0% acharam este documento útil (1 voto)
171 visualizações3 páginas

Sonetos Camonianos na FURG

Este documento apresenta uma seleção de sonetos de Luís de Camões, um dos maiores poetas da literatura portuguesa. Os sonetos tratam de temas como amor, saudade, mudança e esperança. A professora Cláudia Mentz Martins introduz a coleção de sonetos para a disciplina de Literatura Ocidental I.
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (1 voto)
171 visualizações3 páginas

Sonetos Camonianos na FURG

Este documento apresenta uma seleção de sonetos de Luís de Camões, um dos maiores poetas da literatura portuguesa. Os sonetos tratam de temas como amor, saudade, mudança e esperança. A professora Cláudia Mentz Martins introduz a coleção de sonetos para a disciplina de Literatura Ocidental I.
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 3

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE – FURG
INSTITUTO DE LETRAS E ARTES – ILA

Disciplina: Literatura Ocidental I


Professora: Cláudia Mentz Martins
Período letivo: 2020/1

Sonetos de Camões

Alma minha gentil, que te partiste


tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente,
e viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,


memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te


alguma cousa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,


que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou.

==================================================================

Aquela triste e leda madrugada,


cheia toda de mágoa e de piedade,
enquanto houver no mundo saudade
quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada


saía, dando ao mundo claridade,
viu apartar-se de uma outra vontade,
que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio,


de que uns e outros olhos derivadas
se acrescentaram em grande e largo rio.

Ela viu as palavras magoadas


que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso às almas condenadas.
2
Cláudia Mentz Martins. Sonetos camonianos

Tanto de meu estado me acho incerto,


que em vivo ardor tremendo estou de frio;
sem causa, juntamente choro e rio,
o mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto, um desconcerto;


da alma um fogo me sai, da vista um rio;
agora espero, agora desconfio,
agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando,


num'hora acho mil anos, e é de jeito
que em mil anos não posso achar um’hora.

Se me pergunta alguém porque assim ando,


respondo que não sei; porém suspeito
que só porque vos vi, minha Senhora.

==================================================================

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,


muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,


diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,


que já coberto foi de neve fria,
e, enfim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,


outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.
3
Cláudia Mentz Martins. Sonetos camonianos

Sete anos de pastor Jacob servia


Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prémio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,


passava, contentando-se com vê-la;
porém o pai, usando de cautela
em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos


lhe fora assi negada a sua pastora,
como se a não tivera merecida;

começa de servir outros sete anos,


dizendo: - Mais servira, se não fora
para tão longo amor tão curta a vida.

==================================================================

Com grandes esperanças já cantei,


com que os deuses no Olimpo conquistara;
despois vim a chorar, porque cantara
e agora choro já porque chorei.

Se cuido nas passadas que já dei,


custa-me esta lembrança só tão cara
que a dor de ver as mágoas, que passara
tenho pola mor mágoa, que passei.

Pois logo, se está claro que um tormento


dá causa que outro n'alma se acrescente,
já nunca posso ter contentamento.

Mas esta fantasia se me mente?


Oh! ocioso e cego pensamento!
Ainda eu imagino em ser contente?

Referência

HISTÓRIA e antologia da literatura portuguesa: século XVI. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1995.

Você também pode gostar