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APRENDENDO
COM ATOS DOS
APÓSTOLOS
BRUNO SUNKEY
UBERLÂNDIA
2019
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Este pequeno “livro” é composto por 15 (quinze) meditações devocionais
baseadas no livro de Atos. Essas meditações nos permitem conhecer um
Cristianismo que era, desde sua origem, progressista em relação às tradições
e religiões da época. O Cristianismo primitivo incluía pessoas de todos os
tipos, há diversos exemplos de superação de preconceitos e discriminações.
Encontramos também um forte contraste entre os cristãos primitivos e os
religiosos. Vemos ainda, o cuidado da Igreja com os pobres, necessitados,
oprimidos e excluídos. Temos muito a aprender com os cristãos de Atos dos
Apóstolos, buscar esse tipo de aprendizagem é o objetivo deste livro
devocional.
Cada meditação devocional possui um título que apresenta o assunto a ser
considerado, por uma leitura de uma passagem do livro de Atos, portanto é
importante que as meditações sejam lidas junto a uma Bíblia, uma imagem
que nos remete ao evento considerado na meditação e a meditação em si que
traz reflexões a partir do assunto e da passagem considerada. As meditações
estão organizadas em ordem cronológica de acordo com a disposição do livro
de Atos.
Atos dos Apóstolos é um livro escrito por Lucas por volta de 61 d.C.como
um segundo volume após seu Evangelho. O livro relata a história da Igreja
Primitiva, indo da Ascenção de Jesus até Paulo sendo levado à Roma como
prisioneiro.
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SUMÁRIO
1. A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA ELEIÇÃO DE UM NOVO APÓSTOLO .............................. 4
2. O PENTECOSTES E A SUPERAÇÃO DO NACIONALISMO ........................................................... 5
3. O MENDIGO DA PORTA FORMOSA ........................................................................................ 6
4. A LUTA DE UM FARISEU POR UMA RELIGIÃO MAIS HUMANITÁRIA ........................................ 7
5.ESTÊVÃO: O PRIMEIRO MÁRTIR CRISTÃO ............................................................................... 8
6. FILIPE, O EVANGELISTA: EXEMPLO DE INCLUSÃO E LUTA CONTRA DISCRIMINAÇÃO .............. 9
7. UM RELIGIOSO FANÁTICO É TRANSFORMADO POR CRISTO ................................................. 10
8. UMA VISÃO SOBRE INCLUSÃO E SUPERAÇÃO DO PRECONCEITO ......................................... 11
9. AS CONSEQUÊNCIAS QUE SURGEM QUANDO POLÍTICA E RELIGIÃO SE MISTURAM ............. 13
10. O SIGNIFICADO DE AGIR ETICAMENTE ............................................................................... 14
11. A IGREJA SE POSICIONA CONTRA O LEGALISMO ................................................................ 15
12. O CRISTIANISMO EM DIÁLOGO COM A FILOSOFIA ............................................................. 17
13. APRENDENDO COM A HUMILDADE DE APOLO .................................................................. 19
14. AÇÃO SOCIAL NO CRISTIANISMO PRIMITIVO .................................................................... 20
15. PAULO LUTA POR SEUS DIREITOS LEGAIS........................................................................... 21
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1. A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA ELEIÇÃO DE UM NOVO
APÓSTOLO
Leitura: Atos 1. 13-26
Cristo havia acabado de subir aos céus, os discípulos decidem se reunir para deliberar
sobre a eleição de um novo apóstolo que substituiria o lugar de Judas Iscariotes. Essa
reunião ocorre em um cômodo simples que ficava no andar de cima de uma casa e cujo
acesso se dava através de uma escada externa. Mas um dado é de especial atenção, o texto
faz questão de destacar que nesta reunião deliberativa estavam presentes mulheres,
incluindo Maria, mãe de Jesus. As mulheres tiveram papel importante em atestar a
ressurreição de Cristo, foram elas as primeiras testemunhas desse acontecimento. A
reunião deliberativa não era uma reunião exclusiva aos homens, nela as mulheres também
tinham lugar. Assim, está de acordo com o Cristianismo primitivo que não mais se exclua
as mulheres de decisões importantes que a Igreja precise deliberar. As mulheres estavam
presentes na primeira reunião da Igreja que teve por objetivo discutir um importante
assunto organizacional. Se já se vê nos primórdios do Cristianismo movimentos no
sentido da inclusão da mulher, quanto mais agora! Que nada na nossa religião seja
exclusivo dos homens, que nos alegremos ao ver mulheres pregarem, ensinarem,
participarem de reuniões deliberativas e até mesmo serem pastoras. Está de acordo com
o próprio espírito do Cristianismo a superação de todas as atitudes religiosas que criaram
lugares e papéis exclusivos para o homem.
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2. O PENTECOSTES E A SUPERAÇÃO DO NACIONALISMO
Leitura: Atos 2.1-47
São 9 horas da manhã de um domingo, dia 22 de maio de 33d.C. As ruas de Jerusalém
estão cheias de gente, judeus naturais e gentios convertidos ao judaísmo, os chamados
prosélitos, estão reunidos para a festa do Pentecostes, alguns vieram de bem longe. É um
dia feliz, a festividade comemora a colheita da cevada e inaugura o início da colheita de
trigo. No Templo, os levitas começam a cantar: "Aleluia. Louvai o nome de Jah" e seguem
cantando dos Salmos 113 ao 118, o chamado Halel, uma parte canta o refrão enquanto
outra responde. De repente, ouve-se do céu um forte barulho, parecido com uma ventania,
mas não há vento, o barulho é na verdade sinal da presença do Espírito Santo, o sopro de
Deus. Cento e vinte discípulos de Jesus estão reunidos em uma casa. Em Jerusalém, há
pessoas de várias nacionalidades, mas talvez todos se comuniquem em grego, numa
língua que não é o idioma materno de boa parte dos que estão ali. Mas agora,
milagrosamente, os presentes para a festividade ouvem os discípulos falarem no seu
próprio idioma. Ouvir a mensagem cristã em sua língua materna é algo profundamente
tocante. Logo, todos querem ficar na cidade de Jerusalém por mais tempo do que a
festividade. Mas como vão se sustentar? Os cristãos então vendem suas propriedades e
bens e redistribuem suas riquezas de acordo com a necessidade de cada um. Assim nasce
o Cristianismo. O Cristianismo é, em seu início, de natureza internacional e uma
comunidade que atende às necessidades materiais dos que precisam. Será que se pode ver
o mesmo espírito fraterno e comunitário que supera barreiras de nacionalidades hoje?
Quão distante está desse Cristianismo internacional e comunitário a religião que abraça o
nacionalismo e o espírito do Capitalismo. O Cristianismo primitivo é, em sua origem,
uma comunidade de amor movida por um espírito de abnegação.
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3. O MENDIGO DA PORTA FORMOSA
Leitura: Atos 3.1-8
Um mendigo está à porta do Templo, ele possui uma deficiência, é incapaz de andar, ele
encontra-se ali pedindo esmola. O contraste é claro entre o Templo religioso imponente
e aquele mendigo pobre. A porta do templo chamada Formosa, na qual o mendigo está, é
grande e revestida de bronze reluzente, o mendigo por outro lado, é manco e pobre. Então
aproximam-se do lugar dois homens simples, eles são cristãos, discípulos de Jesus. O
mendigo, como sempre, pede dinheiro para aqueles homens, mas eles respondem que não
possuem dinheiro algum. Aqueles discípulos também são humildes, não possuem ouro
nem prata. No entanto, um dos discípulos, Pedro, estende a mão, segura o homem e o
ajuda a ficar de pé. Pela primeira vez na vida aquele homem consegue se levantar e andar,
ele é milagrosamente curado. Então os discípulos anunciam claramente, no Templo, que
o mendigo foi curado em nome de Jesus, o ressuscitado. Os saduceus, uma seita religiosa
rica, politicamente influente e que não crê na ressurreição, ficam furiosos e lançam os
discípulos na prisão. Os religiosos ricos condenam os discípulos por serem homens
indoutos e comuns, dizendo que eles não podiam pregar no Templo pois não tinham
estudado em nenhuma escola religiosa. Que contraste entre os primeiros cristãos e os
religiosos da época! Os cristãos se importam com o homem pobre, eles são simples e
humildes, os religiosos, por outro lado, são ricos, possuem poder politico e instrução
teológica. Hoje o mesmo se repete, líderes religiosos ricos desprezam os pobres, igrejas
ostentam templos caros e permitem que preguem somente aqueles que são formados em
seminários teológicos. Mas a mensagem cristã autêntica nada tem a ver com a religião
rica e instruída teologicamente, a mensagem de Cristo é simples, é anunciada por gente
indouta e comum e por intermédio dela os pobres e necessitados são ajudados.
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4. A LUTA DE UM FARISEU POR UMA RELIGIÃO MAIS HUMANITÁRIA
Leitura: Atos 5.34-42
Pode parecer, lendo a constante oposição entre Cristo e os fariseus, que estes últimos eram
sempre religiosos legalistas e maus. Mas haviam fariseus diferentes e um deles é
Gamalieu. Quando o Supremo Tribunal Judaico quis exterminar os discípulos de Jesus,
Gamalieu interviu pedindo que o tribunal fosse mais paciente e tolerante com os
discípulos. Ele argumentou que se a mensagem cristã não fosse divina, ela não
sobriviveria por muito tempo, mas se ela fosse de Deus, ela não poderia ser derrubada e,
se esse fosse o caso, o tribunal corria o risco de estar lutando contra Deus. Gamaliel era
também da escola mais liberal dentro do farisaísmo, a escola de Hiliel, ele lutou para que
as mulheres tivessem mais direitos e proteção e saiu em defesa da ajuda aos gentios
pobres. Assim, mesmo entre os religiosos, há aqueles que lutam por uma religião mais
humanitária. Hoje, há nas religiões, muitos semelhantes a Gamalieu, que não se aliam aos
religiosos conservadores e legalistas, mas que trabalham por uma igreja mais inclusiva,
humanitária e liberal.
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5.ESTÊVÃO: O PRIMEIRO MÁRTIR CRISTÃO
Leitura: Atos 7. 1-60
Estêvão foi o primeiro mártir do Cristianismo, o primeiro seguidor de Jesus que foi morto
por sua fé. Aqueles que condenaram Estêvão foram os religiosos extremistas e fanáticos
da época. As acusações que eles levantaram contra Estêvão era de que ele blasfemava
contra o Templo e a Lei de Moisés. O discurso feito por Estêvão antes de sua morte tem
muito a nos ensinar. Ele inicia seu discurso falando da Era dos Patriarcas, remetendo ao
tempo de Abraão, nessa era não havia a Lei mosaica, nem templo. Assim, Deus não
depende da estrutura religiosa e legal para ser adorado. O que dizer dos teonomistas que
hoje defendem a restauração da lei mosaica? Não agem eles à semelhança dos religiosos
fanáticos que condenaram Estêvão à morte? Estêvão prossegue falando de Moisés e,
mostrando que, mesmo que a lei mosaica não seja uma estrutura necessária, os cristãos
nutrem um profundo respeito por Moisés. Mas mesmo Moisés profetizou a vinda futura
de um profeta que o superaria, além do mais, no tempo de Moisés ainda não havia
Templo, como pode alguém, então, querer restringir a adoração a Deus à participação
numa instituição religiosa? Estêvão, por fim, lembra que mesmo quando Salomão
construiu o Templo, Deus foi bem claro em dizer que Ele não dependia do Templo, que
o Altíssimo não habitava em uma casa construída por mãos humanas. Assim, Estêvão
deixa claro que não é que os cristãos sejam contra Moisés e o Templo, mas sim que eles
entendem que Deus não depende dessas coisas para ser adorado. Deus não está preso a
estruturas legais, a códigos morais, a tradições religiosas ou a instituições eclesiásticas,
Deus é flexível e não exige uma forma rígida e regulada de adoração. Estêvão
infelizmente foi martirizado, mas a mensagem de seu discurso sobreviveu a todos os
tempos.
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6. FILIPE, O EVANGELISTA: EXEMPLO DE INCLUSÃO E LUTA CONTRA
DISCRIMINAÇÃO
Leitura: Atos 8.4-40
Um personagem não muito conhecido da Bíblia é Filipe, o evangelista, que não deve ser
confundido com Filipe, o apóstolo. Filipe é um exemplo, já no primeiro século, de
inclusão social e luta contra preconceitos e discriminações. Primeiro, quando na igreja as
viúvas de fala grega eram preteridas em relação à distribuição de alimentos, ou seja,
quando a própria ação social da igreja estava impregnada de preconceito e discriminação,
Filipe, junto com outros diáconos, trabalhou para que houvesse uma distribuição
igualitária de alimentos, sem distinção de etnia. Mesmo com todo preconceito do
judaísmo contra os samaritanos, quando o evangelista Mateus, que escreveu seu
evangelho direcionado aos judeus, dizia que Jesus instruiu seus apóstolos a não pregarem
aos samaritanos, Filipe foi a Samaria pregar a mensagem cristã. Assim, Filipe revelou
uma mentalidade muito diferente da mentalidade fechada dos judeus em geral, mostrando
não concordar com o preconceito daqueles que discriminavam os samaritanos. Outro
dado interessante é que Filipe tinha quatro filhas que eram profetisas, num tempo em que
a instrução apostólica paulina era de que as mulheres deveriam permanecer caladas. Em
uma viagem, Filipe encontrou um eunuco, se esse eunuco era castrado, ele era, pela Lei,
proibido de fazer parte da igreja ("assembleia"), mas Filipe o batizou "sem demora", ali
mesmo, sendo o batismo um sinal de inclusão na igreja. Assim, Filipe é um exemplo da
luta contra as discriminações e preconceitos sociais dentro da própria religião e faremos
bem em torná-lo mais conhecido e seguir seu exemplo.
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7. UM RELIGIOSO FANÁTICO É TRANSFORMADO POR CRISTO
Leitura: Atos 9.1-30
É verdade que precisamos nos opor aos religiosos farisaicos e legalistas, mas também
precisamos ter em mente que ninguém está além da possibilidade de mudança. Paulo, o
apóstolo, é um exemplo de um fariseu fanático que experimentou uma mudança radical.
Ele tinha muita autoridade concedida por um Tribunal religioso que condenava pessoas à
morte, o Sinédrio. As mãos de Paulo eram manchadas de sangue, tendo ele aprovado
quando religiosos fanáticos apedrejaram Estêvão até à morte. Paulo era alguém que
pertencia à elite, possuía cidadania romana, falava grego e era fiel seguidor das tradições
judaicas. Tinha frequentado escolas que lhe deram um profundo conhecimento teológico.
No entanto, foi justamente o zelo de Paulo pelas tradições religiosas que fez dele um
terrível perseguidor dos primeiros cristãos. Mas Paulo, após uma experiência sobrenatural
com o divino, mudou completamente. Porém, a própria igreja teve dificuldades em aceitar
Paulo por causa do seu passado como perseguidor. No entanto, Paulo mudou e seu
conhecimento profundo possibilitou com que ele desse ao Cristianismo um corpo
doutrinário mais sólido, embora não inerrante ou infalível, nem livre de condicionantes
sociais e históricos da época. De qualquer modo, Paulo já não era mais aquele fanático
que perseguia e matava quem discordasse dele. Mesmo o religioso mais fanático pode
mudar, ninguém é incorrigível. Por isso, não temos o direito de condenar quem quer que
seja pelo seu passado ou por quem tem sido. Pessoas mudam.
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8. UMA VISÃO SOBRE INCLUSÃO E SUPERAÇÃO DO PRECONCEITO
Leitura: Atos 10.1-48
É outono do ano 36d.C., Pedro, o líder do colégio apostólico, está no terraço de uma casa.
De repente ele entra em transe e tem uma visão. Ele vê um grande lençol descendo do céu
e em cima do lençol há animais que a Lei considera impuros, como porcos, ratos, lebres,
camelos, etc. Uma voz então diz a Pedro: "Abata os animais e os coma". Talvez Pedro
pense, "a Lei escrita de Deus diz que esses animais são impuros", pode ser que ele tenha
em mente o princípio de que a Lei escrita de Deus deve julgar as visões, se uma visão
contradiz a Lei escrita de Deus, ela deve ser rejeitada. Assim, por mais que a voz na visão
ordene a Pedro que ele coma animais impuros, ele se recusa fortemente a fazê-lo por três
vezes. A voz então o repreende dizendo: "Não chame de impuro o que Deus purificou".
Logo vai ficar mais claro o significado da visão. Ainda no terraço, agora que o transe
passou, Pedro avista mensageiros de Cornélio, um centurião romano, aproximando-se da
casa, os mensageiros chamam Pedro para acompanhá-los até a casa do centurião.
Cornélio, à espera de Pedro, reúne parentes e amigos, todos eles gentios. Pedro então
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entra na casa de Cornélio. Isso é bastante significativo, judeus consideravam gentios
como "impuros" e era inconcebível para um judeu entrar na casa de um gentio
incircunciso. Agora Pedro entende o significado da visão, Deus estava lhe ensinando a
não chamar nenhum homem de "impuro". Então algo inédito ocorre na casa de Cornélio,
as pessoas na casa, gentios incircuncisos que não haviam sido batizados, começam a falar
em línguas estranhas, experimentando o batismo no Espírito Santo. Esse era o sinal de
que Deus aprovava a inclusão dos gentios. Quando a notícia da inclusão dos gentios se
espalhou, muitos cristãos judeus se oporam a ela. Eles insistiam que a Lei escrita de Deus
considerava os gentios incircuncisos como impuros e, a menos que os gentios se
circuncidassem e observassem a Lei, eles deveriam permanecer excluídos. Mesmo Pedro,
depois de tudo isso, se deixou levar pelo preconceito e discriminação, se afastando dos
gentios. Foi Paulo quem de forma efetiva lutou para inclusão dos gentios. Deus estava
ensinando a Igreja a tratar todo ser humano com igualdade, a não considerar ninguém
impuro e a incluir ao invés de excluir. A visão dada a Pedro significa que precisamos tirar
de nosso coração qualquer traço de preconceito, mesmo aqueles que estão baseados em
escritos sagrados. O nacionalismo, o racismo, o etnocentrismo, a xenofobia e toda e
qualquer forma de discriminação é contrária ao Deus imparcial do Cristianismo genuíno.
Aqui vale uma consideração especial sobre a homofobia, a Lei do Antigo Testamento
considera os homossexuais "impuros" e os chama de "abominação". Será que vamos
continuar nos apegando à Lei escrita para condenar os homossexuais, ou vamos lembrar
da visão de Pedro que nos chama a superar os preconceitos e a incluir pessoas de todo
tipo? Deus ajusta progressivamente o entendimento do seu povo, antigos preconceitos,
mesmo baseados nas Escrituras, precisam ser superados e, assim como os gentios no
passado, homossexuais, hoje, experimentam o batismo no Espírito Santo como
confirmação de que Deus os ama e os aceita.
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9. AS CONSEQUÊNCIAS QUE SURGEM QUANDO POLÍTICA E RELIGIÃO
SE MISTURAM
Leitura: Atos 12.1-5
O que acontece quando religião e política se misturam? Herodes Agripa I era de uma
dinastia política que governava os judeus, foi amigo dos imperadores Calígula e Cláudio.
Agripa era formalmente judeu e circuncidado, e tornou-se rei sobre a Judeia e Samaria.
A capital do seu governo era Jerusalém e ele estabeleceu alianças com os líderes religisos
judeus. Agripa se propôs como um político que iria agir como guardião da fé judaica. Ele
oferecia diariamente sacrifícios no Templo, observava rigorosamente a Lei e era fiel
seguidor das tradições judaicas. Os judeus não viam os cristãos primitivos com bons
olhos, já que os cristãos incluíam e não discriminavam os gentios. Dada a aliança com os
judeus, Agripa não hesitou em usar seu poder político para perseguir e matar os cristãos.
Ele foi responsável por condenar o apóstolo Tiago à morte e pela prisão do apóstolo
Pedro. Quando uma religião poderosa estabelece laços com políticos influentes, o
resultado é que religiões menores são perseguidas ou que o poder político passe a tomar
determinadas decisões apenas para ganhar o apoio dos religiosos. Infelizmente
testemunhamos hoje muitas relações promíscuas entre Igreja e Estado, bem como
fundamentalistas que se opõem à laicidade do Estado e que defendem ideias contra a
garantia das liberdades religiosas. Mas há uma justiça eterna que rege o mundo e que é
infalível, há um Chronos que retribui a cada um segundo suas obras. Quando foi fazer um
discurso público, Agripa vestiu uma roupa de prata, que quando a luz incidia sobre ela, a
roupa reluzia. Ele foi aplaudido pelos ouvintes como um deus, e é isso que ocorre com
líderes políticos carismáticos: eles são divinizados. No entanto, a glória de Agripa durou
pouco, vermes intestinais começaram a comer seu corpo por dentro, por cinco dias Agripa
agonizou até morrer. Que compreendamos que historicamente, sempre que religião e
política se misturaram, os resultados foram desastrosos. Igreja e Estado devem
permanecer como esferas distintas e autônomas, e a liberdade religiosa e de crença precisa
ser garantida e respeitada.
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10. O SIGNIFICADO DE AGIR ETICAMENTE
Leitura: Atos 14.8-19
Qual é a nossa motivação para agir eticamente? Por vezes, pode ser que muitos estejam
dispostos a fazer o bem por temer uma divindade. Se não há uma divindade, alguns
raciocinam que não há qualquer motivo para fazer o bem, quem pensa assim está disposto
a ser bom somente na medida em que crê que será recompensado ou não punido por uma
divindade. Este era o caso dos habitantes de Listra. Entre eles havia um mito de que os
deuses Zeus e Hermes visitaram a região assumindo a forma de homens mortais. Esses
deuses teriam procurado hospedagem em mil casas, mas ninguém os recebeu, a não ser
um casal idoso, Filemon e Baucis, que os hospedaram numa pequena cabana. Como
recompensa, os deuses transformaram a cabana em um magnífico templo e, como
punição, eles destruíram as casas daqueles que não os hospedaram. Quando o apóstolo
Paulo e o missionário Barnabé chegaram em Listra, os habitantes da cidade pensaram que
a história poderia estar se repetindo e foram profundamente hopistaleiros com Paulo e
Barnabé, acreditando serem eles Hermes e Zeus em forma humana. Aqueles missionários
humildemente se recusaram a ser tratados como deuses e explicaram que eles eram
homens comuns, iguais a todos. Eles ainda insistiram que acreditavam em um Deus
bondoso, não punitivo. Um Deus, que embora único, deixou que todas as nações
adotassem os seus próprios deuses, sem puní-las, antes, ao contrário, abençoando-as,
dando a elas chuvas e estações frutíferas. Essas palavras eram importantes, pois Listra era
uma cidade agrícola, Paulo e Barnabé mostram àqueles habitantes um Deus que ama toda
gente e que é bondoso mesmo com aqueles que não o adoram. Quando perceberam isso,
os habitantes de Listra abandonaram toda a hospitalidade, a mesma multidão que queria
adorar Paulo como um deus agora o cerca e o apedreja até ele desmaiar. Eles então levam
o corpo ferido de Paulo e o abandonam fora da cidade, acreditando que ele estava morto.
O que aconteceria se nós descobríssemos que se formos bons não seremos recompensados
ou se formos maus não seremos punidos por um Deus? Será que nossa atitude
rapidamente mudaria como ocorreu com os habitantes de Listra? Agir eticamente
significa fazer o bem por ele mesmo. O bem moral não pode ser um meio para um fim,
antes a ação moral precisa ser um fim em si mesma. Nesse sentido, um ateu que age
eticamente simplesmente porque é correto agir assim está em uma condição moral
superior à do crente que faz o bem apenas pelo temor a uma divindade.
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11. A IGREJA SE POSICIONA CONTRA O LEGALISMO
Leitura: Atos 15.1-35
O primeiro concílio ecumênico da Igreja não ocorreu em 325 d.C. em Niceia para discutir
a Trindade, mas sim em 49 d.C. em Jerusalém para discutir se os cristãos ainda estavam
sujeitos à Lei de Moisés.O problema surgiu porque alguns cristãos judeus entendiam que
os gentios convertidos precisavam obedecer à lei mosaica. Eles citaram, em especial, a
circuncisão como uma obrigação moral. O argumento a favor da circuncisão era de que
ela não fazia só parte da Lei mosaica, ela foi instituída muito antes, já no tempo de Abraão.
Além disso, o Antigo Testamento requeria que fossem circuncidados não só judeus, mas
também estrangeiros que desejassem seguir a fé. Esses pareciam fortes argumentos para
que os gentios se circuncidassem. Mas qual foi a decisão do concílio? O líder do colégio
apostólico, Pedro, pronunciou-se na reunião dizendo que não era necessário impor aos
novos cristãos um código de leis que nem mesmo os judeus conseguiram cumprir. Há,
hoje, uma perspectiva teológica conhecida como "aliancismo", adotada por reformados e
adventistas, que diz que o Cristianismo é só uma continuação do judaísmo e que ainda
somos obrigados em relação à lei. Foi o aliancismo que abriu as portas para a chamada
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"teonomia", doutrina segundo a qual a lei civil do Antigo Testamento ainda é válida. Os
teonomistas recorrem a argumentos semelhantes aos usados pelos judaizantes em relação
à circuncisão: eles insistem que a pena de morte foi instituída muito antes de Moisés, já
no tempo de Noé e ressaltam que o Antigo Testamento exigia que os gentios também
observassem a lei civil. Ainda precisamos lidar com a resistências de homens que estão
determinados a ensinar que precisamos observar a Lei de Moisés. A decisão do Concílio
de Jerusalém, no entanto, não significa que a Lei não tenha valor algum, o espírito da Lei,
alguns princípios por traz dela, ainda são válidos. É na Lei que lemos sobre o amor ao
próximo, o cuidado com os pobres e outros deveres éticos que o evangelho incorporou.
Mas, para nós, cristãos, o que importa não é a letra escrita da Lei, mas os princípios
espirituais eternos por trás dela. É interessante que o Concílio tenha terminado com uma
recomendação de Tiago. Tiago compreendeu que os cristãos não eram obrigados a
obedecer a Lei mosaica, mas ele lembrou que os escritos de Moisés eram lidos
sabaticamente nas sinagogas e que para os cristãos de origem judaica era muito difícil
aceitar essas mudanças. Assim, Tiago sugeriu que os gentios observassem alguns
princípios da Lei para não escandalizarem os cristãos judeus. Tiago decidiu que seria bom
que os gentios não comessem carne com sangue, nem alimentos oferecidos como
sacrifício a divindades consideradas pagãs e nem participassem de práticas sexuais que
os judeus consideravam ilícitas. Tais coisas não eram em si erradas, mas evitá-las poderia
ajudar a construir uma convivência mais harmoniosa entre judeus e gentios. Isso significa
que essas recomendações eram temporárias e circunstanciais dado que a Igreja deveria
caminhar para um entendimento mais claro de que a Lei foi dada para um determinado
tempo histórico e para um povo específico.
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12. O CRISTIANISMO EM DIÁLOGO COM A FILOSOFIA
Leitura: Atos 17. 16-34
O discurso feito por Paulo em Atenas por volta do ano 50 d.C. é um exemplo de
como os cristãos devem estar pronto a estabelecer um diálogo construtivo com as
filosofias de seu tempo. Atenas era uma cidade democrática desde o século VI a.C.
quando Sólon, um legislador ateniense, promoveu uma reforma social, política e
econômica que beneficiou os mais pobres e lançou as bases para um governo
democrático. Isso criou um ambiente propício para o desenvolvimento filosófico.
Em Atenas, havia uma grande praça de 50 mil metros quadrados, a Ágora, na qual
eram realizados debates filosóficos. Havia ainda, o Areópago, uma colina em que
eram realizadas reuniões conciliares. Paulo, acostumado a pregar em sinagogas
judaicas, precisou se adaptar a esse ambiente democrático e filosófico. Primeiro,
ele, em seu discurso, evitou citar as Escrituras hebraicas; a fim de se identificar
com seus ouvintes, Paulo construiu seu discurso na primeira pessoa do plural
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("nós") e fez citações da literatura grega. Em seu discurso, Paulo dialogou com os
estoicos e os epicureus, citou um trecho de "Os Fenômenos", poema sobre
astronomia escrito pelo poeta Arato, fez referência ao poeta Epimênides e aludiu
ao "Hino a Zeus" do poeta Cleanto. Não é de admirar que Paulo tenha evocado a
figura de Sócrates a ponto de alguns apresentarem contra ele a mesma acusação
que apresentaram contra Sócrates: "Ele parece publicador de deidades
estrangeiras". Mas Paulo mostrou que essa acusação era falsa. Paulo não julgou ou
condenou os atenienses por seus deuses, antes elogiou a religiosidade e o interesse
deles por assuntos espirituais. Ele também apresentou o Deus cristão, não como
um Deus novo e estrangeiro, mas como o "Deus desconhecido" que os atenienses
já adoravam. Paulo não só mostrou os pontos de contato entre a mensagem cristã
e a filosofia grega, como também mostrou os pontos de antítese. Por exemplo, os
atenienses se consideravam superiores a outras nações por serem gregos, Paulo
contrapôs esse nacionalismo dizendo que todos os homens são da mesma raça e
que todas as nações possuem um ancestral comum. Assim, Paulo apresentou a
mensagem cristã em diálogo crítico e construtivo com a filosofia de seu tempo. O
Cristianismo não deve se fechar num círculo de fundamentalismo e fanatismo,
antes precisa dialogar com a filosofia, estabelecendo pontos de contato e de
antítese.
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13. APRENDENDO COM A HUMILDADE DE APOLO
Leitura: Atos 18.24-28
Apolo era um judeu natural de Alexandria, tinha uma capacidade extraordinária de
comunicação, sua eloquência era admirável. Além disso, ele conhecia profundamente as
Escrituras, era capaz de discursar com precisão a respeito dos textos bíblicos. No entanto,
um casal cristão, Priscila e Áquila, perceberam que o conhecimento de Apolo ainda era
incompleto e que ele precisava de mais instrução a respeito de Jesus. Como Apolo reagiu
a isso? Apolo aceitou a ajuda de Áquila e Priscila, demonstrando uma profunda
humildade. Apolo é um grande exemplo para nós, nunca teremos tanto conhecimento que
não tenhamos nada a aprender e mesmo a pessoa mais simples tem muito a ensinar. Nosso
conhecimento jamais deve ser motivo para nos acharmos superiores, se formos humildes
como Apolo não ficaremos ofendidos se alguém disser que nosso conhecimento é
incompleto e que precisamos de maior instrução. Como Apolo, que estejamos prontos a
ouvir e aprender com todos e que nos esforcemos para considerar o outro superior a nós
mesmos.
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14. AÇÃO SOCIAL NO CRISTIANISMO PRIMITIVO
Leitura: Atos 24.17
O Cristianismo primitivo sempre demonstrou interesse especial em ajudar os
necessitados. Por volta de 49 d.C., um grupo de cristãos em Jerusalém estava passando
necessidade. Eles estavam sofrendo com perseguições, com o saque de seus bens, com a
pobreza e com a fome. Então, Paulo entendeu que precisava fazer mais do que ser um
missionário aos gentios, era necessário que ele se lembrasse dos mais pobres. Paulo,
então, supervisionou uma coleta de alimentos nas congregações de diferentes lugares,
como as congregações da Galácia, de Corinto e da Macedônia. Em 55d.C., Paulo escreveu
aos coríntios que separassem todo Domingo, dia especial de culto da igreja, uma reserva
de contribuições para ser enviada a Jerusalém. Em 56d.C., representantes de diferentes
congregações levaram a Paulo o que havia sido coletado. Assim, os cristãos pobres em
Jerusalém tiveram suas necessidades atendidas. A missão da igreja não é só pregar o
evangelho em palavras, a missão da igreja é integral e envolve atendeder não só as
necessidades espiriruais das pessoas, mas também suas necessidades materiais. O cuidado
com os mais pobres é parte essencial da missão da igreja nesse mundo.
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15. PAULO LUTA POR SEUS DIREITOS LEGAIS
Leitura: Atos 24.1-27
Como reagir quando nossos direitos de liberdade religiosa são violados ou quando um
tribunal estadual ou de um país atenta contra nossos direitos? Um exemplo de como agir
nesses casos é dado pelo apóstolo Paulo. Quando o Supremo Tribunal Judaico, o Sinédrio,
decidiu que o apóstolo Paulo deveria morrer por pregar a mensagem cristã, Paulo batalhou
juridicamente pelos seus direitos. Estamos autorizados a usar de todos os recursos legais
disponíveis para termos nossos direitos garantidos. Primeiro, Paulo exigiu seus direitos
como cidadão romano. Um cidadão romano não podia ser condenado ou espancado sem
antes ser julgado. Paulo, então, teve a oportunidade de se defender contra as acusações
dos judeus, apresentando um discurso em sua defesa diante de autoridades romanas, como
Félix, Festo e Agripa. Quando corria o risco de ser enviado de volta a ser julgado pelo
Sinédrio, que certamente o mataria, Paulo, usando de seus direitos, apelou para César. Eis
a necessidade de tribunais jurídicos superiores que estejam dispostos a defender nossos
direitos quando tribunais locais atentam contra eles. Por exemplo, casos em que tribunais
superiores de algum país europeu violam a liberdade religiosa, têm sido levados à Corte
Europeia dos Direitos Humanos, que defende a liberdade religiosa quando algum país a
viola. Aprendemos com Paulo que podemos e devemos usar de todos os recursos jurídicos
dos quais dispomos, incluindo apelações a tribunais superiores, a fim de que possamos
ter nossos direitos e liberdades garantidos.
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