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Behaviorismo e Neurociências - Convergências e Divergências

Este documento discute as convergências e divergências entre o behaviorismo e as neurociências no contexto da aprendizagem. O autor analisa como os resultados dos estudos neurocientíficos revelam os mecanismos cerebrais de aprendizagem e como isso afeta as concepções behavioristas. Embora algumas ideias behavioristas ainda possam ser úteis, o autor argumenta que há mais divergências do que convergências com os achados das neurociências.

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Sergio Diogo
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Behaviorismo e Neurociências - Convergências e Divergências

Este documento discute as convergências e divergências entre o behaviorismo e as neurociências no contexto da aprendizagem. O autor analisa como os resultados dos estudos neurocientíficos revelam os mecanismos cerebrais de aprendizagem e como isso afeta as concepções behavioristas. Embora algumas ideias behavioristas ainda possam ser úteis, o autor argumenta que há mais divergências do que convergências com os achados das neurociências.

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    Recebido em: 20/08/2019


     Aprovado em: 25/08/2019
     Editor Respo.: Veleida Anahi - Bernard Charlort
     Método de Avaliação: Double Blind Review
     Doi: http://dx.doi.org/10.29380/2019.13.12.09

     BEHAVIORISMO E NEUROCIÊNCIAS: CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS

     EIXO: 12. PSICOLOGIA, APRENDIZAGEM E EDUCAÇÃO: ASPECTOS PSICOPEDAGÓGICOS E


PSICOSSOCIAIS

     LINDEBERG SILVA ANDRADE

Educon, Aracaju, Volume 13, n. 01, p.1-13,  set/2019 | www.educonse.com.br/xiiicoloquio
Resumo

Os resultados dos estudos da neurociência revelam os mecanismos que o cérebro utiliza para o
aprendizado. Por muito tempo, a educação se apoiou unicamente na pedagogia e na psicologia para
entender esses processos. Dentre alguns dos paradigmas educacionais, está o comportamentalismo.
As concepções de aprendizagem do behaviorismo, ante as novas descobertas da neurociência,
carecem de reflexão sobre as heranças deixadas para escola desse paradigma educacional. Ao mesmo
tempo, alguns aspectos podem ser levados em consideração para a melhoria do ensino. Sem o intuito
de exaurir a comparação entre neuroeducação e o behaviorismo, verificam-se mais divergências do
que as convergências.

Palavras Chave: Comportamentalismo. Behaviorismo. Neurociências. Neuroeducação.

Abstract

The results of the neuroscience studies reveal the mechanisms that the brain uses for the learning.
For a long time, the education was relied on the pedagogy and psychology to understand these
processes. Among some educational paradigms we can find the behaviorism. The apprenticeship
conceptions of behavioralism faced with the new discovers of the neuroscience need reflections
about the inheritances left in school from this edicational paradigm. At the same time some aspects
can be considered for the progress of the education. Without the exhausting intention to compare
neuroeducation and behaviorism ensure that more divergences than convergences.

Keywords: Behaviorism. Neuroscience. Neuroeducation.

Resumen

Las resultas de los estudios de la neurociencia revelan los mecanismos que el cerebro se utiliza para
el aprendizaje. Por mucho tiempo, la educación se apoyó únicamente en la pedagogía y en la
psicología para entender esos procesos. Entre algunos de los paradigmas educacionales está el
conductismo. Las concepciones de aprendizaje del behaviorismo delante de las nuevas descubiertas
de la neurociencia necesitan reflejos sobre las herencias dejadas para la escuela de eso paradigma
educacional. Al mismo tiempo, algunos aspectos pueden ser llevados en consideración para la
mejoría de la enseñanza. Sin la intención de agotar la comparación entre la neuroeducación y el
behaviorismo, se puede verificar más divergencias que convergencias.

Palabras clave: Conductismo. Behaviorismo. Neurociencia. Neuroeducación.

Educon, Aracaju, Volume 13, n. 01, p.2-13,  set/2019 | www.educonse.com.br/xiiicoloquio
Introdução

Este artigo se baseia nas descobertas divulgadas na comunidade científica, por meio da neurociência,
que tratam do funcionamento do cérebro. Os resultados desses estudos revelam mecanismos que ele
utiliza para o aprendizado. A educação sempre se apoiou na pedagogia e psicologia para entender os
processos de aprendizagem dos alunos. Dentre diversos paradigmas estudados por ela, está o
comportamentalismo, conhecido também como behaviorismo.

Trata-se de uma revisão bibliográfica tem como objetivo comparar premissas da teoria da
aprendizagem denominada Behaviorismo, por meio de dados divulgados recentemente pelos estudos
da neurociência, a fim de validar ou confrontá-los. Trará à baila convergências e divergências de
acordo com as situações de aprendizagem. Fundamentando-se nos autores que conceberam o
comportamentalismo (metodológico e radical), algumas perspectivas de ensino na escola serão
discutidas com a fim de gerar reflexão sobre a importância de se alinhar ou não às inferências
produzidas por meio da emergência de um ramo específico da neurociência que se preocupa com os
aspectos educacionais.

As teorias de aprendizagem, estudadas no campo da psicologia, estabelecem fundamentos que


buscam entender os processos de ensino aprendizagem. Os professores do século XXI, em geral,
procuram pôr em prática as melhores premissas de cada uma das teorias. Obviamente o
conhecimento de cada um desses princípios que são norteados por elas se faz necessário. A adoção
de técnicas isoladas não consegue evitar o fracasso escolar. É possível que as metodologias ou
situações de aprendizagem apoiadas em apenas um paradigma educativo não seja o que se pede de
um professor hoje? Como avaliar se é plausível ou não aplicá-las diante das informações
recentemente conhecidas sobre o funcionamento do cérebro? É possível continuar com antigas
concepções de aprendizagem no contexto atual de ensino? Analisando o behaviorismo, como
identificar quais propostas podem ser adotadas ou abandonadas à luz da neurociência?

1. Psicologia e as Teorias da Aprendizagem

A psicologia, quando foi entendida nos seus primórdios, causou um grande impacto na educação.
Isso porque trata das questões relativas à aprendizagem e ao comportamento das pessoas, mas
especificamente alunos. Sua relação com a pedagogia se consiste em fornecer conhecimento útil para
educadores dentro dos processos de aprendizagem na escola:

A psicologia se ocupa no estudo e análise dos processos de mudança de


comportamento que se produzem nas pessoas como consequência de sua
participação em suas atividades e situações de ensino (LIMA, 1990)

Mas nem sempre a relação entre psicologia e pedagogia foi amigável. Na maioria das vezes, uma
relação de assimetria era evidente entre elas. A psicologia assumiu um grau de autoridade que,
segundo algumas concepções, atingiu patamares autoritários:

A Psicologia teve, sem dúvida, um grande impacto sobre a Educação. Por


tratar, ou dever tratar, das questões relativas à aprendizagem e ao
comportamento humano, ela foi fonte natural de conhecimento para que
educadores pudessem fazer frente à crescente massa de crianças que entram na
escola pública e às dificuldades, também crescentes, para alfabetizar e ensinar
estas crianças. Esta relação da Psicologia com a Pedagogia nunca foi uma
relação harmônica e caracterizou-se, na maior parte das vezes, por ser uma
relação assimétrica, na qual a Psicologia tanto assumiu quanto foi considerada

Educon, Aracaju, Volume 13, n. 01, p.3-13,  set/2019 | www.educonse.com.br/xiiicoloquio
portadora de uma autoridade que ultrapassou, evidentemente, os limites de sua
competência. Isto também não ocorreu sem razões políticas muito precisas,
surgindo a Psicologia em muitas situações para validar posições ideológicas
claras, que serviram à marginalização e ao rotulamento de grande parte das
populações em função de etnia, de classe socioeconômica e de grupo cultural
(IBIDEM).

Posições ideológicas foram propostas por meio das teorias de aprendizagem. Essas posições
concebem paradigmas para a psicologia em geral. Destacam-se aqui, os paradigmas relacionados
com a psicologia da educação por OSTERMANN e CAVALCANTI (2010):

· Teoria Comportamentalista

· Teoria Cognitivista

· Teoria Humanista

· Teoria Interacionista

· Teoria Construtivista

Esses paradigmas demonstram a importância da psicologia para os processos educativos. Embora


tenha proeminência no pensamento pedagógico, a medicina computacional, nos últimos anos, tenta
“ameaçar” a psicologia por conseguir explicar precisamente as razões para o fracasso escolar. Essa
situação não pode surpreender ninguém pois a educação está constantemente buscando respostas em
outras áreas do conhecimento para dar conta dos fenômenos educacionais.

O desenvolvimento das neurociências, que teve um grande avanço nos últimos anos, ajuda a
compreender melhor o que acontece na mente e nos processos internos. Isso traz divergências e
contradições entre as premissas das teorias de aprendizagem e acabam perdendo espaço entre as
teorias dominantes.

2. O comportamentalismo e suas vertentes (Behaviorismo)

Assim como o cognitivismo, construtivismo, interacionismo e humanismo, o comportamentalismo é


uma teoria de aprendizagem. Também chamada de Behaviorismo, procedente do termo behavior, que
significa “comportamento”. Baum (1999) pontua ser simples entender o seu objetivo principal:

Um conjunto de ideias sobre essa ciência chamada de análise do


comportamento, e não a ciência ela própria, o behaviorismo não é
propriamente uma ciência, mas uma filosofia da ciência. Como filosofia do
comportamento, entretanto, aborda tópicos que muito prezamos e que nos
tocam de perto: por que fazemos o que fazemos e o que devemos e não
devemos fazer (BAUM, 1999)

Essa teoria nasceu nos Estados Unidos com John B. Watson quando, em 1913, inaugura o
comportamentalismo como disciplina na Jonh Hopkins University. Em entrevista a uma revista da
época, declarou:

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A Psicologia, como a entender o behaviorismo, é um ramo das ciências
naturais, puramente experimental e objetivo. Seu objetivo teórico é a
predição e o controle do comportamento. (WATSON, 2008)

O behaviorismo metodológico era considerado uma psicologia experimental, objetiva, científica e


determinista, cuja única fonte de dados para pesquisa seria comportamentos diretamente observáveis.
Os preceitos behavioristas entendem que a aprendizagem acontece por condicionamento operante e
clássico. Buscam compreender o ser humano a partir do comportamento expresso.
Metodologicamente, o Behaviorismo tem caráter empirista, ou seja, somente as experiências são
capazes de gerar ideias e conhecimentos.

Para Watson, o ser humano aprendia tudo a partir de seu ambiente (produto do meio) e também que
não possuía nenhuma herança biológica ao nascer, em outras palavras, nascia vazio no que se referia
a qualquer informação (tábula-rasa). Em oposição ao mentalismo europeu, considerava que a
introspecção não poderia ser aceita como prática científica (SÉRIO, 2005). Ele colocava o
pensamento e a linguagem como elementos que estavam inclusos no comportamento:

O behaviorista pergunta: Por que nós não podemos fazer do que realmente
observamos, o campo real da psicologia? Vamos nos limitar a coisas que
podemos observar, e formular leis concernentes a somente tais coisas. Agora,
o que nós podemos observar? Nós podemos observar o comportamento – o
que os organismos fazem ou dizem. E deixe-me pontuar isso novamente: que
dizer é fazer – isto é, comportar-se. Falar audivelmente ou para si mesmo
(pensar) é exatamente um tipo de comportamento tão objetivo quanto jogar
beisebol. (WATSON, 1924/1970).

Esta afirmação infere que os hábitos das pessoas revelam o que ocorre com o pensamento já que
envolvem reações, movimentos e práticas condicionadas ao longo da vida. Ou seja, o homem pensa
com o corpo como parte de um todo.

Quando se fala no caráter determinista do behaviorismo, leva-se em consideração que se baseia em


estímulo-resposta (E-R). Quer dizer que o comportamento humano é previsível. Se um antecedente
X ocorre, o evento Y ocorrerá como consequência (PRIMO, 2009).

O behaviorismo experimental ganhou força por meio do trabalho de Ivan Pavlov (1849-1936) que
fez estudos com animais de laboratório. Frequentemente utilizava cães em suas experiências.
Percebeu que os cães estavam condicionados a estímulos que determinavam suas reações. Com a
repetição, a reação já se fazia presente com estímulo condicionado, porém não conseguia enganá-los
por muito tempo. Isso contribuiu para desenvolver técnicas de adestramento de cães. Pavlov ganhou
o prêmio Nobel de medicina em 1904 pela publicação de um artigo que se denominava o fenômeno
de reflexo condicionado.

Uma outra vertente do comportamentalismo é o behaviorismo radical, criada por Burrhus F. Skinner
(1904-1990). Diverge da vertente metodológica pois pressupõe que o ser humano não é uma tabula
rasa. Para Skinner, seu maior nome, o behaviorismo não era um estudo científico de comportamento
somente, mas sim uma filosofia da ciência que se preocupava com a metodologia e os objetivos de
estudo da psicologia (IBIDEM). Skinner, propriamente, afirma:

Se a psicologia é uma ciência da vida mental – da mente, da experiência


consciente – então ela deve desenvolver e defender uma metodologia

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especial, o que ainda não foi feito com sucesso”. Se, por outro lado, ela é
uma ciência do comportamento dos organismos, humanos ou outros, então
ela é parte da biologia, uma ciência natural para a qual métodos testados e
muito bem sucedidos estão disponíveis. A questão básica não é sobre a
natureza do material do qual o mundo é feito ou se ele é feito de um ou de
dois materiais, mas sim as dimensões das coisas estudadas pela psicologia e
os métodos pertinentes a elas (SKINNER, 1953).

Ele não nega a visão mentalista da psicologia, mas os chamados fenômenos da privacidade
(processos mentais) são de natureza física, material e, portanto, mensuráveis. Isso vai de encontro
com a visão de Watson.

As aplicações para o campo educacional eram inevitáveis, sendo adotados por alguns países que
adicionaram um viés mercantilista nas escolas com a pedagogia tecnicista2.

3. Herança do Behaviorismo na educação

Embora as vias behavioristas possuírem conclusões claramente antagônicas, é inegável perceber sua
contribuição para educação. As premissas da teoria comportamentalista inseriram a tecnologia
educacional nas escolas, como por exemplo o tecnicismo. Isso trouxe um forte suporte para a
psicologia educacional pois mostrou-se possível condicionar e moldar o aluno para atender ao
mercado de trabalho. Enquanto a tendência tecnicista visava atender a demanda da sociedade
capitalista, o behaviorismo visava o controle do comportamento dos que iriam suprir essa demanda.
Se o tecnicismo propõe um processo educativo objetivo e operacional, o comportamentalismo
prometia desvendar o que acontecia na cabeça do indivíduo no processo de aprendizagem, mesmo
que os processos internos não fossem passíveis de estudo direto como afirma Skinner:

"Eu queria estudar o comportamento de um organismo separado de qualquer


referência à vida mental, e isto era Watson, mas eu também queria evitar
referências ao sistema nervoso.” (SKINNER,1989)

Apesar da rejeição às referências internas ao organismo não se restringir apenas a eventos não
físicos, mas o sistema nervoso em si, o behaviorismo de Skinner se tornou o embrião do
cognitivismo (LAMPREIA, 1992). Se, nas escolas, o comportamento pode ser modelado, as leis das
aprendizagens podem ser aplicadas a seres pensantes. Assim, todo ser vivo pode aprender. Os
sistemas educacionais visam o controle comportamental do indivíduo face a objetivos estabelecidos.
Trata-se de um enfoque diretivo do ensino, centrado no controle das condições que cercam o
organismo. Muitas práticas pedagógicas inspiradas nesse método de ensino aprendizagem ainda
permanecem nas instituições de ensino.

São práticas que logram bons êxitos no que se refere a atingir os objetivos propostos pelos sistemas
de ensino. Assim, enquadrando-se dentro de uma teoria tradicional, a concepção do currículo,
mesmo com o ideal aparentemente neutro, está cumprindo os objetivos das classes dominantes.
Dessa forma, as instituições de ensino se comprometem a formar profissionais com habilitação a
realizar atividades as quais foram condicionados a realizar. O bom desempenho do aluno deve ser
recompensado (reforços positivos), já os de desempenho abaixo do esperado, devem ser punidos ou
privados de algum privilégio dentro do processo. Isso traz sérios impactos no aprendizado dos
alunos. O professor é quem gerencia o processo, contudo não focaliza no aprendizado. Conduz, por
meio de ordens sequenciais, passos instrucionais.

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4. A neurociência ratifica ou retifica?

O cérebro humano sempre foi e sempre será o que há de mais espetacular na natureza. Sempre
intrigou historiadores, filósofos e escritores. O que se passa dentro dele é único. Pelo menos em
comparação com os outros seres que habitam esse humilde planeta do sistema solar, o cérebro
humano é singular. O próprio conceito de cérebro mudou através dos tempos. No século XIX era
definido como morada da alma. A tecnologia computacional mostra ele como o centro organizador
das experiências humanas, o centro do ser humano, o self.

A neurociência agrega diversas disciplinas que se dedicam ao estudo do Sistema Nervoso Central
(SNC) que englobam a neurociência molecular, celular, sistêmica, comportamental e cognitiva.

A evolução tecnológica computadorizada de neuroimagens para a medicina vêm trazendo ao público


em geral, informações que antes somente interessavam aos especialistas em doenças do cérebro e que
agora começam a ser disseminadas para o público em noticiários e revistas. As tomografias, imagens
ópticas, magnetoencefalogramas, ultrassons, ressonâncias magnéticas revelam cada vez mais o
manual de instruções do cérebro. O impacto disso é bastante significativo para educação pois tem
claras implicações com o que ocorre dentro das escolas no processo de ensino aprendizagem.

O jornalista científico Jonh Horgan (2002) faz uma comparação bastante interessante sobre em que
estado está o avanço das pesquisas sobre o estudo do cérebro. Trata-se de um dilema que denominou
“Humpty-Dumpty”. O conhecimento disponível da neurociência permite aos estudiosos entender a
mente da mesma forma que crianças curiosas desmontam um rádio, mas que não sabem como
remontá-lo. Esse tipo de afirmação revela o vasto terreno dessa área que ainda carece de muita
investigação.

O termo neurociência se difunde como um conceito transdisciplinar ao reunir diversas áreas de


conhecimento no estudo do cérebro humano. O neurônio, unidade básica que formam a glia do
sistema nervoso, por muito tempo esteve envolto a suposições que foram comprovadas ou refutadas
pelos resultados adquiridos a partir dos recursos tecnológicos mais avançados. Por exemplo,
acreditava-se que os neurônios não se regeneravam. Estudos recentes revelam que isso ser um mito.
Os neurônios além de se regenerar, podem recriar as suas conexões na glia. Isso significa que o ser
humano pode desconstruir e construir conhecimentos ao longo de toda vida. A quantidade de dados
coletados traz à baila sua relação com os processos de ensino aprendizagem.

Moreira Oliveira trata das possibilidades de adequação ao ensino, tendo em vista os dados
publicados pela comunidade comunidade científica relacionados ao estudo dos processos cognitivos:

O cérebro é entendido como um sistema aberto, auto organizável, que


funciona em circuitos de rede, para atender cada etapa da vida da pessoa.
Estes conhecimentos vêm provocando mudanças nas várias ciências, como na
educação, abrindo novas possibilidades de intervenções mais adequadas
sobre o cérebro humano. (OLIVEIRA, 2014).

O que tem sido revelado quanto ao estudo do cérebro vem trazendo consensos entre os estudiosos
que utilizam essas informações aplicadas à educação. Por exemplo, em relação à aprendizagem,
quando uma pessoa aprende, alterações nas células nervosas ocorrem por meio de mudanças
físico-químicas. Outra coisa relevante é que não é possível educar de forma homogênea, dadas as
particularidades e características únicas dos indivíduos.

A neurociência começa a ganhar relevância na educação, pois ao abordar o conhecimento e a

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inteligência integrando psicologia e educação, estabelece novos padrões de uma área que tem se
dispõe a desvendar, de uma vez por todas, o que acontece dentro da cabeça das pessoas, de uma
forma mais específica, dos alunos em uma sala de aula. Convergindo esse ramo da ciência com os
processos educacionais e a psicologia, nasce a neuroeducação, definida por Francisco Mora como
campo de conhecimento novo e aberto, porém muito promissor:

Neuroeducação é uma nova visão do ensino baseada no cérebro. Visão que


nasceu da revolução cultural que vem sendo chamada de neurocultura.
Neuroeducação busca abrir as janelas dos conhecimentos sobre como
funciona o cérebro associados com a psicologia, sociologia e a medicina com
o objetivo de melhorar o potencial tanto dos processos de aprendizagem e
memória dos estudantes, como fazer os professores ensinarem melhor.
(MORA, 2013, traduzido).

Esta é uma área muito recente. Começou a se disseminar a partir dos anos 80 alcançando muitos
adeptos. Mas a primeira vez em que se ouviu falar sobre neurociência e educação no ambiente
escolar foi com o trabalho de Herbert Henry Donaldson (1857-1938). Seu livro era titulado por The
grow thof the brain: a study of the nervous system in relation to education (O crescimento do
cérebro: um estudo do sistema nervoso em relação à educação).

Diante das novas descobertas divulgadas, pode-se perceber que muitas práticas que constituem as
bases do Behaviorismo, se enxergadas pela ótica da neuroeducação podem ser aperfeiçoadas ou
rejeitadas.

4.1 Desenvolvimento do aprendizado escolar

A neurociência considera que o cérebro começa a se construir um pouco depois da fecundação. Ou


seja, vai se desenvolvendo gradativamente. Intervenções psicológicas podem otimizar o aprendizado.
Quando comparado com as premissas comportamentalistas, há um certo alinhamento com as teorias
darwinistas que consideram a evolução, comum a todas as espécies. O próprio Skinner, tratando da
seleção natural na função seletiva do ambiente afirma:

O ambiente não apenas cutuca ou sacode, ele seleciona. Sua função é


semelhante à da seleção natural, e foi deixado de lado pela mesma razão.
Agora é evidente que devemos considerar o que o ambiente faz a um
organismo não somente antes, mas depois de sua resposta. O comportamento
é modelado e mantido por suas consequências. Uma vez que esse fato seja
reconhecido, podemos formular a interação entre organismo e ambiente de
forma bem mais ampla (SKINNER, 1971).

Para as duas visões, o aprendizado precisa ter significativo e com perspectivas parecidas. O meio
ambiente pode oferecer estímulos intencionais no processo de aprendizagem. O comportamentalismo
se restringe ao resultado de ações condicionadas que podem estar acabadas para futuros reforços.
Para a neurociência, o resultado é um portfólio de conhecimentos que vão se amadurecendo de
acordo com a idade e que se ancoram em conhecimentos anteriores. Contudo, o condicionamento, na
visão behaviorista, vem desprovido de humanização e criticidade.

4.2 Estímulo-resposta e a neurociência

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Para o behaviorismo metodológico, o ser humano quando nasce é considerado uma tábula-rasa. A
“caneta” que o escreve será meio que o condiciona. Quando um estímulo acontece, há sempre uma
resposta automática. Comparando com os dados científicos mais atuais, a neurociência afirma que o
cérebro cria diferentes conexões para vários tipos de atividade. Isso significa que nem sempre os
estímulos causarão os mesmos efeitos nas pessoas. Vê-se aí uma clara divergência entre o que se
sabe hoje e o que se acreditava sobre o comportamento condicionado previsto ante a um estímulo.
De acordo com as novas descobertas de como o cérebro processa as informações, o caráter único que
cada pessoa possui quando aprende é o que se revela. É preciso planejar um portifólio de estímulos
que contemplem o máximo de estudantes possíveis para atingir uma reposta favorável na perspectiva
do professor, dada a heterogeneidade de público presente nas escolas.

4.3 Significado no aprendizado: Neuroeducação vs Comportamentalismo

Na perspectiva behaviorista, o comportamento pode ser moldado de acordo com o estímulo. Contudo
a finalidade pretendida é objeto de quem emite o estímulo. Como aconteceu no tecnicismo, os
estudantes deveriam ser moldados de acordo com as demandas do mercado que visava formar
profissionais. A falta de intenção, ou seja, aquele currículo “neutro” pregado pela escola não logrou
sucesso (ZOTTI, 1980). Ironicamente, Pavlov afirmava que um estímulo neutro não produzia
nenhuma espécie de resposta reflexa. Em contrapartida, a neurociência afirma que o que se aprende
precisa ter significado dotado de criticidade que se desenvolve no aprendizado. O cérebro foi
projetado para o aprendizado a partir das experiencias pessoais que o indivíduo considera
importantes (CARR, 2010). Não desenvolver o juízo de valor do que se conhece poderá “inviabilizar
conexões” que influenciarão o modo de aprender para o resto da vida do ser humano. A qualidade
das intervenções pedagógicas pode fortalecer ou enfraquecer essas conexões neurais no aprendizado
do estudante (NORONHA, 2008).

4.4 Emoção, Curiosidade e Atenção

Considerando os fatores emoção, curiosidade e atenção, percebe-se no comportamentalismo a pouca


importância que elas possuem, com exceção do última. Skinner inseriu as máquinas de aprender nas
escolas, o que foi um marco importante para educação pela introdução das tecnologias modernas nos
processos pedagógicos. Pela forma como foram aplicadas, percebe-se que a atenção tem um
importante papel visto que não é possível avançar no aprendizado desprovido dela. Portanto, esse
fator precisa ser visto de outra maneira. Os outros dois fatores, emoção e curiosidade, recebem pouca
relevância por, em sua essência, serem resultado de processos internos. Mas que só podem ser
considerados pelos comportamentos e isso não é uma preocupação primordial dos behavioristas.

A neuroeducação trata desses fatores de uma forma bastante diferente e enfatiza a estreita relação
entre eles para o aprendizado: A emoção é uma energia codificada que ativa certos circuitos do
cérebro que mantém a vida. Ela tem origem em uma palavra que indica movimento e interação com
o mundo. É o meio de comunicação mais eficaz de todos seres vivos. Por meio dela circuitos
cerebrais estão ativos. As emoções iniciam e mantém a curiosidade e atenção. A neurociência
conhece que elas servem, entre outras funções, para evocar memórias de uma forma mais efetiva.
Também a informação emocional é a base para a elaboração de qualquer função mental (IBIDEM).
Quando se fala em curiosidade, sabe-se que o ser humano é um ser curioso por natureza. Mesmo que
suas expectativas sejam frustradas, ele encontra novos aprendizados naquela experiência. Só pode
haver curiosidade se existe motivação para que o aprendizado tenha significado. É esse desejo de
buscar as coisas por meio da curiosidade que motiva a busca por mais conhecimento. Circuitos
cerebrais são ativados por meio de estímulos que antecipam ou trazem uma expectativa de
recompensa. O prazer em aprender pode ser uma dessas recompensas. Nesse aspecto, é importante
mencionar que o behaviorismo radical entende a importância da recompensa como estimulante de
aprendizados mais complexos. A atenção é o que promove a memorização de uma informação. Essa

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concepção converge com os princípios comportamentalistas, embora tenham explicações bastantes
distintas. A neuroeducação entende que sem essa memorização, o ser humano é incapaz de explicar
os fenômenos que o cercam. Não é novidade saber que para um aluno preste atenção na sala de aula,
não basta simplesmente pedir ou exigir. A atenção precisa ser evocada por meio da psicologia à luz
da neurociência. Ela vem após a curiosidade e isso não é uma coisa que se peça ou exija. Buscar
métodos e técnicas para manter a atenção dos alunos é fundamental para um aprendizado satisfatório.
Até pouco tempo se pensava que só existia um tipo de atenção. Bastava prestar atenção em algo e
pronto. Hoje se sabe que existem vários tipos de conexões cerebrais que se formam quando uma
pessoa está atenta. Ou seja, existem tipos ou níveis diferentes de atenção (LIMA, 2005). Isso
demonstra que o conhecimento de determinadas áreas do cérebro que pode auxiliar na elaboração de
técnicas do professor para manter a atenção dos seus alunos em diferentes situações de ensino.

4.5 Meio ambiente, entorno social e suas convergências

O meio, no paradigma comportamentalista, tem papel primordial na determinação do sujeito. Apesar


de haver visões diferentes entre os Behavioristas quanto a isso, é importante perceber que estudos
neurocientíficos ratificam essas concepções. O meio ambiente e o entorno social influenciam
diretamente no aprendizado dos estudantes. O aprendizado sofre influência de diversos fatores
relacionados com a idade mais adequada para se aprender determinadas coisas, isso solicita
contribuição do meio ambiente (LOPES, 2000). Os responsáveis pela educação devem influenciar
políticas públicas que garantam o favorecimento destes fatores. No que diz respeito a financiamento,
aparelhamento tecnológico e os aspectos necessários para os processos educacionais (OCDE, 2007).
Os estímulos familiares, relações sociais, reforços comportamentais, entre outros componentes do
meio ambiente, se favorecidos e estimulados devidamente, podem conduzir, ou atrevidamente
“modelar”, melhores experiências pedagógicas.

5. Considerações Finais

Não foi possível analisar todas as convergências e divergências entre o Behaviorismo e a


Neuroeducação. As bases da neuroeducação ainda estão em processo de construção a partir de novas
informações divulgadas sobre o funcionamento do cérebro pela comunidade científica. Ainda não
está consolidada a figura de um neuroeducador. Porém, o que se percebe é que há mais divergências
na forma de ensino do que concordâncias. O paradigma comportamentalista se alinha com a
neurociência algumas vezes. Isso demonstra a importância desse paradigma educacional e o impacto
que ainda causa nas salas de aula. O que mais diferencia as concepções de aprendizagem estão na
metodologia e na humanização do ensino. Enquanto o comportamentalismo está quase que
completamente desprovido de processos internos na determinação do ser que aprende, a neurociência
enfatiza o papel da subjetividade no aprendizado. No que mais convergem as duas está o aspecto
ambiental. O meio ambiente age como estimulador ou inibidor de ações para o estudante. Mas na
perspectiva de um neuroeducador, leva-se mais em consideração o posicionamento crítico, que é o
resultado da interação com a sociedade. Algo que praticamente inexiste no Behaviorismo.

Em virtude da ausência de neutralidade que se demonstrou em relação à confiabilidade dos dados


relativos ao estudo do cérebro, entende-se que os pedagogos precisam compreender melhor os
mecanismos de aprendizagem de seus alunos. Assim como os cientistas que conceberam o
comportamentalismo demonstrando preocupação com a eficiência do ensino-aprendizagem ante às
perspectivas confrontadas aqui, aos educadores cabe continuar essa jornada. Mas que seja pelos
motivos certos.

O processo educativo deve fazer com que o aluno atribua significado àquilo que aprende. Além
disso, sua formação deve proporcionar um posicionamento crítico do que é vivenciando na sala de

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aula. Se as evidências trazidas pelos estudos do funcionamento do cérebro estão criando um manual
de instruções por meio da divulgação científica, essas informações precisam ser confrontadas com
velhas práticas que não logram bons resultados nas quais muitos educadores persistem. Isso não
significa descartar o que se tinha antes, mas agregar ao cotidiano escolar novas práticas que se
alinhem com o que há de mais atual sobre a concepção de aprendizado.

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2 É uma linha de ensino, adotada por volta de 1970, que privilegiava excessivamente a tecnologia
educacional e transformava professores e alunos em meros executores e receptores de projetos
elaborados de forma autoritária e sem qualquer vínculo com o contexto social a que se destinavam.

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