[ Introdução ]
O plano da promessa de
Deus nos dois testamentos
Diversidade ou unidade?
A ênfase na diversidade dentro da Escritura é de tal modo generalizada hoje em
dia que, para a m aior parte dos estudiosos da Bíblia, qualquer outra perspectiva
não condiz com o estado atual de desenvolvimento dessa disciplina. Com o disse
Gerhard Maier:
É difícil falar de um “centro” da Escritura nos dias de hoje, porque a rubrica
“centro da Escritura” vem quase sempre separada da expressão “unidade
da Escritura”. Embora ambas estivessem intimamente associadas na época
da Reforma, o Iluminismo as separou. Na verdade, o “centro da Escritura”
praticamente substituiu a outrora perdida “unidade da Escritura”1.
Desse modo, na tentativa de voltar àqueles tempos pré-críticos2, sobretudo
ao ambiente que vigorava na Reforma, defenderei aqui um “centro” derivado
do texto que estabelece, ao mesm o tempo, um paralelo com a tese da “unidade
da Bíblia”. Creio que um centro que privilegie a Escritura e a unidade que lhe
faz companhia encontram forte respaldo especialmente nos autores do Novo
Testamento. Eles ensinaram que a doutrina do Messias, o Ungido de Deus,
fora preservada como testemunho da “promessa” (ou plano da promessa) feita
por Deus. Contudo, ela surge primeiram ente em todas as partes do Antigo
Testamento, embora sua presença ali se dê sob os mais diferentes nomes, ainda
que sinônim os, com o “palavra”, “descanso”, “bênção” etc.3 Pode-se defender essa
tese com base em uma lista de dez generalizações tiradas da Escritura sobre o
plano da promessa de Deus. Antes de mais nada, porém, vamos tentar definir o
plano unificador m anifesto na Escritura.
1. Gerhard Maier, Biblical Hermeneutics , trad. Robert W. Yarbrough. Wheaton: Crossway, 1994, p. 202.
2. “Tempos pré-críticos” não é expressão muito feliz, mas é quase sempre usada atualmente em referência à
interpretação da Escritura antes da ascensão da tese histórico-crítica de abordagem ao texto bíblico surgida
no século XVIII.
3. Faz muitos anos que vivo sob o impacto da tese de Willis J. Beecher, The Prophets and the Promise (1905).
Reimp. Grand Rapids: Baker, 1975. O que se segue é uma reformulação muito próxima da perspectiva por ele
defendida há mais de um século nas célebres Palestras Stone, em Princeton.
Definição do plano da promessa de Deus
Ao enfatizar um plano único da promessa de Deus com o centro teológico de
toda a Bíblia, em vez de listar inúmeras predições aleatórias e dispersas (ou
mesmo a ausência de uma mente ordenadora por trás da revelação), a teologia
bíblica se distingue da tarefa e dos resultados da disciplina conhecida com o
teologia sistemática.
A teologia sistemática sempre organizou sua perspectiva em torno de tópi
cos e de temas com o Deus, humanidade, pecado, Cristo, salvação, a igreja e
as últimas coisas. Já a teologia bíblica, com muita frequência, é uma disciplina
em busca de uma missão e de uma estrutura, caindo muitas vezes nas mesmas
trilhas tópicas e estruturais já percorridas pela teologia sistemática, embora a
critique severamente e se coloque acim a dela com o argumento de que a teolo
gia sistemática impôs ao seu material um crivo externo (tomado da filosofia ou
de outra fonte semelhante).
Desde o início, a teologia bíblica sempre se caracterizou por um tom for
temente diacrônico que insiste em rastrear o desenvolvimento histórico da
doutrina conform e ela se apresenta cronologicamente na história de Israel e da
igreja. Portanto, em bora tivesse de ser fiel às Escrituras na fo rm a e no m étodo,
bem com o na substância, tinha de apresentar-se na ordem na qual Deus m ani
festou sua revelação ao longo dos séculos ou décadas. Era preciso que fosse uma
teologia bíblica, e não uma compilação de teologias bíblicas (com base em outro
pressuposto segundo o qual o cânon não teria unidade ou centro algum). A
utilização do substantivo singular em teologia bíblica era sinal de que havia um
centro organizador que podia ser descoberto, de que o cânon todo expressava
a unidade de um propósito divino único e unificado. Essa unidade tinha de ser
posta a nu antes que se explorassem o plano e o propósito de Deus conforme
revelados nos livros e nas seções das Escrituras.
A melhor proposta para tal unidade encontra-se exatamente onde as
Escrituras indicaram por m eio de reiteradas referências. Creio que o candidato
mais adequado à unidade ou ao centro da manifestação de Deus é o “plano da
promessa” de Deus conform e revelado nas reiteradas referências encontradas
em toda a Bíblia. O plano da promessa da teologia bíblica se preocupa com
uma palavra divina de promessa de alcance amplo, e não com suas numerosas
predições (conform e pensa muita gente quando ouve a palavra “promessa”),
rastreando o desenvolvimento dessa declaração de Deus nas grandes passagens
pedagógicas de cada era da revelação divina. Em geral, na teologia dogmática ou
sistemática, os textos usados para respaldar uma doutrina qualquer são versícu
los esparsos (em vez da grande “cátedra”, capítulos pedagógicos ou perícopes)
distribuídos por toda a Bíblia.
Enquanto a teologia sistemática, de m odo geral, separa a predição da pro
messa, om itindo referências ao aspecto ameaçador da promessa e aos juízos
de Deus, bem com o aos meios históricos utilizados por Deus para manter viva
sua palavra e, em última análise, cumpri-la, a teologia bíblica insiste em manter
unidos tanto os aspectos ameaçadores quanto as predições de esperança como
facetas diferentes do m esm o plano da promessa. Ela investiga tam bém os meios
históricos intermediários ou elos pelos quais essa palavra foi preservada em
cum primentos parciais até que o cumprimento final e completo se manifestasse
em Cristo. Portanto, o plano da promessa não se resumiu apenas a uma palavra
preditiva que ficou inerte e em form a de palavra até ser finalmente cumprida
em seu ponto final. Tratava-se, isto sim, de uma palavra mantida ao longo dos
séculos em uma série contínua de cumprimentos históricos que serviram de
sinal ou de adiantamento dado por uma palavra que ainda apontava para seu
cumprimento último ou final.
Willis J. Beecher, nas Palestras Stone de 1904, em Princeton, definiu a
promessa da promessa a Abraão e, por meio dele, a toda a humanidade; uma
promessa cumprida na eternidade e que se cumpria na história de Israel; ela
cumpriu-se de forma especial em Jesus Cristo, sendo ele o principal persona
gem da história de Israel”4.
De igual modo, a promessa divina foi feita aos patriarcas, Abraão, Isaque e
Jacó, em Gênesis. Ela prosseguiu e foi renovada na narrativa do Êxodo, enfati
zando que a nova nação de Israel era filha de Javé e seu povo, e que ela se torna
ria um reino de sacerdotes e nação santa em benefício de toda a humanidade.
Todavia, dessa “semente” sairia o Messias de Deus para o mundo todo.
A mesm a promessa é reafirmada e renovada com Davi ao ser-lhe dito que
a ele e à sua “semente” seriam dados um “trono”, uma “dinastia” e um “reino”
(2Sm 7.16) que serviriam de “lei/contrato para toda a humanidade” (2Sm 7.19,
tradução do autor). Dos tempos de Davi em diante, uma corrente de profetas-
-escritores compôs os Salmos e os chamados livros históricos (um nome melhor
seria “Profetas Anteriores”), bem com os livros dos “Profetas Posteriores”.
Eles tam bém insistiram em recorrer ao plano da promessa que Deus dera aos
patriarcas e a Davi e fizeram dele igualmente coração e alma da mensagem que
deixaram para os seus dias e tam bém para os nossos.
Não é de espantar, portanto, que os autores do Novo Testamento tenham
entendido que o tem a da promessa não só fosse o centro unificador que lhes
perm itia compreender o Antigo Testamento, mas também o m eio através do
qual era possível acompanhar o avanço e o desenvolvimento contínuos da meta-
narrativa da obra futura de Deus. Meu único acréscimo à definição de Beecher
seria transpô-la de volta aos tempos da promessa edênica feita a Eva de que sua
“semente” esmagaria a cabeça da serpente, o mal em pessoa. M inha definição
pessoal do plano da promessa de Deus é a seguinte:
4. Beecher, Prophets, p. 178.
— L 16 J
O plano da promessa é a palavra declarada por Deus, primeiramente a
Eva e depois ao longo de toda a história, principalmente aos patriarcas
e à linhagem de Davi, de que Deus estaria continuamente, por meio de
sua pessoa e em seus feitos e obras (em Israel e através de Israel e, mais
tarde, na igreja), realizando seu plano redentor como m eio de manter
aquela palavra prometida viva para Israel e, dessa forma, para todos
os que viessem a crer subsequentemente. Todos os que pertenciam
àquela semente da promessa foram chamados a ser luz de todas as
nações, para que todas as famílias da terra chegassem à fé e à nova
vida pelo Messias.
Dez características do plano da promessa de Deus
O plano da promessa pode ser descrito com dez características distintas. São elas:
1. A doutrina do Messias Prom etido aparece p o r toda a Bíblia e não apenas
em algumas pou cas passagens isoladas ou escolhidas conform e o Esquem a de
Cumprimento da Profecia.
Nosso Senhor partiu do pressuposto de que os leitores do Novo Testamento
sabiam quem ele era e o que haveria de lhe acontecer em Jerusalém. Por exem
plo, os dois discípulos que Jesus encontrou no cam inho de Emaús no primeiro
domingo de Páscoa foram duramente reprimidos por nosso Senhor por não
compreenderem a mensagem do Antigo Testamento e o significado do que fora
dito a respeito do futuro Messias:
Depois lhes disse: “São estas as palavras que vos falei, estando ainda con-
vosco: Era necessário que se cumprisse tudo o que estava escrito sobre
mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.” (Lc 24.44)
“Ó tolos, que demorais a crer no coração em tudo o que os profetas dis
seram! Acaso o Cristo não tinha de sofrer essas coisas e entrar na sua
glória?” E, começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o
que constava a seu respeito em todas as Escrituras. (Lc 24.25-27)
O que o Antigo Testamento continha apenas sob a forma de palavra de
promessa era precisamente o que nosso Senhor supunha que pessoas leigas e
comuns com o Cleopas e seu companheiro soubessem, apesar de sua tristeza
evidente em razão do que imaginavam ser uma reviravolta trágica que culm i
nara com a crucifixão de Jesus.
2. O ensino messiânico do Antigo Testamento era considerado o desenvolvi
mento de uma única prom essa (gr. epangelia), repetida e desvendada ao longo dos
séculos p o r m eio de numerosas especificações e em múltiplas form as, m as sempre
fie l ao mesmo núcleo essencial. Trata-se de um artigo de fé tão fundamental que
o apóstolo Paulo, quando levado a julgamento, e correndo risco de vida, sinteti
zou toda a sua vida e m inistério com as seguintes palavras:
Agora estou aqui para ser julgado por causa da esperança da promessa
feita por Deus a nossos pais. As nossas doze tribos esperam alcançar essa
promessa, servindo a Deus com fervor noite e dia [...] que Deus ressuscite
os mortos (At 26.6-7a, 8b, grifo do autor).
O apelo de Paulo ao rei Agripa não se baseava em predições diversas espa
lhadas pelas Escrituras, mas “na promessa” (isto é, em uma promessa específica,
conform e permite vislumbrar o artigo definido “a” que aparece aqui contraído
com a preposição “em”) feita por Deus há muito tempo aos ancestrais da nação
(Abraão, Isaque e Jacó e Davi) e “na promessa” feita por ele às “doze tribos”.
Conform e diz Beecher: “Ele não se refere ao assunto de que está tratando com o
predição, e sim promessa; não promessas, mas promessa; não uma promessa,
mas a promessa. A palavra está no singular e tem sentido definido”. A totali
dade da verdade messiânica essencial de que ele tem conhecim ento, o apóstolo
resume nesta fórmula: “a promessa de Deus feita a nossos pais”5.
Mais de quarenta passagens do Novo Testamento fazem referência à palavra
“promessa”6, que tem com o característica mais central e proeminente a reve
lação sobre o Messias. Pode-se agrupar em torno desse motivo central todo
o ensino do Novo Testamento (e do Antigo Testamento), de acordo com os
escritores do cânon bíblico.
3. Os escritores do Novo Testamento igualam essa prom essa única e específica
à prom essa feita a A braão quando Deus lhe disse que saísse de Ur dos caldeus. Em
vez de tratar essa promessa definida com o se tivesse sido dada recentemente nos
tempos neotestamentários, o autor do livro de Hebreus a vincula à transação
feita por Deus com Abraão no passado remoto:
Quando Deus fez a promessa a Abraão, jurou por si mesmo [...] e disse:
“Por certo te abençoarei e te multiplicarei grandemente.” (Hb 6.13-14,
grifo do autor).
Deus, querendo mostrar mais claramente aos herdeiros da promessa a
imutabilidade de seu propósito, interveio com juramento. (Hb 6.17; cf.
Gn 22.17, grifo do autor).
[...] Isaque e Jacó [...] herdeiros com ele da mesma promessa. (Hb 1.9,
grifo do autor).
E todos eles, embora recebendo bom testemunho pela fé, não obtiveram
a promessa [...] para que, sem nós, eles não fossem aperfeiçoados. (Hb
11.39-40, grifo do autor).
5. Beecher, Prophets, p. 180.
6. Ver, no Apêndice B, a tabela de frequência e distribuição de uso do termo epangelia.
O apóstolo Paulo utiliza o mesm o argumento em Romanos:
Porque não foi pela lei que Abraão, ou sua descendência, recebeu a pro
messa de que ele havia de ser herdeiro do mundo; ao contrário, foi pela
justiça da fé. Pois, se os que vivem pela lei são herdeiros, esvazia-se a fé, e
anula-se a promessa [...] Contudo, diante da promessa de Deus, [Abraão]
não vacilou em incredulidade; pelo contrário, foi fortalecido na fé, dando
glória a Deus. (Rm 4.13-14,20, grifo do autor).
4. E m bora os escritores do Novo Testamento falem , p o r vezes, de promessas,
usando o plural da palavra, a fo rm a com o o fa z em não fragiliza a tese de uma
prom essa única definida nas Escrituras. Naqueles casos raros em que os auto
res do Novo Testamento recorrem ao plural “promessas”, eles o fazem com o
propósito de indicar que a promessa única com porta especificações diversas. A
tendência contem porânea à diversidade na Escritura serve apenas para deixar
clara a influência da modernidade e da pós-m odernidade em detrimento de
uma investigação que revele, de fato, o sistema de organização do texto. Optar
pela diversidade significa uma maior adesão à era atual (que valoriza a diver
sidade e o pluralismo) do que à era da Bíblia, porque ela insiste o tempo todo
em refletir em seus textos a mente singular e a vontade única de Deus, e não do
agrupamento de autores humanos usados pelo seu Espírito.
Ressalte-se que, apesar de todas essas várias especificações a que os autores
se referem com o “promessas”, sua existência se dá no âmbito mais amplo da
promessa única de Deus, e não no âmbito de fluxos extrínsecos de raciocínios
paralelos ou antagônicos, conform e m ostram estes exemplos de Romanos:
Eles são israelitas, e deles são a adoção, a glória, as alianças, a promulga
ção da lei, o culto e as promessas. (Rm 9.4, grifo do autor).
Afirmo, pois, que Cristo se tornou servo da circuncisão, por causa da
fidelidade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos patriarcas; para
que os gentios glorifiquem a Deus pela sua misericórdia. (Rm 15.8-9,
grifo do autor).
Uma breve am ostra de algumas das várias especificações compreende a pro
messa do Espírito Santo, a ressurreição do Messias, a herança da terra de Canaã,
a missão aos gentios, a vinda do Messias (em seu prim eiro e segundo adventos),
e assim por diante. Exam inarem os posteriormente vários outros lugares em que
ocorrem múltiplas especificações. Os exemplos dados, porém, são suficientes
para nossa tese de que a promessa única consiste em uma série de temas corre
lacionados no âmbito de um mesm o plano.
5. Para os escritores do Novo Testamento, essa prom essa única e definida cons
tituída de numerosas especificações é o tem a de am bos os testamentos. Se a Bíblia
tem, de fato, um centro, se há nela uma unidade, deve-se buscá-la, sobretudo,
nas declarações dos autores do Novo Testamento, que a situam de m odo espe
cial sob o rótulo de “promessa”. Eles recuam no tempo e acompanham o desen
volvimento desse tem a messiânico desde Eva, Abraão e seus descendentes, entre
eles Davi e sua linhagem, até o século I d.C. Ninguém menos do que o diácono
Estêvão refez essa trajetória perante o Sinédrio:
Irmãos e pais, ouvi. O Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão,
quando ele estava na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã, e disse-lhe:
Sai da tua terra, do meio dos teus parentes, e vai para a terra que eu te
mostrarei [...] Enquanto se aproximava o tempo da promessa que Deus
fizera a Abraão, o povo crescia e se multiplicava no Egito. (At 7.2-3, 17,
grifo do autor).
Em bora o Antigo Testamento não tenha um equivalente verbal exato do
termo “promessa”, o mesm o conceito aparece em uma constelação de outros
termos. A expressão mais antiga da ideia da promessa é dada pela palavra
“bênção” ( barakah ), tantas vezes repetida, recorrente com muita frequência em
Gênesis 1— 11 (por exemplo, Gn 1.22, 28; 2.3; 5.2; 9.1, 26).
O Antigo Testamento, porém, utiliza outro term o além de “bênção”. Foster
McCurley, por exemplo, contou mais de trinta situações em que o verbo dibber
(geralmente traduzido com o “falar”) poderia ser mais bem traduzido como
“prometer”.7 Som em -se a esses dois term os o “penhor” divino, seu “juram ento”
e “descanso”, bem com o uma infinidade de term os e de metáforas que apontam
para seu privilégio messiânico, tais com o “Semente”, “Rebento”, “Servo”, “Pedra”,
“Raiz”, “Leão” — e a lista continua.
6. A prom essa feita a A braão é tratada com o evento parcialm ente cumprido
nos acontecimentos do êxodo e evento ainda a se cumprir integralmente no futuro
distante. Foi isso o que Estêvão quis sublinhar em Atos 7.17, uma vez que Deus
estava cumprindo o plano feito a Abraão e nos dias do êxodo, e que mais tarde
seria chamado de “a promessa”. Paulo se valeu do mesmo m étodo de interpre
tação, com a diferença de que com eçou pelo êxodo e se estendeu até os dias do
rei Saul e do rei Davi:
Depois que tirou Saul, deu-lhes Davi como rei [...] Da descendência deste,
conforme a promessa, Deus trouxe a Israel o Salvador, Jesus. (At 13.22,
grifo do autor).
7. Foster R. McCurley Jr., “The Christian and the Old Testament Promise” Lutheran Quarterly 22 (1970):
401-410; esp. 402, n. 2. Entre os vários itens prometidos mediante o uso do verbo “falar” ou “prometer”, temos:
(1) a terra (Êx 12.25; Dt 9.28; 12.20; 19.8; 27.3; Js 23.5,10); (2) bênção (Dt 1.1; 15.6); (3) multiplicação do
povo de Israel (Dt 6.3; 26.10); (4) descanso (Js 22.4; lRs 8.56); (5) todas essas boas coisas (Js 23.15); e (6) uma
dinastia davídica, um reino e um trono (2Sm 7.28; lRs 2.24; 8.20,24-25; lC r 17.26; 2Cr 6.15-16; Jr 33.14) e o
substantivo hebraico dabar, “palavra”, “promessa” (lRs 8.56; SI 105.42).
Como esse plano de Deus era entendido com o um processo contínuo que
percorria a história toda, era necessário destacar cada um dos eventos do desdo
brar da história em direção ao Messias, cumprindo-se, ao mesmo tempo, partes
da promessa que seguia adiante rumo à sua resolução e cumprimento completos.
É por isso que os eventos relacionados ao nascim ento de João Batista e de
Jesus são tratados tanto com o cumprimento do plano da promessa quanto como
indicadores futuros do que haveria de sobrevir. O pai de João, Zacarias, viu no
advento de uma “salvação poderosa na descendência de seu servo Davi” (i.e., o
Messias, Lc 1.69) mais um episódio em que se cumpria o “juram ento que [Deus]
fez a Abraão, nosso pai” (Lc 1.73). Portanto, a promessa passou por Abraão e
Davi e alcançou, nos primórdios da era cristã, a João Batista, precursor do nosso
Senhor, e ao próprio Jesus.
7. Os escritores do Novo Testamento não som ente dizem que o plano d a p ro
messa de Deus perm eia todo o Antigo Testamento, com o adotam tam bém a f r a
seologia veterotestamentária com o parte da m aneira com o expressam a revelação
de Deus a eles. Outras expressões com o “o dia do Senhor”, “os últimos dias”,
“o Servo do Senhor”, “meu Filho”, “meu Primogênito”, “meu Mensageiro”, “meu
Santo”, o “reino de Deus” e o “Messias” foram paulatinamente acrescentados ao
Antigo Testamento tornando-se praticamente rotineiros no vocabulário empre
gado pelo Novo Testamento.
8. Os autores do Novo Testamento ensinam que a prom essa de Deus tem efeito
eterno e irrevogável. Não obstante o “endurecimento [que] veio em parte” sobre
Israel (Rm 11.25), ainda assim “os doris e os chamados de Deus são irrevogá
veis” (Rm 1.29). Paulo era contundente a esse respeito:
Irmãos, eu vos falarei em termos humanos. Embora feito por um homem,
ninguém anula um testamento já validado, nem lhe acrescenta coisa
alguma. Assim as promessas foram feitas a Abraão e a seu descendente.
A Escritura não diz: E a seus descendentes, como se falasse de muitos,
mas como quem se refere a um só: E a teu descendente, que é Cristo. E eu
afirmo: A lei, que veio quatrocentos e trinta anos mais tarde, não anula
o testamento antes validado por Deus, cancelando a promessa. Pois, se
a herança provém da lei, já não provém mais da promessa. Mas foi pela
promessa que Deus a concedeu gratuitamente a Abraão. (G13.15-18, grifo
do autor).
Não menos categórica é a declaração do autor de Hebreus:
Quando Deus fez a promessa a Abraão, jurou por si mesmo, visto não
ter outro maior por quem jurar [...] Assim Deus, querendo mostrar mais
claramente aos herdeiros da promessa a imutabilidade de seu propósito,
interveio com juramento, para que nós [as gerações posteriores a Abraão
e a seus herdeiros], que nos refugiamos no acesso à esperança proposta,