Monografia Amiel Janja 2
Monografia Amiel Janja 2
FACULDADE DE DIREITO
Tema:
"Arbitragem Tributária: Mecanismo de Acesso a Justiça e Proteção dos
Contribuintes"
Estudante:
Amiel Abdul Carimo Alide Janja
Supervisor:
Prof. Dr. Teodoro Andrade Waty
1
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE
FACULDADE DE DIREITO
Tema:
"Arbitragem Tributária: Mecanismo de Acesso a Justiça e Proteção
dos Contribuintes"
Estudante:
Amiel Abdul Carimo Alide Janja
2
Maputo, Abril de 2022
DECLARAÇÃO DE AUTENTICIDADE
Eu Amiel Abdul Carimo Alide Janja, declaro, por minha honra, que o presente
Trabalho de Fim de Curso é da minha autoria, elaborado em conformidade com o
Regulamento para obtenção do Grau de Licenciatura em Direito, vigente na Faculdade
de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, sendo resultado do meu esforço pessoal.
Este trabalho, nunca foi apresentado em nenhuma instituição de ensino para obtenção de
qualquer grau académico, constituindo por isso, um trabalho original, cujas fontes
consultadas para a sua elaboração foram devidamente indicadas.
O Autor
_________________________________________
(Amiel Abdul Carimo Alide Janja)
3
AGRADECIMENTOS
Ao altíssimo senhor Deus, pela sua infinita misericórdia e bondade, que com sua
bênção os andarilhos tornam-se mais leves.
A minha eterna mãe, que hoje descansa em paz junto das epopeias celestiais, e
que, de ti saudades eternas circundam o coração deste mero mortal, que um dia espera
contigo estar.
A ti mãe, pelos ensinamentos que transmitiste à este filho teu, que com tua proteção de
lá, faz isso por ti e para ti.
A minha irmã Eva, que mesmo em dificuldades, nunca me abandonou, meu farol
na terra, garantia de que amanha há um novo amanhecer, um novo combate, aos doutos
ensinamentos. Obrigado por me ensinar que a minha vontade deve ser maior que
qualquer obstáculo.
Ao Prof. Doutor Waty, por toda paciência e contribuições lastras, que
permitiram concluir o presente trabalho. E mais, por me ensinar que sem ética, de nada
vale o conhecimento.
4
Epígrafe
5
Isaac Newton.
Resumo
6
Abstract
7
Siglas, Acrônimos e Abréviaturas
8
ĺndice
1.Introdução.......................................................................................................................1
1.1.3. Problematização...................................................................................................3
CAPĺTULO I:....................................................................................................................4
1. TUTELA ARBITRAL...........................................................................................4
CAPĺTULO II:...................................................................................................................9
CAPĺTULO III:...............................................................................................................16
1. Primeiras Considerações......................................................................................16
CAPITULO IV:...............................................................................................................27
1. Notas Introdutórias...........................................................................................27
9
3.1 Critérios que fixam a competência dos Tribunais de Arbitragem Tributária.....31
Conclusão........................................................................................................................33
1. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS.....................................................................34
10
1.Introdução
O acesso a justiça é um objectivo fundamental num Estado de Direito, o sistema
jurídico direcionado num sentido, permitir o acesso aos tribunais, sejam Estatais ou não
(vide art. 62 n.°1 da CRM), mas não só, um acesso útil, um acesso que possibilita dentro
de um prazo razoável, obter ou fazer executar uma decisão judicial com força de caso
julgado. Só por via do acesso a justiça, e tão-somente desta, podemos de falar da efetiva
proteção dos direitos e garantias dos contribuintes.
Cabe a nos desde já, dizer que, para a defesa deste instituto, excluiremos do seu
âmbito matérias aduaneiras, e como consequência não relacionada á matérias
correlacionadas ao presente trabalho.
Sendo assim, nos primeiros dois capítulos, falaremos sobre a tutela arbitral, bem
como noções básicas de percepção e delimitação da abrangência do Direito Tributário.
1
E no quarto e último capitulo, demostraremos o porque é que Moçambique deve
institucionalizar um regime arbitral, bem como critérios que a ele serviriam para
delimitar a sua competência e o seu funcionamento.
2
gerenciamento da justiça, garantido uma proteção mais eficiente dos direitos e garantias
dos contribuintes. Por estes motivos, escolhemos como denominação do nosso trabalho,
Arbitragem Tributaria: Mecanismo Para o Acesso a Justiça e Proteção dos
Contribuintes.
1.1.3. Problematização
A regra é de que todos os litígios são arbitráveis, desde que não reportem á
matéria indisponível ou da exclusiva competência dos tribunais judicias. (vide alíneas
a) e b) do n.º 2 do artigo 5 da LArb).
3
CAPĺTULO I:
UM OLHAR A TUTELA ARBITRAL
1. TUTELA ARBITRAL
1.1Conceito
Tendo em conta a admissibilidade da existência de meios extrajudiciais de
resolução de litígios e da autodefesa, é possível afirmar que e o Estado não goza da
exclusividade do exercício da função de resolução de litígios. 2 Nesta ordem de ideias,
António Francisco Calhau defende que "a Arbitragem constitui uma forma de resolução
de litígios através de um terceiro neutro e imparcial – o arbitro- seja porque é ele
escolhido pelas partes ou seja porque é institucionalizada, e cuja decisão tem o mesmo
valor jurídico que as sentenças judiciais"3
2
TIMBANE, Tomás (2020) Lições de Processo Civil. 2ª ed. Maputo: Escolar Editora, pág. 66
3
CALHAU, António Francisco de Almeida (2015): Arbitragem Tributária. Revista Julgar n.º 26 vol. 9.
pág. 181.
4
BRAZ, Mário Rui Antunes. O regime da Arbitragem tributária. Dissertação, Instituto Superior de
Contabilidade e Administração de Lisboa. 2012. pág. 7
4
Arbitragem surge para fazer face a excessiva burocratização dos processos
judicias, burocratização essa que impede a tomada de decisões em prazos exíguos,
consubstanciando uma denegação ao acesso a justiça, acesso a justiça esse, que
caracteriza-se por ser um direito fundamental a luz de um Estado de Direito (Cfr art 2
n.° 1 do Código de Processo Civil).
Podem estar sujeitos à arbitragem litígios de qualquer natureza, salvo os
previstos no n.º 2 do art. 5 da LArb, designadamente os que, por lei especial devam ser
submetidos a tribunal judicial ou a regime especial de arbitragem, e os que respeitam a
direitos indisponíveis ou não transacionáveis. 5
5
TIMBANE, Tomás (2020) Lições de Processo Civil. 2ª ed. Maputo: Escolar Editora, pág. 66.
6
Excerto retirado no preambulo da LArb.
7
No âmbito do Direito Comparado, a arbitragem portuguesa regulada pela Lei n.º 63/ 2011, de 14 de
Dezembro, já tem está matéria regulada, alias, cá entre nos, é uma clara aproximação e inspiração na lei
modelo da comissão das Nações Unidas sobre o comércio internacional.
5
1.3 Princípios da Arbitragem
Quanto aos princípios que moldam a "alma da arbitragem", podemos encontrar alguns
que estão descriminados no disposto do n.º 2 do artigo 2 da lei de arbitragem, sendo:
a) Liberdade: reconhecimento da autonomia das partes na escolha e adopção de
meios alternativos ao poder judicial;
b) Flexibilidade: preferência dada no estabelecimento de procedimentos informais,
adaptáveis e simplificados.
c) Privacidade: garantia de privacidade e confidencialidade a processos e seus
intervenientes;
d) Idoneidade: exigência de características de imparcialidade e independência para
desempenhar as funções de árbitro ou conciliador;
e) Celeridade: dinâmica e rapidez na resolução de conflitos;
f) Igualdade – garantia de que as partes serão tratadas com estrita igualdade e que
cada uma delas serão dadas as mesmas condições e todos a possibilidade de
fazer valer os seus direitos;
g) Audiência: oralidade típica dos mecanismos alternativos;
h) Contraditório: garantia de que ambas as partes serão ouvidas oralmente ou por
escrito, antes de ser proferida a decisão final;
6
terceiros (Vg. Uma instituição de arbitragem por eles escolhida ou um Tribunal
Judicial) não prejudica esta característica a circunstância de o tribunal arbitral
ser integrado por juízes, como nos parece admitir o artigo 19 da LArb, contanto
que os mesmos exerçam à função de árbitros a margem da sua condição oficial.
c) Decisão Arbitral com eficácia idêntica a dos Tribunais Estatais: nos termos
do artigo 43 da LArb, a decisão arbitral depositada nos termos do artigo 42,
produz os meus efeitos da sentença proferida pelos órgãos do poder judicial, e
sendo condenatória constitui título executivo.
9
MOURA, Dário Vicente, Arbitragem e outros meios de Resolução Extrajudicial de Litígios no Direito
Moçambicano. Texto disponível em https://www.fd.ulisboa.pt/wp-content/uploads/2014/12/Vicente-
Dario-ARBITRAGEM-E-OUTROS-MEIOS-DE-RESOLUCAO-EXTRAJUDICIAL-DE-LITIGIOS-NO-
DIREITO-MOCAMBICANO.pdf. Acesso a 18 de Fevereiro de 2022.
10
MOURA, Dário Vicente, Arbitragem e outros meios de Resolução Extrajudicial de Litígios no Direito
Moçambicano. Texto disponível em https://www.fd.ulisboa.pt/wp-content/uploads/2014/12/Vicente-
Dario-ARBITRAGEM-E-OUTROS-MEIOS-DE-RESOLUCAO-EXTRAJUDICIAL-DE-LITIGIOS-NO-
DIREITO-MOCAMBICANO.pdf. Acesso a 18 de Fevereiro de 2022.
7
c) Arbitragem Pública vs. Arbitragem Privada
O critério determinante da qualificação numa ou noutra, é o da natureza das
partes e da qualidade em que as mesmas intervém no processo arbitral. A privada tem
lugar entre particulares ou entre estes e entidades públicas despidas do seu poder de
autoridade, já a pública é aquela em que há intervenção de entidades públicas entre si ou
com particulares munido do seu poder de autoridade, com um regime próprio. 11
CAPĺTULO II:
DIREITO TRIBUTÁRIO: ÂMBITO, PRINCĺPIOS E
CARÁCTERISTICAS.
11
MOURA, Dário Vicente, Arbitragem e outros meios de Resolução Extrajudicial de Litígios no Direito
Moçambicano. Texto disponível em https://www.fd.ulisboa.pt/wp-content/uploads/2014/12/Vicente-
Dario-ARBITRAGEM-E-OUTROS-MEIOS-DE-RESOLUCAO-EXTRAJUDICIAL-DE-LITIGIOS-NO-
DIREITO-MOCAMBICANO.pdf. Acesso a 18 de Fevereiro de 2022.
8
1. Direito Tributário: Noção e Âmbito
Mas então como podemos definir o Direito Tributário? O Prof. Soares Martinez
tem o entendimento de que,
12
MARTINEZ, Soares (1998) Direito Fiscal, Coimbra, Almedina. Pág. 21
13
MARTINEZ, Soares (1998), op. cit. pág. 22
14
MARTINEZ, Soares (1998), op. cit. pág. 23
15
MARTINEZ, Soares (1998), op. cit. pág. 23
9
"O Direito Tributário é o Direito relativo aos tributos ou
receitas colectivas unilaterais, e bilaterais, este conceito abrange
além dos impostos, as taxas. O Direito Fiscal reporta-se tão
somente as receitas coactivas unilaterais, isto é, sem nenhuma
contrapartida directa, especifica e imediata, os impostos". 16
Ou seja, para Cláudio Pene o Direito Tributário é mais amplo que o Direito
Fiscal, pois este último cinge-se tão-somente à regular à matéria dos impostos.
16
PENE, Cláudio (2013) Apontamentos do Direito Fiscal moçambicano, Maputo, Escolar Editora. pág.20
17
WATY, Teodoro Andrade (2013), Direito Tributário, Maputo, W&W Editora, pág. 26
18
WATY, Teodoro Andrade (2013). Op. Cit. Pág.26
10
dos impostos. e nesta senda de pensamentos, fazemos das palavras do professor
Teodoro Andrade Waty em nossas,
a) Principio da Legalidade,
Os tributos só podem ser criados ou alterados por lei anterior que o estabeleça,
sendo vedado exigir ou aumentar sem que a lei o estabeleça. 20
19
WATY, Teodoro Andrade (2013). op. cit. pag.29
20
WATY, Teodoro Andrade (2013). op. cit. pág. 94 e 95.
21
PENE, Cláudio (2013) Apontamentos do Direito Fiscal moçambicano, Maputo, Escolar Editora. Pág.20
22
WATY, Teodoro Andrade (2013), Direito Tributário, Maputo, W&W Editora, pág. 101-102
11
Quanto a sua manifestação, podemos encontrar o disposto do n.° 2 do artigo 127
da CRM, bem como no artigo 3 da Lei n.°15/2002 e artigo 4 da lei n.°2/2006.
Determina o texto constitucional que a lei não exclui da apreciação do poder judiciário
lesão ou ameaça ao direito, assim, mesmo em matéria tributaria onde há um contencioso
administrativo bem estruturado, este não goza de definitividade, frente a primazia
absoluta do poder judiciário, quanto a tutela jurisdicional. 25
12
f) Princípio da Boa-fé
A proteção da boa-fé exige da administração fiscal que na sua livre actuação não
suprima benefícios adquiridos, mesmo os de atribuição fiscal. (boa-fé, vista
essencialmente no âmbito objectivo). 27
g) Princípio da justiça
Tributário deve ser justo, um sistema baseado nos valores da igualdade, na boa-fé, na
certeza, na segurança, na ampla defesa.
i) Princípio da anualidade
27
WATY, Teodoro Andrade (2013), op. cit, pág.87
28
WATY, Teodoro Andrade (2013), op. cit, pág. 86
29
WATY, Teodoro Andrade (2013), op. cit, pág.102
30
WATY, Teodoro Andrade (2013), op. cit, pág. 114
13
j) Princípio da eficiência
31
PENE, Cláudio (2013) Apontamentos do Direito Fiscal moçambicano, Maputo, Escolar Editora. pág.
30
32
WATY, Teodoro Andrade (2013), Direito Tributário, Maputo, W&W Editora, pág. 77 e ss
33
Lei nº 3/2012 (BR n.º 3, I Série) - Altera os artigos 9, 12, 14, 15, 18, 19, 21 e 25 do Código do imposto
Sobre o Valor Acrescentado, aprovado pela Lei n.º 32/2007, de 31 de Dezembro
14
e) Lei n.º 33/2007 de 31 de dezembro - Aprova o Código do Imposto Sobre
o Rendimento de Pessoas Singulares.34
f) Lei n.º 34/2007 de 31 de dezembro - Aprova o Código do Imposto Sobre
o Rendimento de Pessoas Colectivas.35
g) Lei n.º 4/2009 de 12 de janeiro - Aprova o Código dos Benefícios
Fiscais.
h) Lei n.º 05/2009 - Cria o ISPC- Imposto Simplificado para Pequenos
Contribuídos.
CAPĺTULO III:
ARBITRAGEM VS DIREITO TRIBUTÁRIO: INCOMPATIBILIDADE OU
COMPATIBILIDADE?
1. Primeiras Considerações
A primeira impressão que pode surgir é de que, estando em uma matéria
extremamente sensível, não haveria espaço para discussão, pois a mesma insere-se no
âmbito da soberania do Estado. E mais, por se tratar de uma matéria indisponível,
rejeitar-se-ia qualquer transação, aliás alguns poderiam dizer que por ser uma matéria
acautelada por princípios rígidos, como o da legalidade, não haveria espaço para
manobra alguma.
34
Lei n.º 20/2013 (BR n.º 76, I Série) - Altera os artigos 17, 36, 61, 62, 67 e 76 do Código do Imposto
Sobre o Rendimento de Pessoas Singulares, aprovado pela Lei n.º 33/2007, de 31 de Dezembro.
35
Lei n.º 20/2009, de 10 de Setembro - Altera os artigos 18, 20, 21, 22,24, 26, 28,36 e 40; elimina a alínea
h) do artigo 68 e introduz os artigos 36-A e 41-A, no Código Imposto sobre Rendimentos das Pessoas
Colectivas aprovado pela Lei n.º 34/2007, de 31 de Dezembro, para implementação das Normas
Internacionais de Relato Financeiro (NIRFs); Lei nº 4/2012 (BR n.º 3, I Série) - Altera os artigos 17, 36,
61, 62, 67 e 76 do Código do Imposto Sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas, aprovado pela Lei n.º
34/2007, de 31 de Dezembro; Lei nº 19/2013 (BR n.º 76, I Série) - Altera os artigos 5, 7, 25, 36, 62, 72 e
73 do Código do Imposto Sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas, aprovado pela Lei n.º 34/2007, de
31 de Dezembro.
15
Estes e outros argumentos seriam por si só suficientes para afastar a
arbitrabilidade dos litígios tributários. Entretanto, cá entre nos, preferimos ser muito
cautelosos quanto à essas afirmações, sendo certo que não as consideramos
verdadeiramente absolutas. Abaixo, diversas posições doutrinárias sobre o assunto,
serão expostas, e aproveitando-se destas, posicionar-nos-emos e adotaremos a que, por
critério de razoabilidade, seja a mais adequada e convincente, sem contudo descurar do
nosso ordenamento jurídico.
1.1 Posições Doutrinarias
Alguma Doutrina tem-se posicionado, rejeitando à existência de uma
Arbitragem Tributária, apresentando, essencialmente três grandes obstáculos como:
questões relacionadas ao crédito público estarem ligadas a soberania estatal, e sendo
assim, o Estado é quem deve resolve-los exclusivamente por via dos seus Tribunais; (2)
O crédito público é indisponível, afastando-se assim, à possibilidade da administração
transacionar tais Direitos; e (3) O princípio da legalidade impede qualquer abertura,
ponderação, ou discussão da matéria tributária, evitando assim, desta forma, a
institucionalização de um regime extrajudicial para resolver conflitos relacionados ao
crédito público. 36373839
.
Entretanto, parte da doutrina, posiciona-se num sentido contrário, contudo,
reconhecendo, conforme diz o professor Diogo Leite Campos, que,
“A concepção do Estado, do Direito administrativo e
direito público em geral, tem vindo a alterar-se. Mas estas
alterações têm sido muito mais lentas no Direito Tributário. Por
que razão precisamente em Direito tributário? Porque se trata do
Direito que regula a arrecadação dos impostos que são o
36
CASTILHO, Ian Fernandes (2019). Arbitragem Tributária: Aspectos Teóricos e Possibilidade Jurídica.
37
OLIVEIRA, Ana Rita Nogueira Reis. A Arbitragem Tributária e a Avaliação por Métodos Indiretos:
Porque não? - Análise ao âmbito material da arbitragem tributária. Dissertação, Faculdade de Direito da
Universidade Nova de Lisboa. 2017. Pág. 7.
38
BRAZ, Mário Rui Antunes. O regime da Arbitragem tributária. Dissertação, Instituto Superior de
Contabilidade e Administração de Lisboa. 2012. Págs. 32,33
39
Henriques, Nuno Felipe Jesus. Arbitragem Tributária: um contributo para a realização da justiça
tributária? Dissertação, Faculdade de Direito, Universidade Católica de Portugal. 2013. Pág. 15.
16
principal instrumento político dos dirigentes de todos os
Estados.”40
40
CAMPOS, Diogo Leite (2006). “Arbitragem no Direito Tributário”. In Homenagem ao Prof. Doutor
Sousa Franco. Lisboa, Vol. I, p. 739-748.
41
OLIVEIRA, Ana Rita Nogueira Reis. A Arbitragem Tributária e a Avaliação por Métodos Indiretos:
Porque não? - Análise ao âmbito material da arbitragem tributária. Dissertação, Faculdade de Direito da
Universidade Nova de Lisboa. 2017. Pág.8
42
OLIVEIRA, Ana Rita Nogueira Reis. Op. Cit. Pág. 8
43
ALMEIDA, Samuel Fernandes de (2011).“Primeiras Reflexões Sobre a Lei de Arbitragem em Matéria
Tributária. In. Estudos em memória do Prof. J.L. Saldanha Sanches. Coimbra: Vol. 5, p. 381-416.
17
aplicativa da lei fiscal, recorrendo, também, a «técnicas presuntivas» ou a métodos
indiretos de avaliação em que se permite o acordo com o contribuinte, está, na
realidade, a abrir «espaços de disponibilidade», nos quais a arbitragem pode
legitimamente penetrar.”44
Dito isto, e apesar, de se lhe reconhecer à indisponibilidade, está não é absoluta,
porquanto em alguns casos, o próprio legislador, abre espaço à disponibilidade,
deixando à administração tributária a possibilidade de negociação. 45Tal facto, entre nos,
é por si, suficiente para acolher a arbitragem em matéria tributária, desde que o
legislador estabeleça lei que o indique expressamente. Dito isto, nada impede ao
legislador, nos termos do disposto na alínea a) do n.° 2 do artigo 5 da LArb,
institucionalizar a Arbitragem Tributária, mediante um regime próprio e especial. Ou
seja o "crédito tributário pode ser disponível para a administração, desde que dentro
dos limites da lei".46
Por fim, o terceiro (3°) problema colocar-se-á da seguinte forma, o princípio da
legalidade impede qualquer abertura, ponderação, ou discussão da matéria tributária,
evitando assim, desta forma, a institucionalização de um regime extrajudicial para
resolver conflitos relacionados ao crédito tributário. Está questão, está intimamente
ligada com a anterior, entretanto há que frisar que no âmbito do direito tributário, este
princípio tem uma expressão diferenciada dos demais ramos, porquanto neste ramo, este
princípio determina que os impostos têm obrigatoriamente que ser fixados por lei, lei
essa que deve conter os elementos essenciais do imposto: incidência objetiva, subjetiva,
taxas e garantias dos contribuintes. Na verdade, e precisamente por ter este significado,
conforme diz Ana Rita "o obstáculo relacionado com o desrespeito pelo princípio da
legalidade fiscal foi também ele ultrapassado, uma vez que, este se situa essencialmente
no plano da criação das normas fiscais e não no plano da sua interpretação e
aplicação, bem como no plano da resolução dos litígios que derivam dos expedientes
de interpretação e aplicação da lei". 47
44
OLIVEIRA, Ana Perestrelo de (2007). Arbitragem de Litígios com Entes Públicos. Lisboa: Editora
Almedina, ISBN: 978-972-40-3098-2. P. 83-99
45
Vide como exemplo, o art. 15 da Lei n°15/2002, de 26 de junho ao prever a possibilidade da
administração tributária atribuir benefícios fiscais.
46
CASTILHO, Ian Fernandes (2019). Arbitragem Tributária: Aspectos Teóricos e Possibilidade Jurídica.
Revista de Finanças Públicas, Tributação e Desenvolvimento, vol. 7, n° 9. Pág. 8
47
OLIVEIRA, Ana Rita Nogueira Reis. A Arbitragem Tributária e a Avaliação por Métodos Indiretos:
Porque não? - Análise ao âmbito material da arbitragem tributária. Dissertação, Faculdade de Direito da
18
Entretanto, entre nos, se considerarmos que ao princípio da legalidade inclui, não só, o
facto do mesmo prever os impostos e regula-los, mas também inclui à interpretação 48, e
aplicação da lei, tal facto não serviria de impeditivo algum para a institucionalização da
Arbitragem Tributária, porquanto os Tribunais Arbitrais funcionariam de acordo com o
direito constituído, sendo vedado o recurso a equidade.49
19
esteira é a crítica ao suposto princípio da supremacia do
interesse público sobre o privado que nos parece mais
acertada".51
Nesta senda, para nos, deve haver sempre um juízo de ponderação entre o
interesse público e privado.
Na análise das estatísticas divulgadas pelo portal de justiça portuguesa, verifica-se que,
" de 2005 até 2011, a pendência sofreu um agravamento contínuo (apesar de um
intervalo de recuperação no primeiro semestre de 2011). No mesmo período, o valor
das pendências acumuladas em matéria fiscal refletia um crescimento de 33%".52 É
neste entendimento que Nuno Lobos e Tânia Carvalhais Perreira se colocam:
"Em Portugal, A arbitragem tributária foi delineada no momento
político pré-Troika como uma das medidas possíveis para contribuir
com o descongestionamento dos Tribunais Tributários, o combate à
morosidade processual e aos bloqueios de funcionamento da justiça
fiscal, e, em geral, para a garantia de uma tutela jurisdicional efetiva
dos direitos e interesses legítimos dos cidadãos, o que pressupõe uma
decisão em prazo razoável (vide n.º 2 do art. 120, e n.º 4 do art. 268 da
Constituição da República Portuguesa) "53
53
VILLA-LOBOS, Nuno et all,( s/d), op. cit pág. 13.
20
ao sujeito passivo; e c) reduzir a pendência de processos nos tribunais administrativos
e fiscais54
Quanto aos elementos caracterizadores deste regime, estatuído pelo Decreto-Lei n.º
10/2011, de 20 de Janeiro podemos encontrar:
Arbitragem Institucionalizada: os Tribunais Arbitrais funcionam no centro de
Arbitragem Administrativa "CAAD", (vide n.°2 do artigo 4).
Objecto: declaração de ilegalidade de actos de liquidação de tributos, não
prevendo qualquer limitação em relação aos tributos (vide artigo 2). Há portaria
de vinculação e exclusão expressa de pretensões relativas a direitos aduaneiros e
demais impostos que incidem sobre mercadorias sujeitas a direitos de
importação e mais, pretensões relativas à classificação pautal, origem e valor
aduaneiro. A justificação desta exclusão, é de que a limitação do recurso pode,
eventualmente conflituar com o direito Europeu, entretanto de iure condendo
crítica está posição, pois exige maior celeridade no âmbito do comércio
internacional.
Valor: o valor máximo é de 10 milhões de euros, (vide artigo 4 e portaria de
vinculação);
Direito Constituído: os Tribunais Arbitrais decidem de acordo com o Direito
Constituído, sendo vedado o recurso a equidade, (vide n.° 2 do artigo 2).
Designação dos Árbitros: Os árbitros são escolhidos de entre pessoas de
comprovada capacidade técnica, idoneidade moral e sentido de interesse
público, (vide n.º2 artigo 7). Privilegia-se a designação de árbitros pelo conselho
deliberativo do CAAD ou pelas partes, entretanto da primazia à designação pelo
conselho do CAAD, (vide n.°2 artigo 6).
Deveres dos árbitros: Estão sujeitos aos princípios da imparcialidade e da
independência, bem como o sigilo fiscal, devendo recusar ser árbitro quando há
suspeita razoável da violação desses deveres.
Princípios Processuais: Contraditório, igualdade, autonomia do tribunal,
oralidade e imediação, livre apreciação dos factos; cooperação de boa-fé
processual, publicidade das decisões, (vide artigo 16);
54
CALHAU, António Francisco de Almeida (2015): Arbitragem Tributária. Revista Julgar n.° 26 vol. 9.
Disponível em: http://julgar.pt/wp-content/uploads/2015/05/JULGAR-26-09-Ant%C3%B3nio-Calhau-
Arbitragem-Tribut%C3%A1ria.pdf acessado no dia 3 de fevereiro de 2022.
21
Decisão Arbitral: com o prazo de 6 meses, prorrogável até o período máximo
de 1 ano, (vide art. 21).
Recurso: com fundamento em inconstitucionalidade (vide n.°1art 25), oposição
de julgados (vide n.°2 art 25); anulação (art. 270);
55
VILLA-LOBOS, Nuno; PEREIRA, Tânia Carvalhais “Arbitragem Tributária Arbitragem. Breves
Notas” natureza especial dos tribunais arbitrais tributários”, Revista Internacional de Arbitragem e
Conciliação, n.º 7, 2014. pág. 381
56
VILLA-LOBOS, Nuno et all,( s/d), Arbitragem em Direito Publico, Portugal, FGV Projecto, pág. 21.
57
PINTO, Gilson Eduardo Vaz Gomez. Arbitragem Tributária em Cabo Verde: um olhar sobre novos
desafios. Dissertação, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, 2016, pág. 68.
22
111, uma norma que permite a arbitragem na resolução de conflito em matéria de direito
fiscal, desde que seja autorizada por Lei especial.58
Segundo projeto de proposta Lei que disciplina a arbitragem como meio
alternativo de resolução de litígio, há muito tempo que este meio de resolução
alternativa vinha sendo aclamada pela sociedade civil com o propósito de reforçar a
tutela eficaz dos direitos e interesses legalmente protegidos dos sujeitos passivos, nas
linhas de exigência da Constituição da República Cabo Verdiana.59
A 28 de Janeiro de 2016, o Boletim Oficial de Cabo Verde publicou a Lei n.º
108/VIII/2016, de 28 de Janeiro, instrumento disciplinador da Arbitragem Tributária.
Com isto, Cabo Verde passou a contar com uma nova jurisdição, atribuindo assim, aos
contribuintes um meio alternativo ao contencioso fiscal. A Arbitragem Tributária em
Cabo Verde visa: reforçar a tutela eficaz dos direitos e interesses legalmente protegidos
dos contribuintes; imprime maior celeridade na resolução de litígios entre a
administração fiscal e o contribuinte; Fortalecer a posição do contribuinte e lhe conferir
um acesso mais amplo à justiça, e por outro lado, ajudar os tribunais judiciais a reduzir
números de pendências, o que ao longo do prazo conduzirá a uma melhor qualidade das
decisões judiciais. Assim para o efeito, o regime jurídico prevê normas atinentes a dar
uma maior segurança, efetividade e celeridade ao processo arbitral.60
Quanto aos elementos caracterizadores deste regime, podemos destacar: 61
Arbitragem institucionalizada, e os tribunais arbitrais funcionam no centro de
arbitragem tributária (vide artigo 5 da Lei n.°108/VIII/2016);
Quanto ao seu objecto, visa a declaração da ilegalidade de actos de liquidação
de impostos, taxas e contribuições (vide artigo 2 da Lei n.°108/VIII/2016).
Entrementes excluem expressamente as pretensões relativas a direitos
aduaneiros e demais impostos que incidem sobre mercadorias sujeitas a Direitos
58
PINTO, Gilson Eduardo Vaz Gomez , op. cit pág. 68
59
Disponível em http://www.governo.cv/index.php?option=com_content&view=article&id=6014:comuni
cado-conselho-de-ministros-de-23-de-abril-de-2015&catid=200&Itemid=300191pdf, Acesso em 15 de
Março de 2022.
60
PINTO, Gilson Eduardo Vaz Gomez. Arbitragem Tributária em Cabo Verde: um olhar sobre novos
desafios. Dissertação, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, 2016, pág. 69.
61
VILLA-LOBOS, Nuno, Arbitragem Tributaria: A Experiencia Portuguesa. Artigo do CAAD, Portugal
Disponível em: https://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/arquivos/nuno_apresentacao_nvl_-_vf_-
23
de importação, e pretensões relativas a classificação pautal, origem e valor
aduaneiro (vide alínea c) e d) do n.°3 do artigo 2).
Recurso ao Direito Constituído: os Tribunais Arbitrais Funcionam de acordo
com o direito constituído, sendo vedado o recurso a equidade (vide n.º 5 do
artigo 2 da Lei n.°108/VIII/2016).
Designação dos Árbitros: Os Árbitros são escolhidos de entre as pessoas de
comprovada capacidade técnica, idoneidade moral e sentido de interesse público
(vide artigo 7 da Lei n.°108/VIII/2016); opção de designação pelo Centro de
Arbitragem ou pelas partes (vide n°3 do art. 8 Lei n.°108/VIII/2016), entretanto
entre nos, parece que a lei privilegia a designação pelas partes; O árbitro deve
ser licenciado em Direito, mas pode haver decisão por maioria de dois árbitros
não Licenciados em Direito (vide n.°3 do artigo 8 da Lei n.°108/VIII/2016),
entretanto crítica possível, seria a de aumento dos riscos de anulação.
Deveres dos árbitros: A pessoa designada para exercer as funções de árbitro
está sujeito aos princípios da imparcialidade e da independência, bem como ao
dever do sigilo fiscal nos mesmos termos em que este é imposto aos dirigentes,
funcionários e agentes da administração tributária (vide artigo 10 da Lei
n.°108/VIII/2016). A pessoa designada para exercer as funções de árbitro deve
rejeitar a designação quando ocorra circunstância pela qual se possa
razoavelmente suspeitar-se da sua imparcialidade e de independência (vide n.°3
do artigo 9); cabe ao Conselho de Arbitragem Tributária exonerar o árbitro ou
árbitros em caso de incumprimento previstos nos números anteriores (vide n.º 4
do artigo 9).
Princípios Processuais: Contraditório, igualdade das partes, autonomia do
Tribunal, oralidade e imediação, livre apreciação dos factos, cooperação e boa-fé
processual; Publicidade das Decisões dos Árbitros (vide artigo 16 Lei
n.°108/VIII/2016).
Decisão Arbitral: a decisão deve ser emanada no prazo de 6 meses, podendo ser
prorrogável até ao prazo de 1 ano (vide artigo 21 da Lei n.°108/VIII/2016).
Recurso: com fundamento em inconstitucionalidade (vide n.°1 art. 27 da Lei
n.°108/VIII/2016), oposição de julgados (vide n.º 2 do artigo 27 da Lei
n.°108/VIII/2016) e anulação (vide artigo 29 da Lei n.°108/VIII/2016).
Vale a penar refletir o argumento que Gilson Pinto traz na sua dissertação,
24
"Para o efeito, com base no relatório sobre o Estado da
Justiça, os Tribunais de Barlavento têm em média 45 processos
anuais, e apenas 20 para os de Sotavento. Atendo a estas
estatísticas, no ano de 2014 estavam pendente, em cada um
destes tribunais 70 e 31 processo, respetivamente, que
corresponde a um baixo volume de processo pendentes nesses
tribunais.
Será melhor aceite e mais adequado a este ponto em
análise, se adotarmos a necessidade de tomar medidas
preventivas, que a longo prazo, conduzirá uma melhor qualidade
das decisões judiciais. Essencialmente que o objetivo da
Arbitragem não se resume à diminuição das pendências nos
Tribunais Judiciais, e não devem ser descurados, pese embora ter
em conta os dados estatístico acima enunciado".62
62
PINTO, Gilson Eduardo Vaz Gomez. Arbitragem Tributária em Cabo Verde: um olhar sobre novos
desafios. Dissertação, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, 2016, pág. 85-86.
25
CAPITULO IV:
A DEFESA DA INSTITUCIONALIZACAO DA ARBITRAGEM TRIBUTÁRIA
NO ORDENAMENTO JURĺDICO MOCAMBIÇANO
1. Notas Introdutórias
No capítulo anterior, afastamos o dogma da incompatibilidade da arbitragem com o
direito tributário.
No presente capítulo, faremos uma breve digressão entorno das garantias dos
contribuintes. Entrementes, iremos demostrar o porque deveríamos introduzir o modelo
da Arbitragem Tributária no ordenamento jurídico moçambicano, bem como, em termos
genéricos, dos critérios que tal regime assentaria.
26
os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos". E acrescenta no seu n.°2 do
dispositivo acima mencionado que, "os órgãos da Administração Pública obedecem à
Constituição e a lei e actuam com respeito pelos princípios da igualdade, da
imparcialidade, ética e da justiça".
No âmbito do Direito Tributário, os contribuintes gozam de garantias face a
actuação
da administração Tributária. Mas o que são garantias dos contribuintes? R esumindo as
diferentes posições doutrinais, " podemos afirmar que as garantias dos contribuintes mais não
são do que “todos os meios legislativos” judiciais e administrativos que permitem ao cidadão-
contribuinte tutelar os seus direitos e interesses legalmente protegidos, reagindo face a
arbítrios do poder tributário, legislativo e administrativo e a atuações ilegítimas da
Administração Tributária, quer na criação, quer na aplicação dos tributos 63".
As garantias gerais dos contribuintes estão descriminadas no artigo 17 da Lei n.º
15/2002, 64
de 26 junho (lei de bases do sistema tributário), sendo, que podemos
destacar:
a) Não pagar impostos que não tenham sido estabelecidos de harmonia com a
constituição;65
b) Poder apresentação reclamações, impugnações ou recursos nos termos previstos
nesta Lei ou em outras normas tributárias;66
63
FERNANDES, Dina (s/a). Contencioso Tributário: do Processo dos Tribunais Tributários, Lisboa, pág.
4- 5.
64
Além desta disposição, podemos encontrar garantias processuais nos artigos 171, 172,173, 174, 177 da
Lei n°2/2006, de 30 de Março, Lei Geral Tributaria Estabelece os princípios e normas gerais do
ordenamento jurídico Tributário Moçambicano e aplicáveis a todos tributos nacionais e autárquicos;
65
Tal configuração parece óbvia, porquanto estando num Estado de Direito, sujeitamo-nos a
vinculatiblidade legal, pois a nossa legis mater estabelece no n.°1 e 2 do artigo 127, que os impostos são
criados e alterados por lei, estando vedado a cobrança fora destas situações, e se assim suceder, ao
particular ser-se-á atribuída a prerrogativa de opor-se a tais cobranças. Há uma clara expressão do
princípio de legalidade, que para além de estar consagrado na lei mãe, foi transportado para instrumentos
ordinários, veja-se o artigo 3 da Lei de Bases, bem como o artigo 4 e alínea a) do artigo 50 da Lei Geral
do Sistema Tributário.
66
Entre nos, sentimos que esta redação foi melhorada e atribuída maior profundidade, porquanto a alínea
b) do artigo 50 da Lei Geral do Sistema Tributário, apresenta a seguinte redação "apresentar reclamações
ou recursos hierárquicos, solicitar revisões ou apresentar recursos contenciosos de quaisquer actos ou
omissões da administração tributária, lesivos dos seus direitos ou interesses legalmente protegidos, nos
prazos, nos termos e com fundamentos previstos nesta lei, na lei processual e na demais legislação
27
c) Poder recorrer de fixação da matéria coletável e da liquidação dos impostos, nos
termos da lei;
d) Poder ser esclarecido, pelo competente serviço tributário, acerca da interpretação
das leis tributárias e do modo mais cómodo e seguro de as cumprir;67
e) Poder ser informado sobre a sua concreta situação tributária; 68
tributária".
67
Tratando-se de matérias que requerem um conhecimento técnico apurado, é acertada a posição do
legislador em, atribuir a prerrogativa ao contribuinte de procurar junto dos serviços tributários
esclarecimentos sobre a interpretação dos preceitos.
Apenas como um comentário, as regras de interpretação neste ramo do saber, em regra são idênticos aos
demais ramos de direito, entretanto, há algumas especificidades, conforme estabelece o artigo 5 da Lei de
bases do Sistema Tributário conjugado com o artigo 10 da Lei Geral do Sistema Tributário.
68
Numa perspetiva constitucional o n.°1 do artigo 250 da CRM vem estabelecer a garantia a informação
de todo acto praticado pela administração pública no exercício da sua actividade, tal posição, mostra-se
lógica, porquanto o legislador estabelece o direito fundamental a informação, conforme estabelece o n.°1
do artigo 48 da CRM. No âmbito do Direito Tributário, tais preceitos constitucionais, são desenvolvidos
pelos artigos 53 e ss da Lei n.°2/2006 de 22 de Março (Lei Geral do Sistema Tributário), que estabelece
que ao contribuinte, deve ser notificado dos actos que a si dizem respeito, munindo-o assim, de
informação suficiente da sua real situação.
69
Sobre essa discussão não retornaremos neste capítulo, pois já foi motivo de desenvolvimento no
capítulo anterior.
28
Ademais, acreditamos que o instituto da arbitragem tributária é uma realidade
inevitável no solo pátrio, não preciso vaticinar que cedo ou mais tarde Moçambique o
institucionalize. Pensamos assim, porque:
70
Da nossa exegese, assentaria na permissão a que o legislador estabelece na alínea a) do n.2° do artigo 5
LArb.
71
Vide alínea a) do artigo. 202 da Lei n.°7/2014, de 28 de Fevereiro.
72
PENE, Cláudio (2013) Apontamentos do Direito Fiscal moçambicano, Maputo, Escolar Editora.
Pág.33-34
73
Estamos cientes que o Direito Tributário não se restringe ao Direito Fiscal, englobando outras áreas,
como a do Direito Aduaneiro, entretanto, conforme delimitamos logo na nossa problemática, não iremos
falar da matéria do Direito Aduaneiro, e consequentemente não iremos falar da jurisdição aduaneira.
Porém cabe a nos explicar o do porque tomarmos esta posição defensiva. Decidimos excluir da nossa
abordagem, porque entendemos que a semelhança do Direito Comparado, a regulação da matéria
aduaneira por um regime arbitral causaria alguns conflitos com alguma política regional, da qual
Moçambique faz parte (SADC).
29
profissionalismo na tomada de decisões não seja uma raridade, que sirva como
um novo aglutinador ao leque das garantias dos contribuintes.
30
Recurso ao Direito Constituído, é vedado o recurso a equidade, sendo que,
devido ao princípio da legalidade, e dos direitos em causa, o direito
constituído seja a opção mais adequada.
Fixação de Alçada, acreditamos que a fixação de um valor máximo, sem
valor mínimo, seja um fundamento mais cauteloso, pois se tal não fosse,
coremos o risco dos tribunais fiscais serem "olvidados". Sendo o pedido com
um valor superior ao da alçada, não restarão alternativas senão impugnar o
acto junto do tribunal fiscal.
Arbitragem Voluntária, somos contra, desde já a necessária, para afastar
possíveis problemas de inconstitucionalidade. As partes, no âmbito da sua
autonomia de vontade devem decidir submeter o seu litígio a arbitragem
tributária, desde que o valor do pedido, não transcenda a alçada.
Exclui do seu âmbito as matérias aduaneiras, para evitar possíveis
conflitos com o Direito Comunitário.
Recurso das decisões: as decisões podem ser atacáveis junto do Tribunal
Administrativo ou Conselho Constitucional, desde que as decisões proferidas
sejam, manifestamente ilegais, ou seja inconstitucionais, respetivamente.
Fixação de um prazo para a tomada de decisões.
31
Conclusão
32
1. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
a) Obras de Referência
1. CAMPOS, Diogo Leite (2006). “Arbitragem no Direito Tributário”. In
Homenagem ao Prof. Doutor Sousa Franco. Lisboa, Vol. I, p. 739-748.
2. FERNANDES, Dina (s/a). Contencioso Tributário: do Processo dos
Tribunais Tributários, Lisboa
b) Legislação
Moçambicana
33
1. Constituição da Republica de Moçambique de 2004
2. Lei n.° 15/2002, de 26 de junho- lei que estabelece os princípios de organização
do Sistema Tributário da Republica de Moçambique
3. Lei n.° 2/2006, de 30 de Marco, Lei Geral Tributaria Estabelece os princípios e
normas gerais do ordenamento jurídico Tributário Moçambicano e aplicáveis a
todos tributos nacionais e autárquicos.
4. Lei n.° 2/2004 de 21 de Janeiro que estabelece a organização e funcionamento
dos tribunais fiscais
5. Lei n.° 9/2018, de 27 de Agosto, Lei que estabelece a organização e
funcionamento dos tribunais fiscais
6. Diploma Legislativo n°789, de 18 de Abril de 1942, Regulamento do
Contencioso Das Contribuições e Impostos
7. Lei n.°11/99 de 8 de Julho, estabelece o regime jurídico da Arbitragem,
Conciliação e Mediação.
8. Lei n.°7/2014, de 25 de Fevereiro, estabelece os procedimentos atinentes ao
processo administrativo.
9. Lei nº 3/2012 (BR n.º 3, I Série) - Altera os artigos 9, 12, 14, 15, 18, 19, 21 e 25
do Código do imposto Sobre o Valor Acrescentado, aprovado pela Lei n.º
32/2007, de 31 de Dezembro.
10. Lei n.º 20/2013 (BR n.º 76, I Série) - Altera os artigos 17, 36, 61, 62, 67 e 76 do
Código do Imposto Sobre o Rendimento de Pessoas Singulares, aprovado pela
Lei n.º 33/2007, de 31 de Dezembro.
11. Lei n.º 20/2009, de 10 de Setembro - Altera os artigos 18, 20, 21, 22,24, 26,
28,36 e 40; elimina a alínea h) do artigo 68 e introduz os artigos 36-A e 41-A, no
Código Imposto sobre Rendimentos das Pessoas Colectivas aprovado pela Lei
n.º 34/2007, de 31 de Dezembro, para implementação das Normas Internacionais
de Relato Financeiro (NIRFs).
12. Lei nº 4/2012 (BR n.º 3, I Série) - Altera os artigos 17, 36, 61, 62, 67 e 76 do
Código do Imposto Sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas, aprovado pela
Lei n.º 34/2007, de 31 de Dezembro.
Lei nº 19/2013 (BR n.º 76, I Série) - Altera os artigos 5, 7, 25, 36, 62, 72 e 73 do
Código do Imposto Sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas, aprovado pela
Lei n.º 34/2007, de 31 de Dezembro.
34
Cabo Verde
1. Lei n.º 108/VIII/2016, de 28 de Janeiro, estabelece o regime jurídico da
Arbitragem Tributaria.
Portuguesa
1. Decreto-lei n°10/2011 de 20 de Janeiro, Estabelece o Regime Jurídico da
Arbitragem em matéria Tributaria.
2. Lei n.° 63/2011, de 14 de Dezembro, Estabelece o Regime Jurídico da
Arbitragem Voluntária.
35
LOBOS_E_TANIA_CARVALHAIS_PEREIRA-02.pdf Acesso a 18 de Fevereiro de
2022.
d) Teses e Monografias
1. BRAZ, Mário Rui Antunes. O regime da Arbitragem tributária. Dissertação,
Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa. 2012
2. OLIVEIRA, Ana Perestrelo de (2007). Arbitragem de Litígios com Entes
Públicos. Lisboa: Editora Almedina, ISBN: 978-972-40-3098-2.
3. OLIVEIRA, Ana Rita Nogueira Reis de Castro. “A Arbitragem Tributária e a
Avaliação por Métodos Indiretos: Porque não? - Análise ao âmbito material da
arbitragem tributária. Dissertação, Faculdade de Direito da Universidade de
Lisboa. 2017.
4. HENRIQUES, Nuno Felipe Jesus. Arbitragem Tributária: um contributo para a
realização da justiça tributária? Dissertação, Faculdade de Direito, Universidade
Católica de Portugal. 2013.
5. PINTO, Gilson Eduardo Vaz Gomez. Arbitragem Tributária em Cabo Verde:
um olhar sobre novos desafios. Dissertação, Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa, 2016.
e) Sites da Internet
http://www.governo.cv/index.php?option=com_content&view=article&id=6014:comuni cado-
conselho-de-ministros-de-23-de-abril-de-2015&catid=200&Itemid=300191pdf, Acesso em 15
de Março de 2022..
36