O Homem, A Morte e o Tempo
O Homem, A Morte e o Tempo
CAMPUS I BODOCONGÓ
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE - CCBS
CURSO DE PSICOLOGIA
CAMPINA GRANDE – PB
2013
FERNANDA ALMEIDA VITORINO MARTINS
CAMPINA GRANDE – PB
2013
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL – UEPB
49 f.
Aprovada em 10/09/2013
BANCA EXAMINADORA
“...mas não sou completa, não. Completa lembra realizada. Realizada é acabada.
Acabada é o que não se renova a cada instante da vida e do mundo.
Eu vivo me completando... Mas falta um bocado.”
Clarice Lispector
O HOMEM, A MORTE E O TEMPO
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Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB.
[email protected]
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INTRODUÇÃO
REFERENCIAL TEÓRICO
Dentro dessa familiaridade com a morte, é importante também apontar outro aspecto
da época: apesar de lidarem bem com o fato, os antigos temiam a proximidade dos mortos e
os mantinham à distância. E para tanto se proibia enterros no interior das cidades. Os
cemitérios eram construídos fora das mesmas. “O mundo dos vivos deveria ser separado do
mundo dos mortos” (ARIÈS, 2003, p. 36).
De acordo com as ideias primitivas, uma pessoa só morre se for morta – pela
magia, quando não pela força e – uma morte assim tende naturalmente a
tornar a alma vingativa e mal-humorada. Tem inveja dos vivos e anseia pela
companhia dos velhos amigos; não é de admirar, portanto que envie doenças
para causar a morte deles... (WESTERMARCK, 1906 apud FREUD, [1913]
1996, 81).
O moribundo verá sua vida inteira, tal como está contida no livro da vida, e
será tentado pelo desespero por suas faltas, pela “glória vã” de suas boas
ações, ou pelo amor apaixonado por seres e coisas. Sua atitude, no lampejo
deste momento fugidio, apagará de uma vez por todas os pecados de sua
vida inteira, caso repudie todas as tentações ou, ao contrário, anulará todas as
suas boas ações, caso a elas venha a ceder (ARIÈS, 2003, p. 52).
Sendo assim, a morte, antes pensada apenas como um evento que acometia a todos
os viventes de maneira indiscriminada, visto como um rito essencialmente coletivo, passou a
ser relacionada com a biografia de cada vida particular, resultando numa preocupação
individual e apresentando uma carga de emoção que antes não possuía.
Por fim, Ariès trata do fenômeno do aparecimento do “cadáver decomposto”,
representação pouco difundida tanto na arte e na literatura, quanto na decoração de cemitérios
e tumbas, mostrando o horror à morte física que o cadáver e demais objetos simbólicos
poderia significar. “A decomposição é o sinal do fracasso do homem” (ARIÈS, 2003, p. 56).
O homem do fim da Idade Média tinha uma consciência acentuada de que a vida era curta e
de que a morte “despedaçava suas ambições e envenenavam seus prazeres” (ARIÈS, 2003, p.
58).
A partir do século XVIII, o homem das sociedades ocidentais tende a dar à morte um
sentido novo, se ocupa menos de sua própria morte, passando a temer a morte do outro, do ser
amado, observando assim, uma associação entre a morte e o amor. “Como o ato sexual, a
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morte é, a partir de então, cada vez mais acentuadamente considerada como uma transgressão
que arrebata o homem de sua vida quotidiana” (ARIÈS, 2003, p. 65).
A morte antes aceita, agora é abominada, não se comenta a respeito, não se expõe o
defunto, não se permite o compartilhamento de tal realidade com crianças, acontecimentos
antes direcionados para o sexo, do qual não se admitia nenhum tipo de exposição afetiva,
principalmente em âmbito coletivo, divergindo da modernidade que tem-se educação sexual,
mas a realidade da morte é evitada.
Ariès cita um estudo feito por Geoffrey Gorer, “Pornography of Death” [O
significado da morte], contendo reflexões sobre a mudança da função social do luto.
Discorrendo a respeito do fenômeno da rejeição e da supressão do luto, Gorer mostra que “a
morte tornara-se vergonhosa e interdita como o sexo na era vitoriana, ao qual sucedia. Uma
interdição era substituída por outra” (1955 apud ARIÈS, 2003, p. 229).
Diferentemente da familiaridade com a morte, que era vista nos séculos anteriores, a
morte agora é considerada uma ruptura, que marca a nova maneira de sentir e vivenciar os
rituais. Segundo Ariès (2003, p. 66), “no século XIX, uma nova paixão arrebatou a
assistência. Ela é agitada pela emoção, choro, súplica, gestos. [...] Naturalmente, a expressão
da dor dos sobreviventes é devida a uma intolerância nova com a separação”. Esse sentimento
é a origem do culto moderno dos túmulos e dos cemitérios, era uma resposta à afeição dos
sobreviventes e à sua recente repugnância em aceitar o desaparecimento do ente querido.
“Apegavam-se a seus restos. Aí se recolhem, ou seja, evocam o morto e cultivam sua
lembrança. A recordação confere ao morto uma espécie de imortalidade” (ARIÈS, 2003, p.
72).
O reconhecimento da morte acontecia, então, simultâneo a uma negação. “Na
impossibilidade de lidar com a noção de aniquilamento do próprio eu, foi necessário preservar
a imortalidade do outro e conservá-lo vivo” (SILVA, 2007, p. 53). Uma forma de recusa da
morte é o recurso à técnica do embalsamamento. Percebe-se com a utilização deste processo
para a preparação dos mortos uma forma de manter o ente querido por mais tempo entre os
sobreviventes.
É interessante perceber que a partir daí, a posição do homem diante da morte revela-
se ambígua, dependendo da relação que se tenha com o morto, as reações se diferenciam:
diante da morte do inimigo, via-se alívio, vanglórias e diante da morte de pessoas queridas,
dor e luto. “A dificuldade humana em lidar com a ambiguidade de sentimentos provocada
pela ausência corporal deixada pelos entes queridos motivou a origem da ideia de uma vida
para além da matéria” (SILVA, 2007, p. 53).
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A crença de vida pós-morte defendida pelas religiões tem sua importância, pois
conforta o sujeito com a ideia de que a morte é apenas uma passagem para uma outra vida. O
ser humano não está preparado para aceitar a imposição de que seu destino é morrer e prefere
acreditar que a morte é o começo de uma nova vida infinita.
Num primeiro momento, a crença na continuação da alma, e depois nessa vida pós-
morte como algo carregado de características de satisfação, numa vida de mais promessas que
a atual, chegando ao ponto de crer-se apenas preparatória para a futura. Essas elaborações
corroboram “com a finalidade de despojar a morte do seu significado de término da vida.
Assim, a origem da negação da morte como uma ‘atitude convencional e cultural’ remonta
aos tempos mais antigos” (FREUD, [1915] 1996, p. 296).
Savater, no livro As perguntas da Vida, afirma que “dar-se conta de que os outros
morrem, de que aquelas pessoas que nos cercam, um dia deixarão de “existir”, causa uma
estranha e terrível sensação, porém, ainda mais espantosa é a constatação da própria morte”
(2001 apud CUNHA, 2010, p. 185). A partir dessa consciência da própria finitude, o homem
passa a não aceitá-la e negá-la, removendo-a para a periferia da nossa vida, dos nossos
hábitos, dos nossos pensamentos, dando-lhe o lugar de esquecimento. Como cita Freud:
Não se tem mais aquele tempo de despedida do seu ente querido falecido. Todo o
processo se torna praticamente instantâneo, durando o mínimo possível. Dá-se a impressão de
que a família quer acabar logo com o sofrimento e esquecer o ocorrido. A morte e o luto não
são vivenciados, são esquecidos e rejeitados. Não há espaço para o sofrimento. O
dilaceramento da separação e a dor das saudades podem existir na família, porém, segundo os
novos costumes, eles não os deverão manifestá-los publicamente.
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Daí vê-se a terceira grande mudança que intervém nas atitudes diante da morte, ou
seja, é a recusa do direito do luto aos familiares sobreviventes. Em Luto e Melancolia (1915),
Freud aborda a questão do luto e sua diferença com relação à melancolia, que consiste em um
luto patológico. Para o autor o luto é uma reação natural referente à perda de um objeto
amado. É o momento em que o sujeito retira a libido do objeto que foi afastado ou não mais
existe.
Segundo Ariès (2003, p. 87), “na modernidade é a emoção que é preciso evitar. Só se
tem direito à comoção em particular, ou seja, às escondidas”. A sociedade moderna proíbe aos
vivos de parecerem comovidos com a morte dos outros, não lhes permitindo nem chorar os
que se vão, nem fingir chorá-los. A manifestação pública do luto é, hoje, considerada
mórbida, como uma doença. “Aquele que o demonstra, prova fraqueza de caráter. Só se tem o
direito de chorar quando ninguém vê nem escuta: o luto solitário e envergonhado é o único
recurso que se tem na modernidade” (ARIÈS, 2003, p. 87).
Essa atitude de neutralização do luto é vista pelos psicólogos como perigosa e
anormal. O luto é uma reação absolutamente sadia e faz parte do processo de desvinculação
da libido do objeto perdido. Desta forma, a tentativa de interromper o luto é inútil ou até
prejudicial ao sujeito, e a brusca substituição do objeto perdido tende a não ser aceita. O
processo de desligamento é gradual e demanda um tempo que deve ser respeitado.
A intolerância com a morte do outro, com o passar do tempo, foi superado por um
sentimento característico da modernidade: evitar. Evitar a perturbação e a emoção
excessivamente fortes, insuportáveis, causados pela agonia e pela simples presença da morte
em plena vida feliz, pois se admite que a vida é sempre feliz, ou deve sempre aparentá-lo.
Contudo, essa religião da felicidade só é mantida para melhor revelar sua impossibilidade:
No último capítulo dos Estudos sobre a histeria (1895), Freud cita que “uma
representação intolerável, traumática, que recalcada, se vinga, então, tornando-se patógena”
(1996, p. 283). O recalque da dor, a interdição de sua manifestação pública e a obrigação de
sofrer só e às escondidas agravam o traumatismo devido à perda de um ente querido
(GORER, 1965 apud ARIÈS, 2003, p. 88). Esse agravamento da doença psicológica que
caracteriza o mundo moderno que aparece como “o avesso solidário da sociedade da
performance e do estresse”, pode ser um apelo em direção à psicanálise.
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O homem é o único animal que tem consciência de que vai morrer, não sabe o
momento exato, mas a certeza da morte, da condição finita de ser, causa o medo antecipatório,
acompanhado da ansiedade que tenciona o sujeito. Para aliviar essa angústia tenta enfrentar
este medo das mais diversas formas, seja real ou fantasiosa. Segundo Silva (2007, p.45), “a
necessidade humana de assegurar-se imortal, ou seja, de superar sua transitoriedade, remete às
mais diversas reações psíquicas, entre as quais reagir negando o que a realidade impõe como
verdade, sendo a própria condição humana parte dessa verdade.”
Para Blank (2000, p. 8), “a rejeição da reflexão sobre a morte se revela como sendo a
rejeição da reflexão sobre o ser humano”, tendo em vista que pensar a morte leva o sujeito a
reconhecer as limitações que lhe são impostas pela condição humana, mas que é parte
integrante dela. O ser humano se revela impotente perante essa realidade, fato que reforça no
homem a tendência à fuga, à repressão, acentuando a contradição existencial da vida humana
em face da morte.
No texto O estranho [1919], Freud traz o fenômeno do ‘duplo’, no qual “o sujeito se
identifica com outra pessoa, de tal forma que fica em dúvida sobre quem é o seu eu, ou
substitui o seu próprio eu por um estranho” (1996, p. 252). Partindo de uma observação de
Otto Rank, Freud levanta uma série de possíveis motivações para a emergência da dimensão
do ’duplo’, dentre eles o fato de o eu, na tentativa de proteger-se da morte, investe na crença
da alma imortal, sendo provavelmente, o primeiro ‘duplo’ do corpo. ‘Duplo’ criado para
desmentir uma realidade insuportável e que, “originalmente, seria uma segurança contra a
destruição do ego, uma enérgica negação do poder da morte” (1996, p. 252).
No entanto, conforme o eu alcança estádios mais complexos de desenvolvimento dos
próprios contornos (indo além do narcisismo primário), este mecanismo torna-se uma
armadilha. O duplo perde seu propósito original de proteção e torna-se persecutório,
anunciando justamente aquilo de que se procurava escapar: a realidade da morte, e
despertando o desejo de sobreviver-lhe. “Depois de haver sido uma garantia da imortalidade,
transforma-se em um estranho anunciador da morte” (FREUD, [1919] 1996, p. 252).
Elisabeth Kübler-Ross (1981) defende que “a morte é frequentemente imaginada
como um acontecimento medonho e pavoroso na sociedade, constituindo um temor
compartilhado por todos”. Nesse sentido, Freud aponta o estranho como aquela categoria do
assustador que remete ao que é conhecido, familiar e há muito estabelecido na mente, ou seja,
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algo já conhecido que está reprimido no inconsciente, e quando vem à tona causa sensação de
medo, terror, estranheza.
A morte não é um pensamento constante na vida do homem, porém ao se deparar
com situações de riscos ou com a notícia da morte de alguém, em especial, alguém com uma
carga de afeto maior, percebe-se o despertar de sensações e angústias já sentidas, em graus
diferentes, que retornam e o levam a pensar a sua finitude. A teoria psicanalítica sustenta que,
“em todo afeto pertencente a um impulso emocional, qualquer que seja a sua espécie,
transforma-se, se reprimido, em ansiedade. Sendo assim, o elemento que amedronta pode
mostrar-se ser algo reprimido que retorna” (FREUD, [1919] 1996, p. 258). O primitivo medo
da morte é ainda tão intenso dentro de nós e está sempre pronto a vir a superfície por qualquer
provocação.
Para Zilboorg esse temor é, na verdade, uma expressão do instinto de
autopreservação, que funciona como um constante impulso de manter a vida e dominar os
perigos que a ameaçam.
Para Kovács (2002, p.153) “a morte do outro se configura como a vivência da morte em
vida; é a única possibilidade de experiência da morte que não a própria morte física”. Com
relação a esse pensamento, Labaki (2001, p. 58) aponta que “se pelo lado da identificação
com o objeto perdido o homem primitivo aprende que a morte é inevitável, o fato daquele
permanecer no psiquismo por conta de tal identificação, mesmo com o desaparecimento da
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matéria, proporciona um aprendizado peculiar sobre a morte, sobretudo, no ponto em que fica
destituída de seu sentido de aniquilamento.”
O homem retirou da morte seu sentido de aniquilamento para proteger-se da ideia do
próprio fim, depois que notou ter sobrevivido e, posteriormente, ter se resignado em relação à
morte daqueles que, apesar de amados, também correspondiam a não mais do que hóspedes
efêmeros. Sendo assim, Becker (2007) acredita que “a simples certeza de que um dia iremos
morrer nos traz muita angústia, uma angústia da separação e da castração.” Separação de uma
vida que se já está adaptado, que implica perdas pra quem morre e pra quem sobrevive,
rememorando a primeira separação, a do nosso nascimento, a qual inscreve o sujeito no
mundo a partir de perdas.
Segundo Freud, sendo a angústia de morte, na verdade, angústia de castração diante
da perda e da separação, a castração constitui, assim, a metáfora da morte no psiquismo,
vinculando-a a lei e ao desejo. Aqui, desejo e morte, morte e vida, encontram-se entrelaçados,
uma vez que a morte presentificada pela castração e pela dimensão da perda é o que permite o
acesso à vida e ao desejo. A partir desta abordagem, podemos considerar a morte como o
limite que aponta para a possibilidade da vida, entendendo esta como o deslizamento do
desejo.
Para Kovács (2002), perda e morte também são sinônimos, uma vez que ambas
remetem a vínculos rompidos, a desligamentos e à reorganização da vida interna de quem
fica. “A tentativa de elaboração em torno de uma perda é uma questão, desde a origem,
cotidiana do enfrentamento humano, dividindo-o entre elaborar ou não o luto dessas perdas”
(SILVA, 2007, p.43).
Lacan destaca que “o sujeito se realiza na perda em que surgiu como inconsciente,
pela falta que produz no Outro” (LACAN, 1988). Em Freud, ele retoma a concepção sobre o
objeto de satisfação, sempre posto como falta. Aquilo que não se nomina, que permanece
como um furo interminável. E é em torno da borda desse furo que uma emergência se faz para
que algo seja construído em suplência ao insuportável dessa hiância. Nas palavras de Lacan,
Essa coisa, da qual todas as formas criadas pelo homem são do registro da
sublimação, será sempre representada por um vazio, precisamente pelo fato
dela não poder ser representada por outra coisa – ou, mais exatamente, de ela
não poder ser representada senão por outra coisa. Mas em toda forma de
sublimação o vazio será determinante (LACAN, 1988, p. 162).
Para Lacan, a religião é uma maneira de contornar a “Coisa” que preserva seu lugar
de modo mítico sob a forma de algo misterioso que deve ser mantido à distância; a ciência
nega a existência da “Coisa” num processo que se assemelharia à foraclusão, de tal forma que
ela busca desvendar a todo custo o objeto; por fim, a arte é uma forma de circundar a “Coisa”
que recria um estado centrado no objeto. Ela expõe o vazio a partir de outro objeto que é
colocado nesse lugar.
A arte, assim como a Psicanálise, não se orienta pelo campo das ideias, mas pelo
real: o que não engana. Sendo assim, ela dispõe em cena formas de satisfação que vão além
do prazer, e se aproximam da angústia. Com isso não é de surpreender que a angústia
provocada pela sensação de finitude, seja representada artisticamente, como forma de
enfrentamento desse vazio.
“O psíquico é nossa proteção, desde que a pessoa não se feche nele, mas sim o
transfira pelo ato da linguagem para uma sublimação, um ato de pensamento, de
interpretação, de transformação” (KRISTEVA, 2002, p. 39). O desafio da psicanálise é,
portanto, o de transformar essa prisão da alma que o Ocidente construiu como meio de
sobrevivência e de proteção, para que o sujeito, através da elaboração, possa se desvencilhar
de seus traumas e sintomas.
Diante do confronto com a finitude, a aposta da psicanálise é possibilitar, a partir da
escuta, a abertura ao sujeito do desejo, relançando questões sobre a vida. Vimos que a própria
morte, irrepresentável no inconsciente, pode ser experimentada pela dimensão da perda, da
morte simbólica conferida na castração. Neste sentido, a morte e o limite são abordados pela
psicanálise como via de acesso à vida e ao desejo.
Ante os diversos relatos sobre como o homem se relacionou e se relaciona com a
morte, evidencia-se que a transformação não aconteceu no homem, mas na sua maneira de
lidar com este acontecimento. Pois “a morte constitui ainda um acontecimento medonho,
pavoroso, um medo universal, mesmo sabendo que podemos dominá-lo em vários níveis. O
que mudou foi nosso modo de conviver e lidar com a morte, com o morrer [...]” (KÜBLER-
ROSS,1981, p. 17).
Não se sabe realmente como devemos enfrentar a morte, ela angustia. Ela separa,
aniquila o ser, interrompe a história do sujeito. Ela causa medo, por isto foi banalizada. Mas o
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Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem
e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das
sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós
proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo
infinito e eliminando o desejo de imortalidade (EPICURO apud VIANA,
2010, p.30).
REFERENCIAL METODOLÓGICO
CONCLUSÃO
... não é fácil lidar com a morte, mas ela espera por todos nós... Deixar de
pensar na morte não a retarda ou a evita. Pensar na morte pode nos ajudar a
aceitá-la e a perceber que ela é uma experiência tão importante e valiosa
quanto qualquer outra. (2003 apud SANTOS, 2009, p.3)
Diante disso, espera-se que este estudo contribua para despertar novas investigações
sobre a morte, tendo em vista que é uma fonte inesgotável de pesquisas, bem como provocar o
leitor, para a reflexão do homem diante da sua finitude, que pode ser encarada como via de
acesso à vida e ao desejo de vivê-la, pois como já dissera Nietszche, em Assim falava
Zaratustra: “É em ti mesmo que se coloca o enigma da existência: ninguém o pode resolver
senão tu!”
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Death is a disquieting theme that arouses curiosities among laymen and scholars since the
dawn of civilization. Given the fact of being a widely investigated and mysterious theme at
the same time, it was noticed the need to do a study on the attitudes of mankind facing death.
This study was conducted throught a bibliographic research in which aimed to survey the
historical data since the Middle Ages to the present days as well as scientific works dealing
with this theme, analyzing so within this course, the differences of thinking and dealing with
the human finitude, in which these attitudes are analyzed in the light of Psychoanalysis. Along
the way it was perceived that the death, before experienced with familiarity, it's currently felt
strangely. It's because the contradiction between the awereness that one day we will die and
the deep desire that exists in each of us to achieve immortality, that we are led to build a case
of life expectancy, looking to erase the death and deny its existence, seeing as required
awareness about educating for death. In this sense, perhaps admitting death, the human being
can alleviate the sadness, decrease pain and suffering, being able to recognize a meaning in
life and thus having a broader view of our reason for being and being.
REFERÊNCIAS
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