CONCLUSÕES SOBRE A EVOLUÇÃO GEOTECTÓNICA
3.5.1. Arcaico
No escudo arcaico siálico de Lunda-Kasai, de alto grau metamórfico (granito-gnáissico), afloram os
granito-gnaisses e gnaisses dioríticos e tonalíticos de Luanyi (c.3.500-3.300M.a.), em geral de natureza
ou
afinidade trondhjemítica. Estas litologias associam-se às rochas gnáissico-migmatítico-graníticas mais
jovens, frequentemente policíclicas, aflorando fora desse escudo, desde a região de Lunda às do Alto
Zambeze, Noroeste(Congo) e Sul-sudoeste. As suas formação, remobilização e reactivação ou
rejuvenescimento, entre c.3.500M.a. e c.600M.a., processaram-se durante os diversos eventos tectono-
termais ocorridos até ao Paleozóico inferior, ou seja, durante os ciclos Musefu-Moyo ou Limpopo-
Liberiano (c.2.820-2.680M.a.), Mubindji (c.2.500-2.400M.a.), Eburneano/Eburneano-Ubendiano
(c.2.250-1.850M.a) ou Tadiliano (c.2.200-2.000M.a.), Maiombiano (1.500-1.300M.a.), Kibariano
(c.1.400-1.300M.a.) e Pan-Africano (Lomamiano – c. 950M.a., Lusakiano – c.850M.a., Congo Ocidental
– c.750-450M.a., Lufiliano ou Katanguiano – c.650-450M.a. e Kaokoveld-Damara – c.650-450M.a.),
entre outros supostos mais antigos.
Os metagabros, metanoritos e rochas granulíticas associadas (metaenderbitos, metaopdalitos,
metagranulitos e metacharnoquitos, entre outros) do Complexo de Kasai-Lomami, de idade próxima da
das rochas Luanyi, foram charnoquitizadas posteriormente (c.2.820M.a.). Afloram no Escudo de Lunda-
Kasai e, ainda, nas regiões de Malange, N´Dalatando, Mumenga-Dala Cachibo, Cariango e Andulo, entre
outras regiões, onde constituem testemunhos residuais que resistiram à remobilização do Ciclo
Eburneano.
As rochas anté-kimesianas da região Noroeste (Congo) e os gnaisses e migmatitos de N´Dalatando a
Malange e a Andulo, passando pelo Cariango, bem como de Dondo a Namibe(Moçâmedes), estas
últimas
sempre acompanhando de perto a escarpa, englobam também rochas granulíticas e metaultamáficas-
máficas Musefu, bem como metassedimentos pré-Musefu. Aquelas rochas gnáissico-migmatíticas
relacionam-se com as do Complexo de Dibaya, de Lunda e Kasai, originadas durante o episódio Moyo
(c.2.680M.a.).
3.5.2. Arcaico-Proterozóico
Os metapiroxenitos, metahornblenditos, metawerlitos, metadunitos, metagabros, metanoritos,
metatroctolitos, metahiperitos, metanortositos e metaopdalitos do Complexo de Cunene (Complexo
Gabro-Anortosítico), presentes no sudoeste de Angola e com prosseguimento para sul, para a Namíbia,
parecem relacionar-se com as rochas do Complexo de Kasai-Lomami, embora sabendo-se que suas
idades
K/Ar aparentes não ultrapassam c.2.200M.a., enquanto o granito regional sin-tectónico eburneano de
c.2.250M.a. lhes é intrusivo.
Os quatzitos, xistos, anfibolitos e gnaisses do Supergrupo de Luiza e do Complexo Metamórfico
Inferior da Lunda ou do Grupo de Lóvua (<2.720-2.680M.a.) foram metamorfizados durante o Ciclo
Mubindji (c.2.450M.a.) e durante o desenvolvimento da Cintura Móvel de Luiziano-Ubendiano. O
Complexo Xisto-Quartzítico-Anfibolítico com mármores associados e a metassequência vulcano-
sedimentar do Grupo de Jamba, presentes na região Sul-sudoeste de Angola, poderão ser
comtemporâneos das rochas do Supergrupo de Luiza. Porém, os metaconglomerados, quartzitos,
metagrauvaques, metarenitos, micaxistos micáceos, filitos, rochas metavulcano-sedimentares,
metapórfiros granitóides, metadacitos, metariolitos, metaespilitos e metaqueratófiros, fazendo parte do
Supergrupo de Quipungo-Kwanza (grupos de Quibala e Chivanda-N´Gola, este último incluindo os
grupos de Chivanda, Chipindo, Cuandja e Bale), serão posteriores àqueles, supondo-se originados entre
c.2.500M.a. e c.2.300M.a., em tempos pré-orogénicos eburneanos. Estas últimas rochas supracrustais
(Supergrupo de Quipungo-Kwanza), geradas durante e, logo após, a transição arcaico-proterozóica,
teriam ocorrido em condições tectónico-magmáticas colisionais, primeiro, segundo um modelo
supostamente em arco de ilhas e, depois, evoluindo para uma margem continental activa, após o que se
tornou passiva, embora não se disponha actualmente de análises geoquímicas das rochas vulcânicas, de
modo a sustentar este modelo tectono-magmático ocorrido no início do Paleoproterozóico. Assim se
deu
origem ao desenvolvimento da Cintura Móvel de Quipungo distribuida pelas faixas dobradas de
Quipungo e de Cela-Cariango. Estas sequências foram, tal como as do Supergrupo de Kimeziano ou
Zadiniano no Noroeste de Angola (Congo) e Baixo Congo, metamorfizadas e granitizadas no Ciclo
Eburneano/Eburneano-Ubendiano (c.2.250-1.850M.a.) ou Tadiliano (c.2.200-2.000M.a.). Suas rochas
foram, assim, envolvidas por granitos de anatexia e migmatitos granitóides e homofânicos.
3.5.3. Proterozóico
Os quartzitos, metarcoses, micaxistos e metavulcânicas ácidas dos subgrupos de Lulumba e Uonde da
região Noroeste (Congo) foram incluidos no Supergrupo de Kimesiano ou Zadiniano (c.2.100M.a.).
As rochas granitóides calco-alcalinas teriam iniciado a sua génese no Neoarcaico. No entanto, o
grande período de granitogénese em Angola ocorreu durante o Paleoproterozóico, coincidindo com a
evolução da Cintura Móvel de Quipungo. São geralmente granitos palingenéticos e metassomáticos.
Entre
eles citam-se os granitos regional sintectónico eburneano (c.2.250M.a.), Vista Alegre (c.1.960M.a.),
Canjola e Quibala (c.1.800M.a.). Contudo os granitos de Bibala e de Caraculo foram considerados pré-
eburneanos indevidamente, pois são eburneanos tardios ou mesmo pós-eburneanos, no caso de
algumas
rochas granitóides relacionando-se com eles.
No final do Paleoproterozóico e início do Mesoproterozóico originaram-se, de modo anorogénico, os
granitos alcalinos, às vezes do tipo Rapakivi, de Macota (c.1.760M.a.), Chicala e Cacula (c.1.690-
1640M.a.) e do microgranito ou pórfiro granítico da Matala (c.1.600M.a.), entre outros, em geral
proporcionando a génese ulterior de manifestações polidiapíricas espaçadas no tempo.
Os xistos pelíticos ou filitos cloríticos, quartzitos e metacalcários silicificados do Grupo Metamórfico
Superior da Lunda (c.2.000M.a. a c.1.500M.a.) poderão ser contemporâneos ou um pouco mais antigos
que as rochas da série detrítica tabular do Grupo de Oendolongo, das rochas sedimentares de Cahama-
Otjinjau (c.1.700-1.300M.a.) e dos metassedimentos do Grupo de Malombe inferior.
Na região do Alto Zambeze desenvolveu-se, em seu extremo sudoeste, a Cintura Móvel de Kibaras,
com orientação segundo NE-SW, que culminou por intensos metamorfismo e granitização (c.1.370-
1.310M.a.), os quais atingiram a sequência detrítica, química e vulcânica do grupo de Malombe inferior.
Esta unidade é capeada, em discordância, pelo Supergrupo de Roan, pós-kibariano, equivalente do
Grupo
de Malombe superior (c.1.310M.a. a c.870M.a.), a sequência mais antiga da Cintura Móvel Pan-Africana
do Arco Lufiliano.
Na região Sul-sudoeste magmatismo ácido, de carácter cratónico, foi responsável pela génese dos
granitos e microgranitos alcalinos vermelhos, do tipo do da Matala, entre outros (c.1.400M.a. a
c.1.200M.a.). Idênticos granitos ocorrem na região da Lunda. Aqui, outros granitos alcalinos e
monzonitos forneceram idades pós-tectónicas kibarianas (c.1.155M.a.).
Manifestacões magmáticas ultrabásicas e, principalmente, básicas, em geral fissurais e, menos
frequentemente, extrusivas (piroxenitos, horblenditos, serpentinitos, gabros, doleritos, noritos,
basaltos,
espilitos e traquiandesitos) ocorreram através de todas as regiões de Angola, durante grande intervalo
de
tempo (c.2.000M.a., c.1.500M.a., c.1.300M.a., c.1.200M.a., c.1.100M.a., c.990M.a., c.850M.a.,
c.800M.a. e c.600M.a. a c.450M.a.).
As rochas metavulcânicas, metavulcano-sedimentares e metassedimentares do Supergrupo de
Maiombiano, na região Noroeste (Congo), foram intruidas pelo granito de Mativa (c.1.027M.a.). Sua
idade pode ascender quase ao Ciclo Eburneano. Contudo as suas rochas foram metamorfizadas durante
o
Ciclo de Maiombiano, contemporâneo do de Kibaras (c.1.370-1.310M.a.).
A metassequência detrítico-química do Grupo de Macondo, na região do Alto Zambeze,
contemporânea da dos supergrupos de Kundelungu inferior e superior da Zâmbia, é posterior à orogenia
Lomamiana (c.950M.a.), embora anterior à orogenia Lufiliana (c.656M.a.). O seu metaconglomerado
basal originou-se, presumivelmente, há c.850M.a.
Na região Noroeste (Congo) fez-se sentir a orogenia do Congo Ocidental no final do Neoproteozóico.
Gerou-se, desse modo, a Cintura Móvel de Congo Ocidental. Assim se depositaram, metamorfizaram e
deformaram os arenitos, pelitos e calcários do Supergrupo de Congo Ocidental, após a idade de
c.1.027M.a. O seu Grupo de Xisto-Calcário, sobrepondo-se à sucessão do grupo de Alto Chiloango, ter-
se-ia depositado em tempos posteriores à deformação principal, ocorrida há c.734M.a., enquanto a
sequência terminal do Grupo de Xisto-Gresoso culminou a sua deposição pelo Subgrupo de Inkisi, de
natureza arcósica.
Na região Sul-sudoeste, contígua à Namíbia, desenvolveu-se a Cintura Móvel de Kaokoveld-Damara,
durante o mesmo Ciclo Pan-Africano. Foi, assim, responsável pela deposição dos sedimentos e
vulcanoclastitos ácidos do Grupo de Chela (c.1.050M.a. a c.800M.a.), equivalente do Grupo de Nosib,
bem como dos calcários estromatolíticos da Formação de Leba-Tchamalindi, esta equivalente do
Subgrupo de Tsumeb, integrante do Grupo de Otavi. Estas duas últimas unidades, bem como o referido
Grupo de Nosib, presentes na Namíbia, constituem o Supergrupo de Damara. Seu ambiente
deposicional,
na região oriental, foi o de uma plataforma mais ou menos estável. Na região ocidental ou zona interna
do
ramo de Kaokoveld originaram-se os gnaisses, anfibolitos, mármores, metadolomitos, quartzitos,
metarenitos e metaconglomerados do Complexo de Espinheira. Este é equivalente do Supergrupo de
Damara indiferenciado. A deformação, metamorfismo, migmatização e granitização principais foram
consequência do Ciclo de Kaokoveld-Damara (550±100M.a.).
3.5.4. Proterozóico-Paleozóico
Durante todo o Ciclo Pan-Africano, entre os períodos sin e pós-tectónicos, originaram-se o granito
peralcalino de Noqui (c.733M.a. e c.536M.a.), o sienito de Tomboco, os granitos, gabros e dioritos do
Complexo Eruptivo do Morro Vermelho (c.592Ma. a c.494M.a.) e o granito alcalino de Cahama
(c.432M.a.). As intrusões ultrabásicas, presentes entre Noqui e Tomboco, podem também relacionar-se
com manifestações pós-tectónicas pan-africanas.
Após a cratonização definitiva de Angola, no Ordovícico médio a superior (c.450M.a.), somente no
Carbónico superior se iniciou a génese da bacia sedimentar intracratónica do interior de Angola e, do
Jurássico superior ao Cretácico inferior, a da bacia sedimentar costeira, por processos essencialmente
epirogénicos e tectónicos distensivos ou tafrogénicos.