Fundamentos Metodológicos Do Ensino de História e Geografia
Fundamentos Metodológicos Do Ensino de História e Geografia
Metodológicos do
Ensino de História
e Geografia
Material Teórico
A Lógica Formal e a Lógica Dialética
no Ensino de História e de Geografia
Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
A Lógica Formal e a Lógica Dialética
no Ensino de História e de Geografia
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Refletir sobre as características do ensino de História e Geografia na escola;
• Analisar o ensino pela perspectiva da lógica formal e pela lógica dialética;
• Evidenciar a importância da definição dos objetivos pedagógicos no ensino;
• Mostrar a importância da integração dos conhecimentos no nível escolar.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE A Lógica Formal e a Lógica Dialética
no Ensino de História e de Geografia
O professor pede que leia o texto, o qual “cairá” na prova. Você sabe que pre-
cisa saber os nomes dos personagens, fatos e datas, pois, provavelmente, isso
será questão da prova. Solução: decorar os nomes, fatos e datas;
• Para a aula de Geografia, o professor solicita que você decore os nomes das
capitais e rios mais importantes do Nordeste do Brasil. Para isso, usa diferentes
estratégias, tais como: um mapa em branco para que se coloque os nomes das
capitais e dos rios; faz chamada oral para verificar o quanto o aluno conseguiu
absorver de informações; e, na prova, coloca um mapa para que o estudante
identifique corretamente as capitais e os rios;
• Em um telejornal é apresentada, por vários dias, uma notícia sobre um fato que
teve lugar em um país distante. Essa é mostrada a partir de uma visão unila-
teral (única) sobre os acontecimentos. Dessa forma, o fato apresentado em tal
emissora leva a crer que as coisas aconteceram daquela forma.
É muito comum ouvirmos dizer que “os professores ensinam os alunos a pen-
sar”, “aquele aluno não sabe pensar” e coisas do gênero. Vejamos: pensar é uma
característica do ser humano e, desde que nascemos, pensamos! Por que a tarefa
de ensinar a pensar cabe ao professor? E aqueles que não têm a oportunidade de
frequentar uma escola? Esses não pensam?
Em outras situações, bastante comuns, ouvimos dizer que “aquele aluno não
sabe nada!” ou, ainda, “aquele aluno não aprende nada”. Analisemos essas afirma-
ções. Se considerarmos que pensar é algo inerente ao ser humano, não podemos
concordar com a ideia de que os professores são responsáveis por nos ensinar a
pensar, mas podemos considerar que os professores são responsáveis por direcio-
nar nosso pensamento ou, ainda, por fazer-nos pensar em determinadas direções.
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O que fica para nossa vida adulta, da nossa passagem pela escola, além de conhe-
cimentos adquiridos, é uma forma de pensar e agir sobre o mundo.
A forma como nos relacionamos com eles acontece através de nossos sentidos,
e esse relacionamento é, em grande parte, orientado pelas regras sociais que im-
peram na sociedade em que estamos inseridos. Esse conhecimento que adquirimos
é histórico, pois desenvolve-se e aprimora-se ao longo do tempo, de geração em
geração; é adquirido e conquistado.
Podemos conhecer, então, através das relações que desenvolvemos com os ob-
jetos e com os seres. Se considerarmos que cada um de nós tem uma formação
e histórias de vida diferentes, a forma de interação com os objetos ou seres e o
conhecimento que teremos sobre eles serão diferentes de um indivíduo para outro,
ou seja, o que eu conhecer sobre algo não será, necessariamente, o que você irá
conhecer, pois somos pessoas diferentes, embora o objeto ou ser a ser conhecido
seja o mesmo.
Na escola, somos levados a ter, todos, a mesma relação com os objetos e seres,
uma vez que o conhecimento a ser adquirido será determinado pelos professores
(via livro didático, programas de governo, entre outros) e nossas características in-
dividuais serão colocadas em segundo plano (ou em outro mais abaixo).
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UNIDADE A Lógica Formal e a Lógica Dialética
no Ensino de História e de Geografia
Esse tipo de raciocínio é levado para fora da escola e interferirá na vida cotidia-
na, na qual o sujeito será alguém que aceitará as coisas como são (porque alguém
disse, especialmente se for uma autoridade!), não terá dúvidas e nem questionará
se haverá outra possibilidade de se olhar o fato. Um adulto que terá dificuldades em
ver “o outro lado da moeda”, agirá conforme as regras impostas, sem questioná-las.
Esse aluno, e futuro adulto, não será o que podemos chamar de “crítico”.
Dificilmente nossos professores nos levaram a questionar o que esse fato possa
ter significado, o que levou a tal fato e se a imagem criada em nossa mente corres-
pondia à realidade. Gritou independência ou morte e pronto: fez-se a independên-
cia de Portugal, como em um passe de mágica.
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A reprodução desses fatos com seus heróis e datas tornaram-se mais importan-
tes do que conhecer o processo e verificar se há outras formas de se analisar esses
acontecimentos. Decoramos isso, repetimos e devolvemos na prova para “tirar
uma boa nota”.
Agindo dessa forma, como nesses sucintos exemplos, estamos agindo dentro da
lógica formal, ou seja, acreditando em verdades absolutas, sem questioná-las. Por
mais estratégias diferenciadas de que possamos nos valer para que o aluno compre-
enda os fatos (Inconfidência Mineira, Independência do Brasil e qualquer outro), se
o raciocínio que desenvolvermos for aquele da simples devolução das coisas prontas,
sem possibilidade de abrir o leque de visões, estaremos atuando dentro da lógica for-
mal. A lógica formal é baseada principalmente nos métodos positivista e empirista.
Veja bem: a possibilidade de o aluno estar perdido no meio do oceano é muito pe-
quena e de ele se lembrar de como calcular coordenadas geográficas é menor ainda!
Então, para que ele tem que aprender isso? Bem... está no programa de Geografia e,
em dado momento, o professor tem que ensinar o aluno as coordenadas geográficas.
Na realidade, esse conteúdo, tradicional, como tantos outros, serve para que, en-
sinado dessa forma, cristalize o ensino de Geografia com base na lógica formal, em
uma visão principalmente positivista, ou seja, da reprodução do conhecimento
e de se ficar na aparência das coisas, sem atingir sua essência.
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UNIDADE A Lógica Formal e a Lógica Dialética
no Ensino de História e de Geografia
Fonte: Trecho literal extraído de: MORAES, A. C. R. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Annablume, 2003. p. 29-30
A lógica formal é a lógica da aparência, uma vez que o fato dado não será ques-
tionado e isso mantém-nos somente no nível da informação sobre o fato ou objeto.
Lógica Formal
Memorização Aparências
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A Lógica Dialética no Ensino
Se partirmos do princípio de que nem sempre existiu ser humano neste planeta
(de acordo com as descobertas arqueológicas feitas até hoje), o que temos, hoje, é
nada mais nada menos que criações humanas. Mesmo eventos naturais são expli-
cados pelos seres humanos e essas explicações mudam com o tempo, a cada vez
que mudam as ideias das pessoas e as sociedades.
Sendo assim, é necessário que tenhamos a clareza de que a opção por se ensi-
nar um tipo ou outro de raciocínio também depende da sociedade em que se vive
e de que forma as relações sociais são estabelecidas.
Esse tipo de raciocínio leva à criticidade e forma um aluno, e adulto, que não
aceitará a coisa como está, nada pronto, e que o levará a sair do “lugar” em que
está, porque saberá onde está. Essa é a lógica dialética, a lógica que busca apontar
as contradições e os questionamentos.
Unindo a lógica com o conhecimento, temos que o que será conhecido de um ob-
jeto ou o que esse será dependerá da relação que estabelecermos com ele em função
do tipo de raciocínio que desenvolvermos: se me relacionar com a aparência, estarei
dentro da lógica formal e, se buscar a essência das coisas, estarei agindo na lógica
dialética. A lógica dialética baseia-se no método do materialismo histórico dialético.
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UNIDADE A Lógica Formal e a Lógica Dialética
no Ensino de História e de Geografia
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Você se lembra do que aprendeu em Biologia no 1º ano do Ensino Médio? Em
Matemática, no 5º ano? E em Geografia, na 7º série, por exemplo?
Bem, talvez você se lembre de alguns conteúdos, pois teve que repeti-los diver-
sas vezes ou porque gostou do assunto ou, ainda, porque essa ou aquela disciplina
eram suas favoritas e você tinha muita facilidade nela, ou, até mesmo, por outro
motivo. O fato é que a maioria dos conteúdos que aprendemos na escola nós esque-
cemos. Então surge uma dúvida: se é para esquecer, por que tenho que aprender?
O que podemos aprender com essas afirmações? Aprendemos que o conteúdo, por
si mesmo, é somente informação e não produz, por si só, algum tipo de raciocínio.
É o professor que, de posse desse conteúdo, o utilizará para formar um certo tipo de
raciocínio na mente do aluno e, dependendo da lógica de pensamento que em esse
se pautar (formal ou dialética), o conteúdo ganhará status de somente conteúdo (nível
da informação) ou ferramenta para formação de pensamentos (objetivo pedagógico).
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UNIDADE A Lógica Formal e a Lógica Dialética
no Ensino de História e de Geografia
O primeiro passo é termos clareza de que o tipo de treino que fizermos com
nossos alunos (treino mental, desenvolvimento de pensamentos e raciocínios) é o
que ficará para as suas vidas, pois aí está a base de sua formação (e não de sua
informação – nossos alunos adquirem informações, cada dia mais e mais, na TV,
na internet entre outros meios).
Essas habilidades são adquiridas com treinamento, pois não são natas no ser hu-
mano: observar, relacionar, interpretar, questionar, entre outras. Quanto mais nós
as treinarmos, mais o aluno as colocará sob seu domínio (assimilará).
E essa deficiência não se resolve na vida adulta; não é porque nos tornamos
adultos que aprendemos, “de uma hora para outra”, a relacionar as coisas. Essa
habilidade (relacionar) só será adquirida pelo aluno, na medida em que propuser-
mos exercícios que o levem a treinar esse tipo de raciocínio, ou seja, atividades que
tenham como objetivo (pedagógico) o relacionar.
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O saber questionar é conseguido com treino também. Quando trabalhamos
com verdades absolutas, reproduzindo conhecimentos que estão em textos
prontos e acabados (livros didáticos, por exemplo), tomando um fato como único
e inquestionável, não estamos possibilitando ao aluno o desenvolvimento da
habilidade de questionar.
Essa habilidade é desenvolvida quando o fato apresentado (na versão que tiver-
mos em mão, a partir do livro didático, por exemplo) for questionado ou apresen-
tado sob outra forma de olhar para ele. Esse treinamento envolve a mudança de
questões a serem feitas sobre o que está sendo estudado (determinado conteúdo).
Perguntas como O quê? Qual? Quando? Onde? com respostas prontas não contri-
buem para o desenvolvimento da habilidade de questionar, uma vez que, provavel-
mente, as respostas a essas questões estejam no material fornecido (texto do livro
didático, por exemplo).
Para se treinar essa habilidade, devemos incitar a dúvida com perguntas tais como:
Por quê?; Explique; Justifique; De que forma?; Conforme esta visão...; Conforme a
outra visão... Assim, o importante não é responder às questões levantadas, mas sim
ensinar o aluno a perguntar, buscando mais do que uma forma de ver os fatos.
Por exemplo: pode se dar um texto e fazer um questionário para que o aluno
busque as respostas no texto (habilidade de interpretação – baseada na lógica formal)
ou retirar uma passagem do texto, apresentar um questionamento (dúvida) que leve
o aluno a apresentar outra visão sobre a passagem do texto ou buscar outra infor-
mação para confrontá-la (habilidade de interpretação – baseada na lógica dialética).
Em certo sentido, precisamos refletir, primeiro, sobre o que foi imposto para nós
mesmos nos anos em que ficamos na escola. De que forma o que foi trabalhado nas
aulas e pelos tantos professores que tivemos contato afetou nossas vidas? Somente
após um minucioso processo de reflexão sobre nós mesmos é que devemos dar o
segundo passo na direção de questionarmos o que queremos com nossos alunos e
de que forma agiremos para alcançar tal objetivo.
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UNIDADE A Lógica Formal e a Lógica Dialética
no Ensino de História e de Geografia
Essas deveriam ser as primeiras perguntas que todos nós, professores, faría-
mos em nosso planejamento (nossa primeira aula): o que eu quero com este aluno
que ficará sob minha responsabilidade por um período X ou Y? Qual será minha
contribuição para a formação deste indivíduo que atuará nesta sociedade em que
vivemos? Quais habilidades desenvolverei neste aluno neste momento e nos próxi-
mos? E, em um segundo momento: Como atingirei estes objetivos? Aqui entram as
estratégias de ensino, a didática e os conteúdos que serão desenvolvidos.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
O que é Dialética
KONDER, L. O que é dialética. São Paulo: Ed Brasiliense, 1990.
Vídeos
Entre le Murs (Entre os muros da escola)
https://youtu.be/BDwLbwYr1cs
O que é Geografia?
https://youtu.be/wKx8GVWqFi8
Leitura
Base Nacional Comum Curricular: Educação é a Base
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura (MEC). Base Nacional Comum Curricular:
educação é a base. Brasília: MEC/CONSED/UNDIME, 2018.
http://bit.ly/2uh2fbx
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UNIDADE A Lógica Formal e a Lógica Dialética
no Ensino de História e de Geografia
Referências
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura (MEC). Base Nacional Comum Cur-
ricular: educação é a base. Brasília: MEC/CONSED/UNDIME, 2018. Disponível
em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ images/BNCC_EI_EF_110518_ver-
saofinal_site.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2020
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Fundamentos Metodológicos
do Ensino de História
e Geografia
Bases Teóricas e Metodológicas da História
Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Bases Teóricas e
Metodológicas da História
• Introdução;
• As Origens da História;
• Primeiras Explicações e o Surgimento da Investigação Histórica;
• Métodos para Estudar História.
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Analisar as origens, métodos e metodologias do ensino de História;
• Evidenciar as explicações sobre História e as fontes históricas;
• Propor algumas metodologias para o ensino escolar de História.
UNIDADE Bases Teóricas e Metodológicas da História
Introdução
Nesta unidade, abordaremos um pouco da origem da história como área de pes-
quisa, suas fontes de pesquisa, métodos e metodologias para o ensino de História
escolar, considerando novas abordagens de ensino e tendo como referências também
os documentos governamentais de base curricular nacional.
As Origens da História
A História como área de conhecimento academicamente desenvolvido é algo re-
lativamente recente, datando do final do século XIX o seu surgimento como área de
conhecimento desenvolvido dentro de uma universidade. Contudo, a busca de explica-
ções para os fatos do passado sempre esteve presente na vida dos seres humanos. A
curiosidade da humanidade por ver reveladas suas origens e a origem das coisas que a
cercam sempre levou os homens a questionarem tais origens e seus fundamentos. De
onde viemos? Como tudo surgiu? Por que tais e tais coisas aconteceram dessa forma?
Primeiras Explicações e o
Surgimento da Investigação Histórica
Você consegue imaginar as dúvidas que povoavam a mente dos seres humanos
de 1000 anos atrás? E de 3000 anos atrás? Quais dúvidas seriam essas? Como
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respondiam a questões tais como: de onde viemos? Como o mundo surgiu? Será que
este mundo sempre existiu? O que motiva as pessoas a agirem da forma como agem?
São questões bastante complexas, mas que estão presentes ainda hoje na socie-
dade em que vivemos. As explicações e respostas para tais dúvidas têm mudado ao
longo do tempo, uma vez que as sociedades, ao longo do tempo, se sofisticaram em
relação aos aspectos do conhecimento acumulado e de avanço tecnológico.
Ainda, de acordo com a autora, essas histórias sobre a criação eram sagradas
e o tempo dos acontecimentos era impreciso, pois havia sempre um retorno, uma
repetição infinita, sendo, dessa forma, um tempo circular e não linear, como o que
consideramos hoje.
Os mitos eram tidos como modelo e as diversas sociedades tiveram suas origens
nas lutas entre as divindades. Os governantes, como os faraós, por exemplo, eram
seres que se relacionavam diretamente com os deuses ou eram os próprios deuses e
símbolo de sabedoria. Em função da extrema religiosidade desses povos do passado,
a obediência a esses soberanos era demonstração de respeito (e temor) às divindades,
demosntrando o poder que esse fato tinha na vida das pessoas.
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UNIDADE Bases Teóricas e Metodológicas da História
Mesmo que as condições de sobrevivência não fossem boas, devia-se aceitar com
resignação sua condição, pois aqueles que aceitassem a palavra de Cristo seriam
encaminhados, após a morte, ao reino dos céus. E dessa forma, diante de uma
sociedade composta por uma esmagadora maioria sem condições de questionar, o
cristianismo foi se frutificando.
Figura 1
Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons
A história que surgiu nesse período na Europa ganhou, então, um novo caráter.
A forma de se escrever a história era aquela que contemplava os valores dessa religião
e a forma como essa via o mundo. Isso está presente, também, nos mapas que retra-
tam o mundo imaginado na época, uma vez que a Europa era tida como o centro do
mundo e nada além dela era muito conhecido – ou totalmente desconhecido.
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Como os europeus colonizaram várias partes do mundo, suas ideias e concepções de
história foram se tornando universais, tais como a divisão dos períodos da História
em Pré-História, Idade Antiga, Idade Média e Idade Moderna. Essa foi uma divisão
criada por historiadores europeus, mediante acontecimentos que tiveram relação
com sua própria história.
Por isso, a Idade Antiga termina com a decadência do Império Romano, e o final da
Idade Moderna, com a Revolução Francesa. Mas e o resto do mundo? Eles passaram
pelos mesmos processos? Não, nem sempre.
Podemos viver na mesma época, mas nem todos estão na mesma temporalidade.
Alguns povos têm um tempo social mais lento, como alguns povos indígenas, por
exemplo; enquanto outros, que moram nas grandes cidades, vivem cada vez mais o
tempo rápido, do mundo capitalista, ou seja, vivem a temporalidade capitalista.
Mas vejamos: cada povo, sociedade, nação está baseada em determinadas ideias e valores,
não é? Será possível que, mesmo dispondo de todo material resultado de várias pesquisas,
a interpretação desses mesmos materiais leve ao desvendamento da verdade? A verdade
existe? Para quem?
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UNIDADE Bases Teóricas e Metodológicas da História
qualquer que seja a ciência, é fundamental o estudo a partir da aparência dos fenômenos.
Por meio da aparência e da observação do pesquisador, chega-se à explicação da reali-
dade, podendo ainda, mediante essa observação e interpretação, realizar classificações.
Um dos maiores problemas da concepção positivista é a ideia e que podemos usar
o mesmo método para as ciências naturais e humanas, pois um estudo sobre rochas e
minerais, por exemplo, não é a mesma coisa que estudar aspectos humanos e sociais.
Primeiramente porque o homem é um ser social, cultural e político, tem capa-
cidade de discernimento e consciência diferentemente da natureza. Logo, utilizar o
mesmo método para as ciências humanas e para as ciências naturais é um equívoco.
No ensino de História, isso se traduziu em um estudo de nomes, fatos, de privi-
légio à memorização de datas, além de heróis, quase sempre da elite social vigente.
Em que isso implica? Implica no futuro adulto que estamos contribuindo para
formar: um ser humano que repetirá as verdades e será incapaz de questionar sua
realidade e a de sua sociedade e, com isso, busca se mover; ou um indivíduo crítico
porque questiona e tem consciência de seu lugar na sociedade e das mudanças
necessárias para melhorá-la, assim como a sua própria vida.
Seguindo esse raciocínio, não são as ideias que vão provocar as transformações das
sociedades, mas sim algo anterior ao desenvolvimento das ideias, que são as condições
materiais presentes em determinada sociedade e as relações que os homens estabele-
cem uns com os outros.
Essa nova forma de interpretação da história coloca que o passado deve ser ana-
lisado à luz das bases materiais e econômicas presentes em cada sociedade, pois são
essas que motivam os homens às batalhas, às guerras, às invenções e tudo mais.
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de um evento da história do Brasil. Como explica o documento da Base Nacional
Comum Curricular (BNCC):
A contextualização é uma tarefa imprescindível para o conhecimento
histórico. Com base em níveis variados de exigência, das operações mais
simples às mais elaboradas, os alunos devem ser instigados a aprender a con-
textualizar. Saber localizar momentos e lugares específicos de um evento, de
um discurso ou de um registro das atividades humanas é tarefa fundamental
para evitar atribuição de sentidos e significados não condizentes com uma
determinada época, grupo social, comunidade ou território. Portanto, os
estudantes devem identificar, em um contexto, o momento em que uma
circunstância histórica é analisada e as condições específicas daquele
momento, inserindo o evento em um quadro mais amplode referências
sociais, culturais e econômicas. (BRASIL, 2018, p. 399)
Como afirma Fermiano (2014, p. 31), “[...] o tempo histórico é um produto social e
cultural forjado pelas necessidades concretas das sociedades, historicamente situadas”.
Cada povo ao longo da história tinha uma forma de contar o tempo, assim, o tempo
histórico é um tempo social, produzido pela sociedade. Já vimos, por exemplo, que
os europeus criaram uma forma de contar e dividir o tempo histórico, mas sabemos
que essa não é a única forma. Observe a Figura 2.
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UNIDADE Bases Teóricas e Metodológicas da História
Existem, como mostra a Figura 2, muitas maneiras de contar o tempo. Isso pode ser
apreendido por meio de atividades lúdicas, de pesquisa, com o uso de objetos e calendá-
rios de diferentes tipos. Além disso, a percepção do tempo varia de povo e até de cada
indivíduo para outro. Quando falamos “[...] o tempo passou rápido este ano”, estamos
nos referindo à percepção que temos do tempo, que pode ser diferente para cada um
conforme nosso ritmo de vida, nossa temporalidade, nossa idade, entre outros fatores.
Assim, não podemos confundir o tempo histórico com o tempo da natureza, que
é contado em escalas de tempo diferentes. A natureza tem o seu tempo, que difere
do tempo histórico, que é humano. Ainda que seja o ser humano que conte o tempo
da natureza, por meio de eras geológicas, por exemplo, esse tempo é diferente.
Tem outro ritmo, que lhe é próprio.
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Nessa dimensão, o objeto histórico transforma-se em exercício, em laboratório da memória
voltado para a produção de um saber próprio da história. A utilização de objetos materiais
pode auxiliar o professor e os alunos a colocar em questão o significado das coisas do mun-
do, estimulando a produção do conhecimento histórico em âmbito escolar. Por meio dessa
prática, docentes e discentes poderão desempenhar o papel de agentes do processo de en-
sino e aprendizagem, assumindo, ambos, uma “atitude historiadora” diante dos conteúdos
propostos, no âmbito de um processo adequado ao Ensino Fundamental.
Logo, há várias maneiras de se realizar uma pesquisa histórica, por meio de muitas
variadas fontes e com o apoio de outras áreas do conhecimento.
A criança precisa aprender a diferenciar o tempo biológico, de sua vida e da vida das
pessoas (tendo relação com o nascimento, crescimento, envelhecimento), isso pode ser
desenvolvido por meio de atividades lúdicas, uso de fotografias, de criação de painéis
elaborados com desenhos, fotografias, imagens, entre outros recursos didáticos.
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UNIDADE Bases Teóricas e Metodológicas da História
Uma estratégia de aula que pode ser usada é a criação de linha do tempo. Veja a
Figura 3 a seguir.
Revolução
Fogo Revolução Revolução
Agricultura Técnica-
Pré-história Industrial técnica Informacional
Como isso foi mudando? Por meio das Revoluções Técnicas, nos séculos
XVIII-XIX, com a Revolução Industrial, com as Revoluções Técnico-Científica do
final do século XIX, com o uso da ferrovia, da luz elétrica, do telefone, do telégrafo,
do petróleo, inovações que surgiram no século XIX. E como ficou o mundo com
a internet, com o celular? Através da linha do tempo, você pode desenvolver
atividades que permitam o aluno aprender os processos técnicos nos quais o
mundo foi passando.
Pode-se também criar linha de tempo que tenha relação com a vida do aluno.
Quando ele nasceu? Como estavam as técnicas e tecnologias quando ele nasceu?
E na época dos seus pais? E de seus avós?
A linha do tempo pode ser construída individualmente, bem como em grupo, por
meio da escolha de temáticas comuns aos grupos ou cada grupo com um tema dife-
rente, que permitam o professor questionar os grupos, sobre como era aquela época:
como as pessoas se vestiam, como eras as técnicas e tecnologias usadas, como eram
os meios de comunicação, como se alimentavam, como eram as expressões usadas,
entre tantos outros assuntos.
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O uso de fotografias também é um recurso fundamental a ser explorado em uma
aula de História, comparando o passado com o presente. É essencial que o professor
promova a leitura junto com os alunos sobre a fotografia usada, inquirindo-os sobre
o que percebem e identificam na imagem, o que ela representa, se é desta época ou
não, se remete a outros povos ou outros lugares.
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UNIDADE Bases Teóricas e Metodológicas da História
É importante que se criem atividades nas quais os alunos cooperem entre si, que
sejam protagonistas, que aprendam a expor seus pontos de vista e interajam com
os demais alunos e professor(a).
A escala espaço-temporal pode começar com situações familiares, do seu contexto
sociocultural, do seu bairro, de sua cidade, para depois ir para outros tempos e realidades.
Atividades que promovam um processo de desequilíbrio-equilibração, como afirma
Piaget, servem para que o desenvolvimento mental do aluno possa elaborar conceitos
mais abstratos, possa duvidar do que é posto como verdade, aprenda a questionar.
É necessário que haja inclusão de temas definidos pela legislação brasileira, caso da
história da África e dos povos e culturas indígenas e afro-brasileira, contextualizando
a história desses povos no Brasil, sua importância, suas características socioculturais.
Contextualizar o conhecimento, questionar, trazer temáticas que agucem a curio-
sidade, que promovam o respeito pelo outro, são essenciais no ensino de História,
como afirma o documento da Base Nacional Comum Curricular:
Nesse contexto, um dos importantes objetivos de História no Ensino
Fundamental é estimular a autonomia de pensamento e a capacidade
de reconhecer que os indivíduos agem de acordo com a época e o lugar
nos quais vivem, de forma a preservar ou transformar seus hábitos e
condutas. A percepção de que existe uma grande diversidade de sujeitos
e histórias estimula o pensamento crítico, a autonomia e a formação para
a cidadania. (BRASIL, 2018, p. 400)
Uma atividade que pode ser usada em História são as visitas a museus, a conjuntos
arquitetônicos antigos, a vilas antigas, entre outras, formas que possibilitem aprender
história com formas espaciais, objetos, fotografias que remetam a outras épocas.
Desse modo, existem muitas possibilidades de usos de diferentes materiais e metodo-
logias no ensino de História, além do clássico uso dos livros didáticos.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
O Que é História
BORGES, V. P. O que é História. São Paulo: Brasiliense, 2005.
Metodologia de Ensino de História
VASCONCELOS, J. A. Metodologia de Ensino de História. Curitiba: Intersaberes,
2012. (e-book)
Leitura
Baú dos Avós: Aprendendo na Interdisciplinaridade
O objetivo desta prática é promover uma aproximação entre os membros da família,
por meio de experiências e histórias, e o conhecimento da história dos próprios
alunos e da comunidade, suprindo um aspecto não contemplado pelo livro didático
para o ensino de História.
GALO, R. X. dos S. Baú dos avós: aprendendo na interdisciplinaridade.
https://bit.ly/2YjE9JG
Cultura Afro-Brasileira – Brasil de Todas as Cores
Esta prática pretende evidenciar como somos um modelo singular por termos
incorporado características pertencentes aos colonizadores e tratar de temas
relativos à cultura afro-brasileira e ao racismo.
SALES, T. N. C. Cultura afro-brasileira – Brasil de todas as cores.
https://bit.ly/2WbRmBH
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UNIDADE Bases Teóricas e Metodológicas da História
Referências
ARÓSTEGUI, J. A pesquisa histórica: teoria e método. São Paulo: Edusc, 2006.
(Coleção História).
SILVA, M. (org.). História: que ensino é esse? Campinas: Papirus, 2016. (e-book)
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Fundamentos Metodológicos
do Ensino de História
e Geografia
Material Teórico
As Bases Teóricas e Metodológicas da Geografia
Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
As Bases Teóricas e Metodológicas
da Geografia
• Introdução;
• Reflexões sobre a Geografia;
• A Ciência Geográfica;
• A Geografia Escolar;
• Metodologias de Ensino de Geografia.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Refletir sobre as características do ensino escolar de Geografia;
• Evidenciar a trajetória da Geografia escolar;
• Propor algumas metodologias do ensino de Geografia.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE As Bases Teóricas e Metodológicas da Geografia
Introdução
Nesta unidade, trataremos da ciência geográfica, seus métodos, as características
da Geografia escolar, bem como da renovação pela qual a Geografia vem passando.
Assim como há a História, existe uma história da Geografia, e essa nos conta
sobre as diversas concepções que essa ciência assumiu ao longo do tempo e de que
forma acompanhou a transformação das sociedades. Os estudos de geografia e
dos fundamentos metodológicos dessa área do conhecimento são importantes não
somente porque nos situam na realidade em que vivemos, mas porque ampliam
nossa capacidade crítica e de desenvolver novos tipos de raciocínio.
A forma como a Geografia é vista pelo senso comum e ensinada tanto na escola
quanto nas universidades é resultado de inúmeras transformações pelas quais ela
passou ao longo do tempo e, dessa forma, reflete a forma de pensar o espaço em
tempos presentes e passados (épocas e sociedades com ideias diferentes).
8
Decorar nomes de capitais, relevos, rios, tabelas e dados, gráficos, índices, fa-
tos, entre outros, cumpre um papel no ensino de geografia e na educação mais
geral, mas, se, em vez de valorizarmos esse tipo de informação, mostrarmos que
os fenômenos apresentam-se em determinados locais (chamaremos de aparência)
e não em outros e buscarmos o porquê dessa distribuição (a essência), iremos nos
direcionar para outro caminho que apontará para resultados distintos.
Dessa forma, devemos nos questionar, em primeiro lugar, qual tipo de raciocínio
queremos desenvolver no aluno e depois estruturar o conteúdo em função desse
objetivo. Ao escolhermos a repetição de fatos e dados, pouco contribuiremos para
que o aluno adquira um olhar crítico sobre a realidade e perceba qual lugar ocupa
nesse mundo.
Mas outros podem ter boas recordações de suas aulas de geografia, quando al-
gum tema suscitava debates entre a turma ou quando algum assunto tratado em
aula apresentava relações com a vida cotidiana – temas como questões de moradia,
transportes, meio ambiente, migrações, agricultura, urbanização, entre tantos outros.
Mas, como dissemos, a geografia está presente em nosso dia a dia. Orientamo-
-nos pelos caminhos que fazemos de casa para a universidade, para o trabalho,
para o lazer; reconhecemos a localização de pontos familiares e interpretamos
paisagens localizando-as.
9
9
UNIDADE As Bases Teóricas e Metodológicas da Geografia
A Ciência Geográfica
O que é Geografia? Qual seria seu objeto de estudo?
Outro aspecto a ser lembrado diz respeito ao fato de a ciência, seja qual for, pos-
suir um conjunto de categorias e conceitos que lhe são próprios e comuns. No caso
da Geografia, essas categorias mais importantes são território, paisagem, região,
lugar e espaço, já que a Geografia é uma ciência espacial. Tais categorias e seus
conceitos são a forma de entendermos a realidade e é fundamental conhecer os
termos e classificações próprios da ciência geográfica.
Essa Geografia, que nasceu ligada ao Estado, tinha como função básica a descri-
ção dos territórios (melhor conhecer para governar), a realização de mapeamentos
(para demonstrar a localização dos elementos presentes nas paisagens) e a produ-
ção de teorias que dessem suporte à ação do Estado.
10
• o avanço do mercantilismo e a formação dos impérios coloniais (com o apri-
moramento das navegações, do comércio e da conquista de terras, pelos eu-
ropeus, nos demais continentes, tornou-se cada vez mais importante conhecer
os lugares e ter registros desse conhecimento adquirido);
• O aprimoramento das técnicas cartográficas (cada novo conhecimento do lu-
gar era registrado em mapas e a forma de confeccionar mapas foi se aperfeiço-
ando com o passar do tempo – o que seguiu os avanços da matemática e das
formas de medição dos terrenos);
• Os avanços do capitalismo e os interesses da burguesia;
• A postura progressista do ponto de vista filosófico, que deslegitimava o discur-
so e a ordem feudal e buscava um discurso racional, a razão como fundamento
na percepção da realidade (mesmo processo que resultou em transformações
na visão de passado da História da época);
• As ideias evolucionistas de Lamarck e Darwin (que proporcionaram novos
questionamentos sobre a origem da vida e das coisas).
Do século XIX ao XX, a Geografia passou por um longo período, o qual alguns
autores denominam de Geografia Tradicional, que era uma geografia extrema-
mente relacionada à observação, descrição e memorização de nomes e localizações
geográficas, tornando-se um conhecimento enciclopédico.
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UNIDADE As Bases Teóricas e Metodológicas da Geografia
A Geografia Escolar
O ensino escolar de Geografia se inicia com a cátedra de Geografia no Colégio
D. Pedro II, em 1837, no Rio de Janeiro. Como esse colégio era referência da
educação escolar na época, essa disciplina passou a ser ensinada nas escolas se-
cundárias do Brasil.
Ao longo do século XX, essa disciplina foi se consolidando como disciplina es-
colar, mas o ensino de Geografia era muito descritivo, com inúmeros nomes, enci-
clopédica e a reprodução dos conhecimentos preexistentes. Era um conhecimento
bastante fragmentado (separando-se aspectos físicos dos humanos), elaborando
uma fragmentação (dicotomia) do que se conhecia como geografia física e humana.
12
Essas resultaram em perseguições políticas a docentes e discentes, demissões de
reitores e diretores, intervenção direta do governo federal, impedimento de experi-
ências mais liberais no ensino. Criaram os cursos de licenciatura curta em Estudos
Sociais, que em dois anos habilitava para formação em História, Geografia, Ciências
Sociais e Política, para o ensino de 1° grau. No caso do ensino de História e Geogra-
fia, proibiam-se críticas ao governo militar e, logo, a Geografia Tradicional acabava
sendo uma concepção aceita pelos militares no lugar de uma visão mais crítica.
O ensino de Geografia no Brasil por muito tempo e, até certo ponto em algumas
situações, ainda hoje é bastante tradicional. Em muitos casos, há uma excessiva
preocupação com memorizações de fatos e conceitos geográficos, sem se tentar
buscar entender os processos pelos quais esses se realizam.
Assim, para muitos, a Geografia ainda é entendida como uma ciência da loca-
lização, dos mapas, muito descritiva, em uma concepção equivocada, que muitas
vezes é reproduzida por professores de Geografia no nível escolar. A apresentação
de teorias e conceitos, no mundo acadêmico, é fundamental, mas sua utilização
no ensino escolar também precisa ser levada em conta. Nesse caso, é importante
considerar diversas mediações, entre elas: a idade do aluno; a série e turma na qual
o aluno está inserido; o tipo de currículo; o contexto no qual está inserida a escola,
entre outras mediações.
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UNIDADE As Bases Teóricas e Metodológicas da Geografia
Logo, a Geografia tem dimensões espaciais que são de ordem política, social,
cultural, natural e econômica. O estudo da Geografia permite assim atribuir sen-
tidos às dinâmicas das relações entre pessoas e grupos sociais, e desses com a
natureza, nas atividades de trabalho e lazer.
14
Isso pode ocorrer por meio de trabalho de campo (estudo do meio), com ati-
vidades externas à sala de aula, com observações da paisagem, com o uso de
fotografias, com desenhos, entre outros recursos e metodologias que envolvam
diretamente o aluno.
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UNIDADE As Bases Teóricas e Metodológicas da Geografia
Para o geográfo crítico Milton Santos (2001), por exemplo, a sociedade é desi-
gual e há os atores hegemônicos e hegemonizados. O primeiro grupo detém maior
poder econômico e político, usando o território de forma corporativa e como recur-
so. Enquanto aos mais pobres há os usos dos territórios como abrigo, como forma
de moradia, por exemplo.
O termo atores ou agentes sociais refere-se aos papéis sociais que cada grupo ou instituição
Explor
tem. Por exemplo, o Estado, em diferentes níveis de governo (municipal, estadual federal
etc.), é um agente social que atua no território e tem papel político e várias incumbências em
relação à existência do espaço. Já os donos de grandes empresas, grandes corporações, são
outro tipo de agentes sociais etc. Desse modo, tratar da categoria homem é muito genérica,
é importante contextualizar qual é seu papel social e como atua enquanto grupo ou insti-
tuição em relação ao espaço geográfico. Evidenciar as ações desses agentes, as contradições
existentes entre os discursos existentes e as realidades vividas concretamente é fundamen-
tal em uma pesquisa de concepção crítica.
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Metodologias de Ensino de Geografia
Para que o olhar sobre a realidade revele a constituição dos fenômenos, a escola
desempenha um papel fundamental. O que percebemos é que as diversas discipli-
nas escolares trabalham, genericamente falando, para manter e direcionar os indi-
víduos para que esses se mantenham somente na aparência das coisas (fenômenos),
sem chegar à essência delas.
Um olhar geográfico que busque ampliar em vez de oprimir o olhar sobre a rea-
lidade não pode estar baseado em dados, números, nomes de rios, capitais, relevos
somente. É preciso ir além, questionar a ordem espacial de cada canto do mundo
para que, a partir disso, o aluno consiga enxergar seu papel nesse mundo e com-
preender onde está e porque está ali.
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UNIDADE As Bases Teóricas e Metodológicas da Geografia
Cabe evidenciar o que é indústria, agricultura, comércio para o aluno. Isso pode
ser feito com uma maquete e ser ainda discutida qual a função de cada um desses
elementos. Pode-se criar um circuito produtivo, de circulação das mercadorias e do
consumo. Pode-se ainda relacionar o uso de agrotóxicos na agricultura e os impac-
tos para a saúde da população e para a natureza.
Figura 1 – Imagem de paisagem natural. Vegetação de mata tropical, extremo leste de São Paulo, 2010
Fonte: Acervo do conteudista
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Figura 2 – Imagem de paisagem urbanizada em Mauá – Região Metropolitana de SP
Fonte: Acervo do conteudista
Nesse sentido, o que leva à formação das favelas? Por que algumas pessoas
moram em favelas? O que leva na mesma cidade haver padrões tão diferentes de
moradia? E aquela indústria que está poluindo o ar, que tipo é? O que produz? Essa
poluição faz mal à saúde?
Desse modo, como afirma Milton Santos (2008), a paisagem muda a cada mo-
mento. Se tirarmos uma nova foto da mesma região, pode ser que, no futuro, os
terrenos vazios venham a ser ocupados, ou pelos mais pobres ou pelos prédios,
tendo em vista que o processo de valorização do espaço leva aos investidores e
construtoras intensificarem o uso do espaço, ampliando assim a verticalização.
Isso pode ser evidenciado por meio de uma maquete, uma fotografia, uma char-
ge, um texto, uma imagem de satélite. Logo, o estudo da geografia é muito mais
amplo do que muitos pensam. Entender o mundo no qual vivemos, nosso bairro,
nossa cidade e seus elementos espaciais – tais como: moradias, áreas verdes, trans-
portes, indústrias, comércios, entre outros aspectos – é algo fundamental para o
ensino da Geografia.
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UNIDADE As Bases Teóricas e Metodológicas da Geografia
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Geografia Escola e Construção de Conhecimentos
CAVALCANTI, L. de S. Geografia escola e construção de conhecimentos. Campinas:
Papirus, 2015. (E-book)
Leitura
Do Campo para a Cidade
O projeto Do campo para a cidade foi desenvolvido com alunos do 4º ano do ensino
fundamental, a partir de um conteúdo curricular e da curiosidade dos alunos em relação
à origem do milho de pipoca. RIBEIRO, J. B. Do campo para a cidade.
http://bit.ly/2VtOaCA
Bom Mesmo é o Coxim
Abordagem de maior amplitude sobre a diversidade ambiental existente na região, de
forma que as reflexões garantissem a aprendizagem, levando em conta a preservação
dos recursos naturais, vistos como patrimônio a ser legado às gerações futuras. SILVA,
N. F. da. Bom mesmo é o Coxim.
http://bit.ly/2vlvKcF
Mostra Fotogeográfica: Momentos de Humanidades, Mazelas do Humano
Esta prática teve como objetivo despertar e desautomatizar o olhar sobre o espaço
urbano, destacar a importância dos direitos humanos a fim de praticar a empatia e
refletir sobre nossas posições diante das mazelas humanas. PASSARIN, E. Mostra
fotogeográfica: momentos de humanidades, mazelas do humano.
http://bit.ly/2PuH8JX
20
Referências
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura (MEC). Base Nacional Comum Cur-
ricular: educação é a base. Brasília: MEC/CONSED/UNDIME, 2018. Disponível
em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_ver-
saofinal_site.pdf>. Acesso em: 26 fev. 2020.
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Fundamentos
Metodológicos do
Ensino de História
e Geografia
Material Teórico
Concepções Sobre Natureza e Meio Ambiente
Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Concepções Sobre Natureza
e Meio Ambiente
• Introdução;
• A Nova Natureza com a Ciência e o Capitalismo;
• Meio Ambiente e Educação Ambiental.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Refletir sobre as concepções de natureza e meio ambiente;
• Relacionar a questão ambiental ao ensino.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Concepções Sobre Natureza e Meio Ambiente
Introdução
Nesta unidade, abordaremos as concepções sobre a natureza ao longo do tempo
e conforme diferentes povos e sociedades, assim como reflexões sobre meio am-
biente e educação ambiental.
Segundo Moreira (1999), todos nós usamos os termos natural e natureza como
oposição àquilo que consideramos artificial. O senso comum diz que natural é
aquilo que não foi feito pelo homem, o que é próprio da natureza, e artificial é tudo
aquilo feito pelo homem, mesmo que com recursos e ajuda da natureza.
Essa discussão é complexa, mas queremos chamar a atenção para o fato de que
os conceitos são muito mais do que simples definições sobre as coisas. Envolvem
uma forma de concebê-las, e essa forma pode mudar ao longo do tempo, como a
história humana o tem demonstrado.
8
esses dois conjuntos (natureza e sociedades) é que a característica, composição e
ritmos de cada um são diferentes.
Por exemplo, um morro leva milhares e até milhões de anos para se formar, mas
a ação humana pode transformá-lo ou eliminá-lo em uma semana, um dia! Além dos
diferentes ritmos que há na natureza e na sociedade, os significados de cada elemento
que as compõem muda ao longo do tempo e a partir da visão de mundo que cada
povo, no presente e no passado, tem desses elementos. Por exemplo: uma floresta.
Da mesma forma, a natureza, em cada uma das diferentes sociedades que habi-
taram e habitam este planeta, será vista e assumirá significados distintos segundo
os valores e objetivos de cada agrupamento social.
Dessa forma, a construção da ideia de natureza (e de tantos outros conceitos que uti-
lizamos em nosso cotidiano) é cultural, não natural. Conforme Gonçalves (1996, p. 34),
[...] toda sociedade, toda cultura cria, inventa, institui uma determinada
ideia do que seja a natureza. Nesse sentido, o conceito de natureza não é
natural, sendo na verdade criado e instituído pelos homens. Constitui um
dos pilares através do qual os homens erguem suas relações sociais, sua
produção material e espiritual, enfim, a sua cultura.
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UNIDADE Concepções Sobre Natureza e Meio Ambiente
Todas as verdades que já disseram sobre a natureza, e todas que ainda serão
ditas, dão ao poeta liberdade de entendê-la como produto (“doença”) das nossas
ideias, e a nós, a certeza de que a melhor e mais correta maneira de a ela (natureza)
nos referirmos não é a de dizermos o que ela é abstratamente, mas sim o que ela
tem sido para nós, ao longo de cada um dos diferentes momentos históricos que os
homens já produziram (CARVALHO, 1999).
Para esses povos, natureza e sociedade formam um todo indissociável e cada ser
é parte desse todo, sem diferença entre eles. A relação com os outros elementos
não humanos é dada através de ritos mágicos e as explicações para a existência
de tudo se dá através de mitos (poderes sobrenaturais). Não há, para esses povos,
diferenças sociais, pois cada um exerce seu papel para que o mundo “funcione”.
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ou seja, primeiro uns homens tornaram-se diferentes dos outros e estabeleceram no-
vas relações sociais (uns dominando os outros) e depois partiram para a dominação
da natureza para satisfação de suas necessidades, cada vez maiores, de bens.
Os egípcios e outros povos do oriente tinham como natureza as “leis” dos mi-
tos e relacionavam-se com o mundo de forma mágica, através da manipulação
dos poderes sobrenaturais pelos sacerdotes, reis e faraós, sendo esses as próprias
(encarnações das) divindades. Todos deviam obediência a eles, que, em troca, lhes
davam proteção contra qualquer adversidade ou mal.
Aristóteles, famoso filósofo grego, afirmava que a natureza era tudo aquilo que
não fosse produzido pelo homem, que era a matéria-prima da qual eram feitas as
coisas (ideia de natural e artificial muito presente hoje no senso comum). Com o
passar do tempo, diversas transformações foram ocorrendo e as sociedades se
diversificando e mudando a forma de pensar o mundo. Que outras ideias e formas
de explicar o mundo seriam possíveis? Vamos avançar um pouco mais no tempo.
11
11
UNIDADE Concepções Sobre Natureza e Meio Ambiente
natureza era a própria Terra criada por Deus e perfeita; era a Terra o centro do
Universo (também perfeito, pois foi criado por Deus).
Com o passar do tempo, essas explicações não satisfaziam mais a grupos que
apresentavam novas perspectivas de vida e de futuro. Para que a natureza pudesse
ser explorada (em função de novas necessidades econômicas que estavam surgin-
do), o homem precisou afastar-se dela, explicá-la e controlá-la para dela retirar o
que fosse necessário para sua satisfação. Se ainda acreditasse que a natureza estava
povoada por seres sobrenaturais e que explorá-la poderia ser uma ofensa a Deus,
o progresso da sociedade (em termos materiais) seria impossível. Então, as novas
ideias sobre progresso levaram a uma nova relação com a natureza e, consequen-
temente, a uma nova visão e explicação sobre ela.
Por que ocorreu essa transformação? Vejamos. Para produzir cada vez mais (in-
dústria) e poder vender cada vez mais (comércio), a matéria-prima precisava estar
disponível. Ocorreu, nesse momento, uma ruptura definitiva entre o homem e a
natureza e essa passou a ser vista de uma nova maneira.
Os seres humanos sempre precisaram dos recursos naturais (como todos os ou-
tros animais) para sobreviverem, alimentarem-se, abrigarem-se e se reproduzirem.
12
Fazemos isso desde que o homem é homem. O que mudou? Mudou a forma como
resolvemos essas necessidades. Não queremos mais comer carne de caça crua ou
assada em fogueiras; agora desenvolvemos novas necessidades alimentares (e po-
demos confirmar isso nas centenas de comerciais de alimentos veiculados, a todo
momento, na mídia, como na TV, por exemplo).
Nós precisamos nos abrigar das mudanças climáticas, dos predadores? Não
nos escondemos mais em cavernas e tocas, mas queremos casas maiores e cada
vez mais confortáveis, com objetos que satisfaçam nossas novas necessidades. Por
exemplo, tínhamos, no passado, televisões cujos botões eram manuais e que nos
obrigava a levantar do sofá para arrumar a faixa vertical que ficava correndo pela
tela ou para mudar de canal ou aumentar/diminuir o volume. E hoje? Não precisa-
mos mais nos levantar para isso, pois as TVs têm controle remoto.
Criamos a necessidade de não nos levantarmos mais, acreditando que isso nos
traz mais conforto. E quanto maior a tela da TV, melhor; e, com alta definição, temos
um cinema em casa! Então, todos nós, genericamente falando, queremos consumir
e ter uma dessas novas maravilhas televisivas. E a reprodução? Bem, nós inventamos
novas formas de reprodução para garantir a continuidade de nossa espécie.
Será que realmente precisávamos de todas essas novas coisas que criamos e das
quais (muitas delas) nos tornamos dependentes? Karl Marx falava sobre as necessi-
dades socialmente criadas. Elas são fruto do capitalismo, pois esse sistema, para se
manter em funcionamento, depende do consumo. Se não consumirmos, o que as
indústrias produzirão? Para quem venderão? Como os capitalistas farão para obter
lucro, acumular capital e enriquecer?
Dessa forma, somos levados a crer que, quanto mais tivermos, em termos mate-
riais, melhores seremos e maior será nosso status nessa sociedade. Retornando à
ideia de natureza, temos, então, que, para nossa sociedade, diferente das socieda-
des que a precederam, esse conceito ganha uma nova concepção. A ciência desen-
volve-se, cada vez mais, para conhecer o funcionamento da natureza e “desvendar
seus mistérios” e, dessa forma, poder utilizá-la (como fonte de lucro).
13
13
UNIDADE Concepções Sobre Natureza e Meio Ambiente
Transgênico: é um organismo que recebe um gene retirado de outro, o que lhe confere uma
Explor
característica nova. A depender do gene adicionado, a planta pode se tornar mais nutritiva
ou mais resistente à seca, a pragas ou a agrotóxicos. Entre os argumentos mais usados a fa-
vor da transgenia, está o de que essas técnicas permitirão ampliar a oferta de produtos agrí-
colas para atender à necessidade de alimentos da crescente população mundial. Os críticos
reagem com a frequente menção de potenciais riscos no médio e no longo prazo dessas cul-
turas para a saúde humana (como o de aumento de alergias e da resistência a antibióticos)
e para o meio ambiente (como o uso de substâncias tóxicas e radiação).Recentes estudos,
feitos inclusive na Comunidade Europeia, não descartam riscos na produção e consumo de
transgênicos – afirma o advogado Maurício Guetta, do Instituto Socioambiental (ISA).
Existem muitas visões sobre meio ambiente, vamos nos ater às visões sistêmica e
crítica. A primeira é a visão sistêmica, observando que tudo que existe no mundo e no
planeta Terra está interligado. Se existe um sistema natural de vertentes (encostas) e
há uma ocupação humana, certamente isso alterará os processos naturais existentes.
Explor
14
Logo, tanto os processos naturais são sistémicos quanto as alterações promovi-
das pela vida do homem em sociedade também alteram esse sistema. Uma cidade
em si é um grande sistema, onde interagem processos naturais, antrópicos (da ação
humana), transformando a primeira natureza ou o meio natural.
Com técnicas e tecnologias cada vez mais artificiais, com biotecnologia, super-
produções com técnicas que se distanciam dos modos naturais, o ser humano vai
recriando as formas de produção de modo mais artificial. Basta ver os alimentos
ultra processados com os quais nos alimentamos.
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15
UNIDADE Concepções Sobre Natureza e Meio Ambiente
Logo, essa visão crítica aponta os usos do espaço urbano e por quais agentes
e com quais intenções. Um agente ou ator social pode ser o Estado (governo), os
grupos excluídos, os donos de indústrias, os promotores imobiliários etc. Cada um
tem um papel social, uma intenção e condição de poder na cidade.
A preocupação em relacionar a educação com a vida do aluno — seu meio, sua comuni-
dade — não é novidade. Ela vem crescendo especialmente desde a década de 1960 no
Brasil. Exemplo disso são atividades como os “estudos do meio”. Porém, a partir da década
de 1970, com o crescimento dos movimentos ambientalistas, passou-se a adotar explici-
tamente a expressão “Educação Ambiental” para qualificar iniciativas de universidades,
escolas, instituições governamentais e não-governamentais por meio das quais se busca
conscientizar setores da sociedade para as questões ambientais. Um importante passo foi
dado com a Constituição de 1988, quando a Educação Ambiental se tornou exigência a ser
garantida pelos governos federal, estaduais e municipais (artigo 225, § 1o, VI).
Fonte: MEC
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entre outros, sempre considerando as mediações e o contexto no qual as atividades
serão desenvolvidas.
Em uma atividade, por exemplo, sobre áreas verdes e sua importância ambiental,
o uso de recursos informatizados (imagem do Google Earth, Google Street View,
outras fontes de imagens da internet) auxilia na identificaçao das coberturas vege-
tais. O estudo do meio pode ser interessante para reconhecimento in loco, bem
como o uso de jogos educativos pode compor um rol de estratégias interessantes.
17
17
UNIDADE Concepções Sobre Natureza e Meio Ambiente
ZOMBINI, Edson Vanderlei; PELICIONI, Maria Cecília Focesi. Saneamento básico: estratégia
Explor
para a promoção da saúde da criança. Material educativo para apoio pedagógico. São Paulo:
Faculdade de Saúde Pública, USP, 2013. Disponível em: http://bit.ly/2Tk8kOb
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Armas, germes e aço – os destinos das sociedades humanas
DIAMOND, J. Armas, germes e aço – os destinos das sociedades humanas. 4. ed. Rio
de Janeiro: Record, 2003.
Educação e meio ambiente: uma relação intrínseca
LUZZI, Daniel. Educação e meio ambiente: uma relação intrínseca. Barueri: Ed.
Manole, 2012. p. 111-156. [e-book]
Vídeos
Primeira e Segunda Revolução Industrial
https://youtu.be/dBT266GCJF0
Aula de Revolução Industrial – Parte ½
https://youtu.be/meSQG6bNvOM
19
19
UNIDADE Concepções Sobre Natureza e Meio Ambiente
Referências
ALBANUS, L. L. F.; ZOUVI, C. L. Ecopedagogia: educação e meio ambiente.
Curitiba: InterSaberes, 2012. [e-book]
20
Fundamentos Metodológicos
do Ensino de História
e Geografia
Alfabetização Gráfica e Cartográfica
Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Alfabetização Gráfica e Cartográfica
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Analisar a história da Cartografia e seu uso no ensino de História e Geografia;
• Propor metodologias para a alfabetização gráfica e cartográfica;
• Evidenciar os documentos governamentais sobre alfabetização cartográfica.
UNIDADE Alfabetização Gráfica e Cartográfica
A importância dos mapas será sempre avaliada por nós em função da utilidade
que terá para nós na escola e em nossa vida cotidiana. O mapa é um modelo de
comunicação visual em que os espaços e seus elementos aparecem de forma codifi-
cada. Quanto mais conhecermos os códigos que o mapa contém e o conteúdo nele
representado, maior será nossa interação com ele.
8
No processo de construção do mapa, desde mapas bem simples, como o de
uma sala de aula ou do caminho da escola até a sua casa, embutimos uma série de
habilidades que serão desenvolvidas ao longo do processo. Não estamos preocupa-
dos em formar cartógrafos (profissionais que desenham mapas), mas sim utilizar o
processo de construção do mapa para aprimorar a capacidade do aluno de lê-lo.
9
9
UNIDADE Alfabetização Gráfica e Cartográfica
Para que a interação entre o leitor do mapa e esse seja cada vez mais profunda,
é necessário que se conheça, sempre, um pouco mais sobre a cartografia (os ma-
pas) do ponto de vista de sua história, da evolução das técnicas de construção e da
ideologia que está embutida em cada representação do espaço.
Desde então, a confecção de mapas teve uma longa evolução, através da qual os
meios de representação do espaço foram sendo aos poucos aperfeiçoados. Entre
os povos mais antigos, os gregos foram os que mais se destacaram na Cartografia,
ou seja, na confecção de cartas ou mapas.
Claudio Ptolomeu, que viveu entre os anos de 90 a 168 d.C., foi uma figura muito
importante na história da Cartografia em função de suas grandes contribuições para
a evolução dos mapas. Ele escreveu uma extensa obra, intitulada Geografia, em
oito volumes e acompanhada de uma coleção de 27 mapas. Um dos mapas repre-
sentava o mundo conhecido na época, os outros 26 detalhavam diferentes regiões.
Assim, Ptolomeu foi o autor do primeiro atlas universal. Seus mapas apresentavam
uma grande riqueza de detalhes em termos de forma dos lugares e outras informações
importantes para a época. Podemos observar no link a seguir (mapa-múndi de
Ptolomeu) a representação de terras elevadas (montanhas) em diversas áreas e a direção
dos ventos em cada estação do ano (representadas pelas figuras ao redor do mapa).
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Explor
Mapa de Ptolomeu: https://bit.ly/2QRqGnZ
A possibilidade de impressão e cópia dos mapas fez com que muitas pessoas
tivessem acesso a eles e que, com mais pessoas observando os mapas, muitos
ajustes pudessem ser feitos, a partir das diversas informações que cada um obtinha
sobre os lugares conhecidos.
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UNIDADE Alfabetização Gráfica e Cartográfica
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Concluímos, então, com isso em mente, que muitas áreas podem aparecer nos
mapas com um tamanho diferente do que são na realidade. Observe o mapa-múndi
a seguir na Figura 4 e observe que a Groenlândia é quase do tamanho da América
do Sul. Isso é efeito do sistema de projeção adotado pelo cartógrafo que escolheu
esticar mais a parte norte do planeta, já que, ao transferir uma esfera para o plano,
sobrarão áreas que precisam ser “esticadas”.
Figura 4 – Mapa-Múndi
Fonte: Google Maps
Para que o aluno possa interagir da melhor forma possível com o mapa ou
possa produzir seus próprios mapas, é necessário que esse seja, paulatinamente,
treinado. A esse processo de aprendizagem de confecção e leitura do mapa cha-
mamos de alfabetização cartográfica. Assim como ensinamos letras, palavras e
frases aos alunos com o objetivo de alfabetizá-los na linguagem escrita e de leitura,
é preciso, ao longo do tempo escolar, alfabetizar o aluno na linguagem dos mapas.
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UNIDADE Alfabetização Gráfica e Cartográfica
Define-se carta mental como uma representação gráfica que ajuda a verificar a
percepção do aluno em relação ao espaço:
Para conhecer o espaço de vida dos indivíduos, pede-se a ele que trace à
mão, sem fornecer-lhe um mapa-base, o plano dos lugares que frequenta
regularmente. A isso se dá o nome de carta mental. (PONTUSCHKA
et. al.; 2009, p. 313)
Esse desenho mental ou com observação pode ser refeito com orientação do
professor, que poderá questionar e evidenciar a importância dos elementos espa-
ciais que estão colocados nesse trajeto (farmácias, casas, igreja, indústria, áreas ver-
des, parques etc.), seus usos e funções, bem como orientar o desenho (Norte, Sul,
Oeste, Leste); isso pode envolver conhecimento de proporção, distância, escala,
orientação, entre outros.
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pel primordial na leitura dos mapas, pois sem ela não é possível fazer uma leitura
adequada e compreender o que está sendo representado.
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UNIDADE Alfabetização Gráfica e Cartográfica
Como recurso didático ainda pode-se utilizar bússolas e sistemas de GPS, caso
estejam disponíveis na unidade escolar. Sua utilização em campo possui como
escopo aprimorar o desenvolvimento das habilidades cartográficas, bem como re-
conhecer seus funcionamento e importância. Lembrando que a bússola sempre
aponta o Norte e a partir dele pode-se descobrir os demais pontos cardeais (N, S,
E, O) ou colaterais (NE, SE, SO, NO).
É essencial que todo mapa tenha título, fonte de dados, escala, orientação
e legenda. Na legenda, há as formas de representação da realidade no mapa,
através de figuras geométricas, figuras pictóricas e/ou cores. Há diferentes ma-
neiras de implementação. Se o fenômeno for um rio, por exemplo, a implemen-
tação é linear, ou seja, por meio de uma linha que representa o rio, cuja cor é
azul por convenção.
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Explor
A linguagem cartográfica segundo os PCNs
O estudo da linguagem cartográfica, por sua vez, tem cada vez mais reafirmado sua impor-
tância, desde o início da escolaridade. Contribui não apenas para que os alunos venham a
compreender e utilizar uma ferramenta básica da Geografia, os mapas, como também para
desenvolver capacidades relativas à representação do espaço.
A cartografia é um conhecimento que vem se desenvolvendo desde a pré-história até os
dias de hoje. Por intermédio dessa linguagem, é possível sintetizar informações, expressar
conhecimentos, estudar situações, entre outras coisas — sempre envolvendo a ideia da pro-
dução do espaço: sua organização e distribuição.
As formas mais usuais de se trabalhar com a linguagem cartográfica na escola é por meio de
situações nas quais os alunos têm de colorir mapas, copiá-los, escrever os nomes de rios ou
cidades, memorizar as informações neles representadas. Mas esse tratamento não garante
que eles construam os conhecimentos necessários, tanto para ler mapas como para repre-
sentar o espaço geográfico.
Para isso, é preciso partir da ideia de que a linguagem cartográfica é um sistema de símbolos
que envolve proporcionalidade, uso de signos ordenados e técnicas de projeção. Também é
uma forma de atender a diversas necessidades, das mais cotidianas (chegar a um lugar que
não se conhece, entender o trajeto dos mananciais, por exemplo) às mais específicas (como
delimitar áreas de plantio, compreender zonas de influência do clima). A escola deve criar
oportunidades para que os alunos construam conhecimentos sobre essa linguagem nos dois
sentidos: como pessoas que representam e codificam o espaço e como leitores das informa-
ções expressas por ela.
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UNIDADE Alfabetização Gráfica e Cartográfica
É importante lembrar que o que está sendo representado pode ser um tema que
tem relação com quantidade, ou seja, quantitativo. Nesse caso, há de se considerar
isso na representação. Se essa ocorrer por meio de figuras, elas deverão ser propor-
cionais, ou seja: quantidades menores, figuras menores; quantidades maiores, figuras
maiores. Ou se forem tipologias diferentes com figuras diferentes. Observe a Tabela 1.
Se for por meio de cores, essas deverão ser gradativas, seguindo uma sequência,
como mostra o mapa de densidade demográfica do Brasil. Compreender e saber
representar diferentes fenômenos em um mapa é essencial, bem como saber fazer
uma leitura adequada. O fundamental em um mapa é ter: título, legenda (onde
estão representados em cores, símbolos ou figuras geométricas os fenômenos e
temas dos mapas), a escala, a fonte dos dados e a orientação do mapa.
O mapa com uma escala 1:10.000 significa que é mais detalhado, trata-se de
uma escala grande. Logo, você pode começar analisando o mapa de um Estado,
por exemplo, e depois ir buscando uma escala grande onde terá possibilidades de
verificar as informações mais próximas.
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Outro aspecto importante é a leitura da legenda dos mapas ou cartas, mostran-
do o que está sendo representado e de que maneira. No mapa a seguir, Figura 7, de
áreas contaminadas, é possível verificar que as tipologias relacionadas à contamina-
ção e sua fase estão representadas por círculos, com cores distintas para mostrar as
situações em que se encontram as áreas de contaminação.
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UNIDADE Alfabetização Gráfica e Cartográfica
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
História da Cartografia
https://youtu.be/qtbi4cgomK8
A evolução da Cartografia
https://youtu.be/oRNNylqpjpg
Projeções cartográficas
https://youtu.be/eJLHN1Dy0MM
Leitura
O que vejo por onde passo?
Projetos Educativos de Geografia baseados na BNCC (BRASIL, 2018).
https://bit.ly/2UtpAB0
Como fazer legenda para croqui
Projetos Educativos de Geografia baseados na BNCC (BRASIL, 2018).
https://bit.ly/3axTfyA
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Referências
ALMEIDA, R. D. de. Do desenho ao mapa: iniciação cartográfica na escola. São
Paulo: Contexto, 2014.
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Fundamentos Metodológicos
do Ensino de História
e Geografia
Metodologias de Ensino de História e Geografia
Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Metodologias de Ensino
de História e Geografia
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Refletir sobre métodos e metodologias do ensino escolar em História e Geografia;
• Propor o uso de múltiplas linguagens no ensino de História e Geografia.
UNIDADE Metodologias de Ensino de História e Geografia
Os Métodos e as Metodologias
Neste texto, traremos algumas reflexões sobre procedimentos e metodologias de
ensino em Geografia e História, dando ênfase a algumas estratégias que podem ser
usadas no processo de ensino-aprendizagem.
É necessário compreender o papel das atividades e práticas no ensino funda-
mental e levar em conta sempre as mediações das características socioculturais das
turmas, a faixa etária, as experiências prévias que os alunos tenham, bem como o
método e as metodologias usadas.
Convém relembrar que método é a concepção teórica na qual o professor abor-
dará o conhecimento geográfico ou histórico – pode ser, por exemplo, positivista,
dialético, entre outros. Já as metodologias são os procedimentos ou estratégias
que serão usadas na sala de aula ou em atividades extraclasse, tais como: aula
expositivo-dialogada, estudo do meio, painéis em grupo; debate com a sala toda;
leitura e interpretação de textos; dramatização e simulações; entre tantas outras.
Na prática docente na escola é necessário considerar as estratégias no proces-
so de ensino-aprendizagem tanto do ponto de vista teórico quanto de sua prática.
É essencial que o professor conheça os fundamentos científicos e pedagógicos da
Geografia e História, bem como das áreas de Educação, adequando-as à sua reali-
dade escolar e ao processo de ensino-aprendizagem.
Para isso, cabe ao professor planejar suas aulas, utilizando-se de diferentes lin-
guagens para que essa aula não seja tradicional e buscando uma lógica que não seja
a formal, pois não basta somente variar as estratégias e metodologias usadas se o
raciocínio desenvolvido em aula seguir a lógica formal.
Sejam quais forem as estratégias a serem desenvolvidas no processo de ensino-
-aprendizagem, é essencial contextualizar os conteúdos a serem tratados nas ati-
vidades em aula ou extraclasse. Se o tema é, por exemplo, as migrações internas
no Brasil, cabe questionar: em qual contexto ocorrem ou ocorreram tais migra-
ções? Quais os fatores que levaram a tais migrações? Quais os atores envolvidos
nesse processo? Quais os papéis que cada um dos atores envolvidos teve? Con-
textualizar assim do ponto de vista cultural, social, econômico, político, ou seja,
considerando-se o espaço geográfico e a história em suas multidimensionalidades.
É essencial que o professor busque, conforme propõe a lógica dialética, estimu-
lar o educando a questionar o que é posto como verdade. Deve buscar compreen-
der o que vai além da aparência dos fenômenos, além da memorização, buscando
a essência das questões geográficas e históricas e suas diversas inter-relações.
Para que uma aula busque ser questionadora, não dá para o professor apenas
fazer uso de aulas expositivas, sem procurar criar possibilidades de participação
mais efetiva dos alunos, com outras linguagens e formas de diálogo.
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É essencial utilizar diferentes meios de leituras sobre um tema, portanto, é fun-
damental criar estratégias de ensino variadas, com variados recursos, e também ler
criticamente os acontecimentos que tenham relação com a Geografia e História.
Com as crianças, por exemplo, realizar estudos das diferenças sociais, culturais,
naturais existentes nas paisagens. Pode-se estudar mediante um estudo do meio, análise
e comparação de fotografias, produção de painéis com desenhos, uso imagens etc.
As Metodologias de Ensino
para História e Geografia
Para as crianças, é fundamental partir da escala local e depois ir relacionando
os acontecimentos e situações a outros lugares mais distantes. Às vezes, sobretudo
com as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs), a criança tem
contato por meio de imagens e vídeos com realidades distantes, por isso não deve-
mos pensar na escala local somente.
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UNIDADE Metodologias de Ensino de História e Geografia
Nesse sentido, é essencial que exista uma retroalimentação entre quem emite e
quem recebe a mensagem, a percepção por parte do educador se sua mensagem
está sendo compreendida, internalizada (Vygotsky) é importante.
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Contudo, cabe lembrar que qualquer resultado dependerá também do método
utilizado. Não basta, por exemplo, em uma atividade de jogos educativos sobre es-
cravidão no Brasil, fazermos questionamentos no jogo com perguntas e respostas
diretas, com vistas apenas a observar a memorização sobre o tema.
A leitura do mundo deve ser feita por diferentes linguagens: textuais, orais, por
imagens, gráficas, cartográficas etc. Cabe à escola criar possibilidades de o aluno
aprender a ler o mundo a partir de múltiplas linguagens.
Para que o vídeo, uma música, filmes e imagens, em geral, sejam utilizados com
fins educativos, tais formas de linguagem precisam ser analisadas pelo professor
e pelos alunos, pois, como recurso de comunicação, é importante considerar não
apenas a linguagem visual e sonora, mas também o que se pretende dizer, para
quem e com qual finalidade.
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UNIDADE Metodologias de Ensino de História e Geografia
Na escola, assim, fotos comuns, fotos aéreas, filmes, gravuras e vídeos também
podem ser utilizados como fontes de informação e de leitura do espaço e da pai-
sagem. É preciso que o professor analise as imagens na sua totalidade e procure
contextualizá-las em seu processo de produção: por quem foram feitas, quando,
com que finalidade, etc., e tomar esses dados como referência na leitura de infor-
mações mais particularizadas, ensinando aos alunos que as imagens são produtos
do trabalho humano, localizáveis no tempo e no espaço, cujas intencionalidades
podem ser encontradas de forma explícita ou implícita (BRASIL, 1997, p. 78).
No caso do uso de um filme ou vídeo, por exemplo, esses precisam ser decodi-
ficados, analisados, refletidos e nisso está o papel do educador em conduzir a re-
flexão de forma que essa se torne participativa, com diálogo entre os participantes
para a construção do conhecimento.
Outro aspecto a ser considerado é que se o filme for longo o ideal será mostrar
um trecho ou optar por um vídeo que retrate o mesmo tema, com um tempo me-
nor. Afinal, do ponto de vista da prática, não é adequado ficar passando um filme
por três aulas, por exemplo.
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Leia o trecho literal extraído de CAMPOS, R. R. de. Cinema, Geografia e sala
de aula:
Aquele que não é ocidental é o outro, o não civilizado. Por isso que a visão é nor-
malmente etnocêntrica. Em filmes sobre os árabes, além de sempre terem papéis
menores, as atividades que exercem são exóticas, as mulheres são prostitutas ou
dançarinas do ventre, e sempre aparecem o minarete, os desertos e os camelos.
Apresentar os outros como exóticos desqualifica as diferenças culturais de outras
sociedades. E nesse aspecto cabe observar com cuidado as imagens de Hollywood
sobre o Brasil. O que geralmente aparece são florestas ou sol, praias, carnaval, fave-
las e mulheres sensuais. Inventaram um país cenográfico, onde alguém pode estar
em Copacabana e, de repente, estar no Pelourinho e, em seguida, nas cataratas de
Iguaçu. A beleza tropical fica aliada à naturalização de determinados estereótipos,
como a malandragem, a permissividade e outras. Não é à toa que o personagem
euro/estadunidense que vem para cá é quase sempre um bandido, um traficante,
um golpista, fugindo do castigo em seu país de origem e que busca abrigo em um
território desprovido de leis. Piora o problema o fato de, muitas vezes, cineastas bra-
sileiros, com o intuito de criar uma linguagem universal para conquistar os mercados
da Europa e dos EUA, incorporarem essas imagens em seus filmes. O cinema não é,
portanto, um registrador da realidade; é uma construção de códigos, convenções,
mitos e ideologias da cultura de quem os realiza. Diversas vezes faz parte de uma
estratégia de dominação, de divulgação de estilos de vida e de concepções de mun-
do, para modificar a identidade cultural de determinada nação. Existe, muitas vezes,
para atuar sobre determinada tradição cultural, para modificar corações e mentes,
para que pensem e ajam de modo diferente. Além de subjetivo, não é uma constru-
ção isolada do sistema sociocultural do qual se origina. Há, inclusive, coisas pouco
perceptíveis, como o jogo de planos e de enquadramentos (alto/baixo, perto/longe,
vertical/horizontal), cujas sequências são criadas para se constituir em significações
nas quais os personagens transmitem sensações de angústia, de solidão.
Fonte: https://bit.ly/3403n0F
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UNIDADE Metodologias de Ensino de História e Geografia
Estudo do meio
Uma atividade usual na Geografia e História é o estudo do meio, pois esse per-
mite ao aluno um contato mais próximo da realidade, aliando teoria e prática. Pode
ser utilizado para desenvolver problemáticas e conteúdos relacionados à urbaniza-
ção, à questão socioambiental, à agricultura, às formas de transportes, mediante
uma leitura da paisagem e do espaço geográfico, relacionando os diversos elemen-
tos geográficos e contextualizando-o.
Além disso, desenvolver uma atividade em que promova o diálogo entre o pro-
fessor e os alunos, de modo que o educador não seja o único a falar durante a
atividade de estudo do meio. O aluno tem de ser protagonista também!
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Os Estudos do Meio podem ser realizados em todos os níveis de ensino e,
inclusive, nos processos de formação continuada de professores. Contudo,
é preciso lembrar que sua realização, especialmente nos Ensino Funda-
mental e Médio, requer atenção especial dos organizadores quanto à segu-
rança dos alunos. Além da prévia autorização dos pais ou responsáveis e
da contratação, quando necessária, de transporte e de alojamento, a elabo-
ração dos roteiros de observação e pesquisa devem levar em consideração
o estágio de desenvolvimento cognitivo e emocional dos estudantes. Deste
modo, a definição do espaço a ser estudado não pode prescindir de uma
prévia visita ao local e da identificação, considerando as características dos
participantes, de um itinerário que não coloque em risco a sua segurança.
Recursos Informatizados
No atual período da história existem diversificadas possibilidades de criar e de-
senvolver materiais didáticos de apoio às atividades propostas em aula. As novas
tecnologias informacionais, por exemplo, permitem a produção de novos conheci-
mentos, bem como podem servir para ampliar a possibilidade de tornar os conteú-
dos geográficos e históricos mais significativos.
Embora seja importante o uso das TICS em aula, é necessário que não sejam
apenas mudanças superficiais, caso, por exemplo, do manuseio de equipamentos e
suas técnicas, pois a supervalorização das tecnologias muitas vezes ocorre em detri-
mento da condição e do papel do professor. Assim, não é apenas a tecnologia que
transformará e melhorará uma determinada aula ou atividade educativa, cabe ao
professor definir como serão usadas tais tecnologias para uma atividade educativa.
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UNIDADE Metodologias de Ensino de História e Geografia
Por outro lado, é importante reconhecer que tais tecnologias podem tornar a
aula mais atrativa e dinâmica, sobretudo para uma geração acostumada ao uso de
tecnologias de informação e comunicação. Por isso, o professor precisa inteirar-se
sobre tais formas de usos e suas possibilidades educativas.
Outra estratégia é o uso de TICs, caso do Google Street View, Google Earth,
Movie Maker (programa que permite produção de pequenos vídeos), entre outros,
para atividades que busquem evidenciar e levantar as características socioambien-
tais do território, tais como: áreas verdes, lixo, ocupações em áreas de risco, os
recursos hídricos existentes (rios, córregos, represas, lagos); buscando, por meio
das imagens, observar as formas de ocupação e os problemas e potencialidades
ambientais existentes em um determinado lugar.
Um recurso simples que pode ser usado é copiar e colar imagem, editando-as
no programa denominado Paint (vide Figura 1). Basta copiar uma imagem, com a
tecla print screen (prt-sc), que se encontra no computador, e copiar para o Paint.
A partir daí, você poderá cortar, recortar, copiar, apagar e salvar, entre outras
ações, bem como colocar legenda e texto com o ícone A (veja na Figura 1). Tal
produção poderá ser usada em apresentações de Power Point, vídeos, em formato
de cartilha, jornal etc.
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Em uma atividade, por exemplo, sobre áreas verdes e sua importância ambien-
tal, o uso de recursos informatizados (imagem do Google Earth, Google Street
View, internet) auxilia na identificaçao das coberturas vegetais. O estudo do meio
pode ser interessante para reconhecimento in loco, bem como o uso de jogos edu-
cativos pode compor um rol de estratégias interessantes.
Citamos como exemplo uma atividade sobre áreas de riscos, muito comuns nas
cidades brasileiras. Quais estratégias e metodologias podem ser usadas para a rea-
lização de uma atividade que tenha como tema gerador áreas de riscos? Podem ser
inúmeras, mas destacamos algumas: usar imagens de diferentes tipos de áreas de
riscos, solicitando que a turma divida-se em grupos e cada grupo fique com uma
imagem diferente, a partir daí, pedir-lhes que expliquem o que pode ser observado
na imagem e que assim ocorra o debate sobre os tipos de problemas existentes e as
possíveis soluções; criar painéis por grupos com os quais cada grupo apresente os
tipos de áreas de riscos existentes em sua comunidade.
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UNIDADE Metodologias de Ensino de História e Geografia
Desse modo, como motivo para utilizar infográficos como estratégia de ensino,
há a possibilidade de se apresentar interfaces visuais, as quais aproximam o edu-
cando do seu convívio diário com o conteúdo a ser apreendido. Destaca-se nesse
contexto que a geração atual se encontra sob constante e indissociável influência do
domínio visual, assim como a instantaneidade das informações.
A entrevista é uma conversação que envolve duas ou mais pessoas. Para isso,
cabe ao professor orientar os alunos no passo a passo de uma entrevista:
• Qual o tema da entrevista?
• Qual o objetivo da entrevista?
• Qual público-alvo?
• Elaborar um roteiro para a entrevista, com alguns questionamentos essenciais;
• Gravar a entrevista e reescrever alguns trechos mais importantes;
• Discutir os resultados das entrevistas com a turma.
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1. Qual seu nome?
2. Onde nasceu?
3. Qual sua profissão?
4. Qual sua religião?
a) ( ) católica b) ( ) protestante c) ( ) espírita d) ( ) budista
e) ( ) não tem religião f) ( ) outra Qual?
5. Quanto tempo mora neste bairro?
a) ( ) menos de 1 ano b) ( ) 1 a 5 anos c) ( ) 5 a 10 anos d) ( ) 10 a 20 anos
e) ( ) mais de 20 anos
6. O que falta em seu bairro (pode marcar até duas possibilidades):
a) ( ) equipamentos de saúde b) ( ) áreas de lazer c) ( ) equipamentos culturais
d) ( ) saneamento básico e) ( ) segurança f) ( ) transportes adequados
g) ( ) moradia adequada h) ( ) coleta de lixo i) ( ) comércio
j) ( ) escolas efaculdades k) ( ) outro
A definição das perguntas feitas no questionário pode ser elaborada junto com os
alunos ou não, mas é fundamental que eles compreendam como realizar esse instru-
mento. Para isso, a orientação do professor e a simulação do questionário é importante.
Logo, finalizando esta unidade, não se esqueça que é fundamental usar diferen-
tes linguagens nas práticas de ensino de Geografia e História.
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UNIDADE Metodologias de Ensino de História e Geografia
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Aprenda a planejar aulas de História alinhadas à BNCC
https://bit.ly/2US2enz
Como trabalhar Geografia e História de acordo com a BNCC
https://youtu.be/-LvsP5Nn-cA
Leitura
O uso da maquete e das revistas em quadrinhos no ensino de Geografia
GONDIM, L. B. et al. O uso da maquete e das revistas em quadrinhos no ensino de
Geografia. Revista Eletrônica Geoaraguaia, v. 3, n. 2, p. 46-55, ago./dez. 2013.
https://bit.ly/2X0y5oX
Metodologia do Ensino de Geografia
MELLO, R. M. Metodologia do Ensino de Geografia. Curitiba: Secretaria de
Educação do Paraná, 2005.
https://bit.ly/3bIZ2l8
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Referências
BARBOSA, J. L. Geografia e Cinema: em busca da aproximação e do inesperado.
In: CARLOS, Ana Fani Alessandri (org.). A Geografia na sala de aula. São Paulo:
Contexto, 2006.
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