UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS E ENGENHARIAS
FACULDADE DE ENGENHARIA DE MATERIAIS
PEDRO HENRIQUE PACHECO ARAGÃO
ESCÓRIA ESPUMA
MARABÁ-PA
2019
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1 INTRODUÇÃO
Apesar da concorrência em diversos usos com outras categorias de materiais como plásticos,
cerâmicos, madeiras e outros metais, o aço continua muito competitivo e dominante em diversas aplicações. A
indústria siderúrgica possui como principais clientes as indústrias de base, tais como construção civil, construção
naval, transportes, aviação, máquinas e equipamentos, que dependem fortemente das características do aço e
adequações que o mesmo pode sofrer de acordo com a necessidade de utilização.
O baixo preço é a outra razão pela qual o aço mantém uma posição favorável no mercado mundial. A
evolução e aprimoramento dos processos siderúrgicos ao longo das últimas décadas, juntamente com
investimentos em tecnologias inovadoras, garante uma melhoria nos processos produtivos e, consequente,
redução de custos e aumento da qualidade do produto que é oferecido ao cliente.
Os custos dos equipamentos e materiais utilizados durante o processo produtivo do aço são elevados,
principalmente nas grandes usinas integradas, que incluem coqueria, sinterização ou pelotização, alto-forno e
aciaria. Por esta razão houve um aumento do número de usinas semi-integradas, mini-mills, que são, geralmente,
de menor porte e contam com aciaria elétrica que usa predominantemente sucata como carga metálica.
Embora já existam aciarias elétricas com capacidade superior a dois milhões de toneladas anuais, elas também
podem operar em escala reduzida, ou seja, unidades com capacidade inferior a quinhentas mil toneladas por ano
[1].
Além do grande consumo de energia e de materiais, a indústria siderúrgica também é responsável por
significativo volume de efluentes gasosos, líquidos e resíduos sólidos. Em áreas específicas onde os crescentes
custos variáveis de produção e mão de obra estão reduzindo o lucro final, o custo adicional relacionado com o
descarte de resíduos pode tornar inviável a manutenção da operação. [2]
A questão do custo juntamente com o aumento da consciência mundial em relação ao meio ambiente tem
induzido a indústria siderúrgica a buscar processos mais eficientes e a reciclar produtos e subprodutos gerados
durante o processo.
Em relação ao forno panela, etapa secundária do refino do aço na aciaria elétrica mais utilizada no Brasil,
a reciclagem de seus subprodutos acarreta na redução do volume de material descartado, preservação dos
recursos minerais não renováveis – visto que a escória é um produto que pode substituir os agregados naturais
provenientes da mineração de brita de calcário, por exemplo - , assim como minimização dos custos de fundentes
utilizados no FEA, ou seja, há benefícios tanto ambientais quanto econômicos [2].
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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 ESCÓRIA DE ACIARIA ELÉTRICA
A escória de aciaria elétrica pode ser conceituada como sendo o resíduo da fusão da carga metálica –
sucata – e, posteriormente, do refino secundário do banho metálico, sendo formada por uma solução
de mistura de óxidos, silicatos e, eventualmente, aluminatos, fosfatos e boratos, de menor densidade
que o aço e imiscíveis. Na temperatura de processo da aciaria, se apresentam líquidas ou parcialmente
líquidas [22].
Dentre as principais funções da escória durante o processo de produção de aço, pode-se destacar [23]:
• Isolar o banho metálico com o objetivo de reduzir as perdas de calor;
• Proteger o banho metálico da oxidação, absorção de hidrogênio e nitrogênio da
atmosfera;
• Cobrir o arco elétrico tanto no forno elétrico quanto no forno panela,
promovendo a proteção do revestimento refratário;
• Aumentar a qualidade do aço através da incorporação de óxidos de impurezas durante o
refino primário e produtos da desoxidação durante o refino secundário, além da
absorção de inclusões.
• Participar efetivamente nos processos de desfosforação no FEA e de dessulfuração
no fornopanela;
• Ser o mais compatível possível com a natureza do revestimento refratário.
A indústria siderúrgica nos últimos anos tem sido pressionada por uma constante necessidade
de redução de custos e produção de aço de elevada qualidade, razão pela qual uma manipulação eficiente
das propriedades da escória, tanto no refino primário quanto no refino secundário, tem se tornado cada vez
mais importante. É impossível se atingir o nível de produtividade exigido nos processos atuais através de
práticas ineficientes de controle das propriedades da escória.
Além disso, atualmente, a escória já é considerada um subproduto capaz de agregar valor aos materiais
nos quais é aplicada.
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2.1.1 Geração da Escória na Aciaria Elétrica
A primeira escória a ser formada na aciaria elétrica é a escória oxidante formada no forno elétrico a arco,
FEA, resultante da fusão de sucata juntamente com outras cargas adicionadas no forno. Esta escória também é
conhecida como escória negra e é caracterizada por promover o ajuste primário de composição química do
banho metálico através da oxidação das impurezas presentes. Depois de realizado tal ajuste, o aço é vazado em
uma panela, através da válvula EBT – conforme dito anteriormente.
No forno panela há a formação de uma nova escória, chamada de escória redutora, que é gerada a partir da
adição de cal e desoxidantes. Esta escória tem o objetivo de contribuir para a desoxidação e dessulfuração do banho,
assim como, promover o ajuste final da composição do aço através da adição de ferro-ligas.
Figura 1 – Representação esquemática das etapas de geração de escória na aciaria elétrica
Fonte: COPPE (2006)
Apesar da composição química da escória de aciaria elétrica ser diretamente relacionada ao tipo de aço
produzido, tipo de revestimento refratário utilizado na panela e composição química da sucata utilizada como
matéria prima, no Brasil, estatisticamente, sua composição varia de acordo com a tabela 1.
Tabela 1 - Composições químicas típicas de escória dos refinos oxidante e redutor no Brasil [22]
CaO MgO SiO2 Al2O3 FeO MnO SO2
(%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
Refino 30-35 8-12 15-20 3-9 25-35 3-6 -
Oxidante
Refino 45-55 8-12 20-25 3-9 0,5-3,5 0,5-3,5 0,5
Redutor
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As escórias de aciaria elétrica possuem uma elevada quantidade de CaO em sua composição. Isto se dá
devido ao importante papel que este componente desempenha no processo de fabricação do aço, onde a composição
química da Cal, condições de armazenagem e algumas propriedades físicas podem alterar a qualidade do aço. Em
vista disso, análises químicas, granulométricas e de reatividade são realizadas em amostras de Cal com o objetivo
de garantir a qualidade deste material.
Normalmente são utilizados dois tipos de cal: a calcítica, composta essencialmente por CaO, e a
dolomítica que é caracterizada pela elevada quantidade de MgO em sua composição. A cal dolomítica pode ser
utilizada como substituição de parte da cal calcítica com o objetivo de reduzir o desgaste dos refratários
compostos por MgO. A presença de CaO é responsável por uma série de efeitos, onde se pode destacar [25]: cria
condições para a eliminação de impurezas como fósforo e enxofre através da adequação do índice de basicidade
(CaO/SiO2), retarda e diminui a taxa de desgaste do revestimento refratário pela escória, retarda e diminui a
oxidação de elementos de liga cuja oxidação, geralmente, forma óxidos básicos.
Com o objetivo de tornar a cal mais reativa para que seja dissolvida na escória o mais rápido possível de
maneira a manter sua composição com alta reatividade e alta basicidade, realiza-se a calcinação do calcário. Nesta
etapa é possível que ocorra transferência de enxofre para a cal a partir do combustível utilizado para calcinação e, se a
cal possuir mais do que 0,1% de enxofre será difícil promover a produção de um aço com baixo teor deste elemento
[25].
Ao fim da corrida de um determinado aço, as escórias do refino primário e secundário são encaminhadas
para o pátio da usina onde são misturas e processadas. Na Cosigua, tal processamento ocorre na planta de
recuperação de escória chamada Multiserv. O processamento se inicia a partir do uso de peneiras que
classificam a escória de acordo com sua granulometria, em seguida, a escória é classificada quanto à presença de
ferro, através de um separador magnético. O resíduo não magnético é descartado e o material magnético abaixo
de 6” é fragmentado através de um britador mandíbula. Acima de tal granulometria, o processamento se dá através
do processo de boleamento.
2.1.2 Propriedades Gerais
A composição da escória pode ser manipulada com o objetivo de aumentar a afinidade da mesma com
determinados elementos ou compostos químicos que se deseja remover do aço líquido. Um dos principais controles
que devem ser acompanhados durante todo o processo é a basicidade daescória.
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O conceito de basicidade da escória é totalmente arbitrário. A noção de ácido e básico surgiu através da
observação de que escórias ricas em sílica atacam os refratários dolomíticos, assim como as escórias compostas
majoritariamente por CaO e MgO são danosas á refratários silicosos [19].
Geralmente, os óxidos constituintes da escória são classificados em ácidos, básicos e anfóteros (ácido
ou básico dependendo do meio). Tal classificação é baseada na facilidade que um dado óxido possui em liberar seu
íon oxigênio no banho metálico. Um óxido básico possui fraca atração de oxigênio e, com isso, tende a liberar seu íon
no banho. O contrário ocorre com os óxidos ácidos [19].
Individualmente os óxidos são facilmente caracterizados em função dos tipos de compostos
formados, no entanto, quando se misturam para formar a escória, fica bastante difícil determinar a característica
predominante (básica, ácida ou neutra). Com isso, são usados indicadores chamados de índice de basicidade,
utilizados para evidenciar tal característica.
O índice de basicidade está relacionado com diversas características da escória, tais como
[19]:
• Capacidade de promover a desfosforação e dessulfuração: Escórias básicas são essenciais
para promover tais atividades durante o refino;
• Viscosidade: Geralmente, quanto maior for a basicidade menor é a viscosidade de uma
escória. Isso pode ser explicado pelo fato de que a sílica é formada por longas cadeias
moleculares de silicatos (SiO4)-4 e a presença de CaO promove a quebra dessas cadeias
através da formação de íons Ca+2 e O-2, resultando no aumento da fluidez da escória. O
MgO atua no mesmo sentido e o flúor, adicionado na forma de fluorita (CaF2), também
reduz a viscosidade, uma vez que, tal elemento atua de forma similar que os íons de oxigênio
na quebra das cadeias de silicatos.Ataque das escórias sobre o revestimento refratário: O
índice de basicidade das escórias torna possível se promover uma análise qualitativa
em relação à compatibilidade da mesma sobre o material refratário.
Em relação à viscosidade, tal característica da escória é influenciada pela temperatura do banho metálico e
composição química da mesma. Geralmente, procura-se obter uma escória com uma viscosidade tal que, em uma
dada temperatura, não seja muito elevada – o que dificultaria a interação entre o banho metálico e a escória e,
consequentemente, prejudicaria a cinética das reações químicas – e nem muito baixa – o que aumentaria a
interação entre a escória e o revestimento refratário, desgastando-o.
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Outra característica importante da escória é a sua tensão superficial, uma vez que, afeta diretamente a
eficiência de muitos processos metalúrgicos, tais como o refino do aço através da transferência de massa na
interface banho metálico-escória e transferência de inclusões sólidas e líquidas a partir do banho para a escória.
Os principais parâmetros que afetam tal característica da escória são a sua composição química e temperatura.
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REFERÊNCIAS
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NO SETOR SIDERÚRGICO BRASILEIRO. // NOTA TÉCNICA DEA 02/09 – RIO DE
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