Rejane Carrion, Newton C. A. Da Costa - Introdução À Lógica Elementar (Com o Símbolo de Hilbert)
Rejane Carrion, Newton C. A. Da Costa - Introdução À Lógica Elementar (Com o Símbolo de Hilbert)
à lógica
elementar
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Sergiu s Gonzaga, p residente
© de Rejane Carrion e Newton C.A. da Costa
1: edição: 1988
Rejane Carrion
Professora no Departamento de Filosofia da UFRGS, desde 1967. Mes
trado em Filosofia na Universidade de Paris/Sorbone, em 1970. Con
cluindo o doutorado em Filosofia na USP.
C3 l 8i Carrion, Rejane
Introdução à lógica elementar
{p r)
( c om o s ímb o lo de Hilbert)/ o
Rejane Carrion e Newton C.A. da Costa.
- Porto Alegre : Ed. da Universidade/
UFRGS, MEC/SESu/PROEOI. 1988
66p.
CDU 161/162
ISBN 85-7025-168-8
SUMÁRIO
CAPÍTULO 2 A Se mân tica de L.. ... ...... . . . ........ ...... .. ... .. ..... ....... .. 52
. . . . . . . . .
LEITURAS COMPLEMENTARES......................................................... 65
PREFÁCIO
OsAutores
INTRODUÇÃO
1 As lógicas nfo-�icas
A lógica trata, entre outras coisas, das inferências válidas, ou seja, das
inferências cujas conclusões têm que ser verdadeiras, caso as premissas o
sejam.
Tanto as premissas como as conclusões de uma inferência devem estar
formuladas em urna linguagem mais ou menos bem estruturada, para que ela
seja objeto de análise lógica apropriada. Com o intuito de tornar rigorosas
suas investigações, os lógicos edificaram linguagens artificiais convenientes.
As inferências são "traduzidas" nessas linguagens, ainda que pelo menos em
principio, para se estabelecer se elas pertencem à categoria dos argumentos
válidos ou à dos argumentos inválidos.
Tais linguagens possuem pelo menos duas dimensões relevantes para
a lógica: a dimensão sintática e a dimensão semântica.
As linguagens em geral são compostas de símbolos e sinais que se
acham sujeitos a regras de combinação que independem do que esses símbo
los e sinais signifiquem. Por exemplo, certas configurações simbólicas
incluem-se entre as fórmulas e outras entre os termos, e isto pode ser carac
terizado de modo puramente combinatório e formal, sem se necessitar
recorrer aos significados dos símbolos, mas com base exclusivamente nas
configurações dos arranjos simbólicos. A dimensão combinatória de uma
linguagem, encarada como puro jogo formal, sem significado, denominamos
de dimensão sintática. E a estrutura sintática de uma linguagem determina
sua sintaxe lógica.
Porém, as linguagens não são feitas apenas para dar origem a puras
estruturas sintáticas. Seus símbolos e expressões têm em geral significado,
referindo-se a objetos extra-lingüísticos. Dai a dimensão sefuântica das lin
guagens, que leva em consideração, além das estruturas sintáticas, os objetos
aos quais as configurações simbólicas se referem e os significados das mes
mas.
Assim, pois, as linguagens se encontram submetidas não apenas a
regras sintáticas, mas também a regras semânticas. O enorme interesse
das dimensões sintática e semântica para a lógica foi posto em relevo espe
cialmente por R. Clrnap e A. Tarski, por volta de 1930.
Mais ou menos até princípios deste século, havia urna única lógica
(pura, formal ou teórica). Mas no decurso dos últimos oitenta anos, foram
7
criadas outras lógicas, de modo que a lógica inicialmente considerada, cujas
origens remontam a Aristóteles, mas cujo sistematizador mais importante foi
G. Frege (nos três decênios derradeiros do século passado), precisou ser
chamada de clássica ou tmdicional. Pode-5e dizer que a lógica
clássica adquiriu sua forma quase definitiva na obra monumental de A. N .
Whitehead e Bertrand Russell, intitulada "Principia Mathematica", em três
volumes, publicados respectivamente em 19 1 0, 1 9 1 2 e 1 913.
Uma das maiores revoluções culturais de nossa época foi a edifi
cação das lógicas não-dássicas, particularmente das lógicas não-clássicas
batizadas de rivais da clássica ou heterodoxas. Essa revolução é similar à
revolução provocada pela descoberta das geometrias não-euclidianas, no sé
culo passado. Porém, até o momento, não se explorou a fundo, do ponto
de vista filosófico, o significado da eclosão das lógicas heterodoxas.
A lógica clássica consiste no que se costuma denominar cálculo de
predicados de primeira ordem, bem como de algumas de suas extensões,
como certos sistemas de teoria dos conjuntos e determinados cálculos de
predicados de ordem superior. Essencialmente, a lógica clássica versa, em
sua parte dita elementar, com base em certas posições sintáticas e semânticas
subjacentes, sobre os chamados conectivos lógicos (conjunção, disj un
ção, negação, implicação, equivalência, ...), sobre os quantificadores
("todos'', "todo", "algum", "alguns'', "algumas", ... ) e sobre o predicado
de igualdade. Em sua porção não elementar, a lógica tradicional investiga
a noção de pertinência (na acepção em que, por exemplo, afirmamos a
sentença: "Bertrand Russell pertence ao conjunto dos filósofos") e outras
noções alternativas.
A lógica clássica, em seu estado atual, é tão poderosa, que encerra a
velha silogística aristotélica, convenientemente reformulada, como caso
deveras especial e quase sem importância. Por outro lado, toda a matemá
tica tradicional, em certo sentido preciso, reduz-se à lógica clássica. (Todos
os conceitos matemáticos tradicionais são definíveis em termos da idéia
de conjunto e, portanto, definíveis a partir da lógica).
A lógica clássica caracteriza-se por determinados princípios básicos,
de nature1.a sintática e semântica. Quando semelhantes princípios são der
rogados, nascem as lógicas não-clássicas.
As lógicas não clássicas classificam�e em duas categorias: as comple
mentares da lógica clássica e as rivais da lógica clássica.
Há várias lógicas que podem ser entendidas como ampliando e com
plementando o escopo da lógica clássica. Elas se individualizam por não
colocarem em xeque as leis centrais daquela, mas por alargarem o âmbito
de suas aplicações: tão somente modificam o aparato lingüístico sob o ponto
de vista sintático, adaptando a contraparte semântica de maneira absoluta-
8
mente não essencial, sem infringir os princípios nucleares clássicos.
Por exemplo, podemos acrescentar à lógica tradicional operadores
modais, isto é, operadores expressando os conceitos lógicos de necessidade,
de possibilidade, de impossibilidade e de contingência; obtém-se, assim, a
lógica modal usual, que, em sua forma hodierna, originou-se com C.I. Lewis,
em princípios deste século. Também nada impede que se adicione à lógica
clássica operadores deônticos. formalizando-se as idéias correspondentes
às palavras "proibido", "permitido", "indiferente" e "obrigatório", dando
nascimento à lógica deôntica, elaborada sobretudo por G.H. von Wright
(I 951). lntroduzindo-se operadores temporais, por exemplo símbolos re
fletindo as flexões temporais dos verbos das linguagens naturais nas estru
turas lógicas clássicas, constrói-se a lógica do tempo ou lógica cronológica,
cuÍtivada em nossos dias sobretudo por A.N. Prior, nos anos 60. Enfim,
poderiámos suplementar a lógica clássica de várias outras maneiras, advindo
numerosas lógicas não-clássicas, tais como a lógica epistêmica e a lógica
dos imperativos, todas elas complementando a lógica clássica.
Como não podia deixar de ser, a lógica do tempo evidenciou-se de
suma relevância para os fundamentos da fisica, descrevendo e analisando
as estruturas formais de vários tipos de fluxo temporal a priori admissíveis:
tempo discreto, tempo contínuo, tempo linearmente ordenado, tempo
circular, etc. A lingüística também encontra na lógica cronológica uma
ancila de inestimável valor. Porquanto, as linguagens naturais afiguram-se
inseparáveis das flexões temporais, que inexistem na lógica clássica.
Todas as lógicas complementares da clássica mais conhecidas são
deveras relevantes e motivaram questões variadas, especialmente proble
mas filosóficos. Nelas, repetimos, a sintaxe da lógica tradicional é modi
ficada, pois as linguagens basilares subjascentcs à lógica clássica são ex
pandidas pela adjunção de novos símbolos; isto acarreta, evidentemente,
alguns retoques semânticos, dado que se torna preciso enquadrar a di
mensão semântica às novas sintaxes. Embora as mudanças sejam, sob certos
aspectos, marginais, os problemas sernánticos e filosóficos decorrentes se
mostram profundos e têm incentivado pesquisas fecundas, envolvendo
temas como: a natureza do essencialismo, em lógica modal; a possibilidade
de uma lógica jurídica, em que os operadores deônticos reflitam traços
reais da atividade do jurisconsulto; as relações entre espaço e tempo nos
fundamentos da fisica, em particular em teorias físicas da espécie da teoria
geral da relatividade e da mecânica quântica.
Não obstante, as lógicas complementares da clássica não alteram as
leis nucleares da lógica clássica. Dito de outro modo, elas não questionam
a validez universal da lógica em apreço. Desenvolvem-se as lógicas comple
mentares da clássica permanecendo fiéis ao espírito desta última.
9
A sit uação muda inteiramente de figura no tocante às lógicas não
clássicas rivais da lógica tradicional. Elas foram pro postas, ou podem ser
t idas como tendo sido propostas, à guisa de rivais da clássica . São co nce
bidas como novas lógicas destinadas a sub stit uir a lógica clássica em alguns
domínios do saber, ou em todos. A imprescindibilidade de tal sub stituição
adviria de deficiências e de limitações iner e nte s à lógica tradicional, defi
ciências e limitações essas das mais variadas naturezas.
Existem d iversas lógicas ri vais da clássica, ou, como se habituou ta m
bém chamar, lógicas heterodoxas. Vejamos alguns exemplos de lógicas
dessa espécie .
Dentre as leis que vigem na lógica clássica, há três célebres e que se
denominam : lei de identidade, lei da contradição (alguns preferem no
meá-la de lei da não-contradição ) e lei do terceiro excluído . Essas leis
possuem muitas formulações, nem sempre equivalentes entre si . Para nossos
objet ivos, adotaremos as seguintes versões: a) lei da identidade: todo
objeto é idêntico a si mesmo; b) lei da cont radição : dentre duas proposi
ções contrad itórias, isto é, uma das quais é a negação da outra , uma delas
é falsa; c) lei do terceiro excluído: de duas pro posi ções contraditória s,
uma delas d eve ser ver dad e ira.
Algumas das lógicas heterodoxas mais conhecidas e discutidas dis
t in?,uem-se , precisamente , por derrogarem pelo menos uma das leis prece
dentes (que, em formulações as mais variadas, eram designadas pela ex
pressão "leis fundamentais do pensamento", talvez porque se acreditasse
que sem elas não poderia haver pensamento racional, pensamento logica
mente concatenado). Todavia, as lógicas heterodoxas provaram que o
pensamento lógico-racional po de se exercitar mesmo sem obedecer a essas
leis fundamentais da razão, libertando essa faculdade do jugo duas vezes
milenar de semelhantes leis, que pareciam absolutamente impossíveis de
serem revogadas.
Há sistemas lógicos nos quais o principio da identidade não é válido
em geral, em parte porque se julga que a re lação de identidade carece de
signi ficação para certos tipos de objetos. Como esse princípio tamb ém se
denomina lei reflexiva da identidade, as lógicas em apreço podem ser bati
zadas de lógicas não-reflexivas. Por exemplo, E. Schrõdinger insistiu em que
a noção de identidade não possui sentido pl eno para os elétrons e , em geral,
para as partículas elementares. Não se trata de não se poder saber quando
um elétron é idêntico ou diferente de outro: trata-se, isto sim , da circuns
tância de que não parece ter senti d o exato afirma r se que um elétron é
-
10
partículas elementares. Existem sistemas lógicos não-reflexivos extremamen
te fortes e que englobam a lógica tradicional a titulo de caso especial. �
obvio que os sistemas não-reflexivos divergem basicamente da lógica tradi
cional, possuindo sintaxe e semânticas incomparáveis com as da lógica
padrão.
Uma das dificuldades ligadas à semântica dos sistemas não-reflexivos
refere-se aos recursos para se edificar uma semântica dessa natureza. Com
efeito, na construção da� semânticas mais comuns, lança-se mão da teoria
clássica dos conjuntos, mas, no caso das lógicas não-reflexivas, isto não
funciona. Porquanto, na teoria em apreço permanece verdadeira a lei da
identidade.
As lógicas não-reflexivas não provam que Schroedinger tenha razão em
suas concepções sobre as interconexões entre identidade e partículas elemen
tares, embora tornem claro que sua posição não pode ser excluída apenas
por motivos de i'ndole lógica.
Há outras lógicas ºnão-reflexivas que provieram de discussões e de
problemas completamente diversos. Assim, determinados sistemas lógicos
formalizam o operador de descrição (introduzido como símbolo primitivo),
ou seja, o artigo definido , tal qual ele ocorre nas frases: "O atual rei do Bra
sil" e "O dobro de quatro é oito". Quando o artigo origina uma descrição
semelhante a "O atual rei do Brasil", que realmente não descreve coisa
alguma, é conveniente, por diversos motivos, inclusive razões de ordem
técnica, que para essas descrições não se aplique a lei de identidade.
Derroga-se o princípio da contradição na maioria das lógicas cha
madas de paraconsistentes. Para definirmos os sistemas paraconsistentes
necessitamos de alguns esclarecimentos preliminares.
Uma teoria dedutiva T diz-se inconsistente se entre os seus teoremas
há pelo menos dois, um dos quais é a negação do outro; em caso contrário,
T denomina-se consistente . A teoria T chama-se trivial (ou supercompleta)
se todas as proposições formuláveis em sua linguagem forem teoremas de
T; na hipótese contrária, T diz-se não trivial. Patentemente, as teorias
triviais não apresentam interesse direto do prisma lógico: nelas não podemos
separar as proposições que são teoremas das que não são.
Um dos traços marcantes da lógica tradicional é o de que qualquer
teoria dedutiva nela baseada, que for inconsistente, será também trivial. Essa
lógica não permite que se separem os conceitos de trivialidade e de incon
sistência. Para permitir essa separação, foram criadas as lógicas paraconsis
tentes, que são lógicas capazes de servir de fundamento para teorias incon
sistentes e não triviais. Em tais teorias, podem ser teoremas uma proposição
e, ao mesmo tempo, sua negação, sem que a teoria deixe de ser importante
do ponto de vista lógico. Ou seja, a teoria não colapsa na trivialidade, muito
embora contenha inconsistências.
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Mas se numa teoria fundada sobre uma lógica paraconsistente podem
existir contradições, isto é, segundo vimos, teoremas cujas negações são
também teoremas, isto não implica que todas as proposições infrinjam
a lei da contradição, sendo todas elas e suas negações, verdadeiras. As teorias
inconsistentes de relevância são aquelas que contêm não apenas proposições
"mal comportadas", tais que elas e suas negações incluem-se entre os teore
mas, mas encerram, além delas, proposições "bem comportadas", que são
verdadeiras, embora suas negações não o sejam.
A lógica paraconsistente evidencia que as teorias inconsistentes
não devem ser descartadas unicamente por se evidenciarem inconsistentes,
por infringirem o princípio de contradição. Este fato possui as mais variadas
conseqüências filosóficas, destruindo um paradigma que vem governando
a ra7.ão humana há dois milénios.
A lógica paraconsistente encontra aplicações em tentativas feitas
com o intuito de se formalizar parcialmente a dialética. Outras aplicações
surgiram na matemática e na filosofia da ciência: 1. Lakatos chamou a aten
ção dos filósofos da ciência para a existência de teorias físicas que foram
aceitas, mesmo se manifestando inconsistentes; exemplo de teoria desse
tipo é a teoria do átomo de Bohr. Outra possível aplicação da lógica para
consistente vincula-se com a dualidade onda-corpúsculo e o princípio da
complementaridade de Bohr.
Os sistemas lógicos paraconsistentes mais fortes englobam a lógica
tradicional como caso especial, regendo as proposições bem comportadas,
e constituem o fundamento de teorias de conjuntos e de matemáticas
paraconsistentes tão inclusivas quanto as teorias de conjuntos clássicas e
a matemática comum.
Surpreendentemente, as lógicas paraconsistentes. pelo menos as
mais destacadas, possuem semânticas razoáveis, que estendem as concepções
semânticas padrão.
A lógica paraconsistente teve dois precursores dignos de menção: o
lógico polonês J. Lukasiewicz e o filósofo russo N. A. Vasilev, os quais,
simultânea mas independentemente, em 1 9 1 0 , procuraram estabelecê-la.
Porém, devido a variadas circunstâncias, ela só se constituiu a partir dos
trabalhos do lógico polonês S. Jaskowski e dos de N.C. A. da Costa, que,
a partir de 1 948 e de 1 95 3 , começaram a investigar sistematicamente os
sistemas paraconsistentes mediante os instrumentos e técnicas da lógica
contemporânea. As perquirições de Jaskowski e as de da Costa se iniciaram
de maneira independente, embora houvesse convergência posterior. Hoje,
a lógica paraconsistente inclui-se entre os temas de estudo mais ou menos
correntes no domínio da lógica, algo indiscutivelmente inconcebível há
25 anos.
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Denomina-se paracompleta uma lógica que derrogue a lei do terceiro
excluído. Em tais lógicas, ou melhor, em teorias nelas fundamentadas,
pode haver proposições tais que nem elas nem suas negaçÕes sej am verda
deiras.
Exempl o de lógica paracompleta é a lógica intuicionista de L. E. J.
Brouwer e A. Heyting, formalizada na década de 30 . A semântica de tal
lógica diverg e completamente da semântica clássica, o que tem como coro
lário a invalidade da lei do terceiro excluído. Não podemos entrar cm de
talhes sobre essa lógica aqui, a qual surgiu de uma concepção filosófica
da matemática bem afastada da postura tradicional. Limitar-nos-emos,
a pena s a sublinhar que a lógica intuicionista é susceptível de ser encarada
como a lógica do raciocínio matemático construtivo, em que a existência
de um número, por exemplo, só é demonstrável mediante a construção
desse número, de sua exibição.
Para Brouw er , Heyting e seus seguidores, a matemática é uma ati
vidade construtiva de nosso pensamento e a l ógi ca tem por finalidade
catalogar as regularidades dessa atividade construtiva. A lógica apropriada
para a matemática construtiva deve ser a lógica intuicionista e não a clás
sica. esse nci almente irreconciliável com os raciocínios construtivos do
matemático. A lógica intuicionista, pois, foi proposta como rival da clás
sica, com o objetivo de substituí-la no campo do pensamento matemático
construtivo. Aliás, diga-se de passagem, para os intuicionistas ortodoxos
somente existe a matemática construtiva; a matemática tradicional, intrin
s eca ment e não-construtiva, deveria ser abandonada como pseudo-ciência.
Sem procurarmos discutir com mais profundidade o intuicionismo
e sua lógica, lembraremos, tão somente, que esta última tem sido utili7.ada
em vários domínios do saber, como, recentemente, na teoria da decisão.
Outro tipo de lógica paracompleta digno de referência é a lógica
polivalente, criada de modo independente, porém simultâneo, por Luka
siewicz e E. L. Post por volta de 1 920. Nesta categoria de lógica as propo
sições podem assumir valores de verdade entre o verdadeiro e o falso.
Lukasiewicz chegou à formulação da l ógi ca polivalente motivado por
um problema filosófico, o problema dos futuros contingentes de Aristóteles.
Em síntese a questão é a seguinte: certas proposições contingentes, refe
rentes ao futuro, como "Em dez anos haverá uma guerra mundial", não
parecem poder ser, hoje, verdadeiras ou falsas, sem que isto acarrete uma
forma de determinismo estrito. Se todas as proposiçÕes relativas a contin
gências futuras forem, agora, verdadeiras ou falsas, o futuro pareceria estar
determinado pelo estado presente do mundo. e. por conseguinte. o futuro
seria determinado pelo passado, não hav endo livre-arbítrio, etc . Logo,
uma espécie de lógica compatível com alguma categoria sensata de inde-
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terminismo tem que conferir, em qualquer momento, às proposições con
cernentes a acontecimentos futuros, de caráter contingente, um terceiro
valor lógico, diverso da verdade e da falsidade: elas seriam indeterminadas.
Assim, o grande lógico polonês foi conduzido a elaborar uma lógica triva
lente (com três valores de verdade) e, após, as lógicas polivalentes em geral,
algumas com infinitos valores de verdade.
As lógicas polivalentes têm sido empregadas nos mais variados con
textos; por exemplo, na programação de computadores, na teoria dos
circuitos elétricos (particularmente por G. Moisil), na lingüística e na teoria
da probabilidade. H. Reichenbach tentou utilizá-la na fundamentação da
mecânica quântica.
Acabamos de debater apenas algumas das lógicas ditas rivais da clás
sica. Existem numerosas outras, tais como a lógica modular (originada
pela mecânica quântica e estudada especialmente por J. Kotas), a lógica
livre, a lógica relevante e a lógica intuicionista sem negação de Griss.
A conceituação de lógica clássica, por nós apresentada, não se mos
tra precisa. Com efeito, a lógica hodierna evoluiu tanto e está sendo palco
de avanços tão revolucionários que se torna impossível caracterizá-la de
maneira precisa. Em decorrência, os conceitos de lógica complementar da
clássica e de lógica heterodoxa também se evidenciam algo vagos. Assim,
exemplificando, afigura-se difícil enquadrar certos sistemas lógicos na
classificação delineada, como acontece com os sistemas lógicos de S. Les
niewski e com a lógica combinatória (M. Schõnfinkel, H.B. Curry ...).
Todavia, isto não tem importância; não se pode, efetivamente, definir de
maneira exata e precisa qualquer ciência viva e progressista. E tal fenômeno
se passa com a lógica em nossos dias, em cujos domihios se processa atual
mente uma transformação fecunda, análoga à que ocorre nas ciências
aparentemente mais progressistas, como a física e a genética.
O estudo da lógica em nossa época nos induz a formular indagações
profundas, envolvendo perguntas filosóficas de extraordinária significação.
como as seguintes: Racionalidade e logicidade de algum modo coincidem?
Se há várias lógicas, existem, em decorrência, vários tipos de razão? As
lógicas heterodoxas são. de fato. rivais da clássica? No fundo não seriam,
talvez, apenas sistemas complementares do clássico? Quais as relações exis
tentes entre a lógica, a linguagem e as ciências empíricas? A lógica, em seu
estado de desenvolvimento atual compromete-nos com posições filosóficas,
em particular, com estruturas ontológicas definidas?
Essas e outras questões preocupam presentemente lógicos e filósofos.
Elas se converteram em problemas agudos depois da descoberta e da proli
feração das lógicas não-clássicas, aparecidas há tão pouco tempo e prenun
ciando uma revolução na história da cultura, como jamais houve antes.
14
2. Aspectos da Lógica Clássica
15
A situação somente começou a mudar com G. Boole (1815-1864),
A. De Morgan (180 6-1871) e, sobretudo, com G. Frege (1848-1925). Houve
precursores dessa mudança, como G. Leibniz (1646-1716) e J.H. Lambert
(1728-1777). Porém, em certa acepção, somente depois de Bertrand Russell
(1872-1970), no alvorecer deste século, é que se inaugurou efetivamente
o progresso revolucionário que transfigurou a lógica em nossa época. Não
exageraríamos se asseverássemos, como A.N. Whitehead, que a lógica atual
está para a lógica aristotélica como a matemática moderna está para a arit
mética das tribos primitivas.
E o grande paradoxo é que, muito embora a nova lógica seja de enor
me valor para a filosofia, alguns tratadistas dessa disciplina e seus seguidores
ainda hoje teimam em expor a lógica aristotélica como se constituindo
em toda a lógica. Seria razoável que semelhantes tratadistas também apre
sentassem a física de Aristóteles como sendo a derradeira palavra em fisica,
pois, assim, suas posições no campo da lógica e no domi'nio da fiSica se
equivaleriam ...
Nesta secção não tencionamos fazer história da lógica, nem polemizar
com pessoas que mantêm idéias fossilizadas. Desejamos, unicamente, dis
correr sobre alguns dos tópicos dos quais se ocupam os lógicos no momento.
B oportuno insistir em duas coisas: a) a lógica deixou de ser apenas a
ciência das inferências válidas, passando a englobar outros assuntos.· Na
realidade, ela se converteu em uma disciplina matemática; b) a lógica (clássi
ca) atualmente pode ser tida como o estudo do cálculo de predicados
clássico de primeira ordem e de suas principais extensões, como já se afir
mou na seção precedente. Por outro lado, existem ramos da lógica clássica
que se acham apenas remotamente ligados a essa ciência assim definida.
Aliás, o mesmo ocorreria com qualquer outra conceituação, pois a lógica é
uma doutrina viva e progressista, resistindo, portanto, a qualquer tentativa
de condensá-la numa receita simples.
Em nossa opinião, inspirada nas idéias do lógico norte-americano
L. Henkin, as principais áreas de pesquisa, no estado presente de evolução
da lógica (clássica), são as seguintes: a) sintaxe lógica; b) teoria dos modelos;
c) teoria da recursão; d) lógica algébrica; e) aplicações da lógica à matemáti
ca, especialmente à álgebra; f) fundamentos da matemática.
Para o leitor inteirar-se, mesmo de maneira um tanto vaga, do que se
faz hoje nos domínios da lógica, discorreremos sobre esses seis tópicos. Não
se torna preciso sublinhar que a exposição não será nem rigorosa nem com
pleta.
16
Sintaxe Lógica
volta de 1935, mas somente utilizada de modo sistemático na teoria dos mo
delos, vinte anos após). Antes de Traski, só se podia falar de verdade de mo
do informal e não matemático. Agora, há uma formulação matemática
do conceito em apreço, que permite que se derivem teoremas como o
seguinte, devido a Traski: nas teorias matemáticas (usua is) fortes e consisten
tes, os conceitos de proposição verdadeira e de proposição demonstrável
(ou teorema) jamais coin c i dem, o primeiro sendo mais abrangentes do que o
segundo.
17
/\. teoria cios modelos possui as mais variadas aplicações, como , por
exemplo, na metodologia da ciência , na teoria do conhecimento e nas ciên
cias empíricas.
Teoria da Recursão
Lógica Algébrica
18
Aplicações da Lógica à Matemátim
Fundamentos da Matemática
20
CAPITULO 1
A LINGUAGEM DA LÕGICA ELEMENTAR CLÁSSICA
Vamos construir a linguagem L da lógica elementar clássica, acres
cida do chamado o perador de Hilbert. Isso será feito com auxílio de outra
linguagem , a metalinguagem de L, que consiste essencialmente do portu
guês usual, enriquecido com os nomes dos súnbolos de L e de certos termos
matemáticos. L possui duas partes:
a) A gramática, que nos for nece os si mbolos primitivos (alfab eto ) e
nos ensina a construir expressões bem formadas (termos e fórmulas) de L;
b ) A estrutura dedutiva, ou "lógica" de L, que nos fornece as regras
de inferência, que nos permit irão passar de umas fórmulas a outras, isto é ,
raciocinar, fazer d eduções.
1.1. Gramática d� L
Os símbolos básicos (primitivos) de L, ou seja , seu alfabeto, divi
dem-se nas seguintes categorias sintáticas:
1) Conectivos (ou o peradores proposicio nais):
1.1) -+ simbolo de implicação (lê-se implica)
1.2) A símbolo de co njunção (lê-se e)
1.3) V simbolo de d isjunção (lê-se ou)
1.4) 1 simbolo de negação (lê-se niiJ)
21
antecedente) seja falso, não importando se B (o conseqüente) é verdadeiro
ou não. Assim, as sentenças contrafáticas
i) Se Napoleão tivesse vencido em Waterloo, o mundo seria diferente.
ii) Se Napoleão tivesse vencido em Waterloo, o mundo não seria
d ifer ente .
seriam ambas verdadeiras (pois o antecedente é falso) do ponto de vista
da implicação de L, o que se mostra incongruente do prisma da linguagem
ordinária e também da história.
Não suponhamos, contudo, que tal inadequação de tradução da.lin
guagem ordinária para L só afete as ciências humanas. Problemas análogos
surgem nas ciências naturais. Por exemplo, o principio da inércia, da física
tradicional: "Se nenhuma força atua sobre um corpo, este permanece em
estado de repouso ou movimento retilinio uniforme" - dá origem a situação
parecida à dos enunciados contrafáticos, pois seu antecedente é sempre
falso (sabemos que no universo não há nenhum corpo sobre o qual não atue
nenhuma força). Assim. a aplicação da lógica elementar clássica à fisica
deve ser precedida de cuidadosa análise dos contextos e leis físicas.
f importante destacar, porém, que a implicação material, -+ de ,
2) Quantificadores
li quantificador universal ( l ê-se para todo)
3 quantificador existencial (lê-se existe pelo menos um ou existe
um)
3) Srmbolos auxiliares
(,) parênteses. Servem para indicar como se agrupam os símbolos
nas ex pressõ es de L (portanto, como os sinais de pontua ção da linguagem
comum, auxiliam a leitura, mas não se lêem). Podemos empregar também
chaves e colchetes { } e [ ], mas isto por abuso de linguagem, já que estes
sinais não são símbolos primitivos de L e po dem ser dispensados em favor
de parênteses.
4) Variáveis individuais
São as seguintes Zo, z1 , z2 , z3 , . • •
22
O fato de que as variáveis de L sejam simbolos formados pela mesma
letra z do alfabeto latino, tendo como subindices os números naturais,
garante que haja, para cada número natural, uma e só uma variável, e que o
número de variáveis seja infinito. Isto é fundamental para o poder expressivo
da lógica elementar, como foi evidenciado, entre outros, por L. Henkin.
5) Constantes (individuais)
Assumimos que L contém um conjunto qualquer de constantes,
em particular vazio (não existem constantes).
Em nossa construção de L estamos, na realidade, caracterizando
não uma linguagem perfeitamente determinada, mas uma fam11ia de lingua
gens. Convém-nos, de fato, deixar propositadamente indeterminada a cate
goria das constantes. (A mesma coisa irá ocorrer com a próxima categoria
sintática, a dos simbolos de predicado). Conforme a teoria que pretendemos
expressar cm L, escolhemos o nosso conjunto de constantes.
Exe.mplos:
1) Em certas formulações da aritmética. O. 1, 2, .. . serão as constan
tes individuais;
2) Na teoria dos grupos pode-se utilizar somente uma constante,
que denota o elemento neutro da operação de grupo;
3) Na teoria das relações de ordem com maior elemento, recorre-se,
em geral, a uma constante que denota esse elemento.
6) Símbolos de predicado
Qualquer conjunto de simbolos de predicado que inclua o simbolo
de igualdade ( ). Predicados, intuitivamente, expressam as propriedades
=
23
tanto , tais pred icados proposicio na is não serão incluídos cm no ssa linguage m
(o leitor fa cilmente poderá , co mo exercício , alterar nossa exposição pa ra
inclui'- los em L).
Informalmente , todo símbolo de predicado de grau n deno ta um pre
d icado do mesmo gra u , que pode co nectar objetos do domi'nio ao qual se
refere l (n > 1 ) .
7) Sini>olo de Hilbert
O si'mbolo de Hilbert é E , ou seja , a letra grega minúscula é psilo n .
I nformalmente o significado d e E pode ser esclarecido po r meio d e
u m exemplo . Se Q fo r u m símbolo d e predicado .de grau 1 e x uma variável,
então f: XQx d enota um objeto x tal que x possui a pro priedade Q, ou u m
obj eto fi xo qualq uer, s e não houver nenhum obj eto q u e tenha a propriedade
Q. O símbolo de Hilbert ta mbém se denomina descritor bulefinido , pois
per mite que nos refiramos a um objeto do domihio de ind ivíd uo s que têm
uma pro priedade . mesmo que não saibamos precisament e qual é esse objeto .
De um modo geral , E aplica-se a fórmulas para formar ter mos (d efin iremos
logo a seguir formula e termo). e os termos se referem a objeto s. d enota n
do-os .
Defmição l J J (Expresslb)
Qualquer seqüê nc ia finita d e símbolos de L chama-se uma expressão
de l.
Assim , são expressões de L as seguintes seq uências:
-+ -+ -+ 1 'f/x Px,
onde x e P d enot a m , respectivamente , uma variáve l e u m símbolo de pred i
cado monádico de L
No entan to as seqüências
,
-+ t , 'f/ X
*
X e X <= -+ X,
25
2) E x O x é um termo, (3 ) já que :
a ) x é um termo ( l )
b) Q x é uma fórmula (5 )
3 ) e q ue, portanto, Pa E x O x é uma fórmula, pois P é um predicado
de ordem 2 seguido de 2 termos (5 )
Exercícios : d e m o ns t r a r q ue :
1 ) 1 Bx, onde x é uma variável e B uma fórmula, não é nem termo
nem fórmula.
2 ) Nenhum termo é fórmula, e reciprocamente .
3 ) Existem expressões que não são bem formadas.
4 ) Se t 1 e t2 forem termos, então t 1= t2 não é fórmula.
= t 1 t 2 é fórm ula ? (Embora a notação canôn ica seja a última, por
co n ve n ção pode mos adotar a primeira . co mo é h a b i t u a l) .
Semintica in fo r ma l de L :
Alguns exemplos tornarão mais ou menos transparente a semântica
informal de L. Pa ra fixar idéias, admitiremos que estamos falando dos pon
tos de uma linha reta da geometria euclidiana. P simbolizará a relação
precede ou coincide , e Q a relação está entre . Port an to , P é um símb o
lo de predicado de grau 2 e Q um símbolo de predicado de grau 3 . Se c, f e g
forem constantes, em nosso exemplo denotam pontos fixos.
Pcj' significa c precede ou é igual a f e Qcfg significa c está entre
f e g.
Vejamos o que exprimem certas fórmulas:
l ) 't/x 3y Pxy : todo ponto x é tal que existe um ponto y tal que x
precede ou é igual a y .
2) "lx "l y "l z (Qxyz -+ (Pxy A Pyz) ) : três pontos x, y e z quaisquer
são tais que, se x está entre y e z, então x precede ou é igual a y e y precede
ou é i g ua l a z .
26
3) 'f/x 'f/y ( (Pxy J\ Py x ) -+ x = y ): os pontos x e y quaisquer são
tais que se x precede ou é igual a y e y precede ou é igu a l a x , então x é
igual a y .
4) 'f/x 'f/y 'f/z ( Qxyz -+ ( 3 t Qtxy J\3u Quyz)) : quaisquer que sejam
os pontos x, y e z, se x está entre y e z, então existe um ponto que está
entre x e y e existe um ponto que está entre y e z.
5 ) 'f/x 'f/y (x * y -+ PE tQtxy y ) : quaisquer pontos x e y são tais
que se x for diferente (x t= y abrevia 1 x = y) de y , enta-o um ponto que
est eja entre x e y, precede ou é igual a y.
6) 3 x (x = E xPxy J\ Pxy) : existe um ponto x que é ig ual a u m
ponto que precede y e o ponto x precede y .
4) 'f/X 3y (Pxy J\ X * y )
A seguir , a s fórmulas se re fe r e m a números nat urais, e < simbo li7.a o
predicado b i nário é maior que :
5) 'f/x(x < x -+ x = x)
6) 'f/X 3y (X = y J\ y y)
=
7) 3 x 'f/y (x t= y -+ x < y)
8) 3 x (A(x) J\ 'f;/y (A(y) -+ x = y)), onde A(x) é u ma fórmula da
aritmét ica.
1 .2 . A Estrutura Dedutiva de L
27
Isto nos assegura que das fórmulas F 1 , F2 , , F0 (as premissas),
. •
:
podemos tirar a fórmula F (conclusão).
Para aplicar as regras, Qbtendo-se cadeias de raciocínios que consti
tuem as deduções ou demonstrações em L, sempre teremos que partir de
fórmulas iniciais, que são as suposições ou hipóteses de partida . Por meio
delas, pelas regras, chegamos a outras fórmulas, que também podem fun
cionar como prenússas de regras convenientes, até que , finalmente , termi
namos com a conclusão da dedução ou demonstração . No decurso de uma
dedução , várias das hipóteses iniciais podem ser riscadas ou cortadas, quan
do isto for permit ido explicitamente pelas regras de inferência . Daqui
para frente , reservaremos a palavra demonst ração para designar uma dedu
ção cujas suposições foram todas riscadas.
Adotaremos a convenção de designar fórmulas pelas letras latinas
maiúsculas e os conj untos de fórmulas pelas letras gregas maiúsculas.
Seja r um conj unto de fórmulas e F uma fórmula . Se existir uma de
dução de F a partir de suposições contidas em r escreveremo s : r 1- F,
,
que se lê, F é uma con seqüência s intática de r . Quando r for vazio , isto é,
há uma demonstração de F , escreveremos, simplesmente t- F, e diremos
que F é um teo rema lógico.
O processo que nos leva das suposições, cortadas ou não , à co nclusão ,
procei.so em que cada passo só pode ser dado qua ndo se está autorizado
por uma das regras, é susceptivel de ser representado por uma árvore, ou
seja , um esquema do tipo. seguinte :
F .
28
2) t F } r F, onde { F } é o conjunto cujo único elemento é a fór
mula F.
3) Se f r F e t:. U { F } l- G, então f U l::. 1- G .
Regras de L
De toda regra, diz-se que ela introduz ou elimina um símbolo , em sen
tido que ficará claro pela inspeção das regras. Por outro lado , pode-se consi
derar que as regras correspondentes a um conetivo definem o peracional
mente esse conetivo .
e [A)
B -+ int supondo A, chegamo s a B através
Se ,
A -+ B de uma árvore, podemos escrever
A ..... B, e eliminar ou cortar algumas
ou todas as ocorrências da suposição
A
A A -+ B -+ elim Também chamada "modus ponens"
B ou regra de separação .
@ _A __ B_ A int
A A B
A A B A A B A elim
A B
A _B_
A V B AVB
( A) ( B]
AVB e e V elim Se de A tiramos C, e de B tiramos C,
e então de A " V B podemos tirar C , eli
minando as suposições A e B
1) 1- A -+ ( B -+ (A A B))
"' �
\ I A int
/\ A B
1 -+ int (riscamos B)
B -+ (A A B)
1 -+ int (riscamos A )
A -+ (B -+ (A A B))
2 ) 1 - A -+ (B -+ A)
"' J,i
\/ A int
AAB
1 A elim
A
1 -+ int (riscamos B)
B -+ A
1 -+ int (riscamos A)
A -+ (B -+ A)
30
3) 1- (A -+ B) -+ {{A -+ (B -+ C)) -+ (A -+ C))
e
1 -+ int (riscamos todas as ocorrên
A -+ C cias de A das quais C depende).
-+ int (riscamos A -+ (B -+ C ))
(A (B C )) -+ ( A C)
1
-+ -+ -+
-+ int (riscamos A -+ B)
(A -+ B) -+ ((A -+ (B -+ C)) -+ (A -+ C ))
4) 1- (A A B) -+ A 4 ') 1- (A A B ) -+ B
A ifi. B A � B
1
A
A elim
B
1 A elim
(A A B)
1 -+
-+ int
A
1 -+ int
(A A B ) -+ B
31
5) r A 4 (A V B) 5 ') r B 4 (A V B)
1
"
V int
A V B
1 V int
A V B
1 4 int
B
'
4
4
(A V B)
int
A 4 (A V B)
� A �C J' B �C
\! olbn \/ 4 elim
AfB e e
""' /e
V elim (riscamos A e B, e
acrescentamos A V B
às suposições )
(A V B)
1 4 int (riscamos A V B)
4 C
\ 4 int (riscamos B 4 C)
(A V B 4 C)
1
(B 4 C) 4
4 int (riscamos A 4 C)
(A 4 C) 4 (( B 4 C) 4 (A V B 4 C ))
32
7) t- (A -+ B) -+ ((B -+ C) -+ (A -+ C))
B f> C
-+ elirn
B e
-+ int ( corta -se A)
A -+ C
(B -+ C) -+ (A -+ C)
-+ in t (corta -se A -+ B)
(A -+ B) -+ ( ( B -+ C) -+ (A -+ C ) )
É na t ura l que estes exemplos que ilustram o mecanismo das ded uções ,
pareçam , à vista , algo arbitrário s e art ificiais. Por ém , devemos nos
primeira
co nvencer de q ue , a o contrário , os mesmo s são nat urais e reflet e m bem as
pro priedad e s i n formais dos co net ivos. Por exemplo , as regras re ferentes a
A mostram como este co net ivo pod e ser intro d u zido e co mo pod e ser eli
minado em um co ntexto ; cm o utras palavras, co mo já obs erv amo s elas ,
t r o s co n et ivo s . O s exem plos não const it uem mais que aplicaçõ es das pro
priedades o peracionais de tais operad o re s : decorrem d e seus sentidos, fixa
dos pela s regras.
A única maneira de se d o m ina r a t écnicada d ed u ção lógica é por
meio do exercício inten so . Não há normas para se const r uir ded uçõe s .
Aq ui s e trata d e d esenvo lver uma habilidade semelhant e , para exempli
ficar, à d e se dirigir a utomóvel : co nd ição imprescind ível para se co n seg u ir
bom rendimento ad q uire-se na prática , por tentat ivas e erro s .
33
Veja mo s mais e xe m plos de d e d u ções :
8 ) 1- A -+ A
" "
\1 A int
AAA
A elim
A
-+ int (cortam-se as d uas ocorrê n c ia s de
A nas s uposi ções)
A -+ A
9) 1- ( A -+ B) -+ (( A -+ 1 B) -+ 1 A)
IA
-+ int {risca-se A -+ 1 8)
(A -+ 1 B) -+ l ..X
-+ int (risca-se A -+ B)
(A -+ B) -+ ((A -+ 1 B) -+ 1 A)
34
1 0) t- (A /\. 1 A) -+ B
A /\. J A A /\. J A
A IA
�/ B
regra N
11) t- IA -+ {A -+ B ) 1 1 ')I- A -+ ( 1 A -+ B )
B B
1 -+ int -+ int
A -+ B I A -+ B
-+ int 1 -+ int
1A -+.( A -+ B) A -+ ( 1 A -+ B)
35
1 2) 1- A V ·1 A (lei do t erceiro excluido)
" 1 '1
AV IA
1 V int
A VIA
1 V int
1
-+ int
A -+ ( A V I A)
-+ int
I A -+ (A V I A)
""' / A VIA
1 elim forte
1 3) t- l l A -+ A
.
lei lógica , ela pode ser empr ega d a na s ded uções como suposição que se con
sidera riscada O leitor pode verificar , como exercicio , que isto é ar t i ficio
legitimo.
1 '"
\/
"
A ffit
l I A /\ A N
1 /\ clim
A A
1 -+ int -+ int
li A�A
V e l i m (corta m-se Ae 1 A; l- A V 1 A
con sid era -se cortada por ser teorema )
36
14) t- A -+ l l A
1 11 +- A
\/ \/
"- 11A "-
regra N A int
A A llA
llA
-+ int
(corta-se A )
V elim (cortam-se 1 A e
l l A ; t- I A V l l A
considera-se cortada
por ser teorema)
f- A -+ l l A f- l l A -+ A
�/ ;nt
(A -+ l l A ) A ( l l A -+ A)
1 Dcfm;çao d< �
A tt l l A
( t- A -+ 1 1 A e t- 1 1 A 4 A consideram -se cortadas por serem t eoremas)
t- (A A 1 A) -+ A t- (A A 1 A) -+ 1 A
�� ;nt
1 (A A 1 A)
37
Exercício : Demonstrar que se tem :
1) 1- 1 (A A B) -+ ("l A V 1 B)
2) 1- ( 1 A V 1 B) -+ 1 (A A B)
3) 1- l (A V B) -+ ( I A A I B)
4) 1- ( 1 A A 1 B) -+ l (A V B)
5) 1- l (A A B) +> ( I A V I B)
6) 1- l (A V B) +> ( I A J\ I B)
7) 1- ((A V B) A 1 A) -+ B
8) 1- (A -+ B) -+ ( 1 B -+ 1 A)
9) 1- ( 1 B -+ 1 A) -+ (A -+ B)
10) 1- (A -+ B) +> ( 1 B -+ 1 A)
11) 1- (A +> B) .... ( 1 A +> 1 B)
1 2) 1- l (A -+ B) .... (A A I B)
1 3) 1- (A -+ B) +> l (A A I B)
14) 1- (A -+ B) ++ ( I A V B)
1 5) 1- A V (A - B)
1 6) t- ((A -+ B) -+ A) - A
17) 1- (A ++ B) -+ ((A A C) +> (B A C ))
18) 1- (A +> B ) -+ ((A V C) +> (B V C))
19) 1- (A ++ B ) -+ ((A -+ C) . +> (B -+ C))
20) 1- ( A +> B ) -+ (( C -+ A) ++ (C -+ B))
21 ) 1- ((A A B) A C ) ++ (A A (B A C))
22) 1- ((A V B) V C) +> (A V (B V C))
23 ) t- (A A (B V C)) ++ ((A A B) V (A A C ))
24 ) 1- (A V (B A C )) +> ((A V B) A (A V C ))
25 ) 1- (A -+ 1 A) -+ 1 A
26) 1- ( 1 A -+ A) -+ A
27) 1- (A -+ B) -+ ((( A -+ B) � A) -+ A)
1 5 ) l- A V (A -+ B)
1- A_Y IA J 1
A V (A -+ B)
A V (A -+ B)
38
2 7) 1-- (A -+ B) -+ ((( A -+ B) -+ A) -+ A))
A f+ B (A t B) t A
'-..... ----
A
1
((A -+ B) -+ A ) -+ A
1
(A -+ B) -+ (((A -+ B) -+ A) -+ A)
( A -+ B) t A AtB J1,. j- A -+ A
-......_ A / '- /
A
�A � 1- A V (A -+ B)
1
((A -+ B) -+ A) -+ A
As regras que foram form uladas a nt erio rme nte são a s regras primitivas.
A part ir delas, po de mos provar q ue outras regras podem ser u t iliza d as , pois
suas a plicações podem ser sub st it u íd as po r utilizações con ve ni e ntes das
regras pri mit iva s . As novas regras . assim obtidas, chamam-se regras deri
vadas.
Assim, a regra
A -+ D B -+ C ( silogismo hipotético )
A -+ C
é uma regra derivada, porquanto qualquer a p licação desta regra pode ser
s ubsti t u ída por
B -+ C A -+ B ( A -+ B) -+ ((B f+ C ) -+ (A -+ C))
'\ / (B -+ C) ( A -+ C)
4 0 li�
/
-+
4 o l im
A -+ C
39
Exerádo :Mostrar que as regras abaixo são regras derivadas:
1) _L
A
3) A -+ B 1B (mod us tollens)
IA
4) A +> B A
B
5) A <-> B B
A
6) l IA
A
7) 8
l IA
40
'
No te rmo E xPxy, as d uas ocorrências de x estão ligadas, mas a de y
não está .
F(x ): E U Pux
t: y
F( y): E UPuy
41
F(x): 't/y ( Pxy V I Q xy)
t: y
f(t): 'tl y (Pyy V I Qyy)
42
( símbolo E ) de F , então o i-ésimo símbolo de G ta mbém é u ma vari:íve l .
a mesma ou n ã o da ocorréncia co rre s pon d e nte de F, l igada pelo j-ésimo
quant ificador (símbolo E ) de G . Natura lmente. O < i .:;;; k e O < j .:;;; k.
Nestas condiçõ e s, seguindo S.C. K le e n e . d i re mo s q ue F e e; são fó r m u las
congruentes.
Em l i nguagem informa l . d uas fó r m ulas são w ngrne ntes q u a n d o po
dem d iferir apenas pela s sua s v a r i á v e i s l i ga d a s , e o co r rê n ci a s corre s p o n d e n
tes de variáveis l i g ad as são l igadas por q ua n t ificadores, o u pe lo sí m b o lo
�: , correspo ndentes.
Fó rm ulas co ngruentes possuem o m es m o se nt id o . co mo s e co n s t a t a
i n fo r m a l m en te . Assim ,
Vx ( Px V 1 Px).
F inal mente . pode mos form ular as regras que co m pleta m a est ru t u ra
ded u t iva de L. q ue são as se g u i nt es:
43
Generalização A(E X 1 A(x)) \tint Onde não há confusão de va·
universa l \t x A( x) riáveis
\felim: Ela nos d iz que se uma fórmula é sat isfe ita por todos os obje
tos do domínio de q ue fala a linguagem, então a fórmula é sat isfeita, cm es
pecial pelo objeto denotado por t. Se t co ntiver variáveis livres, nã o deve
haver confusão , pois, em caso co ntrário , a just i ficação intuit iv::. da regra
perde seu significado . Com efeito, seja a fórmula \tx 3yPxy, onde Pxy se
refere a números nat u rais e significa 'x é menor do que y'. Então, \tx 3 yPxy
afirma: "Para todo número existe outro que é maior do que ele", sendo
verdadeira. Mas no caso de t ser y, \tx 3yPxy dá orige m , por \telim, à fór
mula 3 yPyy , que é falsa segundo a interpretação em tela , pois esta última
sentença d iz que "Existe um número que é menor do que ele mesmo".
/.( x)
1 Var
A( E X I A(x))
1 \t i n i
\fxA( x )
-+ int
45
/\ rest rtçao fo i desrespe itada no pri meiro passo , obtendo-se a fór
m u la /\( x ) -+ '1 x /\( x), q ue ser ia , então , u ma le i lógica . M as ela no s a firma
q ue se u m objeto q ualquer sat isfü.er /\( x), então todo objeto sat isfaz A( x),
o q ue é evide ntemen t e falso.
Poré m , se x não ocorre r l ivre cm nen huma su posição da ded ução ,
/\( x) é sat i sfe ita por um objeto totalmente arb i t rá rio e , co nseq üentemente,
por t ( caso não haja co n fusão de variáveis).
:oc l : �: a lei <la id e11t idad c . '1x( x x ) pude ser ded u zida de qualquer
=
Faça mos algumas ded uções lança n do mão de todas as regra s até agora
form u lada s . e q ue caracteriza m a lógica elementar co m o símbolo E .
'1x,?. (x)
1 '1elim
A( t)
f -+ int
'1xA( x) -+ A( t )
A(j. )
1 3 int
3 xA( x)
1 -+ int
A( t) -+ 3 xA(x)
46
3) t- 3 x A(x) _,. A( E: xA(x))
3 xA(x)
1 3eli m
A( E:xA(x))
1 -)o int
3 xA(x) _,. A( E: x A(x))
4) t- 3 x A( x) .... A( E: X A( x))
\#xA(x)
1 \#elim
A( E: X I A(x))
1 -+ int
\fxA(x) -+ A( E: x 1 Atx))
6) 1- A( E X 1 A(x)) -+ \fxA(x)
A( E: X I A(x))
1 \fint
\fxA(x)
1 -+ int
A( E: x I A(x)) -+ \# xA(x)
47
8. 1 ) l- 3 x A(x) -+ A(x )
3 x A(x)
1 3elim Desde que x não figura li
A(x) vre cm A( x), A( E x A(x))
1 -+ int é A( x )) .
3 x A(x) -+ A(x)
A( x)
1
A( E x A(x)) é A( x)).
3 in t
3 xA(x)
1 -+ int
A(x) -+ 3 xA(x)
8 decorre de 8. 1 e 8 . 2 .
1) 1 - 3 x 3yA(x, y) +• 3 y 3xA(x , y)
2) 1 - 'f/x 'f/yA(x, y) +> 'f/y 'flx A( x, y)
3) 1- 3 x 'f/yA( x, y) --+ 'f/y 3 xA( � . y)
4) 1- 'f/x(A -> B) -+ ( 'f/ xA -+ 'f/ xB ) (Não é preciso explicitar, sempre,
que x, ou outra va riável qualq uer, pode figurar livre cm uma fórmula . )
S) 1- 'f/x A .... 1 3 x 1 A
6) 1- 3 x A .... l 'f/x I A
7) 1- 'f/x 1 A .... l 3 x A
8) 1- 3 x I A <-+ l 'f/ x A
9 ) 1- 'f/ x(A /\ B) .... ('f/xA /\ 'fl xB)
10) l- 3 x(A V B) +> 3 xA V 3 xB)
48
Facilmente se co mprova que as seguintes regras são regras derivadas:
l) t1 = 1 2 -+ (A( t i ) -+ A(t2 ) )
2) t , = t 2 -> t2 = t 1
3) ! 1 = t1
4) (t , = 12 /\ t2 = 1 3 ) ...... t , = t 3
Se rU {A } 1- B , e n t ão r 1- A -+ B ...... int
{ A , A -+ B } 1- B -+ elim
{A , B } 1 - A /\ B /\ int
{A /\ B } !--- A /\ elim
{A /\ B } 1- B
{A } 1- A V B V int
{B } 1- A V B
Se r U {A } 1- C e r U {B } 1- C,
então r U {A V B } 1- - C V elim
49
Se r U {A } 1- B e f' U {/\ } 1- · 1 B ,
então I ' 1-- 1 A
{A , 1 A } 1 - B l c lim fraca
(A( t ) } 1- 3 x A( x ) 3 int
{A } 1- A * Con
1- \l' x( ll = x)
{x = y , A(x ) } 1- A(y)
Exemplos :
1 ) r ( A -+ B ) -+ ( ( A V C ) -+ (D V C) )
1 ) A -+ B , A 1- B ..... elim
2) B 1- B V C V int
3) A -+ B , A 1- B V C De 1 e 2
4) A ... B , e 1- B V e V int
5) A ..... B , A V e 1- B V e V elim, d ados 3 e 4
6) A -+ B 1- ( A V C -+ B V C) V int
7) 1- ( A ..... B) -+ ( (A V C ) -+ ( B V C) ) -+ int
50
2) 1- 3 x A( x) -+ I Vx 1 A( x)
Denotemos, para ab reviar , E X A( x) por t .
l ) A(t), Vx I A(x) 1- I A(t) Velim
2) A(t), Vx 1 A( x) 1- A( t) Pro priedade de 1--
3) A(t) 1- IVx I A(x) 1 int , dados 1 e 2
4) 3 xA( x) 1- A(t) 3elim
5) 3 xA( x) 1 - IVx 1 A(x) De 3 e 4
6) l-3 xA( x) -+ 1 V x 1 A(x) -+ int
Sl
CAPITULO 2
A SEMÂNTICA DE L
S2
a K , se este for não-vazio , e um objeto fixo qualquer de D , se K for vazio .
Somente por meio d e uma função de escolha é que se po de definir a denota·
ção de um termo de L que contenha o sfmbolo E .
Geralmente os elementos d istinguidos de D são designados assim:
a0 , a 1 , • , ªn , q uando há apenas um conjunto finito deles, ou assim
. •
53
Definição 2.1 . 1 (Interpretação) - Seja J1 uma e st ru t ura co m pa t íve l
co m L. Uma i n t erpreta ç ã o é uma fu n çã o i , q ue a sso cia a cada s í m b o o <l e l
p r ed i c a do d e L uma r e la çã o d e mesmo grau e m A ( sa lvo a v iso ex presso
em co n t rá r i o . ad m it i remos q ue se c o rrespondem por i s í m b o lo s <lc p r e d i ca
dos e relaçôcs <lc mesmo índice) e a cada const a n t e um o bje t o d ist i nguido
de A (con ve n çã o a ná loga ao caso d e correspo nd ê n cia e n t re sím b o lo s de
pred i cados e relações).
3) F é da forma A --. B : 1 se O ou 1 . c m ca so
=
co n t rá r io /( F) = o ·
.
F é da fo·m�a A A B: � )
-( F = 1 se �(A) = �( 13) = 1 , e Ji ( F) = O c m ca so
contrário
F é A v B : v ( F ) 1 se e só se v ( A ) = 1 o u �·( B ) = J ;
� = f
F é 1 A : �(F) = 1 se v (A) = O e �( F) = O se �( A) 1 .
� =
54
6) As funçôes v� e d� são dadas apenas pelas cláusulas precedentes.
A definição acima, como o leitor pode concluir após alguma reflexão,
caracteriza, de modo formal e rigoroso, os conceitos de verdade de uma fór
mula e de denotação de um termo segundo uma interpretação e uma função
auxiliar. No caso de fórm ulas e termos fechados, a verdade e a denotação
não dependem da função auxiliar. mas só da interpretação.
Definição 2. 1 .4 (Conseqüência semântica) Seja r um conjunto de
-
ss
o caso cm que há n a plicac,.-õ es. Precisamos levar em co nta todas as regras.
Trataremos, a penas, da regra -+ int.
Se F é /\ -+ B e foi obt ida por -+ int . então tem-se : r 1- B e r é igual
a 6 u { A } . Assim, de r 1= B, que vale , por h ipótese . devemos provar que
!:::, 1 = A -+ B , se riscarmos A, ou 6 U { A } 1= A -+ B. em hipótese co ntrária .
Todavia, pela definição d e verdade, facilmente se com prova isso .
Por co nseguinte , o teorema fica provado.
Exerãcio 1 Demonstrar:
l ) O teorema 2 . 1 . l
2) O teorema 2. 1. 2
3) R e fa zer a demonstração do Teo rema da Correção co m todos os
detal h es .
4) 1= A -+ ( B -+ A)
5) I= ( A -+ B) -+ ( (A -+ (B -+ C) ) -+ lA -+ C) )
6) I= A V (A -+ B)
7 ) I= ( ( A -+ B) -+ A) -+ A
8) I= (A A B) -+ A
9) I= A -+ ( B -+ (A A B) )
1 0) 1= A -+ (A V B)
1 1 ) 1= (A -+ C) -+ ( ( B -+ C) -+ ( ( A V B ) -+ C) )
1 2) i = ( A -+ B) -+ ( ( A -+ 1 B) -+ 1 A )
13) I= A -+ (1 A -+ B)
1 4) I= A V I A
1 5) 1= A +> 1 1 A
16) I= l (A /\. I A)
S6
1 0) 1= X = X
l l ) l= "x (x = x)
1 2) 1= 3 x( x = x)
1 3) F X = y -+ y = X
1 4) I= ( x = y A y = z) -+ x = z
1 5) {A , A -+ B } I= B
1 6) Se r 1= A(x) -+ B, então r I= 3 xA(x) -+ B
17) Se r 1= A -+ B(x) , então r I= A -+ " xA(x)
18) {A V B , 1 A } I= B
57
out ras palavras, r é consistente e não está contido em nenhum o u t ro con
junto consist ente maior do que e le).
58
I I) Para toda fórm ula B( x) ta l que r t- '1x B(x) ,
r t- 3 x(x = E" I A( x) A A( x)) .
59
Portanto , fi ca provado o teorema . (O teorema va l e . t a m b é m . no caso
de L n ão ser e n umeráve l ; todavia , a d e mo nst ra ção é mais co m plicad a . re
q u e rendo o ut ro método d e prova) .
de l o .
60
consistente, ele e stá co ntido em um co nju n to co nsistente maximal 6 pelo
Teorema 2.2.5 . Se K t iver modelo, 6 t a mb ém terá , co mo é patente.
Seja r um conjunto consistent e maximal , e vamos provar que r tem
modelo .
Se t 1 e t2 forem termos, d iremos que t 1 é f -equival ente a t 2 , e escre-
verem9s t 1 -r t2 ou, s im pl esme nte , t 1 - t2 , se r 1- t 1 t2 . =
Pel as co nsid e raçõ e s acima , fica c laro que P e stá bem d e fi n id a . Além
do mais, por esse processo de d efi n ição , o símbolo d e igualdade co rrespond e
à relação de igualdade entre classes de equ iv alê n cia .
Para a estrut ura de no sso modelo ficar co m pleta , d evemos definir
a função de esco lha e. Seja, pois, K u m co nj u n t o de classes d e eq u iva l ê nci a .
Se K for tal que existe uma fórmula A( x), com uma única variável livre
x, e se tem q ue t E K se, e some 1}.!e se , r t- 3 x (x t /\. A(x)), t o m amo s
=
61
Raciocinemos por indução matemática sobre o número de ocorrên
cias de símbolos em F, sendo que qua lquer termo conta como a ocorrência
de um só símbolo.
Se F for da forma Pt t t , da cláusula 2 da Defini ção 2 . 1 . 3 ,
1 2 nr
1 se , e somente se, r t- F .
• · ·
Corolário 1 - r I= F se , e só se , r t- F.
Corolário 2 - I= F se , e somente se , t- F .
62
Teore ma 2 .2 .9 - L m conj u nto r d e fórm ulas tem m o d elo se , e so
mente se, for consistente .
mentar.
Os teoremas d e T são a s fór m u la s q ue pod e m se r d e d uzidas q u a n d o
se t o m a m seus axiomas rnmo s u posiçó e s . E m pa r t i c u la r , os axio mas de
T são t a m b é m t eoremas de T.
Tendo -se e m vista q ue T é ca ra c t e r i za da pelo conj u n t o 6 d e se us
axiomas, fa c i l m e n t e se est e n d e m a maio ria dos co n c e i t o s a nt er iores pa ra
teo r ia s . Deste mudo se · d e fi n e m as noções de teoria consist e nt e , de t eoria
i nco nsist ent e , d e mm.l eio d e u ma teoria , e t c .
T a m b é m m u it a s d a s inferências co m u n s pod e m se r t ratadas p o r m e i o
da lógica e l e m e n t a r o u , co mo s e co st uma afi r ma r , po d e m se r formalizadas
n e ssa lóg ica
A i n ferência
mente , toda inferência ma t e m át ica trad icional pode ser cod ificada de
acordo co m a lóg i ca elementar. Estes fatos e vi d e n c iam a gr a n de relevância
dessa ló g ica . .
63
c m L si m pl i fica i n ú meras q uestões, e nos fa m i l iariza com um o pera
l l ilbcrt
e x e m p l o de categoria de o peradore s q ue formam termos
d o r i m po rt a n t e _
l igando variávc is de fórm ulas, cuj a t eoria , hoj e , é de e nor m e relevâ ncia.
64
LEITURAS COMPLEMENTARES
H istória da Lógica.
65
HAACK , S. Deviant Logic. C ambridge University Press. 1 977.
HAACK , S. Philosophy of Logics. Cambridge University Press, 1978.
RESCHER, N . Topics in Philosophical Logic , Dordrecht , 1 968.
66
Nova Série
Livro-Texto
1 ] ��������-
PRÓXIMO LANÇAMENTO:
Manua l LOGO
L uc i l a Maria Costa Santa r o sa (coord .), Maria E u n i c e Garr i d o Barbie r i ,
R o sãnge la K i si o l a r Machad o e R e na t o A l bano Pe te r sen Fi l h o
E d i tora DUBUS L t da .
Rua Upama rot ! , 71
Fone : 4 9 . 8435
Po r t o A l eg re , R S - BRAS I L