Funções Executivas na PHDA em Crianças
Funções Executivas na PHDA em Crianças
E em Cria
rianças com
Perturbação de
d Hiperatividade e Défice de
Atenção
Dissertação de Mestrad
ado em Psicologia Clinica e da Saúde
Orientação: Professor D
Doutor Enrique Vásquez-Justo
Co-Orientação: Professo
sora Doutora Sara Fernandes
abril, 2017
Diana Filipa Coutinho Ferreira
Abril, 2017
Agradecimentos
Aos meus pais, Margarida e João, em primeiro lugar por toda a educação com
que me brindaram, que me possibilitou ser a pessoa e a profissional que sou hoje, e em
segundo lugar pelo apoio e incentivo incondicional nesta caminhada.
Aos meus amigos, pela amizade, apoio, compreensão e pelos bons momentos,
que tanto ajudaram nesta fase.
Um especial obrigado à Carolina, que foi mais do que uma amiga, foi uma
inspiração. Por toda a ajuda, por ter estado sempre presente.
Resumo
Introdução: A PHDA é uma das perturbações de neurodesenvolvimento mais
diagnosticadas na infância e, apesar dos esforços realizados, não existem dados
concretos sobre o papel das funções executivas nesta perturbação. Tendo por base estes
aspetos, avaliar o impacto que as funções executivas possuem em crianças e jovens com
PHDA torna-se premente.
Objetivos: O presente estudo procurou comparar as funções executivas de um grupo de
crianças e jovens com PHDA com um grupo de controlo (sem PHDA).
Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo-comparativo, transversal, utilizando a
metodologia quantitativa. Fizeram parte deste estudo 40 participantes, residentes no
distrito do Porto, com idades compreendidas entre os 9 e os 15 anos, dos quais 24
possuem o diagnóstico de PHDA e 16 sem qualquer diagnóstico de PHDA.
Procedimento e Instrumentos: Numa sessão de aproximadamente 120 minutos, e após
consentimento informado, foram aplicados os seguintes instrumentos: questionário
sóciodemográfico, os substestes Código, Semelhanças, Aritmética, Pesquisa de
Símbolos, Memória de Dígitos e Labirintos da Escala de Inteligência de Wechsler para
crianças (WISC-III), Trail Making Test (TMT), Teste de Fluência Verbal, Teste de
Cores e Palavras de Stroop e Teste dos Cinco Dígitos.
Resultados: Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas em
nenhuma das funções executivas avaliadas, apesar dos participantes do grupo de
controlo, de uma forma geral, apresentaram um desempenho superior aos do grupo
clínico.
Conclusão: Este estudo permite concluir que as FE nem sempre estão afetadas na
Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção, pois não existem diferenças
estatisticamente significativas entre os grupos avaliados. De futuro, são necessários
mais estudos sobre esta temática.
Abstract
Introdução ......................................................................................................................... 9
Resultados....................................................................................................................... 40
Discussão ........................................................................................................................ 44
Bibliografia ..................................................................................................................... 49
Anexos ............................................................................................................................ 54
Lista de Abreviaturas e Siglas
FE – Funções Executivas
9
neuronal (citado por Capovilla, Assef & Cozza, 2007). Um outro estudo de Barnett e
colaboradores (2001), que tinha como objetivo avaliar a memória espacial, deteção do
estímulo, manutenção da atenção e seleção de resposta em crianças com PHDA (sem
recurso a medicação), revelou que estas crianças apresentavam uma atividade encefálica
difusa e um pior desempenho comparativamente a crianças saudáveis (citado por
Capovilla, Assef & Cozza, 2007). Estes resultados levam à crença de que as FE podem
estar prejudicadas devido a um funcionamento encefálico anormal (Capovilla, Assef &
Cozza, 2007).
Um estudo realizado no Brasil, com o objetivo de verificar se existem diferenças
no desempenho de crianças com PHDA comparativamente a crianças saudáveis,
relativamente à atenção e a alguns componentes das FE, concluiu que no geral, crianças
com o diagnóstico de PHDA apresentam resultados inferiores em todas as medidas
neuropsicológicas (Gonçalves, Mohr, Moraes, Siqueira, Prando & Fonseca, 2013).
Também um estudo experimental dos investigadores Glozman e Shevchenko
(2014) concluiu que indivíduos com PHDA apresentam modificações na estrutura das
FE, nomeadamente na dificuldade de manter uma atividade e a atenção na tarefa, fraca
capacidade de tomar decisões, défices em tarefas que exijam alternância, fraca
capacidade de planificação, dificuldades em corrigir o erro, entre outras.
Estudos de indivíduos com diagnóstico de PHDA comprovam que tarefas que
envolvem o controlo executivo apresentam défices, nomeadamente nas tarefas de
inibição de respostas e memória de trabalho. Estes estudos afirmam que os défices ao
nível destas FE focam-se principalmente nos tipos hiperativo-impulsivo e combinado,
referindo ainda que a PHDA do subtipo défice de atenção apresenta dificuldades noutras
funções executivas, como por exemplo a flexibilidade cognitiva, memória de trabalho e
planificação (García et al., 2014).
Um estudo de Gioia, Isquith, Kenworthy y Barton (2002) comprovou que a
inibição é a função executiva que apresenta maiores diferenças entre os subtipos de
PHDA (citado por García et al., 2014). A este nível Riccio, Homack, Pizzitola-Jarrat e
Wolfe (2006) compararam o desempenho escolar, a velocidade de processamento e o
funcionamento executivo dos três subtipos de PHDA e não encontraram diferenças
significativas no desempenho escolar, contrariamente à velocidade de processamento e
ao funcionamento executivo. Estes autores concluíram que o subtipo de PHDA
combinado é aquele que apresenta maiores défices na inibição (citado por García et al.,
2014). Por outro lado, Garcia e colaboradores (2014) constataram que funções
10
executivas como inibição, alternância, memória de trabalho e planificação apresentam
diferenças significativas entre indivíduos saudáveis e indivíduos com PHDA.
Em conclusão parece não existir um consenso sobre quais as FE que estão em
défice na PHDA. Assim, no presente estudo procuramos contribuir para a exploração do
funcionamento executivo em crianças e jovens com PHDA, sendo que no capítulo que
se segue abordaremos a PHDA, seguido das funções executivas e terminando com o
estudo empírico e as respetivas conclusões e limitações.
11
graves” (Biederman, Faraone, Taylor, Sienna, Williamson & Fine, 1998, citado por
Fernandes & António, 2004, p. 451).
A PHDA é caracterizada por desatenção, hiperatividade e/ou impulsividade
excessivas para o indivíduo, comparativamente com o que é esperado para a sua faixa
etária e para o seu nível de desenvolvimento, prejudicando-o no seu quotidiano
(American Psychiatric Association, 2013).
Para além disto, vários autores têm defendido que modificações no córtex pré-
frontal e alterações na rede subcortical podem justificar e ser responsáveis pelo
diagnóstico de PHDA (Barkley, 1997; Barnett et al, 2001, Mattos, Saboya, Kaefer,
Knijnik e Soncini, 2003, citado por Capovilla, Assef & Cozza, 2007). Knapp, Rohde,
Lyszkowski e Johannpeter (2002) acrescentam que alterações no CPF podem acarretar
défices no comportamento inibitório, memória de trabalho, planificação e
autorregulação (citado por Capovilla, Assef & Cozza, 2007).
12
As crianças com PHDA costumam também apresentar dificuldades funcionais,
pois têm tendência a ser desorganizadas e desajeitadas com tarefas que exijam controlo
motor, resultando muitas vezes num fraco desempenho académico. Estas dificuldades
fazem com que estas crianças tenham uma tendência maior a sofrer acidentes, a
desenvolver outras perturbações, a ter problemas de comportamento durante a
adolescência, assim como dificuldade em adquirir uma rede social satisfatória (Timimi
& Taylor, 2004).
13
Como forma de compilar os sintomas da PHDA em apenas um lugar, a
Associação Americana de Psiquiatria descreveu-os no Manual de Diagnóstico e
Estatístico das Perturbações Mentais (DSM-5).
14
Tabela 1 - Critérios de diagnóstico de PHDA, segundo o DSM-5. (Continuação)
c) Frequentemente, parece não ouvir quando se lhe fala diretamente (por exemplo,
parece estar com o pensamento noutro assunto, mesmo na ausência de uma distração
óbvia)
d) Frequentemente, não segue as instruções e não termina os trabalhos escolares,
encargos ou deveres no local de trabalho (por exemplo, inicia as tarefas, mas
depressa perde a concentração e é facilmente desviado).
e) Frequentemente, tem dificuldades em organizar tarefas e atividades (por exemplo,
dificuldade em gerir tarefas sequenciais; dificuldade em manter materiais e pertences
em ordem; trabalho confuso e desorganizado; tem uma pobre gestão de tempo; falha
em cumprir prazos).
f) Frequentemente, evita, não gosta ou está relutante em envolver-se em tarefas que
requeiram um esforço mental mantido (por exemplo, trabalhos escolares ou de casa;
para adolescentes mais velhos e adultos, preparar relatórios, completar formulários,
rever textos longos).
g) Frequentemente, perde objetos necessários para tarefas ou atividades (por exemplo,
materiais escolares, lápis, livros, ferramentas, carteiras, chaves, documentos, óculos,
telemóveis).
h) Frequentemente, é facilmente distraído por estímulos alheios (para adolescentes mais
velhos e adultos podem-se incluir pensamentos não relacionados).
i) Esquece-se com frequência das atividades quotidianas (por exemplo, efetuar tarefas,
fazer recados; para adolescentes mais velhos e adultos, devolver chamadas, pagar
contas, manter compromissos).
2. Hiperatividade e Impulsividade: 6 (ou mais) dos seguintes sintomas persistiram pelo
menos durante 6 meses num grau que é inconsistente com o nível de desenvolvimento e
que tem impacte negativo direto nas atividades sociais e académicas/ocupacionais:
Nota: Os sintomas não são apenas uma manifestação de comportamento de oposição,
desafio, hostilidade ou falhas na compreensão de tarefas ou instruções. Para adolescentes
mais velhos e adultos (17 anos e mais), são necessários pelo menos 5 sintomas.
a) Frequentemente, agita ou bate com as mãos ou os pés ou remexe-se quando está
sentado.
b) Frequentemente, levanta-se em situações em que se espera que esteja sentado (por
exemplo, levanta-se do seu lugar na sala de aula, no escritório ou noutro local de
trabalho ou noutras situações que requerem permanecer sentado).
c) Frequentemente, corre ou salta em situações em que é inadequado fazê-lo. (Nota.
Em adolescentes ou adultos pode limitar-se a sentir-se inquieto.)
d) Frequentemente, é incapaz de jogar ou envolver-se com tranquilidade em atividades
de lazer.
15
Tabela 1 - Critérios de diagnóstico de PHDA, segundo o DSM-5. (Continuação)
16
Esta perturbação pode ser alvo de mais do que um tipo de intervenção, não
existindo um tratamento específico (Timimi & Taylor, 2004). As intervenções podem
realizar-se ao nível psicossocial (psicoterapias) e ao nível farmacológico (Rodhe,
Barbosa, Tramontina & Polanczyk, 2000; Pliszka & AACAP Work Group on Quality
Issues, 2007). O facto de esta perturbação não ter uma etiologia exata, possibilita a que
muitos encarregados de educação evitem tomar a decisão mais correta, pois muitas das
vezes refugiam-se na medicação como forma de não responsabilizar a escola pelas suas
práticas, do mesmo modo em que o oposto acontece, evitam a medicação por rejeitarem
a possibilidade da PHDA ser um problema neurológico (Medeiros & Nunes, 2011).
Neste sentido, é muito importante dotar os cuidadores da criança de toda a informação
necessária sobre a perturbação, assim como de todas as possibilidades de tratamento
(psicossocial, farmacológico ou misto).
A intervenção nesta perturbação implica modificações nos vários contextos
envolventes da criança (escola, casa, centro de estudos, etc.), sendo por isso muito
importante recolher toda a informação necessária sobre o diagnóstico da criança de
modo a garantir uma adaptação adequada às suas necessidades (Fernandes & António,
2004). Por exemplo, uma criança que não tenha uma alimentação equilibrada e que não
tenha um ciclo de sono adaptado à sua idade tem uma probabilidade maior de
desenvolver sintomas de PHDA (Medeiros & Nunes, 2011).
Nos casos de PHDA, o desporto deve ser estimulado como forma de reduzir a
tensão acumulada (Boavida, Porfirio, Nogueira & Borges, 1998, Pascual-Castroviejo,
2004, citado por Cordinhã & Boavida, J., 2008) e as escolas devem dar o seu apoio a
estas crianças, facultando medidas como por exemplo, o acesso a turmas de número
reduzido, facultar à criança apoios educativos individualizados e estabelecer planos
diários de atividades (Boavida, Porfirio, Nogueira & Borges, 1998, Barkley, 2002,
Taylor et al., 2004, Gonçalves, s/d, citado por Cordinhã & Boavida, 2008). Por vezes,
medidas de intervenção comportamental revelam-se insuficientes no controlo dos
17
sintomas da PHDA, sendo necessário um complemento farmacológico. Embora nunca
seja utilizado em primeira instância e isoladamente, o uso da medicação potencia a
normalização dos neurotransmissores, diminuindo os sintomas da PHDA, o que facilita
a que a criança consiga integrar-se na sociedade (Fernandes & António, 2004).
Funções Executivas
18
As funções executivas (FE) são funções cognitivas de alto nível, que controlam e
direcionam as funções de nível inferior (Stuss & Levine, 2002). Barros & Hazin (2013,
p.13) acrescentam que “As funções executivas são consideradas funções mentais
complexas ou superiores e são responsáveis pela capacidade de autorregulação ou auto-
gerenciamento”. Alguns autores assumem que as FE dão a capacidade ao indivíduo de
se autorregular e são ações como a memória de trabalho (verbal e não verbal),
autocontrolo, motivação, afeto e reconstituição que assumem essa função. Estas funções
levam a que o indivíduo desenvolva um comportamento pró-ativo e intencional como
forma de atingir um objetivo previamente delineado (García et al., 2014). Gazzaniga e
colaboradores (2002) e Lezak (1995), consideram as FE como sendo a complexidade da
cognição, envolvendo “seleção de informações, integração de informações atuais com
informações previamente memorizadas, planificação, monitoramento e flexibilidade
cognitiva” (citado por Capovilla, Assef, & Cozza, 2007, p. 52).
Foi Luria (1968) que mencionou o termo FE pela primeira vez, num modelo
composto por três unidades funcionais. A primeira unidade era responsável pelas
funções fisiológicas básicas, a segunda unidade era responsável por obter, analisar e
armazenar informações por meios sensoriais (visão, olfato e tato) e, por fim, a terceira
unidade era responsável pela programação, regulação e verificação das atividades
mentais (em especial nos lobos frontais). Através deste modelo, Luria defende que o
cérebro e os seus processos estão interligados e esta visão tem influência até aos dias de
hoje (Uehara, Charchat-fichman, & Landeira-fernandez, 2013). Embora Luria (1968)
tenha referido o termo FE, foi Lezak (1982) que o tornou popular (Uehara, Charchat-
fichman, & Landeira-fernandez, 2013).
19
capacidades envolvidas na planificação (relacionada com a atenção sustentada,
capacidade de pensar em alternativas, de pensar nos prós e contras e tomar uma decisão,
e ser capaz de estruturar um caminho para a sua atividade); 3) capacidades envolvidas
na programação da atividade (relacionada com a capacidade de iniciar, manter, mudar e
interromper sequências de comportamento complexo de maneira ordenada e integrada)
e 4) capacidades para a realização eficaz dessas atividades (relacionada com a
capacidade de supervisionar, autocorrigir e regular o ritmo, intensidade, etc.).
A abordagem neuropsicológica acerca das FE, procura “a relação entre a
cognição, o comportamento humano e a atividade do sistema nervoso em condições
preservadas ou alteradas” (Uehara, Charchat-Fichman & Landeira-Fernandez, 2013, p.
28), sendo por isso das que tem um maior destaque nas FE. Neste sentido, ao longo do
tempo foram surgindo vários modelos que tentavam explicar as FE.
20
central tem um papel principal no modelo proposto por Baddeley, gerindo e controlando
todas as informações que necessitam de ser processadas (sistema unitário) (Uehara,
Charchat-Fichman & Landeira-Fernandez, 2013).
21
Para além destes modelos teóricos, algumas FE aparentam estar associadas a
quadros neurológicos e a um grande número de patologias, como é o caso da PHDA,
esquizofrenia, Síndrome de Tourette, entre outras (Soprano, 2003). A ligação das FE a
estes quadros neurológicos e a estas patologias levaram ao desenvolvimento de outras
teorias, como é o caso da Teoria de Informação Contextual.
Um dos modelos de construto único mais conhecidos, que tem por base a
memória de trabalho, é o proposto por Baddeley, mas Petrides e Goldman-Rakic
também fizeram as suas propostas neste campo. Alguns estudos realizados com o
auxílio de ressonâncias magnéticas demonstraram que o CPF dorsolateral não está
relacionado apenas com uma ação cognitiva simples. A codificação e manipulação da
informação dependem do CPF dorsolateral, mas a manutenção está diretamente
associada ao CPF ventrolateral (Tirapu-Ustárroz, García-Molina, Luna-Lario, Roig-
Rovira, & Pelegrín-Valero, 2008a).
Duncan (2001) propõe o modelo de codificação adaptativa. Este modelo tem por
base quatro fatores principais: 1) os neurónios do córtex frontal são completamente
adaptáveis e programáveis (permite a representação temporal da informação relevante);
2) O CPF atua como um sistema de atenção global e seleciona a informação mais
importante; 3) O CPF facilita uma representação seletiva da informação relevante para a
tarefa e 4) Os lobos frontais cumprem funções de supervisão que se adaptam a um
grande número de tarefas (Tirapu-Ustárroz, García-Molina, Luna-Lario, Roig-Rovira, &
22
Pelegrín-Valero, 2008a). Para este autor, a inteligência tem uma localização bem
definida, situando-se no CPF lateral (Duncan & Miller, 2002).
Fuster também propôs uma teoria em que o CPF era fundamental para a
estruturação temporal dos comportamentos. Esta estruturação era coordenada por três
funções: a) função retrospetiva da memória a curto prazo; b) função prospetiva da
planificação do comportamento e c) função consistente no controlo e supressão de
influências internas e externas capazes de interferir com a formação dos padrões de
comportamento (Tirapu-Ustárroz, Muñoz-Céspedes & Pelegrín-Valero, 2002).
O funcionamento executivo tem vindo a ser alvo de estudo através da análise das
alterações cognitivas e comportamentais provenientes de lesões frontais, assim como de
identificação das regiões do cérebro envolvidas (em pacientes saudáveis). Grafman
(1994) e Grafman, Holyoak e Boller (1995) concluíram que lesões no Córtex Pré-frontal
(CPF) podem acarretar défices cognitivos (dificuldades no planificação, raciocínio
abstrato, resolução de problemas, entre outros) (Tirapu-Ustárroz, García-Molina, Luna-
Lario, Roig-Rovira, & Pelegrín-Valero, 2008a).
Para além disto, é possível verificar que, apesar de todas estas limitações, há o
entendimento entre os investigadores de que as FE se encontram situadas em apenas
uma localização cerebral (CPF). No entanto, através dos estudos supracitados,
verificou-se que não há uma única estrutura para as FE, isto é, não há consenso ao nível
dos construtos que fazem parte das FE, assim como dos seus componentes, impedindo
um estudo mais concreto sobre as mesmas.
Deste modo e devido à falta de pesquisa sobre as FE na PHDA em Portugal, a
presente investigação procura explorar as diferenças que existem, ou não, no
funcionamento executivo de crianças e jovens saudáveis, comparativamente a crianças e
jovens com diagnóstico de PHDA.
26
O presente estudo
Este é um estudo transversal, onde foi utilizada a metodologia quantitativa, sendo um
estudo descritivo, correlacional-comparativo.
Objetivo
Verificar se existem diferenças no funcionamento das FE em crianças e jovens com
PHDA e crianças e jovens sem PHDA.
Participantes
O estudo realizado envolveu 40 participantes. Os participantes foram divididos
em dois grupos, o grupo clínico (indivíduos com PHDA) e o grupo de controlo
(indivíduos sem PHDA).
O grupo de controlo é constituído por 14 participantes, dos quais 7 (50%) são
rapazes e 7 (50%) são raparigas. As idades do grupo de controlo estão compreendidas
entre os 9 e os 14 anos (M=11.64, DP= 1.447), com uma escolaridade que varia entre o
3º e o 8º ano. Durante a frequência escolar nenhum dos participantes reprovou.
Relativamente à dominância manual, todos os indivíduos do grupo de controlo são
destros. Ao nível do contexto familiar dos participantes, 4 (28.57%) são filhos únicos, 8
(57.14%) têm um irmão e os restantes têm pelo menos dois irmãos (14.29%). Dos
participantes, 5 (35.71%) são os irmãos mais novos, 5 (35.71%) são os irmãos mais
velhos e os restantes são filhos únicos (4 indivíduos, 28.57%). Na sua maioria residem
com os pais e irmãos (5 indivíduos, 35.71%) ou com apenas com os seus pais (4
indivíduos, 28.57%). Em relação à escolaridade dos pais verificou-se que 4 (28.57%)
têm o ensino primário, 2 (14.29%) o ensino médio, 3 (21.43%) o ensino secundário e 5
(21.43%) o ensino superior. Relativamente ao grau de escolaridade das mães verificou-
se que 3 (21.43%) frequentaram o ensino primário, 3 (21.43%) o ensino médio, 2
(14.29%) o ensino secundário e 6 (42.86%) o ensino superior. Os pais apresentam como
principais profissões: 3 (21.43%) são delegados de informação médica, 3 (21.43%) são
administrativos e 3 (21.43%) são comerciais. A profissão das mães que mais se
evidenciam são as do ramo de administração (5 indivíduos, 21.43%) e da engenharia (3
indivíduos, 21.43%) (Ver Tabela 2).
27
Tabela 2 - Caracterização do Grupo de Controlo
N f (%)
Masculino 7 50%
Idade 9 1 7.14%
10 2 14.29%
11 3 21.43%
12 5 35.71%
13 1 7.14%
14 2 14.29%
Escolaridade 3 1 7.14%
5 2 14.29%
6 5 35.71%
7 4 28.57%
8 2 14.29%
28
Tabela 2 - Caracterização do Grupo de Controlo (Continuação)
N f (%)
Irmãos 0 4 28.57%
1 8 57.14%
Mais de 1 2 14.29%
Progenitores 4 28.57%
Progenitor, Madrasta/Padrasto e
2 14.29%
Irmão (s)
Habilitações Primário
4 28.57%
Literárias do Pai
Médio 2 14.29%
Secundário 3 21.43%
Superior 5 21.43%
29
Tabela 2 - Caracterização do Grupo de Controlo (Continuação)
N f (%)
Habilitações Primário
3 21.43%
Literárias da Mãe
Médio 3 21.43%
Secundário 2 14.29%
Superior 6 42.86%
Administrativo 3 21.43%
Comercial 3 21.43%
Outros 5 21.43%
Engenheira 3 21.43%
Outros 6 42.86%
Nota: N=14.
30
O grupo clínico é composto por 26 participantes, dos quais 12 (46.15%) são
rapazes e 14 (53.85%) são raparigas. O grupo clínico é composto por indivíduos com
idades compreendidas entre os 9 e os 15 anos (M=12.81, DP= 1.812), com uma
escolaridade que varia entre o 4º e o 9º ano. Durante os anos em que frequentaram a
escola, 9 (34.62%) dos participantes já ficaram retidos pelo menos uma vez.
Relativamente à dominância manual, 4 (15.38%) dos participantes são esquerdinos e os
restantes 22 (84.26%) são destros. Ao nível do contexto familiar dos participantes, 8
(30.77%) são filhos únicos e os restantes têm pelo menos um irmão, dos quais 5
(19.23%) são os irmãos mais novos, 12 (46.15%) são os irmãos do meio e 11 (42.31%)
são irmãos mais velhos. Na sua maioria, residem com os seus pais e com os seus irmãos
(11 indivíduos, 42.31%) ou apenas com os seus pais (6 indivíduos, 23.08%). As
habilitações literárias dos pais distribuem-se da seguinte forma: 11 (42.31%)
frequentaram o ensino primário, 9 (34.62%) o ensino médio, 1 (3.85%) o ensino
secundário e 5 (19.23%) o ensino superior. As mães apresentam a seguinte distribuição
relativamente às habilitações literárias: 7 (26.92%) frequentaram o ensino primário, 8
(30.77%) o ensino médio, 8 (30.77%) o ensino secundário e 3 (11.54%) o ensino
superior. Relativamente às profissões dos pais, são na sua maioria transitários (4
indivíduos, 15.38%), serralheiros (3 indivíduos, 11.54%) e trabalham no ramo da
construção civil (3 indivíduos, 11.54%). A profissão das mães mais frequente é
administrativa (6 indivíduos, 23.08%), seguindo-se professora (3 indivíduos, 11.54%) e
doméstica (3 indivíduos, 11.54%).
Dos 26 participantes com PHDA, 17 tomam medicação (65,4%) e 9 não tomam
qualquer tipo de medicação (34,6%). A medicação mais utilizada é a Ritalina (7
indivíduos, 41,2%), seguindo-se o Concerta (6 indivíduos, 35,3%), o Rubifen (3
indivíduos, 17,7%) e ainda uma combinação entre Ritalina e Rubifen (1 indivíduo,
5,9%) (Ver Tabela 3).
31
Tabela 3 -Caracterização do Grupo Clínico
N f (%)
Masculino 12 46.15%
Idade 9 1 3.85%
10 1 3.85%
11 6 23.08%
12 3 11.54%
13 5 19.23%
14 3 11.54%
15 7 26.92%
Escolaridade 4 2 7.70%
5 2 7.70%
6 6 23.08%
7 6 23.08%
8 5 19.23%
9 5 19.23%
Não 17 65.38%
32
Tabela 3 -Caracterização do Grupo Clínico (Continuação)
N f (%)
Direita 22 84.26%
Irmãos 0 8 30.77%
1 12 46.15%
Mais de 1 6 23.08%
Progenitores 6 23.08%
33
Tabela 3 -Caracterização do Grupo Clínico (Continuação)
N f (%)
Médio 9 34.62%
Secundário 1 3.85%
Superior 5 19.23%
Médio 8 30.77%
Secundário 8 30.77%
Superior 3 11.54%
Serralheiro 3 11.54%
Outros 16 61.54%
Professora 3 11.54%
Doméstica 3 11.54%
Outros 14 53.85%
34
Tabela 3 -Caracterização do Grupo Clínico (Continuação)
N f (%)
Não 9 34.62%
Concerta 6 23.08%
Rubifen 3 11.54%
Nenhum 9 34.62%
Nota: N=26
Instrumentos
Para a avaliação de cada participante foi utilizado um questionário
sociodemográfico, os substestes Código, Semelhanças, Aritmética, Pesquisa de
Símbolos, Memória de Dígitos e Labirintos da Escala de Inteligência de Wechsler para
crianças (WISC-III, Wechsler, 1991, adaptação de Simões, Rocha & Ferreira, 2004),
Trail Making Test (TMT; Army Individual Test Battery, 1944, adaptação portuguesa de
Cavaco, Gonçalves, Pinto, Almeida, Gomes, Moreira & Teixeira-Pinto, 2013a), Teste
de Fluência Verbal (Tombaugh, Kozak & Rees, 1999; adaptação portuguesa de Cavaco,
Gonçalves, Pinto, Almeida, Gomes, Moreira, Fernandes & Teixeira-Pinto, 2013b),
Teste de Cores e Palavras de Stroop (Golden & Freshwater, 1978; Adaptação
portuguesa de Fernandes, 2013) e Teste dos Cinco Dígitos (FDT, Sedó, 2007).
35
Questionário Sociodemográfico
Foi utilizado um questionário sociodemográfico (Ver Anexo 1) com o objetivo
de caracterizar a amostra, relativamente à idade, sexo, escolaridade, dominância manual
e número de irmãos. A escolaridade e cargo profissional das figuras parentais foi
também uma variável recolhida.
36
sujeito terá de a desenhar por baixo de cada número correspondente. Este subteste tem a
duração de 120 segundos.
O subteste Pesquisa de Símbolos tem como objetivo avaliar a atenção,
concentração e memória a curto prazo, assim como a velocidade e precisão. Neste
subteste o sujeito terá de decidir se numa série de cinco símbolos, encontra ou não um
de dois símbolos isolados.
O subteste Labirintos tem como objetivo avaliar a capacidade de planificação e a
organização visuo-espacial. Neste subteste, o sujeito tem de encontrar a saída para uma
série de labirintos, a partir do centro do mesmo, sem atravessar paredes. Esta tarefa tem
limite de tempo, dependendo da dificuldade de cada labirinto.
37
tarefas, o individuo tem 1 minuto para as realizar e a pontuação total consiste na soma
de todas as palavras nomeadas pelo indivíduo no tempo definido.
Num estudo realizado para avaliar as propriedades psicométricas das fluências
verbais fonéticas com as letras P, M e R concluiu-se que o alfa de Cronbach é de 0.89
(Cavaco et al., 2013b).
38
Na primeira parte, Leitura, o sujeito tem de efetuar a leitura dos números. Na
segunda parte, Contagem, o sujeito tem de efetuar a contagem do número de asteriscos
que se encontram dentro do retângulo. Na terceira parte, Escolha, o sujeito tem como
tarefa referir quantos números há em cada retângulo (relembrando que pode ter 5
números 1 e terá de ler 5). Por fim, na tarefa de Alternância, o sujeito tem retângulos
normais e retângulos a negrito e tem de, tal como o nome indica, alternar a sua resposta
consoante o estímulo. Quando tem um retângulo normal, o sujeito deve contar quantos
números há em cada um (como na tarefa anterior), mas quando encontra um retângulo a
negrito terá de ler qual o número representado (pode ter 5 números 1 e tem de nomear
1).
39
objetivo de agendar um momento para a recolha de dados e também com o propósito de
recolher alguns dados que as crianças poderiam não saber facultar.
A recolha de dados realizou-se apenas numa sessão de cerca de uma a duas
horas. Durante esta sessão, inicialmente procedeu-se ao preenchimento de uma ficha
sociodemográfica e de à realização de provas de avaliação cognitiva. A aplicação dos
instrumentos foi realizada na seguinte ordem: 1) Subtestes da WISC-III, nomeadamente
Código, Semelhanças, Aritmética, Memória de Dígitos, Pesquisa de Símbolos e
Labirintos; 2) Trail Making Test (TMT); 3) Teste de Fluência Verbal; 4) Stroop – Teste
de Cores e Palavras e por fim, 5) Teste dos 5 Dígitos. O uso de algumas provas não
aferidas para a população portuguesa ou para crianças não comprometem os resultados
obtidos, pois utilizou-se sempre as pontuações brutas, utilizando o grupo de controlo
como meio de comparação.
Resultados
No sentido de avaliar a normalidade da amostra devido a esta ser inferior a 30
participantes em cada grupo, aplicou-se o teste de Shapiro-Wilk com o intuito de saber
se poderiam ser utilizados os testes paramétricos. Após a análise do teste de
normalidade, verificou-se que esta não tem uma distribuição normal, e por isso optou
por utilizar-se o Teste Não Paramétrico de Mann-Whitney (Field, 2013).
40
Tabela 4 - Resultados do Teste de Mann-Whitney para comparação do rendimento dos
testes entre o grupo com PHDA e grupo controlo
U Z p
41
Tabela 4 - Resultados do Teste de Mann-Whitney para comparação do rendimento dos
testes entre o grupo com PHDA e grupo controlo (continuação)
U Z p
42
Tabela 5 - Médias e Desvios-Padrão do Grupo de Controlo e do Grupo Clínico
M DP M DP
43
Tabela 5 - Médias e Desvios-Padrão do Grupo de Controlo e do Grupo
Clínico(Continuação)
Discussão
O objetivo deste estudo foi avaliar se há diferenças estatisticamente
significativas ao nível das FE em crianças com PHDA (grupo clínico) e crianças sem
PHDA (grupo de controlo). Os resultados desta investigação verificaram que não
existem diferenças estatisticamente significativas ao nível das FE em nenhuma das FE
avaliadas.
Apesar dos resultados obtidos no teste de Mann-Whitney não terem apresentado
diferenças significativas, através da análise das médias foi possível observar uma
tendência para os indivíduos do grupo de controlo apresentarem um melhor
desempenho relativamente aos indivíduos do grupo clínico, em quase todas as FE
medidas. No entanto, em subtestes como o Código, Pesquisa de Símbolos e Labirintos
da WISC-III e na Leitura no teste dos 5 Dígitos, os participantes do grupo clínico
manifestaram melhor desempenho. Estes resultados superiores podem justificar-se pelo
facto da amostra não ser homogénea relativamente à idade dos participantes, pois o
grupo clínico tem uma média de idade superior à do grupo de controlo, o que pode ter
facilitado a tarefa para estes sujeitos, uma vez que uma idade superior é sinónimo de
maior maturidade cerebral, tal como é evidenciado por Anderson (2002) que afirma que
há alterações nos lobos frontais ao longo dos anos (citado em Pinho, 2008). Segundo
Vieira (2015), ao longo dos anos há uma maturação do lobo frontal que se traduz num
44
desenvolvimento de todos os processos cognitivos, nomeadamente das FE. Assim, aos 5
anos desenvolvem-se capacidades ao nível dos processos atencionais, entre os 7 e os 9
anos de idade, dá-se uma progressão do processamento de informação, flexibilidade
cognitiva e estabelecimento de objetivos e, por volta dos 11 e 13 anos de idade, dá-se a
maturidade dos domínios executivos já referidos, surgindo assim o controlo executivo
(Anderson, 2002, citado em Pinto, 2008). Ainda nesta perspetiva, Barros e Hazin (2013)
afirmam que o processo de mielinização das conexões pré-frontais desenvolve-se
gradualmente durante a infância e adolescência, levando a uma evolução de processos
como a avaliação de vários aspetos de um problema fazendo com que o indivíduo seja
bem-sucedido na planificação de uma ação.
Uma outra possibilidade e, visto que a investigadora não utilizou meios para
averiguar a presença de PHDA, é o facto de haver uma linha ténue entre o normal e o
patológico ao nível do diagnóstico da PHDA (Caliman, 2008). Deste modo, sujeitos
sem PHDA podem estar incluídos no grupo clínico. Outros fatores podem influenciar a
realização de um diagnóstico adequado de PHDA, como por exemplo problemas
emocionais e escolares, défices no sono e até o interesse por determinados assuntos
(Novais, 2014).
Por último, alguns dos participantes do grupo de controlo poderão apresentar
défices cognitivos, uma vez que medidas para averiguar a sua existência também não
foram utilizadas, justificando a não existência de diferenças entre os dois grupos (grupo
clínico e grupo de controlo) desta forma.
Pliszka e American Academy Child and Adolescent Psychiatry Work Group on
Quality Issues (2007) admitem que nem todos os indivíduos com diagnóstico de PHDA
apresentam défices nas FE, defendendo que outros problemas de foro neuropsicológico
poderão estar associados.
Um estudo de Geurts, Verté, Oosterlaan, Roeyers e Sergeant (2005) com
objetivo de comparar grupos de subtipos de PHDA e grupo de controlo relativamente às
FE (inibição, memória de trabalho visual, planificação, flexibilidade cognitiva e
fluência verbal) verificou que os indivíduos com PHDA do tipo combinado e os
indivíduos do grupo de controlo não apresentaram diferenças significativas para os
défices executivos gerais à exceção da flexibilidade cognitiva. Neste estudo
participaram crianças e jovens com idades compreendidas entre os 6 e os 13 anos, que
não estiveram sobre o efeito de psicofármacos e sem epilepsia e problemas de visão e
audição. Apesar do estudo referido ter um número maior de participantes do que o
45
presente estudo, encontrou-se uma limitação comum, que é o facto de os participantes
terem um grande intervalo entre idades. Porém, problemas como estes poderiam ser
resolvidos com a análise dos resultados padronizados (Geurts, Verté, Oosterlaan,
Roeyers & Sergeant, 2005), que não estão disponíveis em todos os instrumentos
utilizados, ou então com a subdivisão dos participantes por grupos de idades mais
próximas.
Ainda nesta perspetiva, um estudo de Saydam, Ayvasik e Alyanak (2015) com o
objetivo de comparar os vários subtipos de PHDA (incluindo indivíduos com
comorbidade) entre si e sujeitos “normais”, verificou que não existiam diferenças
estatisticamente significativas entre o grupo de PHDA e o grupo de controlo,
nomeadamente na prova de Fluência Verbal, na prova de Stroop e no subteste memória
de dígitos da WISC-R.
Por sua vez, Robinson e Tripp (2013) realizaram um estudo que pretendia
comparar indivíduos com PHDA e indivíduos saudáveis (grupo de controlo)
relativamente às FE e também não verificaram diferenças estatisticamente significativas
entre o grupo com PHDA e o grupo de controlo nos testes de fluência verbal, Stroop e
TMT (Parte B). Este estudo teve o cuidado de emparelhar os dados dos participantes do
grupo de controlo com as características dos participantes com diagnóstico de PHDA,
de forma a minimizar as diferenças entre eles.
Ao observar os estudos anteriores, o presente estudo não exigiu a que os
participantes estivessem sem o efeito de psicofármacos, o que poderá apresentar-se
como uma limitação, pois os sintomas da PHDA encontram-se atenuados pela
medicação. Esta limitação poderá ser contrariada exigindo aos participantes que não
tomem medicação nas 24h anteriores à aplicação dos instrumentos de avaliação.
Por outro lado, Capovilla, Assef e Cozza (2007) ao comparar indivíduos com
PHDA com indivíduos saudáveis verificaram a existência de diferenças significativas
nos tempos de execução das tarefas do Teste de Stroop, não corroborando com os
resultados obtidos no presente estudo. De acordo com isto, também Barnett e
colaboradores (2001) afirmaram que crianças com PHDA apresentavam um pior
desempenho das FE em comparação com crianças saudáveis, sugerindo um prejuízo das
FE devido a um incorreto funcionamento encefálico, essencialmente da região frontal
(citado em Capovilla, Assef & Cozza, 2007).
46
Já um estudo de Garcia e colaboradores (2014) constatou que FE como a
inibição, alternância, memória de trabalho e planificação apresentavam diferenças
significativas entre indivíduos saudáveis e indivíduos com PHDA.
Considerações Finais
Algumas limitações podem ter influenciado os resultados desta investigação
nomeadamente o reduzido número de sujeitos em ambos os grupos, bem como a
dificuldade em realizar diagnósticos de PHDA, que pode levar a que crianças sem
PHDA estejam inseridas no grupo de PHDA visto que este diagnóstico não foi realizado
pela investigadora, nem foram utilizadas medidas para averiguar a sua existência. A
inexistência de uma divisão da PHDA por subtipos também pode ter influenciado os
resultados obtidos. A influência dos psicofármacos no desempenho dos indivíduos com
PHDA poderá também ter comprometido os resultados, visto que não se encontram no
estado “puro” da perturbação.
47
défice cognitivo no grupo de controlo pode ter contribuído para algum enviesamento de
resultados.
48
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