóstico (GORNET et al.,
2016). Já em relação aos trabalhos de DEN e saliva, observou-se um período de
publicação um pouco mais longo, entre 1998 e 2017. O volume de publicações mostrou
tendência contínua, com média de 1 trabalho por ano. Este fato pode estar relacionado
a já conhecida associação entre diversas infecções virais e a saliva, como no caso do
vírus da hepatite C, vírus da síndrome da imunodeficiência humana e vírus Epstein-Barr
(HERMIDA et al., 2002; CORSTJENS et al., 2016).
Em relação à localidade das amostras, pode-se observar que o continente
asiático concentrou o maior número de trabalhos. Além disso, não foram encontrados
trabalhos que utilizaram amostras de indivíduos africanos ou foram publicados no
continente africano. Esta informação pode estar associada ao fato que o perfil mundial
de produção científica é historicamente enraizado e pouco se alterou no decorrer das
décadas, embora o aumento de redes de colaboração tenha tido grande impacto no
desempenho de países emergentes, como os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África
do Sul). Apesar de apresentarem alto volume de publicação científica ao longo das
62
décadas, foram encontradas poucas produções com amostras oriundas da América do
Norte e da Europa. Este fato pode estar relacionado ao clima destas regiões, que não é
favorável à disseminação do vetor, embora a dinâmica da DEN venha mudando nos
últimos anos por conta dos efeitos do aquecimento global e da própria globalização
(WHO, 2014; WILSON & CHEN, 2015).
A idade dos participantes não apresentou diferenças relevantes, mantendo-se
entre 6 meses até 55-61 anos. Porém, quando analisada a quantidade de participantes
incluídos, notou-se uma grande diferença entre as buscas: em comparação com os
estudos de DEN e urina, cuja quantidade de participantes variou entre 1 a 293, estudos
de DEN e saliva contaram com a participação de até 7.048 indivíduos. Este fato pode
estar relacionado a facilidade maior da coleta de saliva em relação à de urina, já que não
necessita da higienização prévia do local e nem de um banheiro próximo (AQUINO et
al., 2020). Além disso, o recrutamento dos pacientes é também facilitado, uma vez que
costuma ocorrer na espera do atendimento para a coleta de sangue, quando o mesmo
já está em jejum (uma das únicas exigências para a coleta de saliva).
Após a seleção dos estudos relacionados à DEN e saliva, notou-se que a grande
maioria dos trabalhos analisou este espécime em conjunto ao plasma/soro ou sangue
total e três trabalhos utilizaram somente a saliva como amostra para o diagnóstico. Já
nos trabalhos relacionados à DEN e urina, notou-se que, além do soro e plasma e da
própria urina, a saliva também foi utilizada como amostra. Apenas um trabalho utilizou
somente a urina como amostra (VASANWALA et al., 2014). Infere-se, portanto, que a
maioria dos trabalhos que optam pela utilização de fluidos alternativos como amostras
de urina para o diagnóstico da DEN o fazem em conjunto com a saliva.
Como resultado de ambas as buscas, percebeu-se que os anticorpos foram as
moléculas de preferência no diagnóstico, com a presença também da pesquisa por NS1
e RNA viral. De fato, a pesquisa de anticorpos por ensaios imunoenzimáticos é a mais
utilizada na rotina, sendo vantajosa no diagnóstico quando não se sabe precisar o início
da infecção, fato que é comum no manejo de pacientes infectados pelo DENV, além de
ser menos custosa (MARTINS et al., 2014; SEKARAN & SOE, 2017). Portanto, já se
esperava que a metodologia escolhida pela maioria dos trabalhos de DEN e saliva fosse
a sorologia, representada na maioria dos casos pelo ELISA. Porém, nos trabalhos de DEN
e urina, percebeu-se também a detecção do RNA viral associada à pesquisa de
63
anticorpos. Isso está relacionado ao fato da excreção do RNA viral neste espécime
ocorrer de forma mais prolongada que na maioria dos fluidos (BARZON et al., 2013; MA
et al., 2014; GOURINAT et al., 2015). Portanto, nesses casos a metodologia de
preferência dos trabalhos foi a combinação entre sorologia e a RTqPCR.
Em relação aos sorotipos detectados, notou-se o predomínio de DENV-1, DENV-
2 e DENV-3. De fato, esses sorotipos são historicamente mais detectados nas pesquisas,
por conta das características epidemiológicas e da maior associação a quadros mais
graves (BALMASEDA et al., 2006; HERINGER et al., 2017), em comparação com o
sorotipo 4, que só foi detectado em conjunto aos outros três sorotipos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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66
CAPÍTULO V
¹ Mestranda em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI) -
FIOCRUZ.
RESUMO
67
Palavras-chave: Leishmaniose Tegumentar Americana. Métodos Diagnósticos. Revisão
da Literatura.
1. INTRODUÇÃO
68
formas promastigotas extracelulares, que se multiplicam no trato alimentar do vetor, e
formas amastigotas intracelulares que se multiplicam nas células mononucleares do
hospedeiro. O acúmulo gradual de mutações por divisão celular mitótica e/ou por
recombinação sexual produzem misturas de genomas (INBAR et al., 2019; ROUGERON;
DE MEEUS; BANULS, 2015). A ampla diversidade genética dos parasitos do gênero
Leishmania, sobretudo L. (V.) braziliensis, espécie de maior prevalência no Brasil, é
conhecida (CUPOLILLO et al., 2003; ISHIKAWA et al., 2002; PACHECO et al., 1990). Esses
organismos mostram plasticidade inter e intraespécies quanto ao número e tamanho
dos cromossomos (cariótipo molecular), e também no genoma mitocondrial, variando,
principalmente, no tamanho e organização dos maxicírculos. Diferentes padrões
epidemiológicos poderiam influenciar os níveis de variabilidade: amostras de L. (V.)
braziliensis da Amazônia demonstraram elevada heterogeneidade genética, o que foi
relacionado ao grande número de vetores e animais que atuam nos ciclos de
transmissão ali, ao contrário da Costa Atlântica do Brasil, onde as amostras indicaram
baixo nível de heterogeneidade (CUPOLILLO et al., 2003). No Rio de Janeiro, L. (V.)
braziliensis parece ser bastante homogênea (BAPTISTA et al., 2009).
O diagnóstico da LTA se baseia na apresentação clínica, no isolamento
parasitário por cultura, exames moleculares, sorologia e na visualização dos
protozoários através de exame direto ou de avaliação histopatológica, (CAVALCANTI et
al., 2013; PEDRAL-SAMPAIO et al., 2016; TSUKAYAMA et al., 2013).
O diagnóstico diferencial clínico e laboratorial para doenças como esporotricose,
tuberculose, paracoccidioidomicose entre outras, deve ser considerado (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2017).
69
culturas de leishmania spp. na derme do paciente. (CERUTTI et al., 2017; JOSÉ et al.,
2001).
A resposta imune celular se manifesta por um endurecimento cutâneo
resultante da aplicação intradérmica do antígeno de Leishmania, que pode ser medido
em milímetros (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2012; GUEDES et al.,2017). É utilizado como
método complementar ao diagnóstico por apresentar alta sensibilidade e especificidade
(ANTONIO et al., 2014; GUEDES et al., 2017), que variam de 86 a 100%, porém a
especificidade diminui pelo fato de ocorrerem reações cruzadas do coquetel de antígeno
utilizado. (ANDRADE et al., 2005; CERUTTI et al., 2017). E é de fácil execução e de baixo
custo, pelo fato de não requerer equipamentos sofisticados. (ANTONIO et al., 2014;
GUEDES et al., 2017).
2.2. Cultura
70
constitui método simples com sensibilidade superior à do exame histopatológico
(SOUSA et al., 2014), embora necessite de anestesia local e constitua um procedimento
exclusivo do profissional médico (MELLO; MADEIRA, 2015).
É o exame de primeira escolha para o diagnóstico de leishmaniose no Brasil. A
coleta do material pode ser feita pelo raspado da lesão, aspirado por agulha fina (PAF)
ou pelo lavado da cavidade nasal e oral. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).
Apresenta melhores resultados logo nas primeiras semanas da doença pelo fato
da contagem do parasito ser maior, porém sua sensibilidade diminui após a evolução
das lesões. (CERUTTI et al., 2017; HOSSEINZADEH; OMIDIFAR; LOHRASB, 2012).
71
diagnóstico diferencial com outras enfermidades. A imunohistoquímica é mais sensível
que a histopatologia convencional na visualização dos parasitos (QUINTELLA et al.,
2009).
Para a obtenção das biópsias é utilizado o “punch”, no qual fragmentos de 3 a 5
mm são retirados facilmente. O local deve ser limpo e o fragmento deve ser manipulado
sem que as estruturas sejam danificadas. Deve ser conservado em álcool. (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2017), facilitando a visualização do parasito, aumentando a especificidade
do teste. (CERUTTI et al., 2017; VIANA et al., 2013).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
72
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76
CAPÍTULO VI
RESUMO
As infecções pós-natais por Toxoplasma gondii podem ser responsáveis por lesões
retinianas, incluindo a América do Sul, onde há desfechos mais frequentes e graves
devido à diversidade genética do parasita. Objetivo: Descrever os níveis das citocinas
TNF-α, IFN-γ e TGF-β e o perfil clínico-epidemiológico de indivíduos com coriorretinite
por toxoplasmose no Sul do Brasil. Métodos: Foram avaliados doze pacientes com
coriorretinite, atendidos em serviços de oftalmologia da cidade de Maringá, Paraná,
submetidos a fundoscopia e análise sorológica para anti-T. gondii IgM e IgG, usando Elisa
MEIA e dosagem de TNF-α, IFN-γ e TGF-β usando ELISA. O grupo controle foi composto
por indivíduos saudáveis descritos por Conde et al 2013. Foram registrados dados
clínico-epidemiológicos. Resultados: Os pacientes avaliados tinham idade média de 29
anos, predomínio de acometimento unilateral, e três indivíduos com IgM anti-T.gondii
reativo, sendo duas crianças, com transmissão congênita e um, do sexo feminino, 20
anos, com infarto nodular. Os demais apresentavam apenas a presença do anticorpo IgG
anti-T.gondii. Os níveis médios de TNF-α e IFN-γ foram menores quando comparados
aos controles. O TGF-β, por outro lado, estava em níveis mais elevados, destacando-se
em um indivíduo adulto com IgM reativa e em outro paciente com imunodeficiência.
Todos eles tinham pelo menos um fator de risco. Conclusão: Indivíduos com
coriorretinite por toxoplasmose, geralmente unilateral e na idade adulta, com visão
turva, apresentaram diminuição dos níveis de citocinas inflamatórias e aumento das
citocinas antiinflamatórias. Estudos como esses são relevantes para auxiliar no
entendimento da evolução da coriorretinite toxoplasmática na América do Sul.
77
1. INTRODUÇÃO
2. MÉTODOS
Entre janeiro e dezembro de 2015, dez pacientes com queixas clínicas de visão
turva e história de toxoplasmose, e duas crianças cujas mães tiveram soroconversão
dessa zoonose durante a gravidez, foram atendidas em serviços de oftalmologia na
cidade de Maringá, Paraná. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Envolvimento de Seres Humanos (COPEP) do Centro Universitário Ingá (UNINGÁ), sob o
nº 301.312.
O exame oftalmológico consistiu na avaliação do fundo do olho por meio de
mapeamento retiniano, utilizando oftalmoscópio indireto Eyetec e lente Volk de 20
dioptrias, realizado por oftalmologista especializado. O exame foi realizado sob
midríase, utilizando colírio tropicamida 1% e fenilefrina 10% (Aleixo et al., 2009). Foco
de coriorretinite em atividade, caracterizado por lesões brancas na coróide e retina, com
ou sem exsudação vítrea, foram considerados características da toxoplasmose. O
78
sangue dos pacientes foi coletado para avaliação sorológica anti-T. gondii IgM e IgG, pelo
método Elisa MEIA (Abbot Diagnostics AxSYM®) e para dosagem de citocinas de TNF-α,
IFN-γ e TGF-β. Essas citocinas foram analisadas por meio do kit ELISA (Human / Mouse
ELISA Ready-Set Go, Bioscience, EUA), seguindo as recomendações do fabricante. As
sensibilidades de detecção do kit foram as seguintes: TNF-α: 4 pg / mL, IFN-γ 4 pg / mL
e TGF-β: 8 pg / mL. No momento da coleta, os pacientes não estavam em tratamento
quimioterápico.
Para a comparação entre os níveis de citocinas no soro de pacientes e indivíduos
saudáveis, usamos como grupo controle os dados publicados por Conde et al., 2013, que
mediram as mesmas citocinas no soro de indivíduos saudáveis usando o mesmo kit
usado neste estudo. A análise estatística foi realizada por meio da média aritmética e
desvio padrão das citocinas investigadas por meio do teste paramétrico T, com auxílio
do software Statistica Single User. Os valores considerados outliers foram
desconsiderados para a análise estatística. Dados clínico-epidemiológicos, como
lateralidade da infecção, queixa clínica, sexo, idade, hábitos alimentares como consumo
de frescal (leite in natura, queijo fresco), carnes mal cozidas, hortaliças ou frutas in
natura, fonte de água, local de residência, contato com gatos e manejo do solo.
3. RESULTADOS
79
Tabela 1: Dados clínico-laboratoriais de indivíduos com coriorretinite, Sul do Brasil.
80
Tabela 2. Níveis de citocinas (pg / mL) TNF-α, IFN-γ e TGF-β no soro de
indivíduos com toxoplasmose ocular recorrente, carnes mal cozidas e frescal do sul do
Brasil.
Controle* Casos
Citocina (n=97) (n=12) P
Média ± SD Média ± SD
TNF-α 21,4 ± 15,8 7,0 ± 2,1 0,0022**
INF-γ 136,8 ± 84,4 17,9 ± 8,6 0,0001**
TGF-β 422,4 ± 210,5 53,8*** ± 37,0 0,0001**
* Os sujeitos controle foram descritos por Conde et al 2013.
** Teste t significativo considerando nível de significância de 5%.
***Desconsiderou dois outliers de amostras
4. DISCUSSÃO
Os indivíduos deste estudo eram em sua maioria adultos com episódios crônicos
de reativação da coriorretinite por toxoplasmose, sendo a queixa principal
embaçamento unilateral da visão. Níveis séricos diminuídos de citocinas inflamatórias,
IFN-γ e TNF-α e antiinflamatórios, citocina TGF-β em comparação com indivíduos
saudáveis foram observados entre os pacientes investigados. Além disso, De-la-Torre et
al., 2013 observaram níveis reduzidos de IFN-γ no humor aquoso de pacientes com
toxoplasmose ocular na América do Sul, enquanto em pacientes europeus essa citocina
estava elevada. Meira et al., 2014, no Brasil, também observaram diminuição dos níveis
de IFN-γ no soro de pacientes com toxoplasmose ocular, mas aumento dos níveis de
TNF-α. Tais achados são consistentes com a hipótese de que cepas sul-americanas
podem causar toxoplasmose ocular mais grave devido à inibição do efeito protetor do
IFN-γ. Deve-se lembrar que as cepas de T. gondii observadas na América do Sul são
consideradas mais agressivas (Silveira et al., 2015), e as citocinas IFN-γ e TNF-α são
essenciais para a resposta imune do hospedeiro, no que se refere ao controle da latência
de infecção crônica e diminuição da carga parasitária (Goldszmid et al., 2012). A resposta
imune Th1 produz IFN-γ, TNF-α e outras citocinas, que têm a função de ativar
macrófagos (Costa-Silva et al., 2012) e controlar a replicação de taquizoítos, tanto na
fase aguda quanto na crônica da infecção (Leng et al., 2009). Já o TGF-β, com ação
antiinflamatória, é capaz de promover a redução da resposta Th1, o que pode aumentar
a patogênese do T. gondii.
81
No entanto, neste estudo, os níveis de todas as citocinas investigadas foram
diminuídos quando comparados aos controles. Os níveis de uma citocina podem ser
alterados de acordo com o patógeno que pode estimular as vias imunológicas Th1, Th2
ou Th17. A variabilidade genética do hospedeiro também é um componente altamente
relevante para a resposta imune individual e contribui para a suscetibilidade, evolução
e patogênese de várias doenças infecciosas.
Uma possível falha em nosso estudo foi a comparação dos dados das citocinas
com o grupo controle publicado anteriormente (Conde et al., 2013). Entretanto,
acreditamos que esse fato não influenciou, uma vez que os indivíduos controle
geralmente são pessoas saudáveis, sem processos inflamatórios, doenças autoimunes
ou imunodeficiências.
Os pacientes apresentavam pelo menos um fator de risco para infecção e não foi
possível estabelecer a provável causa da infecção. No entanto, o consumo de vegetais
crus, carnes cruas / mal cozidas, bem como leite cru e fresco são consumidos com
frequência. Além disso, Higa et al., 2010, também verificaram a prevalência desse
consumo entre gestantes com suspeita de infecção aguda por toxoplasmose na mesma
região. A maioria dos pacientes deste estudo não tem confirmação se a infecção foi
congênita, com início dos sintomas de reativação na idade adulta.
5. CONCLUSÃO
82
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
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84
CAPÍTULO VII
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
A NCC é caracterizada por uma infecção do SNC causada pela larva da Taenia
solium. Trata-se de uma doença negligenciada, diretamente relacionada a condições
sociossanitárias precárias, sendo prevalente em países subdesenvolvidos e em
desenvolvimento (AGAPEJEV, 2011).
O diagnóstico da patologia em questão é realizado por meio da TC e da RM da
cabeça. Vale ressaltar que além do diagnóstico por imagem, há também a análise
laboratorial do líquido cefalorraquidiano (LCR) (LANGE, 2019).
Existem quadros clínicos assintomáticos e sintomáticos. Dentre estes, a
convulsão é o sinal clínico mais característico da doença. No mais, o paciente também
85
pode apresentar cefaleia, náuseas, aumento da pressão intracraniana e até
acometimento do aparelho locomotor (DEL BRUTTO, 2013; SYMEONIDOU et al., 2013).
Diante do exposto, este artigo objetiva caracterizar os aspectos clínicos,
epidemiológicos e laboratoriais da NCC, discorrendo sobre a fisiopatologia da doença e
seu panorama no Brasil e no mundo, além de identificar critérios de avaliação e
diagnóstico com base em achados nas duas últimas décadas.
Foi realizada uma revisão de literatura, nos idiomas português, inglês e espanhol,
de produções científicas indexadas nas bases de dados eletrônicas SciELO e PubMed. Os
descritores utilizados foram “Neurocysticercosis”, “Clinical aspects”, “Epidemiological
aspects” e “cyst formation”. O período considerado foi de 2000 a 2020. A seleção dos
artigos deu-se, inicialmente, por meio da leitura e julgamento de títulos e resumos das
produções. As obras relevantes ao estudo foram lidas integralmente, restando 25
artigos norteadores.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. Epidemiologia
A zoonose conhecida por NCC caracteriza a infecção do SNC pela forma larval da
Taenia solium (MORALES et al., 2000). Essa doença está atrelada às condições
sociossanitárias precárias populacionais, sendo, dessa forma, considerada endêmica em
países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, como América Latina, África
Subsaariana, Índia e sudoeste da Ásia (CHAGAS et al., 2003). Cabe, ainda, destacar que,
devido aos fluxos migratórios globais, tem aumentado a incidência de casos em regiões
desenvolvidas, tais quais Estados Unidos e Europa (GARCIA et al., 2003).
Nesse sentido, em razão das crises socioeconômicas mundiais ocorridas nos
últimos anos, houve intensificação das migrações de populações, oriundas de regiões
historicamente endêmicas, as quais, na maioria das vezes, portadoras da Taenia solium,
acabam por levar a verminose para países em que não há grande incidência
(SYMEONIDOU et al., 2018).Ilustrativamente, temos o aumento da infecção por NCC em
crianças norte-americanas devido ao contato contínuo com babás contaminadas
provenientes do México (OLIVEIRA et al., 2018).
86
Além disso, conforme estudos realizados por Chagas MGL et al., a intensificação
do êxodo rural promoveu o aumento do número de casos em áreas urbanas. Isto é
favorecido pela baixa cobertura sanitária nas cidades. Outro fator também apontado
pelo referido autor é que o perfil do portador de NCC avaliado em sua pesquisa não
condiz com o perfil comum dos portadores dessa doença. A identificação de um
estudante universitário e um profissional liberal reproduz esse fato controverso
(CHAGAS et al., 2003).
A NCC acomete ambos os sexos em qualquer faixa etária, mas apresenta ligeiro
predomínio em homens. No entanto, quando afeta mulheres, o curso da doença
costuma ser mais agressivo em decorrência da resposta imunológica mais acentuada
nesse grupo devido a questões hormonais. Outrossim, quanto maior a idade do
paciente, menor a resposta imunológica, pois ocorre diminuição da quantidade de
leucócitos presentes no líquido cefalorraquidiano (LCR), o que pode implicar maior
quantidade de vermes encapsulados (cistos) (AGAPEJEV et al., 2007; FLEURY et al.,
2004).
A perpetuação da NCC deve-se ao saneamento básico ineficiente bem como aos
hábitos inadequados de higiene pessoal, que se relacionam diretamente com a
contaminação dos recursos hídricos e, consequentemente, com o surgimento de novos
casos (AGAPEJEV, 2003; WINKLER et al., 2009).Roman et al. estimam que a taxa de
mortalidade, em escala mundial, devido à NCC seja de 50.000 pessoas por ano (ROMAN
et al., 2000).
87
SNC, onde desencadeia a NCC (AGAPEJEV, 2003). A figura 1 ilustra o complexo teníase-
cisticercose.
Figura 1 – Ciclo da Taenia solium
88
Entretanto, quando ocorre em crianças, o período de incubação pode variar de poucos
meses a até 30 anos. Nesse grupo de pacientes, os sintomas mais frequentes são as
crises epiléticas, hipertensão intracraniana, encefalite e distúrbios psiquiátricos e
cognitivos (MORALES et al., 2000).Dentre os sinais psíquicos, temos depressão,
nervosismo, ansiedade e irritabilidade (AGAPEJEV, 2011).
Conforme a pesquisa de Rodrigues CL et al., o prejuízo cognitivo da NCC pode,
ocasionalmente, variar do prejuízo em um único domínio até a demência, a qual ocorre
apenas em pacientes com a doença ativa. Esse dano é mais notável durante a fase ativa
vesicular e menos predominante no estágio calcificado. Verificou-se, contudo, que pode
haver remissão dos sintomas cognitivos desde que os pacientes com lesões ativas sejam
tratados com farmacologia regular (anti-helmínticos), deixando de se enquadrar no
diagnóstico de demência (RODRIGUES, 2012).
A depender da localização do cisto, a NCC pode ser classificada como intra ou
extraparenquimal. A forma intraparenquimal é considerada a manifestação benigna da
doença, que mediante o elevado número de cistos, porém, pode caracterizar a NCC
massiva (Figura 2). Esta provoca convulsões descontroladas e deficiência cognitiva.
Quando o cisto invade o sulco lateral (fissura de Sylvian), ele se desenvolve a um cisto
gigante (Figura 3), causando hemiparesia. Já a forma extraparenquimal, caracterizada
pela fixação dos cistos nas cisternas basais (Figura 4 - A e B), ou seja, na região
ventricular, culmina em NCC racemosa, que pode desencadear doenças secundárias
como meningite neurocisticercótica e hidrocefalia (ODASHIMA e TAKAYANAGUI , 2006).
89
Figura 2 – NCC massiva
90
Figura 4 – Cistos extraparenquimais
91
Figura 5 – NCC espinal
92
concentrações de neurotransmissores. Essas manifestações acompanham o aumento
de glutamato, aspartato e ácido gama-aminobutírico (GABA) no LCR de pacientes com
cistos viáveis (BERTOLUCI e CAMARGO, 2015).
Com o decorrer do tempo, o cisto perde sua capacidade de modular a resposta
imunológica do hospedeiro e sua parede passa a ser atacada por células inflamatórias
do indivíduo; este momento é denominado estágio coloidal. Nesse, o hospedeiro passa
a apresentar convulsões e a resposta inflamatória muda ligeiramente, passando a ser
muito mais aguda (AGAPEJEV, 2017; LANGE et al., 2017; WHITE JR, 2000).
Decorrido este período, a resposta imune do indivíduo passa a ser extremamente
intensa, fazendo com que o cisto seja circundado por colágeno, ocasionando uma gliose
perilesional; este período é denominado estágio nódulo-granular. Juntos, o estágio
coloidal e o estágio nódulo-granular, formam o chamado período transicional
(AGAPEJEV, 2017; LANGE et al., 2017; WHITE JR, 2000).
Finalmente, o cisto é todo revestido em decorrência do processo de fibrose,
posteriormente é calcificado e então morre. Neste momento o hospedeiro permanece
apresentando convulsões frequentes e, além de gliose perilesional, também passa a
apresentar edema na região encefálica; este último estágio é conhecido como fase
calcificada (AGAPEJEV, 2017; LANGE et al., 2017; WHITE JR, 2000).
Segundo Christensen NM et al., em uma pesquisa envolvendo porcos, a presença
de cistos no tecido nervoso do hospedeiro estimula a resposta imunológica e, assim,
promove a deposição de colágeno do tipo I em torno do cisticerco, que pode estar
relacionada ao desenvolvimento de crises convulsivas. Desse modo, é possível inferir
que a quantidade de colágeno é diretamente proporcional ao grau de degeneração do
cisto (CHRISTENSEM, 2016).
93
detectou-se a NCC em 2,4% deles. Insta salientar, no entanto, que o referido percentual
pode ser subestimado, visto que nem todos os óbitos são submetidos a exames
necroscópicos. Cabe, ainda, destacar que, em pacientes assintomáticos, o cisticerco vivo
pode causar supressão ativa da resposta imunológica (LINO-JUNIOR et al., 2007;LINO
JUNIOR, 2002;SINGH et al., 2003).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
94
frequentes à maior parte destes indivíduos. Dentre as manifestações estão a epilepsia
de início tardio e o aumento da pressão intracraniana, além de doenças secundárias à
NCC, como hidrocefalia e meningite.
Por outro lado, embora os avanços acerca do que se sabe a respeito da doença
helmíntica que mais acomete o SNC no mundo tenham sido significativos, infelizmente
não são suficientes para erradicar a NCC em regiões endêmicas. Este fator decorre do
baixo investimento em mecanismos intervencionistas relacionados à saúde pública e ao
saneamento básico, haja vista que os exames laboratoriais necessários para
identificação da doença possuem custo elevado, e mesmo que essas aplicações fossem
viabilizadas, ainda não seriam suficientes para sanar a problemática em questão, posto
que é imprescindível a implementação de estruturas sociossanitárias dignas a todos os
indivíduos vulneráveis.
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97
CAPÍTULO VIII
RESUMO
98
1. INTRODUÇÃO
99
A Leishmaniose apresenta caráter ocupacional, sendo prevalente em homens com
transmissão domiciliar e/ou peridomiciliar (BRASIL, 2017; DATASUS, 2019; OMS, 2014).
No Brasil o tratamento é realizado utilizando o antimoniato pentavalente (Sb5+)
disponível sob a formulação de N-metilglucamina e administrado em miligramas por
quilograma de acordo com o peso corporal do paciente por dia (mg Sb5/Kg/dia). Por
produzir efeitos adversos bem significantes devido a sua composição química em alguns
casos onde não se obtém uma boa resposta ou seu uso seja impossibilitado deve ser
recorrido um esquema terapêutico com um fármaco alternativo geralmente utilizados
a anfontericina e a pentamidina porém ambos os fármacos apresentam reações
adversas frequentes tais como complicações renais, alterações cardíacas,
nefrotoxidade, hipoglicemia e diabetes mellitus (AGUIAR & RODRIGUES, 2017; BRASIL,
2017, GONTIJO & CARVALHO, 2003; SAMPAIO, 2013 FIOCRUZ, 1997).
As técnicas utilizadas para o diagnóstico são fundamentadas em exames clínicos,
testes parasitológicos, moleculares e imunológicos. O exame clínico é baseado nos
aspectos da lesão e nos sintomas apresentados pelo paciente, geralmente uma lesão
característica da patologia apresenta borda bem definida com aspecto granuloso sendo
confrontado com os aspectos epidemiológicos e o diagnóstico diferencial da lesão
(SCHUBACH et al., 2001; SKRABA et al., 2014).
O isolamento em cultura é feito com o material da biópsia inoculado em meio de
cultura NNN bifásico, utilizando Schneider suplementado com soro fetal bovino e,
antibióticos (penicilina e estreptomicina), acompanhadas diariamente. Na cultura é
possível observar formas infectantes ao vertebrado, a promastigota, sendo este método
o padrão de referência diagnóstica, contudo o tempo de execução pode chegar até
quatro semanas, além da possibilidade de contaminação por fungos (BRASIL, 2017;
GONTIJO & CARVALHO, 2003).
Na pesquisa direta das formas amastigotas utilizam-se os procedimentos de
escarificação da borda da lesão, ou impressão do fragmento de biópsia em lâmina nos
casos de LTA e, então observado em um microscópio óptico (BRASIL, 2017). No exame
histopatológico o material da biópsia é armazenado em formol e posteriormente corado
com hematoxilina-eosina, para análise baseada na presença do parasito no tecido.
Existem também testes sorológicos tais como, o ELISA e imunofluorescência indireta
(IFI) que avaliam a reação de anticorpos presentes no soro do paciente com antígeno de
100
Leishmania visualizados por espectrofotometria (BRASIL, 2017; MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2000).
Os ensaios baseados em PCR (Reação em cadeia da polimerase) constituem
atualmente a principal abordagem no diagnóstico molecular permitindo a detecção da
Leismania e sua caracterização em pesquisa. A técnica se baseia na amplificação de
determinada sequência de DNA através da enzima Taq DNA polimerase que sintetiza
seletivamente milhões de cópias. Para que a reação de PCR ocorra além do DNA das
amostras a serem analisadas são acrescentados os dNTP’s (desoxirribonucleotídeos
fosfatados) junto com o par de iniciadores e a enzima Taq DNA polimerase. Ainda são
adicionados o cloreto de magnésio (MgCl2) e o cloreto de potássio (KCl) que permitem
as condições necessárias para o funcionamento da enzima taq-polimerase. Esse mix de
reagentes é diluído em um tubo com a água ultrapura, e em seguida é colocado no
termociclador que regula as temperaturas adequadas para cada etapa da PCR (MULLIS,
1990; NOVAIS & PIRES-ALVES, 2004; SANTOS et al., 2014).
A PCR é dividida em três etapas: na primeira etapa a sequência de DNA é
desnaturada por um aquecimento de aproximadamente 95º C, em seguida a
temperatura diminui e se inicia a etapa de anelamento dos primers que se ligam as
regiões específicas e por último ocorre a adição das bases nitrogenadas através da
enzima Taq-polimerase, e esse processo ocorre na temperatura de 72ºC. O ciclo inteiro
se repede com o resultado da primeira reação gerando novas cópias do DNA (SANTOS
et al., 2014). No caso da cPCR (PCR Convencional), os resultados da amplificação são
revelados por eletroforese em gel e posteriormente visualizados por um equipamento
que emite luz ultravioleta (NOVAIS & PIRES-ALVES, 2004; SANTOS et al., 2014).
Com o avanço da tecnologia foram desenvolvidas diferentes variações baseadas
nos ensaios de PCR. A PCR em tempo real (qPCR) surgiu como uma metodologia
inovadora permitindo a visualização direta dos resultados durante a amplificação de
forma mais rápida e mais sensível em relação a PCR convencional, podendo até detectar
DNA em amostras com baixa carga parasitária (CABRAL, 2007; BRASIL, 2017; GONTIJO &
MELO, 2004).
As etapas da reação são baseadas no mesmo princípio do método convencional
o que difere é justamente a obtenção dos resultados, que são revelados através do
termociclador acoplado com um sistema que permite a detecção e quantificação da
101
fluorescência proveniente da amostra, após a extração do DNA, gerando curvas de
amplificação. Além de um computador com um software especifico para análise final,
dispensando assim o uso da eletroforese (AGNE et al., 2009; ARYA et al., 2005; NOVAIS
& PIRES-ALVES, 2004).
A qPCR garante menor risco de contaminação em comparação com outras
técnicas como o isolamento em cultura, na qual a sensibilidade acaba sendo afetada
pela frequente contaminação por bactérias e fungos, tanto pela manipulação, como da
própria microbiota proveniente da pele nas amostras de biópsia (MORAIS, 2015;
SANTOS, 2019).
Além da pequena quantidade necessária de material biológico, outro ponto
importante da PCR é a diferenciação dos agentes infecciosos, que pode ser feita pela
análise de polimorfismo dos alvos através da técnica do polimorfismo de comprimento
de fragmento (RFLP) (BHATTARAI et al., 2009). Os alvos são importantes pelas suas
sensibilidade e especificidade, características do ensaio que são intrínsecas a escolha
dos iniciadores, que podem resultar em falso positivo ou falso negativo (DENIAU et al.,
2003).
O Laboratório de Pesquisa Clínica e Vigilância em Leishmaniose (LaPClinVigiLeish)
utiliza na sua rotina diagnóstica o mecanismo da PCR baseado na amplificação de uma
região conservada dos maxi e mini círculos do cinetoplasto do parasito (KDNA) de 120
pares de base (PB), conhecida como KDNA PCR (FAGUNDES, 2010) sendo capaz de
evidenciar a presença do parasito na amostra de pacientes sem o amparo do cultivo in
vitro (BASANO & CAMARGO, 2004; BRASIL, 2017; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000).
A GP63 é uma glicoproteína encontrada na membrana das duas formas
evolutivas de diferentes espécies de Leishmania, e estão ligadas principalmente no grau
de virulência do parasito e no reconhecimento dos receptores de macrófagos. Além de
conferir proteção ao parasito contra enzimas citolíticas, este alvo molecular e suas
subpopulações (MSP) proporcionam a identificação da Leishmania sendo capaz de
discriminar as espécies do subgênero Viannia (SANTOS 2019; SILVA, 2010).
Outro alvo molecular disponível é a subunidade do rNA ribossomal (SSU-rNA)
que possui múltiplas cópias com uma alta conservação, presente em todas as espécies,
o que confere maior sensibilidade na detecção da Leishmania descartando assim casos
de falsos negativos. Como SSU-rNA possui regiões muito conservadas, ocorre uma
102
dificuldade frente a relações de filogenias principalmente as espécies do subgênero L.
(Vianna), sendo estas necessária à realização de sequenciamento como complemento
(SILVA, 2010; WINTER, 2010). A região dos espaçadores internos transcritos (ITS1 e ITS2)
é um alvo mais comum na identificação de espécies do Velho mundo como Europa e
Ásia. Com o auxílio de enzima de restrição é possível diferenciar algumas espécies que
circulam nas Américas, não sendo possível a diferenciação completa do subgênero
Viannia (SANTOS, 2019).
Muitos estudos mostram a eficácia da utilização de proteínas de choque térmico
como alvo molecular na caracterização específica de Leishmania. A HSP70 possui em
torno de 10 a 15 cópias podendo variar de uma espécie para outra. Graça e
colaboradores (2012) ainda descreveram quatro primers iniciadores ao longo do gene
HSP70, com sensibilidades variantes. Esta proteína está intimamente ligada a síntese de
proteínas, no controle de diferenciação entre as formas evolutivas, e desempenha um
papel fundamental na proteção do parasito contra fatores tóxicos, prevenindo sua
apoptose (GRAÇA et al., 2012; MONTALVO et al., 2017; SANTOS, 2019).
Com a ampla diversidade das técnicas e alvos moleculares disponíveis na biologia
molecular este trabalho propõe a descrição dos principais alvos moleculares utilizados
no diagnóstico das Leishmanioses e pesquisa científica, abordando suas principais
vantagens e finalidades aos seus propósitos.
2. METODOLOGIA
103
títulos e concordância com os descritores empregados. Em seguida foi realizada a leitura
completa dos textos e então selecionados aqueles em que a abordagem realmente se
relacionou ao diagnóstico molecular da LTA e os diferentes tipos de alvos moleculares
utilizados, sendo esse o principal critério de inclusão.
A estratégia de exclusão levou em consideração o período de publicação (2010 a
2020) e aqueles estudos que de certa forma não atendiam a temática. Ao final da análise
de dados foram utilizados 8 artigos em língua portuguesa e 10 em língua estrangeira
(inglês e espanhol). Entre os materiais selecionados para a composição utilizou-se
também 4 dissertações em português. As informações para a composição da revisão
foram obtidas primeiramente por uma pré-leitura seguida de uma leitura seletiva com
o intuito de analisar as informações fundamentais onde foram incluídas em um
apontamento contendo os dados importantes para a elaboração da revisão.
3. RESULTADOS
104
alvo kDNA sendo capaz de caracterizar as espécies L. (L.) infantum chagasi e L. (V)
braziliensis. Esse alvo mostrou algumas limitações em caracterização espécie-específica
não sendo possível caracterizar todas as espécies (COSTA, 2014; MARTINS, et al., 2010;
SATOW, et al., 2013).
Muitos estudos vêm propondo a utilização do protocolo HSP70PCR tanto na
detecção de Leishmania como a sua caracterização. GRAÇA, et al., (2012) desenhou
quatro primers iniciadores no gene HSP70 (A, B, C e D), ao qual a região C de 234 pares
de base apresentou maior desempenho em relação aos demais. Utilizando o alvo
HSP70c junto a PCR convencional seguido de enzimas de restrição (HSP70c PCR RFLP)
foi possível caracterizar espécies de Leishmania dos subgêneros Viannia e Leishmania.
Seguindo essa mesmo raciocínio MONTALVO, et al., (2016); MONTALVO, et al., (2017) e
SANTOS, (2019), utilizaram os protocolos de cPCR-HSP70 mostrando ainda um ótimo
desempenho em caracterização espécie-específica, identificando as espécies L.
panamensis, L. braziliensis, L. infantum e L. guyanensis.
Dos alvos disponíveis a região IGS rRNA parece possuir um bom potencial para
ser utilizado com alvo molecular e consiste em um dos alvos mais analisados
destacando-se o SSU-Rrna para caraterização e o ITS muito evidenciado pelo seu poder
discriminatório principalmente nas espécies do complexo L. mexicana, L. guyanensis e
L. braziliensis (GOES, 2019). Dois estudos utilizaram os ensaios baseados em cPCR-ITS
que mostraram alta sensibilidade para identificação dos gêneros sendo capaz de
discriminar o complexo donovani e complexo brasiliensis, mas assim com o kDNA, esse
alvo apresento limitações em caracterização espécie-específica (MOUTTAKI, et al., 2014;
SILVA, et al., 2017).
Além da eficácia em detectar DNA de Leishmania, a PCR tem sido largamente
utilizada na caracterização por meio de ensaios utilizando alvos específicos para a
espécie ou por meio da análise de RFLP (Polimorfismo do comprimento do fragmento
de restrição). A técnica de RFLP utiliza enzimas de restrição que digerem o produto
amplificado por PCR onde é possível analisar e distinguir as diferentes espécies
existentes de Leishmania bem como as suas variações genéticas (GOES, et al., 2019;
MONTALVO et al., 2012; SANTOS, et al., 2019).
Os estudos conduzidos por SANTOS, et al., (2019) e BONI, et al., (2017)
evidenciaram a eficácia dos protocolos qPCR-kDNA/HSP70 seguido de RLFP em
105
confirmar o gênero Viannia e caracterizar a espécie L. brasiliensis. O ensaio com qPCR-
kDNA/HSP70 apresentou em ambos os estudos alta sendibilidade de detecção do DNA
de Leishmania. SANTOS, et al., (2019) ainda permitiu a quantificação de DNA de
diferentes profundidades da lesão.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
106
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Parasitologia Veterinária, v. 16, n. 1, p. 5-9, 2007.
110
CAPÍTULO IX
¹ Técnica em Análises Clínicas pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio - Fiocruz
² Pesquisador do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas Médicas (LIPMED) do Instituto Oswaldo Cruz - Fiocruz
³ Professora-Pesquisadora do Laboratório de Educação Profissional em Técnicas Laboratoriais em Saúde (LATEC) da
Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio - Fiocruz
4 Professora-Pesquisadora do Laboratório de Educação Profissional em Técnicas Laboratoriais em Saúde (LATEC) da
RESUMO
111
1. INTRODUÇÃO
112
sensibilidade da infecção presente no hospedeiro. A utilização de metodologias
moleculares, tais como a PCR (Reação da Polimerase em Cadeia) e o sequenciamento de
DNA (Ácido Desoxirribonucleico) são empregadas na detecção deste parasita, visto que
permitem a identificação do DNA em ambas as fases da infecção chagásica (Avila et al,
1993; Moser et al, 1989).
Diante disso, este estudo teve como objetivo avaliar diferentes metodologias de
extração de DNA, usando o T. cruzi como modelo biológico na fase epimastigota em dois
ambientes distintos: laboratório de ensino de uma Escola Federal de Ensino Médio
Integrado ao Técnico e laboratório de pesquisa. Foi desenvolvida uma análise
comparativa entre as práticas de extração de DNA (DNAzol®, Trizol® e um método in
house baseado no artigo de Rotureau e colaboradores (2005)) a fim de verificarmos a
qualidade das técnicas desenvolvidas nestes dois ambientes distintos (Rotureau et al.,
2005). Para isto, a metodologia de escolha foi à extração de DNA, uma vez que a pureza
deste implica no sucesso das demais práticas na área da Biologia Molecular.
2. MATERIAL E MÉTODOS
113
al., 2005). Foi adicionado 200 µL de solução tampão de lise celular com incubação de 30
minutos a 65°C sob agitação de 1000 rpm.
Posteriormente foi adicionado 2 volumes (400 µL) de etanol absoluto (100%)
(SigmaAldrich®, EUA) à amostra. Após homogeneização, foi centrifugada durante
15minutos, a 4°C e 14000 rpm, com descarte do sobrenadante. O pellet foi seco a 65°C
por 15 minutos e foi adicionado 200 µL de tampão de ressuspensão.
114
Centrifugada a amostra, observaram-se três fases da solução: a primeira, aquosa
(incolor), contendo o RNA; a interfase branca e leitosa contendo principalmente DNA e
a fase inferior rósea contendo proteínas. A fase aquosa (fase superior) foi transferida
para outro tubo limpo para posterior extração de RNA. À fase orgânica (rosa), referente
à fase do nosso interesse, foram adicionados 300 µL de etanol absoluto (100%) (Sigma-
Aldrich®, EUA), com posterior homogeneização por inversão do tubo. As amostras foram
incubadas durante 3 minutos em T.A e centrifugadas durante 5 minutos a 4°C e 2000g.
O sobrenadante foi descartado após a centrifugação. Posteriormente, foi realizada a
fase de lavagem do DNA (pellet), na qual foi feita com 1 mL de solução de citrato de
sódio e etanol (0,1 m de citrato de sódio em 10% de etanol, pH 8,5), com posterior
incubação de 30 minutos a T.A. Passado o período de incubação, as amostras foram
centrifugadas durante 5 minutos a 4°C com velocidade de 2000g com subsequente
remoção do sobrenadante. Uma nova etapa de lavagem do DNA com solução de citrato
de sódio e etanol (0,1 m de citrato de sódio em 10% de etanol, pH 8,5) foi realizada
conforme supracitado.
Logo depois, foi adicionado 1,5 mL de etanol 75%, homogeneizado por inversão
e incubação durante 15 minutos a T.A, seguido de centrifugação por 5 minutos a 4°C sob
velocidade de 2000 g. O sobrenadante foi descartado e o pellet foi ressuspendido com
volume variando de 300-600 µL de NaOH 8mM (até que todo o material tenha sido
homogeneizado), homogeneizado e centrifugado por 10 minutos a 4°C de velocidade de
12000 g. Finalmente, o sobrenadante foi armazenado a - 20°C.
115
pôde ser realizada uma vez que instituição não possui centrífuga que permite tal
prática. Nesse caso, as amostras foram centrifugadas em T.A. Além disso, a prática de
extração de Trizol deve ser executada no interior de uma capela de exaustão e, nesse
caso, houve uma modificação no protocolo, uma vez que a capela disponível para uso
na instituição não possui luz ultravioleta (UV) e funciona como armazenamento de
reagentes de técnicas histológicas, fato de grande relevância quanto à uma possível
contaminação.
O tampão de preparo do gel e de corrida foi o TBE (Tris Borato EDTA) 0,5X. Os
géis foram corados com GelRed® 3X e posteriormente visualizados sob luz UV, e assim,
fotografados.
116
2.9. Gel de agarose
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
117
Tabela 1 - Quantificação por NanoDrop® do DNA extraído pelas diferentes metodologias nos ambientes
distintos
Laboratório de Ensino Laboratório de Pesquisa
Metodologias Amostra ng/µL 260/280 Amostra ng/µL 260/280
1 98,3 1,58 1 73,7 1,86
Trizol® 2 74,0 1,54 2 124,4 1,94
3 96,7 1,32 3 1087,8 1,88
1 351,5 1,97 1 554,2 1,80
2 308,6 1,98 2 1410,5 1,94
DNAzol®
3 399,4 2,00 3 1316,3 1,84
1 462,9 1,02 1 425,4 1,99
2 315,2 1,94 2 364,0 1,60
In house
3 377,8 1,90 3 212,2 1,66
Fonte: Elaborado pelo autor.
118
Figura 1 - Análise de Extração de DNA de T.cruzi na metodologia in house em gel de agarose Lowmelting
1%
Legenda: Análise por eletroforese em gel de agarose 1% (p/v) da extração de DNA de Trypanosoma cruzi,
cepa CL Brener, os quais foram extraídos com a metodologia in house. Poço M - marcador de peso
molecular de 1000 pares de bases (1 kb – DNA Ladder Sinapse Inc). Poço 1 DNA correspondente a 439, 26
ng; Poço 2 a 649,33 ng; Poço 3 a 859, 41 ng; Poço 4 a 1088,58 ng; Poço 5 a 1623,33 ng; Poço 6
correspondente a 2998,40 ng. A seta indica a região das bandas correspondentes ao DNA genômico.
A análise do gel, indicou que, apesar das concentrações 0,46 µg, 0,64 µg, 0,85
µg, 1,0 µg, 1,6 µg terem intensidades visuais próximas, a concentração de 1 µg foi
escolhida em virtude das metodologias usadas nesse trabalho fornecerem diferentes
graus de concentração de DNA.
Após a padronização da técnica, foi realizado um novo gel contendo as extrações
de DNA referente às três metodologias selecionadas , com a mesma concentração (1 µg)
a fim de comparar a qualidade dos fragmentos extraídos (Figura 2).
119
Figura 2 – Análise de Extração de DNA de T.cruzi nas metodologias DNAzol®, Trizol® e in house em gel de
agarose 1 %
Legenda: Análise por eletroforese em gel de agarose 1% (p/v) da extração de DNA de Trypanosoma cruzi,
cepa CL Brener, os quais foram extraídos pelos métodos DNAzol ®, Trizol® e in house. O poço M
corresponde ao marcador de peso molecular de 1000 pares de bases (1 kb – DNA Ladder Sinapse Inc).
Poço 1-3 Extração de DNA in house laboratório de pesquisa; Poço 4-6 Extração de DNA in house no
laboratório de ensino; Poço 7-9 Extração de DNA por DNAzol® no laboratório de ensino; Poço 10-12
Extração de DNA por DNAzol® no laboratório de pesquisa; Poço 13-15 Extração de DNA por Trizol® no
laboratório de pesquisa; Poço 16-18 Extração de DNA por Trizol® no laboratório de ensino. A seta indica
a região das bandas correspondentes ao DNA genômico.
120
(primer) da cisteíno-peptidase, uma enzima que possui um papel importante no fator de
virulência dos tripanossomatídeos relacionada à interação com as células de mamíferos
na relação parasito-hospedeiro (Mottram et al., 1998). O produto obtido foi um
fragmento de 115pb. A Figura 3 representa o conjunto de DNA extraído pela
metodologia in house e amplificado com os iniciadores da cisteíno-peptidase.
Legenda: Análise de Produto de PCR do gene cisteíno-peptidase por eletroforese em gel de agarose 1,5%
(p/v). As amostras de DNA de Trypanosoma cruzi, da cepa CL Brener, foram obtidas de acordo com o
protocolo da metodologia in house. Poço M - marcador de peso molecular de 100 pb (Thermo Fisher
Scientific); Poço 1-3 amostras de DNAextraídos no laboratório de Pesquisa; Poço 4-6 amostras de DNA
extraídos no Laboratório de Ensino; Poço 7: Controle positivo (não apareceu); Poço 8: Controle negativo.
A seta indica a posição da banda esperada de 115 pb.
121
Figura 4 – Análise de Produto de PCR Extração in house em Gel de poliacrilamida 10,5%
Em vista disso, foi possível observar que o fragmento de uma das triplicatas que
foi extraída no laboratório de pesquisa não apareceu no gel de agarose, porém pôde ser
visualizada no gel de poliacrilamida. Além disso, o rastro presente em uma das amostras
extraídas no laboratório de ensino no gel de agarose, não apareceu no gel de
poliacrilamida, eliminando a ideia de uma possível contaminação ou excesso de DNA
(Figuras 3 e 4).
122
Figura 5 – Análise de Produto de PCR Extração de DNA por Trizol ® em gel de agarose 1,5%
Legenda: Análise de Produto de PCR do gene cisteíno-peptidase por eletroforese em gel de agarose 1,5%
(p/v). DNA de Trypanosoma cruzi, cepa CL Brener, foram extraídos com a metodologia Trizol®. Poço M -
marcador de peso molecular de 100pb (Thermo Fisher Scientific); Poço 1-3 DNA extraídos no laboratório
de pesquisa; Poço 4-6 DNA extraídos na ESPJV; Poço 7: Controle positivo (não foi detectado); Poço 8:
Controle negativo. A banda esperada possui 115 pb.
Figura 6 – Análise de Produto de PCR Extração de DNA por Trizol ® em Gel de poliacrilamida 10,5%
Legenda: Análise de Produto de PCR do gene cisteíno-peptidase por eletroforese em gel de poliacrilamida
10,5% (p/v). DNA de Trypanosoma cruzi, cepa CL Brener, foram extraídos com a metodologia Trizol ®. Poço
123
M - marcador de peso molecular de 100pb (Thermo Fisher Scientific); Poço 1-3 DNA extraídos no
laboratório de pesquisa; Poço 4-6 DNA extraídos na ESPJV; Poço 7: Controle positivo; Poço 8: Controle
negativo. A banda esperada possui 115 pb.
Por fim, foi feita a análise da viabilidade dos produtos obtidos por amplificação
com iniciadores da cisteíno-peptidase das amostras extraídas pelo protocolo de
extração de DNA por DNAzol® (Figura 7).
Figura 7 – Análise de Produto de PCR Extração de DNA por DNAzol ® em gel de agarose 1,5%
Legenda: Análise de Produto de PCR do gene cisteíno-peptidase por eletroforese em gel de agarose 1,5%
(p/v). DNA de Trypanosoma cruzi, cepa CL Brener, foram extraídos com a metodologia DNAzol®. Poço Poço
M - marcador de peso molecular de 100pb (Thermo Fisher Scientific); Poço 1-3 DNA extraídos no
laboratório de pesquisa; Poço 4-5 amostra DNA extraídos no laboratório de ensino; Poço 6: Controle
positivo; Poço 7: Controle negativo. A banda esperada possui 115 pb.
A mesma análise foi feita por meio do gel de poliacrilamida, no qual podemos
observar que os produtos amplificados que foram detectados no gel de agarose,
também foram detectados no de poliacrilamida, com exceção do DNA extraído no
laboratório de ensino, na qual não foi aplicada por motivos de não possuir volume
suficiente. Além disso a amostra do poço 4, não foi detectada no gel de agarose, porém
no gel de poliacrilamida foi detectada de forma fraca, enquanto todas as outras
amostras foram amplificadas, o que confirma a viabilidade das amostras em questão
(Figuras 7 e 8).
124
Figura 8 – Análise de Produto de PCR Extração de DNA por DNAzol® em Gel de poliacrilamida 10,5%
Legenda: de Produto de PCR do gene cisteíno-peptidase por eletroforese em gel de poliacrilamida 10,5%
(p/v). DNA de Trypanosoma cruzi, cepa CL Brener, foram extraídos com a metodologia DNAzol®. Poço M -
marcador de peso molecular de 100pb (Thermo Fisher Scientific); Poço 1-3 DNA extraídos no laboratório
de ensino; Poço 4-6 DNA extraídos no laboratório de pesquisa; Poço 7: Controle positivo; Poço 8: Controle
negativo. A banda esperada possui 115 pb.
Figura 9 – Análise de Produto de PCR Extração de DNA por todas as metodologias (Trizol®, DNAzol® e in
house) em Gel de agarose 1,5%
Legenda: Análise da Produto de PCR do gene cisteíno-peptidase por eletroforese em gel de poliacrilamida
10,5% (p/v). DNA de Trypanosoma cruzi, cepa CL Brener, foram extraídos pelos métodos DNAzol®, Trizol®
e in house. Poço M - marcador de peso molecular de 100pb (Thermo Fisher Scientific); Poço 1-3 Extração
de DNA DNAzol® realizada no laboratório de pesquisa; Poço 4-6 Extração de DNA DNAzol® realizada no
laboratório de ensino; Poço 7-9 Extração de DNA por Trizol® realizada no laboratório de ensino; Poço 10-
125
12 Extração de DNA por Trizol® realizada no laboratório de pesquisa; Poço 13-15 Extração de DNA in house
realizada no laboratório de pesquisa; Poço 16-18 Extração de DNA in house realizada no laboratório de
ensino. Poço 19- Controle positivo; Poço 20 – Controle negativo. A banda esperada possui 115 pb.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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127
CAPÍTULO X
RESUMO
Corynebacterium striatum faz parte da microbiota normal da pele humana e tem sido
cada vez mais envolvido em várias doenças nosocomiais, incluindo infecções invasivas
fatais em pacientes imunossuprimidos e imunocompetentes. Entretanto, os casos de
infecções por C. striatum ainda são negligenciados, mesmo quando recuperados em
cultura pura de locais que deveriam ser estéreis, como o sangue. O isolamento de C.
striatum em laboratórios clínicos é difícil, por seu crescimento relativamente lento e
metodologia de identificação complexa, necessitando de uma grande quantidade de
métodos fenotípicos. O aprimoramento de técnicas microbiológicas e o estudo da
sobrevida de pacientes com doença de base e/ou imunossupressão, têm comprovado
que C. striatum é um agente etiológico de infecções nosocomiais, em diferentes níveis
de gravidade. A capacidade de alguns clones C. striatum de produzir biofilme, pode
contribuir para a persistência do patógeno e a disseminação da resistência
antimicrobiana no ambiente hospitalar. Além disso, a antibioticoterapia empírica pode
selecionar cepas multirresistentes e transferir horizontalmente genes intra e
interespécies. Esta revisão objetiva certificar o papel de C. striatum como patógeno
hospitalar multirresistente, cada vez mais associado a infecções graves com tratamentos
antimicrobianos recorrentes em pacientes hospitalizados, imunocompetentes e
imunocomprometidos, com doenças subjacentes.
1. INTRODUÇÃO
128
(LEHMANN e NEUMANN, 1896, p. 1907). Corynebacterium spp. são caracterizadas pela
presença de arabinose, galactose, ácido meso-diaminopimélico e cadeias curtas de
ácido micólico na parede celular, são aeróbicas, catalase-positivas, não esporuladas e
imóveis, que podem ser observadas por microscopia de luz como bastonetes Gram-
positivos irregulares (com morfologia celular pleomórfica, apresentando as formas
cocoides, bacilares ou filamentosas), individualizados ou agrupados em pares e/ou em
forma de paliçadas. Algumas espécies podem apresentar ácidos corinomicólicos e
grânulos metacromáticos como reserva de fosfato de alta energia (ex.: Corynebacterium
diphtheriae) (BIBERSTEIN e ZEE, 1994, p. 157-161; FUNKE e BERNARD, 2011, p. 413-442).
Durante muitas décadas, o potencial patogênico das corinebactérias foi
negligenciado, principalmente pela dificuldade na identificação e distinção entre
colonização e infecção, esses motivos levaram a escassez de relatos de infecções por
corinebactérias produtoras de toxina não-diftérica (difteróides - DT) (CAMELLO et al.,
2003; MARTINS et al., 2009). Corinebactérias DT isoladas de cultura pura tem sido
consideradas como patógenos oportunistas, que prevalecem em inúmeras condições
orgânicas, produzindo infecções graves. Entretanto, microbiologistas clínicos
erroneamente, ainda consideram DT como contaminantes de amostras clínicas, dando
importância apenas a C. diphtheriae o agente etiológico da difteria clássica, como a
única espécie patogênica do gênero. A atual valorização de corinobactérias como
agentes etiológicos, está intimamente relacionada a crescente atuação como agente
etiológico em doenças humanas, decorrente do uso de procedimentos invasivos, bem
como condições de pacientes hospitalizados por períodos prolongados, como idade
avançada, doenças neoplásicas, transplante de órgãos, síndrome de imunodeficiência
adquirida (AIDS), diabetes, antibioticoterapia prologada, além de procedimentos como
cateterismo, implantes protéticos e de válvulas cardíacas (MARTINS et al., 2009).
Até o presente momento, foram descritas 115-129 espécies do gênero
Corynebacterium (PARTE, 2014; ZASADA e MOSIEJ, 2018), distribuídas em diferenciados
ambientes, como solo, esgoto e superfícies de plantas (BAIO et al., 2013). Embora a
maioria das espécies estejam disseminadas no ambiente e como parte da microbiota
humana (anfibiôntica), pelo menos 50 espécies foram relatadas como agente etiológico
de infecções humanas (BERNARD et al., 2013; ZASADA e MOSIEJ, 2018), e estão
129
amplamente difundidas no ambiente hospitalar, possuindo grande importância médica
(FUNKE e BERNARD, 2011, p. 413-442; BAIO et al., 2013).
As corinebactérias vêm adquirindo crescente importância epidemiológica, em
países mais desenvolvidos e em desenvolvimento, pois as infecções causadas por esses
micro-organismos podem levar a óbito, tanto pacientes imunocomprometidos quanto
imunocompetentes. Além das corinebactérias produtoras de toxina, que são
amplamente conhecidas como patógenos humanos e animais como C. diphtheriae
(difteria humana) (JANDA, 1998; SCHRÖDER et al., 2012), C. pseudotuberculosis
(linfadenite caseosa em ruminantes) e C. ulcerans (difteria humana e zoonótica) (BAIO
et al., 2013), cepas DT tem demonstrado grande relevância clínica, por apresentarem
clones multirresistentes (MDR, multidrug resistant profile) e causarem infecções
hospitalares graves, entre elas, destacam-se C. afermentans, C. amycolatum, C.
jeikeium, C. pseudodiphtheriticum, C. striatum e C. urealyticum (RENOM et al., 2007;
MARTINS et al., 2009). Constantemente têm sido identificados clones apresentando
resistência natural e/ou adquirida a antimicrobianos como C. macginleyi, C.
minutissimum e C. xerosis, tanto em ambientes comunitários quanto em hospitalares
(RENOM et al., 2007; REDDY et al., 2012). Estudos tem demonstrado que a prevalência
desses clones MDR dependem da localização geográfica, além da constante aquisição
de genes de outras espécies, que conferem os fenótipos de resistência a novos
antimicrobianos (ZASADA e MOSIEJ, 2018).
Esta revisão objetiva certificar o papel de C. striatum como patógeno hospitalar
multirresistente, cada vez mais associado a infecções graves com tratamentos
antimicrobianos recorrentes em pacientes hospitalizados, imunocompetentes e
imunocomprometidos, com doenças subjacentes.
130
hospitalizados, sua disseminação entre pacientes através das mãos contaminadas de
profissionais de saúde tem sido um dado preocupante (MOORE et al., 2010; DÍEZ-
AGUILAR et al., 2013).
Um número crescente de casos de infecções invasivas por C. striatum são
relatados em indivíduos imunocomprometidos e imunocompetentes, incluindo:
bacteremia e sepse (RENOM et al., 2007; WONG et al., 2010), artrite séptica (CONE et
al., 1998; SCHOLLE, 2007), endocardite, meningite (WEISS et al., 1996; OLIVA et al.,
2010), osteomielite (FERNÁNDEZ-AYALA et al., 2001; SCHOLLE, 2007), sinusite
(HEIDEMANN et al., 1991), infecção pulmonar (RENOM et al., 2007; WONG et al., 2010)
e sinovite (CONE et al., 1998; SCHOLLE, 2007). Também tem sido identificado como
agente etiológico de abscessos hepáticos (STONE et al., 1997) e em mama (BOLTIN;
MARTINS et al., 2009), queratites/ceratite (HEIDEMANN et al., 1991), feridas em pele e
cirúrgica (MOORE et al., 2010), infecções intrauterinas (BOLTIN; CAMPANILE et al.,
2009), peritonites (BHANDARI et al., 1995), em pacientes acometidos por Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida (SIDA), câncer e transplantados (TARR et al., 2003; MARTINS
et al., 2009), por esse motivo atualmente é considerado por muitos pesquisadores um
patógeno muito virulento (OLIVA et al., 2010; DÍEZ-AGUILAR et al., 2013).
A identificação de C. striatum pode ser realizada através de métodos bioquímicos
convencionais (Anexo I), também disponíveis em sistemas semi-automatizados
(CAMELLO et al., 2003; JORGENSEN et al., 2015). Métodos moleculares como o
sequenciamento de genes 16S rRNA e rpoB geralmente são utilizados em Laboratórios
de Referência (BAIO et al., 2013). Atualmente, a identificação de espécies bacterianas
por espectrometria de massa oferece protocolos mais práticos e rápidos como o MALDI
(Matrix Assisted Lazer Desorption Ionization), seguido pela detecção em um analisador
do tipo tempo de vôo (TOF) e mass spectrometry (MS) (MALDI-TOF MS) (DÍEZ-AGUILAR
et al., 2013).
Avanços tecnológicos levaram a melhorias nas condições de sobrevivência de
pacientes imunocomprometidos, assim como o desenvolvimento de tecnologias de
identificação, possibilitaram o crescente número de relatos de casos na literatura sobre
infecções causadas por corinebactérias (LEE et al., 2005; BERNARD et al., 2013).
Na primeira década do século XXI (entre 2001 a 2010), C. striatum foi associado
a infecções nosocomiais, principalmente em pacientes imunodeprimidos, internados
131
por longos períodos em unidades de terapia intensiva (UTIs) e pelo uso de dispositivos
médicos invasivos como cateteres intravenosos (SUPERTI et al., 2009; WONG et al.,
2010). A utilização de múltiplos dispositivos médicos propiciou a colonização do trato
respiratório superior, com subsequente infecção invasiva. Portanto, esse microrganismo
deve receber atenção especial, principalmente quando isolado em cultura pura de
materiais clínicos, coletados de pacientes cronicamente debilitados e/ou fazendo uso
de dispositivos invasivos (RENOM et al., 2007; WONG et al., 2010). Esta bactéria foi
descrita como agente etiológico de infecções no trato respiratório inferior em pacientes
hospitalizados com doença respiratória crônica e imunossupressão (DÍEZ-AGUILAR et al.,
2013).
C. striatum é um patógeno capaz produzir surtos em ambiente hospitalar (BAIO
et al., 2013), sendo constantemente isolado em pacientes e em diversos materiais
hospitalares, como de assistência respiratória, urológicos, broncoscópios, cateteres,
colonoscópios, laparoscópicos e nasofibroscópios (SCHOLLE, 2007; OLIVA et al., 2010).
Infecções causadas por esse microrganismo já foram relatadas em pacientes do setor de
oncologia pediátrica do St. Jude Children's Research Hospital (Tennessee, EUA), com
progressão para bacteremia (ADDERSON et al., 2008). Estes pacientes tiveram
complicações decorrentes dessas infecções, com recorrência e progressão para artrite
séptica (ADDERSON et al., 2008). Sendo o primeiro caso de infecção no trato urinário
por C. striatum em paciente ambulatorial, com ausência de fatores predisponentes foi
relatado por López et al. (2009) (LÓPEZ et al., 2009).
132
consequentemente, a limitações nas opções de tratamento, por esse motivo, a
descoberta de novos fármacos com propriedades bactericidas torna-se cada vez mais
necessária. Nos últimos 40 anos, apenas dois medicamentos foram introduzidos no
mercado: a linezolida e daptomicina (CAUMO et al., 2010).
A disseminação de microrganismos multirresistentes no ambiente hospitalar
tem sido motivo crescente de preocupação, devido ao aumento na taxa de resistência
adquirida aos antimicrobianos β-lactâmicos, clindamicina, eritromicina, ciprofloxacino e
gentamicina por espécies de Corynebacterium, tornando a utilização da vancomicina
último recurso terapêutico. Até o momento, a vancomicina, teicoplanina e linezolida são
as drogas mais ativas in vitro contra as corinebactérias (YOON et al., 2011; REDDY et al.,
2012). Exceto pela eficaz atividade da vancomicina contra as corinebactérias, a
variabilidade na aquisição da resistência a outras classes de antimicrobianos ressalta a
necessidade de contínua vigilância dos perfis de resistência dessas espécies (WEISS et
al., 1996).
Embora a maioria das cepas C. striatum descritas até o momento sejam
suscetíveis a uma ampla variedade de antibióticos (WEISS et al., 1996), foi relatado que
a pressão seletiva exercida pelos tratamentos prévios com antimicrobianos, induziu o
crescimento de C. striatum como segundo microrganismo corineforme mais prevalente
em pacientes imunocomprometidos. Neste sentido, a identificação de cepas MDR é
motivo de grande preocupação (ADDERSON et al., 2008; CAMPANILE et al., 2009).
Entretanto, os critérios de avaliação de susceptibilidade aos antimicrobianos para as
corinebactérias ainda não são padronizados, alguns autores sugerem que sejam
relatados os casos de resistência total aos antibióticos, ou seja, ausência de qualquer
zona (halo) de inibição em teste de susceptibilidade a antimicrobianos (TSA), pelo
método de disco-difusão em meio ágar Mueller-Hinton (MHA), a fim de entender o
comportamento das diferentes espécies desse gênero sob exposição as drogas utilizadas
no tratamento de infecções (DÍEZ-AGUILAR et al., 2013).
Um número crescente de relatos de infecções por clones de C. striatum
multirresistentes tem sido documentado em pacientes hospitalizados (BOLTIN et al.,
2009; WONG et al., 2010) em diversos países, como: Itália, Espanha, Holanda, Estados
Unidos, China e Japão (ADDERSON et al., 2008; CAMPANILE et al., 2009). Entretanto, em
países em desenvolvimento, incluindo os países da América Latina, as notificações de
133
infecções por C. striatum permanecem ocasionais (CAMELLO et al., 2003; SUPERTI et al.,
2009). Este fato pode estar relacionado com a dificuldade que a maioria dos laboratórios
desses países enfrentam, para realizar a identificação precisa de bastonetes Gram-
positivos irregulares, devido à necessidade de profissionais capacitados para o
isolamento e identificação de microrganismos de crescimento lento. Adicionalmente, a
exigência da utilização de muitos testes fenotípicos e a necessidade de procedimentos
sofisticados e onerosos de difícil acesso, dificultam e, por vezes, impossibilitam a
identificação de espécies corineformes em laboratórios desprovidos de recursos
(PIMENTA et al., 2008; TORRES et al., 2013).
No Japão, Otsuka et al. (2006) relatam taxas variáveis da susceptibilidade de C.
striatum aos β-lactâmicos e aminoglicosídeos, além de elevados níveis de resistência à
eritromicina, tetraciclina, rifampicina e ciprofloxacina, embora todas as cepas isoladas
tenham sido suscetíveis à vancomicina. Através da análise por Pulsed-field Gel
Electrophoresis (PFGE) foram identificados 14 pulsotipos de C. striatum, onde os
pulsotipos descritos como A, D e E foram associados a surtos nosocomiais de origem
respiratória, e os subtipos A1, A2, D2 e E foram associados a resistência a ampla
variedade de antimicrobianos (OTSUKA et al., 2006).
Na Espanha, Renom et al. (2007) observaram que 100% das cepas de C. striatum
isoladas de surtos nosocomiais eram multirresistentes, ou seja, apresentavam
resistência a três ou mais antimicrobianos de diferentes classes, dos quais 65% eram
resistentes a quatro ou cinco classes de antibióticos, sendo 6,9% suscetíveis apenas a
imipenem e vancomicina, 11% suscetíveis somente à vancomicina (RENOM et al., 2007).
Na América do Sul, o Brasil tem notificado o isolamento de C. striatum em
materiais hospitalares utilizados por pacientes internados com sinais e sintomas de
infecção (MARTINS et al., 2009). Em 2009 este agente deflagrou um surto no Hospital
Universitário Pedro Ernesto, Rio de Janeiro, Brasil; onde cepas C. striatum foram isoladas
em UTIs e enfermarias cirúrgicas, principalmente em aspirados traqueais de pacientes
submetidos a procedimentos de intubação endotraqueal e, em sua maioria foi
multirresistente. Cerca de 87% das cepas pertenciam aos pulsotipos I e II, e foram
relacionadas com óbito de 5 pacientes infectados. Surpreendentemente, apenas os
pacientes adultos encontravam-se colonizados por cepas multirresistentes e 50%
tinham idade superior a 50 anos. As infecções por esses clones multirresistentes
134
assustadoramente foram correlacionadas com óbito dos pacientes (BAIO et al., 2013).
Outra investigação no Brasil, revelou que cepas clínicas oriundas de pacientes com
câncer sob tratamento, em um centro de referência no Rio de Janeiro, foram
identificadas como C. striatum, isoladas de diferentes sítios de colonização, incluindo o
trato respiratório superior e inferior, e feridas cirúrgicas, comprovando assim a
eficiência desse microrganismo como um patógeno nosocomial (MARTINS et al., 2009).
Atualmente não há nenhum banco de dados disponível para C. striatum, tais
como PulseNet (http://www.cdc.gov/pulsenet), que permita a comparação dos padrões
de PFGE observados em diferentes surtos nosocomiais. Estudos realizados por
Campanile et al. (2009), demonstraram perfis SwaI-PFGE de C. striatum com bandas
variando de tamanho entre 48.5 a 533.5 kb (CAMPANILE et al., 2009). Baio et al. (2013),
demonstraram perfis SwaI-PFGE de C. striatum com bandas variando de tamanho entre
97.0 a 533.5 kb (BAIO et al., 2013). Uma análise comparada entre os dois surtos, revela
ausência de bandas variando de tamanho entre 48.5 a 97.0 kb, sugerindo que as cepas
MDR isoladas no surto brasileiro por Baio et al. (2013) diferem das cepas MDR isoladas
no surto italiano por Campanile et al. (2009) (CAMPANILE et al., 2009; BAIO et al., 2013).
Além disso, a análise dos perfis fenotípicos das cepas C. striatum brasileiras,
demonstram diferenças ao serem comparadas com cepas isoladas em um surto na
Holanda (biótipo: nitrato/pyz - positivos e sacarose - negativo) (BRANDENBURG et al.,
1996).
Os mecanismos de tolerância e resistência de C. striatum ainda não estão
completamente elucidados, entretanto, sabe-se que a baixa permeabilidade da parede
externa, o grande conteúdo lipídico e a capacidade de formar biofilme podem contribuir
para a tolerância a diversos agentes antimicrobianos (FONTANA, 2008; LORENA et al.,
2009).
135
consequentemente, elevam os custos no tratamento, com consequências irreparáveis
do ponto de vista humano, econômico e social. Costumeiramente, nas UTIs os índices
de infecções são mais elevados do que nos demais setores hospitalares, como resultado
da interação entre microrganismos, superfícies infectadas que servem de reservatório
de patógenos e deficiência imunológica dos pacientes (ANVISA, 2000).
O ambiente hospitalar destina-se a recuperação da saúde do paciente,
entretanto há uma preocupação mundial com o controle desses ambientes em razão
das recorrências de surtos de infecções, causadas por várias espécies microbianas
multirresistentes. A eliminação de surtos epidêmicos, requer uma rigorosa
descontaminação do ambiente hospitalar, dependente de procedimentos e rotinas
específicos, empenho e treinamento técnico especializados para essa finalidade
(ANVISA, 2014).
Para o combate das doenças infecciosas responsáveis por surtos epidêmicos, é
necessário ter um ambiente controlado, devendo levar em consideração o controle de
terapias antimicrobianas com uso racional de antibióticos, possuir gerenciamento ou
gestão por uma Comissão de Controle de Infecções Hospitalar (CCIH) responsável por
padronizar rotinas e protocolos com treinamento de funcionários, selecionando agentes
químicos descontaminantes, aplicando técnicas atualizadas de limpeza,
descontaminação e desinfecção, com a constante avaliação da eficácia desses agentes
com testes padronizados pela ANVISA (ANVISA, 2004).
Dentre os fatores que contribuem para que C. striatum possa causar infecções
hospitalares destacam-se: transferência de genes de resistência, uso inadequado e
irracional de antimicrobianos promovendo a seleção de bactérias resistentes,
ineficiência na limpeza e descontaminação das superfícies hospitalares e materiais
utilizados nas áreas críticas (centro cirúrgico, de esterilização, hemodiálise, lactário,
tratamento de queimados, necrotério, laboratório e expurgo) e semi-críticas
(enfermarias, quartos, ambulâncias, ambulatórios) (RUTALA et al., 1996; VERMELHO et
al., 2008). Procedimentos invasivos realizados em ambientes nosocomiais,
especialmente em setores críticos, podem contribuir para infecções relacionadas à
assistência à saúde (IRAS). Apesar dos procedimentos de esterilização e de técnicas de
assepsia mais avançadas, as infecções associadas a dispositivos hospitalares ainda
representam um grave problema, em parte, pelo desenvolvimento de resistência aos
136
antimicrobianos pelas bactérias (RENOM et al., 2007). Relatos constantes de
transmissão de agentes infecciosos em procedimentos invasivos, são decorrentes de
ineficiência na limpeza e desinfecção do ambiente cirúrgico, mas principalmente da
reutilização de materiais hospitalares sem a devida descontaminação (HOWIE et al.,
2008).
Diversos agentes químicos podem ser utilizados para controlar o crescimento
bacteriano nos ambientes hospitalares, tanto na presença quanto na ausência de
matéria orgânica, contudo, nenhum deles isoladamente são capazes de eliminar 100%
dos microrganismos e nem todos são apropriados para todas as circunstâncias, seja em
superfícies bióticas ou abióticas (VERMELHO et al., 2008). A escolha dos agentes
químicos apropriados para cada tipo diferente de desinfecção, bem como o modo de
desinfecção utilizado para cada tipo de superfície é fundamental para obtenção de um
ambiente hospitalar controlado com mínimo risco de infecções (RUTALA et al., 2008, p.
6).
Dentre os componentes que podem ser utilizados como desinfetantes no
ambiente hospitalar, destaca-se o glutaraldeído (GA) pelo seu amplo espectro, atuando
contra bactérias, Gram-positivas, Gram-negativas, micobactérias (especialmente,
Mycobacterium tuberculosis), alguns vírus, fungos e seus esporos causadores de
infecções hospitalares. A atividade microbicida desse agente advém da alquilação de
grupos sulfidrila, hidroxila, carboxila e amino dos microrganismos, alterando seu DNA,
RNA e síntese de proteínas, com consequente ação inibitória sobre o transporte e
sistemas enzimáticos, onde o acesso do substrato à enzima é comprometido. Por outro
lado, a atividade esporicida do glutaraldeído está relacionada a interação com a
superfície do esporo, provocando o endurecimento das camadas externas. A solução a
2%, em pH 8.0 (glutaraldeído ativado/alcalino) tem sido utilizada em muitos hospitais,
para desinfecções de materiais com fins cirúrgicos nos ambientes críticos e semicríticos,
que não podem ser submetidos ao calor (borracha e plásticos), principalmente por ser
um produto químico não corrosivo, mas infelizmente, sua utilização é limitada a
desinfecções de alto nível devido a sua toxicidade (LORENA et al., 2009).
Outro agente químico de destaque é o ácido peracético, que possui alto poder
oxidante em componentes celulares, agindo sobre a membrana citoplasmática e
desativando as funções fisiológicas, incluindo a barreira osmótica. O seu uso foi sugerido
137
como alternativa para substituir o gluteraldeído na desinfecção de materiais em
ambientes críticos e semicríticos, pela eficácia contra diversos microrganismos, ação
bactericida, tuberculocida, virocida, fungicida e esporocida, mesmo na presença de
matéria orgânica (SATTAR e SPRINGTHORPE, 2001, p. 80-86; McDONNELL, 2007).
Entretanto, possui como desvantagens, o tempo reduzido de ação pós-diluição (uma
solução a 1% perde a atividade em seis dias por hidrólise ou oxidação na presença de
ferro e cobre), baixa estabilidade em estoque e manuseio especializado, por possuir
atividade corrosiva podendo provocar irritação na pele (BLOCK, 2001, p. 185-204).
O hipoclorito de sódio é um sal do ácido hipocloroso, em equilíbrio com o ânion
hipoclorito possui alto poder oxidante devido à carga neutra, difunde-se facilmente pela
parede celular das bactérias. Sua utilização se limita a superfícies abióticas e outros
materiais que não entram em contato direto com o paciente. Devido ao seu alto poder
corrosivo, não deve ser utilizado na desinfecção de materiais no ambiente crítico e
semicrítico, uma vez que estes são constituídos de materiais sensíveis como plástico,
borracha e metais leves (ANDRADE, 1988).
O monopersulfato de potássio é um agente químico novo, que atua oxidando os
grupos sulfidrilas presente nas proteínas, eliminado os microrganismos, sua
característica mais importante é a atividade na presença de matéria orgânica, além de
não ser corrosivo para metais. Entretanto, tem sido mais utilizado em materiais no
ambiente não crítico (consultório médico, farmácia, ou seja, onde não há risco de
transmissão de infecção e não exista pacientes), devido a sua baixa eficácia em
micobactérias, a perda de atividade após sete dias de ativação, a necessidade de
profissionais tecnicamente capacitados para diluição mantendo sua coloração, pois a
redução da intensidade na cor significa diminuição da eficácia (RUTALA et al., 1996;
SILVA et al., 2013).
O ortoftalaldeído foi considerado desinfetante de alto nível pelo FDA (Food and
Drug Administration) em outubro de 1999, por interagir com proteínas e aminoácidos
dos microrganismos, possui vantagens quando comparado com glutaraldeído em
relação à toxicidade, odor, boa estabilidade em pH ~3.0-9.0, não é irritante aos olhos
nem às vias aéreas, não é teratogênico nem mutagênico. Entretanto, possui as
desvantagens de manchar a pele, mucosas e superfícies expostas ao meio ambiente,
pode causar hipersensibilidade em pacientes com exposições repetidas e possui custo
138
mais elevado que o glutaraldeído, além de possuir baixa atividade esporocida
(PSALTIKIDIS et al., 2014).
A glucoprotamina é oriunda de uma reação de conversão do aminoácido ácido
L-Glutâmico com a cocosamina, uma substância extraída do coco. Seu mecanismo de
ação ainda não é completamente elucidado, mas sua eficácia é comprovada, muitos
acreditam que tem relação com a oxidação de substância vitais dos microrganismos,
possui vantagens ecologicamente importantes, pois é biodegradável e seu descarte não
agride o meio ambiente, não sendo necessária sua neutralização. Outro ponto positivo
é seu alto espectro de ação contra microrganismos, não é corrosivo e tem afinidade com
grande parte dos metais como aço inoxidável, latão, alumínio e outros (WIDMER et al.,
2003).
São escassos os trabalhos relatando a resistência a agentes biocidas em
corinebactérias. Corinebactérias estão listadas entre os microrganismos resistentes
detectados em ensaios de análise de eficiência de protocolos de desinfecção utilizados
em instrumentos e ambientes de assistência à saúde, especialmente as espécies C.
striatum e C. amycolatum. Corinebactérias foram detectadas após o reprocessamento
de endoscópios gastrointestinais submetidos à desinfecção com soluções de ácido
peracético a 2% ou glutaraldeído a 2%, por períodos de exposição de até 30 minutos.
Ensaios comparativos entre diversos agentes biocidas, demonstraram a atividade
microbicida in vitro da povidone iodine a 5%, do digluconato de clorexidina a 4% e do
ácido hipocloroso a 0.01% para C. striatum e C. amycolatum indicando seu uso na
antissepsia pré-operatória (ANAGNOSTOPOULOS, 2018).
Nas superfícies bióticas (pele, conjuntiva ocular e mucosas) submetidas a
procedimentos pré-operatórios tratadas com solução de clorexidina 0.05% a 0.5%, foi
observada redução significativa no isolamento de corinebactérias, contudo não houve
efeito microbicida esperado para este agente in vivo (GILI et al., 2018). Recentemente,
uma análise comparativa da eficiência de desinfecção entre duas associações de
biocidas (clorexidina 0.5% e álcool etílico 70% versus iodine 1% e álcool etílico 70%)
utilizadas em cirurgias ortopédicas, foi possível identificar corinebactérias entre os
microrganismos mais isolados da superfície da pele após o procedimento cirúrgico
(SHADID et al., 2019).
139
Os artigos compilados apenas relatam a ocorrência da resistência aos agentes e
buscam sua correlação com falhas nos procedimentos durante da desinfecção, sem
levar em consideração aspectos microbiológicos específicos.
140
encontradas na membrana externa de bactérias (canais de porinas), que favorecem a
entrada de substâncias hidrofílicas, entretanto, quando estes canais são irregulares há
uma diminuição de substâncias e nutrientes hidrofílicos, a própria composição da
membrana bacteriana, composta por lipídeos e pepitideoglicano que são bastante
impermeáveis (COSTERTON et al., 2003). Deficiências nos canais de purinas (proteínas
expostas nas superfícies da célula bacteriana, que geralmente transportam moléculas
como antibióticos e desinfetantes para o interior da célula), também podem representa
um mecanismo de tolerância a agentes químicos, sobretudo com agentes a base de
aldeído, como glutaraldeído e ortoftaladeído (SVETLÍKOVÁ et al., 2009).
Corynebacterium striatum é um microrganismo potencialmente patogênico que
causa surtos nosocomiais. No entanto, pouco se sabe sobre seus fatores de virulência
que podem contribuir para Infecções Relacionadas à Saúde (IRAS). Publicações recentes
revelam a capacidade de C. striatum aderir a várias superfícies abióticas e formar
biofilmes em modelos de cateter in vitro. Identificando uma associação entre o aumento
na formação de biofilme, multirresistência antimicrobiana e clonalidade das cepas. Os
isolados clínicos desses tipos de PFGE, expressaram uma alta capacidade de formar
biofilmes em superfícies abióticas hidrofílicas (vidro; carga positiva) e hidrofóbicas
(poliestireno; carga negativa), incluindo superfícies de cateter de poliuretano (carga
positiva) (SOUZA et al., 2015; RAMOS et al., 2019).
6. DISCUSSÃO
141
espécies corinebactérias, particularmente devido ao fato desses microrganismos serem
encontrados em associação com outros em culturas bacterianas (RIEGEL, 1998).
C. striatum está constantemente relacionado com quadros infecciosos, por vezes
fatais em indivíduos imunocomprometidos e imunocompetentes, apesar de poderem
ser encontrados na pele e trato respiratório superior de indivíduos sadios. É um
patógeno que possui clones multirresistente, capazes de causar infecções nosocomiais
e colonizar o trato respiratório de pacientes com doenças pulmonares avançadas e
graves (CAMELLO et al., 2003; RENOM et al., 2007). Relatos descrevem C. striatum tem
sido isolado de cultura pura de secreção traqueal em pacientes submetidos a
procedimentos de intubação endotraqueal, devendo-se intensificar as medidas
universais de higiene para evitar a sua propagação e surtos (CAMPANILE et al., 2009).
Cepas MDR, tem sido preocupação constante dos epidemiologistas e de toda a
comunidade médica, por serem isoladas tanto no ambiente hospitalar, quanto na
comunidade (SANTOS, 2004; ANVISA, 2007). A busca por estratégias para diminuir a
disseminação das IRAS, hoje é uma preocupação mundial (SANTOS, 2004; ANVISA,
2007). Os mecanismos envolvidos na resistência a antimicrobianos são cada vez mais
bem compreendidos. A resistência pode ser uma propriedade natural de um
microorganismo (intrínseca), ou adquirida por mutação, aquisição de plasmídeos e
transposons. Estudos relacionados ao desenvolvimento de multirresistência em C.
striatum, tem foco na presença de genes de resistência, como erm(X), que codifica
resistência à eritromicina e clindamicina, tetA e tetB, que codifica resistência à
tetraciclina, oxitetraciclina e oxacilina, cmx e aphA1, que codifica a resistência à
aminoglicosídeos e cloranfenicol (CAMPANILE et al., 2009). Muitas medidas estão sendo
tomadas no Brasil para controlar o surgimento de cepas MDR de C. striatum (SANTOS,
2004; ANVISA, 2007).
Em laboratórios de bacteriologia clínica, cepas C. striatum ainda são descartadas
como contaminantes, inclusive quando isoladas a partir de amostras de sangue (SAVINI
et al., 2013). Considerar este microrganismo como contaminante é um erro grave,
especialmente quando isolado de pacientes cronicamente debilitados que utilizam
dispositivos invasivos (BRANDENBURG et al., 1996; RENOM et al., 2007). Nos casos de
infecções respiratórias, tem crescido o número de isolamentos de C. striatum a partir de
142
cultura pura, indicio de sua importância como patógeno (BAIO; DÍEZ-AGUILAR et al.,
2013).
São muitas as promessas para o desenvolvimento de novos antimicrobianos e
produtos de desinfecção para materiais médicos-cirúrgicos. Entretanto, muitas
barreiras devem ser transpostas, os benefícios da implementação de uma nova droga
devem sobrepor as desvantagens. Novos estudos têm procurado investigar alternativas
terapêuticas para infecções causadas por bactérias multirresistentes, como as
combinações sinérgicas de dois ou mais antibióticos, ampliar a eficácia e diminuir
toxidade do medicamento (SOARES, 2001; MITSUGUI et al., 2008).
Desinfetantes e antissépticos são usados extensivamente em hospitais e outras
instituições de saúde para uma variedade de aplicações tópicas em diversas superfícies.
Em particular, eles são uma parte essencial das práticas de controle de infecção e ajuda
na prevenção de infecções nosocomiais. O uso disseminado de produtos antissépticos e
desinfetantes tem levado a algumas investigações sobre o desenvolvimento de
resistência microbiana, em especial uma resistência cruzada aos antibióticos. A
atividade antimicrobiana pode ser influenciada por muitos fatores, tais como
formulação química, presença de resíduos orgânicos, temperatura, diluição e método
de descontaminação (RUTALA et al., 2008, p. 6; VERMELHO et al., 2008). Os biocidas
quando adequadamente utilizados e aliados a outros procedimentos no controle de
infecções, são essenciais no combate as IRAS e na erradicação de microrganismos MDR.
Dentro de uma gestão ineficiente, o uso inadequado dos biocidas durante os processos
de limpeza no ambiente hospitalar pode contribuir para a persistência e disseminação
de patógenos oportunistas, tanto em hospitais, quando na comunidade (McDONNELL e
RUSSELL, 1999).
7. CONCLUSÃO
143
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
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150
ANEXO I
DNase
CAMP
Espécies
FRUT
HEM
MAL
MET
GLIC
URE
GAL
CAT
SAC
GEL
PYZ
ESC
NIT
TIR
GLI
LIP
C. N
+ O V – – – – V – + – – – – V V –
afermentans D
C.
+ F – + – – V V + – + – V V – – – –
amycolatum
C.
N N N
diphtheriae + F V V – V – – + V + V – – +
D D D
sub. belfanti
C.
N N
diphtheriae + F – + – V – – + + + + V – V +
D D
sub. gravis
C.
diphtheriae N N N
+ F + + – V – – + – + – – – +
sub. D D D
intermedius
C.
N N N
diphtheriae + F – + – V – – + – + V – V +
D D D
sub. mitis
N N N
C. jeikeium + O + – – – – + – + + V – – –
D D D
N N N N N
C. macginleyi + F + + – – – + + + – – +
D D D D D
C.
N N
minutissimu + F – – – – – + + + V V V – V +
D D
m
C.
N N N N
pseudodipht + O – + – – + + – – – – – –
D D D D
heriticum
C.
N RE N
pseudotuber + F – V – V + – – + V + V + –
D V D
culosis
N N
C. striatum + F – V – – – + V V + – V V – +
D D
N RE N
C. ulcerans + F – – – V + – + + V + – + +
D V D
C. N N N N N
+ O + – – – + + – – – – –
urealyticum D D D D D
N N N N N
C. xerosis + F – V – – + V + + + – –
D D D D D
Legendas: positivo (+); negativo (–); positivo fraco (±); variável (V); reação reversa (RER); dados não
declarados (ND); subespécie (sub); catalase = CAT; metabolismo = MET; oxidativo = O; fermentativo = F;
151
lipofilia = LIP (multiplicam-se bem em meio de cultura contendo 1% de Tween 80); redução de nitrato
(NO3–) = NIT; hidrólise de esculina = ESC; hidrolise de gelatina = GEL; uréase = URE; atividade
pirazinamidásica = PYZ; produção de ácido a partir do metabolismo da frutose = FRUT; da galactose = GAL;
da glicose = GLI; do glicogênio/amido = GLIC; da maltose = MAL; da sacarose = SAC; hemólise sinérgica
com β-hemolisina de S. aureus em sangue de ovelha = CAMP; hemólise em meio nutritivo contendo
sangue de ovelha = HEM; produção de desoxirribonuclease = DNase; tirosina = TIR (FUNKE e BERNARD,
2011; ANVISA, 2014).
152
CAPÍTULO XI
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
153
uvas” (BANNERMAN e PEACOCK, p. 390-410; JONGERIUS et al., 2007; KATEETE et al.,
2010), são imóveis, não esporulados e anaeróbios facultativos. Nesse gênero foram
diferenciadas 33 espécies até o momento, nas quais 17 podem ser isoladas de materiais
biológicos humano (SANTOS et al., 2007; PAHARIK e HORSWILL, 2016). Entre as
principais características bioquímicas estão à capacidade de produzir as enzimas
catalase e coagulase, que podem ser utilizadas como método de identificação da espécie
em laboratório (BANNERMAN e PEACOCK, 2007, p. 390-410; KATEETE et al., 2010). O
seu cultivo em meio sólido contendo 5% de sangue, torna possível visualizar colônias
com aspecto mucoide, de coloração esbranquiçada à levemente amarelada, decorrente
de pigmentos carotenóides gerados durante seu metabolismo, e também a formação
de um halo de hemólise total ao redor da colônia (β-hemólise), gerado a partir da
produção de hemolisina (CARROLL, 2014, p. 199-207). O meio de cultura seletivo
comumente utilizado é denominado ágar manitol-salgado, possui em sua composição o
açúcar D-manitol e cloreto de sódio (NaCl), sua hipertônicidade é capaz de selecionar
espécies do gênero Staphylococcus e indicar outras espécies capazes de fermentar o D-
manitol (BANNERMAN e PEACOCK, 2007, p. 390-410).
Este microrganismo pode ser encontrado em 27 a 50% dos seres humanos
(YOUNG et al., 2012) de forma assintomática na pele, superfície de mucosas, narina,
axilas e períneo (GIAROLA et al., 2012; KIM et al., 2014; PAHARIK e HORSWILL, 2016).
Aproximadamente 20 a 40% dos humanos adultos saudáveis são colonizados
permanentemente, enquanto 75 a 80% são colonizados de forma intermitentemente
(alternando períodos colonizados e períodos não colonizados) ou não fazem parte de
sua microbiota (OTTO, 2010; AMALARADJOU e VENKITANARAYANAN; KIM et al., 2014).
Esse percentual pode variar de acordo com a demografia do local onde é efetuado o
estudo de identificação, qualidade das amostras e técnicas utilizadas para coleta dos
microrganismos (WERTHEIM et al., 2005).
Nesta revisão abordaremos os principais aspectos estruturais, morfológicos e
características bioquímicas de S. aureus que diferencia esse microrganismo dos outros
Gram-positivos, e seus fatores de virulência, responsáveis por várias infecções
nosocomiais e na comunidade. Enfocando a formação de biofilme, os métodos de
prevenção e tratamento, com o objetivo de aumentar a compreensão sobre essa
154
bactéria, para melhor orientar pesquisadores e profissionais da área de saúde sobre as
patologias por ela provocada.
155
moléculas adesivas da matriz celular do tecido, resultando em maior adesão do
patógeno ao hospedeiro (WALSH et al., 2001); (II) relacionados com a evasão do sistema
imunológico, como a cápsula (estrutura polissacarídica que envolve a parede celular
bacteriana), mais precisamente os polissacarídeos do tipo 1, 5 e 8, que protegem a
bactéria contra fagocitose pelo sistema complemento e neutrófilos. A proteína A
associada ao peptideoglicano, além de atuar como uma adesina, pode também ligar-se
a porção Fc da imunoglobulina G (IgG) impedindo sua ação como opsonina (LUTZ et al.,
2003; OTTO, 2010). Também podemos ressaltar as enterotoxinas estafilocócicas (SEs) e
a toxina da síndrome do choque tóxico (TSST-1). Um dos principais fatores de evasão é
o biofilme, constituído por uma matriz extracelular (glicocálix) composta por proteínas,
ácidos nucléicos, lipídeos e polissacarídeos, que confere aos microrganismos no seu
interior proteção contra o sistema imune e antimicrobianos (OTTO, 2006; MADIGAN et
al., 2016), prolongando o período de colonização no epitélio e em superfícies de
dispositivos médicos, como sondas e cateteres (OTTO, 2012; XIA et al., 2013); (III)
relacionados com a invasão na célula do hospedeiro e penetração nos tecidos, como as
proteases, nucleases, hialuronidase, lipase, colagenase, toxinas alfa, beta, gama e delta
hemolisinas, as leucocidinas, como por exemplo de Panton-Valentine (PVL) (WALSH et
al., 2001; TAVARES, 2002; OTTO, 2012). A PVL tem como alvo principal os neutrófilos
humanos, em altas concentrações formam poros na membrana dos neutrófilos,
alterando a permeabilidade e causando lise celular, em baixa concentração promovem
a apoptose por se ligarem a membrana mitocondrial resultando na liberação de espécies
reativas do oxigênio (reactive oxygen species, ROS) (GENESTIER et al., 2005; BOYLE-
VAVRA et al., 2007; SILVA-SANTANA et al., 2016).
As doenças causadas por S. aureus podem estar relacionadas à invasão direta do
microrganismo nos tecidos através da bacteremia. Entretanto, as toxinas secretadas são
os fatores determinantes de sua virulência (BUKOWSKI; NOVICK et al., 2010; KIM et al.,
2014). Este microrganismo é considerado o agente mais comum das infecções
pirogênicas, as quais podem se localizar em um ou em múltiplos sítios tendo como
origem primária a pele, mas também pode ser associado à pneumonia, endocardite,
choque tóxico e sepse, incluindo aqueles associados a dispositivos intravasculares
(ANDRIOLO, 2005; BOLES e HORSWILL, 2008; RUDKIN et al., 2012), que propicia o acesso
do patógeno a tecidos subjacentes e a corrente sanguínea (LOWY, 1998). Tem sido
156
comum o isolamento de S. aureus em 80% das infecções relacionadas com bacteremia
(RAMSEY et al., 2016), entretanto o microrganismo está comumente associado a
infecções em tecidos moles (LOWY, 1998; KIM et al., 2014). As infecções possuem como
características patológicas a formação de lesões purulentas e abcesso por infiltração de
neutrófilos ao redor do local infectado (CHENG et al., 2009; KIM et al., 2014), não são
capazes de produzir resposta imune específica, por esse motivo é comum infecções
persistentes ou recorrentes (LESSA et al., 2010; KIM et al., 2014).
Em infecções sistêmicas, duas proteínas de superfície produzidas por S. aureus
desempenham um papel chave na patogênese da sepse: adenosina sintetase A (AdsA) e
a proteína de ligação a fibrinogênio A (fator de aglutinação, ClfA). Ao invadir a corrente
sanguínea, S. aureus produz AdsA, aumentando o nível extracelular de adenosina que
se associa aos receptores de adenosina do tipo A2a, expresso perifericamente em
células imunes/inflamatórias, mediando às cascatas de sinalização anti-inflamatórias e
de resolução da inflamação. Isso resulta em inibição da agregação plaquetária,
degranulação de neutrófilos e aumento da produção de interleucina 10 (IL-10), uma
citocina anti-inflamatória, contribuindo como fator de evasão dos mecanismos de
defesa inato e adaptativo. Também podem interagir com receptores A2b resultando na
potencialização da resposta inflamatória (KIM et al., 2014). A presença da proteína AdsA
na bactéria é necessária para sua sobrevivência no interior dos neutrófilos,
possibilitando o escape dos atributos bactericidas da célula imune, incluindo: ROS,
enzimas hidrolíticas e defensinas peptídicas (GARZONI e KELLEY, 2009; KIM et al., 2014).
A ClfA na superfície bacteriana (McADOW et al., 2011; KIM et al., 2014) promove
a junção com o domínio D do fibrinogénio e fibrina, revestindo-as e impedindo o
reconhecimento pelas opsoninas. Isso reduz a opsonofagocitose por neutrófilos e
macrófagos (McDEVITT et al., 1997; GANESH et al., 2008; KIM et al., 2014), também
promove oclusões vasculares por bactérias aglutinadas nos tecidos dos órgãos
(McADOW et al., 2011; KIM et al., 2014).
157
3. RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA
158
resistência a meticilina pela baixa afinidade dos receptores proteicos em relação ao
antimicrobiano. As PBPs são proteínas ligadas à membrana que catalisam a
transpeptidação e transglicosilação do peptidoglicanos, o principal componente da
parede bacteriana (RUDKIN et al., 2012).
As linhagens de MRSA se espalharam pelo mundo desde 1960, atualmente as
estirpes deixaram de ser exclusivas do ambiente hospitalar e passaram a ser isoladas
também em infecções comunitárias (HAGIHARA; RUDKIN et al., 2012). As infecções por
MRSA causam aumento da mortalidade (HAGIHARA et al., 2012), maior tempo de
internação e aumento dos custos em comparação com infecções causadas estirpes
suscetíveis (methicillin-susceptible S. aureus, MSSA) (HAGIHARA; RUDKIN et al., 2012).
Os fatores de risco associados à bacteremia causada por MRSA incluem: idade
(susceptibilidade de pacientes ≥ 60 anos) (SOUZA e FIGUEIRED, 2008), hospitalização
prolongada, tratamento prévio com antimicrobianos, cateterização e uso de sonda
nasogástrica (BUTTERLY et al., 2010; DHAND e SAKOULAS; RUDKIN et al., 2012). A alta
dificuldade em tratar as infecções por MRSA classifica-o como altamente patogênico
(RUDKIN et al., 2012).
A vancomicina (glicopeptídeo) representa a melhor escolha no tratamento de
infecções por MRSA. Entretanto, o uso de forma incorreta levou ao aparecimento de
várias estirpes com suscetibilidade reduzida à vancomicina, o primeiro relatado foi no
Japão em 1996 (KOCH et al., 2014). Estas estirpes são denominadas S. aureus intermédio
para vancomicina (vancomycin-intermediate S. aureus, VISA), embora seu nível de
resistência seja mais próximo de ser classificada como moderada por possuir
concentração mínima inibitória (minimum inhibitory concentration, MIC) entre 4 a 8
µg/ml, em comparação com as estirpes resistentes à vancomicina (vancomycin resistant
S. aureus, VRSA) com CIM ≥ 16 mg/ml (KOCH et al., 2014).
Nas estirpes VRSA a resistência é conferida plenamente pela expressão do gene
vanA, após ser regulado por vanS e vanR (HONG et al., 2008, p. 200-213), culminando
na produção de D-Ala-D-Lactato ou D-Ala-D-serina, que substituem o terminal D-Ala-D-
Ala no peptidoglicano da parede celular bacteriana, propiciando menor afinidade à
vancomicina (HOLMES; XIA et al., 2013; KUMAR, 2016). Atualmente, a resistência à
vancomicina representa uma grande ameaça no tratamento de infecções nosocomiais
159
causadas por S. aureus levando o paciente a óbito (HOWDEN et al., 2010; KOCH et al.,
2014).
160
4.1. Adesão inicial ao substrato e colonização bacteriana
O locus ica é essencial para a formação de biofilme, constituído pelos genes icaR
(regulador/repressor) e icaADBC (biossintéticos) induzidos em anaerobiose pelo
regulador da resposta respiratória estafilocócica (SrrAB), mas também podem ser
regulados por outros fatores ambientais como glicose, etanol, osmolaridade,
temperatura e alguns antimicrobianos como tetraciclina (GÖTZ, 2002; BEENKEN et al.,
2004; ARCHER et al., 2011).
Esses genes são responsáveis pela expressão de adesina intercelular
polissacarídica (PIA), também denominada Poli-N-Acetil Glucosamina (PNAG), essencial
para a adesão célula-célula, que em conjunto com proteínas de superfície formam e
fixam o biofilme (O'GARA, 2007; ATSHAN; POZZI et al., 2012).
Estudos demonstraram que biofilmes podem ser formados independentes de
PIA, através de proteínas de adesão a fibronectina (FnBPs) que se ligam através de
autolisinas (AtlA e AtlE) (ARCHER et al., 2011; PAHARIK e HORSWILL, 2016), pela
agregação celular mediada pela proteína associada a biofilme (biofilm-associated
protein, Bap) (ARCHER et al., 2011), pela proteína associada a acúmulo (Aap) após ser
proteoliticamente clivada (ROHDE et al., 2005), ou pela regulação do gene sigB (ARCHER
et al., 2011). Os processos pelos quais S. aureus pode formar biofilme independente de
PIA ainda não estão bem elucidados, entretanto, relatos sugerem algumas proteínas
podem desempenhar a mesma função na ausência de ica (ARCHER et al., 2011).
161
4.3. Comunicação mediada por peptídeos auto-indutores
(Quorum-Sensing)
162
O promotor P3 induz o locus agr a produzir o mRNAIII responsável pela
biossíntese de δ-hemolisina e hdl (KONG et al., 2006; THOENDEL et al., 2011). As
proteínas AgrB e AgrD formadas pelos genes agrB e agrD se unem produzindo um AIP,
que se liga ao receptor de AgrC (proteína transmembrânica - histidina quinase)
fosforilando e ativando AgrA. A ativação da proteína AgrA aumenta a transcrição de
genes de virulência como exotoxinas, simultaneamente reduz a produção de proteínas
de superfície (MSCRAMMs) (THOENDEL et al., 2011; LINDSEY; YOUNG et al., 2012). A
produção da proteína IcaR formada pelo gene icaR regula negativamente a expressão
de polissacarídeos de adesão, acredita-se que sua ausência pode aumentar
consideravelmente a produção de PIA (CRAMTON et al., 1999; GÖTZ, 2002). Em
associação com o sistema agr negativo, pode ocorre a expressão do gene luxS, também
capaz de regular negativamente a produção de PIA, diminuído a adesão celular e
contribuído para a fase de destacamento (KONG et al., 2006; KUEHL et al., 2009; TSUJI
et al., 2011).
Ao longo do tempo a função do locus agr mostrou ser controversa, a expressão
dos genes agrBDCA nem sempre se mostra favorável à formação de biofilme, isso
dependerá de qual promotor (P2 ou P3) atuará como indutor (SHIRTLIFF et al., 2002;
KONG et al., 2006). Portanto, o locus agr ao regular negativamente genes associados à
produção de proteínas da parede celular bacteriana relacionadas à adesão,
indiretamente reduz a formação de biofilme e fazendo com que as células voltem ao
estado planctônico (SANTOS et al., 2007). Por esse motivo, propõe-se que estirpes
expressando níveis elevados de agr teriam a capacidade reduzida em formar biofilme, e
que quanto maior for a produção de δ-hemolisina por uma estirpe, menor será
produção de MSCRAMMs e menos aderente a bactéria será no substrato. Alguns
pesquisadores consideram a δ-hemolisina como um bom marcador para o fenótipo
relacionado a pouca produção de biofilme (VUONG et al., 2000; NOVICK, 2003).
163
retirada do implante médico contendo o biofilme responsável pela doença (ARCHER et
al., 2011). Entretanto, em pacientes debilitados incapazes de resistir ao processo
cirúrgico, e em usuários de próteses articulares a remoção torna-se inviável (DONELLI et
al., 2007).
Atualmente, a terapia antimicrobiana sozinha não é eficaz, devendo ser
associada quando possível à cirurgia de remoção do implante. Os agentes β-lactâmicos
(por exemplo, penicilina G, oxacilina) são frequentemente utilizados para o tratamento
de estirpes sensíveis, mantendo a concentração plasmática em 4× a MIC. Nos casos de
resistência aos β-lactâmicos a alternativa é a vancomicina (ARCHER; KIEDROWSKI e
HORSWILL, 2011).
A vancomicina pertence à classe dos glicopeptídeos, sua utilização foi aprovada
no ano 1.950 e por mais de 50 anos foi considerada a principal escolha no tratamento
de infecções por MRSA (RODVOLD e McCONEGHY, 2014). Em infecção sistêmica e nos
casos de sepse, recomenda-se que sua administração seja combinada com um β-
lactâmico e um inibidor de β-lactamases, essa combinação é capaz de incluir patógenos
gram-negativos como tratamento empírico (LEVINE, 2008; DILWORTH et al., 2014).
Dentre as limitações intrínsecas desse antimicrobiano, está à baixa penetração nos
tecidos com eliminação lenta do patógeno, alta toxicidade renal (nefrotoxicidade),
ototoxicidade e a administração deve ser parenteral (BOUZA, 2009; GIULIANO et al.,
2010; NEELY et al., 2014).
A daptomicina e a linezolida são alternativas para o tratamento de infecções
associadas a biofilme por MRSA (ARCHER; KIEDROWSKI e HORSWILL, 2011). A
daptomicina é considerada a principal opção no tratamento de infecção na corrente
sanguínea (ICS) por MRSA em casos de susceptibilidade reduzida à vancomicina, hetero-
VISA (hVISA) e VISA (WERTH et al., 2013; GUDIOL et al., 2017). Entretanto, não é indicada
no tratamento de pneumonia por interagir com o surfactante pulmonar, levando à
inibição seletiva da atividade do antimicrobiano (CARPENTER e CHAMBERS, 2004). A
linezolida é o primeiro antimicrobiano da classe das oxazolidinonas utilizado para o
tratamento de infecções causadas microrganismos gram-positivos, incluindo amostras
MRSA, hVISA, VISA e VRSA (KAISER et al., 2007), uma alternativa de substituição à
vancomicina. No entanto, sua atividade bacteriostática faz com que ela não seja a
164
primeira escolha para tratamento de ICS ou endocardite, apesar de apresentar eficácia
em pneumonias por MRSA (TACCONELLI e CATALDO, 2007).
No tratamento da endocardite causada por biofilme formado por MRSA em
cateter intravascular, os antimicrobianos indicados são a vancomicina e a daptomicina
(RODVOLD e McCONEGHY, 2014). Nos casos de falha no tratamento pela utilização
individual desses antimicrobianos, se faz necessário a utilização dos mesmos em
conjunto formando sinergismo ou com um β-lactâmico cessando a bacteremia
persistente (STEFANI et al., 2015; CHAMBERS et al., 2016).
A teicoplanina pertence à mesma classe da vancomicina, seu uso em maior
escala se deu apenas em 1980 pela similaridade com a vancomicina em espectro de ação
e eficácia (AHMED; HOLMES e HOWDEN, 2014; GUDIOL et al., 2017), tornando-se uma
opção no tratamento de ICS, endocardite, osteomielite e outras infecções por MRSA
(PACE e YANG, 2006).
Este patógeno ainda apresenta susceptibilidade à associação entre
sulfametoxazol-trimetoprim (SXT) (KRIEGESKORTE et al., 2015; GUDIOL et al., 2017), por
esse motivo tem sido usados com frequência no tratamento de ICS por MRSA com
prognóstico de sucesso (GOLDBERG e BISHARA, 2011; RODVOLD e McCONEGHY, 2014),
também em infecções de pele e partes moles por VISA e em outros tipos de infecções
por VRSA (NURJADI et al., 2014).
Estudos demonstraram grande eficácia no pré-tratamento com tetraciclinas
contra a formação de biofilme. Pacientes usuários de cateteres revestidos com
minociclina ou rifampicina não desenvolveram ICS, quando comparados com pacientes
sem o pré-tratamento (KIEDROWSKI e HORSWILL, 2011).
Pesquisas atuais demostraram o ressurgimento de estirpes S. aureus suscetível
à penicilina, talvez pela redução do seu uso clínico, melhorando assim o prognóstico das
infecções e favorecendo a utilização dos β-lactâmicos no tratamento das infecções
estafilocócicas (CHENG; RESMAN et al., 2016).
165
6. NOVAS PROPOSTAS TERAPÊUTICAS CONTRA A FORMAÇÃO DE
BIOFILME
166
Potencial agente
terapêutico ou
adjuvante em
Susceptibilidade da estirpe clínica concentrações
JIA et al.,
Cinamaldeído e efetiva remoção do biofilme sub-MIC na
2011
com 5× a MIC. prevenção de
infecções
causadas por
biofilme.
Na concentração 100 mg/L inibiu
atividade metabólica em 23,0% (± Dados não COBRADO
Hamamelitannina
10,7%) e o sistema quorum- declarados. et al., 2012
sensing do biofilme.
Nova abordagem
para
revestimento de
Completa inibição da formação de superfícies
LELLOUCHE
Nanoparticulas (NPs) biofilme quando associadas a 0,1 estéreis de
et al., 2012
mg/ml de fluoreto de ítrio III (YF3). aplicação médica,
impedindo a
adesão
bacteriana.
Inibição da formação de biofilme
Dados não LINDSEY et
2-aminopirimidina por MSSA ~64-89% e por MRSA
declarados. al., 2012
~80,1-85,5%.
Alvo principal as células bacterianas no interior do
biofilme ou a matriz polissacarídica (PIA). Utilizando
como método a identificação de antígenos putativos
em proteínas de superfície “vacinologia reversa”,
análise transcriptômica de patógenos através de ARCHER et
Vacina
Microarranjos ou tecnologias baseadas em al., 2011
recombinação de expressão in vivo (RIVET), como
identificação de antígenos expressos in vivo durante
infecção. Entre as limitações está a seleção de
antígenos apropriados.
*Bismuto-2,3-dimercaptopropanol (2:3) (BisBAL); N-óxido de bismuto-2,3-
butanoditiol/bismuto-2-mercaptopiridina (2:1:2) (BisBDT/PYR).
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
167
insatisfatórias, levando a intervenção cirúrgica para retirada do implante contendo o
biofilme e assim implementação da terapia antimicrobiana, até o momento esse é o
melhor meio de cura.
A escassez de medidas terapêuticas, tem conduzido gradualmente a busca por
novas abordagens no tratamento dessas infecções. Atualmente pesquisadores
consideram hipóteses para o desenvolvimento de vacinas, tendo como alvo moléculas
e antígenos específicos combinando técnicas genômicas e proteômicas. Entretanto,
essas abordagens devem ser avaliadas cuidadosamente, necessitando investigação
aprofundada.
AGRADECIMENTOS
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180
CAPÍTULO XII
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
181
formadores de esporos, catalase positiva e com elevado conteúdo G + C em seu DNA
(CRESCI, 2016; FUNKE et al, 1997; GHERARDI, 2015). Além destas características, a
presença de uma camada lipídica na parede celular constituída de ácido micólico está
presente na maioria das espécies desse gênero. Curiosamente, essa característica se
assemelha funcionalmente à membrana externa das bactérias Gram-negativas
(BURKOVSKI, 2013).
Por muitas décadas, o potencial patogênico das corinebactérias foi subestimado
e negligenciado. Atribui-se a isso o fato de muitas espécies pertencerem a microbiota
residente de pele e mucosas. Contudo, nas últimas décadas têm sido crescente o relato
de casos de infecções em humanos causadas por Corynebacterium spp. em diversos
sítios, além de surtos nosocomiais em países industrializados e em desenvolvimento
(BAIO, 2013; IARIA et al, 2007; SANT’ANNA, 2016). Dentre os quadros infecciosos
associados a corinebactérias, destacam-se: infecções respiratórias, endocardite,
infecções ortopédicas e infecções do trato urinário (ITU) (COSTALES et al, 2019; KALT et
al, 2018; LEE et al, 2018; SHARIFF et al, 2018). É preciso ressaltar que ainda são poucos
os estudos acerca do potencial patogênico e perfis de multirresistência aos agentes
antimicrobianos (MDR) destas espécies.
As ITU podem ocorrer em indivíduos do sexo masculino e feminino,
independente da faixa etária (DUBBS; SOMMERKAMP, 2019; MILLNER; BECKNELL,
2019). As ITU consistem na invasão do trato urinário por microrganismos, podendo
apresentar sinais e sintomas variados que, em casos mais graves, podem evoluir para
infecção sistêmica (COLLINS, 2019; KAUFFMAN, 2014; NICOLLE, 2013). As ITU podem ser
classificadas de acordo com a posição anatômica do órgão acometido: ITU inferior -
uretrite, cistite e prostatite; ITU superior - pielonefrite, nefrite intersticial e ureterite
(ANVISA, 2004; SMELTZER; BARE, 2005). A principal via de infecção utilizada pelos
uropatógenos é a via ascendente ou transuretral, em que o acesso à bexiga acontece
através da uretra. Adicionalmente, este pode ser dar pela via hematogênica ou por
extensão direta, em que o patógeno consegue acesso à bexiga através de uma fístula
formada pelo intestino (FLORES-MEIRELES, 2015; SMELTZER; BARE, 2005).
As ITU também podem ser classificadas como complicadas e não complicadas,
para as quais são recomendadas terapias diferenciadas. As ITU complicadas geralmente
ocorrem em indivíduos portadores de: anormalidades anátomo-funcionais no trato
182
urinário; diabetes mellitus; anemia falciforme; e cálculos renais. Podem ainda ocorrer
em pacientes submetidos a transplante renal, procedimentos cirúrgicos e/ou
instrumentação no trato urinário, e em mulheres grávidas. Na Alemanha, cerca de 21,6%
de todas as infecções nosocomiais ocorrem no trato urinário e em mais de 60% dos casos
desse tipo de infecção estão associadas com cateteres urinários. O número de pacientes
com bacteriúria, aumenta de 3 a 8% por cada dia que um paciente utiliza o cateter,
sendo que após 30 dias utilizando o cateter, praticamente todos os pacientes
apresentam bacteriúria (KRANZ et al, 2020; FENELEY et al, 2015).
As ITU não complicadas geralmente acometem indivíduos hígidos, incluindo
mulheres não grávidas. Observa-se que as ITU complicadas estão relacionadas ao
ambiente hospitalar, enquanto as ITU não complicadas são comumente observadas na
comunidade (ANVISA, 2004; GEERLINGS, 2016). Cerca de 20 a 30% das mulheres que
apresentam cistite aguda possuem casos recorrentes e apresentam esse quadro, em
média, de duas a três vezes por ano (MCLELLAN; HUNSTAD, 2016). A uretra é o canal de
eliminação da urina e ao redor do introito uretral externo, além da microbiota residente,
é possível que uropatógenos colonizem e consigam desencadear uma ITU. Esse cenário
é comumente observado em indivíduos imunocomprometidos. Há uma diferença
anatômica em relação ao tamanho da uretra de homens e mulheres favorecendo esse
tipo de infecção em indivíduos do sexo feminino. A uretra feminina por ser mais curta,
facilita os microrganismos patogênicos em alcançarem a bexiga e estabelecer a infecção.
Além disso, a entrada da uretra nas mulheres está mais próxima ao reto, o que
possibilita a contaminação e infecção por enterobactérias (FOXMAN, 2010; GEERLINGS,
2016).
Nos Estados Unidos da América, casos de ITU são frequentemente reportados,
afetando aproximadamente 7,5 milhões de mulheres por ano (COLLINS, 2019). No
mundo, o número de pessoas infectadas por ano ultrapassa 150 milhões. As infecções
podem ser causadas por diversos patógenos e muitos apresentam perfis MDR, sendo
considerados um grande problema para o sistema de saúde mundial, pois estão
associados à letalidade, hospitalização prolongada e, consequentemente, ao aumento
de custos (MCLELLAN; HUNSTAD, 2016; STAPLETON, 2016; TRENTIN et al, 2013).
As ITU podem ser causadas por diversos patógenos, estando a Escherichia coli
relacionada com 65 e 75% dos casos complicados e não complicados, respectivamente.
183
Enterococcus spp. e Candida spp. também têm sido capazes de causar ITU em pacientes
que utilizam dispositivos invasivos urinários. Ainda que em menor frequência, outros
patógenos Gram-negativos e Gram-positivos também podem causar ITU tanto no
ambiente nosocomial quanto na comunidade. Dentre esses patógenos, destacam-se
bactérias pertencentes a família Enterobacteriaceae, Pseudomonas aeruginosa,
Acinetobacter spp., Stenotrophomonas spp., além de Staphylococcus aureus,
Streptococcus do grupo B, Enterococcus spp. e Corynebacterium spp. (CHIN et al, 2011;
FLORES-MIRELES et al, 2015; MARTINS et al, 2009; CAMELLO et al, 2003; NICOLLE, 2013).
O presente trabalho teve como objetivo analisar os dados clínicos e
microbiológicos de casos de ITU causadas por Corynebacterium spp. reportados na
literatura internacional nos últimos cinco anos (2015-2019).
2. METODOLOGIA
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
184
Tabela 1. Casos de infecções do trato urinário por Corynebacterium spp. relatados na
literatura internacional entre 2015 e 2019
No do Casos
Artigos Espécie isolada Topografia Multirresistência
artigo reportados
185
PICHON et al. Corynebacterium
13 NI* NI 1
(2019) riegelii
SAKHI et al. Corynebacterium
14 NI* NI 1
(2018) urealyticum
SALJOGHI et al. Corynebacterium
15 NI* NI 1
(2016) urealyticum
SOKOL-
Corynebacterium
16 LESZCZYNSKA NI NI 39
coyleae
et al. (2019)
Legenda: NI, não informado; MDR, multidroga resistente; MDS, multidroga sensível; *, ITU complicada.
Fonte: Autoria própria.
186
Tabela 2. Perfis de susceptibilidade aos antimicrobianos das cepas de
Corynebacterium spp. isoladas de casos de infecção urinária relatados na literatura
internacional entre 2015 e 2019
Antimicrobianos
No do
Pe Te
artig Amp Rif Gen Lzd Ceft Cefo Imi Cip Eri Cli Van Sxt Nit Fos Lev Mem
n t
o
2* R NT NT NT NT NT R NT NT I NT NT S R NT NT NT NT
4* S NT NT S R S NT S NT S R R S NT NT NT NT NT
5* R S NT NT S NT NT R NT NT NT NT S NT NT R R R
7 R S NT NT NT NT NT S S NT S NT S R NT NT NT NT
Legenda: Pen, penicilina; Tet, tetraciclina; Amp, ampicilina; Rif, rifampicina; Gen, gentamicina; Lzd,
linezolida; Ceft, ceftriaxona; Cefo, cefotaxima; Imi, imipenem; Cip, ciprofloxacina; Eri, eritromicina, Cli,
Clindamicina; Van, vancomicina; Sxt, sulfametoxazol com trimetoprima; Nit, nitrofurantoína; Fos,
fosfomicina; Lev, levofloxacino; Mem, meropenem; S, sensível; R, resistente; I, intermediário; NT, não
testado, *, Multirresistência.
187
preciso destacar que alguns isolados desta última espécie foram encontrados
apresentando sensibilidade apenas à vancomicina (MARTINS et al, 2009). Dentre as
cepas testadas nos trabalhos investigados no presente estudo, 3 apresentaram perfil
MDR (75%) e pertenciam às espécies: C. coyleae, Corynebacterium glucuronolyticum e
C. jeikeium. Ressalta-se a preservação da susceptibilidade à vancomicina entre as cepas
testadas, incluindo naquelas com perfil MDR.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
188
BAILIFF, N. L. Corynebacterium urealyticum urinary tract infection in dogs and cats: 7
cases (1996–2003). J Am Vet Med Assoc, v. 226, n. 10, p. 1676-80v, 2005. DOI:
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research agenda. J Med Eng Technol, v. 39, n. 8, p. 459-470, 2015. DOI:
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w.
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SAKHI, H. et al. Acute kidney injury, flank pain, and kidney calcifications in an 80-year-
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SALJOGHI, R. et al. Encrusted uretero-pyelitis: Case report. Urol Case Rep, v. 7, p. 58-60,
2016. DOI: https://doi.org/10.1016/j.eucr.2016.04.014.
192
SANT’ANNA, L. O. Caracterização de corinebactérias isoladas de infecções urinárias e
investigação de mecanismos de virulência de Corynebacterium mycetoides.
Dissertação (Mestrado em Ciências Médicas) - Faculdade de Ciências Médicas,
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, p. 108. 2016.
193
CAPÍTULO XIII
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
194
ocasionando contaminação por bactérias patogênicas. O presente artigo, por meio da
realização de provas bioquímicas e análises microbiológicas buscou a identificação de
bactérias presentes em três amostras de Kefir, bem como a legitimação da necessidade
de seguir corretamente um manual de boas práticas na manipulação desse probiótico.
2. METODOLOGIA
195
Para visualizar a presença de microrganismos, foram realizadas semeaduras nos
seguintes meios: Ágar Sangue, Ágar MacConkey e Ágar Nutritivo. Posteriormente, feito
o Teste de Coloração de Gram para visualizar a sua morfologia e Prova da Catalase para
diferenciar estreptococos e estafilococos. Foram realizadas também Provas Bioquímicas
em meios: Citrato Simmons, SIM (Sulfato Indol Motilidade) e TSI (Triplo Açúcar Ferro). E
como testes confirmatórios, utilizaram-se caldo BHI e Ágar Manitol.
Após a identificação das bactérias prejudiciais presentes, elaborou-se um manual
contendo o passo a passo no manuseio do Kefir, bem como de seu armazenamento,
doação e descarte, a fim de reduzir riscos decorrentes de contaminação, para que seus
benefícios sejam amplamente aproveitados.
3. RESULTADOS
196
Figura 2 - Na ordem: TSI, SIM e Citrato Simmons
197
4. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ERTEKIN, B.; GUZEL-SEYDIM, Z.B. Effect of fat replacer on kefir quality. Journal of the
Science of food and Agriculture. V.90, p. 543-548, 2009.
HERTZLER, S.R., CLANCY, S.M. Kefir improves lactose digestion and tolerance in adults
with lactose mal digestion. Journal so American Dietetic Association. V. n. 5, p.
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MARTINS, F.L. J; MARINHO, E., FIRMINO, H.H., RAFAEL, C.V.; FERREIRA, L.F.C.L. Avaliação
da adição do Kefir em dieta hospitalar. Revista do Instituto de Laticínios Cândido
Tostes. v 67, n.386, 2012.
198
VARAVALLO, A.M.; THOME, N.J.; TESHIMA, E. Aplicação de bactérias probióticas para
profilaxia e tratamento de doenças gastrointestinais. Semina: Ciências
Biológicas e da Saúde, v. 29 n. 1, p.83-104, 2008.
199
CAPÍTULO XIV
RESUMO
A sífilis é causada pelo Treponema pallidum e transmitida, principalmente, por via sexual
desprotegida e por via materno-fetal, culminando com a Sífilis Congênita (SC). Nessa forma de
infecção ocorrem danos no embrião/feto, ocasionando aborto, natimorto, prematuridade ou
um amplo espectro de manifestações clínicas. Diante deste contexto, este trabalho teve por
objetivo realizar uma revisão integrativa acerca dos principais fatores que promovem a infecção
e danos causados por T. pallidum durante o desenvolvimento embrionário e fetal. Trata-se de
uma revisão integrativa, realizada nas bases de dados LILACS e Scielo, considerando o intervalo
de 2010 a 2019. Foi conduzida em consonância com a questão norteadora, utilizando os
descritores: “sífilis congênita” e “Treponema pallidum” com o operador booleano "AND". Os
estudos foram pré-selecionados obedecendo aos critérios de inclusão e exclusão, no qual
totalizaram 13 estudos, destes, 08 artigos foram selecionados. Observou-se que as gestantes
realizam o pré-natal inadequado desencadeando danos que podem ser irreversíveis ao filho,
quando infectado durante a gestação. O T. pallidum pode atingir a placenta e o cordão umbilical
e, ainda, alcançar órgãos importantes para o desenvolvimento, principalmente, pós-
nascimento. E ainda, causar anomalias, como a hepatoesplenomegalia e hidrocefalia
comunicante, no sistema nervoso, entre outros sintomas, podendo inviabilizar ou prejudicar a
qualidade de vida e bem-estar do indivíduo.
1. INTRODUÇÃO
200
população e isenção de assistência médica (CESAR et al., 2020; SVIDLER LÓPEZ et al.,
2019). De acordo com informações contidas na Pesquisa Assistência Médico-Sanitário
(BRASIL, 2002), dentre as capitais brasileiras, o Rio de Janeiro é a capital onde existem
mais indivíduos que não procuram atendimento médico pelo SUS (Sistema Único de
Saúde) em nenhum momento do ano.
Uma das IST mais destacável por sua prevalência é a sífilis que possui como
agente etiológico a bactéria gram-negativa e espiralada, Treponema pallidum. Na
maioria dos casos, a sífilis é transmitida por via sexual desprotegida, entretanto, outras
vias podem participar no processo de contágio, bem como contato direto com feridas
principalmente localizadas na boca e mãos de indivíduos hospedeiros do T. pallidum
(SÁNCHEZ et al., 2019).
Ademais, a sífilis apresenta quatro fases ou estágios distintos característicos,
denominadas: primária, secundária, latente e terciária. A sífilis primária é a primeira
forma de manifestação da presença da bactéria no organismo, onde é demonstrada com
feridas ricas em bactérias dispostas em algumas regiões do corpo, porém, são
comumente encontradas nos lábios (AVELLEIRA; BOTTINO, 2006).
Quando não tratada, a sífilis pode evoluir para sua fase secundária que, além das
feridas típicas, notam-se outros sintomas, por exemplo, a dor muscular e febre
(SÁNCHEZ et al., 2019). Anterior à fase terciária, o indivíduo pode entrar em um quadro
de latência, entretanto, ainda é soropositivo para sífilis mesmo sendo assintomático e,
ainda, pode permanecer nessa fase durante meses ou até 30 anos sequenciais (KALININ
et al., 2016).
A fase terciária é o último estágio de evolução da infecção que, além dos
sintomas já citados, a infecção atinge outros órgãos importantes, o que causa
desestabilização das funções vitais exercidas pelo corpo, bem como o fígado com o
desenvolvimento de hepatomegalia, ou seja, ocasiona o aumento anormal das
proporções do tamanho desse órgão (TORTORA et al., 2016; AVELLEIRA; BOTTINO,
2006).
Outrossim, a sífilis não é exclusivamente partilhada entre indivíduos já nascidos,
ela também pode ser transmitida por via vertical entre a portadora, a genitora, e o feto
em desenvolvimento nos primeiros três meses da fase gestacional. E, dependendo da
fase da infecção em que se encontra a gestante, pode alterar o estado normal de
201
crescimento e, consequentemente, resultar em mudanças importantes durante a
formação dos órgãos do feto em questão (BOLDRINI et al.,2020; SILVA et al., 2019).
Na última década, a sífilis congênita (SC) teve um aumento significativo no Brasil,
que ultrapassou o número de 9 casos de SC a cada 1.000 indivíduos nascidos vivos
(BRASIL, 2019). Entre os anos de 2010-2015, as cinco regiões do Brasil tiveram o
aumento contínuo das taxas de SC, para cada ano, o Nordeste e o Sudeste foram as
regiões que mais apresentaram aumento dos casos de SC, de 2,7 a 6,9 / 1.000 nascidos
vivos. Já as taxas na região Sul em 2015 eram consistentes com as do Nordeste e
Sudeste, com a estimativa de 6,9/ 1.000 nascidos vivos (BEZERRA et al., 2019). Esse
resultado mostra uma estatística cada vez mais crescente em casos diagnosticados de
SC e relembra os principais riscos para os nascidos que, logo, se tornarão adultos com
problemas, já que pode desencadear imediatamente ou futuramente um amplo
espectro de manifestações clínicas importantes e possivelmente crônicas (OPAS, 2019).
De acordo com Rocha e colaboradores (2020), quando não há a manifestação
prévia, o indivíduo pode desencadear esses sintomas e outros ao longo da vida
refletindo nos estágios da sífilis, entretanto, o indivíduo pode nascer com um quadro de
morte prematura ou, em muitos casos, em abortos.
Portanto, para conduzir o presente estudo, desenvolveu-se a seguinte questão
norteadora: O que mostram as pesquisas científicas sobre as causas e consequências da
infecção por T. pallidum no desenvolvimento embrionário e fetal? Nesse sentido, o
objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão integrativa acerca dos fatores que
promovem a infecção e danos causados por T. pallidum durante o desenvolvimento
embrionário e fetal.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
202
Por conta das manifestações visíveis da sífilis adquirida, pode haver a
desconfiança da genitora e sua confirmação por meio de exames laboratoriais realizados
durante o pré-natal, porém, quando não há o tratamento adequado da gestante, haverá
uma grande chance do feto nascer com SC e, dessa forma, a prevalência da SC em
gestantes tornou-se um indicador de qualidade da assistência e acessibilidade à saúde
(MARASCHIN et al., 2019).
Segundo o Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) em
conjunto com o Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções
Sexualmente Transmissíveis - DCCI, nos anos de 2005 a 2020, os casos totais de sífilis em
gestantes no Brasil foi quantificado em 384.411 casos, sendo que a maioria ocorreu em
2019, 25,1% dos casos foram classificados clinicamente como pertencentes à sífilis
primária. Com relação à SC, os números também são elevados sendo registrados
236.355 casos no mesmo intervalo de tempo já citado.
203
ao SNC, meninges e medula espinhal) pode desencadear, entre os 5 e 12 anos, em
complicações na regulação e controle das células imunológicas, já na neurossífilis em
sua versão tardia, entre os 18 e 25 anos, o quadro pode evoluir para atrofia cerebral e
outras complicações ao indivíduo.
As lesões ósseas, geralmente, são diagnosticadas após o quinto mês de
desenvolvimento da gestação e são uma das primeiras formas de manifestação da SC
antes do nascimento, ainda, as lesões podem varias de acordo com a fase da SC, precoce
e tardia, uma vez que são, respectivamente, periostite e a osteólise, onde a segunda
pode evoluir para necrose do osso na vida adulta ( MOREIRA-SILVA et al., 2009).
Ademais, ainda por ser um desenvolvimento ósseo considerado doloroso, uma
vez que a criança está com alterações radiológicas importantes e possivelmente um
deslocamento, faz com que os movimentos das extremidades do corpo seja bastante
reduzida, o que leva ao desenvolvimento de pseudoparalisia de Parrot e, por fim, na
maioria dos casos de SC, os ossos humanos mais atingidos são aqueles que possuem
estaturas longas, bem como a tíbia (GAMEIRO et al., 2017).
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
204
compreendido entre 2010 a 2019 e documentos do tipo artigos originais e de revisão.
Os critérios de exclusão foram: publicações fora do foco da temática após a leitura de
título e resumo, com idioma inglês, espanhol, alemão e francês, estudos incompletos,
indisponíveis e duplicados.
A partir das buscas padronizadas nas bases de dados realizadas em julho de 2020,
foram encontrados 103 estudos, os quais após aplicação dos critérios pré-definidos
foram excluídas 90 publicações. Após a leitura de título e resumo das 13 publicações
pré-selecionadas, conservaram-se 08 para análise detalhada.
Para a análise dos estudos selecionados, todos foram lidos com atenção voltada
para o foco da temática e atendendo as exigências, procurando responder a questão
norteadora. Desta forma, foram organizadas duas categorias temáticas: a) Fatores
relacionados à transmissão vertical do T. pallidum; e, b) Danos causados pelo T. pallidum
durante o desenvolvimento embrionário e fetal.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
205
Quadro 1- Caracterização dos trabalhos selecionados para análise crítica.
206
4.1. Fatores relacionados à transmissão vertical do T. pallidum
207
De acordo com os estudos de Lafetá et al. (2016) as gestantes entre 20 e 30 anos
estão mais propensas a desenvolver fetos com SC e as suas consequências. No estudo
de Silva, Sousa e Sakae (2017) foi possível observar que cerca de 80% dos casos
apresentavam-se assintomáticos, porém os casos que apresentavam sintomas,
manifestam na forma, principalmente, icterícia, anemia, esplenomegalia,
hepatomegalia e lesões cutâneas nos recém-nascidos.
A sífilis adquirida durante a gravidez pode resultar na reabsorção do embrião,
aborto, natimorto, malformação dentre outras sequelas pós-natais variáveis de
apresentação precoce ou tardia. Considera-se SC quando é diagnosticado no período
durante a gestação, parto ou puerpério. E apesar da existência da sífilis recente (até dois
anos de vida) que apresenta diversas anomalias que o bebê desenvolve ao nascer, como
lesões bolhosas, condiloma latum etc, a tardia (após dois anos de vida), por ter sintomas
como ceratite intersticial, surdez dentre outros sintomas, mostra-se agressiva e mais
prejudicial (ROMANELLI et al., 2014).
Alguns sintomas como alterações ósseas importantes, icterícia, lesões cutâneas,
função hepática alterada e alterações musculares, relacionados à SC são destacados por
Ramos e Boni (2018). Além disso, a SC também pode afetar o sistema nervoso central,
onde há a possibilidade do indivíduo nascer com diversas anomalias, bem como a
hidrocefalia comunicante, dentre outros (ROMANELLI et al., 2014; SILVA; SOUSA; SAKAE,
2017).
Segundo Andrade et al. (2018) o exame da placenta na hora do parto é
importante para a investigação de diagnóstico da sífilis, uma vez que a placentite
causada pelo T. pallidum apresenta-se clinicamente por placenta pálida, grosseira e de
grande dimensão.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
208
comprometem alguns órgãos, bem como o fígado e o baço, e ocasionam condições
relacionadas ao sistema nervoso central.
No entanto, o estudo ora apresentado possui limitações, tais como: não ter sido
realizada a buscar de artigos em outros idiomas, ficando restrito à língua portuguesa,
bem como a utilização de apenas duas bases de dados para busca das publicações. Mas,
a literatura incluída neste estudo ressalta a SC como uma grande problemática na saúde
pública, especialmente no Brasil.
REFERÊNCIAS
209
CESAR, J. A. et al. Não realização de teste sorológico para sífilis durante o pré-natal:
prevalência e fatores associados. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 23, p.
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GAMEIRO, V. S. et al. Congenital syphilis with bone lesion: case report. Revista Brasileira
de Ortopedia (English Edition), v. 52, n. 6, p. 740–742, 2017.
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Fev. 2019. Disponível em:
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5879:organizacao-mundial-da-saude-publica-novas-estimativas-sobre-sifilis-
congenita&Itemid=812>. Acesso em: 23 Nov. 2020.
210
RAMOS, M. G.; BONI, S. M. Prevalência da sífilis gestacional e congênita na população
do município de Maringá-PR. Saúde e Pesquisa, v. 11, n. 3, p. 517-526, 2018.
211
CAPÍTULO XV
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
212
atividades práticas. Nesse período, o ensino médico era baseado nas doenças e na
medicalização para a cura das mesmas, não considerando os aspectos psicossociais do
indivíduo (PAGLIOSA; DA ROS, 2008).
Em 1988 com a criação do Sistema Único de Saúde, o modelo de saúde
implantado passou a abranger toda população, valorizando as necessidade de saúde
individuais e o caráter psicossocial do indivíduo (BRASIL, 1990), com isso houve a
necessidade de formar médicos que atendessem essas necessidades, o que se
concretizou com as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) de graduação médica de
2001 e de 2014. Estas DCNs propunham a formação do médico generalista, para atuar
na prevenção, promoção, recuperação e reabilitação do paciente (BRASIL, 2001; BRASIL
2014). Devido as DCNs, as quais passaram a vigorar a partir de 31 de Dezembro de 2018
(BRASIL, 2014), o aluno tornou-se o principal ator do seu aprendizado, sendo o professor
um coadjuvante, facilitador do processo de ensino e aprendizagem, através das quais o
aluno passa a ser avaliado pelas competências adquiridas no aprendizado, além de
utilizar as metodologias ativas de ensino (BRASIL, 2001; PAGLIOSA; DA ROS, 2008;
PANÚNCIO-PINTO; TRONCON, 2020).
Para determinar se o aluno atingiu ou não as competências desejadas à
formação médica há necessidade de uma avaliação. Com a implantação das DCNs, as
avaliações deixaram de visar apenas uma graduação através de notas para saber se o
aluno está apto ou não a passar para outra etapa do curso, passando a ser uma avaliação
formativa com a preocupação em averiguar falhas no decorrer das atividades práticas,
para que sejam refletidas pelos alunos através de assimilação de conceitos e de cenários
já vivenciados e promovam mudança de comportamento para que sejam obtidas as
competências desejadas (HARDAVELLA et al, 2017). A principal característica desse tipo
de avaliação é o uso do instrumento de aprendizado chamado feedback ou devolutiva,
o qual é realizado imediatamente após uma atividade ( TRONCON, 2020).
Devolutivas ou Feedback na prática médica pode ser definido como a
transferência de dados observados pelos preceptores durante a prática médica,
contextualizando o saber cognitivo, a habilidade prática, a tomada de decisão e se os
objetivos do aprendizado foram atingidos, visando uma reflexão do estudante para que
ele reconstrua seus conhecimentos e altere seu modo de agir, melhorando sua
performance para que atinja as competências necessárias à profissão em prol do
213
paciente (ALBANO et al, 2019). As devolutivas são importantes para os alunos refletirem
sobre como está sendo sua performance, qual é o desempenho desejado e buscarem
suporte para melhorarem suas desenvolturas em ambientes de prática. De forma
secundária, as devolutivas são importantes para os alunos atuarem de forma autônoma,
através da autorreflexão e da aprendizagem contínua (HARDAVELLA et al, 2017). Seu
objetivo consiste em enfatizar as boas práticas médicas, valorizando o que os alunos
desempenharam bem e promovendo uma reflexão crítica sobre os aspectos que
necessitam de melhorias, além de como podem melhorá-los (CANTILLON; SARGEANT,
2008; HARDAVELLA et al, 2017) .
Para as devolutivas serem efetivas é necessário que haja um entrosamento entre
professor e o aluno, clareza na transmissão, entendimento do aluno e identificação de
quais os objetivos do aprendizado desejados tanto pelo aluno quanto pelo preceptor
(ALBANO et al, 2019). Além disso, também influencia na efetividade da devolutiva o
tempo destinado à observação, o local que a devolutiva foi realizada, o conteúdo e a
forma de transmissão da devolutiva (JAMSHIDIAN et al, 2019). Sendo assim, há vários
obstáculos para o fornecimento e recebimento de uma evolutiva efetiva. Há relatos de
que muitos preceptores desconhecem ou não estão acostumados a transmitir
devolutivas aos alunos ( BERNARD; KMAN; KANDELWAL, 2011; DENT; HARDEN, 2009).
Além disso, muitos alunos não entendem que estão recebendo devolutivas8. Portanto,
visando construir propostas de melhorias para o fornecimento e recebimento das
devolutivas o principal objeto do estudo foi avaliar a percepção dos preceptores e alunos
da USCS - Bela Vista, sobre as devolutivas nos estágios em Diadema.
2. MÉTODOS
214
2.2. Local
2.4. Procedimentos
215
Os questionários foram baseados nas perguntas de Maia e colaboradores (2018).
As perguntas foram adaptadas para questões categóricas e qualitativas em dois
questionários, um para os preceptores e outro para os alunos. O questionário adaptado
para a avaliação dos alunos continha 11 itens que avaliaram o feedback. Já para a
avaliação dos preceptores foi aplicado um questionário sócio demográfico e em seguida
a versão do questionário modificado e adaptado, contendo nove questões (MAIA, 2018).
As variáveis primárias do estudo foram perguntas referentes as dificuldades
encontradas pelos alunos e preceptores em receberem e fornecerem devolutivas,
respectivamente. Como varáveis secundárias estavam a frequência do recebimento e
da oferta das devolutivas, experiência dos preceptores com as devolutivas, mudança de
comportamento dos alunos e quais características devem ter o preceptor e o aluno.
3. RESULTADOS
216
Um total de 75% dos preceptores apresentou ter experiência com educação na saúde e
destes, o tempo de experiência era em média de 23 meses (DP=39,9).
217
docentes responderam que perguntam ao aluno, ou que observam as atitudes do aluno
durante as próximas aulas práticas.
Um total de 63% dos docentes relatou que os alunos precisam ter características
específicas para se beneficiar de um feedback, sendo que apenas 12,5% dos docentes
discordaram dessa afirmação. As características citadas pelos docentes de forma
qualitativa foram ter interesse, saber escutar, ter resiliência, respeito e empatia.
Quando os docentes foram questionados sobre a frequência que solicitavam
feedback sobre a sua conduta como professor, 13% responderam que nunca solicitaram,
25% solicitaram raramente, 38% e 25% solicitaram feedback ocasionalmente e muito
frequentemente, respectivamente. Adicionalmente, 50% e 25% dos docentes
concordaram e concordaram completamente em modificar a sua conduta como
professor os alunos após receber um feedback.
218
Na avaliação qualitativa muitos alunos deixaram de responder essa questão,
provavelmente, devido a não repararem em aspectos negativos do feedback, aqueles
que responderam relataram se sentirem desmotivados após um feedback, dependendo
da forma como ele foi realizado, outros se sentiram agredidos com um feedback rude
ou então relatam que o impacto negativo foi que eles não mudaram de atitude na
prática clínica porque não receberam um feedback eficaz.
Sobre a dificuldade do aluno em receber o feedback 37% e 47% discordaram
completamente e discordaram, respectivamente, em sentir desconforto de receber
feedback após performance na prática. Apenas 3 % dos alunos relataram sentir
desconforto em receber feedback. As únicas situações que deixaram os alunos
desconfortáveis foram a exposição, quando o feedback é dado frente ao paciente ou
dos colegas, ou então quando receberam apenas feedback negativo sem apontar pontos
de melhorias. Um total de 60% e 13% dos alunos concordou, ou concordou
completamente que lidam bem com críticas negativas durante um feedback. Nenhum
aluno relatou que não lida bem com críticas negativas.
A maioria dos alunos concordaram (57%) ou concordaram completamente (37%)
que observaram mudanças na prática clínica após receber feedback dos preceptores.
Foram diversas as mudanças relatadas pelos alunos tanto sobre mudança de conduta
clínica como mudança de relacionamento pessoal, com colegas, equipe de trabalho e
até mesmo os pacientes.
Metade dos alunos 53,33% concordaram que há necessidade de o preceptor ter
características específicas para oferecer um bom feedback. De forma qualitativa os
alunos relataram que um bom feedback é aquele fornecido pelo preceptor com clareza
em sua fala, sem julgar, ser um bom observador e coerente com as competências
pretendidas, individualizar o grau de conhecimento de cada aluno, ser respeitoso e ser
qualificado para usar técnicas de feedback e propor correções e melhorias nas
competências pretendidas e ter empatia.
A maioria dos alunos concordaram (53%) e concordaram completamente (37%)
que o feedback deveria ser uma prática constante em seu curso. As preferências dos
alunos sobre a forma em que o feedback seja fornecido é oral e que seja realizado com
mais frequência, adicionalmente, a preferência sobre local é individualizada em local
219
privado e como preferência sobre os tipos de feedback foram eleitos os feedbacks
construtivos que apontam críticas construtivas.
Os alunos foram questionados se conseguiam fazer um feedback ao preceptor e
as respostas foram variadas, alguns conseguiram e até viram mudança na prática do
professor, porém a maioria não conseguiu ou não conseguiu espaço e se sentem
inseguros para oferecer um feedback ao professor.
4. DISCUSSÃO
220
disso, o feedback deve conter informações com orientações para que os alunos
desempenhem melhores performances em atividades futuras (CARR et al, 2019).
A frequência do feedback é muito importante para garantir efetividade na
avaliação, enquanto na visão dos preceptores as devolutivas foram ofertadas com alta
frequência ou em todas aulas práticas, porém, nenhum estudante relatou ter recebido
devolutiva em todas aulas práticas e poucos alunos disseram as terem recebido com
frequência. Este achado se assemelha ao que ocorreu no estudo de Liberman e
colaboradores (2005), no qual os autores relataram que 86,2% dos cirurgiões deram
feedback imediatamente após a atividade prática e apenas 12,5% dos residentes
perceberam esta frequência (LIBERMAN et al,2005). Os professores não têm
compreensão sobre a prática do feedback e de como transmiti-lo, por isso a frequência
de transmissão pode ser menor do que os preceptores relataram (BURGESS; MELLIS,
2015). Isso reforça o fato de que ser especialista no assunto a ser transmitido, bem como
o tempo de atuação no campo da educação médica não significa, necessariamente, ser
um bom preceptor, ou seja, aquele que estimula a reflexão do aluno e promove
informações a respeito das necessidades de melhorias. Existem médicos preceptores
que não se atualizam, nestes casos, eles transmitem o conteúdo de acordo como
aprenderam, por acreditarem que seu tempo de experiência seja capaz de suprir suas
necessidades pedagógicas, não havendo o engajamento necessário para modificações
em seu comportamento perante a realização das devolutivas. Essa dificuldade de
transmissão das devolutivas pode repercutir na percepção do estudante, o fato das
devolutivas não apresentarem uma informação específica de qual comportamento deve
ser modificado e não conter sugestões de como melhorá-las fazendo com que os alunos
não percebam as devolutivas (CARR et al, 2019). Assim, há necessidade de melhorar a
interação entre professor e aluno, necessidade de feedback claros e direcionados para
que haja a efetividade.
Há dados que mostram que sozinho, o aluno tem dificuldade de perceber onde
e como pode melhorar suas competências clínicas, sendo assim a habilidade de dar
devolutivas específicas, oportunas e claras são habilidades fundamentais ao preceptor
(CARR et al, 2019). Para Nottingham e colaboradores (2014) , os preceptores com menos
experiências promoveram menor número de feedback aos estudantes, enquanto os
mais experientes promovem mais, o que também é notado nesse estudo onde
221
preceptores com maior tempo de experiência na área de educação em saúde (dois anos
e 10 anos) ofereceram devolutivas em todas aulas práticas.
No presente estudo, os tipos de devolutivas utilizadas pelos preceptores foram
a oral, breve e construtiva. Apesar de existirem diversas maneiras de realizar o feedback,
os alunos preferiram os feedbacks orais, provavelmente, devido a facilidade de serem
ofertados e recebidos imediatamente (BRANCH; PARANJAPE, 2002). Outras formas de
feedback que poderiam ser incorporadas são: (1) o Brief feedback (Breve) que visa
fornecer a informação da necessidade de mudança de alguma ação no momento em
que é observada; (2) formal, no qual a informação é dada ao final da atividade, focando
em uma ou duas habilidades específicas com duração de 5 a 20 minutos; (3) maior
(Major) que é a orientação dada no meio do estágio ou no final a respeito de
performances e comportamentos mais complexos, culminando com um plano de ação
para se obter melhorias antes do término do ciclo do estágio com duração de 15 à 30
minutos (BRANCH; PARANJAPE, 2002).
Sobre a avaliação da efetividade de um feedback, apenas um quarto dos
preceptores relataram saber como avaliar. Esse resultado se difere de um estudo prévio,
no qual 90,9% dos preceptores cirurgiões relataram avaliar efetividade no feedback
oferecido aos residentes (LIBERMAN, 2005)..A efetividade da devolutiva pode ser
avaliada através da observação das tarefas e ações para as quais foram propostas
melhorias e se essas foram realizadas, além do grau de motivação do aluno para
reconstruir seu conhecimento em desempenhar as alterações necessárias. Nem sempre
o feedback é aceito pelos alunos, levando à autorreflexão e mudanças
comportamentais, principalmente quando as informações dadas pelos preceptores
entram em conflito com os pensamentos dos alunos. Quando isto acontece, pode haver
prejuízo na aquisição de competências clínicas e portanto, não atingir a efetividade que
o feedback se propõe (TELIO; AJJWAI; REGEHR, 2015). No presente estudo, metade dos
preceptores sentiram dificuldades em fornecer devolutivas negativas para os alunos. Os
professores têm a percepção de que ao fornecer devolutivas negativas ocasionem um
rompimento do relacionamento professor/aluno, além de terem sua popularidade
afetada. Para amenizar esses efeitos os preceptores abordam críticas de forma mais
amena, transmitindo mensagens de maneira indireta. A falta de um feedback
222
direcionado de forma clara para o aluno pode não ser um feedback eficaz (TELIO;
AJJWAI; REGEHR, 2015).
Por outro lado, o percentual de impactos negativos com as devolutivas ofertadas
nesse estudo foi pequeno. Para que esse impacto negativo seja reduzido, a transmissão
do feedback precisa ser clara, de maneira respeitosa, sem julgamentos, basear-se no
que foi observado no momento e o que é passível de alteração para que se promova a
reflexão e a motivação e, assim, favorecer as na mudanças na prática clínica (RAMANI;
KRACHOV, 2012). O local em que essa devolutiva é dada parece ser a principal razão
para o desconforto. Em local privado as devolutivas podem ser dadas de maneira clara,
oportuna e específica, propiciando um incremento na aprendizagem do aluno, pois
facilita a comunicação entre o aluno e o preceptor sem receio de ser ridicularizado pelos
colegas (NTULI; SEPTEMBER; SITHOLE, 2018). Além disso, as mudanças
comportamentais ocorrem mais quando há concordância do que foi falado pelo
professor com o modo de pensar do estudante, adicionalmente, o grau de aceitação das
devolutivas está associado ao poder de auto-avaliação do estudante (SCHARTEL, 2012).
Com relação aos impactos positivos do feedback, os resultados observados
nesse estudo foram positivos e assemelham-se a outro estudo na literatura em que 95%
dos estudantes tentaram mudar o comportamento com as devolutivas recebidas
(BERNARD; KMAN; KHANDELWAL, 2011).
Outro ponto importante a destacar foi que maioria dos estudantes relataram
desejo de que as devolutivas sejam práticas rotineiras nos estágios práticos. Os alunos
reportam que embora os preceptores tenham conhecimento e clareza sobre os
objetivos do instrumento de avaliação, ele não é usado nos estágios de forma constante.
Concordando com os nossos resultados, entre 60 a 75% dos estudantes do estudo de
Al-Mously e colaboradores (2014) consideraram a frequência de recebimento do
feedback baixa à adequada, atribuindo a falta de uma base estrutural para que a
transmissão do feedback fosse realizada (AL-MOUSLY et al, 2014).
As devolutivas dos alunos ao preceptor não parecem ser frequentes na prática
dos estágios. Estudantes podem promover aos preceptores devolutivas sobre sua
percepção à respeito dessa transmissibilidade, propiciando uma troca de informações
para serem refletidas e propiciarem as mudanças necessárias, constituindo uma
aprendizagem bidirecional (CARR et al, 2018). Notou-se que preceptores preferem
223
receber devolutivas de pessoas que tenham competências para avaliarem sua
desenvoltura na prática profissional, o que também é percebido com os alunos, os quais
preferem receber feedback de professores que consideram como modelos profissionais
(JAMSHIDIAN et al, 2019).
Preceptores que recebem devolutivas e as utilizam para melhorarem seu
desempenho profissional, seja como médico ou professor, estão mais engajados a
fornecerem devolutivas para o aluno (MENACHERY et al, 2006).
5. CONCLUSÃO
224
negativos e desconforto devido problemas na transmissão das devolutivas e foram
relacionados ao local, exposição frente a outras pessoas ou forma de falar. Para que as
devolutivas sejam efetivas, os alunos relatam que o professor precisa ser claro em sua
fala, não fazer julgamentos, ser respeitoso, propor correções, melhorias, ter didática
para o ensino médico e qualificação para sua transmissão. Isso pode ser obtido por meio
de informações de como estruturar um feedback através da criação de um guia sobre
devolutiva, treinos para habilitação da transmissão das devolutivas, bem como uma
verificação de como estão sendo realizadas e interpretadas na prática. Já no ponto de
vista dos preceptores, os alunos devem ter habilidades de fala e escuta, empatia,
respeito, interesse e com essas qualidades se tornarem pró-ativos no processo para o
aperfeiçoamento das competências designadas, tornando o feedback uma estratégia
efetiva de aprendizado.
REFERÊNCIAS
ALBANO, S., et al. “Resident Perspective on Feedback and Barriers for Use as an
Educational Tool.” Cureus, v. 11, n. 5, p. e4633, 2019.
BURGESS, A.; MELLIS C. Feedback and assessment for clinical placements: achieving the
right balance. Adv Med Educ Pract. v.6, p.373-81. 2015.
225
CANTILLON, P.; SARGEANT, J. Giving feedback in clinical settings. BMJ (Clin Res Ed),
Galway, v. 337, p. a1961, 2008.
DENT, J. A.; HARDEN, R. M. A Practical Guide for Medical Teacher, 3 ed. Churchill
Lvingstone: Elsevier, p. 357-364, 2009.
HARDAVELLA, G., et al. How to give and receive feedback effectively. Breathe (Sheffield,
England), v. 13, n. 4, p. 327–333, 2017.
LIBERMAN, S., et al. Surgery residents and attending surgeons have different
perceptions of feedback. Medical teacher, v. 27, n. 5, p. 470-472, 2005.
NOTTINGHAM, S.; HENNING, J. Feedback in clinical education, part II: approved clinical
instructor and student perceptions of and influences on feedback. Journal of
athletic training, v. 49, n. 1, p. 58-67, 2014
NTULI, S.; SEPTEMBER, N. N.; SITHOLE, N. South African podiatry students' perceptions
of feedback given as part of clinical training. J Foot Ankle Res., v. 11, n. 36, 2018.
OLIVEIRA, C. A.; SENGER, M. H. Avaliação formativa: estamos preparados para
PAGLIOSA, F. L.; Da ROS, M. A. O relatório Flexner: para o bem e para o mal. Rev. bras.
educ. med., v. 32, n. 4, p. 492-499, 2008.
RAMANI, S.; KRACKOV, S. N. Twelve tips for giving feedback effectively in the clinical
environment, Med Teach., v. 34, n. 10, p. 787- 791, 2012.
226
SCHARTEL, S. A. Giving feedback–An integral part of education. Best practice & research
Clinical anesthesiology, v. 26, n. 1, p. 77-87, 2012.
TELIO, S.; AJJAWI, R.; REGEHR, G. The “educational alliance” as a framework for
reconceptualizing feedback in medical education. Academic Medicine, v. 90, n.
5, p. 609- 614, 2015.
227
CAPÍTULO XVI
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
Sem dúvidas, o café é uma paixão por grande parte da população brasileira.
Conforme apresenta a Associação Brasileira da Industria de Café – ABIC, o Brasil é o
maior produtor de café do mundo com 58,5 milhões de sacas produzidas em 2018,
tendo Minas Gerais como o maior produtor de café entre os estados (ABIC, 2019).
228
O café é uma mistura complexa de milhares de componentes químicos, incluindo
hidratos de carbono, lipídios, componentes nitrogenados, vitaminas, minerais e
alcaloides. Os grãos de café verde contêm o complexo de antioxidantes, principalmente
ácidos clorogênicos (ácidos cafeoilquinóicos), e mostram propriedades antioxidantes in
vitro (JESZKA-SKOWRON et al., 2016)
A fermentação do café, incluindo a de grãos torrados, também contém ácidos
clorogênicos e cafeína e outros compostos bioativos com capacidade antioxidante,
como teofilina e teobromina, tocoferóis, cafestol, kahweol e trigonelina, além de
produtos da reação de Maillard (JESZKA-SKOWRON et al., 2015)
Mas é a cafeína e os seus efeitos no organismo que deram popularidade ao café
(ALMEIDA, 2015). Indubitavelmente o café serve como fonte primária de cafeína para
o adulto, sendo consumido em diferentes níveis e segmentos pela maioria da população.
A cafeína é uma droga classificada como metilxantina, sem valor nutricional, e
lipossolúvel. Essa substância pode ser encontrada em diversos produtos de alto
consumo mundial como o guaraná, o chocolate, o mate, entre outros, sendo uma das
drogas mais consumidas do mundo (VAZ, 2016)
O café possui de 1 a 2,5 % de cafeína , que é o componente mais conhecido por
seus efeitos estimulantes sobre o sistema nervoso central, e geralmente é associada a
uma melhora no estado de alerta, na capacidade de aprendizado e resistência ao esforço
físico. Após ser transformada pelo organismo humano, ela pode contribuir para a
atividade antioxidante da bebida (ABIC, 2019)
Do ponto de vista alimentício, todos esses componentes fazem do café uma
bebida natural e saudável e se ingerido em doses moderadas, pode fazer muito bem
para a saúde, além de outros benefícios. Com esse foco em mente, o objetivo do
trabalho é buscar na literatura artigos que confirmem os benefícios do café e
principalmente da cafeína do ponto de vista funcional e de saúde.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
229
e apresenta distribuição nas Américas Central e do Sul, na África e leste da Ásia, sendo
cultivado principalmente no Brasil (DE CARVALHO OLIVEIRA et al., 2018; (BAGYARAJ et
al., 2015)
O cultivo do café evoluiu de maneira significativa ao longo do desenvolvimento
histórico e econômico do Brasil, especialmente em termos de localização da produção.
Entre as espécies mais cultivadas está o café arábica (Coffea arábica L.), que responde
por cerca de 60% a 70% da produção mundial, sua expansão geográfica está
concentrada na América Latina, na América Central, na África Oriental, na Índia e, até
certo ponto, na Indonésia (CARVALHO et al., 2017).
Desde os primórdios das transações mercantis simples, o café tem sido um
produto de extrema relevância nas economias mundiais se destacando como o segundo
produto mais comercializado no mundo depois do petróleo (DE CARVALHO OLIVEIRA et
al., 2018) Os grãos de café arabica são tidos como sendo mais caros e valiosos pelas suas
características organoléticas únicas (BAGYARAJ et al.,2015) O segmento do café
representa, atualmente, aproximadamente 12% do mercado internacional da bebida
(SEBRAE, 2019)
Sua popularidade pode estar associada a complexidade da bebida, resultado do
grande número de compostos químicos contidos nos grãos de café verde. A composição
química dos grãos crus é determinada por aspectos genéticos, ambientais, adubação,
trato fitossanitários, ligados à maturação dos frutos, cuidados durante a colheita,
secagem e por fim no beneficiamento, armazenagem e modo de preparo. (SILVA, 2005;
SIMOES et al., 2008).
As transformações sofridas por essa composição química em todas as fases do
processamento do grão e da extração do café, originam uma grande diversidade de
estruturas complexas que se podem encontrar numa xícara de café (ROTHFOS, 1980).
Uma alimentação rica em produtos vegetais sempre esteve associada a uma vida
mais saudável, com isso, diversos estudos sobre as funcionalidades dos vegetais no
organismo estão abrangendo o conhecimento sobre os compostos bioativos que
também recebem diversos nomes como fitoquímicos, nutracêutico e compostos
bioprotetores (TORTORA; DERRICKSON, 2012) Nos últimos anos houve um aumento no
interesse por alimentos com atividades biológicas, principalmente com propriedades
antioxidantes (NEWMAN; CRAGG, 2012).
230
As bebidas de café são reconhecidas pelas características sensoriais de aroma,
acidez, corpo, amargor e adstringência, e os atributos aroma doce, de café e sabor ácido
se apresentaram como diferencial durante safras e processamentos (SCHOLZ et al.,
2019).
Uma particularidade da bebida do café é o facto de apresentar um valor
nutricional irrelevante, sendo consumida pelos efeitos fisiológicos, nomeadamente a
sua atividade estimulante, psicológicos e pelas propriedades sensoriais resultantes do
aroma e sabor que a cafeína proporciona. O efeito estimulante da cafeína tem levado a
que os consumidores reduzam a frequência do seu consumo, devido a possíveis efeitos
colaterais sobre o sistema nervoso central, endócrino e cardiovascular (GAWLIK-DZIKI
et al., 2014).
231
ácidos graxos livres , açúcares como sucrose, glicose, frutose, arabinose, galactose,
maltose e polissacarídeos
2.1.1. Kahweol
Furstenau et al (2019) relatam que o kahweol (1,2 didesidrocafestol) é o
diterpeno presente em maior quantidade em cafés não filtrados, como o café turco e
seus efeitos protetores são descritos como antioxidantes, anti- inflamatórios,
antitumorais e quimioprotetores em diferentes modelos experimentais ( LEE,
2007 ; CÁRDENAS et al., 2011 ; CÁRDENAS et al., 2014 ; CHOI et al., 2019 ; IWAMOTO et
al., 2019)
2.1.1. Cafestol
A única diferença entre o cafestol e kahweol em termos estruturais é que o
kahweol possui uma ligação dupla extra (HALVORSEN et al., 1998)
Cafestol e kahweol podem regular uma variedade de mediadores inflamatórios
para reduzir a inflamação. Além disso, os dois diterpenos do café podem impedir a
ocorrência de câncer, bloqueando a ativação de agentes cancerígenos e melhorando a
função de desintoxicação do fígado. Eles também podem inibir a proliferação e a
angiogênese das células tumorais e fornecer uma nova abordagem para a prevenção e
tratamento do câncer (REN et al., 2019).
232
xícaras de café pode evitar à depressão. (Fonseca et al., 2011) Outro importante
constituinte do café são os ácidos clorogênicos que quando hidrolisados dão origem aos
ácidos cafeico e quínico. O ácido cafeico representa cerca de 50% dos ácidos
clorogênicos presentes no café. Ou seja, em uma xícara de 200 mL de café é possível
encontrar entre 70 a 350mg de ácidos clorogênicos e de 35 a 175mg de ácido cafeico
(FOOD-INFO, 2014).
Figura II: Principais compostos bioativos do café: ácidos clorogênicos.
2.1.3. Cafeína
A cafeína é um alcaloide natural (1,3,7-trimetilxantina) dos grãos de café, que
está presente também em chá e em outras bebidas cafeínadas amplamente
consumidas, assim como no chocolate e em alguns medicamentos (REIS et al., 2014).
Tem ação principalmente como inibidor no sistema nervoso central, sistema
cardiovascular e na homeostase do cálcio, resultando na elevação da pressão sanguínea,
aumento do metabolismo e na produção de suco gástrico. É absorvida pelo trato
gastrointestinal e principalmente metabolizado pelo fígado. Esse alcaloide exerce certa
influência sobre as funções cognitivas e físicas, uma vez que a maioria das atividades do
mundo real exige complexas tomadas de decisão, processamento e movimento
motor. A cafeína exerce seus efeitos bloqueando os receptores de adenosina. (ROSA et
al., 2018)
233
Após a ingestão de baixa ( ∼40 mg ou ∼0,5 mg kg −1 ) a moderada (∼300 mg
ou 4 mg kg −1) doses de cafeína, a vigilância, atenção e tempo de reação melhoram,
mas efeitos menos consistentes são observados na memória e na função executiva de
ordem superior, como julgamento e tomada de decisão. Efeitos sobre o desempenho
físico em uma vasta gama de métricas de desempenho físico, como força e resistência
muscular e sprints de alta intensidade típicos de esportes coletivos, são evidentes após
doses que excedem cerca de 200 mg (∼3 mg kg −1) Muitas ocupações, incluindo
militares, socorristas, trabalhadores de transporte e trabalhadores em turnos noturnos,
exigem funções físicas e cognitivas ideais para garantir o sucesso, a segurança e a
produtividade no local de trabalho. Nessas circunstâncias, que podem incluir sono
restrito, a administração repetida de cafeína é uma estratégia eficaz para manter as
capacidades físicas e cognitivas (MCLELLAN et al., 2016)
234
2.1.4. Mecanismos de ação da cafeína
Podemos encontrar aproximadamente 47 a 134 mg de cafeína em uma xicara de
café. A cafeína é uma substância absorvida de modo rápido e eficiente, via
administração oral, através do trato gastrointestinal com aproximadamente 100% de
biodisponibilidade, alcançando um pico de concentração máxima na corrente sanguínea
após 15 a 120 minutos de sua ingestão (SINCLAIR; GEIGER, 2000)
O pico plasmático da cafeína ocorre de 30 minutos a 2 horas após seu consumo,
potencializando seu efeito através da ingestão de alimentos. Sua absorção ocorre no
trato intestinal, de forma completa, com grande biodisponibilidade e elevada
solubilidade em água. Sua principal ligação com proteínas plasmáticas acontece com a
albumina, de 10 a 35 % com um volume de distribuição de aproximadamente 0,6 a 0,07
L.kg-11. Seus efeitos biológicos são resultantes da sua ação em variados sítios de ligação:
Receptores de adenosina, fosfodiesterases, canais de cálcio, receptores de GABAA entre
outros (TAVARES; SAKATA, 2012).
3. METODOLOGIA
3.3. Descritores
235
idiomas português, espanhol ou inglês. Foram excluídos os artigos com apenas o resumo
disponível, estudos que não se referissem ao tema de interesse, ou que não
descrevessem bem como com data de publicação anterior a novembro de 2015, ou
escritos em outros idiomas que não o português, inglês ou espanhol. Foram encontrados
mais de 1000 artigos, após leitura dos títulos e resumos foram selecionados 15 registros.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
236
a ingestão de cafeína pode estar associada a menor risco de desenvolvimento de câncer
de mama na pós-menopausa.
Em um trabalho publicado no ano de 2018 por Estevam et al., foi possível
concluir que houve uma tendência no aumento de força máxima proporcionado pela
cafeína em homens adultos ativos, comprovado pelo teste de 1RM, o mesmo resultado
foi apresentado para o retardo da fadiga, comprovado pelo teste de Repetições
máximas. Em outro estudo que estudava a percepção de dor durante um treinamento
de força, foi concluído que os efeitos da suplementação de cafeína demonstraram-se
com uma menor percepção de dor durante o treinamento de força (OLIVEIRA et al.,
2017)
A ingestão de 5 mg.kg-1 de CAF por atletas juniores de futebol após uma semana
de abstinência, segundo Lima et al., (2017) exerce efeito ergogênico durante o teste de
prioridade aeróbia de alta intensidade, principalmente quanto a parâmetros de melhora
no consumo máximo de O2 e redução no tempo individual de execução de teste.
Há indícios científicos de que a cafeína, através da interação com os sistemas
dopaminérgico, glutaminérgico e GABA-érgico, altera o curso clínico do Parkinson e do
Alzheimer. Devido à sua ação central, através da diminuição da atividade da adenosina
e do GABA, a cafeína apresenta alguns efeitos neuroprotetores em injúrias cerebrais
associadas ao sistema glutaminérgico, como os efeitos observados nos modelos
experimentais da doença de Alzheimer e do Parkinson (CAZARIM; UETA, 2015)
Carvalho (2019) evidenciou em seus estudos que o café possui potencial
neuroprotetor por ser antagonista do receptor A2A, de caráter excitatório, promovendo
redução no risco de desenvolver a Doença de Parkinson (DP). Além disso, a cafeína
também foi associada com a diminuição de tremores concatenados ao
comprometimento motor e não motor ao longo da evolução dessa patologia.
Entretanto, o estudo em questão também mostrou controvérsias na correlação entre o
uso da cafeína e o desenvolvimento da DP, visto que em alguns pacientes o efeito se
mostrou inexistente, enquanto em outros o consumo do café apareceu como um fator
de risco, denunciando a interferência da interação entre a cafeína com o genótipo do
indivíduo.
Hauschild & Adami (2018) relataram em seu estudo que a cafeína contribi para
um menor consumo de carboidratos como também na perda de % gordura corporal e
237
consumo de carboidratos, cafeína, proteína e calorias totais, associaram se com o
aumento do peso magro.
Além das aplicações nas áreas de saúde, cafeína provou em um trabalho de
MIRANDA (2019) ter potencial para utilização como larvicida natural, uma vez que os
efeitos dela foram semelhantes a de inseticidas conhecidos. Os tratamentos também
afetaram o intestino médio das larvas de A. aegypti, causando estresse oxidativo,
ativando a apoptose, inibindo a proliferação de células-tronco e reduzindo o número de
células enteroendócrinas FMRFamida. Além do mais, a borra de café usada no estudo
apresenta menor toxicidade ao meio ambiente e a organismos não-alvos, em relação
aos inseticidas químicos, e é um produto livre de custos, por ser de uso cotidiano e de
descarte, transformado em ferramenta de controle alternativo de vetores.
Um estudo prospectivo realizado na Finlândia demonstrou que o consumo de
quatro ou mais xícaras de café por dia poderia ser um fator de risco para artrite
reumatóide com fator reumatóide positivo (OLIVEIRA, 2011).
Em uma revisão sistemática desenvolvida por Silva et al (2015) acerca da
associação entre consumo de cafeína na gestação e ocorrência de TDAH nos filhos,
foram identificados apenas cinco estudos que avaliaram os efeitos do consumo materno
de cafeína durante a gestação e a ocorrência de TDAH na infância, sendo seus achados
controversos. Dentre os quatro estudos mais bem delineados e analisados apenas um
encontrou associação entre consumo de cafeína e hiperatividade aos 18 meses de idade.
Assim, a evidência atualmente disponível é insuficiente para que se possa afirmar ou
refutar a associação entre o prevalente hábito de consumir alimentos ricos em cafeína
na gestação e a ocorrência de TDAH entre os filhos.
Em um estudo no ano de 2015 com 539.577 participantes sobre consumo de café
e risco de câncer de próstata, Liu et al. concluíram que o risco relativo apontava para
uma associação inversa. O risco de câncer de próstata diminuiu 2,5% para cada 2 xícaras
de café consumidas por dia Liu et al. ( 2015 ) acreditavam que são necessários mais
estudos para confirmar ainda mais os achados.
Em uma outra metanálise, Liu et al. ( 2016 ), agora sobre melanoma maligno que
incluíram estudos de caso e estudos de coorte. Um total de 844.246 participantes foram
incluídos no estudo. Foi estabelecido que participantes com mais ingestão de cafeína
podem ter um risco reduzido de melanoma. Os resultados do estudo indicaram que as
238
bebidas com cafeína podem ter alguns efeitos quimio-preventivos em relação ao
melanoma, e concluiu-se que mesmo uma xícara de café com cafeína por dia diminui o
risco de melanoma.
Xie et al. ( 2016 ) em um estudo com mais de 1.000.000 de participantes.
descobriram forte associação entre beber café e uma redução no risco de câncer
gástrico. Um aumento no consumo de café mostrou que houve uma diminuição no risco
de câncer gástrico
Em um estudo em 2017, cujo objetivo era investigar os efeitos modificadores da
cafeína na lesão hepática induzida pela administração de tioacetamida (TAA) em ratos
machos, no grupo de co-tratamento os animais receberam uma dose de TAA de 200 mg
/ kg b.w e 37,5 mg / kg de cafeína. Após oito semanas de tratamento, foi observado que
o TAA induziu toxicidade hepática, e aumentou consideravelmente os níveis de citocinas
pró-inflamatórias (TNF-a, IL-1β e IL-6) no soro. O co-tratamento com cafeína e TAA
restaurou a estrutura e função normal do fígado. Deste modo, a cafeína forneceu um
efeito anti-fibrogênico, antiinflamatório e antioxidante que foi associado à recuperação
de alterações hepáticas histológicas e funcionais da hepatotoxicidade induzida por TAA
(AMER et al., 2017)
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio da pesquisa, pode-se concluir que a cafeína apresenta uma grande
variedade de efeitos benéficos, como melhora da atenção; melhora no rendimento
físico; quebra de gorduras; menor consumo de carboidratos, entre outros, em outras
palavras, a cafeína apresenta um leque de aplicabilidades. Embora esta substância
apresente efeitos benéficos, seu uso deve ser feito de maneira cautelosa, pois como
toda droga, a cafeína, também apresenta efeitos colaterais de dependência e
toxicidade. Por ser uma substância muito consumida necessita de mais estudos para
caracterizar esses efeitos adversos. O aprofundamento literário em alguns aspectos
pode contribuir para a elucidação de mecanismos ainda desconhecidos ou controversos,
pelo qual a cafeína interage com os diversos sistemas fisiológicos.
239
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2016
244
CAPÍTULO XVII
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
245
doenças reumatológicas. Os anti-inflamatórios não esteroidais são inibidores da enzima
cicloxigenase (COX), seletivos ou não, o que impede a formação de prostaglandinas
(PGs). Existem duas isoformas da enzima cicloxigenase, designadas COX-1 e COX-2, com
estruturas químicas similares. A isoforma COX-1 é expressa de forma constitutiva na
maioria dos tecidos, enquanto a COX-2 é induzida nas inflamações. A COX-1 é essencial
para a manutenção do estado fisiológico normal de muitos tecidos, incluindo a proteção
da mucosa gastrointestinal, controle do fluxo sanguíneo renal, homeostasia, respostas
autoimunes, funções pulmonares e do sistema nervoso central, cardiovasculares e
reprodutivas, enquanto a COX-2, induz a inflamação por vários estímulos, como
citocinas, endotoxinas e fatores de crescimento (BATLOUNI, 2010).
As prostaglandinas são produzidas a partir de fosfolipídios da membrana celular
por uma cascata enzimática. Em uma primeira etapa ocorre a conversão de fosfolipídios
da membrana em ácido araquidônico pela enzima fosfolipase A2, o qual é liberado no
citoplasma. O ácido araquidônico, por sua vez, pode servir de substrato para duas vias
diferentes, uma baseada na ação das cicloxigenases e a outra relacionada com a enzima
lipoxigenase, conforme mostrado na Figura 1.
Fonte: Baseado em HILÁRIO; TERRERI; LEN (2006) e DIETRICH; CARRIS; PANAVELIL (2016), com
modificações.
246
O Meloxicam é um anti-inflamatório não esteroidal que possui comercialmente
três formas farmacêuticas, injetável, suspensão oral e comprimido. Pertence à classe do
ácido Enólico, que tem como finalidade atividades anti-inflamatórias, antipiréticas e
analgésicas. Este fármaco é indicado para tratamento dos sintomas da artrite
reumatoide e osteoartrite, amenizando a dor e a inflamação. Sua fórmula estrutural está
mostrada na Figura 2.
247
expiração ou renúncia da proteção da patente ou de outros direitos de exclusividade,
cuja proteção é determinada pela Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996.
A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 47, de 28 de março de 2001,
determina que os medicamentos genéricos devem ser identificados com uma faixa
amarela contendo a letra G em azul em suas embalagens externas. Já o medicamento
similar é aquele que contém a mesma forma farmacêutica, concentração, princípio
ativo, via de administração, posologia e indicação terapêutica, preventiva ou diagnóstica
do medicamento inovador, mas diferem nas características relativas ao tamanho e
forma do produto, prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipientes e veículos. A
identificação deve ocorrer por meio do nome comercial ou marca (ANVISA, 2009).
O conceito de equivalência farmacêutica, de acordo com a RDC nº 31, de 11 de
agosto de 2010, refere-se aos equivalentes farmacêuticos como medicamentos que
contém a mesma forma farmacêutica, a mesma via de administração e mesma
quantidade de substancia ativa. Devem seguir os requisitos da monografia da
Farmacopeia Brasileira 5ª Ed. (2010), ou seguir as especificações de outros códigos
oficiais, normas ou regulamentos aprovados pela ANVISA. Na ausência desses, devem
cumprir os requisitos com outros padrões de qualidade. Os testes realizados para a
comprovação dos equivalentes farmacêuticos são avaliados por meio dos testes in vitro
(ANVISA, 2010).
Após a implantação da PNM, o perfil de consumo de medicamentos genéricos
pela população tem mudado consideravelmente com o passar dos anos, conforme
relatado por Araújo (2010). A autora relata que houve um crescimento de
aproximadamente 249,42% entre junho de 2000 e agosto de 2001 e em abril de 2004
havia um total de 1.124 medicamentos genéricos registrados, o que torna evidente a
necessidade de garantir a bioequivalência com os medicamentos de referência. Desta
forma, este trabalho teve como objetivo efetuar o controle de qualidade e equivalência
farmacêutica em medicamentos na forma de comprimidos não revestidos que contêm
o meloxicam como princípio ativo.
248
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.2. Dureza
2.3. Friabilidade
249
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
250
MOTA; ALVIM, 2019). Os valores médios observados em 10 comprimidos utilizados para
cada medicamento, em Newtons (N), foram R (44,0 N), MX (41,9 N), ML (79,0 N), MM
(62,8 N) e MT (31,8 N).
No teste de friabilidade o limite tolerado de perdas é de 1,5% no máximo, sendo
que os resultados de perdas obtidos para os 20 comprimidos de cada medicamento
foram iguais a R (0,0028%), MX (0,2185%), ML (0,1477%), MM (0,1170%) e MT
(0,2989%). Observa-se que o medicamento genérico MT apresentou a maior variação
de peso, mas mesmo assim está bem abaixo do limite máximo permitido, de modo que
os resultados demonstraram que todos os medicamentos foram aprovados.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
251
ARAÚJO, L. U. et al. Medicamentos genéricos no Brasil: panorama histórico e legislação.
Rev Panam Salud Publica, v. 28, n. 6, p. 480–492, 2010.
252
CAPÍTULO XVIII
RESUMO
253
1. INTRODUÇÃO
254
Figura 1: Feijão branco (Phaseolus vulgaris L)
Fonte: https://www.semo.cz/en/nazev-latinsky/phaseolus-vulgaris-l/
2. MÉTODOS
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1. Obesidade
255
consequências da patologia no nível individual, a pandemia da obesidade pode criar um
enorme fardo para a saúde pública da sociedade (SWINBURN et al., 2011).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), obesidade é definida como
“acúmulo anormal ou excessivo de gordura que apresenta risco à saúde”. Em contraste
com a visão de que esta representa apenas um fator de risco para doenças, a World
Obesity Federation declarou a própria obesidade como uma doença crônica, recorrente
e progressiva (BRAY et al., 2017).
Isso tem sido justificado por uma abordagem de modelo epidemiológico que
considera a fisiopatologia da obesidade como uma interação de fatores ambientais
(disponibilidade e acessibilidade de alimentos ricos em energia, baixa necessidade de
atividade física), com susceptibilidade genética, resultando em um balanço energético
positivo e maior peso corporal. Os fortes mecanismos que promovem o ganho de peso
e defendem um peso corporal mais elevado, mesmo contra intervenções direcionadas
para a perda de peso, argumentam ainda mais a visão de que a obesidade é uma doença
crônica e não uma decisão (MÜLLER e GEISLER, 2017).
256
cardiovascular e efeitos adversos cardiorrenais. Em pessoas com diabetes ou com alto
risco de diabetes, a obesidade e a gordura ectópica acumulada frequentemente
resultaram em diminuição da resistência à insulina e da função das células beta do
pâncreas. Ambos limitaram a capacidade de alguns pacientes com diabetes de produzir
uma resposta metabólica adequada aos problemas imunológicos, levando a uma
enorme necessidade de insulina em infecções graves.
257
Quadro 1: Descrição dos estudos que evidenciaram o efeito antiobesidade do extrato de feijão
branco (Phaseolus vulgaris L.).
258
adipócitos maduros e em tecido de triglicerídeos no meio
adiposo branco de ratos. intracelular.
Foi relatado retardo da digestão de
amidos da dieta por meio da inibição
da alfa amilase pancreática.
Fonte: Autoria própria
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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260
CAPÍTULO XIX
RESUMO
261
1. INTRODUÇÃO
262
O controle das infecções assintomáticas está atrelado às novas tecnologias
diagnósticas como os testes rápidos para sífilis e para o HIV, além de outras mais
elaboradas aplicadas ao diagnóstico molecular, mas que contam com a possibilidade de
implantação, como os testes para gonorreia e clamídia. Vale ressaltar que ISTs são de
notificação compulsória, e devem ser sinalizadas através do SINAN (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2018).
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é uma doença crônica causada
pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), ocasionando perda progressiva da
imunidade celular e, consequentemente, o aparecimento de infecções oportunistas.
Estima-se que 38 milhões de pessoas em todo mundo possuam o vírus, contudo o acesso
a medidas profiláticas tem representado uma ótima medida controle a incidência.
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018; UNAIDS, 2020).
Atualmente o indivíduo portador do vírus possui vida normal graças ao
controle e manejo da doença ao usar os medicamentos indicados e acessíveis
através do Sistema único de saúde (SUS), o que possibilita indivíduos de baixa renda
a não comprometerem seu orçamento, e manter o tratamento sem interrupções
além dos frequentes acompanhamentos clínicos. (BRASIL,2020).
Existem atualmente duas estratégias de tratamento preventivo que favorecem
novas campanhas de combate a transmissão do HIV, diminuindo de forma relativa a
transmissão do vírus, a profilaxia Pré-exposição (PrEP) e a Profilaxia Pós-Exposição
(PEP). A PrEP é uma estratégia de prevenção que utiliza medicamentos antirretrovirais
de forma contínua por pessoas não infectadas a fim de reduzir o risco de aquisição do
HIV através de relações sexuais. O PrEP também é utilizado por casais para prevenção
de um indivíduo que não possui positividade a doença. Já a PEP, é uma estratégia de
prevenção que utiliza medicamentos antirretrovirais durante 28 dias em pessoas que
tiveram risco de contato com o HIV através de relações sexuais desprotegidas ou
acidentes de trabalho com exposição a material biológico, com a finalidade de impedir
que o HIV se instale no organismo de forma definitiva. Este tratamento deve ser iniciado
logo após a situação de risco dentro do prazo máximo de 72 horas. (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2018; PREP BRASIL, 2020)
O uso de preservativos em todas as relações sexuais (orais, anais e vaginais) é o
método mais eficaz para evitar a transmissão das ISTs além de ser um importante
263
método contraceptivo. O indivíduo que realiza sexo desprotegido pode contrair uma IST,
sem predileção por idade, classe social, orientação sexual ou religião. Um indivíduo
aparentemente saudável pode estar infectado por uma IST (DIVE, 2020)
No município de São Gonçalo o atendimento realizado a pessoas portadoras de
alguma ISTs é realizado em três locais diferentes: pelo Centro de testagem e
acolhimento, na parada 40, atuando na testagem laboratorial para HIV e sífilis, além do
teste rápido para HIV, com ferramenta de triagem; na Clínica Municipal Gonçalense, no
barro vermelho fornecendo a PrEP; e o Centro de Referência, Polo Sanitário Hélio Cruz
com equipe de infectologistas e enfermagem para atendimento da população (O SÃO
GONÇALO, 2020).
2. MÉTODOS
264
ser realizada on-line através da plataforma Survio. O presente trabalho é o produto de
um Trabalho de conclusão de curso.
O benefício oferecido por este estudo está na resposta à comunidade sobre a
qualidade da informação dos participantes para o mercado de trabalho.
Esperávamos que neste trabalho fosse possível avaliar a qualidade do
conhecimento dos alunos de uma instituição privada e divulgar estes resultados através
de um trabalho científico para a comunidade.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram coletados quarenta e seis questionários onde, 87% são do sexo feminino,
com média de idade de 28 anos, 49% moram com parceiros e são residentes do
município de São Gonçalo (87%) e Niterói (13%).
Possuem o ensino médio completo e, 50% dos participantes afirmaram ter aula
e palestra de educação sexual na escola (ensino fundamental ou médio). 58,7 % nunca
realizaram algum teste diagnóstico para detecção de IST, mas somente 45,7% utilizam
o preservativo em todas as relações sexuais. Aproximadamente 8% dos participantes
afirmam não ter medo de se infectar e, 13% acreditam que todas as IST’s apresentam
sintomas clínicos.
Podemos observar que o perfil dos candidatos é de jovens que afirmam ter algum
tipo de conhecimento sobre ISTs. Contudo, os resultados confrontam uma realidade
diferente, podendo ser explicada pela presença de um parceiro fixo. A confiança em não
adquirir doença também pode ser explicada por este fato que descartaria o uso do
preservativo. No entanto muitos candidatos nunca realizaram nenhum teste diagnóstico
o que pode ser preocupante para a saúde do indivíduo e de terceiros.
Apesar da metade dos participantes afirmarem ter tido aula ou palestras de
educação sexual, os mesmos não se protegem através do sexo seguro. Como propósito
original deste trabalho era compreender o conhecimento dos alunos em torno das ISTs,
foi possível constatar que os participantes necessitam de uma reciclagem sobre o
assunto em sala de aula e em projetos pedagógicos aplicados à carreira dos mesmos.
265
Como alunos da área da saúde, devem se conscientizar sobre o assunto a fim de
preservar os mesmos na rotina de trabalho com amostras e pacientes, além do papel
como possível disseminador de informação para a população.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
ALVES, T. Atenção Básica de São Gonçalo foi destaque na efetivação de políticas públicas
em 2019. Portal São Gonçalo, disponível em:
https://www.saogoncalo.rj.gov.br/noticiaCompleta.php?cod=10250&tipoNotici
a=Sa%FAde
Bardin, L. (2006). Análise de conteúdo (L. de A. Rego & A. Pinheiro, Trads.). Lisboa:
Edições 70. (Obra original publicada em 1977)
BRASIL. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com
Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST)/Ministério da Saúde, Secretaria de
Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e
Infecções Sexualmente Transmissíveis. – Brasília: Ministério da Saúde, 2020.
266
Revista oficial do núcleo de estudos da saúde do adolescente/UERJ. Vol. 15 nº
1 - Jan/Mar – 2018
267
CAPÍTULO XX
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
268
visando estabelecer possibilidades para o desenvolvimento de ações pedagógicas por
associar práticas em equipe abordando diferentes formas de aprender, desenvolvida no
ano letivo de 2020 com a finalidade de recuperar um terreno ocioso com entulhos e
vegetação alta no entorno da Escola Clarice, município de Americana-SP, para evitar a
proliferação de animais peçonhentos, principalmente o escorpião amarelo, devido á alta
incidência no bairro onde a escola está inserida.
Diante dessa situação, o Projeto elaborado e proposto visou despertar o
interesse dos envolvidos no contato com o ambiente, atuando com comprometimento
e responsabilidade, em diversas etapas de desenvolvimento, tais como: limpeza do
local, construção dos canteiros, escolha das PANCs (plantas alimentícias não
convencionais) a serem cultivadas, processo de plantio, rega e manutenção, entre
outras, com a orientação e supervisão do professor.
Com o desafio lançado, buscou-se desenvolver nos envolvidos habilidades de
investigação e espírito cientifico com atividades direcionadas ao uso do solo,
envolvendo-os na implementação, com técnicas articuladas promovendo um
aprendizado significativo com o contato direto na terra, priorizando a importância do
trabalho em equipe.
A execução do Projeto originou da necessidade de despertar um novo olhar e
respeito com o meio ambiente, a elaboração, manejos, cuidados, dedicação e
comprometimento, elementos fundamentais para a eficiência que resultaram no
sucesso.
O projeto foi estabelecido para que os envolvidos tivessem conhecimento de
todas as etapas, participando de cada uma delas, contribuindo para sua execução, desde
o preparado do terreno até a colheita das PANCs.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
269
acreditando em fazer uma educação de qualidade, partimos para o desenvolvimento do
projeto com a finalidade de um aprendizado significativo.
Considerando a ideia que por meio do conhecimento da educação ambiental é
possível promover alterações na comunidade no que se refere ao cultivo de PANCs, à
saúde e melhor qualidade de vida, participando coletivamente numa atividade que gere
interesse e ao mesmo tempo tendo a possibilidade de ser o agente de tais mudanças.
Considerando que os Parâmetros Curriculares Nacionais estabelecem que os
conteúdos de Meio Ambiente inter-relacione aos demais, num envolvimento de
transversalidade dentro de uma situação motivadora dentro do tema, proporcionando
uma abrangência geral do problema ambiental.
Concordando que o mundo contemporâneo proporciona novas perspectivas e
tendências e que a escola aporta o papel de nicho apropriado por desenvolver as
habilidades e competências que colaborem para a formação dos alunos como cidadãos
conscientes para enfrentarem o novo século, com suas escolhas.
Tais ações são importantes para alcançar a principal finalidade da educação, que
é o pleno desenvolvimento do indivíduo, preparando o aluno para o exercício da
cidadania, conforme estabelece a LDB.
Nessa perspectiva de mudanças e transformações, o professor possui papel
fundamental de agente colaborador, e nesse contexto a sustentabilidade surge como
parâmetro para uma interação presente e futuro.
O projeto tem por finalidade implementar o cultivo de PANCs na unidade escolar,
relacionando sua execução como alavanca de proposta de ensino para Educação
ambiental, além de promover uma reflexão sobre a melhor qualidade dos alimentos
servidos na merenda escolar e ao mesmo tempo propiciar aos envolvidos uma atividade
prática.
Após a escolha do local para implementação, o ponto de partida foi limpeza com
remoção de entulhos e corte da vegetação. Com o terreno limpo, capinado, iniciamos a
preparação do local para os primeiros plantios.
270
2.2. Planejamento
271
2.3. Levantamento de dados
22,22%
77,78%
Sim Não
272
Figura 02: fonte autoria própria - Consumo de hortaliças
Consumo de hortaliças
Figura 03: fonte autoria própria - Obtenção de informações sobre cultivo de hortaliças
Não opinou
2%0%
Não
32%
Sim
66%
Figura 03: fonte autoria própria - Obtenção de informações sobre cultivo de hortaliças
273
Figura 04: fonte autoria própria - Porque não cultiva hortaliças em casa?
Outros
18%
Falta de
interesse
Falta de espaço
1%
31%
Falta de
conhecimento
50%
Figura 05: fonte autoria própria - Você conhece o que são PANCs!
17%
Sim
Não
83%
274
Esse campo de informações com certeza possibilitará ao aluno a escolha correta,
no que refere a respeito dos alimentos a serem escolhidos para consumo e desse modo,
colaborar para a adoção de uma alimentação saudável.
Segundo Campos, 2017, a escola tem o papel da discussão sobre o cuidado com
o meio ambiente.
“A escola deve abordar os princípios da educação ambiental de
forma sistemática e transversal em todos os níveis de ensino.
Abordando o tema horta na escola dará oportunidade não só de
oferecer alimentos que satisfaçam as necessidades nutricionais
dos educandos no período em que estão na escola, mas também
de contribuir para a melhoria do processo de ensino
aprendizagem e a formação de hábitos e práticas alimentares”.
Após o preparo da área, prosseguimos nas discussões dos materiais, ferramentas
e utensílios necessários para realização, além de técnicas de regas e adubação.
Num levantamento nas proximidades da Escola encontramos algumas espécies
de plantas alimentícias não convencionais, cultivadas como ornamentais, cerca viva,
outras tidas como mato, nascidas em calçadas ou terrenos baldios, entres elas, ora-pro-
nóbis, peixinho da horta (figura 06), almeirão roxo, serralha, caruru, beldroega, taioba,
vinagreira, bertalha, trapoeraba, azedinha e capuchina.
275
Figura 06: Fonte autoria própria – peixinho da horta
276
dos impactos socioambientais que afligem o planeta, buscando
satisfazer as necessidades fundamentais da humanidade ao mesmo
tempo em que são respeitados os direitos das gerações futuras terem
acesso a um ambiente saudável” (EMBRAPA, 2011).
277
O projeto foi uma possibilidade e um processo para o desenvolvimento de metas
pedagógicas, por conceder o comprometimento dos participantes, permitindo novas
maneiras de ensinar e aprender.
A horta inserida no ambiente escolar pode ser um laboratório
vivo que possibilita o desenvolvimento de diversas atividades
pedagógicas em educação ambiental e alimentar unindo teoria
e prática de forma contextualizada, auxiliando no processo de
ensino-aprendizagem e estreitando relações através da
promoção do trabalho coletivo e cooperado entre os agentes
sociais envolvidos. (MORGADO, 2006. p.1).
Satisfação de dever cumprido, sensação observada nos alunos, quando
perceberam que as hortaliças estavam prontas para o consumo, resultado obtido com
a formação de valores, com ensino e aprendizagem de habilidades e metodologia
aplicada utilizando saberes adquiridos durante o desenvolvimento das atividades e que
puderam ser socializados.
Buscou com o cultivo a complementação da alimentação com a inserção de
plantas sem adição de agrotóxicos, produzidas apenas com insumos orgânicos e
acompanhadas do plantio a colheita, pelos alunos.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
278
O desafio foi atingido, pois os alunos puderam gradativamente desenvolver
habilidades de desenvolver e ter um olhar crítico, elaborando opiniões esclarecedoras,
propondo soluções para determinadas questões levantadas, com fundamento nos
conteúdos abordados durante o decorrer das atividades, destacando a importância do
trabalho em equipe.
REFERÊNCIAS
Entrevista especial sobre Projeto Horta nas Escolas. Artigo disponível em: <
www.coocafe.com.br/noticia/entrevista-especial-sobre-projeto-horta-nas-
escolas/415.html. Acesso em: 03 mar. 2020.
279
CAPÍTULO XXI
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
280
irritabilidade, ansiedade, fadiga, dificuldade de concentração, esquecimento, e queixas
somáticas levando a situações de sofrimento emocional.
Os Transtornos Mentais Comuns (TMC) não preenchem os critérios para um
diagnóstico psiquiátrico formal de acordo com os dois manuais de diagnósticos: Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - 5a edição (DSM- 5) organizado pela
Associação Americana de Psiquiatria em 2014, e a 10a revisão da Classificação
Internacional de Doenças (CID-10) da Organização Mundial de Saúde, no entanto, ter os
sintomas dos Transtornos Mentais Comuns pode levar a sofrimentos e a prejuízos.
Não sendo na maioria das vezes notificados, os transtornos mentais comuns
trazem um grande impacto na qualidade de vida das pessoas. A identificação precoce e
um diagnóstico correto dos transtornos mentais comuns têm grande relevância para
evitar prejuízos físicos e psicológicos à pessoa acometida (PARREIRA et al., 2017).
Para Skapinakis et al., (2013) as expectativas é que em 2030 a depressão esteja
entre as perturbações mentais mais incapacitantes. Diante das projeções de aumento
do transtorno mental na população geral percebe-se que é necessário estudar mais
sobre a incidência e prevalência dos TMC em diversas populações. Uma investigação
realizada com 3.597 pessoas em uma população urbana de um município localizado no
nordeste do Brasil revelou uma prevalência para o TMC de 29,9%. (ROCHA et al., 2010).
Considerando o impacto que os TMC possam ocasionar na população de
estudantes e em especial nos alunos dos cursos técnicos que têm expectativas de entrar
no mercado de trabalho e ter autonomia financeira assim que terminar o curso, essas
variáveis podem levar esses discentes a desenvolver sintomas de TMC.
Este estudo tem como objetivo investigar a prevalência dos sintomas dos
transtornos mentais comuns nos estudantes do curso técnico de administração em uma
instituição pública, neste sentido a realização do presente estudo se justifica pela
importância da identificação dos sintomas dos transtornos mentais comuns entre
estudantes, porque mesmo não sendo tão grave como os transtornos psicóticos, a alta
prevalência dos sintomas dos transtornos mentais comuns podem trazer graves efeitos
na população estudantil.
281
2. MÉTODO
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
282
de Musse e Machado, 2013 que apresentou um número maior de brancos e amarelos
que frequentam educação profissional. Proporcionalmente, 4,46% dos brancos e
amarelos, contra 3,64% dos pretos e pardos.
283
A Tabela 2 mostra as respostas dos participantes com relação às dimensões
avaliadas pelo SRQ-20. Observa-se os sintomas mais prevalentes apresentados pelos
estudantes com relação aos Transtornos Mentais Comuns foram: nervosismo, estado de
tensão ou preocupação (61,5%), dificuldade na tomada de decisões (47,9%), e tristeza
(42,7%).
284
De acordo com o Gráfico 1 dentre o universo amostral de 96 participantes do
curso técnico de administração, 37,5% dos sujeitos apresentaram Prevalência de
Transtornos Mentais Comuns (TMC). Por outro lado, uma investigação publicada no
início de 2020 com estudantes universitários 39,9% apresentaram TMC (GOMES, 2020).
Mesmo se tratando de população diferente o percentual encontrado de TMC nesses
estudantes mostram similitude. Em uma avaliação realizada por Silva e Costa em 2012
com estudantes universitários da área de saúde 41% dos discentes no início do curso e
28% ao final do curso apresentaram sintomas do TMC. Esses percentuais de sintomas
de TMC entre estudantes, sendo do curso técnico ou curso superior apontam para uma
preocupação importante nesta população.
O Gráfico 1 apresenta a prevalência de TMC entre os sujeitos.
285
Tabela 3 – Prevalência de Transtornos Mentais Comuns (TMC) em estudantes do curso
de Administração de acordo com a caracterização sociodemográfica
Prevalência de TMC
Variável
N % p
Sexo 0,72
Masculino 9 34,6
Feminino 27 38,6
Idade (anos) 0,32
< 20 40 41,7
21-30 41 42,7
31-40 13 13,5
41-50 1 1,0
51-60 1 1,0
Qual religião? 0,81
Não possui religião 7 33,3
Católica 7 36,8
Evangélica 20 41,7
Espírita 0 0,0
Outra 1 20,0
Etnia 0,02*
Branco 6 42,9
Preto 4 15,4
Pardo 24 46,2
Amarelo 2 66,7
Indígena 0 0,0
Estado civil 0,11
Solteiro(a) 28 37,3
Casado(a) 4 25,0
União estável (juntos) 2 100,0
Divorciado(a) 1 50,0
Viúvo(a) 1 100,0
Separação dos pais 0,02*
Sim 18 52,9
Não 18 29,0
Uso de álcool e outras drogas 0,70
Sim 2 25
Não 34 38,6
Significado de estudar 0,78
Adquirir conhecimento 23 35,9
Uma forma de crescimento pessoal 13 41,9
Uma obrigação 0 0,0
Total 96 100
Nota. f = frequência relativa à prevalência do TMC em cada variável; % = porcentagem
relativa; p = p-valor associação entre as variáveis e a prevalência de TMC na amostra.
*p<0,05.
286
Como apresentado na Tabela 3, o cálculo do teste exato de Fisher demonstrou
haver associação significativa entre a etnia dos participantes e a prevalência de TMC na
amostra [χ2 (4) = 9,32; p < 0,05]. Ao se observar os contrastes, verifica-se que a principal
diferença ocorreu entre os participantes autodeclarados pretos, de modo que a
probabilidade de prevalência de TMC foi menor entre esse grupo de sujeitos na amostra,
como demonstra o Gráfico 2. Dito de outra forma, os estudantes autodeclarados como
pretos exibiram uma probabilidade menor de apresentar TMC do que os participantes
brancos, pardos, amarelos e indígenas. Em discordância com o estudo de GOMES et al.
(2020) que revelou que a cor da pele dos estudantes que se declaram preta (42,9%),
branca (41,2%) e parda (36,2%) compõem os maiores índices de casos suspeitos de TMC.
287
Gráfico 2 – Associação entre etnia e prevalência de transtornos mentais comuns.
Fonte: autores (2020).
288
Gráfico 3 – Associação entre a separação dos pais e a prevalência de transtornos
mentais comuns. Fonte: autores (2020).
289
recomenda-se que em estudos posteriores sejam priorizadas amostras mais robustas, e
de preferência com cálculo amostral realizado a priori.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
IBM CORP. IBM SPSS: Statistics for Windows, Version 24.0. Armonk, NY: IBM Corp, 2016.
GOLDBERG David & HUXLEY Peter. Common mental disorders: a bio-social model.
London: Tavistock. 1992.
290
MUSSE, Isabel; MACHADO, Ana Flavia. Perfil dos indivíduos que cursam educação
profissional no Brasil. Econ. soc. Campinas, v. 22, n. 1, pág. 237-262, 2013.
PARREIRA, Bibiane Dias Miranda et al. Transtorno mental comum e fatores associados:
estudo com mulheres de uma área rural. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 51,
e03225, 2017.
291
CAPÍTULO XXII
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
292
de Saúde (OMS) 800 mil pessoas se suicidam, além disso, nesse dado não está incluso o
número de tentativas mal sucedidas e dos casos que não são computados.
O homem para Heidegger (1977) é um Dasein, isto é, Ser-no-mundo, Ser-aí
lançado às possibilidades. Este homem também é um Ser-para-morte, isto é, finito e
temporário, entretanto, contudo muitos têm medo desse momento por gerar angústia
e tendem a tentar fugir.
Em março, a sociedade brasileira foi pega de sobressalto com o Covid-19 tendo
como origem Wuhan- China. Por conseguinte, um grande número de pessoas passou a
morrer com esse vírus. A OMS decretou estado de pandemia e a principal recomendação
foi ficar em casa, isolados, distantes do contato pessoal com os outros.
A partir disso, questões existenciais como a perda de sentido na vida, antes
negligenciadas tiveram espaço para eclodirem. Sobre esta questão, sociólogo Durkheim
(2000) o suicídio é um ato realizado pela própria vítima, toda morte que resulta mediata
ou imediatamente de ato positivo ou negativo. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz
(FIOCRUZ), 51% dos casos de autoextermínio acontecem dentro de casa e, com o
isolamento social, A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) alertou para o fato de
que o número de casos e de tentativas de suicídios poderiam aumentar.
Além disso, Heidegger (1977) também considera que o Dasein é constituído em
um tempo, pois ele é um ser temporal e que se mostra como possibilidade frente ao
mundo. Desse modo, é possível observar como os tempos hodiernos influenciaram e
mudaram a vida das pessoas.
Assim, este estudo tem como objetivo investigar como o contexto atual no Brasil
de Pandemia pelo Covid-19 influencia o suicídio. Para tal, se utilizará da psicologia
fenomenológica-existencial, que, por sua vez, considera o homem em sua totalidade,
suspende os seus pré-conceitos e conhecimentos para compreendê-lo em movimento.
Além disso, tem a proposta de “voltar às coisas mesmas”, ou seja, deixar o fenômeno se
apresentar como é, e às vezes, compreender que ele permanecerá velado, de forma a
não ser possível uma compreensão completa, mas apenas aquilo que ele permite
mostrar (HEIDEGGER, 1977).
293
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Em outras palavras, o estar sozinho, inquieta o homem que na maioria das vezes
não sabe como lidar com a solidão, com o estar consigo mesmo e cuidar de si, além do
medo trazido pela própria pandemia. Sem contar com o fato de que o homem é social e
necessita do contato com os outros até para elaborar suas angústias. Em virtude disso,
May (1991) defende que os homens usam uns aos outros como espelhos, com os quais
podem afirmar sua própria existência. Diante disso, o sentimento de temor em ficar
distantes dos demais revela o fato de a solidão se manifestar como uma ameaça que
pode aniquilar o próprio eu.
Naturalmente, a solidão em si é ontológica do ser, ajuda-o em seu
desenvolvimento pessoal e não seria capaz de causar tamanho impacto, contudo
levando em consideração o isolamento estabelecido repentinamente como uma medida
294
de segurança pública é possível notar o porquê de tanta resistência de alguns em se
manter distantes do contato social físico. Antes desse fenômeno mundial, as pessoas
tinham uma rotina e maneiras específicas de se relacionar com os outros, agora distante
deles a solidão encontra espaço para se inserir e se torna a via possível para refletir
sobre questões elementares que há muito foram delegadas (MAY, 1991).
Ainda segundo May (1991, p. 28):
Todo ser humano adquire grande parte do senso de sua própria realidade
pelo que os outros dizem e pensam a seu respeito. Mas quem foi longe
demais nessa dependência alheia acabou temendo que se ela faltasse
perderia o senso de sua própria existência, ficaria “disperso”, como água
escorrendo na areia. Muita gente vive assim, tateando como cego, tocando
uma sucessão de pessoas.
295
Nesse seguimento, o tempo integral em casa também ocasionou em um
aumento da violência doméstica, seja física ou psicológica e do consumo de
álcool/drogas (ORSINI, 2020). Além do mais, o filósofo Kierkegaard ao ser citado por Da
Silva; Alves; Do Couto (2016) já salientava que por vezes o ser humano pode se encontrar
desesperado frente às escolhas e acontecimentos que permeiam a vida. Estando em
isolamento aconteceu o que os existencialistas já discutiam:
O tédio existencial, ao ser percebido como uma forma de desespero, pode ser
compreendido como a situação em que a pessoa sofre a dor de ver o tempo
passar e não estar colocando em prática o desenvolvimentos de suas
possibilidades existenciais (DA SILVA; ALVES; DO COUTO, 2016, p.186).
296
2.2. Compreensão existencial do suicídio
297
autêntico ou impessoal e inautêntico, é a própria angústia. Logo, ao optar por fugir dela,
o homem acaba por fugir de si mesmo, caindo em um modo de existir distante de si
próprio.
Em outro sentido, se o Ser-aí escolher o caminho da consciência, ele poderá está
aberto à angústia e assim se libertar do impessoal, podendo ser mais autêntico, o que
pode ser compreendido como resolução. Com ela, aceita seu destino, ou seja, assume
que também é um ser-para-morte e desempenha seu papel no mundo como autônomo
(HEIDEGGER, 1977). O poder-ser e o se apropriar da existência dependem das escolhas
que se fazem na vida e por vezes o ser pode se defrontar com a frustração de não se
está vivendo de modo próprio. No qual a imposição dos outros põe o ser no que pode
ser a sua última escolha: o suicídio
Nesse sentido, Sartre (1970) entende que o homem a princípio não é passível de
definição por não ser nada para depois ser o que ele fizer, escolher de si. Além do mais,
o filósofo difere liberdade do senso comum e do sonho: conseguir o que quiser sem
barreiras. E a liberdade baseada na realidade: está fundamentada na autonomia de
escolha. Essa liberdade é atuante mesmo que haja oposições, independente do local e
posição que ocupe na sociedade, o homem é livre ou não, a partir das posições que se
coloca e como se projeta, ele é o único responsável por isso.
Só será possível agir se ele tiver essa compreensão de que ele próprio precisa
planejar como será sua vida na terra. Mesmo que esteja imerso na cotidianidade, “O
homem é tão-somente, não apenas como ele se concebe, mas também como ele se
quer; como ele se concebe após a existência, como ele se quer após esse impulso para
a existência” (SARTRE, 1970, p. 10). Embora nem sempre o Ser-aí se der conta disso e
do fato de que suas escolhas afetam além de si mesmo: a esfera social, deixando marcas.
O suicida, por sua vez, deixa uma mensagem para sociedade que ele não
suportava mais esse sistema que adoece e é conhecida como sociedade do cansaço,
conforme Byung-chul Han (2015). Infere-se que na inexistência de um lugar próprio, o
suicídio se mostra como a escolha assertiva, faz o ser se apropriar de si nem que seja a
última coisa que faça.
Por sua parte, Frankl (1987; 2015), assim como Heidegger e Sartre, defende que
o homem é um ser livre, porém essa liberdade é na realidade circunstanciada por sua
situação concreta, isto é, contexto no qual se insere, e relação com o mundo e os outros.
298
Esse fato fica nítido, ao notar que durante o curso existencial as pessoas passam por
uma série de situações nas quais muitas vezes não escolheram, mas que ainda sim
precisam se posicionar diante da vida.
Nesses casos, porém, “o que realmente conta é a firmeza e a atitude com que
ele vai ao encontro de um destino inevitável e irrevogável” (FRANKL, 2015, p. 26). Em
outras palavras, mesmo diante de adversidades que acabam por causar sofrimento,
como se apresenta o fenômeno da pandemia do Covid-19, o distanciamento social e a
mudança na rotina, o homem ainda tem liberdade para se interrogar e se posicionar
diante da situação.
Diante disso, Frankl (1987; 2015) defende o fenômeno da transcendência, que
revela o fato de o homem sempre apontar para algo além de si mesmo, algo que não é
ele próprio, mas um sentido que precisa cumprir seja no serviço a uma causa ou no amor
a outra pessoa. Logo, a autotranscendência é a possibilidade de a pessoa realizar-se a si
própria enquanto se volta para fora de si. Com isso, a vontade de sentido acompanha o
todo o percurso existencial do homem e expressa a possibilidade dele poder se realizar
ao entregar algum trabalho ao mundo, experimentar algo ou se posicionar diante do
sofrimento.
Quanto ao sentido, é expresso como o algo que emerge a partir do
posicionamento do homem diante da vida, por isso sempre há diferentes sentidos para
diferentes pessoas em todos os momentos e contextos da vida (Frankl, 1987).
Em complemento, Frankl (2015, p. 15) defende:
299
embora o isolamento social, a mudança de rotina e maior contato com os outros
virtualmente impostos por ela não tenha sido uma escolha pessoal.
Assim, é preciso encontrar e cumprir o sentido mesmo diante do sofrimento
advindo desse fenômeno mundial, pois na impossibilidade de fazê-lo a pessoa pode cair
no vazio existencial e o suicídio se apresenta como uma possibilidade. Quanto a isso,
Frankl (2015) declara que o surgimento desse vazio vem do fato de que, diferentemente
dos animais, o homem não tem quem dizer o que deve fazer ou ser, de modo que não
possui orientações do que fazer com a própria vida. Em consequência, tem dificuldade
em projetar um projeto de vida e esse sentimento de vazio existencial pode se
manifestar através do tédio, agressividade, criminalidade, uso de drogas e,
principalmente em jovens universitários, suicídio.
Diferentemente do que se pode pensar, “o suicida também crê num sentido,
ainda que não de vida, de continuação da vida, mas ao menos no sentido da morte. Se
não acreditasse realmente em nenhum sentido, não teria forças sequer para mover um
dedo e, portanto, cometer o suicídio” (FRANKL, 2015, p. 80). Com isso em mente, é
possível notar que até mesmo ao arquitetar a própria morte a pessoa acredita que exista
um sentido, embora não o tenha conseguido de fato encontrá-lo, e utiliza essa lógica
para sustentar sua última ação diante da vida.
No decorrer de seus casos clínicos e vivências nos campos de concentração,
Frankl (1987; 2015) notou que não eram poucos os causos de tentativas de suicídio em
decorrência do sentimento de vazio existencial. Nesse seguimento, ao se deparar com
aqueles que expressavam a ideação costumava questionar “por que você não opta pelo
suicídio?”. A partir da resposta apresentada, seu trabalho seguia no intuito de
possibilitar que a pessoa compreendesse que existia algo para além dela, que se desse
conta de que a vida sempre espera algo dela que estava para além daquela situação.
Fica nítido com Frankl (1987; 2015), seja por experiência própria ou suas
atuações clínicas, que é possível que o homem supere qualquer adversidade contanto
que consiga encontrar e cumprir um sentido, que se interrogue sobre o que a vida
espera dele e aprenda com aquela vivência, superando a si e a situação. Isto posto, o
mais defendido é que, embora nem todo ato de suicídio advenha especificamente do
sentimento devastador de falta de sentido, sempre existe uma possibilidade dele ser
300
evitado caso a pessoa tome consciência de algum sentido e propósito para além dela
pelo qual valha a pena manter sua vida.
Por sua vez, a perspectiva de Albert Camus (1979) se propõe a investigar o
fenômeno do suicídio não em um panorama social, mas em um quadro de pensamento
individual, no qual alerta que há inúmeras situações no qual a pessoa pode optar por
arquitetar a própria morte. À vista disso, diferentemente de Frankl, sua reflexão permeia
a questão “A vida vale a pena ou não ser vivida?”.
Nesse seguimento, o homem contemporâneo é cada vez mais absorvido por
um contexto em que precisa dar conta muitas atividades ao longo da semana e a vida
cotidiana se apresenta cada vez mais corrida e automática, no qual a reflexão surge
desproporcional ao cansaço diário. Diante disso, Camus (1979) defende que é o cansaço
que constrói a base necessária para a consciência começar a se manifestar e que
apresenta a pessoa duas opções: “a continuação é o retorno inconsciente à mesma
trama ou o despertar definitivo. No extremo do despertar vem, com o tempo, a
consequência: suicídio ou restabelecimento” (p.13).
Ante o exposto, o homem compreende que a existência não tem sentido, que
não há esperança para si, tampouco uma lógica que governe os acontecimentos do
mundo, que a vida é fantasiosa e absurda. A partir de então, surge o intenso conflito
humano: sua luta diária em relação ao mundo, essa permeada através do absurdo.
Todavia, é necessário salientar que essa descoberta do absurdo não convoca a pessoa a
assumir uma visão negativista e outorgada em relação à existência. Muito pelo
contrário, ao surgir em um mundo absurdo e se dar conta disso, resta ao homem ter
consciência de sua existência, revoltar-se e libertar-se (CAMUS, 1979).
É a partir disso que surge a verdadeira reviravolta, tão bem apresentada no mito
de Sísifo. No mito, Sísifo foi condenado pelos deuses a rolar um rochedo incessante e
inutilmente até o alto de uma montanha, onde a pedra caía de novo por seu próprio
peso e ele precisava fazer tudo novamente por toda a eternidade. Por isso, Sísifo é o
chamado Herói do absurdo, uma vez que é consciente de sua tragédia e revolta-se
diariamente, mesmo sem esperanças para si enfrenta o rochedo como seu desafio
pessoal e consegue levá-lo sempre ao alto, fazendo-o dono do próprio destino (CAMUS,
1979).
301
Em outras palavras, ao enfrentar o seu destino, o homem se dirige para o mundo
com uma atitude completamente nova, não mais irrefletida, automática e voltada
sempre para o amanhã, mas aceita o desafio diário de se rebelar contra o absurdo.
Destarte, essa insatisfação em relação ao mundo é o que o mantém não somente senhor
do próprio destino como também dá valor à vida e responde ao porquê de mantê-la.
É ilógico, pois, pensar que há uma forma mais efetiva de lidar com o absurdo
senão com a revolta, como se apresenta o fenômeno do suicídio. É preciso destacar,
assim, que mesmo diante de situações adversas, como crises, morte de um ente
querido, isolamento em decorrência da pandemia do Covid-19, o homem ainda tem
apego à própria vida e tende a tentar mantê-la (CAMUS, 1979).
Isso evidencia que o que está em jogo na verdade é o que fazer com o
reconhecimento de que essa não possui esperança ou significado: tentar evitar ou
superar? Nesse seguimento, Camus (1979, p. 35) declara que “ele escapa ao suicídio à
medida que é, ao mesmo tempo, consciência e recusa da morte”, de modo que não há
como o homem resolver o absurdo e a única forma de vencê-lo é dizer sim diariamente
à vida, à insatisfação em relação ao mundo e ao seu confronto. Assim, fica nítido que
apesar de o suicídio se apresentar como a tentativa de escape desse absurdo, na
realidade em vez de exprimir a mais pura forma de libertação acaba por aprisionar o Ser,
evidenciando o fato de que o mundo ganhou no jogo da vida.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível constatar que a facticidade do mundo traz angústia para o Ser e
embora ela seja originária dele próprio busca formas na cotidianidade de terceirizar a
responsabilidade de suas escolhas se diluindo no impessoal. Porém, a pandemia causada
pelo Covid-19 obrigou o homem a isolar-se e defrontar-se consigo mesmo, necessitando
de muito esforço para continuar encontrando sentido na sua existência. Posto que o
Dasein, como ser-no-mundo e ser-com-os-outros, também tem a oportunidade de
ressignificar seus sofrimentos e inquietações. Contudo, a partir de março de 2020 ele
precisou responder a outras questões, inclusive se tinha um sentido pelo qual viver e se
sua vida valia a pena ser vivida.
302
Por outro lado, percebe-se que os sujeitos também se diferenciam ao entrar em
contato com os outros, como entende Rollo May (1991) que os homens são como um
espelho. E nessa falta do outro, transtornos como ansiedade, depressão e estresse pós-
traumático se intensificaram. Além da violência contra mulheres e crianças, além do
abuso de álcool e outras drogas. Muitos se viram desesperados frente ao tédio, tendo
em vista que a sociedade do século XXI se caracteriza pela alta produção e grande
número de estímulos que acelera suas atividades.
A inconstância também foi exacerbada, o medo da contaminação, de não saber
como seria o dia seguinte, se ainda teria um emprego ou não. O ser-para-morte que
antes conseguia ignorar essa possibilidade foi obrigado a encará-la numa escala mundial
e o sentimento de impotência despertou sua angústia. Diante disso, o sujeito pôde se
colocar numa posição de abertura, poderia optar por assumir sua existência autêntica e
oferecer um sentido a esse sofrimento ou continuar perdido no impessoal.
Mesmo que o homem não tenha tido a possibilidade de escolher onde e quando
nasceria ou se iria vivenciar uma pandemia, isto se deu e ele precisa realizar escolhas
frente a isso. Porém, primeiro é necessário que tenha consciência e responsabilidade
por suas escolhas, além de considerar as implicações que podem acarretar na sociedade.
Muitos ao se depararem com a finitude como uma possibilidade concreta, antes
negligenciada, pode ter se angustiado ao ter consciência das consequências de suas
escolhas.
Além de perceber que em sua existência não há sentido ou propósito a ser
cumprido, o Ser, por sua vez, não consegue entender que, como salientou Frankl (2015),
embora ele não tenha controle sobre as circunstâncias da pandemia, é imprescindível
que se posicione e busque o algo para além de si mesmo e desse momento. Caso
contrário, ao se deparar diariamente com o luto das famílias ou da sua própria,
desigualdades e crises de caráter social, econômico e na saúde, talvez ele não consiga
encontrar um lugar em que se apoie. Consequentemente, pôr fim a própria vida surge
como uma clara solução e possibilidade de escolher, mesmo que esta seja a sua última
e irrevogável.
Foi possível, também, constatar que mesmo diante de situações adversas, como
crises, morte de um ente querido, isolamento em decorrência da pandemia do Covid-
19, o homem ainda tem apego à própria vida e tende a tentar mantê-la. Diante disso,
303
resta a escolha do que fazer diante do reconhecimento de que a vida não possui
esperança ou significado. Se a pessoa opta por confrontar o absurdo, dizendo sim à vida
e à insatisfação perante o mundo, ou ceder a ele ao escolher a morte voluntária, é uma
escolha que cada um precisa se responsabilizar.
Salienta-se que é importante que a sociedade seja influenciada a pensar as
questões da sua existência e que sentido tem atribuído a ela, como tem se posicionado.
O ser autêntico escolhe baseado nas suas necessidades e anseios, ou seja, não atribui a
outrem a sua responsabilidade e não seria diferente no caso do suicídio. Por fim, esse
fenômeno não deve ser negligenciado, mas debatido a fim de que haja uma abertura do
Ser para suas possibilidades e sentidos de existência.
REFERÊNCIAS
CAMUS, Albert. O MITO DE SÍSIFO: ensaio sobre o absurdo. Lisboa: Livros do Brasil,
1979.
FRANKL, Viktor E. O sofrimento de uma vida sem sentido: caminhos para encontrar a
razão de viver. Trad. Karleno Bocarro. 1º ed. São Paulo: É Realizações, 2015.
GREFF, Aramita Prates et al. Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia COVID-
19: suicídio na pandemia COVID-19. 2020.
304
LIMA, ROSSANO CABRAL. Distanciamento e isolamento sociais pela Covid-19 no Brasil:
impactos na saúde mental. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 30, p. e300214,
2020.
MAY, Rollo. O homem à procura de si mesmo. 18ª ed. Petrópolis: Vozes, 1991.
ORSINI, Marco et al. Danos psíquicos durante pandemia por COVID-19 no Brasil.
Enfermagem Brasil, v. 19, n. 3, p. 196-201, 2020.
305
CAPÍTULO XXIII
RESUMO
306
Considerando que a vida média das hemácias fetais é menor do que a dos adultos, logo
após o nascimento os RN têm uma alta carga de hemoglobina para ser convertida em
bilirrubina e excretada no período pós-natal imediato. A assistência de enfermagem
proporciona o surgimento dos métodos e instrumentos do trabalho da enfermagem.
Uma das metodologias utilizadas pelo enfermeiro para implantação e operacionalização
do cuidado é a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), que contempla a
coleta de dados (histórico de enfermagem), diagnóstico de enfermagem, planejamento
de enfermagem, implementação de enfermagem e avaliação de enfermagem, o qual
oferta um cuidado organizado, sistematizado, contínuo e seguro ao recém-nascido. O
cuidado de enfermagem em neonatologia é o meio pelo qual se conduz a recuperação,
adaptação e o bem estar, sendo que, este cuidado encontra-se fundamentado em
conhecimentos científicos e na autonomia do profissional de enfermagem. Sendo seus
principais objetivos na neonatologia: identificar as situações de saúde-doença; as
necessidades de cuidados de enfermagem; subsidiar as intervenções de promoção,
prevenção, recuperação e reabilitação da saúde do recém-nascido. No exame físico, a
detecção depende principalmente da análise da pigmentação da pele e dos olhos do
recém-nascido, sendo que icterícia por hiperbilirrubinemia indireta apresenta
progressão céfalo-caudal, denominada zona de Kramer. O tratamento fototerápico é a
terapêutica mais utilizada, no mundo, para tratar a icterícia neonatal, devido à sua
elevada eficácia e falta de efeitos colaterais que expliquem o não usa da mesma. É uma
terapêutica que usa a energia luminosa para modificar a bilirrubina acumulada no
sangue, em produtos mais hidrossolúveis, expelido ligeiramente pela bile e pela urina.
No tratamento fototerapia o(a) enfermeiro(a) desenvolve cuidados na proteção ocular,
distância e posicionamento da fonte luminosa da fototerapia, prevenção de
queimaduras, controle de perda hídrica, observação de eliminação, pesagem, mudança
de decúbito a cada duas horas e cuidados com higiene. A atuação do enfermeiro junto
ao recém-nascido pré-termo, portador da icterícia fisiológica deve iniciar-se na detecção
precoce da mesma, durante o exame físico do recém-nascido e estendendo-se durante
a terapêutica proposta. Conclusão: Nesta perspectiva, nos cuidados envolvidos a saúde
do recém-nascido, percebe-se a importância das ações de enfermagem na atenção e
sistematização do cuidado aos neonatos pré-termo com icterícia fisiológica. Pois, a
assistência de enfermagem, possui atribuições importantes desde o exame físico,
contribuindo para o diagnostico, até no tratamento da icterícia neonatal. Fazendo-se,
necessário a qualificação do atendimento, para proporcionar um diagnóstico precoce e
dar início ao tratamento escolhido.
1. INTRODUÇÃO
307
icterícia. Na maior parte das vezes a mesma representa um fenômeno fisiológico
transitório (PAGANINI, 2009).
Em torno de 1,5 milhão de recém nascidos (RNs) apresentam icterícia nos
primeiros dias de vida por ano, cerca de 250 mil encontra-se em estado crítico e com
maior risco de neurotoxicidade, kernicterus ou óbito (FONTES, 2019).
É resultante da presença anormal de pigmentos biliares, podendo ser fisiológica
ou patológica, influenciando diretamente no seu tratamento que dependerá do tipo e
intensidade da mesma. A bilirrubina é um composto resultante da degradação da
hemoglobina proveniente da destruição das hemácias. Na fase fetal a bilirrubina é
filtrada pela placenta e excretada pelo fígado da mãe. Após o nascimento, é
imprescindível que o fígado do recém-nascido seja capaz de fazer o processo da
metabolização e excreção (SACRAMENTO, 2017).
O recém-nascido tem várias limitações no metabolismo da bilirrubina que
evidencia a icterícia em pacientes saudáveis, tais como sobrecarga de bilirrubina ao
hepatócito e a menor capacidade de captação, conjugação e excreção hepática de
bilirrubina (POVALUK, 2017).
Os neonatos que desenvolvem icterícia na primeira semana de vida extrauterina
(fora do útero) passam por uma série de situações, dentre as quais a prematuridade,
pode fazer com que os níveis de bilirrubina cresçam exageradamente, alastrar para
vários tecidos, inclusive o sistema nervoso central. A presença de grande quantidade de
bilirrubina por tempo prolongado pode lesar permanentemente estruturas como globo
pálido, núcleos subtalâmicos, hipocampo e núcleo óculor-motor, dando origem ao
chamado Kernicterus ou encefalopatia bilirrunínica, evidenciando a importância do
diagnóstico precoce e tratamento imediato (SACRAMENTO, 2017).
A icterícia fisiológica manifesta-se após as 24 horas de vida. No récem-nascido a
termo, que nasceram entre 37 a 41 semanas e 06 dias de gestação, há aumento de
bilirrubina sanguínea nos primeiros 3 dias de vida de até 6-8 mg/dl, sendo que níveis
inferiores a 12 mg/dl são considerados dentro dos limites fisiológicos. No recém-nascido
pré-termo, nascido antes de completar 37 semanas de gestação, o valor máximo de
bilirrubina pode ser de cerca de 10-12 mg/dl no 5° dia, podendo atingir 15 mg/dl sem
anomalia no metabolismo (1).
308
É necessário que os enfermeiros sejam qualificados e capazes de realizar o
diagnóstico clínico de icterícia bem como proporcionar adequada assistência de
enfermagem durante o tratamento (SENA, 2015)
Contudo, é importante que o tratamento seja realizado imediatamente após sua
descoberta, para tanto, faz-se necessário maior qualificação dos profissionais de
enfermagem, e nessa conjuntura, é observado o papel dos enfermeiros junto a equipe
de enfermagem, pois, os mesmos estão ligados diretamente ao cuidado do binômio
mãe-bebê, prestando os cuidados nas primeiras horas de vida do RN, sendo tais
profissionais primordiais na detecção e tratamento de RN ictéricos (POVALUK, 2017).
Desta maneira, o objetivo do trabalho é analisar a importância do profissional de
enfermagem no diagnóstico e tratamento fototerápico da icterícia fisiológica em
neonatos pré-termo.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
309
Desde o fígado, a bilirrubina separa da albumina, e através da enzima glicuronil
transferase, é conjugada com ácido glicurônico para produzir a bilirrubina conjugada
(solúvel) sendo excretada pela bile. No intestino sofre uma ação bacteriana, reduzindo
a bilirrubina conjugada a urobilinôgenio. Dessa maneira grande parte da bilirrubina
reduzida (urobilinogenio) é excretada pelas fezes e uma quantidade pequena é
eliminada na urina, como mostra o esquema de como é feita a metabolização no
organismo do recém-nascido, na figura 1 (HOCKENBERRY, 2018).
310
enfermagem no atendimento ao recém-nascido de uma maneira fundamental na
construção do desfecho clínico (WILLIAMSON, 2017).
No exame físico, a detecção depende principalmente da análise da pigmentação
da pele do recém-nascido sendo que icterícia por hiperbilirrubinemia indireta apresenta
progressão céfalo-caudal. Kramer no final de 1960 descreveu a progressão céfalo-caudal
da icterícia, dividindo o corpo do RN de termo em cinco zonas, como descreve na figura
2, associando estas zonas com a concentração de bilirrubina sérica (SACRAMENTO,
2017).
Os neonatos ictéricos devem ter uma dosagem de bilirrubina sérica (que pode
ser feita através do hemograma) e/ou uma aferição transcutânea (BTC), já que a
estimativa visual como parâmetro diagnóstico depende da experiência profissional, do
tipo e da pigmentação da pele do RN, da luminosidade, podendo ser submetida em peles
pigmentadas em ambientes claros e prejudicada em locais escuros. A dosagem sérica de
bilirrubinas é o exame mais recomendado, quando na BTC os níveis forem superiores a
12-14 mg/dl (SARLI, 2018).
Para definição do tipo de tratamento adequado deve-se observar diversos
fatores que corroboram para o diagnóstico, a fim de garantir que seja instituída a
terapêutica mais eficaz. Preconiza-se que, primeiramente, observe-se o histórico
materno e o histórico neonatal, analisar o aparecimento e a evolução da icterícia por
meio do exame físico minucioso no recém-nascido e em seguida realizar a coleta de
311
sangue do recém-nascido para análises. Deve-se, por fim, determinar se a
hiperbilirrubinemia enquadra-se no tipo fisiológico ou patológico (CALVACANTE, 2013).
O tratamento fototerápico é a terapêutica mais utilizada, no mundo, para tratar
a icterícia neonatal, devido à sua elevada eficácia e falta de efeitos colaterais que
expliquem o não usa da mesma. É uma terapêutica que usa a energia luminosa para
modificar a bilirrubina acumulada no sangue, em produtos mais hidrossolúveis, expelido
ligeiramente pela bile e pela urina (FONTES, 2019).
A realização dos cuidados ao neonato pelo(a) enfermeiro(a) tem como principais
objetivos a identificação de situações de saúde-doença; as necessidades de cuidados de
enfermagem; ajudar nas intervenções de promoção, prevenção, recuperação e
reabilitação da saúde do recém-nascido. Possibilitando o desenvolvimento de ações
neonatais que modificam o estado do processo de vida e de saúde-doença e promove a
saúde do recém-nascido (FONTES, 2019).
Nesta perspectiva, os recursos tecnológicos, a capacitação profissional, os
avanços na profissão de Enfermagem e o uso de instrumento de controle, proporcionam
uma assistência à saúde do recém-nascido de qualidade, reduzindo a mortalidade
infantil, promovendo a qualidade de vida declinando as desigualdades em saúde
(PAGANINI, 2009).
O enfermeiro (a) é responsável pelo recebimento e preparação do recém-
nascido na unidade de saúde para a realização da terapêutica, que muita das vezes o
diagnóstico é feito dentro da maternidade após horas do parto, bem como, preparam
os aparelhos que serão usados para a fototerapia, como os focos de luz, as incubadoras,
entre outros. Além disso, é de fundamental importância a humanização da assistência
nesse processo por meio do profissional para com o neonato e a família (CALVACANTE,
2013).
A atuação do enfermeiro é essencial e indispensável, diante da assistência
integral e individualizada prestada por esses profissionais sendo estes o responsável por
receber e programar ações voltadas ao neonato, tendo como cuidados a proteção
ocular, distância e posicionamento da fonte luminosa da fototerapia, prevenção de
queimaduras, controle de perda hídrica, observação de eliminação, pesagem, mudança
de decúbito a cada duas horas e cuidados com higiene (CALVACANTE, 2013).
312
Ainda assim, vem a existir uma fragilidade entre os enfermeiros quando se trata
da implementação aos cuidados com o recém-nascido portador da icterícia, possuindo
dificuldades no manuseio da fototerapia, na realização do balanço hídrico, mudança de
decúbito e pesagem, na qual as dificuldades vem a ser relacionada com a fragmentação
da assistência dos profissionais de enfermagem e a falta de elaboração das rotinas de
assistência criada pelas instituições (PAGANINI, 2009).
O trabalho do enfermeiro em neonatologia é um desafio constante, um caso de
icterícia neonatal, exige vigilância, capacidade, respeito e sensibilidade, porque o
paciente assistido é muito vulnerável e altamente depende da equipe de enfermagem,
que lhe proporciona assistência direta. A atuação do enfermeiro junto ao recém-nascido
portador da icterícia fisiológica deve iniciar-se na detecção precoce da mesma, durante
o exame físico do RN e estendendo-se durante a terapia proposta (SENA, 2015).
A equipe de enfermagem necessita conhecer e estar atenta para todos os sinais
e sintomas exibidos pelo recém-nascido, com vista a prevenir complicações e aumentar
a eficácia da terapêutica (WILLIAMSON, 2017)
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
313
FONTES , Michelle Barros; BATISTA , Thayse C. Oliveira. Assitencia do Enfermeiro na
Atenção a Saúde do Recém-nascido com Icterícia Neonatal: Uma Revisão
Integrativa. Universidade Tiradentes - UNIT, [s. l.], 9 maio 2019.
PAGANINI, Camila Bianca Lecciolle; FERREIRA , Aleksandro Belo; GLACCI, Clery Bernadi.
Icterícia Neonatal: Fatores de Riscos para Reinternação em uma População de
Recém-nascidos Vivos na Cidade de São Paulo. Arq Med Hosp Fac Cienc Med
Santa Casa São Paulo, [s. l.], 2009.
SENA, Divina T. Carvalho de; REIS , Rosane Pereira dos. A Importância da Atuação do
Enfermeiro no Tratamento da Icterícia Neonatal. Revista Eletrônica Estácio
Saúde, [s. l.], 2015.
314
CAPÍTULO XXIV
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
315
Balaskas, hoje ressignificado como parto natural ou humanizado, teve início na década
de 70 em Londres, gerando grandes conflitos nas salas de partos, o que resultou em sua
proibição. Entretanto, a luta continuou e o movimento foi resgatado através de uma
manifestação realizada por seus simpatizantes em um dia de domingo, mais
precisamente 11 de abril de 1982, denominada de "Comício pelos direitos de parir". Em
seguida, esse movimento se expandiu por outros países. (BALASKAS, 1993).
No Brasil, esse movimento ressurge com mais força na década de 90, através da
Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras (ABENFO), a qual incentiva
a criação dos centros de parto natural e/ou casas de parto, tendo apoio da fundação
Japonesa JICA.
Mas, até a presente data, a luta e aceitação do parto ativo ainda é uma realidade
distante e até certo ponto utópico para muitos profissionais da saúde e para muitas
gestantes, tendo em vista a visão distorcida que se disseminam quanto ao mesmo com
a finalidade em atender demandas mercadológicas e corporativas de profissões
hegemônicas da saúde, de modo específico em hospitais e maternidades do mundo
ocidental (MARTINHO, 2005).
Ainda se pode observar empiricamente nas unidades básicas de saúde e em
hospitais / maternidades que a maioria dos profissionais pré - natalistas concentram as
ações executadas durante a consulta pré-natal no foco biologicista, sem uma
abordagem efetivamente holística que considere e prepare a gestante como sujeito
ativo do processo de gestar e parir (MARTINHO, 2005).
Nessa perspectiva, o Grupo de Pesquisas Multiprofissionais em Educação e
Tecnologias em Saúde - PEMEDUTS/UFMT sentiu a necessidade em desenvolver um
Projeto de Pesquisa com interface na extensão intitulado: “Pré-natal humanizado:
Educação em saúde para o parto ativo”, do qual emergiu este estudo como recorte deste
processo construtivo de conhecimentos na área da saúde da mulher.
Objetivamos com esse estudo desvelar saberes / fazeres de profissionais da saúde
quanto ao significado e significância sobre pré-natal humanizado, visando promover
processos educativos quanto a educação em saúde durante o pré-natal para a gestante,
o companheiro e a família quanto ao parto ativo.
Enfatizamos que fenômenos observados empiricamente durante práticas
acadêmicas curriculares em unidades básicas de saúde (UBS) do município de Cuiabá –
316
MT e em um hospital público universitário, analogizados à leituras flutuantes em
literaturas pertinentes sobre parto ativo/humanizado, nos despertou a necessidade em
desenvolver este estudo visando desmistificar paradigmas que impedem profissionais
da saúde pré-natalistas, assim como usuárias gestantes, em compreenderem o
verdadeiro significado e significância do parto ativo para saúde e vida das mulheres,
filhos e consequentemente da família.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Uma mulher dá a luz ativamente quando ela é capaz de secretar seus próprios
hormônios ou, em outras palavras não precise de hormônios sintéticos e/ou outras
intervenções médicas. Nesse contexto, o conceito de parto ativo foi introduzido para
mulheres que querem ter de volta o controle e a responsabilidade sobre o parto
(BALASKAS, 1993).
O parto ativo trata-se de uma forma de parturição no qual a parturiente reage
aos seus próprios instintos e a lógica fisiológica do seu corpo. Nesse tipo de parto a
317
gestante realmente fica no controle do seu corpo durante o processo de parir, não sendo
objeto de uma “conduta ativa” do parto pela equipe obstétrica (BALASKAS, 1993).
Balaskas (1993) enfatiza que as ações do Parto Ativo contribuirão para diminuir
a probabilidade de complicações na gravidez, assegurando que a gestante chegue ao
processo de parturição em ótimas condições de saúde, além de melhorar e apressar sua
recuperação, independente do que tenha acontecido.
No início da gravidez a mulher terá que se adaptar as transformações hormonais,
físicas e psicológicas que são normais nesse período inicial da concepção, sendo que ela
poderá em alguns momentos precisar conviver com cansaço ou náuseas incomodas.
Porém, depois de passado algum tempo, a gestante começará a sentir-se mais disposta,
confiante e desfrutará de uma sensação de vitalidade, saúde e bem-estar onde poderá
exercer as condutas preconizadas para o parto ativo para auxiliar a gestante no período
da gestação, pode-se utilizar exercícios de yoga. Tais exercícios são originários da Índia
e atualmente é praticado em todo o mundo (BALASKAS, 1993).
O conceito e os propósitos inerentes ao parto ativo se adaptaram conforme as
mudanças paradigmáticas que ocorreram no setor saúde e foram influenciadas pelas
transformações ocorridas nos processos pedagógicos da formação profissional e
educação escolar de maneira geral. Portanto, podemos dizer que se trata de um sistema
conceitual aberto (MACIEL, 2009).
318
A saúde é uma construção social, um conceito amplo e subjetivo, está imbricada
na educação, não havendo a existência de uma sem a presença da outra. Portanto, ações
para a manutenção e resgate da saúde devem ser precedidas por processos dialógicos
educativos (MARTINHO, 2014).
3. MATERIAL E MÉTODO
319
A coleta de dados ocorreu nos meses de abril e maio de 2017, logo após a
aprovação do referido projeto pelo Conselho de Ética em Pesquisas com seres Humanos
(CEP) do HUJM, tendo parecer aprovado com o nº 2.046.110/2017, conforme Resolução
466/2012 da CONEP/CNS/MS.
Esta etapa foi feita com base em um roteiro com temas geradores sobre pré-natal
humanizado e parto ativo (Apêndice A). Os referidos temas foram dialogados durante
rodas de conversa, perfazendo um total de três (03) rodas de conversa.
Ressaltamos que esta pesquisa foi desenvolvida obedecendo as recomendações
éticas inerentes à pesquisas em seres humanos preconizadas pela CONEP/CNS/MS.
Nesse contexto, antes do início da mesma, foi solicitado a assinatura do termo de
anuência pela representante da Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá (Apêndice B)
e do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pelos profissionais da saúde da
UBSF lócus do estudo, sendo entregue uma via aos mesmos (Apêndice C).
Para compreensão dos resultados foi utilizada a técnica de análise temática e
processo de categorização segundo Bardin (2011), além, da triangulação com a
literatura e observações realizadas durante as rodas de conversa.
Esse processo sistemático de sistematização e análise dos dados seguiu as
seguintes etapas de execução:
1ª. Realização das rodas de conversa para coleta e transcrição dos dados
apreendidos nos discursos dos participantes;
2ª. Pré-análise: Esta etapa consistiu na leitura flutuante dos discursos transcritos.
A partir desta leitura emergiram os fenômenos significantes, possibilitando identificar
potenciais categorias discursivas a partir dos relatos dos profissionais;
3ª. Realização de leituras exaustivas dos conteúdos das falas agrupadas por
homogeneidade de semelhanças de sentidos, para a organização e sistematização dos
conteúdos, permitindo o agrupamento em grandes categorias;
4ª. Análises dos conteúdos das falas que foram reunidas por categorias,
identificando unidades de significados, procedendo-se aos agrupamentos finais;
5ª. Análise e compreensão dos dados, descrevendo as significâncias (sentidos)
dos conteúdos.
Franco (2007) ressalta que esses são pontos de partida para a análise, sejam elas
verbais, figurativas, gestuais ou diretamente provocadas, para que assim se identifique
320
o significado e sentido que os fenômenos expressos nas falas tiveram para os
participantes do estudo.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
321
profissionais. Nestes processos, o profissional deveria fazer parte da rede de apoio à
gestante, sem substituí-la, os autores fundamentam a percepção dos profissionais
quanto a importância da autonomia da mulher desde a pré concepção até o pós-parto.
Os atendimentos oferecidos as gestantes durante a consulta pré-natal precisam
contemplar a dimensão biopsicossocial das mulheres. Além da realização das manobras
de Leopold, solicitação dos exames laboratoriais e suplementação de sulfato ferroso
recomendada nas cartilhas do Ministério da Saúde.
322
Segundo Pinheiro & Mattos (2001), a integralidade das ações de saúde em nível
micro deve ser fruto do esforço e da confluência dos vários saberes de uma equipe
multiprofissional para traduzir e atender as necessidades de saúde. Sendo plena quando
há articulação entre os serviços de saúde e destes com outras instituições sociais,
portanto, a integralidade ampliada é a relação articulada, complexa, complementar e
dialética entre o cuidado dado pelo profissional, pela equipe e rede de serviços de
saúde.
Os sentimentos de descontentamento e desmotivação implícitos nas narrativas
dos profissionais que realizam o pré-natal na UBS lócus desta pesquisa, nos fez
compreender a urgente necessidade de mobilização social para que se criem políticas
públicas estruturantes nos sistemas de saúde municipais, estaduais, tendo em vista que
mesmo tendo sido instituído pelo Ministério da Saúde através da Portaria/GM nº 569,
desde o ano de 2000 o Programa de Humanização no Pré-natal e nascimento, fato é
que na maioria dos hospitais e maternidades do país ainda prevalecem práticas
desumanas e violências obstétricas, além da prevalência da alta taxa de realização de
cesáreas desnecessárias. O que demonstra a inexistência de políticas estruturantes que
garantam um atendimento obstétrico humanizado e o direito das gestante em optarem
por qual tipo de parto querem parir seu filho e que esta seja respeitada e cumprida pelas
maternidades e hospitais.
Nesse contexto, consideramos também que é factual a necessidade dos cursos
de graduação em medicina repensem seus currículos, de modo a possibilitar aos futuros
médicos uma formação mais humanizada no contexto da ginecologia-obstetrícia,
respeito ao trabalho em equipe considerando os saberes e fazeres dos enfermeiros
obstetras nas salas de partos, considerando o protagonismo das mulheres no ato de
pariri e direito destas em optarem quanto a que profissional querem neste momento
singular de suas vidas, se querem um médico ou enfermeiro obstetra.
323
“(...) O parto ativo está mais relacionado ao sentido obstétrico ou em relação à
gestante?” (Dúvida!) - Med. 02;
“(...)O parto ativo não é quando a mulher escolhe a via do parto que ela irá
querer? (Dúvida!)” - Enfa. 01;
“(...) na minha opinião o vínculo entre a atenção primária, secundária e terciária
é fraco no Brasil, impossibilitando o parto ativo. Não existe a tal integralidade.”
– Med. 01;
“(...) na unidade básica tem sido uma realidade o atendimento onde a gestante
é protagonista da sua concepção, mas, em centros hospitalares não é possível, é
mais difícil” - Enfa. 02;
“(...) há uma complexidade entre o que a gestante quer e o sistema de saúde
oferece no Brasil, principalmente aqui no Estado de Mato Grosso” - Med. 01;
“(...) durante o pré-natal fazemos um trabalho humanizado, porém, quando
chega a hora do parto a gestante não tem na maioria das vezes um bom
atendimento nas maternidades e hospitais” – Enfa. 02.
É evidente nesta categoria que os profissionais demonstram certa desmotivação
quanto a educar as gestante quanto ao parto ativo, por considerarem que a rede
hospitalar e maternidades não aderem ao mesmo. Sendo frustrante para eles saberem
que a mulher não terá o seu direito garantido quanto ao parto ativo ao chegar nestas
unidades de saúde para parir. Outra evidência é que existem lacunas quanto a
conhecimentos sólidos sobre parto ativo, assim como, em relação a sua viabilidade. Fato
que nos leva a inferir a latente necessidade de se repensar a formação dos profissionais
da saúde (médicos e enfermeiros) que poderão futuramente ser pré – natalistas, quanto
ao pré-natal humanizado com enfoque no parto ativo.
Segundo Silva, Strapasson & Fischer (2011), as práticas e os serviços de atenção
ao parto são influenciados pelos papéis desempenhados pela parturiente, pelos
profissionais que a assistem e pelo ambiente onde ocorre o evento. Sendo que, locais
com atendimento voltado a fisiologia do nascimento, onde a atuação de enfermeiros
obstetras e obstetrizes é garantida e respeitada, o parto ativo é mais preconizado,
ocorrendo práticas menos intervencionistas.
Em instituições nas quais somente médicos obstetras podem realizar o parto, a
parturiente na maioria das vezes é tratada apenas como mero objeto de manipulação e
324
intervenção médica, sem direito a ser protagonista do ato de parir. Portanto, o
comportamento das gestantes (ativa ou passiva frente a equipe), dos profissionais e o
ambiente físico, influenciam diretamente no ato de parir (MARTINHO, 2005).
Mudanças comportamentais só ocorrem a partir de um processo educativo
eficaz, daí a necessidade de mudanças na formação acadêmica dos profissionais da
saúde quanto a humanização do parto, este é o caminho para que políticas públicas
sejam efetivadas e transformações organizacionais ocorram nas instituições de saúde
no que tange ao respeito ao direito das mulheres e maior atuação dos enfermeiros
obstetras nas maternidades e hospitais.
325
profícuo com as mulheres durante as consultas de pré-natal, em consequência da alta
demanda de atendimentos.
As participantes enfermeiras em suas falas demonstraram uma visão mais
humanizada quanto ao pré-natal, as quais trouxeram elementos importante do
processo de humanização do cuidado a saúde, como: o diálogo e a participação de
alguém que seja do afeto da gestante (familiar ou não) durante o pré-natal, para poder
saber agir e dar suporte a gestante durante o processo de trabalho de parto.
Maldonado et al (1997), corrobora as enfermeiras afirmando que considerar a
participação e envolvimento da família ou outra pessoa do afeto da gestante no
processo gestacional é necessário e importante. A família passa a vivenciar e sentir a
gravidez de forma indireta junto com a mulher grávida, tornando-se “grávida” também,
além da segurança que a gestante sente ao ter ao seu lado alguém de sua confiança e
afeto.
Zampieri & Erdmann (2010), enfatizam que o cuidado humanizado no pré-natal
consiste em encontros terapêuticos, educativos e interdisciplinares para maior
compreensão das vivências, expressão de sentimentos e dúvidas. Além da avaliação do
bem-estar materno fetal, deve haver preparação para o parto, a maternidade e
paternidade, envolvendo as relações familiares, conjugais, os diálogos entre gestantes
e com os profissionais.
O sucesso do pré-natal dependerá bastante da atuação do pré - natalista, o qual
deve ser: Competente para orientar convenientemente a gestante reconhecendo em
tempo hábil os problemas ocorridos durante a gravidez e conduzindo-os corretamente;
ser humano para entender e viver com a mulher as emoções da gravidez, orientando-a
e esclarecendo as dúvidas para diminuir as tensões e dedicado ao ponto de dispensar
todo tempo necessário para um atendimento adequado (MARTINHO, 2005).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
326
Ficou evidenciado que existe um certo nível de desconhecimento entre os
profissionais em relação ao que seja um parto ativo na sua essência e que mesmo sem
esta compreensão os mesmos referem ser difícil as mulheres conseguirem nas
maternidades e hospitais este tipo de parto, consequência da formação e prática
principalmente dos médicos obstetras e das políticas organizacionais das instituições de
saúde.
As consultas de pré-natal nas unidades básicas de saúde ainda estão
centralizadas em procedimentos técnicos que contemplam pouco ou não consideram a
educação em saúde para o parto ativo como parte da conduta do pré-natalista. A
maioria das consultas tem enfoque apenas biologicista e buscam atender somente o que
preconiza as normas e rotinas dos manuais disponibilizados pela rede de atenção à
saúde.
Os fenômenos desvelados apontam que ainda existem lacunas na formação dos
profissionais pré-natalistas (médicos e enfermeiros), no que tange a realização de um
pré-natal essencialmente humanizado que prepare a gestante e família para um possível
parto ativo.
Consideramos a partir dos fenômenos identificados neste estudo, que se faz
necessário repensar a formação acadêmica nos curso nos cursos de medicina e
enfermagem, os quais devem introduzir em seus respectivos currículos teoria e prática
sobre pré-natal humanizado e parto ativo, assim como, educação em saúde para o parto
ativo durante as consultas de pré-natal, visando a diminuição da elevada incidência de
partos iatrogênicos, violências obstétricas e realização de procedimentos cirúrgicos de
cesáreas desnecessárias, consequentemente baixando a morbimortalidade materna
no Brasil.
AGRADECIMENTOS
327
REFERÊNCIAS
BALASKAS, Janet. Parto Ativo - Guia prático para o parto natural. 2ª edição, São Paulo:
Ground, 1993.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Tradução de Luís Antero Reto, Augusto Pinheiro. São
Paulo: Edições 70,157.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
MACIEL, Marjorie Ester Dias. Educação em Saúde: Conceitos e Propósitos. Rev. Cogitare
Enfermagem, 2009. Out/Dez; 14(4):773-6.
328
CAPÍTULO XXV
RESUMO
329
1. INTRODUÇÃO
330
incapacidade laboral, gastos com tratamento e estudos epidemiológicos, prejuízos na
área de turismo e no comercio de alimentos. Esta enfermidade abrange sintomas como
náuseas, vômitos, dores de cabeça, prostrações, diarreias, cólicas abdominais, variando
de incômodos leves e passageiros até consequências graves e letais dependendo da
reação do organismo, da bactéria causadora e vários outros fatores (NYACHUBA, 2010;
WELKER et al., 2010; FLORES & MELO, 2015).
A incidência destas doenças está em constante aumento (MARINHO, 2015).
Dentre os principais patógenos relacionados a estas enfermidades estão Salmonella spp,
Escherichia coli e Staphylococcus aureus (SANTOS et al., 2015). Staphylococus aureus
pertence ao grupo das bactérias Gram positivas, que possuem disposição em cachos.
Sua parede celular possui cápsulas que a protegem inibindo a quimiotaxia e fagocitose,
além de ser rica em peptídeoglicano proporcionando maior rigidez a parede desse
micro-organismo (ALMEIDA et al., 2016). Esta espécie bacteriana é produtora de
enterotoxinas, encontrado na microbiota dos seres humanos em locais como a pele,
boca e orofaringe e sua presença em alimentos indica contaminação advinda de seus
manipuladores ou até dos próprios consumidores ao irem se servir (SANTOS et al., 2015;
FLORES & MELO, 2015).
Salmonella é um bacilo Gram negativo, anaeróbio facultativo, capaz de produzir
ácido e gás utilizando carboidratos, além de ser catalase positiva e oxidase negativa e
poder crescer utilizando citrato como única fonte energética. (HENTZ & SANTIN; 2010).
Esta destaca-se com grande importância clínica, pois apresenta alta endemia e
mortalidade relevante, além de ser de difícil controle por existir em uma grande
variedade de alimentos. Escherichia coli, da família das Enterobactérias, apresenta
caráter Gram negativo na forma de bastonete, encontrado principalmente no intestino
de animais de sangue quente. O seu encontro em alimentos está diretamente
relacionado com a falta dos processos higiênico-sanitárias, principalmente em seu
processamento (LIMA & SANTOS; 2016).
A contaminação da alface por bactérias pode ocorrer desde o início de sua
produção, onde, por muitas vezes, é utilizado adubo orgânico e água sem tratamento
para o cultivo, contribuindo para a contaminação com bactérias e parasitos. O
transporte demonstra ser outro fator de contaminação dessas hortaliças por ser feito
em engradados abertos. Há, ainda, as condições higiênico-sanitárias errôneas às quais
331
essas hortaliças são expostas em seu manuseio no estabelecimento onde será
comercializada para o consumo (QUEIROZ et al 2016). Diante disso, o presente estudo
buscou avaliar a qualidade microbiológica da alface (Lactuca sativa L.) servida nos
restaurantes self-service no município de Maringá - PR.
2. METODOLOGIA
332
horas para verificar o crescimento e produção de gás. Para a confirmação de coliformes
totais, as amostras nos tubos com caldo Lauril positivos foram transferidas para tubos
com Caldo VB sendo incubado a 35-37ºC por 24 horas para verificação do crescimento
e produção de gás. Para a detecção de coliformes termotolerantes, uma alíquota de
cada tubo de LST positivo foi transferida para os tubos de Caldo EC e incubadas a 45-
45,5ºC por 24 horas para análise de crescimento microbiano e produção de gás.
A contagem de Staphylococcus aureus (UFC/g) foi realizada por espalhamento
em superfície em meio de ágar Manitol e incubado a 35-37°C, por 24-48 horas. A
confirmação das colônias foi efetuada pelos seguintes ensaios: coloração de Gram, teste
de catalase e teste de coagulase.
A pesquisa de Salmonella spp em 25 g de amostras foi realizada com pré-
enriquecimento, em Água Peptonada Tamponada (APT), com incubação a 35°C, por 24h,
seguida de enriquecimento seletivo, em caldo Selenito Cistina, Caldo Tetrationado e
caldo Rappaport incubados, respectivamente, a 35°C e 42°C, por 24h. O isolamento de
Salmonella sp foi realizado em ágar Xilose Lisina Desoxicolato (XLD) e ágar Hektoen
incubados a 35°C, por 24-48h. A partir das colônias suspeitas que cresceram nos meios
seletivos, foi realizada a identificação de Salmonella spp, através da metodologia do kit
de enterobactérias (Newprov®) conforme orientações do fabricante.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
333
comercializadas na cidade de São José do Rio Preto - SP. Essa diferença de valores pode
ser atribuída ao baixo número de amostras avaliadas em nosso estudo, ou devido ao
fato do desrespeito às normas de manipulação de alimentos serem bem mais severas
na cidade de São José do Rio Preto - SP. Estudos apresentam resultados próximos aos
obtidos pela presente pesquisa, no qual parte das amostras também encontravam-se
inaptas para o consumo humano, com 30% e 15,3% respectivamente, de positividade
para coliformes termotolerantes (ARAÚJO et. al., 2014; MENDES, COELHO E AZEREDO,
2011).
As amostras da hortaliça analisada apresentaram a alta incidência de coliformes
totais (70%), sendo que 60% (12/20) apresentaram concentração superior a 1,1 x 103
NMP/g. Foi observada a presença de Staphylococcus aureus em 10 (50%) amostras
analisadas. Embora não exista legislação específica para estas bactérias na alface,
demostra-se uma considerável contaminação microbiana que pode ser justificada pela
manipulação e/ou acondicionamento inadequados destes alimentos, indicando
deficiência na qualidade higiênico-sanitária das folhas servidas nesses restaurantes.
Considerando os resultados obtidos, os estabelecimentos que comercializam a
alface para ser consumido de imediato e in natura em Maringá – PR apresentam déficit
de padrões higiênico-sanitário. Deve-se ter cuidado maior durante a preparação e
manuseio do alimento, que pode estar passando por procedimento de lavagem
incorreta das folhas, condições inadequadas dos utensílios utilizados em sua
higienização, ou, ainda, sendo contaminados através do manipulador de alimentos e
pelos clientes que ali frequentam.
Dos surtos relacionados com a alimentação, 88% tem comprovada origem em
restaurantes (MARMENTINI, R. P.; RONQUI, L.; ALVARENGA, V. A, 2015). Portanto, faz-
se necessário a tomada de medidas para a efetiva redução de contaminação dos
alimentos servidos fora do domicílio. Estas ações devem envolver o consumidor, com
adoção de práticas seguras na alimentação (MAGNONI et al., 2016) e o estabelecimento
comercial, com os devidos cuidados no manuseio das folhas de alface. Além disso, a
ação de fiscalização dos locais de produção, transporte e comercialização dos alimentos,
objetivando a promoção das boas práticas de fabricação, deve ser efetiva por parte do
governo (SAÚDE, 2017).
334
A falta de coerência na utilização dos Equipamentos de Proteção individual
(EPI’s), principalmente por reutilização de material descartável ou falta de treinamento
para sua correta utilização, e a incorreta higienização das mãos dos manipuladores de
alimentos, são considerados fatores de risco para um possível surto alimentar
(MEDEIROS et al., 2015). Para minimizar estas falhas, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) lançou, em 2004, a Cartilha sobre Boas Práticas para Serviços de
Alimentação que devem ser seguidas por todos os estabelecimentos alimentícios.
Treinamentos contínuos, a fim de manter o funcionário atento aos riscos de
contaminação dos insumos e a constante tentativa de evitá-la, tem se mostrado
bastante eficaz no controle microbiológico dos alimentos (FORTES et al., 2018).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
335
Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.30, n.6, p.1139-1145, nov/dez, 2006.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/cagro/v30n6/a16v30n6.pdf
Acesso em: 11 de outubro de 2018.
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4071-b516-d59598701af0 Acesso em: 13 de outubro de 2018.
ARAÚJO, K. S. S.; CARVALHO, K. A.; AZEVEDO, L. S.; SANTOS, R. M.; NASCIMENTO, I. O.;
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Comercializados em Supermercados de Imperatriz – MA.
Revista Agroecossistemas, v. 6, n. 1, p. 97-102, 2014. DOI:
https://doi.org/10.18542/ragros.v6i1.1848
FORTES, M. S.; FRIGO, M.; BELLÉ, T. H.; STARIKOFF, K. R.; FATEL, E. C. S. Boas práticas de
manipulação de alimentos em municípios paranaenses. Revista Ciência em
Extensão. v.14, n.1, p.166-176, 2018.
GENTA, T.; MAURÍCIO, A.; MATIOLI, G. Avaliação das boas práticas através de check-list
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Paraná. Acta Science Health, v. 27, n. 2, p. 151-156, 2005.
336
HENTZ, S.; SANTIN, N. Avaliação da atividade antimicrobiana do óleo essencial de
alecrim (Rosmarinus officinalis l.) contra Salmonella sp. Evidência, v. 7, n. 2, p.
93-100, 2007.
MAGNONI, D.; TARDIOLI, M.; ZAGATO, M.; MIYAGI, M.; TAKAYAMA, P.; MOURA, S.;
KOVACS, C.; CAMELO, V.; BARBOSA, M.; CUKIER, C. Segurança alimentar e
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MEDEIROS, M. G.; CARVAHO, L., R.; FRANCO, R., M. Percepção sobre a higiene dos
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10.1590/1413-81232017222.17282015
PINHEIRO, NMS; FIGUEIREDO, EAT; FIGUEIREDO, RW; MAIA, GA; SOUZA, PHM.
Avaliação da qualidade microbiológica de frutos minimamente processados
337
comercializados em supermercados de Fortaleza. Revista Brasileira Fruticultura,
v. 27, n. 1, p. 153-156, 2005.
WELKER C. A. D.; BOTH, J. M. C.; LONGARAY, S. M.; HAAS, S.; SOEIRO, M. L. T.; RAMOS,
R. C. Análise microbiológica dos alimentos envolvidos em surtos de doenças
transmitidas por alimentos (DTA) ocorridos no estado do Rio Grande do Sul,
Brasil. Revista Brasileira de Biociência., v.8, n.1, p.44-48, 2010.
338
CAPÍTULO XXVI
RESUMO
339
1. INTRODUÇÃO
340
custosa, visto que neste contexto, este profissional tem papel fundamental no
desenvolvimento das ações de promoção e prevenção de agravos do câncer da mama
masculina. (Dantas, Pereira, Alencar, Sousa, Farias, 2015).
Pela falta de atenção desta neoplasia no homem, foi levantado o seguinte
questionamento: Por que o câncer da mama masculina na atenção básica é tão pouco
abordado pelos enfermeiros? Assim, o presente estudo trata-se de uma revisão
integrativa da literatura com o objetivo de identificar as ações à serem realizadas pelos
enfermeiros frente ao câncer da mama masculina na atenção básica. Realizou-se uma
busca nas bases de dados LILACS, SciELO e Portal CAPES de artigos publicados no período
de 2015 a 2020 e foram selecionados 20 artigos em português e espanhol.
Portanto, através deste estudo objetivou-se levantar as principais dificuldades
da atuação do enfermeiro da atenção básica frente à prevenção e diagnóstico precoce
do câncer da mama masculina e propor estratégias direcionadas aos mesmos para
correta e efetiva abordagem do homem, visando promoção e a educação a respeito
desta neoplasia, minimizando a falta de informação e conscientização por parte dos
homens, além de estimular o seu autocuidado.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
341
ambos os sexos, sendo semelhantes, mas somente nas mulheres que elas se
desenvolvem e apresentam funcionalidade. No homem, a mama se apresenta muito
rudimentar, em menores dimensões, constituída de tecido subcutâneo, tecido
gorduroso, ductos mamários, mamilo e aréola. Sendo que atrás do mamilo, podemos
encontrar uma pequena porção de tecido glandular. (INCA, 2019; Rodrigues, Bezerra,
Passos, 2018; Ramos, Rodrigues, Silva, Balbino, Souza, Silvino, 2017).
O CM, revela-se por meio de uma massa indolor e firme, tendo como sinal
primário, na maioria dos casos, o nódulo mamário, além da retração ou inversão
mamilar, o espessamente da pele, a formação de crostas e a ulceração, já a secreção
mamilar pode ser encontrada nos aspectos serosa e/ou serosanguinolenta. (Sousa,
Martins, Freitas, Guimarães, 2017).
A causa do CMM ainda não foi definida, porém uma série de fatores como os
extrínsecos, comportamentais e genéticos elevam o risco de desenvolvimento. No que
tange aos fatores de riscos desta patologia, podemos citar a idade, pois a incidência de
CMM está intimamente ligada ao avanço da idade, tendo a maior incidência na década
dos 60 anos, a etnia, visto que os negros são os mais afetados. Além do histórico familiar
que contribui consideravelmente para o desenvolvimento da doença, pois os indivíduos
que apresentam casos na família possuem um risco de aquisição de 2 a 3 vezes mais do
que os que não possuem histórico. Os distúrbios hormonais, como o aumento do
estrogênio, propiciam a proliferação de células malignas no tecido mamário. (Salomon,
Mendonça, Pasqualette, Pereira, Sondermman, 2015; Araujo, Julião, Leite, Jabbar, Neto,
Freitas, 2019).
Para os aspectos epidemiológicos voltados ao CMM de uma forma geral, a
relação de incidência da neoplasia entre os ambos os sexos, permite estimar que a cada
1000 novos casos de CM apenas 1 ocorrerá em homens. A Organização Mundial Da
Saúde (OMS), por meio da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (International
Agency for Research on Cancer - IARC) estimou para o CMM em 2012, uma incidência
global estimada em cerca de 8 mil casos por ano. (Barros, 2016).
No continente africano, nos deparamos com uma alta incidência de CMM, sendo
fundamentada pelos africanos manifestarem um elevado número de doenças hepáticas
endêmicas, que na maioria da vezes, acarretam à insuficiência hepática, elevando o nível
de estrogênio na corrente sanguínea devido à alteração na metabolização hormonal,
342
com números de casos que variam de 5 a 15 por 100 mil habitantes. Na Europa e EUA a
quantidade de casos é considerada baixa, tendo em média, um caso para cada 100 mil
habitantes, enquanto no Japão, os números de casos se apresentam ainda mais baixo,
0,5 para cada 100 mil habitantes. (Barros, 2016).
No Brasil, enquanto aos aspectos epidemiológicos do CMM, os estudos
mostram-se escassos, associado com a inexistência de estimativas pelo INCA, pois o
máximo de informação que obtemos ao consulta-lo sobre CMM é que trata-se de um
câncer raro, representando apenas 1% do total de casos da doença. Entretanto, o
Sistema De Informação De Câncer (SISCAN) permite visualizar o número de casos de
CMM em algumas cidades das 5 regiões do nosso país. (Barros, 2016).
Tabela 2- Número de casos de câncer da mama masculina de 2014 a 2018 em São Paulo/Sudeste
consultados em 16/03/2020
SÃO PAULO/SUDESTE
ANO NÚMERO DE CASOS
2014 14
2015 15
2016 14
2017 12
2018 15
Fonte: SISCAN (2020)
Tabela 3- Número de casos de câncer da mama masculina de 2014 a 2018 em Rio Grande Do Sul/Sul
consultados em 16/03/2020
RIO GRANDE DO SUL/SUL
ANO NÚMERO DE CASOS
2014 7
2015 5
2016 1
2017 1
2018 0
Fonte: SISCAN (2020)
343
Tabela 4- Número de casos de câncer da mama masculina de 2014 a 2018 em Mato Grosso/Centro-
Oeste consultados em 16/03/2020
MATO GROSSO/CENTRO-OESTE
ANO NÚMERO DE CASOS
2014 2
2015 1
2016 2
2017 1
2018 1
Fonte: SISCAN (2020)
344
utilizado para diagnosticar o CM em mulheres, visto que quando aplicada ao CMM,
apresenta sensibilidade e especificidade de, respectivamente, 92% e 90%, porém, para
os homens é escusável, uma vez que há existência de indícios que apontam a eficiência
apenas da suspeita clínica a partir do exame físico aliado a confirmação histológica por
meio de biópsia, além de que devido ao tamanho da mama masculina apresentar-se
muito menor que a das mulheres, dificulta sua manipulação durante o exame, sendo
preferencialmente realizada apenas em homens obesos, por possuírem um maior
volume de mama. Podemos também contar com a ultrassonografia, como um
instrumento de auxilio no diagnóstico, pois permite a avaliação do comprometimento
linfonodal. (Cypriano, 2017; Guimarães C, 2019; Lima, 2015).
O tratamento para CMM é estabelecido por intervenções cirúrgicas que engloba
a ressecção completa do tecido mamário, dos mamilos e o esvaziamento axilar, seguidas
ou não de radioterapia e quimioterapia, além de hormonioterapia, seguindo a mesma
vertente do tratamento para CMF. Tendo em vista, que a eficiência dos tratamentos
para CM e sua recuperação total anda ao lado da descoberta precoce. (Araújo, Leite,
Amorin, Silva, Fernandes, Carmo 2018; Guimarães C, 2019).
345
pela equipe de saúde que visa atender as necessidades do indivíduo ou comunidade de
forma integral. (Ministério da Saúde, 2017).
Segundo a Política Nacional Atenção Básica de 2017 referente a atribuições
específicas do Enfermeiro:
I- Realizar atenção à saúde aos indivíduos e famílias vinculadas às
equipes e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos
demais espaços comunitários (escolas, associações entre outras),
em todos os ciclos de vida;
II- Realizar consulta de enfermagem, procedimentos, solicitar exames
complementares, prescrever medicações conforme protocolos,
diretrizes clínicas e terapêuticas, ou outras normativas técnicas
estabelecidas pelo gestor federal, estadual, municipal ou do Distrito
Federal, observadas as disposições legais da profissão;
III- Realizar e/ou supervisionar acolhimento com escuta qualificada e
classificação de risco, de acordo com protocolos estabelecidos;
IV- Realizar estratificação de risco e elaborar plano de cuidados para as
pessoas que possuem condições crônicas no território, junto aos
demais membros da equipe;
V- Realizar atividades em grupo e encaminhar, quando necessário,
usuários a outros serviços, conforme fluxo estabelecido pela rede
local;
VI- Planejar, gerenciar e avaliar as ações desenvolvidas pelos
técnicos/auxiliares de enfermagem, ACS e ACE em conjunto com os
outros membros da equipe;
VII- Supervisionar as ações do técnico/auxiliar de enfermagem e ACS;
VIII- Implementar e manter atualizados rotinas, protocolos e fluxos
relacionados a sua área de competência na UBS; e
IX- Exercer outras atribuições conforme legislação profissional, e que
sejam de responsabilidade na sua área de atuação. (Ministério da
Saúde, 2017).
346
concluiu-se que as mulheres buscam os serviços de saúde quase duas vezes a mais do
que os homens. E também pela porcentagem de consultas em que os homens
comparecerem por ano, sendo que em 2010, o número total de consultas médicas para
homens entre 20 e 59 anos de idade registrado no SUS foi de 3.217.197, resultou uma
média de 0,06 consulta/homem/ano. (Carneiro, Santos, Macena, Vasconcelos, 2016;
Coelho, Schwar, Bolsoni, Conceição, 2018).
Comportamento no qual é influenciado por diversos fatores como o estereótipo
de gênero, julgar-se invulnerável, posição de papel provedor e responsabilidade pelo
sustento da família. Além disso, os serviços e as estratégias de comunicação nitidamente
privilegiam as ações de saúde voltadas para as crianças e adolescentes, as mulheres e
os idosos, além de que o horário de funcionamento dos serviços de saúde coincide, na
maioria das vezes, com o horário de trabalho dos homens. Portanto, essas barreiras
socioculturais e institucionais acabam contribuindo com a elevação da
morbimortalidade do homem. (Ministério da Saúde, 2009).
No ano de 2009, passou-se a reconhecer as condições de saúde do sexo
masculino no Brasil como um problema de saúde pública. Implementando então, a
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), pela Portaria
GM/MS nº1944, de 27 de agosto de 2009 voltada prioritariamente para a população
masculina na faixa 20 a 59. (Carneiro, Santos, Macena, Vasconcelos, 2016).
A PNAISH implantada em 2009 busca viabilizar a melhora das condições de saúde
e vida do homem no Brasil, contribuindo com a diminuição dos índices da morbidade e
mortalidade dessa população. Por meio do enfrentamento dos fatores de risco e
mediante a facilitação ao acesso, às ações e aos serviços de assistência integral à saúde
garantindo a universalidade e equidade nas ações e serviços de saúde voltados para a
população masculina. (Ministério da Saúde, 2009).
347
a assistência pelos profissionais enfermeiros no âmbito da AB, além de elevar o índice
de morbimortalidade desse grupo por diversas doenças, inclusive as neoplasias
mamárias. Situação na qual, sendo realizado exames e consultas periódicas pode ser
evitada ou minimizada e através de um diagnóstico precoce as chances de um
tratamento eficaz aumenta consideravelmente. (Macêdo, Ribeiro, Oliveira, Bezerra,
Lima, Sousa, 2016; Vaz, Souza, Filho, Santos, Cavalcante, 2018).
As atribuições dos enfermeiros na AB são previstas através da Portaria nº 2.436,
de 21 de setembro de 2017 que aprova a Política Nacional de Atenção Básica, e visam
desde a promoção, prevenção, proteção, o diagnóstico, tratamento, reabilitação,
redução de danos, até os cuidados paliativos e vigilância em saúde a todas as
populações. (Ministério da Saúde, 2017)
Logo, os enfermeiros para cumprirem suas reais delegações determinadas pela
PNAB, necessitam ser treinados, capacitados e ter sua abordagem direcionada pelo
setor governamental responsável pela administração e manutenção da saúde pública
do país, no caso, o Ministério da Saúde (MS) para correta condução da prevenção e
diagnóstico precoce do CMM desde a realização de orientações sobre a existência da
neoplasia e importância do autoexame até a suspeita clínica propriamente dita, após o
exame físico na consulta de enfermagem. (Ministério da Saúde, 2017).
Entretanto ao consultar o Consenso para Controle do Câncer de Mama publicado
publicada pelo MS em 2004 e as Diretrizes para Detecção Precoce do Câncer de Mama
no Brasil publicada pelo INCA em 2015 não é possível encontrar diretrizes e ações
específicas para o CMM, mostrando a falta de material teórico para conduzir as
condutas dos enfermeiros voltadas a prevenção de CM em homens, os deixando
despreparados. (Cypriano, 2017).
O fato do CMM ser relativamente raro quando comparado ao câncer da mama
feminina associado ao baixo índice de suspeita clínica acarretam ao atraso do
diagnóstico e, consequentemente, o mesmo ocorre geralmente em estágios mais
avançados, levando a um prognóstico não tão positivo quando descoberto
precocemente. (Azevedo, Monteiro, 2018).
Sabe-se que a suspeita clínica ocorre após o exame físico por um profissional de
saúde ou após o autoexame das mamas, porém a atenção a mama masculina se dá
somente quando o homem relata sinais e sintomas intensificados, graves e tardios como
348
a presença de nódulo doloroso, retração ou ulceração do mamilo, sinais inflamatórios
como o edema mamário devido a sua ausência nas instituições de promoção e
prevenção de saúde e visto que, por tratar-se de uma neoplasia com baixa expressão
epidemiológica, não há, atualmente, programas de rastreio a nível populacional.
(Azevedo, Monteiro; 2018; Oiticica, 2016).
Outra fator que leva a dificuldade da abordagem do homem na AB quanto a
prevenção e diagnóstico precoce do câncer da mama masculina é que desde
antigamente, as instituições privilegiam as ações de saúde voltadas a criança, o
adolescente, a mulher e o idoso por serem classificados como os indivíduos mais frágeis
de toda a população, o que acabou gerando o hábito dos homens a evitar o contato com
os espaços da saúde, aversão à prevenção e ao autocuidado, além de levar os
enfermeiros e os demais profissionais de saúde ao costume de desenvolverem ações de
saúde com foco nas populações mais vulneráveis. (Ministério da Saúde, 2009; Oiticica,
2016).
Assim, o despreparo dos profissionais de saúde para lidar com essa problemática
específica atrelado a inexistência de atenção ao CMM pelos órgãos governamentais e
raridade de sua ocorrência evidenciam que esta patologia não vem recebendo a atenção
que deveria, além de que sua ascensão aos logos dos anos está acontecendo
gradativamente, e que a propagação de informações sobre o CM ao homem não está
ocorrendo, dificultando o processo de identificação precoce de casos e como
consequência, diminuição das chances de cura, além da sobrecarrega dos demais níveis
de saúde. (Trajano, Menezes, Caldas, Souza, Lima, Alves; 2018).
349
A atuação do enfermeiro quanto à prevenção e detecção precoce do CMM na
atenção primária à saúde (APS) é fundamental para estimular à adesão do homem a
realizar ações preventivas contra esta neoplasia. Levando em consideração a PNAB e a
PNAISH, o enfermeiro possuí um papel fundamental na AB, pois à ele é encarregado o
atendimento integral ao homem, a consulta de enfermagem, o exame clínico e a
realização de visita domiciliar. (Braga, Silva, Paiva, Targino, Gomes, Pinto et al., 2017;
Teixeira, Goldnan, Gonçalves, Guitiérrez, Figueiredo, 2017).
Destacam-se como atribuições do enfermeiro no controle do CM: realizar
consulta de enfermagem onde o profissional fará o levantamento do histórico do
paciente, incluindo fatores de risco; o exame clínico das mamas, além de solucionar
empecilhos no ato exame, como por exemplo, a vergonha, devido à exposição das
mamas, levando-o ao desconforto do homem; examinar e avaliar sinais e sintomas
relacionados à neoplasia; solicitar e avaliar exames de acordo com os protocolos locais;
encaminhar e acompanhar nos serviços de referência para diagnóstico e/ou tratamento;
realizar e participar das atividades de educação permanente como palestras educativas,
orientação com relação aos fatores de riscos, incentivando a prática de alimentação
saudável e de exercícios físicos, o distanciamento de vícios e o autoexame das mamas.
(Fonseca, Rodrigues, Nóbrega, Nobre, França, 2016; Teixeira, Goldnan, Gonçalves,
Guitiérrez, Figueiredo, 2017).
Quanto ao desenvolvimento de ações educativas para o autoexame das mamas
(AEM) é oportuno para o enfermeiro realizá-la durante a consulta de enfermagem, cujo
momento é fundamental, pois o profissional de enfermagem possui autonomia em
acentuar as orientações, abordando aspectos mamários normais e aspectos
característicos do CMM. (Cunha, Almeida, Fontinele, Junior, Oliveira, 2018).
Portanto, a participação efetiva do profissional enfermeiro na AB referente ao
CMM está diretamente ligada ao desenvolvimento de ações de autocuidado, tornando
o homem participativo, consciente de seu potencial quanto a prevenção do CMM, logo,
promovendo saúde. (Fonseca, Rodrigues, Nóbrega, Nobre, França, 2016).
Diante do exposto, foi proposto um modelo de fluxograma visando apoiar o
enfermeiro no plano de assistência aos usuários com câncer da mama masculina na rede
básica de saúde, conforme Figura 1:
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Figura 1 - Proposta de fluxograma quanto à abordagem do homem acerca da prevenção e diagnóstico
precoce do câncer da mama masculina na consulta de enfermagem na atenção básica.
351
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio desta pesquisa, pode-se observar que a ocorrência do câncer da mama
masculina vem aumentando gradativamente ao longo dos anos e em consequência
demandando mais atenção, não obstante, diversas dificuldades impedem a atuação do
enfermeiro do primeiro nível de atenção à saúde contra esta neoplasia no homem.
A neoplasia mamária no homem acarreta em consequências fatais na maioria
dos casos, mostrando-se a necessidade de mais pesquisas para disseminação do tema e
desenvolvimento de programas de rastreio precoce de câncer na mama masculina,
visando o diagnóstico precoce.
No que se refere ao enfermeiro, verificou-se que o papel desse profissional na
atenção básica precisa ser ampliado. A definição de suas ações na atenção primária deve
ser regida pela política vigente. Para tal, foi proposto um modelo fluxograma visando
apoiar o enfermeiro no plano de assistência aos usuários com câncer da mama
masculina.
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