Intensivo Ii - Processo Penal
Intensivo Ii - Processo Penal
INTENSIVO II
QUESTÕES PREJUDICIAIS
1. Conceito
É a questão valoração penal ou extrapenal, que deve ser enfrentada pelo juiz antes de
decidir o mérito final.
Ex: crime de abandono material (art. 244, CP). Um eventual exame de paternidade no civil
é uma questão prejudicial. O juiz só poderá condenar por abandono material se o exame
demonstrador a paternidade do agente. A paternidade é a questão prejudicial.
Ex: crime de lavagem, a infração penal anterior é a questão prejudicial.
2. Natureza Jurídica
3. Características
Condicionam o conteúdo das decisões Só podem ser analisadas pelo juízo penal.
referentes à questão prejudicada. O juiz fica
vinculado.
Impedem as decisões sobre as questões
principais.
5. Classificação das QP
a) questão prejudicial não devolutiva: é aquela que deve ser apreciada no próprio juízo
criminal.
Correspondem às questões prejudiciais homogêneas.
a) questões prejudiciais necessárias (em sentido estrito): são aquelas que sempre
acarretam a suspensão do processo.
- Devolutiva absoluta.
a) prejudicial total: é aquela que tem o condão de fulminar a existência do crime. Ex:
bigamia, validade do 1º casamento.
d) Sistema eclético ou misto: É o adotado pelo CPP brasileiro. Resulta da fusão do sistema
da prejudicialidade obrigatória com o sistema da prejudicialidade facultativa.
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Quanto às prejudiciais heterogêneas relativas ao estado civil das pessoas, vigora o sistema
da prejudicialidade obrigatória (bigamia, paternidade, etc). Quanto às demais questões
prejudiciais heterogêneas, vigora o sistema da prejudicialidade facultativa.
7.1. Pressupostos
a) Existência da infração: ex: furto contra ascendente, não é uma prejudicial, pois não
interfere na existência ou não do crime, é sim uma circunstância agravante
b) controvérsia séria e fundada
c) Questão prejudicial heterogênea relacionada ao estado civil das pessoas (validade do
casamento, paternidade, filiação, idade, etc)
7.2. Consequências
8.1. Pressupostos
a) Existência da infração
b) questão prejudicial heterogênea não relativa ao estado civil das pessoas. Ex: exercício
arbitrário das próprias razões (STF 75169)
c) Ação cível em andamento
d) questão de difícil solução
f) ausência de limitações quanto à prova fixadas pela lei civil (art. 227).
Obs: no processo penal, vigora o princípio da busca da verdade e da liberdade quanto aos
meios de prova. Por isso, se houver restrições à prova fixadas na lei civil, não é possivel o
reconhecimento da prejudicial, já que haveria evidente prejuízo se a solução da controvérsia
tivesse que ocorrer no cível.
8.2. Consequências
9. Recursos cabíveis
Contra a decisão que determinar a suspensão do processo, caberá RESE (art. 581, XVI,
CPP). Atenção, pois a lei estabelece que o cabimento do referido recurso somente será possível se
houve uma decisão de suspensão.
Contra a decisão que não determinar a suspensão do processo, esta será irrecorrível.
§ 2o Do despacho que denegar a suspensão não caberá recurso.
Apesar da irrecorribilidade da referida decisão, havendo prejuízo de liberdade de
locomoção, será cabível a impetração de habeas corpus.
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A decisão proferida pelo juízo penal quanto às questões prejudiciais heterogêneas não
relativas ao estado civil das pessoas não faz coisa julgada no âmbito civil, pois a apreciação dessa
controvérsia é feita de maneira incidental e não está acobertada pelos limites objetivos da coisa
julgada.
Por outro lado, a decisão do juízo civil acerca de questão prejudicial heterogênea, relativa
ou não ao estado civil das pessoas, faz coisa julgada material, pouco importando se houve ou não
a suspensão do processo criminal.
EXCEÇÃO PROCESSUAL
1. Conceito
2.1. Exceção: É matéria de defesa que não pode ser conhecida de ofício pelo juiz. Só será
apreciada se arguida pelas partes.
Frisa-se que a Sumula 33 do STJ só se aplica ao Processo Civil. Ou seja, no processo penal,
pode o juiz reconhecer incompetência relativa de oficio.
2.2. Objeção: É a matéria de defesa que pode ser reconhecida pelo juiz de ofício.
O art. 95 utiliza a palavra “exceção” de maneira incorreta, eis que as matérias ali colocadas
podem ser reconhecidas de ofício pelo juiz. Na verdade, o art. 95 trata de objeções e não de
exceções.
I - suspeição;
II - incompetência de juízo;
III - litispendência;
IV - ilegitimidade de parte;
V - coisa julgada.
3. Espécies
3.1. Dilatórias: São aquelas que visam apenas a procrastinação do processo, retardar o
processo.
4. Procedimento
Art. 102. Quando a parte contrária reconhecer a procedência da arguição, poderá ser
sustado, a seu requerimento, o processo principal, até que se julgue o incidente da
suspeição.
5. Exceção de impedimento
5.1. Causas
O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que (ROL TAXATIVO – art. 252):
As funções são as do inciso anterior (defensor, advogado, MP, policial, auxiliar ou perito).
Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que
forem entre si parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o
terceiro grau, inclusive.
Art. 2o Para os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a associação, de 3
(três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas,
ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de
qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior
a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional.
Art. 1o Em processos ou procedimentos que tenham por objeto crimes praticados por
organizações criminosas, o juiz poderá decidir pela formação de colegiado para a prática
de qualquer ato processual, especialmente:
III - sentença;
Haverá um colegiado que irá julgar o caso, tornar a decisão um pouco menos pessoal.
Nesse órgão colegiado criado, não poderá haver parentes (esposa, pai, irmão, etc).
6. Exceção de suspeição
O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes
(art. 254):
Uma relação de mera simpatia não é causa de suspeição. A amizade, aqui, refere-se às
partes e não aos seus advogados.
A amizade intima ou inimizade capital deve partir do juiz e não da parte em relação ao
magistrado.
Se a parte injuriar o juiz não poderá argüir suspeição (art. 256, CPP – ninguém poderá se
beneficiar da própria torpeza).
A amizade íntima com o advogado, que não é parte, não é causa de suspeição, o que,
todavia, não impede que o magistrado se afaste do processo por razões de foro íntimo.
III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim, até o terceiro grau,
inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado
por qualquer das partes;
6.2. Consequência
O julgamento prolatado por juiz suspeito autoriza o reconhecimento de nulidade absoluta
(art. 564, I), ab initio (primeiro contato com o processo). Ex.: recebimento da denúncia, etc.
6.5. Incompatibilidade
Causas que prejudicam a imparcialidade do magistrado, mas não estão listadas entre as
causas de impedimento/suspeição.
Se confunde por vezes os casos de suspeição por foro intimo.
Pode ensejar nulidade absoluta.
Não há um rol taxativo.
Para ser declarada deve haver prejuízo para a parte.
Resolução 82, CNJ = está ligada à suspeição por razão de foro intimo. Estabeleceu a
obrigatoriedade de comunicar as razões de foro íntimo, reservadamente às Corregedorias.
*MS 28.215 – Associação dos Magistrados Brasileiros – STF deferiu medida liminar para
suspender a necessidade de comunicação às Corregedorias. Entendeu que a matéria deve ser
regulamentada por lei complementar e não através de uma resolução do CNJ, uma vez que cria
obrigações. Não julgou o mérito.
7. Suspeição/impedimento de membro do MP
Art. 258. Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos processos em que o juiz ou
qualquer das partes for seu cônjuge, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a eles se estendem, no que Ihes for aplicável, as
prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes.
Segundo doutrina majoritária, caso o Promotor seja declarado suspeito ou impedido não
haverá nulidade, invalidação do ato processual.
O julgamento dessa exceção caberá ao juiz de 1º grau, sendo, conforme o CPP, irrecorrível.
Art. 104. Se for arguida a suspeição do órgão do Ministério Público, o juiz, depois de ouvi-
lo, decidirá, sem recurso, podendo antes admitir a produção de provas no prazo de três
dias.
No entanto, os Promotores de Justiça alegam a não recepção do art. 104 do CPP pela CF,
eis que restaria prejudicada a sua independência funcional. Nesse caso, caberia a um órgão
superior do MP decidir sobre a exceção.
Provas do MP: O artigo 104 é incompatível com o sistema acusatório e com o princípio do
promotor natural. Se houver a argüição, o ideal é que a controvérsia fique dentro do p´roprio MP,
aplicando, assim, o art. 28, CPP.
O afastamento do MP pelo juiz com base no art. 104 pode ser impugnado por meio de
mandado de segurança.
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A autoridade policial deve se declarar suspeita, mas a parte não pode requerer essa
suspeição. Isso porque, o IP é mero procedimento administrativo de natureza inquisitorial.
Art. 107. Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito, mas
deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal.
São convocados 25 jurados para comparecerem ao Plenário do Júri, sendo que, para a
instalação da sessão, são necessários 15 jurados presentes.
O jurado deve reconhecer sua suspeição de ofício. Não reconhecendo a suspeição de ofício,
as partes podem recusar os jurados motivadamente (número indeterminado de recusas).
A recusa deve ser decidida pelo juiz, de plano. Nesse caso, o juiz pode inquirir o jurado
sobre a suspeição e, em caso de negativa, deve o excipiente apresentar provas.
Frisa-se que, jurados excluídos por impedimento ou suspeição, são computados para o
número mínimo de 15 (art. 451).
Quanto à consequência da participação de jurado impedido em julgamento, deve-se
lembrar de que antes da reforma de 2008 a votação era aberta até o último voto, razão pela qual,
a participação de jurado impedido gerava nulidade relativa, devendo ser comprovado o prejuízo (4
x 3). Hoje, o juiz interrompe a abertura de votos quando forem atingidos 4 votos na mesma
direção, razão pela qual, há nulidade absoluta, já que impossível determinar o grau de influência
do jurado impedido.
10. Procedimento das Exceções de Suspeição e Impedimento
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e) Decisão do juiz: o juiz excepto ao receber a exceção, poderá aceitar a suspeição ou não.
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Art. 100. Não aceitando a suspeição, o juiz mandará autuar em apartado a petição, dará
sua resposta dentro em três dias, podendo instruí-la e oferecer testemunhas, e, em
seguida, determinará sejam os autos da exceção remetidos, dentro em vinte e quatro
horas, ao juiz ou tribunal a quem competir o julgamento.
f) Recurso
Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:
III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;
Por que não cabe RSE contra a decisão de suspeição? Porque, ao contrário das demais
exceções, a suspeição é julgada pelo Tribunal, sendo que somente cabe RSE para impugnar
decisões de 1º grau.
Desse modo, entende-se que a decisão é irrecorrível. Na prática, cabe MS ou HC, bem
como recurso especial ou extraordinário.
Divide-se em:
a) Incompetência absoluta
b) Incompetência relativa
11.1. Iniciativa
Pode ser reconhecida mediante requerimento das partes ou de ofício pelo juiz (tanto a
incompetência absoluta quanto a relativa).
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11.2. Momento
a) Incompetência absoluta: Pode ser reconhecida de ofício pelo juiz enquanto não
esgotada a sua jurisdição, ou seja, até o momento da prolatação da sentença. Essa prolatação
refere-se à entrega da decisão às mãos do Escrivão.
b) Incompetência relativa: Pode ser arguida pelas partes no primeiro momento que
falarem nos autos, sob pena de preclusão.
Além disso, pode ser reconhecida de ofício pelo juiz até o início da instrução probatória,
respeitando-se, assim, o princípio da identidade física do juiz. Desse modo, evita-se que o juiz
instrua todo o processo para, só ao final, considerar-se incompetente.
Cumpre frisar que a Súmula 33 do STJ não tem aplicação no processo penal, mas tão
somente no processo civil. Isso porque, no processo penal aplica-se o princípio da busca da
verdade real.
11.5. Recurso: Caberá RESE se julgada procedente. Se julgada improcedente não caberá
recurso. Porém, não impede que o vício referente à incompetência volte a ser argüido em
preliminar de futura apelação.
Pegar colegas
Pode ser:
12.1. Ilegitimidade ad causam
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Trata-se da pertinência subjetiva da ação. Ou seja, trata da titularidade da ação, que pode
ser pública ou privada. É, pois, condição da ação, que, uma vez ausente, gera nulidade absoluta.
Exemplo:
Processo X Processo Y
Autor: MP Autor: querelante (queixa subsidiária)
Acusado: Tício Acusado: Tício
Imputação: Furto dia 10/03, 22 horas Imputação: Furto dia 10/03, 22 horas
Classificação: art. 155. Classificação: art. 171.
Coisa julgada é a decisão jurisdicional contra a qual não cabe mais recurso, em razão de:
a) Esgotamento das vias recursais.
b) Preclusão temporal.
** Certidão de óbito falsa: o processo poderá ser reaberto. (HC 84525, STF)
12.3. Efeitos
O efeito mais importante da coisa julgada é a imutabilidade da decisão judicial. Essa
imutabilidade pode ser:
A decisão absolutória ou declaratória extintiva da punibilidade, ainda que proferida por juiz
absolutamente incompetente, é capaz de transitar em julgado, impedindo novo processo pela
mesma imputação. Por outro lado, em caso de decisão condenatória ou absolutória imprópria,
sempre caberá habeas corpus e revisão criminal.
b) Limites subjetivos
Diz respeito àquele que ocupou o polo passivo da demanda, indivíduo que figurou como
acusado no primeiro processo.
A absolvição de um dos acusados não implica necessariamente a absolvição dos demais
(HC 126064, STJ).
Nesse caso, a decisão absolutória em relação a um dos coautores do delito não faz coisa
julgada em relação aos demais, salvo quando reconhecida categoricamente a inexistência do fato
delituoso (coisa julgada extensiva).
a) Crime continuado
Se um dos crimes praticados em continuidade delitiva não for objeto de imputação em um
primeiro processo penal condenatório, é perfeitamente possível que tal crime seja objeto de novo
processo penal, vez que não está protegido pelos limites da coisa julgada.
Caso uma primeira série de crimes em continuidade delitiva já tenha sido julgada, é
plenamente possível que o acusado seja novamente processado por outra série de crimes em
continuidade delitiva, ainda que praticada durante o mesmo lapso temporal. Nesse caso, caberá
ao juízo da execução fazer posterior unificação das penas (art. 82 do CPP).
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Ex: 4 crimes de furto, em continuidade, mas deppis se descobre que houve um 5 crime.
Esse poderá ser processado depois, cabendo após, ao juízo da execução fazer a unificação.
STF, HC 101.131: A sentença posterior prevalece no Processo Penal, desde que mais
favorável ao réu, em obediência à vedação da Revisão Criminal pro societate. O caso sub
judice não reclama a solução de se considerar anulada a primeira sentença, visto que não
incidiu em qualquer vício de juridicidade, e sim de revogá-la.
13.7. Recursos
Vide exceção litispendência.
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PROCEDIMENTO COMUM
Exemplos:
b) Lei 12.234/10: alterou o art. 110, §§1º e 2º; e art. 109, VI. Trata-se de lex gravior relativa
à prescrição, que não pode retroagir.
c) Lei 12.433/11: alterou o art. 126 e 127 da LEP. Trata-se de lex mitior relativa à remição
pelo estudo e desconto da remição em razão de falta grave em até 1/3.
Art. 2o A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos
realizados sob a vigência da lei anterior.
Exemplos:
a) Lei 9.099/95, art. 90: se a instrução do processo já estiver em andamento, não se
aplicam as disposições do juizado. Essa lei contém dispositivos genuinamente processuais, bem
como regras materiais.
Art. 90. As disposições desta Lei não se aplicam aos processos penais cuja instrução já
estiver iniciada. (Vide ADIN nº 1.719-9)
Em razão disso, para o STF, as normas de direito penal inseridas na Lei 9.099/95, que
tenham conteúdo mais benéfico aos acusados devem retroagir para beneficiá-los, nos termos do
art. 5º, XL, da CR.
b) Lei 9.271/96 e art. 366 do CPP: antes das alterações legais da Lei 9.271/96, o art. 366
determinava a citação por edital e, não comparecendo o réu, era decretada a sua revelia,
prosseguindo o processo com a nomeação de advogado dativo.
Com a vigência da Lei, o art. 366 passou a prever que se o acusado é citado por edital, não
comparece e não constitui defensor, deve ser suspenso o processo e o prazo prescricional.
A partir de então, surgiu a indagação quanto à possibilidade de o agente ter praticado o
crime antes de 1996 ser beneficiado pela alteração do art. 366. Diante disso, posicionou-se o STF
no sentido de por ser mais gravosa a norma que manda suspender a prescrição, não poderia
retroagir. Portanto, o art. 366 só foi aplicado aos crimes cometidos após a vigência da Lei
9.271/96.
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- SISTEMA DAS FASES PROCESSUAIS: de acordo com esse sistema, cada fase processual
pode ser disciplinada por lei distinta, de modo que o processo não seria um todo
unitário. Nesse caso, podem-se aplicar leis distintas em cada uma das fases
processuais: postulatória, ordinatória, instrutória, decisória e recursal.
- SISTEMA DO ISOLAMENTO DOS ATOS PROCESSUAIS (adotado pelo CPP, art. 2º): a lei nova não
atinge os atos processuais praticados sob a vigência da lei anterior, mas será aplicável
aos atos processuais que ainda não foram praticados, pouco importando a fase em
que o feito se encontrar.
STJ, HC 123.492.
d) Lei 11.719/08 e art. 400 do CPP (interrogatório do réu): hoje, com a nova redação legal,
o interrogatório passou a ser o último ato da instrução.
Nesse caso, qual seria o procedimento adotado quando, por exemplo, houver sido realizado
interrogatório e, após a vigência da Lei, realizar-se o restante da instrução? Deve ser realizado
novo interrogatório?
Em tese, a melhor decisão seria inquirir o acusado quanto à sua vontade em alterar seu
interrogatório, documentando esse procedimento em ata.
Para o STF, se o acusado foi interrogado antes da vigência da Lei 11.719/08, encerrando-se
a instrução criminal já na vigência dessa Lei, não há necessidade de realização de novo
interrogatório ao final da audiência una de instrução e julgamento.
STF, HC 104.555.
e) Lei 11.689/08 (Júri) e o protesto por novo júri: o art. 4º da Lei 11.689/08 extinguiu o
capítulo IV do Título II do Livro III (protesto por novo júri).
Ex.: prática de crime previsto no art. 121, §2º, I, em 05/06/08. Entra em vigor a Lei
11.689/08, que extingue o protesto por novo júri. Em 15/02/2012 é realizado o julgamento,
condenando-se o crime a 23 anos de reclusão. Nesse caso, há duas correntes:
- Norma processual material (LFG): o art. 4º da Lei é norma processual material, pois
repercute no direito de liberdade do agente. Logo, se o crime foi praticado até o dia
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08/08/08 o cidadão terá direito ao protesto, ainda que seu julgamento ocorra após a
extinção do benefício.
- Norma à época da publicação da decisão: aplica-se à data em que a decisão é
publicada (às mãos do Escrivão), de modo que o acusado passa a ter direito adquirido
quanto aos recursos cabíveis no momento da prolatação.
Ou seja, a lei que se aplica ao recurso não é aquela em vigor à época do crime,
tampouco a vigente quando da interposição do recurso, mas sim aquela em vigor no
momento em que a decisão recorrível for proferida, pois é nesse momento que se
adquire o direito às regras recursais então vigentes.
Hoje é classificado com a quantidade de pena e não mais com a qualidade. Pode ser de três
espécies:
a) Procedimento comum ordinário: pena máxima = ou + 4 anos.
b) Procedimento comum sumário: pena máxima + 2 anos – 4 anos. Ex: homicídio culposo.
c) Procedimento comum sumaríssimo: pena máxima – ou = 2 anos. São infrações de menor
potencial ofensivo, como as contravenções penais e crimes com pena máxima não superior a dois
anos, cumulada ou não com multa. Ex: jogo do bixo, desacato
A eventual inobservância do procedimento correto será causa de nulidade relativa,
dependendo de efetivo prejuízo.
Obs: Cabe prisão preventiva nos crimes cuja pena máxima seja superior a 4 anos, e não
igual a quatro anos.
a) LEI MARINHA DA PENHA: art. 41: independentemente da pena prevista para o crime, não se
aplica a Lei dos Juizados. Ainda que a pena máxima não seja superior a dois anos. Será aplicado o
procedimento comum ordinário ou o sumário.
b) ESTATUTO DO IDOSO: art. 94: aos crimes previstos nessa lei, cuja pena máxima não
ultrapasse a 4 anos, aplica-se a lei 9.099/95 e subsidiariamente o CP e o CPP. (Vide ADI 3.096-5,
STF). O STF entendeu que se a pena máxima não for superior a 4 anos aplica-se o procedimento
comum sumaríssimo, mas não se aplicam os institutos despenalizadores da Lei 9.099.
Ex: homicídio culposo (art. 121, §3º) – 1 a 3 anos, em concurso com o crime de ocultação
de cadáver (art. 211) – 1 a 3 anos = critério do cúmulo material, assim as penas podem chegar de
2 a 6 anos.
Interpreta-se esse cálculo conforme a Súmula 723 do STF, que considera a majorante
relativa à continuidade para a determinação da pena, aqui, mínima. O mesmo sistema se aplica à
aplicação da Súmula 243 do STJ, que trata do concurso de crimes e da continuidade delitiva. A
distinção entre a contagem da pena para o sursis do processo e para o procedimento reside no
fato de que no sursis busca-se a pena mínima, enquanto no procedimento busca-se a pena
máxima.
Frisa-se que as causas de aumento e de diminuição, de regra, tem quantum variável. Nesse
caso, o aumento deve ser o maior possível e a diminuição a menor possível. Busca-se, pois, a pior
pena possível. Em se tratando de causas de aumento, utiliza-se o quantum que mais aumenta a
pena; na hipótese de causas de diminuição, o quantum que menos diminui a pena (assim se
atinge o máximo da pena prevista para aquele delito)
Por outro lado, as agravantes e atenuantes não são levadas em consideração para o
cálculo da pena máxima. Isso porque, essas circunstâncias não prevêem critério fixo de aumento
ou de diminuição. O legislador não diz quanto se deve aumentar ou diminuir, não há parâmetro
legal previsto.
Primeiro, se faz a verificação do juízo com força atrativa. Ex: homicídio doloso conexo com
tráfico de drogas. O Tribunal do Júri exerce força atrativa (salvo militares e eleitorais), portanto, os
dois crimes seguirão o procedimento pertinente ao Tribunal do Júri.
Roubo – 4 a 10 anos (ordinário) + tráfico de drogas – 5 a 15 (proc. especial) – Revogada Lei
6368/76 (antiga lei de drogas), no seu art. 28 falava da reunião de processos no caso de conexão e
continência, cujo procedimento adotado deveria ser o da infração mais grave, ressalvado o
procedimento do júri e das jurisdições especiais. No exemplo dado, o procedimento a ser adotado
seria o tráfico. Todavia, essa lei não existe mais, e analisando a nova lei de drogas, ela nada disse
sobre o assunto.
A doutrina e a jurisprudência entendem que o procedimento não deve ser o do crime mais
grave, mas sim o procedimento mais amplo, ou seja, aquele que melhor assegure as partes o
exercício de suas faculdades processuais. O procedimento de drogas, a única vantagem é a defesa
prévia. O procedimento mais amplo é sempre o procedimento comum ordinário, devendo
prevalecer sobre o procedimento especial (mais testemunhas, audiência una em mais partes,
memoriais, etc). HC 204.658, STJ.
1. Lei antiga
O antigo procedimento ordinário relativo aos crimes punidos com reclusão tinha o seguinte
procedimento: a) Oferecimento da peça inicial; b) Recebimento ou rejeição da inicial; c) Citação do
acusado: pessoal ou por edital; d) Interrogatório; e) Defesa prévia; f) Oitiva de testemunhas de
acusação e de defesa; g) Diligências; h) Alegações finais; i) Eventuais diligências ex officio; j)
Sentença.
2. Oferecimento da inicial
Requisitos no art. 41 do CPP. A peça acusatória deve estar lastreada por elementos
normativos relacionados à autoria e a materialidade.
O juiz poderá receber (juízo positivo) ou rejeitar a peça acusatória (juízo negativo).
Em regra, a expressão “rejeição” deve ser compreendida como “não recebimento”. No
entanto, no TJ/RS, distingue-se a rejeição (mérito) do não recebimento (aspectos processuais).
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Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz,
se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para
responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. (Redação dada pela Lei nº
11.719, de 2008).
Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência,
ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o
caso, do querelante e do assistente. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
Há um aparente conflito entra esses dois dispositivos. Prevalece que a peça acusatória
deve ser recebida no momento do art. 396, CPP. HC 138.089.
Uma vez recebida a denúncia por um juiz, pode outro juiz rejeitar a denúncia? Há
divergências, mas se entende majoritariamente que não cabe ulterior rejeição (preclusão pro
judicato).
É possível rejeição parcial da peça acusatória? Sim, por mais que se entenda que não é
dado ao juiz alterar a classificação do fato delituoso no recebimento. Pode o juiz concluir que, por
exemplo, em denúncia por vários crimes, o Promotor é legitimado em relação a um crime, mas
não em relação a outro.
c) Recurso cabível
Rejeição é sinônimo de não recebimento.
Contra a rejeição da peça acusatória cabe RSE (art. 581, I). No entanto, pode o Promotor
oferecer nova acusação, eis que a decisão de rejeição somente faz coisa julgada formal.
Aqui, deve ser dada vista ao acusado para apresentar contrarrazões por meio de advogado
constituído. Não apresentada a peça, o juiz pode mandar os autos à Defensoria Pública ou a
defensor dativo (STF, Súmula 707).
Uma vez provido o recurso em sentido estrito da acusação, essa decisão já valerá como
recebimento da peça acusatória. Assim, sabendo-se que o recebimento suspende a prescrição,
esta se dará na data do julgamento ou na data da remessa dos autos à primeira instancia? Na data
do julgamento do recurso em segundo grau, salvo quando reconhecida a nulidade da decisão de
1º grau (STF, Súmula 709).
Frisa-se que na Lei do Juizado Especial o recurso é de APELAÇÃO, interposta em 10 dias.
(art. 82).
4. Recebimento da acusação
A inicial deve ser recebida quando não houver causa de rejeição da denúncia (art. 395 a
contrario sensu).
a) Momento
O Código traz o termo “recebimento” em dois dispositivos: art. 396 e art. 399 do CPP.
De acordo com o art. 399, o recebimento da inicial ocorreria após a notificação do
acusado, defesa preliminar e absolvição sumária.
Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência,
ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso,
do querelante e do assistente.
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Por outro lado, segundo o art. 396, o recebimento ocorre logo após o oferecimento da
denúncia, quando não se tratar de causa de rejeição da denúncia. É a corrente que prevalece nos
Tribunais.
Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se
não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder
à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.
Embora a intenção dos autores do anteprojeto tenha sido a criação de uma defesa
preliminar antes do recebimento da peça acusatória houve alteração do projeto pelo Congresso
Nacional, que preocupado com a interrupção da prescrição alterou a redação do art. 396 para aí
inserir o recebimento da peça acusatória.
Além disso, como o art. 363 dispõe que o processo terá completada a sua formação
quando realizada a citação do acusado, não seria possível que o juiz determinasse a citação o
acusado sem antes receber a peça acusatória.
Ademais, não é possível a absolvição sumária do acusado sem que antes tenha havido o
recebimento da peça acusatória.
b) Fundamentação da inicial
É necessária a fundamentação do recebimento da acusação? Há duas posições:
- O recebimento deve ser motivado (doutrina): é indispensável a fundamentação, sob pena
de nulidade. No entanto, essa fundamentação não deve conter excessos.
A fundamentação deve se basear, a contrario sensu, nas causas de rejeição do art. 395 do
CPP.
- O recebimento não precisa ser motivado (Tribunais): é dispensável a fundamentação, que
pode se dar, inclusive implicitamente, quando o juiz determina a citação do acusado. HC 68.926.
Exceção: há um caso em que os Tribunais entendem que o recebimento deve ser
fundamentado. É o que ocorre quando há previsão legal de defesa preliminar por parte do
acusado.
c) Consequências do recebimento
- Causa de fixação da competência por prevenção (art. 83 do CPP).
- Causa de interrupção da prescrição, quando o recebimento tenha sido proferido pelo
juízo competente. Sendo o recebimento proferido por juiz incompetente, anulada a decisão, a
interrupção também considera-se como não ocorrida.
- Segundo doutrina majoritária, o recebimento marca o início do processo (analogia ao art.
35 do CPPM). No entanto, para Nucci, o processo penal começa com o oferecimento da inicial.
5. Citação
a) Finalidade da citação
Com o advento da Lei 11.719/08 a finalidade da citação no procedimento comum é a
possibilidade de apresentação de resposta à acusação e não para fins de interrogatório, que é
realizado ao final do processo (art.396, CPP).
No entanto, em alguns procedimentos especiais a finalidade da citação continua sendo o
interrogatório, pois em alguns procedimentos, o interrogatório continua sendo o primeiro ato da
instrução:
1) Interrogatório no processo militar;
2) Interrogatório na Lei de Drogas (art. 57 da Lei 11.343/06)
3) Interrogatório no procedimento originário dos Tribunais* (Lei 8.038, art. 7º)
Cumpre lembrar que o STF, no AgRg 528/DF (24/03/11), entendeu que as mudanças
produzidas no procedimento comum também devem ser aplicadas no procedimento originário
dos tribunais, ou seja, o interrogatório no final da instrução.
Nesse caso, quando o interrogatório ainda não tiver sido realizado deverá ser realizado
conforme a sistemática atual, ou seja, ao final da instrução probatória.
I - O art. 400 do Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei 11.719/2008, fixou
o interrogatório do réu como ato derradeiro da instrução penal. II – Sendo tal prática benéfica à
defesa, deve prevalecer nas ações penais originárias perante o Supremo Tribunal Federal, em
32
detrimento do previsto no art. 7º da Lei 8.038/90 nesse aspecto. Exceção apenas quanto às ações
nas quais o interrogatório já se ultimou. III – Interpretação sistemática e teleológica do direito.
Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e,
ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a
prescrição. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1973)
No processo penal:
- Torna prevento o juízo a prática de um primeiro ato decisório, ainda que anterior ao
oferecimento da peça acusatória.
- A litispendência está presente a partir do momento que ocorrer o recebimento de nova
peça acusatória me face do mesmo acusado.
- A interrupção da prescrição ocorrerá com o recebimento da peça acusatória pelo juízo
competente.
c) Espécies de citação
Lei 11.419, que dispõe sobre a informatização do processo, pode ser aplicada ao processo
penal.
Art. 1o O uso de meio eletrônico na tramitação de processos judiciais, comunicação de
atos e transmissão de peças processuais será admitido nos termos desta Lei.
§ 1o Aplica-se o disposto nesta Lei, indistintamente, aos processos civil, penal e trabalhista,
bem como aos juizados especiais, em qualquer grau de jurisdição.
Indaga-se, a citação poderá ser feita por meio eletrônico, como por e-mail?
Não, tanto no processo penal como no ECA, não é possível a citação por meios eletrônicos.
Art. 6o Observadas as formas e as cautelas do art. 5 o desta Lei, as citações, inclusive da
Fazenda Pública, excetuadas as dos Direitos Processuais Criminal e Infracional, poderão ser
feitas por meio eletrônico, desde que a íntegra dos autos seja acessível ao citando.
Requisitos intrínsecos:
Requisitos extrínsecos:
Em se tratando de crimes ambientais, nos quais pode o acusado ser pessoa jurídica, o
mandado deverá ser entregue ao representante legal ou diretor com poderes.
Sendo o acusado reconhecidamente inimputável, a citação deverá ser feita na pessoa do
seu curador, nomeado em sede do incidente de insanidade (art. 149, §2º). Essa citação é chamada
de citação imprópria.
O art. 217 do CPC traz hipóteses que impedem a imediata citação. No entanto, essas
restrições não se aplicam ao processo penal.
Art. 355. § 1o Verificado que o réu se encontra em território sujeito à jurisdição de outro
juiz, a este remeterá o juiz deprecado os autos para efetivação da diligência, desde que
haja tempo para fazer-se a citação.
34
§ 2o Certificado pelo oficial de justiça que o réu se oculta para não ser citado, a precatória
será imediatamente devolvida, para o fim previsto no art. 362.
Art. 362. Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará
a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a
229 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil. (Redação dada
pela Lei nº 11.719, de 2008).
Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer,
ser-lhe-á nomeado defensor dativo. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
- Mediante requisição
No caso de militar, é feita requisição para que o militar compareça em certo local para fins
de citação, em respeito à hierarquia própria do serviço militar. Esse artigo somente é aplicado ao
militar da ativa.
Art. 358. A citação do militar far-se-á por intermédio do chefe do respectivo serviço.
Art. 359. O dia designado para funcionário público comparecer em juízo, como acusado,
será notificado assim a ele como ao chefe de sua repartição.
- Réu preso
O art. 360 é posterior à súmula 351, de forma que o réu deverá ser citado pessoalmente,
independentemente da unidade da federação em que estiver preso.
STF, Súmula 351. É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da federação
em que o juiz exerce a jurisdição.
A doutrina diz que o acusado está preso, deve ser citado pessoalmente, pouco importando
a localidade da prisão. Assim, a doutrina entende que a súmula 351 está ultrapassada. Dessa
forma, não interessa o local da federação.
Todavia, a jurisprudência como um todo entendem que a súmula 351 do STF continua
válida (HC 162.339, STJ, 2011). Como o acusado estava preso em outra unidade da federação,
poderia ser feita por edital.
Assemelha-se à carta precatória, mas deriva de hierarquia entre órgãos jurisdicionais. Ex.:
TJ/RS expede carta de ordem à Comarca de Ijuí.
Lei 8.038/90, art. 9º, §1º - o relator poderá delegar a realização de interrogatório.
Art. 368. Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta
rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento.
Deve-se ter atenção com o disposto no art. 222-A, segundo o qual as cartas rogatórias só
serão expedidas em caso de imprescindibilidade, arcando a parte com os custos do envio. Essa
exigência, no entanto, está prevista no capítulo que trata da prova testemunhal, não se aplicando
à citação do acusado por carta rogatória, cuja imprescindibilidade é presumida.
Frisa-se que não é possível citação por carta rogatória nos juizados especiais criminais,
devendo os autos ser encaminhados ao juízo comum, quando será cabível a citação por rogatória.
Também se utiliza de carta rogatória para a realização de legações estrangeiras que
embaixadas e consulados no território nacional. Assim, as pessoas que moram numa embaixada
devem ser citadas por carta rogatória. Não se aplica ao embaixador, dotado de imunidade
diplomática, mas sim aos demais funcionários.
Art. 369. As citações que houverem de ser feitas em legações estrangeiras serão efetuadas
mediante carta rogatória.
Nesse caso, ao que parece, não haverá suspensão da prescrição. Embora haja quem diga
que deve haver a suspensão, tratando-se a prescrição de matéria penal prejudicial ao acusado,
entende-se que não se aplica, pois seria uma analogia in malam partem.
c.1. Citação presumida (ficta): Trabalha-se com uma presunção de que o acusado tomou
ciência da acusação. É uma medida excepcional. Divide-se em:
Art. 361. Se o réu não for encontrado, será citado por edital, com o prazo de 15 (quinze)
dias.
36
Hoje se entende que basta que o edital indique a imputação, não sendo necessária a cópia
da denúncia.
Art. 365, V, prazo de dilação, ou seja, prazo em que o edital fica publicado. Aguardar o
decurso do prazo de 15 dias, após que a citação se considera feita.
STF, Súmula 366. Não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei penal,
embora não transcreva a denúncia ou queixa, ou não resuma os fatos em que se baseia.
O prazo para a prática do ato pelo réu só começa a correr a partir do decurso do prazo
dilatório do edital (15 dias).
Hipóteses:
a) Acusado em local incerto e não sabido (art. 361)
b) Acusado em local inacessível (analogia ao art. 231, II, CPC)
Essa disposição encontrava-se prevista no art. 363, I, hoje revogada. A intenção do
legislador não foi a de suprimir essa disposição, pois se encontrava prevista em outro artigo, que,
porém, foi vetado pelo Presidente.
Desse modo, aplica-se subsidiariamente o art. 231, II, do CPC.
Ex.: favela não é local inacessível.
Antes da citação por edital, devem ser esgotados os meios de localização do acusado (STF)
Conseqüências da citação por edital: aplica-se o art. 366 – haverá a suspensão do processo
e da prescrição.
Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão
suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção
antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos
termos do disposto no art. 312.
* Vide aula de lavagem de capitais.
a) Direito Intertemporal:
1995 = citado por edital = decretação da revelia = nomeação de advogado dativo = prosseguimento do feito
Lei 9.271/96 = art. 366 = citado por edital = suspensão do processo e da prescrição.
A nova redação do art. 366 só foi aplicada aos crimes cometidos após a vigência da lei 9271/96, evitando-se assim a
retroatividade da suspensão da prescrição, que é norma de direito material mais prejudicial ao acusado.
STJ: a prescrição fica suspensa de acordo com o prazo da prescrição da pretensão punitiva abstrata, findo esse prazo,
o processo continuará suspenso, mas a prescrição voltará a correr novamente
Súmula 415: o período da suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada.
STF: o processo e a prescrição podem permanecer suspensos por prazo indeterminado (RE 460.971).
***O Supremo reconheceu a existência de repercussão geral no RE 600.851, no qual voltará a discutir a matéria
Para o STJ essa produção antecipada de prova urgente deve ser feita nos termos do art. 225 do CPP. O simples
argumento de que testemunha tem memória curta não é suficiente por si só para autorizar a colheita da prova
antecipada.
Súmula 455 do STJ: A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366 deve ser
concretamente fundamentada à luz do art. 225 do CPP.
Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que
ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes,
tomar-lhe antecipadamente o depoimento.
d) Prisão preventiva: O art. 366 do CPP não criou hipótese de prisão preventiva obrigatória. Na verdade, sua
decretação depende dos pressupostos dos arts. 312 e 313 do CPP.
e) Lei 9.613/98
Art. 2º, §2º: não se aplica o art. 366 do CPP aos crimes de lavagem de capitais.
(posição minoritária) --- prova objetiva
Há doutrinadores que dizem que o art. 366 pode ser aplicado na lei de lavagem.
1º argumento: art. 2º, §2º da Lei 9613/98 viola a CF. preservar o direito de defesa suspendendo o processo e
a prescrição.
2º argumento: a própria lei de lavagem faz menção à aplicação do art. 366 do CPP, no art. 4º, §3º da lei:
§ 3º. Nenhum pedido de restituição será conhecido sem o comparecimento pessoal do acusado, podendo o juiz
determinar a prática de atos necessários à conservação de bens, direitos ou valores, nos casos do art. 366 do Código
de Processo Penal.
(antinomia de leis)
38
Art. 362. Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará
a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a
229 do Código de Processo Civil.
Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer,
ser-lhe-á nomeado defensor dativo.
Art. 227. Quando, por três vezes, o oficial de justiça houver procurado o réu em seu domicílio ou residência,
sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, intimar a qualquer pessoa da família, ou em sua falta
a qualquer vizinho, que, no dia imediato, voltará, a fim de efetuar a citação, na hora que designar.
Art. 228. No dia e hora designados, o oficial de justiça, independentemente de novo despacho, comparecerá ao
§ 1o Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça procurará informar-se das razões da ausência, dando
por feita a citação, ainda que o citando se tenha ocultado em outra comarca.
§ 2o Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará contrafé com pessoa da família ou com qualquer
Art. 229. Feita a citação com hora certa, o escrivão enviará ao réu carta, telegrama ou radiograma, dando-lhe
de tudo ciência.
Citado o acusado por hora certa não se suspendem o processo e a prescrição, ao contrário
do que ocorre na citação por edital. Na citação por hora certa, o acusado que não apresentar
resposta à acusação, será decretado a sua revelia, ou seja, o processo retomará seu curso normal
com a nomeação de defensor dativo.
Citação por hora certa x Convenção Americana sobre Direitos Humanos (art. 8º, §2º, “B”)
Se o acusado se oculta para não ser citado, não se pode premiar a sua torpeza com a
suspensão do processo e da prescrição. Portanto, não há qualquer violação à Constituição e
Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
Para a Defensoria Pública, dizer que é incompatível.
Juizados Especiais: Cabe citação por hora certa nos juizados especiais. Não cabe apenas
citação por edital e por carta rogatória. (Enunciado 110, 25º FONAJE)
39
6. Revelia
Ocorre quando o acusado citado pessoalmente (art. 367) ou por hora certa (art. 362, p.
único) não apresenta resposta à acusação ou quando não comparecer para ato judicial ao qual
tenha sido intimado, injustificadamente.
Por outro lado, ao citado por edital, que não comparece e não constitui advogado, aplicam-
se as disposições do art. 366, suspendendo-se o processo e o prazo prescricional.
Por conta da decretação da revelia, o processo seguirá sem a presença do acusado,
assegurada, porém, à assistência da defesa técnica.
Art. 367. O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado
pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou, no caso
de mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo.
Efeitos da revelia:
a) Não haverá presunção de veracidade dos fatos narrados na inicial
Isso decorre da regra probatória que deriva do princípio da presunção de inocência, pois,
mesmo quando o acusado for revel o ônus da prova é da acusação. É contrária à previsão do
processo civil.
Cessação da revelia:
Irá ocorrer caso o acusado compareça posteriormente. O acusado receberá o processo no
estado em que se encontrar.
Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se
não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à
acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. No caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a fluir a
partir do comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído.
Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo o que
interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas
pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando
necessário.
§ 1o A exceção será processada em apartado, nos termos dos arts. 95 a 112 deste Código.
§ 2o Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir
defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10
(dez) dias.
a) Distinções
Cumpre, de início, fazer algumas distinções:
Consequência Não apresentada a defesa, Súmula 303 do STJ diz que a A ausência da resposta à
só haveria nulidade se a resposta preliminar é acusação é causa de nulidade
defesa não fosse intimada desnecessária na ação penal absoluta, devendo ser
para a apresentação. instruída por inquérito policial. nomeado defensor dativo,
Isso porque era comum o Essa súmula só fala da defesa com prazo adicional de 10
acusado não apresentar preliminar do art. 514. Viola o dias.
defesa por não possuir princípio da isonomia e do
testemunhas devido processo legal.
Já o STF entende que a
ausência de defesa preliminar
é causa de nulidade relativa,
conforme entendimento dos
Tribunais: STF, HC 85.779
(obter dictum)/ 100.515 /
89.517
STJ, HC 144.417 / 173.384
A nulidade deve ser arguida
oportunamente (ocasião da
citação) e demonstrar o
prejuízo.
- Somente é aplicável aos crimes funcionais típicos. O simples fato de ser funcionário
público não acarreta a aplicação desse procedimento. Apenas os crimes previstos nos arts. 312-
326. STJ RHC 22.118.
- Não se aplica aos corréus particulares.
- Só é necessária enquanto o agente estiver no exercício da função pública. Pois essa
defesa existe apenas para proteger o cargo.
Parágrafo único. Se não for conhecida a residência do acusado, ou este se achar fora da
jurisdição do juiz, ser-lhe-á nomeado defensor, a quem caberá apresentar a resposta
preliminar.
Apesar desse §ú, a doutrina entende que o acusado deve ser intimado perante carta
precatória.
A Súmula 330 do STJ foi editada em razão de ser comum a inobservância da defesa
preliminar em razão de funcionário público.
STJ, Súmula 330. É desnecessária a resposta preliminar de que trata o artigo 514 do Código
de Processo Penal (funcionário público), na ação penal instruída por inquérito policial.
É por isso que o STF é contrário a essa súmula, conforme discussão incidental no HC
85.779.
Art. 394. § 4o As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os
procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código.
Não está prevista expressamente no âmbito do procedimento comum. Para o STJ essa
oitiva não deve ser realizada após a resposta à acusação.
Não parece, porém, ser acertado o entendimento do STJ, eis que podem ser juntados
documentos em sede de resposta à acusação, capazes de gerar, inclusive, a absolvição sumária do
acusado.
Desse modo, apesar de não haver previsão legal, a doutrina vem entendendo que, diante
de fatos ou provas dos quais o MP não tinha prévia ciência, deve o órgão ministerial ser ouvido
após a apresentação da resposta à acusação, em fiel observância ao princípio do contraditório,
aplicando-se subsidiariamente o art. 409 do CPP (procedimento do júri).
Art. 409. Apresentada a defesa, o juiz ouvirá o Ministério Público ou o querelante sobre
preliminares e documentos, em 5 (cinco) dias.
9. Absolvição sumária
Foi introduzida no procedimento comum pela Lei 11.719/08. Antes disso, a absolvição
sumária era prevista somente em sede de:
a) Procedimento do Júri (art. 415);
b) Procedimento originário dos Tribunais (Lei 8.038/90, art. 6º);
44
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz
deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo
inimputabilidade;
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou
IV - extinta a punibilidade do agente.
Esse artigo é aplicado em qualquer procedimento de 1º grau, ainda que não regulado pelo
CPP. Inclusive pode ser aplicada no processo penal militar.
julgada (Há uma efetiva análise do mérito, diferentemente da rejeição da peça acusatória,
que sói faz coisa julgada formal – aspectos processuais)
Recurso Admite recurso de apelação (art. 593, I, CPP), salvo no caso da extinção da
punibilidade (pois não tem natureza absolutória, mas sim declaratória
extintiva da punibilidade), que admite RSE (art. 581, VIII).
Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando: (Redação
dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – provada a inexistência do fato; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de
2008)
III – o fato não constituir infração penal; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime. (Redação dada pela
Lei nº 11.689, de 2008)
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de
inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de
1940 – Código Penal, salvo quando esta for a única tese defensiva. (Incluído pela Lei nº
11.689, de 2008)
a) Prazo da AIJ
- Procedimento ordinário: até 60 dias;
- Procedimento sumário: até 30 dias.
Síntese:
1. Oferecimento da denúncia ou da queixa
2. Juízo de admissibilidade da peça acusatória (recebimento ou rejeição)
3. Citação (se recebida a peça acusatória)
4. Resposta à acusação (art. 396-A)
5. Oitiva do MP ou querelante
6. Absolvição sumária (art. 397)
7. Designação da audiência una de instrução e julgamento
- No procedimento comum ordinário: até 60 dias
- No procedimento comum sumário: até 30 dias
Antes das alterações de 2008, a substituição estava prevista na antiga redação do art. 397
do CPP. Após as alterações de 2008, porém, esse artigo passou a tratar da absolvição sumária.
Hoje, então, não há norma que defina a substituição de testemunhas. No entanto, os
Tribunais continuam entendendo como possível a substituição de testemunhas, mas com
fundamento no art. 408 do CPC.
CPC, Art. 408. Depois de apresentado o rol, de que trata o artigo antecedente, a parte só
pode substituir a testemunha: I - que falecer; II - que, por enfermidade, não estiver em condições
de depor; III - que, tendo mudado de residência, não for encontrada pelo oficial de justiça.
b) Desistência da oitiva de testemunhas
Enquanto a testemunha não for ouvida, “pertencerá” à parte que a arrolou, pouco
importando a concordância da parte contrária. É por isso que, por vezes, a defesa e a acusação
podem arrolar as mesmas testemunhas.
Ou seja, a desistência é possível, independentemente da concordância da parte contrária,
salvo se esta também arrolou a mesma testemunha.
Art. 401. § 2o A parte poderá desistir da inquirição de qualquer das testemunhas arroladas,
ressalvado o disposto no art. 209 deste Código (testemunhas indicadas pelo juízo).
Exceção: no Plenário do Júri, instalada a sessão, a desistência de testemunha depende da
concordância da parte contrária, do juiz presidente e dos jurados.
c) Retirada do acusado da sala de audiências
Em razão da ampla defesa é conferida a possibilidade de autodefesa ao acusado, que se
divide em três: 1) Direito de audiência: ser ouvido pelo juiz em sede de interrogatório; 2) Direito
de presença: acompanhar a instrução do processo; 3) Capacidade postulatória autônoma: em
situações expressas.
O direito de presença do acusado não é absoluto, podendo sofrer restrições quando se
verificar que a presença do acusado causa temor ao ofendido e às testemunhas. Essa retirada
deve ser fundamentada pelo juiz na ata de audiência.
A Lei prevê que primeiro deve ser realizada a oitiva da testemunha por videoconferência
(1º). Não sendo possível, poderá o juiz determinar a retirada do acusado da audiência (2º), o que
não inviabilizará a defesa técnica do acusado (presença do defensor na audiência).
Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou
sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do
depoimento, fará a inquirição por videoconferência (1º) e, somente na impossibilidade dessa
forma, determinará a retirada do réu (2º), prosseguindo na inquirição, com a presença do seu
defensor.
Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas no caput deste artigo deverá
constar do termo, assim como os motivos que a determinaram.
Na Justiça do RS tem-se realizado o “depoimento sem danos”, principalmente para a oitiva
de testemunhas ou vítimas que sejam crianças, que serão ouvidas por psicólogo habilitado.
d) Inversão da ordem de oitiva das testemunhas
49
3.12. Diligências
Ao final da audiência, as partes poderão requerer diligências referentes aos fatos que
surgirem durante o curso do processo.
Antigamente essa fase de diligências era autônoma, por escrito. Hoje, o pedido de
diligências deve ser realizado ao final da própria audiência, podendo o pedido ser ou não, deferido
pelo juiz.
Art. 402. Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Público, o querelante e o
assistente e, a seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja necessidade se origine de
circunstâncias ou fatos apurados na instrução. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
51
Acusação ---- juízo de admissibilidade ---- citação ---- resposta à acusação ---- oitiva MP ----
Recebimento 396-A
Análise de possível ---- Rejeitado o pedido de absolvição sumária, diz o art. 399 que o juiz
absolvição sumária deve designar a audiência una de instrução e julgamento
2. Princípio da oralidade
b) Imediatismo da relação do juiz com a prova: Como a ideia é a de fazer uma única
audiência, o juiz da instrução terá contato direto com a prova, decidindo com verdadeiro
conhecimento da causa (busca pela verdade).
d) Princípio da identidade física do juiz: Foi introduzido no procedimento comum pela Lei
11.719/08. O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. (Incluído pela Lei nº 11.719,
de 2008, art. 399. § 2o).
Segundo a doutrina e os Tribunais, aplica-se, subsidiariamente, o art. 132 do CPC:
Art. 132. O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide, salvo se
estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado,
casos em que passará os autos ao seu sucessor.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese, o juiz que proferir a sentença, se entender
necessário, poderá mandar repetir as provas já produzidas.
O princípio da identidade física do juiz não impede a realização de atos instrutórios por
carta precatória ou rogatória ou por meio de videoconferência. (HC 135.416/2010).
53
Obs: Magistrado Instrutor (Lei 8.038, art. 3º, III, alterada pela Lei 12.019/09)
São os juízes estaduais ou federais, bem como desembargadores dos TJ’s ou TRF’s
convocados pelos ministros do STF ou STJ, pelo prazo de 6 meses, prorrogável por igual período,
até o máximo de 2 anos, para realizar a instrução dos processos nos casos de competência
originária dos Tribunais superiores. Este juiz não irá decidir, mas tão somente instruir o processo.
Ex: mensalão.
Essa figura é plenamente compatível com o princípio da identidade física do juiz.
O juiz não pode se valer de poderes adivinhatórios para supor que a prova é irrelevante,
impertinente ou protelatória. Só poderá indeferir as provas quando tiver certeza. Nesse caso, para
ter certeza, recomenda-se que o juiz pergunte ao advogado o motivo de inquirição da
testemunha, para após deferir ou indeferir.
*STF: RHC 83.987
*CPP: art. 400, §1º; art. 22-A
Última possibilidade de instrução que as partes podem pedir ao juiz. (art. 402, antes no
revogado art. 499)
Esse requerimento deve ser feito na própria audiência una de instrução e julgamento.
Apenas diligência cuja necessidade tenha surgido durante a instrução do processo.
Recurso adequado:
a) Deferimento de diligência protelatória: Correição parcial
b) Indeferimento de diligência indispensável: não há recurso, assim, suscitar uma
preliminar de cerceamento da acusação ou da defesa em futura e eventual apelação.
O juiz também poderá realizar de ofício a realização de diligências. Somente deve ser feita
de maneira residual, de modo a não substituir às partes no tocante às provas.
Antes das alterações de 2008, as alegações eram sempre alegações finais apresentadas por
escrito (memoriais).
Regra: após 2008, em regra, as alegações devem ser realizadas de forma oral. As alegações
devem ser realizadas por meio de breve resumo dos fatos, lavradas em termo (art. 405).
Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão oferecidas
alegações finais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela acusação e pela
defesa, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença.
§ 1o Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será
individual.
As alegações devem ser orais, já que o procedimento deve ser preferencialmente oral. O
escrivão apenas deve fazer um breve resumo para constar em ata. (art. 405, CPP). Não pode ser
“ditado” ou em “pen drive”.
Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão oferecidas
alegações finais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela acusação e pela
defesa, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença. (Redação
dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 1o Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será
individual.
Prazo: em 5 dias.
56
- Complexidade da causa;
- Número de acusados;
- Deferimento de diligências ao final da audiência;
- Interrogatório por precatória
- Acordo entre as partes: essa situação não se encontra prevista na Lei, mas ocorre muito
na prática.
- Nulidades.
a) Relativa: deve ser arguida sob pena de preclusão.
b) Absoluta: talvez seja mais interessante arguir esta nulidade posteriormente. (defesa)
c) MP arguir a nulidade absoluta ou relativa, desde já.
- Pedido
a) MP: condenação ou absolvição
b) Defesa: absolvição, exclusão de qualificadoras, exclusão de causas de aumento de pena,
desclassificação, etc.
- Advogado do querelante
a) Ação penal privada subsidiária da pública: MP reassume o pólo ativo.
b) Ação penal privada exclusiva personalíssima: terá a falta de pedido de condenação, ou
seja, perempção (art. 60, III). Causa de extinção de punibilidade.
STF, Súmula 523. No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a
sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.
Não apresentados memoriais pela defesa constituída, deve o juiz intimar o acusado para
que constitua novo defensor, sob pena de nomeação da defensoria pública para a apresentação
da defesa, sem prejuízo da aplicação de multa ao advogado desidioso.
STF, HC 92.680.
Desse modo, entende-se que o juiz só pode proferir decisão final após a apresentação de
alegações finais.
5. Sentença
a) Substituição de testemunhas
Antes das alterações de 2008, a substituição estava prevista na antiga redação do art. 397
do CPP. Após as alterações de 2008, porém, esse artigo passou a tratar da absolvição sumária.
Hoje, então, não há norma que defina a substituição de testemunhas. No entanto, os
Tribunais continuam entendendo como possível a substituição de testemunhas, mas com
fundamento no art. 408 do CPC.
CPC, Art. 408. Depois de apresentado o rol, de que trata o artigo antecedente, a parte só
pode substituir a testemunha: I - que falecer; II - que, por enfermidade, não estiver em condições
de depor; III - que, tendo mudado de residência, não for encontrada pelo oficial de justiça.
Art. 401. § 2o A parte poderá desistir da inquirição de qualquer das testemunhas arroladas,
ressalvado o disposto no art. 209 deste Código (testemunhas indicadas pelo juízo).
Exceção: no Plenário do Júri, instalada a sessão, a desistência de testemunha depende da
concordância da parte contrária, do juiz presidente e dos jurados.
Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou
sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do
depoimento, fará a inquirição por videoconferência (1º) e, somente na impossibilidade dessa
forma, determinará a retirada do réu (2º), prosseguindo na inquirição, com a presença do seu
defensor.
Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas no caput deste artigo deverá
constar do termo, assim como os motivos que a determinaram.
Eventual inversão da ordem fora dessas hipóteses é causa de mera nulidade relativa. Não
será reconhecida a nulidade no caso de testemunha abonatória que pode ser ouvida antes do
encerramento das testemunhas da acusação, pois não haverá prejuízo efetivo.
Interrogatório do acusado
Em regra, no procedimento comum, o interrogatório do acusado será realizado ao final da
audiência.
Exceção:
Em sede de delação premiada, conforme a Lei 9.807/89, art. 19-A (Lei de proteção às
testemunhas), pode ser invertida a ordem de oitiva do acusado que delatar os outros acusados,
sendo inquirido antecipadamente, logo após a citação.
Art. 19-A. Terão prioridade na tramitação o inquérito e o processo criminal em que figure
indiciado, acusado, vítima ou réu colaboradores, vítima ou testemunha protegidas pelos
programas de que trata esta Lei.
Parágrafo único. Qualquer que seja o rito processual criminal, o juiz, após a citação,
tomará antecipadamente o depoimento das pessoas incluídas nos programas de proteção
previstos nesta Lei, devendo justificar a eventual impossibilidade de fazê-lo no caso concreto ou o
possível prejuízo que a oitiva antecipada traria para a instrução criminal. (Incluído pela Lei nº
12.483, de 2011)
PROCEDIMENTO SUMÁRIO
PROCEDIMENTO DO JÚRI
1. Princípios constitucionais
A ampla defesa (art. 5º, LV) diferencia-se da plenitude de defesa na medida em que aquela
é assegurada a todos os acusados, inclusive aos acusados por crime submetido ao Júri.
Já a plenitude de defesa é assegurada apenas aos acusados de crimes no Tribunal do Júri.
Trata-se de um instituto que vai além da ampla defesa.
Art. 497. V – nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso, podendo, neste
caso, dissolver o Conselho e designar novo dia para o julgamento, com a nomeação ou a
constituição de novo defensor;
- Plenitude da autodefesa
O acuado é livre para apresentar em seu interrogatório tese defensiva, ainda que distinta
daquela apresentada por seu advogado, tese esta que deve ser obrigatoriamente quesitada aos
jurados, sob pena de nulidade absoluta. (STF: HC 96.905 e HC 85.969)
62
A ninguém é dado conhecer o sentido do voto do jurado (se voto sim ou votou não). O que
realmente é sigiloso é o voto do jurado e não a votação em si. O voto é sigiloso porque ninguém
deve saber o teor do voto do jurado, até mesmo para a sua proteção.
Essa garantia vigora até a data do julgamento. Encerrada a sessão e proclamada o
veredicto, já não há mais a proteção do sigilo. Assim, se for revelado posteriormente, não causará
a nulidade do júri.
Para tanto, utiliza-se de:
Art. 93, IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença,
em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em
casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não
prejudique o interesse público à informação;
Não estarão presentes na sala especial o público em geral e o acusado (salvo se o próprio
acusado exercer sua defesa técnica).
Art. 485. Não havendo dúvida a ser esclarecida, o juiz presidente, os jurados, o Ministério
Público, o assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça
dirigir-se-ão à sala especial a fim de ser procedida a votação.
§ 1o Na falta de sala especial, o juiz presidente determinará que o público se retire,
permanecendo somente as pessoas mencionadas no caput deste artigo.
§ 2o O juiz presidente advertirá as partes de que não será permitida qualquer intervenção
que possa perturbar a livre manifestação do Conselho e fará retirar da sala quem se portar
inconvenientemente.
Art. 466. Antes do sorteio dos membros do Conselho de Sentença, o juiz presidente
esclarecerá sobre os impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades constantes dos
arts. 448 e 449 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o O juiz presidente também advertirá os jurados de que, uma vez sorteados, não
poderão comunicar-se entre si e com outrem, nem manifestar sua opinião sobre o
processo, sob pena de exclusão do Conselho e multa, na forma do § 2o do art. 436 deste
Código. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
- Votação unânime
Antes de 2008 todos os votos eram contabilizados. Logo, no caso de votação unânime (7 x
0) era possível saber o sentido do voto de cada um dos jurados.
Com as alterações de 2008, basta a abertura de 4 votos em um mesmo sentido, conforme
art. 483 e §§.
§ 1o A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos quesitos referidos nos
incisos I e II do caput deste artigo encerra a votação e implica a absolvição do acusado.
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos
incisos I e II do caput deste artigo será formulado quesito com a seguinte redação:
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Essa forma deve ser usada para todos os demais quesitos e não apena para os quesitos I e
II.
O Tribunal formado por juízes togados não pode modificar no mérito (condenação e
absolvição) a decisão proferida pelo Tribunal do Júri, sob pena de usurpação de sua competência
constitucional para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.
Ex.: denúncia pelo art. 121, §2º, I – sentença condenatória pelo art. 121, caput, com pena
de 6 anos – apelação exclusiva da defesa – Tribunal anula sentença condenatória – novo
julgamento no Tribunal do Júri – os jurados não se submetem ao teto da antiga pena, mas o juiz
deve atentar para o teto, quando a decisão dos jurados tenha sido idêntica a 1ª.
Os jurados são soberanos. Portanto, em um segundo julgamento, podem reconhecer
qualificadoras e/ou causas de aumento de pena que não foram reconhecidas no julgamento
anterior. Porém, se o resultado da votação do segundo julgamento for idêntico ao primeiro, o juiz
presidente não poderá agravar a pena do acusado, sob pena de violação ao princípio da “non
reformatio in pejus indireta”.
Frisa-se que há, no entanto, decisão do STF em sentido contrário:
Júri é um órgão do poder judiciário, só organizado por lei no âmbito da Justiça Estadual e
Justiça Federal. Não existe na Justiça Militar e Eleitoral.
65
Ex: policiais federais foram assassinados no exercício de suas funções – Júri da JF.
Trata-se da competência para processo e julgamento dos crimes previstos nos arts. 121 a
126 do CP.
Cuida de competência mínima, que não pode ser suprimida nem mesmo por emenda
constitucional (cláusula pétrea).
No entanto, pode essa competência ser ampliada, desde que a ampliação seja realizada
por lei. Ex.: crimes conexos e continentes, salvo se eleitorais ou militares (competência de Justiça).
STF, Súmula 721. A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro
por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.
Crime de homicídio doloso praticado por civil contra militar das forças armadas em
serviço (STF)
Esse crime será julgado pela Justiça Militar da União (HC 91.003).
b) Agravantes e atenuantes
No entanto, com as alterações de 2008, agravantes e atenuantes deixaram de ser
quesitada aos jurados, não gozando mais da proteção da soberania dos veredictos. Portanto,
havendo erro ou injustiça no tocante à aplicação de agravante ou atenuante, é possível que o
Tribunal de Justiça faça o juízo rescindente e rescisório por ocasião do julgamento de eventual
apelação, eis que tal matéria é de competência do juiz presidente.
c) Fundamentação vinculada
A apelação do júri trata-se de recurso de fundamentação vinculada, na medida em que o
efeito devolutivo da apelação é adstrito aos fundamentos da sua interposição (STF, Súmula 713).
Se a nulidade for anterior à pronúncia, deve ser impugnada no recurso interposto contra a
própria pronúncia, ou seja, em sede de RSE (art. 581 do CPP). Por isso, ao tratar da apelação do
art. 593, o CPP faz menção à nulidade posterior à pronúncia.
Tanto a nulidade absoluta quanto à relativa podem ser impugnadas por meio da apelação
do art. 593, III, a, sendo que a nulidade relativa deve ser arguida oportunamente, sob pena de ter
se operado a preclusão.
Em regra, ao julgar essa apelação, limita-se o juízo ad quem a fazer mero juízo rescindente,
desconstituindo a decisão impugnada.
Ex.: violação à plenitude de defesa.
Trata-se da ação autônoma que só pode ser ajuizada após o trânsito em julgado da
sentença condenatória ou absolutória imprópria.
É cabível contra decisões do Júri, não havendo violação à soberania dos veredictos, já que a
revisão vem ao encontro da proteção da liberdade do acusado. Não se pode perpetuar um erro
judiciário sob o argumento de que foi proferido pelo júri.
Parte da doutrina entende que não pode o Tribunal absolver, desde já, o acusado, devendo
devolver o caso ao julgamento do Tribunal do Júri. Porém, prevalece nos Tribunais o
entendimento de que podem os Tribunais realizar o juízo rescindente e, desde já, o juízo
rescisório.
Tem início com o oferecimento da denúncia ou queixa. Aqui, há apenas participação do juiz
singular.
Admite-se ação penal privada subsidiária da pública, bem como a conexão de crime de Júri
com crime de ação penal privada. Neste caso, pode o juiz determinar a separação do processo por
conveniência, eis que a conexão é causa de competência relativa (art. 80 do CPP).
69
d) Na primeira fase do júri não há previsão legal expressa acerca da substituição das
alegações finais por memoriais (art. 411, §4º). No entanto, na prática, admite-se a
substituição, é comum as partes fazerem acordo para que ambas apresentem
memoriais. Havendo esse acordo, não haverá nulidade, pelo princípio da boa-fé.
70
A partir de 2008, passou-se a prever o prazo de 90 dias para a conclusão da primeira fase
(art. 412 do CPP). Esse prazo vale tanto para o julgamento de acusado preso ou solto.
Em se tratando de réu preso, eventual excesso abusivo autoriza o relaxamento da prisão.
Perante o acusado solto, esse prazo funciona como prazo impróprio, cuja inobservância não
acarreta nenhuma consequência jurídica.
Conhecida como judicium causae ou juiz da causa. Inicialmente se terão juiz presidente e
posteriormente se forma o conselho de sentença.
Antes de 2008, essa fase tinha início com o oferecimento de libelo acusatório. No entanto,
com a vigência dessa lei, extinguiu-se o libelo.
Essa fase inicia-se com a preclusão da decisão de pronúncia (quando não couber mais
recurso dessa decisão), com a preparação do processo para julgamento em Plenário (art. 421 do
CPP). A preparação somente conta com a participação do juiz.
Art. 421. Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz presidente
do Tribunal do Júri. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, havendo circunstância superveniente que
altere a classificação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público.
§ 2o Em seguida, os autos serão conclusos ao juiz para decisão.
Seção III
Da Preparação do Processo para Julgamento em Plenário
A fase termina com a sessão de julgamento no Plenário do Júri, com a participação do juiz
+ 25 jurados convocados. Apenas 7 desses 25 farão parte do Conselho de Sentença.
Essa sessão culminará nas seguintes decisões:
a) Sentença absolutória;
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b) Sentença condenatória;
c) Desclassificação.
Não há artigo expresso referindo prazo para a conclusão da 2ª fase, mas se aplicam os
termos do art. 428 do CPP, ou seja, o prazo para a conclusão seria 6 meses contados da preclusão
da decisão de pronúncia (prazo de desaforamento), desde que a defesa não tenha concorrido
para essa dilação.
Art. 428. O desaforamento também poderá ser determinado, em razão do comprovado
excesso de serviço, ouvidos o juiz presidente e a parte contrária, se o julgamento não
puder ser realizado no prazo de 6 (seis) meses, contado do trânsito em julgado da decisão
de pronúncia.
5. Impronúncia
O acusado deve ser impronunciado quando o juiz não estiver convencido da existência do
crime (materialidade) ou de indícios suficientes de autoria ou participação.
Ex: Caso goleiro Bruno
a) Natureza jurídica
Apesar do teor do art. 416 do CPP, a impronúncia não aprecia o mérito da causa, razão pela
qual se trata de decisão interlocutória mista terminativa.
É interlocutória porque não aprecia o mérito. É mista porque põe fim a uma fase
procedimental (1ª fase do júri). É terminativa porque extingue o processo.
b) Coisa julgada
Em regra, a decisão de impronuncia só faz coisa julgada formal. Significa dizer que, diante
do surgimento de provas novas, é possível o oferecimento de outra peça acusatória.
Não se deve falar em “reabertura do mesmo processo”, mas sim em abertura de outro
processo (art. 414, p. único). Será instaurado um novo processo. Os autos antigos até podem ser
apensados.
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Parágrafo único. Enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, poderá ser formulada
nova denúncia ou queixa se houver prova nova.
Antes da Lei de 2008 o acusado era impronunciado quando o juiz não estivesse
convencido:
1. sobre a existência do crime e indícios de autoria ou de participação (coisa julgada
formal);
2. se provada a inexistência do fato (coisa julgada formal e material);
3. negativa de autoria (coisa julgada formal e material);
4. atipicidade formal ou material da conduta (coisa julgada formal e material).
Com as alterações de 2008, as últimas três hipóteses, chamadas antes de “impronúncia
absolutória”, deixaram de ser causa de impronúncia, passando a autorizar a absolvição sumária.
Hoje, fazem só coisa julgada formal.
c) Infrações conexas
Preclusa a decisão de impronúncia, os crimes conexos ao delito de júri serão remetidos ao
juízo singular competente.
d) Despronúncia
Trata-se de uma anterior decisão de pronúncia é transformada em impronúncia em virtude
da interposição do recurso em sentido estrito, que tem como característica o juízo de retratação
por parte do magistrado. Diante disso, a despronúncia pode ser declarada pelo “juízo a quo” ou
“ad quem”.
O RESE é dotado de juízo de retratação. Assim, quando é interposto, primeiro vai para o
juízo sumariante e após pelo Tribunal. Assim, a despronúncia pode ser feita tanto pelo juiz
sumariante como pelo Tribunal.
e) Recurso
Antes da Lei de 2008, o recurso cabível era o RSE. Após, o recurso passou a ser a apelação.
A vigência da lei 09/08/2008. Se na data da publicação da decisão a lei já estava vigente, essa que
deve ser aplicada.
São legitimadas para interpor a apelação:
1) MP e querelante;
2) Defesa (acusado e defensor) desde que demonstre que tem interesse em absolvição
sumária;
3) Ofendido ou seus sucessores, habilitados ou não como assistente da acusação. Este
recurso é subsidiário ao do MP.
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Parágrafo único. O prazo para interposição desse recurso será de quinze dias e correrá do
dia em que terminar o do Ministério Público.
6. Desclassificação
Deve ocorrer quando o juiz entender que a imputação não versa sobre crime doloso contra
a vida.
A desclassificação de crimes do júri só se opera quando sair da esfera do julgamento em
Plenário do Júri. Ou seja, havendo alteração da tipificação de crime de homicídio para crime de
infanticídio, ainda haverá pronúncia.
Ex: homicídio no transito (dolo eventual) desclassificado para homicídio culposo no
trânsito.
Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de
crime diverso dos referidos no § 1 o do art. 74 deste Código e não for competente para o
julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja. Parágrafo único. Remetidos os autos do
processo a outro juiz, à disposição deste ficará o acusado preso.
Admite-se, inclusive, a desclassificação para crime mais grave. Ex.: de homicídio simples
para latrocínio, etc.
a) Desqualificação
Não se confunde com a desqualificação, que trata da exclusão de qualificadoras. Trata-se
de medida excepcional, que só é admitida quando as qualificadoras mostrarem-se absolutamente
descabidas, eis que a competência cabe ao tribunal do júri.
Ex: denúncia (121, §2º, II – motivo fútil). Na pronuncia, o juiz sumariante entende que esta
qualificadora não restou provado. Assim, pronuncia o acusado apenas por homicídio simples (art.
121, caput).
Ciúme é motivo fútil? Renato entende que não, que se trata de um sentimento inerente ao
ser humano. Porém, em alguns casos torna-se uma doença.
74
Essa desqualificação é cabível pelo juiz sumariante de forma excepcional, apenas quando a
qualificadora for manifestamente improcedente. Isso porque, cabe aos jurados julgar o crime.
d) Infração conexa
Ex.: homicídio + estupro – desclassificação – latrocínio + estupro: ambos os delitos serão
julgados novo juízo competente.
Diante da desclassificação, a infração conexa também deve ser remetida ao juízo
competente (CPP, art. 81, §único). Nessa hipótese, este novo juízo competente deve aguardar o
julgamento de eventual RSE interposto contra a desclassificação. Isso porque se o Tribunal der
provimento ao RESE, pronunciado o acusado, a competência para julgamento do crime doloso
contra a vida e da infração conexa voltará a ser o Tribunal do Júri.
Art. 419. Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a outro juiz, à disposição deste
ficará o acusado preso.
f) Recurso cabível
RSE (art. 581, II, CPP), pois a decisão concluiu pela incompetência do juízo.
Esse recurso pode ser interposto:
1) Acusação (MP e querelante);
2) Acusado e defensor: pode recorrer, na medida em que a desclassificação pode imputar
crime mais grave ao acusado.
3) Assistente: não há previsão expressa, E por essa razão, pela não poderia recorrer. Mas
há doutrina que entende que o interesse do assistente não é meramente patrimonial, logo
também pode recorrer contra a desclassificação.
Se o juiz se retratar no RESE, entendendo por pronunciar o acusado, o que a deve pode
fazer? A defesa pode interpor um novo RESE. Neste casão, como já houve razões e contrarrazões
no primeiro RESE, o novo RESE deve ser interposto através de uma simples petição, sem a
necessidade de novas razões e contrarrazões.
Todavia, esse RESE vai diretamente para o TJ. Não volta para o juiz sumariante fazer um
novo juízo de retratação. (art. 589, §único)
Art. 589. Com a resposta do recorrido ou sem ela, será o recurso concluso ao juiz, que,
dentro de dois dias, reformará ou sustentará o seu despacho, mandando instruir o recurso
com os traslados que Ihe parecerem necessários.
Parágrafo único. Se o juiz reformar o despacho recorrido, a parte contrária, por simples
petição, poderá recorrer da nova decisão, se couber recurso, não sendo mais lícito ao juiz
modificá-la. Neste caso, independentemente de novos arrazoados, subirá o recurso nos
próprios autos ou em traslado.
g) Conflito de competência
Ex.: homicídio praticado com dolo eventual (art. 121 do CP) – desclassificação (art. 302 do
CTB) – RSE ao TJ – TJ mantém desclassificação – remessa dos autos ao juízo singular. Este juízo é
obrigado a aceitar a competência ou poderá suscitar conflito de competência? Há duas correntes:
1ª C: Não é obrigado (majoritária: Mirabete)
Não é possível que o novo juízo suscite conflito negativo de competência, porquanto teria
ocorrido preclusão da decisão de desclassificação.
Usar essa posição em bancas mais conservadoras.
Ao juízo recipiente não é dado suscitar conflito negativo de competência para tentar
restabelecer a competência do Tribunal do Júri, porquanto teria havido preclusão.
A decisão quanto à competência deve ser proferida não por uma Câmara qualquer do
Tribunal, mas sim pela Câmara especial, que é o juízo natural para dirimir eventuais conflitos de
competência. Logo, é plenamente possível que o novo juízo venha a suscitar um conflito negativo
de competência.
Ao juízo recipiente é dado suscitar o conflito, seja porque se trata de incompetência
absoluta, ou porque a decisão final acerca da competência não é de uma câmara qualquer do TJ,
mas sim da respectiva Câmara especial, a quem compete apreciar os conflitos de competência.
a) Hipóteses
Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando:
I – provada a inexistência do fato;
II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato;
III – o fato não constituir infração penal;
V – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de
inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do Código Penal, salvo quando esta for a única tese
defensiva.
b) Momento
Enquanto no procedimento comum a absolvição sumária ocorre no início do processo, no
júri a absolvição sumária ocorre no final da 1ª fase, ou seja, após a audiência de instrução.
c) Inimputável
Enquanto no procedimento comum o inimputável não pode ser absolvido de forma
sumária, na absolvição sumária do júri admite-se, desde que a inimputabilidade seja sua única
tese defensiva.
d) Crimes conexos
Ex.: absolvição sumária em razão de legítima defesa – crime de ocultação de cadáver.
O crime conexo não é abrangido pela absolvição sumária. Após o julgamento de eventual
apelação interposta contra a absolvição sumária, o crime conexo deve ser remetido ao juízo
competente.
Esse juízo competente deve aguardar o julgamento de eventual apelação interposta contra
a absolvição sumária.
f) Recurso cabível
Hoje, o recurso cabível é o de apelação (art. 416)
Se o acusado estiver preso, deve ser colocado imediatamente em liberdade. (art. 596)
Art. 596. A apelação da sentença absolutória não impedirá que o réu seja posto
imediatamente em liberdade. (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
Parágrafo único. A apelação não suspenderá a execução da medida de segurança
aplicada provisoriamente
Entende-se que o II foi tacitamente revogado, pois não existe mais recurso de oficio contra
a absolvição sumária.
8. Pronúncia
a) Requisitos
O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do
fato (JUÍZO DE CERTEZA) e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação
(JUÍZO DE PROBABILIDADE).
Os indícios de autoria ou participação também são chamados de prova semiplena, em
razão de seu menor valor persuasivo.
A materialidade pode se dar tanto de exame direto, como de exame indireto (prova
testemunhal, documental), mas esta precisa ser muito robusta.
Indícios (prova indireta)
Art. 239. Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação
com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras
circunstâncias.
b) Natureza jurídica
Decisão interlocutória mista não terminativa, eis que não encerra o processo.
Interlocutória porque é uma decisão não terminativa; mista porque encerra uma fase
procedimental; e terminativa porque não põe fim ao processo.
d) Fundamentação
A pronúncia deve ser fundamentada, sob pena de nulidade (art. 93, IX, CR).
Porém, não deve haver excesso de fundamentação, sob pena de se caracterizar
“eloquência acusatória”, que é causa de nulidade absoluta da pronúncia. Ou seja, o juiz não deve
se exceder na fundamentação para fins de não influenciar os jurados. Atenta contra a
competência dos jurados para deliberar sobre o crime doloso contra a vida.
79
T2, STF, HC 99.834, de 15/02/11: Tanto a antiga redação do art. 408, quanto o atual art.
413 (na redação dada pela Lei 11.689/2008), ambos do CPP, indicam que o juiz, ao tratar da
autoria na pronúncia, deve limitar-se a expor que há indícios suficientes de que o réu é o autor ou
partícipe do crime. Todavia, o texto da pronúncia afirma que o paciente foi o autor do crime que
lhe foi imputado, o que, à evidência, pode influenciar os jurados contra o acusado. Em casos como
esse, impõe-se anulação da sentença de pronúncia, por excesso de linguagem.
Hoje, a pronúncia não pode ser usada como “argumento de autoridade” para fins de
convencimento dos jurados.
Art. 478. Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer
referências:
I – à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou
à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou
prejudiquem o acusado.
Trata-se de nulidade absoluta.
Como fica a eloqüência acusatória com a nova lei? Isso foi objeto de discussão no STF:
Segundo o HC 96.123, para o Min. Marco Aurélio, não haveria razão para decretar a
nulidade em razão de eloquência acusatória, eis que a pronúncia sequer pode ser lida no Plenário.
No entanto, essa posição não parece ser acertada, em razão de que os jurados recebem
cópias da pronúncia, conforme art. 472, p. único. Ou seja, em que pese não possa ser realizada a
leitura da pronúncia, os jurados poderão constatar o excesso quando do seu próprio contato com
a decisão. Logo, eventual eloquência acusatória ainda pode influenciá-lo. Assim, mesmo com a
nova lei, a eloquência acusatória deve continuara ser conhecida.
Art. 472. Formado o Conselho de Sentença, o presidente, levantando-se, e, com ele, todos
os presentes, fará aos jurados a seguinte exortação: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de
2008)
Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com imparcialidade e a proferir
a vossa decisão de acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça.
Os jurados, nominalmente chamados pelo presidente, responderão:
Assim o prometo.
80
Parágrafo único. O jurado, em seguida, receberá cópias da pronúncia ou, se for o caso,
das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação e do relatório do processo.
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o Concluídos os debates, o presidente indagará dos jurados se estão habilitados a julgar
ou se necessitam de outros esclarecimentos. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o Se houver dúvida sobre questão de fato, o presidente prestará esclarecimentos à vista
dos autos. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 3o Os jurados, nesta fase do procedimento, terão acesso aos autos e aos instrumentos
do crime se solicitarem ao juiz presidente. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
- Tipo penal por extensão: tentativa (art. 14, II), omissão imprópria (art. 13, §2º) e concurso
de pessoas (art. 29).
g) Infrações conexas
As infrações conexas devem ser encaminhadas ao júri, pouco importando se há ou não
prova nos autos quanto a sua ocorrência.
Art. 417. Se houver indícios de autoria ou de participação de outras pessoas não incluídas
na acusação, o juiz, ao pronunciar ou impronunciar o acusado (ANTES DA PRONÚNCIA),
82
determinará o retorno dos autos ao Ministério Público, por 15 (quinze) dias, aplicável, no
que couber, o art. 80 deste Código.
Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido
praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo
número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo
relevante, o juiz reputar conveniente a separação.
Quando se adita, é matido todos os réus no mesmo processo, mas o art. 80 permite a
separação, para fins de oferecimento de outra denúncia.
i) Efeitos da pronúncia
- Submissão do acusado a julgamento perante o Tribunal do Júri.
Art. 482. O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de fato e se o acusado
deve ser absolvido. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
STJ, Súmula 191. A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda que o Tribunal do
Júri venha a desclassificar o crime.
Quando não couberem mais recursos da decisão de pronúncia, esta não poderá ser
modificada, salvo na hipótese de circunstâncias supervenientes que alterem a classificação do
crime.
Ex.: depois da pronúncia, entra novo juiz e decide por alterar a classificação;
Ex.: pronúncia por homicídio simples combinado com a tentativa e, no decurso do tempo, a
vítima vem a morrer, o juiz envia os autos ao MP para aditar a denúncia, fazendo constar
homicídio consumado, haverá a oitiva da defesa, nova instrução sobre a nova imputação,
sobrevindo nova pronúncia, caso em que esta poderá ser alterada. Se a morte da vítima ocorrer
no dia do julgamento, o juiz dissolverá o conselho de sentença.
Se a morte da vítima ocorrer após o julgamento, não há nada a fazer. A condenação
versará sobre tentativa de homicídio.
- Prisão preventiva ou de medidas cautelares diversas da prisão (art. 319, 320 e art. 413, §
3º, do CPP)
Antes da lei 11.689/08 a prisão preventiva era um efeito automático da pronuncia, era
desde que acusado fosse reincidente ou tivesse maus antecedentes. Depois de 2008 esta prisão
preventiva só pode ser decretada ou mantida fundamentadamente, se presentes seus
pressupostos legais.
Se o acusado estava preso por ocasião da pronúncia, isto significa que o juiz entendeu que
estavam presentes os pressupostos da preventiva. Logo, esta prisão deve ser mantida, através de
decisão fundamentada, salvo se desaparecerem seus pressupostos. Se o juiz deliberar pela
manutenção da prisão preventiva, deve o juiz explicitar os motivos que o levam a acreditar que as
medidas das cautelares diversas da prisão seriam insuficientes para resguardar a eficácia do
processo.
Se o acusado estava em liberdade por ocasião da pronúncia, isto significa dizer que o juiz
entendeu não estavam presentes os pressupostos da preventiva. Logo, o acusado deve ser
84
mantido em liberdade, salvo se surgir alguma hipótese que autorize sua prisão preventiva (ex.:
acusado ameaçando as testemunhas).
Esta mudança (intimação por edital) de 2008 tem aplicação imediata aos processos que
estavam paralisados. Não se aplica aos crimes antes da 9.271/96.
Frisa-se que a lei 9.271/96 deu nova redação ao art. 366 do CPP, prevendo que se o
acusado for citado por edital, mas não comparecer e nem constituir defensor, deve ocorrer a
suspensão do processo e da prescrição (norma mais gravosa). Em razão disso, para os crimes
cometidos antes de 1996 não se aplica o art. 366 do CPP; logo, para que esse acusado não tenha
negada a observância da ampla defesa, a ele não se aplica a intimação por edital da pronúncia.
STJ HC 172.382
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9. Desaforamento
a) Natureza jurídica
Trata-se de decisão judicial proferida por Câmara ou Turma.
Art. 427. Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver dúvida sobre a
imparcialidade do júri ou a segurança pessoal do acusado, o Tribunal, a requerimento do
Ministério Público, do assistente, do querelante ou do acusado ou mediante representação
do juiz competente, poderá determinar o desaforamento do julgamento para outra
comarca da mesma região, onde não existam aqueles motivos, preferindo-se as mais
próximas.
§ 1o O pedido de desaforamento será distribuído imediatamente e terá preferência de
julgamento na Câmara ou Turma competente.
b) Legitimados
1) MP;
2) defesa;
3) assistente de acusação; (antes da nova Lei não tinha essa legitimidade prevista)
4) querelante;
5) juiz do processo, salvo na hipótese de excesso de prazo.
É obrigatória a oitiva da defesa, por se tratar de decisão judicial.
A corregedoria não pode determinar o desaforamento, somente o Tribunal.
c) Momento
Admite-se pedido de desaforamento logo após a preclusão da pronúncia, que
corresponde ao momento em que se determina se o acusado será submetido a julgamento pelo
Júri. Ou seja, quando não couber mais recurso da pronúncia.
Depois do julgamento é possível o desaforamento somente quanto a fato ocorrido durante
ou após a realização de julgamento anulado. Ou seja, cabe se: o julgamento for anulado + o fato
deve ter ocorrido durante ou após o julgamento.
julgamento. Essa previsão vem sendo utilizada também em processos envolvendo acusados
presos.
f) Comarca competente
O julgamento se dará em outra comarca da mesma região, onde não estejam presentes os
motivos que acarretaram o desaforamento.
Na Justiça Estadual não é possível o desaforamento para outro Estado da Federação.
Na Justiça Federal (separada por TRFs) é possível o desaforamento para outro Estado da
Federação, desde que nos limites territoriais do respectivo TRF.
g) Julgamento
O relator, se verificar a verossimilhança das alegações e o periculim in mora, pode
suspender o julgamento pelo júri depois do pedido de desaforamento. Ou seja, o pedido de
desaforamento pode ter efeito suspensivo.
i) Reaforamento
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Art. 421. Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz presidente
do Tribunal do Júri. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, havendo circunstância superveniente que
altere a classificação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público.
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o Em seguida, os autos serão conclusos ao juiz para decisão.
Providências:
b) Rol de testemunhas
O assistente de acusação pode arrolar testemunhas, desde que não ultrapasse o limite da
acusação.
O rol de testemunhas deve conter a cláusula de imprescindibilidade, (que não abre mão
dela de forma alguma) e requerimento de intimação por mandado no endereço indicado, sendo
que, se a testemunha não comparecer no dia do julgamento, este deverá ser adiado (art. 461,
CPP).
O assistente da acusação pode arrolar testemunhas, desde que respeitado o limte máximo
de 5 testemunhas da acusação. . Ex.: promotor apresenta 3 testemunhas e o assistente apresenta
89
c) Ordenamento do processo
É o despacho saneador do juiz presidente. É semelhante ao processo civil. O juiz, nesse
despacho, ordena as diligencias necessárias, as provas solicitadas pelas partes, se não há nulidade,
para então preparar o processo para julgamento em plenário.
Nesse despacho saneador fará também um relatório do processo. Um resumo imparcial
dos principais incidentes que aconteceram ao longo do processo.
O relatório é o resumo imparcial dos principais atos processuais, que será entregue aos
jurados (art. 472, p. único).
Feito o relatório, o juiz determinará a inclusão do processo em pauta da reunião do Júri, de
acordo com a seguinte ordem de preferência (art. 429, CPP):
1.º Acusados presos;
2.º Dentre os acusados presos, aqueles que estiverem há mais tempo na prisão;
3.º Em igualdade de condições, os precedentemente pronunciados.
Salvo motivo relevante, pode-se não observar essa ordem, como na eminência de
prescrição.
Art. 268. Em todos os termos da ação pública (processo de ação penal pública), poderá
intervir, como assistente do Ministério Público, o ofendido (1) ou seu representante legal
(2), ou, na falta, qualquer das pessoas mencionadas no Art. 31 (cônjuge, ascendente,
descendente ou irmão).
90
Quanto ao Tribunal do Júri, há outra regra, devendo o assistente requerer sua habilitação
com 5 dias de antecedência.
Art. 430. O assistente somente será admitido se tiver requerido sua habilitação até 5
(cinco) dias antes da data da sessão na qual pretenda atuar.
Segundo a doutrina, o jurado não deve ser surdo, mudo ou cego, em razão do princípio da
oralidade e do sigilo das votações. Necessita ter audição, visão e voz em perfeitas condições. Isso
porque o jurado é incomunicável.
Lembrar que juiz pode ser deficiente auditivo, p. ex., porque tudo é reduzido a termo.
Não se admite, hoje, o chamado “jurado profissional”, que é aquele que comumente
integra o Conselho de Sentença. Isso porque, exige-se a exclusão do jurado que tiver participado
de Júri nos 12 meses antecedentes.
Art. 426. § 4o O jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos 12 (doze) meses
que antecederem à publicação da lista geral fica dela excluído.
A doutrina diverge:
a) RSE ao Presidente do TJ (art. 581, XIV)
- Que incluir jurado na lista geral ou desta excluir. Esse recurso tem prazo especial de 20
dias e é dirigido ao Presidente do Tribunal.
Contudo, tem havido certa controvérsia na doutrina. Isso porque a Lei 11.689/08 mudou o
procedimento do juri, e por essa razão, essa impugnação não se daria mais pelo RESE e sim uma
reclamação ao juiz presidente.
Art. 426. § 1o A lista poderá ser alterada, de ofício ou mediante reclamação de qualquer
do povo ao juiz presidente até o dia 10 de novembro, data de sua publicação definitiva.
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Segundo essa corrente, o inc. XIV do art. 581 teria sido revogado tacitamente pelo art. 426,
§1º, que prevê reclamação de qualquer do povo ao juiz-presidente.
Art. 436. § 2o A recusa injustificada ao serviço do júri acarretará multa no valor de 1 (um)
a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a condição econômica do
jurado.
Art. 442. Ao jurado que, sem causa legítima, deixar de comparecer no dia marcado para a
sessão ou retirar-se antes de ser dispensado pelo presidente será aplicada multa de 1 (um)
a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a sua condição econômica.
O jurado pode ser sujeito de crime de desobediência? Quando a Lei prevê certa sanção e
não faz menção ao crime de desobediência, aquela será a única sanção possível de ser aplicada.
Ou seja, não é possível a responsabilização criminal por desobediência, já que a lei não fez
ressalva a esse respeito. Difere, pois, da previsão do art. 219 do CPP, que trata da hipótese de
testemunha faltosa.
Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa prevista no art. 453, sem
prejuízo do processo penal por crime de desobediência, e condená-la ao pagamento das
custas da diligência. (Redação dada pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
HC 22.721.
Para fins penais, o jurado é considerado funcionário público.
Art. 438. A recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa, filosófica ou política
importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos
políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.
§ 1o Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter administrativo,
assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defensoria Pública,
no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.
Art. 440. Constitui também direito do jurado, na condição do art. 439 deste Código,
preferência, em igualdade de condições, nas licitações públicas e no provimento, mediante
concurso, de cargo ou função pública, bem como nos casos de promoção funcional ou
remoção voluntária.
Art. 441. Nenhum desconto será feito nos vencimentos ou salário do jurado sorteado que
comparecer à sessão do júri.
- Idoneidade moral;
- Preferência nas licitações públicas;
- Preferência em provimento em concurso de cargo ou função pública (em casos de
empate);
- Não pode ter seus vencimentos descontados.
Art. 439. O exercício efetivo da função de jurado constituirá serviço público relevante,
estabelecerá presunção de idoneidade moral e assegurará prisão especial, em caso de
crime comum, até o julgamento definitivo. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função de jurado, salvo quando
excluídos da lista por motivo de incapacidade para o exercício daquela função;
a) Ministério Público
Antes das alterações de 2008 previa-se a nomeação de um promotor ad hoc (para o ato).
Essa nomeação, porém, não foi recepcionada pela CF/88, pois as funções do MP só podem ser
exercidas por integrantes da carreira, regularmente aprovados em concurso (art. 129, §2º, CF)
Hoje, com a Lei 11.689/08, ausente o promotor, deve ser redesignado o julgamento.
Art. 455. Se o Ministério Público não comparecer, o juiz presidente adiará o julgamento
para o primeiro dia desimpedido da mesma reunião, cientificadas as partes e as
testemunhas.
Parágrafo único. Se a ausência não for justificada, o fato será imediatamente comunicado
ao Procurador-Geral de Justiça com a data designada para a nova sessão.
Reunião é o período do ano no qual o Júri reúne-se. Difere de sessão, que é o dia do efetivo
julgamento.
b) Advogado de defesa
O julgamento não pode ser realizado sem a defesa técnica, sob pena de nulidade absoluta.
STF, Súmula 523. No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a
sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.
Art. 456. Se a falta, sem escusa legítima, for do advogado do acusado, e se outro não for
por este constituído, o fato será imediatamente comunicado ao presidente da seccional da
Ordem dos Advogados do Brasil, com a data designada para a nova sessão (1).
§ 1o Não havendo escusa legítima, o julgamento será adiado somente uma vez, devendo o
acusado ser julgado quando chamado novamente (2).
§ 2o Na hipótese do § 1o deste artigo, o juiz intimará a Defensoria Pública para o novo
julgamento (3), que será adiado para o primeiro dia desimpedido, observado o prazo
mínimo de 10 (dez) dias.
c) Acusado solto
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Antes da Lei 11.689/08, se o crime era inafiançável a presença do acusado no júri era
obrigatória.
Hoje, se o acusado estiver regulamente intimado e deixar de comparecer o julgamento
deve ser realizado normalmente, pouco importando a natureza do delito.
A questão de o acusado comparecer ou não está ligado à autodefesa. Ele tem direito de ser
ouvido pelo juiz e de estar presente acompanhando a prova produzida contra sua pessoa. A
autodefesa é renunciável, assim, se o acusado não quer comparecer e ser ouvido pelos jurados
não haverá problema, pois ele apenas renuncia esses direitos.
Essa mudança também está diretamente ligada ao direito de silêncio do acusado.
Art. 457. O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do acusado solto, do
assistente ou do advogado do querelante, que tiver sido regularmente intimado.
d) Acusado preso
Tem o direito de estar presente na sessão do Júri, de modo que o Poder Público deve
assegurar seu deslocamento. Porém, se o acusado preso não quiser comparecer deve subscrever
pedido nesse sentido em conjunto com o seu advogado.
Art. 457. § 2o Se o acusado preso não for conduzido, o julgamento será adiado para o
primeiro dia desimpedido da mesma reunião, salvo se houver pedido de dispensa de
comparecimento subscrito por ele e seu defensor.
e) Advogado do assistente
O art. 457 trata do não comparecimento do assistente e não do seu advogado. Porém, a
doutrina entende que o disposto estende-se ao advogado do assistente, não sendo, pois, causa de
adiamento da sessão. O assistente é a vítima, e normalmente nos crimes do Júri, a vítima está
morta, e seus sucessores, mesmo que presentes, não têm capacidade postulatória. Assim, o que
interessa é a presença do advogado do assistente.
f) Advogado do querelante
Admite-se o querelante nos casos de:
1. Ação penal privada subsidiária da pública: inerte o querelante, o MP reassume o
pólo ativo na demanda (ação penal indireta). O MP volta a ser a parte principal.
Se o promotor não estiver preparado para o julgamento, pode pedir o adiamento
da sessão.
g) Testemunhas
A testemunha de “fora da terra” (que mora em outra comarca) não tem a obrigação de se
deslocar a outra comarca.
Em regra não será adiado, salvo se tiver sido arrolada com a cláusula de
imprescindibilidade e a parte após indicar seu endereço e tiver requerido sua intimação por
mandado, o julgamento será realizado normalmente.
Antes do adiamento deve ser verificada a possibilidade de condução coercitiva.
Quanto a essa testemunha faltosa, haverá uma multa de 1 a 10 salários mínimos, a
depender da condição econômica da testemunha.
Art. 458. Se a testemunha, sem justa causa, deixar de comparecer, o juiz presidente, sem
prejuízo da ação penal pela desobediência, aplicar-lhe-á a multa prevista no § 2 o do art.
436 deste Código (1 a 10 salários-mínimos).
Art. 461. O julgamento não será adiado se a testemunha deixar de comparecer, salvo se
uma das partes tiver requerido a sua intimação por mandado, na oportunidade de que
trata o art. 422 deste Código, declarando não prescindir do depoimento e indicando a sua
localização.
§ 1o Se, intimada, a testemunha não comparecer, o juiz presidente suspenderá os
trabalhos e mandará conduzi-la (1) ou adiará o julgamento para o primeiro dia
desimpedido, ordenando a sua condução (2).
§ 2o O julgamento será realizado mesmo na hipótese de a testemunha não ser encontrada
no local indicado, se assim for certificado por oficial de justiça.
São convocados para o júri 25 jurados, sendo que o número mínimo de comparecimento é
15. Para esse número levam-se em consideração os jurados excluídos por impedimento ou
suspeição.
Para a corrente minoritária que admite o empréstimo de jurados (Nucci), esse somente se
admite em comarcas maiores, onde houver dois ou mais Plenários do Júri funcionando
simultaneamente.
Porém, o STF e STJ não admite o empréstimo, sob a alegação de violação à ampla defesa,
pois se prejudica o direito à recusa de jurados (STF, HC 88.801). Isso porque, as partes podem
recusar até 3 jurados de forma imotivada, e para tanto se deve conhecer os 25 jurados que
estarão presentes. Se houver o empréstimo, as partes não conhecerão os jurados, prejudicando a
recusa.
Para esses tribunais, o “empréstimo de jurados” é causa de nulidade absoluta, que pode
ser arguida inclusive após o trânsito em julgado da sentença, por meio de habeas corpus,
mandado de segurança ou revisão criminal.
Mas se a votação acabasse 4 a 3 por exemplo, a nulidade deveria ser conhecida, pois
aquele voto faria diferença.
Com o advento da Lei 11.689/08, a votação será interrompida quando 4 votos forem
atingidos em um mesmo sentido. Logo, não é mais possível estabelecer qual terá sido o grau de
influencia do voto do jurado impedido. Se não é possível a comprovação do prejuízo, tem-se que
esse é presumido, logo se trata de nulidade absoluta.
Um mesmo jurado pode vir a julgar o mesmo acusado duas vezes? Sim, desde que em
processos distintos.
Art. 468. À medida que as cédulas forem sendo retiradas da urna, o juiz presidente as lerá,
e a defesa (1) e, depois dela, o Ministério Público (2) poderão recusar os jurados sorteados,
até 3 (três) cada parte, sem motivar a recusa.
No caso as recusas, é uma das puçás vezes que a defesa se pronuncia antes do MP.
O assistente do MP não tem legitimidade para recusar jurados.
haver separação
de processos.
Jurado 2 Recusa Aceita Recusa Recusado
Jurado 3 Aceita Recusa Recusa Recusado
Jurado 4 Aceita Recusa Não é ouvido, Julgamento do
* Será julgado * Há separação por ter recusado cliente do
pelo jurado 4 de processos 3 vezes. advogado A
Antes da Lei de 2008, quem definia o acusado que seria julgado primeiro, era o Ministério
Público, eis que era o último a se pronunciar sobre a recusa.
Art. 468. Parágrafo único. O jurado recusado imotivadamente por qualquer das partes
será excluído daquela sessão de instrução e julgamento, prosseguindo-se o sorteio para a
composição do Conselho de Sentença com os jurados remanescentes.
Hoje, havendo a separação dos julgamentos, a própria lei passou a dispor quem será
julgado em primeiro lugar (art. 469, §2º).
- Primeiro o autor do fato
- Acusados presos
- Dentre os presos, os que estiverem a mais tempo
- Se iguais, os que foi pronunciado primeiro.
Art. 469. § 2o Determinada a separação dos julgamentos, será julgado em primeiro lugar o
acusado a quem foi atribuída a autoria do fato (1) ou, em caso de coautoria (2), aplicar-
se-á o critério de preferência disposto no art. 429 deste Código.
Art. 429. Salvo motivo relevante que autorize alteração na ordem dos julgamentos, terão
preferência:
I – os acusados presos;
II – dentre os acusados presos, aqueles que estiverem há mais tempo na prisão;
III – em igualdade de condições, os precedentemente pronunciados.
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E no caso de não haver jurados em número suficiente para compor o Conselho de Sentença
(estouro de urna)?
O estouro de urna decorre das recusas motivadas e imotivadas, não permitindo atingir-se o
número mínimo de 7 jurados para compor o Conselho de Sentença.
Ex.: há três réus a serem julgados, sendo que há 3 recusas por cada um e apenas 15 jurados
presentes no Plenário.
Nesse caso, será designada uma nova data para o julgamento.
A convocação de mais de 25 jurados é causa de nulidade relativa. Deve ser provado o
prejuízo.
No procedimento comum, utiliza-se o art. 212, que se trata do exame direto e cruzado do
ofendido e das testemunhas.
No Plenário do Júri, pela letra da lei (art. 473), quem pergunta primeiro é o juiz presidente
Art. 473. Prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a instrução plenária
quando o juiz presidente, o Ministério Público, o assistente, o querelante e o
defensor do acusado tomarão, sucessiva e diretamente, as declarações do
ofendido, se possível, e inquirirão as testemunhas arroladas pela acusação.
STF, SV 11. Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência (1) e de fundado receio de
fuga (2) ou de perigo à integridade física própria ou alheia (3), por parte do preso ou de terceiros,
justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal
do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem
prejuízo da responsabilidade civil do Estado.
12. 8. Debates
Art. 477. O tempo destinado à acusação e à defesa será de uma hora e meia para cada
(1h30m), e de uma hora (1h) para a réplica e outro tanto (1h) para a tréplica.
§ 1o Havendo mais de um acusador (assistente de acusação) ou mais de um defensor,
combinarão entre si a distribuição do tempo, que, na falta de acordo, será dividido pelo
juiz presidente, de forma a não exceder o determinado neste artigo.
Para cada acusado a mais submetido a julgamento, deve haver 1h a mais para a acusação e
defesa.
§ 2o Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo para a acusação e a defesa será acrescido
de 1 (uma) hora e elevado ao dobro o da réplica e da tréplica, observado o disposto no §
1o deste artigo.
2.º Por força da plenitude de defesa, o advogado pode inovar na tréplica, sem que haja
necessidade de oitiva da acusação. (Nucci)
3.º O advogado pode sustentar tese nova por ocasião da tréplica, porém, nesse caso,
deve o juiz ouvir a acusação quanto à referida tese.
Se o objeto já tiver sido juntado aos autos, pode ser livremente exibido aos jurados (armas
de fogo não). Mas barra de ferro, p exemplo, sim. Não pode haver surpresa indevida.
Se o objeto não estiver nos autos, deve haver juntada com três dias úteis de antecedência,
sob pena de nulidade absoluta do julgamento. Cuidar porque a maioria dos livros de júri é escrito
por promotores, que dizem ser relativa.
Mas como provar o prejuízo nesse caso, já que o jurado não fundamenta seu voto? Não há
como provar o grau de convencimento que o documento exerceu na cabeça do jurado. Por essa
razão, deve ser nulidade absoluta, diante da impossibilidade de se exigir prova nesse sentindo
(prova diabólica).
Art. 479. Durante o julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição
de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias
úteis, dando-se ciência à outra parte.
Parágrafo único. Compreende-se na proibição deste artigo a leitura de jornais ou qualquer
outro escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros,
croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de
fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados.
Pode ser mostrados vídeos, desde que respeitada a regra dos 3 dias úteis.
A jurisprudência, o livro de doutrina, está relacionada à matéria de direito, razão pela qual
não se deve respeito a esse prazo.
Essa regra é bilateral, atinge as duas partes.
Art. 478. Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer
referências:
I – à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou
à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou
prejudiquem o acusado; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
II – ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em
seu prejuízo.
103
O art. 478 não diz qual é a espécie de nulidade. Não há como mensurar o prejuízo causado
no convencimento dos jurados. Esta nulidade, portanto, é ABSOLUTA. Não usar estas decisões
como argumento de autoridade. Não pode nem para beneficiar nem para prejudicar.
O rol do inciso I é exemplificativo. Há outra decisão que também pode influenciar: decisão
de prisão preventiva.
A pronúncia pode ser lida para os jurados? A lei diz que não pode utilizar como argumento
de autoridade. Na magistratura de SP caiu que não pode ler, mas jurado recebe cópia da
pronúncia. Pode ler, mas não pode usar como argumento de autoridade.
É o pedido formulado pela parte contrária para que possa interromper a sustentação oral.
“Aparte” é uma interrupção na sustentação oral da parte contrária.
Art. 497. São atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri, além de outras
expressamente referidas neste Código:
XII – regulamentar, durante os debates, a intervenção de uma das partes, quando a outra
estiver com a palavra, podendo conceder até 3 (três) minutos para cada aparte
requerido, que serão acrescidos ao tempo desta última.
Antes da Lei 11.689/08, ficava a critério da parte contrária conceder ou não o aparte. Com
o advento da lei, esse direito ao aparte deve ser concedido pelo juiz presidente.
Art. 497. São atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri, além de outras
expressamente referidas neste Código: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
V – nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso, podendo, neste caso,
dissolver o Conselho e designar novo dia para o julgamento, com a nomeação ou a
constituição de novo defensor; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
O acusado deve ter preservado o seu direito de defesa durante toda a sessão do júri.
Eventual violação a essa plenitude de defesa é causa de nulidade absoluta.
Súmula 523, STF: No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a
sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.
104
Essa plenitude de defesa deve ser fiscalizada não apenas pelo juiz-presidente, mas também
pelo MP.
Diz-se que o acusado está indefeso quando:
a) Ausência de defesa técnica.
STF, HC 89.222 (a defesa técnica foi feita por estagiário desacompanhado de
advogado);
STF, HC 94.282 (reconhecimento de apelação sem advogado)
3. Ordem concedida para anular o feito, apenas com relação ao paciente, a partir das
alegação preliminares, inclusive.
Nesses casos, o Conselho de Sentença deve ser dissolvido, sendo designada nova data para
outra sessão de julgamento.
480, §1º
Art. 480. A acusação, a defesa e os jurados poderão, a qualquer momento e por
intermédio do juiz presidente, pedir ao orador que indique a folha dos autos onde se
encontra a peça por ele lida ou citada, facultando-se, ainda, aos jurados solicitar-lhe, pelo
mesmo meio, o esclarecimento de fato por ele alegado. (Redação dada pela Lei nº 11.689,
de 2008)
§ 1o Concluídos os debates, o presidente indagará dos jurados se estão habilitados a julgar
ou se necessitam de outros esclarecimentos. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o Se houver dúvida sobre questão de fato, o presidente prestará esclarecimentos à vista
dos autos. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 3o Os jurados, nesta fase do procedimento, terão acesso aos autos e aos instrumentos
do crime se solicitarem ao juiz presidente. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Art. 481. Se a verificação de qualquer fato, reconhecida como essencial para o julgamento
da causa, não puder ser realizada imediatamente, o juiz presidente dissolverá o Conselho,
106
ordenando a realização das diligências entendidas necessárias. (Redação dada pela Lei nº
11.689, de 2008)
13. Quesitação
Quesitos são perguntas formuladas aos jurados para que se manifestem quanto:
1) Materialidade;
2) Autoria;
3) Absolvição;
4) Causas de diminuição de pena (minorantes);
5) Qualificadoras;
6) Causas de aumento de pena (majorantes).
Cumpre lembrar que os quesitos somente abrangem matéria de fato e não de direito, eis
que são dirigidos a pessoas leigas.
Art. 486, § 6o Havendo mais de um crime ou mais de um acusado, os quesitos serão
formulados em séries distintas.
O juiz fará a leitura dos quesitos aos jurados, sendo este o momento oportuno para a
impugnação dos quesitos, sob pena de preclusão temporal. (nulidade relativa)
Essa leitura é feita no plenário.
STF, HC 87.358
Art. 484. A seguir, o presidente lerá os quesitos e indagará das partes se têm requerimento
ou reclamação a fazer, devendo qualquer deles, bem como a decisão, constar da ata.
Parágrafo único. Ainda em plenário, o juiz presidente explicará aos jurados o significado de
cada quesito.
108
Se o vício for de tal gravidade que possa impedir o conhecimento da vontade dos jurados,
haverá nulidade absoluta, que pode ser arguida a qualquer momento.
Súmula 162 É absoluta a nulidade do julgamento, pelo júri, quando os quesitos da defesa
não precedem aos das circunstâncias agravantes.
O juiz faz a leitura e depois os jurados se dirigem à sala especial. Todos, com exceção do
público e do acusado.
Primeiro passa uma urna para votar, e depois uma para descarte.
A votação será interrompida assim que definido o quarto voto vencedor. Esse sistema deve
ser usado não só nos quesitos da materialidade e autoria, mas a todos os demais.
Caso a resposta dada a um dos quesitos seja prejudicial em relação a outro, este deve ser
considerado prejudicado.
Ex: homicídio qualificado privilegiado: desde que a qualificadora tenha a natureza objetiva.
Não se pode, p. ex., matar algo por relevante valor social e por motivo torpe (incompatível), mas
pode matar alguém sob o domínio de violenta emoção por um meios cruel.
2. Nexo causal entre lesão e morte. Essas lesões causaram a morte da vítima?
109
- Não há nexo: o resultado morte não derivou da lesão corporal provocada pelo
acusado. Logo, a votação deve prosseguir para que os jurados analisem a intenção
do agente, se de mera lesão corporal ou de tentativa de homicídio. (são as
concausas – desclassificação).
- Há nexo: prossegue a votação.
Exemplo:
“No dia 16/05 a vítima foi atingida por disparo de arma de fogo, sofrendo as lesões
descritas no laudo de fl. 00?” Sendo a resposta positiva, “essas lesões corporais foram a causa
eficiente da morte da vítima?”.
Exemplo:
“Tícia agiu sob a influência do estado puerperal, matando o filho durante ou logo após o
parto?”.
Art. 483. § 5o Sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada (1) ou
havendo divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da competência do Tribunal do Júri
(2), o juiz formulará quesito acerca destas questões, para ser respondido após o segundo quesito.
3º ou 4º quesito: absolvição
Se a tese da defesa for autoria, o juiz perguntou se o acusado foi o autor dos disparos, e os
jurados disseram que sim. Assim, a tese apresentada pela defesa foi descartada pelos jurados.
Nesse caso, ainda precisa ser feito o quesito genérico da absolvição. Há promotores que dizem
que este quesito estaria prejudicado, pulando este quesito. Porém, não é o entendimento que
prevalece, porque, por mais que o jurado tenha reconhecido a autoria, ele pode acreditar que há
outro motivo capaz de defender o acusado (como legítima defesa).
1ª C: Caso a única tese defensiva seja a negativa da autoria, como os jurados já votaram
afirmativamente o quesito da autoria, estará prejudicado o quesito genérico absolutório. Prof.
Edejalma Lúcio.
2ª C: Votados afirmativamente os dois primeiros quesitos, este quesito quanto à absolvição
será obrigatório, independentemente das teses defensivas apresentadas. É a que prevalece. (STJ
HC 137.710)
Isso porque, o jurado pode querer absolver o acusado com base em tese não alegada pela
defesa.
As causas de diminuição de pena devem ser quesitadas antes das qualificadoras e causas
de aumento de pena.
- art. 121, §1º
- semi-imputabilidade (art. 26, §ú)
- participação de menor importância (art. 29, §1º)
STF, Súmula 162. É absoluta a nulidade do julgamento, pelo júri, quando os quesitos da
defesa não precedem aos das circunstâncias agravantes (qualificadoras e causas de
aumento de pena).
Exceção:
Frisa-se que a tentativa, que é causa de diminuição de pena, deve ser quesitada antes (3º
quesito).
Homicídio qualificado-privilegiado
Admite-se homicídio qualificado-privilegiado, desde que a qualificadora tenha natureza
objetiva.
Reconhecido o homicídio qualificado-privilegiado pelos jurados, restarão prejudicados,
automaticamente, os quesitos referentes às qualificadoras de natureza subjetiva.
Ex: o acusado agiu por motivo fútil, em virtude de uma briga de trânsito?
a) Absolvição imprópria
Reconhecida a prática de conduta típica e ilícita pelo inimputável (art. 26, caput, CP), será
aplicada medida de segurança, por meio de internação ou tratamento ambulatorial.
O inimputável pode ser absolvido sumariamente, desde que a inimputabilidade seja a única
tese defensiva. Desse modo, o inimputável será submetido a julgamento pelo júri quando possuir
outra tese defensiva.
Para a doutrina, a quesitação deve ter a seguinte ordem:
1) O jurado absolve o acusado? O juiz deve explicar aos jurados que esse quesito reserva-se
às teses diversas da inimputabilidade. Se os jurados responderem “não” a esse quesito, deve ser
feita a seguinte indagação:
2) O acusado era, ao tempo da ação, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do
fato, ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, em virtude de doença mental?
Art. 211. Se o juiz, ao pronunciar sentença final, reconhecer que alguma testemunha fez
afirmação falsa, calou ou negou a verdade, remeterá cópia do depoimento à autoridade
policial para a instauração de inquérito.
Parágrafo único. Tendo o depoimento sido prestado em plenário de julgamento, o juiz, no
caso de proferir decisão na audiência (art. 538, § 2 o), o tribunal (art. 561), ou o conselho de
sentença, após a votação dos quesitos, poderão fazer apresentar imediatamente a
testemunha à autoridade policial.
c) Agravantes e atenuantes
Antes da Lei 11.689/08, agravantes e atenuantes eram obrigatoriamente quesitadas aos
jurados, sob pena de nulidade absoluta (STF, Súmula 156).
Era obrigatória a inclusão de um quesito sobre atenuantes genéricas: “existe alguma
atenuante em favor do acusado?”.
Após a Lei de 2008, agravantes e atenuantes somente são apreciadas pelo juiz-presidente.
- É possível o reconhecimento de agravantes e atenuantes de ofício pelo juiz na sentença
condenatória (de natureza objetiva)
- É possível o reconhecimento de agravantes e atenuantes alegadas nos debates.
Ex.: o juiz-presidente pode aplicar a agravante do motivo fútil quando alegada pela
acusação (art. 61, II, a, CP)? Não, já que essa agravante consta como qualificadora do crime de
homicídio.
114
Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda
que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes,
embora nenhuma tenha sido alegada.
d) Concurso de crimes
O concurso de crimes não é quesitado aos jurados, pois diz respeito à aplicação da pena.
Antes dessa lei, não era quesitado para os jurados, eis que não se tratava de qualificadora
ou causa de aumento de pena. Porém, com a nova lei, virou uma causa de aumento de pena.
Assim, toda e qualquer causa de aumento deve ser quesitada.
Trata-se de uma novatio legis in pejus, só podendo ser aplicada aos crimes praticados após
sua vigência. Só vale para o dia 28/11/12 para frente.
.
14. Desclassificação
Se os jurados concluirem que não se trata de crime doloso contra a vida, devem proceder a
desqualificação, hipótese em que o juiz-presidente assume o julgamento da imputação.
115
Mesmo diante de uma desqualificação pelos jurados, quando o juiz presidente mesmo
assim não irá julgar?
Crime militar. A CF e o COM diz que o crime doloso contra a vida praticado por militar
contra civil, a competência será do júri.
Diante de uma imputação de crime doloso contra a vida praticado por militar contra civil,
se os jurados entenderem que é caso de desqualificação, os autos devem ser encaminhados para a
Justiça Militar.
Nesse caso, segundo a lei, é o próprio juiz-presidente que aplica o procedimento do JEC. A
lei não determina a remessa dos autos aos Juizados. O próprio juiz presidente aplica a lei...
propõe uma transação penal, suspensão condicional do processo, etc.
Ex.: homicídio tentado é desclassificado para lesão leve (3 meses a 1 ano). Nesse caso,
haverá necessidade de representação. O prazo decadencial para o oferecimento da representação
começa a fluir apenas a partir da desclassificação. Não se aplica a regra de 6 meses após o
conhecimento da autoria, pois já teria, certamente ultrapassado o prazo.
Há quem entenda que esse dispositivo é inconstitucional, por ter os Juizados Especiais
Criminais competência absoluta. No entanto, o que importa é a aplicação do procedimento do JEC,
qualquer que seja julgador.
116
Ex.: o mesmo agente pratica homicídio simples em conexão com o crime de estupro.
Se os jurados desclassificarem a imputação de crime doloso contra a vida, ao juiz
presidente também caberá o julgamento dos crimes conexos.
Porém, se os jurados absolverem o acusado quanto ao crime doloso contra a vida,
continuam tendo competência para julgar os crimes conexos.
Desclassificado o crime de homicídio, esse será apreciado pelo juiz-presidente, bem como
o crime conexo não doloso contra a vida.
Art. 492. § 2o Em caso de desclassificação, o crime conexo que não seja doloso contra a
vida será julgado pelo juiz presidente do Tribunal do Júri, aplicando-se, no que couber, o
disposto no § 1o deste artigo.
“As nulidades estão para o processo penal, tais quais as penas estão para o código
penal.”
Uma norma para ter efeito prescritivo necessita ter uma sanção. Caso contrário, será vista
como um modelo, orientação.
2. Espécies de irregularidades
a) Atos perfeitos
É aquele praticado em consonância com um modelo típico.
São válidos e eficazes.
c) Atos nulos
Diante da inobservância do modelo típico, a nulidade do ato pode ser reconhecida.
d) Atos inexistentes
Tamanha a gravidade do vício que sequer pode ser considerado um ato processual. Não há
que se falar em invalidação, já que a inexistência representa um defeito que antecede qualquer
consideração sobre a validade do ato processual. Nesse caso, o ato sequer existe.
Ex.: sentença sem dispositivo.
O vício que acarreta a inexistência jamais é convalidado (sanado). A inexistência do ato
pode ser reconhecida a qualquer momento.
4. Conceito de nulidade
Há vários conceitos:
a) Corrente majoritária: Sanção processual de ineficácia aplicada ao ato defeituoso
(majoritária)
b) Corrente minoritária: Defeito do ato processual
5. Espécies de nulidades
Há duas espécies:
Podem ser arguidas a qualquer momento, Deve ser arguida no momento oportuno (art.
inclusive após o TJ de sentença condenatória 571), sob pena de preclusão.
ou absolutória imprópria, por meio de HC ou Cuidar:
Revisão Criminal. I- as da instrução criminal, dos processos da
Lembrar que absolutória própria não é cabível. competência do júri, por ocasião da
Só pode ser utilizada em favor do réu e não apresentação das alegações orais, ao final da 1ª
contra ele. fase do procedimento do júri. (assim deve ser
interpretado)
Hipóteses: Hipóteses:
a) Caso de violação de normas constantes da CF a) Violação de forma prescrita em lei que visa á
ou da Convenção Americana sobre Direitos proteção de interesse preponderante das
Humanos, ainda que essa nulidade não conste partes. Ex.: ausência de ciência da parte sobre a
no art. 564 do CPP (nulidade não cominada). expedição de carta precatória de intimação de
Para Ada Pellegrini, a violação à CF sempre testemunha.
gerará nulidade, nunca mera irregularidade sem
conseqüências. STF, Súmula 155. É relativa a nulidade do processo
criminal por falta de intimação da expedição de
b) Nulidades cominadas no art. 564, que não
precatória para inquirição de testemunha.
estejam sujeitas à convalidação, ou seja,
STJ, Súmula 273. Intimada a defesa da expedição da
aquelas não ressalvadas pelo art. 572, CPP. carta precatória, torna-se desnecessária intimação da
- incompetência, suspeição, suborno; data da audiência no juízo deprecado.
- ilegitimidade ad causam;
b) Nulidades cominadas no art. 564, que
estejam sujeitas à convalidação (art. 572): art.
564, inc. III, D, E, 2ª parte, G, H, bem como inc.
IV.
Art. 572. As nulidades previstas no art. 564, Ill, d e e, segunda parte, g e h, e IV,
considerar-se-ão sanadas:
I - se não forem arguidas, em tempo oportuno, de acordo com o disposto no artigo
anterior;
II - se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido o seu fim;
III - se a parte, ainda que tacitamente, tiver aceito os seus efeitos.
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no
Art. 167;
c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador
ao menor de 21 anos;
d) a intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e
nos da intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública;
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os
prazos concedidos à acusação e à defesa;
f) a sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de
testemunhas, nos processos perante o Tribunal do Júri;
g) a intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei
não permitir o julgamento à revelia;
h) a intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos
estabelecidos pela lei;
i) a presença pelo menos de 15 jurados para a constituição do júri;
j) o sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal e sua
incomunicabilidade;
k) os quesitos e as respectivas respostas;
l) a acusação e a defesa, na sessão de julgamento;
m) a sentença;
n) o recurso de oficio, nos casos em que a lei o tenha estabelecido;
o) a intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e
despachos de que caiba recurso;
p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quorum legal para o
julgamento;
IV - por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato.
Parágrafo único. Ocorrerá ainda a nulidade, por deficiência dos quesitos ou das suas
respostas, e contradição entre estas.
a) Na 1º instância
Podem ser reconhecidas mediante requerimento das partes, no primeiro momento
(relativa) ou a qualquer momento (absoluta).
Além disso, admite-se reconhecimento de ofício pelo juiz (art. 251 e art. 423, I). Pode
reconhecer tanto uma nulidade absoluta, quanto relativa. O juiz deve zelar pela regularidade do
processo.
121
b) Na 2º instância
Ao julgar determinado recurso, o juízo ad quem fica vinculado ao objeto da impugnação
(tantum devolutum quantum appelatum).
STF, Súmula 160. É nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não
arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.
6. Princípios
Art. 563. Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a
acusação ou para a defesa.
Art. 566. Não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído na
apuração da verdade substancial ou na decisão da causa.
Toda a forma prescrita em lei visa proteger algum interesse ou atingir determinada
finalidade. Portanto, se o ato processual for praticado em desacordo com o modelo típico, a
nulidade não deve ser reconhecida caso a finalidade tenha sido atingida.
Ou seja, a forma não representa um fim em si mesma.
Art. 572. As nulidades previstas no art. 564, Ill, d e e, segunda parte, g e h, e IV, considerar-
se-ão sanadas:
II - se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido o seu fim;
Assim, se o acusado comparecer, mesmo não tendo sido citado, não há porque ser
declarada a nulidade.
Deve ser preservada a validade dos atos processuais que independam de ato anterior
declarado inválido. Caso não haja causalidade, devem ser mantidos os atos processuais
subseqüentes.
124
CPC, Art. 248. Anulado o ato, reputam-se de nenhum efeito todos os subsequentes, que
dele dependam; todavia, a nulidade de uma parte do ato não prejudicará as outras, que
dela sejam independentes.
Nenhuma parte pode arguir nulidade relativa referente à formalidade que só interessa à
parte contrária.
Art. 565. Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para que
tenha concorrido, ou referente a formalidade cuja observância só à parte contrária
interesse.
Ex: Promotor ausente em uma audiência, mas quem alega é a parte. Nesse caso, falta
interesse, pois o prejudicado foi o MP, que deixou de fazer perguntas, etc.
Frisa-se que o princípio do interesse não se aplica às nulidades absolutas, que cuidam de
normas de interesse público. Aplica-se somente às nulidades relativas.
Além disso, o MP pode pleitear o reconhecimento de nulidade relativa em favor do
acusado. Assim, o contrário pode ser feito, pois o Promotor tem interesse em proteger ois
interesses do acusado. Se se deparar com uma nulidade em favor do acusado, pode alegar. Ex:
ausência de defesa. Advogado não arrola testemunhas, não faz perguntas, fica no facebook.
Nesse sentido, o acusado somente pode arguir nulidade relativa a seu favor, mas nunca em
favor do querelante ou do Ministério Público. Ex.: ausência de promotor à audiência de instrução.
Nesse caso, a nulidade apenas interessa ao MP.
Nenhuma parte pode arguir nulidade para a qual tenha concorrido. Má-fé ou em virtude de
negligencia processual.
Art. 565. Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para
que tenha concorrido, ou referente a formalidade cuja observância só à parte contrária
interesse.
Convalidar é o mesmo que remover o defeito, sanear ou sanar o vício, a fim de que um ato
processual inicialmente imperfeito possa ser considerado válido.
Segundo a doutrina, são causas de convalidação:
a) Suprimento: eventuais omissões podem ser supridas. Completa-se a parte omissa, é
acrescentada. Ex.: aditamento de denúncia (art. 569).
b) Retificação: corrige-se ato praticado de forma defeituosa. Pode ser retificada a denúncia.
Ex: copiar o nome errado do acusado, testemunha, etc.
c) Ratificação: confirma-se ato processual praticado. Ex.: queixa-crime oferecida por menor
de idade deve ser ratificada por seu representante (art. 568).
f) Coisa julgada (preclusão máxima): somente se aplica nos casos de sentença absolutória
própria. Sendo a sentença absolutória imprópria ou condenatória, há instrumentos adequados à
impugnação de nulidade, mesmo após o TJSPC.
Art. 1o A detração deverá ser considerada pelo juiz que proferir a sentença condenatória,
nos termos desta Lei.
126
Art. 2o O art. 387 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo
Penal, passa a vigorar com a seguinte redação:
O art. 387, §1º, CPP, com redação dada pela Lei 12.736/12, corresponde ao antigo art. 387,
§único.
SENTENÇA
O acusado não pode ser processado e julgado por fato diverso daquele que lhe foi
imputado na peça acusatória.
2. Emendatio libeli
Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá
atribuir-lhe definição jurídica diversa (classificação do crime), ainda que, em
consequência, tenha de aplicar pena mais grave.
§ 1o Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de
suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei.
§ 2o Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados os
autos.
Há duas correntes:
a) Apenas em sede de sentença (majoritária)
Essa corrente funda-se na localização do art. 383, que se encontra no título relativo à
sentença.
Não pode o juiz alterar a classificação do fato delituoso por ocasião do recebimento da
peça acusatória, sob pena de se fazer pré-julgamento do fato.
Segundo corrente majoritária e STF, não há necessidade de oitiva das partes em razão da
“emendatio libeli” (ação penal 461, agravo terceiro).
Porém, há corrente minoritária, no sentido de que o contraditório aplica-se tanto às
questões de fato, quanto às questões de direito.
O art. 383 trata da “emendatio” em sede de denúncia ou queixa. Por isso, entende-se que
tem cabimento em sede de:
129
3. Mutatio libeli
a) Elementares: são dados essenciais da figura típica, cuja ausência pode acarretar a
atipicidade absoluta (a conduta passa a ser atípica) ou a atipicidade relativa (desclassificação).
Ex.: “funcionário público” é elementar do crime de peculato. Retirada essa elementar,
haverá desclassificação para o crime de apropriação indébita.
b) Circunstâncias: são dados periféricos que gravitam ao redor da figura típica, básica,
podendo aumentar ou diminuir a pena, sem, porém, interferir no crime.
Ex.: qualificadoras, majorantes, minorantes, etc.
Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do
fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da
infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou
queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo
em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.
§ 1o Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28
deste Código.
§ 3o Aplicam-se as disposições dos §§ 1o e 2o do art. 383 ao caput deste artigo.
130
3.1. Agravantes
Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda
que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer
agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.
a) Fato novo
Fato novo ocorre quando os elementos do seu núcleo essencial constituírem
acontecimento criminoso completamente distinto daquele resultante do núcleo essencial da
imputação. Ou seja, o fato novo nada agrega à imputação inicial, mas a substitui por completo.
Como não há qualquer relação com o fato incialmente imputado ao acusado, não se aplica
a mutatio libeli, devendo ser instaurado novo processo criminal.
b) Fato diverso
Ocorre quando os elementos do seu núcleo essencial correspondem parcialmente aos do
fato da imputação originária, mas com o acréscimo de alguma elementar ou circunstância que o
modifique.
É para o fato diverso que se reserva a mutatio libeli.
Surgindo prova de elementar ou circunstância não contida na peça acusatória, deve ser
feito o aditamento, pouco importando o “quantum” de pena cominado à imputação diversa, se
maior ou menor.
b) Espontâneo
Hoje, o MP deverá aditar a denúncia ou queixa.
No entanto, hoje ainda há hipótese de aditamento provocado, conforme o §1º do art. 384:
Art. 384. § 1o Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28
deste Código.
Nesse caso, o PGJ pode:
1) Fazer o aditamento
2) Designar outro órgão do MP para aditar
3) Se omitir: nesse caso, o juiz terá de julgar o acusado pela imputação originária.
3.5. Procedimento da “mutatio”
Ex.: imputação por roubo simples. Durante a instrução, surgem provas sobre o emprego de
arma.
a) Aditamento pelo MP
Então, os autos seguem ao MP, para que, em 5 dias, faça aditamento espontâneo,
imputando o crime do art. 157, §2º, I.
b) Oitiva da defesa
Antes do recebimento do aditamento a defesa é ouvida sobre o aditamento. Ou seja, há
espécie de defesa preliminar (rejeição da denúncia) conjugada com resposta à acusação
(absolvição sumária).
d) Instrução
Então, os autos serão novamente instruídos, sendo obrigatória a realização de novo
interrogatório.
§ 4o Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de
5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento.
O art. 384 trata do aditamento, pelo MP, da denúncia ou queixa, se em virtude desta
(queixa) houver sido instaurado o processo em crime de ação pública.
Em razão disso, há duas correntes:
a) Majoritária
- Ação penal pública, condicionada ou não
- Ação penal privada subsidiária da pública
Em ambos os casos, o aditamento é feito pelo Ministério Público.
b) Minoritária (Badaró)
- Ação penal pública, condicionada ou não
- Ação penal privada subsidiária da pública
+
- Ação penal exclusivamente privada
- Ação penal privada personalíssima
Nestes casos, deve ser observado o prazo decadencial.
Brasileiro adota essa corrente.
Não se admite mutatio em 2º grau, sob pena de se violar o duplo grau de jurisdição, diante
da supressão da 1ª instância.
STF, Súmula 453. Não se aplicam à 2ª instância o art. 384 e parágrafo único (parágrafos) do
CPP, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de circunstância
elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou queixa.
Porém, isso não impede que o Tribunal anule o processo em face da inobservância do art.
384.
3.9. Condenação
133
Os autos devem ser remetidos ao juízo competente, conforme art. 383, §2º.
1. Conceito
b) Invalidação;
c) Integração;
d) Esclarecimento.
A maioria da doutrina entende que o recurso é mero desdobramento do direito de ação,
visto que se dá na mesma relação processual.
Exemplos:
- Apelação, devolve-se toda a matéria de fato e de direito.
- ROC, conforme art. 102, II, b, CF, é o duplo grau de jurisdição exercido junto ao STF nos
casos de crimes políticos. É muito semelhante à apelação, pois pode discutir matérias de fato, de
direito e questões probatórias.
137
O duplo grau também significa que, à exceção das hipóteses de competência originária dos
tribunais, o processo também deve ser examinado uma vez no 1º grau de jurisdição e
reexaminado uma segunda vez em sede recursal pelo tribunal. Portanto, não se pode admitir que
o Tribunal faça o exame de determinada matéria pela primeira vez, sob pena de supressão do 1º
grau de jurisdição, o que também seria causa de violação ao duplo grau de jurisdição.
Súmula 453, STF: Não se aplicam à segunda instância o Art. 384 e parágrafo único do
Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso,
em virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na
denúncia ou queixa.
A mutatio libeli não pode ser feita na 2ª instancia, pois violaria o duplo grau de jurisdição,
pois o objeto do aditamento só seria analisado no tribunal, sem a possibilidade deste objeto ser
reexaminado nos dois graus.
Segundo o STF, acusados com foro de prerrogativa de função não têm direito ao duplo grau
de jurisdição (devolução de toda a matéria). Isso não significa que a pessoa não possa recorrer.
Porém, admite-se a interpretação extensiva de recursos, conforme ocorre no RSE (art. 581
do CPP).
Exemplos:
Cabe RSE contra a decisão que receber a denúncia (inc. I). E quanto à decisão que não
receber o aditamento da denúncia? Em interpretação extensiva, admite-se RSE.
Cabe RSE contra decisão que indeferir prisão preventiva (inc. V). E quanto à decisão que
indeferir medidas cautelares? Em interpretação extensiva, admite-se RSE.
Pelo menos em regra, caso a decisão seja recorrível, deverá ser interposto um único
recurso. Para cada decisão recorrível há um único recurso cabível.
Há doutrinadores que o chamam de princípio da consunção, eis que o cabimento da
apelação tem o poder de absorver o RSE.
Ex.: art. 593, §4º
art. 593, §4º. Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido
estrito, ainda que somente de parte da decisão se recorra.
Mesmo que o juiz condene por um delito e julgue extinta a punibilidade por outro, o
recurso cabível é apelação, pois esta absorve o RESE.
Admite-se a interposição concomitante de mais de um recurso contra a mesma decisão,
desde que tenham a mesma natureza jurídica, o que é bastante comum quando há sucumbência
recíproca. Nesse caso, o princípio da unirrecorribilidade será preservado, pois os recursos têm a
mesma natureza jurídica. Tanto a acusação como a defesa interpõe apelação, mas sendo ambas
da mesma natureza jurídica, não se trata de uma exceção à unirrecorribilidade.
Recurso especial não conhecido.Habeas corpus concedido de ofício, para que o e. Tribunal
a quo aprecie, no mérito, os embargos infringentes opostos pelo ora recorrente. (REsp
881847/PE, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 22/05/2007, DJ
20/08/2007, p. 305)
Porém, o STF entende que esse art. 498 não se palica ao processo penal Ag 432884 – QO.
Uma impugnação incorreta pode ser recebida e conhecida como se fosse correta, desde
que não evidenciada a má fé por parte do recorrente.
Art. 579. Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um
recurso por outro.
Parágrafo único. Se o juiz, desde logo, reconhecer a impropriedade do recurso interposto
pela parte, mandará processá-lo de acordo com o rito do recurso cabível.
Por força desse princípio, uma impugnação adequada e correta pode ser conhecida como
se fosse outra, que, no caso concreto, apresenta-se mais vantajosa para satisfazer aos interesses
do recorrente.
Não se confunde com a fungibilidade, na qual o recorrente ajuíza o recurso errado. Na
convolação o recorrente entra com o recurso correto, mas o Tribunal conhecerá dele como se
fosse outro, por ser mais vantajoso.
Ex.: pessoa é condenada e presa por determinação de juiz absolutamente incompetente,
sendo que o advogado ajuíza revisão criminal. Nesse caso, o Tribunal pode transformar a revisão
em pedido de habeas corpus. Não está errada a revisão, pois já transitou em julgado, porém, ela é
muito lenta, assim, o habeas corpus é mais favorável que a revisão.
Nesse ponto, cabe fazer menção ao recuso de ofício (reexame necessário), que é
obrigatório em certas situações em que o juiz é obrigado a recorrer contra a sua própria decisão.
Quando a CF entrou em vigor, passaram a sustentar que o reexame não teria sido
recepcionado, pois violaria inércia. STF e STJ entendem que foi, sim, recepcionado pela CF. Não é
um recurso, é CONDIÇÃO DE EFICÁCIA OBJETIVA DA DECISÃO. Ou seja, quando ela está sujeita ao
reexame, aquela decisão não tem capacidade de transitar em julgado enquanto não submetida à
reavaliação do tribunal. Ou seja, não será capaz de transitar em julgado.
Para a doutrina, a natureza jurídica do reexame não é de recurso, pois falta a ele a
característica da voluntariedade. É, sim, condição necessária à preclusão (1) ou ao trânsito em
julgado de determinada decisão (2). Enquanto não for submetida ao reexame necessário, a
decisão não fará transito em julgado.
STF, Súmula 423. Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso “ex
officio”, que se considera interposto “ex lege”.
O reexame necessário não é submetido a prazo, nem a razões recursais (não há violação do
contraditório e da ampla defesa). Somente é cabível contra decisões de juiz de 1º grau, mesmo
que o Tribunal atue na sua competência originária. Devolve-se ao juiz ad quem o conhecimento
integral da causa, o Tribunal pode apreciar tudo, pouco importando se para prejudicar ou
beneficiar, inclusive uma nulidade contra o acusado.
É obrigatório nas hipóteses legais, ainda que haja recurso das partes. Nesses casos,
devolve-se toda a matéria ao Tribunal (“juízo ad quem”), que poderá conhecer qualquer matéria,
ainda que prejudicial ao acusado.
STF, Súmula 160. É nula a decisão do Tribunal que acolhe contra o réu nulidade não
arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.
1. Se é certo que a fixação do regime inicial aberto para uma condenação por latrocínio
(art. 157, § 3º, do Código Penal) com reprimenda de 18 (dezoito) anos de reclusão,
caracteriza evidente "erro material", não menos certo que, no caso concreto, houve o
trânsito em julgado da sentença sem que o órgão acusador opusesse embargos de
declaração ou interpusesse recurso de apelação. Dormientibus non succurrit jus.
2. Tratando-se, com se trata, de Direito Penal adjetivo não se pode falar em correção ex
officio de "erro material", máxime contra o réu. Tal instituto é próprio do Direito
Processual Civil (art. 463, I, do CPC).
143
(HC 176320/AL, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão Ministro
JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 17/05/2011, DJe 17/09/2012)
Previsão: Há quem diga que previsto apenas no CPP – lei ordinária. Art. 617.
Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts.
383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando
somente o réu houver apelado da sentença.
Parágrafo único. De qualquer maneira, não poderá ser agravada a pena imposta pela
decisão revista.
Outros entendem que é desdobramento lógico da ampla defesa. Se ele é consectário lógico
da ampla defesa, está previsto portanto na CF88. Lembrar que nem mesmo erro material pode ser
corrigido.
Portanto, o Tribunal só pode piorar a situação do réu: 1) Recurso de ofício; 2) Recurso da
acusação.
vinculado ao máximo da pena fixada na primeira decisão, não podendo agravar a situação do
acusado. Aqui, o juiz (a quo – 1ª instância) não pode proferir decisão prejudicial.
AÇÃO PENAL. Homicídio doloso. Tribunal do Júri. Três julgamentos da mesma causa.
Reconhecimento da legítima defesa, com excesso, no segundo julgamento. Condenação do
réu à pena de 6 (seis) anos de reclusão, em regime semi-aberto. Interposição de recurso
exclusivo da defesa. Provimento para cassar a decisão anterior. Condenação do réu, por
homicídio qualificado, à pena de 12 (doze) anos de reclusão, em regime integralmente
fechado, no terceiro julgamento. Aplicação de pena mais grave. Inadmissibilidade.
Reformatio in peius indireta. Caracterização. Reconhecimento de outros fatos ou
circunstâncias não ventilados no julgamento anterior. Irrelevância. Violação conseqüente
do justo processo da lei (due process of law), nas cláusulas do contraditório e da ampla
defesa. Proibição compatível com a regra constitucional da soberania relativa dos
veredictos. HC concedido para restabelecer a pena menor. Ofensa ao art. 5º, incs. LIV, LV e
LVII, da CF. Inteligência dos arts. 617 e 626 do CPP. Anulados o julgamento pelo tribunal
do júri e a correspondente sentença condenatória, transitada em julgado para a
acusação, não pode o acusado, na renovação do julgamento, vir a ser condenado a pena
maior do que a imposta na sentença anulada, ainda que com base em circunstância não
ventilada no julgamento anterior.
(HC 89544, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma, julgado em 14/04/2009, DJe-
089 DIVULG 14-05-2009 PUBLIC 15-05-2009 EMENT VOL-02360-01 PP-00197 RTJ VOL-
00209-02 PP-00640 RT v. 98, n. 886, 2009, p. 487-498 LEXSTF v. 31, n. 365, 2009, p. 348-
366 RSJADV dez., 2009, p. 46-51)
A soberania dos veredictos somente se aplica aos jurados e não ao juiz. É somente este, o
juiz-presidente, quem se vincula ao Princípio da “Non reformatio in pejus indireta”. Por isso,
podem os jurados reconhecer qualificadoras, causas de aumento, etc., não reconhecidas no 1º
julgamento.
Porém, caso os jurados votem de forma idêntica ao 1º julgamento, o juiz-presidente não
poderá aplicar pena superior.
Este princípio pode ser extraído a partir de uma interpretação a contrario sensu do art.
617, CPP.
Trata-se de mitigação ao efeito devolutivo dos recursos.
Além deste argumento, há dois detalhes importantes. A liberdade de locomoção é um de
natureza indisponível e, portanto, se o tribunal se depara com ameaça à liberdade, ele pode
apreciar. De mais a mais, juízes e tribunais podem conceder HC de ofício. É a opinião que
prevalece. Pode também entender que pode melhorar a situação, mesmo que a defesa tenha
recorrido e não tenha pedido aquele ponto.
Principio do favor rei. STJ – agrg no HC 162.481.
Súmula 707 STF. Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer
contra-razões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação
de defensor dativo.
Contra rejeição = RESE. Fala-se antigamente que não precisava de contrarrazões neste
RESE. Mas o acusado tem interesse em apresentar contrarrazões. Isto é o princípio da
dialeticidade.
Cuidar: o art. 589 e 601 permite que o recurso suba ao juízo “ad quem” sem as razões
recursais.
Art. 589. Com a resposta do recorrido ou sem ela, será o recurso concluso ao juiz, que,
dentro de dois dias, reformará ou sustentará o seu despacho, mandando instruir o recurso
com os traslados que Ihe parecerem necessários. (...)
Por este artigo, parece dizer que o recurso pode ser julgado pelo juiz sem razões recursais
da defesa. (RESE)
Art. 601. Findos os prazos para razões, os autos serão remetidos à instância superior, com
as razões ou sem elas, no prazo de 5 (cinco) dias, salvo no caso do art. 603, segunda parte,
em que o prazo será de trinta dias. (...)
Da mesma forma este artigo parece transparecer a idéia de que é possível julgar um
recurso sem as contrarrazões.
Porém, para a doutrina, o julgamento de um recurso sem razões ou contrarrazões viola o
princípio da dialeticidade.
É nesse sentido o entendimento do STJ e STF (HC 91.251).
Para a doutrina, o julgamento de um recurso sem razões ou contrarrazões viola o princípio da
dialeticidade. Não pode proceder ao julgamento sem razões ou contrarrazões. Se o promotor não
apresenta razões ou contrarrazões, art. 28 do CPP. Se a defesa não apresenta, nomeia dativo.
Este pensamento da doutrina, até bem pouco tempo atrás não era o entendimento da
jurisprudência. Mais recentemente, STF – HC 88.409.
Sem razões do MP é o mesmo que estar indefeso. Não tem como apreciar sem razões. Não
tem argumentos.
Frisa-se que na sustentação oral de RSE e na apelação de contravenção ou crime de
detenção, quem fala primeiro é o advogado e, só depois, o procurador de Justiça ou da República
(MP).
148
Art. 610. Nos recursos em sentido estrito, com exceção do de habeas corpus, e nas
apelações interpostas das sentenças em processo de contravenção ou de crime a que a lei
comine pena de detenção, os autos irão imediatamente com vista ao procurador-geral
pelo prazo de cinco dias, e, em seguida, passarão, por igual prazo, ao relator, que pedirá
designação de dia para o julgamento.
Parágrafo único. Anunciado o julgamento pelo presidente, e apregoadas as partes, com a
presença destas ou à sua revelia, o relator fará a exposição do feito e, em seguida, o
presidente concederá, pelo prazo de 10 (dez) minutos, a palavra aos advogados (1) ou às
partes que a solicitarem (2) e ao procurador-geral (3), quando o requerer, por igual prazo.
Pela leitura dele, o Procurador Geral falaria por último. Se é da defesa, tudo bem.
Este parágrafo único caiu por terra. STF, HC 87.926. Em recurso exclusivo da acusação, a
sustentação oral do procurador de justiça deve anteceder a manifestação da defesa.
O Pleno do STF (HC 87.926) decidiu que, em se tratando de recurso da defesa, deve esta
falar em primeiro lugar. Porém, sendo o recurso da acusação, a sustentação do MP deverá ser
feita antes do advogado, mesmo que atue como fiscal da lei.
Por força deste princípio, admite-se que a parte recorrente possa complementar as razões
de recurso já interposto sempre que, no julgamento de embargos de declaração interpostos pela
149
parte contrária, for criada uma nova sucumbência em virtude da alteração ou integração da
decisão.
A parte pode variar de recurso, desde que dentro do prazo recursal. Ou seja, a parte pode
substituir um recurso por outro.
Desse modo, a parte pode interpor novo recurso em substituição a outro anteriormente
interposto, desde que o faça dentro do prazo legal.
Esse princípio é rejeitado pela maioria da doutrina, em razão da incidência de preclusão
consumativa. Uma vez interposto o recurso, não é possível que a parte queira substituir por outro,
ainda que o faça dentro do prazo legal, porquanto teria havido a preclusão consumativa.
Art. 609. Os recursos, apelações e embargos serão julgados pelos Tribunais de Justiça,
câmaras ou turmas criminais, de acordo com a competência estabelecida nas leis de
organização judiciária. (Redação dada pela Lei nº 1.720-B, de 3.11.1952)
Parágrafo único. Quando não for unânime a decisão de segunda instância, desfavorável
ao réu, admitem-se embargos infringentes e de nulidade, que poderão ser opostos dentro
de 10 (dez) dias, a contar da publicação de acórdão, na forma do art. 613. Se o desacordo
for parcial, os embargos serão restritos à matéria objeto de divergência. (Incluído pela Lei
nº 1.720-B, de 3.11.1952)
Discussão quanto à possibilidade de aplicação do art. 557, §1ª-A, do CPC no processo penal.
Para que determinado recurso seja conhecido, devem estar presentes certos pressupostos
subjetivos e objetivos. Em regra, a presença destes pressupostos deve ser aferida pelo juízo a quo
e pelo juízo ad quem. Em regra, a verificação da presença costuma ser feita pelos dois juízos.
Essa verificação é chamada de “juízo de prelibação”. Há recursos em que o juízo de
prelibação é feito apenas pelo juízo ad quem. Exemplo: CARTA TESTEMUNHÁVEL.
É o recurso a ser usado quando outro recurso for denegado. Mas há, por exemplo, RESE
contra decisão que denegar apelação. Se for denegação de apelação, caberá RESE. Se denega RESE
= carta testemunhável. Carta testemunhal é subsidiária.
A carta testemunhável não passa pelas mãos do juízo a quo. O escrivão extrai as peças para
encaminhar carta ao tribunal. O juízo de admissibilidade recursal é feito apenas pelo juízo ad
quem. Vai diretamente para ser julgado pelo ad quem.
Não confundir conhecimento e provimento. Quando ele é conhecido, estão presentes os
pressupostos de admissibilidade. O provimento está ligado ao mérito do recurso. A expressão
mérito recursal pode abranger tanto questões de direito material como de direito processual.
Ficar atento ao efeito substitutivo. Quando recorre e devolve conhecimento da matéria
para o tribunal, quando o tribunal analisa e dá ou nega provimento, a decisão substitui a decisão
de primeira instância. CPC, art. 512.
Ele não está presente só quando muda decisão. Ele está presente quando denega recurso
também. Mesmo quando o Tribunal nega provimento ao recurso e confirma integralmente a
decisão de 1ª Instância se opera efeito substitutivo, mesmo quando confirma. O Tribunal dá uma
nova decisão. Para que o efeito substitutivo produza seus efeitos regulares, só há falar na
aplicação deste efeito se o recurso for conhecido. Quando ele não é conhecido, não se opera
efeito substitutivo.
São os que dizem respeito ao próprio recurso. Antes de ingressar no mérito recursal, o
Tribunal deve verificar a presença dos pressupostos de admissibilidade. Esses pressupostos
dividem-se em:
a) Cabimento
Ligado ao princípio da taxatividade. Deve ser compreendido como a previsão legal da
existência do recurso. Só pode interpor se este recurso estiver previsto em lei. Geralmente
decisões interlocutórias no processo penal são irrecorríveis.
Caso determinada decisão seja irrecorrível – ex. indeferimento de perguntas em audiência
– a parte pode impugná-la em preliminar de futura e eventual apelação, sem prejuízo da
utilização do HC e do MS. Lembrar de fazer constar na ata o que está acontecendo. Depois pode
virar cerceamento de defesa na preliminar.
b) Adequação
Deve ser utilizada a impugnação correta para o questionamento de determinada decisão.
Depois que verifica que cabe recurso contra aquela decisão, tem que se valer da via impugnativa
adequada. Esse pressuposto acaba sendo mitigado pelo princípio da fungibilidade, desde que não
apresente má-fé.
c) Tempestividade
O recurso deve ser interposto dentro do prazo previsto em lei, sob pena de preclusão
temporal. Ao contrário do que acontece no processo civil, no processo penal existe peculiaridade
interessante. No processo penal é possível a interposição de um recurso com a apresentação
posterior das razões recursais.
153
Exemplo: apelação. Apelar em até 5 dias. A lei permite prazo de 8 dias para apresentar
razões. Depois da interposição, o juiz abre vista e tem 8 dias para razões. Nesse caso, o prazo fatal
é o da interposição do recurso. Ou seja, a apresentação de razões recursais fora do prazo é mera
irregularidade.
O prazo que realmente interessa é o prazo da interposição. Mesmo que apresente razões
fora do prazo – recurso será conhecido, pois é mera irregularidade. STJ – HC 204.099.
Súmula 310, STF: Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com
efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira
imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que
se seguir.
A intimação do MP, dos Defensores Públicos e dos defensores dativos é SEMPRE PESSOAL.
Se intimar defensor público através de publicação na imprensa = intimação é nula.
Como se dá intimação pessoal do MP? Para o STF, a entrega dos autos em setor
administrativo do MP configura intimação direta e pessoal. STF – HC 83.255.
O acusado, em regra, sua intimação também deve ser feita de maneira pessoal.
A intimação do defensor constituído, do advogado do querelante e do advogado do
assistente da acusação é feita mediante publicação. Nesta publicação deve constar o nome do
acusado, sob pena de nulidade. STJ – HC 110.119.
(HC 110119/SP, Rel. Ministro NILSON NAVES, SEXTA TURMA, julgado em 17/03/2009, DJe
22/06/2009)
STJ – HC 33.771.
Súmula 710 STF. No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da
juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.
Se o acusado foi intimado por carta precatória, a partir do dia da intimação já começa a
fluir.
Cuidado com a intimação por publicação nos finais de semana. Quando a intimação é feita
por publicação nos finais de semana, o termo a quo para a contagem do prazo é o primeiro dia útil
subseqüente. Na verdade é como se ela estivesse sendo intimada na segunda-feira. Assim, o prazo
começa a fluir na terça-feira.
Outro detalhe: decisões proferidas em audiência. Caso as partes estejam presentes, o
prazo recursal começa a fluir a partir deste momento. No tribunal do júri, a decisão é lida no final
do julgamento. Mas pode ser que o réu não esteja. O prazo começa a fluir a partir do dia útil
subseguinte.
Decisões proferidas pela Justiça Militar: na justiça militar, a decisão pode ser lida na
própria sessão de julgamento ou em até oito dias. O prazo recursal só começará a fluir a partir da
leitura da decisão.
Na área cível, quem interpõe o recurso é o advogado. Processo penal tem peculiaridade.
No processo penal, tanto o acusado quanto seu defensor são dotados de legitimidade autônoma
e distinta para INTERPOR recursos. Geralmente juiz vai intimar advogado ou dativo para
apresentar razões quando o acusado interpõe.
Por isso, ambos devem ser intimados acerca de eventual sentença condenatória ou
absolutória imprópria. Isso só é necessário se sentença condenatória ou absolutória imprópria.
Ex: intima pessoalmente o defensor público e pessoalmente o acusado.
156
Qual dos dois deve ser intimado primeiro? Pouco importa a ordem de intimação.
PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. ART. 171, § 3º C/C ART. 14, INCISO II, AMBOS DO
CÓDIGO PENAL. NULIDADE. RÉU E ADVOGADO CONSTITUÍDO. SENTENÇA CONDENATÓRIA.
INTIMAÇÃO. ORDEM CRONOLÓGICA. IRRELEVÂNCIA. INTIMAÇÃO QUE SE DÁ DE FORMA
PESSOAL EM RAZÃO DA NORMA ESPECÍFICA PREVISTA NO ART. 392 DO CPP AFASTANDO A
INCIDÊNCIA DA NORMA GERAL PREVISTA NO ART. 370, §§ 1º E 2º DO MESMO CODEX.
I - É indiferente a ordem cronológica para a intimação do réu e de seu defensor.
(Precedente do STF e desta Corte).
II - Em regra, em se tratando de advogado constituído a intimação dos atos processuais se
dá por meio de publicação no órgão incumbido da publicação dos atos judiciais, salvo
disposição expressa em contrário.
III - Em primeiro grau, a intimação da decisão condenatória não pode, até por respeito ao
disposto no art. 5º, inciso LV, da Carta Magna, ser feita pela imprensa. E isto, porque a
regra específica do art. 392 do CPP não foi revogada pela norma geral do art. 370, §§ 1º e
2º do mesmo Codex (com a redação dada pela Lei nº 9.271/96. Precedentes. Todavia, tal
procedimento não é aplicável às decisões de segundo grau. Recurso parcialmente provido.
(REsp 873052/TO, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 15/03/2007,
DJ 04/06/2007, p. 421)
Art. 9o Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual pelas
pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição de recursos, devendo a citação
para audiência de conciliação ser efetuada com antecedência mínima de trinta dias.
- Defensor dativo NÃO TEM PRAZO EM DOBRO. Tem direito à intimação pessoal.
- MP não tem prazo em dobro. Não confundir com processo civil:
Art. 188, CPC. Computar-se-á em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para
recorrer quando a parte for a Fazenda Pública ou o Ministério Público.
É perfeitamente possível. STF – HC 86.952. Prazo de cinco dias para original. Os cinco dias
são contados a partir do fim do prazo que eu tinha. Não é do dia que enviou fax, se enviou antes.
Posso interpor por meios eletrônicos? Lei 11.419/06 prevê que a utilização também pode
se dar no processo penal. A única ressalva diz respeito à citação. Não pode querer fazer citação
por meios eletrônicos.
d) Regularidade formal
b) Pressupostos subjetivos
- Legitimidade
- Interesse
2.1. Legitimados
Em regra, sua presença é aferida pelo juízo “a quo” e “ad quem”.
a) “A quo”: juízo contra o qual se recorre.
b) “Ad quem”: juízo para o qual se recorre.
Porém, por vezes, podem os juízos “a quo” e “ad quem” confundirem-se em um mesmo
órgão. Ex.: embargos de declaração.
2) revisão julgada no TJ/RS, caso a revisão criminal tenha por objeto matéria que não
foi apreciada pelo STF no julgamento do RE.
- RE não conhecido: revisão julgada no TJ/RS.
Ver: STJ, RC 717 e RC 319.
3. Pressuposto objetivo: CABIMENTO
É a previsão legal da existência de recurso.
No processo penal vigora o princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias, salvo
se, por ventura, listadas no art. 581 do CPP.
Decisões irrecorríveis (sem previsão legal de recurso) podem, porém, ser impugnadas em:
a) Preliminar de futura e eventual apelação.
b) Ações autônomas de impugnação: por vezes admite-se habeas corpus e mandado de
segurança.
c) Correição parcial: nos casos de “error in procedendo”.
4. Pressuposto objetivo: ADEQUAÇÃO
É a utilização da impugnação correta para a busca do reexame da decisão.
4.1. Princípio da fungibilidade
Objetiva a mitigação do pressuposto da adequação.
Art. 579. Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um
recurso por outro.
Parágrafo único. Se o juiz, desde logo, reconhecer a impropriedade do recurso interposto
pela parte, mandará processá-lo de acordo com o rito do recurso cabível.
Somente se aplica a fungibilidade no caso de boa fé do recorrente. Segundo a doutrina, há
má-fé nos seguintes casos:
a) Não observado o prazo previsto em lei para o recurso adequado.
b) Erro grosseiro (erro crasso)
Segundo os Tribunais, a fungibilidade só é admitida em caso de dúvida objetiva acerca do
recurso adequado. Ex.: recurso da suspensão condicional do processo.
5. Pressuposto objetivo: TEMPESTIVIDADE
O recurso deve ser interposto no prazo previsto em lei, sob pena de preclusão temporal.
Em razão disso, deve-se atentar para o “dies a quo” (início do prazo) e “dies ad quem”
(término do prazo).
5.1. Momento
A tempestividade é constatada na data do protocolo.
Art. 575. Não serão prejudicados os recursos que, por erro, falta ou omissão dos
funcionários, não tiverem seguimento ou não forem apresentados dentro do prazo.
STF, Súmula 428. Não fica prejudicada a apelação entregue em cartório no prazo legal,
embora despachada tardiamente.
5.2. Interposição e razões
160
No processo penal, ao contrário do que ocorre no processo civil, há recursos que admitem
a interposição por via de uma peça e as razões por meio de outra.
Ex.: apelação tem interposição em 5 dias e razões em 8 dias.
Diante disso, discute-se qual o prazo gera a intempestividade, se o prazo para interposição
ou o prazo para razões? A tempestividade é aferida segundo a data de interposição do recurso.
Segundo a jurisprudência, a apresentação de razões recursais fora do prazo é mera irregularidade.
e 2º grau. ao STF
RSE, salvo contra Recurso
Carta a lista geral de Embargos especial ao
testemunhável Embargos de jurados (20 dias). infringentes e de STJ
(art. 640), dirigida declaração no Protesto por nulidade, contra Recurso
ao Escrivão STJ, em caso de novo júri decisão do TJ ou TRF, ordinário ao
(diretor de matéria penal (revogado) em: STJ contra
secretaria). * (art. 263 do Embargos de a) Apelação decisões
RI/STJ). declaração nos b) RSE denegatórias
Juizados c) Agravo em de MS (art.
Especiais execução 33, Lei
Criminais Não se admite em: 8.038/90)
Embargos de HC, revisões
declaração no criminais, etc.
STF
Recurso
ordinário para o
STJ e STF, contra
decisões
denegatórias de
HC
Correição parcial
Agravo em
execução (STF,
Súmula 700).
Abrange:
a) Forma de interposição do recurso
No 1º grau, os recursos, em regra, podem ser interpostos por: 1) Termo nos autos: é a
manifestação inequívoca quanto à intenção de recorrer. Ex.: o acusado manifesta seu direito de
recorrer no momento da intimação pelo oficial de justiça, que certifica essa intenção; 2) Petição:
geralmente são os recursos em que se podem apresentar razões separadas.
Art. 578. O recurso será interposto por petição (1) ou por termo nos autos (2), assinado
pelo recorrente ou por seu representante.
b) Motivação do recurso
Liga-se aos recursos de fundamentação vinculada. Ex.: apelação do Júri; recurso
extraordinário, etc.
c) Formação de instrumento
Os recursos que dependem de formação de instrumento são de ônus da parte recorrente,
sob pena de não conhecimento.
STJ, Súmula 115. Na instância especial, é inexistente recurso interposto por advogado sem
procuração nos autos.
Para o STF, também se aplica a Súmula 115 no processo penal. Ou seja, o recurso
interposto sem procuração (1) poderá ser considerado inexiste. Porém, no processo penal o
advogado pode ser constituído no próprio ato da audiência, razão pela qual, nesse caso, deve ser
apresentada a “ata de audiência” (2).
Art. 266. A constituição de defensor independerá de instrumento de mandato, se o
acusado o indicar por ocasião do interrogatório.
9. Pressuposto subjetivo: LEGITIMIDADE RECURSAL
9.1. Legitimação ampla (legitimados gerais)
Podem interpor qualquer recurso.
Art. 577. O recurso poderá ser interposto pelo Ministério Público (1), ou pelo querelante
(2), ou pelo réu (3), seu procurador (4) ou seu defensor (5). Parágrafo único. Não se admitirá,
entretanto, recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou modificação da decisão.
No processo penal, tanto o acusado quanto o seu defensor podem interpor recurso.
Interposto o recurso pelo acusado, deve ser designado advogado para apresentar as razões.
O defensor, no processo penal, possui legitimação própria, autônoma para interpor
recursos. Ou seja, a legitimação do defensor independe da vontade do acusado, inclusive conta a
sua vontade. Não há representação processual, mas sim múnus público.
A ampla defesa do divide-se em:
a) Defesa técnica (advogado)
b) Autodefesa (acusado)
- Direito de presença.
- Direito de audiência.
- Capacidade postulatória autônoma para interpor recursos.
167
Esse é o teor do art. 283 do CPP, com redação de 2011: Art. 283. Ninguém poderá ser preso
senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da
investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.
11.4. Efeito regressivo / iterativo / diferido
Trata-se do efeito que permite a devolução da matéria impugnada ao reexame do mesmo
órgão jurisdicional que prolatou a decisão recorrida.
Há efeito de retratação, podendo o juiz voltar atrás na sua decisão ou mantê-la.
Recursos que admitem retratação:
a) RSE
Art. 589. Com a resposta do recorrido ou sem ela, será o recurso concluso ao juiz, que,
dentro de dois dias, reformará ou sustentará o seu despacho, mandando instruir o recurso com os
traslados que Ihe parecerem necessários.
Parágrafo único. Se o juiz reformar o despacho recorrido, a parte contrária, por simples
petição, poderá recorrer da nova decisão, se couber recurso, não sendo mais lícito ao juiz
modificá-la. Neste caso, independentemente de novos arrazoados, subirá o recurso nos próprios
autos ou em traslado.
Nesse caso, ambas as decisões do magistrado, a recorrida (1) e a reformada (2), devem
admitir RSE, ocasião em que se admite o recurso por meio de simples petição.
b) Carta testemunhável
c) Agravo em execução
11.5. Efeito extensivo
Pode estar presente em todo e qualquer recurso.
Art. 580. No caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 29), a decisão do recurso
interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente
pessoal, aproveitará aos outros.
É desdobramento do princípio da isonomia entre os réus.
11.6. Efeito substitutivo
O julgamento proferido pelo juízo “ad quem” substitui a decisão impugnada no que tiver
sido objeto de recurso, ainda que seja negado provimento ao recurso.
A decisão do Tribunal substitui a decisão de 1º grau mesmo que seja idêntica à primeira
decisão (art. 512 do CPC).
11.7. Efeito translativo
Consiste na devolução ao juízo “ad quem” de toda a matéria não atingida pela preclusão.
Encontra-se presente no recurso de ofício (reexame necessário), conforme se extrai da
súmula 160 do STF.
12. Classificação dos recursos
12.1. Quanto à obrigatoriedade
a) Recurso voluntário
172
STF, Súmula 356. O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos
declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do
prequestionamento.
12.5. Quanto ao objeto imediato do recurso
a) Recursos ordinários
Visa, de forma direta, proteger o interesse do sucumbente. Indiretamente, também se
objetiva a proteção do direito.
b) Recursos extraordinários
São os recursos que tenham por objeto imediato a proteção do direito em si. Não visa,
diretamente, a proteção do interesse das partes. Ex.: Resp. e RE.
AÇÕES DE IMPUGNAÇÃO
1. Revisão criminal
a) Ação penal de natureza constitutiva
b) Competência originária dos Tribunais
c) Tem por objetivo a revisão de decisão condenatória ou absolutória imprópria transitada
em julgado e eivada de erro judiciário.
1.1. Natureza jurídica
Ação autônoma de impugnação, embora seja prevista no capítulo que trata dos recursos
penais.
1.2. Coisa julgada
A coisa julgada relaciona-se à segurança jurídica. Por outro lado, a rescisão da sentença
visa a reparação de erro judiciário, buscando-se a justiça da decisão.
No Brasil só existe revisão criminal em favor do acusado. Ou seja, não existe revisão
criminal “pro societate”.
A revisão criminal não se confunde com a ação rescisória do Processo Civil:
1.3. Legitimação
Ativa
a) Acusado
b) Defensor
174
c) CADI
Art. 623. A revisão poderá ser pedida pelo próprio réu ou por procurador legalmente
habilitado ou, no caso de morte do réu, pelo cônjuge (e companheiro), ascendente, descendente
ou irmão.
Falecendo o condenado no curso da revisão deverá ser nomeado curador para a sua
defesa.
Art. 631. Quando, no curso da revisão, falecer a pessoa, cuja condenação tiver de ser
revista, o presidente do tribunal nomeará curador para a defesa.
d) MP, desde que em favor do acusado
Pode, na revisão criminal, existir dois promotores: um como autor da ação e outro como
fiscal da lei.
De qualquer sorte, é obrigatória a intervenção do MP como fiscal da lei.
Passiva
Estado.
1.4. Interesse de agir
A revisão criminal só pode ser ajuizada diante de:
a) Sentença condenatória
b) Sentença absolutória imprópria (medida de segurança)
c) Transitadas em julgado
1.5. Hipóteses de cabimento
Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida:
I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal (1) ou à
evidência dos autos (2);
Para a doutrina entende-se por “lei penal” a lei penal, processual penal e, até mesmo, a
Constituição Federal. Ex.: sentença com base em prova ilícita (contra CF).
Essa contrariedade deve ser manifesta, expressa. Não se admite controvérsia.
STF, Súmula 343. Não cabe ação rescisória (estende-se à revisão criminal) por ofensa a
literal disposição de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de
interpretação controvertida dos tribunais.
Para os Tribunais, determinado entendimento era controvertido. Porém, em certo
momento há pacificação de entendimento em determinado sentido, podendo-se, então, ajuizar
revisão criminal. Ex.: antigamente, conforme o duplo grau de jurisdição, o condenado que tivesse
fugido, não podia apelar. Porém, hoje se admite apelação por condenado que tenha fugido. Nesse
caso, a defesa buscará a desconstituição da decisão transitada em julgado, para o fim de admitir
recurso.
II - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos
comprovadamente falsos;
Nesse caso, a falsidade pode ser provada em sede de revisão criminal, bem como em
justificação.
175
Esses documentos alegados falsos devem ter servido como fundamento da sentença. Ou
seja, deve-se analisar a influência (relevância) da prova falsa na condenação do acusado.
III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado (1)
ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena (2).
Segundo os Tribunais, “prova nova” não é apenas a prova não existente no processo, como
também a prova já produzida novamente analisada. Ex.: novos conhecimentos científicos no DNA.
Porém, a revisão criminal não se presta para o reexame do conjunto probatório (STJ, Resp.
763.283).
1.6. Desnecessidade de recolhimento à prisão
Hoje, o acusado não precisa recolher-se à prisão para que possa ajuizar revisão criminal.
STF, Súmula 393. Para requerer revisão criminal o condenado não é obrigado a recolher-se
à prisão.
1.7. Inexistência de prazo preclusivo
A revisão criminal não se submete a prazo preclusivo, ao contrário da ação rescisória do
processo civil.
1.8. Competência
Em regra, é ação de competência originária dos Tribunais.
Frisa-se que a jurisprudência tem sido admitida no âmbito dos Juizados Especiais Criminais,
cuja competência será da Turma Recursal.
1.9. Ônus da prova
Em regra, a acusação deve provar a culpa do acusado, em razão da presunção de inocência.
Essa presunção, porém, ocorre até o trânsito em julgado da decisão. Por isso, na revisão
criminal o ônus da prova compete ao acusado (autor da revisão criminal), não se podendo falar em
presunção de inocência.
Ou seja, na revisão criminal não se aplica o “in dubio pro reo” (STF, HC 68.437).
1.10. Efeito suspensivo
Em regra, a revisão criminal não é dotada de efeito suspensivo.
Ou seja, o ajuizamento da revisão criminal não tem o condão de suspender a execução da
pena (sentença condenatória).
Porém, para a doutrina, quando for evidente o erro judiciário, deve-se conjugar a revisão
criminal com a ação de habeas corpus.
1.11. Recursos cabíveis
Em regra não se admite recurso ordinário contra a revisão criminal.
Admite-se a interposição de recursos extraordinários (RE e Resp.). Além disso, admitem-se
embargos de declaração.
Não se admitem embargos infringentes e de nulidade contra revisão criminal, que depende
de decisão não unânime em apelação, RSE ou agravo em execução.
1.12. Indenização pelo erro judiciário
O Estado tem responsabilidade civil objetiva, que independe de dolo ou culpa.
176
Art. 630. O tribunal, se o interessado o requerer, poderá reconhecer o direito a uma justa
indenização pelos prejuízos sofridos.
§ 1o Por essa indenização, que será liquidada no juízo cível, responderá a União, se a
condenação tiver sido proferida pela justiça do Distrito Federal ou de Território, ou o Estado, se o
tiver sido pela respectiva justiça.
§ 2o A indenização não será devida:
a) se o erro ou a injustiça da condenação proceder de ato ou falta imputável ao próprio
impetrante, como a confissão ou a ocultação de prova em seu poder;
b) se a acusação houver sido meramente privada.
A alínea “b” não foi recepcionada pela CR/88.
2. Habeas corpus
Art. 5º. LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer (1) ou se achar
ameaçado (2) de sofrer violência (1) ou coação (2) em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade (1) ou abuso de poder (2);
2.1. Natureza jurídica
É ação autônoma de impugnação.
2.2. Momento
Pode ser impetrado a qualquer momento, desde o inquérito até momento posterior ao
trânsito em julgado da sentença.
Porém, deve ser cabível ao crime a aplicação de pena privativa de reclusão.
2.3. Espécies
a) Liberatório
Já se consumou o constrangimento, razão pela qual se busca expedição de alvará de
soltura.
b) Preventivo
Decorre de risco potencial (concreto) à liberdade de locomoção, ocasião em que se deve
buscar salvo-conduto.
Não se admite HC preventivo contra “lei em tese”. Ex.: HC contra lei de embriaguez,
supondo eventual prisão.
2.4. Transgressões disciplinares
Art. 142. § 2º - Não caberá "habeas-corpus" em relação a punições disciplinares militares.
Segundo entendimento dos Tribunais, não se admite HC contra o mérito da punição
disciplinar. Porém, admite-se HC contra a ilegalidade da punição.
2.5. Interesse de agir
O ajuizamento da revisão depende de demonstração de risco à liberdade de locomoção.
STF, Súmula 693. Não cabe HC contra decisão condenatória a pena de multa ou relativo a
processo em curso por infração a que a pena pecuniária seja a única cominada.
Hoje, a multa não pode mais ser convertida em prisão.
177
STF, Súmula 694. Não cabe HC contra a imposição da pena de exclusão de militar ou de
perda de patente ou de função pública.
STF, Súmula 695. Não cabe HC quando já extinta a PPL.
2.6. Sujeitos
a) Legitimado ativo
Qualquer pessoa (física ou jurídica) pode impetrar HC, sendo ou não advogado.
O HC pode ser concedido de ofício.
Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de
outrem, bem como pelo Ministério Público. § 2 o Os juízes e os tribunais têm competência para
expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando no curso de processo verificarem que alguém
sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal.
b) Pacientes
Somente pode ser pessoa física, eis que a pessoa jurídica não é dotada de liberdade de
locomoção.
c) Legitimado passivo
Pode ter como autoridade coatora tanto particular (ilegalidade) como autoridade pública
(abuso de poder ou ilegalidade).
2.7. Competência
STF, Súmula 690 (revogada). Compete originariamente ao STF o julgamento de HC contra
decisão de turma recursal dos Juizados Especiais Criminais.
Hoje, o HC contra turma recursal é julgado pelo TJ ou TRF.
STF, Súmula 691. Não compete ao STF conhecer de HC impetrado contra decisão de relator
que, em HC requerido a tribunal superior, indefere liminar.
O HC permite medida liminar que, em regra, é decidida pelo relator. Nesse caso, contra
essa decisão não cabe HC, eis que ainda não há opinião da Turma ou Câmara.
O STF, porém, tem relativizado essa súmula. Sendo a decisão teratológica do relator,
indeferindo liminar, admite-se impetração de HC (HC 87.468).