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Ritual Açoriano: Coberta D'Alma em SC

Um ritual açoriano português, vindo em 1748 para o litoral sul do Brasil. De São Francisco do Sul até Porto Alegre. É o ato de doar as roupas do falecido em um ritual feito em casa após a sua morte; depois se vai a missa de sétimo dia. Todos vem para a casa dos enlatados e é servida a refeição que o falecido mais gostava.

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Ritual Açoriano: Coberta D'Alma em SC

Um ritual açoriano português, vindo em 1748 para o litoral sul do Brasil. De São Francisco do Sul até Porto Alegre. É o ato de doar as roupas do falecido em um ritual feito em casa após a sua morte; depois se vai a missa de sétimo dia. Todos vem para a casa dos enlatados e é servida a refeição que o falecido mais gostava.

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1

1. INTRODUÇÃO

A morte pinta de negro; Este encontro com a dor. Uma


lágrima, um soluço; Na muda ausência do amor. Meu
litoral tá de luto; Ondas tristonhas no mar. Há silêncios
nas areias; E um manto escuro no ar.
(FONTOURA, 2013, p. 03).

Este trabalho busca analisar o rito dito1 açoriano da Coberta D’Alma na


cidade de Paulo Lopes (SC), que consiste num ritual de passagem, numa
celebração, onde o morto é valorizado perante os familiares e amigos, um ritual
que apresenta características religiosas católicas institucionais (Missa de 7º
dia) junto com práticas de religiosidade popular (Coberta D’Alma), oriundas da
colonização açoriana iniciada em 1748, no Estado de Santa Catarina.
Conversando com o professor Dr. José do Nascimento, da disciplina de
Religiosidades do Brasil e de Santa Catarina na 6ª fase deste curso, fomos
motivados a construir um artigo cientifico, este professor nos motivou a
trabalhar um assunto que estivesse ligado ao nosso cotidiano ou uma vivência
de família ou profissional, e optamos pela vivência familiar.
E a temática desta pesquisa partiu das experiências vividas, na minha
história pessoal, quando da morte de meu avô materno, o senhor João
Severino Pereira, no município de Paulo Lopes, no ano de 1980, quando com
13 anos participei desta cerimônia, onde nos reunimos para meu Tio-avô, Artur
Severino Pereira vestir a Coberta D’Alma e ir à missa de 7º dia. Logo,
retornamos a casa de meu falecido avô para o almoço e a continuação do
ritual.
Podemos dizer que a Coberta D’Alma é um ritual humano marcado
pela procura do divino, a onde tem um rito de passagem, com duas
características distintas: a separação, quando se separa a alma do corpo, e a
incorporação que é o momento na qual o escolhido passa a usar a roupa e
“reviver” o falecido no ritual.
Nosso objetivo central é analisar a prática, resistência do ritual da
Coberta D’Alma e se o paulo-lopense incentiva o uso do ritual, descrevendo se
1
Cultura dita açoriana: Uso dito/a, no nosso TCC, pois denota duvidas, incertezas no
entorno/origem do rito da Coberta D’Alma já que muitos autores pesquisados não comprovam a
origem sendo da Ilha de Açores. Como assevera Lacerda: “A Ilha de Açores surge a partir de
várias culturas, portuguesa, judaica, africana, inglesa, espanhola, etc. Já em Santa Catarina o
turismo tenta passar esta identidade açoriana” ( LACERDA, 2003, p. 87).
2

o mesmo permanece na comunidade de Paulo Lopes e este, consegue dar


significado ao rito e transmitindo o ritual de geração em geração.
O trabalho é focado na religiosidade local e na cultura fúnebre da
cidade de Paulo Lopes; localizada ao sul de Florianópolis, distante 50
(cinquenta) km; seguindo pela BR 101.
A estrutura do trabalho contém cinco capítulos, distribuídos da seguinte
forma. No primeiro capítulo apresentamos a introdução/justificativa.
Os procedimentos teórico/metodológicos são delineados no segundo
capítulo. Aqui são apresentados o referencial teórico que balizou o trabalho e
os procedimentos metodológicos da pesquisa.
No terceiro capítulo o que vem a tona é o ritual da Coberta D’Alma,
propriamente dita, sempre em comum diálogo com a literatura pertinente com
ritos de passagem, de morte, de religiosidade popular, de cultura e sociedade.
Articulando os assuntos com a vivência e oralidades resgatadas das memórias
dos açorianos descendentes, como do relato da entrevistada Cândida
explicando e definindo a Coberta D’Alma:
Da minha mãe foi a comadre Aninha, do Compadre Aniceto,
ela que vestiu a roupa dela, aquela pessoa vinha naquele dia
ali (7º dia), a gente entrava lá no quarto vestia ela, tudo com
aquelas roupas que a gente tinha comprado, vestido, calçado,
toda a roupa que uma mulher usa. Pois aí já saia fora (do
quarto) e já saia cumprimentando as pessoas que aguardavam
na sala [...] Depois faziam um café e tomavam com a pessoa
que usava a roupa, daquele que tinha falecido” (CÂNDIDO,
2014).

Para finalizar este capítulo situamos o leitor a partir das Ilhas dos
Açores, passando por Santa Catarina levando a Coberta D’Alma pelo Litoral
Catarinense, especificamente no município de Paulo Lopes.
No capítulo quatro, intitulado “Da Ilha dos Açores, a Paulo Lopes (SC)”,
vamos comentar o processo de colonização dos açorianos para o Brasil,
passando pelo Litoral catarinense, até a sua chegada a São José e logo depois
a instalação de uma freguesia em Paulo Lopes (SC).
Por fim, apresentamos as considerações finais, onde relatamos várias
mudanças no modo de celebrar os rituais de passagem, do homem
açoriano/paulo-lopense. Que o tempo moderno chegou, e os moradores de
Paulo Lopes permanecerão por muito tempo homenageando seus mortos, seja
3

com a Coberta D’Alma, missa de sétimo dia ou missa de corpo presente; e os


moradores que frequentam outras religiões também vão rendendo suas
homenagens.
4

2. PROCEDIMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS

Como os pássaros vão de um continente a outro, no


mudar das estações assim o homem deixa sua terra
para descobrir em outros países a felicidade e a
melhoria da própria existência. Porém, enquanto os
animais migram sem obstáculos, os homens nem
sempre são livres para deixarem as suas casas
(FINARDI; BUZZI, 1976, p.45).

2.1 Conceito da Coberta D’Alma

O conceito de Coberta D’Alma aparece na literatura e no dicionário


português, Dicionário de Falares dos Açores-Vocabulário Regional de Todas as
Ilhas, com nomes parecidos, sempre acompanhados da alma.
Coberta de Alma, n.f. O m.q. roupa d’alma: Os senhores á
deram a coberta d’alma do seu pai? [...]
Vestimenta d’alma, n.f. O m.q. roupa d’alma: Foram Lá, e o pai
dela falou que queria a sua vestimenta d’alma, que eles nunca
tinham dado (BARCELOS, 2008, s/p).

Na Ilha dos Açores, existe uma preocupação em deixar registrados os


costumes religiosos, seja por meio de um dicionário regional ou por meio de
relatos em livros. Tereza Perdigão (2011) em sua Resenha sobre o livro, “O
Povo de Santa Maria e suas Vivências”, do escritor Açoriano Arsénio Chaves
Puim (2008), nos relata uma cerimônia chamada de a cerimônia do vestido
d’alma. Ela diz não saber se tem paralelo no continente português, mas
vejamos o que o autor nos diz:
É chamada assim a missa encomendada por alma de um
familiar recentemente falecido, na qual participa, além da
família, uma pessoa pobre, do mesmo sexo do defunto,
vestida, dos pés à cabeça, a expensas dos herdeiros. Segundo
uma crença popular, a esmola feita com a intenção de sufragar
a alma do defunto vai ainda garantir que a sua alma esteja
vestida de outra vida. A cerimônia do vestido d’alma incluía
também uma refeição comum da família, depois da qual,
normalmente, se procedia à realização das partilhas dos bens
(PUIM, 2008, p. 81).

Terço D’Alma é uma expressão utilizada na região de Imaruí (SC),


município desmembrado de Laguna. “Era só o terço na casa. Na época eu não
lembro de missa [a do sétimo dia] acho que não tinha, por que era difícil padre
também, quase não tinha para fazer a missa. Quando se precisava não tinha
naquela região” (SOUZA, 2014, p. 01).
5

A igreja tinha conhecimento dos rituais de religiosidade popular como


escreve nos relatos do Padre Evaldi Pauli. “Cabia ao contemplado comparecer
vestido com a Coberta D’Alma no dia em que os parentes do falecido fizessem
rezar um terço do rosário. Ou uma missa” (PAULI, S/D, 02). Por outro lado, isto
é, no âmbito da oficialidade, adentramos na questão da Igreja Católica
detentora e era reservada a ela aos ritos como: casamentos, batizados,
cerimoniais fúnebres e missa de corpo presente entre outros. Nas casas era
ministrada a unção dos enfermos, a onde o doente recebia do padre uma
benção antes de morrer, recebia a hóstia (Viático), sendo que o padre colocava
uma vela acesa na mão deste, sempre auxiliado por alguém da família. Muitas
vezes após esta benção acontecia do doente ter sua recuperação plena.
Viático: É a Eucaristia recebida por aqueles que estão para
deixar esta vida terrena e se preparam para a passagem à vida
eterna. Recebida no momento da passagem deste mundo ao
Pai, a Comunhão do Corpo e Sangue de Cristo morto e
ressuscitado é semente de vida eterna e potência de
ressurreição (CLEÓFAS, 2014, s/p).

A igreja católica possui seus ritos de passagem para ajudar seus fiéis
na arte de bem morrer, nesta hora o padre ou um diácono além de levar uma
palavra de consolo, levava o rito instituído, assim fazendo não deixaria o povo
vivenciar a religiosidade popular.
Segundo as regras da igreja, ao enfermo se devia ministrar a
comunhão, se sua condição física permitisse, e a extrema-
unção. Esta era uma espécie de comunhão final para todo o
ciclo da vida. A igreja explicava sua função: “auxilio na hora da
morte, em que as tentações de nosso comum inimigo
costumam ser mais fortes, e perigosas, sabendo que tem
pouco tempo para nos tentar”. O sacramento perdoava os
pecados pendentes do enfermo, culpas esquecidas durante a
confissão, mas podia também resultar em sua recuperação
física “quando assim convém ao bem da alma”. [...] Só um
pároco ou, em seu impedimento, um “sacerdote aprovado”
podia administrar a extrema unção (REIS, 1991, p. 103).

A Igreja Católica Romana orienta aos seus fieis, que devem orar pelos
mortos, esta orientação está no Livro do profeta Macabeus 12, 41-46, aonde o
profeta relata que se façam oferendas no Templo de Jerusalém pelas almas de
seus guerreiros, que morreram em uma guerra, por terem algumas faltas com o
Todo Poderoso (BÍBLIA, p. 632).
6

O homem se comporta, e se respeita vivendo em sociedade, onde


cada um representa seu papel na vida comunitária.
Se o rito social nos ajuda em situações tão simples, muito mais
diante de situações difíceis como a morte. Assim, se
tivéssemos que enfrentar esta situação sozinhos,
desmoronaríamos. E é por isso que surgem os velórios e os
funerais. Além do mais, o ritual coloca a morte em perspectiva
ao vincular um desejo em particular com o seu arquétipo
universal. A pessoa falecida ocupa o seu lugar em companhia
da humanidade, um passo rumo à caminhada sem fim da vida
em direção à morte e novamente da morte em direção a vida,
na constante evolução de ambas em direção à eternidade
(BORAU, p. 138).

O homem procura caminhar em direção da vida e a procura da


eternidade. Em o Sagrado e o Profano de Mircéa Eliade (1992), o autor nos
coloca que todo povo tem seu ritual de passagem/morte. A partir deste conceito
conseguimos identificar na cultura dita açoriana um desejo de conduzir seus
entes queridos a uma nova morada após a morte, utilizando assim o ritual da
Coberta D’Alma.
Para certos povos, só o sepultamento ritual confirma a morte:
aquele que não é enterrado segundo o costume não está
morto. Além disso, a morte de uma pessoa só é reconhecida
como válida depois da realização das cerimônias funerárias, ou
quando a alma do defunto foi ritualmente conduzida a sua nova
morada, no outro mundo, e lá foi aceita pela comunidade dos
mortos (ELIADE, 1992, p. 89).

2.2 Metodologia

A metodologia utilizada no nosso trabalho foi a da história oral,


embasada em referenciais teóricos ligados as áreas das ciências humanas,
sendo esta de cunho qualitativa, com a utilização dos procedimentos técnicos
de pesquisa com roteiros de questões semiestruturadas. Para canalizar tais
memórias exploramos a oralidade, muitas vezes guardadas a sete chaves. Os
entrevistados, cidadãos com mais de 50 (cinquenta) anos, muitas vezes só
tocam no assunto Coberta D’Alma quando se fala que alguém morreu ou que
vai a uma missa de sétimo dia, no mais fala-se que é coisa do passado.
No que se refere à pesquisa bibliográfica, foram realizadas buscas em
diversos autores, que possuem trabalhos ligados à história açoriana, além da
religião e religiosidade dos açorianos no estado de Santa Catarina, bem como
autores (PIAZZA, 1982; GERLACH, 2007 e FARIAS, 1999) que relatam em
7

seus estudos a colonização de Santa Catarina, mais especificamente a história


da colonização açoriana catarinense e historiadores que trabalham no Brasil
com ritos de morte (PRIORE, 1997 e REIS, 1991). Também realizamos
pesquisa em arquivos institucionais, tais como: Arquivo Público de São José,
Biblioteca da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), O Museu de
Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina, o Museu Carlos
Machado da Ilha dos Açores-Portugal. A pesquisa destinou-se na busca de
literatura específica, sobre o rito de passagem da Coberta D’Alma e
documentos afins, bem como fontes primárias.
Procuramos delinear as entrevistas, falando um pouco das histórias
orais e vivências do descendente de açorianos. A execução deste trabalho
ocorreu em duas fases distintas: a primeira com o levantamento dos
entrevistados, elaboração de um roteiro/questionário verbal e a entrevista
propriamente dita. Já a segunda parte, com a análise das histórias orais dos
entrevistados que presenciaram este ritual ou que apenas conheceram pela
oralidade, analisando as entrevistas feitas com os descendentes de açorianos
e moradores da cidade de Paulo Lopes. Através desta análise poderemos
observar se há resquícios de memórias entre entrevistados que viveram e
cultuaram o rito da Coberta D’Alma.
Nesta pesquisa ficou explícito que os entrevistados e praticantes da
Coberta D’Alma são na sua maioria praticante da religião católica, que
frequentam as missas, batizam os filhos, que acreditam em pedidos feitos aos
santos, nas benzeduras, nas crendices e nas religiosidades populares,
deixando a entender que continuarão prestando homenagem aos mortos,
segundo os cerimoniais de sua religião.
A oralidade é um método possível, e Freitas (2006) nos mostra o
seguinte conceito em seu livro, onde através de perguntas e estratégias
elaboradas com antecedência, vamos para o campo entrevistar olho no olho,
com equipamentos e a técnica a ser aplicada.
Denominamos de moderna História Oral, cujos métodos
consistem na realização de depoimentos pessoais orais, por
meio da técnica de entrevista que utilizam um gravador, além
de estratégias, questões práticas e éticas relacionadas ao uso
desse método (FREITAS, 2006, p. 12).
8

As ciências humanas vem utilizando-se da história oral, para junto com


os referenciais bibliográficos, fazer trabalhos de relevância cientifica. “A história
oral pode ser empregada em diversas disciplinas das ciências humanas e tem
relação estreita com categorias como biografia, tradição oral, memória,
linguagem falada, métodos qualitativos [...]” (ALBERTI, 2013, p. 24).
A obra Manual de História Oral, escrita e organizada por Verena Alberti
(ALBERTI, 2013), ensina que todos os materiais pesquisados, devem estar
relacionados entre si. Seja as conversas diretas com os entrevistados ou
alguns escritos que as pessoas tem guardado de muito tempo.
Na história oral, a pesquisa e a documentação estão integradas
de maneira especial, uma vez que é realizando uma pesquisa
em arquivos, bibliotecas etc., e com base em um projeto que se
produzem entrevistas, as quais se transformarão em
documentos (ALBERTI, 2013, p. 158).

Sendo assim a prática de saída de campo e a relação com o corpus da


pesquisa, se aproximam e se entrelaçam. Desta forma, construindo e
percebendo a importância da sua história, na ação de contar para o outro, a
memória é ressignificada quando é contada através do presente,
desempenhando assim, o papel como ser social. Na atuação de forçar suas
lembranças para dar os seus testemunhos, assim construindo uma versão para
a história, e dando corporeidade a religiosidade ao paulo-lopense.
Algo que nossos entrevistados concordam é que a Coberta D’Alma
reunia pessoas, em momentos para rezar, dar apoio aos familiares e gerar um
ambiente propício ao perdão e ao bom relacionamento entre vizinhos, amigos e
familiares. O entrevistado Coelho, relata que para vestir a Coberta D’Alma a
pessoa elegia alguém já em vida, em geral um amigo mais chegado. Ser
escolhido era sinal de muito respeito, entre os familiares e a comunidade.
Quase um prêmio para quem a recebia.
Optamos por entrevistar pessoas de ambos os sexos, que tem mais de
50 (cinquenta) anos, que vivenciaram ou conheceram o ritual da Coberta
D’Alma. Alguns entrevistados moram em Paulo Lopes e outros nasceram e
hoje moram na Grande Florianópolis. Também realizamos entrevistas com
profissionais ligadas á área de museologia, e na área da história.
As entrevistas mostram que o maior número de pessoas que entendem
do ritual de passagem da Coberta D’Alma encontra-se na faixa etária entre 50
9

(cinquenta) e 90 (noventa) anos de idade. Esta situação reforça a importância


da nossa pesquisa, uma vez que ela busca recuperar conhecimento que vem
sendo esquecido ao longo do tempo. Segundo os entrevistados-chaves, as
pessoas mais jovens não têm interesse em aprender sobre a Coberta D’Alma,
um rito de passagem que fora muito utilizado por seus pais, avós ou pessoas
mais idosas da comunidade.
Para mostrar aos jovens a importância e o resgate da dita cultura
açoriana a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) tem, a cerca de 40
(quarenta) anos, um núcleo de estudos destinados aos estudos açorianos -
Núcleo de Estudos Açorianos (NEA) -, criado em 1984. Todos os municípios
litorâneos de Santa Catarina estão contemplados nos estudos do NEA. 2 O
Núcleo tem como objetivo a realização pesquisas em prol do resgate da
Cultura Açoriana, promovendo e fomentando a história do povo açoriano, sua
cultura e sua religiosidade popular. Para resgatar e manter a cultura dita
açoriana foi criada a Festa da Cultura Açoriana de Santa Catarina (AÇOR),
uma festa que está na sua 21ª realização. Sua última edição foi realizada em
Florianópolis no bairro de Santo Antonio de Lisboa, entre os dias 22, 23 e 24 de
agosto de 2014. Vale ressaltar, que o município de Paulo Lopes não ocupou
stand da edição deste ano. Reviver é preciso, e é preciso planejar, para
preservar o movimento folclórico e cultural deste município.
Como afirma Lacerda devemos nos apropriar e valorizar as tradições.
Com a recente valorização da cultura açoriana, na base de um
processo de apropriação das tradições do passado, inúmeros
eventos deste calendário tradicional vêm ressurgindo em novas
bases e com novos apelos. Herdeiros de um passado étnica e
culturalmente diversificado, os açoriano-descendentes re-
valorizaram sua identidade e tradições, através de suas
organizações e movimentos locais. Do ponto de vista histórico-
cultural, sabemos que este repertório de tradições não provém
unicamente da bagagem cultural dos antepassados açorianos,
mas reúne contribuições de varias etnias formadoras do povo
(LACERDA, 2003, p. 157).

Por esse viés, da valorização, a prefeitura de São José (SC), no ano de


2014, também teve a iniciativa de levar até a praça da cidade, a Festa da
Freguesia, onde leva o artesanato, os festejos dançantes, os cantores locais e
a religiosidade popular, valorizando a cultura do homem açoriano. Exemplo a
2
Para maiores informações ver sítio do NEA, disponível em: http://nea.ufsc.br/sobre/, acesso
em: 26 nov. 2014.
10

ser seguido pelas Casas de Cultura das cidades do litoral catarinense,


especificamente do município de Paulo Lopes que aqui é evidenciado.

2.1 Religiosidade popular


O catolicismo pressupõe valores e costumes que, quando confrontados
com etnias de origens diversas portuguesas, espanholas, judias, africanas e
outras, acabam se mesclando com novas culturas, através desta mistura
gerando interculturalidade um novo ente, elemento. Como assevera Macedo:
Apesar de hegemônico na colônia, o catolicismo não conseguiu
se impor plenamente. Houve espaço para o sincretismo na
medida em que não se conservou a religiosidade como nos
locais de origem, mas ganhou novas características ao se
defrontar uma com as outras, transcendendo a configuração
anterior ao contato. Espíritos africanos foram identificados com
santos católicos, mas o culto destes não significava a simples
preservação de cultos vindos da África. O culto aqui se
distinguiu do continente africano pelas condições geográficas e
culturais diferentes (MACEDO, 2008, p. 67).

O hibridismo3 é uma situação que ocorre em Paulo Lopes e que


podemos observar na citação acima, descrita por Macedo, quando ele afirma
que “o catolicismo não conseguiu se impor plenamente” (MACEDO, 2008, p.
67) denota que o ser humano busca meios para bular/adaptar-se, ao meio e o
meio que foi imposto, sobrepujado, não pediram a ele a sua opinião,
simplesmente impuseram. Logo podemos ver no ritual da Coberta D’Alma, uma
aproximação do cristianismo institucional e popular, com traços judeus e uma
base africana.
A vertente popular do catolicismo brasileiro, enfim, apresenta-
se como mais dinâmica. Na vertente popular constatamos a
adaptabilidade e renovação que o catolicismo, com toda a sua
gama de influências populares medievais européias adquire
com contornos tropicais peculiares. Dentre os inúmeros
aspectos peculiares da colônia portuguesa, que
escandalizaram observadores estrangeiros, podemos destacar
alguns traços principais. O culto intenso e íntimo dos santos, o
número excessivo de capelas, a teatralidade da religião, certa
irreverência nos costumes religiosos, além de sincretismos de
inúmeras etnias na colônia, perfazendo finalmente um quadro,
ou um mosaico, do catolicismo popular brasileiro colonial. [...]
Entre as heranças culturais portuguesas na religiosidade
brasileira está o forte apego aos santos, criando vínculos

3
Hibridismo: surge quando ocorre a fusão de duas ou mais crenças religiosas. Esse fenômeno
é muito observado no Brasil, notadamente, na fusão das religiões africanas, européias e
ameríndias.
11

íntimos e até carnais com alguns deles (MACEDO, 2008, p.


03).

A religiosidade popular, no contexto brasileiro, fez com que os adeptos


do catolicismo ficassem mais perto do sagrado. Fazendo promessas a seus
santos de devoção e proteção. Como as práticas religiosas para muitos
devotos advinham de uma não compreensão das normas do catolicismo. Aqui
percebemos a dificuldade de entender a língua oficial da instituição Católica,
latim; dessa forma acabaram adentrando pelo viés do devocionismo como: O
rosário/terço, suas benzedeiras, rezadeiras e noveneiras. Aqui deixamos claro
que essa realidade, isto é, a não compreensão do latim e as suas significações
advém já da Idade Média. Sendo que eram muitas comunidades e não havia
sacerdotes para todas, assim sendo, acabaram fortalecendo a religiosidade
mais intimista, popular.
No livro escrito pelo historiador Vilson Francisco de Farias, tem um
capítulo que fala exatamente sobre Religiosidade Crenças e Mitos. O autor
assegura que o homem açoriano tem o seu jeito de ser: Ande o homem
açoriano tem seus mitos, suas crenças e seus ritos que vão além da sua ilha
de origem, atravessaram o oceano Atlântico e foram marcados por sentimentos
de religiosidade. Conviviam com seus medos, as crendices populares, a fé, a
esperança, a alegria, a dor e as promessas. Neste universo de relação com
Deus, as festas religiosas, o respeito aos mortos e ao luto era de grande
importância para o açoriano do litoral catarinense. (FARIAS, 2004). O açoriano
vive sua religiosidade com muita alegria e esperança, mantendo as festas e a
sua devoção.
As comunidades fundadas por açorianos em Santa Catarina
ainda guardam fortes traços da religiosidade deste povo. As
festas religiosas tradicionais, com destaque para o ciclo/festa
do Espírito Santo, festa do Senhor dos Passos, procissão de
Corpus Christi, festa de padroeiros, Finados, a coberta d’alma,
e o pagamento de promessas são marcas da religiosidade do
homem litorâneo catarinense (FARIAS, 2004, p. 362).

A tese de doutorado, do Historiador Sérgio Luiz Ferreira (2006) nos fala


que, a Igreja Católica move todos os esforços possíveis, para fazer com que
seus fiéis sigam o seu Catecismo e assim fazer com que se aproximem cada
vez mais do sagrado, e deixando seus fiéis cada vez mais longe das práticas
populares.
12

O esforço para fazer a população abandonar suas práticas de


caráter mágico, onde, o que a igreja considerava profano, se
interpenetrava com o que ela considerava sagrado não foi
tarefa fácil. Mais difícil ainda, foi tentar separar os elementos
profanos introduzidos na vida religiosa das populações pela
familiaridade quase excessiva com o sagrado (FERREIRA,
2006, p. 128).

A igreja católica romana percebe no ritual da Coberta D’Alma, uma


simbologia cultural. De acordo com Croatto (2010) “o rito é um símbolo em
ação” (CROATTO, 2010, p. 329). Sendo assim Croatto, em sua obra intitulada
“As Linguagens da Experiência Religiosa”, nos mostra que:
O ser humano manifesta que não é um ser pleno: deve crescer
biologicamente, aprender intelectualmente, preparar-se para
tudo, buscar metas, melhorar a saúde, aspirar a uma vida
melhor, reiniciar uma e outra vez caminhos novos; ainda na
véspera da morte, sente que tem de fazer algo para ser ainda o
que não é. É um ser que está em busca. Esta é uma
característica fundamental do ser humano. Daí a ansiedade
existencial gerada e da qual a vivência religiosa vem socorrer
(CROATTO, 2010, p. 106).

Croatto afirma que o ser humano está sempre se preparando para


tudo, inclusive a morte, e o açoriano se prepara conversando com seus
familiares, deixando alguns encaminhamentos aos familiares e dizendo que um
destes pedidos é a Coberta D’Alma.
13

3. A COBERTA D’ALMA

Não sei se cante ou chore. Não sei que faça de mim


Cantando nada se espalha. Chorando nada tem fim
(MACHADO, 1993, p. 78).

3.1 O Cerimonial
A Coberta D’Alma é uma cerimônia para quem morre. O rito se
estabelece depois de sete dias do falecimento. No momento que morre uma
pessoa esta já tem alguém em vida para usar a coberta, ou a família procura
uma pessoa de idade mais próxima do falecido e a convidam para fazer uso de
tal rito, participando do cerimonial com os familiares. Assim, levam o familiar ou
amigo escolhido numa loja e compram todas as peças de roupas necessárias:
roupas íntimas, chapéu e bengala.
[...] a gente fez uma roupa e chegamos lá, aquela pessoa vinha
naquele dia ali. A gente entrava lá no quarto, vestia ela, tudo
com aquelas roupas que a gente tinha comprado, vestido,
calçado, toda a roupa que uma mulher usa (CÂNDIDO, 2014,
p. 01).

Tinha-se muito respeito e zelo para com a Coberta D’Alma e o luto era
um costume que, na medida do possível, era feito com roupas compradas na
“venda”, ou feitas pelas costureiras.
Na Coberta D’Alma da minha vó eu ainda ajudei a costurar
Coberta D’Alma, porque a gente tinha que comprar o tecido,
tinha que ser uma roupa nova e fazer durante aqueles sete
dias. A semana correndo e a gente fazendo a roupa (SANTOS,
2014, p. 01).

Caso a família não tivesse boas condições financeiras, aproveitavam


alguma indumentária do morto e vestiam o convidado. Assim, muitas vezes a
roupa não cabia perfeitamente.
Depois quando dava as roupas do defunto, o que não era fácil
roupa, roupa era uma coisa bem complicada de ter. Não é
como hoje. Para se ter uma roupa naquele tempo era herdada
uma roupa. O mais velho passava para o mais novo (COELHO,
2014, p.01)

Do mais afortunado, ao mais pobre da comunidade, todos tinham a sua


roupa de ir à missa e era normal herdar as roupas de um irmão mais velho ou
até de um parente próximo.
14

Ao final, aquele que recebera a distinção ganhava a roupa que


usava - muitas vezes a única herança deixada pelo morto -, o
que era bem vindo num tempo em que as roupas custavam
caro, mormente para os desvalidos da sorte. Nem sempre o
“fato” caía bem, às vezes ficava apertado, às vezes ficava
folgado, pois o falecido era mais alto, mais baixo, ou mais
gordo. Vem daí o chiste: “O defunto era maior!” (BRUNO, 2011,
p. 03).

As brincadeiras e o bom humor em torno da morte são características


do homem dito açoriano, como podemos ver nos escritos de Bruno (2011) e na
memória do entrevistado Coelho (2014).
(...) aí hein o defunto era maior!, quando se dava uma roupa
grande, o que quer dizer isso, que o cara falou que o defunto
era maior, quando se a pessoa ta com a roupa maior é porque
ele herdou de algum defunto que era maior do que ele. (...)
Depois quando dava as roupas do defunto, o que não era fácil
roupa, roupa era uma coisa bem complicada de ter. Não é
como hoje. Para se ter uma roupa naquele tempo era herdada
uma roupa. O mais velho passava para o mais novo (COELHO,
2014, p.01).

O Escritor Português João Leal nos diz que os ritos de morte surgem
igualmente associados a um conjunto de dádivas e contra as dádivas de
natureza alimentar.
Esta ceia tem lugar cerca de uma semana após a realização do
enterro no seguimento da chamada missa do vestido de alma.
Esta missa recebe a designação da crença segundo a qual a
alma do morto se deve apresentar diante de deus com um
vestido novo e de festa. Esse vestido – ou fato – é comprado
expressamente para o efeito é envergado durante a missa por
um parente próximo do morto, escolhido de acordo com a
vontade deste. Muitas pessoas na freguesia consideram que se
este ritual não for realizado, a alma do morto “não sobe ao
céu”. [...] No qual participam a totalidade dos parentes de
primeiro grau destes (LEAL, 1994, p. 87).

Passados sete dias de silêncio e reflexão, a família vai a Missa de


sétimo dia, junto com o escolhido para usar a Coberta D’Alma, uma honra para
quem a veste e vive este momento. A historiadora Norma Bruno nos conta
como era/é o procedimento:
[...] a família finalmente sai para a reza ou para a missa,
conforme se dispusesse ou não da presença de um padre. Na
maioria das vilas isso era um luxo. Por isso se apelava para
Nossa Senhora para chegar ao coração de Deus. Na cerimônia
de exaltação ao morto, era apresentada a pessoa que vestia a
Coberta D’Alma do falecido, o que consistia em vestir uma
roupa do morto para dar-lhe materialidade e representá-lo
15

durante as homenagens. Para vestir sua Coberta D’Alma a


pessoa elegia alguém já em vida, em geral o amigo mais
chegado. Ser escolhido era sinal de grande apreço e
considerado uma grande honraria (BRUNO, 2011, p. 02).

As pessoas da família, parentes e amigos, agora todos reunidos na


casa do falecido, aguardam na sala o convidado para cobrir esta alma. O
escolhido entra num quarto da casa mais próximo da sala, onde os convidados
estão reunidos para ouvir e presenciar o rito da Coberta D’Alma, outro familiar
que irá acompanhá-lo no quarto para ser a testemunha ocular, que vai
assessorar no vestir do convidado e que vai entregando-lhe peça por peça das
vestimentas lhe dizendo em bom tom para que as pessoas convidadas ouçam
da sala ao lado o ritual a seguir. Veste a camisa do morto, citando o nome do
mesmo. Veste a calça, citando o nome do mesmo. Todo o rito é entoado em
voz alta e clara para ser bem ouvida em todas as dependências do recinto. Já
devidamente trajado, o agora “familiar”, entra na sala. Cumprimenta a todos
cordialmente e os abençoa se possível, dizendo o nome e o grau de
parentesco. Os familiares que estão esperando na sala recebem a pessoa que,
agora vestido com a Coberta D’Alma, se aproxima e há uma transformação. O
eleito que veste a Coberta não é mais ele, e sim o outro, o outro que se foi. Há
uma espécie de troca, de simbiose. E neste processo os familiares irão pedir a
benção dizendo: “Benção vô, benção vó, benção tio, benção pai, benção mãe”.
Se for afilhado pede-se a benção ao padrinho e assim sucessivamente até o
último parente ou amigo que na sala estiver. Se este membro falecido for um
jovem, uma criança os mais velhos o abençoam; se houver missa de sétimo
dia, esta será rezada no templo/igreja. É respeitoso que todos da comunidade
participem e leve uma palavra amiga a família.
Se a casa que o falecido morava está muito longe da igreja ou da
comunidade esta família enlutada vai arrumar um ministro da eucaristia ou uma
rezadeira a fim de fazer umas orações e rezar o terço. Depois todos são
convidados a ficar para o jantar, onde a alimentação oferecida consiste nos
pratos de preferência do falecido. Servem porções bem generosas aos
convidados, sempre muito bem recepcionados pelo membro que veste a
Coberta D’Alma que deve agradar a todos com alegria e simpatia, como se
realmente fosse à pessoa falecida que ali estivesse servindo. “Após a
16

cerimônia todos compartilhavam de uma refeição onde as homenagens tinham


continuidade” (BRUNO, 2011, p. 02).
Se o morto gostava de frutas e verduras serão servidas as que ele
mais gostava. Se o falecido gostasse de charuto, cachimbo ou cigarros, este
seria convidado a fumar. A pessoa que usa a Coberta D’Alma sentará a mesa
ao lado do viúvo(a), se o mesmo sentava-se a cabeceira da mesa, é ali que
sentará a pessoa que veste a coberta. “A cerimônia do vestido d’alma incluía
também uma refeição comum da família, depois da qual, normalmente, se
procedia à realização das partilhas dos bens” (PERDIGÃO, 2011, p. 02).
No final do ritual, após todos tiverem confraternizado, contado vários
causos e contos, muitas delas vividas com e pelo falecido, chega o momento
do envio.
É encerrada a cerimônia onde todos se cumprimentam. Neste
momento permanece um clima de forte relação entre a família e o convidado
que recebeu e vivenciou tal rito; que passa a ser moralmente um membro da
família. Como nos diz o cineasta Montanari:
No momento do envio, um familiar mais antigo conduzirá o
convidado que veste a Coberta D’Alma até junto da porta de
entrada da residência e olhando em direção ao portão de
entrada, para o horizonte diz em voz alta: dizendo o nome do
falecido. Tu já recebeste uma roupa nova. Já ganhastes uma
janta. Já estás bem alimentado. Já te demos de beber. Já
oramos por você. Já demos tudo do melhor que tínhamos de
dar. Então vá com Deus, descanse em paz e nos deixe em
paz, (é feito o sinal da cruz) amém (MONTANARI, 2004, s/p).

O filme de Hique Montanari (2004) mostra a personificação do recém-


falecido por um familiar ou amigo escolhido em vida ou pelos familiares após a
morte, que ao reverenciar a alma do falecido neste ritual, vai liberar a alma do
mesmo no mundo dos vivos em direção ao paraíso.
A Coberta D’Alma é um ritual marcado pela procura do divino. Aqui
vivenciamos um rito de passagem, com duas características distintas: a
separação, quando separa a alma do corpo, e a incorporação. O açoriano
descendente acredita que neste momento a alma do falecido está presente
(incorporada) naquele que hora veste a Coberta D’Alma. É o momento que o
escolhido passa a usar a roupa e reviver o falecido no ritual, nesta hora se
ascende uma vela no quarto onde o convidado se veste. Reis assevera como
se constituem tais procedimentos:
17

Entre a separação e a incorporação, o morto ficaria no limite


entre o aqui e o além, uma espécie de parêntese existencial a
ser ritualmente preenchido pelos vivos. São exemplos de ritos
de separação a lavagem e o transporte do cadáver, a queima
de objetos pessoais do morto, cerimônias de purificação, de
sepultamento, rituais periódicos de expulsão do espírito morto
da casa, da vila, enfim, do meio dos vivos, o luto e tabus em
geral (REIS, 1991, p. 89).

Já o sociólogo alemão Arnold Van Gennep, mostra em seu livro Os


Ritos de Passagem, os rituais de separação. Convém incluir: os diversos
procedimentos de transporte do cadáver para fora da casa ou comunidade,
queima de utensílios, da casa, das joias, das riquezas do morto, as lavagens,
unções e em geral ritos chamados de purificação. Além disso, existem
procedimentos materiais de separação, a saber, fosso, caixão, cemitério,
grade, colocação de flores, montes de pedra, etc., os quais são construídos ou
utilizados ritualmente (GENNEP, 1977, p. 138). Os procedimentos que Van
Gennep, cita em seu livro ajuda o homem, a amenizar a dor sentida com a
perda do seu ente querido.
Quando alguém morre a alma do falecido permanece na terra, na casa,
durante os sete dias de luto e silêncio, até o final da cerimônia, devido a alma
desta pessoa ter ficado perambulando, vagando pelos arredores até o rito da
Coberta D’alma ser concluída junto de seus familiares e amigos.
A Coberta D’Alma era uma obrigação que, segundo seus praticantes,
não poderia deixar de ser feito. Caso contrário a alma do falecido ficaria
vagando e não encontraria a paz e também não deixaria ninguém em paz.
Padre Ernesto Ferreira em suas vivências na Ilha de Ponta Delgada-Azores,
nos relata que devemos dar a Coberta D’Alma para que o falecido não vá nu
para o outro mundo.
Quando uma pessoa morre, a família veste uma outra do
mesmo sexo da falecida para a alma desta não andar nua no
outro mundo. É o que se chama a roupa ou vestimenta da
alma, que consiste no trajo completo do defunto, desde a ponta
dos pés à cabeça, e que é dado a quem ele em vida indicou
ou, na falta desta indicação, a quem os herdeiros querem
beneficiar. Com a vestimenta da alma há-de o defunto aparecer
na ressurreição dos corpos, no dia do juízo final (FERREIRA,
1943, p. 234).

Era um ritual praticado por várias famílias brancas, negras, ricas e


pobres do litoral catarinense. Onde todas as famílias procuravam fazê-lo para
18

proporcionar a salvação ao seu ente querido. “Vestir o cadáver com a roupa


certa podia significar, se não um gesto suficiente, pelo menos necessário à
salvação” (REIS, 1991, p. 124).
O Padre e filósofo Evaldi Pauli nos conta que “Quem não dá a Coberta
D’Alma, provoca recriminação geral. Mesmo as pessoas que não admitem a
crença, a dão para evitar conversas. Há os que a dão simplesmente como
costume recebido” (PAULI, s/d, p. 02).
Uma Coberta D’Alma muitas vezes era o momento ou a situação, que
os herdeiros do falecido esperavam para se organizarem, no sentido da partilha
dos bens, das ofertas a igreja a qual este frequentava, quem trataria dos
gados, das lavouras, das contas do banco, do testamento e até de melhorias
no túmulo do falecido; tudo muito bem explicado, muitas vezes por alguém já
escolhido do falecido. “Os testamentos dão testemunhos eloqüente de quanto
era fervoroso nos antigos micaelenses o culto dos mortos” (FERREIRA, 1943,
p. 234).
Muitas vezes os filhos consideravam a quem vestia uma Coberta
D’Alma como se fosse o próprio pai, pedindo conselhos, um ajutório, e ouvindo
opiniões sobre uma lavoura, um casamento, um namoro, um negócio ou
qualquer assunto familiar.
Colocar seus desejos finais em testamento era o que faziam alguns
descendentes de açorianos, deixando em vida algumas recomendações para
sua derradeira viagem. Nesse processo o relato da entrevistada MSC,
evidencia o desejo da mesma que se cumpra o ritual da missa de sétimo dia,
dispensando o ritual da Coberta D’alma. Dizendo ainda que foi da vontade de
seu pai, que não fizessem uso do luto total:
[...] eu gostaria, mas agora não se usa mais e agora não vou
dar a roupa. Estão espero que façam a missa do sétimo dia.
Hoje a família se reúne e faz a missa do sétimo dia. [...] A
Coberta D’Alma não precisa. Eu também achava e o esposo
achava. Acho que aquilo é besteira [A Coberta D’Alma] não
precisa. Aquilo não vale nada para a alma. O Sr. acha que
vale? Pra mim não. Me façam tudo como eu quero, como eu
desejo de fazer. Mas roupa isso não. Mas missa de sétimo dia
eu quero. Depois outras missas (CÂNDIDO, 2104, p. 02).

Por outro lado constata-se a não ostentação do rito de passagem:


[...] colocando no papel o desejo de sua cerimônia fúnebre para
evitar constrangimentos e desacertos no importante momento
19

da grande viagem. Informar parentes e amigos de como quer


sejam os preparativos para sua partida. Ou seja: esclarecer a
família para que não se preocupe com gastos excessivos na
aquisição do caixão mortuário e de tantos outros adereços
mais. [...] assegurar ambiente de prece, silêncio, respeito e
equilíbrio no transcorrer da cerimônia (CASTRO, 1990, p. 84).

Podemos observar que o açoriano valoriza o momento da morte do


ente querido, testemunhando, ritualizando e mostrando perante a comunidade
um ritual que dê importância ao ser humano. O imigrante açoriano tem uma
família dotada de uma fé católica, vivenciada com práticas populares, sempre
enaltecendo seu passado e relembrando seus ancestrais através de ritos
religiosos.
As representações religiosas são representações coletivas que
exprimem realidades coletivas; os ritos são maneiras de agir
que surgem unicamente ao seio dos grupos reunidos e que
destinam a suscitar, a manter, ou a refazer certos estados
mentais desses grupos (DURKHEIM, 1989, p. 38).

Emile Durkheim evidencia que vivemos em grupos e estamos sempre


construindo relações de coletividade através dos rituais.

3.1.1 A morte - um ritual de passagem


Uma forma de respeito com o ente querido em terras portuguesas é
evidenciado por Leal: “Os ritos de passagem mais importante: o casamento e
os ritos relacionados com a morte. O luto, em particular é especialmente
constrangente nesta área do parentesco, devendo prolongar-se por cerca de
um ano” (LEAL, 1994, p. 81).
A morte faz parte da existência humana e de uma forma ou de outra,
todos queremos ter um gran final ou uma grande despedida. Philippe Ariés, em
seu livro O Homem Diante da Morte, nos lembra que “o momento dos mortos
tornou-se uma oração de intercessão” (ARIES, 1989, p. 167). O pesquisador
francês continuar a nos explicar que:
Desde que o Cristo ressuscitado triunfou sobre a morte neste
mundo tornou-se a verdadeira morte, e a morte física, acesso à
vida eterna. É por essa razão que o cristão se empenha em
desejar a morte com alegria, como um renascimento (ARIES,
1989, p. 14).

O açoriano cristão procura viver com objetivo na vida eterna. Segalen


nos atualiza dizendo que o mundo moderno vai perdendo suas ritualísticas,
20

vivendo em sociedade em um mundo secular e industrializado; deixando de


lado suas tradições religiosas.
Quando mais complexas as sociedades se tornam menos
ritualizadas são, uma posição comum por volta dos anos 70.
Os ritos, e mesmo as cerimônias, tem tendência a cair em
desuso em situações modernas urbanas, onde a base material
da vida, a fragmentação das funções e das atividades separam
as funções sociais (SEGALEN, 2000, p. 35).

A sociedade de Paulo Lopes, já experimenta a modernidade, com o


desuso de seus rituais de caráter açoriano: Boi de mamão 4, Terno de reis5, Pão
por Deus6 e a Coberta D’Alma. Machado (1993), em seu livro dedicado a
cidade de Paulo Lopes, mostra que a movimentação folclórica e cultural neste
município é bem reduzida.
Hoje o movimento tradicional da vida folclórica deixou de existir
quase por completo, embora tenha sido trazido com toda
intensidade pelos açorianos. Principalmente nos meses de
setembro até o carnaval existiam alegres festas, transmitindo o
que haviam deixado antigos povos vindos das Ilhas dos Açores
e de Portugal. Estas festas serviam para a distração do povo,
formando comunidades bem unidas. Ora se apresentavam em
salões, ora nos pátios das residências, não se incomodando
nem com as tempestades (MACHADO, 1993, p. 75).

O povo de Paulo Lopes é muito alegre, assim como os açorianos. O


Escritor Ernesto Ferreira escreveu sobre suas vivências nas Ilhas dos Açores,
com o livro Ao Espelho da Tradição, falando de um cotidiano ilhéu, retratando a
morte e as vivências do açoriano.
O culto dos mortos ascende aos primeiros tempos da
humanidade. A morte afervorou no homem a idéia do
sobrenatural; foi o mistério que antes de tudo o impressionou
fundamente e lhe revelou a existência de outros mistérios.
Ergueu-lhe o pensamento do visível para o invisível, do
temporal para o eterno, do mortal para o imortal, do humano
para o divino (FERREIRA, 1943, p. 233).

4
Boi de Mamão: Se apresentavam dançando e cantando, organizados por um grupo de 30 a
40 pessoas, devidamente ornamentados e guiados por uma pessoa que sabia manejá-lo
(MACHADO, 1993, p. 77).
5
Terno de reis: Compunham-se de 4, 6 ou 8 pessoas, conduzindo uma gaita ou violão e, a
noite iam de casa em casa e de localidade em localidade, muitas vezes cantando até o sol
surgir, e angariando donativos de acordo com as possibilidades de cada residência
(MACHADO, 1993, p.76).
6
Pão por Deus: São cartas em formato de coração com mensagens de simpatia, amizade ou
de amor em que se pede em verso, uma prenda ou presente.
21

O Historiador e escritor Vilson Farias, nos conta que, o açoriano


valoriza o momento da morte e do luto de seus familiares, onde presta sua
homenagem com a Coberta D’Alma e a missa de sétimo dia.
A cultura de base açoriana de Santa Catarina tem uma relação
muito forte com a morte. O luto, a coberta d’alma e a crença
nos mortos são valores sentimentais ainda presentes em nossa
comunidade. “A cerimônia que marcava a despedida do
falecido de seus familiares era a coberta d’alma, que ocorria na
missa de sétimo dia. Durante a missa, trajando as roupas do
defunto, ficava este à frente da assistência, junto à família,
marcando a despedida destes familiares”. “Quando morre
alguém da família, oferece-se a roupa do morto a alguém de
quem mais se gosta, para que ela se apresente junto à família
na missa de sétimo dia” (FARIAS, 2004, p. 392).7

A morte pode inspirar temor e que devemos dar a nossos mortos um


enterro digno, com rituais de passagem. Assim, o historiador João José Reis,
em sua obra A Morte é uma Festa, sentencia:
Como é comum nas sociedades tradicionais, não havia
separação radical, como hoje temos, entre vida e morte, entre
o sagrado e o profano, entre a cidade dos vivos e dos mortos.
Não é que a morte e os mortos nunca inspirassem temor.
Temia-se, e muito, a morte sem aviso, sem preparação,
repentino, trágica e sobretudo sem funeral e sepultura
adequados. Assim como se temiam os mortos que assim.
Enterrando-os segundo os ritos adequados (REIS, 1989, p. 74).

7
Nesta citação o Historiador Vilson Farias dialoga com a sua entrevistada: Laura Ombelino dos
Santos, residente na localidade de Praia Comprida, São José (SC).
22

Figura 01: A cruz puxando o cortejo fúnebre


Fonte: Imagem retirada do vídeo “Um ritual para os mortos de Osório (RS)”. In: MONTANARI,
2003

A imagem sugere a dor de quem leva o seu ente querido para a sua
última viagem. Onde o açoriano cristão leva uma luz guiando a frente, (“Eis a
luz de Cristo”). Na sequência vem à cruz e o povo/familiares. Uma maioria de
preto, já deixando brotar o luto na vestimenta usada para o caminho ao solo
sagrado.
O padre Paulo Crozera, coordenador da pastoral Universitária da
Pontífica Universidade Católica de Campinas (PUC) diz que: “A morte é uma
passagem; não existem mortos, mas vivos e ressuscitados. O Senhor nos toca
e nos reerguemos para a vida eterna” (Cemitério Ecumênico João XXIII, s/d, p.
01).
Para os católicos, corpo e alma são uma só coisa. Os católicos velam
os mortos, e além das orações populares que costumam ser feitas durante o
velório, como na oração do Pai Nosso e da Ave Maria, entoam cantorias
relacionadas às musicas da igreja entre outras. Um padre ou um ministro da
eucaristia faz as exéquias, isto é, uma celebração para encomendar a ida da
pessoa às mãos de Deus. Nesse ritual, há a celebração da passagem do morto
à luz do mistério da morte, por meio de orações e da benção do corpo. As
velas ao lado do caixão simbolizam a luz de Jesus Cristo ressuscitado. O corpo
pode ser enterrado ou cremado, no momento do enterro, há a benção do
túmulo, cujo objetivo é pedir o acolhimento pela terra. Depois de enterrado,
ocorrem celebrações em memória do morto no sétimo dia, no primeiro mês e
no primeiro ano (Cemitério Ecumênico João XXIII, s/d, p. 01).
A missa de sétimo dia, não pode deixar de ser celebrada, é uma forma
de apoio à família enlutada; é neste momento que vizinhos e amigos levam seu
ombro amigo e suas palavras de apreço ao falecido.
Segundo Berakash a missa de 7º dia é de uso exclusivo do Brasil:
Missa de 7º dia: O ritual da missa de 7º dia é exclusivo do
Brasil, vem dos tempos coloniais quando não existiam
estradas, nem aviões, nem carros nem ônibus, nem trens,
capazes de trazer um parente do defunto de uma distância
grande até o local do velório (BERAKASH, 2012, p 01).
23

A missa de 7º dia, junto com a celebração de corpo presente, é uma


missa a fim de valorizar o falecido e trazer seus feitos em vida, na forma de
elogios ao final da missa ou na homilia8 do padre.
Os ritos se encarregavam em acompanhar o corpo do leito ao
túmulo, muitas pessoas deixavam escrita toda a forma de
ritualística mencionada em seu testamento. Muitas vezes o
testamento deixava claro a vontade do falecido, de ter uma
missa logo após o falecimento; no momento da separação da
alma do seu corpo. Pedia-se também que o corpo fosse levado
até a igreja, no dia do enterro, a fim de ser realizada a missa de
corpo presente. (A missa de Réquiem na liturgia romana). No
momento da entrada do falecido era muito comum ser cantada
a Salve Regina. Logo em seguida vai o corpo direto para o
sepultamento, com uma benção no túmulo, seguindo após uma
semana; uma missa de sete dias e após uma missa de um ano
de falecimento ou aniversário de morte (ARIÈS, 1987).

Um corpo presente e uma família enlutada, onde o ritual é sim, para


reviver o falecido e manter a tradição religiosa. O luto devia ser respeitado e
mantido, cada familiar tinha um prazo estabelecido de guarda, segundo padre
Evaldi Pauli.
No passado o luto envolviam detalhes que aos poucos se
amenizaram, quer entre lusos, quer entre alemães, quer entre
italianos. Em Santa Catarina os lusos atendem mais do que os
alemães. O luso é mais visual e mais sentimental. Ao luto se
chama “Sinal de sentimento” (expressão verificada em
Sombrio, 1950). Falecendo-lhes os pais, o luto dos filhos é de
um ano. Muitos homens, nem todos, ao lhes morrer o pai, ou
mãe, deixam crescer a barba, algumas semanas, às vezes
vários meses (observado, em 1950, no interior de Araranguá).
Para aliviar as despesas do luto, apela-se ao tingimento. É o
que se faz sobretudono primeiro dia do falecimento. O excesso
do luto, quando decorre do simplismo das pessoas, tende a
diminuir com o desenvolvimento cultural. A religião dos simples
se concentra no culto aos mortos. Mas o culto aos mortos não
é o principal em religião. As exterioridades do luto foram
diminuindo, sobretudo nas cidades (PAULI, s/d, p. 03).

As pessoas que deixam a comunidade e vão trabalhar nos centros


urbanos acabam perdendo o costume do luto.
8
Segundo Maria de Lourdes Zavarez do Serviço de Animação Litúrgica da Arquidiocese de
Goiânia-Spar, “Homilia significa "conversa familiar", continuando o assunto do diálogo que
Deus veio fazendo conosco através das leituras proclamadas e dos fatos da vida. Ela é Ação
Simbólica, como cada momento da liturgia da Palavra. [...] É o momento da comunidade
expressar e firmar seu compromisso com Deus, como parceira da Aliança. [...] A homilia
precisa fazer a ligação entre Vida, Bíblia e Celebração. in: Sitio da Catedral Metropolitana -
Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora de Goiana (GO). Disponível em: <
http://catedralgo.com.br/cmg/index.php/formacao/estudo-liturgico/28-o-que-e-homilia > Acesso
em: 26 nov. 2014.
24

Não, eu não fiz, na nossa época, agora já, ninguém já fazia. Eu


não fiz. A Rosinha, pode ir lá [em Penha (Paulo Lopes)] ela
está toda de preto. A Cândinha (comadre) morreu com um
lenço preto amarrado na cabeça, roupa [a mortalha] toda preta.
A Rosa também táva lá, a gente pode chegar todo dia,
qualquer hora que ela tá lá, era um urubu, toda de preto [risos].
Já faz quase quarenta anos que ele morreu, ela ainda tá
usando preto, mas eu não, eu não fiz, não fiz preto (CÂNDIDO,
2104, p. 02).

O açoriano descendente assimilou os costumes em suas vivências, ao


longo dos anos. Muitas vezes fazendo o ritual por medo, que seu ente querido
não tivesse um lugar no paraíso.
O luto doméstico seguia uma série de preceitos com múltiplas
funções: expressar prestígio social, mostrar a dor, defender a
família enlutada de um retorno do defunto. [...] Tendo saído o
enterro, procurava-se apagar os rastros da morte em casa. As
roupas do defunto, especialmente suas roupas de cama, eram
destruídas e jogadas fora. [...] Hora de os vivos substituírem o
guarda-roupa convencional, por um tempo que variava
conforme o grau de parentesco com o morto (REIS, 1991. p.
131-132).

Deixando o silêncio9 da morte e seguindo os trilhos marcados pelas


rodas do carro de boi. Este meio de transporte foi de suma importância para a
colonização açoriana. Inclusive, no momento em que havia perda de entes
queridos, o momento mais difícil, na hora da morte. Da residência até o
cemitério o carro de boi era o meio de transporte do falecido, sendo que o
mesmo iria enfeitado com as flores da estação. “Para o sepultamento
propriamente dito, enfeitava-se o carro de boi que conduziria o ataúde até o
campo santo a pé pelos vizinhos e a comunidade, mas não pela família”
(BRUNO, 2011, p. 02). A entrevistada Santos (2014) nos diz que sua família
fazia uso de carro de boi nos rituais fúnebres:
Eu lembro, a minha bisavó, a minha vó, eu lembro, ia tudo de
carro de boi, eles botavam um lençol, uma esteira por cima, era
assim. Lembro muito bem. Lá do Bairro Freitas até aquela
ponte que tinha de primeiro, ali o carro ficava, depois se seguia
a pé com o caixão, até o cemitério. Depois as esteiras eles
jogavam fora, não levavam de volta para casa, ali mesmo no
cemitério eles davam fim nelas. [...] Quando minha menina
faleceu, foi levada de carro de boi para Araçatuba, naquele
tempo não tinha existia carro, era raro o que tinha um
caminhão” (SANTOS, 2014, p. 02).

9
Nesta derradeira viagem, são removidas as cunhas das rodas do carro de boi, fazendo com
que o mesmo perca seu ruído cantante.
25

O dia de finados para muitos, era uma festa, onde familiares que
visitam os túmulos, vão refletir a morte e lembrar a memória dos falecidos,
neste local onde estão sepultados seus entes queridos. Lá se encontram com
os nativos que se reúnem em restaurantes e barraquinhas improvisadas, onde
vendem churrasco, cerveja, refrigerantes, picolés, e tantos outros produtos. Ali
se cumprimentam, dão boas risadas, contam histórias, falam dos filhos. Por
esse viés Ferreira nos conta que:
[...] o culto dos mortos tem seu apogeu no dia 2 de novembro.
Os templos regurgitam de fiéis, que vão unir as suas preces às
do missal e do ritual. É continua a romaria aos cemitérios, onde
as famílias oram e cobrem de flores as sepulturas dos
membros que dormem na terra fria (FERREIRA, 1943, p 238).

No cemitério de Araçatuba, na entrada para quem vai a Garopaba (SC)


e no outro cemitério ao centro de Paulo Lopes-SC, é muito comum vermos
referências elogiosas aos falecidos nos túmulos 10. O escritor Machado de Assis
em seus livros já deixava seus epitáfios, como vemos na obra de Dom
Casmurro: “Uma santa” (ASSIS, s/d, p. 123) e “Tu eras perfeito nos teus
caminhos” (ASSIS, s/d, p. 127).
Pacheco comenta que é comum encontrar nas lápides, monumentos e
túmulos elogios ou dizeres referentes aos feitos do falecido. Assim,
A comunidade dos vivos tem diferenças sobre a identidade do
morto através dos epitáfios. Assim além do túmulo propriamente
dito que funciona como uma marca deixada pelo morto no
mundo dos vivos, os epitáfios também registram a memória da
presença do morto entre os vivos. Esses epitáfios, por vezes,
vêm escrito com saudações aos mortos e um convite à
lamentação dirigido aos vivos (PACHECO, 2009, p. 101/102).

O escritor Pacheco nos convida a reverenciar os mortos e saldar os


vivos com frases elogiosas a vida. O velório é um local de encontro, sendo
assim, durante essas 24 (vinte e quatro horas) de silêncio e veneração é
costume servir um café; mas, tem familiares que vem de longe e ficam para
pernoitar, e precisam almoçar e jantar. Muitas homenagens e orações ficam
por conta dos familiares e amigos.

10
Neste período que antecede o dia de finados, é feita uma lavação no túmulo, colocação de
flores, pintam os nomes e colocam fotos.
26

Enquanto se preparava o morto,11 outros cuidavam de arrumar a casa


para o velório e de providenciar outras coisas relacionadas ao enterro. Em
muitas residências, era comum ter as tábuas para o caixão guardadas no forro
da casa. As famílias se esforçavam por fazer dos enterros de seus entes
queridos um importante acontecimento social. O falecido ficava na sala, com
velas ao lado do corpo. As mãos eram amarradas com rosário. Quem chegava
para visitar o morto, saudava-o com água benta. As mulheres, as mulheres
carpideiras, presentes ao velório rezavam padre-nossos, ave-marias e credos,
desfiavam rosários e ladainhas e as “tristes” incelências, 12 bem como orações,
em forma de cantos, que eram recitados ao pé do morto, junto a cabeceira do
caixão, que se traduzia numa referência a movimentação e a separação. O
entrevistado Coelho (2014), entoou uma incelência quando perguntado se
havia em sua memória alguns desses cânticos.
Uma incelência que quer para ele,
Mãe de Deus, Ó Mãe de Deus;
Uma incelência que quer para ele,
Mãe de Deus, Ó Mãe de Deus;
Uma incelência que quer para ele,
Mãe de Deus, Ó Mãe de Deus,
Rogai por nós (COELHO, 2014, p. 02).

Choravam com veemência para afastar a alma. O defunto atravessava


a noite na companhia de parentes e conhecidos, para os quais se
providenciava comida e bebida. A encomendação final feita pelo padre e as
cantorias feitas eram uma forma de carinho da família para com o morto, gesto
que solenizava sua saída definitiva de casa rumo ao mundo dos mortos, e sinal
de pompa fúnebre (REIS, 1991).
Na cultura dita Açoriana, ou oriundas de Portugal se tem muito respeito
e um certo temor em falar o nome do falecido. Philippe Ariés nos diz que: "A
atitude antiga em que a morte é ao mesmo tempo próxima e familiar e
diminuída, insensibilizada, opõe-se demasiado à nossa [Ocidental] onde faz,
tanto medo que já não ousamos pronunciar o seu nome" (ARIÈS, 1989, p. 31).
Mendes recomenda que seja necessário tratar o falecido com dignidade e pelo
nome:

11
Lavar o ente querido com pano úmido, colocar as roupas escolhidas pelo falecido, juntar as
mãos postas para colocar um rosário e ter um capricho com as flores.
12
Passavam-se então as incelênças, os cânticos fúnebres repetidos 13 (treze) vezes a fim de
convencer o morto a fazer a travessia. (BRUNO, 2011, p. 01).
27

Convém relevar que, de acordo com a tradição santiaguense 13,


antes da sepultura, o morto é tratado pelo nome próprio ou pelo
seu nome profissional, nomeadamente, senhor doutor, senhor
comandante, senhor regedor ou senhor fulano de tal, tantas
vezes quantas forem necessárias, mas, a partir da sua
sepultura, evita-se dizer o seu nome. Passa, pois, a ser
denominado de "falecido fulano de tal" ou simplesmente
"falecido". Por exemplo, diz-se falecido José ou simplesmente
falecido, quando o interlocutor já sabe de quem se está a falar
(MENDES, 2003, p 79).

Mendes nos conta em sua obra, que o homem santiaguense, respeita


seus entes queridos após a sua morte, onde mesmo no leito de morte, o trata
pelo nome. Assim a Ilha de Santiago (Cabo Verde) tem laços portugueses com
as Ilhas dos Açores.

13
A Ilha de Santiago, considerada a mais africana de todas e onde os contrastes são nítidos,
oferece uma infinidade de montanhas e vales, percursos e trilhos, naquela que é a maior ilha
do arquipélago de Cabo Verde e que acomoda metade da população do país, n: Sitio do
Turismo da Ilha de Cabo Verde. Disponível em: http://www.turismo.cv/santiago. Acesso em:
26 nov. 2014.
28

4. DA ILHA DOS AÇORES A PAULO LOPES

Sempre tive a ideia de que para a navegação só a dois


mestres verdadeiros, um que é o mar, o outro que é o
barco. E o céu, estás a esquecer-te do céu, Sim, claro,
O céu, Os ventos, As nuvens, O céu, Sim, o céu
(SARAMAGO, 1999, p. 42).

4.1 Os Açorianos
O arquipélago dos Açores é um conjunto de ilhas (nove) localizadas no
Oceano Atlântico, a 1800 quilômetros de Lisboa-Portugal. As ilhas são: Santa
Maria, Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico, Faial, Flores e Corvo. Ponto
estratégico no meio do oceano, colonizada predominantemente por
portugueses, no entanto outros europeus chegaram a ocupar essas “ilhas
afortunadas”14 que tiveram papel de destaque na rota dos navegadores.
A cultura dita açoriana, assim como qualquer outra cultura é uma
invenção,15 faz parte do processo de construção de identidades.
A própria ideia de um passado ou de uma memória como dado
relevante na construção das identidades pessoais ou coletivas
é por natureza conservadora e reacionária. Neste sentido, é
inventado um conjunto de tradições com o objetivo de criar e
comunicar identidades (BARBOSA e ESPINDOLA, 1992, p.
06).

14
O Historiador ambiental norte americano Alfred Crosby, em seu Livro “Imperialismo ecológico
– a expansão biológica da Europa 900-1900” examina a importância das Ilhas Afortunadas do
Oceano Atlântico na expansão do imperialismo europeu. Inicialmente essas ilhas no meio do
oceano Atlântico “[...] não passavam de sinais de orientação na profundeza do oceano [...]”
(CROSBY, 2011, p. 83/84). No entanto, elas tiveram papel de destaque sendo ocupadas em
diferentes momentos históricos. Os romanos e outros navegadores do antigo mundo
mediterrâneo já conheciam e denominavam de Ilhas Afortunadas. “Os navegadores da
Renascença europeia descobriram ou redescobriram essas ilhas e fizeram delas o laboratório
de uma nova espécie de imperialismo europeu. Impérios transoceânicos de Carlos V. Luiz XIV
e da rainha Vitória tiveram como princípio as colônias estabelecidas nas ilhas do Atlântico
oriental. [...] Durante o século XIV, italianos, portugueses, maiorquinos, catalães e, sem dúvida,
outros europeus mandaram navios isolados e expedições as Canárias e aos outros
arquipélagos que faziam face à península Ibérica e ao Marrocos – Madeira e Açores -, a
medida que eles iam sendo descobertos” (CROSBY, 2011, p. 83/84).
15
Barbosa e Espindola (1992) deram uma considerável contribuição para a análise da cultura
dita açoriana evidenciando o processo de construção de Identidades.
29

Figura 02: Mapa do Arquipélago dos Açores


Fonte: Sítio Google imagens. Disponível em:
https://sites.google.com/site/ouniversodoaprendiz/memoria-perene/-civilizacoes---
imagologia-alteridade/atlantida---ilhas-arquipelagos. Acesso em: 26 nov. 2014.

De acordo com Hobsbawn e Ranger:


As tradições inventadas são um conjunto de práticas de
natureza virtual ou simbólica, que visa inculcar certos valores e
normas de comportamento através da repetição o que implica,
automaticamente, uma continuidade em relação ao passado.
Aliás, sempre que possível, tenta-se estabelecer continuidade
com o passado histórico apropriado (HOBSBAWN, Eric &
RANGER, 1984. p. 09)

A Vinda dos casais açorianos para o Brasil e principalmente ao litoral


catarinense foi uma iniciativa da Coroa Portuguesa, “foi desenvolvida uma ação
que se concretizou com a vinda de casais açorianos, que vão se fixar ao longo
do litoral catarinense, a partir de 1748” (PIAZZA, 2001, p. 42) com a intenção
primeira de ocupar as terras ao Sul do Brasil.
A colonização açoriana em Santa Catarina destinou-se tanto à
ocupação de vilas já existentes, [...] quanto à fundação de
novas freguesias [...]. De forma geral, a ocupação dos espaços
seguia uma tendência comum, e a igreja aparecia como
referência central. As heranças dessa presença açoriana ainda
podem ser percebidas pela preservação de tradições e
costumes e pela arquitetura colonial em diversas localidades
do litoral catarinense (COSTA, 2011, p. 77).

Os açorianos, por sua vez, estavam em busca de novas oportunidades,


já que estavam em situação difícil no Arquipélago dos Açores. “Estas ilhas,
estavam sofrendo constantes abalos sísmicos, terrestres ou submarinos,
30

estimularam a saída de parte de sua população.” (PIAZZA, 2001, p. 42).


Vinham com a intenção de estabelecer seus engenhos e culturas. A igreja tinha
o objetivo de catequizar os índios e manter a espiritualidade dos açorianos.
A Igreja dependia do estado para a sua subsistência e sua
expansão. Os portugueses e a igreja católica vinham ao Brasil
para aumentar seu poder e suas terras, além de manter a fé
dos lusitanos e trabalhar para a evangelização dos índios.
Assim a igreja se mantinha fiel a coroa, e seus súditos se
mantinham obedientes a política portuguesa. Desta forma a
religião era um meio de manter a ordem pública (AZZI, 1987).

Os açorianos vieram para prosperar no litoral sul do Brasil, ocupando


todo o litoral catarinense até Porto dos Casais; hoje, Porto Alegre a capital do
Rio Grande do Sul.
Os povoadores açorianos se fixaram por todo o litoral
catarinense, desde São Francisco do Sul até ao sul de Laguna,
penetrando no litoral do Rio Grande do Sul, especialmente nos
arredores de Porto Alegre, a fim de estender o povoamento até
os limites meridionais designados pelo Rei de Portugal
(COSTA, 2011, p. 77).

Segundo Dall’Alba (1979), o povo açoriano chega a Laguna, e logo


providencia um local para praticar sua espiritualidade, ter seu encontro com
deus e seus santos de devoção:
Quando os açorianos chegam a cidade de Laguna o povo em
geral é dado às práticas religiosas. O culto é feito na Igreja
Matriz, cujo padroeiro é Santo Antonio dos Anjos. Existe uma
capela em construção com a invocação de Nossa Senhora do
Rosário, e, em projeto, uma outra, de Nossa Senhora de
Navegantes. A Igreja velha, que serviu de capela-mor, teve seu
princípio no ano de 1696 (DALL’ALBA, 1979, p. 39).

4.2 Africanos na Ilha dos Açores


Os africanos chegam aos Açores; como conta o historiador português
Joaquim Romero Magalhães, escrevendo um artigo intitulado O açúcar nas
Ilhas Portuguesas do Atlântico. O historiador relata o inicio do comércio nas
ilhas portugueses, como a Ilha da Madeira (1419), Ilha dos Açores (1427) e Ilha
de Cabo Verde (1460).
O pesquisador Magalhães esclarece, que desde os primeiros
momentos que os portugueses começaram a habitar estas ilhas, sempre
tiveram seus olhares voltados para o comércio, seja de cana de açúcar, trigo,
uva, cereais ou frutas conjuntamente ao comércio de escravos, sempre como
31

forma de escambo. Os colonos portugueses que chegavam com o atrativo de


passar a ser proprietários de sesmarias 16, não estariam dispostos ao trabalho
em canaviais alheios. Por isso torna premente dispor de mão de obra. Então
para o penoso trabalho nas lavouras vieram os negros da África Ocidental;
exigindo violência na captura, prisão e transporte, multiplicando as cores dos
homens com que se vai povoando o mundo e levando seus aspectos culturais
ao mundo, seja este na musicalidade ou espiritualidade africana. O atrativo
comercial de Santiago (Ilha de Cabo Verde) residiu desde cedo nos escravos,
que em grandes quantidades aí eram embarcados com destino à Europa ou à
América. Sociedade que arranca logo com uma ampla base de escravos. A
cada degredado mandava o rei que fosse entregue um escravo ou uma
escrava negra para ajuda e serviço qual ele quisesse. Depressa se instalam e
multiplicam-se os escravos, que trabalham e roçam. E a homens ricos que
possuem 150, 200 e até 300 (escravos), entre negros e negras, os quais tem
obrigação de trabalhar toda a semana para o seu senhor, menos ao sábado,
em que trabalham para a sua sobrevivência. Por fim os portugueses levaram o
comércio de escravos para as Américas, multiplicando as cores dos homens
com que se vai povoando o mundo (MAGALHÃES, 2009). 3.1.1 Coberta
D’Alma, um rito africano?
Os africanos nos deixam um legado na espiritualidade e um deles é na
questão da finitude com seus rituais de passagem como relata a Historiadora
Mary de Priore.
A existência de práticas fúnebres, assim como a consciência
frente a finitude, definia, no passado de nossos ancestrais
africanos, categorias simbólicas e práticas sociais que só
recentemente começam a ser repertoriadas. [...] a história da
região que vai do Senegal a Angola, de onde veio a maioria de
nossos ancestrais africanos, revela a presença de povos,
desde a muito, conhecedores da agricultura, do ferro e,
sobretudo, de rituais fúnebres (PRIORE, 2006, p. 35).

16
Lei das Sesmarias: Seu objetivo era ajudar no avanço da agricultura que se encontrava
abandonada.  Se o proprietário não fertilizasse a terra para a produção e a semeasse, esta
seria repassada a outro agricultor que tivesse interesse em cultivá-la. Somente aqueles que
tivessem algum laço com a classe dos nobres portugueses em Portugal, os militares ou os que
se dedicassem à navegação e tivessem obtido honrarias que lhes garantissem o mérito de
ganhar uma sesmaria, tinham o direito de recebê-la.
32

Vamos analisar a Coberta D’Alma como um ritual africano e prestar


atenção em suas semelhanças com o cerimonial que veio para o Litoral
catarinense, mostrando que a morte para o africano era mais que uma
passagem.
[...] um ritual que o próprio defunto preside o funeral vestindo
das mais belas vestimentas, com o falecido sentado na sala,
onde os familiares, os membros da linhagem se reúnem para
comer, beber e cantar louvações ao desaparecido, que
constituem uma maneira de prolongar sua existência aqui.
Sacrifícios são realizados para ajudar o espírito do morto a
passar ao mundo dos espíritos sem causar problemas aos que
aqui ficam. [...] Entre os iorubas (Nigéria e Daomé) e os mosi
(Alto Volta), ocorre de um parente do defunto – sua mulher de
preferência – vestir-se com as roupas dele, imitar-lhe os
gestos, a maneira de falar e as eventuais desgraças físicas,
usando sua bengala ou lança. Os filhos do morto chamam
“Pai”; as esposas, “Marido”. [...] Nossos ancestrais sabiam que
deviam morrer para que a alma e espírito pudessem começar
uma nova aventura; para eles, a morte não era mais que uma
passagem (PRIORE, 2006, p. 53).

A cultura africana está chegando as terras portuguesas, trazendo uma


religiosidade diferente. A escravidão na África começa com seu próprio povo,
as tribos brigavam entre si, e as populações derrotadas, nestas guerras
serviam como recompensas. No ano de 1432 o navegador português Gil Eanes
introduziu em Portugal a primeira leva de negros escravos, e a partir desta
época os portugueses passaram a traficar os escravos para a Ilha da Madeira e
em Porto Santo, logo levaram os negros para os açores e depois para Cabo
Verde e finalmente para o Brasil. O negro na África era encurralado pelo
próprio negro, havia tribos que prendia o inimigo para vender, um Yoruba não
considerava um Fon como seu semelhante. A etnia mais notável foram os
Yorubas e Nagôs, da Nigéria. Esta presença comum nos grupos de influência
Yoruba predominava do golfo da Guiné ao Sudão. Tinha uma civilização
adiantada, os costumes sociais, a organização política e a religião serviam de
modelo para outros povos (XANGOSOL, s/d., p. 01). Aqui segue um extrato da
obra de José dos Reis, contando que africanos e portugueses mantinham laços
na cultura de bem enterrar seus mortos.
Há evidências de que os africanos mantiveram no Brasil muitas
de suas maneiras de morrer, mas sobretudo incorporaram
maneiras portuguesas. Isso se deveu em grande parte à
repressão da religião africana no Brasil escravocrata, mas
também a que a dramaticidade ritualista dos funerais
33

portugueses permaneceram fiéis a estilos funerários ligados ao


catolicismo do reino (REIS, 1999, p. 91).

A Igreja Católica tinha seus rituais funerários e instruía seus fiéis


portugueses. Além dos rituais de passagem, a igreja tinha outros rituais a
seguir em suas tradições, como o batismo e o casamento.

4.3 Os Judeus nas Ilhas dos Açores


Os judeus por não se converterem ao cristianismo foram expulsos
primeiro da Península Ibérica (Espanha e Portugal). “Os reis católicos,
Fernando e Isabel de Castela, determinaram a expulsão dos judeus de
Espanha, em 1492” (NOGUEIRA, s/d, p. 05). Em seguida o rei de Portugal
toma a mesma iniciativa, como nos conta o açoriano Nogueira: “D. Manoel I,
Rei de Portugal, não querendo desagradar aos duplamente sogros, expulsa os
judeus e os mouros, mas apenas os que não quisessem receber o Baptismo”
(NOGUEIRA, s/d, p. 05), onde os judeus sem opção, foram para a Ilha dos
Açores e boa parte da Europa.
[...] chegaram a Ilha dos Açores no ano de 1501, os primeiros
judeus expulsos de Portugal Continental, aportaram aos Açores
pela Ilha Terceira, oferecidos como escravos tiveram suas
capacidades aproveitadas e foram integrados a sociedade. A
comunidade judaica era formada por um escol de mercadores,
banqueiros, médicos, economistas, ouvires, entre outras
atividades. Estes profissionais que fugiram para os açores
eram de famílias abastadas; muitos tiveram a conversão ao
cristianismo forçada pelo Rei português, nascendo assim o
conceito de cristãos- novos. Com o passar dos anos, as suas
crenças misturaram-se com os costumes locais, fazendo da
Ilha Terceira um bom exemplo da mistura de religiões, com
características muito próprias (NOGUEIRA, s/d, p. 01/02).

Na cultura judaica o morto é tratado com respeito e reverência. O


sepultamento para o povo judeu deve ser imediatamente após a morte e
preferencialmente no mesmo dia, enquanto houver luz natural, não podendo o
cadáver permanecer no período noturno. Segundo Samira A. Vainsencher:
De acordo com as leis mosaicas, o corpo deve ser sepultado
logo que for possível, de preferência no mesmo dia da morte e,
também, enquanto houver luz natural: “seu cadáver não poderá
permanecer ali durante a noite, mas tu sepultarás no mesmo
dia (Deuteronômio 21:23). Enquanto o morto permanecer em
sepulto a sua alma não ficará em repouso. Ela só descansará
quando o corpo for enterrado. [...] Preparar o morto para o
34

sepultamento é um cerimonial de grande relevância, porque o


corpo aloja a alma (VAINSENCHER, s/d, p.01)

Dentro das características do luto da morte para o povo judeu


destacamos o Keriá:
É representado pelo ato de se rasgar as vestes. Na Bíblia, há
relatos diversos sobre esse comportamento. O patriarca Jó, ao
saber que seus filhos haviam morrido, “[...]se levantou, rasgou
o seu manto...” (Jó 1.20). Jacó se desesperou ao ser
comunicado, por seus filhos, que um animal tinha despedaçado
José. Então, diante dessa notícia, sua atitude foi imediata: “...
rasgou as suas vestes...” (Gn 37.34). Da mesma maneira,
depois de ser informado sobre a morte do rei Saul, “apanhou
Davi as suas vestes, e as rasgou [...]” (2Sm 1.11) (BARBOSA,
s/d, s/p)

4.4 Açorianos em Santa Catarina


A Ilha de Santa Catarina (Florianópolis) é considerada pelo governo
açoriano, como a 10ª Ilha17 dos Açores.
De acordo com Gerlach e Machado, no início do século XVIII, Santa Catarina
consistia de somente três núcleos de povoação, bastante reduzidos: São Francisco do
Sul, Nossa Senhora do Desterro e Santo Antonio dos Anjos da Laguna. Ao chegarem
à região, a onde hoje se encontra o município de São José, os imigrantes construíram
uma capela, que atualmente é a Igreja Matriz, localizada no Centro Histórico de São
José. Em março de 1833, São José deixou de ser uma Freguesia se tornando a Vila
de São José da Terra Firme. Esta mudança de Freguesia para Vila foi recebida com
muita festa entre os moradores da localidade, com “um solene Te Deum Laudamus18
foi cantado em ação de graças na Igreja Matriz” (MACHADO, 2007, p. 26). Mostrando
assim relações estreitas entre políticos e religiosos, que trabalhando juntos em 1834,
realizaram a primeira eleição josefense, sendo que a Igreja matriz funcionou como
Mesa Eleitoral (MACHADO, 2007).
Para a historiadora Souza (1981), a Vila de Desterro é um dos
primeiros núcleos de fixação e colonização, onde se instalaram os primeiros
açorianos na Ilha de Santa Catarina.

17
Florianópolis-10ª Ilha dos Açores: Disponível em: In. Site com artigos referentes á cultura
açoriana.<http://www.comunidadesacorianas.org/sistema/sys/arquivos/pdf/
46_13_PT_20080918130113.pdf > Acesso em: 26 nov. 2014.
18
Te Deum Laudamus (Nós te louvamos, ó Deus) é um hino de origem antiga, que sempre se
liga, na tradição católica, às cerimônias de agradecimento. Por isso é cantado na noite de 31
de dezembro, como forma de agradecer, em plena comunhão com a Igreja universal, o ano
concluído. Coro da diocese de Santo amaro. Hino de origem antiga. 2012. Disponível em:
<http://corosantoamaro.wordpress.com/>. Acesso em: 12 abr. 2014.
35

Através da Provisão Real de 09 de agosto de 1747, o Rei D.


João V estipulou as normas a serem seguidas com relação à
acomodação dos povoadores, bem como a forma de se
desenvolverem as povoações. Os açorianos que vieram para a
Ilha de Santa Catarina vão se estabelecer no interior da
mesma, sendo poucos aqueles que se fixaram na Vila de
Nossa Senhora do Desterro. Temos açorianos povoando as
antigas freguesias (hoje distritos de Nossa Senhora das
Necessidades, Nossa Senhora da Conceição da Lagoa, Nossa
Senhora da Lapa do Ribeirão, São João Batista do Rio
Vermelho, São Francisco de Paula das Canasvieiras e
Trindade) (SOUZA, 1981, p. 35).

Siqueira (1999) nos deixa entender que onde o povo açoriano chega
logo vai instalando um serviço religioso para cuidar da espiritualidade desta
comunidade.
O açoriano é a figura base na colonização da região litorânea,
e Garopaba não fugia a regra. Por ocasião da pesca da baleia,
foi edificada em Garopaba no ano de 1799 a primeira capela
para prover a alma dos habitantes, neste período o território
pertencia a Enseada do Brito (SIQUEIRA, 1999, p. 164).

Em muitos lugares de Santa Catarina os costumes ultrapassam


fronteiras religiosas ou não, como conta o filósofo Evaldi Pauli, em suas visitas
a campo como professor pelo estado.
Em Santa Rosa, denso povoado lusitano do sul do estado, com
uma igreja de grande movimento, o uso da Coberta D’Alma, os
anos de 1950, era mantido em cerca de 95% das famílias.
Entretanto se dizia que os Emerim (anteriormente Emmerisch,
de meia ascendência alemã), aos lhes falecer o pai, foram
talvez os únicos a resistir ao hábito (PAULI, S/D, p. 02).

O filósofo e escritor Evaldo Pauli, quando professor da Universidade


Federal de Santa Catarina, escreveu um texto para o site do Centro de
Filosofia e Humanas, intitulado desafio dos olhos azuis, onde conta a história
relatada por moradores de São Pedro de Alcântara, município de São José
(SC), este texto nos diz que alguns militares alemães, que lutaram juntos com o
Brasil na Guerra Cisplatina19, obtiveram êxito, foram vitoriosos, sendo assim
receberiam junto ao governo brasileiro alguns lotes. Depois de algumas
burocracias, em torno de 50 (cinquenta) soldados foram viver na comunidade

19
A Guerra da Cisplatina,  ocorrida entre os anos de 1825 a 1828, envolveu diretamente o
Brasil e Argentina em disputa pela posse da Província de Cisplatina, atual Uruguai. A contenda
era por causa da região que era estratégica e sempre foi alvo de disputas entre a Coroa
Portuguesa e Espanhola.
36

alemã. Durante este período de convício na Colônia Alemã de São Pedro de


Alcântara um destes soldados foi convidado a vestir uma Coberta D’Alma.
[...] Pompeu anda triste. Que sentes? – pergunta-lhe o
próspero Harbele, seu tutor. – Que isto de Coberta D’Alma? É
coisa que os alemães não ouviram falar, meu caro. – Uma
roupa nova, para entrar no céu, respondeu Pompeu, com a voz
cantante de açoriano. A gente dá a Coberta D’Alma a uma
pessoa pobre, que a vestirá ao assistir a missa de sufrágio. No
outro mundo, a Coberta D’Alma ela serve de roupa no céu. – E
se não se der a Coberta D’Alma? Pois os alemães nunca a
deram. – Então o defunto aparece nu, sinal de que está
aguardando. Pois a murrinha me aparece de quando em
quando, diz Scwanz, como bruxa feia e nua. Quem sabe? Uma
Coberta D’Alma?... Pois sim, que fique esperando pelada...
Uma cerimoniosa missa, encomendada por Harbele
(protestante), ao Arcipreste da Provincia, Pe Joaquim de
Santana Campos e a Coberta D’Alma vestida quase
gaiatamente por Schwanz... pôs termo as dificuldades de
Pompeu (PAULI, s/d, p. 05).

A escritora Lélia Nunes de Souza (2011) da Academia Catarinense de


Letras nos conta, em sua crônica/homenagem, o quanto é relevante manter as
tradições e homenagear no mundo dos vivos aqueles que nos deixam um
legado de histórias, casos e alegrias. Abaixo reproduzimos a sua homenagem
ao Mané Seu Arante (+25/12/2012) do Ribeirão da Ilha de Santa Catarina.
Seu Arante do Pântano do Sul, não tem? Morreu (25/12/2012).
Marco na história do Sul da Ilha é a sua memória que embala
meus passos a caminho da sua última morada. Um enterro à
moda antigo, alertará seu filho arantinho (um apaixonado pelos
Açores e zeloso guardião das nossas tradições) ao comunicar
o falecimento do pai na noite de Natal. Fiquei pensando o que
seria o tal ritual antigo para os meus amigos do Pântano do
Sul, onde o passado sobrevive nos usos e costumes como a
doçura da mesa dos inocentes, as benzedeiras. Os buxedos, a
farra do boi, a malhação do Judas, o entrudo, o carnaval, o
pão-por-Deus, a Festa do Divino Espírito Santo e a mítica
coberta d’alma, será que eles também costumam fazer?
Costumam e será trajada por um filho na missa de sétimo dia.
O velório foi na casa da família e varou a madrugada. O enterro
seguiu a pé até o cemitério lá no alto do costão, mas antes
passou na Igreja para a missa de corpo presente (SOUZA,
2013, p. 01).

O historiador Machado (2013), afirma que a Coberta D’Alma fazia parte


da vida do Josefense e via no escolhido alguém que amenizasse a sua dor e
diminuísse a saudade sentida.
No ano de 1969, na localidade de Ponta de Baixo em São
José, uma comunidade típica de oleiros e de pescaria
artesanal. Registrou-se um dos últimos acontecimentos da
37

Coberta D’Alma, onde a família de Isaura Tasca (Nasceu em


1918) doou as roupas de seu falecido marido Hermínio Tasca,
a Otacílio Ramos, mais conhecido como Tatá, que cumpriu
todo o ritual da tradição. Embora se tratando de uma tradição
cultural remota e de segmentos de gerações, meses depois,
familiares relembravam a dor e a saudade sentidas, quando o
Senhor Tatá passava pela frente da rua em frente de suas
casas com as roupas do pai (MACHADO, 2013, s/p).

4.5 Açorianos em Paulo Lopes (SC)


O processo de ocupação do atual município de Paulo Lopes teve início
em fins do século XVII, quando várias famílias açorianas/portuguesas, sob o
comando do Coronel da força Militar portuguesa, Paulo Lopes Falcão, ali
chegou e se estabeleceram.
Este cidadão do qual a cidade recebeu o nome, nasceu em
Lusitânea, em Portugal, e veio por força de um contrato
assinado para a colonização de terras. [...] Era médico cirurgião
e foi convidado para trabalhar no Hospital de Caridade, que
tinha somente duas salas e uma enfermaria. [...] Era um oficial
disciplinado e coube ajudar e proteger a costa litorânea de
Santa Catarina. [...] Faleceu deixando muitos descendentes,
mas não há uma história de sua vida onde pudéssemos ir
buscar detalhes para contar aqui, sobre a vida deste abnegado
que “Olaria” o homenageou com gratidão dando seu nome ao
município (SIQUEIRA, 1999, p. 233-234).

As primeiras casas eram de “pau-a-pique” e cobertas com palhas.


Localizavam-se as margens dos rios que cortavam as cidades. Os primeiros
moradores construíram suas casas.
No ano de 1676, o açoriano (vicentista) Domingos Brito
Pereira, querendo apoderar-se das terras da Enseada e delas
tirar proveito, parou naquelas imediações por mais de 14
meses. Ao fim desse tempo, foi obrigado a refugiar-se em
terras sulinas, por motivos familiares (Intriga de seu filho, com
um cacique local) (MACHADO, 1993, p. 13).

Desbravaram e cultivaram a região, inicialmente com a ajuda de


escravos africanos. Dedicavam-se, principalmente, à fabricação de farinha de
mandioca e ao cultivo do milho.
Com a chegada de novos colonizadores vindos de São Paulo, as terras
divididas em sesmarias foram entregues aos senhores responsáveis, na
maioria, capitães e coronéis, tais como: Rodrigo Faísca, João José Faísca,
Martinez, Antonio Freitas, Antonio Rocha Lisboa Pereira e os descendentes de
Paulo Lopes Falcão.
38

Na viagem que fizeram por terra a Laguna (SC), duas famílias


que se achavam doentes e cansadas ficaram em um terreno
bastante aprazível, próximo ao mar. Iniciou-se assim, a
civilização daquele lugarejo (1677), (...) Essas duas famílias, a
de João José Faísca e a de Antonio Rocha Lisboa Pereira,
eram açorianos (MACHADO, 1993, p. 13).

Essas Sesmarias pouco prosperaram, e em função disso, foram


destinados mais tarde a latifundiários.
Foi a construção da estrada Palhoça/Laguna, ligando Paulo Lopes à
capital do Estado, que proporcionou maior desenvolvimento à região. Hoje,
esta ligação é feita através da BR 101, que corta todo o município.
O topônimo do município era Olaria, motivado pela existência, na sede,
de várias olarias para a fabricação de telhas e tijolos. A localização tornou-se
freguesia apenas em 1890, sendo reconhecida como Paulo Lopes. A cidade
tem este nome em homenagem ao coronel da força militar portuguesa, Paulo
Lopes Falcão, colonizador da cidade.
Paulo Lopes foi instalado município em 20 de dezembro de 1961,
através do nº Decreto Lei 798, de 20/12/1961 (Prefeitura Municipal de Paulo
Lopes, 2014, s/p). Antes deste período Paulo Lopes, pertenceu a São José e
Palhoça.
A potencialidade do município está nos seus recursos hídricos, na
proximidade com a Capital do Estado, acesso aos centros comerciais através
da BR 101, reserva florestal, solo fértil, proximidade das praias e a natureza
exuberante A cidade tem este nome em homenagem ao coronel da força militar
portuguesa, Paulo Lopes Falcão, colonizador da cidade.
Segundo O IBGE sua comunidade é de maioria praticante do
cristianismo, onde em 2014 é de maioria católica e evangélica (IBGE, 2014,
s/p). Siqueira nos explica que a principal religião de Paulo Lopes é o
catolicismo.
A paróquia de Paulo Lopes foi criada em 10 de janeiro de 1967
e atendia além desta cidade, Garopaba e Enseada do Brito. O
Pároco foi Padre Henrique. A população é essencialmente
católica, havendo, no entanto outras crenças na cidade. A
primeira igreja foi construída em 1917 e seu padroeiro é o
Sagrado Coração de Jesus. Antes da igreja havia na praça e
uma cruz, onde os paroquianos rezavam e festejavam as datas
santificadas (SIQUEIRA, 1999, p 234).
39

Seu gentílico é paulo-lopense, sua população estimada, segundo


dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2014 é de
6.692 habitantes, e sua área territorial é de 449.679 Km² (IBGE, 2014, s/p).

Figura 03: Localização do Município de Paulo Lopes e Região


Fonte: Sítio Google Maps. Disponível em:
https://www.google.com.br/maps/place/Paulo+Lopes+-+SC/@-27.8849548,-
48.9726102,10z/data=!4m2!3m1!
1s0x9526d50503d58a35:0x85d3b65cef5d09dc Acesso em: 26 nov. 2014.

Machado (1993), em seu livro dedicado a cidade de Paulo Lopes,


mostra que a movimentação folclórica e cultural neste município é bem
reduzida.
Hoje o movimento tradicional da vida folclórica deixou de existir
quase por completo, embora tenha sido trazido com toda
intensidade pelos açorianos. Principalmente nos meses de
setembro até o carnaval existiam alegres festas, transmitindo o
que haviam deixado antigos povos vindos das Ilhas dos Açores
e de Portugal. Estas festas serviam para a distração do povo,
formando comunidades bem unidas. Ora se apresentavam em
salões, ora nos pátios das residências, não se incomodando
nem com as tempestades (MACHADO, 1993, p. 75).
40

Paulo Lopes é berço de católicos fervorosos, que festejam a Festa do


Sagrado Coração de Jesus, participam do Apostolado da oração e dos retiros
de cursilhos de cristandade. Um município que aceita as novas religiões sem
preconceito, levando assim uma vivência pacífica, gerando interculturalidade.
Em todo o município o movimento religioso é intenso, tanto na
matriz quanto nas capelas, sendo quase a totalidade da
população formada por católicos. Os atos religiosos são bem
organizados, buscando evangelizar os fiéis. O pároco faz
visitas mensais a cada comunidade (MACHADO, 1993, p. 32).

Muitos de seus habitantes participaram efetivamente da organização


paroquial:
Ajudei muito na igreja do bairro Penha, de Paulo Lopes,
durante 06 (seis) anos cuidei da igreja, morei na “Tigela”
durante trinta e seis anos, depois nos mudamos para perto da
BR 101, ali moramos mais 15 ou 16 anos, nós fomos casados
durante cinquenta e dois anos (CÂNDIDO, 2014, p. 01).

No que se refere ao rito de passagem da Coberta D’Alma, no município


de Paulo Lopes, abaixo reproduzimos alguns trechos dos entrevistados
expressando como esta prática ocorria: A entrevistada Pereira, nos dá a noção
de vivência em família, a partir da religiosidade popular e a espiritualidade
católica, pela experiência vivida na missa de 7º dia.
Quando meu pai faleceu, na sala (velório), a gente que chamou
o irmão dele, um só que ele tinha e se chamava Arthur, um dia
a gente pediu a ele se ele podia vestir a roupa, aí o tio disse:
visto a roupa com muito prazer, que ia vestir a roupa porque
eram irmãos, aí quando chegou dali a 07 (sete) dias, aí ele
veio, a gente tinha comprado, calça, camisa, sapato e meia,
colocamos tudo em cima da cama e chamamos um que era
cunhado dele (Mestre de cerimônia) para vestir a roupa
(PEREIRA, 2014, p. 01).

Toda comunidade tinha uma pessoa como referência, que conduzia as


celebrações de Coberta D’Alma. Essa pessoa era respeitada e muitas vezes
tratava-se de um amigo(a) do falecido(a) e de quem se destinava a Coberta
D’Alma.
[...] Pois já saia fora (quarto), já saia cumprimentando as
pessoas que aguardavam na sala. [...] os tratavam como a
mãe, benção mãe, e os tios, os sobrinhos e assim ia
cumprimentando a todos que aguardavam na sala. Depois
faziam café, tomavam com a pessoa que usava a roupa
daquele que tinha falecido. É assim que faziam (CÂNDIDO,
2014, p. 01).
41

Após abençoar os presentes, aquele que veste a Coberta D’Alma, será


convidado a abrir janelas e portas da casa, que estavam fechadas em respeito
à alma do falecido.
[...] eles fechavam a casa toda, no dia que saia o que morria,
que sai para sepultar, fechavam toda a casa, só iam abrir
quando fazia 07 (sete) dias, a pessoa que usava a Coberta
D’Alma que abria a casa toda, isso era guardar o luto
(SANTOS, 2014, p. 02).

Agora, com a casa respirando novos ares, todos são convidados a


fazer um café reforçado, com os quitutes que o falecido gostava.
Quando terminou o rosário (terço), a gente pediu o João
Severino (nome do falecido) abrir as janelas, 07 (sete) dias as
janelas ficaram fechadas, aí a pessoa que veste a coberta,
abre as janelas, as portas e depois veio, e foi servido um café
com rosca, bolo, café com leite, tapioca, a gente servia um café
do que ele (falecido) mais gostava. (PEREIRA, 2014 p. 02).

Os moradores conviviam com a Coberta D’Alma e agiam com


naturalidade, quando da mudança de cidade, ficavam de frente com pessoas
que viviam uma espiritualidade, que acreditavam até aquele momento na missa
de sétimo dia, que por respeito ao novo vizinho, aceitavam aquele ritual
fúnebre.
Eu não fazia idéia de Coberta D’Alma, nunca tinha morrido
ninguém na minha casa. A mãe do menino disse agora tu é
como se representasse a mãe dele. Ele me chamava de tia, me
dava benção. Presente de natal e de aniversário, a gente
trocava. Por respeito, também eu não iria renegar, por respeito
ficou assim por muito tempo (MIRANDA, 2014, p. 02).

O respeito é uma das maiores virtudes do açoriano descendente e,


para manter o bom relacionamento entre família, é ali o berço da escolha para
o uso da Coberta D’Alma.
Dei para os sobrinhos, o sobrinho mais velho ganhou roupa,
usou nas missas, roupas boas, calças boas que ele tinha.
Quantas vezes que este sobrinho usou roupas na missa, eu
via, olhava, era a calça dele (esposo). O relógio eu dei para o
sobrinho mais velho, ele usou o relógio muito tempo. Também
dei roupas para outras pessoas, mas as melhores, tipo o
relógio dei para este sobrinho, que era pobre, ele nunca tinha
usado um relógio, por causa do tio que veio a falecer ele usou
(CÂNDIDO, 2014, p. 02).

Dar uma roupa nova, um relógio, uma arma, uma ferramenta ou até
uma herança a quem usasse a Coberta D’Alma era uma prática comum em
42

Paulo Lopes. Muitas vezes era o desejo do falecido, onde já se deixava


determinado quais seriam as roupas da sua última viagem, e assim era feito,
como relata a entrevistada Pereira.

Tudo roupa da venda, a gente comprou com o dinheirinho que


sobrou da herança dele. O dinheiro que ele tinha, com este
dinheiro compramos a roupa, até tem a camisa do meu pai, foi
a afilhada dele que deu (Maria Jacinta). (Quanto ao enterro) Aí
ele disse assim, essa camisa guarda para minha última
viagem, e assim foi feito, guardamos a camisa. Ele foi para o
céu com uma camisa bege e um terno marrom para a viagem,
e uma meia marrom (PEREIRA, 2014, p. 02).

Fazer uma viagem, era assim que muitos em Paulo Lopes,


compreendiam a morte, até vir o contato do paulo-lopense com outras
comunidades e religiões, e ir aos poucos se afastando da religiosidade popular,
levando-o a ignorar a Coberta D’Alma e passar a fazer somente uso da missa.
Se algum amigo queria ir ia. E da família eram todos
convidados, a família ir, alguns sobrinhos, se as pessoas
quisessem ir ia, mas a gente acha que depois a gente acha ia
na igreja e rezava a missa de sétimo dia, Eu acho que era
assim, que foi assim, de sétimo dia, como hoje a gente faz.
Então hoje não se veste aquela roupa, Do Domingos (esposo)
eu não fiz a roupa, eu não fiz nada, fiz si, a missa de sétimo dia
(CÂNDIDO, 2014, p. 02).

O convite era aberto a todos os familiares, amigos e vizinhos. Assim


era missa de sétimo dia. Um ritual onde a família depois de passar uma
semana refletindo, chorando e repensando como começar a nova jornada, esta
sem o ente querido. A missa de sétimo dia se apresentava como um começo
de vida nova aos familiares e uma demonstração de respeito, em forma de luto,
onde a viúva usava preto por um ano e depois ia amenizando as cores.

Nos sete dias de luto até ser dada a coberta d’alma, ficava-se
07 (sete) dias sem varrer a casa, sem ir a pescaria, sem ir a
lavoura, sem amassar os pães e sem dar comida (trato) aos
animais. No tempo de luto, a família enlutada era alimentada e
cuidada pelos parentes e vizinhos próximos, que muitas vezes
ficavam com as lidas do dia a dia (COELHO, 2014, p. 01).

Passado o período de luto, já tem casamenteiro 20 de olho na viúva(o).


É a vida seguindo na comunidade de Paulo Lopes, por que o padre diz, no dia
do casamento: Até que a morte os separe.

20
São os casamenteiros de plantão, pessoas que intervém para arranjar casamentos.
43

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebemos que a Coberta D’alma é de importância como ritual de


passagem para a cultura dita açoriana, onde rememorar é preciso, sabendo
guardar o passado, preservando a memória da cultura açoriana no município
de Paulo Lopes.
Acreditamos desta maneira, que a pesquisa é relevante para a
população do município de Paulo Lopes e todos os que preservam a identidade
do Litoral Catarinense, pois através desta saberão que possuem rituais para
seus mortos, específicos de sua cultura.
Muitos dos entrevistados disseram que fazer a Coberta D’Alma é uma
besteira, por não ter fundamento bíblico e a família não ver sentido no ritual,
por falta de crença e ver que a missa de 7º dia já cumpre este papel. É o que
nos relata a entrevistada Cândido, dizendo que: “A Coberta D’Alma não
precisa. Acho que aquilo é besteira, não precisa aquilo não vale nada para a
alma. Acha que vale? Pra mim, não! [...] Mas, missa 7º dia, eu quero”
(CÂNDIDO, 2014, p. 02).
Na secularização as “coisas” da igreja vão perdendo espaço. Desta
forma, o povo deve se conscientizar da sua efetiva participação nas tomadas
de decisões de políticas públicas do município e da igreja. “Os ritos, e mesmo
as cerimônias, tem tendência a cair em desuso em situações modernas
urbanas” (SEGALEN, 2000, p. 35). É o povo trocando a espiritualidade (Missa
e religiosidade popular) por outros compromissos; tipo lojas, salão de beleza,
futebol, praia, Internet e redes sociais.
A cultura dita açoriana na cidade de Paulo Lopes vem com o passar
dos anos diminuindo. É perceptível entre os habitantes mais antigos, e durante
as entrevistas, percebemos que os moradores e familiares da cidade não estão
conseguindo passar a tradição da Coberta D’Alma de pai para filho. E nos
perguntamos por quê?
A cidade invade o campo procurando o turismo rural, um silêncio que a
cidade não produz, é o retorno do paulo-lopense ao campo, depois de
aposentado, trazendo um nova leitura da sua cultura e espiritualidade, a partir
daquilo que ele viveu nos centros urbanos. O campo foge para cidade
44

procurando um mundo moderno, este foi o êxodo rural ocorrido na década de


1970 e 1980, onde as pessoas procuravam loteamentos sem infraestrutura no
entorno da Grande Florianópolis.
A procura de uma educação de excelência o morador de Paulo Lopes
(SC), com o auxilio da Prefeitura Municipal, envia seus filhos para procurar
ensino técnico e superior nos grandes centros. Os ilustres filhos desta cidade
começam a absorver novas perspectivas, escolares, profissionais, espirituais,
namorando e casando-se com pessoas de outras religiões, gerando assim
novos valores e uma diversidade cultural.
Poucos padres hoje aceitam a religiosidade popular. Alguns a veem
com outros olhos, e outros enxergam pecado em tudo, especialmente no
combate as benzedeiras. O ditado popular, verbalizado por um de nossos
entrevistados: “praga de padre pega” (COELHO, 2014, p. 03), é intimidador.
Nas localidades mais distantes da cidade de Paulo Lopes, o padre ainda é uma
pessoa de prestígio e credibilidade. Quando ele afirma que a Coberta D’Alma
faz parte do mundo profano, o povo tende a acreditar piamente, contribuindo
assim para que a prática deste rito seja interrompida, ficando expressa
somente na oralidade na memória.
A oferta maior de espiritualidade, através de novas igrejas protestantes,
tais como: A Igreja Deus é Amor, A Igreja Assembleia de Deus, Adventistas do
7º Dia e algumas pessoas de Umbanda e Candomblé, alteram
consideravelmente a prática religiosa antes estabelecida. Elas trazem um maior
número de líderes religiosos, oferecendo pregadores no momento do funeral e
de dor da família enlutada, não havendo mais necessidade do ritual da Coberta
D’Alma. Além disso, observa-se também que os jovens casam-se com pessoas
de credo diferentes dificultando a manutenção das práticas religiosas
absorvidas durante a sua sociabilidade anterior.
Mesmo com a chegada da modernidade a memória religiosa não foi
apagada, o católico e as pessoas em geral encontram novos e diferentes
caminhos para chegar ao destino final, chamando este dia por dia da viagem.
As maneiras de cultuar as religiosidades populares foram se alterando
conforme as transformações sociais, mesmo assim as celebrações ritualísticas
permanecem mesmo que resignificadas. Os cristãos de Paulo Lopes ainda se
preocupam com a passagem para o paraíso, o caminho para a salvação.
45

As possibilidades de estudos sobre o tema pesquisado não se esgotam


aqui, além do que, há muitas outras questões latentes para pesquisas futuras
relacionadas à Coberta D’Alma. Um estudo que tivesse por finalidade mapear
esta prática no litoral catarinense seria de fundamental importância. A
ampliação da escala, através de comparativos da prática deste rito de
passagem, entre as diversas localidades, estabelecendo nexos, similitudes,
diferenças, continuidades e descontinuidades, com certeza, daria uma melhor
amostragem para que esta prática não se perca nas malhas do acaso e
descaso do passado.
Que o tempo moderno chegou, e os moradores de Paulo Lopes
permanecerão por muito tempo homenageando seus mortos, seja com a
Coberta D’Alma, missa de sétimo dia ou missa de corpo presente.
46

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