Sistema de Motor de Partida
Para que o motor de combustão interna comece a funcionar, este precisa de um estímulo
externo, algo que supere a inércia de seus componentes e o faça ganhar velocidade suficiente
para finalmente, funcionar por si só. Este estímulo chama-se Motor de Partida, um motor de
corrente contínua capaz de girar em uma rotação mais alta que a rotação mínima de
funcionamento do motor de combustão interna (rotação de partida).
Fatores Influentes:
Todo motor de combustão interna possui sua rotação de partida, aquela que quando atingida
ou superada permite ao motor funcionar por si só. Mas essa rotação depende de alguns fatores
como atrito nos mancais, tipo de óleo lubrificante, taxa de compressão, tipo de preparação da
mistura, quantidade de cilindros, massa dos componentes móveis e temperatura externa.
Todos esses fatores influem no quão robusto o motor de partida deverá ser, pois quando o
motor de partida começa a girar o motor, este deve vencer os atritos internos devido ao fato do
óleo ter escorrido para o cárter, a enorme compressão da mistura ar-combustível nos cilindros
e contar com a eficiência de formação da mistura ar-combustível pelo sistema de injeção, isso
apenas em um cilindro.
Clima frio, maior dificuldade para pôr o motor para funcionar. O sistema de partida (e elétrico)
deve estar preparado para essa condição.
Entretanto, o motor de partida está ligado a bateria, e esta é sensível a temperatura externa.
Tendo em mente que o motor de partida consome em uma partida apenas, o mesmo que as
meias-luzes ligadas durante 1h, não há dúvidas de que ele é o maior consumidor do sistema
elétrico automotivo, exigindo maior potência fornecida pela bateria. Quando a temperatura
externa é baixa, a resistência interna da bateria aumenta, por consequência sua potência
fornecida também é reduzida. Isso demonstra que além das dificuldades de formação da
mistura a frio, existe também a baixa performance da bateria a frio
Motor de partida completamente desmontado. Sua simplicidade de montagem e funcionamento
é inversamente proporcional a quantidade de peças.
Componentes:
1. Carcaça;
2. Massas Polares;
3. Bobinas de Campo;
4. Induzido;
5. Suporte das Escovas;
6. Pinhão de Engrena mento;
7. Alavanca de Acionamento;
8. Solenoide;
9. Tampas.
Carcaça do motor de partida (Conforme indicada).
Carcaça: Trata-se da parte central do motor de partida, podendo ser fabricada em aço ou ligas
leves, serve de apoio para as massas polares e se encaixa com as tampas.
Massa polares indicado pela seta (Pole core) A seta respectiva ao Field Coil, é a seta da Bobina
de Campo.
Massas Polares/Sapatas Polares: São pequenos blocos de liga de ferro e silício, que são
aparafusados na carcaça do motor de partida, possuem alta permeabilidade magnética e
quando montadas nas bobinas de campo, formam seus núcleos.
Bobina de Campo. O espaço no seu centro é destinado as sapatas polares.
Bobinas de Campo: Sua função é formar os campos magnético que permitem o funcionamento
do motor, são espiras feitas de fio de cobre isoladas entre si em formato retangular, no centro
das espiras se encaixam as massas polares.
Induzido. Na extremidade traseira está o Coletor, na extremidade dianteira localiza-se o fuso.
Induzido: O induzido é um eixo com diversos componentes já instalados, seu papel é
fundamental para funcionamento do motor de partida. No eixo do induzido estão o Conjunto
de Canaletas, pequenas peças de liga de ferro e silício dispostas longitudinalmente (paralelas ao
eixo). As canaletas são montadas lado a lado em volta de todo o eixo do induzido. Nas canaletas
estão enroladas as bobinas do induzido, e assim como as bobinas de campo, são feitas de fios
de cobre e localizam-se na extremidade traseira do eixo do induzido. Além disso as bobinas do
induzido se ligam a um conjunto de lâminas, também dispostas na extremidade traseira do
motor de partida. Lâminas de cobre isoladas, e seu conjunto é chamado de Coletor. O coletor
recebe a corrente elétrica através das escovas, e alimenta as bobinas do induzido, que formam
o campo magnético do induzido.
Suporte de escovas montador no motor de partida.
Suporte das Escovas: Feita em chapa de aço, é uma peça alojada na parte traseira do motor de
partida. Possui quatro alojamentos onde são colocadas as escovas. Dentro do alojamento estão
as molas que empurram as escovas sobre o coletor. Das quatro escovas, duas estão ligadas a
massa (ou terra, negativo da bateria) e duas são ligadas a linha 30 da bateria através de um
interruptor acionado pelo solenoide.
Pinhão de Engrena mento com Roda livre.
Pinhão de Engrenamento: Na extremidade dianteira do eixo do induzido estão estrias helicoidais
(fuso), sobre estas se desloca o pinhão de engrenamento quando empurrado pela alavanca de
comando, fazendo o engrenamento do motor de partida com a cremalheira do volante.
O pinhão de engrenamento possui um componente muito importante para seu funcionamento
eficaz. A roda livre. Em todos os tipos de motor de partida ela é necessária para, permitir o
acionamento do motor de combustão pelo pinhão e o desacoplamento do pinhão da
cremalheira, evitando que o motor de combustão, ao pegar, acione o motor de partida e o
destrua. Existem alguns tipos de roda livre utilizada nos motores de partida.
Por dentro da Roda Livre de Roletes.
Roda Livre de Roletes: Localizada no pinhão de engrenamento, a roda livre de roletes é
composta por arrastador de roda livre, pista de deslizamento, roletes e molas. Quando o
motor de partida é acionado, o pinhão gira solidário ao eixo do induzido, assim os roletes
giram até o estreitamento da pista de deslizamento, travando. Isso faz com que o eixo do
induzido e o pinhão tornem-se totalmente solidários. No momento que o motor de
combustão pega, sua velocidade ultrapassa a velocidade do motor de partida, o pinhão já
não empurra com tanta força os roletes ao estreitamento da pista. Assim as molas
comprimidas pelos roletes empurram os roletes de volta a sua posição inicial e o pinhão
perde o acoplamento com a eixo do induzido, e por consequência com a cremalheira.
Embreagem de Lâminas: Trata-se de um sistema utilizado quando há a necessidade de um
torque de partida muito grande (Motores diesel, linha pesada). É composta de arrastador,
lâminas externas, mola prato, acoplamento e anel de encosto. Quando o motor de partida é
acionado, o eixo do induzido gira e com ele a embreagem de lâminas, nesta a porca de
pressão com lâminas internas pode se deslocar axialmente devido ao fuso, a porca de
pressão se desloca em direção a mola prato. Assim empurra o pinhão de engrenamento
contra a cremalheira, e quando o motor de combustão pega, a mola prato empurra o a
porca de pressão, que desacopla o pinhão de engrenamento da cremalheira.
Roda livre de dentes frontais.
Roda Livre de Dentes Frontais: Outro tipo de roda livre utilizada em motores de combustão
que necessitem de alto torque de partida. Neste caso a roda é composta por pinhão de
dentes retos, contrapesos, dentes frontais (forma de serra), anel de desengrenamento,
porca de acoplamento, mola, fuso, coxim de borracha, bucha do mancal e dentes retos.
Após o motor de partida engrenar o pinhão de engrenamento com a cremalheira, e girar o
motor de combustão, este pega e passa acionar o motor de partida. Os dentes em forma
serra travam o pinhão, e assim promovem o giro deste solidário ao eixo do induzido, pois
uma vez que os dentes retos travam nos dentes frontais, o desacoplamento só ocorre após
o motor de combustão pegar, assim o não há mais tanta força empurrando os dentes retos
sobre os dentes frontais. Isso pressiona o pinhão junto ao fuso, deslocando o pinhão para
dentro do motor de partida. O pinhão também é dotado de contrapesos que ajudam no
afastamento da cremalheira.
Solenoide de acionamento do Motor de Partida. Perceba os terminais 30 e C, este último ligado
as escovas.
Solenoide/Chave Eletromagnética/Relé de Acionamento: O solenoide é uma peça cilíndrica que
fica alojada na parte superior do motor de partida. Feita em chapa de aço, aloja internamente
duas bobinas de fio de cobre esmaltado, dispostas lado a lado. A bobina de retenção e a bobina
de atração. O interior das espiras forma uma passagem para entrada de um corpo. Esse corpo é
um pequeno cilindro de metal com alta permeabilidade magnética, e nele está ligado uma
haste. Esta haste se liga a alavanca de comando do pinhão de engrenamento. Na extremidade
traseira do solenoide estão dois parafusos, um deles é conectado um cabo de cobre que está
ligado diretamente no borne positivo da bateria, enquanto no outro é conectado um cabo que
se liga ao próprio motor de partida. Quando o solenoide é energizado, o corpo metálico é
atraído pelo campo magnético das bobinas, e entra no solenoide. Assim a haste ligada ao corpo
metálico movimenta a alavanca de comando, que empurra pinhão em direção a cremalheira do
volante, e ao mesmo tempo fecha, internamente, contato com os dois parafusos do solenoide,
enviando tensão para o motor de partida, que começa a girar.
Com isso, o motor de partida passa a receber tensão de 12 V da linha 30 (Positivo direto da
bateria) e a bobina de atração é desenergizada. Enquanto isso a bobina de retenção continua
sendo percorrida pela corrente proveniente da linha 50, e isso mantém um campo magnético
forte o suficiente, para segurar o corpo metálico ativando o interruptor até que o comutador de
ignição seja desativado.
Tampa dianteira do motor de partida.
Tampas: Duas tampas completam a montagem do motor de partida, geralmente são feitas aço,
ou ferro fundido ou ligas leves. Ambas possuem a função de servir de mancal para o eixo do
induzido, que gira apoiado em buchas de latão ou de bronze, e assim tem seu desgaste
reduzido. Mas apenas a tampa dianteira do motor de partida possui a função de servir de
alojamento para o solenoide e alavanca de comando do pinhão de engrenamento.
Tipos:
Note que neste caso, o motor de partida não possui alavanca de comando. O pinhão se desloca
através do fuso, e só transmite o torque para o motor de combustão após engrenar com este.
Motor de Partida com Fuso de Avanço e Engrenamento por Inércia: É o mais simples mecanismo
de engrenamento de motores de partida. Na ponta do eixo do induzido está um fuso, sobre
esse fuso se desloca o pinhão de engrenamento. Ao energizar o motor de partida, este começa
a girar livre, sem engrenamento com a cremalheira. O pinhão não gira devido sua inércia, mas
se desloca para a extremidade do eixo do induzido. Finalmente, quando o pinhão engrena com
a cremalheira, a roda livre transmite o torque do motor de partida, e o motor de combustão é
acionado. Ao pegar, o motor de combustão facilmente supera a velocidade do motor de
partida, e esse torque superior gera uma força axial que somada a força da mola de retorno,
desengrena o pinhão da cremalheira.
Motor de Partida com Fuso de Avanço e Alavanca de Comando: Neste temos uma alavanca de
comando em forma de forquilha, que encaixa no pinhão de engrenamento e move este em
direção a cremalheira do volante. Trata-se do tipo de motor de partida mais utilizado
atualmente, motivo pelo qual o explicaremos totalmente em Funcionamento.
A engrenagem de redução possibilita um torque ainda maior. Este é um tipo de motor de partida
utilizado para motores de combustão da linha pesada.
Motor de Partida com Avanço do Pinhão por Haste Deslizante com Engrenagem
Intermediária: Neste caso, o acionamento do motor de partida é feito em dois estágios. O
primeiro estágio ocorre ao se acionar a chave, consequentemente estamos acionando o
solenoide. O induzido do solenoide aciona a alavanca de comando, e esta empurra o pinhão de
engrenamento contra a cremalheira ao mesmo tempo que o induzido do motor de partida
começa a girar. Isso ocorre suavemente, pois o induzido do solenoide aciona apenas a bobina
de circuito em série do motor de partida, e isso faz com que ele gire o suficiente para o dente
do pinhão encontrar o vão da cremalheira. O induzido do solenoide finalmente conecta o
segundo estágio, o motor de partida recebe então corrente total de acionamento. Quando o
motor de combustão interna pega e o solenoide é desenergizado, a força da mola de retorno do
induzido do solenoide empurra a alavanca de comando, e esta traz de volta o pinhão de
engrenamento para dentro do motor. Este tipo de motor de partida, é geralmente dotado de
engrenagem intermediária, cujo o objetivo é promover uma redução na rotação do induzido
transmitida ao pinhão de engrenamento, assim este tipo de motor de partida é um dos mais
indicados para motores da linha pesada.
Princípio de Funcionamento:
Neste esquema vemos uma espira, e duas escovas aplicando uma corrente elétrica sobre o
coletor, que está ligado a espira. Perceba que a espira está dentro do campo elétrico dos dois
imãs. Assim, age sobre a espira uma força eletromagnética.
O funcionamento do motor de partida é baseado em conceitos do eletromagnetismo. Sempre
que um condutor elétrico está exposto a um campo magnético, e este for percorrido por uma
corrente elétrica, sobre o condutor atuará uma força eletromagnética. Essa força será mais
intensa quanto mais intenso for o campo magnético e a corrente elétrica. Além disso, a direção
da força é perpendicular a direção do condutor e do campo magnético. Uma forma de entender
a intensidade e o sentido da força eletromagnética, é utilizando a regra da mão direita.
Apontando com o polegar o sentido da corrente elétrica, abra a mão e com os demais dedos
aponte o sentido do campo elétrico, então o a direção da força será indicada pela palma da
mão.
Regra da mão direita, com ela podemos identificar com facilidade a direção e sentido da força
eletromagnética.
A força eletromagnética pode ser calculada pela fórmula F=B.I.L.Senθ. O “θ” é o ângulo entre a
corrente elétrica que percorre o condutor e o campo magnético no qual ele está submetido.
Quando esse ângulo é 90º, o valor do Sen θ é 1. Então a força eletromagnética é
máxima, F=B.I.L.
Trazendo essa teoria para o motor de partida, temos que o campo magnético gerado no motor
de partida é proveniente das bobinas do induzido e das bobinas de campo (sapatas polares). E o
condutor no qual a corrente elétrica é percorrida, é o próprio induzido, mais precisamente os
canaletas. O campo magnético envolve todo o induzido, então, sabendo que os canaletas estão
ligados aos coletores, basta energizar a canaleta que no ponto de maior fluxo do campo
magnético, que é justamente o ponto no qual o Sen θ é igual a 1. Então, é por este motivo que
as escovas estão estrategicamente posicionadas a cada 90° sobre o coletor, para fazer percorrer
uma corrente elétrica na canaleta que está formando um ângulo de 90° com o fluxo do campo
magnético. Assim o induzido gira com força máxima, produzindo o torque mais do que
necessário para fazer girar o virabrequim do motor de combustão.
Funcionamento - Motor de Partida com Fuso de Avanço e Alavanca de
Comando:
Quando giramos a chave no comutador de ignição até a posição 50, estamos ativando a linha 50
do circuito elétrico do automóvel. Esta linha energiza diretamente o solenoide do motor de
partida, ou seja, estamos pondo o motor para funcionar. Quando o solenoide é energizado,
quase que imediatamente a haste de acionamento da alavanca de comando é puxada para
dentro dele, a alavanca de comando então empurra o pinhão, que gira devido ao fuso, e vai de
encontro a cremalheira do volante. Nesse momento temos duas possibilidades: O pinhão pode
entrar diretamente na cremalheira (acoplamento dente-vão), ou o pinhão pode esbarrar na
cremalheira (acoplamento dente-dente).
Quando o dente do pinhão de engrenamento encontra o vão na cremalheira do volante, o
pinhão gira, pois, o corpo metálico atraído para dentro do solenoide fecha contato do induzido
do motor de partida, fazendo este girar e acionar o motor de combustão.
Por outro lado, quando o dente do pinhão de engrenamento não encontra o vão na
cremalheira, o corpo metálico atraído para dentro do solenoide, vence a força da mola de
engrenamento do pinhão e fecha contato do induzido do motor de partida, este começa a girar.
Ao girar, o pinhão encontra o vão na cremalheira e efetua o acoplamento. O fuso de avanço
finaliza o engrenamento do pinhão, até que este esbarre no batente que há no eixo do
induzido.
Manutenção:
Manutenção do motor de partida.
Assim como no Alternador, o Motor de Partida possui peças de manutenção, e elas são as
escovas e suas molas. Com o uso estas se desgastam, e no caso das escovas não se pode ter um
desgaste que supere a metade de seu comprimento. Enquanto as molas devem ser analisadas
para verificar se continuam com a força de compressão ideal sobre as escovas.
Devido ao contato com as escovas, o coletor é normalmente contaminado pelo material das
escovas, que com bastante tempo de uso forma uma película sobre a superfície das lâminas do
coletor. Esta camada atrapalha o envio de corrente elétrica proveniente da bateria. Para evitar
este incomodo, basta lixar com uma lixa fina a superfície das lâminas do induzido.