Guia de Contraponto Musical
Guia de Contraponto Musical
HARMONIA E CONTRAPONTO
Prof.: Juliano Lima Lucas
CONTRAPONTO
Contraponto: arte de combinar duas ou mais linhas melódicas simultâneas e independentes.
BREVE HISTÓRICO
PERÍODO MEDIVEVAL
Viderunt omnes
Organum paralelo: movimento paralelo de intervalos (a distância entre as notas permanece a mesma).
Acrescentava-se uma segunda voz (Vox organalis) abaixo da melodia principal (Vox principalis).
Organum livre: contendo movimentos diretos (vozes seguem a mesma direção, mas não necessariamente
os intervalos permanecem os mesmos), oblíquos (uma voz fica fixa na mesma nota enquanto outra se move)
e contrários (quando uma voz abaixa, a outra se eleva e vice-versa). A segunda melodia já não é mais só
uma cópia fiel da voz principal.
Organum melismático: independência rítmica. A Vox principalis agora na voz inferior: tenor. “Deformação”
do canto na voz inferior causada pela longa duração das notas.
PERÍODO RENASCENTISTA
PERÍODO BARROCO
PERÍODO CLÁSSICO
PERÍODO ROMÂNTICO
SÉCULO XX
Resumindo:
- Todos os intervalos de 7ª e todos os intervalos aumentados e diminutos são dissonâncias em
qualquer situação.
- Os intervalos de 2ª são dissonâncias quando são harmônicos.
- * Os intervalos de 4ªJ são dissonâncias no contraponto a duas vozes ou quando se encontram nas
duas vozes inferiores de um contraponto a três ou mais vozes.
Seqüencias e arpejos;
Monotonia.
Errado:
Correto:
EXERCÍCIOS: ALUNO:__________________________________________
1. Construa duas melodias sem ritmo mensurado, cada uma com dozes notas. A primeira em
dó maior e a outra em ré menor, baseando-se nas diretrizes estudadas.
2. Na melodia abaixo, aponte 05 (cinco) locais em que as diretrizes não foram seguidas e
corrija-a.
3. Construa uma melodia com ritmo mensurado em qualquer tonalidade para seu instrumento,
seguindo as diretrizes estudadas.
Oblíquo: uma das vozes permanece na mesma nota enquanto a outra se movimenta.
PRIMEIRA ESPÉCIE
Algumas diretrizes:
- Para cada nota do Cantus Firmus1 (CF) deve-se acrescentar uma nota consonante na melodia
secundária (contraponto). Portanto, nenhum intervalo harmônico dissonante deve ser usado na
primeira espécie;
- Utilizar no máximo o intervalo harmônico de 10ª entre o CF e o contraponto;
- Reservar o uníssono e a oitava da tônica apenas para o começo e o fim. Quando o CF estiver na
voz inferior, no início pode-se usar a 5ª e a 3ª na voz superior do contraponto;
- A voz inferior deve sempre começar e terminar com a tônica;
Obs.: Deve-se começar e terminar o CF com a tônica. Caso o CF esteja na voz superior, o
contraponto deverá também começar e terminar com a tônica.
- Pode-se repetir a mesma nota do contraponto duas vezes seguida, mas não repetir notas em
seguida no CF.
- Evitar:
- Intervalo dissonante;
- Intervalo de 5ª seguido de 8ª e vice-versa;
- 5ª e 8ª paralelas;
- 5ª e 8ª ocultas, que são permitidas apenas quando a voz superior se movimentar em grau
conjunto (quintas de trompa);
- 5ª e 8ª Paralelas intermitentes;
- Repetir o mesmo intervalo harmônico por muito tempo;
- Cruzamento de vozes;
Ex.:
1
Melodia principal a partir da qual se criará um contraponto.
Elaborado por Juliano Lima Lucas
email: [email protected].
CENTRO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM ARTES BASILEU FRANÇA 9
HARMONIA E CONTRAPONTO
Prof.: Juliano Lima Lucas
EXERCÍCIOS ALUNO:__________________________________________
SEGUNDA ESPÉCIE
EXERCÍCIOS ALUNO:__________________________________________
TERCEIRA ESPÉCIE
Diretrizes:
- Pode-se iniciar o CP com pausa de semínima (ou pausa de ¼ do valor de duração da nota do CF).
- As dissonâncias continuam sendo usadas como notas de passagem em qualquer tempo, menos no
primeiro tempo forte. Alguns autores abrem a possibilidade também da utilização da bordadura.
Nota de bordadura: dissonância em tempo fraco, precedida e seguida por uma mesma nota
consonante em grau conjunto.
- Nos tempos fortes as dissonâncias podem aparecer apenas seguindo a fórmula da cambiata.
Cambiata: fórmula de cinco notas.
- Começa em um tempo forte (1º ou 3º).
- Três das cinco notas devem ser consonâncias.
- A primeira e a quinta notas devem ser colocadas em tempos fortes e devem ser
consonâncias.
- A segunda nota está a um intervalo de 2ª da primeira; e a terceira um intervalo de 3ª na
mesma direção da segunda.
- A quarta nota está a um intervalo de 2ª em direção contrária da terceira; e a última está a
um intervalo de 2ª na mesma direção da quarta.
Exemplo incorreto:
EXERCÍCIOS ALUNO:__________________________________________
QUARTA ESPÉCIE
Suspensão: fórmula de três notas*. A primeira nota do CP é colocada sobre um tempo fraco como
consonância do CF. Através da movimentação oblíqua do CF, a nota do CP sustentada torna-se uma
dissonância no tempo forte. No tempo fraco seguinte o CP move-se por grau conjunto descendente
para uma consonância.
Diretrizes:
- O CP pode ser iniciado com pausa de mínima (ou pausa de ½ do valor de duração da nota do CF).
- O início da sincope deve ser uma consonância.
- A suspensão deve ser resolvida na direção descendente.
- A 7ª não deve ser resolvida em uma 8ª.
- Mínimas não ligadas podem aparecer desde que não haja outra possibilidade.
Exemplo ruim:
EXERCÍCIOS ALUNO:__________________________________________
QUINTA ESPÉCIE
Diretrizes:
- Podem ser utilizadas resoluções interrompidas.
Resolução interrompida: nota consonante inserida entre a dissonância preparada (por meio
da quarta espécie) e sua resolução. Pode estar até uma 5ª abaixo ou acima da nota interrompida.
- Podem ser utilizadas colcheias, desde que estas apareçam em pares nos tempos fracos e em graus
conjuntos como notas de passagem ou bordadura.
- Obs.: Notas curtas como colcheias e semínimas são melhores empregadas perto do final do
exercício: tendência às notas curtas.
- Há algumas ressalvas a respeito da utilização de certos ritmos no CP. Mas para efeito desse curso,
não entraremos nesses detalhes. Para maiores detalhes, consultem a bibliografia indicada.
Exemplo ruim:
EXERCÍCIOS ALUNO:__________________________________________
“Movimentação” do Cantus Firmus. Pode-se considerar a nota mais longa como se fosse o CF.
Diretrizes
- Evitar os intervalos harmônicos dissonantes de 4ª justa, 4ª aumentada e 5ª diminuta entre a
voz inferior e a intermediária e a inferior e a superior. Isto significa que são permitidos agora esses
intervalos entre a voz superior e a intermediária.
- Evitar ainda totalmente as 5ª e 8ª paralelas.
- Evitar as 5ª e 8ª ocultas entre a voz inferior e a superior. Isto significa que são permitidos
agora esses movimentos entre a voz superior e a intermediária e entre a inferior e a intermediária.
- Não há necessidade de se obter tríades completas.
EXERCÍCIOS ALUNO:__________________________________________
HARMONIA
TRÍADES
Tipos de tríades:
Maior (3ª M + 3ª m)
Menor (3ª m + 3ª M)
Diminuta (3ª m + 3 m)
Aumentada (3ª M + 3ª M)
Inversões:
Baixo cifrado:
Representação
- No estudo da harmonia tradicional os acordes são representados dentro de uma escrita a 4 vozes.
Para determinar essas 4 vozes, seguimos a convenção de utilizar as 4 vozes do canto: soprano,
contralto, tenor e baixo, restringindo assim as extensões dessas vozes com as extensões das vozes
humanas.
- Para se obter um acorde equilibrado não exceder um intervalo de 8ª entre soprano e contralto e
entre contralto e tenor.
Extensões:
Duplicações e omissões:
- Procurar obter uma tríade completa, mas em caso de necessidade, a única nota que pode ser
omitida da tríade no estado fundamental é a quinta do acorde.
Posições:
- Cada voz se moverá apenas quando preciso, isto é, quando dois acordes sucessivos a serem
encadeados tiverem um som em comum. Este som permanecerá no segundo acorde, na mesma voz
em que estava no primeiro (nexo harmônico). E, quando necessário, cada voz se moverá através dos
menores passos ou saltos.
- Se possível, quando as duas tríades não têm notas em comum, as três vozes superiores devem se
mover em direção oposta ao movimento do baixo. Exceção: na progressão V-VI, se a sensível (terça
do V) estiver no soprano, esta deve subir à tônica, enquanto que as outras duas vozes baixam às
posições mais próximas do acorde.
- Utilizar sempre que possível as diretrizes de condução melódica estudadas no contraponto (evitar
saltos de sétima, estabelecer a tonalidade, compensar saltos etc.). O que vale também para as
movimentações entre as vozes (quintas e oitavas paralelas proibidas, quintas e oitavas ocultas com
ressalvas, etc.). Os intervalos harmônicos dissonantes serão inseridos gradualmente com a evolução
do estudo da harmonia. As seqüências já são bem mais aceitas.
Exemplos de encadeamentos apenas com acordes em estado fundamental:
EXERCÍCIOS ALUNO:__________________________________________
2. Construa dois encadeamentos harmônicos, o primeiro na tonalidade de dó maior e o segundo
em lá maior, baseados nos baixos cifrados abaixo:
- Quando a terça de uma tríade estiver no baixo, o acorde está na primeira inversão e será cifrado
com um número 6. Este acorde também é chamado de “acorde de sexta”.
Obs.: não confundir I6 com o acorde C6. Trata-se de outra nomenclatura.
- Não deve ser empregado como acorde final e raras vezes como inicial.
- Evitar ao máximo duplicar a terça do acorde de sexta, com exceção do caso do acorde de VII 6 que
é preferível tal duplicação.
- Procurar não omitir nenhuma nota do acorde na primeira inversão.
- Melodicamente, as tríades em primeira inversão permitem o movimento do baixo por graus
conjuntos e até mesmo a repetição de notas, ao contrário das progressões apenas em fundamentais
em que o baixo se moveria por muitos saltos.
- A tríade do VII grau, em geral, não é empregada no estado fundamental e nem na segunda
inversão, mas habitualmente como acorde de sexta. Quando é empregada no encadeamento VII-I, a
função do VII é compreendida de forma que este seja considerado um representante do V grau.
- Quando a quinta de uma tríade estiver no baixo, o acorde está na segunda inversão e será cifrado
V I V V I III6 V I IV IV6 I V
IV I VI VI III VI6 II I V VI V I
___________________________________________________________________________
EXERCÍCIOS ALUNO:__________________________________________
1. Construa três encadeamentos harmônicos baseados nos baixos cifrados abaixo:
I V I6 IV I III6 V I
ACORDES DE SÉTIMA
O acorde de sétima é composto de três terças organizadas sobre uma fundamental, ou seja:
fundamental, terça, quinta e sétima.
- Cuidado com a resolução do acorde de sétima em um acorde de sexta conforme o exemplo abaixo.
A oitava oculta resultante é na verdade uma resolução de sétima em uma oitava (ver diretriz do
contraponto de 4ª espécie).
- Contém dois intervalos dissonantes: a quinta diminuta entre a terça e a sétima; e a sétima menor
entre a fundamental e a sétima. A tendência do intervalo de quinta diminuta é contrair-se em uma
terça maior ou menor. O intervalo de sétima é resolvido movendo-se a sétima do acorde em um
grau conjunto para baixo. Mais satisfatório ainda é quando a fundamental do V 7 se dirige à tônica
por salto.
- Os acordes diminutos são melhores invertidos, principalmente como acordes de sexta. Melhor
duplicar a terça do acorde. Resolver a quinta diminuta.
- Os acordes aumentados possuem uma sensível (a quinta do acorde), que não deve ser duplicada.
- Notas estranhas à uma harmonia são, na verdade, notas melódicas que não fazem parte do acorde.
São dissonâncias que surgem através do movimento melódico.
Nota de passagem
Nota em tempo fraco, que não pertence ao acorde, entre duas notas que pertencem aos seus
respectivos acordes e que se movimenta em grau conjunto e em uma só direção.
Nota de bordadura
Nota em tempo fraco, que não pertence ao acorde, precedida e seguida pela mesma nota por grau
conjunto. Pode aparecer também como uma combinação de bordadura inferior e superior, sendo
chamado este caso de bordadura dupla.
Nota de appoggiatura
Nota ritmicamente acentuada e que se resolve em um tom ou semitom acima ou abaixo.
Nota pedal
Nota (geralmente tônica ou dominante) que persiste em uma voz enquanto as outras se movimentam
produzindo diversas outros acordes.
EXERCÍCIOS ALUNO:__________________________________________
Faça uma análise harmônica dos trechos musicais abaixo, identificando também as notas estranhas à
harmonia:
DOMINANTES SECUNDÁRIAS
- Qualquer acorde maior ou menor pode ser precedido por sua respectiva dominante sem que isso
enfraqueça a tonalidade principal.
- As dominantes secundárias podem aparecer não somente como tríades, mas também como acordes
com sétima, nona etc.
- Como o VII grau também possui função de dominante, esse pode ser usando também como
dominante secundária dos graus da escala.
- Na condução das vozes é importante observar que uma nota elevada cromaticamente tem a
tendência a resolver para cima, e uma nota abaixada cromaticamente tende a resolver para baixo.
- No modo menor o princípio da dominante secundária é o mesmo, lembrando que ela não é
aplicável precedendo acordes aumentados e diminutos.
CADÊNCIAS
EXERCÍCIO:
Faça uma análise harmônica dos trechos musicais abaixo, identificando também as notas estranhas à
harmonia e as cadências:
EXERCÍCIOS ALUNO:__________________________________________
Faça uma análise harmônica dos trechos musicais abaixo, identificando também as notas estranhas à
harmonia e as cadências:
Dó M: I VI6 I VI6
Empréstimo modal
EXERCÍCIOS ALUNO:__________________________________________
- A superposição de uma 3ª maior ou menor sobre o acorde de sétima de dominante gera um acorde
de nona maior ou menor. Assim, o grupo de acordes conhecido como “harmonia de dominante” se
amplia agora com os acordes de nona de dominante. Geralmente estes acordes se encontram com a
fundamental omitida. O acorde de nona menor de dominante incompleto é denominado de acorde
de sétima diminuta.
Acorde de sétima diminuta
- O acorde de sétima diminuta é o mais ambíguo dos acordes e todas suas inversões possuem a
mesma sonoridade (todos os intervalos são 3ªm). O ouvido não pode distinguir entre os fatores
desse acorde até que sua resolução mostre qual é a sensível. (A fundamental omitida se encontra
uma terça abaixo da sensível).
- A resolução regular do acorde de sétima diminuta é sobre a tríade de tônica. É costume resolver os
dois intervalos de quinta diminuta fechando cada um em uma terça, sem se preocupar com as
duplicações resultantes. Outra forma de resolução é a nona se resolvendo como nota melódica, sem
mudança de fundamental.
Inversões:
- Na escrita a quatro partes, geralmente não se omite nenhuma das notas do acorde de sétima
diminuta. Em ocasiões especiais, em passagens contrapontísticas, a terça ou a quinta podem ser
omitidas.
Si m:
EXERCÍCIOS ALUNO:__________________________________________
- O acorde de “sexta napolitana” é a tríade maior cuja fundamental é o segundo grau abaixado um
semitom cromaticamente. Seu nome se deve a seu uso mais comum na primeira inversão, isto é, um
acorde de “sexta”.
- Identificação: bII; -II ou N
Obs.: este acorde possui caráter de Subdominante.
b
Dó M: I II6 V I Lá M: I N V I
- A Sexta Napolitana pode estar precedida por sua dominante (dominante secundária: V/ bII) e
também servir como acorde pivô em uma modulação.
Fá M: I V7 I 0 4
3
b
Mi M: II V6 V I IV I
- Assim como a sétima, outras notas dissonantes podem funcionar como uma nota real em um
acorde, isto é, sem considerá-la como uma nota estranha à harmonia.
9 7 11 7 9 13 9
Dó M: V I II V VI I V I
0 4 +6
0
3
Acordes de 6ª aum.: It (V / V) Al (V / V) Fr (V / V) Sz ( II )
+6 +4
ACORDES ALTERADOS
- Qualquer acorde afetado por uma alteração, significando que suas notas não correspondem a sua
forma original.
#5 #5 b5 #5 6 6 (5+) 7
Dó M: I IV I V V I V I
RELAÇÕES SECUNDÁRIAS
- É possível estender o princípio da dominante secundária a outros graus e funções da escala. Assim
como é possível existir um V/III, também é possível existir um II/III, um III/III, um IV/III, etc.
Tudo vai depender do contexto das progressões harmônicas.
6
TRÍADES - 6 -
4
C/ 7ª. M 6 4
7 2
ou m. 5 3
C/ 7ª.
0 0
Dim. 0 0
6 4
ou 7ª. 9 2
5 3
Sens.
7 6 4
c/ 9ª. 9 6 5 3
5 4 2
c/ 11ª. 11
c/ 13ª. 13
b
Acorde de sexta napolitana II6