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O Congado em Cambuquira Devoção Musicas e Danças

Este documento resume uma pesquisa sobre o congado, uma festa popular brasileira, em Cambuquira, Minas Gerais. Descute a história do congado na cidade, incluindo os diferentes grupos que participam e seus fundadores. Também fornece detalhes sobre as entrevistas realizadas com membros dos grupos para compreender suas perspectivas sobre a tradição do congado local.

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O Congado em Cambuquira Devoção Musicas e Danças

Este documento resume uma pesquisa sobre o congado, uma festa popular brasileira, em Cambuquira, Minas Gerais. Descute a história do congado na cidade, incluindo os diferentes grupos que participam e seus fundadores. Também fornece detalhes sobre as entrevistas realizadas com membros dos grupos para compreender suas perspectivas sobre a tradição do congado local.

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Anais do 1º Encontro Tricordiano de Linguística e Literatura da

Universidade do Vale do Rio Verde – 17 e 18 de novembro de 2011


Grupo de Estudos Minas Gerais: diálogos

O CONGADO EM CAMBUQUIRA: DEVOCIONAIS DE MÚSICAS E DANÇAS

Rejany Carvalho Lemes1


Mestre em Letras - Universidade Vale do Rio Verde - UNINCOR

Neste trabalho abordei de forma histórica e memorialística a festa de congado do


município de Cambuquira, tendo como objeto de estudo os ternos2 de congado da
cidade que estão atualmente em atividade: 1) Terno de Congado de São Benedito e
Nossa Senhora do Rosário; 2) Terno de Congado Irmandade de Nossa Senhora do
Rosário; 3) Terno de Congado Mirim Nossa Senhora do Rosário. A presente pesquisa
baseou-se na coleta de informações junto aos congadeiros e no estudo da história do
congado em geral (no Brasil) e em particular (no município de Cambuquira, em Minas
Gerais). O que possibilitou tecer, assim, um quadro de uma parte da história da cultura
popular brasileira e cambuquirense.
A cultura popular tem um caráter relevante que a torna portadora de uma lógica
especifica - e é através dessa lógica que se revelam os conceitos e os valores do homem
que possui o saber popular: “O saber do povo é parte da sociedade, indica caminhos
alternativos para sua interpretação e organização: aprender sobre a cultura popular é
desvendar por meio de discurso social a imagem única e múltipla do homem.”
(GOMES; PEREIRA, 1992, p. 194). É na cultura do povo que se encontram as
contradições da sociedade e do imaginário humano. Na sociedade, o homem se situa e
estabelece relações consigo mesmo e com o outro; quanto ao imaginário, é nele que se
estreita o relacionamento entre o ser humano e as potências de dimensões sobrenaturais.
Sociedade e imaginário se unem para dar margens às interpretações da cultura popular.
O perfil social da cultura popular se expressa na religiosidade e nas construções
simbólicas (narrativas, festas, danças, vocabulários...). Cada um desses elementos é uma
face, uma identidade do homem. Percebe-se, no congado, um vínculo com o sagrado: a
religiosidade tem papel importante, contrapondo-se e somando-se às cerimônias da
religião oficial.
O congado é um folguedo brasileiro, um ritual que inclui danças, cantos,
levantamento de mastros, coroações do rei do congo e cortejo à embaixada – elementos
que fazem parte da festa do Rosário, realizada em outubro, na qual se inclui o congado.
Já nos inícios da história do Brasil como colônia portuguesa, observamos que o
encontro das culturas indígena, europeia e africana promoveu uma diversidade de festas,
grande parte baseadas no calendário religioso católico que, algumas vezes, coincide
com o atual calendário civil. O congado, que a maior parte dos autores dizem ser de
origem africana, é uma dessas festas. Ele mescla rituais de origem africana
(principalmente de Angola e do Congo) e santos católicos (Nossa Senhora do Rosário,
São Benedito, Santa Efigênia 3 São Elesbão, Nossa Senhora Aparecida, São Gonçalo).

1
E-mail: [email protected]
2
Ternos, grupos, guardas ou companhias de congo que seguem organizados e presentes nas festas de seus
santos devocionais.
3
Encontramos também a grafia Ifigênia.
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Grupo de Estudos Minas Gerais: diálogos

Este sincretismo vem sendo estudado na bibliografia crítica sobre o congado, sugerindo
um questionamento no sentido da permanência do místico. Este sincretismo, que liga
música, dança e fé, é complexo e rico e faz com que cada congado tenha suas
particularidades. Além disso, como fenômeno de cultura oral, a história do congado
nem sempre é facilmente retraçada, o que provoca leituras e hipóteses diferentes nos
vários estudiosos que se debruçaram sobre esta festa.
Para Alceu Maynard Araújo, por exemplo, a congada não teria origem africana,
mas sim europeia: “Congada, Congado ou Congo de uma região para outra seu nome
pode variar, mas o substractum dela é sempre a luta entre cristãos e mouros”
(ARAÚJO, 1967, p. 216).
Outros autores, como Mário de Andrade (1959), Rossini Tavares de Lima
(1962), Carlos Rodrigues Brandão (1978), Alfredo João Rabaçal (1976), José Ramos
Tinhorão (2008), sustentam que os africanos escravos trazidos pelos europeus ao Brasil
teriam incorporado às tradições de Angola e do Congo, danças e traços culturais
adquiridos no contato com os europeus, mesclando-as com a cultura local. Tais
tradições serviram de elo entre negros e brancos.
Um dos primeiros estudos consistentes sobre o congado foi feito por Mário de
Andrade, que contribuiu amplamente para as pesquisas sobre o folclore brasileiro,
realizando inúmeros trabalhos referentes à cultura popular brasileira, influenciando
folcloristas posteriores sobre o tema. Em seu estudo sobre as danças dramáticas, Mário
destaca o congado e reconstitui sua história servindo-se dos escritos de viajantes e
jesuítas para identificar a origem dessa forma de expressão popular.
Sobre a distinção entre congos e congadas, Mário de Andrade explica: “o
próprio nome, Congada, é como quem diz rapaziada, gentarada conguêsa. [...] outras
provas demonstram que Congos e Congadas são a mesma dança. Os personagens são os
mesmos” (ANDRADE, 1959, p. 37). Os dois possuem reis, rainha e o embaixador, e
tratam dos mesmos temas.
Para falar do congado de Cambuquira, parti de uma entrevista feita com o
senhor Antônio Lourenço (Toninho Gato), do Terno de Congado de São Benedito e
Nossa Senhora do Rosário, e em seguida com alguns congadeiros dos demais ternos da
cidade. Os depoimentos recolhidos nessas entrevistas traduziram visões particulares dos
processos coletivos, apresentando diversas potencialidades de recuperação
principalmente da memória local.
Segundo Antônio Lourenço (Toninho Gato), um dos coordenadores do Terno de
Congado de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário de Cambuquira, meu primeiro
informante, em entrevista realizada em 2009 4, a festa do congado na cidade de
Cambuquira existe há mais de cem anos, sendo que no começo existiam apenas três
grupos de congado:

1°) O congado do Zuza, que recebia uma ajuda do terno de congado do Município de
Conceição do Rio Verde, coordenado pelo Senhor Sebastião Muniz.

4
Os dados da entrevista se encontram no capítulo 5 na parte Biografia dos entrevistados.
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2°) O Congado do Alto da Igreja Nossa Senhora Aparecida, que recebia uma ajuda do
terno de congado do Município de Campanha, coordenado pelo Senhor Francisco
Muniz 5, irmão do Sebastião Muniz acima citado.

3°) Existia também o Congado da Rua da Estação, que pertencia ao Senhor Charles.
Sobre esse Congado, não encontramos informações.

Conta o Senhor Antônio Lourenço, que os dois irmãos, coordenadores do


congado do Zuza e do congado do alto da Igreja Nossa Senhora Aparecida, mantinham
uma disputa cerrada entre eles, e que quando se encontravam durante o cortejo dos
congados pelas ruas da cidade de Cambuquira, muitas vezes a disputa se acirrava e os
toques dos tambores se firmavam em tom de ponto de macumba.
Ao longo do tempo, com o desaparecimento dos ternos de congados citados
acima, permaneceram na cidade apenas o terno de congado São Benedito e Nossa
Senhora do Rosário, até então coordenado pelo senhor José Lourenço (Zequinha Gato),
pai dos irmãos Antônio Lourenço (Toninho Gato) e Ana Maria Lourenço (Ana Maria
Gato) e o terno de congado de Santa Efigênia do senhor Joaquim Silveira Costa
(Maestro Biá) 6. Por muitos anos esses ternos animaram as festas de Nossa Senhora do
Rosário.
O Terno de Congado Santa Efigênia foi fundado e organizado pelo senhor
Joaquim da Silveira Costa, conhecido por todos como Maestro Biá.
O terno contava com a participação de cinqüenta congadeiros. Com a morte do
maestro Biá em 01/09/1987, o terno de congado Santa Efigênia fica com a família, com
liderança do filho Sidney Celso da Costa (Nén do Biá). À partir desta data até o ano de
2006 a família manteve o terno de congado Santa Efigênia. Hoje o terno já não participa
mais das festas do Rosário.
Atualmente, em Cambuquira temos os seguintes ternos de congados:
1. O Terno de Congado São Benedito e Nossa Senhora do Rosário dos irmãos Toninho
Gato e Ana Maria Gato é considerado o mais antigo da cidade e parte importante da
tradição cultural e histórica de Cambuquira. Segundo o senhor Toninho Gato e sua irmã
Ana Maria Gato, o terno de Congado deles existe “há mais de cem anos”, informação
que eles nos deram em 2009, ano em que a cidade festejava seus cem anos. Não foi
possível verificar esse dado fornecido pelos nossos informantes, já que não há
documentos comprobatórios, apenas a história oral.

Essa imprecisão é comum nos relatos orais. Diferente da escrita, a palavra falada
pode estabelecer uma fundação radical do Mundo – no caso da minha pesquisa, tenho
um relato de fundação do congado. Os relatos sofrem adaptações e modificações mais
facilmente que os textos escritos. Os textos orais são desenhados mentalmente no
5
Francisco Muniz era dono de um terno de congado no município de Campanha MG, também era tio da
senhora Sebastiana Selma Rodrigues (Dª Selma) do Terno de Congado Irmandade de Nossa Senhora do
Rosário.
6
Joaquim Silveira Costa (Maestro Biá) era dono do Terno de Congado Santa Efigênia e avô de Rosana
Maria Rodrigues agora integrante do Terno de Congado São Benedito e Nossa Senhora do Rosário.
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pensamento de quem fala e de quem escuta, mas somente a nós, ouvintes, é que cabe a
função de entender esses relatos no campo externo e interno.
Sendo assim, os entrevistados falam do passado buscando peças que
demonstrem suas presenças na história. “Há uma necessidade íntima em afirmar a
veracidade de sua história – fato que lhe garante prestigio – revelando-a como peça de
valor para a existência da realidade social.” (GOMES, PEREIRA, 1962, p.181).
Segundo os irmãos entrevistados, “a tradição do Congado está na família há
mais de cem anos, vem de geração para geração”. O que explica a fala anterior de
Toninho Gato quanto à idade do Congado na cidade.
Com a morte do pai, em 1954, Toninho Gato passou a comandar o Terno de
Congado Nossa Senhora do Rosário e São Benedito junto a seu irmão mais velho Cirilo
Lourenço (Cirilo Gato), em 1958. Nessa época, sua irmã Ana Maria Lourenço (Ana
Maria Gato) era ainda criança.

2. O terno de Congado Mirim de Nossa Senhora do Rosário existe na cidade desde


1997. Foi fundado pela senhora Aparecida de Fátima do Carmo (Dinha do Caé).

Antigamente Dinha do Caé participava do Terno de Congado São Benedito e


Nossa Senhora do Rosário, era ela que costurava as indumentárias e também organizava
as meninas dançantes dentro do cortejo. Ao formar o seu terno mirim, Dinha do Caé
separa-se deste terno.
Dinha do Caé iniciou o terno mirim com poucas crianças, contava com a
participação de seus filhos mais novos. Hoje o seu terno mirim apresenta-se na Festa de
Nossa Senhora do Rosário com aproximadamente 35 crianças.
O repertório do terno é composto por músicas antigas do congado da cidade,
principalmente do Terno de Congado São Benedito e Nossa Senhora do Rosário.
Os instrumentos de percussão utilizados pelos componentes mirins do terno são:
caixas, cavaquinho, pandeiro, reco-reco, tarol, afuxé e surdos. A viola não é um
instrumento usado no terno mirim por ser desproporcional ao tamanho dos
componentes.

3. O Terno de Congado Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, foi fundado no ano


de 2006. A maioria dos integrantes deste participava do Terno de Congado São
Benedito e Nossa Senhora do Rosário; alguns vieram do Terno Santa Efigênia, que não
existe mais. Hoje o terno conta com a participação de mais ou menos 60 componentes.

A frente deste terno está a senhora Sebastiana Selma Rodrigues, por isso o
terno é conhecido por “Terno da Dª Selma”. Dª Selma tem na organização do terno sua
filha Terezinha Rodrigues Alves Tomaz (Tê), Gilberto Luiz Carneiro, Paulo Roberto da
Silva (Zulu) e Antônio Augusto Fidelis (Neném).
No terno, alguns dos componentes fazem parte dos cordões, são dois cordões
compostos por homens e mulheres. No centro desses cordões ficam os tocadores com
seus instrumentos de percussão.

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À frente destes vai a bandeira com a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Ao


lado da bandeira, vão duas meninas, as dançantes. Na frente da bandeira vai a
imperatriz. Dª Selma e Gilberto também vão ao lado da bandeira.
A figura do capitão do mastro é representada pelo filho do Neném, Antoni
Grigor Fidelis. Ele é responsável pelo mastro. Quando inicia a festa ele carrega o mastro
até a igreja. Junto com o capitão vão todos os congadeiros do terno.
O mastro do Terno Irmandade de Nossa Senhora do Rosário tem a imagem de
Nossa Senhora do Rosário.
As músicas do terno são músicas antigas de congados passados. Mas,
lembrando sempre São Benedito e Nossa Senhora do Rosário.
O município de Cambuquira tem no seu dia-a-dia a religiosidade, por sua vez,
os devotos de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário se recolhem nos trabalhos e
tarefas diárias, mas o brilho do congado não se apaga na luta dos congadeiros pela sua
sobrevivência, isso se encontra claramente na proteção de seus santos devocionais.
Em uma primeira visão o congado, manifestação folclórica, demonstra uma
aparência simples, apesar das indumentárias coloridas dos congadeiros que dançam e
cantam em homenagem aos seus santos de devoção.
Na festa do congado de Cambuquira notei uma dinâmica religiosa com um
poder de incorporar toda sociedade cambuquirense, e ainda, ao longo da pesquisa
adquiri experiências riquíssimas que me permitiu compreender a importância da cultura
na vida dessas pessoas que são ao mesmo tempo tão simples, mas têm muito a ensinar.

Referências bibliográficas:

GOMES, Núbia P. de M.; PEREIRA, Edmilson de A. Mundo encaixado: Significação


da cultura popular. Juíz de Fora/ Belo Horizonte: UFJF/ Mazza, 1992.

ARAÚJO, Alceu Maynard. Folclore nacional: danças, recreação e música. V.2. 2ed.
São Paulo: Edições Melhoramentos, 1967.

ANDRADE, Mário de. Danças Dramáticas do Brasil. 1° TOMO, Oneida Alvarenga


(org). Livraria Martins Editora, São Paulo, 1959.

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