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Ceará-Mirim Nestor Lima

Este documento descreve lendas e tradições populares da região de Ceará-Mirim no Rio Grande do Norte, Brasil. Apresenta três lendas principais: a lenda do Carro Caído sobre uma viagem noturna que terminou em um acidente na lagoa, a lenda das Cobras da Lagoa que ameaçavam crianças, e a lenda do Tesouro dos Jesuítas escondido na igreja.

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Ceará-Mirim Nestor Lima

Este documento descreve lendas e tradições populares da região de Ceará-Mirim no Rio Grande do Norte, Brasil. Apresenta três lendas principais: a lenda do Carro Caído sobre uma viagem noturna que terminou em um acidente na lagoa, a lenda das Cobras da Lagoa que ameaçavam crianças, e a lenda do Tesouro dos Jesuítas escondido na igreja.

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Dando continuidade às publicações históricas, a ACLA apresenta o nono fragmento do

livro "MUNICÍPIOS DO RIO GRANDE DO NORTE – CEARÁ-MIRIM", de autoria do


historiador NESTOR DOS SANTOS LIMA.
LENDAS E TRADIÇÕES
É bem rica de tradições populares e lendas aceitas a terra ceará-mirinense.
“Extremoz”, a decadente vila que, no linguajar do povo, ainda conserva esse
predicamento, possui as mais curiosas e sugestivas lendas e tradições. José Leão Ferreira
Souto, nas “Aves de Arribação”, procurou transportá-las para a poesia. Antônio Soares
traduziu em soneto uma delas. D. José Pereira Alves, erudito tribuno sacro, proferiu
notável conferência sobre essas lendas.
A do CARRO CAIDO é uma graciosa lenda, embora verossímil, em parte.
Ei-la. Ainda nos começos do aldeamento de Grajeru, quando era construída a primitiva
Igreja, trafegava pela estrada que vai de Natal, um carro puxado a bois conduzindo um
sino para a Igreja. A certa altura do caminho, noite alta, o carreiro adormeceu sobre a
mesa do carro. Chegando à bifurcação dos caminhos, um que ia à lagoa, outro que seguia
para o aldeamento, os bois, sem direção, sentindo sede e percebendo a proximidade da
lagoa, tomaram o segundo destino. No lugar que chamam “Carro Caido”, o carro impelido
pela força da gravidade, na ladeira íngreme, desceu e precipitou-se no abismo das águas,
onde imergiram o carreiro, os bois, o sino e a própria viatura ancestral.
Nunca mais se pode saber do destino do carro e da sua carga. Contam, porém, que, todos
os anos, na noite de Natal, ou “Noite de Festa”, quem quer que se aproxime da ladeira do
“Carro Caido”, escuta de sob as águas tranquilas da lagoa, o chiado do carro, a voz do
carreiro e o repique festivo do sino submergido.
Como lenda, que é, interessante e sugestiva, tem a sua parte verossímil fundada no passo
que se passa a narrar.
Quando faziam a construção da linha férrea da Central, projetaram os engenheiros fazê-la
atravessar o curso d’água, pouco abaixo da Lagoa de Extremoz e adiante do lugar
chamado “Passagem da Vila”.
Começou-se a fazer o aterro necessário, partindo da margem leste do rio. Ia ele bem
adiantado, quando, certa manhã, o aterro que estava quase ao meio do curso d’água, não
mais foi visto pelos operários, que ali chegavam para reencetar o seu trabalho. O aterro
fora absorvido, súbita e silenciosamente, durante a noite; nem os vigias o perceberam. A
comissão construtora, é bem de ver, resolver desviar o traçado e fez a linha pela
“Passagem da Vila”, onde ainda se conserva. Hoje, quem passa pelo ponto indicado, ainda
descobre uns restos do aterro submergido misteriosamente.
Não haverá um símile de causas entre aquela lenda e este fato, dos nossos dias?
Outra lenda bem aceita é a das COBRAS DA LAGOA.
Dizem que havia dentro da Lagoa dois monstruosos anfíbios, que devoravam as crianças
(curumins), filhos dos índios aldeados pelos Jesuítas.
Alarmados com o desaparecimento, vez por outra, de um curumin, foram os índios
aldeados suplicar ao missionário que benzesse a Lagoa e extinguisse os monstros
devoradores de crianças. Assim se fez.
No dia seguinte, uma das enormes cobras apareceu morta à beira d’água; a outra,
deixando a Lagoa, arrastou-se até à porta da Igreja e tal era o seu tamanho, que, pondo a
ponta da cauda na porta principal, rodeou exteriormente com o corpo todo o templo e veio
ajustar a cabeça no mesmo lugar, onde deixara a ponta da cauda. Ai, morreu o monstro.
E, por isso, acabou-se o flagelo da infância aldeada...
Ainda há uma outra lenda convém mencionar: é a do “Tesouro dos Jesuítas”, ali deixado
ao tempo da sua expulsão do Brasil, em virtude do decreto do Marques de Pombal...
Conta a lenda do TESOURO que este é constituído por 11 figuras de apóstolos, em ouro
maciço, escondidas no subterrâneo entre o convento e a Igreja.
Diversas pessoas ali residentes, e até de lugares diversos deste e de outros Estados, já
têm sonhado com o “Tesouro de Extremoz”. Há mais de vinte anos, uma criança da família
Honório, ali moradora, sonhou insistentemente com o tesouro, através da galeria
subterrânea, cuja entrada ficava em ponto bem assinalado.
Desperta, contou o sonho e foi com seus pais verificar os sinais percebidos em sonho. De
fato, os encontraram. Começara, então, a cavar e a pesquisar a galeria; ai foi encontrada
uma vasta abóbada de cerca de um metro e meio de altura, atulhada de terra de diferentes
matizes. Há no Instituto Histórico uma garrafa cheia de areias coloridas, que foram
colhidas no “Buraco de Extremoz”, como lhe chamava ironicamente o vulto, a qual foi
ofertada pelo tenente Aristóteles Costa, quando ali exercia funções de delegado de polícia,
em 1913.
Fizeram-se escavações em várias épocas, ora animados os exploradores, ora em
completo desânimo. O fato é que se têm descoberto ramais da estranha galeria e assim
novos indícios do tesouro; mas, embalde o têm farejado os exploradores. A Igreja é que
tem sido vítima da ganância dos pretendentes. Cabe às autoridades eclesiásticas defender
o patrimônio dos nossos maiores.
Como tradição local muito respeitada existe a festa do Orago São Miguel Arcanjo, a 29 de
setembro, ou no primeiro domingo subsequente. Nesse dia, de toda redondeza, de Natal,
de Ceará-Mirim, das ilhas e das praias vêm devotos do celestial mensageiro render o seu
culto à tradição, havendo sempre além da missa, pândega profana, que se prolonga, às
vezes, até a madrugada do dia seguinte.
Mas, o povo da “Vila” não perdoa nem esquece a injúria da transferência da vila e da
freguesia para a antiga “Boca da Mata”, causando-lhe a decadência em que jaz, desde
então.
A queixa transmite-se de geração em geração.
Certa vez, não há muitos anos, o padre José Paulino Duarte da Silva, vigário do Ceará-
Mirim, com o conselho e assentimento de pessoas gradas da cidade, resolver trasladar,
em procissão, as imagens de São Miguel e Nossa Senhora dos Prazeres, existentes na
Igreja em ruinas, para a Matriz da Freguesia.
Qual não foi, porém a surpresa do vigário e dos que o seguiam, ao chegarem a Extremoz,
para o piedoso fim, encontrando a população local revoltada e em armas, para opor-se
aquele desígnio, e assegurando todos os estremozenses que as ditas imagens não
sairiam dali, enquanto não fossem todos eles massacrados, na defesa do sagrado
patrimônio. A prudência do vigário e o receio de uma luta inútil fizeram serenar o ambiente
de revolta, deixando as imagens na vetusta Igreja...
Dentre os vários cruzeiros, que, vez por outra, se encontram no território do Ceará-Mirim,
uns há que lembram promessa, como o que se vê à margem da estrada de ferro, no sítio
São José, objeto de muita veneração dos fiéis, e outro, que segundo informações
fidedignas, é o antigo Cruzeiro da Boca da Mata.
Do seu local primitivo, na avenida, que é hoje “18 de Agosto”, foi ele removido para a
frente da Igreja Matriz, em eras de 1880, e daí, mais tarde, transferido para o lugar onde
se encontra, à rua da Santa Cruz, na parte alta da cidade, onde costumam fazer festa da
Invenção da Santa Cruz, no dia 3 de maio. Ultimamente, foi-lhe dada uma nova situação,
sendo encerrados em um caixilho de madeira os restos da Cruz primitiva e edificado um
belo Palanque, com altar de Alvenaria.
Por causa desse Cruzeiro, é que foi mudada a sede da freguesia para Taipu, no ano de
1896.
Miguel André de Lima, conhecido por Miguel Gato, era fogueteiro e encarregado da festa
anual da Santa Cruz. O Vigário José paulino não concordava com esses festejos
celebrados fora da sua Matriz. Os devotos da Santa Cruz, dirigidos por Miguel Gato,
insistiam nos seus festejos, lá no próprio lugar do Cruzeiro. As divergências chegaram a
certo ponto e o vigário, contrariado com a insubordinação, preferiu retirar-se com a sede
para Taipu, onde esteve até agosto de 1897. Mas, os festejos continuaram e os rojões de
Miguel Gato abalavam a cidade inteira. Vários católicos, tendo à frente Agapito Dantas,
representaram ao vigário para voltar à sua sede. Deu-se a restauração.
Miguel morreu anos depois, vítima de uma explosão de mate-riais pirotécnicos, dentro de
sua oficina, sendo jogado a grande altura.

SERRAS E SERROTES
Não há propriamente serras e serrotes no território ceará-mirinense. O terreno é baixo e
arenoso. No tabuleiro, é plano. Na costa, formam-se as dunas, ou morros de areia alvadia,
muito movediços, principalmente entre Muriu, Jacumã e Genipabu.
PRAIAS E COSTAS MARÍTIMAS
São elas: Fere-fogo, Genipabu, Barra do Ceará-Mirim, ou de Ignácio de Góes, Graçandu,
Pitangui Pratagi, Jacumã, Porto-mirim, Boi-choco, Muriu, Mussuapé, Gameleira e Barra do
Maxaranguape, lado sul.
RIQUEZA MINERAL
Não é conhecida qualquer fonte de riqueza mineral. Produz-se, porém, muito cal, de
excelente qualidade, tijolos e tenhas, às margens das Lagoas e no vale mesmo,
especialmente em “Raposa”, Guajeru”, Tabuão”, “Kágado” e outras.
RIQUEZA VEGETAL
É assombrosa. O rio Ceará-Mirim tem fertilidade semelhante à do Nilo; safreja-se açúcar
cristal, demerara e bruto. Já houve muito maiores safras de açúcar. Também se cultiva a
mandioca, feijão e milho, no baixo vale. É famosa a farinha da “Ponta do Mato”. Na
Jacoca, cultiva-se abacaxi, em grande escala. Em Extremoz, há culturas variadas; muitos
sítios e fruteiras produzem cocos, caju, oiti, jaca, sapoti e outras, de excelente sabor e
lindo aspecto. Todo o vale do Ceará-Mirim, e os menores do “Mudo”, “Grajeru” e
“Nascença”, são prodigiosamente férteis.
RIQUEZA ANIMAL
Relativamente pequena é a criação no Ceará-Mirim, havendo algumas fazendas de criar,
no baixo vale e nos tabuleiros, ao sul. Criam-se aves e animais domésticos, e para
auxiliares da agricultura: cavalos, bois, burros e jumentos. Em alguns lugares, é muito
escassa a criação, devido ao mosquito. Às vezes, são os animais cavalares atacados de
um mal estranho, que chamam “roda”, porque tem por sintoma certas curvas que o animal
atacado faz em torno de si próprio.
Caças e aves canoras existem abundantemente pelo vale e nas margens das lagoas do
município.
VIAS DE COMUNICAÇÃO
A Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte é hoje a principal via de comunicação
que o município possui, tendo sido inaugurada a respectiva Estação, no dia 13 de junho de
1906, pelo presidente eleito da República, dr. Afonso Pena. Fica no quilômetro 38,632.
Existem também as estações de Extremoz (quilômetro 21) e de Itapassaroca (quilômetro
49,043); esta última inaugurada a 14 de novembro de 1906.
Dantes, havia sido tentada a construção da Estrada de Ferro do Ceará-Mirim, sendo
concessionário o major Afonso de Albuquerque Maranhão, que obteve favores, em 1890,
tanto que, a 8 de dezembro desse ano, realizou-se a inauguração dos trabalhos, sob a
direção do dr. Manoel de Sá Brunet, com a presença do governador provisório, dr. Manoel
do Nascimento Castro e Silva e outras pessoas gradas. O projeto consistia em uma linha
férrea entre Coroa (à margem esquerda do Potengi) e Ceará-Mirim. Mais tarde a seca de
1905, provocou a atenção do Governo Federal, que mandou uma comissão de
engenheiros, sob a chefia do professor José Matoso Sampaio Correia e de que faziam
parte drs. José Luiz Baptista, José Rodrigues Leite Júnior, Constantino Barroso e outros
nomes que honram a engenharia nacional, a qual resolveu iniciar os trabalhos de
construção da linha férrea, depois ampliada para E. F. Central, partindo do lugar “Coroas”,
antigo porto de trânsito, à margem esquerda do rio Potengi e em frente à capital.
Há também estradas carroçáveis entre Natal e Ceará-Mirim, passando por Macaíba, São
Gonçalo, Massaranduba e Cacimbas; a de Ceará-Mirim a Muriú, passando pelos
engenhos e sítios à margem esquerda do vale, e da, pelo tabuleiro, até a praia referida;
outra, que sai pelo aterro do Carnaubal e segue pelo tabuleiro para Tabua, Pureza, Boa-
Cica e Touros; outra, que demanda Igreja Nova, passando pela Jacoca; outra, que se
dirige ao sertão, passando por Gameleira, e finalmente, a velha estrada do Jorge, ou
estrada da “Vila”, que vem para Extremoz e Natal.
POPULAÇÃO
A população do município tem aumentado consideravelmente. Em 1855, era de 15.724
habitantes; em 1872, de 18.148; em 1900, era de 20.865; em 1920, era de 26.319 e em
1930, de 30.000 almas.

RIOS
CEARÁ-MIRIM é o principal rio do município, pois, tem um curso de 23 léguas e vem dos
massapês de Santa Rosa, entre Lages e Angicos, passa nesses dois municípios, nos de
Baixa-Verde e Taipu, e vem entrar neste, no lugar Passagem das Pedras, banha a Cidade,
forma o grande vale agrícola e vai desaguar no Atlântico, na Barra de Ignácio de Góes.
São também banhados pelo rio Ceará-Mirim os seguintes lugares e fazendas: Cacimba do
Caboclo, Barreiras, Caraúbas, Cidade de Lages, Taboleirinho, Mulungu, São Joaquim,
Lagoinha, Várzea dos Bois, Passagem comprida, Trapiá, Salgadinho, Estribaria,
Maniçoba, Conceição, Fazenda Nova, Favela, Retiro, Pedra do Navio, Umari da Sombra,
Vila de Jardim, São Paulo, Cururu, São Tomé, Emburanas, Boa Água, Barra da Milha,
Barra da Onça, Poço da Pedra, Barra do Gonçalo, Pitombeira, Torrões, Valão do Valentim,
Jacaré, Pé quebrado, Riacho Fundo, Passagem das Pedras, Bandoleiros, Passagem do
Caboclo, Várzea Grande, Ladeira Grande, Passagem do Meio, Cotia, Tronco, Umari, Vila
de Taipu, Pitombeira, os engenhos e sítios já descritos e que lhe ficam à margem. São
inúmeros os seus tributários e afluentes, a saber: Rio Feiticeiro, Riacho dos Porcos,
Riacho da Cachoeirinha, Rio Quintimproá, Riacho do Olho d’Agua, Riacho da Maniçoba,
Riacho do Marco, Riacho da Carnauba, Riacho da Caiçara, Rio do Vento, Riacho do
Vento, Riacho da Cachoeira, (1º), Riacho do Gonçalo, Riacho do Juazeiro, Riacho da
Cachoeira (2), Riacho da Madeira, Riacho da Pedra Vermelha, Riacho da Lagoinha,
Riacho do Meio, Riacho do Trapiá, Riacho da Cachoeira (3º), Riacho do Mundo Novo,
Riacho Salgado, Riacho de Manoel Dionysio, Riacho da Jurema, Riacho da Malacacheta,
Riacho da Milhá, Riacho do Cauassu, Riacho do Canivete, Riacho da Fazenda, Riacho do
Domingo, Riacho do Barreto e outros de menor importância.
A grande uberdade das terras situadas no vale do Ceará-Mirim resulta principalmente dos
elementos que lhe veem do alto sertão, contendo os produtos da decomposição do solo
por ele irrigado e depositando-as, através das enchentes do inverno, no vasto leito do rio,
que transborda e alaga o vale, ai se demora, dias e dias, até serem as águas escoadas
pela insuficiente Barra de Ignacio de Góes. Já se tem trabalhado bastante para dar
conveniente solução ao problema do vale do Ceará-Mirim, em diversas épocas.
As primeiras providências foram as da construção do “Canal Dodt”, em 1866, pelo
engenheiro alemão Guilherme Luiz Dodt. De-pois, em 1875, o presidente da Província
João Capistrano Bandeira de Mello mandou pelo engenheiro dr. Feliciano Martins construir
o “Canal Bandeira”. Mais tarde, o presidente dr. Delfino Augusto Cavalcanti de
Albuquerque mandou abrir o rio e o canal “Delfino”.
Em 1908, o dr. Júlio de Mello Rezende, como engenheiro da Superintendência dos
Estudos e Obras contra os Efeitos das Secas, abriu um canal de escoamento, no baixo
vale, para facilitar a saída das águas torrenciais, que ali ficavam detidas pelas “baronesas”,
aningas e malvaíscos. Convém ler “O Problema do Ceará-Mirim”, Ver. Instituto, vol. XXIII-
XXIV, de 1926-27, pags. 241-256.
O Governo Federal, em acordo com o do Estado, projeta uma barragem no Rio Ceará-
Mirim, no lugar “Poço Branco”, pouco acima de Taipu. Há opiniões contrárias e vozes
favoráveis a esse empreendimento.
RIO DO JORGE, ou “Mudo”, que nasce no serrote do Urubu e na 1ª Lagoa (São Gonçalo)
passa em Gameleira do Upanema, Jacoca, Cacimbas, Jorge, Poço Comprido, Comum e
Ponta Grossa, onde faz despejo na Lagoa de Extremoz; e daí, desde, pela passagem da
Vila para Dendê, Giqui, Gramoré e Caiana, onde deságua no Atlântico.
RIO ÁGUA AZUL, que se origina em Nascença, município de Ceará-Mirim, corre de
noroeste a leste, depois de um percurso de cerca de duas léguas, penetra no vale do
Ceará-Mirim, pelo norte, banhando a povoação de “Capela”.
RIO MAXARANGUAPE, divisa do município com o de Touros, nasce em Pau-ferro, ou
Pureza (Touros) passa em Boa Vista, Limoeiro, Manimbu, Chagas, Rosário, Santa Maria,
Ypiranga, Recreio, Bom Jesus, Cruzeiro do Sul, Jurubué, Mangueira, Ilha, Criminosa e
despeja no Atlântico pela “Barra de Maxaranguape”. Forma também um vale agrícola de
grande valor econômico.
RIACHO DO PRATAGY, caudal perene, nasce na lagoa do Gaspar e despeja no mar,
entre Jacumã e Pitangui, no lugar “Pratagy”.
Há também numerosos “maceiós”, que fazem o despejo das lagoas, próximas à praia e
por onde sobem as águas das marés de enchente em busca das terras marginais.
LAGOAS
EXTREMOZ, antiga do “Guageru”, é um belíssimo lago de notável extensão e volume
d’água, formado, ao que parece, por grandes olheiros naturais e pelas águas dos rios
“Jorge” ou “Mudo” e “Guajeru”. A circunferência da lagoa de Extremoz, é de 18
quilômetros. Sua profundidade máxima é de 17 metros, no Poço Verde. As suas águas
límpidas e rebrilhantes, contêm enorme fauna ictiológica. O despejo dessas águas é feito
pelo “Rio Doce”, ou do “Meio” até o mar, e serve de divisa com o município de São
Gonçalo. A Lagoa de Extremoz é objeto do carinho de todos os norte-rio-grandenses. As
lendas dessa lagoa têm sido estudadas por altos espíritos. Veja-se a parte de “Tradições”.
LAGOA DO GASPAR, com 2.600 metros de perímetro, na estrada de Muriú; a do
MINEIRO, com 700 metros de extensão e 200 de largura, a COMPRIDA, que despeja no
mar, perto de Porto-Mirim, lagoas que nunca secaram e resistiram às grandes estiagens
de 1877-1879.
Outras ainda há: do Gravatá, do Gervásio, dos Cambitos, da Cotia, das Caraubas, do
Manguary, do Kágado, do Genipapo, da Raposa, Grande (1ª), da Porta, das Pedras, do
Caixão, Branquinha, Atoleiro, Aningas, Lavadeira, Caçote, João Moleque, Grande (2ª), do
Cajueiro, do Pedregulho, da Nascença, de Santa Rita e outras.

UZINAS, ENGENHOS E SÍTIOS


O município do Ceará-Mirim é um dos mais férteis do Estado, já foi um grandioso empório
açucareiro e será, de futuro, um centro de riqueza incomparável, quando se puderem
cultivar todas as suas terras úmidas.
O portentoso vale fresco, que se estende por cerca de 25 quilômetros, desde o lugar
“Nascença” até a “Boca da Ilha”, é torrencialmente alagado pelas enchentes que descem
dos rios do sertão, tributários do rio Ceará-Mirim, contém rios perenes do agreste, como o
“Água Azul”, “Nascença”, “Quiry” e outros, além de numerosos e abundantes “olheiros”,
que irrigam as culturas permanentes, mesmo nas épocas do estio. Tinha outrora,
cinquenta (50) engenhos de moer cana, movidos a vapor e a animais. Alguns, como “São
Francisco”, “Ilha Bela” e “Guanabara” transformaram-se em Usinas de açúcar branco, ou
cristal. Outros conservam a sua organização de “banguê”, para açúcar bruto, ou mascavo,
e outros ainda estão de “fogo-morto”, expressão equivalente a desmontado, ou arruinado,
e sem funcionamento. Já ali se produziram 300.000 pães de açúcar e 800.000 litros de
aguardente. Hoje, com o açúcar branco e mascavo, produz-se rapaduras, em grande
quantidade, milho de admirável rendimento, na parte baixa do vale, pelos últimos meses
do ano.
As Usinas são as seguintes: (3):
SÃO FRANCISCO, fundado como engenho pelo coronel Manoel Varella do Nascimento e
modificado pelo seu filho Alexandre Varella (Xandu), e neto, dr. Manoel de Gouveia
Varella, pertence hoje a Carlos Varela do Nascimento e à viúva e filhos do dr. Manoel
Varela. Tem uma instalação completa para açúcar cristal e álcool, com capacidade para
30.000 sacos de açúcar. Possui uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição e
um cemitério próprio. É uma das melhores propriedades do vale e fica ao leste da cidade.
ILHA BELA, fundada pelo tenente-coronel José Félix da Silveira Varella, pertence hoje a 3
dos seus herdeiros, dr. Octavio de Gouveia Varella, Maria Esther e José de Gouveia
Varella e a Ubaldo Bezerra de Mello. Foi transformado em uma usina para açúcar cristal,
em 1929, mas, desde 1894, possuía turbinas e taxa vacum, que permitiam fabricar açúcar
demerara. Só em suas terras pode produzir 12.000 sacos de açúcar.
GUANABARA constituído por partes do antigo engenho “Laranjeira s”, foi fundado por
Antônio Basílio Dantas Ribeiro, como engenho “banguê”, transformado em usina de açúcar
cristal, desde 1929.
Os Engenhos são 25:
Ao Norte:
CARNAUBAL, fundado há quase um século por Antônio Bento Vianna, pertenceu, durante
muitos anos, ao coronel Carlos Augusto Carrilho de Vasconcelos, passou a seus filhos e
hoje pertence a Manoel Emygdio de França, que o adquiriu em 1930.
TRIGUEIRO, fundado pelo capitão José Ribeiro Dantas (conhecido por “Zumba do Timbó”)
e atualmente propriedade de d. Maria Cavalcante de Oliveira Correa.
CRUZEIRO, fundado por Samuel Bolchaw, pertence ao major Onofre Soares Júnior e mais
herdeiros e legatários de d. Florência Maria Soares.
OUTEIRO, antigo “Cumbe-Novo”, fundado em 1889 pelo finado tenente coronel José
Antunes de Oliveira, pertence a seus herdeiros.
CUMBE-VELHO, fundado pelo capitão Manoel Teixeira da Fonseca e Silva, é de Luiz de
Miranda Henriques.
ALAGOA, fundado pelo falecido capitão Pedro José Antunes de Miranda, pertence a seu
filho, dr. João Baptista de Miranda.
MUCURIPE, fundado pelo finado major Anthero Leopoldo Raposo da Câmara, pertence
presentemente a Ruy Antunes Pereira.
SANTA IZABEL, fundado recentemente por João Ribeiro de Paiva, como um
desmembramento da propriedade “Morrinhos”.
MORRINHOS, fundado por Francisco Ribeiro de Paiva pertence a seus herdeiros.
BICA, fundado pelo finado dr. Joaquim Pacheco Mendes, pertence atualmente a Heráclio
Ribeiro de Paiva Filho e dois irmãos seus.
SÃO LEOPOLDO, fundado pelo falecido coronel Manoel Leopoldo Raposo da Câmara,
pertence hoje a Jorge Fernandes da Câmara.
PARAISO, também fundado pelo cel. Manoel Leopoldo, é do tenente-coronel Cícero
Leopoldo Raposo da Câmara.
Ao Oeste:
DIVISÃO, fundado pelo comendador Joaquim Ignácio Pereira, pertence hoje a Affonso
Cabral de Vasconcellos.
DIAMANTE, fundado pelo major Miguel Ribeiro Dantas, já falecido, é bem litigioso dos
seus herdeiros.
JERICÓ, também fundado pelo major Miguel Ribeiro Dantas, pertence ao dr. José Augusto
Meira Dantas e irmã.
CAPELA, fundado pelo coronel Manoel Varella do Nascimento, é atualmente do coronel
Boaventura Dias de Sá.
PEDREGULHO, fundado por Lourenço Sylvestre Cid, pertence aos herdeiros de Bonifácio
de Golvea.
SANTA RITA, pertence a Manoel Rodrigues Soares.
NASCENÇA, pertence a Hermínio Leopoldino Cavalcanti.
ANGICO, fundado por João Baptista de Souza Menino, é dos herdeiros de Antônio
Agostinho de Lima.
A Leste:
JAÇANÃ, parte da antiga propriedade desse nome, pertence a Enéas Cavalcanti de
Albuquerque.
UNIÃO, fundado pelo dr. José de Araújo Vilar, é hoje do coronel Felismino do Rego Dantas
Noronha.
IGARAPÉ, fundado pelos irmãos Furtado, é agora de Milton de Gouvea Varella.
ESPÍRITO SANTO, desmembrado da antiga propriedade “Laranjeiras”, pertence ao major
João Xavier Pereira Sobral.
TIMBÓ DE DENTRO, fundado pelo capitão José Ribeiro Dantas, pertence hoje a seus
herdeiros.
Além dos engenhos acima mencionados, no vale do Ceará-Mirim, existem 24 sítios de
plantar cana, que foram outrora engenhos “correntes e moentes” a saber:
GUAPORÉ, fundado pelo dr. Vicente Ignacio Pereira, era uma propriedade modelo, ao
tempo do seu fundador; é simples sítio de plantar cana, para ser moída na Usina “São
Francisco”.
VERDE-NASCE, fundado pelo dr. Victor José de Castro Barroca, pertence aos herdeiros
de d. Maria Amélia Pacheco Dantas.
ALABAMA, fundado pelo coronel Manoel Leopoldo, pertence hoje a Jorge Fernandes da
Câmara.
JAÇANÃ, uma parte pertence ao Governo do Estado, outra parte é dos herdeiros do dr.
Jeronymo Cabral Raposo da Câmara (Loló), e outra pertence ao capitão Enéas Rodrigues
da Rocha.
TORRE, fundado o engenho pelo capitão João Secundino Pereira Pacheco, é de Milton de
Gouvea Varella.
LARANJEIRAS, outrora grande engenho pertencente ao capitão Francisco Xavier de
Souza Sobral, constitui hoje diversos sítios de plantar cana e outras lavouras; um pertence
à viúva de Antônio X. Pereira Sobral. Outro, o “Engenho Grande”, aos herdeiros de
Antônio Cerqueira Carvalho, outro é de João Xavier Pereira Sobral. Outro, de Joel
Cerqueira Carvalho; e finalmente, outro que foi de d. Joanna Cerqueira Pereira Sobral.
CAJAZEIRAS pertence aos herdeiros de Miguel Antônio Ribeiro Dantas.
ILHA GRANDE, que foi de Euquerio José Peres, é hoje do coronel Boaventura Dias de Sá.
TIMBÓ DE FORA, antigo engenho, é sítio de plantar e de criar, dividido entre Boaventura
Dias de Sá, Thomaz da Costa Filho e outros.
GUARAMIRANGA, fundado pelo dr. José de Araujo Vilar, é do major Antônio Ribeiro
Dantas.
FLORESTA, fundado pelo dr. Heráclio de Araújo Vilar, é dos herdeiros de d. Maria Ferreira
Soares Bilro.
CANABRAVA, fundado por João Ribeiro Dantas, já falecido, é de sua viúva d. Joaquina
Vilar Ribeiro Dantas.
BARRA DA LEVADA, fundado pelo capitão José Ribeiro Dantas, pertence atualmente a
Ernesto Ribeiro Dantas.
PALMEIRAS, SANTA CRUZ, VEADOS, PORÃO, SÃO JOSÉ, ESPINHEIRO, e PAU
D’ARCO”, foram antigos engenhos, hoje são sítios de plantação.
No vale do rio Maxaranguape, que serve de divisa com o município de Touros, próximo à
sua nascença, em “Pureza” antigo “Pau-ferro” ainda existem bons sítios de plantar e criar.
“Limoeiro”, fundado pelo capitão Carlos Manoel de Jesus Nogueira e Costa, é hoje de seus
netos.
“Manimbu” é dos herdeiros de coronel Francisco José Soares.
No vale do Rio “Mudo”, ou do “Jorge”, ao sul da cidade, na Jacoca, há um engenho e
vários sítios a saber:
“Jacoca”, engenho a vapor de Manoel Emygdio de França.
Sítios “Guararapes”, de Boaventura Dias de Sá, os de Vicente de Paula Paiva, herdeiros
de João de Paula Paiva, herdeiros de Manoel Francisco Xavier, Joaquim Bertholdo,
herdeiros de João de Paula Paiva, herdeiros de Pedro Vasconcellos Sobrinho, Pedro
Urbano de Barros, José Fernandes Campos, Francisco Fernandes Campos, Joaquim
Barbosa e Francisco Palhano.

POVOAÇÕES
Existem no território do município as seguintes:
EXTREMOZ, antiga vila e ex-sede do município, tendo Igreja em ruinas, como também
convento e a casa da Câmara Municipal e cadeia, reduzidas a taperas. Tem uma rua ou
quadro principal, e a rua da Estação, onde se têm edificado ultimamente várias casas de
residências, de regular aspecto.
Tinha cadeia municipal e hoje possui um edifício, construído a expensas do povo e com o
auxílio do Governo Estadual, onde funcionam duas escolas públicas.
Fica a 18 quilômetros de natal e a 16 de Ceará-Mirim. Possui Estação da Estrada de Ferro
Central.
Demora à margem da legendaria Lagoa do Guajeru, ou de Extremoz, e é circundada de
sítios de plantação e de fruteiras. Tem uma cultura de eucaliptos com cerca de 280.000
unidades.
ESTIVAS, lugar muito povoado, à margem do rio Guajeru, ou do “Melo”, ou “Doce”, por
onde despejam as águas da Lagoa para o Atlântico. Tem cerca de uma légua de moradas
e sítios de plantação, que abastecem a capital de frutas, legumes e outros produtos de
fabricação caseira. Possui escola rudimentar criada pelo decreto n. 233 de 23 de maio de
1924.
POÇO, aglomerado de sítios, na estrada fica a 25 quilômetros a leste da Cidade e tem
capela consagrada a São Sebastião.
BOCCA DA ILHA, com capela de São João Batista, é também uma estrada povoada com
muitos sítios.
GENIPABU tem capela dedicada a São Sebastião e fica à margem do Oceano Atlântico. Ai
existem os vestígios do antigo “Forte de Genipabu”, construído em 1808, para a defesa da
costa brasileira contra a invasão das forças do Imperador Napoleão, quando invadiram o
reino de Portugal e fizeram transmigrar para o Brasil a Corte Portuguesa.
BARRA DO RIO, povoado de pescadores, à margem esquerda da embocadura do Rio
Ceará-Mirim.
PITANGUY, praia habitada e colocada sobre uma ponta de terra, que avança sobre o mar.
É porto de boas pescarias. É também praia de banhos procurada pelos veranistas de Natal
e Ceará-Mirim.
JACUMAN, interessante povoado na costa marítima, onde existe capela de São Sebastião
e várias residências, tem boas pescarias.
PORTO-MIRIM, antiga aldeã de índios, sob o nome de Conapolú-mirim, fundada pelos
padres da Companhia de Jesus, nas terras de sua concessão. É hoje simples morada e
tem sítios de coqueiros. Foi a Aldeia de Jacauna.
MURIU, importante povoado à beira-mar e ponto preferido para estação balnearia dos
habitantes do Ceará-Mirim. Tem capela de São Benedito, cuja festa se realiza nos meados
de janeiro, com patrimônio constituído por um terreno de cem pés de coqueiros, no lugar, e
instituído de 1859 por doação de João Marques Moreira e sua mulher e Antonio José
Gomes e sua mulher. Possui escola rudimentar criada pelo decreto n. 248, de 27 de
agosto de 1924. Consta de um quadro de casas, onde se acha a capela, e de uma longa
rua, que acompanha a praia, com mais de um quilômetro de extensão. Tem boas
pescarias de jangadas, tresmalhos e outras. É lugar aprazível para veraneio.
CONTENDAS, povoado central, ao oeste do Vale do Ceará-Mirim.
RIO BONITO, também central.
BARRO VERMELHO, CAPIM, FLORES e COQUEIROS, onde há uma escola rudimentar
criada por decreto n. 461 de 22 de janeiro de 1930. São propriamente estradas povoadas
que ligam o vale às praias do mar.
CAPELA, povoado ao norte da cidade, que tem capela consagrada a São Miguel e
edificada em 1900, consta de várias casas e estabelecimentos comerciais. Passa-lhe ao
pé o Rio “Água Azul”.
QUIRY, GRAVATÁ, PRIMAVERA, BOA-VISTA, CAPOEIRA-GRANDE, RIBEIRA,
VEADOS, SÍTIO, DENDÊ, PATRIMÔNIO, MANGABEIRA, RIACHÃO são estradas
povoadas, ao norte da cidade, em demanda das praias e outros pontos próximos.
JACOCA, povoado ao sul da cidade, não possui capela alguma, devido ao desacordo
entre o construtor e a direção paroquial. Tem, desde 1929, escola rudimentar mantida pelo
Estado.
DUAS PASSAGENS, VEADAS e ITAPASSAROCA, povoados ao noroeste, tendo o último
Estação da Estrada de Ferro Central. Fica ao norte da Estação o antigo povoado do
mesmo nome, onde houve escola municipal e a capela dedicada a São José, a qual,
devido às enchentes do Rio Ceará-Mirim, tem de ser mudada para o sítio “Mattas”, que lhe
fica próximo. É lugar decadente.
PONTA DE MATTO, onde se cultiva a mandioca e é fabricada a famosa farinha desse
nome. Está ao sul da cidade.
MANGUARY, à margem da lagoa desse nome, ao norte, tem várias propriedades de criar
e plantar.
A FREGUEZIA
A história da freguesia de S. Miguel tem duas partes bem distintas: 1ª quando a sede era
em Extremoz, 2ª depois da mudança para Ceará-Mirim.
A aldeia de Guajeru, sob a missão dos padres da Companhia de Jesus, estava na direção
material e espiritual dos seus catequizadores.
A freguesia, porém, foi criada em virtude do alvará régio de 6 de junho de 1755 e
instalada, conjuntamente com a vila, a 3 de maio de 1760.
Os assentos dos batizados na nova freguesia datam de 1792, conforme os registros do 1º
livro.
O seu patrimônio foi instituído no sítio de terras de criar gados, denominado “Curral de
Baixo”, comprado em 1792, pelo administrador dos bens de São Miguel, a Domingos
Gomes Maciel, “que o houve por arrematação que fez em praça pública pelo real fisco feita
na apreensão aos denunciados jesuítas”, como consta da escritura de aquisição. Mais
tarde, esse patrimônio de São Miguel foi aumentado com a doação feita por dd. Maria
Bezerra Cavalcanti Rocha e Josepha Maria Cavalcanti Rocha, de terras no sitio Inhandu, e
em 1903, com uma casa de tijolo contígua à Igreja Matriz do Ceará-Mirim. Pertenceu
também ao patrimônio de São Miguel, a metade da data “Quintururé”, por doação feita
pelo dr. Vicente Ignácio Pereira e sua mulher, d. Izabel Varella Pereira, já falecida. Esse
patrimônio já não pertence ao padroeiro de Extremoz.
A Igreja de Extremoz foi construída pelos padres jesuítas, que ali se estabeleceram para a
catequese do indígena e para explorar as terras, que obtiveram de El Rey. Segundo a
tradição, foi nessa Igreja Batizado o chefe Camarão, da tribo dos potyguares, o qual tomou
o nome e sobrenome de Antonio Phillippe Camarão, tendo nascido no lugar Seará, adiante
de Extremoz, e se tornado um dos mais autênticos heróis da reação contra os holandeses.
A freguesia de Extremoz foi mantida, apesar da mudança da sede do município para
Ceará-Mirim, durante muitos anos. Só, a 22 de março de 1874, o Governador do Bispado
de Pernambuco, chantre José Joaquim Camello de Andrada, autorizou a mudança da
sede da freguesia e elevou à categoria de Matriz a Igreja edificada na vila de Ceará-Mirim.
Em 16 de junho de 1896, d. Adaucto, bispo da Paraiba, mandou transferir a sede da
freguesia para a vila de Taipú, fazendo-a, porém, voltar à cidade de Ceará-Mirim, em 19
de agosto de 1897.
A Matriz do Ceará-Mirim é um dos mais belos e majestosos templos católicos existentes
dentro deste Estado e, por suas dimensões, é o maior dos nossos templos. Mede 260
palmos, (57m,20) de comprimento por 107 palmos (23m55) de largura. A de Acary, que se
lhe aproxima, tem 44,37mts. De comprimento por 19 metros de largura.
Foi construída a expensas dos cofres provinciais e dos óbolos dos particulares, sendo
encarregado da obra, por parte do governo, José Joaquim de Castro Barroca.
A primeira pedra da, hoje esplendida, Matriz foi lançada a 21 de fevereiro de 1858 pelo
missionário capuchinho Frei Serafim de Cattania, mas, a obra só ficou concluída em 1900,
sob a direção do vigário, padre José Paulino Duarte da Silva, que a regeu por 13 anos
(1891 a 1904).
A Igreja Matriz de Ceará-Mirim tem duas torres em estilo gótico, de 140 palmos de altura,
concluídas em 1894, sob a direção de Mr. David Williams e à custa do padre Antonio de
Oliveira Antunes e ten.cel. José Antunes de Oliveira. Um dos sinos, que pesa 40 arrobas e
custou 2:400$000, foi dado pelo cel. Francisco José Soares, e o outro, de 20 arrobas,
adquirido com óbolos do povo, tendo sido ambos colocados a 1 de janeiro de 1901. Outras
ofertas importantes recebeu o famoso templo: por parte de d. Josepha Cavalcanti Rocha o
batistério, de d. Victoria Duarte Ribeiro a rica pia de mármore, o forro e a decoração
interna do templo, tribunas e altares doados por associações e fieis.
É orago da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição juntamente com São Miguel de
Extremoz.
O patrimônio da Matriz consta de um terreno na Cidade, com edificações particulares
mediante foro anual, instituído em 1851, por doação do ce. Manoel Varella do Nascimento,
posteriormente Barão de Ceará-Mirim, Antônio Bento Vianna e respectivas esposas. Em
1894, o patrimônio foi aumentado com a doação de Euquerio José Peres e sua mulher e,
em 1891, por doações de Francisco Maria de Paula Dantas Cavalcanti e sua mulher e
João Baptista de Souza Menino e sua mulher. Faz parte do patrimônio um terreno agrícola
em Veados, doado em 1896 pelo cel. Miguel Ribeiro Dantas e sua mulher.
Além da Matriz e da Igreja de Extremoz, quase em ruinas, a freguesia conta a Igreja de
Muriu; a capela do Engenho, hoje, Usina “São Francisco”, de que é padroeira Nossa
Senhora da Conceição, construída pelo Barão do Ceará-Mirim, que lhe doou patrimônio
em uma casa na Cidade; a capela de São Miguel, no lugar “Capela”, ao norte da Cidade,
edificada em 1900; a capelinha de São João Batista, na Boca da Ilha; a capela do
Engenho “Cruzeiro”, edificada pelo seu proprietário cel. Francisco José Soares, e as
capelas de Itapassaroca, Poço e Jacumã.
A Igreja do Ceará-Mirim tem experimentado, de cinco anos a esta parte, notáveis
melhoramentos materiais e apresenta inquestionavelmente o mais belo, imponente e
confortável aspecto interno.
Por decreto do 4º Bispo Diocesano, e ex vi do canon 17 § 21, do Código de Direito
Canônico, foi criada a circunscrição eclesiástica de Ceará-Mirim, que compreende as
paróquias de Ceará-Mirim, Lages, Angicos, Touros, Baixa Verde e Taipu.
As associações religiosas, que têm sido fundadas na Matriz da freguesia, são as
seguintes: Apostolado da Oração, instalado em 1890, Centro da Obra Pia-Diocesana, em
1902, Pia União das Filhas de Maria, em 1904, Centros da Congregação da Doutrina
Cristã, em 1906, Conferência de São Vicente de Paulo, em 1906, Confraria de Nossa
Senhora das Dores, Associação das Damas de Caridade, Associação das Almas do
Purgatório e Associação de São José. Pretendem fundar a Irmandade do SS. Sacramento.

A CIDADE
Relativamente aos inícios da atual cidade de Ceará-Mirim, sabe-se, pelas notas escritas e
pela tradição oral, que “Boca da Mata”, até o ano de 1845, era um roçado de plantar
algodão e cereais, de onde o senhor de engenho Manoel Leopoldo Raposo da Câmara
havia tirado traves de boa madeira para construir a casa do engenho “Porão do Norte”,
hoje subúrbio da cidade, e de onde o português Francisco Bernardo de Gouveia tirara
também linhas para edificar a sua moradia, ao poente.
Entre as duas habitações de Manoel Leopoldo e Francisco Bernardo, cruzavam-se as
estradas, uma que ia de Natal e Extremoz para o sertão e outra que vinha de Jacoca para
os engenhos da margem esquerda do vale e praias do norte.
Precisamente no lugar onde as duas estradas se encontravam e que se chamava “Boca
da Mata”, porque ficava na embocadura das referidas estradas para as espessas matas,
fez Luciano Cabral uma pequena casa onde se estabeleceu com venda de aguardente,
frutas e outras mercadorias, mais tarde, seguindo-lhe outros o exemplo: Manoel Medeiros,
Antonio José Victorino e Francisco Velho, que edificaram pequenas casas para negócio,
formando-se deste modo um pequeno núcleo comercial, com “feira”, logo a seguir
organizada, e que, devido ao concurso dos engenhos, já existentes, aliás em número
reduzido, foi tomando incremento, até tornar-se uma das maiores povoações do seu
tempo.
O povoado se foi formando num’outra longa rua, no rumo da estrada da Jacoca, (rua S.
José). No centro da rua principal, e bem no meio da estrada, onde se realizava a feira, foi
levantado um Cruzeiro, como símbolo da crença popular. Ao pé da povoação e à margem
do rio Ceará-Mirim, havia um grande e profundo poço mantido por abundante olho d’água,
que abastecia a população, mas, devido às enchentes do rio, ficou aterrado o poço,
tornando-se difícil a água potável. Hoje existe o grande olheiro, que é a Fonte Publica.
Foi construída na Rua Grande uma casa de oração para a celebração dos atos religiosos,
sob a invocação de Santa Águeda, nome pelo qual ficou o lugar sendo conhecido.
Foi criada uma cadeira de primeiras letras para o sexo masculino, pela resolução
provincial de 28 de junho de 1854 e outra para o sexo feminino pela resolução de 13 de
abril de 1859.
Foram ali se estabelecendo os principais agricultores e proprie-tários de engenhos e o
lugar foi tomando maiores proporções.
O cemitério de Santa Águeda foi construído por iniciativa do presidente da Província, dr.
José Bento da Cunha Figueiredo Junior, e nele foram dispendidos 1:650$000, de
subscrição popular, pela comissão de 7 membros, sob a presidência do vigário da
Freguesia.
Com a mudança da sede do município, a nova vila de Ceará-Mirim passou a aumentar
consideravelmente.
Por lei de 12 de agosto de 1859, foi o termo elevado à categoria de comarca, com a
mesma denominação e limites, a qual foi instalada a 5 de maio de 1877, pelo dr. José
Ignácio Fernandes Barros, 1º juiz de direito, sendo promotor o dr. Manoel Heméterio
Raposo de Mello.
Enfim, a lei n. 837 de 9 de junho de 1882, deu à localidade os predicamentos de Cidade,
sob a designação que conserva.
Em matéria de instrução, sempre a Cidade primou por seus estabelecimentos, que se
podem mencionar.
O coronel Manoel Varella do Nascimento fez construir e ofereceu à Província um prédio
espaçoso destinado a servir de sede à escola pública, o que lhe valeu ser agraciado com o
título de Barão de Ceará-Mirim. Com pequenas modificações, esse prédio, que era
denominado “Casa da instrução”, serve hoje para o grupo escolar “Philippe Camarão”.
Ai funcionou a cadeira de latim e francês, criada pela lei n. 949 de 31 de março de 1885 e
suprimida pelo decreto n. 99 de 10 de março de 1890, do governador provisório dr.
Amynthas Barros.
Em prédio especialmente construído para tal fim, funcionou o Colégio “S. Miguel”, fundado
e dirigido pelo francês Louis Carloman Capdeville, em 1878, e situado no lugar
“Verissimo”. O dr. Francisco de Salles Meira e Sá também manteve e dirigiu, de 1884 a
1888, o Colégio “S. Francisco de Salles”, no mesmo prédio do “Verissimo”, hoje demolido,
e manteve também o “Popular Instituto Literário”, com filial em Touros, e boa biblioteca.
Ultimamente, foram ali fundados e funcionaram o Colégio Pedro II, de propriedade e
direção do sr. Ezequiel de Souza, e o Colégio Rio Branco, do sr. Clementino Câmara,
ambos depois transferidos para a capital.
O lugar é conhecido e afamado, dentro do Estado, pelas suas tradições de elegância e
cavalheirismo.
Possuiu, durante alguns anos, o “Club Recreativo”, com sede própria, à Rua Grande e
depois transferido para o sobrado do engenho, hoje Usina “São Francisco”, cujas festas
faziam o encanto da sociedade não só do Ceará-Mirim, mas igualmente da Capital, que
não tinha similares.
A ideia da abolição teve ali intensa repercussão, sendo um dos seus paladinos o dr. Meira
e Sá, a esse tempo juiz municipal, o qual fundou a “Libertadora do Ceará-Mirim”, no dia 5
de fevereiro de 1888.
Com a proclamação da República, ficou o município sob a direção de um octonato político
constituído pelos srs. Drs. José Ignácio Fernandes Barros e Manoel Ronaldsa de Castilho
Brandão, Padre Antonio de Oliveira Antunes, cel. Felismino do Rêgo Dantas Noronha,
major Elpídio Furtado de Mendonça e Menezes, João Victorino Ferreira Nobre, Manoel
Teixeira da Fonseca e Silva e Francisco Xavier Sobral.
O Club Republicano “15 de Novembro” foi fundado em 1890 e presidido pelo dr. Manoel
Ronaldsa de Castilho Brandão.
No campo do Jornalismo, Ceará-Mirim recebeu notáveis serviços da “A Escola”, que sob a
direção do dr. Meira e Sá, circulou 25 vezes nos anos de 1887 e 1888.
Seguiram-se-lhe outros periódicos: O Santelmo (1887), Ensaios (1889), O Democrata,
(1889), O Município, (1890-1892), Tribuna, (1893), Ceará-Mirim, (1894), Echo Juvenil,
(1894), Esperança, (1902-1905), A União, (1905-1908), O Estro, (1906), A Evolução,
(1906-1908), e a A Razão, (1913-1914). (Ver Dr. Luiz Fernandes “Imprensa Periódica”, na
Revista do Instituto, XI-XII-XIII, 1911-1914, pags. 200-203).
Ceará-Mirim foi teatro de curiosos movimentos, como o que se refere à mudança da “feira”
para o Mercado atual.
O coronel Onofre José Soares, mediante contrato com o governo provincial, obtivera o
direito de construir e explorar, por espaço de 20 anos, o Mercado Público, e edificou o
grande Prédio, que ainda hoje serve ao povo na praça desse nome.
Uma postura municipal obrigava a transferir a feira, que era ainda na Rua Grande, sob
uma latada, para o novo prédio.
Em 19 de janeiro de 1884, o fiscal municipal Enéas Augusto Barbalho (oficio da mesma
data à Câmara, registrado à fls. 11-12), denunciava que Laurindo Pereira Simas, Antonio
Ataliba Cavalcanti, Luiz Francisco Dantas Cavalcanti e outros mandaram o povo arriar as
cargas na Rua Grande. Era a rebeldia popular contra a inovação; mas, esse movimento,
que era inspirado pelo dr. Heráclio de Araujo Vilar, só depois da proclamação da República
é que foi jugulado, com a mudança da feira para o novo Mercado, conforme determinara a
lei provincial.
Ceará-Mirim também possuía obras de fortificação e defesa nas suas costas marítimas.
Genipabu, a graciosa praia que se esconde além da ponta de “Fere-Fogo”, teve um fortim,
mandado construir “para disputar o dessembarque do inimigo”, pelo capitão-mor José
Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque e concluído a 9 de abril de 1809.
Comandava-o o capitão José Xavier de Mendonça e constava de várias peças de artilharia
e outros materiais. (Ver. Inst. vol. VIII, pag. 144).
O forte fora edificado com o trabalho dos oficiais milicianos residentes na circunvizinhança
e pelo braço dos seus moradores e servos.

O MUNICÍPIO DE CEARÁ-MIRIM
Nestor dos Santos Lima

O MUNICÍPIO DE CEARÁ-MIRIM
PARTE 1
O território do importante e rico município de Ceará-Mirim, outrora de Extremoz, limita-se
ao norte, com o município de Touros, pelo rio Maxaranguape, até a sua barra no Atlântico;
a leste, com o oceano e o município de São Gonçalo, desde a barra do rio Guajerú, ou Rio
Doce, passando pela lagoa de Extremoz e até a Massaranduba, pelo riacho desse nome;
ao sul, com essas divisas de São Gonçalo, e a oeste, com o município de Taipu, segundo
a linha estabelecida pela lei estadual n. 422 de 28 de outubro de 1917, que assim dispõe:
“Ao norte, partindo da foz do Riacho Seco, a ponta da Lagoa do Mato, pelo lado de cima;
dai, em linha reta, à Passagem das Pedras; dai, à Cruz do Salvador; desta, pela estrada
de Macaíba, ou das ‘Boladas’, até o Riacho do Mudo, e por este acima, até a Trempe dos
Municípios, no lugar denominado ‘Poço do Juazeiro’.”.
A superfície territorial é de cerca de 2.880 quilômetros quadrados, medindo de norte a sul
48 quilômetros e de leste a oeste 60.
As terras que hoje constituem o município de Ceará-Mirim, foram concedidas a vários
donatários, no início da colonização da Capitania.
Jeronymo de Albuquerque, capitão-mor do Rio Grande do Norte, concedeu várias sortes
de terras, entre outros, a Affonso Alvares, em 7 de março de 1604, a Braz de Mesquita, em
2 de Junho de 1604, a Manoel de Carvalho, a Gaspar Rabello, a Domingos Álvares, a
Jeronimo de Athayde e aos padres da Companhia de Jesus, em 7 de janeiro de 1607,
terras essas situadas, ora na Várzea, ora no rio Seará. O capitão-mor Francisco Caldeira
Castel Branco também concedeu terras na várzea do Seará, na testada das da
Companhia de Jesus, a Beatriz de Paiva, filha do alferes Luiz Gomes, em 4 de outubro de
1613 (Ver. Do Inst. Hist., vol. VIII, págs. 30 a 72).
Quando, no ano de 1614, vieram a Natal o capitão mor de Pernambuco Alexandre de
Moura e o desembargador Manoel Pinto da Rocha, afim de executar a provisão regia que
mandava repartir e dar de novo as terras concedidas e não cultivadas, encontraram as
datas concedidas no rio e na várzea do Seará umas bem aproveitadas e outras
absolutamente incultas e devolutas, que eles deram a terceiros.
Segundo refere Ferreira Nobre, na sua “Breve Notícia da Província do Rio Grande do
Norte”, 1877, os índios potyguares teriam fundado um estabelecimento junto à lagoa
Guajeru, (hoje Extremoz) e os padres jesuítas fundaram um convento, uma bonita Igreja e
um prédio com acomodação para a Câmara Municipal e Cadeia.
Não padece dúvida que os jesuítas, tendo obtido uma vasta sesmaria de quatorze léguas,
que pegava da gamboa do Jaguaribe, à margem do Potengi, defronte da cidade de Natal,
correndo para oeste até emparelhar com a lagoa do Guajerú, três mil braças e dez palmos,
em direção ao noroeste seiscentas braças e daí até o “Mar Salgado”, (data 102 do auto de
repartição de terras, cit. Ver., pág. 40), embora só tivessem ali, até 27 de fevereiro de
1611, “dois currais de vacas, algumas éguas, e dois escravos da Guiné”, tiveram
necessariamente de povoar e aproveitar as ditas terras, onde fundaram o aldeamento de
Guajeru, com o convento, a Igreja e mais acessórios.
Mas, tendo o alvará régio de 1755 expulsado do reino de Portugal a Companhia de Jesus,
mandou vilar os índios domesticados, concedendo-lhes terras, de uma légua, em quadro,
e submetendo-os a uma administração civil.
No desempenho dessa missão, o desembargador Bernardo Coelho da Gama Vasco criou
a Vila de Extremoz e a instalou no dia 3 de maio de 1760, desmembrando-a da cidade de
Natal, a quem pertencia.
O aldeamento jesuítico, então transformado na Vila de Extremoz, era denominado “Aldeia
do Guajeru”, sob a invocação de São Miguel, compunha-se de índios caboclos da língua
geral e tapuyos da nação dos Payacús (Ver. Inst. Vol. XI-XIII, pag. 178).
Outras aldeias também se formaram no aludido território doado à Companhia, como sejam
a de Potyguassú ou Camarão, em Igapó, e a de Jacaúna, nos terrenos do norte, em
Conapolumirim, ou Porto-mirim, como entendia o des. Luiz Fernandes (Ver. Cit., vol. VIII,
pag. 102).
A mais próspera das aldeias era a de Guajeru, que se tornou “vila”, em 1760, e tal foi o seu
desenvolvimento, que foi considerada “Cidade”. (V. Questão de limites entre Rio Grande
do Norte e Ceará, vol. 2, pág. 55).
Os demais núcleos ficaram simples povoados, que ainda são.
O território do antigo município de Extremoz se estendia até ao de Lages, hoje; mas, os
moradores dessa povoação, em virtude da Lei n. 10 de 6 de março de 1835, ficaram
pertencendo à freguesia de Sant’Anna do Mattos. A área municipal correspondia à da
freguesia de Nossa Senhora dos Prazeres e São Miguel de Extremoz, (lei n. 264 de 7 de
abril de 1852).
Poucos anos depois de criado o município, a vila e a freguesia, isto é, em 1775, Extremoz
do Norte compreendia, pelo poente, as terras até Aguamaré, onde dividia com Assu, e
pelo lado leste, vinha até os limites de Natal, pelo rio Guajerú. Contava 16 fazendas, 484
fogos, e 1.123 pessoas de desobriga, sendo caboclos da língua geral 194 fogos e 194
pessoas e portugueses 208 fogos e 1.097 pessoas. (A República, de 1892, num. 159).
Erigida a vila de Extremoz e instalado o Senado da Câmara, segundo o livro mais antigo,
aberto a 27 de julho de 1776, foi o município dirigido por José Gomes de Mello, como
presidente do Senado, Francisco José de Amorim, como juiz ordinário, e Antônio dos
Santos Vila Nova, como vereador mais velho. Depois de várias administrações locais, em
que figuram os ancestrais das mais distintas famílias do município, entre as quais o
sargento-mor Domingos Gomes Maciel, Alexandre Pereira de Britto, José Fernandes
Carrilho, Manoel Rodrigues Braga da Luz, sargento-mor Ignácio Duarte, comandante
Pedro Paulo Vieira, como juízes presidente e vereadores, eis que em 1828, foi extinto o
Senado da Câmara, substituído pela Câmara Municipal, que foi instalada a 27 de julho de
1829, sob a presidência de Manoel Varella do Nascimento, que se conservou por dois
quatriênios, de 1829 a 1832 e de 1837 a 1840, José Francisco Xavier da Silva, de 1833 a
1836, Joaquim José Pinto, de 1841 a 1844 e de 1845 a 1848, Manoel Teixeira da Silva, de
1849 a 1852, padre Cândido José Coelho, de 1852 a 1856, e Francisco de Paula Soares
da Câmara, eleito para o quadriênio de 1857 a 1860, quando ocorreu a mudança da sede
da vila e município para o lugar “Boca da Mata”, que é hoje a bela cidade de Ceará-Mirim.

PARTE 2
A 29 de setembro de 1821, o Senado da Câmara de Extremoz jurava as bases da
Constituição, sendo presidente o alferes Alexandre da Silva de Andrade, Francisco Xavier
Torres e Luiz José da Penha.
Na madrugada de 21 de dezembro desse ano, surgiu um movimento de rebeldia contra o
vigário João Ignácio de Britto.
Para diretor da vila dos índios era proposto, em verea-ção de 25 de janeiro de 1822,
Manoel Ferreira Nobre.
A proclamação da Independência Nacional, em 1822, foi recebida pelo Senado da Câmara
de Extremoz, composto de Pedro Paulo Vieira, João José de Mello e Francisco Xavier de
Souza, que prestaram juramento de fidelidade ao Imperador D. Pedro I, de cuja aclamação
só tiveram conhecimento oficial, na vereação de 15 de janeiro de 1823.
A 4 de junho de 1825, foi jurada solenemente a Constituição de 25 de março de 1824.
Os índios vilados em “Veados” eram dirigidos por cidadãos indicados ao governo da
capitania pelo Senado da Câmara. Foram diretores ali, Hyppolito da Cunha Conceição, em
1822, Manoel Ferreira Nobre, em 1824, José Alves de Carvalho, em 1825, e Clemente Pio
de Andrade, em 1832.
Informava, a 7 de setembro de 1839, o presidente D. Manoel de Assis Mascarenhas, à
Assembleia Provincial, que “os índios de Extremoz, em número de 700, tinham uma légua
de terras na cidade dos Veados, pouco trabalhavam em agricultura, viviam de pesca e de
trabalhar a jornal”. (Vide Relatório, 1839).
A primeira escola primária oficial foi instalada em 1832, sob a regência de Antonio
Victorino Ferreira Nobre, substituído em 1840, por José Bento da Fonseca.
A primeira Câmara Municipal de Extremoz foi eleita a 1º de junho de 1829 e empossada a
27 do mesmo mês e compunha-se dos cidadãos Manoel Varella do Nascimento, Gonçalo
Ferreira da Rocha, Francisco Xavier de Souza, Felippe Varella Santiago, Francisco de
Paula Soares da Câmara, Antônio Felix de Carvalho e Francisco Xavier de Carvalho.
O município de Extremoz compreendia, a esse tempo, uma Igreja Matriz, uma capela nos
Touros, 5 povoações, 2 escolas particulares, tendo a da vila 12 alunos e a dos Touros 20.
A última sessão da Câmara de Extremoz, antes da mudança, foi a 22 de janeiro de 1857.
A resolução provincial n. 321 de 18 de agosto de 1855 elevou a povoação de “Boca da
Mata” à categoria de Vila, com o nome de Ceará-Mirim, e para ai transferiu a sede do
município. Outra resolução n. 345 de 4 de setembro de 1856 suspendeu a execução da
anterior, mas, finalmente, a de n. 370 de 30 de junho de 1858 mandou efetuar a mudança.
Durante 21 meses, não funcionou a Câmara Municipal, de modo que, só a 14 de outubro
de 1858, é que se realizou a primeira sessão na nova vila de Ceará-Mirim, sob a
presidência de Francisco de Paula Soares da Câmara e sendo vereadores Miguel
Germano de Oliveira Sucupira, José de Goes de Vasconcellos Borba, Bento Gervásio
Freire do Revorêdo, Padre João Coelho de Souza e Joaquim Romão Seabra de Mello.
Entre outros presidentes da Câmara Municipal, encontrava-se o cel. Luiz Antonio Ferreira
Souto, no quatriênio de 1864 a 1867, quando renunciou, por ter mudado residência para
Assú.
Em 1882, foi a Câmara Municipal suspensa quando era presidente o dr. Heráclio de Araujo
Villar, assumindo a administração municipal o padre Antonio de Oliveira Antunes.
Ao tempo da grande seca de 1877-1879, o governo provincial criou em Extremoz uma
colônia de flagelados, denominada “Sinimbú” à margem esquerda do rio “Mudo”, ou
“Caratan” contendo 1.200 palhoças para 6.600 habitantes, sob a administração de Arsênio
Pimentel e Westremundo Coelho.
Era presidente da província o Dr. Elyseu de Souza Martins.
Mais tarde, porém, em 1878, o vice-presidente Dr. Manoel Januário Bezerra Montenegro
extinguiu a colônia “Sinimbú” e mandou arrolar o respectivo material.

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