RESUMO
O presente trabalho visa a verificação das penas alternativas na legislação
brasileira e analisando seus efeitos e em que casos essas sanções substitutivas
podem ser aplicadas.O estudo proposto deve-se a importância das penas
alternativas como forma de amenizar os graves problemas que hoje sucumbem o
sistema penitenciário nacional. Serão observadas detalhadamente as alternativas
penais: prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas; limitação de
fim de semana; prestação pecuniária em favor da vítima;prestação pecuniária
inominada; interdição temporária de direitos; proibição do exercício de cargo,
função ou atividade pública bem como de mandato eletivo; proibição do exercício
de profissão, atividade ou ofício que dependem de habilitação especial, de licença
ou autorização do poder público; suspensão de autorização ou de habilitação para
dirigir veículo; proibição de freqüentar determinados lugares; perda de bens e
valores; multa substitutiva e prestação de outra natureza. Este trabalho foi
elaborado a partir de pesquisas bibliográficas analisando as grandes obras dos
maiores jurisconsultos sobre o assunto, entre eles, Bittencourt, Flávio Gomes,
Shecaira e Adriano Costa. O Brasil, na esteira de uma tendência mundial, ampliou
para 10 as penas alternativas com o advento da Lei 9.714/98. Entretanto, as
penas alternativas não conseguirão, sozinhas, operar milagres no sistema
penitenciário nacional, faz-se necessário que a sociedade compreenda e dê sua
imprescindível contribuição para o incremento da aplicação e execução dessas
alternativas penais.
Palavras chave
Penas Alternativas Superpopulação Sistema Penitenciário
carcerária
10
INTRODUÇÃO
Presencia-se nos meios de comunicação os crescentes índices de
violência que são conseqüências da tensão social por que passa a nação
brasileira. Violência essa que pode ser explicada, por vários fatores,
principalmente pela carência, na maioria da população, das quatro áreas
essenciais à sobrevivência humana: saúde, segurança, educação e moradia
juntando-se a isso a certeza da impunidade que norteia alguns entes da nossa
sociedade.
No entanto a ação policial, mesmo com a falta de recursos materiais e
humanos, e o poder judiciário vêm atuando, de forma efetiva, proporcionando o
aumento da população carcerária e avolumando os problemas no falido sistema
penitenciário brasileiro.
Essa situação levou os nossos legisladores a criar penas alternativas à
pena de prisão ou privativa de liberdade com a finalidade de amenizar os
problemas expostos e criar condições para uma real ressocialização do
condenado.
Esse trabalho presta-se a estudar tais penas com o intuito de verificar os
benefícios e ou malefícios da adoção dessas normas jurídicas.
A pena privativa de liberdade foi adotada inicialmente, a partir do século
XIX, como meio de reformar o criminoso. Havia um clima de otimismo na época já
que a privação da liberdade veio para substituir, principalmente, a pena de morte,
o que, sem dúvida, caracterizava um grande avanço em se tratando de penas.
11
Várias foram as teorias elaboradas para que se atingisse a finalidade pela qual a
a privação de liberdade foi concebida. Nenhuma dessas teorias conseguiu, até
hoje, ser efetivada na prática e dessa forma, a privação da liberdade não atingiu o
seu fim.
Hoje o clima predominante é de perplexidade e descrédito, não somente no
que diz respeito a execução da pena de prisão, mas em relação a todo o sistema
carcerário.O professor Bittencourt faz uma consideração muito realista a respeito.
“Na verdade, a questão da privação da liberdade deve ser abordada em
função da pena tal e como hoje se cumpre e se executa, com os
estabelecimentos penitenciário que temos, com a infra-estrutura e
dotação orçamentária que dispomos, nas circunstâncias e na sociedade
atuais. Definitivamente, deve-se mergulhar na realidade e abandonar, de
uma vez por todas, o terreno dos dogmas, das teorias, do dever e da
interpretação das normas,” 1
São inúmeras as críticas que podem e são feitas acerca da pena de prisão
em nossos dias. Inúmeros são os livros na doutrina penal que fazem alguma
consideração a respeito do insucesso de tais penas. Não só no meio jurídico, mas
em toda a imprensa, constantes são as reportagens, onde se exibem presos
amontoados, vivendo em precárias condições de higiene e saúde. Vários são os
casos em que temos notícia de violência sexual, tráfico de drogas, formação de
bandos que comandam os presos, enfim, a deturpação do sistema penal é
gritante.
Para tanto, deve ser dado ao preso condições mínimas para que sua pena
exerça o caráter recuperador e reintegrante. De que valerá ao Estado castrar a
liberdade de indivíduos que delinqüem, ter dispendiosos gastos com a guarda
desses indivíduos e, não os recuperando, após cumprida a pena, coloca-los em
liberdade, piores do que entraram? O Estado estará, no fundo, fomentando a
1
Bittencourt, Cesar Roberto. Falência da Pena de Prisão - Causa e alternativas. São Paulo:
Revista dos tribunais, 1993, p. 142
12
criminalidade, já que da forma como a pena é executada, a prisão tem sido
somente “escola do crime”. A pena privativa de liberdade tem se constituído em
mera retribuição.
Nem mesmo o caráter de prevenção geral a prisão tem exercido. A
prevenção geral este é na certeza da punição e não no medo que a execução da
pena impõe. Se assim fosse, nos países onde há pena de morte a criminalidade
deveria ser menor, e não é esse o caso.
No Brasil, a certeza da punição existe para que os menos favorecidos. Em
sua maioria, cometeram crimes contra o patrimônio. Já nos chamados crimes do
colarinho branco que normalmente lesionam milhares de pessoas e são
cometidos por cidadãos de nível elevado, muito raramente são punidos.
Passos faz uma interessante consideração a respeito da ressocialização do
condenado. Ele parte de uma análise morfológica da palavra ressocializar, ou
seja, colocar de novo em sociedade. Chegando a seguinte conclusão:
“Ora, diante da realidade mundial, em que se atribui o grosso da
criminalidade às classes sociais menos favorecidas, em qualquer país,
desenvolvido ou não, sob qualquer regime político, é de se considerar
que alguma coisa de errado existe. No Brasil particularmente, podemos
afirmar que a socialização atinge quase que só às classes mais
representativas”. 2
Fica, portanto, difícil falar em ressocialização onde as desigualdades
sociais são enormes e o grosso da população não tem acesso a direitos básicos,
como saúde, educação, moradia e segurança.
As penas alternativas foram concebidas no intuito de evitar os problemas
trazidos principalmente pelo cárcere de pequena duração. Bruno faz uma análise
2
Passos, Paulo Roberto da Silva. Elementos de Criminologia e Política Criminal. Bauru: Edpro,
1994, p.18
13
das penas de curta duração como:
“não corrigem, mas aprofundam ainda mais o desajusta do criminoso.
Pela sua curta duração, não permitem que alcance qualquer resultado
útil às práticas corretivas do tratamento penal. E ainda mais, levam o
pequeno delinqüente ao convívio com criminosos mais experimentados e
endurecidos, que criam em volta dele uma atmosfera de estímulo ao
crime e de aperfeiçoamento de seus meios”. 3
Não que a prisão prolongada alcançasse algum resultado útil. Pelo
contrário, traz marcas eternas à vida de um ex-presidiário. É que ao menos
teoricamente, a pena é proporcional ao delito cometido, e aqueles que são
condenados a cumprirem penas maiores são de maior periculosidade.
Infelizmente ainda não concebemos outra forma de cumprimento de pena que
substitua a prisão de longa duração, portanto ela ainda é um mal necessário.
É certo que a prisão não tem cumprido e nunca cumpriu a finalidade pela
qual foi concebida, nunca reeducou e nem mesmo ressocializou delinqüente
algum. Mesmo que teoricamente esse ideal pudesse ser alcançado, nunca deixou
de ser um ideal. A realidade se mostra diversa da teoria, e desde que a privação
de liberdade foi adotada como pena, e é bom que se diga, a mais humana das
penas até então conhecidas, nunca atingiu seu fim. Hoje, quase dois séculos
depois, é uma das formas mais desumanas e degradantes de cumprimento de
pena.
Como uma pena de prisão de curta duração pressupõe um delito com
reprovabilidade social diminuta e um delinqüente de pouca periculosidade, a
solução encontrada para não deixar que esses “pequenos infratores” da lei
sofressem as desastrosas conseqüências do nosso corroído sistema penal, foi a
criação de formas outras de penas que pudessem substituir a privação da
liberdade. São as penas alternativas.
3
Bruno, Aníbal, Direito Penal. Rio de Janeiro: Forense ,1997,p.62
14
Assim, nas penas alternativas introduzidas na legislação penal brasileira
através da Lei nº 7.209, de 11 de julho de 1948, que reformou a parte geral do
Código Penal que data de 1940, seguindo as tendências mundiais, o legislador
brasileiro achou por bem criar substitutivos penais para as penas privativas de
liberdade de pequena duração.
Até novembro de 1998, de acordo com o Código Penal Brasileiro, art. 43,
as penas alternativas adotadas em nosso país eram: prestação de serviços
comunitários; interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana.
Com o advento da Lei nº 9.714, de 25 de novembro de 1988, foram
acrescidas dois tipos de penas alternativas: prestação pecuniária e perda de bens
e valores, sendo os requisitos para a prestação de serviços à comunidade ou a
entidades públicas previstas no artigo 44 do Código Penal.
Este trabalho presta-se a estudar tais penas com o intuito de verificar os
benefícios e ou malefícios decorrentes da adoção dessas normas jurídicas,
estudando as possibilidades de penas alternativas à pena de prisão na sociedade
moderna, analisando os efeitos positivos ou negativos na implantação dessas
medidas jurídicas, sendo os objetivos do trabalho:
a) Verificar a aplicabilidade das penas alternativas previstas na
legislação brasileira;
b) Demonstrar a prestação de serviços à comunidade ou a entidades
públicas como forma de pena alternativa;
C) Apresentar os benefícios alcançados com a limitação de fim de
semana como forma de pena alternativa;
15
d) Esclarecer o que vem a ser interdição temporária de direitos como
forma de pena alternativa e em quais casos concretos se aplicam;
e) Investigar em quais casos pode ser usado a prestação pecuniária
como forma de pena alternativa.
Por esse motivo, o trabalho proposto deveu-se a importância das penas
alternativas como forma de amenizar os graves problemas existentes no sistema
penitenciário nacional.
16
CAPÍTULO I
1 - ANTECEDENTES DAS PENAS ALTERNATIVAS
As penas alternativas à privativa de liberdade são tidas como sanções
modernas, pois os próprios reformadores, como Beccaria, Howard e Bentham,
não as conheceram. Embora se aceite a pena privativa de liberdade como um
marco da humanização da sanção criminal, em seu tempo, a verdade é que
fracassou em seus objetivos declarados. A reformulação do sistema surge como
uma necessidade inadiável, e teve seu início com a luta de Von Liszt contra as
penas curtas privativas de liberdade e a proposta de substituição por recursos
mais adequados 4
Nas alternativas inovadoras da estrutura clássica da privação de liberdade,
há um variado repertório de medidas, sendo que algumas representam somente
um novo método de execução da pena de prisão, outras constituem verdadeiros
substitutivos. A exigência, sem embargo, de novas soluções, não abre mão da
aptidão em exercer as funções que lhes são atribuídas, porém sem o caráter
injusto da sanção substituída.
Uma das primeiras penas alternativas surgiu na Rússia, em 1926, a
"prestação de serviços à comunidade", prevista nos arts. 20 e 30 do Código Penal
soviético. Mais tarde, o diploma penal russo (1960) criou a pena de trabalhos
correcionais, sem privação de liberdade, que deveriam ser cumpridos no distrito
do domicílio do condenado, sob a vigilância do órgão encarregado da execução
da pena, e o tempo correspondente não poderia ser computado para promoções
ou férias. Fora da Europa Continental, a Inglaterra introduziu a "prisão de fim de
semana", através do Criminal Justice Act, em 1948, e a Alemanha fez o mesmo
4
Bittencourt, Cezar Roberto Apud Von Liszt, Novas Penas Alternativas, Liszt,1927 ,p.30.
17
com uma lei de 1953, somente para infratores menores. Em 1963, a Bélgica
adotou o arresto de fim de semana, para penas detentivas inferiores a um mês.
Em 1967, o Principado de I Mônaco instituiu uma forma de "execução fracionada"
da pena privativa de liberdade, um pouco parecida com o arresto de fim de
semana, cujas frações consistiam em detenções semanais.
No entanto, o mais bem-sucedido exemplo de trabalho comunitário foi dado
pela Inglaterra com seu Community Service arder, em vigor desde a Criminal
Justice Act de 19725, que teve, por sua vez, uma pequena reforma em 1982,
diminuindo, inclusive, para dezesseis anos, o limite de idade dos jovens que
podem receber essa sanção penal. O êxito obtido pelos ingleses influenciou
inúmeros países, que passaram a adotar o instituto, ainda que com algumas
peculiaridades distintas, como, por exemplo, Austrália (1972), Luxemburgo
(1976), Canadá (1977) e, mais recentemente, Dinamarca e Portugal, desde 1982,
França, desde 1983, e Brasil, com sua reforma de 1984, sendo que nos dois
últimos o trabalho comunitário pode ser aplicado como sanção autônoma e
também como condição no sistema de sursis.
A Alemanha, que fez uma verdadeira revolução com seu Projeto Alternativo
de 1966, o qual serviu de base para a reforma de 1975, foi pouco ousada em
matéria de medidas alternativas à pena privativa de liberdade. Suas medidas
alternativas constituem-se de suspensão condicional da pena, admoestação com
reserva de pena, dispensa de pena e declaração de impunidade e livramento
condicional, além de multa, é lógico. Embora se reconheça que o Código Penal
alemão de 1975 determina que as penas privativas de liberdade inferiores a seis
meses "somente podem impor-se - segundo o seu 'parágrafo' 47, I - quando, por
especiais circunstâncias que concorrem no fato ou na personalidade do
5
Bitencourt, apud Angel Sola Duenas,1986, p. 45
18
delinqüente, seja indispensável para atuar sobre o delinqüente ou defender o
ordenamento jurídico...". Não consagra, todavia, outras modalidades mais
modernas, como, por exemplo, o arresto de fim de semana ou a prestação de
serviços de interesse social, sendo que Baumann estava de acordo com a
inclusão desta última, como pena principal 6. Higuera Guimerá recorda, no entanto,
que a Lei do Tribunal de Jovens estabelece o arresto de tempo livre - mas
somente para jovens -, que é equivalente ao arresto de fim de semana e que se
aplica durante o período livre do jovem 7. Por outro lado, a prestação de serviço
em beneficio da comunidade, que não é prevista como pena, é admitida, sem
embargo, como condição do sursis, assumindo, em outras palavras, uma forma
de execução da pena privativa de liberdade suspensa. É elogiável, porém, sob
todos os aspectos, a preocupação alemã em evitar os efeitos prejudiciais da pena
privativa de liberdade de curta duração, especialmente dessocializadores, ao
admitir, só excepcionalmente, a aplicação de pena segregativa inferior a seis
meses.
A orientação italiana tem sido muito cautelosa em termos de medidas
alternativas à prisão, embora o Código Zanardelli, de 1889, haja incluído em suas
penas a "prestação de obra a serviço do Estado". A legislação contemporânea,
todavia, prefere prever medidas alternativas à pena fora das normas do Código
Penal. As principais alternativas são prestação de um serviço social, regime de
prova, regime de semi-liberdade e liberação antecipada. Para Di Genaro, a semi-
liberdade "é uma modalidade de execução e não uma verdadeira alternativa" 8, e a
liberação antecipada, longe de constituir uma liberdade condicional, consiste na
concessão de um desconto de vinte dias por semana de cumprimento de pena ao
6
Bitencourt. Cesar Roberto apud Baumann, Novas Penas Alternativas; 1970, p. 16
7
Bittencourt. Cesar Roberto apud Higuera Guimerá. Novas Penas Alternativas: 1982. p.41 e 42
8
Bittencourt. Cesar Roberto apud Di Genaro. Novas Penas Alternativas , 1977, p. 225 e 242
19
réu que demonstre corresponder à tarefa ressocializadora. Percebe-se que a
semi-liberdade e a liberação antecipada são de fato benefícios penitenciários e
não espécies de penas substitutivas. Isso implica que, para obtê-los, o apenado
terá de ser, inicialmente, encarcerado e submeter-se a todos os efeitos
catastróficos da prisão.
A Lei n. 689, de 1981, que teve a pretensão de representar uma grande
evolução em termos de sanções penais, tem recebido profundas e generalizadas
críticas dos penalistas italianos, decepcionados com a timidez e a superficialidade
da reforma realizada. A limitação de aplicação das penas substitutivas somente a
delitos da competência dos pretores - a qual é reduzida a pequenos e
determinados delitos - e a irracional e quase "simbólica" utilização da sanção
pecuniária justificam o inconformismo dos penalistas italianos, visto que há um
grande divórcio entre a concepção doutrinária e a realidade do direito positivo.
Outra preocupação dos italianos é com a descarada ampliação das margens de
discricionariedade judicial, que, para uns, chega à ruptura de alguns dos
mecanismos de "legalidade do sistema" e, para outros, a uma indesejável mas
firme e progressiva transferência de poderes.
A insatisfatória e complexa regulamentação da referida lei faz com que os
italianos esperem por uma "reforma da reforma", o mais breve possível, que
responda às suas inquietações e à moderna política criminal, o que veio a ocorrer
com a Lei n. 663, de 1986.
O sistema penal sueco tem como princípio fundamental evitar sanções
privativas de liberdade, posto que, em geral, essas sanções não contribuem com
a adaptação do indivíduo a uma futura vida em liberdade. As sanções alternativas
à privação de liberdade são: suspensão condicional da pena, liberdade à prova e
submetimento a tratamento especial, além da multa, é claro. A suspensão
20
condicional não submete o apenado à vigilância nem impõe regras a seu modo de
viver; a liberdade à prova, por sua vez, sempre leva consigo a vigilância e
também algumas regras de conduta durante o período de prova, o que representa
um maior grau de intervenção - de controle e ajuda - na vida do condenado; e o
submetimento a tratamento especial implica na possibilidade de os tribunais, em
casos especiais, encomendarem o tratamento do indivíduo a outras autoridades
estranhas à administração penal. Esse tratamento especial é regulado por leis
também especiais, previstas para proteção de menores, assistência a alcoólatras
e assistência psiquiátrica a anormais mentais.
Finalmente, o Comitê de Supervisão encarregado de examinar novas
penas alternativas à privativa de liberdade, em 1984, recomendou a não-adoção
da, prisão por tempo livre e dos serviços à comunidade, por considerar que essas
sanções têm mais inconvenientes do que vantagens.
Na Espanha, a lei de perigosidade e reabilitação social, de 4 de agosto de
1970, introduziu o arresto de fim de semana, mas como medida de segurança.
Apesar da boa aceitação da introdução desse instituto como medida de
segurança, na prática, no entanto, tem sido de nula aplicação. O Projeto de
Código Penal de 1980 adota o arresto de fim de semana na dupla função de pena
autônoma (inferior a seis meses) e substitutiva da pena de prisão de até um ano.
A Proposta de Anteprojeto de 1983 mantém, basicamente, a mesma orientação
no que respeita ao arresto de fim de semana, introduzindo-lhe três importantes
modificações ao eliminar a prescrição obrigatória de "regime de isolamento
celular", suprimir a possibilidade de sua conversão em simples prisão domiciliar e
impedir a substituição por pena de multa. A final, com a aprovação do Código
Penal espanhol (Lei Orgânica n. 10/95), que entrou em vigor em maio de 1996,
acaba sendo adotado o arresto de fim de semana.
21
CAPÍTULO II
2 -DAS PENAS SUBSTUTIVAS
2.1 - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE OU A
ENTIDADES PÚBLICAS
A pena de prestação de serviços à comunidade, é tida como uma sanção
das mais modernas que propicia a adequação do ordenamento penal às
exigências contemporâneas de respeito aos direitos fundamentais do cidadão,
este inserido no contexto do Estado Democrático de Direito.
2.1.1 - Redação Anterior do Artigo 46 do CP
O artigo 46 do Código Penal, na sua redação anterior diz o seguinte:
“Artigo 46 - A prestação de serviços à comunidade consiste na
atribuição ao condenado de tarefas gratuitas junto a entidades
assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos
congêneres, em programas comunitários ou estatais.
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do
condenado, devendo ser cumpridas, durante 08(oito) horas semanais,
aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não
prejudicar a jornada normal de trabalho”.
2.1.2 - Redação Atual do Artigo 46 do CP
O artigo 46 do Código Penal, na sua redação atual diz o seguinte:
“Artigo 46 - A prestação de serviços à comunidade ou a entidades
públicas é aplicável às condenações superiores a 6 (seis) meses de
privação da liberdade”.
§ 1º - Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas
consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao condenado.
§ 2º - A prestação de serviços à comunidade dar-se-á em entidades
assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos
congêneres, em programas comunitários ou estatais.
Comentários: impossível a prestação do serviço numa entidade privada que
não cumpra nenhum programa comunitário, pois nesse caso haveria apropriação
indevida de mão-de-obra. Há jurisprudência em que nem a unidades militares
podem ser destinatárias desse serviço
22
§ 3º - As tarefas a que se refere o § 1º, serão atribuídas conforme as
aptidões do condenado devendo ser cumpridas à razão de 1 (uma) hora
de tarefa por dia de condenação, fixadas de modo a não prejudicar a
jornada normal de trabalho.
Comentários: as tarefas devem ser condizentes com suas aptidões, sua
situação, suas habilidades, sua cultura, religião etc.
§ 4º - Se a pena substituída for superior a 1 (um)ano, é facultado ao
condenado cumprir a pena substitutiva em menor tempo ( art. 55), nunca
inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada, ou seja, poderá o
condenado cumprir mais horas por dia ou na semana e desse modo
resgatar a pena em tempo menor.
2.1.3 - Redação do Artigo 55 do CP
“Artigo 55 - As penas restritivas de direito referidas nos incisos III, IV, V, e
VI do Art. 43 terão a mesma duração da pena privativa de liberdade
substituída, ressalvado o disposto no § 4º do Art. 46 do CP”.
Tais tarefas devem ser cumpridas aos sábados, domingos e feriados, ou
em dias úteis, desde que não prejudique a jornada normal de trabalho do
condenado. Essa preocupação é própria das penas alternativas, já que foram
concebidas com o objetivo de alterar no mínimo a vida de quem cumpre.
Diferentemente da prisão, que alem de tirar a própria liberdade do
condenado tira-lhe também o trabalho, o convívio com os familiares e com a
sociedade, a prestação de serviços à comunidade busca exatamente o contrário,
pois através do envolvimento social do sentenciado com a comunidade e com as
questões sociais, procura reorientá-lo no sentido de não mais delinqüir.
Anteriormente o condenado deveria prestar serviços durante 8 (oito) horas
semanais, pelo período determinado pelo juiz. Com a nova lei, as tarefas devem
ser cumpridas na razão de 1 (uma) hora por dia de condenação, ou seja, se a
condenação for de sete meses, compreenderá em média 212 dias, equivalendo a
212 horas de trabalho, devendo ser cumpridas 7 (sete)horas semanais fixada de
modo a não prejudicar a jornada de trabalho da pessoa que estará cumprindo a
pena.
23
A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas só poderá
substituir a pena privativa de liberdade quando esta for superior a 6 (seis) meses.
Penas inferiores a esse patamar não podem, em absoluto, ser substituídas pôr
prestação de serviços.
Quanto a constitucionalidade dessa pena não há o que se discutir, tendo
em vista que no Art. 5º, inciso XLVI, letra “d” (prestação social alternativo),o qual
não se confunde com o trabalho forçado (que é um conceito utilizado em relação
a toda tarefa atribuída a quem se encontra em cumprimento da pena de prisão,
mesmo contra a vontade do condenado). Precisamente porque a prestação de
serviços à comunidade ou entidades públicas apresenta-se como forma
humanitária e alternativa à prisão.
Há de se ressaltar que essa pena restritiva não cria relação empregatícia e
tampouco admite o instituto da remição.
Com relação a eventuais acidentes, quando da prestação de serviço
realizada pelo condenado, no Japão pôr exemplo existe uma apólice de seguro
durante o tempo de prestação do serviço. No Brasil não há esse seguro, se
houver um acidente envolvendo o condenado, o responsável é o próprio Estado,
porque o condenado está cumprindo uma pena.
24
3 - COMPETÊNCIA PARA SUBSTITUIR A PRISÃO POR
PENA RESTRITIVA
A competência para substituir a prisão pôr pena restritiva é primordial e
originalmente do juiz da sentença. A execução compete ao juízo da vara de
execuções.
Prevista no Art. 149, inc. I e II, da LEP (Lei de Execução Penal), a ele cabe
“designar a entidade ou programa comunitário ou estatal, devidamente
credenciado ou conveniado, junto ao qual o condenado deverá trabalhar
gratuitamente, de acordo com suas aptidões”, bem como fixar os dias e horário de
cumprimento da pena.
Conforme o Art. 150 da LEP, a entidade beneficiada com a prestação de
serviços encaminhará mensalmente, ao juiz da execução, relatório
circunstanciado das atividades do condenado, bem como, a qualquer tempo,
comunicação sobre ausência ou falta disciplinar do mesmo.
Se descumprida injustificadamente a prestação de serviços à comunidade
dar-se-á sua conversão em pena privativa de liberdade.
25
4 - LIMITAÇÃO DE FIM DE SEMANA
Assim como a prestação de serviço à comunidade esta pena busca evitar
outros males trazidos pelo cárcere, principalmente no que se refere ao trabalho e
às relações familiares do sentenciado, impedindo assim que, mesmo
indiretamente, os efeitos da condenação, porém da pena do condenado vindo a
atingir sua família.
Tal pena está incerta no artigo 48 do Código Penal, que traz a seguinte
redação:
“Artigo 48 - A limitação de fim de semana consiste na obrigação de
permanecer, aos sábados e domingos, por 5 (cinco) horas diárias, em
casa de albergado ou outro estabelecimento adequado.
Parágrafo Único – Durante a permanência poderão ser administrado aos
condenados cursos e palestras ou atribuídas atividades educativas”.
Esta pena foi instituída com a finalidade de substituir as penas privativas de
liberdade de curta duração.
A casa de albergado deverá situar-se em centros urbanos, servidos por
transporte coletivo para facilitar o acesso.
Poderá o juiz das execuções penais, havendo necessidade de algum
ajuste, faze-lo amparado na lei de execuções penais, que em seu artigo 148
estabelece:
“Art. 148 – Em qualquer fase da execução, poderá o juiz, motivadamente,
alterar a forma de cumprimento das penas de prestação de serviços à
comunidade e de limitação de fim de semana, ajustando-as às condições
pessoais do condenado e às características do estabelecimento, da
entidade ou do programa comunitário ou estatal”.
Compete ao juiz a substituição da pena de prisão por limitação de fim de
semana.
Se a pena de limitação de fim de semana for aplicada e não cumprida, esta
será convertida em pena restritiva de prisão como estabelece o artigo 44 § 4º do
26
Código Penal.
Mas na realidade é que nem todas as Comarcas tem casas de albergado
ou outro estabelecimento adequado para o cumprimento da pena, e mesmo onde
existe não há pessoal qualificado para fazer cumprir as atividades da restrição de
fim de semana. De tal forma que os juízes não têm condenado a esta pena para
não gerar a impunidade.
Como foi dito, esta pena não tem tido sucesso, por causa dos problemas
de infra-estrutura em locais onde não há casa de albergado ou outro
estabelecimento correspondente, o fato é que os juízes para evitar problemas,
preferem aplicar a pena de prestação de serviços à comunidade a pena de
limitação de fim de semana.
Isto não significa que seja uma pena ruim, o que falta é apenas boa
vontade dos órgãos competentes, para que os problemas referentes a execução
dessa pena sejam resolvidos.
27
5 - PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA
Esta é uma das novas penas regulamentadas pela lei nº 9.714 de 25 de
novembro de 1998. “Consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus
dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social”, segundo o
artigo 45, § 1º do Código Penal Brasileiro.
“Art. 45 – Na aplicação da substituição prevista no artigo anterior,
proceder-se-á na forma deste e dos arts. 46, 47 e 48.
§ 1º- A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima,
a seus dependentes, ou a entidade pública ou privada com destinação
social, de importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo
nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O valor pago
será deduzido do montante de eventual condenação em ação de
reparação civil, se coincidentes os beneficiários.”
A importância será fixada pelo juiz com valor não inferior a 1 (um) salário
mínimo e não superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. Se houver
condenação em ação civil, se coincidentes os beneficiários, deverá ser deduzida
da indenização o valor da prestação pecuniária.
A prestação pecuniária não se confunde com a pena de multa já que na
última é calculada em dias multa e se destina ao fundo penitenciário. A multa só
pode ser aplicada nos crimes em que a lei expressamente determine, enquanto
que a prestação pecuniária substitui a pena de prisão nos crimes de um modo
geral, desde que atenda os requisitos necessários para esta substituição. A forma
desse pagamento pode ser à vista ou em parcelas. Quando da prática do crime
resultar vítima, a indenização será feita a esta ou aos seus dependentes, se não
houver nenhuma vítima a indenização será feita a entidades públicas ou privadas
com destinação social (creches, hospitais, asilos, etc.). Estas entidades
encaminharão mensalmente ao juiz da vara de execuções penais, relatório
circunstanciado, se o sentenciado tem ou não cumprido com suas obrigações
28
como determina o artigo 150 da lei de execuções penais.
O juiz tema liberdade de estipular o valor da prestação pecuniária, não
tendo nenhuma ligação entre o quantum de pena de prisão importar e a quantia
da prestação pecuniária. Cabe ao juiz descobrir em cada caso concreto, um valor
que seja suficiente para a prevenção do delito, levará em conta a situação
econômica do acusado.
Se o acusado pagar algumas prestações e parar, terá sua pena de
prestação pecuniária convertida em pena de prisão, descontadas as
mensalidades as quais teriam sido pagas ou cumpridas pelo réu.
Se esta modalidade de pena alternativa não for aceita pelo beneficiário,
poderá esta consistir em prestação de outra natureza, como cesta básica,
equipamentos para polícia, materiais de construção, materiais escolares, etc. A
prestação pecuniária propriamente dita é pouco adotada, principalmente quando a
entidade for pública ou privada ou mesmo com destinação social, pois há uma
grande desconfiança quanto ao destino das verbas sociais.
29
6 - INTERDIÇÃO TEMPORÁRIA DE DIREITOS
Diferentemente das outras três modalidades de penas alternativas, a
interdição temporária de direitos é específica e só poderá substituir a prisão em
determinados crimes, praticados com abuso ou violação dos deveres inerentes ao
cargo, função profissão atividade ou ofício. Conforme diz Bitencourt :
“As interdições temporárias não se confundem com os efeitos da
condenação, que não são sanções penais, mas apenas conseqüências
reflexas da decisão condenatória. A interdição de direitos é uma sanção
penal aplicável independentemente da sanção que couber no âmbito
ético ou administrativo”9
De acordo com o art. 47 do CP, as interdições previstas são:
a) Proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como
de mandato eletivo;
b) Proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam
de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público;
c) Suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo Com a
edição da Lei nº 9.714/98, foi acrescida mais uma interdição:
d) Proibição de freqüentar determinados lugares.
Temos, assim, quatro penas de interdição temporária de direitos. São
penas restritivas e substitutivas de prisão. Logo, jamais podem ser aplicadas junto
com a prisão, dentro do sistema do Código Penal.
Vale ressaltar, que as interdições implicam numa obrigação de não fazer
(não exercício do cargo ou da profissão, não dirigir, não freqüentar lugares) e são
sempre temporárias, como o próprio nome indica, (não se confundem, pois, com
9
Bittencourt. César Roberto. Falência da Pena de Prisão Causas e Alternativas. São Paulo.
Revista dos Tribunais, 1993..p. 287
30
os efeitos secundários previstos no artigo 92 do CP). As hipóteses de cabimento e
requisitos são as mesmas do artigo 44.
“Artigo 44 – As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem
as privativas de liberdade, quando:
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a 4 (quatro) anos e
o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou,
qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
II – o réu não for reincidente em crime doloso;
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade
do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que
essa substituição seja suficiente.”
6.1 Proibição do exercício de cargo, função ou atividade
pública, bem como de mandato eletivo
O conceito de cargo, função ou atividade pública está no artigo 327 do
Código Penal:
“Artigo 327 – Considera-se funcionário público, para os efeitos penais,
quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,
emprego ou função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou
função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa
prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de
atividade típica da Administração Pública.”
Essa pena restritiva é específica porque somente é aplicável para crime
cometido no exercício do cargo, função ou atividade, sempre que houver violação
dos deveres que lhe são inerentes, (Art. 56, CP). É uma pena que somente se
aplica aos crimes nos quais se constata o nexo funcional.
A proibição do exercício de cargo, função, ou atividade pública é a
suspensão temporária desse direito, não significando perda de cargo, função, ou
atividade pública, posto que isto constitui efeito específico de condenação, de
acordo com o art. 92, I do CP, ao fim do período determinado em sentença, o
condenado volta a assumir suas funções, atividades, etc.
No que diz respeito à proibição para o exercício de mandato eletivo, deve-
se observar se o sentenciado deve estar no exercício do mandado. Não diz
31
respeito ao direito de ser eleito e sim a perda do direito de exercer o mandato que
estiver cumprindo enquanto durar essa interdição, voltando às duas funções
eletivas após cessar a pena.
Entretanto, essa regra comporta uma exceção no que diz respeito ao
deputado federal e senador na regra específica constitucional. Para preservar seu
mandato assim como a autonomia do legislativo frente aos demais poderes, todo
e qualquer deslize desse parlamentar (falta de decoro, violação de proibições,
suspensão de direitos políticos e inclusive caso de condenação criminal), nos
termos do art. 55, inciso VI, § 2º da CF, só pode ser sancionado com a perda do
mandato. Portanto, constitucionalmente, não existe a figura da suspensão
temporária do mandato decretado por outro poder. O Juiz Criminal não pode
proibir o exercício do mandato desses parlamentares após o trânsito em julgado,
a sentença condenatória deve ser encaminhada à casa respectiva para os fins do
§ 2º do art. 55 que cuida do procedimento da perda do mandato.
6.2 Proibição do exercício de profissão, atividade ou
ofício que dependam de habilitação especial, de
licença ou autorização do poder público
No que se refere a proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício
que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder
público, tal restrição também está relacionada com crimes praticados em seu
exercício.
Para receber esta sanção, o condenado deve ter agido com abuso ou
infringência dos deveres inerentes à atividade ou profissão. Não diz respeito a
qualquer profissão, mas somente aquelas que necessitam de habilitação especial
ou de autorização do poder público para serem exercidas. Como exemplo as
32
profissões de médico, advogado, engenheiro, etc.
O réu condenado a essa pena restritiva, desde que cumpra as exigências
legais, pode, mesmo durante o cumprimento da pena exercer outra profissão,
atividade ou ofício, distinto do que ensejou a condenação.
6.3 Suspensão de autorização ou de habilitação para
dirigir veículo
É uma pena específica porque somente pode ser aplicada nos crimes
culposos de trânsito (Art. 57, CP). Não se confundem a suspensão para dirigir
veículo com a inabilitação do art. 92, III, do CP. (este somente é impossível
quando se usa o veículo como meio para cometimento de crime doloso).
Com o advento do Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503, de 23 de
setembro de 1997), essa pena restritiva de direitos sofreu alteração. Segundo
esse código a suspensão ou proibição de se obter a permissão ou habilitação
para dirigir veículo automotor pode ser imposta como penalidade principal, isolada
ou cumulativamente com outras penalidades (art. 292). No sistema do CP, (art.
43), a suspensão da habilitação aparece como pena restritiva de direito
substitutiva, isto é, primeiro é preciso aplicar a pena de prisão, para depois
substituí-la pela restritiva de direito. Dentro do CTB, essa mesma pena pode ser
cumulativa (com outra sanção) ou principal, isso significa que o juiz, em tese, vai
poder aplica-la diretamente, sem passar pela pena de prisão (e é o que ocorre,
por exemplo, nos casos de transação nos Juizados Especiais Criminais). Na
eventualidade de que não haja transação nem suspensão do processo, chegando
o juiz na pena de prisão ele poderá substituir, nos crimes culposos de trânsito (art.
57, CP), a pena de prisão pela restritiva de direitos consistentes na suspensão da
habilitação, (arts. 44 e 47, II do CP).
33
Entretanto, para o mestre LUIZ FLÁVIO GOMES a parte do artigo 47, III
que fala “suspensão da habilitação” foi derrogada pelo CTB, pois segundo ele:
“Sabe-se que a pena restritiva de direitos só se aplica aos crimes
culposos de trânsito. Ocorre que nos dois crimes culposos de trânsito
previstos no novo CTB (homicídio e lesão corporal) a pena de suspensão
de habilitação já vem cominada no tipo (é pena cumulativa). Logo, em
razão de incompatibilidade manifesta, impossível nessas hipóteses
substituir a prisão pela suspensão da habilitação”.10
Faz-se necessário frisar que somente se aplica a pena de suspensão de
autorização em relação a quem já é autorizado a dirigir. Essa suspensão não
impede a incidência do art. 160 do CTB (que impõe a submissão de novos
exames de habilitação ao condutor que for condenado por crime de trânsito).
6.4 Proibição de freqüentar determinados lugares
Com o advento da Lei 9.714/98, foi introduzida mais uma interdição de
direitos que é a proibição de freqüentar determinados lugares. Essa proibição já
estava prevista no Código Penal como uma das condições da suspensão
Condicional da Pena (art. 78, § 2º, alínea “a”).
Tal restrição, assim como as demais acima citadas, só justificará sua
imposição se relacionada com a prática do crime.
Vamos dar um exemplo: “A” agride “B” em uma casa noturna, “A” é
condenado a um ano de detenção por lesões corporais. Nesse caso, tendo o juiz
examinado ser essa pena suficiente para a prevenção de novo crime,
consideramos pertinente a substituição. O crime ocorreu influenciado pelo
ambiente do lugar. Normalmente é freqüente agressões e brigas em casas
noturnas, devido a influência de vários fatores, tais como, a idade dos
freqüentadores, o uso de bebidas alcoólicas, etc. É muito comum acontecer
10
Gomes. Luiz Flávio art. 47 CPP
34
crimes dessa natureza, assim como o crime de dano, em estádios de futebol e
esportes de grandes aglomerações. Nesses casos a substituição da prisão pela
proibição de freqüentar tais lugares, é uma alternativa interessante.
Entretanto, constitui obrigação impostergável do juiz individualizar
corretamente essa pena restritiva. Assim, ao juiz cabe dizer com clareza
inequívoca quais são os lugares proibidos de freqüentar. Observe-se que a lei diz:
“proibição de freqüentar determinados lugares”. Se o juiz na sentença assim não
proceder, urge a interposição de embargos de declaração. Nenhuma pena pode
possuir conteúdo indeterminado.
35
7 - PERDA DE BENS E VALORES
A pena de perda de bens e valores, instituída pela nova lei que alterou o
artigo 44 do Código Penal, também é pena restritiva de direitos, e acha-se
autorizada pelo artigo 5º, LXVI, b, da Constituição Federal e, conforme estabelece
o artigo 45, parágrafo 3º do Código Penal Brasileiro:
“§ 3º - A perda de bens e valores pertencentes aos condenados dar-se-
á, ressalvada a legislação especial, em favor do Fundo Penitenciário
Nacional, e seu valor terá como teto – o que for maior – o montante do
prejuízo causado ou do provento obtido pelo agente ou por terceiro, em
conseqüência da prática do crime.”
Portanto, constitui essa pena, num confisco em favor do Fundo
Penitenciário Nacional, salvo disposição em legislação especial, de quantia que
pode atingir até o valor referente ao prejuízo causado ou do provento obtido pelo
agente ou por terceiro, em conseqüência da prática do crime, prevalecendo
aquele que for maior.
Evidentemente, também fica ressalvado que tais bens e valores serão
destinados, com preferência, ao lesado ou a terceiro de boa-fé, conforme
estabelece o artigo 91, II do Código Penal:
“Artigo 91 – São efeitos da condenação:
I – tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;
II – a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de
terceiro de boa-fé.”
36
8 - MULTA SUBSTITUTIVA
A multa pode ser abstratamente imposta no tipo incriminador como pena
comum, ou substitutiva.
A substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos ou de
multa depende de existência dos requisitos mencionados no art. 44, com redação
dada pela Lei 9.714/98.
O juiz só poderá proceder à substituição se a pena privativa de liberdade
aplicada inicialmente, por crime doloso, não for superior a quatro anos, com
exceção da pena de prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas.
Tratando-se de condenação a pena igual ou inferior a um ano, a
substituição pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se
superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma
pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos.
Havendo o concurso de crimes, a substituição é possível quando o total
das penas não ultrapassa o limite de quatro anos (com exceção dos crimes
culposos). Quando se trata de concurso formal ou crime continuado em ilícitos
dolosos, a substituição deve ser feita por uma só pena restritiva de direito ou
multa, mas no caso de concurso material, a substituição poderá ser efetuada por
duas ou mais penas alternativas idênticas (quando os crimes forem idênticos), ou
ainda por penas substitutivas diversas.
Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado
cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente
as demais penas, conforme estabelece o artigo 69, § 2º do CP.
“Artigo 69 – Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente
as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de
aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se
37
primeiro aquela”.
§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena
privativa de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais
será incabível a substituição de que trata o art. 44 deste Código.
§ 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado
cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis entre si e
sucessivamente as demais.”
Inserido na nova lei existe um segundo requisito objetivo, o de proibir a
substituição da pena quando se tratar de crime praticado com violência ou grave
ameaça à pessoa, qualquer que seja a quantidade da pena privativa de liberdade
imposta.
Portanto, não é possível a aplicação do disposto no artigo 44 do Código
Penal aos crimes de roubo, extorsão, estupro, rapto, etc, ainda que tentados.
Observa-se entretanto, que em tese, alguns desses crimes pode ser praticado
sem violência ou grave ameaça à pessoa, como o roubo executado utilizando-se
de narcóticos, ou então o rapto executado através de fraude, admitindo-se nestes
casos, o benefício da substituição.
Ainda, embora não vedação expressamente constante do Código Penal,
não é possível a substituição quando se tratar de crimes hediondos ou a ele
equiparados, ainda que não cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa.
Tal impossibilidade se justifica na disposição do artigo 2º, § 1º, da Lei 8.072, de
25/07/1990, que exige o cumprimento integral da pena em regime fechado.
Há que se ressaltar ainda, que não são estes os únicos requisitos que
determinam a possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade pela
pena restritiva de direitos. Indispensáveis são também os requisitos subjetivos
previstos no artigo 44, incisos II e III, que se referem às condições pessoais do
condenado, tais como de não ser o condenado reincidente em crime doloso, e
também, que a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do condenado bem como os motivos e as circunstâncias, indiquem
38
que a substituição é suficiente.
Não têm direito à substituição, aqueles condenados, que pelos elementos
conhecidos na instrução criminal, demonstrem incompatibilidade com a
convivência social harmônica, que tiverem antecedentes comprometedores, ainda
que não tenham sido condenados anteriormente, e ainda, aqueles que
apresentem conduta marcada por fatos anti-sociais ou que não tenham profissão
definida, emprego fixo ou residência determinada.
39
CAPÍTULO III
I - Apresentação
A relevância das penas e medidas alternativas, nos dias atuais, tem levado
os vários órgãos do sistema penal a refletirem e investirem em ações e metas
visando racionalizar suas práticas.
Nesse contexto, em outubro de 2000, o Ministério Público do Distrito
Federal e Territórios iniciou projeto com objetivo de criação de estrutura
administrativa para apoiar os promotores de justiça na aplicação e execução de
penas e medidas alternativas
Seguindo essa meta, em agosto de 2001 foi implantado o projeto-piloto da
Central de Medidas Alternativas-CEMA, na promotoria de justiça de Ceilândia.
Nesse momento, foi possível validar as idéias e ações que fundamentam a
estruturação e os trabalhos da CEMA. Assim, em 2003, foi efetivamente criada a
CEMA e iniciou-se sua expansão pelas promotorias de justiça de Taguatinga e
Samambaia, com a idéia de maior participação da comunidade na administração
da Justiça Penal.
A CEMA tem por objetivo tratar as informações sobre penas e medidas
alternativas aplicadas, avaliar seus resultados, acompanhar seu cumprimento e
realizar parcerias com instituições, visando imprimir maior efetividade nas ações
desenvolvidas. Como um dos produtos, tornou-se possível a formação de banco
de dados, que viabilizou a realização deste retrato.
A presente publicação é uma análise situacional elaborada por promotores
de justiça e analistas do MPDFT, sem cunho evolutivo, da atuação das
40
promotorias de justiça na aplicação e execução de penas alternativas nas cidades
de Ceilândia, Samambaia e Taguatinga. Trata-se de prévia de produtos que
poderão ser desenvolvidos continuamente pela CEMA, com o fim de disponibilizar
para a comunidade dados sobre as penas alternativas, com vistas a dar maior
transparência às atividades desenvolvidas pela Justiça penal, bem como auxiliar
em pesquisas sobre o tema.
Esperamos, assim, contribuir para a racionalização das práticas da Justiça
na área criminal, e para a evolução dos mecanismos de aproximação da
comunidade com o sistema penal.
II - Fenômeno Estudado
O fenômeno a ser estudado são as penas e medidas não-privativas de
liberdade aplicadas em Ceilândia, no período de janeiro de 2003 a abril de 2004,
e Taguatinga e Samambaia, no período de setembro de 2003 a abril de 2004.
O período de estudo é variado em razão das diferentes. datas de
implantação da Central de Medidas Alternativas - CEMA. A CEMA é um órgão
administrativo responsável por produzir informações para garantir a qualidade à
aplicação e ao acompanhamento da execução de penas e medidas alternativas. A
CEMA foi implantada como projeto-piloto em Ceilândia, no ano de 2001 e
validado em 2003. Nas cidades de Taguatinga e Samambaia, a CEM A foi
implantada em setembro de 2003.
Durante a textualização do trabalho, será utilizado o termo pena alternativa
para designar todas as penas e medidas não"privativas de liberdade, de forma a
facilitar sua leitura.
41
III - Planejamento do Trabalho
1 - Objetivo do Trabalho
O objetivo do estudo é traçar o retrato das ações relacionadas a penas e
medidas alternativas que vêm se desenvolvendo nas promotorias de justiça
criminais, especiais criminais, e do tribunal do júri das circunscrições de Ceilândia,
Taguatinga e Samambaia.
2 - Universo de Estudo
O universo de estudo são as penas e medidas alternativas aplicadas em
Ceilândia, no período de janeiro de 2003 a abril de 2004, e em Taguatinga e
Samambaia, de setembro de 2003 a abril de 2004.
3 - Hipóteses
As hipóteses aqui formuladas são afirmações feitas com base em
informações do Ministério da Justiça, bem como opiniões diversas acerca do
tema.
"Atualmente, o percentual de aplicação de pena de prisão é de 50%,
comparado à aplicação de pena alternativa."
"A circunscrição que apresenta o maior número de penas alternativas
aplicadas, entre Ceilândia, Taguatinga e Samambaia, é Ceilândia."
"Dos delitos praticados que resultam na aplicação de pena alternativa, os
de maior incidência são os contra o patrimônio."
"A cesta básica é a pena aplicada na maioria dos casos."
42
"A aplicação da pena alternativa tem caráter discricionário."
4 - Base de Dados (Fonte de Consulta)
Banco de dados do Sistema de Medidas Alternativas e do Sistema de
Controle de Processos do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.
Os dados sobre pena de prisão foram retirados das cartas de sentença
expedidas pelas varas criminais e pelo tribunal do júri das circunscrições
judiciárias de Ceilândia, Taguatinga e Samambaia.
5 - Variáveis de Estudo
o Procedimento: refere-se ao procedimento adotado para aplicação da pena
a) Transação Penal
b) Suspensão Condicional do Processo
c) Carta de sentença
o Circunscrição Judiciária onde a pena foi aplicada:
Ceilândia
I) Delito
II) Pena Aplicada
III) Sexo
IV) Idade
V) Escolaridade
VI) Análise Temporal de aplicação e cumprimento da pena
VII) Cumprimento da Pena
43
6 - Análise de Dados (síntese)
Afirmações e conclusões a respeito das hipóteses, do objetivo do trabalho
e das variáveis preestabelecidas.
7 - Restrições nas informações
Os estudos referentes a penas aplicadas e executadas apenas abrangem
os procedimentos de transação penal e de suspensão condicional do processo.
Tal fato ocorre porque a competência judiciária para aplicar e para executar as
penas alternativas nem sempre coincide. No caso de penas aplicadas por
sentença condenatória (carta de sentença), embora a condenação se dê nas
circunscrições de Taguatinga, Samambaia e Ceilândia, sua execução ocorre em
Brasília. Como ainda não há Central de Medidas Alternativas em Brasília, os
bancos de dados não contêm informações sobre as penas relacionadas a esses
procedimentos ou sobre o acompanhamento dessas penas.
No Distrito Federal, existe vara especializada para julgar os delitos da Lei
n° 6.368/76 (trafico ilícito e uso indevido de substancias entorpecentes). Portanto,
no período analisado, os casos de porte de drogas, inclusive os praticados nas
cidades de Ceilândia, Taguatinga e Samambaia, eram processados em Brasília,
onde ainda não há Central de Medidas Alternativas.
IV - Metodologia do Trabalho
A partir de consulta dos bancos de dados do Sistema de Medidas
Alternativas e o Sistema de Controle de Processos do Ministério Público do
Distrito Federal e Territórios foram colhidas as informações necessárias para a
44
análise e estudo de cada variável definida, procedendo-se ao cruzamento entre.
as variáveis tomando por base as hipóteses previamente definidas. As
representações gráficas e tabulares mostram o resultado das informações
extraídas.
A metodologia utilizada para a análise das informações tomou como base a
seguinte estrutura:
a) Quando da análise do delito, este será relacionado diretamente
com o autor do fato. Ou seja, se um autor do fato praticou dois
delitos, serão tabulada duas ações para o mesmo autor do fato;
b) Quando da análise da pena, esta será relacionada diretamente
com o autor do fato. Assim, se um autor do fato recebeu duas
penas em razão do mesmo procedimento, serão registradas duas
ações para o mesmo autor;
c) Quando da análise de procedimento, a relação é de um
procedimento para um autor do fato.
V - Análise e Relacionamento de Dados
1 - Análise das penas aplicadas
1.1 - Pena de Prisão x Pena Alternativa
Considerando que no período de setembro de 2000 a abril de 2004 1.040
autores de fatos receberam pena alternativa e 413 autores de fatos receberam
pena de prisão, as penas alternativas representam hoje 72% das penas aplicadas
45
na região de Taguatinga, Ceilândia e Samambaia. Ceilândia destaca-se por
possuir quase metade das penas alternativas aplicadas no período analisado
(47,1%).
Tabela 1 - Número de autores de fatos que receberam pena alternativa e pena
de prisão x Procedimentos x Circunscrição Judiciária (setl03 a abr/O4)
INSTITUTO CEILÂNDIA
CARTA DE SENTENÇA 68 10,5%
REGIME ABERTO
SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO 70 10,9%
TRANSAÇÃO PENAL 352 54,6%
Subtotal-penas alternativas 490 76,0%
REGIME SEMI-ABERTO 110 17,1%
REGIME FECHADO 45 7,0%
Subtotal – penas de prisão 155 24,0%
Total 645 100,0%
Tabela 1.1 - Comparação entre o número de autores de fatos que receberam
pena alternativa e o número de autores de fatos que receberam pena de prisão
(set/03 a abr/O4 )
Pena Alternativa 1040
Pena de Prisão 413
Total 1453
1.2 Autores de Fato que receberam Penas Alternativas x
Delito Praticado
A tabela abaixo apresenta as vinte categorias de delitos mais praticados por
autores de fatos que receberam penas alternativas. Observa-se que o delito de
porte de arma figura em primeiro lugar (23 %), seguido do delito de furto (10,6%)
e das infrações ao Código Nacional de Trânsito (10,4 %).
Cabe ressaltar que crimes contra o patrimônio (furto, receptação, estelionato e
46
roubo) representam, no seu somatório, 25,1 %, confirmando a hipótese de quedos
delitos praticados que resultam na aplicação de pena altero ativa, os de maior
incidência são os contra o patrimônio.
Verifica-se, também, que há mais autores de fatos punidos por delitos
cometidos contra autoridades públicas (desacato, resistência e desobediência -
12%) do que autores de fatos punidos por abuso de autoridade (0,7 %).
Tabela 1.2 - Autores de fato que receberam penas alternativas x Delito
Praticado (set/03 a abr/O4)
Delitos Ceilândia Samambaia Taguatinga Total
Porte de Arma 127 26,8% 56 31,3% 9 4,9% 192 23,0%
Furto 23 4,9% 10 5,6% 55 30,2% 88 10,6%
Código de Trânsito 49 10,4% 24 13,4% 14 7,7% 87 10,4%
Receptação 47 9,9% 5 2,8% 15 8,2% 67 8,0%
Lesão Corporal 43 9,1% 19 10,6% 4 2,2% 66 7,9%
Contravenções Penais 50 10,6% 6 3,4% 7 3,8% 63 7,6%
Ameaça 34 7,2% 18 10,1% 7 3,8% 59 7,1%
Desacato 25 5,3% 16 8,9% 9 4,9% 50 6,0%
Resistência 19 4,0% 7 3,9% 4 2,2% 30 3,6%
Estelionato 13 2,7% 1 0,6% 12 6,6% 26 3,1%
Roubo 2 0,4% 0,0% 18 9,9% 20 2,4%
Desobediência 15 3,2% 4 2,2% 1 0,5% 20 2,4%
Maus Tratos 10 2,1% 4 2,2% 2 1,1% 16 1,9%
Dano ao Meio Ambiente 5 1,1% 1 0,6% 6 3,3% 12 1,4%
Loteamento 1 0,2% 0,0% 9 4,9% 10 1,2%
Abuso Autoridade 3 0,6% 5 2,8% 0,0% 8 1,0%
Ordem Econômica 5 1,1% 2 1,1% 0,0% 7 0,8%
Uso de Documento falso 1 0,2% 0,0% 4 2,2% 5 0,6%
Corrupção de Menores 0,0% 0,0% 4 2,2% 4 0,5%
Sonegação Fiscal 1 0,2% 1 0,6% 2 1,1% 4 0,5%
Total 473 100,0% 179 100,0% 182 100,0% 834 100,0%
1.3 Tipo de pena x Número de Penas Aplicadas
A prestação pecuniária e a prestação de serviços são as penas mais
aplicadas, e, somadas, atingem 54% do total de penas.
Apesar de, isoladamente, a prestação pecuniária ser a pena mais utilizada,
representa somente 35,4% do total, o que refuta a hipótese de que o pagamento
47
de cesta básica é a pena aplicada na maioria dos casos.
Cabe destacar, também que a reparação do dano é ainda uma das penas menos aplicadas 0,8%.
Tabela 1.3.- Tipo de pena aplicada x Circunscrição Judiciária (set/03 a abr/O4)
Pena Ceilândia Samambaia Taguatinga Total
Prestação pecuniária 269 39,3% 141 42,3% 92 22,9% 502 35,4%
Prestação de serviço 156 22,8% 73 21,9% 39 9,7% 268 18,9%
Comparecimento ajuízo 83 12,1% 38 11,4% 85 21,1% 206 14,5%
Proibição de se ausentar da 66 9,6% 37 11,1% 83 20,6% 186 13,1%
Comarca
Proibição de freqüentar 59 8,6% 35 10,5% 48 11,9% 142 10,0%
Lugares
Outras condições 3 0,4% 4 1,2% 52 12,9% 59 4,2%
Participação em cursos 17 2,5% 0,0% 0,0% 17 1,2%
Recolher-se à residência até 17 2,5% 0,0% 0,0% 17 1,2%
determinada hora
Reparação do dano 6 0,9% 3 0,9% 2 0,5% 11 0,8%
Comparecimento a grupos de 8 1,2% 2 0,6% 1 0,2% 11 0,8%
Saúde
Total 684 100,0% 333 100,0% 402 100,0% 1419 100,0%
Tabela 1.4 - Prestação pecuniária/serviços x outras penas (set/O3 a abr/O4)
Pena Total
Prestação pecuniária / serviços 770
Outras Penas 649
48
2 - Análise do perfil do autor do fato
2.1. Distribuição de Autor do Fato segundo Sexo, Idade e
Escolaridade
Considerando o total de 1.098 autores de fato, no período de 2003 a 2004,
com identificação de escolaridade, nas circunscrições de Taguatinga, Ceilândia e
Samambaia, verifica-se que, deste total, 89% são do sexo masculino e 11 % são
do sexo feminino Observa-se, também, que a maioria está na faixa etária de 25 a
39 anos, com escolaridade de 1º grau incompleto.
Tabela 2. - Distribuição de Autor do Fato por Sexo (2003 a 2004)
Feminino 125
Masculino 973
Total geral 1098
Tabela 2.1 - Distribuição de Autor do Fato segundo Sexo, Idade e
Escolaridade (2003/2004).
Faixa Etária
Escolaridade 18-24 25-39 40-54 55+ Total geral
Analfabeto - F 3 3
Analfabeto - M 4 8 4 6 22
Fundam. incomp. - F 13 23 10 4 50
Fundam. incomp. - M 178 215 60 14 467
Fundam. compl. - F 5 9 7 21
Fundam. compl. - M 47 91 20 9 167
Médio incomp. - F 5 5 4 14
Médio incomp. - M 57 38 5 2 102
Médio compl. - F 7 17 5 29
Médio compl. - M 37 107 28 3 175
Superior mcomp. - F 1 1 2
Superior mcomp. - M 6 14 5 25
Superior – F 2 2 2 6
Superior – M 2 5 5 3 15
Total geral 362 537 155 44 1098
49
2.2 - Delito x Sexo
Constata-se do gráfico abaixo que para o sexo masculino, a maior
incidência é no delito de porte de arma, seguido de furto e crimes previstos no
Código de Trânsito. Para o sexo feminino, o delito de lesões corporais figura em
primeiro lugar, seguido de maus-tratos e furto.
Em análise mais detalhada, dos delitos relacionados ao sexo masculino,
verifica-se que o somatório dos crimes contra o patrimônio (estelionato, furto,
roubo e receptação) está no mesmo grau de incidência do porte de arma. No caso
do sexo feminino, os delitos contra o patrimônio (44) são 100% maior que o delito
de maior incidência (lesão corporal - 22).
Tabela 2.2 Delito x Sexo (2003 a 2004)
Delito Feminino % Masculino % Total geral %
Porte de Arma 15 9,2% 305 25,7% 320 23,7%
Furto 19 11,7% 138 11,6% 157 11,6%
Código de Trânsito 10 6,1 % 125 10,5% 135 10,0%
Lesão Corporal 22 13,5% 83 7,0% 105 7,8%
Ameaça 9 5,5% 95 8,0% 104 7,7%
Receptação 6 3,7% 94 7,9% 100 7,4%
Contravenções Penais 13 8,0% 81 6,8% 94 7,0%
Desacato 12 7,4% 53 4,5% 65 4,8%
Estelionato 17 10,4% 27 2,3% 44 3,3%
Roubo 2 1,2% 41 3,5% 43 3,2%
Resistência 8 4,9% 31 2,6% 39 2,9%
Maus Tratos 21 12,9% 15 1,3% 36 2,7%
Desobediência 3 1,8% 33 2,8% 36 2,7%
Loteamento 3 1,8% 16 1,3% 19 1,4%
Dano M.Ambiente 0,0% 16 1,3% 16 1,2%
Abuso Autoridade 0,0% 11 0,9% 11 0,8%
Sonegação Fiscal 2 1,2% 8 0,7% 10 0,7%
Ordem Econômica 1 0,6% 8 Õ)% 9 0,7%
Corrupção Menores 0,0% 7 0,6% 7 0,5%
Total Geral 163 100,0% 1.187 100,0% 1.350 100%
50
3 - Variáveis que interferem na aplicação da penas
3.1 - Pena Aplicada x Sexo
A tabela abaixo demonstra que, entre as penas mais aplicadas, verifica-se
uma tendência maior de pena de prestação pecuniária para o sexo masculino
(33,7%) em relação ao sexo feminino (25,2%).
Constata-se também que, para o sexo feminino, existe praticamente um
empate técnico entre a aplicação da prestação pecuniária (25,2%) e a prestação
de serviços (23,8%). Pode-se inferir que existe tendência de crescimento na
aplicação da pena de prestação de serviços para o sexo feminino, numa relação
invertida ao que ocorre com o sexo masculino, que é de 19,1 % para prestação de
serviço.
Tabela 3 - Pena Aplicada x Sexo (período 2003 a 2004)
Pena Feminino Masculino Total
Prestação pecuniária 72 25,2% 690 33,7% 762 32,6%
Comparecimento a grupos de saúde 4 1,4% 14 0,7% 18 0,8%
Participção em cursos 3 1,0% 19 0,9% 22 0,9%
Reparação do dano 4 1,4% 21 1,0% 25 1,1%
Outras condições 14 4,9% 55 2,7% 69 3,0%
Recolher-se à residência até determinada hora 6 2,1% 67 3,3% 73 3,1%
31 10,8% 217 10,6% 248 10,6%
Proibição de freqüentar lugares
."
Proibição de se ausentar da comarca 41 14,3% 273 13,3% 314 13,5%
Comparecimento ajuízo (justif. ativ.) 43 15,0% 300 14,6% 343 14,7%
Prestação de serviço 68 23,8% 392 19,1% 460 19,7%
Total 286 100,0% 2048 100,0% 2334 100,0%
3.2 - Pena Aplicada x Faixa Etária
Na aplicação da pena em relação a faixa etária, observa-se que quanto maior
a idade, maior a tendência de receber como pena a prestação pecuniária e
51
quanto menor a idade, maior a tendência de receber como pena a prestação de
serviços. Constata-se que 42,4% dos autores de fatos maiores de 55 anos
receberam pena de prestação pecuniária e 12%, de prestação de serviço. Na
faixa etária de 18 a 24 anos ocorre o inverso, ou seja, 26,9 % em prestação de
serviço e 24,4 % em prestação pecuniária.
Tabela 3.1 - Pena Aplicada x Faixa Etária (2003 a 2004)
Pena 18-24 25-39 40-54 55+ Total
Prestação de serviço 163 24,4% 381 34,1% 142 38,8% 39 42,4% 728 32,4%
Prestação de serviço 180 26,9% 192 17,2% 54 14,8% 11 12,0% 437 19,4%
Comparecimento ajuízo 96 14,3% 169 15,1% 55 15,0% 14 15,2% 334 14,9%
Proibição de se ausentar da 93 13,9% 151 13,5% 48 13,1% 14 152% 306 13,6%
Comarca
Proibição de freqüentar
74 11,1% 125 11,2% 35 9,6% 7 7,6% 241 10,7%
lugares
Recolher-se à residência até 23 3,4% 40 3,6% 9 2,5% 1 1,1% 73 3,2%
determinada hora
Outras condições
26 3,9% 29 2,6% 11 3,0% 0,0% 66 2,9%
discricionárias
Reparação do dano 3 0,4% 13 1,2% 7 1,9% 2 2,2% 25 1,1%
Participação em cursos 9 1,3% 9 0,8% 3 0,8% 1 1,1% 22 1,0%
Comparecimento a grupos de 2 0,3% 9 0,8% 2 0,5% 3 3,3% 16 0,7%
Saúde
111 100,0 100,0 224
Total 669 100,0% 100,0% 366 92 100,0%
8 % % 8
3.3 - Pena Aplicada x escolaridade
O gráfico a seguir demonstra a relação entre a pena aplicada e a
escolaridade. do autor do fato. Tomando como base as análises anteriores, onde
as penas de prestação pecuniária e prestação de serviços aparecem como as de
maior incidência, verifica-se, agora, a influência da escolaridade dos autores de
fatos que praticaram delitos nas penas aplicadas. No cruzamento das
informações, constata-se a inconstância na relação Escolaridade e Penas. Para
autores de fatos com maior nível de escolaridade, 32,4% das penas éde
52
prestação pecuniária. Ao mesmo tempo, para os autores de fatos analfabetos,
essas penas representam 41 % e, para as de ensino médio completo, 39,6%.
Observa-se, também, que os autores de fatos com ensino médio
incompleto obtêm maior índice de penas de prestação de serviços à comunidade
(24,6%) em comparação aos demais níveis de escolaridade, o que nos leva a crer
que a aplicação de uma pena está mais relacionada a delito praticado do que a
escolaridade.
Tabela 3.2 - Pena Aplicada x Escolaridade (2003 a 2004)
Fundamental Médio Superior
Penas Incom Comp Incom Comp Incom Comp Abs
Analf. Total
p. I. p. I. p. I. .
Prestação pecuniária 32,3
41,0% 28,0% 36,5% 29,5% 39,6% 40,4% 32,4% 542
%
Prestação de serviço 10,3% 21,5% 16,8% 24,6 17,1 12,8 21,6 19,9 334
Comparecimento a
17,9% 14,9% 14,5% 15,3 13,6 14,9 21,6 14,8 248
Juízo
(Justif. Ativ.)
Proibição de se
15,4% 14,2% 13,9% 13,1 12,3 14,9 16,2 13,8 231
ausentar da
Comarca
Proibição de
7,7% 11,5% 11,6% 9,8 9,8 8,5 2,7 10,7 180
freqüentar
Lugares
Outras condições 2,6% 3,6% 3,2 2,7 3,5 2,1 2,7 3,3 56
Discricionárias
Recolher-se à
2,6% 2,8% 2,6 2,7 1,9 6,4 0,0 2,6 44
residência
até determinada hora
Participação em
2,6% 1,4% 0,6 1,6 0,3 0,0 0,0 1,0 17
cursos
Reparação do dano 0,0% 1,3% 0,3 0,5 0,9 0,0 2,7 1,0 16
Comparecimento a
0,0% 0,9% 0,0 0,5 0,9 0,0 0,0 0,7 11
grupos
de saúde
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 167
% % % % % % % % 9
3.4 - Delito x Pena Aplicada x Circunscrição
Com o objetivo de verificar se a pena aplicada está diretamente
53
relacionada com o delito praticado, apresenta-se a tabela abaixo, onde é feita
uma abordagem que permite a análise de tendência de penas em relação ao
delito e à circunscrição. De modo geral, podemos verificar que as decisões não
ocorrem de forma linear ou padronizada, levando a crer que situações de
estrutura de cada circunscrição judiciária influenciam também diretamente nas
aplicações, o que confirma, igualmente, a hipótese de que a aplicação da pena
tem caráter discricionário.
Levando em consideração a situação apresentada acima, podemos,
mesmo assim, demonstrar alguns pontos que permitem constatar as diversas
tendências de aplicação de penas em relação a cada delito:
- para o delito de lesão corporal praticada no trânsito, a tendência é a
aplicação de prestação pecuniária. Já no que se refere à embriaguez ao volante
há uma iniciação para a linha de prestação de serviços à comunidade em
Samambaia.
- no delito de maus-tratos surpreende a aplicação de prestação de serviços
em 80% dos casos de Samambaia, bem como a iniciação da aplicação de
participação em cursos em 3,6% dos casos de Ceilândia.
- a aplicação das penas de comparecimentos a grupos de saúde e
participação em cursos se concentra em delitos específicos, tais como maus-
tratos (para o qual, em Ceilândia já foi aplicada comparecimento a grupos de
saúde em 10,7% dos casos) e ameaça (que em Samambaia foi aplicada
comparecimento a grupos de saúde, em 10.5%).
- no caso de porte de arma existe um equilíbrio entre a aplicação de
prestação pecuniária e prestação de serviços (em Taguatinga chega a ser 50% x
50%).
54
- é interessante destacar que, para a contravenção de jogos de azar, foi
aplicada prestação pecuniária em 100% dos casos.
Tabela 3.3 - Delito x Pena Aplicada x Circunscrição (2003 a 2004)
Delitos Pena Ceilândia Samambaia. Taguatinga Total
Lesão Prestação Pecuniária 65,0% 100,0% 66,7% 62,5%
corporal Prestação de serviço 40,0% 33,3% 37,5%
praticada no
Trânsito
Total 100% 100% 100% 100%
Embriaguez Prestação pecuniária 75,0% 33,3% 88,9% 75,0%
ao volante Prestação de serviço 25,0% 66,7% 11,1% 25,0%
Total 100% 100% 100% 100%
Maus-tratos Participação em cursos 3,6% 2,9
Prestação pecuniária 25,0% 20,0% 50,0% 25,7%
Prestação de serviço 60,7% 80,0% 60,0%
Comparecimento a grupo de saúde 10,7% 50,0% 11,4%
Total 100% 100% 100% 100%
Ameaça Participação em cursos 2,5% 1,9%
Prestação pecuniária 40,7% 47,4% 71,4% 43,9%
Prestação de serviço 53,1% 42,1% 28,6% 49,5%
Comparecimento a grupos de saúde 3,7% 10,5% 4,7%
Total 100% 100% 100% 100%
Furto Participação em cursos 5,0% 2,6%
Prestação pecuniária 65,0% 80,0% 51,6% 60,5%
Prestação de serviço 30,0% 20,0% 48,4% 36,8%
Total 100% 100% 100% 100%
Jogos de 100,0
Prestação pecuniária 100,0% 100,0%
azar %
Total 100% 100% 100% 100%
Porte de Participação em cursos 3,3% 2,6%
arma Prestação pecuniária 55,4% 70,7% 50,0% 58,5%
Prestação de serviço 41,0% 29,3% 50,0% 38,6%
Comparecimento a grupos de saúde 0,4% 0,3%
Total 100% 100% 100% 100%
55
4- Grau de Cumprimento da Pena
4.1 - Pena Aplicada x Cumprimento x Circunscrição
Dos procedimentos concluídos e arquivados nos quais foram aplicadas
penas alternativas, 91,5% tiveram o regular cumprimento da pena. As tabelas
abaixo apresentam o índice de cumprimento da pena por circunscrição e o quadro
geral de cumprimento da pena.
Estes dados demonstram que há eficiência situacional no controle da
execução das penas alternativas, provando que a pena é um instrumento de
responsabilização.
Tabela 4 - Pena Aplicada x Cumprimento x Circunscrição (set/O3 a abr/O4)
Local Cumprida Não cumprida Total
Ceilândia 184 94,4% 11 5,6% 195 100,0%
Samambaia 108 87,1% 16 12,9% 124 100,0%
Taguatinga 40 90,9% 4 9,1% 44 100,0%
Total 332 91,5% 31 8,5% 363 100,0%
Tabela 4.1 - Pena Aplicada x Cumprimento (set/03 a abr/O4)
Cumprida Não cumprida
Total 332 31
56
5 - Análise Temporal de Aplicação e Cumprimento da
Pena
5.1 - Procedimento x Tempo Transcorrido entre a Data do
Fato e a Aplicação, da Pena
Observa-se que, na transação penal, em 62,9% dos procedimentos, a pena
foi aplicada em até quatro meses após a data do fato. Já nos demais
procedimentos, a pena é geralmente aplicada após oito meses da data do fato.
Confirmando, assim, que a transação penal é mais eficiente em termos de tempo
de resposta do Estado quanto ao ato praticado.
Tabela 5 - Procedimento x Tempo Transcorrido entre a Data do Fato e a
Aplicação da Pena (2003 a 2004)
INSTITUTO 1-4m 4-8m 8-12m 12-16 m 16-20 20-24 m >2a Total
CARTA DE SENTENÇA
4 17 16 21 25 13 105 201
- REGIME ABERTO
SUSPENSÃO
CONDICIONAL DO 57 42 26 22 22 20 74 263
PROCESSO
TRANSAÇÃO PENAL 310 187 89 51 42 36 75 790
TOTAL 371 246 131 94 89 69 254 1254
5.2- Procedimento x Tempo Transcorrido entre a Data do
Fato e a Conclusão do Procedimento
O gráfico abaixo demonstra que, na transação penal, os procedimentos
são concluídos em até um ano da data do fato, o que demonstra que os
instrumentos dos Juizados Especiais Criminais tomaram os atos da Justiça mais
céleres e facilitaram o cumprimento da pena pelos autores de fatos.
Neste tópico não foi incluída a suspensão condicional do processo, visto
que, por lei, o prazo para conclusão desse procedimento é obrigatoriamente de
dois anos, no mínimo.
57
Tabela 5.1 - Procedimento X Tempo Transcorrido entre a Data do Fato e a
Conclusão do Procedimento (2003 a 2004)
Tempo transcorrido Transação Penal
1-4 meses 26 8,8%
4-8 meses 78 26,4%
8-12 meses 79 26,7%
12-16 meses 33 11,1%
16-20 meses 12 4,1%
20-24 meses 24 8,1%
> 2 anos 44 14,9%
Total 296 100,0%
Com o retrato apresentado, identificou-se que, nas cidades de Ceilândia,
Samambaia e Taguatinga, de setembro de 2003 a abril de 2004, 1.453 autores de
fatos receberam pena, sendo que 1.040 foram penas alternativas. Dentre estes, a
grande maioria é do sexo masculino, estão na faixa etária de 25 a 39 anos e têm
escolaridade de ensino fundamental incompleto. Ceilândia destaca-se por possuir
quase metade das penas alternativas aplicadas no período analisado.
O delito de maior incidência entre os autores de fatos de sexo masculino é
o porte de arma e, entre os de sexo feminino, é o de lesões corporais. Cabe
observar que, para ambos os sexos, o somatório dos crimes contra o patrimônio
(estelionato, furto, roubo e receptação) superam ou estão no mesmo grau de
incidência dos delitos acima citados.
No que se refere às penas aplicadas, registrou-se que a prestação
pecuniária e a prestação de serviços são as de maior incidência. É possível
registrar, também', sensível iniciação no estabelecimento de participação em
cursos e comparecimento em grupos de saúde, para autores de delitos de
ameaça e maus-tratos.
Neste retrato constata-se, também, que em 91,5% das penas aplicadas
obteve-se o regular cumprimento da pena. Em 39,2% procedimentos de
58
transação penal, a pena foi aplicada em até quatro meses da data do fato e sua
conclusão deuse entre quatro meses e um ano da data do fato.
Em análise final ao trabalho, pode-se refutar as hipóteses de que 50% das
penas são penas de prisão e que a cesta básica é a pena aplicada na maioria dos
casos. Foi confirmada a hipótese de que a aplicação da pena tem caráter
discricionário, já que não houve relação explícita entre o delito ou o perfil do autor
do fato e o tipo de pena aplicada.
59
CONCLUSÃO
A mentalidade predominante em nossa sociedade ainda é no sentido de
que para melhorar a segurança da sociedade é preciso prender. Apesar de muitos
acontecimentos mostrarem como vivem os “clientes” do nossos sistema
carcerário, a sociedade ainda não encarou o problema de frente.
Diante da atual situação em que vivemos, de descrédito com as instituições
políticas, com a justiça, com o Estado de um modo geral, a comunidade torna-se
apática, sem ânimo para enfrentar os grandes problemas.
Contudo, bons ventos têm trazido esperanças de uma maior
conscientização de que não basta prender, mas reeducar para ressocializar. É
difícil pensar em ressocialização nas nossas prisões, se levarmos em conta a
dura realidade em que se encontram aqueles no cárcere.
Efetivamente a prisão não educa; deseduca. Não melhora; piora,
embrutece. O homem que sai da prisão será sempre um ex-presidiário e na
sociedade todas as portas se fecham para ele. A pena do preso vai alem dos
anos no cárcere, dura enquanto carregar consigo o estigma de criminoso, mesmo
que não volte a delinqüir.
A sociedade tem uma falsa ilusão de que quando se “manda um criminoso
para a cadeia”, a Justiça cumpre a sua função. Não, pelo contrário, a função do
Estado só se inicia, quando alguém é privado de sua liberdade. A intenção é
afastar o criminoso do meio social para que nele se opere o tratamento
necessário para a recuperação de seu caráter, para distanciá-lo de sua conduta
desviante. Mas isso é só a teoria. A prática é bem outra. A sociedade se sente, de
certa forma, vingada quando vê na televisão que um “assaltante” foi preso. Mal
sabe ela que esse assaltante vai a faculdade, à faculdade do crime. E quando de
60
lá sair, com certeza já fará parte de uma quadrilha e praticará novos crimes,
oferecendo mais riscos ainda para a comunidade.
As penas alternativas vêm como uma luz no final do túnel, como uma
esperança de que quem descumprir o ordenamento jurídico sofrerá uma sanção e
que esta seja remédio eficaz para reeducá-lo fazendo com que não volte mais a
delinqüir.
O que intimida uma pessoa a cometer crimes não é punição exagerada ou
desumana, mas a certeza de haver uma punição. E essa não é a cultura
predominante na nossa sociedade.
Infelizmente a justiça ainda é para os ricos. Os bens jurídicos destes são os
mais bem protegidos. Vale dizer que a pena mínima para o homicídio simples (art.
121, caput – CP) é de seis anos, menor do que a pena mínima culminada para o
seqüestro – extorção mediante seqüestro (art. 159, § 1º - CP) que é de doze
anos. A pena máxima para os dois crimes é a mesma, vinte anos.
A população é tomada por um sentimento de vingança quando a prisão de
um ladrão ou de um pequeno traficante é efetivada. O que acontece é que esse
tipo de criminoso está próximo das pessoas, ao contrário daqueles criminosos
que detêm o poder e controlam a rede de tráfico, desviam verbas da Previdência
Social, do Orçamento da União, cujo dano não é diretamente perceptível à
população.
O problema carcerário no nosso país é mais profundo que a questão da
superlotação dos presídios e cadeias públicas. Passa antes por questões sociais
como educação, desemprego; precárias condições de vida da grande massa da
população.
As penas alternativas não conseguirão, sozinhas, operar um milagre no
sistema carcerário, mas constitui uma das formas de amenizar o problema.
61
Muito ainda pode ser feito no que diz respeito às penas alternativas. Com o
esforço da comunidade, dos empresários, do Estado, podemos conseguir
resultados satisfatórios no que concerne ao implemento de alternativas à prisão.
62
BIBLIOGRAFIA
ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Curso de direito penal – vol. 1. 2.ed.São Paulo,
Juarez de Oliveira Ltda., 2001
Brasil. Código Penal Brasileiro
Brasil. Código de Transito Brasileiro
Brasil. Constituição Federal
Brasil. Lei de Execuções Penais.
BRUNO, Aníbal. Direito penal. Rio de Janeiro: Forense, 1997.
BITTENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão – causas e
alternativas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993.
BITTENCOURT, Cesar Roberto. Manual de Direito Penal – São Paulo: 4.ed.,
Revista dos Tribunais, 1997.
COSTA, Jr, Paulo José da. Comentários ao código penal. São Paulo: Saraiva,
1986.
COSTA, Érica Adriana. Penas alternaricas. Belo Horizonte. 2ª ed, NAP, 1999
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PASSOS, Paulo Roberto da Silva. Elementos de criminologia e política
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SHECAIRA, Sérgio Salomão. Prestação de serviços à comunidade: Alternativa à
pena privativa de liberdade. São Paulo: Saraiva, 1993.
63
ANEXOS
LEI Nº 9.714, DE 25 DE NOVEMBRO DE 1998.
Altera dispositivos do Decreto-Lei n o 2.848, de 7 de
Mensagem de Veto nº 1.447
dezembro de 1940 - Código Penal.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta
e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Os arts. 43, 44, 45, 46, 47, 55 e 77 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
dezembro de 1940, passam a vigorar com as seguintes alterações:
"Penas restritivas de direitos
Art. 43. As penas restritivas de direitos são:
I – prestação pecuniária;
II – perda de bens e valores;
III – (VETADO)
IV – prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas;
V – interdição temporária de direitos;
VI – limitação de fim de semana."
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas
de liberdade, quando:
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não
for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a
pena aplicada, se o crime for culposo;
II – o réu não for reincidente em crime doloso;
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa
substituição seja suficiente.
§ 1o (VETADO)
§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por
multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena
privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e
multa ou por duas restritivas de direitos.
§ 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde
que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e
a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.
§ 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando
ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena
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privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena
restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou
reclusão.
§ 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz
da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for
possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior."
"Conversão das penas restritivas de direitos
Art. 45. Na aplicação da substituição prevista no artigo anterior, proceder-se-á na
forma deste e dos arts. 46, 47 e 48.
§ 1o A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus
dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de
importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior a
360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O valor pago será deduzido do
montante de eventual condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os
beneficiários.
§ 2o No caso do parágrafo anterior, se houver aceitação do beneficiário, a
prestação pecuniária pode consistir em prestação de outra natureza.
§ 3o A perda de bens e valores pertencentes aos condenados dar-se-á,
ressalvada a legislação especial, em favor do Fundo Penitenciário Nacional, e seu
valor terá como teto – o que for maior – o montante do prejuízo causado ou do
provento obtido pelo agente ou por terceiro, em conseqüência da prática do crime.
§ 4o (VETADO)"
"Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas
Art. 46. A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é aplicável
às condenações superiores a seis meses de privação da liberdade.
§ 1o A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas consiste na
atribuição de tarefas gratuitas ao condenado.
§ 2o A prestação de serviço à comunidade dar-se-á em entidades assistenciais,
hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em
programas comunitários ou estatais.
§ 3o As tarefas a que se refere o § 1 o serão atribuídas conforme as aptidões do
condenado, devendo ser cumpridas à razão de uma hora de tarefa por dia de
condenação, fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho.
§ 4o Se a pena substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado
cumprir a pena substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior à metade da
pena privativa de liberdade fixada."
"Interdição temporária de direitos
Art.
47...............................................................................................................................
....................
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...................................................................................................................................
...........................
IV – proibição de freqüentar determinados lugares."
"Art. 55. As penas restritivas de direitos referidas nos incisos III, IV, V e VI do art.
43 terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída, ressalvado
o disposto no § 4o do art. 46."
"Requisitos da suspensão da pena
Art.
77...............................................................................................................................
....................
...................................................................................................................................
...........................
§ 2o A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos,
poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o condenado seja maior
de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão."
Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 25 de novembro de 1998; 177o da Independência e 110o da República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO