0% acharam este documento útil (0 voto)
330 visualizações46 páginas

Monografia Amiel Janja 2

Este trabalho analisa a viabilidade da arbitragem tributária em Moçambique como mecanismo de acesso à justiça e proteção dos contribuintes. Discute-se os princípios do direito tributário e a tutela arbitral, e faz-se uma análise comparativa da arbitragem tributária noutros países. Defende-se a institucionalização de uma arbitragem tributária parcial em Moçambique.

Enviado por

Alde Amade
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato DOCX, PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
330 visualizações46 páginas

Monografia Amiel Janja 2

Este trabalho analisa a viabilidade da arbitragem tributária em Moçambique como mecanismo de acesso à justiça e proteção dos contribuintes. Discute-se os princípios do direito tributário e a tutela arbitral, e faz-se uma análise comparativa da arbitragem tributária noutros países. Defende-se a institucionalização de uma arbitragem tributária parcial em Moçambique.

Enviado por

Alde Amade
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato DOCX, PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 46

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE DIREITO

Trabalho de Fim de Curso, Licenciatura em Direito.

Tema:
"Arbitragem Tributária: Mecanismo de Acesso a Justiça e Proteção dos
Contribuintes"

Estudante:
Amiel Abdul Carimo Alide Janja

Supervisor:
Prof. Dr. Teodoro Andrade Waty

Maputo, Abril de 2022

1
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE DIREITO

Trabalho de Fim de Curso, Licenciatura em Direito.

Tema:
"Arbitragem Tributária: Mecanismo de Acesso a Justiça e Proteção
dos Contribuintes"

Estudante:
Amiel Abdul Carimo Alide Janja

Trabalho de Fim de Curso à ser entregue


à Faculdade de Direito da Universidade
Eduardo Mondlane, como requisito
parcial à obtenção do grau de
Licenciatura em Direito, elaborado sob a
orientação do Prof. Doutor Teodoro
Andrade Waty.

2
Maputo, Abril de 2022

DECLARAÇÃO DE AUTENTICIDADE

Eu Amiel Abdul Carimo Alide Janja, declaro, por minha honra, que o presente
Trabalho de Fim de Curso é da minha autoria, elaborado em conformidade com o
Regulamento para obtenção do Grau de Licenciatura em Direito, vigente na Faculdade
de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, sendo resultado do meu esforço pessoal.
Este trabalho, nunca foi apresentado em nenhuma instituição de ensino para obtenção de
qualquer grau académico, constituindo por isso, um trabalho original, cujas fontes
consultadas para a sua elaboração foram devidamente indicadas.

O Autor

_________________________________________
(Amiel Abdul Carimo Alide Janja)

3
AGRADECIMENTOS

Ao altíssimo senhor Deus, pela sua infinita misericórdia e bondade, que com sua
bênção os andarilhos tornam-se mais leves.

A minha eterna mãe, que hoje descansa em paz junto das epopeias celestiais, e
que, de ti saudades eternas circundam o coração deste mero mortal, que um dia espera
contigo estar.
A ti mãe, pelos ensinamentos que transmitiste à este filho teu, que com tua proteção de
lá, faz isso por ti e para ti.

A minha irmã Eva, que mesmo em dificuldades, nunca me abandonou, meu farol
na terra, garantia de que amanha há um novo amanhecer, um novo combate, aos doutos
ensinamentos. Obrigado por me ensinar que a minha vontade deve ser maior que
qualquer obstáculo.
Ao Prof. Doutor Waty, por toda paciência e contribuições lastras, que
permitiram concluir o presente trabalho. E mais, por me ensinar que sem ética, de nada
vale o conhecimento.

4
Epígrafe

"O que sabemos é uma gota, o que ignoramos é


um oceano."

5
Isaac Newton.
Resumo

Mediante exegese do n.° 1 e 2 do artigo 5 da Lei n°11/99 de 8 de Julho,


entendemos que não há empecilhos legais para a institucionalização de um regime da
arbitragem tributária, porquanto o crédito tributário não é absolutamente indisponível,
ou seja, é disponível.
E disponível porque o legislador admite, dentro dos limites legais, a
possibilidade de apor-se cláusulas de isenções fiscais, benefícios fiscais, entre outros
aspectos, conforme estabelece o artigo 9 da Lei n.º 22/2006 e o artigo 15 da Lei n.º
15/2002, ou seja há espaço de transação por parte da administração tributária. E sendo
assim, na mesma lógica, nada obsta que dentro dos limites legais, mediante um
instrumento, o legislador considere institucionalizar a Arbitragem Tributária no
ordenamento jurídico moçambicano.
A morosidade processual inerente aos tribunais fiscais; os investimentos
estrangeiros e nacionais; a excessiva burocracia… são alguns dos motivos que podem
fundamentar a preocupação pela consagração deste instituto.
Defende-se uma Arbitragem parcial, com uma espécie de "alçada" que defina o
limite, que resolva parte dos conflitos, evitando assim, deixar se de lado os tribunais
fiscais, pois matérias como estas, o Estado deve manter o monopólio na resolução de
litígios, mas sem exclusividade.
Agarramo-nos á uma Arbitragem Tributária instucionalizada, que funciona num
centro, supervisionado pelo Tribunal Administrativo, já que este é o tribunal superior da
hierarquia matéria fiscal (n.º 1 do artigo 227 da CRM), sem contudo significar falta de
independência. Uma arbitragem típica do direito público, que recorre ao direito
constituído, sendo-lhe vedado o recurso a equidade, evitando assim, a preterição do
princípio da legalidade.

Palavras-chaves: Arbitragem Tributária, crédito tributário; princípio da


legalidade.

6
Abstract

Through the exegesis of numbers 1 and 2 of article 5 of Law n°11/99 of 8 July,


we understand that there are no legal obstacles to the institutionalization of a tax
arbitration regime, since the tax credit is not absolutely unavailable, or that is, it is
available.
It is available because the legislator admits, within the legal limits, the
possibility of adding tax exemption clauses, tax benefits, among other aspects, as
established in article 9 of Law n.º 22/2006 and article 15 of Law n. 15/2002, that is,
there is room for transactions on the part of the tax administration. And so, in the same
logic, nothing prevents the legislator from considering institutionalizing Tax Arbitration
in the Mozambican legal system within the legal limits, through an instrument.
The procedural delay inherent to tax courts; foreign and national investments;
excessive bureaucracy… are some of the reasons that may justify the concern for the
consecration of this institute.
A partial Arbitration is defended, with a kind of "property" that defines the limit,
that resolves part of the conflicts, thus avoiding leaving the tax courts aside, since
matters such as these, the State must maintain the monopoly in the resolution of
litigation, but not exclusivity.
We cling to an institutionalized Tax Arbitration, which operates in a center,
supervised by the Administrative Court, since this is the highest court in the tax
hierarchy (n.º1 Article 227 of the CRM), without however implying a lack of
independence. A typical arbitration of public law, which resorts to the constituted law,
being forbidden the use of equity, thus avoiding the preterition of the principle of
legality.

Keywords: Tax Arbitration, tax credit; principle of legality.

7
Siglas, Acrônimos e Abréviaturas

8
ĺndice
1.Introdução.......................................................................................................................1

1.1 Delimitação do tema................................................................................................1

1.1.2. Justificativa do Tema...........................................................................................2

1.1.3. Problematização...................................................................................................3

CAPĺTULO I:....................................................................................................................4

UM OLHAR A TUTELA ARBITRAL.........................................................................4

1. TUTELA ARBITRAL...........................................................................................4

1.5 Modalidades da Arbitragem.................................................................................7

CAPĺTULO II:...................................................................................................................9

DIREITO TRIBUTÁRIO: ÂMBITO, PRINCĺPIOS E.................................................9

1. Direito Tributário: Noção e Âmbito.......................................................................9

1.1 Princípios do Direito tributário.........................................................................11

1.2 Instrumentos jurídicos do Direito Tributário.....................................................14

CAPĺTULO III:...............................................................................................................16

ARBITRAGEM VS DIREITO TRIBUTÁRIO: INCOMPATIBILIDADE OU


COMPATIBILIDADE?...............................................................................................16

1. Primeiras Considerações......................................................................................16

2. Arbitragem Tributária no Direito Comparado.....................................................20

CAPITULO IV:...............................................................................................................27

A DEFESA DA INSTITUCIONALIZACAO DA ARBITRAGEM TRIBUTÁRIA


NO ORDENAMENTO JURĺDICO MOCAMBIÇANO.............................................27

1. Notas Introdutórias...........................................................................................27

2. Um breve olhar para as garantias dos contribuintes.........................................27

3 Os Nossos Argumentos para Criação de um Regime Arbitral Tributário, e Fixação


de Critérios que Estabelecem Competência dos Tribunais Arbitrais Tributários........29

9
3.1 Critérios que fixam a competência dos Tribunais de Arbitragem Tributária.....31

Conclusão........................................................................................................................33

1. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS.....................................................................34

10
1.Introdução
O acesso a justiça é um objectivo fundamental num Estado de Direito, o sistema
jurídico direcionado num sentido, permitir o acesso aos tribunais, sejam Estatais ou não
(vide art. 62 n.°1 da CRM), mas não só, um acesso útil, um acesso que possibilita dentro
de um prazo razoável, obter ou fazer executar uma decisão judicial com força de caso
julgado. Só por via do acesso a justiça, e tão-somente desta, podemos de falar da efetiva
proteção dos direitos e garantias dos contribuintes.

O presente trabalho, com a temática, Arbitragem Tributaria: mecanismo de


acesso a Justiça e proteção dos contribuintes, é desenvolvida tendo por base a
interpretação crítica do disposto no n.º 1 e 2 do artigo 5 da Lei n.º 11/99 de 8 de julho,
que aprova a lei de Arbitragem, Conciliação e Mediação.

1.1 Delimitação do tema

O presente trabalho, essencialmente procura defender a defesa da


institucionalização da arbitragem tributária, porquanto acreditamos que o mesmo seja o
mecanismo mais eficiente para alcançar resultados, sem contudo colocar em causa a
eficácia e segurança do resultado alcançado. Uma garantia de melhor proteção aos
contribuintes.

Cabe a nos desde já, dizer que, para a defesa deste instituto, excluiremos do seu
âmbito matérias aduaneiras, e como consequência não relacionada á matérias
correlacionadas ao presente trabalho.

Sendo assim, nos primeiros dois capítulos, falaremos sobre a tutela arbitral, bem
como noções básicas de percepção e delimitação da abrangência do Direito Tributário.

No terceiro capítulo falaremos da temática referente a compatibilidade ou


incompatibilidade da Arbitragem Tributária com o Direito Tributário, sendo que
optando pela compatibilidade, mostraremos os fundamentos da nossa posição.

1
E no quarto e último capitulo, demostraremos o porque é que Moçambique deve
institucionalizar um regime arbitral, bem como critérios que a ele serviriam para
delimitar a sua competência e o seu funcionamento.

1.1.2. Justificativa do Tema

O Estado sobrevive essencialmente pelo tributo cobrado, mas a cobrança de


tributos é passível de erros, erros esses que lesam o contribuinte. O contribuinte apesar
de estar na posição passiva da relação jurídico tributário, posição mais "fragil", possui
interesses a preservar, que em algum momento, por razões de justiça, impõe um juízo de
ponderação face ao interesse público.

O Contribuinte possui garantias e direitos que servem de fundamento limite á


actuação da administração tributária. Situações não raras, colocam o contribuinte no
dilema de decisões "intempestivas", isto influenciado pela morosidade dos tribunais
fiscais nos seus processos que seguem circundados de altas complexiblidades, facto que,
periga o efeito útil da acção, tornando-a ineficiente. Vale lembrar que apesar dos
tribunais fiscais terem sido criados em 2001, até ao momento apenas entraram em
funcionamento os tribunais fiscais da cidade de Maputo, Província de Maputo e
Província de Sofala, uns com jurisdição de Província (Cidade de Maputo) e outros com
Jurisdição Regional (Província de Maputo e Sofala, nos termos do art. 42 n°1 da Lei
n.°9/2018, de 27 de Agosto). 1

E mais, o crescente investimento interno e principalmente externo, impõe uma


posição preventiva, já que dele com certeza emergirão diversos litígios fiscais, o que
contribuirá para a sobrecarga do contencioso fiscal, aumentando, desta forma a
morosidade.

A ineficiência, poderá ser ultrapassada mediante um mecanismo alternativo, que,


sendo alternativo e moderno será sempre voluntário e compatível com as pretensões
fiscais, que em momento algum retirará o monopólio estatal na resolução de conflitos,
antes um mecanismo suficientemente capaz de se conformar com este, e o auxiliar,
diminuindo assim, o fluxo e sobreposição de processos tributários nas instâncias do
contencioso tributário, facilitando assim o trafego jurídico, e permitindo um melhor
1
TIMBANE, Tomás (2020) Lições de Processo Civil. 2ª ed. Maputo: Escolar Editora, pág. 57

2
gerenciamento da justiça, garantido uma proteção mais eficiente dos direitos e garantias
dos contribuintes. Por estes motivos, escolhemos como denominação do nosso trabalho,
Arbitragem Tributaria: Mecanismo Para o Acesso a Justiça e Proteção dos
Contribuintes.

1.1.3. Problematização

A Arbitragem é um mecanismo alternativo ao sistema judicial. É caracterizado


pela sua celeridade e informalidade, sendo regulado pela Lei n.º 11/99 de 8 de julho,
que aprova a lei de Arbitragem, Conciliação e Mediação. (doravante designaremos
LArb).

A regra é de que todos os litígios são arbitráveis, desde que não reportem á
matéria indisponível ou da exclusiva competência dos tribunais judicias. (vide alíneas
a) e b) do n.º 2 do artigo 5 da LArb).

Maior parte da doutrina clássica entende que, devido à critérios estabelecidos


pelo artigo 5 da LArb, não haveria possibilidade da consagração duma Arbitragem
Tributária, já que a disciplina do direito tributário apresenta um conteúdo indisponível,
por isso excluída do âmbito de aplicação da LArb. Apresentado este argumento, vários
questionamentos surgem. Destacando-se os seguintes:

 Será mesmo que o crédito tributário é realmente indisponível?


 Não haveria a possibilidade da criação de um regime especial da arbitragem,
atendendo a redação da 2.ª parte do n.º2 do artigo 5 da LArb?
 A arbitragem dos contratos administrativos com cláusulas de isenção fiscal (vide
alínea a) do artigo. 202 da Lei n.°7/2014), não seria um reconhecimento tácito
do legislador da possibilidade de arbitragem em matéria tributária?

Os problemas acima suscitados são o fundamento deste trabalho, sendo que


merecerão uma atenção aprofundada nos próximos capítulos.

Quanto ao método, recorreu-se aos métodos dedutivo, comparativo, analítico e


crítica. Saindo de abordagem genéricas para específicas, aproveitando-se das
informações do direito comparado, com senso crítico e analítico.

3
CAPĺTULO I:
UM OLHAR A TUTELA ARBITRAL

1. TUTELA ARBITRAL
1.1Conceito
Tendo em conta a admissibilidade da existência de meios extrajudiciais de
resolução de litígios e da autodefesa, é possível afirmar que e o Estado não goza da
exclusividade do exercício da função de resolução de litígios. 2 Nesta ordem de ideias,
António Francisco Calhau defende que "a Arbitragem constitui uma forma de resolução
de litígios através de um terceiro neutro e imparcial – o arbitro- seja porque é ele
escolhido pelas partes ou seja porque é institucionalizada, e cuja decisão tem o mesmo
valor jurídico que as sentenças judiciais"3

Na linha de pensamento de Mario Rui Antunes apud Colaicovo:4


"A Arbitragem é um processo consensual, no qual uma terceira
parte neutra, o árbitro, ouve os argumentos das duas partes sobre o
litígio, considera as evidências e emite uma decisão final. A decisão tem
o valor de coisa julgada, e não é passível de revisão, salvo se tiver sido
cometido algum erro grosseiro na condenação do processo arbitral".

Face a tentativa de conceptualização deste instituto por estes autores, fácil é


posicionarmo-nos, dizendo que a arbitragem é um mecanismo extrajudicial de resolução
de conflitos, podendo ser institucionalizada ou ad-hoc, voluntária ou necessária, pública
ou privada, sendo que é instituída visando alcançar a celeridade processual, sem
contudo significar preterição da eficácia dessas decisões, pois as mesmas possuem a
mesmos efeitos jurídicos de uma decisão proferida por um Tribunal Estatal, desde que
seguida as formalidades que a lei impõe.

2
TIMBANE, Tomás (2020) Lições de Processo Civil. 2ª ed. Maputo: Escolar Editora, pág. 66

3
CALHAU, António Francisco de Almeida (2015): Arbitragem Tributária. Revista Julgar n.º 26 vol. 9.
pág. 181.

4
BRAZ, Mário Rui Antunes. O regime da Arbitragem tributária. Dissertação, Instituto Superior de
Contabilidade e Administração de Lisboa. 2012. pág. 7

4
Arbitragem surge para fazer face a excessiva burocratização dos processos
judicias, burocratização essa que impede a tomada de decisões em prazos exíguos,
consubstanciando uma denegação ao acesso a justiça, acesso a justiça esse, que
caracteriza-se por ser um direito fundamental a luz de um Estado de Direito (Cfr art 2
n.° 1 do Código de Processo Civil).
Podem estar sujeitos à arbitragem litígios de qualquer natureza, salvo os
previstos no n.º 2 do art. 5 da LArb, designadamente os que, por lei especial devam ser
submetidos a tribunal judicial ou a regime especial de arbitragem, e os que respeitam a
direitos indisponíveis ou não transacionáveis. 5

1.2 Regime da Arbitragem no Ordenamento Jurídico Moçambicano


O regime da arbitragem, conciliação e mediação esta regulado na Lei n.º 11/99
de 8 de julho, sendo que, está visa institucionalizar meios alternativos ao sistema
judicial na resolução de conflitos, com a ratio de procurar responder à transformações
que se têm vindo a operar no país, decorrentes do desenvolvimento de uma economia de
mercado e de relações comercias internacionais.6
Para nos, está lei ordinária consubstancia à materialização do preceito
constitucional previsto no disposto do n.º 1 do artigo 62 da CRM, que preconiza o
acesso aos tribunais como forma de impugnar os actos que violam ou venham violar
direitos. É da exegese deste dispositivo que, encontramos a expressão Tribunais, que
para nos não se restringe única e exclusivamente aos tribunais estaduais, sendo de
incluir desta forma os tribunais arbitrais.
Para terminar, apenas um comentário, acreditamos que para além da lei de
arbitragem focar-se na questão principal, seria de todo importante uma leve revisão, que
permitisse a possibilidade de decretar providências cautelares, bem como ordens
preliminares, cuja execução coerciva far-se-ia mediante um pedido exigido ao tribunal
Estatal competente.7

5
TIMBANE, Tomás (2020) Lições de Processo Civil. 2ª ed. Maputo: Escolar Editora, pág. 66.
6
Excerto retirado no preambulo da LArb.
7
No âmbito do Direito Comparado, a arbitragem portuguesa regulada pela Lei n.º 63/ 2011, de 14 de
Dezembro, já tem está matéria regulada, alias, cá entre nos, é uma clara aproximação e inspiração na lei
modelo da comissão das Nações Unidas sobre o comércio internacional.

5
1.3 Princípios da Arbitragem
Quanto aos princípios que moldam a "alma da arbitragem", podemos encontrar alguns
que estão descriminados no disposto do n.º 2 do artigo 2 da lei de arbitragem, sendo:
a) Liberdade: reconhecimento da autonomia das partes na escolha e adopção de
meios alternativos ao poder judicial;
b) Flexibilidade: preferência dada no estabelecimento de procedimentos informais,
adaptáveis e simplificados.
c) Privacidade: garantia de privacidade e confidencialidade a processos e seus
intervenientes;
d) Idoneidade: exigência de características de imparcialidade e independência para
desempenhar as funções de árbitro ou conciliador;
e) Celeridade: dinâmica e rapidez na resolução de conflitos;
f) Igualdade – garantia de que as partes serão tratadas com estrita igualdade e que
cada uma delas serão dadas as mesmas condições e todos a possibilidade de
fazer valer os seus direitos;
g) Audiência: oralidade típica dos mecanismos alternativos;
h) Contraditório: garantia de que ambas as partes serão ouvidas oralmente ou por
escrito, antes de ser proferida a decisão final;

1.4 Características da Arbitragem


Seguindo o entendimento do Prof. Dário Moura Vicente 8, podemos encontrar as
seguintes características inerentes a jurisdição arbitral:
a) Meio de Resolução de Litígios: Disto resulta do disposto no artigo 1 da LArb,
mas não só, a arbitragem também pode ter por objecto conflitos de interesse sem
caracter contencioso, por lhe faltarem elementos constitutivos de um litígio, uma
pretensão e uma resistência. É esse o caso das questões a que se refere o n.º 3 do
artigo 4 da LArb. A revisão de contratos, por exemplo pode ser confiada à
árbitros, ainda que nenhum caracter contencioso exista a esse respeito.
b) A Arbitragem é um instituto que implica a subtração dos litígios aos
Tribunais Estaduais e a atribuição a particulares da competência para
decidi-los: esses particulares tanto podem ser designados pelas partes, como por
8
MOURA, Dário Vicente, Arbitragem e outros meios de Resolução Extrajudicial de Litígios no Direito
Moçambicano. Texto disponível em https://www.fd.ulisboa.pt/wp-content/uploads/2014/12/Vicente-
Dario-ARBITRAGEM-E-OUTROS-MEIOS-DE-RESOLUCAO-EXTRAJUDICIAL-DE-LITIGIOS-NO-
DIREITO-MOCAMBICANO.pdf. Acesso a 18 de Fevereiro de 2022.

6
terceiros (Vg. Uma instituição de arbitragem por eles escolhida ou um Tribunal
Judicial) não prejudica esta característica a circunstância de o tribunal arbitral
ser integrado por juízes, como nos parece admitir o artigo 19 da LArb, contanto
que os mesmos exerçam à função de árbitros a margem da sua condição oficial.
c) Decisão Arbitral com eficácia idêntica a dos Tribunais Estatais: nos termos
do artigo 43 da LArb, a decisão arbitral depositada nos termos do artigo 42,
produz os meus efeitos da sentença proferida pelos órgãos do poder judicial, e
sendo condenatória constitui título executivo.

1.5 Modalidades da Arbitragem


a)Arbitragem Voluntária vs. Arbitragem Necessária:
Na primeira, a instituição do Tribunal Arbitral depende da vontade das partes e
dá-se por meio de uma convenção de arbitragem, consoante prevê o n.°1 do artigo 4 da
LArb. É fundamentalmente desta modalidade de arbitragem que a lei se ocupa.
Por seu turno a segunda modalidade é aquela a que se referem os artigos 1526 e 1528 do
Código do Processo Civil, preconizando que os poderes do tribunal arbitral decorrem de
uma norma legal que impõe a sujeição a árbitros de certa categoria de litígios.
O critério de distinção consiste, pois, na influência da vontade dos interessados na
instituição de um tribunal Arbitral, para julgar certo litígio.9
A doutrina como a jurisprudência, considera questionável a arbitragem necessária,
porquanto está impede ou cércea o direito fundamental ao acesso a justiça.

b) Arbitragem Institucionalizada vs. Arbitragem Ad Hoc


A primeira está prevista no art. 69 da LArb e se processa no âmbito e de acordo
com regras de instituições especializadas, denominados centros de arbitragem (como o
centro de arbitragem, conciliação e mediação, sediado em Maputo). A segunda
modalidade, decorre a margem de tais instituições, perante árbitros escolhidos pelas
partes.10

9
MOURA, Dário Vicente, Arbitragem e outros meios de Resolução Extrajudicial de Litígios no Direito
Moçambicano. Texto disponível em https://www.fd.ulisboa.pt/wp-content/uploads/2014/12/Vicente-
Dario-ARBITRAGEM-E-OUTROS-MEIOS-DE-RESOLUCAO-EXTRAJUDICIAL-DE-LITIGIOS-NO-
DIREITO-MOCAMBICANO.pdf. Acesso a 18 de Fevereiro de 2022.
10
MOURA, Dário Vicente, Arbitragem e outros meios de Resolução Extrajudicial de Litígios no Direito
Moçambicano. Texto disponível em https://www.fd.ulisboa.pt/wp-content/uploads/2014/12/Vicente-
Dario-ARBITRAGEM-E-OUTROS-MEIOS-DE-RESOLUCAO-EXTRAJUDICIAL-DE-LITIGIOS-NO-
DIREITO-MOCAMBICANO.pdf. Acesso a 18 de Fevereiro de 2022.

7
c) Arbitragem Pública vs. Arbitragem Privada
O critério determinante da qualificação numa ou noutra, é o da natureza das
partes e da qualidade em que as mesmas intervém no processo arbitral. A privada tem
lugar entre particulares ou entre estes e entidades públicas despidas do seu poder de
autoridade, já a pública é aquela em que há intervenção de entidades públicas entre si ou
com particulares munido do seu poder de autoridade, com um regime próprio. 11

CAPĺTULO II:
DIREITO TRIBUTÁRIO: ÂMBITO, PRINCĺPIOS E
CARÁCTERISTICAS.

11
MOURA, Dário Vicente, Arbitragem e outros meios de Resolução Extrajudicial de Litígios no Direito
Moçambicano. Texto disponível em https://www.fd.ulisboa.pt/wp-content/uploads/2014/12/Vicente-
Dario-ARBITRAGEM-E-OUTROS-MEIOS-DE-RESOLUCAO-EXTRAJUDICIAL-DE-LITIGIOS-NO-
DIREITO-MOCAMBICANO.pdf. Acesso a 18 de Fevereiro de 2022.

8
1. Direito Tributário: Noção e Âmbito

Actualmente é impossível falar do Estado sem falar do Direito Tributário, e por


que pensamos assim? Pensamos assim porque o Direito Tributário é "a alma " de todo
Estado, o Estado existe, subsiste e resiste por causa deste sub ramo de Direito
Financeiro. Não queremos com isto dizer que, os outros ramos de direito são menos
importante, afastamo-nos desde já, de qualquer interpretação desta índole. A felicidade
só é possível mediante a satisfação de necessidades, e é através do Direito Tributário
que o Estado cobra receitas, visando satisfazer interesses públicos, só assim, mediante
um Direito Tributário baseado nos princípios da justiça e igualdade, o Estado pode
alcançar os seus objectivos.

Mas então como podemos definir o Direito Tributário? O Prof. Soares Martinez
tem o entendimento de que,

"O Direito dos Impostos, Direito Tributário ou Direito


Fiscal, é o ramo de Direito Financeiro que corresponde a
insuficiência do património e do domínio, para suportarem as
despesas crescentes das comunidades. E assim, logicamente
supletório, no sentido de que visa preencher aquela
insuficiência".12

Continuando, o Prof. Soares Martinez, critica a concepção italiana, afirmando


que " a mesma se depara com algumas dificuldades relativamente ao seu ajustamento
aos Sistemas de Direito Legislado13". Contínua, afirmando que é "mais preferível
limitar o Direito Tributário a Disciplina dos impostos". 14 E para terminar, defende este
que, "a tendência de incluir no Direito Tributário matérias alheios aos impostos
provém da dificuldade de distingui-los com nitidez de outras figuras, dificuldade para
qual os legisladores com frequência contribuem"15.

Por seu turno, Cláudio Pene, defende que,

12
MARTINEZ, Soares (1998) Direito Fiscal, Coimbra, Almedina. Pág. 21

13
MARTINEZ, Soares (1998), op. cit. pág. 22
14
MARTINEZ, Soares (1998), op. cit. pág. 23

15
MARTINEZ, Soares (1998), op. cit. pág. 23

9
"O Direito Tributário é o Direito relativo aos tributos ou
receitas colectivas unilaterais, e bilaterais, este conceito abrange
além dos impostos, as taxas. O Direito Fiscal reporta-se tão
somente as receitas coactivas unilaterais, isto é, sem nenhuma
contrapartida directa, especifica e imediata, os impostos". 16

Ou seja, para Cláudio Pene o Direito Tributário é mais amplo que o Direito
Fiscal, pois este último cinge-se tão-somente à regular à matéria dos impostos.

Por fim, o Professor Teodoro Andrade Waty, defende que,

"O Direito Tributário concentra-se no Estudo das normas


relativas ao estabelecimento e colecta dos tributos, bem como a
relação jurídica, resultante de tal acto, onde os dois personagens
principais, ente público e contribuintes estão ligados pelo facto
gerador, que é o fenómeno que confirma a origem de uma
obrigação tributária".17

O ilustre Professor continua, "o objecto da matéria é a obrigação tributária,


sendo que esta pode ser uma obrigação de dar (entregar a moeda ao ente público) ou
ainda uma obrigação de fazer ou não fazer, através da emissão da nota fiscal ou acto
similar".18

Estes autores renomados, trazem as suas ideias sobre o que seria


necessariamente o Direito Tributário, cabendo a nos, neste momento ter um
posicionamento acerca do debate. É de frisar que inclinamo-nos mais da terminologia
usada pelos professores Teodoro Andrade Waty e Cláudio Pene, porquanto devemos
colocar entre parenteses que não devemos confundir o inconfundível, o Direito
Tributário não é sinónimo de Direito Fiscal, mas em boa verdade, o Direito Fiscal faz
parte do Direito Tributário, ou seja, o Direito Tributário para além de prever a regulação
de vários tributos, este vai também prever a regulação de impostos. Por seu turno o
Direito Fiscal sendo uma parte do Direito Tributário cinge-se tão-somente na regulação

16
PENE, Cláudio (2013) Apontamentos do Direito Fiscal moçambicano, Maputo, Escolar Editora. pág.20

17
WATY, Teodoro Andrade (2013), Direito Tributário, Maputo, W&W Editora, pág. 26
18
WATY, Teodoro Andrade (2013). Op. Cit. Pág.26

10
dos impostos. e nesta senda de pensamentos, fazemos das palavras do professor
Teodoro Andrade Waty em nossas,

"O nosso Legislador aprova os impostos em vigor através


de uma lei de bases do sistema tributário, lei n°15/2002, de 26 de
julho, seria o argumento, talvez, a favor de um Direito Tributário
que disciplina os impostos.

Haverá, porém, que considerar que aquela lei consagra


que o Sistema Tributário da República, completa-se com os
tributos aprovados pela lei n.°11/97, de 31 Maio, que como se
sabe, para além dos impostos autárquicos, estabelece outros
tributos, tais como taxas, tarifas, e contribuições".19

1.1 Princípios do Direito tributário

Abaixo, de forma resumida, evidenciaremos os princípios mais sonantes do


Direito Tributário.

a) Principio da Legalidade,

Os tributos só podem ser criados ou alterados por lei anterior que o estabeleça,
sendo vedado exigir ou aumentar sem que a lei o estabeleça. 20

Este princípio, visa fundamentalmente a tutela dos interesses da segurança e da


proteção de confiança nas leis fiscais, assegurando especialmente a cognoscibilidade, a
previsibilidade e a calculabilidade dos impostos.21

Este princípio limita o poder de tributar, evitando assim, arbitrariedades na


atuação da autoridade tributária, pois "a lei constitui a génese do poder tributário, um
meio de realização da justiça, finalidade do Estado de Direito, no seu duplo sentido,
material e formal e a ela são reconduzidos todas as formas do exercício do poder e
única fonte de expressão da sua legitimidade".22

19
WATY, Teodoro Andrade (2013). op. cit. pag.29
20
WATY, Teodoro Andrade (2013). op. cit. pág. 94 e 95.
21
PENE, Cláudio (2013) Apontamentos do Direito Fiscal moçambicano, Maputo, Escolar Editora. Pág.20
22
WATY, Teodoro Andrade (2013), Direito Tributário, Maputo, W&W Editora, pág. 101-102

11
Quanto a sua manifestação, podemos encontrar o disposto do n.° 2 do artigo 127
da CRM, bem como no artigo 3 da Lei n.°15/2002 e artigo 4 da lei n.°2/2006.

b) Princípio da Capacidade Contributiva

Pressupõe que os impostos terão o caracter pessoal e serão graduados segundo a


capacidade económica dos contribuintes, facultando à administração tributária conferir
efectividade aos objectivos, identifica, observados os direitos individuais e na forma da
lei, o património, os rendimentos, as actividades económicas do contribuinte. 23

c) Princípio da indisponibilidade dos interesses públicos

Os interesses públicos são inapropriáveis. O titular do órgão da administração


incumbido de representa-los não tem o poder de disposição, havendo de geri-los na mais
estreita conformidade com que preceitua a lei.

Corolário desse princípio é a permanência absoluta da lei, em toda a


circunstância em que o administrador tributário cabe remitir débitos, transigir, efectuar
compensações ou lidar, de algum modo, com a titularidade de bens ou interesses do
erário. 24

d) Princípio da universalidade da jurisdição

Determina o texto constitucional que a lei não exclui da apreciação do poder judiciário
lesão ou ameaça ao direito, assim, mesmo em matéria tributaria onde há um contencioso
administrativo bem estruturado, este não goza de definitividade, frente a primazia
absoluta do poder judiciário, quanto a tutela jurisdicional. 25

e) Princípio da ampla defesa

Pressupõe o devido processo legal, que é instrumento básico para preservar


direitos e assegurar garantias, tornando concreta a procura da tutela jurisdicional ou a
manifestação duradoura do poder público, em problemas de cunho administrativos aos
litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, como meios e recursos a eles inerentes.
Tem assento legal no n.° 1 do artigo 61 da CRM. 26
23
WATY, Teodoro Andrade (2013), op. cit, pág. 109
24
WATY, Teodoro Andrade (2013), op. cit, pág. 91
25
WATY, Teodoro Andrade (2013), op. cit, pág.94
26
WATY, Teodoro Andrade (2013), op. cit, pág.89

12
f) Princípio da Boa-fé

A proteção da boa-fé exige da administração fiscal que na sua livre actuação não
suprima benefícios adquiridos, mesmo os de atribuição fiscal. (boa-fé, vista
essencialmente no âmbito objectivo). 27

g) Princípio da justiça

É um sobreprincípio, princípio supremo do Estado Moderno, os seus valores


axiológicos projetam-se em todo o ordenamento jurídico. Preconiza que o Sistema
28

Tributário deve ser justo, um sistema baseado nos valores da igualdade, na boa-fé, na
certeza, na segurança, na ampla defesa.

É um princípio aglutinador, na medida que só através da materialização dos


demais princípios pode-se chegar a tal almejada justiça, e só desta, podemos chegar a
proporcionar a felicidade dos cidadãos.

h) Princípio da igualdade tributária

Decorre do princípio geral da igualdade (vide artigo 35 da CRM), preconiza que


todos devem pagar os impostos, e a uniformidade em aferir em torno do pagamento do
imposto, deve auferir-se mediante a sua capacidade contributiva.29

O princípio da igualdade tributária tutela principalmente o valor da justiça na


tributação, assegurando a igualdade sacrifícios fiscais.

i) Princípio da anualidade

A cobrança de impostos deve ser previamente autorizada anualmente. Esta


autorização é concedida pela Assembleia da República através da aprovação do
orçamento do Estado, neste sentido e dispõe o n.°1 do artigo 130 conjugado com a
alínea l) do n.° 2 do artigo 178 da CRM.

Este princípio também se aplica aos benefícios fiscais atendendo e considerando


que estes são considerados despesas, e como tal devem ser orçamentados e autorizados
anualmente. 30

27
WATY, Teodoro Andrade (2013), op. cit, pág.87
28
WATY, Teodoro Andrade (2013), op. cit, pág. 86
29
WATY, Teodoro Andrade (2013), op. cit, pág.102
30
WATY, Teodoro Andrade (2013), op. cit, pág. 114

13
j) Princípio da eficiência

Tutela o valor do bem comum, promovendo a prossecução dos interesses


públicos extrafiscais constitucionalmente relevante que devem ser protegidos pelo
Estado e outros entes públicos.

Tem consagração constitucional no n.º do art. 127 da CRM, legitima o uso do


sistema fiscal para a prossecução de fins extrafiscais relevantes (por exemplo
redistribuição de rendimento). É este princípio que serve de fundamento para atribuição
de benefícios fiscais. 31

Para além destes princípios, podemos encontrar, o da estrita legalidade;


equidade; anualidade ou anterioridade tributária; do não confisco; da vedação de efeitos
confiscatórios ou da proporcionalidade razoável; da imunidade reciproca das esferas
públicas; da não retroatividade das leis tributárias; da quinzena; da imunidade de tráfego
ou de não limitação ao trafego de pessoas e bens, da uniformidade geográfica; da
vedação de isenções heterónimas; da eficiência funcional; da vinculatiblidade tributária;
da indelebilidade da competência da tributação; da não comutatividade, etc. 32

1.2 Instrumentos jurídicos do Direito Tributário

Abaixo, com caracter meramente exemplificativo, faremos a menção de alguns


instrumentos jurídicos com matéria do Direito Tributário.

a) Constituição da Republica de Moçambique de 2004;


b) Lei n.° 15/2002, de 26 de junho, Lei que estabelece os princípios de
organização do Sistema Tributário da Republica de Moçambique;
c) Lei n.° 2/2006, de 30 de Março, Lei Geral Tributaria Estabelece os
princípios e normas gerais do ordenamento jurídico Tributário
Moçambicano e aplicáveis a todos tributos nacionais e autárquicos;
d) Lei n.º 32/2007 de 31 de dezembro - Aprova o Código do Imposto Sobre
o Valor Acrescentado.33

31
PENE, Cláudio (2013) Apontamentos do Direito Fiscal moçambicano, Maputo, Escolar Editora. pág.
30
32
WATY, Teodoro Andrade (2013), Direito Tributário, Maputo, W&W Editora, pág. 77 e ss
33
Lei nº 3/2012  (BR n.º 3, I Série) - Altera os artigos 9, 12, 14, 15, 18, 19, 21 e 25 do Código do imposto
Sobre o Valor Acrescentado, aprovado pela Lei n.º 32/2007, de 31 de Dezembro

14
e) Lei n.º 33/2007 de 31 de dezembro - Aprova o Código do Imposto Sobre
o Rendimento de Pessoas Singulares.34
f) Lei n.º 34/2007 de 31 de dezembro - Aprova o Código do Imposto Sobre
o Rendimento de Pessoas Colectivas.35
g) Lei n.º 4/2009 de 12 de janeiro - Aprova o Código dos Benefícios
Fiscais.
h) Lei n.º 05/2009 - Cria o ISPC- Imposto Simplificado para Pequenos
Contribuídos.

CAPĺTULO III:
ARBITRAGEM VS DIREITO TRIBUTÁRIO: INCOMPATIBILIDADE OU
COMPATIBILIDADE?
1. Primeiras Considerações
A primeira impressão que pode surgir é de que, estando em uma matéria
extremamente sensível, não haveria espaço para discussão, pois a mesma insere-se no
âmbito da soberania do Estado. E mais, por se tratar de uma matéria indisponível,
rejeitar-se-ia qualquer transação, aliás alguns poderiam dizer que por ser uma matéria
acautelada por princípios rígidos, como o da legalidade, não haveria espaço para
manobra alguma.
34
Lei n.º 20/2013  (BR n.º 76, I Série) - Altera os artigos 17, 36, 61, 62, 67 e 76 do Código do Imposto
Sobre o Rendimento de Pessoas Singulares, aprovado pela Lei n.º 33/2007, de 31 de Dezembro.
35
Lei n.º 20/2009, de 10 de Setembro - Altera os artigos 18, 20, 21, 22,24, 26, 28,36 e 40; elimina a alínea
h) do artigo 68 e introduz os artigos 36-A e 41-A, no Código Imposto sobre Rendimentos das Pessoas
Colectivas aprovado pela Lei n.º 34/2007, de 31 de Dezembro, para implementação das Normas
Internacionais de Relato Financeiro (NIRFs); Lei nº 4/2012  (BR n.º 3, I Série) - Altera os artigos 17, 36,
61, 62, 67 e 76 do Código do Imposto Sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas, aprovado pela Lei n.º
34/2007, de 31 de Dezembro; Lei nº 19/2013 (BR n.º 76, I Série) - Altera os artigos 5, 7, 25, 36, 62, 72 e
73 do Código do Imposto Sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas, aprovado pela Lei n.º 34/2007, de
31 de Dezembro.

15
Estes e outros argumentos seriam por si só suficientes para afastar a
arbitrabilidade dos litígios tributários. Entretanto, cá entre nos, preferimos ser muito
cautelosos quanto à essas afirmações, sendo certo que não as consideramos
verdadeiramente absolutas. Abaixo, diversas posições doutrinárias sobre o assunto,
serão expostas, e aproveitando-se destas, posicionar-nos-emos e adotaremos a que, por
critério de razoabilidade, seja a mais adequada e convincente, sem contudo descurar do
nosso ordenamento jurídico.
1.1 Posições Doutrinarias
Alguma Doutrina tem-se posicionado, rejeitando à existência de uma
Arbitragem Tributária, apresentando, essencialmente três grandes obstáculos como:
questões relacionadas ao crédito público estarem ligadas a soberania estatal, e sendo
assim, o Estado é quem deve resolve-los exclusivamente por via dos seus Tribunais; (2)
O crédito público é indisponível, afastando-se assim, à possibilidade da administração
transacionar tais Direitos; e (3) O princípio da legalidade impede qualquer abertura,
ponderação, ou discussão da matéria tributária, evitando assim, desta forma, a
institucionalização de um regime extrajudicial para resolver conflitos relacionados ao
crédito público. 36373839
.
Entretanto, parte da doutrina, posiciona-se num sentido contrário, contudo,
reconhecendo, conforme diz o professor Diogo Leite Campos, que,
“A concepção do Estado, do Direito administrativo e
direito público em geral, tem vindo a alterar-se. Mas estas
alterações têm sido muito mais lentas no Direito Tributário. Por
que razão precisamente em Direito tributário? Porque se trata do
Direito que regula a arrecadação dos impostos que são o

36
CASTILHO, Ian Fernandes (2019). Arbitragem Tributária: Aspectos Teóricos e Possibilidade Jurídica.

Revista de Finanças Públicas, Tributação e Desenvolvimento, vol. 7, n° 9. Págs. 7-14.

37
OLIVEIRA, Ana Rita Nogueira Reis. A Arbitragem Tributária e a Avaliação por Métodos Indiretos:
Porque não? - Análise ao âmbito material da arbitragem tributária. Dissertação, Faculdade de Direito da
Universidade Nova de Lisboa. 2017. Pág. 7.

38
BRAZ, Mário Rui Antunes. O regime da Arbitragem tributária. Dissertação, Instituto Superior de
Contabilidade e Administração de Lisboa. 2012. Págs. 32,33
39
Henriques, Nuno Felipe Jesus. Arbitragem Tributária: um contributo para a realização da justiça
tributária? Dissertação, Faculdade de Direito, Universidade Católica de Portugal. 2013. Pág. 15.

16
principal instrumento político dos dirigentes de todos os
Estados.”40

Continuamos, quanto ao primeira (1ª) "suposta" situação de inviabilidade, na


medida do crédito tributário, estar ligado a soberania estatal, e estar sob jurisdição
exclusiva dos tribunais estatais, tal concepção entendia que, ao atribuir à “justiça
privada” a função de resolução dos litígios em matéria fiscal poderia consubstanciar
uma violação ao princípio fundamental da separação de poderes, por se retirar dos
tribunais judiciais o poder de apreciar a legalidade de atuação da Administração
Pública. 41
No entanto, apesar da jurisdição em matéria fiscal ser uma característica
fundamental do Estado de Direito, o que leva a que se afirme a necessidade de o Estado
não deixar nunca de exercer essa função através do poder judicial, esta afirmação não
diz nada em relação à maneira específica de aplicar/realizar essa função estadual,
surgindo o instituto da arbitragem até como um meio de reforço das garantias
fundamentais dos cidadãos.42
A seguir, quanto ao segundo (2°) fundamento impeditivo, de que, o crédito
público é indisponível, afastando-se assim, à possibilidade da administração
transacionar tais direitos. A indisponibilidade do crédito tributário determina,
essencialmente, que a Administração não pode deixar de cobrar os créditos que a lei lhe
confere. Era então entendido que, uma vez que a Administração não poderia nunca
dispor do crédito em litígio, o recurso à arbitragem deveria estar vedado às matérias
fiscais, pois a Administração nunca poderia negociar a sua posição. 43 E,
consequentemente, por ser indisponível, excluído do âmbito da Arbitragem, como
prescreve a alínea b) do n.°2 do artigo 5 da LArb. Porém, "o ordenamento jus-
tributário, ao facultar a «contratualização da fiscalidade», ao permitir a «transação
fiscal» e, mais que isso, ao atribuir à Administração espaços acrescidos de liberdade

40
CAMPOS, Diogo Leite (2006). “Arbitragem no Direito Tributário”. In Homenagem ao Prof. Doutor
Sousa Franco. Lisboa, Vol. I, p. 739-748.
41
OLIVEIRA, Ana Rita Nogueira Reis. A Arbitragem Tributária e a Avaliação por Métodos Indiretos:
Porque não? - Análise ao âmbito material da arbitragem tributária. Dissertação, Faculdade de Direito da
Universidade Nova de Lisboa. 2017. Pág.8
42
OLIVEIRA, Ana Rita Nogueira Reis. Op. Cit. Pág. 8

43
ALMEIDA, Samuel Fernandes de (2011).“Primeiras Reflexões Sobre a Lei de Arbitragem em Matéria
Tributária. In. Estudos em memória do Prof. J.L. Saldanha Sanches. Coimbra: Vol. 5, p. 381-416.

17
aplicativa da lei fiscal, recorrendo, também, a «técnicas presuntivas» ou a métodos
indiretos de avaliação em que se permite o acordo com o contribuinte, está, na
realidade, a abrir «espaços de disponibilidade», nos quais a arbitragem pode
legitimamente penetrar.”44
Dito isto, e apesar, de se lhe reconhecer à indisponibilidade, está não é absoluta,
porquanto em alguns casos, o próprio legislador, abre espaço à disponibilidade,
deixando à administração tributária a possibilidade de negociação. 45Tal facto, entre nos,
é por si, suficiente para acolher a arbitragem em matéria tributária, desde que o
legislador estabeleça lei que o indique expressamente. Dito isto, nada impede ao
legislador, nos termos do disposto na alínea a) do n.° 2 do artigo 5 da LArb,
institucionalizar a Arbitragem Tributária, mediante um regime próprio e especial. Ou
seja o "crédito tributário pode ser disponível para a administração, desde que dentro
dos limites da lei".46
Por fim, o terceiro (3°) problema colocar-se-á da seguinte forma, o princípio da
legalidade impede qualquer abertura, ponderação, ou discussão da matéria tributária,
evitando assim, desta forma, a institucionalização de um regime extrajudicial para
resolver conflitos relacionados ao crédito tributário. Está questão, está intimamente
ligada com a anterior, entretanto há que frisar que no âmbito do direito tributário, este
princípio tem uma expressão diferenciada dos demais ramos, porquanto neste ramo, este
princípio determina que os impostos têm obrigatoriamente que ser fixados por lei, lei
essa que deve conter os elementos essenciais do imposto: incidência objetiva, subjetiva,
taxas e garantias dos contribuintes. Na verdade, e precisamente por ter este significado,
conforme diz Ana Rita "o obstáculo relacionado com o desrespeito pelo princípio da
legalidade fiscal foi também ele ultrapassado, uma vez que, este se situa essencialmente
no plano da criação das normas fiscais e não no plano da sua interpretação e
aplicação, bem como no plano da resolução dos litígios que derivam dos expedientes
de interpretação e aplicação da lei". 47

44
OLIVEIRA, Ana Perestrelo de (2007). Arbitragem de Litígios com Entes Públicos. Lisboa: Editora
Almedina, ISBN: 978-972-40-3098-2. P. 83-99
45
Vide como exemplo, o art. 15 da Lei n°15/2002, de 26 de junho ao prever a possibilidade da
administração tributária atribuir benefícios fiscais.
46
CASTILHO, Ian Fernandes (2019). Arbitragem Tributária: Aspectos Teóricos e Possibilidade Jurídica.
Revista de Finanças Públicas, Tributação e Desenvolvimento, vol. 7, n° 9. Pág. 8
47
OLIVEIRA, Ana Rita Nogueira Reis. A Arbitragem Tributária e a Avaliação por Métodos Indiretos:
Porque não? - Análise ao âmbito material da arbitragem tributária. Dissertação, Faculdade de Direito da

18
Entretanto, entre nos, se considerarmos que ao princípio da legalidade inclui, não só, o
facto do mesmo prever os impostos e regula-los, mas também inclui à interpretação 48, e
aplicação da lei, tal facto não serviria de impeditivo algum para a institucionalização da
Arbitragem Tributária, porquanto os Tribunais Arbitrais funcionariam de acordo com o
direito constituído, sendo vedado o recurso a equidade.49

1.2 Nossa Posição


Do exposto acima, fica claro que, quanto a nos, e alguma parte da doutrina
moderna, não encontramos empecilhos que inviabilizam a arbitragem tributária, sendo
certo que, a mesma não retirará o monopólio Estatal na resolução de litígios tributários,
porquanto o Estado continuará a ser o principal meio de resolução de litígios fiscais.
Está reforçará o leque de garantias do contribuinte.
A indisponibilidade do crédito tributário não é absoluta, porquanto o crédito
tributário, pode em determinadas situações, dentro dos limites da lei, ser disponível, tal
como, acontece com situações de isenções e benefícios fiscais, deixando liberdade de
negociação, mesmo que vinculada, à administração pública. Estes factos por si só, são
suficientes para admitir a arbitragem e afastar o disposto na alínea b) do n.º 1 do artigo
5 da LArb.
Quanto a possível violação do princípio da Legalidade que a Arbitragem
Tributária poderia causar, tal argumento seria improcedente, porquanto o recurso a
equidade seria vedado, recorrendo se ao direito scrita ou constituído.
Dito isto, o Direito Tributário é compatível com a Arbitragem, veja a titulo
meramente exemplificativo que Estados da Lusofonia, como Portugal e Cabo Verde já
institucionalizaram á Arbitragem Tributária. E mais, comungamos com Ian Fernandes
Castilho, ao considerar que num Estado de Direito de Justiça Social50,
"a suposta supremacia do interesse público sobre o
privado como norma princípio, não teria margem para o juízo de
ponderação, nem tão pouco pode ser definida como um estado
ideal de coisas a ser concretizado por todas esferas de raciocínio
jurídico, seja do executivo, legislativo ou do judiciário. Nesta

Universidade Nova de Lisboa. 2017. Pág.10


48
Quanto ao ambito do principio da legalidade, vide o disposto do n.º 2 do artigo 127 da CRM, bem
como no artigo 3 da Lei n.°15/2002 e artigo 4 da lei n.°2/2006.
49
A Semelhança do regime Portugues e Cabo Verdiano.
50
Vide artigo 1 da Constituição da Republica de Moçambique.

19
esteira é a crítica ao suposto princípio da supremacia do
interesse público sobre o privado que nos parece mais
acertada".51

Nesta senda, para nos, deve haver sempre um juízo de ponderação entre o
interesse público e privado.

2. Arbitragem Tributária no Direito Comparado.

2.1 O Caso de Portugal.

Na análise das estatísticas divulgadas pelo portal de justiça portuguesa, verifica-se que,
" de 2005 até 2011, a pendência sofreu um agravamento contínuo (apesar de um
intervalo de recuperação no primeiro semestre de 2011). No mesmo período, o valor
das pendências acumuladas em matéria fiscal refletia um crescimento de 33%".52 É
neste entendimento que Nuno Lobos e Tânia Carvalhais Perreira se colocam:
"Em Portugal, A arbitragem tributária foi delineada no momento
político pré-Troika como uma das medidas possíveis para contribuir
com o descongestionamento dos Tribunais Tributários, o combate à
morosidade processual e aos bloqueios de funcionamento da justiça
fiscal, e, em geral, para a garantia de uma tutela jurisdicional efetiva
dos direitos e interesses legítimos dos cidadãos, o que pressupõe uma
decisão em prazo razoável (vide n.º 2 do art. 120, e n.º 4 do art. 268 da
Constituição da República Portuguesa) "53

O surgimento no ordenamento jurídico português da arbitragem em matéria


tributária, como forma alternativa de resolução de conflitos no domínio fiscal, efectuada
pelo Decreto-Lei n.º 10/2011, de 20 de Janeiro, visa, de acordo com o preâmbulo deste
diploma, três objectivos principais: a) Por um lado, reforçar a tutela eficaz dos direitos
e interesses legalmente protegidos dos sujeitos passivos; b) Por outro lado, imprimir
uma maior celeridade na resolução de litígios que opõem a administração, tributária
51
CASTILHO, Ian Fernandes (2019). Arbitragem Tributária: Aspectos Teóricos e Possibilidade Jurídica.
Revista de Finanças Públicas, Tributação e Desenvolvimento, vol. 7, n° 9. Pág. 13
52
VILLA-LOBOS, Nuno et all,( s/d), Arbitragem em Direito Publico, Portugal, FGV Projecto, pág. 7.

53
VILLA-LOBOS, Nuno et all,( s/d), op. cit pág. 13.

20
ao sujeito passivo; e c) reduzir a pendência de processos nos tribunais administrativos
e fiscais54
Quanto aos elementos caracterizadores deste regime, estatuído pelo Decreto-Lei n.º
10/2011, de 20 de Janeiro podemos encontrar:
 Arbitragem Institucionalizada: os Tribunais Arbitrais funcionam no centro de
Arbitragem Administrativa "CAAD", (vide n.°2 do artigo 4).
 Objecto: declaração de ilegalidade de actos de liquidação de tributos, não
prevendo qualquer limitação em relação aos tributos (vide artigo 2). Há portaria
de vinculação e exclusão expressa de pretensões relativas a direitos aduaneiros e
demais impostos que incidem sobre mercadorias sujeitas a direitos de
importação e mais, pretensões relativas à classificação pautal, origem e valor
aduaneiro. A justificação desta exclusão, é de que a limitação do recurso pode,
eventualmente conflituar com o direito Europeu, entretanto de iure condendo
crítica está posição, pois exige maior celeridade no âmbito do comércio
internacional.
 Valor: o valor máximo é de 10 milhões de euros, (vide artigo 4 e portaria de
vinculação);
 Direito Constituído: os Tribunais Arbitrais decidem de acordo com o Direito
Constituído, sendo vedado o recurso a equidade, (vide n.° 2 do artigo 2).
 Designação dos Árbitros: Os árbitros são escolhidos de entre pessoas de
comprovada capacidade técnica, idoneidade moral e sentido de interesse
público, (vide n.º2 artigo 7). Privilegia-se a designação de árbitros pelo conselho
deliberativo do CAAD ou pelas partes, entretanto da primazia à designação pelo
conselho do CAAD, (vide n.°2 artigo 6).
 Deveres dos árbitros: Estão sujeitos aos princípios da imparcialidade e da
independência, bem como o sigilo fiscal, devendo recusar ser árbitro quando há
suspeita razoável da violação desses deveres.
 Princípios Processuais: Contraditório, igualdade, autonomia do tribunal,
oralidade e imediação, livre apreciação dos factos; cooperação de boa-fé
processual, publicidade das decisões, (vide artigo 16);
54
CALHAU, António Francisco de Almeida (2015): Arbitragem Tributária. Revista Julgar n.° 26 vol. 9.
Disponível em: http://julgar.pt/wp-content/uploads/2015/05/JULGAR-26-09-Ant%C3%B3nio-Calhau-
Arbitragem-Tribut%C3%A1ria.pdf acessado no dia 3 de fevereiro de 2022.

21
 Decisão Arbitral: com o prazo de 6 meses, prorrogável até o período máximo
de 1 ano, (vide art. 21).
 Recurso: com fundamento em inconstitucionalidade (vide n.°1art 25), oposição
de julgados (vide n.°2 art 25); anulação (art. 270);

Da analise das características desse regime, fica claro e seguindo o entendimento de


Nuno Lobos e Tânia Calvalhais Perreira que,
"Recurso à arbitragem em matéria tributária acabou por, na
prática, ser configurado como um meio processual parcialmente
alternativo à impugnação judicial, e mesmo nesse caso apenas
‘parcialmente alternativo’, atentos na delimitação legal do âmbito de
competência material dos Tribunais Arbitrais”. 55
Para terminar, A arbitragem tributária no ordenamento jurídico Português é,
"hoje, incontornável no quadro de uma reforma estrutural da Justiça Fiscal – nessa
medida, indissociável dos excelentes resultados obtidos pela jurisdição dos Tribunais
Tributários do Estado, que neste último ano, reduziu a pendência de matéria tributária
em 7%". 56E ainda a arbitragem tributária ainda contribuiu para a redução do volume de
processos entrados nos Tribunais Tributários no domínio da competência material
concorrencial entre ambas as jurisdições. A previsibilidade da data da prolação da
decisão final também se reveste de grande mais-valia para os contribuintes

2.2 O caso de Cabo Verde


A implementação da arbitragem tributária é fruto de uma nova ordem da reforma
do sistema jurídico, desafios em que o governo da VIII legislatura teve que acatar para
aperfeiçoar o sistema e assumir maior competitividade perante os mercados externos, e
captação do investimento estrangeiros.57
Assim, em 1 de Julho de 2014, entram em vigor o Código Geral Tributário, o
Código do Processo Tributário e o Código de Execuções Tributárias. O primeiro contém
regras fundamentais aplicáveis a tramitação processual, consagrou no seu último artigo

55
VILLA-LOBOS, Nuno; PEREIRA, Tânia Carvalhais “Arbitragem Tributária Arbitragem. Breves
Notas” natureza especial dos tribunais arbitrais tributários”, Revista Internacional de Arbitragem e
Conciliação, n.º 7, 2014. pág. 381
56
VILLA-LOBOS, Nuno et all,( s/d), Arbitragem em Direito Publico, Portugal, FGV Projecto, pág. 21.

57
PINTO, Gilson Eduardo Vaz Gomez. Arbitragem Tributária em Cabo Verde: um olhar sobre novos
desafios. Dissertação, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, 2016, pág. 68.

22
111, uma norma que permite a arbitragem na resolução de conflito em matéria de direito
fiscal, desde que seja autorizada por Lei especial.58
Segundo projeto de proposta Lei que disciplina a arbitragem como meio
alternativo de resolução de litígio, há muito tempo que este meio de resolução
alternativa vinha sendo aclamada pela sociedade civil com o propósito de reforçar a
tutela eficaz dos direitos e interesses legalmente protegidos dos sujeitos passivos, nas
linhas de exigência da Constituição da República Cabo Verdiana.59
A 28 de Janeiro de 2016, o Boletim Oficial de Cabo Verde publicou a Lei n.º
108/VIII/2016, de 28 de Janeiro, instrumento disciplinador da Arbitragem Tributária.
Com isto, Cabo Verde passou a contar com uma nova jurisdição, atribuindo assim, aos
contribuintes um meio alternativo ao contencioso fiscal. A Arbitragem Tributária em
Cabo Verde visa: reforçar a tutela eficaz dos direitos e interesses legalmente protegidos
dos contribuintes; imprime maior celeridade na resolução de litígios entre a
administração fiscal e o contribuinte; Fortalecer a posição do contribuinte e lhe conferir
um acesso mais amplo à justiça, e por outro lado, ajudar os tribunais judiciais a reduzir
números de pendências, o que ao longo do prazo conduzirá a uma melhor qualidade das
decisões judiciais. Assim para o efeito, o regime jurídico prevê normas atinentes a dar
uma maior segurança, efetividade e celeridade ao processo arbitral.60
Quanto aos elementos caracterizadores deste regime, podemos destacar: 61
 Arbitragem institucionalizada, e os tribunais arbitrais funcionam no centro de
arbitragem tributária (vide artigo 5 da Lei n.°108/VIII/2016);
 Quanto ao seu objecto, visa a declaração da ilegalidade de actos de liquidação
de impostos, taxas e contribuições (vide artigo 2 da Lei n.°108/VIII/2016).
Entrementes excluem expressamente as pretensões relativas a direitos
aduaneiros e demais impostos que incidem sobre mercadorias sujeitas a Direitos
58
PINTO, Gilson Eduardo Vaz Gomez , op. cit pág. 68
59
Disponível em http://www.governo.cv/index.php?option=com_content&view=article&id=6014:comuni
cado-conselho-de-ministros-de-23-de-abril-de-2015&catid=200&Itemid=300191pdf, Acesso em 15 de
Março de 2022.
60
PINTO, Gilson Eduardo Vaz Gomez. Arbitragem Tributária em Cabo Verde: um olhar sobre novos
desafios. Dissertação, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, 2016, pág. 69.
61
VILLA-LOBOS, Nuno, Arbitragem Tributaria: A Experiencia Portuguesa. Artigo do CAAD, Portugal
Disponível em: https://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/arquivos/nuno_apresentacao_nvl_-_vf_-

_17-09-2017_0.pdf acesso aos, 03 de fevereiro de 2022

23
de importação, e pretensões relativas a classificação pautal, origem e valor
aduaneiro (vide alínea c) e d) do n.°3 do artigo 2).
 Recurso ao Direito Constituído: os Tribunais Arbitrais Funcionam de acordo
com o direito constituído, sendo vedado o recurso a equidade (vide n.º 5 do
artigo 2 da Lei n.°108/VIII/2016).
 Designação dos Árbitros: Os Árbitros são escolhidos de entre as pessoas de
comprovada capacidade técnica, idoneidade moral e sentido de interesse público
(vide artigo 7 da Lei n.°108/VIII/2016); opção de designação pelo Centro de
Arbitragem ou pelas partes (vide n°3 do art. 8 Lei n.°108/VIII/2016), entretanto
entre nos, parece que a lei privilegia a designação pelas partes; O árbitro deve
ser licenciado em Direito, mas pode haver decisão por maioria de dois árbitros
não Licenciados em Direito (vide n.°3 do artigo 8 da Lei n.°108/VIII/2016),
entretanto crítica possível, seria a de aumento dos riscos de anulação.
 Deveres dos árbitros: A pessoa designada para exercer as funções de árbitro
está sujeito aos princípios da imparcialidade e da independência, bem como ao
dever do sigilo fiscal nos mesmos termos em que este é imposto aos dirigentes,
funcionários e agentes da administração tributária (vide artigo 10 da Lei
n.°108/VIII/2016). A pessoa designada para exercer as funções de árbitro deve
rejeitar a designação quando ocorra circunstância pela qual se possa
razoavelmente suspeitar-se da sua imparcialidade e de independência (vide n.°3
do artigo 9); cabe ao Conselho de Arbitragem Tributária exonerar o árbitro ou
árbitros em caso de incumprimento previstos nos números anteriores (vide n.º 4
do artigo 9).
 Princípios Processuais: Contraditório, igualdade das partes, autonomia do
Tribunal, oralidade e imediação, livre apreciação dos factos, cooperação e boa-fé
processual; Publicidade das Decisões dos Árbitros (vide artigo 16 Lei
n.°108/VIII/2016).
 Decisão Arbitral: a decisão deve ser emanada no prazo de 6 meses, podendo ser
prorrogável até ao prazo de 1 ano (vide artigo 21 da Lei n.°108/VIII/2016).
 Recurso: com fundamento em inconstitucionalidade (vide n.°1 art. 27 da Lei
n.°108/VIII/2016), oposição de julgados (vide n.º 2 do artigo 27 da Lei
n.°108/VIII/2016) e anulação (vide artigo 29 da Lei n.°108/VIII/2016).

Vale a penar refletir o argumento que Gilson Pinto traz na sua dissertação,

24
"Para o efeito, com base no relatório sobre o Estado da
Justiça, os Tribunais de Barlavento têm em média 45 processos
anuais, e apenas 20 para os de Sotavento. Atendo a estas
estatísticas, no ano de 2014 estavam pendente, em cada um
destes tribunais 70 e 31 processo, respetivamente, que
corresponde a um baixo volume de processo pendentes nesses
tribunais.
Será melhor aceite e mais adequado a este ponto em
análise, se adotarmos a necessidade de tomar medidas
preventivas, que a longo prazo, conduzirá uma melhor qualidade
das decisões judiciais. Essencialmente que o objetivo da
Arbitragem não se resume à diminuição das pendências nos
Tribunais Judiciais, e não devem ser descurados, pese embora ter
em conta os dados estatístico acima enunciado".62

Em poucas palavras, este autor, argumenta que o fundamento da arbitragem não é


exclusivo a pendencias de processos, o caracter preventivo também é um fundamento a
se ter em conta, a capacidade de se precaver em algum momento pode ser a escolha
mais acertada, os litígios sempre emergirão, aos milhões, e quando surgirem, desta vez,
não haverá capacidade para deles fazer face.

62
PINTO, Gilson Eduardo Vaz Gomez. Arbitragem Tributária em Cabo Verde: um olhar sobre novos
desafios. Dissertação, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, 2016, pág. 85-86.

25
CAPITULO IV:
A DEFESA DA INSTITUCIONALIZACAO DA ARBITRAGEM TRIBUTÁRIA
NO ORDENAMENTO JURĺDICO MOCAMBIÇANO

1. Notas Introdutórias
No capítulo anterior, afastamos o dogma da incompatibilidade da arbitragem com o
direito tributário.
No presente capítulo, faremos uma breve digressão entorno das garantias dos
contribuintes. Entrementes, iremos demostrar o porque deveríamos introduzir o modelo
da Arbitragem Tributária no ordenamento jurídico moçambicano, bem como, em termos
genéricos, dos critérios que tal regime assentaria.

2. Um breve olhar para as garantias dos contribuintes


O Estado, mediante a Administração Pública, procura fazer a prossecução do
interesse público, entretanto tal actuação não é arbitrária, é vinculada a preceitos e
princípios pré-estabelecidos, conforme prescreve a legis mater no seu n.°1 do artigo
248, que "a Administração Pública serve o interesse público e na sua actuação respeita

26
os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos". E acrescenta no seu n.°2 do
dispositivo acima mencionado que, "os órgãos da Administração Pública obedecem à
Constituição e a lei e actuam com respeito pelos princípios da igualdade, da
imparcialidade, ética e da justiça".
No âmbito do Direito Tributário, os contribuintes gozam de garantias face a
actuação
da administração Tributária. Mas o que são garantias dos contribuintes? R esumindo as
diferentes posições doutrinais, " podemos afirmar que as garantias dos contribuintes mais não
são do que “todos os meios legislativos” judiciais e administrativos que permitem ao cidadão-
contribuinte tutelar os seus direitos e interesses legalmente protegidos, reagindo face a
arbítrios do poder tributário, legislativo e administrativo e a atuações ilegítimas da
Administração Tributária, quer na criação, quer na aplicação dos tributos 63".
As garantias gerais dos contribuintes estão descriminadas no artigo 17 da Lei n.º
15/2002, 64
de 26 junho (lei de bases do sistema tributário), sendo, que podemos
destacar:
a) Não pagar impostos que não tenham sido estabelecidos de harmonia com a
constituição;65
b) Poder apresentação reclamações, impugnações ou recursos nos termos previstos
nesta Lei ou em outras normas tributárias;66

63
FERNANDES, Dina (s/a). Contencioso Tributário: do Processo dos Tribunais Tributários, Lisboa, pág.
4- 5.

64
Além desta disposição, podemos encontrar garantias processuais nos artigos 171, 172,173, 174, 177 da
Lei n°2/2006, de 30 de Março, Lei Geral Tributaria Estabelece os princípios e normas gerais do
ordenamento jurídico Tributário Moçambicano e aplicáveis a todos tributos nacionais e autárquicos;
65
Tal configuração parece óbvia, porquanto estando num Estado de Direito, sujeitamo-nos a
vinculatiblidade legal, pois a nossa legis mater estabelece no n.°1 e 2 do artigo 127, que os impostos são
criados e alterados por lei, estando vedado a cobrança fora destas situações, e se assim suceder, ao
particular ser-se-á atribuída a prerrogativa de opor-se a tais cobranças. Há uma clara expressão do
princípio de legalidade, que para além de estar consagrado na lei mãe, foi transportado para instrumentos
ordinários, veja-se o artigo 3 da Lei de Bases, bem como o artigo 4 e alínea a) do artigo 50 da Lei Geral
do Sistema Tributário.
66
Entre nos, sentimos que esta redação foi melhorada e atribuída maior profundidade, porquanto a alínea
b) do artigo 50 da Lei Geral do Sistema Tributário, apresenta a seguinte redação "apresentar reclamações
ou recursos hierárquicos, solicitar revisões ou apresentar recursos contenciosos de quaisquer actos ou
omissões da administração tributária, lesivos dos seus direitos ou interesses legalmente protegidos, nos
prazos, nos termos e com fundamentos previstos nesta lei, na lei processual e na demais legislação

27
c) Poder recorrer de fixação da matéria coletável e da liquidação dos impostos, nos
termos da lei;
d) Poder ser esclarecido, pelo competente serviço tributário, acerca da interpretação
das leis tributárias e do modo mais cómodo e seguro de as cumprir;67
e) Poder ser informado sobre a sua concreta situação tributária; 68

3. Os Nossos Argumentos para Criação de um Regime Arbitral Tributário, e


Fixação de Critérios que Estabelecem Competência dos Tribunais Arbitrais
Tributários.
No capítulo anterior, chegamos a conclusão que a matéria regulada pelo Direito
Tributário não é totalmente indisponível, e explicamos o porque, 69
e sendo assim,
disponível. A suposta proibição que a si frequentemente é atribuída, e erroneamente
subsumida a alínea b) do n.° 2 do artigo 5 da LArb é afastada, é incinerada, suprida pela
douta doutrina moderna, de que é possível institucionalizar uma arbitragem tributária, já
que não estamos diante de uma matéria totalmente indisponível.
Para nos, não há mais ou menos, defendemos a exatidão das coisas, o não ser
absolutamente indisponível ou parcialmente indisponível, a torna disponível, sem
contudo olvidar, que o será dentro dos limites legais.
Assim, não vemos obstáculos para a criação de um regime especial de
Arbitragem Tributária, um regime com especificidades próprias.70

tributária".
67
Tratando-se de matérias que requerem um conhecimento técnico apurado, é acertada a posição do
legislador em, atribuir a prerrogativa ao contribuinte de procurar junto dos serviços tributários
esclarecimentos sobre a interpretação dos preceitos.
Apenas como um comentário, as regras de interpretação neste ramo do saber, em regra são idênticos aos
demais ramos de direito, entretanto, há algumas especificidades, conforme estabelece o artigo 5 da Lei de
bases do Sistema Tributário conjugado com o artigo 10 da Lei Geral do Sistema Tributário.
68
Numa perspetiva constitucional o n.°1 do artigo 250 da CRM vem estabelecer a garantia a informação
de todo acto praticado pela administração pública no exercício da sua actividade, tal posição, mostra-se
lógica, porquanto o legislador estabelece o direito fundamental a informação, conforme estabelece o n.°1
do artigo 48 da CRM. No âmbito do Direito Tributário, tais preceitos constitucionais, são desenvolvidos
pelos artigos 53 e ss da Lei n.°2/2006 de 22 de Março (Lei Geral do Sistema Tributário), que estabelece
que ao contribuinte, deve ser notificado dos actos que a si dizem respeito, munindo-o assim, de
informação suficiente da sua real situação.
69
Sobre essa discussão não retornaremos neste capítulo, pois já foi motivo de desenvolvimento no
capítulo anterior.

28
Ademais, acreditamos que o instituto da arbitragem tributária é uma realidade
inevitável no solo pátrio, não preciso vaticinar que cedo ou mais tarde Moçambique o
institucionalize. Pensamos assim, porque:

a) A Arbitragem dos Contratos Administrativos com cláusula de isenções fiscais 71


demostra tacitamente que o legislador venha admitir futuramente uma
arbitragem tributária, porque entre nos, não restam duvidas que este tipo de
contrato, contém matéria fiscal, não são puramente administrativos, conforme
diz o professor Cláudio Pene, estes contratos são verdadeiras fontes do Direito
Tributário, desde que haja um regime especifico que as regulamente. 72

b) Atualmente existem três tribunais fiscais em funcionamento em todo solo


pátrio, o da Cidade de Maputo, Província de Maputo, e Província de Sofala 73,
com isso, mostrando um grande défice na expansão de tribunais fiscais, o que é,
por um lado preocupante, já que estamos perante uma matéria extremamente
importante e sensível, que ao final do dia emergem diversos conflitos.
Mas o que propomos face a situação? Somos por lado a favor da expansão de
mais tribunais fiscais, mas entendemos que está não seja a única solução, isto
porque a excessiva burocratização inerente a natureza dos tribunais nacionais
seja o grande empecilho, a falta de pessoal técnico e com profissionalidade seja
outro empecilho. Por isso acreditamos que além da expansão dos tribunais
fiscais para outras províncias, seja necessário a criação de um meio extrajudicial,
próprio, com características próprias, que pela sua natureza já é célere, que o

70
Da nossa exegese, assentaria na permissão a que o legislador estabelece na alínea a) do n.2° do artigo 5
LArb.
71
Vide alínea a) do artigo. 202 da Lei n.°7/2014, de 28 de Fevereiro.
72
PENE, Cláudio (2013) Apontamentos do Direito Fiscal moçambicano, Maputo, Escolar Editora.
Pág.33-34
73
Estamos cientes que o Direito Tributário não se restringe ao Direito Fiscal, englobando outras áreas,
como a do Direito Aduaneiro, entretanto, conforme delimitamos logo na nossa problemática, não iremos
falar da matéria do Direito Aduaneiro, e consequentemente não iremos falar da jurisdição aduaneira.
Porém cabe a nos explicar o do porque tomarmos esta posição defensiva. Decidimos excluir da nossa
abordagem, porque entendemos que a semelhança do Direito Comparado, a regulação da matéria
aduaneira por um regime arbitral causaria alguns conflitos com alguma política regional, da qual
Moçambique faz parte (SADC).

29
profissionalismo na tomada de decisões não seja uma raridade, que sirva como
um novo aglutinador ao leque das garantias dos contribuintes.

c) Um dado preocupante é o numero de processos pendentes, veja-se que dados


estatísticos do tribunal fiscal da Cidade de Maputo, revelam que cerca de ……..
Casos estão pendentes, um numero o preocupante, que demostra a morosidade
processual subjacente aos tribunais, sendo que tais problemas poderiam ser
ultrapassados por via da arbitragem.

d) Sendo um Estado rico em recursos, e com frequentes investimentos externos e


internos, que como consequência muito provavelmente venham a emergir
milhões de litígios fiscais, e por conseguinte congestionem o contencioso
tributário, causando morosidade processual, acreditamos que a confiança perante
a Justiça Estatal seja afetada, diminuindo, assim, os investimentos externos.
Acreditamos que a institucionalização da Arbitragem Tributária sirva de
fundamento preventivo a futuros conflitos oriundos de crescentes investimentos
em massa que podem se verificar no solo pátrio. O investimento será atraído
pela celeridade subjacente a arbitragem tributária pátria.

e) Em alguns Estados Lusófonos, como Portugal e Cabo Verde, a Arbitragem


Tributaria já é uma realidade, e ca, entre nos, é de reconhecer a forte influencia
(histórica), que os instrumentos jurídicos portugueses têm nos países da CPLP,
incluindo o nosso, pois na maioria das vezes servem de inspiração ao legislativo.

3.1 Critérios que fixam a competência dos Tribunais de Arbitragem Tributária.

Devido a natureza rígida do próprio Direito Tributário, impõe-se que as regras da


arbitragem sejam substancialmente mais rígidas que o normal, sem contudo, o
descaraterizar, uma Arbitragem com regime próprio, diferente do regime geral. Sendo
assim, consideramos o seguinte:
 Uma Arbitragem Tributária institucionalizada, que funciona num centro,
com fiscalização do Tribunal Administrativo, sob fundamento, deste ser o
órgão superior na hierarquia dos tribunais fiscais. Frisando, contudo tal
fiscalização não deverá significar falta de independência nas decisões.

30
 Recurso ao Direito Constituído, é vedado o recurso a equidade, sendo que,
devido ao princípio da legalidade, e dos direitos em causa, o direito
constituído seja a opção mais adequada.
 Fixação de Alçada, acreditamos que a fixação de um valor máximo, sem
valor mínimo, seja um fundamento mais cauteloso, pois se tal não fosse,
coremos o risco dos tribunais fiscais serem "olvidados". Sendo o pedido com
um valor superior ao da alçada, não restarão alternativas senão impugnar o
acto junto do tribunal fiscal.
 Arbitragem Voluntária, somos contra, desde já a necessária, para afastar
possíveis problemas de inconstitucionalidade. As partes, no âmbito da sua
autonomia de vontade devem decidir submeter o seu litígio a arbitragem
tributária, desde que o valor do pedido, não transcenda a alçada.
 Exclui do seu âmbito as matérias aduaneiras, para evitar possíveis
conflitos com o Direito Comunitário.
 Recurso das decisões: as decisões podem ser atacáveis junto do Tribunal
Administrativo ou Conselho Constitucional, desde que as decisões proferidas
sejam, manifestamente ilegais, ou seja inconstitucionais, respetivamente.
 Fixação de um prazo para a tomada de decisões.

31
Conclusão

32
1. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

a) Obras de Referência
1. CAMPOS, Diogo Leite (2006). “Arbitragem no Direito Tributário”. In
Homenagem ao Prof. Doutor Sousa Franco. Lisboa, Vol. I, p. 739-748.
2. FERNANDES, Dina (s/a). Contencioso Tributário: do Processo dos
Tribunais Tributários, Lisboa

3. MARTINEZ, Soares (1998) Direito Fiscal, Coimbra, Almedina.


4. PENE, Cláudio (2013) Apontamentos do Direito Fiscal moçambicano,
Maputo, Escolar Editora.
5. TIMBANE, Tomás (2020) Lições de Processo Civil. 2ª ed. Maputo: Escolar
Editora.
6. VILLA-LOBOS, Nuno et all,( s/d), Arbitragem em Direito Publico,
Portugal, FGV Projecto.
7. WATY, Teodoro Andrade (2013), Direito Tributário, Maputo, W&W
Editora.

b) Legislação
 Moçambicana

33
1. Constituição da Republica de Moçambique de 2004
2. Lei n.° 15/2002, de 26 de junho- lei que estabelece os princípios de organização
do Sistema Tributário da Republica de Moçambique
3. Lei n.° 2/2006, de 30 de Marco, Lei Geral Tributaria Estabelece os princípios e
normas gerais do ordenamento jurídico Tributário Moçambicano e aplicáveis a
todos tributos nacionais e autárquicos.
4. Lei n.° 2/2004 de 21 de Janeiro que estabelece a organização e funcionamento
dos tribunais fiscais
5. Lei n.° 9/2018, de 27 de Agosto, Lei que estabelece a organização e
funcionamento dos tribunais fiscais
6. Diploma Legislativo n°789, de 18 de Abril de 1942, Regulamento do
Contencioso Das Contribuições e Impostos
7. Lei n.°11/99 de 8 de Julho, estabelece o regime jurídico da Arbitragem,
Conciliação e Mediação.
8. Lei n.°7/2014, de 25 de Fevereiro, estabelece os procedimentos atinentes ao
processo administrativo.
9. Lei nº 3/2012  (BR n.º 3, I Série) - Altera os artigos 9, 12, 14, 15, 18, 19, 21 e 25
do Código do imposto Sobre o Valor Acrescentado, aprovado pela Lei n.º
32/2007, de 31 de Dezembro.
10. Lei n.º 20/2013  (BR n.º 76, I Série) - Altera os artigos 17, 36, 61, 62, 67 e 76 do
Código do Imposto Sobre o Rendimento de Pessoas Singulares, aprovado pela
Lei n.º 33/2007, de 31 de Dezembro.
11. Lei n.º 20/2009, de 10 de Setembro - Altera os artigos 18, 20, 21, 22,24, 26,
28,36 e 40; elimina a alínea h) do artigo 68 e introduz os artigos 36-A e 41-A, no
Código Imposto sobre Rendimentos das Pessoas Colectivas aprovado pela Lei
n.º 34/2007, de 31 de Dezembro, para implementação das Normas Internacionais
de Relato Financeiro (NIRFs).
12. Lei nº 4/2012  (BR n.º 3, I Série) - Altera os artigos 17, 36, 61, 62, 67 e 76 do
Código do Imposto Sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas, aprovado pela
Lei n.º 34/2007, de 31 de Dezembro.

 Lei nº 19/2013 (BR n.º 76, I Série) - Altera os artigos 5, 7, 25, 36, 62, 72 e 73 do
Código do Imposto Sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas, aprovado pela
Lei n.º 34/2007, de 31 de Dezembro.

34
 Cabo Verde
1. Lei n.º 108/VIII/2016, de 28 de Janeiro, estabelece o regime jurídico da
Arbitragem Tributaria.
 Portuguesa
1. Decreto-lei n°10/2011 de 20 de Janeiro, Estabelece o Regime Jurídico da
Arbitragem em matéria Tributaria.
2. Lei n.° 63/2011, de 14 de Dezembro, Estabelece o Regime Jurídico da
Arbitragem Voluntária.

c) Artigos e Publicações Periódicas


1. CALHAU, António Francisco de Almeida (2015): Arbitragem Tributária.
Revista Julgar n.º 26 vol. 9. Disponível em
http://julgar.pt/wp-content/uploads/2015/05/JULGAR-26-09-Ant%C3%B3nio-
Calhau-Arbitragem-Tribut%C3%A1ria.pdf acesso no dia 3 de fevereiro de 2022.
2. CASTILHO, Ian Fernandes (2019). Arbitragem Tributária: Aspectos Teóricos e
Possibilidade Jurídica. Revista de Finanças Públicas, Tributação e
Desenvolvimento, vol. 7, n° 9. Disponível em:
https://www.cidp.pt/revistas/rjlb/2020/4/2020_04_1447_1479.pdf acesso aos 03
de fevereiro de 2022.
3. MOURA, Dário Vicente, Arbitragem e outros meios de Resolução Extrajudicial
de Litígios no Direito Moçambicano. Texto disponível em
https://www.fd.ulisboa.pt/wp-content/uploads/2014/12/Vicente-Dario-
ARBITRAGEM-E-OUTROS-MEIOS-DE-RESOLUCAO-EXTRAJUDICIAL-
DE-LITIGIOS-NO-DIREITO-MOCAMBICANO.pdf. Acesso a 18 de Fevereiro
de 2022.
4. VILLA-LOBOS, Nuno, Arbitragem Tributaria: A Experiencia Portuguesa.
Artigo do CAAD, Portugal Disponível em:
https://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/arquivos/nuno_apresentacao_n
vl_-_vf_-_17-09-2017_0.pdf acesso aos, 03 de fevereiro de 2022
5. VILLA-LOBOS, Nuno; PEREIRA, Tânia Carvalhais “Arbitragem Tributária
Arbitragem. Breves Notas” natureza especial dos tribunais arbitrais tributários”,
Revista Internacional de Arbitragem e Conciliação, n.º7. 2014.
https://www.caad.org.pt/files/documentos/artigos/NUNO_VILLA-

35
LOBOS_E_TANIA_CARVALHAIS_PEREIRA-02.pdf Acesso a 18 de Fevereiro de
2022.

d) Teses e Monografias
1. BRAZ, Mário Rui Antunes. O regime da Arbitragem tributária. Dissertação,
Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa. 2012
2. OLIVEIRA, Ana Perestrelo de (2007). Arbitragem de Litígios com Entes
Públicos. Lisboa: Editora Almedina, ISBN: 978-972-40-3098-2.
3. OLIVEIRA, Ana Rita Nogueira Reis de Castro. “A Arbitragem Tributária e a
Avaliação por Métodos Indiretos: Porque não? - Análise ao âmbito material da
arbitragem tributária. Dissertação, Faculdade de Direito da Universidade de
Lisboa. 2017.
4. HENRIQUES, Nuno Felipe Jesus. Arbitragem Tributária: um contributo para a
realização da justiça tributária? Dissertação, Faculdade de Direito, Universidade
Católica de Portugal. 2013.
5. PINTO, Gilson Eduardo Vaz Gomez. Arbitragem Tributária em Cabo Verde:
um olhar sobre novos desafios. Dissertação, Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa, 2016.

e) Sites da Internet

http://www.governo.cv/index.php?option=com_content&view=article&id=6014:comuni cado-
conselho-de-ministros-de-23-de-abril-de-2015&catid=200&Itemid=300191pdf, Acesso em 15
de Março de 2022..

36

Você também pode gostar