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A Paraíba e A Proclamação Da República

1) O documento descreve a proclamação da República no Brasil em 15 de novembro de 1889, que pôs fim ao Império Brasileiro. 2) A Paraíba teve pouca participação no movimento republicano e ficou surpresa com a queda da monarquia, apesar de ter alguns intelectuais e jornalistas que defendiam as idéias republicanas. 3) O documento lista alguns paraibanos que participaram ativamente do movimento republicano fora do estado da Paraíba.
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A Paraíba e A Proclamação Da República

1) O documento descreve a proclamação da República no Brasil em 15 de novembro de 1889, que pôs fim ao Império Brasileiro. 2) A Paraíba teve pouca participação no movimento republicano e ficou surpresa com a queda da monarquia, apesar de ter alguns intelectuais e jornalistas que defendiam as idéias republicanas. 3) O documento lista alguns paraibanos que participaram ativamente do movimento republicano fora do estado da Paraíba.
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A PARAÍBA E A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

Luiz Hugo Guimarães


 

O Império Brasileiro estava completando 67 anos quando foi atropelado por uma
nova forma de governo. Nesse longo período imperial aconteceram lentas modificações
políticas por conta das traumáticas sucessões e das alternâncias dos Gabinetes
Ministeriais, ora conservadores, ora liberais.
Muitas questões alimentaram as crises imperiais, dentre elas o problema da
escravatura, a ingerência da aristocracia, o aparecimento de novas oligarquias, a
urbanização, o começo da industrialização e do trabalho livre. A situação agravou-se
com as chamadas Questão Religiosa e Questão Militar.
Militares e civis uniram-se e trocaram idéias sobre os movimentos reformadores de
filósofos europeus, principalmente do positivista Augusto Comte. A influência dos
Estados Unidos despertou o espírito de federalização.
A posição do Brasil na América Latina era uma exceção. Hélio Silva e Maria Cecília
Ribas Carneiro, na Introdução de sua História da República Brasileira, volume 1,
Editora 3, 1998, p. 13, assinalam: “A República tinha de acontecer. Porque a
Monarquia era um regime artificial em nosso continente.” ... “Era único Império nas
Américas.”
Que era preciso mudar o regime, a elite intelectual  bem o sabia. Foi preciso cooptar
os militares para que o assunto tivesse vez. Com a divulgação das idéias republicanas
foi possível conquistar o apoio de algumas camadas da classe média, ainda muito
rarefeita.
Quando se uniram definitivamente militares e republicanos, a queda do regime era
inevitável. Faltava o motivo, o qual surgiu com a formação do Gabinete  Ouro Preto,
hostil ao Exército.
O famoso baile na Ilha Fiscal oferecido à oficialidade do couraçado chileno
“Almirante Cochrane”, demonstrativo da frivolidade da monarquia, também serviu para
o desencadeamento do movimento.
José Manoel Pereira Pacheco, sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico
Paraibano, em 24 de fevereiro de 1906, fez uma conferência no Instituto, onde revela
que o velho Ferreira Vianna assistiu aos festejos de uma janela defronte do salão
daquele baile, exclamando a frase que se tornou histórica: estou assistindo daqui as
exéquias da monarquia.
E prossegue Pereira Pacheco em seu discurso: Nessa memorável noite, oh! Recorda-
me bem! Sampaio Ferraz, Teixeira de Souza, Campos da Paz e outros trataram de
preparar a proclamação da república para a madrugada seguinte; tudo antes tinha
sido combinado entre os próceres republicanos de então Benjamin Constant, Deodoro
e outros.[i]
As lideranças civis e militares buscaram o Marechal Deodoro da Fonseca, que,
mesmo doente, se viu forçado a assumir o risco de encerrar o regime.
Está claro que a Proclamação da República foi um golpe, sem a participação popular.
A surpresa da proclamação alcançou a velha monarquia e os brasileiros, de modo geral.
O que houve foi a implantação dum governo provisório, Deodoro à frente, na manhã de
15 de novembro de 1889, com o reforço da proclamação “pela Câmara dos Vereadores
do Rio de Janeiro, da existência de uma nova forma de Governo do Brasil (o grifo é
nosso), a República.”[ii] Só mais tarde o Marechal Deodoro assinou o Manifesto e o
Decreto n.º 1, publicado no dia 16, que depôs a dinastia imperial e instalou o Governo
Provisório., resultando no exílio de Pedro II, que embarcou para a Europa com a
família, dia seguinte, no navio “Alagoas”.
Teve destaque no movimento a atuação dos militares Benjamin Constant,
considerado o ideólogo e principal articulador do movimento, major
Francisco Solon Sampaio Ribeiro, Floriano Peixoto, general José de Almeida Barreto
(paraibano de Sousa). Entre os civis, destacaram-se Quintino Bocaiúva, Rui Barbosa,
Francisco Glicério, Maciel Pinheiro, Silva Jardim, Coelho Lisboa, Aristides Lobo,
Manoel Marques da Silva Acauã (estes cinco últimos eram paraibanos) e outros.
Como o País foi surpreendido com a mudança do regime é evidente que muitos
Estados não tomaram conhecimento dos planos e conspirações que resultaram no golpe
de 89. A maior participação era dos políticos residentes no Rio de Janeiro e em São
Paulo; algumas lideranças de Minas, Pernambuco e  Rio Grande do Sul, opinavam a
longa distância, sem, porém, acreditarem num desenlace tão rápido. Em muitos
Estados a preocupação maior  visava as próximas pugnas eleitorais entre conservadores
e liberais.

Um novo regime de governo – o caso da Paraíba

Sobre a Paraíba a maioria dos autores registra o total desconhecimento do


movimento. Edgard Carone, em sua obra citada, escreve: “As notícias sobre a
proclamação da República chegam a Paraíba num clima de total indiferença, pois não
existe no Estado nenhum movimento republicano.”
Horácio de Almeida confirma: A República chegou à Paraíba sem ter quem
a recebesse.
Sou de opinião que muitas figuras da nossa intelectualidade vivenciavam
a  necessidade da mudança do regime, e a maioria dessas destacadas personalidades
fazia parte do Partido Liberal, o oponente natural dos monarquistas. A habilidade do
governante conservador da época, Silvino Elvídio Carneiro da Cunha – o  Barão
do Abiaí –, mantinha acomodados os numerosos adeptos da idéia republicana, que
advogavam a aglutinação das nossas províncias em uma federação. Isto não quer dizer
que na Paraíba não houve republicanos ou conterrâneos que difundissem a idéia.
Os autores enaltecem a intensa participação de paraibanos no movimento
republicano fora do Estado: Maciel Pinheiro e Albino Meira, no Recife; Aristides Lobo
e Coelho Lisboa, no Rio de Janeiro.
Nosso passado republicano vem do sonho de 1817 (precursor da Independência), de
1824 (Confederação do Equador), de 1848/49 (Revolução Praieira), onde tantos
paraibanos se envolveram. Nosso ilustre jornalista Antônio Borges da Fonseca, no
Recife, desenvolveu intensa propaganda através do jornal que fundou sob o esclarecedor
título O REPÚBLICO, em 1832.
Dizer simplesmente que “não existe no Estado nenhum movimento republicano” não
é bem verdadeiro. O que faltou, naturalmente, foi um maior contato com as lideranças
do movimento no Sul, para acompanhar o desenvolvimento da campanha.
Celso Mariz conta que em 20 de junho de 1889, quando a monarquia dava sinais de
decadência, o Conde d’Eu, genro de Pedro II, em viagem de propaganda em favor do
regime passou na Paraíba. Logo depois esteve entre nós Silva Jardim, desfazendo toda a
lengalenga do Conde d’Eu, que era um dos beneficiários diretos da sucessão do
imperador. Se não houvesse um movimento republicano na Paraíba o Conde d’Eu não
teria vindo à província para defender a monarquia.
Cardoso Vieira, quando deputado representando a Paraíba (1878/80), foi um dos
grandes agitadores republicanos; Eugênio Toscano de Brito e Irineu Joffily, em 1888,
fundaram A GAZETA DA PARAÍBA e GAZETA DO SERTÃO, órgãos onde o
movimento republicano encontrou guarida. Celso Mariz revela a atuação de
Irineu Joffily: 
Naquele mesmo ano, Jófili, antecedendo um dos pontos do
programa com que em julho de 89 subiria o Gabinete Ouro Preto,
requereu, como deputado, à Assembléia, que esta considerasse
urgente, perante o Parlamento Nacional, a Federação das províncias.

Em Mamanguape, por influência de Maciel Pinheiro, José Rodrigues de Carvalho e o


estudante Plácido Serrano difundiam a doutrina republicana; Albino Meira veio à
Paraíba fazer conferência republicana no teatro Santa Cruz, a 26 de julho de 1889;
Artur Achiles dos Santos, Geminiano Franca, Cordeiro Júnior, Rodolfo Galvão e outros
jornalistas, no jornal de Eugênio Toscano, escreviam sobre o movimento no Sul.
Na obra citada de Celso Mariz estão arrolados numerosos paraibanos participantes do
movimento republicano: 
João Coelho Gonçalves Lisboa, meetingava no sul; João Batista de
Sá Andrade, estudante na Bahia, era ferido nas festas republicanas a
Silva Jardim; Francisco Alves de Lima Filho, apesar de amigo aqui
dos conservadores, decidiu-se pela causa nova, filiou-se ao grêmio do
Rio de Janeiro e fez propaganda pelo norte até o Pará. Depois das
conferências de Albino, alguns estudantes do Liceu, Antônio Lira,
Eulálio de Aragão e Melo, Firmino Vidal, João dos Santos Coelho,
Miguel Machado, Manuel Lordão fundaram um clube, centralizando
os adeptos da classe.
José Manoel Pereira Pacheco, sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico
Paraibano, assistiu, como participante, o desenrolar do primeiro dia da Proclamação da
República. Em discurso pronunciado nas comemorações daquela data pelo Instituto, a
15 de novembro de 1906, Pereira Pacheco, como orador oficial do Instituto, na sessão
que se realizou no salão da Assembléia Legislativa Estadual, recorda aquela data
emocionado: 
Concidadãos, se nos fosse possível volver hoje, neste mesmo
momento e dia, aos 17 anos passados, se pudéssemos trazer para aqui
as cenas que se desenrolaram aos nossos olhos naquele imortal 15 de
novembro de 1889, vos diria: que justamente a uma hora da tarde
daquela época, em lugar de vos ocupar em vossa atenção agora,
relembrando datas e fatos da república, desfilávamos pela Rua do
Ouvidor em ordem de marcha para o antigo Largo do Paço, onde se
achava o velho e decrépito Imperador Pedro II, chegado então às
pressas de Petrópolis com toda a sua família.
E prossegue nosso consócio: 
Dar-vos uma idéia perfeita e nítida daquelas cenas de entusiasmo,
patriotismo e esperanças de republicanos, é tarefa quase impossível.
Basta que vos diga: que o Batalhão Acadêmico do qual fazíamos
parte então,(grifo nosso) marchava na retaguarda das tropas e na
frente do da Escola Militar da Praia Vermelha, sendo nós
comandados pelo saudoso Dr. Campos da Paz e aquele pelo Major
Marciano de Magalhães, irmão de Benjamin Constant. O exército
libertador compunha-se de pouco mais de 7 mil homens das 3 armas e
era guiado pelo General Deodoro da Fonseca com todo o seu luzido
estado maior, tendo à sua esquerda, a cavalo, o grande jornalista de
então, Quintino Bocaiúva.   
Outro paraibano que atuou diretamente no movimento foi o General José de Almeida
Barreto, conforme registra Celso Mariz: 
Na hora da proclamação, um soldado paraibano foi elemento
decisivo, o brigadeiro Almeida Barreto. Se a 15 de novembro esse
general obedecesse com seus 1096 soldados à ordem do Ministério
contra Deodoro, talvez se não mudara o regime naquele dia. Mas, ao
ouvir do presidente do Conselho que cumprisse o general o seu dever,
“respondeu com singular expressão” disse o próprio Ouro Preto:
“Seguramente, hei de cumprir o meu dever”. E cumpriu passando às
ordens do fundador que vivava a República na praça, aos ouvidos do
gabinete deposto.
 Como se sabe, a Proclamação da República surpreendeu todas as províncias. A
Paraíba tomou conhecimento do fato no mesmo dia, mas outras províncias souberam da
ocorrência com atraso, dificultando a total implantação do novo regime. Basta dizer que
no Mato Grosso a notícia só chegou no dia 9 de dezembro de 1889.
A designação dos novos dirigentes das províncias não foi pacífica. Na maioria delas
os militares interessaram-se em ocupar o governo, convictos de que tinham preferência
porque o episódio fora tutelado pelo Exército e pela Marinha.
Na Paraíba a dificuldade se centrava na ausência do Partido Republicano,
reconhecendo-se apenas a existência de elementos republicanos
infiltrados dispersamente nos partidos existentes. O paraibano Aristides Lobo, que fazia
parte da cúpula nacional como Ministro do Interior e da Justiça do Governo Provisório,
chegou a indicar o nome do nosso conterrâneo Albino Meira para a presidência do
Estado. Albino era um declarado republicano, propagandista do movimento, que atuava
no Recife, onde era professor da Faculdade de Direito. Como os militares estavam com
mais força na cúpula, deu-se a intervenção dos conterrâneos generais Almeida Barreto,
João e Tude Neiva. Saiu a nomeação de Venâncio Augusto de Magalhães Neiva, então
juiz de Direito de Catolé do Rocha, apesar dele ser considerado conservador. Explica-
se: ele era irmão do general Tude Neiva.
Era presidente da província Francisco Luis da Gama Rosa, que, bastante odiado pela
população, se amedrontou com a notícia, temendo sofrer um atentado; pediu garantias
ao coronel Honorato Caldas, comandante do 27º Batalhão de Infantaria.
Conta o historiador Horácio de Almeida que os primeiros movimentos para a
instalação da República na Paraíba foram de iniciativa de Eugênio Toscano de Brito,
que promoveu reuniões no Paço Municipal e na sede do Clube Astréa. Eugênio Toscano
foi o primeiro presidente do Clube Astréa, clube social fundado em 30 de maio de 1886,
localizado na rua Direita (hoje Duque de Caxias), próximo do Paço Municipal (hoje
praça Barão do Rio Branco). Ali sempre se reuniram os liberais de tendência
republicana, embora muitos conservadores pertencessem ao clube.
Dessas reuniões surgiu a primeira junta. Foram aclamados o coronel Honorato
Caldas, comandante do Batalhão do Exército, o 2º tenente da Armada Artur José dos
Reis Lisboa, o Barão do Abiaí – o primeiro adesista -, Dr. Lima Filho e Eugênio
Toscano. O coronel Caldas não participara das reuniões, pois tinha se comprometido
com o presidente Gama Rosa de dar-lhe garantias e aguardar o pronunciamento da
cúpula do movimento, conforme deliberação tomada com os seus comandados no
quartel. No fundo, era seu desejo assumir o governo da província, posto que era o
representante das forças armadas que lideraram o golpe.
No próprio quartel foi aclamada outra junta, constituída pelo próprio coronel Caldas,
capitão de engenheiros João Claudino de Oliveira Cruz, tenente Artur Lisboa, capitão
Manuel de Alcântara Couceiro, Drs. Manuel Carlos de Gouveia e Cordeiro Senior e o
comendador Tomás Mindelo. Segundo consta, a aclamação dessa nova junta foi feita
pelo Dr. Antônio Massa de uma das salas do quartel do 27º.
 O coronel Caldas não assimilou a indicação de Venâncio Neiva, tentando resistir à
designação do governo provisório. Não foi feliz no seu intento. Na tarde do dia 1 de
dezembro, o coronel Caldas programou um comício em praça pública, visando sua
aclamação para governar Paraíba. O comício foi dissolvido pelo chefe de polícia Dr.
Pedro Velho. À noite, aproveitando-se o coronel Caldas de um espetáculo que se
realizava no teatro Santa Roza, quis fazer-se aclamar governador, tendo novamente
falhado seu intento. Desesperado, foi para o quartel onde pretendia conquistar o apoio
da tropa. Não foi feliz, pois em 30 de novembro o Ministro da Guerra, Benjamin
Constant, ordenara que o coronel Caldas transferisse o comando do 27º para o major
João Domingos Ramos e entregasse o poder ao capitão Oliveira Cruz, seu imediato na
junta. Coronel Caldas quis resistir, mas não contou com o apoio dos seus comandados,
sendo preso pelo capitão Oliveira Cruz, que, em seguida, cumprindo instruções,
embarcou-o no primeiro navio  com destino ao Rio de Janeiro.
O capitão João Claudino de Oliveira Cruz assumiu o governo de ordem do Ministro
da Guerra, permanecendo no poder até o dia 6 de dezembro, quando Venâncio Neiva
chegou de Catolé do Rocha para assumir o cargo.
Como em todas as províncias, a nomeação dos seus dirigentes não lhes dava
liberdade para escolher seus auxiliares. Assim, para os postos chaves da Paraíba, foram
designados pelo governo central os nomes de Epitácio Pessoa, para Secretário Geral, e
João Coelho Gonçalves Lisboa, para Chefe de Polícia, o qual depois foi substituído
por  Cunha Lima.
Grande parte dos auxiliares de Venâncio Neiva era de origem conservadora, o que
era natural, posto que os quadros republicanos e liberais eram pequenos. Os jornal de
oposição – JORNAL DA PARAÍBA – panfletava contra essa situação. Tem sido assim
em todas as mudanças de governo na Paraíba e no Brasil, quando os novos governantes
aproveitam seus correligionários e procuram cooptar alguns adversários, visando uma
pacificação política. No princípio, Venâncio Neiva pôde manter certo equilíbrio político
para evitar uma oposição ferrenha, que, de certo modo, partia dos liberais, já que grande
parte dos conservadores tinha se aproximado do poder. Seu intuito era harmonizar a
família paraibana.
Para o Congresso foram eleitos general José de Almeida Barreto, coronel João Neiva
e Firmino Gomes da Silveira, como senadores. Para a Câmara dos Deputados foram
eleitos Antônio Joaquim do Couto Cartaxo, João Batista de Sá Andrade, Pedro Américo
de Figueiredo, 1º tenente João da Silva Retumba e Epitácio Pessoa.
Celso Mariz justifica essa composição: 
Barreto, João Neiva e Retumba eram candidatos impostos pela
situação militarista do momento, políticos feitos do dia para a noite
de 15 de novembro, por suas partes na grande jornada. Firmino da
Silveira entra aí como antigo liberal, fundador do jornal ESTADO e
juiz íntegro e inteligente. E Pedro Américo, que desde 23 de
novembro telegrafara candidatando-se sob o compromisso de
sustentar o governo da República é o gênio da arte que a política
premia. Cartaxo dos antigos dissidentes liberais de Cajazeiras,
traz para o grupo esse prestígio de família e representação sertaneja.
Sá Andrade apresenta-se com as feridas que lhe abriram quando,
ainda no domínio monárquico, festeja Silva Jardim. Epitácio é o
secretário competente, o espírito novo, corajoso e ilustrado em quem
Venâncio parecia adivinhar a glória maior do nosso
futuro republicano.
A chapa oposicionista, constituída sob a orientação do Barão do Abiaí, estava assim
constituída: Anísio Salatiel, Irineu Joffily e conselheiro Tertuliano Henrique, para
senadores; Apolônio Zenaide Peregrino de Albuquerque, Aprígio Carlos Pessoa de
Melo, Paula Cavalcante Pessoa de Lacerda, Diogo Velho Sobrinho e Felizardo Toscano
Leite Ferreira. A votação dessa chapa no interior não foi a esperada pelos candidatos,
uma vez que a maioria dos chefes eleitorais tinha aderido ao novo governo. O candidato
mais credenciado do governo era Epitácio Pessoa, que obteve 9.975 votos, enquanto
Apolônio Zenaide – o mais credenciado da oposição – obtivera apenas 2.730 votos.
Na votação para a Assembléia Constituinte Estadual, logo após a promulgação da
Constituição Federal de 24 de fevereiro de 1891, a participação oposicionista também
foi pequena, embora o critério adotado na indicação de candidatos por Venâncio Neiva
tenha se cingido em prestigiar nomes de destaque no serviço público e com méritos
reconhecidos. 
A Assembléia era constituída de 30 deputados, os quais votaram a Constituição
Estadual que passou a vigorar a partir de 5 de agosto de 1891.
No início da sessão da constituinte de 25 de junho foi feita a eleição para governador,
sendo indicado Venâncio Neiva, que já era delegado do governo central, e para 1º, 2º
e  3º vice-governadores foram eleitos Manoel da Fonseca Xavier de Andrade, Amaro
Beltrão e Inojosa Varejão.
Venâncio Neiva tomou posse no dia seguinte, mas seu governo constitucional teve
pouca duração, posto que esteve na chefia do governo até 31 de dezembro de 1891,
quando se licenciou perante o Supremo Tribunal de Justiça, para viajar à Capital Federal
a fim de tratar de assuntos administrativos. Passou a chefia do governo ao 1º vice-
governador, desembargador Manoel da Fonseca Xavier de Andrade e, no dia 1º de
janeiro de 1892, viajou para o Rio de Janeiro.
Como se sabe, Deodoro da Fonseca dissolveu o Congresso em 3 de novembro de
1891, num momento em que a oposição estava muito atuante e o marechal não se
entrosava bem com seus ministros. O golpe de Deodoro teve o apoio da maioria dos
governadores. Venâncio apoiara Deodoro discretamente. A dissolução do Congresso
não teve repercussão favorável e ele teve que renunciar o cargo, a 23 de novembro, ante
a pressão dos quartéis e dos congressistas, assumindo a chefia do governo seu vice-
presidente, Floriano Peixoto.
Floriano, já demonstrando sua tendência ditatorial, depôs todos os governadores,
exceto o de Santa Catarina, Lauro Sodré, que não apoiara Deodoro na dissolução do
Congresso, e Júlio de Castilhos, do Rio Grande do Sul.
Na Paraíba, os acontecimentos foram precipitados pela iniciativa de Antônio
Ferreira Balthar, do coronel Alípio Ferreira Balthar (do Engenho Munguengue, de Cruz
do Espírito Santo) e do capitão Edmundo do Rêgo Barros (do Engenho Espírito Santo).
No domingo  27 de dezembro de 1891, cerca de 150 pessoas comandadas por aqueles
senhores-de-engenho, desembarcaram de trem na ponte Sanhauá e seguiram para a
Intendência, aos gritos de que iam depor o governador Venâncio Neiva. No largo do
Palácio o grupo engrossou-se com a chegada de outro grupo vindo do Conde, chefiado
pelo tenente Manoel Paulino dos Santos Leal. Ali mesmo proclamara a deposição do
governador Venâncio Neiva, o qual se encontrava na praia de Ponta de Mato,
veraneando com a família. Foi aclamada uma Junta Governativa constituída do coronel
Cláudio do Amaral Savaget, comandante do 27º Batalhão de Infantaria, do Dr. Eugênio
Toscano de Brito e do Dr. Joaquim Fernandes de Carvalho. Tudo havia sido
premeditado, pois ali mesmo fora lavrado em livro um termo explicativo, segundo
anunciou o jornal do governo ESTADO DA PARAÍBA.
Pela manhã, ao retornar da praia de Ponta de Mato, o governador Venâncio Neiva
conferenciou com o comandante Savaget, que lhe sugeriu a renúncia para evitar
derramamento de sangue. Venâncio recusou-se e afirmou que tinha sido eleito pelo
povo e por isso pedia o apoio da força militar, ou que a mesma ficasse neutra, pedido
que também foi negado.
Saindo do quartel do 27º B. I., Venâncio se dirigiu ao Palácio, onde foi cercado por
um grupo armado comandado pelo capitão Alípio Balthar e seus parentes, o qual
apresentou ao governador um ofício da Junta.
O Governador, com energia, refugou o ofício, sendo ameaçado de morte. Não se
intimidou com as ameaças. Em seguida, o coronel Savaget esteve em Palácio insistindo
para o que Venâncio resignasse o cargo; a recusa de Venâncio foi mais veemente.
Tranqüilamente, à tarde, Venâncio Neiva retorna à praia de Ponta de Mato,
acompanhado por amigos.[ix]
No dia 28 o coronel Savaget dirigiu-se, em carta, ao governador Venâncio Neiva,
comunicando que o Presidente da Republica o mantinha à frente do Governo, passando
Venâncio a receber telegramas de apoio de vários municípios e de outros Estados.
No dia 30 de dezembro, Venâncio Neiva deixou o cargo ao pedir licença por três
meses, sem vencimentos, ao Supremo Tribunal de Justiça, para tratar de interesses
administrativos do Estado no Rio de Janeiro, passando o cargo ao seu substituto legal, o
1º vice-governador Manoel da Fonseca Xavier de Andrade, no dia 31 de dezembro.
No dia 1º de janeiro de 1892, finalmente, com o apoio do governo central, a Junta
liderada pelo coronel Savaget depôs o governador em exercício, desembargador Manoel
da Fonseca Xavier de Andrade.
Esta Junta governou a Paraíba até o dia 18 de fevereiro daquele ano, quando foi
empossado o engenheiro militar paraibano Dr. Álvaro Lopes Machado, que fora
nomeado pelo Presidente Floriano Peixoto.

 
NOTAS
 
 
1)       Revista do IHGP, n.º 1. João Pessoa, Editora Universitária/UFPB, reedição, 1980;58.
2)       Edgard Carone. A República Velha, vol. II, Difel, 3a edição, 1977;42.
3)       Horácio de Almeida. História da Paraíba, vol. 2, João Pessoa, Editora
Universitária/UFPB, 1978;207.
4)       Celso Mariz. Apanhados Históricos da Paraíba, João Pessoa, Editora Universitária/UFPB,
2a edição, 1980;175.
5)       Celso Mariz. Ob. cit., p. 177.
6)       Revista do IHGP, n.º 1, p. 100;
7)       Celso Mariz. Ob. cit., p. 178.
8)       Celso Mariz. Ob. cit., pp. 181-182
9)       Adauto Ramos conta esse episódio, em detalhes, no seu trabalho Centenário da Queda do Primeiro
Governo Republicano da Paraíba, in Revista do IHGP n.º 25, João Pessoa, Editora
Universitária/UFPB, 1991;28.

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