0.MA - Elemento Textual - Projeto Integrador Artes Aplicadas
0.MA - Elemento Textual - Projeto Integrador Artes Aplicadas
APLICADAS
Elisabete Castanheira
SUMÁRIO
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1 A ARTE, A OBRA E O PROCESSO
O primeiro Bloco da disciplina Projeto Integrador: Artes Aplicadas, busca discutir a Arte
como produto e também como processo, numa abordagem preliminar, que faça sentido
para uma posterior discussão sobre outro âmbito da arte: a arte aplicada.
Há muitas definições para o conceito “Arte” e diversas perspectivas também, por isso,
não há uma única definição que abarque toda a sua abrangência. Entretanto, o senso
comum afirma que o papel da arte é promover uma reação, uma resposta, que, não
necessariamente, é positiva ou negativa, sendo apenas uma reação.
Além disso, veremos ainda a diferença entre “Belas Artes” e “Arte Aplicada”, pois
queremos entender “O que é considerado Belas Artes? ” e “O que é considerado Arte
Aplicada?”.
Em alguns momentos, a arte não é apenas uma, sua personalidade é múltipla, podendo
até se sobrepor. Em outros, apresenta uma dualidade: um pouco arte, um pouco
técnica. Portanto, é sobre isso que queremos refletir. Vamos?
A arte é parte integrante do universo humano, da essência do indivíduo. Por meio das
mais distintas linguagens, plasticidades criam materialização e se consolidam enquanto
obras de arte.
O processo artístico promove uma ligação entre o mundo interior e o mundo exterior e,
na medida em que facilita a compreensão desses dois mundos, permite maior
flexibilidade no olhar, no criar e um direcionamento aprimorado dos pensamentos e
atitudes.
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das produções artísticas e culturais, mas também em relação as suas ações cotidianas
mais simples.
Na Grécia Antiga, a arte deveria ser perfeita, uma verdadeira cópia e, enquanto obra,
próxima da realidade. Logo, era teoria primeira da arte, a imitação. Havia a busca formal
da representatividade da natureza, da harmonia. Este era o sentido da arte.
Durante a Idade Média, os artistas encaravam as suas obras de arte como a expressão
de um louvor a Deus, o único e efetivo criador. Assim, a obra de arte persegue o ideal
de beleza do criador, sendo o seu objetivo a procura pelo “belo”, feito à sua imagem e
semelhança.
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Fonte:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Meister_der_Schule_von_Nowgorod_001.jpg>
Figura 1.3 – Arte: Idade Média
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Fonte: <https://artsandculture.google.com/asset/the-birth-of-
venus/MQEeq50LABEBVg?hl=pt-
BR&ms=%7B%22x%22%3A0.5%2C%22y%22%3A0.5%2C%22z%22%3A8.986231844672
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22%3A1.2375000000000007%7D%7D>
Durante o século XIX e o início do século XX, com o advento da fotografia e depois do
cinema, ocorreu uma progressiva desvalorização da dimensão imitativa da obra de arte,
devido a sua dimensão expressiva. Nesse contexto, uma obra de arte só podia ser
reconhecida como tal se exprimisse os sentimentos e as emoções do artista.
Aquilo a que chamamos obra de arte não é fruto de uma atividade misteriosa, mas um
conjunto de objetos feitos por seres humanos e para os seres humanos (GOMBRICH,
1961). Cada uma das suas características é o resultado de uma decisão pessoal do
artista, expressa por meio de sua linguagem, de sua assinatura visual.
Para Heidegger (1936 apud FORMAGGIO, 1973), há um aspecto lúdico na obra de arte,
na medida em que se configura como um exercício projetual dos significados, ou seja,
ela consolida um projeto da verdade e da luta original, através do qual a verdade se
integra à obra num constante embate entre o que está visível e o que está oculto. Dessa
forma, a arte como forma de expressão permite desenvolver a sensibilidade estética e
a criatividade.
A atividade criadora ou criatividade foi definida por Vygotsky (1982) como qualquer
realização humana que concretize o novo, seja em relação ao reflexo de algum objeto
do mundo exterior ou em relação a determinadas construções do cérebro ou do
sentimento, que vivem e se manifestam apenas no próprio ser humano.
Segundo este autor, existem dois tipos básicos de impulsos na conduta humana: 1) o
impulso reprodutor ou reprodutivo; 2) o impulso criador ou combinador. O primeiro
estreitamente vinculado à memória e o segundo intimamente ligado à imaginação.
Vygotsky (1982), demonstra que é exatamente a atividade criadora dos indivíduos que
faz com que a espécie humana possa se projetar no futuro, transformando a realidade
e modificando o presente. A atividade do cérebro humano que se baseia na combinação
é por ele denominada como imaginação e fantasia.
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Na nossa mente existe um reservatório de imagens (imaginário) capaz de tornar sensível
e material o lado imaterial da vida (GOMES, 2009). O processo de elaboração que
permite a tangibilização desse contingente resguardado, ou seja, quando somos capazes
de transferir essa “ideia” para algo tangível, a expressão visual configura uma forma de
apropriação do mundo por meio de uma leitura pessoal.
Nessa perspectiva, podemos dizer que criatividade é a capacidade que o indivíduo tem
de concretizar algo novo, com a qual o seu imaginário contribui de forma relevante,
logo, a fluidez do pensamento e o contingente criativo são complementares e se
potencializem mutuamente. A expressão plástica, durante o seu processo de produção,
transita entre a sensibilidade e a razão e é passível de inúmeras leituras.
A produção artística é um processo de autoconhecimento e, até mesmo, de
reconhecimento, acontecendo por meio de complexas operações que o indivíduo é
capaz de realizar como conectar, relacionar, entender, ordenar, entre tantas outras. O
indivíduo participa ativamente desse processo, percebendo a realidade e
transformando, renovando, recriando, entre tantas outras possibilidades.
O nível de pré-consciência é o que Dondis (2007) define como energia visual pura, ao
passo que o nível consciente é aquele passível de adquirir competência para a
elaboração da composição, através do entendimento dos elementos visuais e suas
técnicas de manipulação, logo, trata-se do entendimento do aspecto técnico.
1
Anton Ehrenzweig – Teórico da arte moderna e autor dos livros “A Ordem Oculta da Arte” e “Psicanálise
da Percepção Artística”, entre outros.
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Este nível se, por um lado, é mais “informado”, no sentido de ser “contagiado” pelo
ambiente externo, por outro lado, é exatamente isto que pode deturpa-lo. No entanto,
o que isto quer dizer?
Nesse contexto, deturpar está no sentido de alterar, uma vez que este nível pode ser
contaminado por “estereótipos visuais”, imagens pré-concebidas, que, supostamente,
teriam qualidade, mas, na realidade, não apresentam consistência de forma ou
conteúdo.
Dessa forma, finalizamos, assim, o primeiro subtema deste bloco. Espero que essa
discussão sobre arte tenha sido interessante. Até o próximo encontro!
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O termo belas artes está diretamente relacionado ao que se convencionou denominar
artes superiores, a qual contempla as manifestações artísticas de ordem plástica ou
visual. Diametralmente oposto a essa denominação, há o termo arte aplicada que, como
o próprio nome indica, tem em sua essência uma aplicação prática.
Essa distinção entre arte maior e arte menor tem relação com a antiguidade clássica e a
diferenciação entre as atividades “intelectuais” e “braçais”, respectivamente, as artes
liberais e as artes mecânicas.
O aprendizado da arte não ocorre mais no âmbito das associações (guildas), na qual
artistas consagrados admitiam aspirantes à artistas, e o compartilhamento de saberes
2
Giorgio Vasari (1511-1574), arquiteto e pintor do Renascimento italiano.
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acontecia na prática. Há o surgimento das academias de arte, por meio de formações
científicas e humanistas, o que contribuiu para o aprofundamento dessa cisão.
É notável que, a Arquitetura se encontra muito mais próxima das Belas Artes do que da
pintura ou da escultura. Além disso, os demais ofícios são todos agrupados e tomam um
posicionamento extremo ao das Belas Artes firmando o seu caráter “prático”.
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norte-americano que esmaece as fronteiras entre arte e artesanato pela
valorização dos ofícios e trabalhos manuais; a experiência da Bauhaus,
ancorada na associação entre arte, artesanato e indústria; ou ainda o art
déco, ou "estilo anos 20", que aproxima arte e design (ARTES, 2017).
Logo após a Revolução Industrial, o movimento Arts and Crafts reitera o seu
posicionamento contrário a divisão entre Belas Artes e Artes Aplicadas, sob pena de
haver uma completa destruição do padrão estético para atender o padrão industrial.
Para Ruskin, o porta-voz do movimento, esta divisão seria destrutiva e artificial uma vez
que a manufatura guarda uma beleza incompatível com os processos fabris (DONDIS,
2007).
Com o surgimento da Bauhaus, aparece também uma nova perspectiva acerca do
âmbito das muitas artes. Walter Gropius, responsável pela escola, tinha como objetivo
primeiro suprimir a fronteira entre as “oposições” - Belas Artes e Artes Aplicadas - que,
na sua perspectiva impunham uma distinção entre as classes, que não concordava com
os princípios sociais da Bauhaus. A transversalidade da proposta do movimento
propunha um sistema sem hierarquias, no qual não havia maior ou menor importância
de atividades, mas sim uma complementaridade de possibilidades.
Tal abordagem, para Dondis (2007), se resumiria no diagrama abaixo, no qual várias
artes estariam em um ponto médio entre as polaridades Belas Artes e Artes Aplicadas.
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muitas possibilidades plásticas e, sobretudo, refletiam sobre o contexto social,
econômico e industrial emergente no pós Primeira Guerra Mundial.
A racionalidade da Bauhaus pressupunha associar o conhecimento tecnológico
adquirido até então ao campo da arte e do artesanato, o que fatalmente resultaria em
produtos onde a forma (estética) e a função estariam integradas.
A concepção contemporânea da “divisão” das artes visuais,
Assim sendo, seria natural para Dondis (2007) que o diagrama contemporâneo das Belas
Artes e das Artes Aplicadas tivesse a seguinte configuração:
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Talvez na atualidade o artesanato não esteja apenas circunscrito ao âmbito da
subjetividade, pois há um resgate dos saberes e fazeres que constituem a identidade de
uma localidade, a cultura de um povo.
A ideia que afirma que o artesanato é uma arte menor ou menos elaborada começa a
tomar outro rumo, já que não poderia estar mais equivocada e distante da real
importância e profundidade do artesanato. Se pensarmos um pouco, é possível dizer
que o artesanato está presente desde sempre.
A definição de arte pode ser complexa e não apresentar consenso, mas, definir a palavra
aplicada (o) é mais simples e, num certo sentido, até literal.
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e que responda a determinada meta, intenção. O escopo é amplo. Estão incluídos aqui
as construções, os objetos, as vestimentas, entre tantas outras coisas.
Logo,
Para além da introdução dessa técnica, que Alvar Aalto e Charles Eames retomariam
posteriormente, Thonet introduziu também a produção em série, através da
padronização das peças envolvidas no projeto, o que influenciariam de forma
determinante a produção industrial do século XX.
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Na segunda metade do século XIX surge o movimento Arts & Crafts (Artes & Ofícios)
liderado por William Morris e, para fazer frente ao processo mecanizado de produção,
defende a produção artesanal.
Na sequência, inspirado no movimento Arts & Crafts, surge o Art Nouveau que, através
de formas orgânicas e curvilíneas, buscou retratar a expressão artística da natureza.
Movimento bastante abrangente, o Art Nouveau viria a influenciar a manufatura de
objetos, a arquitetura, as artes plásticas e as artes gráficas.
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Figura 1.6 – O Beijo Artista: Gustave Klimt Figura 1.7 – Cartaz Art Nouveau
De Etnologia, Osaka
³Fonte:<https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Furniture_by_Charles_Rennie_Mackintosh#/me
dia/File:National_Museum_of_Ethnology,_Osaka_-_Chair_%22Ladder-back_chair%22_-
_Glasgow_in_United_Kingdom_-
_Made_by_Charles_Rennie_Mackintosh_in_2006_(originally_1903).jpg>
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Ruskin reflete sobre o papel social do design, ao mesmo tempo que compreende a
necessidade que este tem de recuperar o seu viés artístico, por meio da convergência
entre forma, função, política e estética. Morris, ainda que fortemente influenciado pelo
socialismo, não vê o design como um produto de massa, mas como um processo criativo
e fator de reforma social, uma vez que ele tem um papel reflexivo no processo de
concepção de produtos. Dessa forma, a arte alça a categoria de utilidade.
Bauhaus, escola alemã que uniu arquitetura, arte e artesanato, teve forte relação com
as ideias de De Stijl, que se deram por meio de Walter Gropius e tinham como objetivo
final a integração entre artista e artesão, sempre sob a perspectiva da produção
industrial e do funcionalismo.
No Brasil, o artista italiano aqui radicado Eliseu Visconti, desenvolveu extensa obra no
campo das artes visuais, sendo considerado o primeiro designer gráfico nacional. É de
sua responsabilidade a introdução do impressionismo no Brasil, e a extensão de sua obra
é tão grande quanto a abrangência do design: pinturas, cartazes, selos, capas de revistas
e design de interiores.
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Figura 1.9 – Cartaz Figura 1.10 – Cartaz
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Conclusão
Pode parecer estranho uma conclusão começar com uma pergunta ao invés de uma
resposta, mas, a Arte é isso. É provocação! É indagação! É questionamento!
REFERÊNCIAS
ARTES Aplicadas. ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo:
Itaú Cultural, 23 fev. 2017. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo908/artes-aplicadas>. Acesso em: 10 Jun.
2019. Verbete da Enciclopédia.
BEAUX ARTS. ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú
Cultural, 23 fev. 2017. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo6177/beaux-arts>. Acesso em: 09 Jun.
2019. Verbete da Enciclopédia.
21
DONDIS, D. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2007.
GOMBRICH, E. Art and IIlusion: The A.W. Mellon Lectures in the Fine Arts. Nova Iorque:
Bollingen Series, 1961.
GOMES, A. M. P. M. A arte de e para superar a vida. Revista Saber & Educar. Porto,
2009. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/276457998_A_Arte_de_e_para_superar_
a_Vida> Acesso: 06 jun. 2019.
JUNG, C. G. O Homem e os seus símbolos: Cadê a Cidade. Rio de Janeiro: Editora Nova
Fronteira, 1964.
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2 FORMAS DE ARTE
Para Dondis (2007), é evidente que a forma como apreendemos o cotidiano, o que nos
rodeia e, sobretudo, a maneira como expressamos reações diante desses estímulos, está
diretamente relacionada a experiência visual. Desde sempre, o homem encontra na
linguagem visual um caminho para atender a uma necessidade intrínseca: a de se
comunicar.
Diante disso, ele busca formas distintas de materializar a comunicação por meio da
pintura, da ilustração, da escultura, do design gráfico, do artesanato, do design
industrial, da fotografia, entre outras expressões.
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Pintura
É provável que a pintura seja a forma mais comumente associada ao conceito de arte.
Uma grande tela, pintada com tinta à óleo, tinta acrílica ou técnica mista, que repousa
sobre uma parede podendo ou não conviver com obras similares, é claramente
entendida como arte.
Essa forma última das artes visuais derivou de muitas fontes, começando
pelas primeiras tentativas feitas pelo homem pré-histórico para criar
imagens, desenhadas ou pintadas, até chegar ao cenário da arte
contemporânea, com seu “establishment” de críticos, museus e critérios para
o reconhecimento e o sucesso (DONDIS, 2007 p.198).
24
Fonte: < https://www.wikiart.org/pt/alfredo-volpi/catedral-1973>
Ilustração
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Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nina-Pandolfo-Rivington-Wall.jpg>
Escultura
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Estamos nos referindo às características dos materiais, como a dureza do mármore, por
exemplo, comparado à maleabilidade da argila.
Arquitetura
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O mesmo avanço social e econômico também propiciou o desenvolvimento de técnicas
construtivas e materiais disponíveis que influenciaram, de forma direta, a
transformação do ofício da arquitetura.
Segundo Dondis (2007), a transformação da forma edificada, tem estreita relação com
a cultura, a localidade e os padrões estéticos, o que influencia novos estilos e novas
soluções arquitetônicas.
Fonte:<https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5e/Walt_Disney_Concert
_Hall%2C_Los_Angeles_%285592139283%29.jpg>
Artesanato
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Lina Bo Bardi (1994), as opções culturais no campo do Desenho Industrial poderiam ter
sido outras, mais aderentes às necessidades reais do país. Entretanto, ela ressalta que
isso só seria possível se houvesse um panorama de artesanato brasileiro, de raiz, e não
somente uma herança esparsa da artesania e manufatura europeia recebida no século
XIX, que constituiu o que Lina denomina de pré-artesanato.
Para ela, o Brasil deveria ter elaborado um artesanato próprio, que fosse capaz de
imprimir a identidade brasileira, e direcionado à produção industrial em série,
entretanto, o país decidiu “importar” a estética europeia, considerada pela elite como
mais elegante, porém, totalmente desvinculada dos saberes e fazeres brasileiros.
Logo, levantamos um questionamento, o que isso quer dizer? Para Argan (1998), objeto
e sujeito são indissociáveis na medida em que a “realidade" (ou um fragmento dela) se
materializa no objeto e "pensada por um sujeito, adquire a singularidade do sujeito"
(ARGAN, 1998 p. 252).
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Admitindo essa indissociabilidade e de acordo com Lina Bo Bardi (1994), o artesanato e
o produto brasileiro não refletiriam o valor identitário nacional. De qualquer forma, para
além dessa afirmação, há iniciativas que tentam resgatar este contingente de técnicas e
linguagens, que estão refletidas em diversos objetos encontrados pelo país. É
importante dizer que, no artesanato, mesmo que ocorra a construção de várias peças a
partir de um mesmo modelo, cada um dos objetos reproduzidos é único, pois, o fato
dele não sofrer um processo de fabricação industrial faz com que sua reprodução não
seja rigorosamente igual.
Design Industrial
Para Dondis (2007), é (quase) possível afirmar que o design industrial é o artesanato
materializado por meio da reprodutibilidade em série, ou seja, todos os objetos são
exatamente iguais.
Em paralelo ao desenvolvimento técnico, surgem novas necessidades, que, por sua vez,
devem ser atendidas. Surgem também novos perfis de consumidores que, igualmente,
devem ter as suas solicitações atendidas. E, por fim, surgem novas formas de fomentar
o consumo como, por exemplo, a obsolescência, que determina que um objeto pode se
tornar obsoleto mesmo que ainda esteja em perfeitas condições de uso. Estamos
falando de obsolescência percebida, ou a obsolescência programada, que faz com que
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o produto saia da fábrica com a sua vida útil pré-estabelecida, garantindo, assim, que o
círculo do consumo permaneça em movimento.
Design Gráfico
Atualmente, assim como o design industrial, o design gráfico também não é considerado
arte, mas sim uma zona híbrida, pois também demanda técnica e estética. Logo, é
comum, quando falamos em design, considerá-lo um detalhe, uma espécie de
finalização, quase uma “maquiagem”. Quando tudo parece já ter sido pensado “entra”
o design “para dar um toque final” “um embelezamento” ou “uma caixa”, quando se
fala em design de produto, por exemplo, ou a mera elaboração de cartão de visita ou
“flyer”, quando se fala em design gráfico, sem reconhecer, ao menos, a existência de
uma identidade visual4 ou conceito5, que tenha norteado as decisões tomadas.
Portanto, o design, seja gráfico ou de produto, são de grande importância devido ao seu
caráter sistêmico e abrangente.
Hoje, o design é entendido como um ofício transdisciplinar, pois cada vez mais os
escritórios de design possuem equipes múltiplas com a presença de designers,
sociólogos, historiadores, engenheiros, especialistas em marketing, entre outros; e
estruturante, o que cria uma convergência fundamental para o entendimento de novos
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Identidade visual é o nome dado ao conjunto de elementos gráfico-visuais (Representação Gráfica -
Símbolo, Logotipo ou Marca, Cor, Tipografia, Aplicações, etc.) que identifica e representa, em termos
visuais, um produto ou serviço. Voltaremos a falar deste assunto posteriormente.
5
Conceito: Ideia que está na origem do projeto desenvolvido e que estrutura as opções e decisões
tomadas.
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mercados, de novos modos de consumir, de novos formatos de interagir e de possíveis
impactos, sejam eles ambientais, sociais ou econômicos.
Diante da economia criativa, o design se posiciona como vetor de crescimento
sustentável e extrapola o domínio da pequena escala projetual para se instalar como
agente ativo na solução de problemas complexos, além de ganhar relevância em termos
econômicos.
Fotografia
Na atualidade é comum realizarmos registros imagéticos por meio dos nossos celulares,
equipamentos cada vez mais sofisticados e ao alcance de todos nós, eles garantem uma
memória adicional de todos os eventos cotidianos. Como nem sempre foi assim, esse
salto qualitativo e representativo da fotografia alterou a forma como estabelecemos,
recebemos e interagimos com uma profusão de informações visuais presentes em nosso
cotidiano.
A fotografia pode ser apenas um registro de um evento banal, mas também pode ser
fotografia pensada e elaborada com fins específicos no âmbito da comunicação. Por
fim, há ainda a fotografia enquanto expressão de uma linguagem própria que, seja
pela temática ou construção formal, materializa um produto de arte, comercializado
como uma obra de arte “clássica”. Assim, com o tema fotografia, chegamos ao final de
um dos subtemas deste bloco. Espero que tenham gostado, até o próximo encontro!
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Na perspectiva de Dondis (2007), essa manifestação é denominada estilo. Por estar
associado a outros ofícios como moda, por exemplo, cabe dizer que, na perspectiva da
autora, estilo é o ato de sintetizar. No entanto, sintetizar o quê?
Tudo que diz respeito à elaboração da forma: elementos básicos, aspectos cromáticos,
técnicas, entre outras. Por isso, é correto afirmar que a maneira como acontece a
construção visual tem impacto direto no seu resultado e, por consequência, na forma
como o observador a percebe.
Para Dondis (2007), o “estilo visual” apresenta 5 grandes categorias, são elas: Primitivo,
Expressionista, Clássico, Ornamental e Funcional
Primitivo
Primitivo, enquanto definição, pode estar associado a algo menos interessante e mais
básico, uma vez que contempla em seu significado o fato de ser a origem de tudo. Dessa
forma, em termos visuais, o primitivo está ligado às pinturas rupestres. Para Dondis
(2007), embora sejam as primeiras manifestações visuais do homem, elas apresentam
qualidades gráficas e intencionais que caracterizam um estilo que busca, sobretudo, o
realismo. É importante não esquecer o contexto de total ausência de qualquer material
ou técnica previamente desenvolvida.
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Exagero;
Espontaneidade;
Atividade;
Simplicidade;
Distorção;
Planura;
Irregularidade;
Rotundidade;
Colorismo.
Expressionismo
Dondis (2007), faz uma interessante analogia entre o expressionismo e o estilo primitivo:
enquanto o primeiro busca a realidade e, por vezes, tenta obtê-la por meio do exagero,
por exemplo, no segundo há uma intencionalidade na distorção da realidade. A
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denominação expressionismo já deixa explícito um conjunto de atributos como a
gestualidade, o movimento, a dramaticidade e o exagero. Algumas técnicas, por esse
motivo, parecem estabelecer uma proximidade com a solução formal do
expressionismo. São elas:
Exagero;
Espontaneidade;
Atividade;
Simplicidade;
Distorção;
Planura;
Irregularidade;
Rotundidade;
Colorismo.
Classicismo
Segundo Dondis (2007), o classicismo, como conceito, está apoiado em dois pilares: a
influência direta da natureza e a verdade pura.
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O primeiro está alinhado ao ideal grego de adoração à muitos deuses, e ao amor à
natureza. Os gregos procuravam a beleza na realidade. Glorificavam o homem e seu
ambiente natural (DONDIS, 2007 p. 174).
Já o segundo está diretamente relacionado à busca incessante pela verdade e a
elaboração artística que visa à perfeição.
Harmonia;
Simplicidade;
Exatidão;
Simetria;
Monocromatismo;
Profundidade;
Estabilidade;
Unidade.
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Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:David_-_(Michelangelo).jpg>
Estilo Ornamental
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Complexidade;
Profusão;
Exagero;
Rotundidade;
Ousadia;
Fragmentação;
Variação;
Colorismo.
Funcionalidade
Para discorrer sobre o estilo da Funcionalidade, Dondis (2007) faz uma referência
interessante que, obviamente, se relaciona ao advento da Revolução Industrial, mas,
também a satisfação das necessidades básicas do homem. O que em si já guarda,
aparentemente, um paradoxo:
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Embora a funcionalidade costume ser fundamentalmente associada ao
design contemporâneo, ela é na verdade tão antiga quanto o primeiro
recipiente para água criado pelo homem. É uma metodologia de design
estreitamente ligada à regra da utilidade e a considerações de ordem
econômica. (DONDIS, 2007 p.178)
Simplicidade;
Simetria;
Angularidade;
Previsibilidade;
Estabilidade;
Sequencialidade;
Unidade;
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Repetição;
Economia;
Sutileza;
Planura;
Regularidade;
Agudeza;
Monocromatismo;
Mecanicidade.
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:LC4,_chaise_longue.png>
Figura 2.10 – Chaise, Le Corbusier
Dessa forma, com a Bauhaus, chegamos ao final deste bloco. Espero que tenham
gostado, vejo vocês no próximo encontro!
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Conclusão
Diante disso, apresentamos, neste bloco, um panorama sintético das formas de arte e
seus respectivos âmbitos. Formas artísticas clássicas como, pintura e escultura, sofreram
alterações ao longo da história, em função de contextualizações sociais, econômicas e
técnicas.
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Entender que o primitivo está relacionado a um realismo menos técnico, o
expressionismo está assente na gestualidade e na força do movimento, o classicismo
está diretamente associado à perfeição, o estilo ornamental tem como premissa a
exuberância na composição e, que, por fim, a funcionalidade está apoiada na síntese da
forma, certamente configura um panorama transversal de atributos que colaboram na
elaboração assertiva da mensagem visual.
REFERÊNCIAS
ARGAN, G. C. História da Arte como História da Cidade. São Paulo: Editora Martins
Fontes, 1998.
BARDI, L. B. Tempos de grossura: O design no impasse. São Paulo: Instituto Pietro e Lina
Bo Bardi, 1994.
BENJAMIN, W. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, 1955. Disponível
em: < https://philarchive.org/archive/DIATAT>. Acesso em: 06 jun. 2019.
DONDIS, D. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2007.
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3 DIVERGÊNCIA ENTRE ARTE E CIDADE
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cidades, e continuam abrigando a arte, na forma clássica de exposição, entretanto,
estamos falando da cidade não apenas como localização, mas como suporte da arte.
Fonte:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Beco_do_Batman#/media/Ficheiro:Grafites_na_
Alameda_Tim_Maia,_em_S%C3%A3o_Paulo-SP.jpg>
Dessa forma, discutir sobre arte e cidade é, sobretudo, discutir sobre aquilo que é
público e aquilo que é privado.
Espaço público é o ambiente que pode ser utilizado por todos os cidadãos, trata-se, por
exemplo, da rua, do viaduto, entre outros. Mas, a cidade é muito mais do que apenas
os espaços de trânsito dos cidadãos, ela também contempla lugares que materializam o
convívio, a interação, o encontro.
Ao falarmos sobre arte e cidade, sendo a cidade suporte direto da arte, é possível
destacar formas de intervenção que ocorrem nela como, por exemplo, o grafite e a
pichação. Tratam-se de intervenções gráficas urbanas, produtos comunicacionais na sua
vertente cultural, social e simbólica, abarcam um diálogo, no qual a cidade é causa e, ao
mesmo tempo, consequência, cuja interação altera todos os medianeiros do processo:
emissores e receptores.
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A busca por identidade, territorialidade, hierarquia e tantos outros significados, pode
ser evidenciada por meio de dimensões gráficas distintas, cujos processos e técnicas são
fundamentais no estabelecimento de fronteiras, se é que esta existe alguma, entre o
grafite e a pichação.
Pichação
45
Toda manifestação dessa natureza deve ser “assinada” e, por esse motivo, deve sempre
ser acompanhada daquilo que é conhecido no meio como “grife”, pois, é dessa forma
que o autor e sua procedência serão identificados. A grife, geralmente, é composta por
um agrupamento, que pode, inclusive, ter um número enorme de integrantes, e em sua
base está os princípios e os deveres a serem cumpridos. A grife, no grafite, também
valoriza, pois trata-se de uma modalidade de aliança de grupos de pixadores, por isso
não se pixa seu nome por extenso, mas o seu símbolo ao lado da pixação principal
(PEREIRA, 2010 p.148).
Em São Paulo existe, o que parece ser, uma coexistência entre Pichação e Grafite. Para
Pereira (2010), aquilo que na capital paulista é entendido como antagonismo, no
exterior, é apenas classificado como um tipo de grafite.
46
Fonte:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Picha%C3%A7%C3%A3o#/media/Ficheiro:Sao_vit
o2.JPG>
Figura 3.3 - Pichação
O senso comum que defende o grafite como expressão ou intervenção artística e o pixo
como poluição visual, faz com que estes estabeleçam uma permanente relação com a
transgressão. Além disso, há a questão da inserção dos pixos.
Você já reparou como muitas pichações estão em locais, aparentemente, impossíveis de
serem acessados? Você sabe a razão disso? É porque aquele que realiza a maior proeza
e enfrenta os maiores desafios consegue maior reconhecimento (PEREIRA, 2010 p.152).
Na perspectiva do pichador, o pixo materializa uma contestação social sendo, portanto,
exatamente o seu caráter de protesto, o responsável por relacionar essa manifestação
à transgressão. Para Pereira (2010), se por um lado a manifestação muitas vezes está
esvaziada de um sentido político, em essência, pois, a motivação não é clara ou explícita,
sendo apenas, vaga.
47
Por outro lado, é perceptível que a manifestação pixo é um modo contemporâneo de
comunicar a exclusão, por meio de experiências plásticas, sociais e urbanas.
Grafite
O grafite, segundo Costa (2007), é a designação para vários tipos de intervenção que, ao
contrário do que se pensa, existem desde o início da civilização, pois, se pensarmos bem,
as inscrições nas cavernas pré-históricas são uma forma de grafite, não?
É interessante também notar que, Pompéia (cidade do Império Romano que ficou
ocultada, depois da erupção do vulcão Vesúvio, do ano de 79 até o de 1748), quando foi
“redescoberta” também apresentou inscrições similares ao grafite como o conhecemos
na atualidade.
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pompeia-ViaAbundancia-
propagandaElectoral-5445.jpg>
Figura 3.4 - Pichação em Pompéia, Itália
48
da cidade enquanto suporte, e contribuem, até os dias de hoje, para a interação entre
arte e cidade.
Fonte:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Grafite_na_entrada_do_MAM,_osgeme
os_(5878026408).jpg>
Figura 3.5 - Os Gêmeos
Quando falamos em cidade qual é a primeira ideia que passa pela sua cabeça? Um
complexo de artérias? Um conglomerado de edificações com seus muitos objetivos?
Gente apressada? Carros? Poluição? A cidade é tudo isso e muito mais e também é arte.
Essa arte surge por meio de assinaturas indecifráveis, como, por exemplo, a pichação,
ela também brota em muitas empenas cegas6, alterando a paisagem e identificando a
6
Laterais dos edifícios que, por não apresentarem nenhum tipo de abertura (portas ou janelas) podem
servir de zona de interface com as demais construções.
49
edificação. É apenas isso, certo? Errado. E aquele monumento da praça? Aquela
escultura na porta de um edifício? Aquele painel de azulejos?
Existem muitas manifestações artísticas, que são comportadas pela cidade e atendem
pela denominação de arte pública, ou seja, a arte que está inserida no espaço público.
A designação, que não reúne consenso, procura distinguir as formas de arte instaladas
no ambiente urbano daquelas que estão instaladas no âmbito do binômio galeria de
arte/museu. É, justamente, essa distinção, entre o que está exposto na esfera pública e
o que está exposto na esfera privada, que levanta questionamentos.
Muitos autores definem essa incongruência entre a arte, ora como produção para a
“elite” (esfera privada), ora aberta para apreciação geral (esfera pública). A primeira
estaria relacionada a uma parcela da população que tem acesso a informação e, por isso
está mais familiarizada com o assunto; já a segunda, por se tratar de uma produção
exposta no âmbito do espaço público, estaria voltada para a apreciação geral e irrestrita.
Nesta perspectiva, o público pode ou não estar próximo do assunto e é confrontado com
a produção artística de maneira “imposta”, ou seja, não há escolha como na anterior.
50
Figura 3.6 – Qingdao, China
A arte pública apresenta, segundo Abreu (2013), uma série de especificidades cuja
finalidade é levar a arte para todos os cidadãos o que, por si só, já define sua condição
de inclusão por estar disponível para a apreciação de todos. No entanto, justamente por
essa condição, ela está sujeita a todo o tipo de manifestação, positiva ou negativa,
incluindo as de teor físico como depredação, vandalismo, entre outras. Além disso, esse
tipo de construção artística ainda considera as condicionantes de uma permanente
exposição externa, sendo constantemente afetada pelas condições de tempo, o local,
entre outros fatores, o que, de certa forma, pode condicionar o trabalho do artista.
Outra especificidade da arte pública é o seu caráter comemorativo. Para Correia (2013),
ao contrário da arte pública contemporânea, a arte pública tradicional tem como
motivação uma comemoração.
51
Fonte:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Obelisco#/media/Ficheiro:Louxor_obelisk_Paris_
dsc00780.jpg>
Fonte:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Arco_do_triunfo#/media/Ficheiro:Arco_Triunfal_da_Ru
a_Augusta_September_2014.jpg>
Figura 3.8 - Arco do Triunfo
52
A arte pública pode ainda ser a expressão de uma homenagem, uma honraria, o marco
de uma data de relevante. Se distingue da comemoração, na medida em que se destina
a alguém cujos feitos merecem destaque. Geralmente, se trata de um produto artístico
individual, embora possa acontecer uma homenagem ao coletivo.
Há ainda um outro tipo de homenagem, que está relacionada à devoção. Nas palavras
de Correia (2013), a veneração está intimamente ligada ao simbolismo da religião e à
força da religiosidade que se move por meio de uma vasto potencial de símbolos e
figuras sagradas, que merecem homenagens.
53
Figura 3.10 - Cristo Redentor
Por fim, existe a homenagem ao que é abstrato. Valores e princípios, segundo Correia
(2013), também são passíveis de serem homenageados embora sejam abstratos.
Sabemos o que é, mas, não existe uma única forma que os defina. Existem diversas
interpretações. É o caso da Estátua da Liberdade, em Nova Yorque, ou do Monumento
dos Direitos Humanos, em Paris.
54
Figura 3.11 - Estátua da Liberdade
Fonte:<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Human_Rights_Monument_2,_Paris
_23_June_2013.jpg>
55
Em termos históricos, é possível dizer que a produção de arte pública, até metade do
século XX, aproximadamente, apresentava, de maneira geral, características acadêmicas
se regendo pelos padrões estéticos das escolas de Belas Artes e/ou Artes e Ofícios, como
afirma (Alves, 2008).
Posteriormente, a arte pública, assim como a arte em geral, que está inserida em seu
contexto social, histórico e econômico, passou a integrar a paisagem urbana enquanto
elemento compositivo. Pode, claro, haver uma motivação para acontecerem
homenagens específicas ou comemorações de datas relevantes, mas, na
contemporaneidade, o espaço urbano passa a ser suporte e, ao mesmo tempo,
elemento dessa manifestação, na qual a linguagem do artista é protagonista juntamente
com o simbolismo que a obra carrega.
No entanto, o que isso quer dizer? Significa que, considerar o espaço no qual a obra de
arte será inserida é fundamental, pois este também interferirá na obra e, portanto, é
parte integrante. Assim sendo, uma obra, quando concebida para determinado lugar, só
faz sentido enquanto produto de arte se colocada no local para o qual foi pensada,
concebida. A arte ambiental é uma dessas manifestações.
56
A arte ambiente ou ambiental não faz referência a um movimento artístico
particular, mas sinaliza uma tendência da arte contemporânea que se volta
mais decididamente para o espaço - incorporando-o à obra e/ou
transformando-o -, seja ele o espaço da galeria, o ambiente natural ou as
áreas urbanas. Diante da expansão da obra no espaço, o espectador é
convocado a se colocar dentro dela, experimentando-a; não como
observador distanciado, mas parte integrante do trabalho (AMBIENTE, 2018).
Fonte: <http://michaelmcgillis.com/wake-1>
Na arte ambiental, a paisagem não é mais tema, é obra. Não é mais “retratada” e sim
elemento que, incorporado à obra, faz fusão com o lugar e se integra ao produto
artístico. Artistas vinculados ao movimento, utilizam distintos espaços como territórios
para intervenções e interfaces artísticas por meio de diversas linguagens. É o caso de
Walter Maria (1935/2013), artista americano que, na década de 1970, realizou a
instalação Lightning Field, dispondo 400 hastes de metal, numa área do Novo México
que, ao atrair descargas elétricas, promovia vários espetáculos efêmeros e diversos, de
luz e som.
57
Trata-se de uma relação distinta com a natureza, que promove até mesmo discussões
acerca da sustentabilidade e da utilização dos recursos naturais. Os trabalhos - grandes
arquiteturas ambientais - transformam a natureza e são por ela transformados, já que
eles mesmos são modificados pela ação dos eventos naturais (AMBIENTE, 2018).
Além disso, o movimento, cujas obras têm como principais características a escala e a
relação temporal, abriga artistas como Christo e sua esposa Jeanne-Claude. A primeira
característica, a escala, está relacionada a dimensão dos projetos desenvolvidos, por
exemplo, num primeiro momento, o artista, ainda sozinho, trabalha a pequena escala
por meio de “pacotes” de dimensão reduzida, pois a ideia inicial era recobrir pequenos
objetos, possíveis de serem identificáveis, uma vez que se o “pacote fosse
desembrulhado” a obra de arte se perdia. Posteriormente, a escala aumenta de forma
progressiva e passa a recobrir prédios, pontes, entre outros.
58
Fonte:<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Human_Rights_Monument_2,_Paris
_23_June_2013.jpg>
Fonte:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Pont_Neuf_emball%C3%A9_par_Christo
_(1985).jpg>
59
A segunda característica, a temporalidade, está relacionada ao caráter efêmero das
obras, que, por vezes, podem demandar mais tempo para a sua produção do que para
sua exibição. Dessa forma, uma outra questão importante é suscitada, a
sustentabilidade. O que fazer com todo o material depois da mostra? Eles sempre são
reciclados.
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Berlin-Richard_Serra-curves-05.jpg>
Figura 3.16 - Richard Serra
60
Um dos nomes mais relevantes do Site Specific é Richard Serra. O artista trabalha a
escala da monumentalidade em suas obras, além de um aspecto importante na sua
construção: a autosustentação. É condição imprescindível para a elaboração das obras
a respectiva autonomia em relação à sua estabilidade, ou seja, não há nenhum outro
elemento de ligação ou estrutural. Apenas a obra. O projeto da intervenção considera
esta premissa conceitual.
No Brasil, quando se fala em arte e espaço urbano, é inevitável não falar de Hélio
Oiticica. Para o artista, a obra de arte é mais do que um objeto contemplativo, ela é,
sobretudo, um objeto participativo, da qual o observador torna-se parte integrante,
modificando-a, ao mesmo tempo em que por ela também é modificado. Wisnik (2017),
afirma que Oiticica denomina a própria produção artística como antiarte, que:
61
Fonte:< https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Inhotim_Oiticica_04.jpg>
Saiba Mais
Para conhecer mais sobre a obra de Christo acesse:
https://christojeanneclaude.net/index.shtml
http://www.ideafixa.com/oldbutgold/a-arte-efemera-de-christo-e-jeanne-claude
https://noholodeck.blogspot.com/2012/09/environmental-art-christo-e-jeanne.html
Para saber mais sobre a obra de Richard Serra acesse:
https://www.fronteiras.com/entrevistas/richard-serra-la-era-das-estrelas-da-
arquitetura-esta-em-declinior
Para saber mais sobre a obra de Hélio Oiticica acesse:
https://nararoesler.art/artists/40-helio-oiticica/
62
Conclusão
Embora a arte pública faça parte da paisagem urbana, muitas vezes a sua relevância é
desconhecida. É importante perceber que as manifestações artísticas deste grupo
integram momentos relevantes, constituindo, assim, um grande arquivo e, sobretudo,
um resgate da memória e do simbolismo que integram a história de todos.
REFERÊNCIAS
63
CORREIA, V. Arte pública: Seu significado e função. Lisboa: Editora Fonte da Palavra,
2013. Disponível em: <https://www.academia.edu/6095811/Arte_p%C3%BAblica_-
_seu_significado_e_fun%C3%A7%C3%A3o> Acesso: 12 jun. 2019.
COSTA, L. P. Grafite e pixação: institucionalização e transgressão na cena
contemporânea. Campinas: IFCH Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp,
2007. Disponível em: <
https://www.ifch.unicamp.br/eha/atas/2007/COSTA,%20Luizan%20Pinheiro%20da.pdf
>. Acesso: 06 jun. 2019.
PEREIRA, A. B. As marcas da cidade: a dinâmica da pixação em São Paulo. São Paulo: Lua
Nova, Revista de Cultura e Política, 2010. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/ln/n79/a07n79.pdf/ >. Acesso: 06 jun. 2019.
SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: No loop da montanha russa. São Paulo:
Companhia das Letras, 2001.
64
4 ARTE E ARQUITETURA
A intersecção entre arte e arquitetura está para além do ornamento, do detalhe. Por um
lado, conceber essa intersecção é estar diante de uma simbiose, na qual os elementos
integrantes resultam em um produto híbrido capaz de perceber a intenção conceitual
por meio da elaboração compositiva.
Esta pauta está diretamente relacionada à moderna arquitetura brasileira, e as obras de
Athos Bulcão e Cândido Portinari são exemplares extremamente relevantes.
Por outro lado, a intersecção entre arte e habitação é responsável por compor
elementos considerando dois fatores: a harmonia e a integração.
Além disso, há também a capacidade do artista de traduzir o valor estético e as
preferências por meio de um projeto que mais do que fazer sentido, seja capaz de
construir um sentido. O sentido do habitar.
Vamos tentar entender um pouco mais sobre Arte, Arquitetura e Design de Interiores?
65
Segundo Lúcio Costa, a arquitetura não pode ser concebida sem a intenção plástica, sem
os atributos que, nas palavras do arquiteto, distanciam a construção da arquitetura
enquanto qualidade formal, pois “(...) a intenção plástica que semelhante escolha
subentende é precisamente o que distingue a arquitetura da simples construção”
(COSTA, 1995).
Esta premissa está presente na cidade de Brasília, por exemplo. A iniciativa de Juscelino
Kubitschek se materializou por meio da invenção de Lúcio Costa e do traço leve de Oscar
Niemeyer. As edificações que integram o conjunto arquitetônico de Brasília trazem a
escala daquilo que é monumental e o refinamento de seu interior traz, igualmente, o
apuro formal da capital construída. A materialização de Brasília, quer seja pela qualidade
plástica das edificações, quer pela escala de sua implantação ou pela visão sistêmica do
projeto, condensa, sobretudo, a responsabilidade de traduzir o simbolismo de uma
nação.
66
Figura 4.1 - Catedral em Brasília
Segundo Pinto Júnior (2007), para Lúcio Costa, a utilização do azulejo resgata um
elemento do passado colonial brasileiro, que legitima a tradição por meio de um
atributo formal que se configura como o grande protagonista visual da edificação. A
interface primeira com o observador, seja na qualidade de usuário ou transeunte.
67
Fonte:<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Painel_de_azulejos_-
_Athos_Bulcao_-_Brasilia.jpg>
Fonte:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Athos_Bulc%C3%A3o#/media/Ficheiro:Athos_bulcao_
mercado_flores.JPG>
68
Fonte:<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Obra_sem_t%C3%ADtulo,_Athos_Bu
lc%C3%A3o_(5877742449).jpg>
Figura 4.4 - Obra sem título, Athos Bulcão
Embora o artista Athos Bulcão transitasse por muitas linguagens distintas (pintura,
desenho, fotomontagens, entre outras), foi por meio da integração de sua produção à
arquitetura, como refere Oliveira (2018 apud IPHAN, 2018), que a relevância do seu
fazer artístico ficou, de forma definitiva, ligado a capital.
De acordo com Oliveira (2018 apud IPHAN, 2018), Athos Bulcão estabeleceu contato
com a azulejaria, enquanto elemento gráfico, em 1945, quando estagiou no atelier de
Cândido Portinari durante a realização do painel da Igreja de São Francisco de Assis, no
bairro da Pampulha, em Belo Horizonte.
69
Fonte:
<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Igreja_de_São_Francisco_de_Assis_-
_Belo_Horizonte.jpg>
Fonte:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Edif%C3%ADcio_Gustavo_Capanema#/media/Ficheiro:
Gustavo_Capanema_Palace,_Rio_de_Janeiro,_Brazil_(main_entrance,_2004).jpg>
Figura 4.6 - Palácio Capanema: Ministério da Educação e Cultura MEC: Rio de Janeiro
Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, entre outros.
70
No Palácio Capanema, Portinari elaborou dois painéis: Conchas e Hipocampos e Estrelas-
do-mar e Peixes. Ao contrário do esperado, segundo Pinto Júnior (2007), o artista não
acompanhou a recomendação formal do ministério, sendo a clássica para escultura e
realista para o painel, ambas composições se estruturaram numa trama de linhas curvas
envolvendo as figuras como uma rede disposta num espelho d’água que ao se
movimentar, geram ondulações discretas de áreas transparentes (PINTO JÚNIOR, 2007).
Portinari estrutura o painel de forma distinta o que, nas palavras de Pinto Júnior (2007),
seria uma subversão da estrutura ortogonal perpendicular dos elementos, pois os
quadrados de azulejo se organizam segundo um grid de linha diagonais que,
posteriormente, se tornariam uma marca da produção do artista.
71
A princípio, arte é encontrada em templos, em seguida passa a figurar em ambientes
restritos e exclusivos, como museus ou residências abastadas. Dessa forma, ela começa
a constituir um mercado de investimento, que congrega a apreciação artística e a
rentabilidade financeira, que pode ou não estar ligada à preferência, o gosto do
comprador. No entanto, é certa a busca pela lucratividade decorrente do valor
estabelecido pelo mercado de arte.
Na transição do século XIX para o século XX, ocorreram duas circunstâncias que
promoveram a proximidade com a arte. A produção artística se amplia incrementando
o mercado e ofertando mais possibilidades no sentido plástico e econômico, ou seja,
vários artistas começaram a produzir, por meio de variadas linguagens, opções estéticas
e valores.
Dessa forma, reforçou-se a estreita relação da expressão artística com a habitação. Logo,
é nesse contexto que o design de interiores começou a integrar a arte e o projeto.
Figura 4.8 - integração arte e projeto Figura 4.9 - integração arte e projeto
72
No entanto, nos ocorre perguntar: Como realizar tal integração? Uma rápida pesquisa
pela Internet pode apresentar uma ideia superficial desta empreitada, afirmando que,
em alguns casos, a inserção da arte no projeto de design de interiores, quer seja um
quadro, uma gravura, um desenho, por exemplo, possui, como único critério, a
“combinação” cromática do quadro com os elementos do espaço.
Portanto, quando falamos da arte inserida no âmbito do projeto, nos referimos a outra
dimensão, trata-se da relação que estabelecemos com a arte.
Para Read (1968), uma das falhas mais recorrentes é fato de utilizarmos como sinônimos
as palavras arte e beleza. Tudo o que é arte é belo? Tudo o que é belo é arte? Tal
questionamento, não é uma questão feiura ou beleza, é preciso entender a relação
estabelecida entre a obra e o observador, entre o conteúdo e a mensagem.
Por exemplo, observe as duas imagens que serão apresentadas logo em seguida. Do lado
esquerdo temos uma obra de Jean Michel Basquiat e do lado direito uma obra de Pierre-
Auguste Renoir. São formas gráficas distintas. É possível que você goste das duas da
mesma forma ou tenha preferência por uma delas, é uma questão de gosto pessoal,
portanto. Independente da qualidade técnica-artística, é possível apreciar ou preferir
mais uma do que outra.
73
Dessa forma, essa relação preferencial, do cliente e não do designer, é fundamental para
entendermos o desenvolvimento de um projeto de design de interiores. Repare que, é
possível termos a mesma temática, mas a maneira de construir, ou seja, as expressões
gráficas são distintas.
Observe as imagens que virão a seguir, ambas retratam o que em artes visuais é
denominado natureza morta, ou seja, uma composição elaborada com objetos
cotidianos. Do lado esquerdo, temos uma natureza elaborada por meio de uma técnica
que busca o rigor da forma, da cor e da composição; do lado direito, a segunda natureza
morta, apresenta um desprendimento formal em relação a construção da luz e sombra,
da perspectiva, entre outros. São formas expressivas distintas, que também estão
relacionadas a preferências estéticas, que na elaboração projetual devem ser
compreendidas.
7
Disponível em: https://www.flickr.com/photos/la_bretagne_a_paris/44803053225
74
4.13 - Natureza morta Figura 4.14 - Natureza morta
Mas, então não se deve “combinar” a cor da parede ou do sofá com os objetos
artísticos? Nos projetos abaixo, é possível perceber a convergência cromática entre os
quadros e os elementos do projeto, mas há variadas maneiras de estabelecer a
composição de cor de formas. O mote, ou conceito de um projeto, pode até partir de
uma obra de arte, por exemplo, mas não necessariamente.
75
Figura 4.16 - Convergência cromática
No projeto abaixo, a paleta monocromática também serve como “moldura” para o único
objeto de arte na parede.
76
Figura 4.18 - Paleta monocromática
No projeto a seguir, há uma discreta ligação entre a cor do quadro e a cor da parede, e
a cor do móvel de apoio ao sofá. Na imagem seguinte, a cor predominante, o azul, figura
nos acessórios da cama e no banco do lado esquerdo. A única ligação cromática com os
quadros utilizados é uma manta colocada sobre a cama, quase como um elemento de
produção fotográfica e não um objeto fixo. Nem por isso, há um resultado menos
interessante em termos formais.
77
Figura 4.20 - Ligação cromática
Conclusão
A ambiência está relacionada ao que nos rodeia, a qualidade do que é ambiente, do que
rodeia os seres vivos.
Nessa perspectiva, a obra de arte começa a integrar, além dos espaços expositivos
próprios e os espaços públicos, os espaços corporativos e os espaços habitados. Esta
78
integração se, por um lado buscou denotar sofisticação, por outro lado outro, buscou
apenas refletir uma relação genuína de ligação entre o objeto de arte e o observador.
O objetivo deste conteúdo não é traçar um painel, mas, antes, refletir sobre uma das
muitas possibilidades de integração entre Arte, Arquitetura e Design de Interiores.
REFERÊNCIAS
79
5 ARTE E DESIGN DE PRODUTO
80
Sabemos que na antiguidade, os artefatos (em metal e cerâmica) utilizados para caça e
demais necessidades, já eram produzidos por meio de um sistema que, guardadas as
devidas proporções, estava próximo de uma produção em série.
81
Figura 5.2 - Legado de Leonardo da Vinci Figura 5.3 - Legado de Leonardo da Vinci
O artista e inventor italiano elaborou ainda vários registros gráficos, fruto da observação
intensa da morfologia e da anatomia das aves, sempre como o objetivo de entender
como um ser era capaz de voar. Tais estudos anteciparam o que viria a ser, mais tarde,
a gênese da aerodinâmica, que permitiria ao homem contemporâneo conceber,
materializar e utilizar o meio de transporte aéreo. Por isso, Leonardo é considerado, por
muitos estudiosos, o “Pai” da biomimética.
82
Traçando uma linha cronológica para as Artes, a Revolução Industrial (século XVIII – XIX)
foi o momento no qual a produção artesanal cedeu lugar à produção fabril, colocando
em pauta a possibilidade de coexistência entre produção em larga escala e estética.
83
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:MCB_mobili%C3%A1rio_02.jpg>
84
No final da década de 1960, a conquista do espaço fez com que o design do início dos
anos 1970 começasse a repensar o mundo por meio da óptica tecnológica: é o estilo
high-tech – utilização de artefatos de cunho industrial.
Fonte:<https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Chairs_by_Ron_Arad#/media/F
ile:Maxistuhl_Well_Tempered_Chair_von_Ron_Arad_in_Weil_am_Rhein-
Altweil,_L%C3%B6rracher_Str._4.jpg>
Portanto, as décadas de 1960 e 1970 são marcadas por uma série de transformações
políticas e econômicas, que se desdobram em muitas formas de expressão, entre elas a
Pop Art, que além de discutir aspectos estéticos põe, igualmente em pauta, os
posicionamentos sociais e as transformações globais.
O uso de cores vibrantes e uma estética que beira o kitsch são características deste
período, que pretendia estabelecer o “caos semântico”, criando uma dinâmica
cromática e divertida, tão característica dos anos 1980.
A década de 1990 concebeu uma produção do design de produto, cujo resultado tem
caráter fortemente sensorial, estético e uma proposta de uso inusitado dos materiais. A
partir daí a produção de design começou a promover a aproximação entre aquilo que é
global e aquilo que é local: a globalização e a identidade cultural, ao mesmo tempo em
que, numa visão contemporânea, alia arte e design. Exemplos significativos desta
produção contemporânea, que busca a utilização do objeto como experiência, são as
figuras dos designers Philippe Starck e dos irmãos Campana.
86
Fonte:<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Favela_by_Fernando_and_Humbert
o_Campana_(Edra),_Salone_Internazionale_del_Mobile_2009_(3477175203).jpg>
87
5.2 Arte e Design Gráfico
Já, no século XX, movido pelo desejo de expressar a natureza, a Art Nouveau influenciou
de forma definitiva a manufatura de objetos, a arquitetura, as artes visuais e as artes
gráficas.
88
Figura 5.11 - Jane Avril, de Henri de Figura 5.12 - Aristide Bruant, em
Toulouse-Lautrec, 1893 seu cabaré, por Henri de
Toulouse-Lautrec, 1893
89
Enquanto, no Brasil, em 1922, acontece a Semana de Arte Moderna de São Paulo, que
renovou o panorama artístico paulistano e reuniu nomes consagrados da cena artística
da cidade, influenciados por movimentos artísticos instalados na Europa, como, o
cubismo, o expressionismo e o pós-impressionismo.
Apesar de efêmera, como projeto, a Semana de 22, que contou com Anita Malfatti, Di
Cavalcanti, Victor Brecheret, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Villa-Lobos entre
outros, perdurou como ideia e marcou definitivamente o início do modernismo no
Brasil.
A quietude dos anos 1950 cede lugar ao período explosivo dos anos 1960, no qual a
liberdade de expressão e a reflexão sobre um novo posicionamento político e social é
expresso nas ruas, mas também em toda a produção artística contemporânea da época.
Nos Estados Unidos, o underground – termo usado para descrever a atitude de oposição
ao establishment de muitos jovens de classe média, buscou refletir o contexto social
através da cultura hippie e o seu movimento pela paz (HOLLIS, 2000, p. 132).
90
Nessa mesma época, o design gráfico expressa sua indignação diante da guerra do
Vietnã, ao mesmo tempo que, no auge da era psicodélica, fica explícita a
experimentação visual associada aos novos recursos gráficos.
A Pop Art, movimento artístico cujo ápice ocorreu nos anos 1960, discutiu o cotidiano e
o consumo em massa como formas de expressão artística.
Fonte:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Pop_art#/media/Ficheiro:Warhol_exhibition.jpg>
91
Na década de 1960, no Brasil, o design gráfico tem o seu expoente máximo na figura de
Aloisio Magalhães. O designer, um dos responsáveis pela implantação do primeiro curso
de design no Rio de Janeiro, a ESDI – Escola Superior de Desenho Industrial -, teve uma
produção ampla e significativa, entre os seus projetos estão a primeira identidade visual
da Rede Globo e de outras empresas importantes como a LIGHT (empresa distribuidora
de energia elétrica), Petrobrás, Unibanco, além do projeto gráfico das notas do cruzeiro
novo, o que também elucida a importância e a abrangência da atuação do artista.
Figura 5.18 - O primeiro logotipo da Rede Globo, criado por Aloísio Magalhães
Saiba Mais
92
O entendimento da identidade visual como um sistema de comunicação integrado, tem
o seu marco histórico no projeto dos Jogos Olímpicos, de Munique, em 1972, elaborado
pelo designer alemão Otl Aicher. Para tal feito, foi necessário trabalhar, sobretudo, com
a dissociação do evento anterior (1936) e toda óbvia relação com o nazismo de Hitler.
A síntese gráfica alcançada pelo projeto de Aicher fez com que o sistema de pictogramas
elaborado sirva, ainda hoje, como referência para a mobilidade de qualquer que seja o
grupo de indivíduos, desconsiderando a sua procedência geográfica ou cultural.
93
Fonte: <https://en.wikipedia.org/wiki/1972_Summer_Olympics>
Paul Rand foi um designer americano, cuja notoriedade consiste na influência que sofreu
da estética do movimento Avant Garde europeu, expressa no trabalho que desenvolveu
nos Estados Unidos. Por este motivo, foi considerado o mais influente de sua geração.
Saiba Mais
Conheça mais sobre as obras de David Carson. Visite o site oficial do designer.
http:<//www.davidcarsondesign.com/>
94
Atualmente, a linguagem do design gráfico impresso ganhou a mesma dinâmica
presente no universo digital e todas as possibilidades inerentes a esse universo.
Com grande empatia pela vanguarda antropofágica brasileira, o designer brasileiro Rico
Lins, tem uma produção na área do design gráfico extensa e marcante, que consegue
conjugar o melhor da materialidade e da imaterialidade do projeto de design, o desenho
a mão e os recursos digitais.
Na obra abaixo “Seja Marginal, Seja Herói”, Rico Lins presta um tributo à obra “Bandeira-
Poema” de autoria de Hélio Oiticica. Dessa forma, terminamos mais um conteúdo da
disciplina. Nos encontraremos em breve. Até lá!
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Conclusão
A arte permeia a vida de todos nós. Logo, a produção de design de produto não foi
diferente.
Um excelente exemplo dessa intensa relação consiste no desenvolvimento da Escola
Bauhaus que, por meio da reflexão sobre a produção em grande escala e a questão
estética, desenvolveu um método pedagógico colocando-o em prática pelas mãos de
um corpo docente com vasta produção artística.
Nessa perspectiva, procurou-se refletir sobre as muitas possibilidades de integração e
consequentes desdobramentos na intersecção entre arte e design de produto.
Não há dúvida que, o desenvolvimento técnico significou e continua significando um
profundo processo de transformação na concepção de comunicação, que hoje é,
predominantemente, digital.
O design gráfico, enquanto força de fundamental importância na transmissão de
informação, percorreu uma enorme trajetória, que teve início nas cavernas pré-
históricas e nos dias atuais se mostra nas telas de pequenos objetos móveis, os celulares,
que povoam e, sobretudo, dominam o nosso cotidiano.
Nesse percurso, além do desenvolvimento de novas tecnologias, ocorreu também, em
termos visuais, a permanente troca entre a arte e as formas de comunicação. Essa
intensa interface influenciou e ainda influência a forma como os dados visuais se
organizam e se mostram com o objetivo de comunicarem de maneira eficaz e eficiente.
REFERÊNCIAS
BURDEK, B. Design: História, teoria e prática do design de produtos. São Paulo: Editora
Blucher, 2006.
HOLLIS, R. Design Gráfico: Uma História Concisa. São Paulo: Editora Martins Fontes,
2000.
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6 CONTEXTO E ESTRUTURA
Este é o último Bloco da disciplina de Projeto Integrador: Artes Aplicadas e ele está
dividido em duas partes: o contexto e a estruturação.
A primeira parte, o conteúdo, abordar o contexto no qual se desenvolverá o projeto
final, e que tem como temática o Design de Superfície.
Na segunda parte, a estrutura, vamos tratar da estruturação compositiva. Em qualquer
elaboração visual, é necessário considerar a relação estabelecida entre os elementos e
o espaço no qual estes elementos serão dispostos.
Neste Bloco, em particular, abordaremos a questão da proporcionalidade e, sobretudo,
do aspecto compositivo a partir de uma unidade de origem que denominamos módulo.
Vamos?
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Em seguida, tanto os egípcios, quanto os gregos e, ainda, outros povos contribuíram
para o design de superfície na elaboração de peças e utensílios.
98
Figura 6.2 – Batik, técnica de tingimento em tecido artesanal
99
Na transição entre a produção manufaturada e a produção industrial, durante a
Revolução Industrial, William Morris procurou preservar a questão estética que julgava
ser incompatível com a produção em grande escala. O movimento das Artes e Ofícios
(Arts & Crafts) contribuiu para a transição entre o artesanal e o industrial, buscando
realizar um resgate estético por meio de uma linguagem inovadora. Durante o
movimento Art Nouveau, uma infinidade de padronagens inspiradas na natureza se
materializaram por meio de tecidos, tapeçarias e papéis de parede.
Figura 6.3 - Marigold by William Morris (1834-1896). Original from The MET
Museum.
100
No entanto, ainda que, por definição, o design de superfície esteja vinculado ao plano
bidimensional, não podemos deixar de citar um elemento de grande impacto visual,
embora tridimensional, que está vinculado à memória afetiva de todos nós: o cobogó.
Você sabe o que é um cobogó? Certamente sim, mas não está ligando o nome ao objeto.
O cobogó é aquele “tijolo” com furinhos, também conhecido como elemento vazado,
que tem como função mediar a entrada de luz e ventilação. O cobogó é da década de
1930, e foi:
Fonte:<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Conjunto_Nacional_Cobog%C3%B
3s.jpg>
101
Dessa forma, com o cobogó, terminamos mais um conteúdo da disciplina. Espero que
tenham gostado. Até a próxima!
6.2 Estrutura
102
Figura 6.7 - FIGURA 2
Estrutura Formal;
Estrutura Semi Formal;
Estrutura Informal.
Estrutura Formal
A estrutura formal, como o próprio nome afirma, é uma construção estrutural rígida que
orienta a composição e as subdivisões.
Estrutura SemiFormal
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Figura 6.10 - FIGURA 5
Estrutura Informal
Apresenta uma construção livre, onde não é possível identificar linhas estruturais
compositivas.
105
Elementos e Composição
Considerando que cada elemento compositivo é uma unidade, vamos entender algumas
possibilidades compositivas.
MÓDULO
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REFLEXÃO (movimento + simetria)
Outra possibilidade compositiva é obtida por meio da rotação do módulo. Repare que,
as unidades, de forma individual, podem ser utilizadas em ângulos diferentes obtendo-
se, por conseguinte, composições diversas.
107
Figura 6.16 - FIGURA 11
Dessa maneira, finalizamos mais um conteúdo. Espero que tenham gostado. Até a
próxima!
Conclusão
108
É evidente que há muitas formas de se empreender composições formais, visuais, Neste
segundo conteúdo, abordamos apenas algumas formas. Sendo assim, procuramos, por
meio das possibilidades apresentadas, demonstrar como a partir de uma mesma
unidade/módulo é possível obter resultados e linguagens distintas.
REFERÊNCIAS
TIL%20REVISAO%20HISTORICA%20SURGIMENTO%20E%20EVOLUCAO%20DE%20TEC
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