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Intensivo Ii - Processo Penal

Este documento discute o conceito e classificação de questões prejudiciais no processo penal brasileiro. As questões prejudiciais são questões de direito material que devem ser resolvidas antes do mérito da ação penal e podem levar à suspensão do processo caso sejam devolvidas para outro juízo. O documento classifica as questões prejudiciais de acordo com sua natureza, competência para julgá-las, efeitos, e grau de influência sobre a questão prejudicada.
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Intensivo Ii - Processo Penal

Este documento discute o conceito e classificação de questões prejudiciais no processo penal brasileiro. As questões prejudiciais são questões de direito material que devem ser resolvidas antes do mérito da ação penal e podem levar à suspensão do processo caso sejam devolvidas para outro juízo. O documento classifica as questões prejudiciais de acordo com sua natureza, competência para julgá-las, efeitos, e grau de influência sobre a questão prejudicada.
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1

INTENSIVO II

QUESTÕES PREJUDICIAIS

1. Conceito

É a questão valoração penal ou extrapenal, que deve ser enfrentada pelo juiz antes de
decidir o mérito final.
Ex: crime de abandono material (art. 244, CP). Um eventual exame de paternidade no civil
é uma questão prejudicial. O juiz só poderá condenar por abandono material se o exame
demonstrador a paternidade do agente. A paternidade é a questão prejudicial.
Ex: crime de lavagem, a infração penal anterior é a questão prejudicial.

2. Natureza Jurídica

1ª Corrente: elementar da infração penal.


Elementares são dados essenciais da figura típica, cuja ausência pode acarretar uma
atipicidade absoluta ou relativa (desclassificação). Circunstancias são dados periféricos que
gravitam ao redor da figura típica. Podem aumentar ou diminuir a pena, mas não interferem no
crime. Posição minoritária.

2ª Corrente: é a que prevalece. Questão prejudicial é uma espécie de conexão.

3. Características

a) Anterioridade: a questão prejudicial deve ser apreciada antes da resolução do mérito


principal.
b) Essencialidade: interdependência ou necessariedade: há uma relação lógica entre a
questão prejudicial e a questão prejudicada, cuja existência depende daquela.
c) Autonomia: a questão prejudicial pode ser objeto de uma ação autônoma.

4. Distinção entre questões prejudiciais e questões preliminares

Questões prejudiciais Questões preliminares


Relacionadas ao direito material Relacionadas ao direito processual
Existência autônoma Dizem respeito à ausência de pressupostos
processuais ou das condições da ação.
Pode ser apreciada pelo juízo penal ou Não são dotadas de existência autônoma
extrapenal.
2

Condicionam o conteúdo das decisões Só podem ser analisadas pelo juízo penal.
referentes à questão prejudicada. O juiz fica
vinculado.
Impedem as decisões sobre as questões
principais.

5. Classificação das QP

5.1. Quanto à natureza

a) questão prejudicial homogênea, comum ou imperfeita: a QP pertence ao mesmo ramo


do direito que a questão prejudicada.
Ex: lavagem de capitais – para condenar o juiz deve provar que os valores ocultados eram
provenientes de uma infração penal (direito penal).
O CPP nos arts. 92 e 93 não trata das prejudiciais homogêneas. Na verdade, sua solução
passa pela aplicação das regras de conexão probatória ou instrumental (art. 76, III). O ideal é julgar
os dois crimes juntamente.

b) questão prejudicial heterogênea jurisdicional ou perfeita: é aquela que versa sobre


outro ramo do direito.
Ex; bigamia e validade do primeiro casamento. . ex: art. 155

5.2. Quanto à competência

a) questão prejudicial não devolutiva: é aquela que deve ser apreciada no próprio juízo
criminal.
Correspondem às questões prejudiciais homogêneas.

b) questão prejudicial devolutiva

à Devolutiva absoluta (obrigatória): obrigatoriamente serão analisadas por um juízo


extrapenal.
Correspondem às prejudiciais heterogêneas relativas ao estado civil das pessoas.
(art. 92)

à Devolutiva relativa (facultativa): são aquelas que eventualmente podem ser


apreciadas pelo juízo extrapenal.
3

Correspondem as prejudiciais heterogêneas que não dizem respeito ao estado civil


das pessoas. (art. 93)

5.3. Quanto aos efeitos

a) questões prejudiciais necessárias (em sentido estrito): são aquelas que sempre
acarretam a suspensão do processo.
- Devolutiva absoluta.

b) Questão prejudicial em sentido amplo: Nem sempre haverá a suspensão do processo, já


que tais questões podem ser apreciadas pelo juízo penal.
- Não devolutiva/ devolutiva relativa

5.4. Quanto ao grau de influencia sobre a questão prejudicada

a) prejudicial total: é aquela que tem o condão de fulminar a existência do crime. Ex:
bigamia, validade do 1º casamento.

b) prejudicial parcial: é aquela que se limita ao reconhecimento de uma circunstância,


deixando incólume a existência da infração penal. Art. 92 e 93 CPP = existência da infração.

6. Sistemas de Solução das Prejudiciais

a) Da cognição incidental (predomínio da jurisdição penal): o juiz penal sempre terá


competência para apreciar a questão prejudicial, ainda que pertencente a outro ramo do direito.
O aspecto positivo é que dá mais celeridade ao processo. E o aspecto negativo é que o juízo
criminal vai resolver tudo, possível violação ao princípio do juiz natural.
b) Sistema da prejudicialidade obrigatória: o juiz criminal jamais será competente para
apreciar prejudicial referente a outro ramo do direito.
O aspecto positivo é o respeito ao princípio do juiz natural. E o negativo é a celeridade do
processo.

c) Sistema da prejudicialidade facultativa: o juiz penal poderá ou não remeter a decisão


sobre a prejudicial heterogênea ao juízo extrapenal.

d) Sistema eclético ou misto: É o adotado pelo CPP brasileiro. Resulta da fusão do sistema
da prejudicialidade obrigatória com o sistema da prejudicialidade facultativa.
4

Quanto às prejudiciais heterogêneas relativas ao estado civil das pessoas, vigora o sistema
da prejudicialidade obrigatória (bigamia, paternidade, etc). Quanto às demais questões
prejudiciais heterogêneas, vigora o sistema da prejudicialidade facultativa.

7. Questão Prejudicial Devolutiva Absoluta (art. 92, CPP)

7.1. Pressupostos

a) Existência da infração: ex: furto contra ascendente, não é uma prejudicial, pois não
interfere na existência ou não do crime, é sim uma circunstância agravante
b) controvérsia séria e fundada
c) Questão prejudicial heterogênea relacionada ao estado civil das pessoas (validade do
casamento, paternidade, filiação, idade, etc)

7.2. Consequências

a) Inquirição das testemunhas e produção de outras provas de outras provas de natureza


urgente.
Não confundir o art. 92 com o art. 366, CPP.
No art. 92 a prova testemunhal deve ser obrigatoriamente produzida. Já no 366, CPP é
facultativa. Súmula 455, STJ: O simples decurso do tempo não autoriza a inquirição antecipada da
prova.

b) Suspensão do processo e da prescrição*: até o transito em julgado da decisão cível. (art.


92 + art. 116, I)

*Causas de suspensão do processo e da prescrição:


- questão prejudicial
- art. 366 do CPP (citação por edital)
- art. 89 da Lei 9.099/95 (suspensão condicional do processo)
- Parcelamento do débito tributário (tem que ocorrer entes do recebimento da denúncia).
Art. 83, §§ 2º e 3º da Lei 9.430/96.
- CF art. 53, §§ 3º e 5º = denuncia contra parlamentar, a casa pode mandar suspender o
processo.

** Causas de suspensão do processo e não da prescrição:


- doença mental superveniente à infração penal (art. 152, CPP)
- Nomeação de curador
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c) Intervenção do MP no processo cível: em virtude do princípio da obrigatoriedade, essa


intervenção poderá se dar mesmo nos casos em que o MP não tenha legitimação no civil.

8. Questão prejudicial devolutiva relativa (art. 93)

8.1. Pressupostos

a) Existência da infração
b) questão prejudicial heterogênea não relativa ao estado civil das pessoas. Ex: exercício
arbitrário das próprias razões (STF 75169)
c) Ação cível em andamento
d) questão de difícil solução
f) ausência de limitações quanto à prova fixadas pela lei civil (art. 227).

Obs: no processo penal, vigora o princípio da busca da verdade e da liberdade quanto aos
meios de prova. Por isso, se houver restrições à prova fixadas na lei civil, não é possivel o
reconhecimento da prejudicial, já que haveria evidente prejuízo se a solução da controvérsia
tivesse que ocorrer no cível.

8.2. Consequências

a) inquirição das testemunhas e produção de outras provas urgentes


b) suspensão do processo e da prescrição. O juiz criminal determina o prazo de suspensão,
que pode ser prorrogado. Findo esse prazo, caso não haja decisão do cível, o juiz penal retomará a
competência para apreciar a prejudicial, ainda que incidentalmente.
c) intervenção do MP no cível

9. Recursos cabíveis
 
Contra a decisão que determinar a suspensão do processo, caberá RESE (art. 581, XVI,
CPP). Atenção, pois a lei estabelece que o cabimento do referido recurso somente será possível se
houve uma decisão de suspensão.
Contra a decisão que não determinar a suspensão do processo, esta será irrecorrível.
 
§ 2o  Do despacho que denegar a suspensão não caberá recurso.
 
Apesar da irrecorribilidade da referida decisão, havendo prejuízo de liberdade de
locomoção, será cabível a impetração de habeas corpus.
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10. Decisão civil e sua repercussão no âmbito penal

A decisão proferida pelo juízo penal quanto às questões prejudiciais heterogêneas não
relativas ao estado civil das pessoas não faz coisa julgada no âmbito civil, pois a apreciação dessa
controvérsia é feita de maneira incidental e não está acobertada pelos limites objetivos da coisa
julgada.
Por outro lado, a decisão do juízo civil acerca de questão prejudicial heterogênea, relativa
ou não ao estado civil das pessoas, faz coisa julgada material, pouco importando se houve ou não
a suspensão do processo criminal.

11. Princípio da suficiência da ação penal

Em determinadas situações o processo penal é por si só suficiente para dirimir todas as


controvérsias, sem necessidade de remeter as partes ao civil para a solução da questão prejudicial.
É o que ocorre com as questões prejudiciais heterogêneas não relativas ao estado civil ds pessoas
e que não sejam de difícil solução.

EXCEÇÃO PROCESSUAL

1. Conceito

São procedimentos incidentais de competência do juízo penal nos quais se discute a


ausência de pressupostos processuais ou de condições da ação, objetivando o afastamento do juiz
(ex. suspeição), do juízo (ex: incompetência), ou até mesmo a extinção do processo (ex: coisa
julgada)

2. Distinção entre exceção e objeção

2.1. Exceção: É matéria de defesa que não pode ser conhecida de ofício pelo juiz. Só será
apreciada se arguida pelas partes.
Frisa-se que a Sumula 33 do STJ só se aplica ao Processo Civil. Ou seja, no processo penal,
pode o juiz reconhecer incompetência relativa de oficio.

2.2. Objeção: É a matéria de defesa que pode ser reconhecida pelo juiz de ofício.
O art. 95 utiliza a palavra “exceção” de maneira incorreta, eis que as matérias ali colocadas
podem ser reconhecidas de ofício pelo juiz. Na verdade, o art. 95 trata de objeções e não de
exceções.

Art. 95. Poderão ser opostas as exceções (objeções) de:


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I - suspeição;
II - incompetência de juízo;
III - litispendência;
IV - ilegitimidade de parte;
V - coisa julgada.

3. Espécies

3.1. Dilatórias: São aquelas que visam apenas a procrastinação do processo, retardar o
processo.

a) Suspeição/impedimento/incompatibilidade: reconhecida a suspeição, remetem-se os


autos ao juízo competente.
b) Incompetência de juízo: remetem-se os autos ao juízo competente.
c) Ilegitimidade de parte (ad processum): a legitimidade pode ser ad causam e ad
processum.
Sendo a ilegitimidade ad causam impedirá o oferecimento de denúncia ou queixa, por falta
de legitimidade. Reconhecida essa ilegitimidade, haverá extinção do feito.
Caso se trate de legitimidade ad processum (ex.: falta de representação de menor), poderá
ser sanada, sem extinção do processo.

3.2. Peremptórias: São aquelas que provocam a extinção do feito.

a) Litispendência: outro processo igual tramitando, levará à extinção do processo.


b) Coisa julgada:
c) Ilegitimidade de parte (ad causam). Ex:Denúncia oferecida pelo MP em crime de ação
penal privada, nesse caso, o juiz deve extinguir o processo.

4. Procedimento

a) Autos apartados: as exceções são processadas, em regra, em autos apartados, ou seja, é


apresentada em petição autônoma.
b) Suspensão do processo: em regra as exceções não acarretam suspenção do processo.

Art. 111. As exceções serão processadas em autos apartados e não suspenderão, em


regra, o andamento da ação penal.

Exceção: exceção de suspeição, quando houver concordância da parte contrária. Neste


caso, suspende-se o processo até que a exceção seja resolvida.
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Art. 102. Quando a parte contrária reconhecer a procedência da arguição, poderá ser
sustado, a seu requerimento, o processo principal, até que se julgue o incidente da
suspeição.

5. Exceção de impedimento

Referem-se a causas internas do processo que prejudicam a imparcialidade do magistrado.


A atuação do juiz impedido é causas de inexistência do processo.
As causas de impedimento são taxativas, ou seja, numerus clausus (arts. 252/253), não
admitindo interpretação extensiva.

Art. 252.  O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:


I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou
colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério
Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;
II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como
testemunha;
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito,
sobre a questão;
IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim em linha reta ou
colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.

5.1. Causas

O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que (ROL TAXATIVO – art. 252):

I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou


colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do
Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;

Neste rol também está incluído o companheiro.


Deve permanecer no processo aquele que atuou em primeiro lugar. A primeira autoridade
que “entrar” no processo, “ficará” nele.

II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como


testemunha;

As funções são as do inciso anterior (defensor, advogado, MP, policial, auxiliar ou perito).

III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de


direito, sobre a questão;
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Um juiz não pode atuar no processo em sede de 1ª e 2ª instância. É indispensável que


tenha ocorrido algum pronunciamento de fato ou de direito sobre a questão. Logo, se houve mero
despacho de movimentação processual, não haverá impedimento.
O fato de proferir sentença não é caso de impedimento para que esse mesmo magistrado
possa fazer o juízo de admissibilidade de determinado recurso. (STF, HC 94.089)
Se um juiz atuou em determinado processo contra um acusado, não há qualquer
impedimento caso venha a atuar em outro processo criminal contra o mesmo acusado (STF, HC
83.020).
Frisa-se que há alguns julgados do STF no sentido de que essa vedação estende-se aos
processos administrativos.

IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou


colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no
feito.

Há ainda as hipóteses do art. 253:

Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que
forem entre si parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o
terceiro grau, inclusive.

Lei 12.694/12 = entrará em vigor em 23/10/2012.

Ela passa a conceituar organizações criminosas. Antes se utilizava o conceito descrito na


Convenção de Palermo. Ocorre que o STF disse que não se pode adotar aquela conceituação.

Art. 2o  Para os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a associação, de 3
(três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas,
ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de
qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior
a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional.  

Art. 1o  Em processos ou procedimentos que tenham por objeto crimes praticados por
organizações criminosas, o juiz poderá decidir pela formação de colegiado para a prática
de qualquer ato processual, especialmente:  

I - decretação de prisão ou de medidas assecuratórias;  

II - concessão de liberdade provisória ou revogação de prisão;  

III - sentença;  

IV - progressão ou regressão de regime de cumprimento de pena;  


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V - concessão de liberdade condicional;  

VI - transferência de preso para estabelecimento prisional de segurança máxima; e  

VII - inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado.  

Haverá um colegiado que irá julgar o caso, tornar a decisão um pouco menos pessoal.
Nesse órgão colegiado criado, não poderá haver parentes (esposa, pai, irmão, etc).

6. Exceção de suspeição

Em regra, referem-se a uma relação externa ao processo, que prejudica a imparcialidade


do magistrado.
O procedimento é o mesmo adotado na exceção de impedimento e de incompatibilidade.

6.1. Causas de suspeição

O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes
(art. 254):

I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;

Uma relação de mera simpatia não é causa de suspeição. A amizade, aqui, refere-se às
partes e não aos seus advogados.
A amizade intima ou inimizade capital deve partir do juiz e não da parte em relação ao
magistrado.
Se a parte injuriar o juiz não poderá argüir suspeição (art. 256, CPP – ninguém poderá se
beneficiar da própria torpeza).
A amizade íntima com o advogado, que não é parte, não é causa de suspeição, o que,
todavia, não impede que o magistrado se afaste do processo por razões de foro íntimo.

II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a


processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;

III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim, até o terceiro grau,
inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado
por qualquer das partes;

IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;


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V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;

Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.

6.2. Consequência
O julgamento prolatado por juiz suspeito autoriza o reconhecimento de nulidade absoluta
(art. 564, I), ab initio (primeiro contato com o processo). Ex.: recebimento da denúncia, etc.

6.3. Ônus da prova


Cabe à parte (excipiente) provar que o juiz (excepto) é suspeito.

6.4. Razões de foro íntimo (cláusula aberta)


As razões de foro íntimo não precisam ser declaradas, fundamentadas nos autos.
Antigamente, em razão da Resolução 82 do CNJ, embora a alegação de suspeição por
razões de foro íntimo não precisasse serdeclarada nos autos, deveria ser realizada em ofício
reservado à Corregedoria local ou órgão diverso designado pelo Tribunal. Entretanto, a CNJ,
Resolução 82, encontra-se suspensa, em razão do MS 28.215 (STF).
Hoje, portanto, o juiz só alega o motivo de foro íntimo, sem precisar fundamentá-lo.

6.5. Incompatibilidade

Causas que prejudicam a imparcialidade do magistrado, mas não estão listadas entre as
causas de impedimento/suspeição.
Se confunde por vezes os casos de suspeição por foro intimo.
Pode ensejar nulidade absoluta.
Não há um rol taxativo.
Para ser declarada deve haver prejuízo para a parte.

 Resolução 82, CNJ = está ligada à suspeição por razão de foro intimo. Estabeleceu a
obrigatoriedade de comunicar as razões de foro íntimo, reservadamente às Corregedorias.
*MS 28.215 – Associação dos Magistrados Brasileiros – STF deferiu medida liminar para
suspender a necessidade de comunicação às Corregedorias. Entendeu que a matéria deve ser
regulamentada por lei complementar e não através de uma resolução do CNJ, uma vez que cria
obrigações. Não julgou o mérito.

 CPC: art. 135, §único.


O juiz pode reconhecer por razões de foro intimo e não há necessidade de revelar as razões
(STF HC 82.798).
  Art. 135.  Reputa-se fundada a suspeição de parcialidade do juiz, quando:
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  Parágrafo único.  Poderá ainda o juiz declarar-se suspeito por motivo íntimo.

6.6. Causas de incompatibilidade


A doutrina diverge quanto às hipóteses de incompatibilidade:

a) São as situações do art. 253


Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem
entre si parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive.
Há, porém, outros que entendem que o art. 253 seria causa de impedimento.

b) Abrange a suspeição e o impedimento


Para esses, a incompatibilidade seria o gênero, enquanto a suspeição e o impedimento
seriam as espécies.

c) Situações previstas nas Leis de Organização Judiciária (majoritária)


De qualquer sorte, qualquer que seja o entendimento adotado, prevalece a ideia de que se
trata de nulidade absoluta.

7. Suspeição/impedimento de membro do MP

Art. 258. Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos processos em que o juiz ou
qualquer das partes for seu cônjuge, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a eles se estendem, no que Ihes for aplicável, as
prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes.

Segundo doutrina majoritária, caso o Promotor seja declarado suspeito ou impedido não
haverá nulidade, invalidação do ato processual.
O julgamento dessa exceção caberá ao juiz de 1º grau, sendo, conforme o CPP, irrecorrível.

Art. 104. Se for arguida a suspeição do órgão do Ministério Público, o juiz, depois de ouvi-
lo, decidirá, sem recurso, podendo antes admitir a produção de provas no prazo de três
dias.

No entanto, os Promotores de Justiça alegam a não recepção do art. 104 do CPP pela CF,
eis que restaria prejudicada a sua independência funcional. Nesse caso, caberia a um órgão
superior do MP decidir sobre a exceção.
Provas do MP: O artigo 104 é incompatível com o sistema acusatório e com o princípio do
promotor natural. Se houver a argüição, o ideal é que a controvérsia fique dentro do p´roprio MP,
aplicando, assim, o art. 28, CPP.
O afastamento do MP pelo juiz com base no art. 104 pode ser impugnado por meio de
mandado de segurança.
13

8. Suspeição/impedimento da autoridade policial

A autoridade policial deve se declarar suspeita, mas a parte não pode requerer essa
suspeição. Isso porque, o IP é mero procedimento administrativo de natureza inquisitorial.

Art. 107. Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito, mas
deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal.

9. Suspeição e impedimento dos Jurados

São convocados 25 jurados para comparecerem ao Plenário do Júri, sendo que, para a
instalação da sessão, são necessários 15 jurados presentes.
O jurado deve reconhecer sua suspeição de ofício. Não reconhecendo a suspeição de ofício,
as partes podem recusar os jurados motivadamente (número indeterminado de recusas).
A recusa deve ser decidida pelo juiz, de plano. Nesse caso, o juiz pode inquirir o jurado
sobre a suspeição e, em caso de negativa, deve o excipiente apresentar provas.

Art. 448. São impedidos de servir no mesmo Conselho:


I – marido e mulher;
II – ascendente e descendente;
III – sogro e genro ou nora; IV – irmãos e cunhados, durante o cunhadio;
V – tio e sobrinho;
VI – padrasto, madrasta ou enteado.
§ 1o O mesmo impedimento ocorrerá em relação às pessoas que mantenham união
estável reconhecida como entidade familiar. § 2 o Aplicar-se-á aos jurados o disposto sobre
os impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades dos juízes togados.

Art. 449. Não poderá servir o jurado que:


I – tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo processo, independentemente da
causa determinante do julgamento posterior;
II – no caso do concurso de pessoas (cisão processual), houver integrado o Conselho de
Sentença que julgou o outro acusado;
III – tiver manifestado prévia disposição para condenar ou absolver o acusado.

Frisa-se que, jurados excluídos por impedimento ou suspeição, são computados para o
número mínimo de 15 (art. 451).
Quanto à consequência da participação de jurado impedido em julgamento, deve-se
lembrar de que antes da reforma de 2008 a votação era aberta até o último voto, razão pela qual,
a participação de jurado impedido gerava nulidade relativa, devendo ser comprovado o prejuízo (4
x 3). Hoje, o juiz interrompe a abertura de votos quando forem atingidos 4 votos na mesma
direção, razão pela qual, há nulidade absoluta, já que impossível determinar o grau de influência
do jurado impedido.
10. Procedimento das Exceções de Suspeição e Impedimento
14

Aplica-se à suspeição, ao impedimento e à incompatibilidade.

a) Competência do Tribunal: a competência caberá ao Tribunal quando a suspeição tiver


como excepto um juiz de 1º grau, e este não concordar. Ou seja, contrariamente às demais
exceções, a suspeição não é apreciada pelo próprio juiz.

b) Reconhecida de ofício ou por requerimento: não reconhecida de ofício pelo juiz, a


suspeição deve ser arguida pelas partes por escrito na primeira oportunidade que tiver, sob pena
de preclusão. Todavia, no júri, poderá ser argüida oralmente.
Quando a suspeição for arguida pelo advogado, deverá contar com procuração com
poderes especiais.
Discute-se se o assistente à acusação tem legitimidade para arguir a suspeição. Doutrina
clássica (Tourinho Filho, etc.) entende que o assistente não tem legitimidade, por ter interesse
meramente patrimonial. Por outro lado, a doutrina moderna entende ser cabível a arguição pelo
assistente, eis que este não tem apenas interesse patrimonial, mas também em relação à justa
aplicação da pena (justiça).

- MP, advogado (com poderes especiais) e Assistente de acusação.

c) Oposta, pelas partes, na primeira oportunidade: sendo a suspeição alegada pela


acusação, deverá fazê-lo em sede de oferecimento de denúncia ou queixa. Já a defesa deverá
apresentar a exceção no momento da resposta à acusação.
Ainda que não arguida na primeira oportunidade, é certo que decisão proferida por juiz
suspeito viola o devido processo legal. Logo, nada impede que essa nulidade absoluta seja arguida
em preliminar de futura e eventual apelação.
Após o trânsito em julgado, só pode ser utilizado habeas corpus ou revisão criminal, em
sentença condenatória ou absolutória imprópria. Para a sentença absolutória própria, não há
instrumento a ser utilizado, eis que benéfica ao réu.

d) Suspensão do processo: A oposição das exceções, em regra, não acarretam a suspensão


do processo. Porém, a exceção de suspeição poderá acarretar a suspensão, desde que haja
concordância da parte contrária.

Art. 102.  Quando a parte contrária reconhecer a procedência da argüição, poderá ser


sustado, a seu requerimento, o processo principal, até que se julgue o incidente da
suspeição.

e) Decisão do juiz: o juiz excepto ao receber a exceção, poderá aceitar a suspeição ou não.
15

- Concorda com a exceção: remetem-se os autos ao juiz substituto. Contra essa


decisão não cabe recurso.
- Discorda da exceção: o juiz apresentará resposta por escrito em 3 dias, sendo os
autos encaminhados ao TJ em 24 horas.

Art. 100. Não aceitando a suspeição, o juiz mandará autuar em apartado a petição, dará
sua resposta dentro em três dias, podendo instruí-la e oferecer testemunhas, e, em
seguida, determinará sejam os autos da exceção remetidos, dentro em vinte e quatro
horas, ao juiz ou tribunal a quem competir o julgamento.

e) Decisão do Tribunal: rejeitada a suspeição pelo juiz, os autos são encaminhados ao


Tribunal, que poderá:
- Indeferir liminarmente a exceção.
- Determinar a instrução e proferir a subsequente decisão.

§ 1o Reconhecida, preliminarmente, a relevância da arguição, o juiz ou tribunal, com


citação das partes, marcará dia e hora para a inquirição das testemunhas, seguindo-se o
julgamento, independentemente de mais alegações. §

2o Se a suspeição for de manifesta improcedência, o juiz ou relator a rejeitará


liminarmente.

f) Recurso
Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:
III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;

Por que não cabe RSE contra a decisão de suspeição? Porque, ao contrário das demais
exceções, a suspeição é julgada pelo Tribunal, sendo que somente cabe RSE para impugnar
decisões de 1º grau.
Desse modo, entende-se que a decisão é irrecorrível. Na prática, cabe MS ou HC, bem
como recurso especial ou extraordinário.

11. Exceção de incompetência (declinatória fori)

Divide-se em:
a) Incompetência absoluta
b) Incompetência relativa

11.1. Iniciativa
Pode ser reconhecida mediante requerimento das partes ou de ofício pelo juiz (tanto a
incompetência absoluta quanto a relativa).
16

11.2. Momento
a) Incompetência absoluta: Pode ser reconhecida de ofício pelo juiz enquanto não
esgotada a sua jurisdição, ou seja, até o momento da prolatação da sentença. Essa prolatação
refere-se à entrega da decisão às mãos do Escrivão.

b) Incompetência relativa: Pode ser arguida pelas partes no primeiro momento que
falarem nos autos, sob pena de preclusão.
Além disso, pode ser reconhecida de ofício pelo juiz até o início da instrução probatória,
respeitando-se, assim, o princípio da identidade física do juiz. Desse modo, evita-se que o juiz
instrua todo o processo para, só ao final, considerar-se incompetente.
Cumpre frisar que a Súmula 33 do STJ não tem aplicação no processo penal, mas tão
somente no processo civil. Isso porque, no processo penal aplica-se o princípio da busca da
verdade real.

11.3. Decisão da exceção


a) Procedência: Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou
sentença: III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição.
b) Improcedência: Caberá arguição em preliminar de apelação, habeas corpus ou mandado
de segurança.
c) Reconhecimento de ofício: Reconhecida a incompetência de ofício pelo juiz caberá RSE
(art. 581, II).
d) Não reconhecimento de ofício: Por outro lado, não havendo o reconhecimento de ofício,
as partes poderão opor a exceção de incompetência absoluta ou relativa.

11.4. Competência: é apreciada pelo próprio juiz

11.5. Recurso: Caberá RESE se julgada procedente. Se julgada improcedente não caberá
recurso. Porém, não impede que o vício referente à incompetência volte a ser argüido em
preliminar de futura apelação.

Pegar colegas

12. Exceção de ilegitimidade

Pode ser:
12.1. Ilegitimidade ad causam
17

Trata-se da pertinência subjetiva da ação. Ou seja, trata da titularidade da ação, que pode
ser pública ou privada. É, pois, condição da ação, que, uma vez ausente, gera nulidade absoluta.

12.2. Ilegitimidade ad processum


Trata-se de um pressuposto processual de validade, cuja violação enseja nulidade relativa.
Ex.: queixa-crime oferecida por menor de 18 anos.
Ex.²: crime de injúria racial praticado por A contra B no dia 30/08/09. B oferece queixa-
crime, protocolizando em 30/10/09. Os autos seguem ao MP para parecer.
Nesse caso, à época do fato o crime era de iniciativa privada. Após, conforme o art. 145, p.
único, a ação tornou-se pública condicionada à representação, no dia 30/09/09.
Essa mudança legislativa, em que pese tenha natureza processual, repercute na seara
penal ou direito de punir do Estado (norma híbrida ou mista). Isso porque, alterando-se a natureza
da ação privada restringe-se a incidência das causas extintivas da punibilidade (renúncia,
perempção e perdão judicial).
Assim, tratando-se de reformatio in pejus, vigorará a Lei vigente à época do fato delituoso,
eis que mais benéfica, devendo, portanto, ser reconhecida a legitimidade do querelante.

12.3. Recursos cabíveis


a) Rejeitada a inicial em razão de ilegitimidade: Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito,
da decisão, despacho ou sentença: I - que não receber a denúncia ou a queixa;

b) Anulado o processo em razão da ilegitimidade: Art. 581. Caberá recurso, no sentido


estrito, da decisão, despacho ou sentença: XIII - que anular o processo da instrução criminal, no
todo ou em parte;

c) Procedente a exceção de ilegitimidade: Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da


decisão, despacho ou sentença: III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;

d) Improcedência da exceção: Preliminar de apelação, mandado de segurança ou habeas


corpus, etc.

13. Exceção de litispendência

13.1. Lide no processo penal?


Litispendência significa mais de uma lide. Liti = lide.
Lide é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida. A maioria da
doutrina entende que não há lide no processo penal, pois:
a) ao MP não interessa a condenação de um inocente, tanto é, que pode requerer a sua
absolvição.
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b) independentemente da concordância do acusado, deverá sempre existir resistência por


parte da defesa, ainda que somente por parte da defesa técnica. A defesa é obrigatória no
processo penal.

12.2. Litispendência no processo penal


No processo civil, para que haja litispendência, deve existir igualdade de partes, pedido e
causa de pedir. Esse, no entanto, não é o raciocínio aplicado no processo penal:
a) Pedido: o pedido de condenação é sempre genérico, é sempre o mesmo.
b) Partes: não interessa o sujeito ativo, mas sim o sujeito passivo, o acusado.
c) Causa de pedir: no processo penal, deve haver a mesma imputação, ao invés de mesma
causa de pedir. A classificação do crime não é relevante, pois o acusado defende-se dos fatos
imputados.

Exemplo:
Processo X Processo Y
Autor: MP Autor: querelante (queixa subsidiária)
Acusado: Tício Acusado: Tício
Imputação: Furto dia 10/03, 22 horas Imputação: Furto dia 10/03, 22 horas
Classificação: art. 155. Classificação: art. 171.

No caso do exemplo, como há coincidência de acusado e fato imputado, haverá


litispendência.

12.3. Momento da litispendência


A litispendência estará presente a partir do recebimento da segunda peça acusatória. A
maioria da doutrina entende que o processo começa com o recebimento da peça acusatória,
independentemente da citação válida.
Para fins de definição do processo que deve ser mantido, Deve-se atentar para aquele que
foi instaurado em primeiro lugar, respeitando-se a competência do juízo.

12.4. Litispendência entre IP e AP


Não há litispendência entre IP e AP (art. 219 do CPC).

12.4. Recursos cabíveis


a) Reconhecida de ofício pelo juiz: caberá apelação (art. 593, II), eis que é extinto o
processo.
b) Procedente a exceção: Caberá RSE (art. 581, III).
c) Improcedente a exceção
Preliminar de apelação, sem prejuízo de habeas corpus e mandado de segurança.
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13. Exceção de coisa julgada

Coisa julgada é a decisão jurisdicional contra a qual não cabe mais recurso, em razão de:
a) Esgotamento das vias recursais.
b) Preclusão temporal.

12.1. Coisa julgada formal e material

a) Formal: fenômeno endoprocessual, ou seja, a imutabilidade da decisão está restrita ao


processo em que foi proferida. Ex: arquivamento por falta de provas. – Rebus sic stand.
b) Material: Pressupõe a coisa julgada formal. A imutabilidade da decisão projeta-se para
fora do processo. Ex: agente absolvido

12.2. Coisa julgada e coisa soberanamente julgada


a) Coisa julgada: imutabilidade relativa. Sentença condenatória ou abolutória imprópria
transita em julgado, pois tais sentenças podem ser rescindidas através de revisão criminal e
habeas corpus.

b) Coisa soberanemente julgada: imutabilidade absoluta, mesmo que a decisão seja


proferida por juízo absolutamente incompetente. Ocorrerá em sentença absolutória e decisão
declaratória da extinção da punibilidade**. Não se admite revisão criminal pro societate.

** Certidão de óbito falsa: o processo poderá ser reaberto. (HC 84525, STF)

12.3. Efeitos
O efeito mais importante da coisa julgada é a imutabilidade da decisão judicial. Essa
imutabilidade pode ser:

a) Relativa: Em se tratando de sentença condenatória ou absolutória imprópria transitada


em julgado admite-se revisão criminal e habeas corpus.
A revisão criminal pode ser ajuizada a qualquer tempo, inclusive após a morte do réu.

b) Absoluta: Em se tratando de sentença absolutória própria não se admite revisão criminal


pro societate. Essa decisão é chamada de coisa soberanamente julgada (non bis in idem
processual).

12.4. Decisão prolatada por juízo incompetente


20

A decisão absolutória ou declaratória extintiva da punibilidade, ainda que proferida por juiz
absolutamente incompetente, é capaz de transitar em julgado, impedindo novo processo pela
mesma imputação. Por outro lado, em caso de decisão condenatória ou absolutória imprópria,
sempre caberá habeas corpus e revisão criminal.

12.5. Limites da coisa julgada


a) Limites objetivos
Dizem respeito ao fato natural imputado ao acusado e objeto de posterior sentença,
independentemente da classificação que lhe seja atribuída. Aqui, não importa a classificação do
delito, mas sim a imputação fática, a descrição dos fatos.
Diante disso, caso um acusado seja absolvido da imputação de execução de um homicídio,
nada impede que seja novamente processado, mas agora como partícipe desse mesmo delito, já
que as imputações são distintas.
Não estão protegidos pela coisa julgada os fundamentos da sentença, e as questões
prejudiciais (art. 110, §2º, CPP)

STF, T1, HC 82.980/DF, de 17/03/2009: A ofensa à coisa julgada exige a identidade de


causa, caracterizada pela identidade do fato, sendo que esta não se verifica no caso de alteração
de um dos elementos que o constitui (tempo, lugar, conduta imputada ao agente).

b) Limites subjetivos
Diz respeito àquele que ocupou o polo passivo da demanda, indivíduo que figurou como
acusado no primeiro processo.
A absolvição de um dos acusados não implica necessariamente a absolvição dos demais
(HC 126064, STJ).
Nesse caso, a decisão absolutória em relação a um dos coautores do delito não faz coisa
julgada em relação aos demais, salvo quando reconhecida categoricamente a inexistência do fato
delituoso (coisa julgada extensiva).

12.6. Observações finais

a) Crime continuado
Se um dos crimes praticados em continuidade delitiva não for objeto de imputação em um
primeiro processo penal condenatório, é perfeitamente possível que tal crime seja objeto de novo
processo penal, vez que não está protegido pelos limites da coisa julgada.
Caso uma primeira série de crimes em continuidade delitiva já tenha sido julgada, é
plenamente possível que o acusado seja novamente processado por outra série de crimes em
continuidade delitiva, ainda que praticada durante o mesmo lapso temporal. Nesse caso, caberá
ao juízo da execução fazer posterior unificação das penas (art. 82 do CPP).
21

Ex: 4 crimes de furto, em continuidade, mas deppis se descobre que houve um 5 crime.
Esse poderá ser processado depois, cabendo após, ao juízo da execução fazer a unificação.

b) Concurso formal de delitos


Se o acusado for processado em relação a apenas um dos delitos, eventual sentença
absolutória não faz coisa julgada em relação aos demais, salvo se o juiz reconhecer
categoricamente a inexistência do fato delituoso ou que o acusado não concorreu para a infração
penal.

c) Duplicidade de sentenças condenatórias transitadas em julgado quanto à mesma


imputação
Prevalece o entendimento de que apenas a decisão que transitou em julgado primeiro será
válida.
STJ, HC 97.753: Não se pode admitir que, numa típica hipótese de concurso formal, que é
justamente caracterizado pela prática de mais de um crime por meio de uma única
conduta, seja oferecida uma segunda denúncia contra o réu, imputando-lhe a prática do
delito cuja menção fora olvidada quando do ajuizamento e do julgamento da primeira
ação penal. Vedação à revisão da coisa julgada criminal pro societate.

No entanto, há decisão recente do STF no sentido de que deve prevalecer a condenação


mais benéfica ao acusado, já que não se admite revisão criminal pro societate.

STF, HC 101.131: A sentença posterior prevalece no Processo Penal, desde que mais
favorável ao réu, em obediência à vedação da Revisão Criminal pro societate. O caso sub
judice não reclama a solução de se considerar anulada a primeira sentença, visto que não
incidiu em qualquer vício de juridicidade, e sim de revogá-la.

d) Crime habitual e permanente


Os limites objetivos da coisa julgada referem-se aos fatos ocorridos até o momento do
oferecimento da inicial, pois é nesse momento que a imputação é delimitada. Portanto, os fatos
posteriores podem ser objeto de um novo processo.
Se após a propositura da peça acusatória restar demonstrado que o acusado continuou a
praticar um crime permanente ou crime habitual, este novo fato delituoso pode ser objeto de
novo processo penal, pois não protegido pelos limites objetivos da coisa julgada.

13.7. Recursos
Vide exceção litispendência.
22

PROCEDIMENTO COMUM

Alterações da Lei 11.719/08.

1. DIREITO INTERTEMPORAL (sucessão de leis no tempo)

Discussão quanto ao direito a ser aplicado na hipótese de sucessão de leis no tempo.

1.1. Direito penal

Irretroatividade da lei penal mais gravosa – ultratividade da lei mais benéfica.


Época do fato delituoso (tempus delicti).
Aplica-se o princípio do tempus regit delictum, segundo o qual somente a lex mitior é
retroativa: CR, Art. 5º. XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

Exemplos:

a) Art. 140, CP: 1 a 6 meses (injúria)


Data: 04/05/2010
Prescrição da pretensão punitiva: 3 anos se o máximo da pena é inferior a 1 ano. (109, VI –
alterado em 2010, com vigência em 06 de maio de 2010.
Todavia, prescreverá em 2 anos, porque o crime foi praticado antes da vigência da lei. (lei
mais grave)

b) Lei 12.234/10: alterou o art. 110, §§1º e 2º; e art. 109, VI. Trata-se de lex gravior relativa
à prescrição, que não pode retroagir.
c) Lei 12.433/11: alterou o art. 126 e 127 da LEP. Trata-se de lex mitior relativa à remição
pelo estudo e desconto da remição em razão de falta grave em até 1/3.

1.2. Direito processual penal

Norma genuinamente processual é aquela que cuida de procedimentos, atos processuais,


técnicas do processo, etc.
Aplica-se o princípio da aplicação imediata (art. 2º do CPP) ou tempus regit actum:
23

Art. 2o A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos
realizados sob a vigência da lei anterior.

1.3. Norma processual material (mista ou híbrida)


Há duas correntes:
- Ampliativa: normas processuais materiais são aquelas que estabelecem condições de
procedibilidade, meios de prova, liberdade condicional, espécies de prisão cautelar e liberdade
provisória, ou seja, todas as normas processuais que repercutem no direito de liberdade do
agente.
- Restritiva (majorante): normas processuais materiais são aquelas que, apesar de previstas
em diplomas processuais penais, dispõem sobre o conteúdo da pretensão punitiva, tais como
aquelas relativas ao direito de queixa, representação, prescrição, decadência, perdão e perempção
(causas extintivas da punibilidade).
Essa distinção é relevante na medida em que, enquanto à norma genuinamente processual
aplica-se a lei nova de forma imediata (tempus regit actum), à norma processual material aplica-se
o critério da irretroatividade da lei mais gravosa.

Exemplos:
a) Lei 9.099/95, art. 90: se a instrução do processo já estiver em andamento, não se
aplicam as disposições do juizado. Essa lei contém dispositivos genuinamente processuais, bem
como regras materiais.
       
Art. 90. As disposições desta Lei não se aplicam aos processos penais cuja instrução já
estiver iniciada. (Vide ADIN nº 1.719-9)

Em razão disso, para o STF, as normas de direito penal inseridas na Lei 9.099/95, que
tenham conteúdo mais benéfico aos acusados devem retroagir para beneficiá-los, nos termos do
art. 5º, XL, da CR.

b) Lei 9.271/96 e art. 366 do CPP: antes das alterações legais da Lei 9.271/96, o art. 366
determinava a citação por edital e, não comparecendo o réu, era decretada a sua revelia,
prosseguindo o processo com a nomeação de advogado dativo.
Com a vigência da Lei, o art. 366 passou a prever que se o acusado é citado por edital, não
comparece e não constitui defensor, deve ser suspenso o processo e o prazo prescricional.
A partir de então, surgiu a indagação quanto à possibilidade de o agente ter praticado o
crime antes de 1996 ser beneficiado pela alteração do art. 366. Diante disso, posicionou-se o STF
no sentido de por ser mais gravosa a norma que manda suspender a prescrição, não poderia
retroagir. Portanto, o art. 366 só foi aplicado aos crimes cometidos após a vigência da Lei
9.271/96.
24

c) Leis 11.689/08 (Júri) e 11.719/08 (Procedimento Comum): discutia-se a aplicabilidade


imediata destas leis aos processos em andamento.
Para a doutrina, há pelo menos três sistemas:
- SISTEMA DA UNIDADE PROCESSUAL: apesar de se desdobrar em uma série de atos
distintos, o processo apresenta uma unidade. Portanto, só pode ser regulamentado
por uma única lei, qual seja, a lei antiga.

- SISTEMA DAS FASES PROCESSUAIS: de acordo com esse sistema, cada fase processual
pode ser disciplinada por lei distinta, de modo que o processo não seria um todo
unitário. Nesse caso, podem-se aplicar leis distintas em cada uma das fases
processuais: postulatória, ordinatória, instrutória, decisória e recursal.

- SISTEMA DO ISOLAMENTO DOS ATOS PROCESSUAIS (adotado pelo CPP, art. 2º): a lei nova não
atinge os atos processuais praticados sob a vigência da lei anterior, mas será aplicável
aos atos processuais que ainda não foram praticados, pouco importando a fase em
que o feito se encontrar.
STJ, HC 123.492.

d) Lei 11.719/08 e art. 400 do CPP (interrogatório do réu): hoje, com a nova redação legal,
o interrogatório passou a ser o último ato da instrução.
Nesse caso, qual seria o procedimento adotado quando, por exemplo, houver sido realizado
interrogatório e, após a vigência da Lei, realizar-se o restante da instrução? Deve ser realizado
novo interrogatório?
Em tese, a melhor decisão seria inquirir o acusado quanto à sua vontade em alterar seu
interrogatório, documentando esse procedimento em ata.
Para o STF, se o acusado foi interrogado antes da vigência da Lei 11.719/08, encerrando-se
a instrução criminal já na vigência dessa Lei, não há necessidade de realização de novo
interrogatório ao final da audiência una de instrução e julgamento.
STF, HC 104.555.

e) Lei 11.689/08 (Júri) e o protesto por novo júri: o art. 4º da Lei 11.689/08 extinguiu o
capítulo IV do Título II do Livro III (protesto por novo júri).
Ex.: prática de crime previsto no art. 121, §2º, I, em 05/06/08. Entra em vigor a Lei
11.689/08, que extingue o protesto por novo júri. Em 15/02/2012 é realizado o julgamento,
condenando-se o crime a 23 anos de reclusão. Nesse caso, há duas correntes:

- Norma processual material (LFG): o art. 4º da Lei é norma processual material, pois
repercute no direito de liberdade do agente. Logo, se o crime foi praticado até o dia
25

08/08/08 o cidadão terá direito ao protesto, ainda que seu julgamento ocorra após a
extinção do benefício.
- Norma à época da publicação da decisão: aplica-se à data em que a decisão é
publicada (às mãos do Escrivão), de modo que o acusado passa a ter direito adquirido
quanto aos recursos cabíveis no momento da prolatação.
Ou seja, a lei que se aplica ao recurso não é aquela em vigor à época do crime,
tampouco a vigente quando da interposição do recurso, mas sim aquela em vigor no
momento em que a decisão recorrível for proferida, pois é nesse momento que se
adquire o direito às regras recursais então vigentes.

Ex.: absolvição sumária no júri proferida em 08/08/08 (sexta-feira). Interposição do recurso


em 11/08/08 (segunda-feira). No dia 08/08 o recurso cabível era o RSE (vigor da Lei 11.689/08 em
09/08/08), ao passo que no dia 11/08 o recurso cabível era a apelação. Desse modo, considerando
o dia da publicação da decisão, deveria ser interposto RSE.

1.4. Norma processual heterotópica


Inobstante prevista em diploma processual penal, esta norma possui conteúdo material.
Logo, deve retroagir para beneficiar o acusado.
Aqui, não se mesclam as qualidades processuais e penais, mas tão somente se inserem em
diplomas heterogêneos em relação à sua natureza. Ex.: direito ao silêncio.

2. CLASSIFICAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS – Lei 11.719/08

Hoje é classificado com a quantidade de pena e não mais com a qualidade. Pode ser de três
espécies:
a) Procedimento comum ordinário: pena máxima = ou + 4 anos.
b) Procedimento comum sumário: pena máxima + 2 anos – 4 anos. Ex: homicídio culposo.
c) Procedimento comum sumaríssimo: pena máxima – ou = 2 anos. São infrações de menor
potencial ofensivo, como as contravenções penais e crimes com pena máxima não superior a dois
anos, cumulada ou não com multa. Ex: jogo do bixo, desacato
A eventual inobservância do procedimento correto será causa de nulidade relativa,
dependendo de efetivo prejuízo.

Obs: Cabe prisão preventiva nos crimes cuja pena máxima seja superior a 4 anos, e não
igual a quatro anos.

O procedimento comum é subsidiário, só caberá quando não houver um procedimento


especial.
26

2.1. Observações importantes

a) LEI MARINHA DA PENHA: art. 41: independentemente da pena prevista para o crime, não se
aplica a Lei dos Juizados. Ainda que a pena máxima não seja superior a dois anos. Será aplicado o
procedimento comum ordinário ou o sumário.

b) ESTATUTO DO IDOSO: art. 94: aos crimes previstos nessa lei, cuja pena máxima não
ultrapasse a 4 anos, aplica-se a lei 9.099/95 e subsidiariamente o CP e o CPP. (Vide ADI 3.096-5,
STF). O STF entendeu que se a pena máxima não for superior a 4 anos aplica-se o procedimento
comum sumaríssimo, mas não se aplicam os institutos despenalizadores da Lei 9.099.

2.2. Cálculo da pena

O concurso de crimes, as qualificadoras e privilegiadoras, as causas de aumento e de


diminuição de pena são levados em consideração para o limite máximo da pena.

Ex: homicídio culposo (art. 121, §3º) – 1 a 3 anos, em concurso com o crime de ocultação
de cadáver (art. 211) – 1 a 3 anos = critério do cúmulo material, assim as penas podem chegar de
2 a 6 anos.

Interpreta-se esse cálculo conforme a Súmula 723 do STF, que considera a majorante
relativa à continuidade para a determinação da pena, aqui, mínima. O mesmo sistema se aplica à
aplicação da Súmula 243 do STJ, que trata do concurso de crimes e da continuidade delitiva. A
distinção entre a contagem da pena para o sursis do processo e para o procedimento reside no
fato de que no sursis busca-se a pena mínima, enquanto no procedimento busca-se a pena
máxima.
Frisa-se que as causas de aumento e de diminuição, de regra, tem quantum variável. Nesse
caso, o aumento deve ser o maior possível e a diminuição a menor possível. Busca-se, pois, a pior
pena possível. Em se tratando de causas de aumento, utiliza-se o quantum que mais aumenta a
pena; na hipótese de causas de diminuição, o quantum que menos diminui a pena (assim se
atinge o máximo da pena prevista para aquele delito)
Por outro lado, as agravantes e atenuantes não são levadas em consideração para o
cálculo da pena máxima. Isso porque, essas circunstâncias não prevêem critério fixo de aumento
ou de diminuição. O legislador não diz quanto se deve aumentar ou diminuir, não há parâmetro
legal previsto.

2.3. Reunião de processos em face da conexão e continência


27

Primeiro, se faz a verificação do juízo com força atrativa. Ex: homicídio doloso conexo com
tráfico de drogas. O Tribunal do Júri exerce força atrativa (salvo militares e eleitorais), portanto, os
dois crimes seguirão o procedimento pertinente ao Tribunal do Júri.
Roubo – 4 a 10 anos (ordinário) + tráfico de drogas – 5 a 15 (proc. especial) – Revogada Lei
6368/76 (antiga lei de drogas), no seu art. 28 falava da reunião de processos no caso de conexão e
continência, cujo procedimento adotado deveria ser o da infração mais grave, ressalvado o
procedimento do júri e das jurisdições especiais. No exemplo dado, o procedimento a ser adotado
seria o tráfico. Todavia, essa lei não existe mais, e analisando a nova lei de drogas, ela nada disse
sobre o assunto.
A doutrina e a jurisprudência entendem que o procedimento não deve ser o do crime mais
grave, mas sim o procedimento mais amplo, ou seja, aquele que melhor assegure as partes o
exercício de suas faculdades processuais. O procedimento de drogas, a única vantagem é a defesa
prévia. O procedimento mais amplo é sempre o procedimento comum ordinário, devendo
prevalecer sobre o procedimento especial (mais testemunhas, audiência una em mais partes,
memoriais, etc). HC 204.658, STJ.

PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO

1. Lei antiga

O antigo procedimento ordinário relativo aos crimes punidos com reclusão tinha o seguinte
procedimento: a) Oferecimento da peça inicial; b) Recebimento ou rejeição da inicial; c) Citação do
acusado: pessoal ou por edital; d) Interrogatório; e) Defesa prévia; f) Oitiva de testemunhas de
acusação e de defesa; g) Diligências; h) Alegações finais; i) Eventuais diligências ex officio; j)
Sentença.

2. Oferecimento da inicial

Requisitos no art. 41 do CPP. A peça acusatória deve estar lastreada por elementos
normativos relacionados à autoria e a materialidade.

3. Juízo de admissibilidade da peça acusatória

O juiz poderá receber (juízo positivo) ou rejeitar a peça acusatória (juízo negativo).
Em regra, a expressão “rejeição” deve ser compreendida como “não recebimento”. No
entanto, no TJ/RS, distingue-se a rejeição (mérito) do não recebimento (aspectos processuais).
28

a) Momento: A rejeição ocorre imediatamente após o oferecimento da peça acusatória,


sem que haja necessidade de manifestação da defesa (art. 396).

Art. 396.  Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz,
se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para
responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. (Redação dada pela Lei nº
11.719, de 2008).

Mas se interpretar isoladamente o art. 399, incumbe ao magistrado notificar para


apresentar defesa preliminar.

Art. 399.  Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência,
ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o
caso, do querelante e do assistente. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

Há um aparente conflito entra esses dois dispositivos. Prevalece que a peça acusatória
deve ser recebida no momento do art. 396, CPP. HC 138.089.
Uma vez recebida a denúncia por um juiz, pode outro juiz rejeitar a denúncia? Há
divergências, mas se entende majoritariamente que não cabe ulterior rejeição (preclusão pro
judicato).

b) Causas de rejeição: Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:

I - Inépcia da peça acusatória:


LFG divide a inépcia em formal e material. A inépcia formal ocorre quando não observados
os requisitos obrigatórios da inicial. Por outro lado, a inépcia material ocorre quando não há justa
causa para a ação penal. Todavia, essa falta de justa causa foi colocado separadamente no art.
395, III.
De acordo com os Tribunais Superiores, não sendo rejeitada a inicial pelo juiz, eventual
inépcia deve ser arguida até o momento da sentença (aparente ausência de prejuízo), sob pena de
preclusão. RHC 98.091.

II - Falta de pressuposto processual ou condições da ação


Condições da ação: legitimidade (ad causam), possibilidade jurídica e interesse.
Pressupostos processuais: dividem-se em
- Pressupostos de existência
- Demanda: veiculada pela peça acusatória.
- Órgão investido de jurisdição;
- Partes que possam estar em juízo (legitimidade ad processum).
- Pressupostos de validade
- Inexistência de vícios processuais
29

- Inexistência de litispendência ou coisa julgada (originalidade da demanda);

III – Falta de justa causa para o exercício da ação penal


Justa causa é o lastro probatório mínimo indispensável para a instauração de um processo
penal.

É possível rejeição parcial da peça acusatória? Sim, por mais que se entenda que não é
dado ao juiz alterar a classificação do fato delituoso no recebimento. Pode o juiz concluir que, por
exemplo, em denúncia por vários crimes, o Promotor é legitimado em relação a um crime, mas
não em relação a outro.

c) Recurso cabível
Rejeição é sinônimo de não recebimento.
Contra a rejeição da peça acusatória cabe RSE (art. 581, I). No entanto, pode o Promotor
oferecer nova acusação, eis que a decisão de rejeição somente faz coisa julgada formal.
Aqui, deve ser dada vista ao acusado para apresentar contrarrazões por meio de advogado
constituído. Não apresentada a peça, o juiz pode mandar os autos à Defensoria Pública ou a
defensor dativo (STF, Súmula 707).
Uma vez provido o recurso em sentido estrito da acusação, essa decisão já valerá como
recebimento da peça acusatória. Assim, sabendo-se que o recebimento suspende a prescrição,
esta se dará na data do julgamento ou na data da remessa dos autos à primeira instancia? Na data
do julgamento do recurso em segundo grau, salvo quando reconhecida a nulidade da decisão de
1º grau (STF, Súmula 709).
Frisa-se que na Lei do Juizado Especial o recurso é de APELAÇÃO, interposta em 10 dias.
(art. 82).

4. Recebimento da acusação

A inicial deve ser recebida quando não houver causa de rejeição da denúncia (art. 395 a
contrario sensu).
a) Momento
O Código traz o termo “recebimento” em dois dispositivos: art. 396 e art. 399 do CPP.
De acordo com o art. 399, o recebimento da inicial ocorreria após a notificação do
acusado, defesa preliminar e absolvição sumária.

Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência,
ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso,
do querelante e do assistente.
30

Por outro lado, segundo o art. 396, o recebimento ocorre logo após o oferecimento da
denúncia, quando não se tratar de causa de rejeição da denúncia. É a corrente que prevalece nos
Tribunais.

Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se
não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder
à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.

Embora a intenção dos autores do anteprojeto tenha sido a criação de uma defesa
preliminar antes do recebimento da peça acusatória houve alteração do projeto pelo Congresso
Nacional, que preocupado com a interrupção da prescrição alterou a redação do art. 396 para aí
inserir o recebimento da peça acusatória.
Além disso, como o art. 363 dispõe que o processo terá completada a sua formação
quando realizada a citação do acusado, não seria possível que o juiz determinasse a citação o
acusado sem antes receber a peça acusatória.
Ademais, não é possível a absolvição sumária do acusado sem que antes tenha havido o
recebimento da peça acusatória.

b) Fundamentação da inicial
É necessária a fundamentação do recebimento da acusação? Há duas posições:
- O recebimento deve ser motivado (doutrina): é indispensável a fundamentação, sob pena
de nulidade. No entanto, essa fundamentação não deve conter excessos.
A fundamentação deve se basear, a contrario sensu, nas causas de rejeição do art. 395 do
CPP.
- O recebimento não precisa ser motivado (Tribunais): é dispensável a fundamentação, que
pode se dar, inclusive implicitamente, quando o juiz determina a citação do acusado. HC 68.926.
Exceção: há um caso em que os Tribunais entendem que o recebimento deve ser
fundamentado. É o que ocorre quando há previsão legal de defesa preliminar por parte do
acusado.

c) Consequências do recebimento
- Causa de fixação da competência por prevenção (art. 83 do CPP).
- Causa de interrupção da prescrição, quando o recebimento tenha sido proferido pelo
juízo competente. Sendo o recebimento proferido por juiz incompetente, anulada a decisão, a
interrupção também considera-se como não ocorrida.
- Segundo doutrina majoritária, o recebimento marca o início do processo (analogia ao art.
35 do CPPM). No entanto, para Nucci, o processo penal começa com o oferecimento da inicial.

d) Recurso contra o recebimento


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Trata-se de decisão irrecorrível. No entanto, os Tribunais admitem que o acusado busque o


trancamento do processo (ação), por meio de habeas corpus em situações excepcionais (risco à
liberdade de locomoção) ou mandado de segurança.
É medida excepcional, que ocorre nos seguintes casos:
- Manifesta atipicidade formal ou material da conduta delituosa.
- Presença de causa extintiva da punibilidade.
- Ausência de pressupostos processuais ou condições da ação.
- Ausência de justa causa para o exercício da ação penal.

5. Citação

É o ato de comunicação processual por meio do qual se dá ciência ao acusado do


recebimento da peça acusatória, chamando-o para se defender. Abrange dois princípios
constitucionais: o contraditório e a ampla defesa.
Eventuais vícios da citação ensejam nulidade absoluta. A citação anulada é também
chamada de “circundução” ou “citação circunduta”.
A nulidade da citação pode ser sanada (convalidada) mediante o comparecimento do
acusado antes de o ato consumar-se (art. 570). Assim, se o acusado souber do processo por outra
forma e comparecer em juízo, a citação não será anulada.

a) Finalidade da citação
Com o advento da Lei 11.719/08 a finalidade da citação no procedimento comum é a
possibilidade de apresentação de resposta à acusação e não para fins de interrogatório, que é
realizado ao final do processo (art.396, CPP).
No entanto, em alguns procedimentos especiais a finalidade da citação continua sendo o
interrogatório, pois em alguns procedimentos, o interrogatório continua sendo o primeiro ato da
instrução:
1) Interrogatório no processo militar;
2) Interrogatório na Lei de Drogas (art. 57 da Lei 11.343/06)
3) Interrogatório no procedimento originário dos Tribunais* (Lei 8.038, art. 7º)

Cumpre lembrar que o STF, no AgRg 528/DF (24/03/11), entendeu que as mudanças
produzidas no procedimento comum também devem ser aplicadas no procedimento originário
dos tribunais, ou seja, o interrogatório no final da instrução.
Nesse caso, quando o interrogatório ainda não tiver sido realizado deverá ser realizado
conforme a sistemática atual, ou seja, ao final da instrução probatória.
I - O art. 400 do Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei 11.719/2008, fixou
o interrogatório do réu como ato derradeiro da instrução penal. II – Sendo tal prática benéfica à
defesa, deve prevalecer nas ações penais originárias perante o Supremo Tribunal Federal, em
32

detrimento do previsto no art. 7º da Lei 8.038/90 nesse aspecto. Exceção apenas quanto às ações
nas quais o interrogatório já se ultimou. III – Interpretação sistemática e teleológica do direito.

b) Efeitos da citação válida


Art. 363. O processo terá completada a sua formação quando realizada a citação do
acusado.
O único efeito é estabelecer a angularidade da relação processual, fazendo surgir a
instância.
Aqui, há diferença substancial quanto às disposições do CPC, art. 219.

  Art. 219.  A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e,
ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a
prescrição. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1973)

No processo penal:
- Torna prevento o juízo a prática de um primeiro ato decisório, ainda que anterior ao
oferecimento da peça acusatória.
- A litispendência está presente a partir do momento que ocorrer o recebimento de nova
peça acusatória me face do mesmo acusado.
- A interrupção da prescrição ocorrerá com o recebimento da peça acusatória pelo juízo
competente.

c) Espécies de citação

c.1. Citação real (pessoal): É a citação feita pessoalmente ao acusado.

Lei 11.419, que dispõe sobre a informatização do processo, pode ser aplicada ao processo
penal.
Art. 1o  O uso de meio eletrônico na tramitação de processos judiciais, comunicação de
atos e transmissão de peças processuais será admitido nos termos desta Lei.

§ 1o  Aplica-se o disposto nesta Lei, indistintamente, aos processos civil, penal e trabalhista,
bem como aos juizados especiais, em qualquer grau de jurisdição.
Indaga-se, a citação poderá ser feita por meio eletrônico, como por e-mail?
Não, tanto no processo penal como no ECA, não é possível a citação por meios eletrônicos.

Art. 6o  Observadas as formas e as cautelas do art. 5 o desta Lei, as citações, inclusive da
Fazenda Pública, excetuadas as dos Direitos Processuais Criminal e Infracional, poderão ser
feitas por meio eletrônico, desde que a íntegra dos autos seja acessível ao citando.

- Por mandado (regra)


É a regra. Possui requisitos intrínsecos (art. 352, CPP) e extrínsecos.
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Requisitos intrínsecos:

Art. 352.  O mandado de citação indicará:


I - o nome do juiz;
II - o nome do querelante nas ações iniciadas por queixa;
III - o nome do réu, ou, se for desconhecido, os seus sinais característicos;
IV - a residência do réu, se for conhecida;
V - o fim para que é feita a citação;
VI - o juízo e o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer;
VII - a subscrição do escrivão e a rubrica do juiz.

Requisitos extrínsecos:

Art. 357.  São requisitos da citação por mandado:


I - leitura do mandado ao citando pelo oficial e entrega da contrafé, na qual se
mencionarão dia e hora da citação;
II - declaração do oficial, na certidão, da entrega da contrafé, e sua aceitação ou recusa.

Em se tratando de crimes ambientais, nos quais pode o acusado ser pessoa jurídica, o
mandado deverá ser entregue ao representante legal ou diretor com poderes.
Sendo o acusado reconhecidamente inimputável, a citação deverá ser feita na pessoa do
seu curador, nomeado em sede do incidente de insanidade (art. 149, §2º). Essa citação é chamada
de citação imprópria.
O art. 217 do CPC traz hipóteses que impedem a imediata citação. No entanto, essas
restrições não se aplicam ao processo penal.

- Por carta precatória


Ocorre quando o acusado residir em comarca diversa daquela em que corre o processo,
desde conhecido o seu endereço.
Frisa-se que a carta precatória itinerante trata da situação em que, recebida a 1ª
precatória, é expedida uma nova precatória (2ª) a outro juízo, independentemente de autorização
do juízo deprecante.
Se no juízo deprecado, verificar-se que o acusado se oculta para não ser citado, deve ser
feita a citação por hora certa, e não mais por edital, como ocorria antes da lei. A citação por hora
certa deve ser feita independentemente de devolução dos autos ao juízo deprecante. O melhor é
que se faça imediatamente. No §2º fala em devolução, porque o art. 362 antes da reforma se fazia
por meio de edital.

Art. 355. § 1o Verificado que o réu se encontra em território sujeito à jurisdição de outro
juiz, a este remeterá o juiz deprecado os autos para efetivação da diligência, desde que
haja tempo para fazer-se a citação.
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§ 2o  Certificado pelo oficial de justiça que o réu se oculta para não ser citado, a precatória
será imediatamente devolvida, para o fim previsto no art. 362.

Art. 362.  Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará
a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a
229 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.  (Redação dada
pela Lei nº 11.719, de 2008).
Parágrafo único.  Completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer,
ser-lhe-á nomeado defensor dativo. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

- Mediante requisição
No caso de militar, é feita requisição para que o militar compareça em certo local para fins
de citação, em respeito à hierarquia própria do serviço militar. Esse artigo somente é aplicado ao
militar da ativa.

Art. 358. A citação do militar far-se-á por intermédio do chefe do respectivo serviço.

Funcionário público é citado pessoalmente (mandado) caso haja a necessidade de


comparecimento em juízo, o chefe do órgão também deve ser comunicado. O chefe do
funcionário público será notificado quanto à data da audiência, para fins de preservar o serviço
público.

Art. 359. O dia designado para funcionário público comparecer em juízo, como acusado,
será notificado assim a ele como ao chefe de sua repartição.

- Réu preso
O art. 360 é posterior à súmula 351, de forma que o réu deverá ser citado pessoalmente,
independentemente da unidade da federação em que estiver preso.

Art. 360. Se o réu estiver preso, será pessoalmente citado.

STF, Súmula 351. É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da federação
em que o juiz exerce a jurisdição.

A doutrina diz que o acusado está preso, deve ser citado pessoalmente, pouco importando
a localidade da prisão. Assim, a doutrina entende que a súmula 351 está ultrapassada. Dessa
forma, não interessa o local da federação.
Todavia, a jurisprudência como um todo entendem que a súmula 351 do STF continua
válida (HC 162.339, STJ, 2011). Como o acusado estava preso em outra unidade da federação,
poderia ser feita por edital.

- Por carta de ordem


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Assemelha-se à carta precatória, mas deriva de hierarquia entre órgãos jurisdicionais. Ex.:
TJ/RS expede carta de ordem à Comarca de Ijuí.
Lei 8.038/90, art. 9º, §1º - o relator poderá delegar a realização de interrogatório.

- Por carta rogatória


É utilizada através da via diplomática, quando o acusado encontra-se residindo no
estrangeiro, desde que esteja em local certo e sabido. Essa citação independe da natureza do
delito.
Nesse caso, há suspensão da prescrição até o cumprimento da carta rogatória.

Art. 368. Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta
rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento.

Deve-se ter atenção com o disposto no art. 222-A, segundo o qual as cartas rogatórias só
serão expedidas em caso de imprescindibilidade, arcando a parte com os custos do envio. Essa
exigência, no entanto, está prevista no capítulo que trata da prova testemunhal, não se aplicando
à citação do acusado por carta rogatória, cuja imprescindibilidade é presumida.
Frisa-se que não é possível citação por carta rogatória nos juizados especiais criminais,
devendo os autos ser encaminhados ao juízo comum, quando será cabível a citação por rogatória.
Também se utiliza de carta rogatória para a realização de legações estrangeiras que
embaixadas e consulados no território nacional. Assim, as pessoas que moram numa embaixada
devem ser citadas por carta rogatória. Não se aplica ao embaixador, dotado de imunidade
diplomática, mas sim aos demais funcionários.

Art. 369. As citações que houverem de ser feitas em legações estrangeiras serão efetuadas
mediante carta rogatória.

Nesse caso, ao que parece, não haverá suspensão da prescrição. Embora haja quem diga
que deve haver a suspensão, tratando-se a prescrição de matéria penal prejudicial ao acusado,
entende-se que não se aplica, pois seria uma analogia in malam partem.

c.1. Citação presumida (ficta): Trabalha-se com uma presunção de que o acusado tomou
ciência da acusação. É uma medida excepcional. Divide-se em:

- Citação por edital


Trata-se de medida excepcional, que só deve ser realizada depois de esgotados os meios de
localização do acusado.

Art. 361. Se o réu não for encontrado, será citado por edital, com o prazo de 15 (quinze)
dias.
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Hoje se entende que basta que o edital indique a imputação, não sendo necessária a cópia
da denúncia.
Art. 365, V, prazo de dilação, ou seja, prazo em que o edital fica publicado. Aguardar o
decurso do prazo de 15 dias, após que a citação se considera feita.

STF, Súmula 366. Não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei penal,
embora não transcreva a denúncia ou queixa, ou não resuma os fatos em que se baseia.

O prazo para a prática do ato pelo réu só começa a correr a partir do decurso do prazo
dilatório do edital (15 dias).

Juizados especiais criminais


Frisa-se que não se admite citação por edital nos Juizados Especiais Criminais (art. 66).
Nesse caso, o juiz deverá encaminhar o processo ao juízo comum, adotando-se o procedimento
legal.
E se, já no termo circunstanciado o Promotor verificar a necessidade por edital? O
Promotor deverá ajuizar, mesmo assim, a ação na vara dos Juizados Especiais, para, somente após
a frustração da citação, haver a remessa ao juízo competente.

Hipóteses:
a) Acusado em local incerto e não sabido (art. 361)
b) Acusado em local inacessível (analogia ao art. 231, II, CPC)
Essa disposição encontrava-se prevista no art. 363, I, hoje revogada. A intenção do
legislador não foi a de suprimir essa disposição, pois se encontrava prevista em outro artigo, que,
porém, foi vetado pelo Presidente.
Desse modo, aplica-se subsidiariamente o art. 231, II, do CPC.
Ex.: favela não é local inacessível.

Antes da citação por edital, devem ser esgotados os meios de localização do acusado (STF)

Conseqüências da citação por edital: aplica-se o art. 366 – haverá a suspensão do processo
e da prescrição.
Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão
suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção
antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos
termos do disposto no art. 312.
* Vide aula de lavagem de capitais.

Observações do art. 366, CPP:


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a) Direito Intertemporal:
1995 = citado por edital = decretação da revelia = nomeação de advogado dativo = prosseguimento do feito
Lei 9.271/96 = art. 366 = citado por edital = suspensão do processo e da prescrição.
A nova redação do art. 366 só foi aplicada aos crimes cometidos após a vigência da lei 9271/96, evitando-se assim a
retroatividade da suspensão da prescrição, que é norma de direito material mais prejudicial ao acusado.

b) O art. 366 é aplicável na Justiça Militar?


Não é possível, por ser proibido analogia in malan partem.

c) Citado por edital = não compareceu = não constitui advogado


 1ª consequência : suspensão do processo e da prescrição

STJ: a prescrição fica suspensa de acordo com o prazo da prescrição da pretensão punitiva abstrata, findo esse prazo,
o processo continuará suspenso, mas a prescrição voltará a correr novamente
Súmula 415: o período da suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada.
STF: o processo e a prescrição podem permanecer suspensos por prazo indeterminado (RE 460.971).
***O Supremo reconheceu a existência de repercussão geral no RE 600.851, no qual voltará a discutir a matéria

 2ª consequência: Produção antecipada de provas urgentes:

Para o STJ essa produção antecipada de prova urgente deve ser feita nos termos do art. 225 do CPP. O simples
argumento de que testemunha tem memória curta não é suficiente por si só para autorizar a colheita da prova
antecipada.

Súmula 455 do STJ: A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366 deve ser
concretamente fundamentada à luz do art. 225 do CPP.

Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que
ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes,
tomar-lhe antecipadamente o depoimento.

d) Prisão preventiva: O art. 366 do CPP não criou hipótese de prisão preventiva obrigatória. Na verdade, sua
decretação depende dos pressupostos dos arts. 312 e 313 do CPP.

e) Lei 9.613/98
Art. 2º, §2º: não se aplica o art. 366 do CPP aos crimes de lavagem de capitais.
(posição minoritária) --- prova objetiva

Há doutrinadores que dizem que o art. 366 pode ser aplicado na lei de lavagem.
 1º argumento: art. 2º, §2º da Lei 9613/98 viola a CF. preservar o direito de defesa suspendendo o processo e
a prescrição.
 2º argumento: a própria lei de lavagem faz menção à aplicação do art. 366 do CPP, no art. 4º, §3º da lei:

§ 3º. Nenhum pedido de restituição será conhecido sem o comparecimento pessoal do acusado, podendo o juiz
determinar a prática de atos necessários à conservação de bens, direitos ou valores, nos casos do art. 366 do Código
de Processo Penal.
(antinomia de leis)
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- Citação por hora certa


Antes das alterações de 2008, havia previsão de citação por edital, hoje, é prevista a
citação por hora certa.

Art. 362. Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará
a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a
229 do Código de Processo Civil.
Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer,
ser-lhe-á nomeado defensor dativo.

A citação por hora certa depende de dois pressupostos:


1) Acusado procurado por 3 x em seu endereço e não encontrado;
2) Suspeita de ocultação do acusado.

Aplicam-se os arts. 227 a 229 do CPC.

  Art. 227.  Quando, por três vezes, o oficial de justiça houver procurado o réu em seu domicílio ou residência,

sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, intimar a qualquer pessoa da família, ou em sua falta

a qualquer vizinho, que, no dia      imediato, voltará, a fim de efetuar a citação, na hora que designar.

Art. 228.  No dia e hora designados, o oficial de justiça, independentemente de novo despacho, comparecerá ao

domicílio ou residência do citando, a fim de realizar a diligência.

§ 1o  Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça procurará informar-se das razões da ausência, dando

por feita a citação, ainda que o citando se tenha ocultado em outra comarca.

§ 2o  Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará contrafé com pessoa da família ou com qualquer

vizinho, conforme o caso, declarando-lhe o nome.

Art. 229.  Feita a citação com hora certa, o escrivão enviará ao réu carta, telegrama ou radiograma, dando-lhe

de tudo ciência.

Citado o acusado por hora certa não se suspendem o processo e a prescrição, ao contrário
do que ocorre na citação por edital. Na citação por hora certa, o acusado que não apresentar
resposta à acusação, será decretado a sua revelia, ou seja, o processo retomará seu curso normal
com a nomeação de defensor dativo.

Citação por hora certa x Convenção Americana sobre Direitos Humanos (art. 8º, §2º, “B”)
Se o acusado se oculta para não ser citado, não se pode premiar a sua torpeza com a
suspensão do processo e da prescrição. Portanto, não há qualquer violação à Constituição e
Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
Para a Defensoria Pública, dizer que é incompatível.

Juizados Especiais: Cabe citação por hora certa nos juizados especiais. Não cabe apenas
citação por edital e por carta rogatória. (Enunciado 110, 25º FONAJE)
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6. Revelia

Ocorre quando o acusado citado pessoalmente (art. 367) ou por hora certa (art. 362, p.
único) não apresenta resposta à acusação ou quando não comparecer para ato judicial ao qual
tenha sido intimado, injustificadamente.
Por outro lado, ao citado por edital, que não comparece e não constitui advogado, aplicam-
se as disposições do art. 366, suspendendo-se o processo e o prazo prescricional.
Por conta da decretação da revelia, o processo seguirá sem a presença do acusado,
assegurada, porém, à assistência da defesa técnica.

Art. 367. O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado
pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou, no caso
de mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo.

Efeitos da revelia:
a) Não haverá presunção de veracidade dos fatos narrados na inicial
Isso decorre da regra probatória que deriva do princípio da presunção de inocência, pois,
mesmo quando o acusado for revel o ônus da prova é da acusação. É contrária à previsão do
processo civil.

b) Desnecessidade de intimação do acusado para a prática dos demais atos processuais.


Não é necessária a intimação do acusado para comparecer aos atos do processo. Ou seja,
em regra, não é necessária a intimação, salvo na hipótese de sentença condenatória ou
absolutória imprópria. Nesses casos, o acusado deve ser intimado para que, querendo, possa
interpor o recurso adequado. O acusado tem capacidade postulatória para interpor recurso.
O advogado, contudo, deverá ser intimado.

c) Quebramento da fiança e perda da metade do valor


Quanto ao acusado afiançado que, posteriormente se torna revel, haverá quebramento da
fiança e consequente perda da metade do valor pago.

Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado:


I - regularmente intimado para ato do processo, deixar de comparecer, sem motivo justo.

Cessação da revelia:
Irá ocorrer caso o acusado compareça posteriormente. O acusado receberá o processo no
estado em que se encontrar.

7. Reação Defensiva à Peça Acusatória


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Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se
não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à
acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. No caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a fluir a
partir do comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído.

Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo o que
interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas
pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando
necessário.
§ 1o A exceção será processada em apartado, nos termos dos arts. 95 a 112 deste Código.
§ 2o Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir
defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10
(dez) dias.

a) Distinções
Cumpre, de início, fazer algumas distinções:

Defesa prévia Defesa preliminar Resposta à acusação


Previsão Art. 395 do CPP, revogado. Em alguns procedimentos Art. 396-A e art. 406, CPP
** Foi extinta pela Lei especiais:
11.719/08 - Lei de drogas;
- Procedimento originário dos
 Art. 395.  O réu ou seu defensor Tribunais;
poderá, logo após o - Juizados Especiais criminais
interrogatório ou no prazo de
três dias, oferecer alegações (pode ser apresentada
escritas e arrolar testemunhas. oralmente);
- Crimes funcionais afiançáveis
(art. 514, CPP).
Obs: Hoje todos os crimes
funcionais são afiançáveis.
- Improbidade Administrativa
(mas essa lei não tem
natureza criminal)
Momento Depois do interrogatório. Entre o oferecimento e o Depois da citação do acusado,
recebimento da inicial ou seja, após o recebimento
acusatória. da inicial.
a) Lei de Drogas: 10 dias;
b) Procedimento dos 10 dias,
Prazos 3 dias Tribunais: 15 dias; a partir da data da intimação
c) Crimes funcionais STF, Súmula 710
afiançáveis: 15 dias;
41

d) Juizado especial: oralmente.


Finalidade Arrolar testemunhas da Convencer o juiz da rejeição Convencer o juiz acerca da
defesa, sob pena de da peça acusatória, evitando- presença de uma das causas
preclusão. se a instauração de processos da absolvição sumária do
temerários. (art. 395, CPP) acusado.
Subsidiariamente deve o
defensor arguir preliminares e
especificar as provas
pretendidas.
Legitimidade Acusado ou advogado (não Só pode ser apresentada por Somente o advogado pode
havia necessidade de advogado inscrito na OAB apresentar (doutrina
capacidade postulatória) majoritária).
Porém há doutrinadores que
interpretam de forma
gramatical o art. 396-A,
dizendo que o acusado
poderia apresentar.

Consequência Não apresentada a defesa, Súmula 303 do STJ diz que a A ausência da resposta à
só haveria nulidade se a resposta preliminar é acusação é causa de nulidade
defesa não fosse intimada desnecessária na ação penal absoluta, devendo ser
para a apresentação. instruída por inquérito policial. nomeado defensor dativo,
Isso porque era comum o Essa súmula só fala da defesa com prazo adicional de 10
acusado não apresentar preliminar do art. 514. Viola o dias.
defesa por não possuir princípio da isonomia e do
testemunhas devido processo legal.
Já o STF entende que a
ausência de defesa preliminar
é causa de nulidade relativa,
conforme entendimento dos
Tribunais: STF, HC 85.779
(obter dictum)/ 100.515 /
89.517
STJ, HC 144.417 / 173.384
A nulidade deve ser arguida
oportunamente (ocasião da
citação) e demonstrar o
prejuízo.

Defesa preliminar do art. 314:


42

- Somente é aplicável aos crimes funcionais típicos. O simples fato de ser funcionário
público não acarreta a aplicação desse procedimento. Apenas os crimes previstos nos arts. 312-
326. STJ RHC 22.118.
- Não se aplica aos corréus particulares.
- Só é necessária enquanto o agente estiver no exercício da função pública. Pois essa
defesa existe apenas para proteger o cargo.

Art. 514.  Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida forma, o juiz


mandará autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para responder por escrito, dentro
do prazo de quinze dias.

Parágrafo único.  Se não for conhecida a residência do acusado, ou este se achar fora da
jurisdição do juiz, ser-lhe-á nomeado defensor, a quem caberá apresentar a resposta
preliminar.

Apesar desse §ú, a doutrina entende que o acusado deve ser intimado perante carta
precatória.

A Súmula 330 do STJ foi editada em razão de ser comum a inobservância da defesa
preliminar em razão de funcionário público.
STJ, Súmula 330. É desnecessária a resposta preliminar de que trata o artigo 514 do Código
de Processo Penal (funcionário público), na ação penal instruída por inquérito policial.
É por isso que o STF é contrário a essa súmula, conforme discussão incidental no HC
85.779.

b) Procedimentos com previsão legal de defesa preliminar e (des)necessidade de


apresentação de resposta à acusação
Frisa-se que os artigos:
- art. 395 (rejeição),
- art. 396 (recebimento da inicial e citação), aplicam-se a todos os procedimentos de 1º
- art. 396-A (resposta à acusação), grau, ainda que não regulados pelo CPP
- art. 397 (absolvição sumária)

Art. 394. § 4o As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os
procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código.

No entanto, discute-se a aplicação da resposta à acusação quando também estiver previsto


ao procedimento defesa preliminar. Porque neste caso, teria duas peças da defesa.
No caso da Lei de drogas, por exemplo, há:
1) Oferecimento da denúncia;
2) Defesa preliminar 10 dias (art. 55);
3) Recebimento e citação;
43

3) Resposta à acusação 10 dias (art. 394, §4º)?


4) Absolvição sumária;
5) Audiência de instrução e julgamento.
Nesse caso, haverá duas manifestações da defesa? Para concurso da Defensoria pública,
sustentar as duas defesas.
Para os demais, o ideal é que só haja uma defesa. Nesse caso, no momento da notificação
para a defesa preliminar, deve o acusado ser notificado, desde já, para também apresentar
resposta à acusação, em conjunto. Desse modo, o réu não fica prejudicado pela perda do direito
de defesa, mas também não restará prejudicada a celeridade do processo. No entanto, há
divergências na doutrina.

c) Pedido de absolvição sumária


Frisa-se que, em sede de resposta à acusação, a absolvição sumária só deve ser pleiteada
em sede de defesa quando se constatar a alta probabilidade de acolhimento. Não sendo esse caso,
o defensor poderá guardar testes defensivas para momento posterior.

8. Oitiva do Ministério Público (ou do querelante) após a Resposta à Acusação

Não está prevista expressamente no âmbito do procedimento comum. Para o STJ essa
oitiva não deve ser realizada após a resposta à acusação.
Não parece, porém, ser acertado o entendimento do STJ, eis que podem ser juntados
documentos em sede de resposta à acusação, capazes de gerar, inclusive, a absolvição sumária do
acusado.
Desse modo, apesar de não haver previsão legal, a doutrina vem entendendo que, diante
de fatos ou provas dos quais o MP não tinha prévia ciência, deve o órgão ministerial ser ouvido
após a apresentação da resposta à acusação, em fiel observância ao princípio do contraditório,
aplicando-se subsidiariamente o art. 409 do CPP (procedimento do júri).

Art. 409. Apresentada a defesa, o juiz ouvirá o Ministério Público ou o querelante sobre
preliminares e documentos, em 5 (cinco) dias.

No entanto, se a defesa limitar-se a arrolar testemunhas, não será necessária a oitiva do


MP.

9. Absolvição sumária

Foi introduzida no procedimento comum pela Lei 11.719/08. Antes disso, a absolvição
sumária era prevista somente em sede de:
a) Procedimento do Júri (art. 415);
b) Procedimento originário dos Tribunais (Lei 8.038/90, art. 6º);
44

c) Responsabilidade de funcionários públicos (art. 516 do CPP).

A absolvição sumária tem sido chamada vulgarmente como “julgamento antecipado da


lide”, que, no processo penal, só é admissível em decisão de natureza absolutória. Evitar falar lide,
pois não há conflito de interesses entre o MP e acusado, e também porque a pretensão resistida é
inerente ao processo penal.
Para que haja absolvição sumária é necessário juízo de certeza, tanto no processo comum
como no processo do Júri. Ou seja, havendo dúvidas sobre excludente não autoriza a absolvição
sumária, mas autoriza absolvição final (art. 386).

Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz
deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo
inimputabilidade;
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou
IV - extinta a punibilidade do agente.

Esse artigo é aplicado em qualquer procedimento de 1º grau, ainda que não regulado pelo
CPP. Inclusive pode ser aplicada no processo penal militar.

Absolvição Sumária do Procedimento Absolvição Sumária do Procedimento


Comum do Júri
Excludente de ilicitude Provada a inexistência do fato
Excludente de culpabilidade, salvo Provado não ser ele autor ou partícipe
Hipóteses inimputabilidade*** do fato
Excludente de tipicidade (atipicidade Excludente de tipicidade (atipicidade
formal ou material) formal ou material)
Causa de extinção da punibilidade*** Excludente de ilicitude
Excludente de culpabilidade
Não é possível a absolvição sumária do É cabível a absolvição sumária imprópria
Inimputável inimputável do art. 26, caput, do CP do inimputável do art. 26, desde que
(com base na inimputabilidade). esta seja sua única tese defensiva.
Momento Ocorre antes da audiência de instrução Ocorre ao final da 1ª fase do
e julgamento. procedimento do júri, ou seja, após
audiência de instrução e julgamento
perante o juiz sumariante. No
procedimento do júri, não é possível a
absolvição sumária do art. 397, CPP.
Coisa Faz coisa julgada formal e material
45

julgada (Há uma efetiva análise do mérito, diferentemente da rejeição da peça acusatória,
que sói faz coisa julgada formal – aspectos processuais)
Recurso Admite recurso de apelação (art. 593, I, CPP), salvo no caso da extinção da
punibilidade (pois não tem natureza absolutória, mas sim declaratória
extintiva da punibilidade), que admite RSE (art. 581, VIII).

*** Causa de extinção da punibilidade


Não tem natureza absolutória, mas sim, declaratória, de modo que essa hipótese não
deveria estar inserida no artigo referente à absolvição sumária do art. 397.
STJ, Súmula 18.

*** Absolvição de inimputável


No procedimento comum, o inimputável (art. 26, CP) não pode ser absolvido sumariante. A
medida de segurança não pode ser aplicada no início do processo, razão pela qual não se admite a
absolvição sumária no procedimento comum.
Essa regra é excepcionada no Júri, que admite a absolvição sumária imprópria, desde que
esta seja a sua única tese defensiva. Nesse caso, o réu cumprirá medida de segurança. Porém,
havendo outra tese defensiva, deve o processo ser levado a Júri, para se pleitear absolvição
própria.
Se tem apenas essa tese defensiva, não precisa mandar para oi júri. Mas se tiver outra tese,
como a negação do crime, o juiz deve pronunciá-lo, pois no júri, ele pode ser absolvido, mais
favorável, portanto, que a medida de segurança.

Art. 415.  O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando: (Redação
dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – provada a inexistência do fato; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de
2008)
III – o fato não constituir infração penal; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime. (Redação dada pela
Lei nº 11.689, de 2008)
Parágrafo único.  Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de
inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de
1940 – Código Penal, salvo quando esta for a única tese defensiva. (Incluído pela Lei nº
11.689, de 2008)

10. Designação de audiência

Só irá ocorrer se o acusado não tiver sido absolvido sumariamente.


46

a) Prazo da AIJ
- Procedimento ordinário: até 60 dias;
- Procedimento sumário: até 30 dias.

b) Audiência de suspensão condicional do processo


A audiência designada pode ter a finalidade de aceitação da suspensão condicional do
processo.
A doutrina diverge quanto ao momento da audiência de suspensão do processo, se deve
ocorrer antes, depois, ou durante a audiência de instrução.
A posição mais acertada parece ser aquela que, uma vez rejeitado o pedido de absolvição
sumária, deve ser designada audiência específica para que o acusado pronuncie-se quanto à
proposta. Ou seja, a suspensão deve se dar depois da absolvição sumária e antes da audiência de
instrução.

Síntese:
1. Oferecimento da denúncia ou da queixa
2. Juízo de admissibilidade da peça acusatória (recebimento ou rejeição)
3. Citação (se recebida a peça acusatória)
4. Resposta à acusação (art. 396-A)
5. Oitiva do MP ou querelante
6. Absolvição sumária (art. 397)
7. Designação da audiência una de instrução e julgamento
- No procedimento comum ordinário: até 60 dias
- No procedimento comum sumário: até 30 dias

11. Audiência una de instrução e julgamento

Foi introduzida no procedimento comum pela Lei 11.719/08, consagrando o Princípio da


Oralidade no procedimento comum. Este princípio já era adotado no procedimento do Júri e dos
Juizados Especiais Criminais.
Consequências
a) Concentração dos atos processuais
Visa reduzir o procedimento a uma ou poucas audiências.
b) Imediatidade da relação do juiz com a prova
Como a ideia é a de fazer uma única audiência, o juiz da instrução terá contato direto com
a prova, decidindo com verdadeiro conhecimento da causa (busca pela verdade).
c) Irrecorribilidade das decisões interlocutórias
47

Eventual decisão irrecorrível proferida no curso da audiência deve ser prontamente


impugnada, por meio de protesto na ata de audiência, para que possa ser alegada
posteriormente como preliminar de apelação.
d) Princípio da identidade física do juiz
Foi introduzido no procedimento comum pela Lei 11.719/08.
Art. 399. § 2o O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. (Incluído pela Lei
nº 11.719, de 2008).
Segundo a doutrina e os Tribunais, aplica-se, subsidiariamente, o art. 132 do CPC:
Art. 132. O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver
convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em que
passará os autos ao seu sucessor.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese, o juiz que proferir a sentença, se entender
necessário, poderá mandar repetir as provas já produzidas.
Frisa-se que continua sendo possível a realização de atos processuais por precatória,
rogatória e videoconferência. Ou seja, identidade física não significa contato físico.
STJ, CC 99.023: 1. Com a introdução do princípio da identidade física do Juiz no processo
penal pela Lei 11.719/08 (art. 399, § 2o. do CPP), o Magistrado que presidir os atos instrutórios,
agora condensados em audiência una, deverá proferir a sentença, descabendo, em regra, que o
interrogatório do acusado, visto expressamente como autêntico meio de defesa e deslocado para o
final da colheita da prova, seja realizado por meio de carta precatória, mormente no caso de réu
preso, que, em princípio, deverá ser conduzido pelo Poder Público (art. 399, § 1o. do CPP); todavia,
não está eliminada essa forma de cooperação entre os Juízos, conforme recomendarem as
dificuldades e as peculiaridades do caso concreto, devendo, em todo o caso, o Juiz justificar a
opção por essa forma de realização do ato. 2. A adoção do princípio da identidade física do Juiz
no processo penal não pode conduzir ao raciocínio simplista de dispensar totalmente e em todas as
situações a colaboração de outro juízo na realização de atos judiciais, inclusive do interrogatório
do acusado, sob pena de subverter a finalidade da reforma do processo penal, criando entraves à
realização da Jurisdição Penal que somente interessam aos que pretendem se furtar à aplicação da
Lei. (...)
Exceção: magistrado instrutor (Lei 8.038, art. 3º).
Trata-se do juiz ou desembargador convocado pelo STF ou STJ para realizar a instrução dos
processos nos casos de competência originária dos Tribunais. Este juiz não irá decidir, mas tão
somente instruir o processo.
Ordem dos atos processuais
1) Declarações do ofendido; 2) Inquirição das testemunhas **; 3) Esclarecimentos dos
peritos; 4) Acareações; 5) Reconhecimento de pessoas e coisas; 6) Interrogatório do acusado **.
Inquirição das testemunhas
a) Substituição de testemunhas
48

Antes das alterações de 2008, a substituição estava prevista na antiga redação do art. 397
do CPP. Após as alterações de 2008, porém, esse artigo passou a tratar da absolvição sumária.
Hoje, então, não há norma que defina a substituição de testemunhas. No entanto, os
Tribunais continuam entendendo como possível a substituição de testemunhas, mas com
fundamento no art. 408 do CPC.
CPC, Art. 408. Depois de apresentado o rol, de que trata o artigo antecedente, a parte só
pode substituir a testemunha: I - que falecer; II - que, por enfermidade, não estiver em condições
de depor; III - que, tendo mudado de residência, não for encontrada pelo oficial de justiça.
b) Desistência da oitiva de testemunhas
Enquanto a testemunha não for ouvida, “pertencerá” à parte que a arrolou, pouco
importando a concordância da parte contrária. É por isso que, por vezes, a defesa e a acusação
podem arrolar as mesmas testemunhas.
Ou seja, a desistência é possível, independentemente da concordância da parte contrária,
salvo se esta também arrolou a mesma testemunha.
Art. 401. § 2o A parte poderá desistir da inquirição de qualquer das testemunhas arroladas,
ressalvado o disposto no art. 209 deste Código (testemunhas indicadas pelo juízo).
Exceção: no Plenário do Júri, instalada a sessão, a desistência de testemunha depende da
concordância da parte contrária, do juiz presidente e dos jurados.
c) Retirada do acusado da sala de audiências
Em razão da ampla defesa é conferida a possibilidade de autodefesa ao acusado, que se
divide em três: 1) Direito de audiência: ser ouvido pelo juiz em sede de interrogatório; 2) Direito
de presença: acompanhar a instrução do processo; 3) Capacidade postulatória autônoma: em
situações expressas.
O direito de presença do acusado não é absoluto, podendo sofrer restrições quando se
verificar que a presença do acusado causa temor ao ofendido e às testemunhas. Essa retirada
deve ser fundamentada pelo juiz na ata de audiência.
A Lei prevê que primeiro deve ser realizada a oitiva da testemunha por videoconferência
(1º). Não sendo possível, poderá o juiz determinar a retirada do acusado da audiência (2º), o que
não inviabilizará a defesa técnica do acusado (presença do defensor na audiência).
Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou
sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do
depoimento, fará a inquirição por videoconferência (1º) e, somente na impossibilidade dessa
forma, determinará a retirada do réu (2º), prosseguindo na inquirição, com a presença do seu
defensor.
Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas no caput deste artigo deverá
constar do termo, assim como os motivos que a determinaram.
Na Justiça do RS tem-se realizado o “depoimento sem danos”, principalmente para a oitiva
de testemunhas ou vítimas que sejam crianças, que serão ouvidas por psicólogo habilitado.
d) Inversão da ordem de oitiva das testemunhas
49

Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60


(sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas
arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste
Código (oitiva por carta precatória), bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e
ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado.
Regra: 1º) Testemunhas de acusação; 2º) Testemunhas de defesa.
Exceção: oitiva de testemunhas por carta precatória ou concordância da parte contrária.
Eventual inversão da ordem fora dessas hipóteses é causa de mera nulidade relativa. Não
será reconhecida a nulidade no caso de testemunha abonatória que pode ser ouvida antes do
encerramento das testemunhas da acusação, pois não haverá prejuízo efetivo.
e) Colheita do depoimento das testemunhas
Antes das alterações de 2008, o depoimento testemunhal era realizado pelo Sistema
Presidencialista, segundo o qual o juiz era o primeiro a inquirir a vítima (1º) e depois pelas partes
(2º), por intermédio do juiz.
Críticas: o juiz acabava por alterar as formulações do acusador ou defensor, bem como,
tinha a testemunha tempo suficiente para refletir sobre a resposta.
Após as alterações de 2008, foi abandonado o Sistema Presidencialista no procedimento
comum, adotando-se, hoje, o Exame Direto e Cruzado (Direct and Cross Examination).
Ou seja, a ordem de inquirição é a seguinte:
1º) Ministério Público: pergunta diretamente à testemunha de acusação (exame direto).
2º) Defensor: pergunta à testemunha de acusação (exame cruzado).
Há doutrina que divide o “sistema cross examination” em:
- “As to facts”: perguntas em relação aos fatos criminosos.
- “As to credit”: perguntas em relação à credibilidade da testemunha.
3º) Juiz: complementa a inquirição quanto aos pontos não esclarecidos (papel subsidiário
ou residual na gestão da prova).
Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não
admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou
importarem na repetição de outra já respondida.
Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a
inquirição. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
Caso o juiz viole a disposição do art. 212, insistindo em adotar o Sistema Presidencialista,
haverá nulidade relativa, conforme entendimento majoritário nos Tribunais.
STF, HC 103.525.
Exceção:
Frisa-se que, a inquirição de testemunhas em sede de Plenário do Júri, o juiz é o primeiro a
formular perguntas às testemunhas.
Art. 473. Prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a instrução plenária quando
o juiz presidente, o Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor do acusado
50

tomarão, sucessiva e diretamente, as declarações do ofendido, se possível, e inquirirão as


testemunhas arroladas pela acusação.
§ 1o Para a inquirição das testemunhas arroladas pela defesa, o defensor do acusado
formulará as perguntas antes do Ministério Público e do assistente, mantidos no mais a ordem e
os critérios estabelecidos neste artigo.
§ 2o Os jurados poderão formular perguntas ao ofendido e às testemunhas, por
intermédio do juiz presidente.
f) Indeferimento da oitiva de testemunhas
O juiz pode indeferir a prova testemunhal, desde que ela seja irrelevante, impertinente ou
protelatória (art. 400, caput, CPP). Esse indeferimento, porém, deve se basear em fatos concretos
e deve ser fundamentado.
STF, RHC 83.987.
As cartas rogatórias, do mesmo modo, também só serão expedidas quando demonstrada
previamente a sua imprescindibilidade (art. 222-A).
Interrogatório do acusado
Em regra, no procedimento comum, o interrogatório do acusado será realizado ao final da
audiência.
Exceção:
Em sede de delação premiada, conforme a Lei 9.807/89, art. 19-A (Lei de proteção às
testemunhas), pode ser invertida a ordem de oitiva do acusado que delatar os outros acusados,
sendo inquirido antecipadamente, logo após a citação.
Art. 19-A. Terão prioridade na tramitação o inquérito e o processo criminal em que figure
indiciado, acusado, vítima ou réu colaboradores, vítima ou testemunha protegidas pelos
programas de que trata esta Lei.
Parágrafo único. Qualquer que seja o rito processual criminal, o juiz, após a citação,
tomará antecipadamente o depoimento das pessoas incluídas nos programas de proteção
previstos nesta Lei, devendo justificar a eventual impossibilidade de fazê-lo no caso concreto ou o
possível prejuízo que a oitiva antecipada traria para a instrução criminal. (Incluído pela Lei nº
12.483, de 2011)

3.12. Diligências
Ao final da audiência, as partes poderão requerer diligências referentes aos fatos que
surgirem durante o curso do processo.
Antigamente essa fase de diligências era autônoma, por escrito. Hoje, o pedido de
diligências deve ser realizado ao final da própria audiência, podendo o pedido ser ou não, deferido
pelo juiz.
Art. 402. Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Público, o querelante e o
assistente e, a seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja necessidade se origine de
circunstâncias ou fatos apurados na instrução. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
51

AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO

1. Prévia audiência para fins de oferecimento da proposta da suspensão condicional do


processo

Lei 9.099/95 – art. 89


Pena mínima igual ou inferior a 1 ano.
O supremo passou a entender que se a pena de multa estiver cominada alternativamente,
será cabível a suspensão ainda que a pena mínima seja superior a 1 ano. (HC 83.926)
O promotor de justiça, ao fazer a denúncia, percebendo ser cabível, oferece proposta de
suspensão condicional do processo junto com a peça acusatória, em outra petição.

Acusação ---- juízo de admissibilidade ---- citação ---- resposta à acusação ---- oitiva MP ----
Recebimento 396-A

Análise de possível ---- Rejeitado o pedido de absolvição sumária, diz o art. 399 que o juiz
absolvição sumária deve designar a audiência una de instrução e julgamento

Em que momento o acusado diz se aceita ou não a proposta de suspensão?


Há doutrinador que diz que deve ser oferecida no início da audiência uma de instrução e
julgamento. Todavia, o inconveniente é as 8 testemunhas de acusação e as 8 de defesa que se
deslocam até o foro a toa caso o acusado aceite a suspensão condicional do processo.
Assim, o correto é que, após ser rejeitada a absolvição sumária, o juiz deve designar
audiência específica para fins de aceitação de proposta de suspensão condicional do processo.

2. Princípio da oralidade

Deve-se dar preponderância da palavra falada e não escrita.


Foi introduzida no procedimento comum pela Lei 11.719/08, que previu audiência una de
instrução e julgamento, consagrando, assim, o Princípio da Oralidade no procedimento comum.
Este princípio já era adotado no procedimento do Júri e dos Juizados Especiais Criminais.

2.1. Consequências ou subprincípios:

a) Concentração dos atos processuais: Visa reduzir o procedimento a uma ou poucas


audiências.
52

b) Imediatismo da relação do juiz com a prova: Como a ideia é a de fazer uma única
audiência, o juiz da instrução terá contato direto com a prova, decidindo com verdadeiro
conhecimento da causa (busca pela verdade).

c) Irrecorribilidade das decisões interlocutórias: Eventual decisão irrecorrível proferida no


curso da audiência deve ser prontamente impugnada, por meio de protesto na ata de audiência,
para que possa ser alegada posteriormente como preliminar de apelação.

d) Princípio da identidade física do juiz: Foi introduzido no procedimento comum pela Lei
11.719/08. O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. (Incluído pela Lei nº 11.719,
de 2008, art. 399. § 2o).
Segundo a doutrina e os Tribunais, aplica-se, subsidiariamente, o art. 132 do CPC:

Art. 132. O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide, salvo se
estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado,
casos em que passará os autos ao seu sucessor.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese, o juiz que proferir a sentença, se entender
necessário, poderá mandar repetir as provas já produzidas.

Assim, diante do silencio do CPP aplicam-se as restrições do art. 132 do CPC.


Frisa-se que continua sendo possível a realização de atos processuais por precatória,
rogatória e videoconferência. Ou seja, identidade física não significa contato físico. (STJ, HC
184.838).

STJ, CC 99.023: 1. Com a introdução do princípio da identidade física do Juiz no processo


penal pela Lei 11.719/08 (art. 399, § 2o. do CPP), o Magistrado que presidir os atos
instrutórios, agora condensados em audiência una, deverá proferir a sentença,
descabendo, em regra, que o interrogatório do acusado, visto expressamente como
autêntico meio de defesa e deslocado para o final da colheita da prova, seja realizado por
meio de carta precatória, mormente no caso de réu preso, que, em princípio, deverá ser
conduzido pelo Poder Público (art. 399, § 1o. do CPP); todavia, não está eliminada essa
forma de cooperação entre os Juízos, conforme recomendarem as dificuldades e as
peculiaridades do caso concreto, devendo, em todo o caso, o Juiz justificar a opção por
essa forma de realização do ato. 2. A adoção do princípio da identidade física do Juiz no
processo penal não pode conduzir ao raciocínio simplista de dispensar totalmente e em
todas as situações a colaboração de outro juízo na realização de atos judiciais, inclusive do
interrogatório do acusado, sob pena de subverter a finalidade da reforma do processo
penal, criando entraves à realização da Jurisdição Penal que somente interessam aos que
pretendem se furtar à aplicação da Lei. (...)

O princípio da identidade física do juiz não impede a realização de atos instrutórios por
carta precatória ou rogatória ou por meio de videoconferência. (HC 135.416/2010).
53

Obs: Magistrado Instrutor (Lei 8.038, art. 3º, III, alterada pela Lei 12.019/09)
São os juízes estaduais ou federais, bem como desembargadores dos TJ’s ou TRF’s
convocados pelos ministros do STF ou STJ, pelo prazo de 6 meses, prorrogável por igual período,
até o máximo de 2 anos, para realizar a instrução dos processos nos casos de competência
originária dos Tribunais superiores. Este juiz não irá decidir, mas tão somente instruir o processo.
Ex: mensalão.
Essa figura é plenamente compatível com o princípio da identidade física do juiz.

Ordem dos atos processuais


1) Declarações do ofendido; 2) Inquirição das testemunhas **; 3) Esclarecimentos dos
peritos; 4) Acareações; 5) Reconhecimento de pessoas e coisas; 6) Interrogatório do acusado **.

3. Instrução probatória em audiência

Art. 400, CPP


- Declaração do ofendido
- Inquirição de testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem
- Esclarecimentos dos peritos, acareações e reconhecimento de pessoas ou coisas
- Interrogatório do acusado

 Art. 400.  Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60


(sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das
testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto
no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao
reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado. (Redação
dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

3.1. Indeferimento de provas

O direito de prova é um desdobramento lógico do direito de ação e do direito de defesa.


Esse direito à prova não pode ser exercido de forma abusiva e desleal.
Desde que o faça de maneira fundamentada, o juiz pode indeferir a produção das
seguintes provas:
a) Provas irrelevantes: é aquela que apesar de tratar do objeto da causa, não possui
aptidão de influenciar no julgamento da causa. Ex: acareação por carta precatória.
b) Prova impertinente: é aquela que não diz respeito à imputação constante do processo.
c) Prova protelatória: é aquela que visa apenas ao retardamento do processo. Ex:
testemunha abonatória por carta precatória. É chamada apenas para falar sobre a conduta social
do acusado, não sabe nada sobre o crime.
54

O juiz não pode se valer de poderes adivinhatórios para supor que a prova é irrelevante,
impertinente ou protelatória. Só poderá indeferir as provas quando tiver certeza. Nesse caso, para
ter certeza, recomenda-se que o juiz pergunte ao advogado o motivo de inquirição da
testemunha, para após deferir ou indeferir.
*STF: RHC 83.987
*CPP: art. 400, §1º; art. 22-A

§ 1o  As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as


consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.

Art. 222-A.  As cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a sua


imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os custos de envio. (Incluído pela Lei
nº 11.900, de 2009)

3.2. Diligências requeridas pelas partes ao final da instrução

Última possibilidade de instrução que as partes podem pedir ao juiz. (art. 402, antes no
revogado art. 499)

Art. 402.  Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Público, o querelante e


o assistente e, a seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja necessidade se origine
de circunstâncias ou fatos apurados na instrução. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de
2008).

Esse requerimento deve ser feito na própria audiência una de instrução e julgamento.
Apenas diligência cuja necessidade tenha surgido durante a instrução do processo.

Recurso adequado:
a) Deferimento de diligência protelatória: Correição parcial
b) Indeferimento de diligência indispensável: não há recurso, assim, suscitar uma
preliminar de cerceamento da acusação ou da defesa em futura e eventual apelação.

O juiz também poderá realizar de ofício a realização de diligências. Somente deve ser feita
de maneira residual, de modo a não substituir às partes no tocante às provas.

Art. 404.  Ordenado diligência considerada imprescindível, de ofício ou a requerimento da


parte, a audiência será concluída sem as alegações finais
4. Alegações finais

Consiste no ato postulatório apresentado pelas partes ao final da instrução probatória


(precede à sentença final), no qual o MP, o advogado do querelante, ao advogado do assistente e
o defensor devem realizar a detalhada análise dos elementos probatórios constantes do processo,
55

fornecendo subsídios ao magistrado para influenciar no seu convencimento no sentido da


condenação ou da absolvição do acusado.

4.1. Forma de apresentação

Antes das alterações de 2008, as alegações eram sempre alegações finais apresentadas por
escrito (memoriais).
Regra: após 2008, em regra, as alegações devem ser realizadas de forma oral. As alegações
devem ser realizadas por meio de breve resumo dos fatos, lavradas em termo (art. 405).

Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão oferecidas
alegações finais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela acusação e pela
defesa, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença.
§ 1o Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será
individual.

As alegações devem ser orais, já que o procedimento deve ser preferencialmente oral. O
escrivão apenas deve fazer um breve resumo para constar em ata. (art. 405, CPP). Não pode ser
“ditado” ou em “pen drive”.

Segundo doutrina majoritária, havendo mais de um acusado, tanto o tempo da defesa


quanto da acusação deverá ser aumentado proporcionalmente (paridade de armas). Porém, há
doutrina que entende somente ter a defesa direito ao prazo aumentado.

O prazo é de 20 minutos prorrogáveis por mais 10min.


Assistente fala depois do MP, por 10 minutos.
Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um, o tempo seja
individual.

 Art. 403.  Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão oferecidas
alegações finais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela acusação e pela
defesa, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença. (Redação
dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

§ 1o  Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será
individual.

§ 2o Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação desse, serão concedidos 10


(dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa.

3.2. Substituição das alegações orais por memoriais (escritas)

Prazo: em 5 dias.
56

§ 3o O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados,


conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de
memoriais. Nesse caso, terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença.

- Complexidade da causa;
- Número de acusados;
- Deferimento de diligências ao final da audiência;
- Interrogatório por precatória
- Acordo entre as partes: essa situação não se encontra prevista na Lei, mas ocorre muito
na prática.

Art. 404. Ordenado diligência considerada imprescindível, de ofício ou a requerimento da


parte, a audiência será concluída sem as alegações finais.
Parágrafo único. Realizada, em seguida, a diligência determinada, as partes apresentarão,
no prazo sucessivo de 5 (cinco) dias, suas alegações finais, por memorial, e, no prazo de
10 (dez) dias, o juiz proferirá a sentença.

4.3. Conteúdo das alegações finais

- Nulidades.
a) Relativa: deve ser arguida sob pena de preclusão.
b) Absoluta: talvez seja mais interessante arguir esta nulidade posteriormente. (defesa)
c) MP arguir a nulidade absoluta ou relativa, desde já.

- Ampla análise da prova produzida em juízo e subsidiariamente dos elementos


informativos colhidos na fase investigatória.

- Pedido
a) MP: condenação ou absolvição
b) Defesa: absolvição, exclusão de qualificadoras, exclusão de causas de aumento de pena,
desclassificação, etc.

4.4. Ausência de alegações finais

- Ministério Público: Aplica-se o art. 28 do CPP, possibilitando-se a remessa dos autos ao


Procurador-geral de Justiça. Isso porque, a ação penal é indisponível, não podendo o MP
abandonar o processo.
Pode-se dizer, portanto, que o Promotor é obrigado a apresentar alegações finais.

- Assistente: sem problema algum.


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- Advogado do querelante
a) Ação penal privada subsidiária da pública: MP reassume o pólo ativo.
b) Ação penal privada exclusiva personalíssima: terá a falta de pedido de condenação, ou
seja, perempção (art. 60, III). Causa de extinção de punibilidade.

- Defesa: É obrigatória a apresentação de alegações finais, sob pena de ausência da própria


defesa, constituindo nulidade absoluta.

STF, Súmula 523. No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a
sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.

Não apresentados memoriais pela defesa constituída, deve o juiz intimar o acusado para
que constitua novo defensor, sob pena de nomeação da defensoria pública para a apresentação
da defesa, sem prejuízo da aplicação de multa ao advogado desidioso.
STF, HC 92.680.
Desse modo, entende-se que o juiz só pode proferir decisão final após a apresentação de
alegações finais.

5. Sentença

A audiência una encerra-se com a sentença.

Inquirição das testemunhas

a) Substituição de testemunhas
Antes das alterações de 2008, a substituição estava prevista na antiga redação do art. 397
do CPP. Após as alterações de 2008, porém, esse artigo passou a tratar da absolvição sumária.
Hoje, então, não há norma que defina a substituição de testemunhas. No entanto, os
Tribunais continuam entendendo como possível a substituição de testemunhas, mas com
fundamento no art. 408 do CPC.
CPC, Art. 408. Depois de apresentado o rol, de que trata o artigo antecedente, a parte só
pode substituir a testemunha: I - que falecer; II - que, por enfermidade, não estiver em condições
de depor; III - que, tendo mudado de residência, não for encontrada pelo oficial de justiça.

b) Desistência da oitiva de testemunhas


Enquanto a testemunha não for ouvida, “pertencerá” à parte que a arrolou, pouco
importando a concordância da parte contrária. É por isso que, por vezes, a defesa e a acusação
podem arrolar as mesmas testemunhas.
Ou seja, a desistência é possível, independentemente da concordância da parte contrária,
salvo se esta também arrolou a mesma testemunha.
58

Art. 401. § 2o A parte poderá desistir da inquirição de qualquer das testemunhas arroladas,
ressalvado o disposto no art. 209 deste Código (testemunhas indicadas pelo juízo).
Exceção: no Plenário do Júri, instalada a sessão, a desistência de testemunha depende da
concordância da parte contrária, do juiz presidente e dos jurados.

c) Retirada do acusado da sala de audiências


Em razão da ampla defesa é conferida a possibilidade de autodefesa ao acusado, que se
divide em três: 1) Direito de audiência: ser ouvido pelo juiz em sede de interrogatório; 2) Direito
de presença: acompanhar a instrução do processo; 3) Capacidade postulatória autônoma: em
situações expressas.
O direito de presença do acusado não é absoluto, podendo sofrer restrições quando se
verificar que a presença do acusado causa temor ao ofendido e às testemunhas. Essa retirada
deve ser fundamentada pelo juiz na ata de audiência.
A Lei prevê que primeiro deve ser realizada a oitiva da testemunha por videoconferência
(1º). Não sendo possível, poderá o juiz determinar a retirada do acusado da audiência (2º), o que
não inviabilizará a defesa técnica do acusado (presença do defensor na audiência).

Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou
sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do
depoimento, fará a inquirição por videoconferência (1º) e, somente na impossibilidade dessa
forma, determinará a retirada do réu (2º), prosseguindo na inquirição, com a presença do seu
defensor.
Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas no caput deste artigo deverá
constar do termo, assim como os motivos que a determinaram.

Na Justiça do RS tem-se realizado o “depoimento sem danos”, principalmente para a oitiva


de testemunhas ou vítimas que sejam crianças, que serão ouvidas por psicólogo habilitado.

d) Inversão da ordem de oitiva das testemunhas


Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60
(sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas
arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste
Código (oitiva por carta precatória), bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e
ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado.

Regra: 1º) Testemunhas de acusação; 2º) Testemunhas de defesa.


Exceção: oitiva de testemunhas por carta precatória ou concordância da parte contrária.
59

Eventual inversão da ordem fora dessas hipóteses é causa de mera nulidade relativa. Não
será reconhecida a nulidade no caso de testemunha abonatória que pode ser ouvida antes do
encerramento das testemunhas da acusação, pois não haverá prejuízo efetivo.

e) Colheita do depoimento das testemunhas


Antes das alterações de 2008, o depoimento testemunhal era realizado pelo Sistema
Presidencialista, segundo o qual o juiz era o primeiro a inquirir a vítima (1º) e depois pelas partes
(2º), por intermédio do juiz.
Críticas: o juiz acabava por alterar as formulações do acusador ou defensor, bem como,
tinha a testemunha tempo suficiente para refletir sobre a resposta.
Após as alterações de 2008, foi abandonado o Sistema Presidencialista no procedimento
comum, adotando-se, hoje, o Exame Direto e Cruzado (Direct and Cross Examination).
Ou seja, a ordem de inquirição é a seguinte:
1º) Ministério Público: pergunta diretamente à testemunha de acusação (exame direto).
2º) Defensor: pergunta à testemunha de acusação (exame cruzado).
Há doutrina que divide o “sistema cross examination” em:
- “As to facts”: perguntas em relação aos fatos criminosos.
- “As to credit”: perguntas em relação à credibilidade da testemunha.
3º) Juiz: complementa a inquirição quanto aos pontos não esclarecidos (papel subsidiário
ou residual na gestão da prova).
Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não
admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou
importarem na repetição de outra já respondida.
Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a
inquirição. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
Caso o juiz viole a disposição do art. 212, insistindo em adotar o Sistema Presidencialista,
haverá nulidade relativa, conforme entendimento majoritário nos Tribunais.
STF, HC 103.525.
Exceção:
Frisa-se que, a inquirição de testemunhas em sede de Plenário do Júri, o juiz é o primeiro a
formular perguntas às testemunhas.
Art. 473. Prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a instrução plenária quando
o juiz presidente, o Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor do acusado
tomarão, sucessiva e diretamente, as declarações do ofendido, se possível, e inquirirão as
testemunhas arroladas pela acusação.
§ 1o Para a inquirição das testemunhas arroladas pela defesa, o defensor do acusado
formulará as perguntas antes do Ministério Público e do assistente, mantidos no mais a ordem e
os critérios estabelecidos neste artigo.
60

§ 2o Os jurados poderão formular perguntas ao ofendido e às testemunhas, por


intermédio do juiz presidente.

f) Indeferimento da oitiva de testemunhas


O juiz pode indeferir a prova testemunhal, desde que ela seja irrelevante, impertinente ou
protelatória (art. 400, caput, CPP). Esse indeferimento, porém, deve se basear em fatos concretos
e deve ser fundamentado.
STF, RHC 83.987.
As cartas rogatórias, do mesmo modo, também só serão expedidas quando demonstrada
previamente a sua imprescindibilidade (art. 222-A).

Interrogatório do acusado
Em regra, no procedimento comum, o interrogatório do acusado será realizado ao final da
audiência.
Exceção:
Em sede de delação premiada, conforme a Lei 9.807/89, art. 19-A (Lei de proteção às
testemunhas), pode ser invertida a ordem de oitiva do acusado que delatar os outros acusados,
sendo inquirido antecipadamente, logo após a citação.
Art. 19-A. Terão prioridade na tramitação o inquérito e o processo criminal em que figure
indiciado, acusado, vítima ou réu colaboradores, vítima ou testemunha protegidas pelos
programas de que trata esta Lei.
Parágrafo único. Qualquer que seja o rito processual criminal, o juiz, após a citação,
tomará antecipadamente o depoimento das pessoas incluídas nos programas de proteção
previstos nesta Lei, devendo justificar a eventual impossibilidade de fazê-lo no caso concreto ou o
possível prejuízo que a oitiva antecipada traria para a instrução criminal. (Incluído pela Lei nº
12.483, de 2011)

PROCEDIMENTO SUMÁRIO

O procedimento sumário assemelha-se ao procedimento ordinário, exceto pelas seguintes


características:
a) Prazo para a realização da audiência: 30 dias.
b) Número de testemunhas: até 5 testemunhas.
c) Requerimento de diligências ao final da AIJ
No procedimento sumário não há previsão legal expressa quanto ao requerimento de
diligências ao final da audiência de instrução. No entanto, tais diligências podem ser realizadas
pelo juiz com base no princípio da busca da verdade.
d) Memoriais
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No procedimento sumário não há previsão legal expressa quanto à substituição das


alegações orais por memoriais. No entanto, na prática pode ser feito acordo entre as partes para o
fim de apresentação de memoriais.

PROCEDIMENTO DO JÚRI

1. Princípios constitucionais

O Tribunal do Júri está previsto no art. 5º da CR, basicamente, em razão de duas


finalidades: proporciona a participação do povo no Poder Judiciário (participação democrática),
bem como enseja mais segurança à instituição.
CR, Art. 5º. XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,
assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

1.1. Plenitude de defesa

A ampla defesa (art. 5º, LV) diferencia-se da plenitude de defesa na medida em que aquela
é assegurada a todos os acusados, inclusive aos acusados por crime submetido ao Júri.
Já a plenitude de defesa é assegurada apenas aos acusados de crimes no Tribunal do Júri.
Trata-se de um instituto que vai além da ampla defesa.

- Plenitude de defesa técnica


No Tribunal do Júri, o advogado e o acusado não precisam limitar-se a uma atuação
exclusivamente técnica, podendo utilizar argumentos de caráter extrajurídico (razões de ordem
social, emocional, de política criminal, etc.).
Se o juiz considerar o acusado indefeso, deve o Juiz Presidente dissolver o Conselho de
Sentença e designar nova data para o julgamento.

Art. 497. V – nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso, podendo, neste
caso, dissolver o Conselho e designar novo dia para o julgamento, com a nomeação ou a
constituição de novo defensor;

- Plenitude da autodefesa
O acuado é livre para apresentar em seu interrogatório tese defensiva, ainda que distinta
daquela apresentada por seu advogado, tese esta que deve ser obrigatoriamente quesitada aos
jurados, sob pena de nulidade absoluta. (STF: HC 96.905 e HC 85.969)
62

STJ, HC 150.985: Há cerceamento de defesa no indeferimento de quesito correspondente à


tese defensiva de exclusão da culpabilidade pela inexigibilidade de conduta diversa.

1.2. Sigilo das votações

A ninguém é dado conhecer o sentido do voto do jurado (se voto sim ou votou não). O que
realmente é sigiloso é o voto do jurado e não a votação em si. O voto é sigiloso porque ninguém
deve saber o teor do voto do jurado, até mesmo para a sua proteção.
Essa garantia vigora até a data do julgamento. Encerrada a sessão e proclamada o
veredicto, já não há mais a proteção do sigilo. Assim, se for revelado posteriormente, não causará
a nulidade do júri.
Para tanto, utiliza-se de:

- Sala secreta (especial)


Trata-se de um exemplo de publicidade restrita e não ampla, como ocorre nas demais
audiências. Essa restrição é compatível com a Constituição da República e o princípio da
publicidade, pois a própria CF permite essa restrição, visto que há interesse público na proteção
dos jurados.

Art. 93, IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença,
em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em
casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não
prejudique o interesse público à informação;

Não estarão presentes na sala especial o público em geral e o acusado (salvo se o próprio
acusado exercer sua defesa técnica).

Art. 485. Não havendo dúvida a ser esclarecida, o juiz presidente, os jurados, o Ministério
Público, o assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça
dirigir-se-ão à sala especial a fim de ser procedida a votação.
§ 1o Na falta de sala especial, o juiz presidente determinará que o público se retire,
permanecendo somente as pessoas mencionadas no caput deste artigo.
§ 2o O juiz presidente advertirá as partes de que não será permitida qualquer intervenção
que possa perturbar a livre manifestação do Conselho e fará retirar da sala quem se portar
inconvenientemente.

Publicidade restrita porque estarão presentes o juiz, o MP, os jurados, assistente,


querelante, advogado, e não o público em geral.
Ex: art. 234-B, CP.
63

- Incomunicabilidade dos jurados


Uma vez sorteados os jurados, os jurados não poderão comunicar-se entre si ou com
terceiros, nem manifestar sua opinião sobre o processo. Essa incomunicabilidade vigora até o
julgamento do processo.
Eventual violação à incomunicabilidade é causa de nulidade absoluta.
Essa incomunicabilidade não tem caráter absoluto, porquanto diz respeito apenas ao
processo. (STF: AO 1046).

Art. 466.  Antes do sorteio dos membros do Conselho de Sentença, o juiz presidente
esclarecerá sobre os impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades constantes dos
arts. 448 e 449 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

§ 1o  O juiz presidente também advertirá os jurados de que, uma vez sorteados, não
poderão comunicar-se entre si e com outrem, nem manifestar sua opinião sobre o
processo, sob pena de exclusão do Conselho e multa, na forma do § 2o do art. 436 deste
Código. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

§ 2o  A incomunicabilidade será certificada nos autos pelo oficial de justiça.

- Votação unânime
Antes de 2008 todos os votos eram contabilizados. Logo, no caso de votação unânime (7 x
0) era possível saber o sentido do voto de cada um dos jurados.
Com as alterações de 2008, basta a abertura de 4 votos em um mesmo sentido, conforme
art. 483 e §§.

§ 1o  A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos quesitos referidos nos
incisos I e II do caput deste artigo encerra a votação e implica a absolvição do acusado.
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

§ 2o  Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos
incisos I e II do caput deste artigo será formulado quesito com a seguinte redação:
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

Essa forma deve ser usada para todos os demais quesitos e não apena para os quesitos I e
II.

1.3. Soberania dos veredictos

O Tribunal formado por juízes togados não pode modificar no mérito (condenação e
absolvição) a decisão proferida pelo Tribunal do Júri, sob pena de usurpação de sua competência
constitucional para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

- Apelação contra decisões do Júri e Revisão criminal


Esse princípio desdobra-se nas hipóteses de apelação contra decisões do Júri e na
possibilidade de revisão criminal contra a decisão do júri (itens 2 e 3)
64

As decisões do júri são recorridas, cabendo ao juízo ad quem fazer:


Juízo rescindente: cassação da decisão anterior.
Juízo rescisório: substituição da decisão anterior por outra.

- Princípio da não reformatio in pejus


Frisa-se que, em recurso exclusivo da defesa não se admite a reforma do julgado para
piorar a situação do acusado, seja, sob o ponto de vista qualitativo, quantitativo, ou para corrigir
eventual erro material (princípio da não reformatio in pejus).
A reformatio in pejus pode ser direta ou indireta. Será direta quando se referir à proibição
de o Tribunal proferir decisão mais desfavorável ao acusado em recurso exclusivo da defesa. Será
indireta quando a sentença impugnada for anulada em recurso exclusivo da defesa e o juiz de 1º
grau vier a proferir nova decisão em substituição à anterior de forma a agravar a situação do réu.
Isso porque, neste caso, o juiz de 1º grau vincula-se ao máximo da pena imposta na primeira
decisão (efeito prodrômico).

Ex.: denúncia pelo art. 121, §2º, I – sentença condenatória pelo art. 121, caput, com pena
de 6 anos – apelação exclusiva da defesa – Tribunal anula sentença condenatória – novo
julgamento no Tribunal do Júri – os jurados não se submetem ao teto da antiga pena, mas o juiz
deve atentar para o teto, quando a decisão dos jurados tenha sido idêntica a 1ª.
Os jurados são soberanos. Portanto, em um segundo julgamento, podem reconhecer
qualificadoras e/ou causas de aumento de pena que não foram reconhecidas no julgamento
anterior. Porém, se o resultado da votação do segundo julgamento for idêntico ao primeiro, o juiz
presidente não poderá agravar a pena do acusado, sob pena de violação ao princípio da “non
reformatio in pejus indireta”.
Frisa-se que há, no entanto, decisão do STF em sentido contrário:

STF, HC 89.544, de 14/04/09. Homicídio doloso. Tribunal do Júri. Três julgamentos da


mesma causa. Reconhecimento da legítima defesa, com excesso, no 2º julgamento.
Condenação do réu à pena de 6 (seis) anos de reclusão, em regime semiaberto.
Interposição de recurso exclusivo da defesa. Provimento para cassar a decisão anterior.
Condenação do réu, por homicídio qualificado no 3º julgamento, à pena de 12 (doze) anos
de reclusão, em regime integralmente fechado, no terceiro julgamento. Aplicação de pena
mais grave. Inadmissibilidade. Reformatio in peius indireta.

1.4. Competência para homicídio doloso contra a vida

Júri é um órgão do poder judiciário, só organizado por lei no âmbito da Justiça Estadual e
Justiça Federal. Não existe na Justiça Militar e Eleitoral.
65

Ex: policiais federais foram assassinados no exercício de suas funções – Júri da JF.

Trata-se da competência para processo e julgamento dos crimes previstos nos arts. 121 a
126 do CP.
Cuida de competência mínima, que não pode ser suprimida nem mesmo por emenda
constitucional (cláusula pétrea).
No entanto, pode essa competência ser ampliada, desde que a ampliação seja realizada
por lei. Ex.: crimes conexos e continentes, salvo se eleitorais ou militares (competência de Justiça).

Frisa-se que não são julgados pelo júri:


 Latrocínio e outros crimes contra o patrimônio: STF, Súmula 603.

 Atos infracionais: Juizado da Infância.

 Genocídio: Tutela-se a existência de grupo nacional, étnico, racial ou religioso, cuja


competência é do Juiz Singular. Se, todavia, o genocídio for praticado mediante a
morte de membros do grupo, haverá concurso formal impróprio entre o genocídio
e os homicídios. O agente deve responder pelos crimes de homicídio perante o Júri,
que terá força atrativa em relação ao crime conexo de genocídio.

 Foro por prerrogativa de função previsto na Constituição Estadual


Estando o foro previsto apenas na Constituição Estadual (ex.: vereadores do RJ),
não poderá prevalecer sobre a competência constitucional do Tribunal do Júri.

STF, Súmula 721. A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro
por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.

Quanto ao deputado estadual, há discussão sobre a competência prevista na


Constituição Estadual ou na Constituição da República. Segundo julgado recente do
STJ, a competência do Deputado Estadual encontra-se previsto na Constituição da
República, em razão da simetria.

 Crime político de matar o Presidente da República, do Senado, da Câmara, do STF


A morte que tiver razão política será julgada como crime político, devendo ser
julgado por Juiz singular federal (Lei 7.170/83, art. 29).

 Crime de homicídio praticado por militar da ativa contra militar da ativa


Esse crime será julgado pela Justiça Militar.
66

 Crime de homicídio doloso praticado por civil contra militar das forças armadas em
serviço (STF)
Esse crime será julgado pela Justiça Militar da União (HC 91.003).

 Tiro de abate (de destruição)


Encontra-se previsto no Código Brasileiro de Aeronáutica (art. 9º, p. único, com
redação dada pela Lei 12.432/11). Portanto, o tiro de abate deve ser julgado pela
Justiça Militar da União.

2. Apelação contra decisões do Júri

Juízo rescindente é a desconstituição ou cassação da decisão anterior. Já o Juízo rescisório


é a prolação de nova decisão em substituição à decisão anterior.
Para saber se o Tribunal fará o juízo rescindente ou rescisório deve-se analisar se a decisão
fora analisada e decidida pelos jurados ou pelo juiz-presidente. Sendo a decisão originária dos
jurados, o Tribunal não poderá prolatar nova decisão em substituição a dos jurados, sob pena de
ferir a soberania dos veredictos.

a) Qualificadoras, privilegiadoras, majorantes e minorantes


Qualificadoras, privilégios, causas de aumento e de diminuição de pena são apreciadas
pelos Jurados, razão pela qual gozam da proteção da soberania dos veredictos, não podendo ser
incluídas ou excluídas por ocasião do julgamento de eventual apelação.

b) Agravantes e atenuantes
No entanto, com as alterações de 2008, agravantes e atenuantes deixaram de ser
quesitada aos jurados, não gozando mais da proteção da soberania dos veredictos. Portanto,
havendo erro ou injustiça no tocante à aplicação de agravante ou atenuante, é possível que o
Tribunal de Justiça faça o juízo rescindente e rescisório por ocasião do julgamento de eventual
apelação, eis que tal matéria é de competência do juiz presidente.

c) Fundamentação vinculada
A apelação do júri trata-se de recurso de fundamentação vinculada, na medida em que o
efeito devolutivo da apelação é adstrito aos fundamentos da sua interposição (STF, Súmula 713).

d) Hipóteses de apelação do júri


Art. 593. III - das decisões do Tribunal do Júri, quando:

- ocorrer nulidade posterior à pronúncia;


67

Se a nulidade for anterior à pronúncia, deve ser impugnada no recurso interposto contra a
própria pronúncia, ou seja, em sede de RSE (art. 581 do CPP). Por isso, ao tratar da apelação do
art. 593, o CPP faz menção à nulidade posterior à pronúncia.
Tanto a nulidade absoluta quanto à relativa podem ser impugnadas por meio da apelação
do art. 593, III, a, sendo que a nulidade relativa deve ser arguida oportunamente, sob pena de ter
se operado a preclusão.
Em regra, ao julgar essa apelação, limita-se o juízo ad quem a fazer mero juízo rescindente,
desconstituindo a decisão impugnada.
Ex.: violação à plenitude de defesa.

- for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados;


O que se impugna neste caso não é a decisão dos jurados, mas sim a decisão do juiz-
presidente. Diante disso, o Tribunal pode fazer tanto o juízo rescindente (desconstituir a decisão),
quanto o juízo rescisório (prolatação de nova decisão).
Ex: regime integralmente fechado (contrário à lei)
Ex: Apesar do reconhecimento pelos jurados de uma qualificadora, o acusado é condenado
por homicídio simples.
O juízo ad quem (TJ/TRF) fará o juízo rescindente e também o rescisório. (cassação ou
prolação de nova sentença).

- houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;

§ 2o Interposta a apelação com fundamento no n o III, c, deste artigo, o tribunal ad quem, se


Ihe der provimento, retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança.

Erro é o equívoco na fixação da pena, já a injustiça relaciona-se à inadequada


individualização da pena.
Nesse caso, analisa-se a atuação do juiz, em sede de aplicação da pena, razão pela qual se
admite que o Tribunal faça tanto o juízo rescindente, quanto o rescisório, sem que haja violação à
soberania dos veredictos.
Qualificadoras, privilégios, causas de aumento e de diminuição de pena são quesitados
aos jurados, logo, não podem ser excluídos ou incluídos por ocasião do julgamento de eventual
apelação.
Porém, as agravantes e atenuantes não são quesitadas aos jurados (inovação da Lei), assim
o Tribunal poderá excluir ou incluir eventual circunstancia agravante ou atenuante no julgamento
da apelação.

- for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.


68

§ 3o Se a apelação se fundar no n o III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se convencer de


que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á
provimento para sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo
motivo, segunda apelação.

Decisão (de condenação ou apelação) manifestamente contrária à prova dos autos é


aquela que não encontra nenhum apoio no conjunto probatório do processo ou,
subsidiariamente, nos elementos informativos do inquérito policial.
A decisão dos jurados goza da proteção da soberania dos vereditos, razão pela qual,
quando o Tribunal for julgar a apelação, poderá apenas fazer o juízo rescindente, sujeitando o
acusado a novo julgamento perante o Tribunal do Júri.
Nesse novo julgamento, não poderão participar os mesmos jurados do primeiro processo,
em razão de impedimento legal. (súmula 206, STF)
Essa apelação só é cabível uma única vez, pouco importando quem a utilizou primeiro, se o
MP ou a defesa.

3. Revisão criminal contra decisões do Júri

Trata-se da ação autônoma que só pode ser ajuizada após o trânsito em julgado da
sentença condenatória ou absolutória imprópria.
É cabível contra decisões do Júri, não havendo violação à soberania dos veredictos, já que a
revisão vem ao encontro da proteção da liberdade do acusado. Não se pode perpetuar um erro
judiciário sob o argumento de que foi proferido pelo júri.
Parte da doutrina entende que não pode o Tribunal absolver, desde já, o acusado, devendo
devolver o caso ao julgamento do Tribunal do Júri. Porém, prevalece nos Tribunais o
entendimento de que podem os Tribunais realizar o juízo rescindente e, desde já, o juízo
rescisório.

4. Procedimento escalonado ou bifásico

O procedimento do júri divide-se em duas fases:

1ª FASE / SUMÁRIA DA CULPA / “JUDICIUM ACCUSATIONIS”

Tem início com o oferecimento da denúncia ou queixa. Aqui, há apenas participação do juiz
singular.
Admite-se ação penal privada subsidiária da pública, bem como a conexão de crime de Júri
com crime de ação penal privada. Neste caso, pode o juiz determinar a separação do processo por
conveniência, eis que a conexão é causa de competência relativa (art. 80 do CPP).
69

Art. 80.  Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido


praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo
número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo
relevante, o juiz reputar conveniente a separação.

Essa fase termina com a prolação de uma das seguintes decisões:


a) Impronúncia;
b) Desclassificação;
c) Absolvição sumária;
d) Pronúncia.

Qual a diferença do procedimento comum para essa primeira fase do Júri?


Essa fase do Júri assemelha-se ao procedimento comum ordinário. Porém há algumas
diferenças:
a) Ao contrário do procedimento comum, há previsão expressa de oitiva do Ministério
Público após a apresentação da resposta à acusação (art. 409).
        Art. 409.  Apresentada a defesa, o juiz ouvirá o Ministério Público ou o querelante
sobre preliminares e documentos, em 5 (cinco) dias.
Esse artigo pode ser utilizado subsidiariamente no procedimento comum.

b) No procedimento comum a absolvição sumária (art. 397) ocorre após a


apresentação da resposta à acusação e antes da audiência uma de instrução e
julgamento. No procedimento do Júri, a absolvição sumária ocorre ao final da
audiência de instrução (art. 415 do CPP).
Há quem diz que a absolvição sumária do art. 397, CPP poderia ser aplicado no Júri.
Mas não é a melhor aplicação, em razão do art. abaixo:
      
 Art. 394, § 2o  Aplica-se a todos os processos o procedimento comum, salvo disposições em
contrário deste Código ou de lei especial. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 3o  Nos processos de competência do Tribunal do Júri, o procedimento observará as
disposições estabelecidas nos arts. 406 a 497 deste Código

c) Na primeira fase do júri não há previsão legal expressa acerca do requerimento de


diligências ao final da audiência.
No entanto, embora não haja previsão expressa, admite-se o requerimento de
diligências, com base no princípio da busca da verdade (art. 156, II, CPP) – evitar a
expressão verdade real.

d) Na primeira fase do júri não há previsão legal expressa acerca da substituição das
alegações finais por memoriais (art. 411, §4º). No entanto, na prática, admite-se a
substituição, é comum as partes fazerem acordo para que ambas apresentem
memoriais. Havendo esse acordo, não haverá nulidade, pelo princípio da boa-fé.
70

e) No procedimento comum as alegações orais são indispensáveis. Já na primeira fase


do júri, desde que evidenciado que se trata de estratégia da defesa e não hipóteses
de abandono do processo, as alegações orais podem ser apresentadas de maneira
bem singela. (STF HC 103.569/2010 – a não apresentação de alegações orais não
seria caso de nulidade). (STF, Súmula 523).

A partir de 2008, passou-se a prever o prazo de 90 dias para a conclusão da primeira fase
(art. 412 do CPP). Esse prazo vale tanto para o julgamento de acusado preso ou solto.
Em se tratando de réu preso, eventual excesso abusivo autoriza o relaxamento da prisão.
Perante o acusado solto, esse prazo funciona como prazo impróprio, cuja inobservância não
acarreta nenhuma consequência jurídica.

2ª FASE / “JUDICIUM CAUSAE”

Conhecida como judicium causae ou juiz da causa. Inicialmente se terão juiz presidente e
posteriormente se forma o conselho de sentença.
Antes de 2008, essa fase tinha início com o oferecimento de libelo acusatório. No entanto,
com a vigência dessa lei, extinguiu-se o libelo.
Essa fase inicia-se com a preclusão da decisão de pronúncia (quando não couber mais
recurso dessa decisão), com a preparação do processo para julgamento em Plenário (art. 421 do
CPP). A preparação somente conta com a participação do juiz.

Art. 421.  Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz presidente
do Tribunal do Júri. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o  Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, havendo circunstância superveniente que
altere a classificação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público.
§ 2o  Em seguida, os autos serão conclusos ao juiz para decisão.
Seção III
Da Preparação do Processo para Julgamento em Plenário

Art. 422.  Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Júri determinará a intimação do


órgão do Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no
prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário, até
o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos e requerer
diligência. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

A fase termina com a sessão de julgamento no Plenário do Júri, com a participação do juiz
+ 25 jurados convocados. Apenas 7 desses 25 farão parte do Conselho de Sentença.
Essa sessão culminará nas seguintes decisões:
a) Sentença absolutória;
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b) Sentença condenatória;
c) Desclassificação.

Não há artigo expresso referindo prazo para a conclusão da 2ª fase, mas se aplicam os
termos do art. 428 do CPP, ou seja, o prazo para a conclusão seria 6 meses contados da preclusão
da decisão de pronúncia (prazo de desaforamento), desde que a defesa não tenha concorrido
para essa dilação.
Art. 428.  O desaforamento também poderá ser determinado, em razão do comprovado
excesso de serviço, ouvidos o juiz presidente e a parte contrária, se o julgamento não
puder ser realizado no prazo de 6 (seis) meses, contado do trânsito em julgado da decisão
de pronúncia.

Na prática, esse prazo é praticamente impossível de ser observado.


Obs: O certo é não falar em transito em julgado, pois é uma decisão interlocutória, e sima
expressão “preclusão”.

5. Impronúncia

O acusado deve ser impronunciado quando o juiz não estiver convencido da existência do
crime (materialidade) ou de indícios suficientes de autoria ou participação.
Ex: Caso goleiro Bruno

Art. 414. Não se convencendo da materialidade do fato ou da existência de indícios


suficientes de autoria ou de participação, o juiz, fundamentadamente, impronunciará o
acusado.
Parágrafo único. Enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, poderá ser formulada
nova denúncia ou queixa se houver prova nova.

a) Natureza jurídica
Apesar do teor do art. 416 do CPP, a impronúncia não aprecia o mérito da causa, razão pela
qual se trata de decisão interlocutória mista terminativa.
É interlocutória porque não aprecia o mérito. É mista porque põe fim a uma fase
procedimental (1ª fase do júri). É terminativa porque extingue o processo.

b) Coisa julgada
Em regra, a decisão de impronuncia só faz coisa julgada formal. Significa dizer que, diante
do surgimento de provas novas, é possível o oferecimento de outra peça acusatória.
Não se deve falar em “reabertura do mesmo processo”, mas sim em abertura de outro
processo (art. 414, p. único). Será instaurado um novo processo. Os autos antigos até podem ser
apensados.
72

Parágrafo único.  Enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, poderá ser formulada
nova denúncia ou queixa se houver prova nova.

Antes da Lei de 2008 o acusado era impronunciado quando o juiz não estivesse
convencido:
1. sobre a existência do crime e indícios de autoria ou de participação (coisa julgada
formal);
2. se provada a inexistência do fato (coisa julgada formal e material);
3. negativa de autoria (coisa julgada formal e material);
4. atipicidade formal ou material da conduta (coisa julgada formal e material).
Com as alterações de 2008, as últimas três hipóteses, chamadas antes de “impronúncia
absolutória”, deixaram de ser causa de impronúncia, passando a autorizar a absolvição sumária.
Hoje, fazem só coisa julgada formal.

c) Infrações conexas
Preclusa a decisão de impronúncia, os crimes conexos ao delito de júri serão remetidos ao
juízo singular competente.

d) Despronúncia
Trata-se de uma anterior decisão de pronúncia é transformada em impronúncia em virtude
da interposição do recurso em sentido estrito, que tem como característica o juízo de retratação
por parte do magistrado. Diante disso, a despronúncia pode ser declarada pelo “juízo a quo” ou
“ad quem”.
O RESE é dotado de juízo de retratação. Assim, quando é interposto, primeiro vai para o
juízo sumariante e após pelo Tribunal. Assim, a despronúncia pode ser feita tanto pelo juiz
sumariante como pelo Tribunal.

e) Recurso
Antes da Lei de 2008, o recurso cabível era o RSE. Após, o recurso passou a ser a apelação.
A vigência da lei 09/08/2008. Se na data da publicação da decisão a lei já estava vigente, essa que
deve ser aplicada.
São legitimadas para interpor a apelação:
1) MP e querelante;
2) Defesa (acusado e defensor) desde que demonstre que tem interesse em absolvição
sumária;
3) Ofendido ou seus sucessores, habilitados ou não como assistente da acusação. Este
recurso é subsidiário ao do MP.
73

Art. 598.  Nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se da


sentença não for interposta apelação pelo Ministério Público no prazo legal, o ofendido ou
qualquer das pessoas enumeradas no art. 31, ainda que não se tenha habilitado como
assistente, poderá interpor apelação, que não terá, porém, efeito suspensivo.

 Parágrafo único.  O prazo para interposição desse recurso será de quinze dias e correrá do
dia em que terminar o do Ministério Público.

6. Desclassificação

Deve ocorrer quando o juiz entender que a imputação não versa sobre crime doloso contra
a vida.
A desclassificação de crimes do júri só se opera quando sair da esfera do julgamento em
Plenário do Júri. Ou seja, havendo alteração da tipificação de crime de homicídio para crime de
infanticídio, ainda haverá pronúncia.
Ex: homicídio no transito (dolo eventual) desclassificado para homicídio culposo no
trânsito.
Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de
crime diverso dos referidos no § 1 o do art. 74 deste Código e não for competente para o
julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja. Parágrafo único. Remetidos os autos do
processo a outro juiz, à disposição deste ficará o acusado preso.

Admite-se, inclusive, a desclassificação para crime mais grave. Ex.: de homicídio simples
para latrocínio, etc.

IMPORTANTE: Na denúncia, a acusação versava sobre crime de homicídio (art. 121). No


final da primeira fase, o juiz entende ser infanticídio (art. 123). Qual será a decisão do juiz? No júri,
a desclassificação ocorre apenas quando o juiz entender que não se trata de crime doloso contra a
vida. Assim, nesse caso, a decisão do juiz será de pronúncia, pois o crime (infanticídio) continua
sendo doloso contra a vida.

a) Desqualificação
Não se confunde com a desqualificação, que trata da exclusão de qualificadoras. Trata-se
de medida excepcional, que só é admitida quando as qualificadoras mostrarem-se absolutamente
descabidas, eis que a competência cabe ao tribunal do júri.
Ex: denúncia (121, §2º, II – motivo fútil). Na pronuncia, o juiz sumariante entende que esta
qualificadora não restou provado. Assim, pronuncia o acusado apenas por homicídio simples (art.
121, caput).
Ciúme é motivo fútil? Renato entende que não, que se trata de um sentimento inerente ao
ser humano. Porém, em alguns casos torna-se uma doença.
74

Essa desqualificação é cabível pelo juiz sumariante de forma excepcional, apenas quando a
qualificadora for manifestamente improcedente. Isso porque, cabe aos jurados julgar o crime.

b) Nova capitulação legal


O juiz não deve fixar expressamente a nova classificação do delito, sob pena de indevido
pré-julgamento do acusado. No entanto, implicitamente se constatará a intenção do juiz.
O juiz pode desclassificar dizendo que foi o crime do 157, §3º, in fine? Não. Pois o juiz
sumariante não deve dizer qual foi o crime, pois estaria fazendo um pré julgamento, invadindo a
competência do juiz ordinário.

c) Procedimento a ser observado pelo juízo competente ao receber os autos


No final da primeira fase, o juiz sumariante desclassifica e faz a remessa dos autos ao juiz
competente. Esse juiz ao receber os autos já poderá julgar?
Antes das alterações da Lei 11.689/08, havia previsão expressa de oitiva da defesa. O juiz
era obrigado a ouvir a defesa, ainda que o juízo sumariante e o competente fossem o mesmo.
Hoje, o CPP não prevê expressamente a oitiva da defesa. No entanto, a doutrina continua
entendendo essa oitiva como obrigatória, até porque o novo juiz, de qualquer forma, renovará a
instrução. (princípio da ampla defesa). O acusado não pode ser surpreendido.
Princípio da identidade física do juiz (art. 399, §2º) – o juiz deve renovar a instrução. Assim,
em sede de alegações orais, a defesa deve ser ouvida.

d) Infração conexa
Ex.: homicídio + estupro – desclassificação – latrocínio + estupro: ambos os delitos serão
julgados novo juízo competente.
Diante da desclassificação, a infração conexa também deve ser remetida ao juízo
competente (CPP, art. 81, §único). Nessa hipótese, este novo juízo competente deve aguardar o
julgamento de eventual RSE interposto contra a desclassificação. Isso porque se o Tribunal der
provimento ao RESE, pronunciado o acusado, a competência para julgamento do crime doloso
contra a vida e da infração conexa voltará a ser o Tribunal do Júri.

Se o Tribunal der provimento ao RSE, é porque a desclassificação estava incorreta, de


modo a se pronunciar o acusado. Se o Tribunal negar provimento ao RSE, é porque a
desclassificação estava correta, ocasião em que o novo juízo deverá, então, julgar as imputações.

e) Situação do acusado preso


A desclassificação, por si só, não acarreta a soltura do acusado preso. Ao receber os autos,
o novo juízo deverá se manifestar fundamentadamente quanto à necessidade de manutenção da
prisão, sob pena de se considerar a prisão ilegal.
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Art. 419. Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a outro juiz, à disposição deste
ficará o acusado preso.

f) Recurso cabível
RSE (art. 581, II, CPP), pois a decisão concluiu pela incompetência do juízo.
Esse recurso pode ser interposto:
1) Acusação (MP e querelante);
2) Acusado e defensor: pode recorrer, na medida em que a desclassificação pode imputar
crime mais grave ao acusado.
3) Assistente: não há previsão expressa, E por essa razão, pela não poderia recorrer. Mas
há doutrina que entende que o interesse do assistente não é meramente patrimonial, logo
também pode recorrer contra a desclassificação.

Se o juiz se retratar no RESE, entendendo por pronunciar o acusado, o que a deve pode
fazer? A defesa pode interpor um novo RESE. Neste casão, como já houve razões e contrarrazões
no primeiro RESE, o novo RESE deve ser interposto através de uma simples petição, sem a
necessidade de novas razões e contrarrazões.
Todavia, esse RESE vai diretamente para o TJ. Não volta para o juiz sumariante fazer um
novo juízo de retratação. (art. 589, §único)

Art. 589.  Com a resposta do recorrido ou sem ela, será o recurso concluso ao juiz, que,
dentro de dois dias, reformará ou sustentará o seu despacho, mandando instruir o recurso
com os traslados que Ihe parecerem necessários.

Parágrafo único.  Se o juiz reformar o despacho recorrido, a parte contrária, por simples
petição, poderá recorrer da nova decisão, se couber recurso, não sendo mais lícito ao juiz
modificá-la. Neste caso, independentemente de novos arrazoados, subirá o recurso nos
próprios autos ou em traslado.

g) Conflito de competência
Ex.: homicídio praticado com dolo eventual (art. 121 do CP) – desclassificação (art. 302 do
CTB) – RSE ao TJ – TJ mantém desclassificação – remessa dos autos ao juízo singular. Este juízo é
obrigado a aceitar a competência ou poderá suscitar conflito de competência? Há duas correntes:
1ª C: Não é obrigado (majoritária: Mirabete)
Não é possível que o novo juízo suscite conflito negativo de competência, porquanto teria
ocorrido preclusão da decisão de desclassificação.
Usar essa posição em bancas mais conservadoras.
Ao juízo recipiente não é dado suscitar conflito negativo de competência para tentar
restabelecer a competência do Tribunal do Júri, porquanto teria havido preclusão.

2ª C: É obrigado (Ada Pellegrini e Nucci)


76

A decisão quanto à competência deve ser proferida não por uma Câmara qualquer do
Tribunal, mas sim pela Câmara especial, que é o juízo natural para dirimir eventuais conflitos de
competência. Logo, é plenamente possível que o novo juízo venha a suscitar um conflito negativo
de competência.
Ao juízo recipiente é dado suscitar o conflito, seja porque se trata de incompetência
absoluta, ou porque a decisão final acerca da competência não é de uma câmara qualquer do TJ,
mas sim da respectiva Câmara especial, a quem compete apreciar os conflitos de competência.

7. Absolvição sumária na 1ª fase do Júri

a) Hipóteses
Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando:
I – provada a inexistência do fato;
II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato;
III – o fato não constituir infração penal;
V – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de
inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do Código Penal, salvo quando esta for a única tese
defensiva.

b) Momento
Enquanto no procedimento comum a absolvição sumária ocorre no início do processo, no
júri a absolvição sumária ocorre no final da 1ª fase, ou seja, após a audiência de instrução.

c) Inimputável
Enquanto no procedimento comum o inimputável não pode ser absolvido de forma
sumária, na absolvição sumária do júri admite-se, desde que a inimputabilidade seja sua única
tese defensiva.

d) Crimes conexos
Ex.: absolvição sumária em razão de legítima defesa – crime de ocultação de cadáver.
O crime conexo não é abrangido pela absolvição sumária. Após o julgamento de eventual
apelação interposta contra a absolvição sumária, o crime conexo deve ser remetido ao juízo
competente.
Esse juízo competente deve aguardar o julgamento de eventual apelação interposta contra
a absolvição sumária.

Art. 81.  Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no


processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença
absolutória ou que desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua
competência, continuará competente em relação aos demais processos.
77

Parágrafo único.   Reconhecida inicialmente ao júri a competência por conexão ou


continência, o juiz, se vier a desclassificar a infração ou impronunciar ou absolver o
acusado, de maneira que exclua a competência do júri, remeterá o processo ao juízo
competente.

e) Natureza jurídica e coisa julgada


A absolvição sumária tem natureza jurídica de sentença absolutória, eis que se analisa o
mérito.
Faz coisa julgada formal e material.

f) Recurso cabível
Hoje, o recurso cabível é o de apelação (art. 416)
Se o acusado estiver preso, deve ser colocado imediatamente em liberdade. (art. 596)

Art. 596.  A apelação da sentença absolutória não impedirá que o réu seja posto
imediatamente em liberdade. (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
Parágrafo único.  A apelação não suspenderá a execução da medida de segurança
aplicada provisoriamente

Esse recurso pode ser interposto:


- MP;
- Querelante;
- Assistente de acusação;
- Acusado e defensor: quando houver interesse em alterar o fundamento da absolvição
sumária, para o fim de gerar coisa julgada no juízo cível.
Ex.: recurso da absolvição com base em excludente de culpabilidade para a absolvição com
base em legítima defesa.
Ex: recurso contra a absolvição imprópria, para afastar a medida de segurança.

g) Recurso de ofício (reexame necessário)


Depois das alterações de 2008, não há necessidade de reexame necessário nos casos de
absolvição sumária. Para a maioria da doutrina, a Lei 11.689/08 revogou tacitamente o art. 574, II,
CPP.
Trata-se de uma condição de eficácia da decisão do juízo a quo.

Art. 574.  Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão


ser interpostos, de ofício, pelo juiz:
I - da sentença que conceder habeas corpus;
II - da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que
exclua o crime ou isente o réu de pena, nos termos do art. 411.
78

Entende-se que o II foi tacitamente revogado, pois não existe mais recurso de oficio contra
a absolvição sumária.

8. Pronúncia

A pronúncia funciona como um juízo de admissibilidade quanto á imputação de crime


doloso contra a vida. O acusado deve ser pronunciado quando o juiz tiver convencido da existência
do crime e de indícios suficientes de autoria e de participação.
A pronúncia encerra juízo de admissibilidade da acusação de crime doloso contra a vida.

a) Requisitos
O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do
fato (JUÍZO DE CERTEZA) e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação
(JUÍZO DE PROBABILIDADE).
Os indícios de autoria ou participação também são chamados de prova semiplena, em
razão de seu menor valor persuasivo.
A materialidade pode se dar tanto de exame direto, como de exame indireto (prova
testemunhal, documental), mas esta precisa ser muito robusta.
Indícios (prova indireta)
 
Art. 239.  Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação
com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras
circunstâncias.

b) Natureza jurídica
Decisão interlocutória mista não terminativa, eis que não encerra o processo.
Interlocutória porque é uma decisão não terminativa; mista porque encerra uma fase
procedimental; e terminativa porque não põe fim ao processo.

c) Princípio do “in dubio pro societate”


Havendo dúvidas ao final da instrução, deve-se pronunciar o acusado.
Há alguns julgados do STF, todavia, que entende que diante da dúvida quanto à existência
do crime, o acusado deve ser impronunciado (in dubio pro réu) – HC 81.646/ 95068.

d) Fundamentação
A pronúncia deve ser fundamentada, sob pena de nulidade (art. 93, IX, CR).
Porém, não deve haver excesso de fundamentação, sob pena de se caracterizar
“eloquência acusatória”, que é causa de nulidade absoluta da pronúncia. Ou seja, o juiz não deve
se exceder na fundamentação para fins de não influenciar os jurados. Atenta contra a
competência dos jurados para deliberar sobre o crime doloso contra a vida.
79

O juiz deve se limitar à existência do crime e os indícios de autoria ou participação,


valendo-se de termos sóbrios e comedidos, a fim de não exercer indevida influência no animus dos
jurados.

§ 1o A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da materialidade do fato e


da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz
declarar o dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias
qualificadoras e as causas de aumento de pena.

T2, STF, HC 99.834, de 15/02/11: Tanto a antiga redação do art. 408, quanto o atual art.
413 (na redação dada pela Lei 11.689/2008), ambos do CPP, indicam que o juiz, ao tratar da
autoria na pronúncia, deve limitar-se a expor que há indícios suficientes de que o réu é o autor ou
partícipe do crime. Todavia, o texto da pronúncia afirma que o paciente foi o autor do crime que
lhe foi imputado, o que, à evidência, pode influenciar os jurados contra o acusado. Em casos como
esse, impõe-se anulação da sentença de pronúncia, por excesso de linguagem.

Hoje, a pronúncia não pode ser usada como “argumento de autoridade” para fins de
convencimento dos jurados.

Art. 478. Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer
referências:
I – à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou
à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou
prejudiquem o acusado.
Trata-se de nulidade absoluta.

Como fica a eloqüência acusatória com a nova lei? Isso foi objeto de discussão no STF:
Segundo o HC 96.123, para o Min. Marco Aurélio, não haveria razão para decretar a
nulidade em razão de eloquência acusatória, eis que a pronúncia sequer pode ser lida no Plenário.
No entanto, essa posição não parece ser acertada, em razão de que os jurados recebem
cópias da pronúncia, conforme art. 472, p. único. Ou seja, em que pese não possa ser realizada a
leitura da pronúncia, os jurados poderão constatar o excesso quando do seu próprio contato com
a decisão. Logo, eventual eloquência acusatória ainda pode influenciá-lo. Assim, mesmo com a
nova lei, a eloquência acusatória deve continuara ser conhecida.

Art. 472.  Formado o Conselho de Sentença, o presidente, levantando-se, e, com ele, todos
os presentes, fará aos jurados a seguinte exortação: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de
2008)
        Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com imparcialidade e a proferir
a vossa decisão de acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça.
        Os jurados, nominalmente chamados pelo presidente, responderão:
        Assim o prometo.
80

Parágrafo único.  O jurado, em seguida, receberá cópias da pronúncia ou, se for o caso,
das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação e do relatório do processo.
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

Art. 480.  A acusação, a defesa e os jurados poderão, a qualquer momento e por


intermédio do juiz presidente, pedir ao orador que indique a folha dos autos onde se
encontra a peça por ele lida ou citada, facultando-se, ainda, aos jurados solicitar-lhe, pelo
mesmo meio, o esclarecimento de fato por ele alegado. (Redação dada pela Lei nº 11.689,
de 2008)

§ 1o  Concluídos os debates, o presidente indagará dos jurados se estão habilitados a julgar
ou se necessitam de outros esclarecimentos. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

§ 2o  Se houver dúvida sobre questão de fato, o presidente prestará esclarecimentos à vista
dos autos. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

§ 3o  Os jurados, nesta fase do procedimento, terão acesso aos autos e aos instrumentos
do crime se solicitarem ao juiz presidente. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

- Os jurados recebem cópias da pronuncia;


- Os jurados têm livre acesso aos autos.
Assim, eventual eloquencia acusatória chegará ao conhecimento dos jurados.

Consequência do reconhecimento da eloquência acusatória:


O STJ, no Resp. 982.033, determinou o desentranhamento da pronúncia e que fosse esta
envelopada junto aos autos. Entendeu que não há motivo para se anular o processo. Assim, o STJ
entendeu que poderia colocar a denúncia em um envelope e lacrá-la.
No entanto, o próprio STF, no HC 103.037, decidiu que a pronuncia deve ser anulada,
impondo-se ao juiz sumariante a prolação de outra decisão de pronúncia. Assim, deve-se
determinar a extinção da decisão. Isso porque, uma vez reconhecida a eloquência acusatória, a
pronúncia deve ser anulada.

e) Emendatio (art. 418) e Mutatio Libelli (art. 411, §3º)


Ambas podem ser feitas no procedimento do Júri. Seguem o mesmo procedimento já
estudado para elas.

f) Conteúdo da pronúncia (art. 413, §1º)


- Dispositivo legal: classificação do fato delituoso;
- Qualificadoras;
- Causas de aumento (majorantes);

Obs: Lei 12.720/12: crimes praticados por grupo de extermínio e milícias.


81

Art. 288-A.  Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar,


milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes
previstos neste Código: 

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.” 

Essa lei acrescentou o §6º ao art. 121:

Art. 121.  (...)


§ 6o  A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por
milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de
extermínio.

Conta-se a partir do dia 28/11/12.

- Tipo penal por extensão: tentativa (art. 14, II), omissão imprópria (art. 13, §2º) e concurso
de pessoas (art. 29).

Na pronúncia não deve constar:


- causas de diminuição de pena (minorantes), salvo a tentativa (isso porque isso será defesa
a ser arguida em plenário)
- agravantes e atenuantes;
- concurso de crimes (material ou formal).
As causas de diminuição podem ser sustentadas em Plenário do Júri, embora não constem
na pronúncia.
Por outro lado, as agravantes, atenuantes e concurso de crimes serão analisadas pelo Juiz
presidente em sede de dosimetria da pena.

STJ – (Resp 1.102.422) – O juiz só deve retirar as qualifacadoras em situações exepcionais.


Mas havendo dívida sobre as qualificadoras, devem ser submetidas ao Júri, a não ser que esta seja
absurda.

g) Infrações conexas
As infrações conexas devem ser encaminhadas ao júri, pouco importando se há ou não
prova nos autos quanto a sua ocorrência.

h) Envolvimento de outras pessoas


Quando o juiz sumariante constatar, antes da pronúncia, indícios de envolvimento de
outras pessoas, concederá vista ao MP (o juiz dá baixa aos autos ao MP):

Art. 417. Se houver indícios de autoria ou de participação de outras pessoas não incluídas
na acusação, o juiz, ao pronunciar ou impronunciar o acusado (ANTES DA PRONÚNCIA),
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determinará o retorno dos autos ao Ministério Público, por 15 (quinze) dias, aplicável, no
que couber, o art. 80 deste Código.

Nesse caso, o MP poderá:


- Aditar a denúncia
É mais conveniente, porque será realizada uma única instrução e se evitam decisões
conflitantes.
- Ajuizar nova ação penal em separado (nova denúncia)

Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido
praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo
número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo
relevante, o juiz reputar conveniente a separação.

Quando se adita, é matido todos os réus no mesmo processo, mas o art. 80 permite a
separação, para fins de oferecimento de outra denúncia.

i) Efeitos da pronúncia
- Submissão do acusado a julgamento perante o Tribunal do Júri.

- Delimitação da acusação em Plenário (correlação entre pronúncia e quesitação).


Antes da Lei 11.689/08: libelo era fonte dos quesitos.
Com a lei 11.689/08: a pronúncia limita a acusação em plenário. Alguns doutrinadores
chamam de princípio da correlação entre pronuncia e quesitação (Nucci). Todavia, a defesa não
fica limitada à pronuncia, como buscar as causas de diminuição de pena que não constam na
pronuncia. (art. 482, §ú)

  Art. 482.  O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de fato e se o acusado
deve ser absolvido. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

Parágrafo único.  Os quesitos serão redigidos em proposições afirmativas, simples e


distintas, de modo que cada um deles possa ser respondido com suficiente clareza e
necessária precisão. Na sua elaboração, o presidente levará em conta os termos da
pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do
interrogatório e das alegações das partes

- Preclusão das nulidades relativas não arguidas até a pronúncia.

Art. 571. As nulidades deverão ser arguidas:


I - as da instrução criminal dos processos da competência do júri, nos prazos a que se
refere o art. 406 (resposta à acusação em 10 dias);

- Interrupção da prescrição, ainda que haja posterior desclassificação pelos jurados.


83

STJ, Súmula 191. A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda que o Tribunal do
Júri venha a desclassificar o crime.

- Preclusão da pronúncia e sua imodificabilidade (Princípio da Imodificabilidade da


Pronúncia)

Art. 421.  Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz


presidente do Tribunal do Júri. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o  Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, havendo circunstância superveniente
que altere a classificação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério
Público. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o  Em seguida, os autos serão conclusos ao juiz para decisão. (Incluído pela Lei nº
11.689, de 2008)

Quando não couberem mais recursos da decisão de pronúncia, esta não poderá ser
modificada, salvo na hipótese de circunstâncias supervenientes que alterem a classificação do
crime.
Ex.: depois da pronúncia, entra novo juiz e decide por alterar a classificação;
Ex.: pronúncia por homicídio simples combinado com a tentativa e, no decurso do tempo, a
vítima vem a morrer, o juiz envia os autos ao MP para aditar a denúncia, fazendo constar
homicídio consumado, haverá a oitiva da defesa, nova instrução sobre a nova imputação,
sobrevindo nova pronúncia, caso em que esta poderá ser alterada. Se a morte da vítima ocorrer
no dia do julgamento, o juiz dissolverá o conselho de sentença.
Se a morte da vítima ocorrer após o julgamento, não há nada a fazer. A condenação
versará sobre tentativa de homicídio.

- Prisão preventiva ou de medidas cautelares diversas da prisão (art. 319, 320 e art. 413, §
3º, do CPP)
Antes da lei 11.689/08 a prisão preventiva era um efeito automático da pronuncia, era
desde que acusado fosse reincidente ou tivesse maus antecedentes. Depois de 2008 esta prisão
preventiva só pode ser decretada ou mantida fundamentadamente, se presentes seus
pressupostos legais.
Se o acusado estava preso por ocasião da pronúncia, isto significa que o juiz entendeu que
estavam presentes os pressupostos da preventiva. Logo, esta prisão deve ser mantida, através de
decisão fundamentada, salvo se desaparecerem seus pressupostos. Se o juiz deliberar pela
manutenção da prisão preventiva, deve o juiz explicitar os motivos que o levam a acreditar que as
medidas das cautelares diversas da prisão seriam insuficientes para resguardar a eficácia do
processo.
Se o acusado estava em liberdade por ocasião da pronúncia, isto significa dizer que o juiz
entendeu não estavam presentes os pressupostos da preventiva. Logo, o acusado deve ser
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mantido em liberdade, salvo se surgir alguma hipótese que autorize sua prisão preventiva (ex.:
acusado ameaçando as testemunhas).

j) Intimação do acusado sobre a pronúncia


A intimação do acusado é obrigatória, em razão de sua capacidade postulatória recursal.
Ainda que sem advogado, o acusado pode apresentar RSE, sendo que será intimado para
apresentar as suas razões.
Antes de 2008:
 A intimação era pessoal, e
 Apenas se o crime fosse afiançável era possível a intimação por edital.
Se o crime fosse inafiançável, o processo ficava paralisado, porém com a prescrição
em curso. O processo parava, até que o acusado fosse intimado da pronúncia.
Ocorria a chamada crise de instância (ocorre quando o processo fica paralisado e a
prescrição continua em andamento). O juiz costumava decretar a prisão preventiva
do acusado que não era encontrado para intimação.

Porém, com o advento da lei 11.689/08, a regra é que:


à A intimação da pronúncia seja feita de maneira pessoal (como antigamente).
à No entanto, se o acusado não for encontrado (local incerto e não sabido), passa a
ser possível a intimação por edital (15 dias), pouco importando a natureza do
delito (art. 420, parágrafo único, CPP). Na publicação da intimação deve constar o
nome do acusado, sob pena de nulidade.

 Art. 420.  A intimação da decisão de pronúncia será feita:


 I – pessoalmente ao acusado, ao defensor nomeado e ao Ministério Público;
 II – ao defensor constituído, ao querelante e ao assistente do Ministério Público,
na forma do disposto no § 1o do art. 370 deste Código.
Parágrafo único.  Será intimado por edital o acusado solto que não for encontrado.

O acusado solto não encontrado será citado por edital.


Se o acusado tiver preso, deve ser intimado pessoalmente.

Esta mudança (intimação por edital) de 2008 tem aplicação imediata aos processos que
estavam paralisados. Não se aplica aos crimes antes da 9.271/96.
Frisa-se que a lei 9.271/96 deu nova redação ao art. 366 do CPP, prevendo que se o
acusado for citado por edital, mas não comparecer e nem constituir defensor, deve ocorrer a
suspensão do processo e da prescrição (norma mais gravosa). Em razão disso, para os crimes
cometidos antes de 1996 não se aplica o art. 366 do CPP; logo, para que esse acusado não tenha
negada a observância da ampla defesa, a ele não se aplica a intimação por edital da pronúncia.
STJ HC 172.382
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l) Recurso contra a pronúncia


O recurso cabível é o RSE (art. 581, IV).
São legitimados para interpor:
1) O acusado;
2) Defensor;
3) MP;
4) Assistente da acusação: para a doutrina o assistente não pode recorrer contra a
pronúncia, mas o STF entende que pode. Hoje é possível. HC 84.022.

9. Desaforamento

É o deslocamento da competência territorial de uma comarca para outra.


Segundo o CPP, trata-se de instituto exclusivo do Tribunal do Júri. Somente é desaforado o
julgamento.
Por outro lado, no CPP Militar o desaforamento pode ocorrer em qualquer delito.
Não confundir com IDC (deslocamento de competência)

a) Natureza jurídica
Trata-se de decisão judicial proferida por Câmara ou Turma.
Art. 427. Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver dúvida sobre a
imparcialidade do júri ou a segurança pessoal do acusado, o Tribunal, a requerimento do
Ministério Público, do assistente, do querelante ou do acusado ou mediante representação
do juiz competente, poderá determinar o desaforamento do julgamento para outra
comarca da mesma região, onde não existam aqueles motivos, preferindo-se as mais
próximas.
§ 1o O pedido de desaforamento será distribuído imediatamente e terá preferência de
julgamento na Câmara ou Turma competente.

b) Legitimados
1) MP;
2) defesa;
3) assistente de acusação; (antes da nova Lei não tinha essa legitimidade prevista)
4) querelante;
5) juiz do processo, salvo na hipótese de excesso de prazo.
É obrigatória a oitiva da defesa, por se tratar de decisão judicial.
A corregedoria não pode determinar o desaforamento, somente o Tribunal.

Súmula 712, STF: É nula a decisão que determina o desaforamento de processo da


competência do Júri sem audiência da defesa.
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c) Momento
Admite-se pedido de desaforamento logo após a preclusão da pronúncia, que
corresponde ao momento em que se determina se o acusado será submetido a julgamento pelo
Júri. Ou seja, quando não couber mais recurso da pronúncia.
Depois do julgamento é possível o desaforamento somente quanto a fato ocorrido durante
ou após a realização de julgamento anulado. Ou seja, cabe se: o julgamento for anulado + o fato
deve ter ocorrido durante ou após o julgamento.

Art. 427. § 4o Na pendência de recurso contra a decisão de pronúncia (1) ou quando


efetivado o julgamento (2), não se admitirá o pedido de desaforamento, salvo, nesta
última hipótese, quanto a fato ocorrido durante ou após a realização de julgamento
anulado.

d) Motivos para o desaforamento


- Interesse de ordem pública: nos casos em que há uma convulsão social ou risco à
incolumidade dos jurados.
Ex.: tranquilidade do julgamento.
HC 85.707, STJ

- Dúvida sobre a imparcialidade dos jurados


Dúvida tanto sobre a condenação como sobre a absolvição. STJ, HC 90.801.

- Falta de segurança pessoal do acusado

- Excesso de serviço: Não realização do julgamento no prazo de 6 meses contados da


preclusão da pronuncia, desde que comprovado excesso de serviço e evidenciado que a demora
não foi provocada pela defesa.
Nesse caso não é possível que o juiz represente pelo desaforamento (poderia ensejar que o
próprio juiz retardasse o julgamento a fim de provocar o desaforamento)

Art. 428. O desaforamento também poderá ser determinado, em razão do comprovado


excesso de serviço, ouvidos o juiz presidente e a parte contrária, se o julgamento não
puder ser realizado no prazo de 6 (seis) meses, contado do trânsito em julgado da decisão
de pronúncia. (...)
§ 1o  Para a contagem do prazo referido neste artigo, não se computará o tempo de
adiamentos, diligências ou incidentes de interesse da defesa. (Incluído pela Lei nº 11.689,
de 2008)

- Aceleração de julgamento: A chamada aceleração de julgamento significa que, não


havendo excesso de serviço na comarca, poderá o tribunal determinar a realização imediata do
87

julgamento. Essa previsão vem sendo utilizada também em processos envolvendo acusados
presos.

Art. 428. § 2o Não havendo excesso de serviço ou existência de processos aguardando


julgamento em quantidade que ultrapasse a possibilidade de apreciação pelo Tribunal do
Júri, nas reuniões periódicas previstas para o exercício, o acusado poderá requerer ao
Tribunal que determine a imediata realização do julgamento.

e) Crimes conexos e coautores


Também serão desaforados.

f) Comarca competente
O julgamento se dará em outra comarca da mesma região, onde não estejam presentes os
motivos que acarretaram o desaforamento.
Na Justiça Estadual não é possível o desaforamento para outro Estado da Federação.
Na Justiça Federal (separada por TRFs) é possível o desaforamento para outro Estado da
Federação, desde que nos limites territoriais do respectivo TRF.

g) Julgamento
O relator, se verificar a verossimilhança das alegações e o periculim in mora, pode
suspender o julgamento pelo júri depois do pedido de desaforamento. Ou seja, o pedido de
desaforamento pode ter efeito suspensivo.

Art. 427. § 2o Sendo relevantes os motivos alegados, o relator poderá determinar,


fundamentadamente, a suspensão do julgamento pelo júri.

h) Recurso contra o desaforamento


O desaforamento é irrecorrível, sendo que os tribunais superiores admitem a impetração
de habeas corpus.
Indeferido o pedido de desaforamento, tendo em vista que esta decisão é baseada na
cláusula rebus sic stantibus, nada impede novo pedido. Diante das mudanças dos pressupostos
fáticos, é possível um novo pedido de julgamento.
Por outro lado, conforme o CPP Militar é cabível novo pedido por motivo superveniente
(art. 110).

 Art. 110. O pedido de desaforamento, embora denegado, poderá ser renovado se o


justificar motivo superveniente.

i) Reaforamento
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É o retorno do processo desaforado à comarca de origem. Esse reaforamento não é


admitido, mesmo diante do desaparecimento das causas do desaforamento.
No entanto, nada impede que haja novo desaforamento para comarca distinta.

10. Preparação para julgamento

A preparação do processo ocorre após a preclusão da pronúncia, marcando o início da 2ª


fase do júri (o antigo libelo hoje não mais existe).
Com a preclusão da pronuncia, os autos são serão encaminhados ao juiz presidente.

Art. 421.  Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz presidente
do Tribunal do Júri. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o  Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, havendo circunstância superveniente que
altere a classificação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público.
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o  Em seguida, os autos serão conclusos ao juiz para decisão.

Art. 422. Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Júri determinará a intimação do


órgão do Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no
prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário, até
o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos e requerer
diligência.

Providências:

a) Juntada de documentos e pedido de diligências


O presidente do Tribunal do Júri determinará a intimação do MP, do querelante, do
defensor, do assistente para o requerimento de provas (documentos, diligências, rol de
testemunhas: 05 testemunhas no máximo).

b) Rol de testemunhas
O assistente de acusação pode arrolar testemunhas, desde que não ultrapasse o limite da
acusação.
O rol de testemunhas deve conter a cláusula de imprescindibilidade, (que não abre mão
dela de forma alguma) e requerimento de intimação por mandado no endereço indicado, sendo
que, se a testemunha não comparecer no dia do julgamento, este deverá ser adiado (art. 461,
CPP).
O assistente da acusação pode arrolar testemunhas, desde que respeitado o limte máximo
de 5 testemunhas da acusação. . Ex.: promotor apresenta 3 testemunhas e o assistente apresenta
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mais 2. Se o MP já tiver arrolado 5 testemunhas, o assistente pode indicar testemunhas, as quais


poderão ser ouvidas como testemunhas do juiz.
É possível o pedido de requerimento de precatória para intimação de testemunhas.
Essa testemunha pode ser ouvida em precatória.
Esta testemunha, querendo, pode se deslocar para ser ouvido no local do julgamento.

c) Ordenamento do processo
É o despacho saneador do juiz presidente. É semelhante ao processo civil. O juiz, nesse
despacho, ordena as diligencias necessárias, as provas solicitadas pelas partes, se não há nulidade,
para então preparar o processo para julgamento em plenário.
Nesse despacho saneador fará também um relatório do processo. Um resumo imparcial
dos principais incidentes que aconteceram ao longo do processo.

Art. 423. Deliberando sobre os requerimentos de provas a serem produzidas ou exibidas no


plenário do júri, e adotadas as providências devidas, o juiz presidente:
I – ordenará as diligências necessárias para sanar qualquer nulidade ou esclarecer fato
que interesse ao julgamento da causa;
II – fará relatório sucinto do processo, determinando sua inclusão em pauta da reunião do
Tribunal do Júri.

O relatório é o resumo imparcial dos principais atos processuais, que será entregue aos
jurados (art. 472, p. único).
Feito o relatório, o juiz determinará a inclusão do processo em pauta da reunião do Júri, de
acordo com a seguinte ordem de preferência (art. 429, CPP):
1.º Acusados presos;
2.º Dentre os acusados presos, aqueles que estiverem há mais tempo na prisão;
3.º Em igualdade de condições, os precedentemente pronunciados.
Salvo motivo relevante, pode-se não observar essa ordem, como na eminência de
prescrição.

d) Habilitação do assistente para atuação no plenário do júri


O assistente, no processo do júri, é a vítima do crime.
Em regra o assistente pode se habilitar a qualquer momento do processo (não do
inquérito), no caso de crime de ação penal pública.

Art. 268. Em todos os termos da ação pública (processo de ação penal pública), poderá
intervir, como assistente do Ministério Público, o ofendido (1) ou seu representante legal
(2), ou, na falta, qualquer das pessoas mencionadas no Art. 31 (cônjuge, ascendente,
descendente ou irmão).
90

Quanto ao Tribunal do Júri, há outra regra, devendo o assistente requerer sua habilitação
com 5 dias de antecedência.

Art. 430. O assistente somente será admitido se tiver requerido sua habilitação até 5
(cinco) dias antes da data da sessão na qual pretenda atuar.

11. Organização do Júri

É um órgão colegiado heterogêneo composto:


a) Juiz-presidente
b) 25 jurados: somente 7 irão integrar o Conselho de Sentença.
Apesar de o MP atuar no Tribunal do Júri, não faz parte do Tribunal do Júri, assim como
ocorre com o defensor.

11.1. Requisitos para ser jurado

 Cidadão com 18 anos completos ou mais;


Pode ser cidadão brasileiro nato ou naturalizado.
Não há idade limite estabelecida para que alguém possa ser jurado, mas são isentos
os maiores de 70 anos que requeiram sua dispensa (art. 437, IX).
 Notória idoneidade;
 Residir na comarca;
O jurado deve residir na comarca onde será realizado o julgamento.
 Alfabetizado.
O jurado deve ser alfabetizado, até para responder às cédulas de votação. Além
disso, é necessária a alfabetização para a leitura da pronúncia e do relatório (art.
436, §1º). Não é necessário que o jurado tenha o ensino fundamental completo,
bastando que seja alfabetizado.

 Art. 436.  O serviço do júri é obrigatório. O alistamento compreenderá os cidadãos


maiores de 18 (dezoito) anos de notória idoneidade. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de
2008)
§ 1o  Nenhum cidadão poderá ser excluído dos trabalhos do júri ou deixar de ser alistado
em razão de cor ou etnia, raça, credo, sexo, profissão, classe social ou econômica, origem
ou grau de instrução. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o  A recusa injustificada ao serviço do júri acarretará multa no valor de 1 (um) a 10
(dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a condição econômica do jurado.
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
91

Segundo a doutrina, o jurado não deve ser surdo, mudo ou cego, em razão do princípio da
oralidade e do sigilo das votações. Necessita ter audição, visão e voz em perfeitas condições. Isso
porque o jurado é incomunicável.
Lembrar que juiz pode ser deficiente auditivo, p. ex., porque tudo é reduzido a termo.
Não se admite, hoje, o chamado “jurado profissional”, que é aquele que comumente
integra o Conselho de Sentença. Isso porque, exige-se a exclusão do jurado que tiver participado
de Júri nos 12 meses antecedentes.

Art. 426. § 4o O jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos 12 (doze) meses
que antecederem à publicação da lista geral fica dela excluído.

11.2. Pessoas que estão isentas

 o Presidente da República e os Ministros de Estado;       


 os Governadores e seus respectivos Secretários;
 os membros do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas e das Câmaras
Distrital e Municipais;
 os Prefeitos Municipais;       
 os Magistrados e membros do Ministério Público e da Defensoria Pública;
 os servidores do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública;
 as autoridades e os servidores da polícia e da segurança pública;
 os militares em serviço ativo;
 os cidadãos maiores de 70 (setenta) anos que requeiram sua dispensa;
 aqueles que o requererem, demonstrando justo impedimento.

12.3. Impugnação contra a lista dos jurados

A doutrina diverge:
a) RSE ao Presidente do TJ (art. 581, XIV)
- Que incluir jurado na lista geral ou desta excluir. Esse recurso tem prazo especial de 20
dias e é dirigido ao Presidente do Tribunal.
Contudo, tem havido certa controvérsia na doutrina. Isso porque a Lei 11.689/08 mudou o
procedimento do juri, e por essa razão, essa impugnação não se daria mais pelo RESE e sim uma
reclamação ao juiz presidente.

b) Reclamação ao Juiz-presidente (art. 426, §1º)


Esta reclamação pode ser feita até o dia 10 de novembro.

Art. 426. § 1o A lista poderá ser alterada, de ofício ou mediante reclamação de qualquer
do povo ao juiz presidente até o dia 10 de novembro, data de sua publicação definitiva.
92

Segundo essa corrente, o inc. XIV do art. 581 teria sido revogado tacitamente pelo art. 426,
§1º, que prevê reclamação de qualquer do povo ao juiz-presidente.

11.4. Recusa injustificada

Art. 436. § 2o A recusa injustificada ao serviço do júri acarretará multa no valor de 1 (um)
a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a condição econômica do
jurado.

Art. 442. Ao jurado que, sem causa legítima, deixar de comparecer no dia marcado para a
sessão ou retirar-se antes de ser dispensado pelo presidente será aplicada multa de 1 (um)
a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a sua condição econômica.

O jurado pode ser sujeito de crime de desobediência? Quando a Lei prevê certa sanção e
não faz menção ao crime de desobediência, aquela será a única sanção possível de ser aplicada.
Ou seja, não é possível a responsabilização criminal por desobediência, já que a lei não fez
ressalva a esse respeito. Difere, pois, da previsão do art. 219 do CPP, que trata da hipótese de
testemunha faltosa.

Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa prevista no art. 453, sem
prejuízo do processo penal por crime de desobediência, e condená-la ao pagamento das
custas da diligência. (Redação dada pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)

HC 22.721.
Para fins penais, o jurado é considerado funcionário público.

11.5. Escusa de consciência

Fundamenta-se no art. 5º, inc. VIII, da CR.

Art. 438. A recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa, filosófica ou política
importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos
políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.
§ 1o Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter administrativo,
assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defensoria Pública,
no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

Se o jurado invocar a escusa de consciência, deverá prestar um serviço alternativo,


conforme fixado pelo juiz, atendidos os princípios da proporcionalidade e razoabilidade.

11.6. Direitos dos jurados


93

Exercício efetivo da função de jurado? Basta estar entre os 25 convocados ou necessita


integrar o conselho de sentença?
Mirabete entendia que poderia estar entre os 25 convocados, porém, para que o jurado
faça jus ao benefícios, precisa ter integrado o conselho de sentença.

 Art. 439.  O exercício efetivo da função de jurado constituirá serviço público


relevante e estabelecerá presunção de idoneidade moral. (Redação dada pela Lei
nº 12.403, de 2011).

Art. 440.  Constitui também direito do jurado, na condição do art. 439 deste Código,
preferência, em igualdade de condições, nas licitações públicas e no provimento, mediante
concurso, de cargo ou função pública, bem como nos casos de promoção funcional ou
remoção voluntária.

Art. 441.  Nenhum desconto será feito nos vencimentos ou salário do jurado sorteado que
comparecer à sessão do júri.

- Idoneidade moral;
- Preferência nas licitações públicas;
- Preferência em provimento em concurso de cargo ou função pública (em casos de
empate);
- Não pode ter seus vencimentos descontados.

Jurado tem direito à prisão especial?


Antes da Lei 12.403/11, o art. 439, CPP assegurava ao jurado prisão especial. Mas esse art.
foi alterado com a lei das prisões, não mais assegurando a prisão especial.
Antiga redação do art. 439:

Art. 439.  O exercício efetivo da função de jurado constituirá serviço público relevante,
estabelecerá presunção de idoneidade moral e assegurará prisão especial, em caso de
crime comum, até o julgamento definitivo. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

Assim, o art. 295, X, foi tacitamente revogado.

Art. 295.  Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à disposição da autoridade


competente, quando sujeitos a prisão antes de condenação definitiva:

X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função de jurado, salvo quando
excluídos da lista por motivo de incapacidade para o exercício daquela função;

12. Sessão de julgamento


94

É diferente de reunião periódica.

12.1. Ausências injustificadas

a) Ministério Público
Antes das alterações de 2008 previa-se a nomeação de um promotor ad hoc (para o ato).
Essa nomeação, porém, não foi recepcionada pela CF/88, pois as funções do MP só podem ser
exercidas por integrantes da carreira, regularmente aprovados em concurso (art. 129, §2º, CF)
Hoje, com a Lei 11.689/08, ausente o promotor, deve ser redesignado o julgamento.

Art. 455. Se o Ministério Público não comparecer, o juiz presidente adiará o julgamento
para o primeiro dia desimpedido da mesma reunião, cientificadas as partes e as
testemunhas.
Parágrafo único. Se a ausência não for justificada, o fato será imediatamente comunicado
ao Procurador-Geral de Justiça com a data designada para a nova sessão.

Reunião é o período do ano no qual o Júri reúne-se. Difere de sessão, que é o dia do efetivo
julgamento.

b) Advogado de defesa
O julgamento não pode ser realizado sem a defesa técnica, sob pena de nulidade absoluta.

STF, Súmula 523. No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a
sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.

Art. 456. Se a falta, sem escusa legítima, for do advogado do acusado, e se outro não for
por este constituído, o fato será imediatamente comunicado ao presidente da seccional da
Ordem dos Advogados do Brasil, com a data designada para a nova sessão (1).
§ 1o Não havendo escusa legítima, o julgamento será adiado somente uma vez, devendo o
acusado ser julgado quando chamado novamente (2).
§ 2o Na hipótese do § 1o deste artigo, o juiz intimará a Defensoria Pública para o novo
julgamento (3), que será adiado para o primeiro dia desimpedido, observado o prazo
mínimo de 10 (dez) dias.

- O julgamento será adiado.


- Deve ser respeitado o direito de o acusado de constituir seu defensor.
- A fim de se evitar fraude processual, deve o juiz intimar a Defensoria Pública com
antecedência mínima de 10 dias para que fique de sobreaviso na hipótese de nova ausência
injustificada do advogado constituído.

c) Acusado solto
95

Antes da Lei 11.689/08, se o crime era inafiançável a presença do acusado no júri era
obrigatória.
Hoje, se o acusado estiver regulamente intimado e deixar de comparecer o julgamento
deve ser realizado normalmente, pouco importando a natureza do delito.
A questão de o acusado comparecer ou não está ligado à autodefesa. Ele tem direito de ser
ouvido pelo juiz e de estar presente acompanhando a prova produzida contra sua pessoa. A
autodefesa é renunciável, assim, se o acusado não quer comparecer e ser ouvido pelos jurados
não haverá problema, pois ele apenas renuncia esses direitos.
Essa mudança também está diretamente ligada ao direito de silêncio do acusado.

Art. 457. O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do acusado solto, do
assistente ou do advogado do querelante, que tiver sido regularmente intimado.

d) Acusado preso
Tem o direito de estar presente na sessão do Júri, de modo que o Poder Público deve
assegurar seu deslocamento. Porém, se o acusado preso não quiser comparecer deve subscrever
pedido nesse sentido em conjunto com o seu advogado.

Art. 457. § 2o Se o acusado preso não for conduzido, o julgamento será adiado para o
primeiro dia desimpedido da mesma reunião, salvo se houver pedido de dispensa de
comparecimento subscrito por ele e seu defensor.

e) Advogado do assistente
O art. 457 trata do não comparecimento do assistente e não do seu advogado. Porém, a
doutrina entende que o disposto estende-se ao advogado do assistente, não sendo, pois, causa de
adiamento da sessão. O assistente é a vítima, e normalmente nos crimes do Júri, a vítima está
morta, e seus sucessores, mesmo que presentes, não têm capacidade postulatória. Assim, o que
interessa é a presença do advogado do assistente.
f) Advogado do querelante
Admite-se o querelante nos casos de:
1. Ação penal privada subsidiária da pública: inerte o querelante, o MP reassume o
pólo ativo na demanda (ação penal indireta). O MP volta a ser a parte principal.
Se o promotor não estiver preparado para o julgamento, pode pedir o adiamento
da sessão.

2. Ação penal exclusivamente privada ou privada personalíssima. Havendo conexão


entre um crime de ação penal pública com ação exclusivamente privada ou privada
personalíssima. É causa de perempção (extinção da punibilidade). Se o advogado
não tiver presente não haverá o pedido de condenação, o que acarreta a
perempção e consequente extinção da punibilidade. A perempção só repercurte
quanto ao crime de ação exclusivamente privada ou privada personalíssima.
96

É caso de litisconsórcio ativo entre MP (ação pública) e querelante (ação privada);

g) Testemunhas
A testemunha de “fora da terra” (que mora em outra comarca) não tem a obrigação de se
deslocar a outra comarca.
Em regra não será adiado, salvo se tiver sido arrolada com a cláusula de
imprescindibilidade e a parte após indicar seu endereço e tiver requerido sua intimação por
mandado, o julgamento será realizado normalmente.
Antes do adiamento deve ser verificada a possibilidade de condução coercitiva.
Quanto a essa testemunha faltosa, haverá uma multa de 1 a 10 salários mínimos, a
depender da condição econômica da testemunha.

Art. 458. Se a testemunha, sem justa causa, deixar de comparecer, o juiz presidente, sem
prejuízo da ação penal pela desobediência, aplicar-lhe-á a multa prevista no § 2 o do art.
436 deste Código (1 a 10 salários-mínimos).

Se todas as testemunhas comparecerem, deve ser preservada a incomunicabilidade entre


elas. Para que não haja uma contaminação, influência.
 
Art. 460.  Antes de constituído o Conselho de Sentença, as testemunhas serão recolhidas a
lugar onde umas não possam ouvir os depoimentos das outras.

Art. 461. O julgamento não será adiado se a testemunha deixar de comparecer, salvo se
uma das partes tiver requerido a sua intimação por mandado, na oportunidade de que
trata o art. 422 deste Código, declarando não prescindir do depoimento e indicando a sua
localização.
§ 1o Se, intimada, a testemunha não comparecer, o juiz presidente suspenderá os
trabalhos e mandará conduzi-la (1) ou adiará o julgamento para o primeiro dia
desimpedido, ordenando a sua condução (2).
§ 2o O julgamento será realizado mesmo na hipótese de a testemunha não ser encontrada
no local indicado, se assim for certificado por oficial de justiça.

12.2. Verificação da presença de 15 jurados

São convocados para o júri 25 jurados, sendo que o número mínimo de comparecimento é
15. Para esse número levam-se em consideração os jurados excluídos por impedimento ou
suspeição.

“Empréstimo de jurados” é a chamada de jurados incluídos na lista convocada para outros


julgamentos previstos para a mesma data em diferentes plenários do Júri, a fim de atingir o
número mínimo de 15 jurados para a instalação dos trabalhos.
97

Para a corrente minoritária que admite o empréstimo de jurados (Nucci), esse somente se
admite em comarcas maiores, onde houver dois ou mais Plenários do Júri funcionando
simultaneamente.
Porém, o STF e STJ não admite o empréstimo, sob a alegação de violação à ampla defesa,
pois se prejudica o direito à recusa de jurados (STF, HC 88.801). Isso porque, as partes podem
recusar até 3 jurados de forma imotivada, e para tanto se deve conhecer os 25 jurados que
estarão presentes. Se houver o empréstimo, as partes não conhecerão os jurados, prejudicando a
recusa.
Para esses tribunais, o “empréstimo de jurados” é causa de nulidade absoluta, que pode
ser arguida inclusive após o trânsito em julgado da sentença, por meio de habeas corpus,
mandado de segurança ou revisão criminal.

12.3. Suspeição, impedimento e incompatibilidade dos jurados

Aos jurados se aplicam as mesmas causas de impedimento dos juízes togados.


Antes do sorteio dos jurados, deve ser feita uma leitura dos artigos 448 e 449 do CPP.
Se o jurado não se declarar suspeito, incumbe às partes arguir a suspeição oralmente,
comprovando o motivo de plano. Por isso, não há suspensão nem adiamento da sessão.

Art. 448. São impedidos de servir no mesmo Conselho:


I – marido e mulher;
II – ascendente e descendente;
III – sogro e genro ou nora;
IV – irmãos e cunhados, durante o cunhadio;
V – tio e sobrinho;
VI – padrasto, madrasta ou enteado.

Art. 449. Não poderá servir o jurado que:


I – tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo processo, independentemente da
causa determinante do julgamento posterior (STF, Súmula 206);
II – no caso do concurso de pessoas, houver integrado o Conselho de Sentença que julgou
o outro acusado;
III – tiver manifestado prévia disposição para condenar ou absolver o acusado.

Conseqüências da participação de jurado impedido:


Antes da Lei 11.689/08, como o veredicto dos jurados era colhido por maioria (7 a 0, 6 a 1,
5 a 2, etc), tratava-se de nulidade relativa, pois o prejuízo devia ser comprovado. Se a votação
terminasse 7 a 0, 6 a 1, etc, a nulidade não seria reconhecida, pois o voto do jurado impedido não
exerceu qualquer influencia.
98

Mas se a votação acabasse 4 a 3 por exemplo, a nulidade deveria ser conhecida, pois
aquele voto faria diferença.
Com o advento da Lei 11.689/08, a votação será interrompida quando 4 votos forem
atingidos em um mesmo sentido. Logo, não é mais possível estabelecer qual terá sido o grau de
influencia do voto do jurado impedido. Se não é possível a comprovação do prejuízo, tem-se que
esse é presumido, logo se trata de nulidade absoluta.

Um mesmo jurado pode vir a julgar o mesmo acusado duas vezes? Sim, desde que em
processos distintos.

12.4. Composição do Conselho de Sentença

É formado por meio de sorteio, admitindo-se recusas:


a) Motivadas: baseiam-se em causas de impedimento, suspeição ou incompatibilidade.
Podem ser utilizadas tantas quantas forem necessárias. O que se limita é o número de recusas
imotivadas.

b) Imotivadas (peremptórias): é a recusa em que não há necessidade de motivação. Cada


parte tem direito a 3 recusas peremptórias.

Art. 468. À medida que as cédulas forem sendo retiradas da urna, o juiz presidente as lerá,
e a defesa (1) e, depois dela, o Ministério Público (2) poderão recusar os jurados sorteados,
até 3 (três) cada parte, sem motivar a recusa.

No caso as recusas, é uma das puçás vezes que a defesa se pronuncia antes do MP.
O assistente do MP não tem legitimidade para recusar jurados.

- Havendo mais de um acusador, independentemente do número de acusados, as recusas,


no máximo de 3, caberão ao MP.
- Havendo um único acusado, com pluralidade de defensores, estes terão o direito de
recusar até 3 jurados.
- Havendo mais de um acusado, cujas defesas técnicas sejam patrocinadas por um mesmo
advogado, serão, no máximo, 3 recusas.
- Havendo mais de um acusado com advogados distintos:
a) Havendo acordo entre os advogados, haverá 3 recusas.
b) Não havendo acordo, cada advogado terá direito a 3 recusas.

Antes da Lei 11.689/08


Jurados Advogado A Advogado B MP Resultado
Jurado 1 Aceita Recusa Recusa, para não Recusado
99

haver separação
de processos.
Jurado 2 Recusa Aceita Recusa Recusado
Jurado 3 Aceita Recusa Recusa Recusado
Jurado 4 Aceita Recusa Não é ouvido, Julgamento do
* Será julgado * Há separação por ter recusado cliente do
pelo jurado 4 de processos 3 vezes. advogado A

Antes da Lei de 2008, quem definia o acusado que seria julgado primeiro, era o Ministério
Público, eis que era o último a se pronunciar sobre a recusa.

Depois da Lei 11.689/08


Jurados Advogado A Advogado B Advogado C MP Resultado
Jurado 1 Aceito Recuso - - Excluído
2 Aceito Aceito Aceito Recuso Excluído
3 Recusado - - - excluido

Hoje, a partir do momento da exclusão do jurado, não é necessária a manifestação das


demais partes (outros advogados e MP) quanto à aceitação ou recusa, pois o jurado é
imediatamente excluído.

Art. 468. Parágrafo único. O jurado recusado imotivadamente por qualquer das partes
será excluído daquela sessão de instrução e julgamento, prosseguindo-se o sorteio para a
composição do Conselho de Sentença com os jurados remanescentes.
Hoje, havendo a separação dos julgamentos, a própria lei passou a dispor quem será
julgado em primeiro lugar (art. 469, §2º).
- Primeiro o autor do fato
- Acusados presos
- Dentre os presos, os que estiverem a mais tempo
- Se iguais, os que foi pronunciado primeiro.

Art. 469. § 2o Determinada a separação dos julgamentos, será julgado em primeiro lugar o
acusado a quem foi atribuída a autoria do fato (1) ou, em caso de coautoria (2), aplicar-
se-á o critério de preferência disposto no art. 429 deste Código.
Art. 429. Salvo motivo relevante que autorize alteração na ordem dos julgamentos, terão
preferência:
I – os acusados presos;
II – dentre os acusados presos, aqueles que estiverem há mais tempo na prisão;
III – em igualdade de condições, os precedentemente pronunciados.
100

E no caso de não haver jurados em número suficiente para compor o Conselho de Sentença
(estouro de urna)?
O estouro de urna decorre das recusas motivadas e imotivadas, não permitindo atingir-se o
número mínimo de 7 jurados para compor o Conselho de Sentença.
Ex.: há três réus a serem julgados, sendo que há 3 recusas por cada um e apenas 15 jurados
presentes no Plenário.
Nesse caso, será designada uma nova data para o julgamento.
A convocação de mais de 25 jurados é causa de nulidade relativa. Deve ser provado o
prejuízo.

12.5. Instrução em Plenário

No procedimento comum, utiliza-se o art. 212, que se trata do exame direto e cruzado do
ofendido e das testemunhas.
No Plenário do Júri, pela letra da lei (art. 473), quem pergunta primeiro é o juiz presidente

Art. 473. Prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a instrução plenária
quando o juiz presidente, o Ministério Público, o assistente, o querelante e o
defensor do acusado tomarão, sucessiva e diretamente, as declarações do
ofendido, se possível, e inquirirão as testemunhas arroladas pela acusação.

Renato Brasileiro entende que o Júri, o ideal é o juiz perguntar primeiro.


Jurado pode fazer pergunta, mas por intermédio do juiz presidente.

12.6. Leitura de peças


Antes das alterações de 2008: as partes podiam requerer a leitura de qualquer peça dos
autos.
Depois das alterações de 2008: só é possível a leitura de provas colhidas por precatória,
provas cautelares, antecipadas e não repetíveis.
Não se pode confundir o tempo destinado à leitura de peças com a menção aos elementos
de prova, como aqueles colhidos na investigação policial, realizada nos debates orais.

§ 3o As partes e os jurados poderão requerer acareações, reconhecimento de pessoas e


coisas e esclarecimento dos peritos, bem como a leitura de peças que se refiram,
exclusivamente, às provas colhidas por carta precatória e às provas cautelares,
antecipadas ou não repetíveis.

O inquérito pode ser lido?


Sim, durante os debates qualquer peça pode ser lida, desde que esteja dentro dos autos.

12.7. Interrogatório do acusado e Uso de algemas


101

O interrogatório é feito ao final.


A utilização de algemas no Plenário do Júri é uma medida excepcional, que só pode ser
adotada em duas situações:
1) Risco de fuga;
2) Risco de agressão contra as autoridades, contra terceiros ou contra si mesmo.
Essa decisão deve ser fundamentada, sob pena de nulidade do julgamento.

STF, SV 11. Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência (1) e de fundado receio de
fuga (2) ou de perigo à integridade física própria ou alheia (3), por parte do preso ou de terceiros,
justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal
do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem
prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

12. 8. Debates

Cuidam da sustentação oral da pretensão das partes.


Regra:
- 1h30 para cada parte.
- 1h para réplica (acusação) e para tréplica (defesa).

Art. 477. O tempo destinado à acusação e à defesa será de uma hora e meia para cada
(1h30m), e de uma hora (1h) para a réplica e outro tanto (1h) para a tréplica.
§ 1o Havendo mais de um acusador (assistente de acusação) ou mais de um defensor,
combinarão entre si a distribuição do tempo, que, na falta de acordo, será dividido pelo
juiz presidente, de forma a não exceder o determinado neste artigo.

Para cada acusado a mais submetido a julgamento, deve haver 1h a mais para a acusação e
defesa.
§ 2o Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo para a acusação e a defesa será acrescido
de 1 (uma) hora e elevado ao dobro o da réplica e da tréplica, observado o disposto no §
1o deste artigo.

Réplica e tréplica é qualquer manifestação acerca dos argumentos da parte contrária,


mesmo que sucintos. Ou seja, a resposta quanto à vontade de replicar ou treplicar deve ser “sim”
ou “não”.
A réplica não é obrigatória à acusação, assim como a tréplica não é obrigatória à defesa.
No caso de inovação da tese defensiva no momento da tréplica, há três posições:
1.º Não é possível que o advogado sustente tese nova por ocasião da tréplica, sob pena
de violação do contraditório.
102

2.º Por força da plenitude de defesa, o advogado pode inovar na tréplica, sem que haja
necessidade de oitiva da acusação. (Nucci)
3.º O advogado pode sustentar tese nova por ocasião da tréplica, porém, nesse caso,
deve o juiz ouvir a acusação quanto à referida tese.

12.9. Leitura e exibição de documentos e objetos

Se o objeto já tiver sido juntado aos autos, pode ser livremente exibido aos jurados (armas
de fogo não). Mas barra de ferro, p exemplo, sim. Não pode haver surpresa indevida.
Se o objeto não estiver nos autos, deve haver juntada com três dias úteis de antecedência,
sob pena de nulidade absoluta do julgamento. Cuidar porque a maioria dos livros de júri é escrito
por promotores, que dizem ser relativa.
Mas como provar o prejuízo nesse caso, já que o jurado não fundamenta seu voto? Não há
como provar o grau de convencimento que o documento exerceu na cabeça do jurado. Por essa
razão, deve ser nulidade absoluta, diante da impossibilidade de se exigir prova nesse sentindo
(prova diabólica).

Art. 479. Durante o julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição
de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias
úteis, dando-se ciência à outra parte.
Parágrafo único. Compreende-se na proibição deste artigo a leitura de jornais ou qualquer
outro escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros,
croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de
fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados.

Pode ser mostrados vídeos, desde que respeitada a regra dos 3 dias úteis.
A jurisprudência, o livro de doutrina, está relacionada à matéria de direito, razão pela qual
não se deve respeito a esse prazo.
Essa regra é bilateral, atinge as duas partes.

12.10. Argumentos de autoridade

É um argumento usado para convencer os jurados baseado na palavra de outra autoridade,


e não na prova constante dos autos. Ex: juiz. Art. 478.

Art. 478. Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer
referências:
I – à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou
à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou
prejudiquem o acusado; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
II – ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em
seu prejuízo.
103

O art. 478 não diz qual é a espécie de nulidade. Não há como mensurar o prejuízo causado
no convencimento dos jurados. Esta nulidade, portanto, é ABSOLUTA. Não usar estas decisões
como argumento de autoridade. Não pode nem para beneficiar nem para prejudicar.
O rol do inciso I é exemplificativo. Há outra decisão que também pode influenciar: decisão
de prisão preventiva.
            A pronúncia pode ser lida para os jurados? A lei diz que não pode utilizar como argumento
de autoridade. Na magistratura de SP caiu que não pode ler, mas jurado recebe cópia da
pronúncia. Pode ler, mas não pode usar como argumento de autoridade.

12.11. Direito ao “aparte”

É o pedido formulado pela parte contrária para que possa interromper a sustentação oral.
“Aparte” é uma interrupção na sustentação oral da parte contrária.

Art. 497. São atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri, além de outras
expressamente referidas neste Código:
XII – regulamentar, durante os debates, a intervenção de uma das partes, quando a outra
estiver com a palavra, podendo conceder até 3 (três) minutos para cada aparte
requerido, que serão acrescidos ao tempo desta última.

Antes da Lei 11.689/08, ficava a critério da parte contrária conceder ou não o aparte. Com
o advento da lei, esse direito ao aparte deve ser concedido pelo juiz presidente.

12.12. Acusado indefeso

Um dos princípios constitucionais do júri é a plenitude de defesa. Dessa forma, se justifica o


disposto do art. 497, V, CPP.

  Art. 497.  São atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri, além de outras
expressamente referidas neste Código: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
    
        V – nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso, podendo, neste caso,
dissolver o Conselho e designar novo dia para o julgamento, com a nomeação ou a
constituição de novo defensor; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

O acusado deve ter preservado o seu direito de defesa durante toda a sessão do júri.
Eventual violação a essa plenitude de defesa é causa de nulidade absoluta.

Súmula 523, STF: No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a
sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.
104

Essa plenitude de defesa deve ser fiscalizada não apenas pelo juiz-presidente, mas também
pelo MP.
Diz-se que o acusado está indefeso quando:
a) Ausência de defesa técnica.
STF, HC 89.222 (a defesa técnica foi feita por estagiário desacompanhado de
advogado);
STF, HC 94.282 (reconhecimento de apelação sem advogado)

EMENTA: HABEAS CORPUS. Processo penal. Renúncia de mandato. Ausência de intimação


do réu para constituir novo defensor. Nulidade. Súmula nº 708 desta Corte. I. A
jurisprudência desta Corte tem entendimento firmado no sentido de que o réu deve ser
cientificado da renúncia do mandato pelo advogado para que constitua outro defensor,
sob pena de nulidade por cerceamento de defesa. II. Aplicação do enunciado da Súmula nº
708 do STF. III. Ordem concedida de ofício.

b) A somatória da desídia do defensor revelar verdadeira ausência de defesa técnica.


STJ, HC 88.919.

HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. CONDENAÇÃO. NOMEAÇÃO DE DEFENSOR


DATIVO. OMISSÃO DO CAUSÍDICO. ABSOLUTA FALTA DE DEFESA TÉCNICA.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM CONCEDIDA.
1. Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, nos processos de competência
do Tribunal do Júri, a não apresentação de alguma peça processual, tal como defesa
prévia, alegações finais ou contrariedade ao libelo, por si só, não acarreta nulidade, pois a
Defesa pode optar por reservar sua tese para o julgamento em plenário.
2. A hipótese, contudo, revela um quadro fático peculiar que evidencia ter o paciente
respondido ao processo criminal totalmente desassistido, em clara violação ao princípio da
ampla defesa. Isso porque o defensor dativo não compareceu às audiências realizadas por
carta precatória, apesar de intimado, não apresentou alegações finais, não recorreu da
sentença de pronúncia, não apresentou contrariedade ao libelo e não compareceu à
sessão plenária do Tribunal do Júri, ocasião em que foi destituído.
3. Ordem concedida em maior extensão, de ofício, para anular a ação penal, preservando-
se apenas o recebimento da denúncia e renovando-se, a partir daí, todos os atos
processuais, nos termos do art. 406 do Código de Processo Penal.

c) Colidência de defesas técnicas. Um mesmo advogado pode defender mais de um


acusado, desde que não haja entre eles colidência de defesas.
STJ, RHC 22.034
HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. CONDENAÇÃO. NULIDADE. COLIDÊNCIA
DE DEFESA. MESMO ADVOGADO DEFENDENDO INTERESSES CONTRÁRIOS.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM CONCEDIDA.
1. Hipótese em que o paciente e seu filho foram acusados de tráfico de drogas, sendo que
o filho imputava a responsabilidade penal a seu pai e ambos foram patrocinados pelo
mesmo advogado. O defensor apresentou alegações finais defendendo apenas o filho e
acusando o pai.
2. Havendo teses defensivas conflitantes, fica clara a impossibilidade de que pai e filho
fossem patrocinados pelo mesmo advogado. É evidente, assim, o conflito de interesses e a
colidência de defesa, que provocou prejuízo ao paciente, haja vista a condenação à
reprimenda de 12 (doze) anos de reclusão.
105

3. Ordem concedida para anular o feito, apenas com relação ao paciente, a partir das
alegação preliminares, inclusive.

Nesses casos, o Conselho de Sentença deve ser dissolvido, sendo designada nova data para
outra sessão de julgamento.

12.13. Sociedade indefesa

Cuida da atuação deficiente do Ministério Público no Plenário do Júri.


Por força do princípio da obrigatoriedade, a atuação do MP deve se dar não apenas para o
início do processo, como também durante todo o curso do feito. Portanto, até mesmo em respeito
à competência do júri, deve o MP fazer chegar aos jurados o conhecimento acerca das provas
constantes dos autos.
Se o MP não exercer sua função a contento, deve o juiz presidente reconhecer que a
sociedade está indefesa com a conseqüente dissolução do conselho de sentença, sendo designada
nova data para outra sessão de julgamento (aplicação subsidiária do art. 497, V, CPP).
Poderá o juiz, também, comunicar o fato ao PGJ para que adote providências disciplinares
contra o Promotor de Justiça

12.4. Esclarecimentos dos jurados e possível dissolução do conselho sentença

480, §1º

    Art. 480.  A acusação, a defesa e os jurados poderão, a qualquer momento e por
intermédio do juiz presidente, pedir ao orador que indique a folha dos autos onde se
encontra a peça por ele lida ou citada, facultando-se, ainda, aos jurados solicitar-lhe, pelo
mesmo meio, o esclarecimento de fato por ele alegado. (Redação dada pela Lei nº 11.689,
de 2008)

§ 1o  Concluídos os debates, o presidente indagará dos jurados se estão habilitados a julgar
ou se necessitam de outros esclarecimentos. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

§ 2o  Se houver dúvida sobre questão de fato, o presidente prestará esclarecimentos à vista
dos autos. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

§ 3o  Os jurados, nesta fase do procedimento, terão acesso aos autos e aos instrumentos
do crime se solicitarem ao juiz presidente. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

O juiz só pode esclarecer questão de fato, jamais de direito.


Se por acaso surgir a necessidade de eventual diligencia, como incidente de insanidade
mental.

Art. 481.  Se a verificação de qualquer fato, reconhecida como essencial para o julgamento
da causa, não puder ser realizada imediatamente, o juiz presidente dissolverá o Conselho,
106

ordenando a realização das diligências entendidas necessárias. (Redação dada pela Lei nº
11.689, de 2008)

Parágrafo único.  Se a diligência consistir na produção de prova pericial, o juiz presidente,


desde logo, nomeará perito e formulará quesitos, facultando às partes também formulá-
los e indicar assistentes técnicos, no prazo de 5 (cinco) dias. (Redação dada pela Lei nº
11.689, de 2008)

Diante da necessidade de diligencia, cabe ao juiz presidente analisar a pertinência ou não


de sua realização.

13. Quesitação

Quesitos são perguntas formuladas aos jurados para que se manifestem quanto:
1) Materialidade;
2) Autoria;
3) Absolvição;
4) Causas de diminuição de pena (minorantes);
5) Qualificadoras;
6) Causas de aumento de pena (majorantes).
Cumpre lembrar que os quesitos somente abrangem matéria de fato e não de direito, eis
que são dirigidos a pessoas leigas.

13.1. Sistema adotado pelo CPP


Sistema Francês: vários quesitos são apresentados. Foi o sistema adotado antes das
alterações de 2008.
Sistema anglo-americano: há uma única indagação aos jurados. Apresenta-se o chamado
“quesito genérico” (é culpado ou inocente?).
Sistema misto: vários quesitos são apresentados, incluindo-se o chamado “quesito
genérico” (é culpado ou inocente?). É o sistema adotado hoje no CPP.

 Art. 483.  Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre:


 I – a materialidade do fato;
 II – a autoria ou participação;
 III – se o acusado deve ser absolvido;
 IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;
 V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na
pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.
 § 1o  A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos quesitos referidos
nos incisos I e II do caput deste artigo encerra a votação e implica a absolvição do acusado.
 § 2o  Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos
incisos I e II do caput deste artigo será formulado quesito com a seguinte redação:
O jurado absolve o acusado?
107

13.2. Fonte dos quesitos

a) Pronúncia. Os quesitos são extraídos da pronúncia. Se o acusado for pronunciado por


homicídio simples, a quesitação deve ser sobre homicídio simples. O juiz não pode fazer perguntas
sobre qualificadoras.
b) Decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.
c) Interrogatório do acusado (teses feitas por ele)
d) Alegações das partes (ex: causas de diminuição de pena).

13.3. Pluralidade de crimes e de acusados

Havendo pluralidade de crimes, os quesitos serão formulados em séries distintas, votando-


se em primeiro lugar, a série relativa ao crime doloso contra a vida, por conta de uma possível
desclassificação.
Havendo a pluralidade de acusados, os quesitos serão formulados em séries distintas. A lei
não fala quem será primeiro, geralmente o que foi denunciado primeiro.

Art. 486, § 6o  Havendo mais de um crime ou mais de um acusado, os quesitos serão
formulados em séries distintas.

13.4. Leitura dos quesitos

O juiz fará a leitura dos quesitos aos jurados, sendo este o momento oportuno para a
impugnação dos quesitos, sob pena de preclusão temporal. (nulidade relativa)
Essa leitura é feita no plenário.
STF, HC 87.358

MINISTÉRIO PÚBLICO - DECLARAÇÕES PRESTADAS POR CIDADÃ VERSUS INVESTIGAÇÃO.


Descabe confundir a investigação a cargo da autoridade policial com ato mediante o qual
o Ministério Público é procurado por certa pessoa que se diz ameaçada e que subscreve
declarações, vindo a ser ouvida, posteriormente, em juízo. JÚRI - QUESITOS -
IMPUGNAÇÃO - PRECLUSÃO. A impugnação a quesitos há de fazer-se na audiência em que
forem apresentados, sob pena de, consignada a concordância da defesa, vir a dar-se a
preclusão. JÚRI - QUESITOS - CO-AUTORIA. O quesito referente à co-autoria engloba
questionamento quanto à possível participação do acusado e à forma na qual ocorrida.

Art. 484. A seguir, o presidente lerá os quesitos e indagará das partes se têm requerimento
ou reclamação a fazer, devendo qualquer deles, bem como a decisão, constar da ata.
Parágrafo único. Ainda em plenário, o juiz presidente explicará aos jurados o significado de
cada quesito.
108

Se o vício for de tal gravidade que possa impedir o conhecimento da vontade dos jurados,
haverá nulidade absoluta, que pode ser arguida a qualquer momento.

Súmula 162   É absoluta a nulidade do julgamento, pelo júri, quando os quesitos da defesa
não precedem aos das circunstâncias agravantes.

13.5. Votação dos requisitos

O juiz faz a leitura e depois os jurados se dirigem à sala especial. Todos, com exceção do
público e do acusado.
Primeiro passa uma urna para votar, e depois uma para descarte.
A votação será interrompida assim que definido o quarto voto vencedor. Esse sistema deve
ser usado não só nos quesitos da materialidade e autoria, mas a todos os demais.
Caso a resposta dada a um dos quesitos seja prejudicial em relação a outro, este deve ser
considerado prejudicado.
Ex: homicídio qualificado privilegiado: desde que a qualificadora tenha a natureza objetiva.
Não se pode, p. ex., matar algo por relevante valor social e por motivo torpe (incompatível), mas
pode matar alguém sob o domínio de violenta emoção por um meios cruel.

Se os jurados reconhecerem a presença do privilégio, oi seja, art. 121, §1º, estarão


prejudicados os quesitos referentes às qualificadoras de natureza subjetiva.
13.6. Ordem dos quesitos (art. 483)

Art. 483.  Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre:


 I – a materialidade do fato;
 II – a autoria ou participação;
 III – se o acusado deve ser absolvido;
 IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;
 V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na
pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.

1º quesito: materialidade do fato delituoso


Em se tratando de homicídio consumado, esse quesito deve-se desdobrar em duas
perguntas:
1. Ofensa à integridade física da vítima (existência da lesão corporal):
- Não sofreu lesão: a resposta negativa de mais de 3 jurados implica na absolvição
do acusado, pois reconhecida a inexistência do fato.
- Sofreu lesão: prossegue a votação.

2. Nexo causal entre lesão e morte. Essas lesões causaram a morte da vítima?
109

- Não há nexo: o resultado morte não derivou da lesão corporal provocada pelo
acusado. Logo, a votação deve prosseguir para que os jurados analisem a intenção
do agente, se de mera lesão corporal ou de tentativa de homicídio. (são as
concausas – desclassificação).
- Há nexo: prossegue a votação.

Exemplo:
“No dia 16/05 a vítima foi atingida por disparo de arma de fogo, sofrendo as lesões
descritas no laudo de fl. 00?” Sendo a resposta positiva, “essas lesões corporais foram a causa
eficiente da morte da vítima?”.

2º quesito: autoria e participação

O acusado foi o autor dos disparos referidos no quesito anterior?


- Resposta negativa: gera a absolvição do acusado, eis que reconhecida a negativa
de autoria.
- Resposta positiva: prossegue a votação.

Há pelo menos quatro possibilidades de 3º quesito (art. 483, §5º)

3º quesito: eventual quesito quanto à tentativa


“Tício, assim agindo, deu início à execução do homicídio, que não se consumou por
circunstâncias alheias à sua vontade, consistente na intervenção dos policiais que
passavam pelo local?”.
- Resposta negativa: sendo negativa a resposta de mais de 3 jurados haverá o
reconhecimento de crime de lesão corporal, com o consequente deslocamento da
competência ao juiz presidente.
- Resposta positiva: prosseguimento da votação.

3º quesito: desclassificação para outro crime do Júri

Exemplo:
“Tícia agiu sob a influência do estado puerperal, matando o filho durante ou logo após o
parto?”.
Art. 483. § 5o Sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada (1) ou
havendo divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da competência do Tribunal do Júri
(2), o juiz formulará quesito acerca destas questões, para ser respondido após o segundo quesito.

3º ou 4º quesito: desclassificação para crime comum


110

Art. 483. § 4o Sustentada a desclassificação da infração para outra de competência do juiz


singular, será formulado quesito a respeito, para ser respondido após o 2o (segundo) ou 3o
(terceiro) quesito, conforme o caso.

3º ou 4º quesito: absolvição

Art. 483. § 2o Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos


relativos aos incisos I (materialidade) e II (autoria) do caput deste artigo será formulado quesito
com a seguinte redação: O jurado absolve o acusado?

Se a tese da defesa for autoria, o juiz perguntou se o acusado foi o autor dos disparos, e os
jurados disseram que sim. Assim, a tese apresentada pela defesa foi descartada pelos jurados.
Nesse caso, ainda precisa ser feito o quesito genérico da absolvição. Há promotores que dizem
que este quesito estaria prejudicado, pulando este quesito. Porém, não é o entendimento que
prevalece, porque, por mais que o jurado tenha reconhecido a autoria, ele pode acreditar que há
outro motivo capaz de defender o acusado (como legítima defesa).

1ª C: Caso a única tese defensiva seja a negativa da autoria, como os jurados já votaram
afirmativamente o quesito da autoria, estará prejudicado o quesito genérico absolutório. Prof.
Edejalma Lúcio.
2ª C: Votados afirmativamente os dois primeiros quesitos, este quesito quanto à absolvição
será obrigatório, independentemente das teses defensivas apresentadas. É a que prevalece. (STJ
HC 137.710)
Isso porque, o jurado pode querer absolver o acusado com base em tese não alegada pela
defesa.

HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE HOMICÍDIO QUALIFICADO. NULIDADE DO JULGAMENTO


PELO TRIBUNAL DO JÚRI. INTERROGATÓRIO. FORMULAÇÃO DE PERGUNTAS DE FORMA
ALEATÓRIA. MATÉRIA NÃO DEBATIDA NA ORIGEM. APELAÇÃO NO JÚRI. DEVOLUTIVIDADE
RESTRITA. PRECLUSÃO. AUSÊNCIA DE QUESITO GENÉRICO DE ABSOLVIÇÃO (INCISO III,
ART. 483, DO CPP). SÚMULA 156/STF. NULIDADE ABSOLUTA. RECONHECIMENTO.
....
4. Por outro lado, relativamente à ofensa ao art. 483 do Código de Processo Penal, com a
redação que lhe foi dada pela Lei nº. 11.689/08, apesar de a questão não ter sido
enfrentada na origem, a ordem deve ser conhecida, por se tratar de nulidade absoluta.
5. Nos termos do § 2º do artigo 483 do CPP, reconhecida a autoria e a materialidade pelo
Conselho de Sentença, deve-se indagar, obrigatoriamente, se "o jurado absolve o
acusado?". Trata-se, pois, de quesito genérico de absolvição, que deve ser formulado
independente das teses defensivas sustentadas em Plenário. 6. Ademais, a teor do
disposto no § 4º do dispositivo em comento, pleiteada a desclassificação do crime de
homicídio para outro de competência do juiz singular, como ocorreu no autos, é
obrigatória a formulação do quesito correspondente, após o segundo ou terceiro quesitos,
conforme o caso. 7. Admitida a existência do fato e reconhecida a autoria do crime,
questionada, em seguida, a respeito da tentativa e tendo os jurados respondido
afirmativamente, tornou-se prejudicada a votação de qualquer quesito relativo à tese de
111

desclassificação do delito, que tem por objetivo apurar a competência do Júri. 8.


Entretanto, mantido o crime doloso contra a vida, o terceiro quesito não foi formulado
pelo Juiz Presidente, conforme reza o art. 483, III, § 2º, do Código de Processo Penal. 9.
Cuida-se de quesito obrigatório, cuja ausência de formulação induz à nulidade absoluta do
julgamento, mesmo que a tese defensiva tenha repercussão diversa da absolvição,
atraindo, assim, a incidência da Súmula nº 156/STF. 10. Habeas corpus concedido para
anular o Julgamento realizado pelo Tribunal do Júri, determinando que o paciente seja
colocado em liberdade, se por outro motivo não estiver preso, mediante assinatura de
termo de compromisso.

Havendo mais de uma tese defensiva, há controvérsias na doutrina quanto à redação


desse quesito:
 Minoritária (LFG): os quesitos devem ser individualizados para cada tese defensiva.
Tal posição visa a facilidade recursal, bem como a viabilidade ou não de ação civil.
 Majoritária: ainda que haja mais de uma tese defensiva, os quesitos não devem ser
individualizados, pois eventual sentença absolutória não fará coisa julgada no juízo
cível (não há juízo de certeza).

Tese da absolvição imprópria: só não é levado a júri quando a inimputabilidade é a única


tese defensiva, PIS o juiz já pode absolver sumariante. Assim só irá a júri dede que tenha outra
tese defensiva.
Neste caso, devem ser formulados dois quesitos:
1. O jurado absolve o acusado?
- Se o jurado disser que sim, reconhece que há legitima defesa.
- Se o jurado dizer que não, pergunta-se:
2. O acusado era, ao tempo da ação, inteiramente incapaz ...? (art. 26, capu)

5º quesito: causas de diminuição de pena alegada pela defesa

As causas de diminuição de pena devem ser quesitadas antes das qualificadoras e causas
de aumento de pena.
- art. 121, §1º
- semi-imputabilidade (art. 26, §ú)
- participação de menor importância (art. 29, §1º)

STF, Súmula 162. É absoluta a nulidade do julgamento, pelo júri, quando os quesitos da
defesa não precedem aos das circunstâncias agravantes (qualificadoras e causas de
aumento de pena).

Deve, obrigatoriamente, ser individualizado. Ou seja, cada causa de diminuição de pena


deve ser quesitada separadamente.
112

Exceção:
Frisa-se que a tentativa, que é causa de diminuição de pena, deve ser quesitada antes (3º
quesito).

Homicídio qualificado-privilegiado
Admite-se homicídio qualificado-privilegiado, desde que a qualificadora tenha natureza
objetiva.
Reconhecido o homicídio qualificado-privilegiado pelos jurados, restarão prejudicados,
automaticamente, os quesitos referentes às qualificadoras de natureza subjetiva.

6º quesito: qualificadoras e causas de aumento de pena

Cada causa de aumento ou qualificadora deve ser individualizada.


Para que possam ser quesitadas devem ter constado da pronúncia ou decisões posteriores
que julgaram admissível a acusação.

Ex: o acusado agiu por motivo fútil, em virtude de uma briga de trânsito?

13.7. Questões diversas sobre quesitação

a) Absolvição imprópria
Reconhecida a prática de conduta típica e ilícita pelo inimputável (art. 26, caput, CP), será
aplicada medida de segurança, por meio de internação ou tratamento ambulatorial.
O inimputável pode ser absolvido sumariamente, desde que a inimputabilidade seja a única
tese defensiva. Desse modo, o inimputável será submetido a julgamento pelo júri quando possuir
outra tese defensiva.
Para a doutrina, a quesitação deve ter a seguinte ordem:
1) O jurado absolve o acusado? O juiz deve explicar aos jurados que esse quesito reserva-se
às teses diversas da inimputabilidade. Se os jurados responderem “não” a esse quesito, deve ser
feita a seguinte indagação:
2) O acusado era, ao tempo da ação, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do
fato, ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, em virtude de doença mental?

b) Falso testemunho em Plenário


Segundo a doutrina, deve ser feito quesito específico acerca do falso testemunho.
Apenas as partes podem requerer a inclusão desse quesito. Se o juiz pedir, estaria
influenciando os jurados.
Caso os jurados votem “sim” quanto a esse quesito, o depoimento da testemunha será
encaminhado à autoridade policial.
113

HC 119.132, STJ – reconhecida a autoria, não há qualquer nulidade se os jurados negarem


quesito relacionado ao falso testemunha.

Art. 211. Se o juiz, ao pronunciar sentença final, reconhecer que alguma testemunha fez
afirmação falsa, calou ou negou a verdade, remeterá cópia do depoimento à autoridade
policial para a instauração de inquérito.
Parágrafo único. Tendo o depoimento sido prestado em plenário de julgamento, o juiz, no
caso de proferir decisão na audiência (art. 538, § 2 o), o tribunal (art. 561), ou o conselho de
sentença, após a votação dos quesitos, poderão fazer apresentar imediatamente a
testemunha à autoridade policial.

c) Agravantes e atenuantes
Antes da Lei 11.689/08, agravantes e atenuantes eram obrigatoriamente quesitadas aos
jurados, sob pena de nulidade absoluta (STF, Súmula 156).
Era obrigatória a inclusão de um quesito sobre atenuantes genéricas: “existe alguma
atenuante em favor do acusado?”.
Após a Lei de 2008, agravantes e atenuantes somente são apreciadas pelo juiz-presidente.
- É possível o reconhecimento de agravantes e atenuantes de ofício pelo juiz na sentença
condenatória (de natureza objetiva)
- É possível o reconhecimento de agravantes e atenuantes alegadas nos debates.

Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá sentença que:


I – no caso de condenação: b) considerará as circunstâncias agravantes ou atenuantes
alegadas nos debates;

STF HC 106.376 – Agravantes e atenuantes de natureza subjetiva. Se o juiz reconhece uma


agravante ou atenuante objetiva, não há surpresa entre as partes. A subjetiva deve ser alegada
pelas partes, caso contrário, não poderá reconhecer de ofício.

Não é possível o reconhecimento de circunstância agravante se esta também funcionar


como qualificadora do crime de homicídio. Se determinada agravante também funciona como
qualificadora, deve ser assim incluída na denuncia. Não pode após ser alegada e reconhecida pelos
jurados. (STF, HC 90.265)

Em conclusão, a doutrina considera “debates” a defesa técnica (debates) e a autodefesa


(interrogatório).

Ex.: o juiz-presidente pode aplicar a agravante do motivo fútil quando alegada pela
acusação (art. 61, II, a, CP)? Não, já que essa agravante consta como qualificadora do crime de
homicídio.
114

Ou seja, para os Tribunais, não é possível o reconhecimento de circunstância agravante


simples alegada pela acusação quando essa constar do Código Penal como qualificadora do crime
de homicídio (STF, HC 90.265).
Há aparente antinomia entre o art. 492, I, b, e o art. 385 do CPP, que trata do
reconhecimento de agravantes de ofício:

Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda
que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes,
embora nenhuma tenha sido alegada.

d) Concurso de crimes
O concurso de crimes não é quesitado aos jurados, pois diz respeito à aplicação da pena.

e) Homicídio praticado em atividade típica de grupo de extermínio ou por milícia privada


Com a Lei 8930/94 surgem dois novos tipos de crime hediondo:
- homicídio qualificado.
- homicídio simples quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio;
Não era uma elementar, nem tampouco uma circunstancia do crime de homicídio. Era
apenas um requisito para ser considerado hediondo, que deveria ser conhecido pelo juiz-
presidente.
Ocorre que em 2012, entrou em vigor a lei 12.720: dia 28/09/2012. Introduziu no CP o art.
288-A (constituição de milícia privada). Com essa alteração o art. 121, CP tem uma nova causa de
aumento de pena no §6º, de 1/3 até ½ se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto
de prestação de serviço de segurança, ou grupo de extermínio.
Grupo de extermínio, segundo a maioria, deve ser formado por 4 ou mais pessoas. Não há
necessidade de que as 4 pessoas executem o crime, pode ser apenas um executor. Há uma
impessoalidade em relação á vítima. O agente mal sabe quem é a vítima, porém sabe os motivos
por que matou (pobreza, cor da pele, opção sexual, religião, etc).

Antes dessa lei, não era quesitado para os jurados, eis que não se tratava de qualificadora
ou causa de aumento de pena. Porém, com a nova lei, virou uma causa de aumento de pena.
Assim, toda e qualquer causa de aumento deve ser quesitada.
Trata-se de uma novatio legis in pejus, só podendo ser aplicada aos crimes praticados após
sua vigência. Só vale para o dia 28/11/12 para frente.
.

14. Desclassificação

Se os jurados concluirem que não se trata de crime doloso contra a vida, devem proceder a
desqualificação, hipótese em que o juiz-presidente assume o julgamento da imputação.
115

Mesmo diante de uma desqualificação pelos jurados, quando o juiz presidente mesmo
assim não irá julgar?
Crime militar. A CF e o COM diz que o crime doloso contra a vida praticado por militar
contra civil, a competência será do júri.
Diante de uma imputação de crime doloso contra a vida praticado por militar contra civil,
se os jurados entenderem que é caso de desqualificação, os autos devem ser encaminhados para a
Justiça Militar.

14.1. Desclassificação própria x imprópria

A desclassificação própria ocorre quando o Conselho de Sentença (jurados) desclassifica a


imputação para crime que não é de sua competência, mas não especifica qual seria o delito. Nesse
caso, o juiz presidente assume total capacidade decisória, podendo inclusive absolver o acusado.
A desclassificação imprópria ocorre quando o Conselho desclassifica a imputação para
crime que não é de sua competência, mas especifica o crime cometido pelo acusado. Nesse caso,
prevalece o entendimento de que o juiz-presidente é obrigado a acatar a decisão dos jurados,
condenando, assim, o acusado.
Ex: homicídio culposo. Renato Brasileiro não concorda, porque se desqualificaram não
podem obrigar o juiz presidente a julgar conforme eles entendem, pois a competência do
conselho de sentença estaria encerrada.

14.2. Infração de menor potencial ofensivo

Nesse caso, segundo a lei, é o próprio juiz-presidente que aplica o procedimento do JEC. A
lei não determina a remessa dos autos aos Juizados. O próprio juiz presidente aplica a lei...
propõe uma transação penal, suspensão condicional do processo, etc.
Ex.: homicídio tentado é desclassificado para lesão leve (3 meses a 1 ano). Nesse caso,
haverá necessidade de representação. O prazo decadencial para o oferecimento da representação
começa a fluir apenas a partir da desclassificação. Não se aplica a regra de 6 meses após o
conhecimento da autoria, pois já teria, certamente ultrapassado o prazo.

Art. 492. § 1o Se houver desclassificação da infração para outra, de competência do juiz


singular, ao presidente do Tribunal do Júri caberá proferir sentença em seguida, aplicando-
se, quando o delito resultante da nova tipificação for considerado pela lei como infração
penal de menor potencial ofensivo, o disposto nos arts. 69 e seguintes da Lei n o 9.099, de
26 de setembro de 1995.

Há quem entenda que esse dispositivo é inconstitucional, por ter os Juizados Especiais
Criminais competência absoluta. No entanto, o que importa é a aplicação do procedimento do JEC,
qualquer que seja julgador.
116

Essa regra distingue-se da aplicada no procedimento comum.

Art. 383. § 2o Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão


encaminhados os autos.

14.3. Crimes conexos

Ex.: o mesmo agente pratica homicídio simples em conexão com o crime de estupro.
Se os jurados desclassificarem a imputação de crime doloso contra a vida, ao juiz
presidente também caberá o julgamento dos crimes conexos.
Porém, se os jurados absolverem o acusado quanto ao crime doloso contra a vida,
continuam tendo competência para julgar os crimes conexos.
Desclassificado o crime de homicídio, esse será apreciado pelo juiz-presidente, bem como
o crime conexo não doloso contra a vida.

Art. 492. § 2o Em caso de desclassificação, o crime conexo que não seja doloso contra a
vida será julgado pelo juiz presidente do Tribunal do Júri, aplicando-se, no que couber, o
disposto no § 1o deste artigo.

Frisa-se que, no caso de absolvição do crime doloso contra a vida, há reconhecimento


implícito da competência do Júri, razão pela qual os próprios jurados julgarão o crime conexo não
doloso.
NULIDADES

1. Tipicidade processual e nulidades

Tipicidade é a subsunção perfeita da conduta ao modelo abstrato previsto na Lei Penal.


Visa assegurar a segurança jurídica e o respeito ao devido processo legal.
O ato processual deve ser praticado em consonância com a Constituição Federal e com as
leis processuais penais.
Tem como função a segurança jurídica, a prestação jurisdicional justa (ampla defesa,
contraditório, devido processo penal, etc).
Na tipicidade processual, ao invés de pena (tipicidade material), há nulidade, que é a
sanção processual aplicada ao ato defeituoso, privando-o da aptidão de produzir seus efeitos
regulares.
No direito penal, a pena tem objetivo de dissuasão da prática criminosa. A pena é a forma
de convencer o sujeito a não delinqüir. Se sentir compelida.
Já no processo penal, o sistema de nulidades funciona como instrumento para compelir os
sujeitos processuais a observância dos modelos típicos.
117

“As nulidades estão para o processo penal, tais quais as penas estão para o código
penal.”
Uma norma para ter efeito prescritivo necessita ter uma sanção. Caso contrário, será vista
como um modelo, orientação.

2. Espécies de irregularidades

Há vários tipos de irregularidades.

a) Irregularidades sem consequência


Aqui, o ato processual praticado em desacordo com a lei não gera consequências, desde
que atingida a finalidade buscada (princípio da instrumentalidade das formas).
Ex.: utilização de abreviaturas (art. 169, §1º). O CPP diz que não é possível utilizar, mas na
praxe, é usado e não gera qualquer conseqüência.

b) Irregularidades que acarretam sanções extraprocessuais


Ex.: aplicação de multa ao advogado que abandona o processo injustificadamente (art. 265
do CPP).
Hipótese quando o defensor abandona o processo, sem motivo imperioso, o juiz pode
aplicar uma multa de 10 a 100 sal. Mín, sem prejuízo de demais sanções possíveis.

2.3. Irregularidades que podem gerar a invalidação do ato processual (nulidade)


São irregularidades que atentam contra o interesse público ou contra o interesse das
partes. Por isso, permite-se a nulidade do ato processual.
Ex.: sentença desprovida de fundamentação; decretação da prisão preventiva desprovida
de fundamentação, etc.

2.4. Irregularidades que acarretam a inexistência jurídica


Nesse caso, há o chamado “não ato”.
Ex.: decisão proferida por juiz impedido.

3. Espécies dos atos processuais

a) Atos perfeitos
É aquele praticado em consonância com um modelo típico.
São válidos e eficazes.

b) Atos meramente irregulares


118

É o ato dotado de irregularidades sem consequência, ou irregularidades que acarretam


sanções extraprocessuais.
São válidos e eficazes.
Ex.: STF, Súmula 366. Não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei penal,
embora não transcreva a denúncia ou queixa, ou não resuma os fatos em que se baseia.

c) Atos nulos
Diante da inobservância do modelo típico, a nulidade do ato pode ser reconhecida.

d) Atos inexistentes
Tamanha a gravidade do vício que sequer pode ser considerado um ato processual. Não há
que se falar em invalidação, já que a inexistência representa um defeito que antecede qualquer
consideração sobre a validade do ato processual. Nesse caso, o ato sequer existe.
Ex.: sentença sem dispositivo.
O vício que acarreta a inexistência jamais é convalidado (sanado). A inexistência do ato
pode ser reconhecida a qualquer momento.

4. Conceito de nulidade

Há vários conceitos:
a) Corrente majoritária: Sanção processual de ineficácia aplicada ao ato defeituoso
(majoritária)
b) Corrente minoritária: Defeito do ato processual

5. Espécies de nulidades

Há duas espécies:

Nulidade absoluta Nulidade relativa


a) Doutrina: o prejuízo é presumido. a) Doutrina: o prejuízo deve ser provado pela
Nesse caso, cabe, à parte contrária, provar a parte interessada.
ausência do prejuízo. Não tem natureza b) STF e STJ: o prejuízo deve ser provado, tanto
absoluta, seria uma inversão do ônus da prova. nas nulidades relativas quanto nas absolutas.
A parte contrária pode provar que não houve
prejuízo. Ex: citação.
STJ HC 227.263 – o voto de um desembargador
suspenso não alterou o resultado final
b) STF e STJ: o prejuízo deve ser provado (RHC
110.623). Pas de nullite sans griefe
119

Podem ser arguidas a qualquer momento, Deve ser arguida no momento oportuno (art.
inclusive após o TJ de sentença condenatória 571), sob pena de preclusão.
ou absolutória imprópria, por meio de HC ou Cuidar:
Revisão Criminal. I- as da instrução criminal, dos processos da
Lembrar que absolutória própria não é cabível. competência do júri, por ocasião da
Só pode ser utilizada em favor do réu e não apresentação das alegações orais, ao final da 1ª
contra ele. fase do procedimento do júri. (assim deve ser
interpretado)
Hipóteses: Hipóteses:
a) Caso de violação de normas constantes da CF a) Violação de forma prescrita em lei que visa á
ou da Convenção Americana sobre Direitos proteção de interesse preponderante das
Humanos, ainda que essa nulidade não conste partes. Ex.: ausência de ciência da parte sobre a
no art. 564 do CPP (nulidade não cominada). expedição de carta precatória de intimação de
Para Ada Pellegrini, a violação à CF sempre testemunha.
gerará nulidade, nunca mera irregularidade sem
conseqüências. STF, Súmula 155. É relativa a nulidade do processo
criminal por falta de intimação da expedição de
b) Nulidades cominadas no art. 564, que não
precatória para inquirição de testemunha.
estejam sujeitas à convalidação, ou seja,
STJ, Súmula 273. Intimada a defesa da expedição da
aquelas não ressalvadas pelo art. 572, CPP. carta precatória, torna-se desnecessária intimação da
- incompetência, suspeição, suborno; data da audiência no juízo deprecado.
- ilegitimidade ad causam;
b) Nulidades cominadas no art. 564, que
estejam sujeitas à convalidação (art. 572): art.
564, inc. III, D, E, 2ª parte, G, H, bem como inc.
IV.

Art. 572. As nulidades previstas no art. 564, Ill, d e e, segunda parte, g e h, e IV,
considerar-se-ão sanadas:
I - se não forem arguidas, em tempo oportuno, de acordo com o disposto no artigo
anterior;
II - se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido o seu fim;
III - se a parte, ainda que tacitamente, tiver aceito os seus efeitos.

Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos (rol exemplificativo):


I - por incompetência, suspeição ou suborno do juiz;
II - por ilegitimidade de parte;
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções penais, a
portaria ou o auto de prisão em flagrante;
120

b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no
Art. 167;
c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador
ao menor de 21 anos;
d) a intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e
nos da intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública;
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os
prazos concedidos à acusação e à defesa;
f) a sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de
testemunhas, nos processos perante o Tribunal do Júri;
g) a intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei
não permitir o julgamento à revelia;
h) a intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos
estabelecidos pela lei;
i) a presença pelo menos de 15 jurados para a constituição do júri;
j) o sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal e sua
incomunicabilidade;
k) os quesitos e as respectivas respostas;
l) a acusação e a defesa, na sessão de julgamento;
m) a sentença;
n) o recurso de oficio, nos casos em que a lei o tenha estabelecido;
o) a intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e
despachos de que caiba recurso;
p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quorum legal para o
julgamento;
IV - por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato.

Parágrafo único. Ocorrerá ainda a nulidade, por deficiência dos quesitos ou das suas
respostas, e contradição entre estas.

OBS: Nova Lei Carolina Dieckmann: 12.237/12


A ação penal será pública condicionada á representação, salvo quando praticado contra a
administração.
Publicada 03/12/2012, entrará em vigor 100 dias após, isto é, dia 02/04/2013.
Para contar o prazo, conta o primeiro dia.

5. Reconhecimento das nulidades

a) Na 1º instância
Podem ser reconhecidas mediante requerimento das partes, no primeiro momento
(relativa) ou a qualquer momento (absoluta).
Além disso, admite-se reconhecimento de ofício pelo juiz (art. 251 e art. 423, I). Pode
reconhecer tanto uma nulidade absoluta, quanto relativa. O juiz deve zelar pela regularidade do
processo.
121

Art. 251.  Ao juiz incumbirá prover à regularidade do processo e manter a ordem no curso


dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força pública.

Art. 423.  Deliberando sobre os requerimentos de provas a serem produzidas ou exibidas


no plenário do júri, e adotadas as providências devidas, o juiz presidente: (Redação dada
pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – ordenará as diligências necessárias para sanar qualquer nulidade ou esclarecer fato que
interesse ao julgamento da causa; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

b) Na 2º instância
Ao julgar determinado recurso, o juízo ad quem fica vinculado ao objeto da impugnação
(tantum devolutum quantum appelatum).

STF, Súmula 160. É nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não
arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.

Dessa súmula, podem ser extraídas 3 conclusões:


- Nos casos de recurso de ofício, o Tribunal é livre para reconhecer qualquer nulidade, seja
favorável ou prejudicial ao acusado, pois o reexame necessário devolve ao juízo ad quem o
conhecimento integral da causa. Em se tratando de nulidade relativa, deve se verificar se já se
operou a preclusão, pelo fato de não ter sido arguida em tempo oportuno.
- No recurso da acusação, o Tribunal é livre para reconhecer qualquer nulidade em prejuízo
do acusado, desde que o conhecimento desse vício tenha sido devolvido à apreciação do juízo ad
quem, em virtude da interposição do recurso. Em se tratando de nulidade relativa, deve se
verificar se não ocorreu a preclusão.
- No julgamento de recurso da acusação ou da defesa, o Tribunal é livre para reconhecer
qualquer nulidade em benefício do acusado, ainda que tal matéria não tenha sido expressamente
devolvida ao conhecimento do Tribunal, em razão do princípio da “reformatio in mellius”.

6. Princípios

6.1. Princípio do prejuízo (pas de nullite sans grief)

Não há nulidade sem que haja prejuízo.

Art. 563. Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a
acusação ou para a defesa.
Art. 566. Não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído na
apuração da verdade substancial ou na decisão da causa.

A forma somente existe para que se alcance determinado fim.


122

a) Nulidade absoluta: prejuízo presumido.


b) Nulidade relativa: prejuízo comprovado.
Ex.: inversão da ordem de oitiva das testemunhas de acusação e de defesa, ouvindo-se
primeiro a testemunha defensiva. Nesse caso, deve ser analisado o prejuízo. Sendo a testemunha
abonatória, não haverá prejuízo.

A doutrina divide esse princípio em duas nulidades:


Nulidade originária: o dano fica restrito ao próprio ato viciado. Ex: juiz não fundamentou a
sentença, apenas esta será nula.
Nulidade derivada: a nulidade originária causa a contaminação de atos subseqüentes,
desde que haja uma relação de causalidade.

6.2. Princípio da instrumentalidade das formas

Toda a forma prescrita em lei visa proteger algum interesse ou atingir determinada
finalidade. Portanto, se o ato processual for praticado em desacordo com o modelo típico, a
nulidade não deve ser reconhecida caso a finalidade tenha sido atingida.
Ou seja, a forma não representa um fim em si mesma.

Art. 572. As nulidades previstas no art. 564, Ill, d e e, segunda parte, g e h, e IV, considerar-
se-ão sanadas:
II - se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido o seu fim;

 Art. 570.  A falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará sanada,


desde que o interessado compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o
faz para o único fim de argüi-la. O juiz ordenará, todavia, a suspensão ou o      adiamento
do ato, quando reconhecer que a irregularidade poderá prejudicar direito da parte.

Assim, se o acusado comparecer, mesmo não tendo sido citado, não há porque ser
declarada a nulidade.

6.3. Princípio da eficácia dos atos processuais

A nulidade do ato processual defeituoso não é automática, estando seu reconhecimento


condicionado à existência de pronunciamento judicial nesse sentido.
O ato processual juridicamente existente é válido e eficaz enquanto não declarada a sua
nulidade por juiz ou Tribunal.

6.4. Princípio da restrição processual à decretação de ineficácia


123

A invalidação de um ato processual defeituoso somente pode ocorrer se houver


instrumento processual adequado e desde que o momento ainda seja oportuno (art. 571).
Ex: decisão absolutória transitada em julgado proferida por juízo absolutamente
incompetente. Nesse caso, não será possível o reconhecimento da nulidade absoluta.
A revisão criminal e o HC são instrumentos utilizáveis mesmo após o trânsito em julgado da
sentença condenatória. No entanto, não se admite o uso desses mecanismos no caso de sentença
absolutória, mesmo que eivada de nulidade absoluta. Só podem ser usadas em favor do acusado.

Art. 571. As nulidades deverão ser arguidas:


I - as da instrução criminal dos processos da competência do júri, nos prazos a que se
refere o art. 406 (resposta à acusação);
II - as da instrução criminal dos processos de competência do juiz singular e dos processos
especiais, salvo os dos Capítulos V e Vll do Título II do Livro II, nos prazos a que se refere o
art. 500;
III - as do processo sumário, no prazo a que se refere o art. 537, ou, se verificadas depois
desse prazo, logo depois de aberta a audiência e apregoadas as partes;
IV - as do processo regulado no Capítulo VII do Título II do Livro II, logo depois de aberta a
audiência;
V - as ocorridas posteriormente à pronúncia, logo depois de anunciado o julgamento e
apregoadas as partes (art. 447);
VI - as de instrução criminal dos processos de competência do Supremo Tribunal Federal e
dos Tribunais de Apelação, nos prazos a que se refere o art. 500;
VII - se verificadas após a decisão da primeira instância, nas razões de recurso ou logo
depois de anunciado o julgamento do recurso e apregoadas as partes;
VIII - as do julgamento em plenário, em audiência ou em sessão do tribunal, logo depois de
ocorrerem.
6.5. Princípio da causalidade

A nulidade de um ato processual provoca a invalidação dos atos dele decorrentes.


Para a doutrina, pode haver nulidade originária (primeiro ato) e nulidade derivada (outros
atos), em razão de relação de causalidade.
Ex.: vício na citação do acusado.

Se o juiz não se pronunciar quanto á nulidade derivada de outros atos processuais, é


possível a interposição de embargos de declaração. Declarar a nulidade doa atos processuais
derivados da nulidade originária.

6.6. Princípio da conservação dos atos processuais (confinamento das nulidades)

Deve ser preservada a validade dos atos processuais que independam de ato anterior
declarado inválido. Caso não haja causalidade, devem ser mantidos os atos processuais
subseqüentes.
124

CPC, Art. 248. Anulado o ato, reputam-se de nenhum efeito todos os subsequentes, que
dele dependam; todavia, a nulidade de uma parte do ato não prejudicará as outras, que
dela sejam independentes.

6.7. Princípio do interesse

Nenhuma parte pode arguir nulidade relativa referente à formalidade que só interessa à
parte contrária.

Art. 565. Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para que
tenha concorrido, ou referente a formalidade cuja observância só à parte contrária
interesse.

Ex: Promotor ausente em uma audiência, mas quem alega é a parte. Nesse caso, falta
interesse, pois o prejudicado foi o MP, que deixou de fazer perguntas, etc.
Frisa-se que o princípio do interesse não se aplica às nulidades absolutas, que cuidam de
normas de interesse público. Aplica-se somente às nulidades relativas.
Além disso, o MP pode pleitear o reconhecimento de nulidade relativa em favor do
acusado. Assim, o contrário pode ser feito, pois o Promotor tem interesse em proteger ois
interesses do acusado. Se se deparar com uma nulidade em favor do acusado, pode alegar. Ex:
ausência de defesa. Advogado não arrola testemunhas, não faz perguntas, fica no facebook.
Nesse sentido, o acusado somente pode arguir nulidade relativa a seu favor, mas nunca em
favor do querelante ou do Ministério Público. Ex.: ausência de promotor à audiência de instrução.
Nesse caso, a nulidade apenas interessa ao MP.

6.8. Princípio da lealdade ou boa-fé

Nenhuma parte pode arguir nulidade para a qual tenha concorrido. Má-fé ou em virtude de
negligencia processual.

Art. 565. Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para
que tenha concorrido, ou referente a formalidade cuja observância só à parte contrária
interesse.

Para a doutrina majoritária, esse princípio somente se aplica às nulidades relativas.


Ex: advogado de defesa, que intimado não compareceu á audiência. O juiz não arguirá a
nulidade, mas nomeará um advogado ad hoc.

6.9. Princípio da convalidação


125

Convalidar é o mesmo que remover o defeito, sanear ou sanar o vício, a fim de que um ato
processual inicialmente imperfeito possa ser considerado válido.
Segundo a doutrina, são causas de convalidação:
a) Suprimento: eventuais omissões podem ser supridas. Completa-se a parte omissa, é
acrescentada. Ex.: aditamento de denúncia (art. 569).

b) Retificação: corrige-se ato praticado de forma defeituosa. Pode ser retificada a denúncia.
Ex: copiar o nome errado do acusado, testemunha, etc.

c) Ratificação: confirma-se ato processual praticado. Ex.: queixa-crime oferecida por menor
de idade deve ser ratificada por seu representante (art. 568).

d) Preclusão: perda de direito. No ponto de vista objetivo, é o fato impeditivo destinado a


garantir o avanço progressivo da relação processual e a obstar seu recuo para fases anteriores do
procediemento. Sob o ponto de vista subjetivo, representa a perda de uma faculdade processual
(preclusão temporal, lógica e consumativa).
- Temporal: não exercício no momento oportuno.
- Lógica: incompatibilidade da prática de ato processual com outro ato já praticado.
- Consumativa: perda da faculdade em razão de já ter sido exercida.

e) Prolação da sentença: para parte da doutrina, sendo possível o proferimento de


sentença de mérito em favor da parte prejudicada pela nulidade, impede o reconhecimento de
nulidade relativa. Esta deve ser considerada sanada.
Também se chama de teoria da causa madura.
Art. 249, §2º, CPC: Quando puder decidir o mérito a favor da parte a quem aproveite a
declaração da nulidade, o juiz ....

f) Coisa julgada (preclusão máxima): somente se aplica nos casos de sentença absolutória
própria. Sendo a sentença absolutória imprópria ou condenatória, há instrumentos adequados à
impugnação de nulidade, mesmo após o TJSPC.

Lei 12.736/12 – Nova Lei da Detração

É uma lei genuinamente processual, com aplicabilidade imediata.

Art. 1o  A detração deverá ser considerada pelo juiz que proferir a sentença condenatória,
nos termos desta Lei. 
126

Art. 2o  O art. 387 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo
Penal, passa a vigorar com a seguinte redação: 

“Art. 387. ...................................................................... 


§ 1o  O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso, a
imposição de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do
conhecimento de apelação que vier a ser interposta. 
§ 2o  O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou
no estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena
privativa de liberdade.” (NR) 

Art. 3o  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 

O art. 387, §1º, CPP, com redação dada pela Lei 12.736/12, corresponde ao antigo art. 387,
§único.

Antes da Lei 12.736/12 Depois da Lei 12.736/12


A detração era realizada apenas pelo juízo das A detração deve ser feita, em regra, pelo juiz
execuções. do processo de conhecimento, por ocasião da
CP, art. 42; a detração é o desconto do tempo sentença condenatória, para fixar o regime
de prisão cautelar ou de internação provisória, inicial de cumprimento da pena.
do tempo de prisão penal ou de medida de Essa detração deve ser feita para fins de fixação
segurança. do regime inicial de cumprimento da pena ou
LEP, art. 66, III, “c”: Na sentença condenatória, da medida de segurança.
o juiz do processo de conhecimento não
examinava se o acusado tinha direito a
detração. Consequentemente, o regime inicial
de cumprimento da pena era estabelecido com
base na pena definitiva.

Ex: sentença condenatória – 121, §2º


Pena definitiva: 12 anos (regime inicial fechado) – computa esse tempo para a prescrição
Prisão cautelar: 4 anos
Agente primário
Fazendo a detração, chega-se a 8 anos – sendo primário e portador de bons antecedentes,
faz-se uma progressão de regime, ficando o condenado no regime inicial semi-aberto.
Mas a lei dos crimes hediondos diz que o regime inicial deve ser fechado.
O STF já declarou inconstitucional o regime inicial fechado para o tráfico de drogas.
Ademais, o apenado já cumpriu o regime inicial fechado, já cumpriu cautelarmente por 4 anos,
cumprindo sob as mesmas regras do regime fechado. Por essa razão, o regime será então o semi-
aberto.
127

O juiz da execução ainda pode fazer a detração?


Art. 66, III, “c” da LEP, não foi tacitamente revogado pela Lei 12.736/12. O ideal é entender
que a regra é que a detração seja feita pelo juiz, na hora da sentença. Mas se isso não acontecer,
pois há condenados com diversas condenações, prisões cautelares espalhadas por diversas varas.
Estaria transformando o juiz de conhecimento em juiz das execuções.

SENTENÇA

1. Princípio da correlação entre acusação e sentença

O acusado não pode ser processado e julgado por fato diverso daquele que lhe foi
imputado na peça acusatória.

2. Emendatio libeli

“Emendatio libeli” é a correção da acusação.


Ocorre quando o juiz, sem modificar a base fática da imputação, a ela atribui classificação
distinta, ainda que mediante aplicação de pena mais grave.
Nesses casos, não há necessidade de aditamento, tampouco de oitiva da defesa. Isso
porque, o acusado defende-se dos fatos que lhe são imputados.
Portanto, não há, aqui, prejuízo à acusação.
Ex.: é narrado na denúncia o crime de furto qualificado pela fraude (pena de 2 a 8 anos).
Porém, ao final, classifica-se o crime como incurso no art. 171 (pena de 1 a 5 anos). Nesse caso,
evidenciada a prática do furto, pode o juiz, na sentença, prolatar condenação com base no furto,
mesmo que a pena seja mais grave.

Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá
atribuir-lhe definição jurídica diversa (classificação do crime), ainda que, em
consequência, tenha de aplicar pena mais grave.
§ 1o Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de
suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei.
§ 2o Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados os
autos.

Conforme o “iuria novit curia”, o juiz ou tribunal conhece o direito.


Segundo “narra mihi factum dabo tibi ius”, narrado o fato, será dado o direito.

2.1. Espécies de “emendatio”


128

a) Emendatio por defeito de capitulação


Aqui, o erro reside na classificação do fato criminoso conforme o artigo devido.

b) Emendatio por interpretação distinta


Nesse caso, o juiz pode interpretar o fato como outro crime.

c) Emendatio por supressão de elementar ou circunstância


Enquanto na “mutatio” ocorre acréscimo de elementar ou circunstância, na “emendatio”
pode ocorrer a supressão.
Ex.: é oferecida denúncia por roubo qualificado por emprego de arma. Porém, ao final do
processo, condena-se o acusado por roubo simples.

2.2. Momento da “emendatio”

Há duas correntes:
a) Apenas em sede de sentença (majoritária)
Essa corrente funda-se na localização do art. 383, que se encontra no título relativo à
sentença.
Não pode o juiz alterar a classificação do fato delituoso por ocasião do recebimento da
peça acusatória, sob pena de se fazer pré-julgamento do fato.

b) Admite-se no início do processo


Quando houver excesso da acusação, que prive o acusado de institutos despenalizadores
ou de liberdade provisória, é possível, no início do processo, uma desclassificação incidental e
provisória.
Para Brasileiro, essa posição é a mais acertada.
Ex.: pessoa que é flagrada com 1 cigarro de maconha e é denunciada por tráfico de drogas.

2.3. Oitiva das partes

Segundo corrente majoritária e STF, não há necessidade de oitiva das partes em razão da
“emendatio libeli” (ação penal 461, agravo terceiro).
Porém, há corrente minoritária, no sentido de que o contraditório aplica-se tanto às
questões de fato, quanto às questões de direito.

2.4. Diversas espécies de ação penal

O art. 383 trata da “emendatio” em sede de denúncia ou queixa. Por isso, entende-se que
tem cabimento em sede de:
129

a) Ação penal pública


- Condicionada
- Incondicionada
b) Ação penal privada
- Exclusivamente privada
- Personalíssima
- Subsidiária da pública
Ou seja, admite-se “emendatio” em qualquer espécie de ação penal.

2.5. “Emendatio” em 2º grau

Admite-se a “emendatio”, desde que não ocorra “reformatio in pejus” em recurso


exclusivo da defesa (art. 617).

3. Mutatio libeli

“Mutatio libeli” é a mudança da acusação.


Ocorre quando, durante o curso da instrução probatória, surge prova de elementar ou
circunstância não contida na peça acusatória. Nesse caso, como há alteração da base fática da
imputação, há necessidade de aditamento da peça acusatória, com posterior oitiva da defesa.
Ex.: é oferecida denúncia pelo crime de furto. Porém, durante a instrução probatória, as
testemunhas confirmam que foi utilizada violência contra a vítima. Nesse caso, o MP fará
aditamento à denúncia, imputando o acusado o delito de roubo. Após, será ouvida a defesa.

a) Elementares: são dados essenciais da figura típica, cuja ausência pode acarretar a
atipicidade absoluta (a conduta passa a ser atípica) ou a atipicidade relativa (desclassificação).
Ex.: “funcionário público” é elementar do crime de peculato. Retirada essa elementar,
haverá desclassificação para o crime de apropriação indébita.

b) Circunstâncias: são dados periféricos que gravitam ao redor da figura típica, básica,
podendo aumentar ou diminuir a pena, sem, porém, interferir no crime.
Ex.: qualificadoras, majorantes, minorantes, etc.

Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do
fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da
infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou
queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo
em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.
§ 1o Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28
deste Código.
§ 3o Aplicam-se as disposições dos §§ 1o e 2o do art. 383 ao caput deste artigo.
130

3.1. Agravantes

Ao contrário das qualificadoras, as agravantes (art. 61 a 64 do CP) não precisam constar na


denúncia para serem reconhecidas em sentença pelo juiz (STF, HC 93.211).

Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda
que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer
agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.

Ou seja, não há mutatio libeli para incluir ou excluir agravantes.

3.2. Fato novo e fato diverso

a) Fato novo
Fato novo ocorre quando os elementos do seu núcleo essencial constituírem
acontecimento criminoso completamente distinto daquele resultante do núcleo essencial da
imputação. Ou seja, o fato novo nada agrega à imputação inicial, mas a substitui por completo.
Como não há qualquer relação com o fato incialmente imputado ao acusado, não se aplica
a mutatio libeli, devendo ser instaurado novo processo criminal.

b) Fato diverso
Ocorre quando os elementos do seu núcleo essencial correspondem parcialmente aos do
fato da imputação originária, mas com o acréscimo de alguma elementar ou circunstância que o
modifique.
É para o fato diverso que se reserva a mutatio libeli.

3.3. Necessidade de aditamento

Surgindo prova de elementar ou circunstância não contida na peça acusatória, deve ser
feito o aditamento, pouco importando o “quantum” de pena cominado à imputação diversa, se
maior ou menor.

Antes de 2008 Depois de 2008


O aditamento só era obrigatório quando Hoje, o aditamento é obrigatório em qualquer
houvesse possibilidade de aplicação de pena caso de mutatio, sendo a pena mais grave ou
mais grave em razão da mutatio. não.

3.4. Espécies de aditamento


131

O aditamento pode ser feito oralmente, na audiência de instrução, ou por escrito.


a) Provocado
Antes das alterações de 2008 era o juiz quem baixava o processo a fim de que o MP
procedesse ao aditamento da peça acusatória.

b) Espontâneo
Hoje, o MP deverá aditar a denúncia ou queixa.
No entanto, hoje ainda há hipótese de aditamento provocado, conforme o §1º do art. 384:
Art. 384. § 1o Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28
deste Código.
Nesse caso, o PGJ pode:
1) Fazer o aditamento
2) Designar outro órgão do MP para aditar
3) Se omitir: nesse caso, o juiz terá de julgar o acusado pela imputação originária.
3.5. Procedimento da “mutatio”

Ex.: imputação por roubo simples. Durante a instrução, surgem provas sobre o emprego de
arma.
a) Aditamento pelo MP
Então, os autos seguem ao MP, para que, em 5 dias, faça aditamento espontâneo,
imputando o crime do art. 157, §2º, I.

b) Oitiva da defesa
Antes do recebimento do aditamento a defesa é ouvida sobre o aditamento. Ou seja, há
espécie de defesa preliminar (rejeição da denúncia) conjugada com resposta à acusação
(absolvição sumária).

c) Juízo de admissibilidade: recebimento ou rejeição


Após, é feito juízo de admissibilidade do aditamento (como se fosse nova denúncia),
podendo rejeitá-lo (art. 395) ou recebe-lo.
§ 5o Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá.

d) Instrução
Então, os autos serão novamente instruídos, sendo obrigatória a realização de novo
interrogatório.

§ 2o Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e admitido o aditamento , o


juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora para continuação da
audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de
debates e julgamento.
132

§ 4o Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de
5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento.

3.6. Rejeição do aditamento

Contra a rejeição do aditamento:


a) Em decisão interlocutória: RSE (art. 581, I).
b) Na audiência de instrução, prolatada sentença: apelação (art. 593, §4º).

3.7. Distintas espécies de ação penal

O art. 384 trata do aditamento, pelo MP, da denúncia ou queixa, se em virtude desta
(queixa) houver sido instaurado o processo em crime de ação pública.
Em razão disso, há duas correntes:
a) Majoritária
- Ação penal pública, condicionada ou não
- Ação penal privada subsidiária da pública
Em ambos os casos, o aditamento é feito pelo Ministério Público.

b) Minoritária (Badaró)
- Ação penal pública, condicionada ou não
- Ação penal privada subsidiária da pública
+
- Ação penal exclusivamente privada
- Ação penal privada personalíssima
Nestes casos, deve ser observado o prazo decadencial.
Brasileiro adota essa corrente.

3.8. “Mutatio libeli” em 2º grau

Não se admite mutatio em 2º grau, sob pena de se violar o duplo grau de jurisdição, diante
da supressão da 1ª instância.
STF, Súmula 453. Não se aplicam à 2ª instância o art. 384 e parágrafo único (parágrafos) do
CPP, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de circunstância
elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou queixa.
Porém, isso não impede que o Tribunal anule o processo em face da inobservância do art.
384.

3.9. Condenação
133

Ocorrendo a mutatio libeli, haverá duas imputações: a originária e a superveniente.


Antes das alterações de 2008, recebido o aditamento, o juiz era livre para condenar o
acusado tanto pela imputação originária quanto pela imputação superveniente. A esse fenômeno
se dava o nome de “imputação alternativa”.
No entanto, hoje, segundo o §4º do art. 384, o juiz fica adstrito aos termos do aditamento.
Ou seja, é vedado ao juiz condenar o acusado pela imputação originária, salvo nos seguintes casos:
a) No caso de imputação por crime simples, para posterior inclusão de elemento
especializante
Ex.: primeira imputação por roubo; segunda imputação por roubo majorado pelo emprego
de arma. Nesse caso, não há prejuízo à defesa.

b) No caso de crime complexo


Ex.: primeira imputação por furto; segunda imputação por roubo. Nesse caso, o acusado
por roubo já pode se defender do crime de furto.

4. Disposições comuns: emendatio e mutatio

4.1. Mudança de competência

Os autos devem ser remetidos ao juízo competente, conforme art. 383, §2º.

4.2. Transação penal e suspensão condicional do processo

STJ, Súmula 337. É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do


crime e na procedência parcial da pretensão punitiva.
Para o STJ, a suspensão condicional do processo pode ser oferecida mesmo em sede de
sentença.
Nesse sentido é o teor do art. 383, §1º: § 1 o Se, em consequência de definição jurídica
diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo (e de transação
penal), o juiz procederá de acordo com o disposto na lei.

TEORIA GERAL DOS RECURSOS

1. Conceito

É um instrumento processual voluntário de impugnação de decisões judiciais previsto em


lei federal, utilizado antes da preclusão e na mesma relação jurídica processual, objetivando o
reexame da decisão por meio de:
a) Reforma;
134

b) Invalidação;
c) Integração;
d) Esclarecimento.
A maioria da doutrina entende que o recurso é mero desdobramento do direito de ação,
visto que se dá na mesma relação processual.

2. Natureza jurídica dos recursos

Funciona como desdobramento do direito de ação.


Há divergência:
a) Nova ação dentro do mesmo processo
b) Recurso
c) Desdobramento do direito de ação (majoritária)

Cuidar: os recursos não se confundem com as ações autônomas de impugnação. Nessas


ações, ao contrário dos recursos, instaura-se uma nova relação jurídica processual. Ex.: habeas
corpus, revisão criminal, etc.

1.4. Direito intertemporal nos recursos


Lei x em vigor na data do fato delituoso – Lei y entra em vigor na data da publicação da
decisão – Lei w entra em vigor na data da interposição do recurso.
Nesse caso, aplica-se a lei em vigor na data da publicação da decisão (Lei y), pois a matéria
recursal liga-se ao direito processual (“tempus regit actum”). É a partir da decisão em que se passa
a ter direito a recurso.
Ex.: fato delituoso em 10/03/08: existia protesto por novo júri – julgamento em 20/10/11:
não mais existia protesto por novo júri, extinto em 22/08/08. Nesse caso, há divergências:
a) Admite-se protesto por novo júri, pois reflete no direito de punir (LFG e Tourinho Filho).
b) Não se admite protesto por novo júri (doutrina majoritária).

3. Princípios gerais dos recursos

3.1. Princípio do Duplo grau de jurisdição

Não é necessariamente sinônimo de poder recorrer, e sim, a possibilidade de recorrer


através de um recurso que seja capaz de devolver ao tribunal toda a matéria de fato, de direito e
probatória. A interposição de RE, embora seja recurso, não é exemplo de duplo grau de jurisdição,
pois apenas se devolve matéria constitucional ao STF (fundamentação vinculada).
135

Duplo grau de jurisdição consiste na possibilidade de reexame integral da matéria de fato e


de direito da decisão do juízo a quo, a ser confiado a órgão jurisdicional diverso e, em regra, de
hierarquia superior na ordem judiciária.
Fundamentos:
a) Falibilidade humana: Todo o ser humano está sujeito a cometer erros. Além disso, a
revisão da decisão funciona como estímulo ao aprimoramento da decisão pelo juiz
de 1º grau.
b) Inconformismo das pessoas: decisão desfavorável aos seus interesses, dando um
pouco mais de conforto ao recorrente, mesmo que perca.

A maioria da doutrina entende que o duplo grau encontra-se previsto implicitamente na


Constituição Federal, no art. 5º, LV.
Porém, discute-se o seu embasamento: 1) Devido processo legal; 2) Ampla defesa; 3)
Estrutura escalonada do Poder Judiciário.
Já na Convenção Americana dos Direitos Humanos, art. 8º, §2º, “h”, há previsão expressa
acerca do duplo grau de jurisdição.
Segundo o STF, os acusados com foro por prerrogativa de função que sejam julgados
originariamente pelo Tribunal de Justiça não teriam direito ao duplo grau de jurisdição, ou seja,
não poderiam apelar a outro órgão (RHC 79.785). Porém, isso não significa que o acusado não
possa recorrer por meio de RE ou Resp.

EMENTA: I. Duplo grau de jurisdição no Direito brasileiro, à luz da Constituição e da


Convenção Americana de Direitos Humanos. 1. Para corresponder à eficácia instrumental
que lhe costuma ser atribuída, o duplo grau de jurisdição há de ser concebido, à moda
clássica, com seus dois caracteres específicos: a possibilidade de um reexame integral da
sentença de primeiro grau e que esse reexame seja confiado à órgão diverso do que a
proferiu e de hierarquia superior na ordem judiciária. 2. Com esse sentido próprio - sem
concessões que o desnaturem - não é possível, sob as sucessivas Constituições da
República, erigir o duplo grau em princípio e garantia constitucional, tantas são as
previsões, na própria Lei Fundamental, do julgamento de única instância ordinária, já na
área cível, já, particularmente, na área penal. 3. A situação não se alterou, com a
incorporação ao Direito brasileiro da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de
São José), na qual, efetivamente, o art. 8º, 2, h, consagrou, como garantia, ao menos na
esfera processual penal, o duplo grau de jurisdição, em sua acepção mais própria: o direito
de "toda pessoa acusada de delito", durante o processo, "de recorrer da sentença para juiz
ou tribunal superior". 4. Prevalência da Constituição, no Direito brasileiro, sobre
quaisquer convenções internacionais, incluídas as de proteção aos direitos humanos, que
impede, no caso, a pretendida aplicação da norma do Pacto de São José: motivação. II. A
Constituição do Brasil e as convenções internacionais de proteção aos direitos humanos:
prevalência da Constituição que afasta a aplicabilidade das cláusulas convencionais
antinômicas. 1. Quando a questão - no estágio ainda primitivo de centralização e
efetividade da ordem jurídica internacional - é de ser resolvida sob a perspectiva do juiz
nacional - que, órgão do Estado, deriva da Constituição sua própria autoridade
jurisdicional - não pode ele buscar, senão nessa Constituição mesma, o critério da solução
de eventuais antinomias entre normas internas e normas internacionais; o que é bastante
a firmar a supremacia sobre as últimas da Constituição, ainda quando esta
eventualmente atribua aos tratados a prevalência no conflito: mesmo nessa hipótese, a
primazia derivará da Constituição e não de uma apriorística força intrínseca da
136

convenção internacional. 2. Assim como não o afirma em relação às leis, a Constituição


não precisou dizer-se sobreposta aos tratados: a hierarquia está ínsita em preceitos
inequívocos seus, como os que submetem a aprovação e a promulgação das convenções
ao processo legislativo ditado pela Constituição e menos exigente que o das emendas a ela
e aquele que, em conseqüência, explicitamente admite o controle da constitucionalidade
dos tratados (CF, art. 102, III, b). 3. Alinhar-se ao consenso em torno da estatura
infraconstitucional, na ordem positiva brasileira, dos tratados a ela incorporados, não
implica assumir compromisso de logo com o entendimento - majoritário em recente
decisão do STF (ADInMC 1.480) - que, mesmo em relação às convenções internacionais de
proteção de direitos fundamentais, preserva a jurisprudência que a todos equipara
hierarquicamente às leis ordinárias. 4. Em relação ao ordenamento pátrio, de qualquer
sorte, para dar a eficácia pretendida à cláusula do Pacto de São José, de garantia do
duplo grau de jurisdição, não bastaria sequer lhe conceder o poder de aditar a
Constituição, acrescentando-lhe limitação oponível à lei como é a tendência do relator:
mais que isso, seria necessário emprestar à norma convencional força ab-rogante da
Constituição mesma, quando não dinamitadoras do seu sistema, o que não é de admitir.
III. Competência originária dos Tribunais e duplo grau de jurisdição. 1. Toda vez que a
Constituição prescreveu para determinada causa a competência originária de um
Tribunal, de duas uma: ou também previu recurso ordinário de sua decisão (CF, arts.
102, II, a; 105, II, a e b; 121, § 4º, III, IV e V) ou, não o tendo estabelecido, é que o
proibiu. 2. Em tais hipóteses, o recurso ordinário contra decisões de Tribunal, que ela
mesma não criou, a Constituição não admite que o institua o direito infraconstitucional,
seja lei ordinária seja convenção internacional: é que, afora os casos da Justiça do
Trabalho - que não estão em causa - e da Justiça Militar - na qual o STM não se superpõe
a outros Tribunais -, assim como as do Supremo Tribunal, com relação a todos os demais
Tribunais e Juízos do País, também as competências recursais dos outros Tribunais
Superiores - o STJ e o TSE - estão enumeradas taxativamente na Constituição, e só a
emenda constitucional poderia ampliar. 3 .À falta de órgãos jurisdicionais ad qua, no
sistema constitucional, indispensáveis a viabilizar a aplicação do princípio do duplo grau de
jurisdição aos processos de competência originária dos Tribunais, segue-se a
incompatibilidade com a Constituição da aplicação no caso da norma internacional de
outorga da garantia invocada.
(RHC 79785, Relator(a):  Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em
29/03/2000, DJ 22-11-2002 PP-00057 EMENT VOL-02092-02 PP-00280 RTJ VOL-00183-03
PP-01010)

No processo do mensalão, o STF reiterou esse entendimento e ainda ampliou. Também


não tem direito ao duplo grau os demais acusados atraídos ao foro por prerrogativa de função em
virtude de conexão ou continência, também não tem direito ao duplo grau de jurisdição. Ricardo
Levandowisck e Marco Aurélio entendiam que o julgamento deveria ser desmembrado para que
os demais acusados fossem julgados na primeira instancia para que pudessem exercer o duplo
grau. Mas essa teses não foi acolhida. A maioria do STF entendeu que nenhum dos acusados
teriam direito.

Exemplos:
- Apelação, devolve-se toda a matéria de fato e de direito.
- ROC, conforme art. 102, II, b, CF, é o duplo grau de jurisdição exercido junto ao STF nos
casos de crimes políticos. É muito semelhante à apelação, pois pode discutir matérias de fato, de
direito e questões probatórias.
137

O duplo grau também significa que, à exceção das hipóteses de competência originária dos
tribunais, o processo também deve ser examinado uma vez no 1º grau de jurisdição e
reexaminado uma segunda vez em sede recursal pelo tribunal. Portanto, não se pode admitir que
o Tribunal faça o exame de determinada matéria pela primeira vez, sob pena de supressão do 1º
grau de jurisdição, o que também seria causa de violação ao duplo grau de jurisdição.

Súmula 453, STF: Não se aplicam à segunda instância o Art. 384 e parágrafo único do
Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso,
em virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na
denúncia ou queixa.

A mutatio libeli não pode ser feita na 2ª instancia, pois violaria o duplo grau de jurisdição,
pois o objeto do aditamento só seria analisado no tribunal, sem a possibilidade deste objeto ser
reexaminado nos dois graus.

Segundo o STF, acusados com foro de prerrogativa de função não têm direito ao duplo grau
de jurisdição (devolução de toda a matéria). Isso não significa que a pessoa não possa recorrer.

3.2. Princípio da Taxatividade dos recursos

De acordo com esse princípio, há necessidade de se verificar a previsão legal de recurso


contra determinada decisão. Com isso, preserva-se a segurança jurídica.
Ou seja, cada decisão comporta determinados recursos, previstos em lei federal (art. 22, I,
CF), eis que somente à União compete legislar sobre direito processual.
De todo modo, ainda que determinada decisão seja irrecorrível, é plenamente possível a
utilização dos remédios heróicos do mandado de segurança e do habeas corpus.
Ex: assistente da acusação (art. 273, CPP) – do despacho que admitir ou não o assistente da
acusação, não cabe recurso. Nesse caso não cabe recurso, mas pode ser impetrado mandado de
segurança.

Porém, admite-se a interpretação extensiva de recursos, conforme ocorre no RSE (art. 581
do CPP).
Exemplos:
Cabe RSE contra a decisão que receber a denúncia (inc. I). E quanto à decisão que não
receber o aditamento da denúncia? Em interpretação extensiva, admite-se RSE.
Cabe RSE contra decisão que indeferir prisão preventiva (inc. V). E quanto à decisão que
indeferir medidas cautelares? Em interpretação extensiva, admite-se RSE.

3.3. Princípio da Unirecorribilidade (unidade ou singularidade)


138

Pelo menos em regra, caso a decisão seja recorrível, deverá ser interposto um único
recurso. Para cada decisão recorrível há um único recurso cabível.
Há doutrinadores que o chamam de princípio da consunção, eis que o cabimento da
apelação tem o poder de absorver o RSE.
Ex.: art. 593, §4º

art. 593, §4º. Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido
estrito, ainda que somente de parte da decisão se recorra.

Mesmo que o juiz condene por um delito e julgue extinta a punibilidade por outro, o
recurso cabível é apelação, pois esta absorve o RESE.
Admite-se a interposição concomitante de mais de um recurso contra a mesma decisão,
desde que tenham a mesma natureza jurídica, o que é bastante comum quando há sucumbência
recíproca. Nesse caso, o princípio da unirrecorribilidade será preservado, pois os recursos têm a
mesma natureza jurídica. Tanto a acusação como a defesa interpõe apelação, mas sendo ambas
da mesma natureza jurídica, não se trata de uma exceção à unirrecorribilidade.

Exceções ao princípio da unirrecorribilidade:


1) Protesto por novo júri quanto à condenação à pena de 20 anos ou mais + apelação
quanto ao crime conexo julgado pelo júri (extinto)
2) Recurso extraordinário + Recurso especial - Devem ser interpostos simultaneamente (Lei
8.038/90, art. 27, §§5º e 6º).
3) Embargos infringentes e de nulidade contra parte não unânime da decisão proferida
pelos traibunais no julgamento de apelações, RESES ou agravos em execução + Resp. ou RE contra
a parte unânime da decisão
Segundo o STJ, aplica-se ao processo penal o disposto no art. 498 do CPC (Resp. 785.679).
Nesse caso, interpostos embargos infringentes, o prazo para RE ou Resp., relativamente ao
julgamento unânime, ficará sobrestado até a intimação da decisão dos embargos. Assim, não
precisa interpor os dois recursos simultaneamente. Desse modo, seguindo esse raciocínio do STJ,
esse exemplo não seria mais uma exceção ao princípio da Unirrecorribilidade, pois primeiro se
entra com embargos infringentes e, só depois, com Resp. ou RE.

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. INTERPOSIÇÃO DE EMBARGOS INFRINGENTES E


DE NULIDADE SIMULTANEAMENTE A RECURSO ESPECIAL. IMPOSSIBILIDADE. ART. 498 DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. ACÓRDÃO NÃO UNÂNIME. PROCLAMAÇÃO DO RESULTADO
COMO UNANIMIDADE. ERRO MATERIAL. CABIMENTO DE EMBARGOS INFRINGENTES.
HABEAS CORPUS DE OFÍCIO.

I - Em se tratando de aferição da prematuridade ou não do recurso especial, quando


ocorrida a hipótese, na origem, de interposição simultânea de embargos infringentes e
recurso especial, deve-se observar a regra inscrita no art. 498 do CPC (Precedente).
139

II - Verificado que o recurso especial foi interposto concomitantemente à interposição dos


embargos infringentes, inviável se torna o seu conhecimento.

III - Embora conste da proclamação do resultado do julgamento do recurso de apelação


que a decisão proferida foi unânime, a análise do inteiro teor do v. acórdão guerreado
aponta, no que tange ao pedido de modificação da pena restritiva de direitos em razão da
condição econômica do réu, a ocorrência de divergência entre o voto condutor proferido
pelo relator - que rejeitou a alegação - e o voto de revisão - que deu provimento, no ponto,
ao apelo para modificar a pena substitutiva.

Recurso especial não conhecido.Habeas corpus concedido de ofício, para que o e. Tribunal
a quo aprecie, no mérito, os embargos infringentes opostos pelo ora recorrente. (REsp
881847/PE, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 22/05/2007, DJ
20/08/2007, p. 305)

Porém, o STF entende que esse art. 498 não se palica ao processo penal Ag 432884 – QO.

EMENTA: Recurso extraordinário criminal: intempestividade: interposição após o


julgamento de embargos infringentes, quanto à parte da decisão recorrida por eles não
abrangida: entendimento que a Súmula 355 documentou e que, em matéria criminal, não
foi modificado pela L. 10.352/01, que alterou o art. 498 do C. Pr. Civil: precedente (AI
197.032-QO, Pertence, RTJ 167/1030) (AI 432884 QO, Relator(a):  Min. SEPÚLVEDA
PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 09/08/2005, DJ 16-09-2005 PP-00024 EMENT VOL-
02205-03 PP-00511)

3.4. Princípio da Fungibilidade

Uma impugnação incorreta pode ser recebida e conhecida como se fosse correta, desde
que não evidenciada a má fé por parte do recorrente.

Art. 579. Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um
recurso por outro.
Parágrafo único. Se o juiz, desde logo, reconhecer a impropriedade do recurso interposto
pela parte, mandará processá-lo de acordo com o rito do recurso cabível.

A aplicação desse principio depende da inexistência de má-fé pela parte do recorrente.


Essa má-fé se presume nas seguintes hipóteses:
 Existência de erro grosseiro. Só é possível a aplicação do princípio da fungibilidade
se houver dúvida objetiva sobre o recurso adequado.
Exemplo: Resp. 611877.

PROCESSO PENAL. DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA. REMESSA DO FEITO AO JUIZADO


ESPECIAL. INTERPOSIÇÃO DE APELAÇÃO. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE.
INAPLICABILIDADE. ERRO GROSSEIRO.
140

1. Contra decisão que desclassifica o delito imputado ao réu e, como consequência,


conclui pela incompetência do juízo, cabe recurso em sentido estrito.
2. A interposição, como na espécie, de apelação constitui erro grosseiro, o que impede a
aplicação do princípio da fungibilidade.
3. Recurso especial improvido.
(REsp 611877/RR, Rel. Ministro OG FERNANDES, Rel. p/ Acórdão Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 17/04/2012, DJe 17/09/2012)

 Não observância do prazo previsto em lei para o recurso adequado.


Exemplo: perdeu prazo para apelação e tenta entrar com recurso extraordinário.
Diante do princípio da fungibilidade, deve ser observado o procedimento do
recurso adequado.
Ex: entrou com apelação. No tribunal – conclui que teria que ser RESE. Se vai se
aplicar fungibilidade, deve determinar o procedimento correto – procedimento do
RESE. Não pode esquecer que tem juízo de retratação = tem que mandar para
primeiro grau primeiro.
Art. 579, parágrafo único.
3.5. Princípio da convolação

Por força desse princípio, uma impugnação adequada e correta pode ser conhecida como
se fosse outra, que, no caso concreto, apresenta-se mais vantajosa para satisfazer aos interesses
do recorrente.
Não se confunde com a fungibilidade, na qual o recorrente ajuíza o recurso errado. Na
convolação o recorrente entra com o recurso correto, mas o Tribunal conhecerá dele como se
fosse outro, por ser mais vantajoso.
Ex.: pessoa é condenada e presa por determinação de juiz absolutamente incompetente,
sendo que o advogado ajuíza revisão criminal. Nesse caso, o Tribunal pode transformar a revisão
em pedido de habeas corpus. Não está errada a revisão, pois já transitou em julgado, porém, ela é
muito lenta, assim, o habeas corpus é mais favorável que a revisão.

3.6. Princípio da voluntariedade dos recursos

Para as partes, a possibilidade de recorrer contra uma decisão, representa verdadeiro


ônus. Isso significa dizer que a existência de um recurso está condicionado à manifestação da
vontade da parte (é ônus das partes).
Segundo a jurisprudência, o recurso é voluntário para todas as partes, inclusive para o MP,
Defensoria Pública, etc. (STF, HC 93.120). Eles não são obrigados a recorrer.
STF, HC 93.120 - se a defesa foi intimada e não quis interpor o recurso, não há nulidade.

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. AUSÊNCIA DE INTERPOSIÇÃO DE APELAÇÃO.


CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. RÉUS E DEFENSOR CONSTITUÍDO
REGULARMENTE INTIMADOS DA SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA. NECESSIDADE DO
MANDADO DE INTIMAÇÃO DE SENTENÇA SER ACOMPANHADO DE TERMO DE APELAÇÃO.
141

INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. ORDEM DENEGADA. 1. Os réus e o defensor constituído


foram regularmente intimados da sentença penal condenatória. 2. A não interposição de
apelação não equivale à ausência de defesa, porquanto o defensor constituído ofereceu
embargos de declaração à sentença penal condenatória em tempo hábil. Ausência de
recurso que se situa no âmbito da estratégia de defesa delineada pelo defensor
constituído, dada a voluntariedade recursal. 3. Não há qualquer dispositivo legal que
determine a necessidade de o mandado de intimação de sentença condenatória ser
acompanhado de um termo de apelação. Ausência de constrangimento ilegal. 4. Negado
provimento ao writ.
(HC 93120, Relator(a):  Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 08/04/2008,
DJe-117 DIVULG 26-06-2008 PUBLIC 27-06-2008 EMENT VOL-02325-03 PP-00604)

Nesse ponto, cabe fazer menção ao recuso de ofício (reexame necessário), que é
obrigatório em certas situações em que o juiz é obrigado a recorrer contra a sua própria decisão.
Quando a CF entrou em vigor, passaram a sustentar que o reexame não teria sido
recepcionado, pois violaria inércia. STF e STJ entendem que foi, sim, recepcionado pela CF. Não é
um recurso, é CONDIÇÃO DE EFICÁCIA OBJETIVA DA DECISÃO. Ou seja, quando ela está sujeita ao
reexame, aquela decisão não tem capacidade de transitar em julgado enquanto não submetida à
reavaliação do tribunal. Ou seja, não será capaz de transitar em julgado.
Para a doutrina, a natureza jurídica do reexame não é de recurso, pois falta a ele a
característica da voluntariedade. É, sim, condição necessária à preclusão (1) ou ao trânsito em
julgado de determinada decisão (2). Enquanto não for submetida ao reexame necessário, a
decisão não fará transito em julgado.

STF, Súmula 423. Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso “ex
officio”, que se considera interposto “ex lege”.

O reexame necessário não é submetido a prazo, nem a razões recursais (não há violação do
contraditório e da ampla defesa). Somente é cabível contra decisões de juiz de 1º grau, mesmo
que o Tribunal atue na sua competência originária. Devolve-se ao juiz ad quem o conhecimento
integral da causa, o Tribunal pode apreciar tudo, pouco importando se para prejudicar ou
beneficiar, inclusive uma nulidade contra o acusado.
É obrigatório nas hipóteses legais, ainda que haja recurso das partes. Nesses casos,
devolve-se toda a matéria ao Tribunal (“juízo ad quem”), que poderá conhecer qualquer matéria,
ainda que prejudicial ao acusado.

STF, Súmula 160. É nula a decisão do Tribunal que acolhe contra o réu nulidade não
arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.

Cumpre frisar que as hipóteses em que se admite recurso de ofício:


1) Sentença que conceder habeas corpus (art. 574, I)
2) Decisão que conceder a reabilitação (art. 746)
142

3) Absolvição ou arquivamento do inquérito em crimes contra a economia popular ou


contra a saúde pública (Lei 1.521/51, art. 7º)
Não se aplica no caso de absolvição de contravenção penal.
Quanto ao tráfico de drogas, embora seja crime contra a saúde pública, não se prevê
recurso de ofício, eis que há lei especial sem previsão quanto a isso.
4) Sentença que conceder mandado de segurança (Lei 12.016/09, art. 14, §1º)
5) Absolvição sumária no júri. Antigamente era considerada como hipótese de recurso de
ofício (art. 574, II). Porém, segundo a doutrina, o inc. II foi revogado tacitamente pela Lei
11.689/08 (lei que alterou o procedimento do júri).

3.7. Princípio da disponibilidade dos recursos

Enquanto o princípio da voluntariedade tem aplicação no momento anterior à própria


existência do recurso, o princípio da disponibilidade é aplicável após a interposição da
impugnação, permitindo que o recorrente desista de recurso anteriormente interposto.
Trata-se de desdobramento do princípio da voluntariedade.
Ninguém é obrigado a recorrer (antes do recurso), do mesmo modo que ninguém é
obrigado a prosseguir com o recurso (após o recurso).
Exceção: o MP não pode desistir de recurso já interposto (art. 576).

3.8. Princípio da “non reformatio in pejus”

Em se tratando de recurso exclusivo da defesa (ou em habeas corpus), não se admite a


reforma do julgado para piorar a situação do acusado, quer no ponto de vista quantitativo quer do
ponto de vista qualitativo.
Para o STF, não se admite nem mesmo a correção de erro material que possa piorar a
situação do acusado (HC 83.545). Ex.: o Tribunal não pode corrigir cálculo de pena piorando a
situação do condenado.
STJ HC 176.320
HABEAS CORPUS. LATROCÍNIO. SENTENÇA CONDENATÓRIA COM TRÂNSITO EM JULGADO.
"ERRO MATERIAL" EM RELAÇÃO AO REGIME PRISIONAL RECONHECIDO PELO JUÍZO DA
EXECUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. REFORMATIO IN PEJUS. INDEVIDA REVISÃO CRIMINAL PRO
SOCIETATE. ORDEM CONCEDIDA.

1. Se é certo que a fixação do regime inicial aberto para uma condenação por latrocínio
(art. 157, § 3º, do Código Penal) com reprimenda de 18 (dezoito) anos de reclusão,
caracteriza evidente "erro material", não menos certo que, no caso concreto, houve o
trânsito em julgado da sentença sem que o órgão acusador opusesse embargos de
declaração ou interpusesse recurso de apelação. Dormientibus non succurrit jus.

2. Tratando-se, com se trata, de Direito Penal adjetivo não se pode falar em correção ex
officio de "erro material", máxime contra o réu. Tal instituto é próprio do Direito
Processual Civil (art. 463, I, do CPC).
143

3. Na esfera penal prevalece o princípio do non reformatio in pejus que impede o


agravamento da situação do réu sem uma manifestação formal e tempestiva da acusação
nesse sentido. Inteligência da Súmula 160/STF.

4. "Trata-se da cabal confirmação do entendimento de que, neste, como noutros temas, o


processo penal não é estruturado por princípios comuns ao processo civil, senão por regras
próprias, em razão da prevalência dos interesses públicos que constituem a substância e o
objeto permanente do conflito jurídico típico que se presta a decidir e, sobretudo, por força
do valor supremo do jus libertatis, do qual o processo é concebido e disciplinado como
instrumento de tutela".(STF, HC 83.545/SP, Rel. Ministro CESAR PELUSO, Primeira Turma,
DJ 3.6.2006) 5. Nesse viés, seja por nulidade absoluta, seja por "erro material", não se
pode agravar (quantitativamente ou qualitativamente) a situação do réu sem recurso
próprio do acusador, sob pena de configurar indevida revisão criminal pro societate.
Precedentes do STJ.

6. Ordem concedida para, reconhecendo o trânsito em julgado da condenação, manter o


regime inicial aberto, como fixado na sentença.

(HC 176320/AL, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão Ministro
JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 17/05/2011, DJe 17/09/2012)

Previsão: Há quem diga que previsto apenas no CPP – lei ordinária. Art. 617.

Art. 617.  O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts.
383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando
somente o réu houver apelado da sentença.

Art. 626.  Julgando procedente a revisão, o tribunal poderá alterar a classificação da


infração, absolver o réu, modificar a pena ou anular o processo.

Parágrafo único.  De qualquer maneira, não poderá ser agravada a pena imposta pela
decisão revista.

Outros entendem que é desdobramento lógico da ampla defesa. Se ele é consectário lógico
da ampla defesa, está previsto portanto na CF88. Lembrar que nem mesmo erro material pode ser
corrigido.
Portanto, o Tribunal só pode piorar a situação do réu: 1) Recurso de ofício; 2) Recurso da
acusação.

a) Princípio da “non reformatio in pejus direta”


“Non reformatio in pejus direta”: refere-se à proibição de o Tribunal proferir decisão
desfavorável ao acusado em recurso exclusivo da defesa. Aqui, o Tribunal (ad quem) não pode
proferir decisão prejudicial.

b) Princípio da “non reformatio in pejus indireta” (efeito podrômico)


“Non reformatio in pejus indireta”: Se a decisão impugnada for anulada em recurso
exclusivo da defesa, o juiz que vier a proferir nova decisão em substituição à anulada fica
144

vinculado ao máximo da pena fixada na primeira decisão, não podendo agravar a situação do
acusado. Aqui, o juiz (a quo – 1ª instância) não pode proferir decisão prejudicial.

c) Non reformaticio in pejus e incompetência absoluta


No caso de o Tribunal anular decisão de juiz estadual, em razão de incompetência,
remetendo o processo a juiz federal, este estará limitado à decisão daquele?
Ex: juiz estadual ter julgado o acusado pelo crime de fabricar moeda falsa, condenando a
pena de 3 anos. Contra essa decisão sobe um recurso exclusivo da sentença. Os autos ao dar
entrada no TJ , verifica a incompetência e anula essa decisão. Assim, o TJ deve remeter os autos ao
juízo federal.
Essa pena de 3 anos deve ser observada pelo juízo federal? Há duas correntes:
1ª corrente: Há quem entenda que o juiz natural não está subordinado à decisão proferida
por juízo absolutamente incompetente. Não há limitação (Pacelli e Tourinho Filho).
O juiz natural não pode ser restringido em seu poder decisório em razão de decisão de
juízo absolutamente competente.

2ª corrente: Prevalece nos Tribunais Superiores o entendimento de que, diante de recurso


exclusivo da defesa, não se admite que o acusado seja prejudicado, mesmo que o decreto
condenatório anterior venha a ser anulado em virtude do reconhecimento da incompetência
absoluta do juízo (STJ, HC 105.384).

d) “Non reformatio in pejus indireta” e a soberania dos veredictos do Tribunal do Júri


Foi condenado no júri e apenas a defesa recorreu. Reconhece que decisão contrária à
prova dos autos. O que deve prevalecer: o tribunal do júri ou a reformatio in pejus?
No segundo julgamento, os jurados são soberanos para reconhecer qualificadoras e/ou
causas de aumento de pena que não foram reconhecidas no julgamento anterior, em fiel
observância ao princípio da soberania dos vereditos. No entanto, se a votação dos jurados no
segundo julgamento foi idêntica à do primeiro, o juiz presidente não poderá agravar a situação
do acusado, sob pena de violação ao princípio da non reformatio in pejus indireta. Ou seja, se
reconhecer algo novo, pode ter pena maior.
STF – HC 73.367. STJ – Resp 1068191.

E M E N T A: HABEAS CORPUS - TRIBUNAL DO JÚRI - REFORMATIO IN PEJUS INDIRETA -


RECURSO EXCLUSIVO DA DEFESA - EXASPERAÇÃO DA PENA DETERMINADA PELO JUIZ-
PRESIDENTE - INADMISSIBILIDADE - PEDIDO DEFERIDO. - O Juiz-Presidente do Tribunal do
Júri, quando do segundo julgamento, realizado em função do provimento dado a recurso
exclusivo do réu, não pode aplicar pena mais grave do que aquela que resultou da
anterior decisão, desde que estejam presentes - reconhecidos pelo novo Júri - os mesmos
fatos e as mesmas circunstâncias admitidos no julgamento anterior. Em tal situação,
aplica-se, ao Juiz-Presidente, a vedação imposta pelo art. 617 do CPP.
(HC 73367, Relator(a):  Min. CELSO DE MELLO, Primeira Turma, julgado em 12/03/1996, DJ
29-06-2001 PP-00034 EMENT VOL-02037-03 PP-00555)
145

HC 89.544 – 2ª turma. Ele foi absolvido – recurso MP – segundo julgamento. Condenado


por homicídio simples. Antes tinha sido absolvido de homicídio qualificado. A defesa recorreu –
recurso exclusivo da defesa – terceiro julgamento – foi condenado por homicídio qualificado pena
de 12 anos. Eles podem reconhecer qualificadora = é obrigado a aplicar pena do qualificado. O STF
disse que não poderia acontecer, pois recurso exclusivo da defesa. STF afastou a pena e mandou
que pena fosse de 6 anos, que havia sido fixada no julgamento anterior.
O STF deu preponderância ao princípio da non reformatio in pejus indireta do que o
princípio da soberania dos veredictos.

AÇÃO PENAL. Homicídio doloso. Tribunal do Júri. Três julgamentos da mesma causa.
Reconhecimento da legítima defesa, com excesso, no segundo julgamento. Condenação do
réu à pena de 6 (seis) anos de reclusão, em regime semi-aberto. Interposição de recurso
exclusivo da defesa. Provimento para cassar a decisão anterior. Condenação do réu, por
homicídio qualificado, à pena de 12 (doze) anos de reclusão, em regime integralmente
fechado, no terceiro julgamento. Aplicação de pena mais grave. Inadmissibilidade.
Reformatio in peius indireta. Caracterização. Reconhecimento de outros fatos ou
circunstâncias não ventilados no julgamento anterior. Irrelevância. Violação conseqüente
do justo processo da lei (due process of law), nas cláusulas do contraditório e da ampla
defesa. Proibição compatível com a regra constitucional da soberania relativa dos
veredictos. HC concedido para restabelecer a pena menor. Ofensa ao art. 5º, incs. LIV, LV e
LVII, da CF. Inteligência dos arts. 617 e 626 do CPP. Anulados o julgamento pelo tribunal
do júri e a correspondente sentença condenatória, transitada em julgado para a
acusação, não pode o acusado, na renovação do julgamento, vir a ser condenado a pena
maior do que a imposta na sentença anulada, ainda que com base em circunstância não
ventilada no julgamento anterior.
(HC 89544, Relator(a):  Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma, julgado em 14/04/2009, DJe-
089 DIVULG 14-05-2009 PUBLIC 15-05-2009 EMENT VOL-02360-01 PP-00197 RTJ VOL-
00209-02 PP-00640 RT v. 98, n. 886, 2009, p. 487-498 LEXSTF v. 31, n. 365, 2009, p. 348-
366 RSJADV dez., 2009, p. 46-51)

A soberania dos veredictos somente se aplica aos jurados e não ao juiz. É somente este, o
juiz-presidente, quem se vincula ao Princípio da “Non reformatio in pejus indireta”. Por isso,
podem os jurados reconhecer qualificadoras, causas de aumento, etc., não reconhecidas no 1º
julgamento.
Porém, caso os jurados votem de forma idêntica ao 1º julgamento, o juiz-presidente não
poderá aplicar pena superior.

3.9. Princípio da “Reformatio in mellius”

Em recurso exclusivo da acusação é possível que o juízo ad quem melhore a situação do


acusado. Ou em recurso da defesa, que não tenha impugnado certa questão, admite-se a melhora
da situação do acusado.
146

Este princípio pode ser extraído a partir de uma interpretação a contrario sensu do art.
617, CPP.
Trata-se de mitigação ao efeito devolutivo dos recursos.
Além deste argumento, há dois detalhes importantes. A liberdade de locomoção é um de
natureza indisponível e, portanto, se o tribunal se depara com ameaça à liberdade, ele pode
apreciar. De mais a mais, juízes e tribunais podem conceder HC de ofício. É a opinião que
prevalece. Pode também entender que pode melhorar a situação, mesmo que a defesa tenha
recorrido e não tenha pedido aquele ponto.
Principio do favor rei. STJ – agrg no HC 162.481.

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO


QUALIFICADO. EFEITO RESTRITO DO RECURSO DE APELAÇÃO INTERPOSTO CONTRA
SENTENÇA DO TRIBUNAL DO JÚRI. SÚMULA N.º 713/STF. AGRAVO DESPROVIDO.
1. Em processo penal, só há efeito devolutivo amplo na apelação interposta contra
sentença proferida por Juiz singular. Já nos processos da competência do Tribunal do
Júri, não se aplica a orientação desta Corte no sentido de ser possível conhecer de
matéria não ventilada nas razões da apelação criminal.
2. Tal exame configuraria vedada supressão de instância, conforme entendimento
sedimentado na súmula n.º 713 do Excelso Pretório: "[o] efeito devolutivo da apelação
contra decisões do Júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição".
3. A alegação da impetração de que a decisão de pronúncia é nula, por ausência de
fundamentação, não foi formulada nas razões do recurso de apelação que impugnou a
condenação de primeira instância, razão pela qual esta Corte não pode pronunciar-se a
respeito. Quanto ao pedido de afastamento das qualificadoras motivo fútil e
impossibilidade de defesa da vítima, os fundamentos apresentados na apelação e na inicial
do writ para tanto são diversos. Por isso, tais pedidos não podem ser conhecidos.
4. Agravo desprovido.
(AgRg no HC 163.590/BA, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em
31/05/2011, DJe 14/06/2011)

3.10. Princípio da dialeticidade

Por força deste princípio, incumbe ao recorrente declinar os fundamentos do pedido de


reexame da decisão impugnada, pois somente assim poderá a parte contrária apresentar suas
contrarrazões, respeitando-se o contraditório em matéria recursal.
Este princípio tem dois fundamentos principais:
a) permitir que a parte contrária possa elaborar suas contrarrazões.
b) fixar os limites da atuação do tribunal na apreciação do recurso.
Relaciona-se ao princípio do contraditório e da ampla defesa.
Todo e qualquer recurso deve conter fundamentos de fato e de direito pelo qual se
pretende o reexame da decisão.
147

Súmula 707 STF. Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer
contra-razões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação
de defensor dativo.

   
Contra rejeição = RESE. Fala-se antigamente que não precisava de contrarrazões neste
RESE. Mas o acusado tem interesse em apresentar contrarrazões. Isto é o princípio da
dialeticidade.
Cuidar: o art. 589 e 601 permite que o recurso suba ao juízo “ad quem” sem as razões
recursais.
Art. 589. Com a resposta do recorrido ou sem ela, será o recurso concluso ao juiz, que,
dentro de dois dias, reformará ou sustentará o seu despacho, mandando instruir o recurso
com os traslados que Ihe parecerem necessários. (...)

Por este artigo, parece dizer que o recurso pode ser julgado pelo juiz sem razões recursais
da defesa. (RESE)

Art. 601. Findos os prazos para razões, os autos serão remetidos à instância superior, com
as razões ou sem elas, no prazo de 5 (cinco) dias, salvo no caso do art. 603, segunda parte,
em que o prazo será de trinta dias. (...)

Da mesma forma este artigo parece transparecer a idéia de que é possível julgar um
recurso sem as contrarrazões.
Porém, para a doutrina, o julgamento de um recurso sem razões ou contrarrazões viola o
princípio da dialeticidade.
É nesse sentido o entendimento do STJ e STF (HC 91.251).
Para a doutrina, o julgamento de um recurso sem razões ou contrarrazões viola o princípio da
dialeticidade. Não pode proceder ao julgamento sem razões ou contrarrazões. Se o promotor não
apresenta razões ou contrarrazões, art. 28 do CPP. Se a defesa não apresenta, nomeia dativo.
Este pensamento da doutrina, até bem pouco tempo atrás não era o entendimento da
jurisprudência. Mais recentemente, STF – HC 88.409.

PROCESSO - DEFESA - RECURSO - RAZÕES. A ausência de apresentação de razões pela


defesa, vindo a ser julgado o recurso, implica deixar o acusado sem a proteção técnica a
que visa o artigo 261 do Código de Processo Penal.
(HC 88409, Relator(a):  Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 12/05/2009,
DJe-118 DIVULG 25-06-2009 PUBLIC 26-06-2009 EMENT VOL-02366-02 PP-00380)

Sem razões do MP é o mesmo que estar indefeso. Não tem como apreciar sem razões. Não
tem argumentos.
Frisa-se que na sustentação oral de RSE e na apelação de contravenção ou crime de
detenção, quem fala primeiro é o advogado e, só depois, o procurador de Justiça ou da República
(MP).
148

Art. 610. Nos recursos em sentido estrito, com exceção do de habeas corpus, e nas
apelações interpostas das sentenças em processo de contravenção ou de crime a que a lei
comine pena de detenção, os autos irão imediatamente com vista ao procurador-geral
pelo prazo de cinco dias, e, em seguida, passarão, por igual prazo, ao relator, que pedirá
designação de dia para o julgamento.
Parágrafo único. Anunciado o julgamento pelo presidente, e apregoadas as partes, com a
presença destas ou à sua revelia, o relator fará a exposição do feito e, em seguida, o
presidente concederá, pelo prazo de 10 (dez) minutos, a palavra aos advogados (1) ou às
partes que a solicitarem (2) e ao procurador-geral (3), quando o requerer, por igual prazo.

Pela leitura dele, o Procurador Geral falaria por último. Se é da defesa, tudo bem.
Este parágrafo único caiu por terra. STF, HC 87.926. Em recurso exclusivo da acusação, a
sustentação oral do procurador de justiça deve anteceder a manifestação da defesa.

O Pleno do STF (HC 87.926) decidiu que, em se tratando de recurso da defesa, deve esta
falar em primeiro lugar. Porém, sendo o recurso da acusação, a sustentação do MP deverá ser
feita antes do advogado, mesmo que atue como fiscal da lei.

AÇÃO PENAL. Recurso. Apelação exclusiva do Ministério Público. Sustentações orais.


Inversão na ordem. Inadmissibilidade. Sustentação oral da defesa após a do representante
do Ministério Público. Provimento ao recurso. Condenação do réu. Ofensa às regras do
contraditório e da ampla defesa, elementares do devido processo legal. Nulidade
reconhecida. HC concedido. Precedente. Inteligência dos arts. 5º, LIV e LV, da CF, 610, §
único, do CPP, e 143, § 2º, do RI do TRF da 3ª Região. No processo criminal, a sustentação
oral do representante do Ministério Público, sobretudo quando seja recorrente único,
deve sempre preceder à da defesa, sob pena de nulidade do julgamento.
(HC 87926, Relator(a):  Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em 20/02/2008, DJe-
074 DIVULG 24-04-2008 PUBLIC 25-04-2008 EMENT VOL-02316-04 PP-00665 RTJ VOL-
00204-02 PP-00751 LEXSTF v. 30, n. 356, 2008, p. 349-375)

Porém, nem todos os recursos demandam à apresentação de razões e contrarrazões.


Exemplo: protesto por novo júri. Quanto aos embargos de declaração, em regra, não são
necessárias contrarrazões. Ou seja, não se intima a parte contrária para manifestação.
Porém, no caso de embargos de declaração com efeito infringente pode haver mudança
no sentido da decisão por parte do juiz, se conhecidos e providos, ao sanar a omissão, razão pela
qual a parte contrária deve ser intimada para apresentação de contrarrazões. Edcl MS 12.665.

3.11. Princípio da complementariedade

Por força deste princípio, admite-se que a parte recorrente possa complementar as razões
de recurso já interposto sempre que, no julgamento de embargos de declaração interpostos pela
149

parte contrária, for criada uma nova sucumbência em virtude da alteração ou integração da
decisão.

3.12. Princípio da variabilidade

A parte pode variar de recurso, desde que dentro do prazo recursal. Ou seja, a parte pode
substituir um recurso por outro.
Desse modo, a parte pode interpor novo recurso em substituição a outro anteriormente
interposto, desde que o faça dentro do prazo legal.
Esse princípio é rejeitado pela maioria da doutrina, em razão da incidência de preclusão
consumativa. Uma vez interposto o recurso, não é possível que a parte queira substituir por outro,
ainda que o faça dentro do prazo legal, porquanto teria havido a preclusão consumativa.

3.13. Princípio da colegialidade


No processo penal, os recursos devem ser apreciados por um órgão colegiado, e não
monocraticamente pelo relator, para se chegar a uma decisão mais justa e equânime. O art. 609
fala que deve ser a câmara, e não o relator.

Art. 609. Os recursos, apelações e embargos serão julgados pelos Tribunais de Justiça,
câmaras ou turmas criminais, de acordo com a competência estabelecida nas leis de
organização judiciária.  (Redação dada pela Lei nº 1.720-B, de 3.11.1952)
Parágrafo único.  Quando não for unânime a decisão de segunda instância, desfavorável
ao réu, admitem-se embargos infringentes e de nulidade, que poderão ser opostos dentro
de 10 (dez) dias, a contar da publicação de acórdão, na forma do art. 613. Se o desacordo
for parcial, os embargos serão restritos à matéria objeto de divergência. (Incluído pela Lei
nº 1.720-B, de 3.11.1952)

Discussão quanto à possibilidade de aplicação do art. 557, §1ª-A, do CPC no processo penal.

Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível,


improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante
do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior.(Redação
dada pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)
§ 1o-A Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com
jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator
poderá dar provimento ao recurso. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)

É o artigo que permite julgamento monocrático do relator. A doutrina é contra a aplicação


deste artigo ao processo penal. PREVALECE o entendimento de que não é possível a aplicação,
pois o CPP tem dispositivo expresso no sentido de que não cabe o julgamento monocrático. É o
art. 609 do CPP, que diz que será julgado pela Câmara, Tribunal, Turma. Não é possível o
julgamento monocrático pelo relator de apelações, RESES e agravos em execução.
150

Mas não é esse o entendimento quando se trata de HABEAS CORPUS e recursos


extraordinários. Quando se trata desses recursos, prevalece que é possível julgamento
monocrático. Quando é julgamento pelos tribunais superiores de HC e de recursos extraordinários,
entendem que é possível, pois há dispositivo.

Art. 38 - O Relator, no Supremo Tribunal Federal ou no Superior Tribunal de Justiça,


decidirá o pedido ou o recurso que haja perdido seu objeto, bem como negará seguimento
a pedido ou recurso manifestamente intempestivo, incabível ou, improcedente ou ainda,
que contrariar, nas questões predominantemente de direito, Súmula do respectivo
Tribunal.

Este artigo 38 está nas disposições gerais da lei 8.038/90.

2. Juízo de admissibilidade recursal (juízo de prelibação)

Para que determinado recurso seja conhecido, devem estar presentes certos pressupostos
subjetivos e objetivos. Em regra, a presença destes pressupostos deve ser aferida pelo juízo a quo
e pelo juízo ad quem. Em regra, a verificação da presença costuma ser feita pelos dois juízos.
Essa verificação é chamada de “juízo de prelibação”. Há recursos em que o juízo de
prelibação é feito apenas pelo juízo ad quem. Exemplo: CARTA TESTEMUNHÁVEL.

Art. 639.  Dar-se-á carta testemunhável:


I - da decisão que denegar o recurso;
II - da que, admitindo embora o recurso, obstar à sua expedição e seguimento
para o juízo ad quem.

É o recurso a ser usado quando outro recurso for denegado. Mas há, por exemplo, RESE
contra decisão que denegar apelação. Se for denegação de apelação, caberá RESE. Se denega RESE
= carta testemunhável. Carta testemunhal é subsidiária.

Art. 640.  A carta testemunhável será requerida ao escrivão, ou ao secretário do tribunal,


conforme o caso, nas quarenta e oito horas seguintes ao despacho que denegar o recurso,
indicando o requerente as peças do processo que deverão ser trasladadas.

Ela é apresentada ao escrivão/secretário.

 Art. 641.  O escrivão, ou o secretário do tribunal, dará recibo da petição à parte e, no


prazo máximo de cinco dias, no caso de recurso no sentido estrito, ou de sessenta dias, no
caso de recurso extraordinário, fará entrega da carta, devidamente conferida e
concertada.

Art. 643.  Extraído e autuado o instrumento, observar-se-á o disposto nos arts. 588 a 592,


no caso de recurso em sentido estrito, ou o processo estabelecido para o recurso
extraordinário, se deste se tratar.
151

Art. 644.  O tribunal, câmara ou turma a que competir o julgamento da carta, se desta


tomar conhecimento, mandará processar o recurso, ou, se estiver suficientemente
instruída, decidirá logo, de meritis.

Art. 645.  O processo da carta testemunhável na instância superior seguirá o processo do


recurso denegado.

Art. 646.  A carta testemunhável não terá efeito suspensivo.

A carta testemunhável não passa pelas mãos do juízo a quo. O escrivão extrai as peças para
encaminhar carta ao tribunal. O juízo de admissibilidade recursal é feito apenas pelo juízo ad
quem. Vai diretamente para ser julgado pelo ad quem.
Não confundir conhecimento e provimento. Quando ele é conhecido, estão presentes os
pressupostos de admissibilidade. O provimento está ligado ao mérito do recurso. A expressão
mérito recursal pode abranger tanto questões de direito material como de direito processual.
Ficar atento ao efeito substitutivo. Quando recorre e devolve conhecimento da matéria
para o tribunal, quando o tribunal analisa e dá ou nega provimento, a decisão substitui a decisão
de primeira instância. CPC, art. 512.

Art. 512. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão


recorrida no que tiver sido objeto de recurso.

Ele não está presente só quando muda decisão. Ele está presente quando denega recurso
também. Mesmo quando o Tribunal nega provimento ao recurso e confirma integralmente a
decisão de 1ª Instância se opera efeito substitutivo, mesmo quando confirma. O Tribunal dá uma
nova decisão. Para que o efeito substitutivo produza seus efeitos regulares, só há falar na
aplicação deste efeito se o recurso for conhecido. Quando ele não é conhecido, não se opera
efeito substitutivo.

Competência para o julgamento da revisão criminal: ação autônoma de impugnação que


só pode ser ajuizada depois do trânsito em julgado. Quem julga revisão? Em regra, são os
tribunais, exceto juizados, que vai ser julgado pela turma recursal. Quem julga revisão se tiver sido
interposta uma apelação? Depende se ele foi conhecido. Se o tribunal analisou o mérito, a decisão
substituiu. Então, parte do pressuposto que é decisão daquele tribunal.
 Primeira hipótese: Diante de acórdão condenatório do TJSP com trânsito em
julgado, caberá ao próprio TJSP o julgamento da revisão criminal. Cabe ao Tribunal
julgar revisão criminal de seus julgados. Com a participação de Desembargadores
que não participaram do antigo julgamento.
 Segunda hipótese: Diante de acórdão condenatório do TJSP com trânsito em
julgado, caso seja interposto uma recurso extraordinário para o STF, na hipótese de
152

não conhecimento desta via impugnativa, subsiste a competência do TJ/SP para


julgamento da revisão criminal. Se o RE não foi conhecido = não se operou efeito
substitutivo, foi mantido acórdão do TJSP = revisão no TJSP.
 Terceira hipótese: Diante de acordo condenatório do TJ/SP contra o qual tenha sido
interposto RE, há duas possibilidades: se o RE for conhecido pelo STF, a ele também
caberá o julgamento da revisão criminal, desde que o objeto de impugnação da
revisional tiver sido apreciado pelo STF no julgamento do RE.
Se o RE for conhecido pelo STF, caso a revisão criminal tenha por objeto matéria
que NÃO foi apreciada pelo STF no julgamento do RE, ao próprio TJSP caberá o
julgamento da revisional.
Ou seja, mesmo se conhecido, tem que ver a matéria impugnada. Só substitui a
decisão naquilo que foi objeto de recurso.
5. Pressupostos objetivos de admissibilidade recursal

São os que dizem respeito ao próprio recurso. Antes de ingressar no mérito recursal, o
Tribunal deve verificar a presença dos pressupostos de admissibilidade. Esses pressupostos
dividem-se em:

a) Cabimento
Ligado ao princípio da taxatividade. Deve ser compreendido como a previsão legal da
existência do recurso. Só pode interpor se este recurso estiver previsto em lei. Geralmente
decisões interlocutórias no processo penal são irrecorríveis.
Caso determinada decisão seja irrecorrível – ex. indeferimento de perguntas em audiência
– a parte pode impugná-la em preliminar de futura e eventual apelação, sem prejuízo da
utilização do HC e do MS. Lembrar de fazer constar na ata o que está acontecendo. Depois pode
virar cerceamento de defesa na preliminar.

b) Adequação
Deve ser utilizada a impugnação correta para o questionamento de determinada decisão.
Depois que verifica que cabe recurso contra aquela decisão, tem que se valer da via impugnativa
adequada. Esse pressuposto acaba sendo mitigado pelo princípio da fungibilidade, desde que não
apresente má-fé.

c) Tempestividade

O recurso deve ser interposto dentro do prazo previsto em lei, sob pena de preclusão
temporal. Ao contrário do que acontece no processo civil, no processo penal existe peculiaridade
interessante. No processo penal é possível a interposição de um recurso com a apresentação
posterior das razões recursais.
153

Exemplo: apelação. Apelar em até 5 dias. A lei permite prazo de 8 dias para apresentar
razões. Depois da interposição, o juiz abre vista e tem 8 dias para razões. Nesse caso, o prazo fatal
é o da interposição do recurso. Ou seja, a apresentação de razões recursais fora do prazo é mera
irregularidade.
O prazo que realmente interessa é o prazo da interposição. Mesmo que apresente razões
fora do prazo – recurso será conhecido, pois é mera irregularidade. STJ – HC 204.099.

HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. JÚRI. NULIDADE. APELAÇÃO CRIMINAL.


INTEMPESTIVIDADE. RAZÕES APRESENTADAS FORA DO PRAZO LEGAL. MERA
IRREGULARIDADE. INTERESSE DE RECORRER MANIFESTADO NA ATA DA SESSÃO DE
JULGAMENTO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM CONCEDIDA.
1. A jurisprudência desta Corte de Justiça firmou entendimento no sentido de que a
apresentação das razões de apelação fora do prazo legal constitui mera irregularidade,
não caracterizando a intempestividade do recurso, motivo pelo qual não pode ser óbice ao
conhecimento do inconformismo (Precedentes STJ).
2. Nos termos do artigo 577 do Código de Processo Penal, "o recurso poderá ser interposto
pelo Ministério Público, ou pelo querelante, ou pelo réu, seu procurador ou seu defensor".
3. Constatando-se que o paciente manifestou de forma expressa o seu interesse de
recorrer por ocasião da assinatura da ata da sessão de julgamento pelo Tribunal do Júri,
não se pode falar em intempestividade do apelo.
4. Ordem concedida, nos termos do voto do Relator.
(HC 204099/RS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 11/10/2011, DJe
28/10/2011)

c.1) Início do prazo recursal

Art. 798.  Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se


interrompendo por férias, domingo ou dia feriado.
§ 1o  Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento.
§ 2o  A terminação dos prazos será certificada nos autos pelo escrivão; será, porém,
considerado findo o prazo, ainda que omitida aquela formalidade, se feita a prova do dia
em que começou a correr.
§ 3o  O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-á prorrogado até o
dia útil imediato.
§ 4o  Não correrão os prazos, se houver impedimento do juiz, força maior, ou obstáculo
judicial oposto pela parte contrária.
§ 5o  Salvo os casos expressos, os prazos correrão:
a) da intimação;
b) da audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se a ela estiver presente a parte;
c) do dia em que a parte manifestar nos autos ciência inequívoca da sentença ou
despacho.

O início do prazo recursal ocorre a partir do momento da intimação. Se foi intimado na


sexta, prazo de cinco dias termina na sexta-feira seguinte. Súmula 310 STF.
154

Súmula 310, STF: Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com
efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira
imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que
se seguir.

A intimação do MP, dos Defensores Públicos e dos defensores dativos é SEMPRE PESSOAL.
Se intimar defensor público através de publicação na imprensa = intimação é nula.
Como se dá intimação pessoal do MP? Para o STF, a entrega dos autos em setor
administrativo do MP configura intimação direta e pessoal. STF – HC 83.255.

DIREITO INSTRUMENTAL - ORGANICIDADE. As balizas normativas instrumentais implicam


segurança jurídica, liberdade em sentido maior. Previstas em textos imperativos, hão de
ser respeitadas pelas partes, escapando ao critério da disposição. INTIMAÇÃO PESSOAL -
CONFIGURAÇÃO. Contrapõe-se à intimação pessoal a intimação ficta, via publicação do
ato no jornal oficial, não sendo o mandado judicial a única forma de implementá-la.
PROCESSO - TRATAMENTO IGUALITÁRIO DAS PARTES. O tratamento igualitário das partes
é a medula do devido processo legal, descabendo, na via interpretativa, afastá-lo,
elastecendo prerrogativa constitucionalmente aceitável. RECURSO - PRAZO - NATUREZA.
Os prazos recursais são peremptórios. RECURSO - PRAZO - TERMO INICIAL - MINISTÉRIO
PÚBLICO. A entrega de processo em setor administrativo do Ministério Público,
formalizada a carga pelo servidor, configura intimação direta, pessoal, cabendo tomar a
data em que ocorrida como a da ciência da decisão judicial. Imprópria é a prática da
colocação do processo em prateleira e a retirada à livre discrição do membro do Ministério
Público, oportunidade na qual, de forma juridicamente irrelevante, apõe o "ciente", com a
finalidade de, somente então, considerar-se intimado e em curso o prazo recursal. Nova
leitura do arcabouço normativo, revisando-se a jurisprudência predominante e
observando-se princípios consagradores da paridade de armas.
(HC 83255, Relator(a):  Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 05/11/2003, DJ
12-03-2004 PP-00038 EMENT VOL-02143-03 PP-00652 RTJ VOL-00195-03 PP-00966)

O acusado, em regra, sua intimação também deve ser feita de maneira pessoal.
A intimação do defensor constituído, do advogado do querelante e do advogado do
assistente da acusação é feita mediante publicação. Nesta publicação deve constar o nome do
acusado, sob pena de nulidade. STJ – HC 110.119.

Intimação para julgamento. Advogado falecido (ineficácia). Defesa (prejuízo).


1. De tão relevante a defesa, que ninguém será processado ou julgado sem defensor (Cód.
de Pr. Penal, art. 261); é indisponível; "consiste em ser, ao lado do acusado, inocente, ou
criminoso, a voz dos seus direitos legais" (Rui Barbosa).
2. A intimação para julgamento feita em nome de advogado falecido é ineficaz, porque
não produz o efeito pretendido.
3. Em caso que tal, é até possível concluir pela ausência de defesa, com consequente
prejuízo para o paciente, que era representado pelo advogado falecido.
4. Daí que, na espécie, nulo é o julgamento realizado, outro devendo realizar-se precedido
de intimação.
5. Habeas corpus deferido, concedendo-se ao paciente liberdade para, solto, aguardar a
nova sessão de julgamento.
155

(HC 110119/SP, Rel. Ministro NILSON NAVES, SEXTA TURMA, julgado em 17/03/2009, DJe
22/06/2009)

STJ – HC 33.771.

HABEAS CORPUS. APELAÇÃO. INTIMAÇÃO DE DEFENSOR JÁ FALECIDO HÁ MAIS DE TRÊS


ANOS. NULIDADE. INOCORRÊNCIA.
A jurisprudência do Pretório Excelso é pacífica no sentido de que, tendo o acusado
múltiplos advogados, constituídos em conjunto, basta que conste o nome de apenas um
deles na publicação da pauta de julgamento da apelação. O falecimento de um dos
defensores, justamente aquele cujo nome foi publicado, in casu, não é capaz de anular o
julgamento do apelo, porquanto o óbito ocorreu há mais de três anos, sem que este fato
tenha sido comunicado nos autos pela defesa.
Ordem denegada. (HC 33771/RJ, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 17/06/2004, DJ 23/08/2004, p. 258)

Súmula 710 STF. No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da
juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.

Se o acusado foi intimado por carta precatória, a partir do dia da intimação já começa a
fluir.
Cuidado com a intimação por publicação nos finais de semana. Quando a intimação é feita
por publicação nos finais de semana, o termo a quo para a contagem do prazo é o primeiro dia útil
subseqüente. Na verdade é como se ela estivesse sendo intimada na segunda-feira. Assim, o prazo
começa a fluir na terça-feira.
Outro detalhe: decisões proferidas em audiência. Caso as partes estejam presentes, o
prazo recursal começa a fluir a partir deste momento. No tribunal do júri, a decisão é lida no final
do julgamento. Mas pode ser que o réu não esteja. O prazo começa a fluir a partir do dia útil
subseguinte.
Decisões proferidas pela Justiça Militar: na justiça militar, a decisão pode ser lida na
própria sessão de julgamento ou em até oito dias. O prazo recursal só começará a fluir a partir da
leitura da decisão.

c.2) Prazo recursal para a defesa

Na área cível, quem interpõe o recurso é o advogado. Processo penal tem peculiaridade.
No processo penal, tanto o acusado quanto seu defensor são dotados de legitimidade autônoma
e distinta para INTERPOR recursos. Geralmente juiz vai intimar advogado ou dativo para
apresentar razões quando o acusado interpõe.
Por isso, ambos devem ser intimados acerca de eventual sentença condenatória ou
absolutória imprópria. Isso só é necessário se sentença condenatória ou absolutória imprópria.
Ex: intima pessoalmente o defensor público e pessoalmente o acusado.
156

Qual dos dois deve ser intimado primeiro? Pouco importa a ordem de intimação.

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. ART. 171, § 3º C/C ART. 14, INCISO II, AMBOS DO
CÓDIGO PENAL. NULIDADE. RÉU E ADVOGADO CONSTITUÍDO. SENTENÇA CONDENATÓRIA.
INTIMAÇÃO. ORDEM CRONOLÓGICA. IRRELEVÂNCIA. INTIMAÇÃO QUE SE DÁ DE FORMA
PESSOAL EM RAZÃO DA NORMA ESPECÍFICA PREVISTA NO ART. 392 DO CPP AFASTANDO A
INCIDÊNCIA DA NORMA GERAL PREVISTA NO ART. 370, §§ 1º E 2º DO MESMO CODEX.
I - É indiferente a ordem cronológica para a intimação do réu e de seu defensor.
(Precedente do STF e desta Corte).
II - Em regra, em se tratando de advogado constituído a intimação dos atos processuais se
dá por meio de publicação no órgão incumbido da publicação dos atos judiciais, salvo
disposição expressa em contrário.
III - Em primeiro grau, a intimação da decisão condenatória não pode, até por respeito ao
disposto no art. 5º, inciso LV, da Carta Magna, ser feita pela imprensa. E isto, porque a
regra específica do art. 392 do CPP não foi revogada pela norma geral do art. 370, §§ 1º e
2º do mesmo Codex (com a redação dada pela Lei nº 9.271/96. Precedentes. Todavia, tal
procedimento não é aplicável às decisões de segundo grau. Recurso parcialmente provido.
(REsp 873052/TO, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 15/03/2007,
DJ 04/06/2007, p. 421)

Essa necessidade de intimação pessoal do acusado só é válida quando se trata de decisão


proferida no primeiro grau de jurisdição. O acusado só pode recorrer contra decisões proferidas
no primeiro grau de jurisdição. Nos outros casos não pode recorrer. STJ – HC 111.
Decisões dos tribunais só podem ser impugnadas através de recurso interposto por
profissionais da advocacia, o acusado não pode recorrer, assim, não há necessidade de intimá-lo
pessoalmente.

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. ART. 157,


§ 2º, INCISOS I E II, DO CÓDIGO PENAL. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO PESSOAL DO RÉU DA
SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. ALEGAÇÃO DE NULIDADE. INOCORRÊNCIA. INTIMAÇÃO DO RÉU
DA DECISÃO CONDENATÓRIA DE SEGUNDO GRAU. PUBLICAÇÃO NA IMPRENSA OFICIAL.
DESNECESSIDADE DE INTIMAÇÃO PESSOAL.
I - Segundo precedentes do Pretório Excelso, tratando-se de sentença absolutória, não
ocorre nulidade na ausência de intimação pessoal do réu do teor da decisão, mormente na
hipótese em que se mostra inequívoca a ciência de sua prolação em razão do cumprimento
do alvará de soltura, bem como diante da apresentação pelo patrono do paciente de
contra-razões ao recurso de apelação formulado pela acusação.
II - A intimação pessoal a que se refere o art. 392, do CPP só é exigível quando se tratar
de condenação proferida em primeiro grau de jurisdição.
III - Por sua vez, em se tratando de decisões proferidas pelos Tribunais, a intimação do
réu se aperfeiçoa com a publicação do respectivo decisório no órgão oficial de imprensa
(Precedentes).
Ordem denegada.
(HC 111698/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 05/02/2009,
DJe 23/03/2009)
157

c.3) Prazo em dobro

Quem é que tem prazo em dobro?


- LC 80/94: Defensor Público
- Juizados Federais: lei 10.259/01, art. 9º. A Defensoria Pública da União não teria prazo em
dobro. Isso é questionável, pois o prazo em dobro está previsto em lei complementar, e uma lei
ordinária estaria restringindo. Outra, a Defensoria Pública não é pessoa jurídica. Assim, mesmo
diante deste art. sustentar que tem prazo em dobro (concurso DP).

Art. 9o Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual pelas
pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição de recursos, devendo a citação
para audiência de conciliação ser efetuada com antecedência mínima de trinta dias.

- Defensor dativo NÃO TEM PRAZO EM DOBRO. Tem direito à intimação pessoal.
- MP não tem prazo em dobro. Não confundir com processo civil:

Art. 188, CPC. Computar-se-á em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para
recorrer quando a parte  for a Fazenda Pública ou o Ministério Público.

c.4) Interposição de recursos por fax

É perfeitamente possível. STF – HC 86.952. Prazo de cinco dias para original. Os cinco dias
são contados a partir do fim do prazo que eu tinha. Não é do dia que enviou fax, se enviou antes.

RECURSO - PRAZO - FAC-SÍMILE. A dilação prevista para a apresentação do original tem


como termo inicial a data do término do prazo assinado para a prática do ato e não
aquela alusiva ao recebimento do fac-símile - inteligência do artigo 2º, cabeça e
parágrafo, da Lei nº 9.800/99. CONDENAÇÃO - FITA - MONTAGEM. Descabe cogitar de
montagem de fita, a partir de armação política, quando as instâncias ordinárias tornaram-
lhe a validade estreme de dúvidas, sinalizando a harmonia com a prova testemunhal.
(RHC 86952, Relator(a):  Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 13/02/2007,
DJe-018 DIVULG 17-05-2007 PUBLIC 18-05-2007 DJ 18-05-2007 PP-00084 EMENT VOL-
02276-01 PP-00192 LEXSTF v. 29, n. 342, 2007, p. 385-391)

c.5) Utilização de meios eletrônicos

Posso interpor por meios eletrônicos? Lei 11.419/06 prevê que a utilização também pode
se dar no processo penal. A única ressalva diz respeito à citação. Não pode querer fazer citação
por meios eletrônicos.

CONTINUAÇÃO – AULA 3 RECURSOS!


158

d) Regularidade formal

e) Inexistência de fato impeditivo

f) Inexistência de fato extintivo

b) Pressupostos subjetivos
- Legitimidade
- Interesse

2.1. Legitimados
Em regra, sua presença é aferida pelo juízo “a quo” e “ad quem”.
a) “A quo”: juízo contra o qual se recorre.
b) “Ad quem”: juízo para o qual se recorre.
Porém, por vezes, podem os juízos “a quo” e “ad quem” confundirem-se em um mesmo
órgão. Ex.: embargos de declaração.

2.2. Admissibilidade x mérito


O juízo de admissibilidade não se confunde com o juízo de mérito recursal:

Juízo de admissibilidade Juízo de mérito


Gera o conhecimento ou não conhecimento do Gera o provimento ou improvimento do recurso
recurso
Juízo a quo (decisão provisória) Juízo ad quem
Juízo ad quem (decisão definitiva)
Opera-se o efeito substitutivo, no que tiver sido
objeto de recurso (art. 512).

O juízo de admissibilidade tem relevância em sede de competência para revisão criminal:


a) Juiz de 1ª grau do RS: revisão julgada no TJ/RS.
b) Acórdão condenatório TJ/RS: revisão julgada no TJ/RS.
c) Acórdão condenatório TJ/RS contra o qual fora interposto RE ao STF:
- RE conhecido:
1) revisão ao STF, desde que o objeto da revisão criminal tenha sido apreciado pelo
STF no julgamento do RE. Ou seja, na medida em que o fundamento da revisão
coincida com a questão federal apreciada (art. 263, p. único, RI/STF).
159

2) revisão julgada no TJ/RS, caso a revisão criminal tenha por objeto matéria que não
foi apreciada pelo STF no julgamento do RE.
- RE não conhecido: revisão julgada no TJ/RS.
Ver: STJ, RC 717 e RC 319.
3. Pressuposto objetivo: CABIMENTO
É a previsão legal da existência de recurso.
No processo penal vigora o princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias, salvo
se, por ventura, listadas no art. 581 do CPP.
Decisões irrecorríveis (sem previsão legal de recurso) podem, porém, ser impugnadas em:
a) Preliminar de futura e eventual apelação.
b) Ações autônomas de impugnação: por vezes admite-se habeas corpus e mandado de
segurança.
c) Correição parcial: nos casos de “error in procedendo”.
4. Pressuposto objetivo: ADEQUAÇÃO
É a utilização da impugnação correta para a busca do reexame da decisão.
4.1. Princípio da fungibilidade
Objetiva a mitigação do pressuposto da adequação.
Art. 579. Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um
recurso por outro.
Parágrafo único. Se o juiz, desde logo, reconhecer a impropriedade do recurso interposto
pela parte, mandará processá-lo de acordo com o rito do recurso cabível.
Somente se aplica a fungibilidade no caso de boa fé do recorrente. Segundo a doutrina, há
má-fé nos seguintes casos:
a) Não observado o prazo previsto em lei para o recurso adequado.
b) Erro grosseiro (erro crasso)
Segundo os Tribunais, a fungibilidade só é admitida em caso de dúvida objetiva acerca do
recurso adequado. Ex.: recurso da suspensão condicional do processo.
5. Pressuposto objetivo: TEMPESTIVIDADE
O recurso deve ser interposto no prazo previsto em lei, sob pena de preclusão temporal.
Em razão disso, deve-se atentar para o “dies a quo” (início do prazo) e “dies ad quem”
(término do prazo).
5.1. Momento
A tempestividade é constatada na data do protocolo.
Art. 575. Não serão prejudicados os recursos que, por erro, falta ou omissão dos
funcionários, não tiverem seguimento ou não forem apresentados dentro do prazo.
STF, Súmula 428. Não fica prejudicada a apelação entregue em cartório no prazo legal,
embora despachada tardiamente.
5.2. Interposição e razões
160

No processo penal, ao contrário do que ocorre no processo civil, há recursos que admitem
a interposição por via de uma peça e as razões por meio de outra.
Ex.: apelação tem interposição em 5 dias e razões em 8 dias.
Diante disso, discute-se qual o prazo gera a intempestividade, se o prazo para interposição
ou o prazo para razões? A tempestividade é aferida segundo a data de interposição do recurso.
Segundo a jurisprudência, a apresentação de razões recursais fora do prazo é mera irregularidade.

5.3. Início do prazo recursal


Art. 798. Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se
interrompendo por férias, domingo ou dia feriado.
§ 1o Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento
(PRAZO PROCESSUAL).
§ 2o A terminação dos prazos será certificada nos autos pelo escrivão; será, porém,
considerado findo o prazo, ainda que omitida aquela formalidade, se feita a prova do dia em que
começou a correr. § 3 o O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-á
prorrogado até o dia útil imediato.
§ 4o Não correrão os prazos, se houver impedimento do juiz (1), força maior (2), ou
obstáculo judicial oposto pela parte contrária (3).
§ 5o Salvo os casos expressos, os prazos correrão:
a) da intimação; b) da audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se a ela estiver
presente a parte; c) do dia em que a parte manifestar nos autos ciência inequívoca da sentença
ou despacho.
a) Intimação
Intimação pessoal: 1) Ministério Público; 2) Defensor Público; 3) Defensor dativo; 4)
Acusado, em regra.
Intimação por publicação: 1) Defensor constituído pelo acusado; 2) Advogado do
querelante; 3) Advogado do assistente.
Sendo a publicação feita no final de semana deve ser entendida como realizada no 1º dia
útil subsequente. Ou seja, a publicação do sábado é entendida como realizada na segunda-feira e
o prazo só começa a correr na terça-feira.
STF, Súmula 310. Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira ou a publicação com efeito
de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não
houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir.
Intimação por precatória: o prazo começa a fluir a partir da efetiva intimação, e não do
retorno da precatória ou da juntada aos autos (processo civil).
STF, Súmula 710. No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação e não da
juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.
b) Audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se a parte estiver presente
Em regra, a audiência deve ser uma, com instrução e julgamento.
161

Estando a parte presente na audiência, será considerada intimada nessa data.


No entanto, segundo o CPPM, art. 443 e 529, o juiz proclamará o resultado, mas poderá
publicar a decisão na data da sessão ou em 8 dias. Nesse caso, o prazo começará a fluir a partir da
publicação (STF, HC 91.206).
c) Dia em que a parte manifestar ciência
5.4. Prazo recursal da defesa
Art. 577. O recurso poderá ser interposto pelo Ministério Público (1), ou pelo querelante
(2), ou pelo réu (3), seu procurador (4) ou seu defensor (5). Parágrafo único. Não se admitirá,
entretanto, recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou modificação da decisão.
No processo penal, o acusado tem capacidade postulatória autônoma para recorrer,
independentemente do seu advogado. Ou seja, tanto o acusado quanto o seu defensor podem
apresentar recursos, de forma autônoma.
O acusado tem capacidade para a interposição de recursos em 1º grau, desde que esses
recursos dividam-se em interposição e razões. Nesse caso, as razões deverão ser apresentadas por
advogado ou defensor. Ex.: apelação, RSE, Agravo em execução, etc.
Por isso, tanto o acusado quanto o defensor devem ser intimados acerca da sentença
condenatória, sem ordem de preferência entre eles (jurisprudência). Essa regra não se aplica ao
processo cível, em que basta a intimação do advogado.
Nesse caso, a perda do prazo pelo defensor não interfere no recurso interposto pelo
acusado.
O acusado será intimado: 1) forma pessoal; 2) por edital.
Art. 392. § 1o O prazo do edital será de 90 dias, se tiver sido imposta pena privativa de
liberdade por tempo igual ou superior a um ano, e de 60 dias, nos outros casos.
Frisa-se que, segundo o STJ, nos casos de competência originária dos Tribunais o acusado
também precisa ser intimado do acórdão (HC 74.550). Essa decisão, porém, não parece ser
correta, pois o acusado não tem o poder de interpor recurso.

5.5. Prazo recursal do Ministério Público


O MP tem direito à intimação pessoal.
Hoje, o STF entende que o prazo do MP começa a fluir a partir da entrada dos autos no
setor administrativo do órgão, e não da data da ciência pelo Promotor (HC 83.255).
Isso porque, antigamente, o prazo do MP começava a ser contado da ciência aposta pelo
Promotor, que, em razão disso, manipulava o início do prazo processual, ao seu bel prazer.
5.6. Prazos recursais diversos

Interposição em Interposição em Interposição em Interposição em 10 Interposição


48 horas 2 dias 5 dias dias em 15 dias
Embargos de Apelação Apelação nos Recurso
declaração em 1º Juizados extraordinário
162

e 2º grau. ao STF
RSE, salvo contra Recurso
Carta a lista geral de Embargos especial ao
testemunhável Embargos de jurados (20 dias). infringentes e de STJ
(art. 640), dirigida declaração no Protesto por nulidade, contra Recurso
ao Escrivão STJ, em caso de novo júri decisão do TJ ou TRF, ordinário ao
(diretor de matéria penal (revogado) em: STJ contra
secretaria). * (art. 263 do Embargos de a) Apelação decisões
RI/STJ). declaração nos b) RSE denegatórias
Juizados c) Agravo em de MS (art.
Especiais execução 33, Lei
Criminais Não se admite em: 8.038/90)
Embargos de HC, revisões
declaração no criminais, etc.
STF
Recurso
ordinário para o
STJ e STF, contra
decisões
denegatórias de
HC
Correição parcial
Agravo em
execução (STF,
Súmula 700).

O prazo da carta testemunhável só é contado em horas quando o oficial de justiça tiver


certificado o horário da intimação. Do contrário, será contado em dias.
5.7. Prazo em dobro
Somente tem prazo em dobro o defensor público (LC 80/94, art. 44, inc. I).
No entanto, segundo a Lei 10.259/01, art. 9º, não haverá prazo diferenciado para a prática
de qualquer ato processual em sede de Juizados Especiais Federais (Defensoria Pública da União).
Esse artigo vem sendo defendido por meio da jurisprudência.
O defensor dativo não tem direito ao prazo em dobro.
5.8. Férias forenses
A EC 45 introduziu alterações no art. 93, inc. XII, da CR, vedando-se as férias coletivas.
Porém, na prática permitem-se os recessos forenses, como ocorre entre os dias 20/12 a
06/01.
163

A resolução nº 8 do CNJ determina que os Tribunais possam suspender os prazos


processuais durante esse período, mantendo-se regimes de plantões.
5.9. Interposição via fax
Segundo a Lei 9.800/99, o recurso pode ser interposto por fax, dentro do prazo de
interposição. Transcorrido esse prazo, o recorrente terá 5 dias para juntar o recurso original aos
autos.
A Lei 11.419/06 prevê a utilização dos processos eletrônicos no processo penal, salvo no
caso de citação (art. 6º).
6. Pressuposto objetivo: INEXISTÊNCIA DE FATO IMPEDITIVO
Os fatos impeditivos ocorrem antes da interposição do recurso.
a) Renúncia ao direito de recorrer
b) Preclusão
c) Recolhimento do acusado à prisão, nos casos legais
6.1. Renúncia ao direito de recorrer
Ocorre quando a parte abre mão do seu direito de recorrer.
a) Ministério Público
O MP é obrigado a recorrer diante de uma sentença absolutória? Não, em razão do
princípio da autonomia funcional.
A doutrina diverge sobre o assunto, havendo posições em ambos os sentidos. Há quem
entenda que, como o Promotor não é obrigado a recorrer, também pode desistir do recurso já
interposto. Porém, ainda prevalece a corrente de que o MP não pode renunciar.
b) Acusado e defensor
Se o acusado, intimado da sentença, renunciar ao direito de recorrer, como restará o direito
de recorrer do defensor? Como ambos têm legitimidade distinta, a renúncia de um não impede o
recurso do outro.
STF, Súmula 705. A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência
do defensor, não impede o conhecimento da apelação por este interposta.
STF, Súmula 708. É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da
renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir outro.
6.2. Preclusão
É um fato impeditivo destinado a garantir o avanço do processo. Trata-se da perda de
faculdade processual. Pode ser de três tipos:
a) Temporal
Decorre do não exercício de determinada faculdade dentro do prazo processual.
Ex.: recurso intempestivo.
b) Consumativa
Decorre do fato de já ter sido exercida determinada faculdade processual. Nesse caso, não
poderá o ato ser novamente exercido.
c) Lógica
164

Decorre da incompatibilidade da prática de um ato com relação a outro já praticado.


Ex.: renúncia ao direito de recorrer e posterior ajuizamento de recurso.
6.3. Recolhimento do acusado à prisão, nos casos legais (revogado)
a) Art. 594 (Revogado pela Lei nº 11.719, de 2008)
O art. 594 exigia o recolhimento do acusado à prisão para que pudesse apelar, salvo se
fosse primário e tivesse bons antecedentes reconhecidos na sentença condenatória, ou tivesse
condenado por crime de que se livrasse solto.
STJ, Súmula 9 (tacitamente revogada). A exigência da prisão provisória para apelar não
ofende a garantia constitucional da presunção de inocência.
b) HC 88.420, STF
Porém, por meio do HC 88.420, o STF alterou seu entendimento, reconhecendo que a
Convenção Americana sobre Direitos Humanos assegura, de forma expressa, o direito ao duplo
grau de jurisdição (art. 8, 2, h). Essa convenção tem status supralegal, eis que incorporada antes
da EC 45/04.
Com isso, o STJ também alterou o seu entendimento, dispensando o recolhimento do
acusado à prisão para que possa recorrer.
STJ, Súmula 347. O conhecimento de recurso de apelação do réu independe de sua prisão.
c) Lei 11.719/08
- Revoga o art. 594 de forma expressa.
- Altera o art. 387, p. único: o conhecimento da apelação independe do recolhimento à
prisão.
Art. 387. Parágrafo único. O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se
for o caso, imposição de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do
conhecimento da apelação que vier a ser interposta. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
d) Art. 595 (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011)
Previa a extinção do recurso no caso de o acusado fugir durante a sua tramitação (deserção
pela fuga do acusado).
Obs.: deve-se atentar à legislação especial, eis que ambas ainda continuam prevendo a
necessidade do recolhimento à prisão para apelar. Nessas hipóteses, pode-se entender que houve
revogação tácita (1) ou, ainda, que se tratam de normas incompatíveis com a Convenção de
Direitos Humanos (2).
- Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (art. 31 da Lei 7.492/86);
- Procedimento originário dos tribunais (art. 27, §2º, da Lei 8.038/90);
- Crimes hediondos (art. 2º, §3
- Lei das organizações criminosas (art. 9º da Lei 9.034/95);
- Lei da lavagem de capitais (art. 3º da Lei 9.613/98);
- Lei de drogas (art. 59 da Lei 11.343/06);
- CPPM (art. 527).
7. Pressuposto objetivo: INEXISTÊNCIA DE FATO EXTINTIVO
165

O fato extintivo ocorre durante a tramitação do recurso e é capaz de gerar a extinção


anômala do recurso.
a) Desistência
b) Deserção
7.1. Desistência
Ocorre durante a tramitação do recurso. Nesse sentido, diferencia-se da renúncia.
a) Ministério Público
Não pode desistir do recurso que houver interposto.
Art. 576. O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto.
Porém, essa situação não se confunde com o caso em que um promotor tenha interposto o
recurso, mas outro venha a apresentar razões. Nesse caso, há controvérsia. Há quem entenda que
o segundo promotor é obrigado a apresentar razões, mas pode pedir a absolvição do acusado, em
razão da sua independência funcional.
b) Advogado de defesa
Pode ocorrer que durante a tramitação do recurso o defensor venha a desistir do recurso.
Nesse caso, deve ser extinto o recuso? Segundo a doutrina, antes de extinguir o recurso o ideal é
que se determine a intimação do acusado.
c) Defensor público ou dativo
Há doutrina no sentido de que o defensor exerce múnus público, não podendo desistir do
recurso (art. 45, VII, LC 80/94).
Por outro lado, há situações em que o recurso pode ser prejudicial à defesa, ocasião em
que se permite a desistência do recurso (STF, HC 93.120).
7.2. Deserção
Também gera a extinção anômala do recurso. Pode ocorrer em duas situações:
a) Falta de preparo: não recolhimento das custas.
Art. 806. Salvo o caso do art. 32 (assistência judiciária gratuita), nas ações intentadas
mediante queixa, nenhum ato ou diligência se realizará, sem que seja depositada em cartório a
importância das custas.
§ 2o A falta do pagamento das custas, nos prazos fixados em lei, ou marcados pelo juiz,
importará renúncia à diligência requerida ou deserção do recurso interposto.
O preparo somente é imprescindível às ações penais exclusivamente privadas ou
personalíssimas. Porém, nesses casos, segundo a jurisprudência, o querelado (réu) não se
submete ao preparo para fins de recurso.
O querelante será dispensado do preparo no caso de comprovada pobreza (assistência
judiciária gratuita).
b) Fuga do acusado
Trata-se do disposto no art. 595, revogado pela Lei 12.403/11. Antes disso, esse dispositivo
já era entendido como inconstitucional pelo STF.
8. Pressuposto objetivo: REGULARIDADE FORMAL
166

Abrange:
a) Forma de interposição do recurso
No 1º grau, os recursos, em regra, podem ser interpostos por: 1) Termo nos autos: é a
manifestação inequívoca quanto à intenção de recorrer. Ex.: o acusado manifesta seu direito de
recorrer no momento da intimação pelo oficial de justiça, que certifica essa intenção; 2) Petição:
geralmente são os recursos em que se podem apresentar razões separadas.
Art. 578. O recurso será interposto por petição (1) ou por termo nos autos (2), assinado
pelo recorrente ou por seu representante.
b) Motivação do recurso
Liga-se aos recursos de fundamentação vinculada. Ex.: apelação do Júri; recurso
extraordinário, etc.
c) Formação de instrumento
Os recursos que dependem de formação de instrumento são de ônus da parte recorrente,
sob pena de não conhecimento.
STJ, Súmula 115. Na instância especial, é inexistente recurso interposto por advogado sem
procuração nos autos.
Para o STF, também se aplica a Súmula 115 no processo penal. Ou seja, o recurso
interposto sem procuração (1) poderá ser considerado inexiste. Porém, no processo penal o
advogado pode ser constituído no próprio ato da audiência, razão pela qual, nesse caso, deve ser
apresentada a “ata de audiência” (2).
Art. 266. A constituição de defensor independerá de instrumento de mandato, se o
acusado o indicar por ocasião do interrogatório.
9. Pressuposto subjetivo: LEGITIMIDADE RECURSAL
9.1. Legitimação ampla (legitimados gerais)
Podem interpor qualquer recurso.
Art. 577. O recurso poderá ser interposto pelo Ministério Público (1), ou pelo querelante
(2), ou pelo réu (3), seu procurador (4) ou seu defensor (5). Parágrafo único. Não se admitirá,
entretanto, recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou modificação da decisão.
No processo penal, tanto o acusado quanto o seu defensor podem interpor recurso.
Interposto o recurso pelo acusado, deve ser designado advogado para apresentar as razões.
O defensor, no processo penal, possui legitimação própria, autônoma para interpor
recursos. Ou seja, a legitimação do defensor independe da vontade do acusado, inclusive conta a
sua vontade. Não há representação processual, mas sim múnus público.
A ampla defesa do divide-se em:
a) Defesa técnica (advogado)
b) Autodefesa (acusado)
- Direito de presença.
- Direito de audiência.
- Capacidade postulatória autônoma para interpor recursos.
167

9.2. Legitimação restrita e subsidiária do assistente da acusação


Assistente de acusação é a vítima que tenha interesse em se habilitar no processo. Só se
admite em sede de ação penal pública, pois na ação penal privada a vítima é autora.
Em caso de morte, os sucessores podem se habilitar no processo (art. 31).
Art. 268. Em todos os termos da ação pública, poderá intervir, como assistente do
Ministério Público, o ofendido (1) ou seu representante legal (2), ou, na falta, qualquer das
pessoas mencionadas no Art. 31 (3).
Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o
direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou
irmão.
a) Hipóteses de recurso do assistente
A legitimação do assistente é restrita, eis que há previsão expressa de recurso do assistente
apenas nas seguintes hipóteses:
a) RSE contra a extinção da punibilidade
b) Apelação contra impronúncia
c) Apelação contra sentença absolutória (e absolvição sumária)
Art. 584. § 1o Ao recurso interposto de sentença de impronúncia ou no caso do no VIII do
art. 581 (extinção da punibilidade), aplicar-se-á o disposto nos arts. 596 e 598.
Art. 596. A apelação da sentença absolutória não impedirá que o réu seja posto
imediatamente em liberdade. Parágrafo único. A apelação não suspenderá a execução da medida
de segurança aplicada provisoriamente.
Art. 598. Nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se da sentença
não for interposta apelação pelo Ministério Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das
pessoas enumeradas no art. 31, ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá
interpor apelação, que não terá, porém, efeito suspensivo.
Parágrafo único. O prazo para interposição desse recurso será de quinze dias e correrá do
dia em que terminar o do Ministério Público.
Expressamente, somente há previsão de interposição dos recursos acima. Porém, a
doutrina entende que em desdobramento às hipóteses legais, o assistente pode se valer de
qualquer recurso.
STF, Súmula 210. O assistente do Ministério Público pode recorrer, inclusive
extraordinariamente, na ação penal, nos casos dos arts. 584, §1º e 598 do CPP.
b) Hipóteses da jurisprudência
Frisa-se que hoje há tendência de crescente importância do papel do assistente no
processo penal, o que se observa das decisões jurisprudenciais:
- Recurso do assistente contra sentença condenatória objetivando o agravamento da pena
Hoje, os Tribunais têm entendido que o interesse do assistente não é somente patrimonial,
como também por justiça (STJ, Resp. 696.038).
- RSE do assistente contra pronúncia objetivando inclusão de qualificadora (STJ, HC 84.022).
168

c) Nova redação do art. 311


Hoje, o assistente pode requerer a decretação de prisão preventiva, mas somente na fase
judicial.
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão
preventiva decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do
Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial.
(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Nesse caso, entende-se que o assistente também pode requerer as medidas cautelares
diversas da prisão.
Por isso, a súmula 208 do STF encontra-se ultrapassada. Ou seja, hoje admite-se o recurso
do assistente em sede de decisão concessiva de habeas corpus.
STF, Súmula 208. O assistente do Ministério Público não pode recorrer,
extraordinariamente, de decisão concessiva de habeas corpus.
d) Atuação subsidiária
A atuação do assistente depende da inércia do MP. Ou seja, a assistente só poderá recorrer
quando o Ministério Público não o fizer (art. 598).
Além disso, poderá o assistente recorrer quando o MP não recorrer de todo o objeto da
sucumbência.
Fora dessas hipóteses, admite-se que o assistente apresente razões ao recurso do
Ministério Público.
Art. 271. Ao assistente será permitido propor meios de prova, requerer perguntas às
testemunhas, aditar o libelo e os articulados, participar do debate oral e arrazoar os recursos
interpostos pelo Ministério Público (1), ou por ele próprio, nos casos dos arts. 584, § 1 o, e 598
(2).
e) Habilitação
O recurso do ofendido independe de sua prévia habilitação como assistente no processo.
f) Prazo recursal
Depende de a situação de o assistente estar ou não habilitado no processo:
- Habilitado: 5 dias.
- Não habilitado: 15 dias.
Em ambos os casos, o prazo começa a correr a partir do término do prazo do MP, eis que a
sua legitimação depende da inércia do órgão.
STF, Súmula 448. O prazo para o assistente recorrer, supletivamente, começa a correr
imediatamente após o transcurso do prazo do Ministério Público.
10. Pressuposto subjetivo: INTERESSE RECURSAL
Art. 577. Parágrafo único. Não se admitirá, entretanto, recurso da parte que não tiver
interesse na reforma ou modificação da decisão.
Esse interesse recursal é verificado a partir da análise da sucumbência, que corresponde à
situação de desvantagem jurídica oriunda da emergente decisão.
169

10.1. Interesse recursal da defesa na sentença absolutória


A absolvição imprópria, aplicada ao inimputável, resulta na aplicação de medida de
segurança. Nesse caso, há evidente interesse recursal da defesa.
Na sentença absolutória própria, pode haver interesse da defesa na mudança do
fundamento da absolvição, para o fim de fazer coisa julgada na esfera cível.
10.2. Interesse recursal da defesa na extinção da punibilidade
Discute-se se o acusado pode, mesmo diante da extinção da punibilidade, recorrer para o
fim de ser absolvido com julgamento de mérito.
Não se admite, pois a extinção da punibilidade é matéria de ordem pública, que precede à
análise do mérito. Além disso, o acusado é considerado inocente, não havendo sequer sentença
condenatória (STJ, Resp. 908.863).
10.3. Divergência entre interesse recursal do acusado e do defensor
Pode acontecer de o defensor público ou dativo ter interesse de recorrer, mesmo contra a
vontade do acusado. Nesse caso, entende-se que deve prevalecer a vontade de quem tem
interesse em recorrer.
STF, Súmula 705. A renúncia do réu ao direito de apelação manifestada sem a assistência
do defensor, não impede o conhecimento da apelação por este interposta.
10.4. Interesse recursal do MP na sentença condenatória ou absolutória
CF, Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional
do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis. (...)
O Ministério Público não tem interesse na condenação de um inocente, podendo pedir a
absolvição do acusado.
Do mesmo modo, desde que tenha havido sucumbência, o Ministério Público pode
recorrer contra sentença condenatória, objetivando a absolvição do acusado.
Pode recorrer objetivando o aumento da pena quando atuar como parte, bem como
quando atuar como fiscal da lei.
10.5. Interesse recursal do MP na ação penal privada ou personalíssima
Na ação penal exclusivamente privada ou personalíssima, caso o querelante não recorra
contra sentença absolutória, não se admite recurso do Ministério Público.
Isso porque, nas ações privadas vigora o princípio da disponibilidade da ação por parte do
querelante.
11. Efeitos dos recursos
11.1. Efeito obstativo
A interposição de um recurso tem o efeito de impedir a preclusão temporal e o
consequente trânsito em julgado da decisão.
11.2. Efeito devolutivo
Segundo a doutrina, encontra-se presente em todo e qualquer recurso penal.
170

Consiste na devolução do conhecimento da matéria impugnada ao órgão jurisdicional,


diverso ou não (ex.: embargos de declaração).
Há incidência da regra do “Tantum devolutum quantum appelatum”. Ou seja, o tribunal só
pode apreciar a matéria cujo conhecimento lhe tenha sido expressamente devolvido.
É mitigado pelo princípio da “reformatio in mellius”. Nesse caso, mesmo que não tenha
sido devolvida certa matéria ao conhecimento do Tribunal, caberá a apreciação, desde que
benéfica ao réu.
Delimitação
Em regra, o efeito devolutivo é delimitado na petição de interposição do recurso.
Porém, segundo os Tribunais, não havendo a delimitação na petição de interposição,
entende-se que houve impugnação da decisão como um todo.
Quanto aos recursos de fundamentação vinculada (ex.: recurso de decisão do Júri), caso
não se delimite o recurso na interposição, obrigatoriamente deverá ser delimitado o objeto do
recurso no momento das razões recursais.
11.3. Efeito suspensivo
Consiste na impossibilidade de a decisão impugnada produzir seus efeitos regulares
enquanto não houver a apreciação do recurso interposto.
Para a melhor doutrina, não é a interposição do recurso que suspende a eficácia da
decisão, mas sim a submissão da decisão a recurso que preveja efeito suspensivo.
a) Sentença absolutória
Frisa-se que a apelação contra sentença absolutória não tem efeito suspensivo, produzindo
seus efeitos de forma imediata.
b) Sentença condenatória
Por outro lado, a apelação contra sentença condenatória é dotada de efeito suspensivo,
não produzindo efeitos imediatos.
Isso porque, no processo penal vigora o princípio da presunção de inocência: 1) Regra
probatória: recai à acusação o ônus de provar a culpa do acusado; 2) Regra de tratamento: o
acusado é inocente durante todo o processo penal, só sendo considerado culpado com o TJSC.
c) Recursos extraordinários
Segundo o art. 27, da Lei 8.038/90, o RE e o Resp. devem ser recebidos no efeito
devolutivo, o que faz presumir não haver efeito suspensivo.
Nesse sentido também é a redação do art. 637 do CPP.
Art. 637. O recurso extraordinário não tem efeito suspensivo, e uma vez arrazoados pelo
recorrido os autos do traslado, os originais baixarão à primeira instância, para a execução da
sentença.
Em razão desses dispositivos, entendia-se ser possível a execução provisória da pena.
No entanto, o STF decidiu no sentido de não se admitir execução provisória (HC 84.078).
Ou seja, enquanto não transitar em julgado a decisão, a regra é de que o acusado deve
permanecer solto (efeito suspensivo indireto), ressalvada a necessidade de prisão cautelar.
171

Esse é o teor do art. 283 do CPP, com redação de 2011: Art. 283. Ninguém poderá ser preso
senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da
investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.
11.4. Efeito regressivo / iterativo / diferido
Trata-se do efeito que permite a devolução da matéria impugnada ao reexame do mesmo
órgão jurisdicional que prolatou a decisão recorrida.
Há efeito de retratação, podendo o juiz voltar atrás na sua decisão ou mantê-la.
Recursos que admitem retratação:
a) RSE
Art. 589. Com a resposta do recorrido ou sem ela, será o recurso concluso ao juiz, que,
dentro de dois dias, reformará ou sustentará o seu despacho, mandando instruir o recurso com os
traslados que Ihe parecerem necessários.
Parágrafo único. Se o juiz reformar o despacho recorrido, a parte contrária, por simples
petição, poderá recorrer da nova decisão, se couber recurso, não sendo mais lícito ao juiz
modificá-la. Neste caso, independentemente de novos arrazoados, subirá o recurso nos próprios
autos ou em traslado.
Nesse caso, ambas as decisões do magistrado, a recorrida (1) e a reformada (2), devem
admitir RSE, ocasião em que se admite o recurso por meio de simples petição.
b) Carta testemunhável
c) Agravo em execução
11.5. Efeito extensivo
Pode estar presente em todo e qualquer recurso.
Art. 580. No caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 29), a decisão do recurso
interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente
pessoal, aproveitará aos outros.
É desdobramento do princípio da isonomia entre os réus.
11.6. Efeito substitutivo
O julgamento proferido pelo juízo “ad quem” substitui a decisão impugnada no que tiver
sido objeto de recurso, ainda que seja negado provimento ao recurso.
A decisão do Tribunal substitui a decisão de 1º grau mesmo que seja idêntica à primeira
decisão (art. 512 do CPC).
11.7. Efeito translativo
Consiste na devolução ao juízo “ad quem” de toda a matéria não atingida pela preclusão.
Encontra-se presente no recurso de ofício (reexame necessário), conforme se extrai da
súmula 160 do STF.
12. Classificação dos recursos
12.1. Quanto à obrigatoriedade
a) Recurso voluntário
172

A existência condiciona-se à manifestação de vontade do sucumbente.


b) Recurso de ofício
A Lei impõe o reexame necessário, independentemente de manifestação dos sucumbentes.
Na verdade, o recurso de ofício não é propriamente um recurso, que sempre exige a
voluntariedade. Seria, pois, condição de eficácia objetiva da decisão.
12.2. Quanto à fundamentação
a) Recurso de fundamentação livre
O recorrente tem ampla liberdade quanto às matérias a serem alegadas no recurso:
matéria de fato, de direito, probatória, etc. Em regra, os recursos são de fundamentação livre.
b) Recurso de fundamentação vinculada
O recorrente não é livre para alegar qualquer matéria, devendo invocar fundamento
previsto em rol taxativo previsto em lei ou na CR.
Exemplos:
- Recurso especial
- Recurso extraordinário
STF, Súmula 279. Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.
- Apelação contra decisões do júri
Art. 593. III - das decisões do Tribunal do Júri, quando:
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados;
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.
STF, Súmula 713. O efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstrito aos
fundamentos da sua interposição.
12.3. Quanto à extensão da matéria impugnada
a) Recurso total
É aquele recurso que engloba todo o conteúdo passível de impugnação, todo o objeto da
sucumbência.
b) Recurso parcial
É aquele recurso que abrange, intencionalmente, apenas parte do objeto da sucumbência.
12.4. Quanto aos pressupostos de admissibilidade
a) Recurso genérico
Basta a simples demonstração do inconformismo da parte, não havendo quaisquer
requisitos específicos. Ex.: apelação contra sentença do juiz singular.
b) Recurso específico
Possui requisitos próprios para a sua interposição, além dos requisitos exigidos para todo e
qualquer recurso. Ex.: o recurso extraordinário exige prequestionamento e repercussão geral.
173

STF, Súmula 356. O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos
declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do
prequestionamento.
12.5. Quanto ao objeto imediato do recurso
a) Recursos ordinários
Visa, de forma direta, proteger o interesse do sucumbente. Indiretamente, também se
objetiva a proteção do direito.
b) Recursos extraordinários
São os recursos que tenham por objeto imediato a proteção do direito em si. Não visa,
diretamente, a proteção do interesse das partes. Ex.: Resp. e RE.

AÇÕES DE IMPUGNAÇÃO
1. Revisão criminal
a) Ação penal de natureza constitutiva
b) Competência originária dos Tribunais
c) Tem por objetivo a revisão de decisão condenatória ou absolutória imprópria transitada
em julgado e eivada de erro judiciário.
1.1. Natureza jurídica
Ação autônoma de impugnação, embora seja prevista no capítulo que trata dos recursos
penais.
1.2. Coisa julgada
A coisa julgada relaciona-se à segurança jurídica. Por outro lado, a rescisão da sentença
visa a reparação de erro judiciário, buscando-se a justiça da decisão.
No Brasil só existe revisão criminal em favor do acusado. Ou seja, não existe revisão
criminal “pro societate”.
A revisão criminal não se confunde com a ação rescisória do Processo Civil:

Ação rescisória Revisão criminal


Prazo preclusivo de 2 anos (art. 495 do CPC). Não se sujeita a prazo.
Pode ser ajuizada inclusive após a morte do
acusado, requerendo-se indenização em razão
do erro (art. 5º, LXXV).
Ajuizada por qualquer das partes, inclusive Somente cabe ao acusado o ajuizamento.
terceiros.

1.3. Legitimação
Ativa
a) Acusado
b) Defensor
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c) CADI
Art. 623. A revisão poderá ser pedida pelo próprio réu ou por procurador legalmente
habilitado ou, no caso de morte do réu, pelo cônjuge (e companheiro), ascendente, descendente
ou irmão.
Falecendo o condenado no curso da revisão deverá ser nomeado curador para a sua
defesa.
Art. 631. Quando, no curso da revisão, falecer a pessoa, cuja condenação tiver de ser
revista, o presidente do tribunal nomeará curador para a defesa.
d) MP, desde que em favor do acusado
Pode, na revisão criminal, existir dois promotores: um como autor da ação e outro como
fiscal da lei.
De qualquer sorte, é obrigatória a intervenção do MP como fiscal da lei.
Passiva
Estado.
1.4. Interesse de agir
A revisão criminal só pode ser ajuizada diante de:
a) Sentença condenatória
b) Sentença absolutória imprópria (medida de segurança)
c) Transitadas em julgado
1.5. Hipóteses de cabimento
Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida:
I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal (1) ou à
evidência dos autos (2);
Para a doutrina entende-se por “lei penal” a lei penal, processual penal e, até mesmo, a
Constituição Federal. Ex.: sentença com base em prova ilícita (contra CF).
Essa contrariedade deve ser manifesta, expressa. Não se admite controvérsia.
STF, Súmula 343. Não cabe ação rescisória (estende-se à revisão criminal) por ofensa a
literal disposição de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de
interpretação controvertida dos tribunais.
Para os Tribunais, determinado entendimento era controvertido. Porém, em certo
momento há pacificação de entendimento em determinado sentido, podendo-se, então, ajuizar
revisão criminal. Ex.: antigamente, conforme o duplo grau de jurisdição, o condenado que tivesse
fugido, não podia apelar. Porém, hoje se admite apelação por condenado que tenha fugido. Nesse
caso, a defesa buscará a desconstituição da decisão transitada em julgado, para o fim de admitir
recurso.
II - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos
comprovadamente falsos;
Nesse caso, a falsidade pode ser provada em sede de revisão criminal, bem como em
justificação.
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Esses documentos alegados falsos devem ter servido como fundamento da sentença. Ou
seja, deve-se analisar a influência (relevância) da prova falsa na condenação do acusado.
III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado (1)
ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena (2).
Segundo os Tribunais, “prova nova” não é apenas a prova não existente no processo, como
também a prova já produzida novamente analisada. Ex.: novos conhecimentos científicos no DNA.
Porém, a revisão criminal não se presta para o reexame do conjunto probatório (STJ, Resp.
763.283).
1.6. Desnecessidade de recolhimento à prisão
Hoje, o acusado não precisa recolher-se à prisão para que possa ajuizar revisão criminal.
STF, Súmula 393. Para requerer revisão criminal o condenado não é obrigado a recolher-se
à prisão.
1.7. Inexistência de prazo preclusivo
A revisão criminal não se submete a prazo preclusivo, ao contrário da ação rescisória do
processo civil.
1.8. Competência
Em regra, é ação de competência originária dos Tribunais.
Frisa-se que a jurisprudência tem sido admitida no âmbito dos Juizados Especiais Criminais,
cuja competência será da Turma Recursal.
1.9. Ônus da prova
Em regra, a acusação deve provar a culpa do acusado, em razão da presunção de inocência.
Essa presunção, porém, ocorre até o trânsito em julgado da decisão. Por isso, na revisão
criminal o ônus da prova compete ao acusado (autor da revisão criminal), não se podendo falar em
presunção de inocência.
Ou seja, na revisão criminal não se aplica o “in dubio pro reo” (STF, HC 68.437).
1.10. Efeito suspensivo
Em regra, a revisão criminal não é dotada de efeito suspensivo.
Ou seja, o ajuizamento da revisão criminal não tem o condão de suspender a execução da
pena (sentença condenatória).
Porém, para a doutrina, quando for evidente o erro judiciário, deve-se conjugar a revisão
criminal com a ação de habeas corpus.
1.11. Recursos cabíveis
Em regra não se admite recurso ordinário contra a revisão criminal.
Admite-se a interposição de recursos extraordinários (RE e Resp.). Além disso, admitem-se
embargos de declaração.
Não se admitem embargos infringentes e de nulidade contra revisão criminal, que depende
de decisão não unânime em apelação, RSE ou agravo em execução.
1.12. Indenização pelo erro judiciário
O Estado tem responsabilidade civil objetiva, que independe de dolo ou culpa.
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Art. 630. O tribunal, se o interessado o requerer, poderá reconhecer o direito a uma justa
indenização pelos prejuízos sofridos.
§ 1o Por essa indenização, que será liquidada no juízo cível, responderá a União, se a
condenação tiver sido proferida pela justiça do Distrito Federal ou de Território, ou o Estado, se o
tiver sido pela respectiva justiça.
§ 2o A indenização não será devida:
a) se o erro ou a injustiça da condenação proceder de ato ou falta imputável ao próprio
impetrante, como a confissão ou a ocultação de prova em seu poder;
b) se a acusação houver sido meramente privada.
A alínea “b” não foi recepcionada pela CR/88.

2. Habeas corpus
Art. 5º. LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer (1) ou se achar
ameaçado (2) de sofrer violência (1) ou coação (2) em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade (1) ou abuso de poder (2);
2.1. Natureza jurídica
É ação autônoma de impugnação.
2.2. Momento
Pode ser impetrado a qualquer momento, desde o inquérito até momento posterior ao
trânsito em julgado da sentença.
Porém, deve ser cabível ao crime a aplicação de pena privativa de reclusão.
2.3. Espécies
a) Liberatório
Já se consumou o constrangimento, razão pela qual se busca expedição de alvará de
soltura.
b) Preventivo
Decorre de risco potencial (concreto) à liberdade de locomoção, ocasião em que se deve
buscar salvo-conduto.
Não se admite HC preventivo contra “lei em tese”. Ex.: HC contra lei de embriaguez,
supondo eventual prisão.
2.4. Transgressões disciplinares
Art. 142. § 2º - Não caberá "habeas-corpus" em relação a punições disciplinares militares.
Segundo entendimento dos Tribunais, não se admite HC contra o mérito da punição
disciplinar. Porém, admite-se HC contra a ilegalidade da punição.
2.5. Interesse de agir
O ajuizamento da revisão depende de demonstração de risco à liberdade de locomoção.
STF, Súmula 693. Não cabe HC contra decisão condenatória a pena de multa ou relativo a
processo em curso por infração a que a pena pecuniária seja a única cominada.
Hoje, a multa não pode mais ser convertida em prisão.
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STF, Súmula 694. Não cabe HC contra a imposição da pena de exclusão de militar ou de
perda de patente ou de função pública.
STF, Súmula 695. Não cabe HC quando já extinta a PPL.
2.6. Sujeitos
a) Legitimado ativo
Qualquer pessoa (física ou jurídica) pode impetrar HC, sendo ou não advogado.
O HC pode ser concedido de ofício.
Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de
outrem, bem como pelo Ministério Público. § 2 o Os juízes e os tribunais têm competência para
expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando no curso de processo verificarem que alguém
sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal.
b) Pacientes
Somente pode ser pessoa física, eis que a pessoa jurídica não é dotada de liberdade de
locomoção.
c) Legitimado passivo
Pode ter como autoridade coatora tanto particular (ilegalidade) como autoridade pública
(abuso de poder ou ilegalidade).
2.7. Competência
STF, Súmula 690 (revogada). Compete originariamente ao STF o julgamento de HC contra
decisão de turma recursal dos Juizados Especiais Criminais.
Hoje, o HC contra turma recursal é julgado pelo TJ ou TRF.
STF, Súmula 691. Não compete ao STF conhecer de HC impetrado contra decisão de relator
que, em HC requerido a tribunal superior, indefere liminar.
O HC permite medida liminar que, em regra, é decidida pelo relator. Nesse caso, contra
essa decisão não cabe HC, eis que ainda não há opinião da Turma ou Câmara.
O STF, porém, tem relativizado essa súmula. Sendo a decisão teratológica do relator,
indeferindo liminar, admite-se impetração de HC (HC 87.468).

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