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IMSLP702139-PMLP1122371-Tutorial - Pos Doc - 2021 - 2

Este documento apresenta um tutorial para introdução à clarineta clássica para clarinetistas modernos. O tutorial foi desenvolvido durante um pós-doutorado e inclui seções sobre conhecimento do instrumento, produção de notas, articulação, intervalos, ornamentação, danças, estilos composicionais, estudos e referências bibliográficas. O objetivo é fornecer materiais didáticos básicos sobre a performance historicamente informada na clarineta para músicos brasileiros.
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Este documento apresenta um tutorial para introdução à clarineta clássica para clarinetistas modernos. O tutorial foi desenvolvido durante um pós-doutorado e inclui seções sobre conhecimento do instrumento, produção de notas, articulação, intervalos, ornamentação, danças, estilos composicionais, estudos e referências bibliográficas. O objetivo é fornecer materiais didáticos básicos sobre a performance historicamente informada na clarineta para músicos brasileiros.
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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À

CLARINETA CLÁSSICA
para o clarinetista moderno

Joel Luís Barbosa


2020
TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

Sumário
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................................ ii
O Tutorial...................................................................................................................................................... iii
A clarineta clássica ....................................................................................................................................... iv
Da necessidade de adaptação à clarineta clássica ........................................................................................ v
Adaptação à clarineta clássica por imagens memorizadas .......................................................................... vi

TUTORIAL .......................................................................................................................................................... 1

QUADRO DE DEDILHADOS ............................................................................................................................... 2

PARTE I Conhecendo o instrumento, produzindo suas notas e articulação .................................................. 6


1 - Série A Conhecendo e desenvolvendo a sonoridade do instrumento ...................................................... 6
2 - Série B Trabalhando a métrica de compasso e articulação (ataques de notas) ..................................... 9
3 – Série C Trabalhando ligaduras ............................................................................................................ 10

PARTE II Trabalhando intervalos ................................................................................................................... 11

PARTE III Ornamentação ................................................................................................................................ 13

PARTE IV Danças ............................................................................................................................................ 17


4 – Excertos e peças do repertório com danças. ........................................................................................ 17
4.1 – Gavota ................................................................................................................................................ 17
4.2 – Minueto e Ländler .............................................................................................................................. 21
4.3 – Polaca e Polonaise .............................................................................................................................. 23
4.4 – Rondó ................................................................................................................................................. 27
4.5 – Sarabanda ........................................................................................................................................... 29
4.6 – Siciliana ............................................................................................................................................... 31

PARTE V Estilos Composicionais .................................................................................................................... 32


5 – Excertos e movimentos de obras com diferentes estilos composicionais ............................................ 32
5.1 – Abertura Francesa e Estilo Polifônico................................................................................................. 32
5.2 – Estilo brilhante ................................................................................................................................... 35
5.3 – Estilo de Caça...................................................................................................................................... 36
5.4 –O Estilo Cantado .................................................................................................................................. 39
5.5 – Empfindsamkeit .................................................................................................................................. 40
5.6 – Pastoral............................................................................................................................................... 42
5.7 – Sturm um Drang ................................................................................................................................. 45

PARTE VI Estudos e Caprichos ........................................................................................................................ 46

PARTE VI Referências e Indicações Bibliográfica .......................................................................................... 48

i
TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

APRESENTAÇÃO
As duas partes deste material, a Apresentação e o Tutorial, resultaram do trabalho de pós-doutorado
realizado sob orientação da professora e doutora Mônica Isabel Lucas, no Programa de Pós-
Graduação em Música da ECA/USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo).
Os objetivos iniciais do pós-doutorado foram, apenas: a) conhecer a literatura da performance
historicamente informada referente à clarineta clássica, b) explorar mais profundamente parte do
repertório do século XVIII para o instrumento, c) qualificar minha performance neste instrumento e
d) elaborar um estudo sobre a interpretação de três sonatas do período para o instrumento, já que
sou professor de clarineta da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia (EMUS/UFBA).
Contudo, durante o processo, compreendi mais profundamente a importância dos conhecimentos e
das habilidades interpretativas desta prática de performance musical para a formação profissional
do clarinetista moderno, ainda que ele não almeje ser um especialista na mesma. Além disso, dei
conta da escassez e a dificuldade de acesso a materiais didáticos relacionados ao assunto,
principalmente, no Brasil. Assim, conclui ser mais útil para a área da clarineta no país substituir o
último objetivo citado acima (estudo sobre interpretação de obras do período) pela elaboração de
um tutorial para a iniciação do clarinetista moderno à prática da clarineta clássica seguindo os
conceitos da performance musical historicamente informada. Tal material, inclusive, terá mais
aplicabilidade para minha atuação acadêmica (pesquisa, ensino e produção artística) do que o
estudo, anteriormente, planejado. Deste modo, a Apresentação faz uma breve reflexão sobre
questões do Tutorial e o Tutorial, em si, seleciona e organiza informações, trechos de métodos, peças
do repertório, referências bibliográficas e exercícios próprios, básicos, para a introdução à execução
musical historicamente informada.
Para a elaboração do Tutorial, foram realizadas leituras, reflexões e discussões sistemáticas para
definir, escolher, criar e ordenar seu conteúdo criteriosamente, pois a bibliografia atual é vasta e são
muitos os tratados, métodos e repertórios do período. Elas foram feitas a partir de meu processo
como clarinetista moderno aprendendo a clarineta clássica e em diálogos com a orientadora, doutora
especialista em performance historicamente informada no instrumento. Esta Apresentação, assim
como os textos do Tutorial, formam um registro parcial deste estudo e ponderações, sendo que
ambos fazem uso da literatura trabalhada e inclusa no fim do material. No caso do Tutorial, os
principais autores foram Frans Vester, Leonard Ratner, Eric Hoeprich, Sandra Rosemblum, Colin
Lawson e Luciano Pereira. Estão escritos a partir de meus conhecimentos, experiências pessoais e
compreensão do processo vivenciado. Neste sentido, trata-se de um relato autobiográfico.
Considerando os objetivos, tempo de duração e o escopo do pós-doutorado e do próprio Tutorial,
não houve a possibilidade de discutir a fundamentação do estudo em teorias e conceitos didáticos.
Tal procedimento requereria longas exposições teóricas, análises e discussões, “costuradas” a partir
do emprego de uma metodologia científica apropriada tanto para investigar meu processo de
aprendizagem da clarineta clássica como o de escrever o Tutorial. Quanto aos termos utilizados, eles
foram selecionados de diversos meios artísticos e educacionais que tenho participado, ao longo de
35 anos de atividades, e pelos quais tenho observado o conhecimento do instrumento ser
comunicado informalmente na área. Suas definições têm, certamente, equívocos e contradições
entre os colegas. Assim, o Tutorial é resultado de um processo de autoanálise e reflexão, dialogado
com a orientadora, referente à minha própria aprendizagem da clarineta clássica e sobre os métodos,
repertórios e literatura estudados. Meu propósito é empregá-lo em minha atividade docente e em

ii
TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

prática instrumental. Entretanto, apesar de confeccionado a partir de uma experiência pessoal e sem
uma pesquisa científica sistematizada, creio que, na carência de algo melhor, ele poderá ser utilizado
ou adaptado por outros profissionais.
Acrescento, ainda, que o conhecimento da execução musical historicamente informada,
fundamentada nos tratados do século XVIII, e a prática da clarineta clássica amplia não apenas os
recursos teóricos e práticos do clarinetista moderno para interpretar a música da segunda metade
do século XVIII, mas também para interpretar a música dos períodos históricos anteriores e
posteriores a este.

O Tutorial
Este Tutorial destina-se exclusivamente para o aprendiz ou profissional da clarineta moderna que
deseja iniciar-se na clarineta clássica, aprendendo a tocá-la segundo os conceitos da performance
historicamente informada. Para seu uso, apesar de se tratar de uma introdução prática ao tema,
indicamos ter um orientador especializado, ler a literatura indicada ao fim do material didático,
estudar gravações de músicos expertos no assunto e pesquisar tópicos em sites apropriados. Ele está
dividido em seis partes. Nas atividades da Parte I, o aprendiz conhecerá, primeiramente, as diferenças
organológicas e sonoras gerais entre a clarineta clássica e a moderna. Em seguida, ele exercitará sua
adaptação técnica e sensorial a estas diferenças. Por último, trabalhará a concepção sonora que
deseja ter no instrumento e o domínio técnico destas diferenças que incluem produção do som,
afinação e articulação. Didaticamente, a Parte I está dividida em quatro fases. A primeira é aquela de
descobrir o instrumento e explorá-lo de maneira geral, onde o instrumentista toca notas, escalas e
trechos de peças que bem desejar. Chamemos esta fase de exploratória e, para ela, o Tutorial não
traz nenhum exercício escrito. Cada um explora o instrumento como desejar. A segunda fase trata
do processo de conhecer e compreender detalhadamente como o instrumento é construído e se
comporta. Denominemos esta fase de investigativa e a ela está dedicada a primeira atividade escrita
do Tutorial, intitulada Série A, quando exercitada conforme o Modo de Prática 1, apresentado
juntamente com ela. A terceira fase pode ser chamada de construtiva, onde o instrumentista
construirá sua sonoridade no instrumento clássico, trabalhando-a por meio da expansão de sua
técnica de tocar o instrumento moderno. A técnica de se tocar a clarineta clássica não substituirá a
do instrumento moderno, mas sim a ampliará. Todas as atividades da Parte I são utilizadas para este
propósito, inclusive a Série A, quando praticada segundo o Modo de Prática 2.
Na Parte II, são utilizados dois duetos para se trabalhar afinação com intervalos harmônicos. Nas
Partes III e IV, são introduzidos danças e estilos composicionais diversos, respectivamente, para se
trabalhar suas diferenças de execução. Ouvir para aprender – buscar fontes e repertórios gravações
vídeos na internet O repertorio da clarineta clássica pertence a segunda metade do século XVIII,
boom da clarineta.

iii
TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

A clarineta clássica
A família da clarineta clássica é ampla. Ela inclui clarinetas em diversas tonalidades (Dó, Si bemol e
Lá, principalmente), bassetthorn e a clarineta basset. A clarineta possui, costumeiramente, cinco
chaves. O Tutorial está elaborado exclusivamente para a clarineta, independentemente, de sua
tonalidade. Contudo, ele serve também de introdução ao estudo do bassetthorn e da clarineta
basset. Na figura abaixo
Figura 1: Clarineta clássica em Si bemol e Bassetthorn

Fonte: http://www.zingales.net/PhotoGallery.htm

Figura 2: Clarineta basset

iv
TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

Fonte: http://www.stockbridgesinfonia.org/music2017/MozartClarinetConcerto/MozartClarinetConcerto.
htm

Internacionalmente, se convencionou tocar a música do período Clássico no padrão do Lá = 430Hz,


quando usando instrumentos históricos originais ou réplicas deles. Assim, orquestras, conjuntos de
música de câmara e instrumentos, formados ou construídos com este fim, tocam nesta afinação,
incluindo, obviamente, as clarinetas clássicas.

Da necessidade de adaptação à clarineta clássica


Considerando, por um lado, que este material didático é elaborado para o instrumentista que toca
clarineta moderna aprender clarineta clássica e, por outro lado, que a última possui diferenças
organológicas substanciais em relação à primeira, a Parte I do Tutorial trata do processo de adaptação
do aprendiz a estas diferenças. Elas encontram-se, principalmente, nas dimensões interna e externa
do instrumento e da boquilha, no sistema de chave e na palheta. O instrumento clássico possui
comprimento menor, câmara interna mais estreita e um sistema de chaves e furos peculiar com
apenas cinco ou seis chaves, nenhum anel e formatos, tamanhos e posicionamentos das chaves e
furos próprios. Consequentemente, ele é mais leve que o moderno também, inclusive porque
costuma ser fabricado com madeira menos densa. As boquilhas que o acompanham são, geralmente,
cópias de espécimes da época que também tem medidas menores que das modernas. Este conjunto
de especificidades organológicas do instrumento e da boquilha determinam, de alguma maneira,
alguns aspectos específicos das palhetas que se adaptam a ele que, raramente, são iguais às das
palhetas utilizadas nos instrumentos modernos. Em geral, ele requer palhetas mais brandas. Por fim,
este conjunto organológico resulta, naturalmente, em particularidades: a) na afinação (Lá = 430Hz),
b) nos dedilhados, c) nos graus de resistência para produção das notas, d) nas respostas aos
procedimentos técnicos utilizados para realizar passagens entre notas com as diversas possibilidades
de articulações, e) no timbre e f) nos problemas de afinação dos dedilhados. Consequentemente,
estas diferenças requerem do clarinetista um processo de adaptação e, às vezes, até mesmo de
ajustes em sua técnica de tocar o instrumento, principalmente, na embocadura, na emissão do ar
(produção da sonoridade) e nas posições dos dedos, mãos e braços.
Ademais, a adaptação ao novo instrumento não se limita apenas à técnica. Ela inclui também um
processo de familiarização da percepção auditiva à afinação mais baixa e ao novo timbre. Devido às
diferenças organológicas, a clarineta clássica não produz os mesmos timbres da moderna, aliás
almejar tais timbres não faria sentido algum. Escolher uma concepção de timbre para a clarineta
clássica e reproduzi-la no instrumento é um dos primeiros desafios do aprendiz. Para tal, é

v
TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

importante ter o máximo de contato com o instrumento clássico e sua área, principalmente,
frequentando performances ao vivo, ouvindo gravações, assistindo vídeos, conversando com
colegas, escutando a opinião de especialistas, experimentando diferentes palhetas, boquilhas e
instrumentos, e lendo a literatura tanto da época como a atual.

Adaptação à clarineta clássica por imagens memorizadas


Quanto ao processo de adaptação do clarinetista moderno à clarineta clássica, consideraremos,
primeiramente, alguns aspectos da técnica instrumental. Ao tocarmos clarineta, fazemos uso de um
conjunto de imagens mentais inter-relacionadas que foram construídas por exaustivas horas de
prática do instrumento. De uma maneira geral, com o termo imagens mentais, referimo-nos às
imagens gravadas na memória que são facilmente acessadas, relacionadas, ordenadas e coordenadas
umas às outras quando tocamos. Por exemplo, quando pensamos na nota mi grave da clarineta, ou
ao vê-la escrita em uma partitura, podemos associar seu nome e/ou sua imagem na partitura às
imagens mentais de seu dedilhado, som e movimentos musculoesqueléticos utilizados para produzi-
la. Este conjunto engloba inter-relações entre as memórias-imagens formadas a partir:
1. da leitura de partitura (imagem gráfica),
2. dos nomes das notas (imagem-palavra),
3. dos movimentos musculoesqueléticos (imagem musculoesquelética),
4. da produção, percepção e imaginação dos sons das notas e/ou de gestos sonoros (imagem
sonora),
5. da criação, execução e sensação da expressividade (imagem de expressividade),
6. do ato de conceber, reproduzir e vivenciar os afetos musicais, sonora ou imaginariamente
(imagem afetiva),
7. das formas da música (imagem estrutural),
8. do caráter e das características dos estilos e gêneros (imagem idiomática),
9. dos valores culturais, sociais e históricos (imagem simbólica).
Ao tocar uma peça em um instrumento musical, este conjunto metafísico de imagens se manifesta
em sons, pausas e movimentos corporais. A realidade abstrata do interior do instrumentista se
materializa na atmosfera do espaço físico deslocando o ar por meio de ondas sonoras e gestos
corporais. Havendo plateia, esta matéria-energia toca os corpos humanos presentes, inclusive do
próprio intérprete, e as ideias musicais do instrumentista se realizam neles. O expectador capta os
dados quantitativos e qualitativos, seus sentidos e significados objetivos, simbólicos e subjetivos,
tátil, auditiva e visualmente, e os processa por sua própria cognição, afetividade e subjetividade. Ao
se realizar no “tecido” espaço-tempo, o conjunto de imagens mentais se faz um com o corpo do
músico e se torna um conjunto de ideias musicais que terá diferentes sentidos para os presentes.
Com os anos, um conjunto de imagens mentais da prática instrumental se “cristaliza” no corpo, se
corporifica. Ele se torna uma memória corporal ou, digamos, uma memória-imagem corporal.
Relacionemos este processo ao ato de dirigir um carro, por exemplo. O motorista experiente não
pensa, conscientemente, em cada gesto que realiza para dirigir, pois o corpo executa muitos deles,
conjuntamente, como se soubesse, por si só, o que está fazendo, independentemente da mente. Não
é essa a impressão que temos também ao apreciar certos jogadores de futebol, atletas e bailarinos
“tomados” pela performance? O corpo sabe. Ele parece ter conhecimento próprio e ação autônoma.
É um conhecimento presente em alguns de seus movimentos – um conhecimento corporal - que se

vi
TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

constitui por memórias-imagens motoras semoventes, “entalhadas” no corpo. Quando tomados


pelo ato da performance musical, tocando clarineta, por exemplo, muitos de nossos movimentos
transparecem assim também. Considerando o clarinetista isoladamente, seu conjunto de memórias-
imagens:
1. se manifesta nos movimentos corporais que usa para emitir o ar no tubo do instrumento,
pelo soprar,
2. se materializa no som da clarineta, esculpido em imagens sonoras, ondas que viajam pela
atmosfera,
3. e se realiza, novamente, em forma de pensamento em sua mente que usa para continuar
processando sua performance musical. Um processo de retroalimentação.
Em outras palavras, o conjunto de memórias-imagens se expressa pela ação do organismo no
instrumento. Separada do instrumento, a ação do corpo é uma combinação composta pelos atos de
pensar e de se movimentar - um pensamento-ação. Incluindo o instrumento, o processo se configura
como uma unidade mente-corpo-instrumento. Já a revelação do conjunto de memórias-imagens se
dá pela música que produzimos e ouvimos do nosso próprio instrumento. Assim, ao tocar, pensamos
e agimos por imagens.
As memórias-imagens são conhecimentos. Vários aspectos destes conhecimentos podem ser
passados de clarinetista para clarinetista por meio de descrição, ilustração e sonorização, mas não
eles em si, pois são inerentes ao ser humano e, assim, intransferíveis. Cada instrumentista tem que
construir as suas próprias memórias imagens, seus próprios conhecimentos. Sua construção se dá
pela prática do instrumento e envolve tempo, repetição, musicalidade, conhecimento, inteligência,
percepção, sensorialidade, intuição, material utilizado (clarineta, boquilha, palheta etc.) e, até
mesmo, as diferentes acústicas dos locais onde tocamos. De maneira muito simples, o processo de
construção destes conhecimentos pode ser considerado em três etapas. Primeira: ao tocar uma nota
no instrumento, o clarinetista busca compreender a maneira como foi tocada e analisa o resultado
obtido. Ele verifica se a maneira empregada é eficiente ou não para produzir a nota como idealizada
ou desejada. Caso não seja, ele a rejeita. Mas, caso seja, ele a testa de diversos modos até que se
comprove sua eficiência de fato. Segunda: constatada sua eficácia, ele passa a praticá-la até adquirir
total domínio dela. Terceira: ele a agrega à sua técnica usual. Esta é uma metodologia que o
clarinetista pode usar para produzir conhecimento por meio de seu corpo e para seu próprio corpo
tocar o instrumento. Neste caso, o aprendizado do instrumento se dá no corpo. Como cada ser
humano é único, o conhecimento produzido por suas memórias-imagens também o é, e sua eficácia
está adequada, apenas, à mente-organismo que o elaborou. Assim, ainda que este conhecimento
fosse susceptível de transferência, não seria plenamente apropriado a outro clarinetista.
Considerando as diferenças organológicas entre as clarinetas moderna e a clássica, apontadas
anteriormente, e as ponderações supracitadas, é possível deduzir que a técnica que um clarinetista
usa para tocar a clarineta moderna não funciona, satisfatoriamente, para ele tocar a clássica. Faz-se
mister que ele expanda sua técnica por meio da ampliação e domínio do conjunto de memórias-
imagens que já possui. Não se trata de ter dois conjuntos de memórias-imagens, mas um conjunto
que se aplica aos dois instrumentos. O futuro conjunto será composto tanto pela criação de novas
memórias-imagens como por aquelas já consolidadas que ele usa para tocar o instrumento moderno.
As memórias-imagens já consolidadas serão utilizadas de três maneiras para tocar a clarineta clássica:

vii
TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

como são (intactas), ampliadas e, em alguns casos, alteradas. Alteração, aqui, refere-se ao processo
que requer mudança parcial de uma dada memória-imagem consolidada, enquanto ampliação indica
sua expansão somente. Certas funções necessárias para se tocar a clarineta clássica não poderão ser
desempenhadas por memórias-imagens construídas na e para a clarineta moderna. Elas terão que
ser desempenhadas por memórias-imagens recém-criadas. Assim, o clarinetista precisará:
1. criar (novas) memórias-imagens;
2. ampliar algumas já consolidadas;
3. alterar outras, se necessário;
4. verificar a eficácia delas dentro da teia das inter-relações necessárias para tocar o repertório;
5. efetivar o funcionamento sistêmico destas inter-relações;
6. obter fluência no uso do novo conjunto, independente do outro já existente.
As imagens musculoesqueléticas novas, ampliadas e alteradas serão formadas nos processos de:
1. aprender cada novo dedilhado e as diversas combinações dele com os demais,
2. adaptar a embocadura à boquilha e palheta menores e de diferente dureza, e
3. ajustar a emissão do sopro a um instrumento com menor grau de resistência para produzir
suas notas, suas diversas nuances sonoras e o universo de possibilidades de conexões e
passagens entre elas.
O processo de ampliação ou de alteração de uma memória-imagem pode seguir o mesmo de sua
construção, descrito acima. Talvez seja mais fácil acrescentar algo a uma imagem ou movimento
musculoesquelético cristalizado, por anos de trabalho, do que alterá-lo. Porém, isso é relativo, pois
são muitas as varáveis envolvidas e cada pessoa sente diferentemente. O que acreditamos, em
relação a estes dois processos, é que a presença da flexibilidade musculoesquelética da memória-
imagem-ação pode desempenhar um papel significativo. Em se tratando de embocadura, por
exemplo, quando disposta de alto grau de flexibilização musculoesquelética, ela pode mais
facilmente ser retrabalhada e ter suas funções expandidas.
Quanto a adaptação sensorial, talvez as memórias-imagens do som sejam as que requerem maior
atenção na aprendizagem da clarineta clássica por parte do clarinetista moderno. Trata-se das
imagens sonoras referentes à altura das notas, timbre, envelope dinâmico e discurso musical,
estabelecidas pela prática da performance historicamente informada e que, preeminentemente,
diferem da prática musical da clarineta moderna. A altura das notas, como mencionado, ocorre
dentro da afinação do Lá = 430 Hz. A clarineta clássica tem timbre próprio, distinto do instrumento
moderno. O envelope dinâmico compreende o conjunto das variáveis de cada nota conhecido como
ADSR: ataque, decay (decaimento), sustain (sustentação) e release (repouso). Como a gama de
intensidades da clarineta clássica é menor do que a da moderna, seus envelopes dinâmicos também
terão, naturalmente, amplitudes menores ao longo da performance de uma obra. Além disso, os
envelopes dinâmicos prescritos pelos tratados e métodos do século XVIII para a performance de
determinados desenhos composicionais são, geralmente, diferentes dos praticados pelos
executantes da clarineta moderna. O tratamento sonoro recomendado para os discursos musicais do
período segue as métricas de compasso, as indicações da partitura e outras informações históricas
de estilo, e ele também, raramente, coincide com a prática da clarineta moderna. Assim, estas
imagens sonoras de envelopes dinâmicos e de discursos musicais estão, diretamente, ligadas à

viii
TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

partitura e, consequentemente, às imagens gráficas que formamos a partir da leitura dela. No


decorrer do tutorial, serão apresentados detalhamentos do tratamento sonoro a serem dados aos
envelopes dinâmicos e aos discursos musicais, conforme propostos pela performance historicamente
informada.
As diferenças entre a performance historicamente informada e a da prática da clarineta moderna,
citadas acima, demonstram a necessidade do clarinetista moderno trabalhar também suas imagens
sonoras, inclusive algumas relacionadas à leitura de partitura. O processo inclui tanto a construção
de novas imagens como também a ampliação de outras. Primeiramente, o clarinetista constrói novas
imagens ligadas à familiarização de se tocar com a afinação do Lá = 430 Hz, que englobam imagens
das alturas das notas, intervalos e acordes. Em seguida, ele concebe, habitua e fixa as imagens
relacionadas ao timbre que deseja ter na clarineta clássica. Por último, ele se dedica a imagens
sonoras relacionadas à leitura da partitura, tanto criando novas como expandido algumas que já
possui. Estas imagens têm a ver com uma maneira nova, ou diferente, de interpretar (mentalmente)
e tocar a escrita musical do repertório do século XVIII, em outras palavras, de conceber e realizá-la
sonoramente no instrumento. Este processo requer do aprendiz ampliar e, em alguns casos,
substituir conceitos de leitura de partitura aprendidos e consolidados ao longo dos anos de sua
prática musical. Concluindo, os procedimentos para trabalhar as imagens sonoras e de leitura de
partitura incluem compreender textos históricos pertinentes, conceber as imagens sonoras, produzi-
las no instrumento, ouvi-las, praticá-las (com e sem a leitura de partitura), registrá-las na memória,
automatizar o processo de acessá-las, e tornar fluído o processo de utilizá-las com as demais
memórias-imagens do conjunto. Como tratado anteriormente, em relação a produção de
conhecimentos referentes às memórias-imagens-movimentos, o corpo é o laboratório do
clarinetista. É no corpo e para ele que o clarinetista os compreende, testa, aprende, apreende e
apura, dos movimentos motores mais finos aos mais amplos.
Parece que “pintamos um bicho papão”, mas, na verdade, tocar clarineta clássica não é nenhum
“bicho de sete cabeças” para o clarinetista que toca clarineta moderna. Pelo contrário, pode ser bem
simples. Nossa intenção, foi apenas relatar e refletir, livremente, sobre o próprio processo de
aprendizagem da clarineta clássica que eu, sendo um clarinetista moderno, vivenciei. É também uma
reflexão sobre alguns dos conhecimentos e habilidades que usamos na arte de tocar este instrumento
e como eles podem se tornar tão específicos ao sair de um instrumento para o outro da mesma
família.
Salvador, 30 de maio de 2020.
Joel Barbosa

ix
TUTORIAL
Para Introdução à Clarineta
Clássica
Para o clarinetista moderno

JOEL BARBOSA

2020
QUADRO DE DEDILHADOS
Quadro retirado do Méthode de Clarinette de Xavier Le Fevre (Jean Xavier Lefévre) (1763-1829), publicado pelo Conservatoire de Musique em 1802.

Notas diatônicas:
TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA
Notas cromáticas:

Quadro retirado do Nouvelle Méthode de Clarinette do Frédéric Blasius. Ed. Porthaux, 1796.

3
TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

4
Explicação do quadro de dedilhados:

Os números referem-se aos furos de cima para baixo da gravura da clarineta nos quadros:

1 – Furo do registro.
2 – Furo do polegar esquerdo.
3 – Furo da chave do Lá.
4 – Furo do dedo indicador esquerdo.
5 – Furo do dedo médio esquerdo.
6 – Furo do dedo anelar esquerdo.
7 – Furo do dedo indicador direito.
8 – Furo do dedo médio direito.
9 – Furo do dedo anelar direito.
10 – Furo do dedo mínimo direito.
11 – Furo da chave Sol#/Ré #.
12 – Furo da chave Fá#/Dó#.
13 – Furo da chave Mi/Si.

Dicas de dedilhados:
• Se precisar abaixar a afinação do Si bemol grave, pode se aproximar o médio da mão direita do furo.
• O Si natural grave é obtido fechando apenas metade do furo do indicador da mão direita, podendo
fechar a metade superior, da lateral direita ou da esquerda do furo.
• Além do dedilhado dado no quadro acima, o Lá bemol do segundo espaço do pentagrama pode ser
obtido também abrindo a chave de registro e fechando alguns dos furos superiores.
• A chave Fa#/Dó# pode ser acionada com o meio do dedo mínimo esquerdo, quando no movimento
deste dedo vindo da chave Mi/Si. Ela também pode ser acionada pelo polegar direito quando, por
exemplo, for necessário fazer um trinado entre o Si e o Dó sustenido do registro médio.
• O Mi bemol do registro médio também pode ser feito, em passagens de notas ligadas ou rápidas, com o
dedilhado do Mi natural e fechando o furo do Fá/Dó e a chave Mi/Si, normalmente, tendo que ajustar a
afinação.
TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

PARTE I
Conhecendo o instrumento, produzindo suas notas e articulação

A Parte I aborda os processos de conhecer e se adaptar à clarineta clássica. Ela apresenta quatro atividades
que trabalham sonoridade, articulação, intensidade, afinação, associadas às métricas dos compassos
quaternário e ternário. Antes de iniciar as atividades didáticas abaixo, recomendamos que o clarinetista
experimentar explorar o instrumento tocando notas, escalas, melodias e trechos de obras que conheça.

1 - Série A
Conhecendo e desenvolvendo a sonoridade do instrumento

Série A - Parte A:

Série A - Parte B:

Por que praticar a Série A?


A familiarização às peculiaridades organológicas e acústicas do instrumento pode ser feita, incialmente, por
meio da prática de notas longas, como proposto na Série A. Por exigirem o mínimo de técnica para serem
produzidas, elas permitem que o instrumentista observe, minuciosamente, como está soprando cada nota e
os resultados sonoros obtidos com a maneira de soprar empregada. A tonalidade de Fá maior foi escolhida
para esta atividade por facilitar este trabalho, pois apresenta o menor número de notas com problemas de
afinação e ressonância no registro grave.
Além disso, a Série A trata também de dois dos formatos de execução de notas propostos pelos tratados
setecentistas. Um é o que as notas devem ser tocadas em formato de “sino” (decrescendo) e o outro, aplicado
em notas longas, é o de messa di voce (crescendo seguido de decrescendo).
A Série A auxilia, também, na formação das novas imagens mentais necessárias para a execução musical na
clarineta clássica. Cada nota da escala do instrumento possui um conjunto de imagens mentais (diferentes
imagens para diferentes nuances) e cada imagem destas é constituída por uma teia de imagens construída a
partir das inter-relações entre seu som, nome, grafia, procedimento musculoesquelético e percepção
psicoacústica.

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

Objetivos
Geral
Conhecer as notas da clarineta clássica e trabalhar sua produção por graus conjuntos.
Específicos
1. Conhecer a organologia da clarineta clássica;
2. Iniciar o processo de adaptação técnica do clarinetista moderno às características organológicas da
clarineta clássica;
3. Familiarizar-se a tocar com a afinação da clarineta clássica (430 Hz), assim como acostumar a passar
da afinação da clarineta moderna (440 – 442 Hz.) para a da clássica, e vice-versa;
4. Aprender os dedilhados das notas;
5. Identificar e compreender as características e peculiaridades acústicas dos dedilhados, incluindo:
a. seus diferentes graus de resistência (respostas) para se atacar e manter as notas,
b. suas particularidades de afinações,
c. suas peculiaridades de timbres e
d. seus comportamentos sonoros dentro da gama de intensidade;
6. Experimentar diferentes dedilhados para verificar como soam, especificamente, no instrumento
usado pelo aprendiz;
7. Dominar a emissão e sustentação das notas nos diferentes graus de intensidade,
8. Conhecer a sonoridade das notas dos diferentes registros.

Como praticar
Recomendamos praticar a Série A de dois modos. O Modo de Prática 1 é semelhante ao procedimento que o
clarinetista faz para experimentar boquilhas e instrumentos desconhecidos ou novos. Ele é utilizado com o
intuito de conhecer e compreender o instrumento. Já o Modo de Prática 2 é para desenvolver ou aprimorar
habilidades técnicas no instrumento. Acreditamos que, aplicado à Série A, ele poderá ser útil para o clarinetista
trabalhar sua técnica de tocar clarineta clássica.

No Modo de Prática 1, o aprendiz toca a Série A com os procedimentos técnicos semelhantes ao que utiliza
para tocar o instrumento moderno e analisa o resultado sonoro obtido. Da seguinte maneira:
1. Escolhe uma palheta e, para cada nota da Série que toca;
2. Examina os procedimentos de embocadura, língua, garganta e de emissão de sopro que está
utilizando;
3. Analisa o resultado alcançado pelo cruzamento dos dados referentes às características da palheta
empregada, à técnica usada e à sonoridade obtida (ataque, afinação, dinâmica e timbre);
4. Registra a análise realizada, mentalmente ou por escrito; e
5. Compara as análises realizadas.

Os conhecimentos produzidos ajudarão o instrumentista a compreender como funciona a clarineta clássica


(suas respostas e características acústicas) e orientarão as estratégias a serem realizadas para aprimorar sua
execução, principalmente, quanto às escolhas das próximas palhetas e procedimentos técnicos a serem
experimentados.

No Modo de Prática 2, o aprendiz toca a Série A com o objetivo de encontrar os tipos de palhetas e os
procedimentos técnicos apropriados para obter a sonoridade que ele deseja. Assim, ele:
1. Escolhe uma palheta;
2. Mentaliza (ou idealiza) a sonoridade que quer para a nota a ser tocada na sequência da Série A;
3. Enquanto a toca, examina os procedimentos de embocadura, língua, garganta e de emissão de sopro
que está utilizando;
4. Observa o resultado sonoro (ataque, afinação, dinâmica e timbre) que está produzindo;
5. Se não estiver satisfeito, experimenta alterar as varáveis de produção do som (materiais e de técnica)
a fim de buscar obter a sonoridade desejada;

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

6. Analisa o resultado alcançado pelo cruzamento dos dados referentes às características da palheta
empregada, aos procedimentos técnicos usados e às sonoridades obtidas;
7. Registra a análise realizada, mentalmente ou por escrito; e
8. Compara as análises realizadas.

Quanto às variáveis e subvariáveis de produção de som a se experimentar no Modo de Prática 2, se


eliminarmos aquelas relacionadas ao instrumento, boquilha e espaço físico em que se toca, podemos listar as
seguintes:
1. Palheta:
a. Dureza (2, 2 1/5, 3, 3 1/5 etc)
b. Posicionamento da palheta na boquilha (acima, alinhada ou abaixo da ponta da boquilha);
2. Embocadura:
a. Posição/formato utilizado,
b. Abertura da embocadura (pouca, mediana e bastante),
c. Nível de tensão dos músculos em torno da boquilha (baixo, médio e alto),
d. Nível de pressão exercida contra a palheta pelo lábio e/ou maxilar (pouco, médio e alto),
e. Local de colocação dos dentes superiores na boquilha (mais para dentro ou mais para fora),
ou profundidade da entrada da boquilha na boca (pouca, média e bastante);
f. Local de encontro entre o lábio inferior e a palheta, ou ângulo de entrada da boquilha na boca
(fechado, mediano e aberto);
3. Língua:
a. Posicionamento por vogais (“a”, “é”, “e”, “i”, “ó”, “o”, “ö” [alemão], “u” e “ü” [alemão]),
b. Movimento,
c. Força muscular da língua no ataque guiadas por consoantes (“T”, “D”, “R” simples),
d. Ponto de contato entre a língua e a palheta/boquilha;
4. Abertura da garganta por vogais (“a”, “é”, “e”, “i”, “ó”, “o”, “ö” [alemão], “u” e “ü” [alemão]);
5. Força utilizada para soprar (pouca, mediana e muita).

Seguem algumas dicas de como praticar a Série A, abaixo. Elas não estão em ordem de prática ou de
importância.
1. Toque a Série I com as intensidades p, mf e f, sempre fazendo decrescendo em cada nota;
2. Note a resistência que cada nota tem para ser produzida nas diferentes intensidades. Para isso,
pratique emiti-las com e sem ataque de língua, apenas com o sopro, nas diferentes intensidades;
3. Experimente tocá-las também com diferentes palhetas, em termos de raspagens e durezas (mole,
média e dura);
4. Repare a diferença de timbre da nota Si bemol grave em relação às demais e como ela se comporta
nas diferentes dinâmicas;
5. Observe como a sonoridade deste Si bemol tende a ser mais semelhante as demais notas do grave
nas dinâmicas mais suaves;
6. Experimente afinar esta nota:
a. Aproximando o dedo médio da mão direita do furo aberto,
b. Abrindo e/ou relaxando a embocadura e a garganta,
c. Fechando o furo do dedo mínimo da mão direita,
7. Perceba também como seu timbre e dinâmica se comportam abrindo ou fechando mais a garganta,
a língua e/ou a boca, e/ou relaxando ou tensionado mais os lábios inferiores.
8. Caso tenha problema de afinação com o Fá do primeiro espaço, experimente fechar o furo do dedo
anular da mão esquerda e/ou use diferentes combinações de dedos fechando os furos da mão
direita.
9. Também a afinação das notas que seguem este Fá (Sol, Lá e Si bemol) pode ser melhorada
experimentando fechar diferentes combinações de furos das duas mãos.

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

2 - Série B
Trabalhando a métrica de compasso e articulação (ataques de notas)

Série B:

A Série B é uma preparação para compreender e aprender a ler, interpretar e executar a escrita da música da
segunda metade do Século XVIII, conforme os conceitos dos tratados da época. Trata-se de executar desenhos
rítmicos e melódicos de uma maneira diferente daquela que o clarinetista moderno está acostumado a fazer.
Ao ler uma partitura, sua mente forma as imagens sonoras que considera correspondentes aos desenhos
grafados e as realiza sonoramente no instrumento. O problema é que muitas das imagens sonoras que ela
possui para a escrita da música deste período não correspondem à maneira que os tratados informam que ela
deveria ser executada. Assim, há a necessidade de: 1) assimilar os conceitos de execução que os tratados
definem para a escrita musical do período, 2) construir, a partir destes conceitos, novas imagens sonoras para
os desenhos desta escrita e 3) executá-las com coerência e fluência. Para os clarinetistas que trabalharão com
as execuções moderna e histórica, não se trata de substituir as imagens de uma pela outra, mas sim de ampliar
o vocabulário de imagens e desenvolver a expressão musical fluente nas duas.
Assim, a Série B, se comparada à escrita de uma língua, implica em treinar a mente a ler de uma maneira
diferenciada os mesmos símbolos que está acostumada a ler de outra (como se lesse, talvez, com um sotaque
diferente do seu). A mente poderá ficar treinada a ler a mesma escrita, pelo menos, de duas maneiras distintas,
moderna e setecentista. É um treinamento que lida com a mudança de uma prática solidificada da mente, mas
que é simples. Contudo, apesar de simples, pode ser essencial, pois a execução musical informada nos tratados
requer mudanças na forma de executar até mesmo figuras básicas da escrita musical, quando comparada à
moderna. A prática da Série B trará base para o clarinetista reconstruir as imagens sonoras de desenhos
musicais mais complexos do período.
Por que praticar a Série B?
Os tratados do Século XVIII informam que para se tocar o repertório do período Clássico a hierarquia dos
tempos fortes e fracos do compasso deve ser respeitada, quando não indicado o deslocamento deles pelo
tratamento composicional. O compasso determina o nível de acentuação (ênfase) métrica de seus tempos,
mas este nem sempre é seguido pelo tratamento composicional, assim o intérprete deve identificar quando
tais procedimentos composicionais ocorrem e refleti-los em sua interpretação. Quando o tratamento
composicional segue a métrica do compasso, o intérprete pode reproduzi-la pela duração, intensidade e/ou
ataque das notas. Assim, a diferenciação entre as notas do compasso pode ser feita tocando a nota do tempo
forte, ou as suas principais, um pouco mais longa do que as outras, um pouco mais forte que as demais e/ou
com ataque mais enfático. A escolha do(s) meio(s) para refletir a acentuação do compasso dependerá do
sentido musical do trecho em questão, assim como do estilo ou do caráter da peça. Como dizem os tratados,
isso deve ser feito com bom gosto e conhecimento. Assim, é importante é a duração e a intensidade das
semínimas em cada tempo do compasso.

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

Como praticar
• Pratique, primeiramente, devagar, semínima = 60, e depois acelere aos poucos;
• A fim de reproduzir a métrica do compasso, além da dinâmica proposta, utilize também o recurso da
duração das notas, de maneira que a sequência da mais longa a mais curta seja a primeira, a terceira,
a segunda e, por fim, a quarta nota do compasso.
• Cada semínima deve ser tocada com decrescendo, em formato do toque de um sino ou imitando o
ataque do fortepiano;
• Pratique com “Tu”, com um ataque pontiagudo ou penetrante;
• Pratique com “Du”, com um ataque suave ou brando;
• Após tocar a Série B em compasso 8 por 4, toque-a em compasso 4 por 4 eliminando as pausas,
como segue no exemplo abaixo:

• Pratique a Série B também com “Du”, mas seguindo o exemplo abaixo:

• Pratique a Série B também em compasso ternário simples, conforme os dois modelos abaixo (Modos
“A” e “B”). No Modo “A”, a hierarquia dos tempos do compasso segue forte, meio forte e fraco. Já
no Modo “B”, o terceiro tempo do compasso é tocado com mais ênfase que o segundo, como
anacruse do compasso seguinte.

Modo “A”:

Modo “B”:

3 – Série C
Trabalhando ligaduras
De maneira geral, em um grupo de notas ligadas sem indicação de sinais de dinâmica, como exemplificado no
Exemplo 1, a primeira nota deve ser mais longa e mais forte que as demais. As demais notas devem ser tocadas
em diminuendo e a última curta, respeitando a hierarquia dos tempos do compasso, como exposto no
Exemplo 2.

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

Exemplo 1:

Exemplo 2:

Esta regra se aplica, principalmente, para pares de notas ligadas. Desta maneira, a passagem da esquerda deve
ser executada como indicado à direita:

Com esta regra em mente, pratique a Série C:

Série C:

Pratique a Série C seguindo o exemplo abaixo também:

PARTE II
Trabalhando intervalos
Os dois duetos que seguem abaixo são para trabalhar intervalos harmônicos e foram retirados do Nouvelle
Méthode de Clarinette do Frédéric Blasius. Ed. Porthaux, 1796.

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

Dueto 1

Dueto 2

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

PARTE III
Ornamentação
A ornamentação na música da segunda metade do século XVIII é um assunto complexo e longo que não cabe
nos propósitos deste Tutorial. Contudo, trazemos uma breve introdução ao trinado, apojatura e grupeto que
será útil na execução de seu repertório uso.

Trinados

De maneira geral, os trinados começam com a nota auxiliar superior, mas podem começar com a auxiliar
inferior. Eles devem iniciar com a nota principal (escrita), quando ela for precedida pela superior, por pausa
ou for o início de uma frase. O trinado do exemplo dos compassos 191-193 começa com a nota superior (Mi),
assim como os trinados do exemplo dos compassos 181-184. Já o trinado do exemplo dos compassos 123-124
pode começar com a própria nota principal (Fá). Além da nota auxiliar superior preceder a principal, ela está
escrita em tamanho normal (não em tamanho de notas ornamentais) e há uma ligadura conectando as duas.
Os exemplos são do primeiro movimento do Quinteto em Lá maior para clarineta, dois violinos, viola e
violoncelo, KV. 581, de W. A. Mozart.

C. 191-193

C. 181-184

C. 123-124

De maneira geral, o trinado de cadência deve começar lento, apoiando a primeira nota, e, em seguida,
acelerar e fazer um crescendo, como Lefévre exemplifica em seu Méthode de Clarinette (1763-1829),
publicado pelo Conservatoire de Musique em 1802:

Apojaturas
As apojaturas são notas que ornamentam a melodia. Elas podem ser longas ou curtas. A longa “rouba” metade
do valor da nota principal ou um terço dela, quando se trata de nota pontuada. A curta pode ser executada de
duas maneiras a depender do trecho musical. Uma se toca rapidamente antes do tempo da nota principal e
não é acentuada. A outra se executada na cabeça do tempo e é acentuada, tendo a função de suspenção.
Identificar quando uma apojatura deve ser tocada longa ou curta é uma tarefa que requer estudo e bom gosto.
Quando a apojatura está cortada indica que ela é curta, considerando partituras do período, principalmente.
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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

Porém nem sempre a ausência do corte indica que ela é curta. De maneira geral, a curta é realizada quando:
a) a nota principal é de duração curta em um movimento rápido, b) a nota principal é seguida por notas de
mesmo valor, c) a nota principal é destacada, d) a apojatura ocorre após uma pausa, e) há uma sequência de
notas iguais com apojaturas, f) a apojatura precede uma síncope. São muitas as regras que orientam a
execução musical deste período. Abaixo trazemos apenas dois exemplos de apojaturas longas e um de
apojatura curta.

O exemplo abaixo vem dos dois primeiros compassos da Sarabande da Ouverture para 3 Chalumeaux em Dó
maior, GWV 401, do compositor Christoph Graupner. Esta sarabanda aparece na íntegra na Parte IV – Danças
do Tutorial – Sarabanda, do Tutorial. O exemplo da esquerda está como o compositor escreveu e no da direita
como se executa.

O exemplo seguinte é do compasso 19 do segundo movimento do Quinteto em Lá maior para clarineta, K 581,
de W. A. Mozart. A apojatura (Lá) poderá ter o valor de uma semicolcheia (um terço do valor da pontuada).

O exemplo de apojatura curta é da apojatura que ocorre antes do tempo e sem acentuação. Ele vem
do compasso 17-19 do Rondeaux Pastorella do Duo Concertante I para duas clarinetas de Michel Yost
(1754-1786).

Grupetos
Os exemplos de escrita e realização de grupetos foram tirados do método do Lefévre.
Grupetos antes da nota:

Grupetos após a nota:

Escreve desta maneira:

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

Executa-se assim:

Para praticar estas ornamentações vamos treinar a peça abaixo.

Wolfgang A. Mozart. (1756-1791). Larghetto do Quinteto para clarineta, dois violinos, viola e violoncelo em
Lá maior, K. 581, (1789). Leipzig: Breitkopf und Härtel (ca. 1883).

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

PARTE IV
Danças

As danças estavam muito presentes na vida do século XVIII e serviram como modelos para composições. Foram
amplamente usadas pelos compositores do período Clássico em ópera, música de câmara, concerto, sonata,
suíte, sinfonia, serenata, ária e mesmo na música sacra. Elas fizeram parte do ensino da composição e do
aprendizado de instrumentos musicais. O minueto, a sarabande e a gavota eram danças elegantes e cortês. A
giga e a bourrée possuíam caráter agradável e animado. As contradanças e o Ländler eram mais dinâmicos e
rústicos. O repertório para a clarineta cresce muito no último quarto do século XVIII e muitas destas danças
integram suas obras solistas. Além disso, sua presença em orquestras e conjuntos camerísticos requeria do
clarinetista o conhecimento de como tocá-las.

4 – Excertos e peças do repertório com danças.


Devido ao tamanho proposto para o Tutorial, ele inclui apenas algumas danças e são dadas apenas
informações gerais sobre elas. É importante que o estudante busque conhecer mais sobre as danças aqui
apresentadas e aquelas que não foram inclusas. Elas estão em listadas em tópicos que aparecem em ordem
alfabética: Gavota, Minueto e Ländler, Polonaise e Polaca, Rondó, Sarabanda, Siciliana.

4.1 – Gavota
A gavota é uma dança alegre e elegante em andamento moderato e tempo binário, geralmente em alla breve.
Ela costuma começar com anacruses de duas semínimas e manter esta figura rítmica ao longo da peça. Na
performance, é importante não acelerar e deixar claro as frases pelo uso de articulação e duração das notas.
Seguem duas gavotas de Graupner escritas para três chalumeaux e adaptadas para três clarinetas.

Gavota 1
Christoph Graupner. (1683 - 1760). Gavotte da Ouverture a 3 Chalumeaux em Fá maior. GWV 443 do Mus.
Hs. 183 (1737-46), disponível na Badische Landesbibliothek, Karlsruhe.

Autógrafo:

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

Transcrição para três clarinetas de Joel Barbosa:

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

Gavota 2
Christoph Graupner. (1683-1760). Gavotte da Ouverture a 3 Chalumeaux, em Dó maior, GWV 401 do Mus.
Ms.464-73. Autógrafo de 1738c.
Autógrafo:

Transcrição para três clarinetas de Joel Barbosa

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

4.2 – Minueto e Ländler


O minueto foi a dança mais popular do período Clássico. Ele é em tempo ternário rápido e está associada ao
mundo elegante da corte e do salão. Sua melodia é elegante, formosa, alegre, animada e, ao mesmo tempo,
pode incluir características patética, do popular rústico e de humor. Já o ländler é uma dança associada ao
minueto, mas que é mais popular e não da corte ou dos salões.

Joseph Haydn. (1732-1809). IV Divertimento em Dó para duas clarinetas e duas trompas. Hob II:14. Ar. De H.
C. Robbins Landon. Ed. Verlag Doblinger, Viena, 1959.

Como a peça é escrita para clarinetas e trompas em Dó e, além disso, a extensão das partes das trompas fica
factível na clarineta, é possível tocá-la com um quarteto de clarinetas em Si bemol, por exemplo.

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

Os dois trios do Menuetto do Quinteto para clarineta de Mozart, KV 581, trazem características de ländler.

Wolfgang A. Mozart. (1756-1791). Minueto do Quinteto para clarineta, dois violinos, viola e violoncelo em
Lá maior, K. 581, (1789). Leipzig: Breitkopf und Härtel (ca. 1883).

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

4.3 – Polaca e Polonaise


A polaca e a polonaise são danças de origem polonesas em compasso ternário que fazem constante uso de
síncopes. Elas estão presentes em diversas obras para clarineta. Muitas vezes com a indicação Alla Polacca,
como no terceiro movimento do Concerto No 2 em Mi bemol maior de C. M. Weber. Do período Barroco ao
Romantismo seu andamento fica mais acelerado e seu estilo.
Polaca:
Anton Stadler. (1753-1812). Duetto 5 dos 6 Duettinos progressives pour deux clarinettes. Vol. 2 (c. 1808).
Primeira Clarineta

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

Segunda Clarineta

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

Polonaise:
O trio de bassethornes abaixo é possível ser tocado com clarinetas em Si bemol usando dois procedimentos
simples, contudo soará em Mi bemol e não em Si bemol como, originalmente, soa com os bassethornes que
são em Fá. O primeiro procedimento é ler a terceira voz na clave que está escrita, clave de Fá, uma prática
comum ao bassethorne. O segundo é tocar as duas únicas notas que ficam fora da extensão da clarineta (o Ré
e o Dó da terceira voz dos compassos 17 e 18, respectivamente) uma oitava acima.

Wolfgang Amadeus Mozart. (1756-1791). Polonaise do Divertimento No 5 para Três Bassethornes. 1783-8.
KV. 439b. Ar. Alberto Gomez Gomez. Disponível para uso livre em:
http://ks.imslp.info/files/imglnks/usimg/d/d5/IMSLP228735-WIMA.7ef0-Mozart3Horns.pdf

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

Outras composições para praticar:

• Allegro moderato, último movimento, do Quinteto para clarineta e quarteto de cordas de S.


Neukomm, Op. 8.
• Dueto 4 – Polonaise dos 12 Duets para clarinetas de W. A. Mozart, KV 487.
• Polacca do Potpourri No 2 para clarineta e orquestra de Franz Danzi.
• Polonaise do Primeiro Quarteto para clarineta, violino, viola e violoncelo de Iwan Müller.

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

4.4 – Rondó
A palavra rondó quer dizer circular. A música é rápida e alterna sua seção principal com seções contrastantes,
como na forma A-B-A-C-A, por exemplo. O rondó está presente em sinfonias, concertos para instrumentos e
nas mais diversas formações de música de câmara. No exemplo abaixo para ser praticado, o Rondó é a terceira
parte do dueto e é bem reduzido. O dueto foi colocado na íntegra e, assim, podemos verificar que ele é curto
para se harmonizar com os tamanhos dos dois movimentos que o precedem.

Rondo do Dueto VI dos Seis Pequenos Duos extraídos de composições de Ignaz Pleyel, editado por N.
Simrock.

Primeira clarineta:

Segunda Clarineta:

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

Anton Eberl. (1765-1807). Grande Sonate para cravo ou fortepiano com acompanhamento de clarineta
obrigatória e baixo ad libitum, Op. 10, Ed. Gerstenberg: Parte da clarineta do Rondo, terceiro movimento.

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

Sugestões de outras obras para praticar:


• Rondo do Concerto em Lá maior para clarineta de W. A. Mozart, KV 622.
• Rondo presto da Grande Sonate para pianoforte com clarineta concertante de Franz Bühler.
• Rondeau da Segunda Sonata para clarineta com acompanhamento de Baixo de François Devienne.
(1759-1803).

4.5 – Sarabanda
A sarabanda é uma dança ternária de andamento mediano. Seu caráter é descrito como majestoso,
melancólico, lânguido e terno, mas com ternura delicada e séria. Prolongar um pouco mais além da duração
normal as notas pontuadas e encurtar as notas curtas que as seguem ajuda a imprimir seu caráter sério. O
mesmo se consegue também apoiando as harmonias dissonantes. Ela é uma dança que tem relações com o
minueto, porém mais lenta. No final do século XVIII, a sarabanda foi desaparecendo, mas seu caráter estilístico
continuou, como por exemplo, a ênfase no segundo tempo de seu compasso ternário. (Ratner, p. 11, 1980))

Christoph Graupner. (1683-1760). Gavotte da Ouverture a 3 Chalumeaux, em Dó maior, GWV 401 do Mus.
Ms.464-73. Autógrafo de 1738c.

Autógrafo:

Transcrição para três clarinetas de Joel Barbosa:

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

4.6 – Siciliana
A siciliana é em compasso binário composto (6 por 8) como a giga, contudo é mais lenta. Suas melodias
possuem caráter melancólico, pastoral e gentil. Ela possui uma figura rítmica padrão que é constituída por
colcheia pontuada-semicolcheia–colcheia ( ) que deve ser tocada como escrita, sem prolongar a nota
pontuada além de sua duração.

Anton Eberl. (1765-1807). Grande Sonate para cravo ou fortepiano com acompanhamento de clarineta
obrigatória e baixo ad libitum, Op. 10, Ed. Gerstenberg: Parte da clarineta do Romance, segundo movimento.

Outras obras para praticar siciliana:

• Ignaz Pleyel. (1757-1831). Siciliano, primeiro andamento do Dueto VI dos Seis Pequenos Duos
extraídos de composições de editado por N. Simrock. (Partitura disponível acima no item Rondó do
Tutorial).
• Jean-Jacques Rousseau. (1712-1778). Siciliana Largo. (1770) do Clarinet Duets: from the Earliest Time
of the Instrument. Editado por Heinz Becker. Florida: The Well-Tempered Press.

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

PARTE V
Estilos Composicionais
Foram muitos os estilos composicionais utilizados na música de concerto da segunda metade do século XVIII.
Como a clarineta se tornou um importante instrumento deste período, integrando os mais variados conjuntos
musicais, em seu repertório solista, de música de câmara e orquestral se encontram quase todos eles. O
Tutorial traz alguns destes principais estilos em obras compostas para clarineta clássica e em outras da
primeira metade deste século, escritas para chalumeaux e clarinetas barrocas.

5 – Excertos e movimentos de obras com diferentes estilos composicionais


O Tutorial abordará os estilos composicionais brilhante, de caça, cantado, empfindsamkeit, pastoral, polifônico
e Sturm und Drang.

5.1 – Abertura Francesa e Estilo Polifônico


A abertura francesa e o estilo polifônico aparecem juntos neste item porque em vários gêneros e formas
musicais eles aparecem seguidos e o exemplo musical escolhido, abaixo, para a prática no instrumento está
assim disposto. A abertura francesa é um estilo de música cerimonial que usa andamentos lentos e pesados
de marcha. Ela foi extensamente utilizada no classicismo. Para obter seu caráter cerimonioso na performance,
prolonga-se, exageradamente, a duração das notas pontuadas, além do valor indicado, e reduz-se a duração
das notas curtas que as seguem, como se a figura fosse duplamente pontuada. O exemplo utilizado abaixo é
retirado da Ouverture a 3 Chalumeaux de C. Graupner, sugerido com o andamento de Adagio. Com estilo
polifônico englobamos composições contrapontísticas, fuga, cânone e imitação. É um estilo de caráter sério.
No exemplo ele está indicado com Allegro. Um dos recursos utilizados para sua execução é ressaltar as
repetições do tema principal em meio as demais vozes, principalmente, sua entrada.

Christoph Graupner. (1683-1760). Adagio da Ouverture a 3 Chalumeaux, em Dó maior, GWV 401 do Mus.
Ms.464-73. Autógrafo de 1738c. Adaptação para clarinetas de Joel Barbosa.

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

5.2 – Estilo brilhante


O estilo composicional brilhante é o que faz uso de sequencias rápidas que se repetem e demonstram um
caráter intenso e virtuosístico. Ele tem sua origem ligada à música instrumental do barroco italiano. No trecho
musical abaixo, Quinteto para clarineta de Mozart, todos os cinco instrumentos (clarineta, violinos, viola e
violoncelo) estão envolvidos neste tratamento musical. As cordas iniciam esta seção de textura brilhante antes
da clarineta no compasso 89 com o primeiro violino. Vale a pena lembrar que esta obra foi, originalmente,
composta para a clarineta basset e que a primeira nota dos compassos 103, 105 e 107, Ré, Ré e Dó,
respectivamente, foram escritas oitava abaixo. Isso é importante ressaltar porque demonstra que a escrita
original afirma ainda mais o caráter brilhante, por não quebrar a repetição exata do desenho melódico
estabelecido nos quatro primeiros compassos, ou seja, um arpejo com um único movimento ascendente e
outro descendente.
Wolfgang A. Mozart. (1756-1791). Quinteto em Lá maior para clarineta, dois violinos, viola e violoncelo em Lá
maior, K. 581, 1789. Compassos 99-111 do Allegro, primeiro movimento.
Clarineta em Lá:

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5.3 – Estilo de Caça


A música de caça fez parte do cotidiano europeu do século XVIII, tanto nos ambientes aristocráticos
como nos campos durante as caçadas. Ela inclui arpejos tríadicos (toques de trompas), sequencias
melódicas de graus conjuntos e imitação. Para praticar um pouco deste estilo, seguem dois duos. O
primeiro é anônimo e pertence a uma coleção de árias (composições) publicada no período barroco
(1716). Ela diz ser para vários instrumentos, incluindo chalumeaux e clarinelles (clarinetas), uma das
partituras mais antigas para o instrumento. O segundo duo, intitulado Chasse, foi retirado dos Quatre
Duos d’une dificulté progressive do clarinetista Phillip Meissner. A clarinetista e pesquisadora Pamela
Weston o considerava o primeiro grande professor do instrumento, em seu livro More clarinet
Virtuosi of the Past (1982). Ele foi professor de Bähr, Goepfert, Kleinhaus, Georg Reinhardt e os
irmãos Viersnickel.
Anônimo. Dueto em Ré maior retirado da obra intitulada Airs à deux Chalumeaux, Deux Trompete, deux
Hautbois, deux Violons, deux Flûtes, deux Clarinelles ou Cours de Chasse. Amsterdam: Roger et Le Cène, 1716.

Primeira voz:

Segunda voz:

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Philipp Meissner. (1748-1816). Chasse dos Quatro Duos para duas clarinetas. Ed. Plattner.

Primeira clarineta:

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Segunda clarineta:

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5.4 –O Estilo Cantado


O estilo cantado possui sentido lírico, andamento moderado, linha melódica com notas de durações médias e
registro pequeno.

Leopold Kozeluch. (1747-1818). Andante do Concerto em Mi bemol para clarineta e orquestra.


Autórgrafo.

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5.5 – Empfindsamkeit
Empfindsamkeit pode ser traduzido como sensibilidade. Este é um estilo composicional que tem caráter
pessoal, íntimo e sentimental. Apresenta mudanças repentinas de humor e interrupções da continuidade
melódica.

Franz Danzi. (1763-1826 ). Larghetto do Potpourri No 2 para clarineta e orquestra. Ed. Simrock. (CA. 1819).

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François Devienne. (1759-1803). Três Sonatas para Clarineta com acompanhamento de Baixo. Ed. Sieber.
Segundo movimento da Primeira Sonata, Adagio.

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5.6 – Pastoral
O estilo pastoral também é conhecido como musette. Neste sentido, vê-se sua relação direta com a
música rústica tocada na gaita de fole ou na musette e que costuma ter uma nota contínua de baixo.
Esta uma característica marcante deste estilo que pode ser observada na Pastourelle do G. P.
Telemann, abaixo. Suas melodias costumam ter caráter ingênuo e pastoral. A Pastourelle faz parte
de uma coletânea de peças (Der getreue Music-Master) do Telemann e é para diversos instrumentos.
A peça seguinte, Rondeaux Pastorella, é de um duo do Michel Yost (1754-1786). Ele foi um
importante clarinetista francês, cofundador da escola de clarineta deste país. Estudou com Joseph
Beer, um dos mais renomados clarinetistas da época, e foi professor do Jean Xavier Lefévre, autor de
um método até hoje em uso em vários países. Ele escreveu um método para clarineta e compôs um
grande número de obras para o instrumento, concertos, duos, trios quartetos etc.

Georg Phillip Telemann. 1681-1767). Der getreue Music-Master. Patourelle pour divers instrumens.
Twv 41:D5.

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

Michel Yost. (1754-1786). Rondeaux Pastorella do Duo Concertante I para duas clarinetas.

Primeira Clarineta

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

Segunda clarineta

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

5.7 – Sturm um Drang


Sturm und Drang foi um movimento literário alemão e as palavras podem ser traduzidas como
tempestade e íntimo. Na música, o estilo está associado à expressão de sentimentos pessoais
intensos e subjetivos. Possui textura cheia, tratamento rítmico propulsivo, cromatismo, harmonias
em modo menor, dissonâncias agudas e um estilo de declamação apaixonado (Ratner, p. 21, 1980).
Sigismund von Neukomm. (1778-1858). Quinteto para clarineta, 2 violinos, viola e violoncelo. Op. 8.
Edição C. F. Peters. Leipzig. 1815. (Parte da clarineta do primeiro movimento – Adagio)

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

PARTE VI
Estudos e Caprichos
Esta parte é dedicada aos estudos e caprichos compostos para a clarineta clássica. Dentre eles, citamos os 12
Grands Solos ou Edudes para clarineta solo de Célébre Michel (*?-1788), e os Trois Caprices por la Clarinette
Seule de Anton Stadler (1853-1812), publicado por volta de 1810. Para praticar, incluímos o Capricho 3 do
clarinetista A. Stadler que trabalhou com Mozart e com o luthier Theodor Lotz. Pamela Weston menciona que
ele usou uma clarineta de seis chaves e que a sexta chave foi concebida por J. X. Lefévre.

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

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TUTORIAL PARA INTRODUÇÃO À CLARINETA CLÁSSICA

PARTE VI
Referências e Indicações Bibliográfica

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and Motor Behaviors. Greensboro (EUA): The University of North Carolina at Greensboro, 2007. Tese de
Doutorado em Artes Musicais.
BLASIUS, Matthieu Frédéric. Nouvelle Méthode de Clarinette et Raisonnement des instruments, 1796. Genève:
Minkoff Reprint, 1972.
HOEPRICH, Eric. The Clarinet. New Haven and London: Yale University Press, 2008.
LAWSON, Colin. The Early Clarinet: A Practical Guide. Cambridge: Cambridge University Press, 2000.
LEFÈVRE, Jean Xavier. Méthode de clarinette, 1802. Genève: Minkoff Reprint, 1974.
MONTOYA, Adrián Oscar Dongo. Piaget: imagem mental e construção do conhecimento. São Paulo, Editora
da UNESP, 2005.
MOZART, Leopold. A Treatise on the Fundamental Principles of Violin Playing. New York: Oxford University
Press, 1985. 2 nd Edition. Translated: Editha Knocker.
PEREIRA, Luciano Silveira. Aspectos da performance historicamente orientada do repertório setecentista
para clarinete. 2010. 175 f. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Artes, UNICAMP, Campinas, 2010.
QUANTZ, Johann Joachim. On playing the flute. Boston: Northeastern University Press/University Press of
New England, 2001. Translated, notes and introduction: Edward R. Reilly.
RATNER, Leonard. Classic Music: Expression, Form, and Style. New York: Schirmer Books, 1985.
RICE, Albert. The Baroque Clarinet. Oxford: Clarendon Press, 1992.
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ROESER, Valentin. Essai d’instruction a l’usage de ceux qui composent pour la clarinette et le cor, 1764. Genève:
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ROSENBLUM, Sandra. Performance Practices in Classical Piano Music. Bloomington: Indiana University Press,
1985.
TOSÉ, Gabriel. Artistic Clarinet: Technique and Study. Hollywood (EUA): Higland Music Company, 1962.
TÜRK, Daniel Gottlob. School of clavier playing, or, Instructions in playing the clavier for teachers and students.
Lincoln: University of Nebraska Press, 1982. Translation, Introduction and Notes: Raymond H. Haggh.
VAN DER HAGEN, Amand. Méthode Nouvelle et Raisonneé pour la Clarinette, 1785. Genève: Minkoff Reprint,
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______. Nouvelle Méthode de Clarinette: Divisée em deux parties. Paris: Editions Jean-Marc Fuzeau, 2000.
VESTER, Frans. W. A. Mozart: on the Performance of the Works for Wind Instruments. Amsterdam: Broekman
& Van Poppel, 1999. Translated: Ruth Koenig.
WESTON, Pamela. Clarinet Virtuosi on the Past. London: Emerson Edition, 1971.
______. More Clarinet Virtuosi on the Past. London: Emerson Edition, 1977.
YOST, Michel. Méthode de Clarinette. Paris: Editions Jean-Marc Fuzeau, 2000.

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