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Qualidade Da Agua

Este documento discute a importância da qualidade da água, especialmente na agricultura. A água doce disponível no planeta é escassa e a população mundial depende fortemente da água para agricultura e consumo. A qualidade da água deve atender aos padrões para cada uso específico a fim de garantir a disponibilidade contínua deste recurso essencial.

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Qualidade Da Agua

Este documento discute a importância da qualidade da água, especialmente na agricultura. A água doce disponível no planeta é escassa e a população mundial depende fortemente da água para agricultura e consumo. A qualidade da água deve atender aos padrões para cada uso específico a fim de garantir a disponibilidade contínua deste recurso essencial.

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QUALIDADE DA ÁGUA

Praf. or. José Euclides Stipp Paterniani


Faculdade de Engenharia Agrícola - UNICAMP

Dr. José Maria Pinto


Pesquisador Irrigação/fertirrigação Embrapa Semi-Árido

1 -IMPORTÂNCIA DA ÁGUA NA AGRICULTURA

Há pouco tempo atrás um jornal de grande circulação trazia um artigo

com a seguinte manchete - "Água será estopim de guerras no próximo século".

Esse artigo, muito bem elaborado pelo jornalista Gilberto Dimenstein, abordava

os riscos de uma disputa bélica entre diversos países pela água, sob a luz de

dados e levantamentos estatísticos que davam total razão ao título. Neste artigo

era citado que a falta de água é permanente em 22 países e atinge 40% da


população mundial. O artigo enfatiza ainda, que a população mais pobre dos

países em desenvolvimento é a que mais sente os impactos negativos desse

problema. Nos países em desenvolvimento 80% das doenças são provocadas

por água contaminada, isso devido a falta de acesso a água tratada e a rede de

esgoto que não chegam a alcançar 20 % da população.

Sabe-se que % da superfície da Terra é coberto por água, no entanto 97%

de toda essa água está contida nos mares e oceanos restando apenas 3% de

Irrigação 195
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

água doce. Desses 3%, 2,7% estão congelados nas calotas polares, restando

apenas 0,7% de toda a água do planeta, que são águas superficiais de fácil

capitação. A escassa disponibilidade de água no planeta pode ser melhor

visualizada no gráfico da Figura 1. Contudo, a água é um recurso finito, renovável


mas finito. Rebolças (1999)

0,3%
ÁGUA DA SUPERFiCIE

97% 3% 2,7%
ÁG UA SALGADA ÁGUA DOCE ÁGUA CONGELADA
(Mares e Oceanos)

Figura 1 - Disponibilidade de água na terra

Assim não é muito difícil perceber a importância e a necessidade de se

preocupar com a qualidade e quantidade dos recursos hídricos disponíveis no


nosso planeta.

Questões relativas à qualidade da água são antigas. Em bibliografia

escrita por Aristóteles (384-322 a.C.) intitulada De Generalione Animalium, eram


citados processos de filtração da água através de vasos porosos com o objetivo

de purificá-Ia. Ancestrais egípcios descreviam processos de filtração em série

também para purificação da água para suprimento doméstico Paterniani (1986).

Há uma passagem na Bíblia onde Moisés recebe indicação do Senhor para

196 Irrigação
Qualidade da água

lançar nas águas do rio Mara um pedaço de madeira para tornar suas águas
próprias para matar a sede de seu povo, (as águas de Mara eram amargas e a

madeira, agindo como vários polímeros vegetais, tem a capacidade de absorver


e retirar da água substâncias que causam gosto) Richter (1991).

A necessidade de se tratar a água, ou seja, de adequar a sua qualidade

ao uso a que se destina tem levado pesquisadores e especialistas a desenvolver

padrões de qualidade de água para diversos usos além de normas para a

captação dos recursos hídricos com o objetivo de preservar a qualidade da água

e garantir a existência deste recurso em quantidade e qualidade adequada

principalmente para as gerações futuras, evitando, ou pelo menos minimizando,

os riscos de uma disputa pela água onde, certamente, os mais pobres perderão.

Em se tratando de qualidade da água é necessário antes de mais nada

definir o uso a que se destinará a água bem como conhecer os mananciais de

onde se captará a água a ser utilizada.

De acordo com o gráfico da Figura 2, nota-se que o maior consumo de

água se dá na agricultura, mais especificamente na irrigação. Com as recentes

notícias, na maioria das vezes alarmantes com relação a falta de água e a

escassez cada vez mais acentuada de água de boa qualidade, até mesmo na

zona rural, fica evidente a necessidade de se voltar maior atenção á água na

agricultura não só em relação aos aspectos quantitativos mas também aos

qualitativos deste recurso natural.

A disponibilidade de água no planeta é superior a demanda da população.

Irrigação 197
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

No entanto, sua distribuição aos diferentes setores consumidores para os diversos


usos é extremamente desigual, o que confere a muitas regiões déficit de recursos
hídricos, comprometendo o atendimento a população em geral.

Além da má distribuição e perdas, a crescente degradação dos recursos

hídricos - devido a concentração de cargas poluidoras em algumas regiões e a

falta de escrúpulos quanto ao lançamento dessa carga nos cursos d'água também

deve ser considerada como um dos fatores que tornam a água imprópria para

diversos usos.

INDÚSTRIAS - 10 %

DOMíCILlOS - 5%

AGRICULTURA-85%

Figura 2- Consumo de água no mundo

Assim, diversas regiões do mundo enfrentam hoje problemas relativos à

escassez de água com qualidade compatível ao uso que se fará dela.

Mota (1997) classifica os principais usos da água como consuntivos


(quando há perdas entre o que é retirado e o que retoma ao sistema natural) e

não consuntivos (quando ocorre o contrário) .

198 Irrigação
Qualidade da água

Consuntivos: abastecimento humano, abastecimento industrial, irrigação,


dessedentação de animais.

Não consuntivos: recreação, harmonia paisagística, geração de energia elétrica,

conservação da flora e da fauna, navegação, pesca, diluição, assimilação e


afastamento de despejos.

o consumo de água tende a crescer com o aumento da população, o

desenvolvimento industrial e outras atividades humanas. Cada vez mais se retira

água dos mananciais e se produzem resíduos líquidos, que voltam para seus

recursos hídricos alterando a sua qualidade.

Para cada uso da água, há necessidade de que a mesma tenha uma

determinada qualidade. A água para beber, por exemplo, deve obedecer a critérios

mais rígidos do que a utilização na recreação ou para fins paisagísticos. A

qualidade desejável para a água usada na irrigação varia em função dos tipos

de culturas onde será aplicada. Culturas alimentícias, por exemplo, exigem uma

qualidade de água superior à de culturas não-alimentícias. O mesmo acontece

com a água destinada às indústrias, cujas características dependem dos tipos

de processamentos e produtos das fábricas.

Alguns usos provocam alterações nas características da água, tornando-

a impróprias para outras finalidades. A recreação pode modificar a qualidade da

água, prejudicando o abastecimento humano. A irrigação, com o uso de

fertilizantes e pesticidas, pode provocar a poluição de mananciais, causando

prejuízos a outros usos. A água utilizada para diluir despejos, mesmo tratados,

torna-se imprópria para consumo humano e para outros fins.

Irrigação 199
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

Observa-se que há necessidade do manejo adequado dos recursos


hídricos, compatibilizando-se os seus diversos usos de forma a garantir a água

na qualidade e na quantidade desejáveis aos seus diversos fins. Este é um dos


grandes desafios da humanidade: saber aproveitar os seus recursos hídricos de

forma a garantir os seus múltiplos usos hoje e sempre.

Em algumas regiões, há água em abundância, suficiente para suprir as

necessidades da população e para diluir os resíduos líquidos resultantes dos

diversos usos. Em outras, com características áridas ou sem i-áridas, há escassez

de água, muitas vezes até para fins mais nobres, como o abastecimento humano.

No Brasil, por exemplo, na região árida e sem i-árida do Nordeste, em

períodos longos de estiagem, a população de algumas áreas é, muitas vezes,


obrigada a percorrer grandes distâncias para apanhar água que, freqüentemente,

é de péssima qualidade. Nessas regiões devido ao baixo índice pluviométrico e

intensa evapotranspiração, o processo de salinização do solo tende a aumentar

gradativamente com as irrigações sucessivas, a menos que as condições de

drenagem permitam a remoção dos sais. Nestas zonas, a aplicação da água em

excesso em áreas com drenagem ineficiente, conduz os sais contidos na água e

no perfil do solo até o lençol freático, proporcionando sua elevação. Nestas

condições, a água pode retomar a superfície por capilaridade, sofre o processo

de evaporação e, em conseqüência, aumentar a concentração de sais.

Em outras regiões do país, onde há relativa abundância de água, os

problemas de poluição são graves, resultantes da urbanização, industrialização,

mineração, irrigação e outras atividades, havendo, muitas vezes, dificuldade de

200 Irrigação
Qualidade da água

se obter água na qualidade adequada para determinados usos. Com isso, torna-

se necessária a implantação de processos de tratamento mais rigorosos, e isso


será refletido no custo da água fornecida.

Constata-se assim que no manejo dos recursos hídricos é importante

considerar-se os aspectos de qualidade e quantidade de água. Os múltiplos

usos desse líquido devem ocorrer de forma equilibrada, considerando as sua

disponibilidades e a capacidade dos mananciais de diluir e depurar recursos

líquidos.

2 - PRINCIPAIS CARACTERíSTICAS DOS MANANCIAIS

Como a irrigação é uma forma de uso consuntivo, torna-se de grande


importância conhecer as características qualitativas e quantitativas do manancial

de onde se vai captar água para a irrigação. Assim apresenta-se a seguir algumas

das principais características.

As águas utilizadas para consumo, em geral, são provenientes dos

seguintes tipos de mananciais: poços, rios ou lagos Branco (1978).

Poços

Os poços, especialmente os denominados poços artesianos, (isto é,

poços geralmente de grande profundidade e cujo nível d'água se eleva acima do

nível natural do lençol freático), constituem, freqüentemente, importantes fontes


de água, dada a quase completa ausência de microorganismos em suas águas.

Essa ausência decorre, principalmente, da pobreza em substâncias orgânicas,-

Irrigação 201
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

o que constitui, por si, um obstáculo ao desenvolvimento de organismos

heterotróficos,- e a ausência de luz, sem a qual não podem viver algas e outros

seres fotossintetizantes. Assim mesmo, estão freqüentemente sujeitos a

interferências, por vezes graves, causadas por bactérias quimiossintetizantes

que oxidam ferro e manganês.

Rios

Constituem um ambiente ecológico caracterizado, especialmente, pela

presença de correnteza. Além disso, não chegam, em condições naturais (a não

ser excepcionalmente), a possuir concentrações tão elevadas de substâncias

nutritivas quanto os lagos, que têm possibilidade de concentrá-Ias. Por outro

lado, são especialmente suscetíveis às influências do meio e, por essa razão,

apresentam características muito variáveis tanto qualitativas como quantitativas.

Os rios podem ser classificados, ecologicamente, por diferentes critérios, de

acordo com vários fatores, os principais deles de interesse para a irrigação são:

a Natureza da fonte e a relação entre velocidade de escoamento, tamanho e

declividade.

As fontes que podem dar origem a um rio são: glaciários, fusão da neve,

nascentes e drenagem direta das chuvas. Em nosso clima, somente podem ser

encontrados os dois últimos tipos e, destes, o rio de nascentes é o que se reveste

de maior importância, como fonte perene de água. Muitos dos rios formados por

drenagem de chuvas, bastante comuns e volumosos, em certas áreas do Brasil,

têm duração efêmera, exigindo, portanto a construção de barragens e açudes

para sua regularização quanto a disponibilidade de vazão. Esses rios também

apresentam grande variação qualitativa durante certas épocas do ano

202 Irrigação
Qualidade da água

especialmente com relação a concentração de material sólido em suspensão

decorrentes de drenagem de águas de chuva.

São três fatores intimamente relacionados. O tamanho do rio e sua


declividade determinam a velocidade de sua corrente tornando um importante

fato qualitativo uma vez que determina seu potencial em diluição de contaminantes

e poluente, bem como a suspensão e sedimentação de material sólido. é


importante conhecer a velocidade de escoamento dos rios quando da instalação

de sistema de captação de água a fim de prevenir-se quanto a entrada de material

sólido no sistema de sucção. O Quadro 1 mostra o tipo característico do leito do

rio em função de sua velocidade.

Quadro 1 - Característica do leito do rio em função da velocidade

Velocidade (mls) Leito

1,2 rocha nua

O,6a 1,2 cascalho

0,3 a 0,6 pequena quantidade de siHe e pedregulho

0,2 arenoso e grande quantidade de siHe

O,2aO,12 essencialmente siltoso

< 0,12 lodo (rico em mal. orgânica)

Lagos

Os lagos caracterizam-se, em geral, por uma maior estabilidade quanto

às suas propriedades físicas. Os efeitos devidos à presença de correnteza são

geralmente muito diminuídos, a sedimentação do lodo no fundo é maior, assim

como também a superfície de evaporação. Do ponto de vista geológico, isto é,

considerando-se lapsos de tempo relativamente grandes, um lago é sempre uma

formação transitória, tendendo a desaparecer pela deposição de sedimentos no

Irrigação 203
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

fundo e pela invasão de vegetação a partir das margens à medida que sua
profundidade diminui. Assim deve-se levar em conta este aspecto quando da

escolha de um lago para retirada de água sabendo que a disponibilidade de

água, com o tempo, pode ser reduzida.

Os lagos podem ter origem natural, devida a fenômenos vulcânicos,

tectônicos, etc., ou ainda ser construídos por mãos humanas através da

intercessão de um rio por barragem de terra ou de concreto. Do ponto de vista

ecológico ou sanitário não pode ser feita distinção entre lagos artificiais e naturais,

a não ser quanto à idade do lago, que poderá ter influência na estabilização de

suas características físicas e químicas. Além de suas características qualitativas

a temperatura dos lagos influencia na escolha deste manancial em função da

sua relação direta com a circulação.

A distribuição do calor em um lago não é uniforme. A existência do

fenômeno da estratificação térmica faz com que se reconheçam, nos lagos,

camadas diferentes quanto às sua características físicas e mesmo químicas

durante certos períodos do ano. Assim, por exemplo, podemos reconhecer, em

certas épocas, uma camada superficial, com temperatura relativamente uniforme

(epilímnio), uma camada intermediária (metalímnio) na qual se pode notar uma

brusca queda de temperatura, e uma camada profunda (hipolímnio), em que as

variações voltam a ser moderadas. As variações de temperatura na água de um

lago está intimamente relacionada ao fenômeno da circulação que pode acarretar

problemas desde a velocidade de degradação de poluentes até a suspensão de

material sedimentado.

204 Irrigação
Qualidade da água

Evidentemente, esses fenômenos de grande circulação e de circulação


parcial variam tanto em freqüência quanto em intensidade, de um lago para
outro ou de uma para outra região do globo terrestre, de acordo com as

características morfológicas (profundidade, etc.) do lago ou com as variações

de clima do local considerado. Pode-se, pois, distinguir, quanto às características

térmicas, os seguintes tipos de lagos:

LAGOS TROPICAIS - A temperatura das águas superficiais se apresenta

sempre elevada, e situa-se entre os 20° e 30°C com pequenas variações anuais

e pequeno gradiente térmico a qualquer profundidade, embora o gradiente de

densidade possa ser suficiente para condicionar uma estabilidade de

estratificação perfeita. A circulação total, em geral, somente se verifica nas épocas

mais frias do ano e é irregular.


LAGOS SUBTROPICAIS - A temperatura de superfície nunca é menor

que 4°C. A variação anual é grande, como também o gradiente térmico. Períodos

de circulação idênticos aos dos lagos temperados, porém sem estratificação

inversa.
LAGOS TEMPERADOS - Com temperatura superficial inferior a 4°C no

verão. Gradiente térmico grande, variação anual grande, com dois períodos de

circulação total, um na primavera e outro no fim do outono.

3 - AMOSTRAGEM DA ÁGUA PARA ANÁLISE

A amostragem da água a ser submetida ás análises de laboratório,

constitui um importante aspecto a ser considerado, devendo-se obter uma

amostra a mais representativa possível.

Irrigação 205
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

Os estudos da qualidade da água, são de interesse de várias áreas do


conhecimento. As finalidades de tais estudos são diversificadas como: uso

industrial, uso doméstico, irrigação, piscicultura, etc. Para cada situação em

particular, pode haver procedimentos e recomendações específicas em relação

à amostragem. Em geral, os cuidados com a amostragem estão relacionadas


com o local, a freqüência da amostragem, quantidade e a obtenção de amostras

representativas. Evidentemente, isto vai depender de vários fatores como: objetivo

das análises, custos, homogeneidade da fonte de água, precisão desejada,

variação temporal das características de qualidade da água, etc.

Na região Nordeste, para fins de irrigação, sugere-se a obtenção pelo

menos duas amostras no período que vai de agosto ao início das chuvas. Estas

sugestão baseia-se no fato de que as perdas por evapotranspiração aumentam

nesse período, aumentando conseqüentemente a concentração salina da água

e do solo, resultando em efeitos prejudiciais as plantas cultivadas sob condições

de irrigação.

Para fins de irrigação, de conformidade com a fonte de água, são

recomendados os seguintes procedimentos:

a) Poços profundos - A amostragem deve ser feita após algum tempo de

funcionamento da bomba, podendo-se coletar a água próximo a superfície

líquida ou a qualquer profundidade. Para esta situação, não há nenhum

problema, pois, os poços em condições normais de funcionamento

apresentam uma situação praticamente de equilíbrio entre as recargas e

as descargas.
b) Pequenos reservatórios - A água é praticamente homogênea, podendo-se

206 Irrigação
Qualidade da água

coletar a água na saída do reservatório.


c) Grandes reservatórios - Nesse caso, pode ocorrer uma variação vertical

na qualidade da água. Recomenda-se a amostragem em diversas

profundidades e em locais distintos.

d) Rios e córregos - A amostragem deve ser feita semanalmente ou

mensalmente, devendo-se caracterizar o fluxo de água no momento da

coleta. Deve-se obter a amostra da água em movimento.

4 - PARÂMETROS FíSICOS, QUíMICOS E BIOLÓGICOS DE QUALIDADE DA


ÁGUA

4.1 - Considerações gerais

Numa primeira análise pode parecer que a água utilizada para

irrigação pode ter uma qualidade física química e biológica pior do que aquela a
ser usada para abastecimento público. Essa concepção permaneceu por um

longo tempo em que a preocupação da qualidade da água para irrigação se

restringia a parâmetros que pudessem afetar o bom desenvolvimento da cultura

irrigada ou o solo, tais como: cloretos, sódio, boro e bicarbonatos em

concentrações consideradas tóxicas para cada cultura, ou níveis de salinidade

que pudessem alterar negativamente a estrutura do solo.

Na verdade, são vários os fatores que determinam a qualidade da água

para irrigação. No entanto, alguns fatores são considerados mais importantes

do que outros, em função de seus efeitos no solo e na planta.

Irrigação 207
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

Vários autores (Wilcox, 1955; Allison, 1964; Hainberg & Oster, 1978),

apontam quatro características básicas determinantes da qualidade da água


para irrigação: concentração total de sais solúveis, concentração relativa do sódio

em relação a outros cátions, concentração de ions fitotóxicos e concentração

de carbonatos e bicarbonatos em relação a concentração de cálcio e magnésio.

Os aspectos sanitários, bem como as propriedades corrosivas e

incrustantes da água, são também fatores importantes a se considerar quanto

a qualidade da água para fins de irrigação. A presença de agentes patogênicos

e parasitários podem prejudicar a saúde do operador dos sistemas de irrigação

ou, contaminar os produtos agrícolas, causando risco de doenças aos

consumidores. As águas corrosivas apresentam a tendência de corroer

quimicamente os canos de distribuição de água, os rotares da bomba, os orifícios

dos aspersores. Já as águas incrustantes, apresentam a propriedade de

depositar materiais nos canos e equipamentos usados nos sistemas de irrigação,

podendo causar entupimento nos mesmos.

Com difusão da irrigação localizada outros parâmetros faram introduzidos

na análise da qualidade da água com a preocupação de evitar ou minimizar a

obstrução dos gotejadores e emissores empregados neste método de irrigação

que na grande maioria das vezes possuem orifícios de pequenas dimensões e a

obstrução, mesmo que parcial, de um dos gotejadores de uma linha de irrigação

pode comprometer significativamente a uniformidade de distribuição de água às

culturas. Nakayama (1982), propôs uma classificação para água para irrigação
localizada considerando os riscos de obstrução de gotejadores por substâncias

presentes na água de origem física, química e biológica, conforme mostra o Quadro

208 Irrigação
Qualidade da água

2 e recomenda o emprego de sistemas de filtração para remoção dessas

substâncias.
Quadro 2 -Risco potencial de obturações segundo qualidade da água de irrigação
Tipo de problema
I Risco

I Baixo
I Médio Alto

Flsico

suspendo <50
Sólidos em (ppm)
I I 50.100 >100

Qufrnico

pH < 7,0 7.0. B,O > B,O


Sólidos dissolvidos (ppm) < 500 500 a 2.000 > 2.000

Mn (ppm) <0,1 0,1.1,5 > 1,5

F. (ppm) <0,1 0,1 a 1,5 > 1.5


SH,(ppm) < 0,5 0,5.2,0 > 2,0

Biológico
Bactérias (nO máx.lml) < 10.000 10.000 a 50.000 > 50.000

Atualmente, com a tendência cada vez maior do uso de águas residuárias

para irrigação e a deterioração crescente da qualidade da águas dos mananciais,

mesmo na zona rural, parâmetros bacteriológicos mais rigorosos devem ser

introduzidos no controle da qualidade da água de irrigação com o objetivo de

assegurar um produto cultivado de boa qualidade sanitária protegendo a saúde

da população que o consumir. Assim, a Resolução CONAMA n° 20 de 1986,

recomenda que água destinada a irrigação de hortaliças e frutas rente ao solo e


consumidas in natura, seja pertencente a Classe 1 a qual "não deve ser poluída

por excrementos humanos, ressaltando-se a necessidade de inspeções sanitárias

periódicas", o que subentende-se ausência de coliformes totais e fecais e

consequentemente a necessidade de tratamento da água através de técnicas

de desinfecção.

A seguir são apresentadas as principais características de alguns dos

parâmetros de controle de qualidade da água de maior interesse para a irrigação,


face às considerações expostas anteriormente.

Irrigação 209
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

3.2 - Parâmetros Físicos:

Temperatura

É a medida da quantidade de calor de um sistema. Através da absorção


e espalhamento da luz solar na água, a energia dessa radiação diminui,
transformando-se em calor. Este processo é influenciado pela estrutura molecular
da água, pela presença de partículas em suspensão e, especialmente, por
compostos orgânicos dissolvidos. Essas propriedades óticas são dinâmicas,
mudando sazonalmente e de forma distinta para os ecossistemas de águas
interiores.

A temperatura atua em muitos equilíbrios físicos e químicos, sendo um


importante fator ecológico, tanto pela influência direta que pode exercer sob os
vários tipos de organismos como pela relação existente entre a mesma e o teor
de gases dissolvidos. Assim, as variações de temperatura influenciam as
concentrações de 02 e CO2 da água, o teor de carbonato e os valores de pH.

Em águas de reservatórios, as mudanças bruscas de temperatura podem


causar efeitos deletérios à biota e alterar as características químicas da água.

Segundo o Krug (1980), as modificações de temperatura podem


prejudicar as operações de tratamento de águas brutas, seja pelo aumento da
velocidade de reações químicas, pela alteração do regime hidráulico dos
decantadores, pelos processos de filtração, entre outros.

Para a vida aquática, sabe-se que uma elevação de temperatura leva a

210 Irrigação
Qualidade da água

uma diminuição nas concentrações de oxigênio dissolvido, a uma maiortoxicidade


de certas substâncias e a um aumento no metabolismo dos organismos.

Turbidez

A turbidez em águas é causada pela presença de matéria orgânica e

inorgânica em suspensão, como argila, silte, carbonatos, plânctons e outros

animais que dificultam a penetração da luz.

É um dos parâmetros de controle de qualidade de água mais usados em

sistemas de tratamento de água devido a sua rápida e fácil determinação com

resultados bastante confiáveis e precisos.

Para que a água seja utilizada tanto na indústria como para o consumo

doméstico, há necessidade de se eliminar esta característica nas estações de


tratamento. Muitos organismos aquáticos, especialmente os filtradores, não

podem tolerar apreciáveis concentrações de material particulado inorgânico. Além


disso, essa característica é prejudicial para a vida aquática por promover uma

diminuição na fotossíntese, como conseqüente abaixamento da temperatura no

fundo de águas túrbidas.

Na irrigação localizada pode ser um parâmetros comprometedor, uma

vez que indica a concentração de partículas sólidas em suspensão que podem

obstruir os gotejadores, além de diminuir a eficiência de processos de desinfecção.

A turbidez da água é normalmente reduzida através da filtração.

Irrigação 211
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

Cor
A cor da água pode ser classificada como verdadeira, (quando é devida

à matéria dissolvida), e aparente, (quando da presença de materiais em


suspensão). Na maioria dos casos, observa-se nas águas naturais a cor aparente.

Um bom exemplo é a cor marrom das águas que drenam material humificado,

havendo inclusive uma correlação positiva entre este tipo de coloração e a

concentração de carbono orgânico dissolvido. Colorações azul-esverdeadas,

marrons e vermelhas podem ser observadas conforme a densidade populacional

de algas e bactérias, podendo ser um indício do fenômeno de eutroficação.

A cor aparente pode ser reduzida através de processos físicos como

filtração porém a cor verdadeira é mais difícil de ser removida e requer tratamento

mais complexo com coagulação química e osmose reversa.

Sólidos totais

Este parâmetros refere-se a quantidade de material que está em

suspensão na água. Os sólidos totais podem ser subdivididos em sólidos

dissolvidos (não filtráveis) e sólidos em suspensão (filtráveis).

Altas concentrações desses compostos podem tornar uma água imprópria

para uso doméstico e industrial, devido a seus efeitos estéticos, fisiológicos e

econômicos. Sais minerais como sulfatos e cloretos estão associados a processos

de corrosão, que podem danificar os sistemas de distribuição de água. Com

relação à produção de sabor, estudos indicam que limites um pouco acima de

500 mg/I são tolerados nas águas de abastecimento.

212 Irrigação
Qualidade da água

Com relação à vida aquática, o efeito dos sólidos dissolvidos totais é

semelhante ao efeito causado pela turbidez, e os sólidos orgânicos podem causar

uma diminuição na concentração de oxigênio dissolvido.


Embora este parâmetro, assim como a turbidez, não indiquem nada de

qualitativo da composição do material analisado, eles são largamente empregados

em laboratórios de análises de água.

Este parâmetro torna-se muito importante quando se emprega se emprega

métodos de irrigação localizada, seja por gotejadores ou microaspersores. Esses

emissores são extremamente sensíveis à presença de partículas sólidas

presentes na água e obstruem-se facilmente comprometendo a uniformidade de

distribuição de água às plantas.

3.3 - Parâmetros químicos

pH
o potencial hidrogeniônico (pH) é uma medida importante na análise de

água para irrigação por está intimamente relacionado com a concentração de

outras substâncias presentes na água. Assim, por exemplo, uma água que

apresenta pH acima de 8,3 contém altas concentrações de sódio, carbonatos e

bicarbonatos, podendo tornar-se inadequada para irrigação. A concentração

elevada desses íons na água, com a sua aplicação no solo, haverá influência no

processo de intercâmbio de cátions da superfície da fase sólida do solo em

direção a solução do solo e vice-versa.

Assim, por exemplo, a alta concentração de íons bicarbonato na água

de irrigação, favorece a precipitação de cálcio e magnésio, aumentando a

Irrigação 213
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

concentração de sódio na solução do solo. Um pH de 7,5 a 8,0 mostra geralmente


a presença de carbonatos de cálcio e magnésio.

Segundo Fireman e Waldleigh citada por Richards (1954), há uma

correlação significativa entre o pH e a porcentagem de sódio intercambiável no

solo. Pelos estudos desenvolvidos, evidenciaram que valores de pH igualou

superior a 8,5 indicam quase sempre uma porcentagem de sódio '1tercambiável

(PSI) igualou superior a 15 e a presença de carbonatos de metais alcalino-

terrosos. Valores de pH entre 7,5 e 8,5 a PSI pode ou não ser superior a 15; pH

menor que 7,5 indicam, em geral, a ausência de carbonatos e pH abaixo de 7

significa a presença de quantidades consideráveis de hidrogênio.

As águas de irrigação com pH inferior a 7 tornam-se corrosivas, enquanto

valores de pH acima de 7 favorecem a incrustação de materiais nas tubulações

e equipamentos de irrigação. Assim, nesses casos, a fim de verificar melhor os


efeitos corrosivos e incrustantes da água, outros fatores além do pH devem ser

considerados (oxigênio dissolvido, gás sulfídrico, sólido totais dissolvidos, c1oretos,

ferro, dureza total, etc.).

Os valores de pH da água de irrigação estão normalmente entre 6,5 e

8,4 (Ayers 1977). Valores fora destes limites indicam que pode haver problemas

na qualidade da água, recomendado-se uma análise mais detalhada dos

parâmetros que definem sua qualidade.

Além da concentração hidrogeniônica na água, em si mesma, poder

causar efeitos adversos para os mais variados fins, o valor do pH pode ser

214 Irrigação
Qualidade da água

considerado com uma medida do potencial de poluição da água. Variações

acentuadas de pH, por exemplo, provocam grande mortalidade dos peixes. Em


geral, os peixes adaptam-se a um pH em torno de 7 com variações de mais ou

menos 2 Essa amplitude de variação, no entanto, dentro da qual os peixes podem

sobreviver, vai depender de outros fatores como temperatura, oxigênio dissolvido,

concentração de determinados cátions e ânions.

A concentração hidrogeniônica exerce influência no grau de dissociação

de várias outras substâncias presentes na água.

Segundo Mckee & Wolf (1971), a forma não dissociada dos composto é,

freqüentemente, mais tóxica do que na forma iônica, podendo o pH, nestas

condições, torna-se altamente significativo na determinação dos limites perigosos

de concentração.

Condutividade elétrica e sais solúveis


A medida da salinidade em termos de condutividade elétrica, se baseia

na seguinte propriedade:
"Quando maior a concentração de sais em uma solução melhor será a

condução da corrente elétrica".

Considerando um condutor elétrico de comprimento "L" e seção

transversal "S", sua resistência elétrica será dada por:

R = P.(US)
O fator "P" é denominado de resistividade elétrica. O valor de "P" depende

Irrigação 215
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

da natureza do condutor e não de sua forma e dimensões.

Quanto maior o valor de "P" de um certo material pior será suas


propriedades condutores de eletricidade.

A unidade de resistividade elétrica do condutor é dada em Ohm vezes

unidades de comprimento.

A inversa de "P" chama-se condutividade elétrica (CE). Assim, a equação

pode ser expressa da seguinte forma:

CE = 1/P = (1/R) x (1/S)

Quanto maior o valor da CE de um material, melhor ele conduz a corrente

elétrica. No caso de soluções salinas, valores elevados de CE indicam

concentrações salinas também elevadas.

A unidade de CE é a inversa da resistividade elétrica, sendo expressa

em mho/cm.
Como esta unidade é muito grande, na prática se utilizam submúltiplos

como:
Milimhos/cm = 10.3 mho/cm
Micromhos/cm = 10-6mho/cm

A unidade de condutividade elétrica adotada pelo sistema internacional

de unidade é o siemens/metro (SIm), definida como sendo a condutividade de

um material homogêneo e isotrópico cuja resistividade é de 1 ohm.m .. Como o

SIm é uma unidade elevada, utiliza-se como submúltiplo o decisiemens/m (dSI

m), cuja grandeza equivale a 1 milimho/cm. Uma condutividade de 1 dS/m equivale


a um valor médio de sólidos dissolvidos totais de 640 ppm (mg/L).

216 Irrigação
Qualidade da água

Como a CE é uma medida da carga iônica da amostra, há uma relação


entre este parâmetro e sólido totais dissolvidos (STD).Esta relação é expressa

pela seguinte equação:

STD = K.CE

Onde:

STD = Sólidos Totais Dissolvidos (ppm)

K = Valor que tem varado entre 0,5 e 1, média de 0,64.

CE = Condutividade elétrica da em micromhos/cm à 250C


Os valores apresentados no Quadro 3 dão uma idéia da magnitude da

condutividade elétrica da água em micromhos/cm Pa 250C.

Quadro 3 - Classificação da água em função da ce

Agua CE a 25°C (Micromhos/cm)


Pura Aproximadamente O (zero)

Chuva Média de 10 a 15
Sanidade média 750 a 2250

A medida da CE é feita através de uma ponte de condutividade elétrica


provida de uma "célula" de imersão, contendo dois eletrodos de condutividade,

revestidos de platina ou aço inoxidável de 1 cm. A superfície dos eletrodos é de

aproximadamente 1 crn-.

Os aparelhos de medida - Condutivímetros - apresentam uma correção


de célula para o caso de células cujos eletrodos não apresentam superfície exata

de 1 em".

Irrigação 217
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

A classificação da água de irrigação quanto a salinidade é feita levando-


se em consideração o conjunto de fatores determinantes da sua qualidade,

relacionados com seus efeitos no solo, nas culturas e no manejo da irrigação


(Chrisriansen, 1977).

Em geral as água de irrigação são classificada em função de quatro

fatores básicos, quais sejam: concentração total de sais solúveis; concentração

relativa de sódio em relação a outros cátions; concentração de íons fitóxicos e

concentração de carbonatos e bicarbonatos.

Tem sido proposto por vários autores diferentes esquemas de

interpretação e classificação sobre a qualidade da água para irrigação. Dentre

eles, destacam-se os esquemas propostos por Scofield (1936); Wilcox (1948);

Richards (1954); Thorne & Peterson (1954) Ayres & Branson (1977).

A classificação por Scofield (1936), estabelece os limites permissíveis

para diferente classes de água para irrigação, considerando os seguintes fatores:


salinidade total, porcentagem de sódio, cloretos e sulfatos (Quadro 4).

Quadro 4 -Limites permissíveis para classes de água para irrigação (scofield, 1936)

Sólidos totais solúveis Sódio Cloretos Sulfatos Classe de água


CE (micromhos/cm) ppm (%) (meq/L) (meq/L)

< 250 < 175 < 20 <4 <4 Excelente


250 -750 175 - 525 20-40 4-7 4-7 Boa
750-2000 525 - 1400 40-60 7 -12 7 -12 Perrnisslvel

2000 - 3000 1400 - 2100 60 -80 12 -20 12 -20 Duvidosa


>3000 > 2100 > 80 > 20 > 20 Imprópria

218 Irrigação
Qualidade da água

a) Quando ao perigo de salinização de solo

As águas são divididas em quatro classes, em função da concentração


total de sais solúveis, expressa pela condutividade elétrica (CE):

Classe C1 - Água com salinidade baixa (CE entre Oe 250micromhos/cm

a 25°C) Pode ser usada na irrigação da maioria das culturas e na maioria dos

solos, com pouca possibilidade de ocasionar salinidade ou decréscimo na

produção. Alguma lixiviação pode ser necessária, porém isso ocorre nas práticas

normais de irrigação, à exceção dos solos com permeabilidade extremamente

baixas.

Classe C2 - Água com média salinidade (CE entre 250 e 750micromhosl

cm a 25°C). Pode ser usada sempre que houver um grau moderado de lixivação.

Plantas com moderada tolerância aos sais podem ser cultivadas, na maioria dos
casos, sem práticas especiais de controle de salinidade.

Classe C3 - Água com salinidade alta(CE entre 750 e 2250micromhosl

cm a 25°C. Não é recomendável seu uso em solos com drenagem deficiente.

Seu uso mesmo em solos com drenagem adequada requer práticas especiais

de controle de salinidade. Recomenda-se uso somente na irrigação de plantas


com boa tolerância aos sais.

Classe C4 - Água com salinidade muita alta (CE entre 2250 e

5000micromhos/cm). Não é apropriada para irrigação em condições normais,

porém pode ser usada ocasionalmente, em circunstâncias muito especiais em

solos muito permeáveis e de boa drenagem e em plantas altamente tolerantes

aos sais. Ao se usada em tais condições, é recomendável a aplicação da água

em excesso nas irrigações, para promover a lixiviação dos sais.

Irrigação 219
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

b) Quanto ao perigo de sodificação ou alcalinização

As águas são divididas em quatro classes, em função da acumulação


de sódio expressa através da Relação de Adsorção de Sódio(RAS) e,

consequentemente, seus efeitos nas propriedades físicas do solo:

Classe S1 - Água com baixa concentração de sódio. Pode ser usada

para irrigação em quase todos os tipos de solos, com pouca possibilidade de

alcançar níveis perigosos de sódio trocável.

Classe S2 - Água com concentração média de sódio. Só pode ser usada

em solos de textura grossa ou em solos orgânicos com boa permeabilidade.

Sob condições restritas de Iixiviação, apresenta um perigo considerável de

sodificação(solos de textura fina com baixa capacidade de troca catiônica).

Classe S3 - Água com alta concentração de sódio. Pode produzir níveis


críticos de sódio trocável na maioria dos solos. Seu uso requer práticas especiais

de manejo do solo, boa drenagem, alta Iixiviação e adição de matéria orgânica.

Em solos com muito gesso, pode não desenvolver níveis prejudiciais de sódio
trocável. Pode requerer o uso de corretivos químicos para substituição do sódio

trocável, exceto no caso de apresentar salinidade muito elevada.

Classe S4 - Água com concentração muita alta de sódio. Geralmente é

imprópria para irrigação, ser usada ocasionalmente em solos bem drenadas ou

com o uso de gesso. Pode ser usada em alguns casos onde a concentração de

cálcio no solo ou o uso de determinados corretivos químicos torne seu uso viável.

A seguir apresenta-se um exemplo de cálculo da salinidade a fim de


mostrar a importância deste parâmetro de qualidade de água de irrigação,

principalmente nas regiões do Nordeste brasileiro.

220 Irrigação
Qualidade da água

Exemplo:

Para a cultura do melão, com um ciclo de 80 dias, evapotranspiração média no


período de 8 mm/dia e eficiência de irrigação de 90 %. Qualidade da água

0,07mmhos/cm (C1S1 - água do Rio São Francisco). Calcular a quantidade de

sais depositada no solo nesse período.

Solução:

CÁLCULO DA QUANTIDADE DE ÁGUA

8 mm x 80DIAS = 6400m /ha 3

Como a eficiência da irrigação é 90% temos que aplicar:

6400/0,9 = 6740m3/ha

CÁLCULO DA QUANTIDADE DE SAL

0,07 mmhos/cm

mg/L = CE (mmhos/cm) x 640


mg/L = 0,07 x 640 = 44,8mg/L
DIVIDINDO POR 1000 TEMOS:

44,8/1000 = 0,0448 g/L


TEMOS QUE APLICAR 6740m3/ha

MULTIPLICANDO POR 1000 TEMOS:

6740m3/ha x 1000 = 6740000 Uha

1L 0,0448 9 DE SAL

67400000 X 9 DE SAL

X = 301952 9 DE SAL

Irrigação 221
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

DIVIDINDO POR 1000


X = 301952/1000 = 301,9 kg DE SAL
SE A QUALIDADE DA ÁGUA FOR: 0,86mmhos/cm (C3S1)
8 mm X 80 DIAS = 6400m3/ha
Como a eficiência da irrigação é 90% temos que aplicar:

6400/0,9 = 6740m /ha3

CÁLCULO DA QUANTIDADE DE SAL


0,86 mmhos/cm
mg/L = CE (mmhos/cm) x 640
mg/L = 0,86 x 640 = 550,4 mg/L

DIVIDINDO POR 1000 TEMOS:


550,4 /1000 = 0,55 g/L

TEMOS QUE APLICAR 6740m3/ha

MULTIPLICANDO POR 1000 TEMOS:

6740m3/ha x 1000 = 6740000 Uha


1L 0,55 9 DE SAL
67400000 X 9 DE SAL
X = 3709696 9 DE SAL
DIVIDINDO POR 1000
X = 3709696/1000 = 3709,69 kg DE SAUha

Um outro fator a se considerar é a variação da condutividade com a

temperatura. Para padronizar as medidas, tem-se convencionado expressar a

condutividade à 25°C. Assim, a medida da CE a uma dada temperatura (PC)


deve ser multiplicada por um fator, a fim de ser transformada na correspondente

a 25°C. Atualmente existem muitos condutivímetros dotados de mecanismos de

compensação de temperatura.

222 Irrigação
Qualidade da água

A maioria das águas para irrigação apresentam CE inferior a 2.250


micromhos/cm à 25°C. Ocasionalmente se usam águas de maior condutividade,

porém as colheitas obtidas não tem sido satisfatórias (Richards, 1954).

A condutividade elétrica de uma solução tem uma relação direta com a

solubilidade dos sais presentes. Todos os sais solúveis podem constituir soluções

de altíssima CE - soluções salinas muito concentradas resultando maior efeito

prejudicial aos cultivos. Por outro lado, os sais pouco solúveis resultam valores

baixos da CE. Estes sais precipitam antes de alcançar teores prejudicais.

Os valores de CE são obtidos dividindo-se a solubilidade em meq/L por

12. Observa-se que o carbonato de sódio por ser o mais solúvel, apresenta o

máximo valor da CE (693 micromhos/cm).

No caso do gesso (sulfato de cálcio) a CE máxima é de 2,5 milimhos/


cm. Como a uma concentração de 2,04 g/L o gesso precipita-se, nunca a

condutividade elétrica da solução superará 2,5 milimhos/cm.

Os principais cátions e ânions presentes na água de irrigação são: cálcio,

magnésio, sódio, pequenas quantidades de potássio, carbonatos, bicarbonatos,

sulfatos, cloretos e pequenas quantidade de nitratos e f1uoretos.

Quantidades consideráveis de sódio no solo pode produzir efeitos

adversos sobre o crescimento das plantas devido as modificações estruturais


do solo, dado o efeito dispersantes deste elemento. A estrutura do solo -

ordenações espacial das partículas do solo - pode ser alterada em diferentes

Irrigação 223
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

graus de intensidade, dificultando a infiltração da água no solo e impedindo o


processo de intercâmbio dos gases entre a atmosfera e o perfil do solo (aeração

deficiente) e diminuindo a disponibilidade de água (Allison, 1964; Guruovich,


1985).

o teor de sódio presente na água de irrigação em relação a outros cátions

bivalentes, é utilizada como indicador de seu perigo na sodificaç'to do solo. Tal

perigo pode ser caracterizado pelas concentrações absolutas e relativas do teor

de sódio em relação aos outros cátions presentes na água. Se o sódio é o cátion

predominante o perigo de sodificação é alto, ao contrário, do que acontece se

predominam os cátions cálcio e magnésio.

A concentração relativa de sódio em relação a outros cátions pode ser


expressa das seguintes formas: a) porcentagem de sódio em relação a outros

cátions; b) relação de adsorção de sódio (RAS) e c) relação de adsorção de

sódio ajustada (RASaD.

a) Porcentagem de sódio em relação a outros cátions

A porcentagem de sódio durante muito tempo foi utilizada para definir o

perigo de sodificação da água no solo. Sua obtenção é feita através da seguinte

expressão:

Para considerar o efeito da precipitação dos cátions cálcio e magnésio

224 Irrigação
Qualidade da água

em forma de carbonatos Teisseter (1988), propõe calcular a porcentagem de


sódio possível subtraindo do denominador da equação citada anteriormente a

concentração de carbonatos mais bicarbonatos. Isto só é possível quando o


somatório de carbonatos e bicarbonatos não superar a concentração de cálcio

mais magnésio.

b) Relação de adsorção de sódio (RAS)

Os constituintes catiônicos de uma água de irrigação tem uma importante

relação com as propriedade físicas e químicas do solo. Há um processo de

intercâmbio catiônico entre as argilas do solo e os íons dissolvidos presentes na


água infiltrada no seu perfil. Assim, para considerar o grau provável em que o

solo adsorverá o sódio da água, assim como a velocidade em que tal adsorção
ocorre ao se aplicar a água, determina-se um índice conhecido como Relação

da Adsorção de Sódio (RAS), expresso através da equação:

Em termos práticos, o valor da RAS da água aumenta no solo em

conseqüência do aumento da concentração total de sais e da possível

precipitação dos teores de cálcio e magnésio a medida que diminui o conteúdo

de umidade a ser extraído pelas plantas e perdido por evaporação superficial. Por

conta disso, a porcentagem de sódio intemcambiável (PSI) pode resultar em valores

mais altos do que aqueles estimados através da RAS da água (Guruovich, 1985).

A relação ente PSI e a RAS pode ser calculada pela seguinte equação empírica:

Irrigação 225
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

PSI = [100(-0,0126 + 0,01475RAS)]/[1 + (-0,0126 + 0,01475RAS)]

Como o perigo de sodificação depende ao mesmo tempo da concentração

relativa de sódio em relação aos outros cátions e da concentração total de sais

presentes na água, não é convenientes o estabelecimento de valores críticos da

RAS de forma independente. Assim, posteriormente, ao se estudar a classificação

da água para irrigação estes fatores são tratados em conjunto.

c) Relação de adsorção de sódio ajustadas (RASaj.)

Para considerar os efeitos dos íons carbonatos e bicarbonatos contidos

na água, a equação da RAS foi modificada através da introdução do parâmetro

pHc (Ayers & Westcot, 1976). O cálculo da nova relação denominada Relação

da Adsorção de Sódio Ajustada (RASaj.) determinada por:

RASaj. = {Na+[1 + (8,4 - pHc)]}/[(Ca++ + Mg++)/2]O,5

Onde o parâmetro pHc é calculado:


PHc = (pK - pKc) + p(Ca++ + Mg++) + pAlc

Os valores dos termos da equação anterior são obtidos em função dos

teores de cálcio, magnésio, sódio, carbonatos e bicarbonatos, no Quadro 5, da

seguinte forma:

(pK - pKc) obtém-se com a soma de (Ca" + Mg+++ Na")


p(Ca++ + Mg++)obtém-se com a soma de (Ca" + Mg++)

226 Irrigação
Qualidade da água

pAlc obtém-se com a soma (C03- + HC03-)


° pHc é o valor calculado do pH que avalia a tendência da água de
irrigação dissolver ou precipitar o cálcio do solo. Valores acima de 8,4 indicam a
tendência de dissolver óxido de cálcio, enquanto valores inferiores a 8,4 indica a

tendência da água precipitar o óxido de cálcio, favorecendo o acúmulo de sódio

no solo. Com isso, a permeabilidade do solo será afetado e, em conseqüência, a

dinâmica da água no solo.

Quadro 5- Cálculo dos valores de phc da água de irrigação

ICa + MQ+ Na} IpK - pKc} ICa+MQ} PICa + MQ} ICO,+ HCO,} pAlc
MeQ/L MeQ/L MeQ/L
0,5 2,11 0,05 4,60 0,05 4,30
0,7 2,12 0,10 4,30 0,10 4,00
0,9 2,13 0,15 4,12 0,15 3,82
1,2 2,14 0,20 4,00 0,20 3,70
1,6 2,15 0,25 3,90 0,25 3,60
1,9 2,16 0,32 3,80 0,31 3,51
2,4 2,17 0,39 3,70 0,40 3,40
2,8 2,18 0,50 3,60 0,50 3,30
3,3 2,19 0,63 3,50 0,63 3,20
3,9 2,20 0,79 3,40 0,79 3,10
4,5 2,21 1,00 3,30 0,99 3,00
5,1 2,22 1,25 3,20 1,25 2,90
5,8 2,23 1,58 3,10 1,57 2,80
6,6 2,24 1,98 3,00 1,98 2,70
7,4 2,25 2,49 2,90 2,49 2,60
8,3 2,26 3,14 2,80 3,13 2,50
9,2 2,27 3,90 2,70 4,00 2,40
11 2,28 4,97 2,60 5,00 2,30
13 2,30 6,30 2,50 6,30 2,20
15 2,32 7,90 2,40 7,90 2,10
18 2,34 10,00 2,30 9,90 2,00
22 2,36 12,50 2,20 12,50 1,90
25 2,38 15,80 2,10 15,70 1,80
29 2,40 19,80 2,00 19,80 1,70
34 2,42
39 2,44
45 2,46
51 2,48
59 2,50
67 2,52
76 254

Irrigação 227
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

Exemplo:
Calcular a Relação de adsorção de sódio Ajustada (RASaj.) de uma água que

apresentou:
Sódio = 4,0 meq/L
Cálcio + Magnésio = 1,2 meq/L

Carbonatos + Bicarbonatos = 2,5 meq/L

Solução
I) Cálculo do parâmetro pHc
Para (Ca + Mg + Na ) = 5,2meq/L ------- (pK-pKc) = 2,22

Para (Ca + Mg) = 1,2meq/L ----------Ip (Ca + Mg) = 3,22

Para (C03 + HCO) = 2,5 meq/L pA 1c = 2,60

Assim, o valor de pHc será:

PHc = 2,22+3,22+2,60=8,04

11) Cálculo da RASaj.


RASaj. = (1,2/2)1/2 (1 + (8,4-8,04)) = 7,023

Um valor desta magnitude indica que a água pode causar crescente problema

de permeabilidade.

Dureza
A dureza da água refere-se geralmente à concentração de cátions metálicos

divalentes Ca2+ e Mg2+. Esses cátions podem reagir com ânions presentes na água

e formar precipitados. A dureza da água pode ainda ser classificada de Dureza

carbonato e Dureza não carbonato dependendo do ânion a que está associada.

Classifica-se a água quanto a dureza de acordo com o Quadro 6 em função da

concentração de Carbonato de Cálcio (CaC03) VON SPERLlNG (1996).

228 Irrigação
Qualidade da água

Quadro 6 -Classificação da dureza da água

Classificação mg/L de Ca COl


Agua mole < 50

Dureza moderada entre 50 e 150

Agua dura entre 150 e 300

Agua muito dura > 300

A dureza na água não traz conseqüências sanitárias além de sabor

desagradável e dificuldade de formação de espuma quando é usado sabão.

Para a irrigação, no entanto, pode provocar incrustações nas tubulações

principalmente em regiões onde a temperatura é elevada, provocando aumento

na perda de carga do sistema hidráulico. A redução da Dureza da água é obtida

através de tratamento químico muitas vezes de custo elevado.

Ferro e Manganês

o Ferro e o Manganês normalmente estão presentes na água nas formas


insolúveis (Fe3+ e Mn4+). Suas origens podem ser da dissolução de compostos

do solo ou de despejos industriais. A presença de Fe e Mn na água não tem


muita importância do ponto de vista sanitário a não ser gosto e cor amarelada

que inferem à água. No entanto, podem precipitar na presença de oxigênio

dissolvido convertendo-se em fortes contribuintes para a obstrução de

gotejadores. Von Sperling (1996).

A forma mais recomendada de se remover ou reduzir a concentração de


ferroe manganês da água é através da aeração, ou seja, pela introdução de oxigênio

dissolvidona água a fim de promover a oxidação desse metais. É importante lembrar

Irrigação 229
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

que ao processo de aeração deve-se associar um sistema de remoção física, como


a filtração, para remoção do ferro e manganês precipitados.

Nitrogênio

° Nitrogênio pode ser encontrado na água em todas as suas formas


presentes no Ciclo do Nitrogênio na biosfera, ou seja: nitrogênio molecular (N2),

nitrogênio orgânico, amônia, nitrito (N02·) e nitrato (N03"). A origem de excessos

de nitrogênio na água está normalmente associada a despejos domésticos e

industriais, excrementos de animais e uso de fertilizantes. Devido a esse último

fator sua importância na agricultura irrigada tem tido atenção intensificada,

principalmente devido a difusão das técnicas de fertirrigação. A presença de

nitrogênio, na forma de nitrato, em excesso na água pode trazer problemas graves

de saúde à população como a metahemoglobinemia, doença que pode causar

morte em crianças.

° excesso de nitrogênio em reservatório de água para irrigação pode


tornar esse ambiente aquático eutrofizado, conduzindo a um crescimento elevado

de algas que virão a obstruir gotejadores e filtros do sistema de irrigação. Uso de

algicidas, cloro e mesmo filtros específicos tem sido recomendados para reduzir

o desenvolvimento de algas no interior de tubulações de irrigação localizada.

Von Sperling (1996).

Fósforo
° fósforo se encontra na água geralmente nas formas de ortofosfatos

sendo a mais comum delas o HPOt). Sua origem na água pode ser natural,

230 Irrigação
Qualidade da água

proveniente do solo e da decomposição de matéria orgânico, como também

proveniente de despejos domésticos, industriais, detergentes, excrementos de


animais e fertilizantes. Tem para a irrigação a mesma importância que o nitrogênio,

pois é responsável também por fenômenos de eutrofização em reservatórios

quando em elevadas concentrações. Pode-se utilizar o fósforo total (P total) como

indicador do estado de eutrofização de corpos d'água, conforme o Quadro 7.

VON SPERLlNG (1996).

Quadro 7- Níveis de eutrofização em função do fósforo total

Grau de eutrofização Concentração de P total (mgIL)


Não eutrófico < 0,01 e 0,02

Estágio intermediário entre 0,02 a 0,05

Eutrófico > 0,05

Oxigênio dissolvido

Por ser um elemento essencial a vida aquática e também a


microrganismos aeróbios que utilizam-no na degradação de matéria orgânica,

sua concentração na água tem estreita relação com a contaminação por matéria
orgânica, especialmente esgoto doméstico na água.

A concentração de 00 na água é proporcional a temperatura e a altitude.

Ao nível do mar e a 20°C a concentração de saturação do oxigênio na água é

igual a 9,2 mg/L. Assim, encontrando-se valores muito inferiores a esse existe

umforte indicativo de contaminação por esgotos domésticos na água. O oxigênio

dissolvido em concentração igual a 2 mg/L causa a morte de grande quantidade


de peixes. Deve-se lembrar também que o Oxigênio dissolvido é empregado na

oxidação do ferro para sua remoção da água.

Irrigação 231
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

íons fitotóxicos

A presença de alguns elementos na água de irrigação e na solução do


solo, mesmo em pequenas proporções, podem causar problemas de toxidez às

culturas. Tais problemas, no entanto, são muito específicos para uma dada cultura

e para determinado constituinte.

Segundo Wilcox e Walllihan et ai (citados por Costa, 1982) os problemas

de toxidez surgem quando certos componentes existentes na águas naturais

são absorvidos pelos cultivos em quantidade capaz de produzir uma redução

em seus rendimentos. Dentre os componentes que podem produzir efeitos tóxicos


tóxicos aos cultivos, destacam-se o boro e o cloro.

o boro apesar de ser um elemento essencial para o desenvolvimento

das plantas quando presente em pequenas proporções (0,03 a 0,04 ppm para

maioria dos cultivos sensíveis), torna-se muito tóxico para algumas espécies de

cultivos quando sua concentração supera certos limites permissíveis. O nível


que o torna tóxico varia conforme a espécie vegetal. Assim, o nível ótimo para

algumas espécie pode ser tóxica para outras. Tem-se constatado, por exemplo,

danos economicamente significativos à cultura do limão quando irrigada com

água com mais de 1 ppm de boro; ao contrário, a alfafa tem revelado máximo

desenvolvimento quando irrigada com água que possui entre 1 e 2 ppm de boro

(GURUOVICH,1985).

Um dos sintomas de toxidez devido ao boro ser observado através de

queimaduras características em algumas espécies vegetais, muito embora

espécies sensíveis não apresentam sintomas aparentes. Os cítricos, por exemplo,

232 Irrigação
Qualidade da água

mostram queimaduras marginais nas folhas maduras. Muitas árvores são

sensíveis ao boro, porém não acumulam altas concentrações em suas folhas,


nem desenvolvem sintomas típicos nas mesmas. Já o algodoeiro e outras plantas

podem apresentar sintomas de chamuscamentos (queimaduras leves) e


enrolamento das folhas.

o cloro quando presente em concentrações elevadas na água de

irrigação pode provocar efeitos tóxicos às culturas, seja quando absorvido pelas

raízes ou pelas folhas(absorção foliar) Uma água de irrigação que apresenta um


conteúdo de cloro acima de 3 meq/L (106ppm) começa a acumular problemas

de absorção foliar, Valores inferiores a este limite, em geral, denotam ausência

de problemas. Quanto a absorção pelas raízes, os problemas de toxidez começam

a surgir para concentrações acima de 4meq/L.

Richards (1954) afirma existir boa evidência de toxidez específica de

cloro em algumas árvores e espécies de cultivos. Há informações de queimaduras

por cloro em espécies de árvores nativas e cítricos.

Compostos inorgânicos

Dentre os compostos inorgânicos presentes na água, os metais pesados

são os de maior importância por serem tóxicos às plantas e ao ser humano

quando em concentrações elevadas. Os metais pesados mais comumente

encontrados na água são: arsênio, cádmio, cromo, chumbo, mercúrio e prata.

Muitos desses metais se acumulam na cadeia alimentar transferindo-se aos

organismos situados em degraus superiores dessa cadeia. Normalmente as

Irrigação 233
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

concentrações desses metais pesados na água são pequenos, mas podem


ocorrer isoladamente contaminações que serão detectadas a longo prazo. Ribeiro

& Paterniani (1992) relatam a contaminações por metais pesados de hortaliças


devido a chuvas ácidas na região de Campinas, SP em razão de um incêndio

acidental ocorrido em uma grande refinaria de petróleo próxima a cidade.

Recentemente, jornais de todo o país trouxeram a público relatos de contaminação

do solo a da água, também na região de Campinas, SP, por m=tals pesados

devido a vazamentos ocorridos em uma indústria produtora de agroquímicos.

Assim, fica evidente que o aumento na concentração de metais pesados na

água é devido a despejos de efluentes industriais o que torna preocupante em

determinadas regiões devido ao poder acumulativo destes compostos. Além dos

metais pesados, outros compostos como cianetos e f1uor tem merecido atenção

devido a seus poderes tóxicos para organismos aquáticos e consumidores de

água.

A remoção desses compostos inorgânicos da água exigem combinação

de processos químicos e físicos, como coagulação e filtração e osmose reversa

em alguns casos.

Compostos orgânicos

Alguns compostos orgânicos por serem resistentes a degradação

biológica se acumulam em ambientes aquáticos tornando-se tóxicos a partir de

uma determinada concentração. É o que ocorre com os defensivos agrícolas


organoclorados e organofosforados, alguns tipos de detergentes contendo ABS,

e grande número de produtos químicos.

234 Irrigação
Qualidade da água

A origem desses compostos na água está associada a despejos de


efluentes industriais e também do uso indiscriminado de defensivos agrícolas.

Para suas remoções ou redução de suas concentrações exigem-se processos


físicos e químicos complexos uma vez que estão quase sempre dissolvidos na

água.

3.4 - Parâmetros biológicos.

Coliformes

São indicadores da presença de microorganismos patogênicos na água;

os coliformes fecais existem em grande quantidade nas fezes humanas e, quando

encontrados na água, significa que a mesma recebeu esgotos domésticos,

podendo conter microorganismos causadores de doenças. O controle da

presença de coliformes fecais na água de irrigação é muito importante,


principalmente quando se emprega irrigação localizada para culturas ingeridas

"in natura", como por exemplo hortaliças. Mas não se deve descartar o controle

desses microrganismos na irrigação de culturas graníferas, simplesmente pelo

fato destas estarem livres de serem contaminadas, pois a presença de coliformes

numa água de irrigação pode por em risco a saúde dos operários que estão
trabalhando no manejo do sistema colheita da cultura e mesmo de atividades

pós-colheita. Assim a garantia de uma água isenta de coliformes fecais numa

propriedade rural garante melhor qualidade de vida a comunidade como um

todo.

Esse parâmetro de controle de qualidade da água para irrigação tem

merecido grande atenção nos últimos tempos devido a difusão das técnicas de

reuso de água residuárias para irrigação. Embora o reuso da água venha a

Irrigação 235
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

contribuir para a economia desse escasso recurso natural, deve-se tomar cuidado

com relação a contaminações por organismos patogênicos, pois mesmo após a


colheita alguns microrganismos sobrevivem nos frutos e hortaliças por várias

semanas podendo contaminar seus consumidores.

A técnicas mais eficiente para a remoção de coliformes e microrganismos

da água é a desinfecção. Essa pode ser feita com cloro que normalmente

apresenta menor custo, ou outro agente desinfetante como ozônio ou radiação

ultravioleta. A radiação ultravioleta, embora tenha custo ainda maior do que a

cio ração vem se tornando uma opção interessante uma vez que não deixa

resíduos. O uso de cloro deve ser bem controlado pois seu resíduo pode

combinar-se com outras substâncias presentes na água e dar origem aos

Trihamoletanos (THM) que são altamente cancerígenos.

Processos físicos de filtração, quando bem eficientes, reduzem

satisfatoriamente a concentração de microrganismos da água exigindo, assim,

menor dosagem ou concentração do agente desinfetante.

Algas
As algas desempenham um importante papel no ambiente aquático,

sendo responsáveis pela produção de grande parte do oxigênio dissolvido do

meio; em grandes quantidades, como resultado do excesso de nutrientes

(eutrofização), trazem alguns inconvenientes: sabor e odor; toxidez; turbidez e

cor; formação de massas de matéria orgânica que, ao serem decompostas,

provocam a redução do oxigênio dissolvido; corrosão; interferência nos processos

de tratamento da água; aspecto estético desagradável.

236 Irrigação
Qualidade da água

É comum a proliferação de grandes quantidades de algas em mananciais


e açudes próximos às áreas intensamente adubadas para o cultivo. O excesso
de fertilizantes, carreados aos mananciais pela água das chuvas ou mesmo

pelo excedente de água de irrigação, criam um ambiente eutrofizado favorecendo

o crescimento de algas. Algas em excesso nas águas de irrigação, principalmente

as algas filamentosas, contribuem significativamente para a obstrução de

emissores nos sistemas de irrigação localizada. Esse problema é crescente e

preocupante quando se utiliza a fertirrigação, uma vez que tem sido encontrado

grande quantidade de algas e fungos obstruindo gotejadores e elementos filtrantes

desenvolvidos a partir do ambiente favorável causado pela introdução de

fertilizantes na linha de irrigação.

Esse problema parece não ter outra solução a não ser o uso de tratamento

quimico. Contudo, testes mais recentes realizados por Scatolini & Paterniani,

(2000) concluiram que filtros de mantas sintéticas não tecidas são muito mais

eficientes que os elementos filtrantes tela e de disco de 120 mesh, comumente

utilizados na irrigação localizada, na remoção de algas, conforme mostra a o

gráfico da Figura 3.

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Filtro de manta Filtro de disco Filtro de tela

Figura 3 -Porcentagem de remoção de algas da água de irrigação por filtros


de tela, de disco e de manta sintética não tecida

Irrigação 237
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

Diante de vários parâmetros de controle de qualidade de água para irrigação


torna-se difícil estabelecer um padrão único de qualidade da água para esse fim,

mesmo porque as diferentes tolerâncias de cada cultura implicariam em padrões

diferenciados.

Certamente novas propostas de classificação de qualidade da água

deverão surgir, principalmente incorporando-se aos parâmetros de controle

aqueles relacionados aos aspectos sanitários, ou seja relativos a presença de

microrganismos patogênicos cada vez mais frequentes nos mananciais

contaminados e que podem por em risco não somente a saúde do solo ou da

cultura irrigada mas também do ser humano.

4 - INTRODUÇÃO ÀS TÉCNICAS DE TRATAMENTO DE ÁGUA PARA

IRRIGAÇÃO.

4.1 - Generalidades

o uso de água de boa qualidade não só na irrigação das culturas, mas

também em todo o manejo destas e em outras atividades agrícolas ou domésticas


na propriedade rural reflete direta ou indiretamente na qualidade e eficiência da

produção agrícola. Assim, na maioria das vezes se faz necessário empregar

técnicas de tratamento de água para torná-Ia adequada ao uso. Existem diversas

técnicas de tratamento de água com objetivos comuns de retirar da água


impurezas indesejáveis ou reduzir a concentração destas a níveis aceitáveis.

Esses tratamentos podem ser físicos e químicos que podem ser empregados

isoladamente ou em conjunto dependendo da qualidade da água bruta. A seguir

238 Irrigação
Qualidade da água

apresentam-se as principais características de sistemas de tratamento de água


apropriados para propriedades rurais especialmente para irrigação localizada.

4.2 - Tratamento Físico.

Aeração

Aeração ou arejamento consiste no processo pelo qual se faz a

transferência de substâncias voláteis da água para o ar e substâncias solúveis

do ar para a água a fim de se obter o equilíbrio entre os teores dessas substâncias.

No tratamento de águas a aeração é realizada com os seguintes objetivos:

a) remoção de gases dissolvidos em excesso nas águas e também de substâncias

voláteis

b) introdução de gases na água para a oxidação de compostos ferrosos ou

manganosos

A aeração nem sempre é necessária no tratamento da água,

principalmente quando esta está em contato com o ar. Atualmente a aeração

deve ser prevista e realizada quando a água possui gás carbônico em excesso,
ácido sulfídrico, ferro dissolvido e substâncias voláteis aromáticas de origem

vegetal, normalmente acumulada nos grandes reservatórios.

Os princípios básicos da transferência de substâncias voláteis da água

para o ar ou do ar para a água depende de uma série de fatores que abrange as

características da substância, a temperatura, a resistência específica à


transferência, a pressão parcial do gás, a turbulência, o tempo de exposição e a

relação área/volume no aerador. Richter (1991)

Irrigação 239
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

Filtração

Existem diversos tipos de filtros com diferentes meios filtrantes no

mercado e outros passíveis de serem fabricados no local com certa facilidade,

cada um com sua particularidade, eficiência e indicação. Os filtros mais utilizados

para irrigação localizada são os filtros de areia, de disco e de tela que funcionam

pressurizados instalados na linha de irrigação e podem ser utilizados isoladamente

ou em conjunto. Na mesma linha dos filtros pressurizados estão os filtros de

mantas não tecidas propostos por Paterniani, mas ainda não comercializados.

Numa outra especialidade estão a filtração lenta e a filtração em múltiplas etapas

(FiME), proposta inicialmente para tratamento de águas de abastecimento, mas

que tem demonstrada eficiência e viabilidade também para tratamento de água

para irrigação localizada. A seguir são apresentadas algumas características de


cada um destes principais tipos de filtros.

a) Filtro de Areia
Os filtros de areia são estruturas cilíndricas contendo camadas de

cascalho e areia com a função de filtrar partículas mais grossas principalmente a

matéria orgânica. A água escoa através das camadas de cascalho e areia onde

as impurezas dissolvidas são retidas durante o escoamento. Estes tipos de filtros

são imprescindíveis em condições onde a água não é proveniente de poços

artesianos ou semi-artesianos ou quando a água é armazenada em reservatórios

descobertos que facilitam o desenvolvimento de algas. É conveniente sempre

instalar no mínimo dois filtros, para que a lavagem de um deles seja feita com a
água filtrada pelo outro. Devem ser dispostos no cabeçal de controle antes do

equipamento de injeção de fertilizantes.

240 Irrigação
Qualidade da água

Buchs e Nakayama(1986), sugerem que para um bom desempenho do


filtro de areia é necessário efetuar uma retrolavagem quando o diferencial de
pressão entre a entrada e a saída do filtro for da ordem de 6 m.c.a .. Porém

Bernardo (1989), afirma que a limpeza do filtro deve ser feita toda vez que se

notar um aumento na perda de carga, provocada pelo filtro de mais ou menos 2

m.c.a. em relação ao filtro limpo, ou no final da irrigação. Não devendo nunca

permitir que a perda de carga chegue a 6 m.c.a., para não comprometer a

uniformidade de distribuição de água às plantas.

b) Filtro de Tela
Trata-se de um filtro constituído por um corpo geralmente de forma

cilíndrica que aloja em seu interior o elemento filtrante, composto de um suporte


perfurado metálico ou plástico recoberto por uma tela (Lopez, 1992).

Os filtros de tela, assim como os filtros de disco, que será descrito mais
adiante, têm como principal objetivo reter a passagem de partículas sólidas

inorgânicas em suspensão na água de irrigação, sendo a abertura das telas


classificadas como um valor em mesh ( Onde: mesh é igual ao número de malhas

por polegadas linear ). Segundo manual da empresa israelense PLASTRO, as

telas destes filtros podem ser de materiais plásticos ou metálicos, variando de

50 à 200 mesh. O tamanho dos filtros bem como os seus números de mesh são

definidos conforme a necessidade, de acordo com as partículas que deverão

ser removidas e de acordo com o tipo de emissor utilizado.

Segundo Vermeirem & Jobling (1980), geralmente nos sistemas de

irrigação localizada o filtro de tela está instalado depois do filtro de areia

Irrigação 241
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

(constituindo um sistema de filtração combinado) e do sistema injetor de

fertilizantes, quando a fertirrigação é empregada. Entretanto este filtro é pouco


eficiente na retenção de matéria orgânica, microrganismos e partículas pequenas

ou coloidais, pois a separação das impurezas consiste em um processo de


retenção superficial de partículas na tela que se obstruem muito rapidamente

o fator determinante para o entupimento dos filtros de te'a é o diâmetro

das partículas de areia fina porque bloqueiam diretamente a área dos poros,

enquanto que as partículas de areia grossa necessitam preencher todo o volume

do elemento filtrante para que ocorra o mesmo efeito (Phillips, 1993)

c) Filtro de disco:
O filtro de disco apresenta forma cilíndrica e é normalmente empregado

no mesmo corpo do filtro de tela, porem invertendo-se o sentido do fluxo de

água. O elemento filtrante que o compõe é um conjunto de anéis com ranhuras

impressas sobre um suporte central também cilíndrico e perfurado. A água é

filtrada ao passar pelos pequenos condutos formados pelas ranhuras entre 2

anéis consecutivos (Lopez, 1992).

A qualidade da água neste tipo de filtro dependerá da espessura das

ranhuras, podendo conseguir um número de ranhuras equivalente a unidade

em mesh dos filtros de tela. O filtro é compacto e bastante resistente, admitindo

pressões de trabalho até 10 atm. Tanto para o filtro de disco como para o de tela

a limpeza deve ser manual e consiste em abrir o corpo do filtro e limpá-Ios com

jato de água, sendo que para o filtro de disco há necessidade de separar os

anéis para que a limpeza seja eficiente. Pode-se utilizar a retro-Iavagem embora

242 Irrigação
Qualidade da água

este método, segundo alguns autores, não permite uma limpeza eficiente.

d) Filtros de mantas sintéticas não tecidas


Objetivando aperfeiçoar os sistemas de filtração lenta para o tratamento

de águas de abastecimento, Mbwette & Graham (1987), e mais recentemente

PATERNIANI (1991), realizaram investigações experimentais utilizando mantas

sintéticas não tecidas, instaladas no topo da camada de areia de filtros lentos.

As mantas sintéticas não tecidas são geralmente fabricadas com fibras

de polipropileno, poliamida e poliéster, possuem alta porosidade (cerca de 80 a


90% contra 45% da areia) e alta superfície específica que proporcionam pequena

perda de carga aumentando-se consequentemente a duração da carreira de

filtração além de possuir maior volume de vazios para armazenagem das


impurezas retidas.

As características e propriedades físicas das mantas sintéticas não

tecidas sugerem que são bastante adequadas para a filtração de água contendo

partículas sólidas em suspensão já que não se deterioram na água e são fáceis

de serem limpas.

Paterniani (1991), afirma que a combinação dos parâmetros:

condutividade hidráulica, superfície específica e espessura das mantas,

determinam a manta que melhor se adapta às condições de filtração, assim

comoa taxa de filtração, a qualidade da água e o sistema de filtração utilizado.

Silva(1996), realizou diversos ensaios experimentais introduzindo numa

Irrigação 243
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

instalação de irrigação localizada uma mistura de água com areia para simular a
contaminação da água. Foi empregada uma mistura de água e areia de
granulometria variando de 53 a 152 um, sendo que a concentração de areia na

água de irrigação variou de 70 a 300 mg/I .

Operando filtros de tela, disco de 120 mesh e de manta, com vazões

que variaram de 6,9 e 12 m3/h, Silva (1996), obteve resultados que mostraram

uma eficiência média de remoção de partículas de areia da ordem de 15 a 25 %

pelo filtro de manta contra uma percentagem média de remoção de 2 a 10 % nos

filtros de tela e de disco.

Além disso Silva ( 1996 ), observou que o filtro de manta quando operado

com uma vazão de 9m3/h demorava cerca de 75 minutos para ter sua perda de

carga elevada de 0.5 a 3.7 m. c. a., enquanto que os filtros de tela e de discos
levavam cerca de 58 minutos para alcançar a mesma perda de carga. Tal resultado

confere ao filtro de manta maior vantagem do que os filtros de tela e de disco

quanto ao tempo de funcionamento entre operações de limpeza.

e) Filtração lenta e Filtração em múltiplas etapas (FiM E)

A filtração lenta surgiu na Inglaterra por volta de 1818, para tratar águas

industriais e proliferou-se ao longo do tempo por diversos países da Europa e

também nas Américas devido sua grande eficiência e simplicidade de manutenção

e operação. Os filtros lentos possuem normalmente areia como meio filtrante e a

retenção de impurezas é feita de forma superficial, nos primeiros centímetros da

camada de areia, onde se forma com o passar do tempo uma camada gelatinosa

244 Irrigação
Qualidade da água

de impurezas denominada Scmutzdecke, responsável pela eficiência do mesmo.


Os filtros lentos são eficientes na remoção de partículas sólidas em suspensão,
turbidez, mas principalmente microganismos, podendo remover cerca de 99,99%

destes. A limpeza de um filtro lento é simples, uma vez que não se faz

retrolavagem e simplesmente a remoção do Schmutzdecke quando a perda de

carga no meio filtrante atinge seu valor limite.

Com o objetivo de otimizar o uso e o tratamento de água numa

propriedade rural, Paterniani et alli (1998), propuseram o uso de filtros lentos

associados a pré-fiItros de pedregulho para o tratamento de água de irrigação

localizada. Como a filtração da água é contínua através da filtração lenta e a

irrigação ocorre apenas em algumas horas durante o dia, basta dimensionar

adequadamente um reservatório de armazenamento de água tratada para ser

usada na irrigação quando necessária. Assim emprega-se uma única unidade


de tratamento de água que poderá beneficiar, com água de boa qualidade, todo

o sistema de produção agrícola através de irrigação localizada, bem como o

abastecimento da população que reside na propriedade.

A Filtração em múltiplas etapas é um conceito novo de tratamento de

água de abastecimento que pode ser empregado também para a irrigação

localizadaseguindo os mesmos critérios da filtração lenta. Consiste em construir

barreirasde filtração antes do filtro lento através de pré-filtros dinâmicos e pré-

filtrosde fluxo ascendentes ou horizontal, melhorando ainda mais a eficiência do


sistemae as possibilidades de aplicação.

O uso de mantas sintéticas não tecidas emconjunto com a areia e

Irrigação 245
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

pedregulho tanto nos pré-filtros como no filtro lento tem aumentado

consideravelmente a eficiência desse sistema de tratamento.

4.3 - Tratamento químico

o tratamento químico da água, em conjunto com o sistema de filtragem

tem-se tornado parte integrante de um sistema de irrigação localizada tipo

gotejamento. A cloração é o mais consagrado tratamento químico utilizado para

controlar a população microbiana que se desenvolvem no interior das tubulações

e podem entupir emissores e gotejadores.

A concentração de cloro ativo de 1 a 2mg/L é a recomendável e a presente

em águas municipais tratadas para uso humano.

Ayers & Wesstcot (1991) recomendam os seguintes teores de cloro para


controlar o desenvolvimento microbiano na irrigação localizada apresentados

no Quadro 8:

Quadro 8 - Teores de cloro para uso em irrigação.

Problema Doses de Cloro


Algas 0,5 a 1,0 mgll em forma continua ou 20 mgll por 20 minutos
Acido sulfúrico 3,5 a 9,0 vezes o conteúdo de ácido sulfidrico (mgll)
Ferro-bactérias 1,0 mgll, mas varia com a população bacteriana
Mucilagem (Iodo) 0,5 mgll em forma continua

246 Irrigação
Qualidade da água

° tratamento de água com ácido sulfúrico ou outros ácidos também é


considerado como uma possibilidade bastante viável para controlar precipitações

de carbonatos em sistemas de gotejo.

Em geral, os ácidos são caros e perigosos, embora em condições

extremas seja preciso aplicá-los continuamente. Como regra prática, recomenda-

se que os ácidos sejam aplicados em quantidades suficientes para manter o pH

da água em valores não inferiores a 6,5. Em algumas ocasiões, tem-se usado a

queima de enxofre; o S02 formado mistura-se com a água para formar soluções

ácidas de H2S04 e H2S03•

A segurança é peça chave dentro de um tratamento químico. Precauções

apropriadas devem ser tomadas no manejo e injeção de produtos químicos nas


linhas de irrigação. As ASA E (1990b) desenvolveu normas de segurança para a

aplicação de químicos através de sistemas de irrigação.

5· ESTUDO DE CASOS.

5.1• Contaminação de água usada na produção de hortaliças em Campinas, SP

Pretende-se ilustrar este tópico através de um estudo de caso realizado

recentemente pela Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp em convênio

coma CEASA - Campinas, SP, que resultou em um diagnóstico das condições

sanitárias, técnicas e da qualidade da água utilizada para consumo humano e

para irrigação de vinte propriedades produtoras de hortaliças da região de

Campinas,SP (Paula Junior, et alli, 1994).

Irrigação 247
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

Através de informações obtidas através de visitas e de questionários

preenchidos pelos agricultores, bem como da coleta de amostras de água de

diversos mananciais das propriedades pôde-se elaborar um diagnóstico da

situação de cada propriedade e comparar os resultados das análises físico-

químicas e bacteriológicas das águas com os valores recomendados pela

resolução CONAMA 20 /86.

O manejo de irrigação predominante era o de turno de rega diário, sem

nenhum controle pluviométrico ou de umidade do solo. Técnicas de adubação e

fertilização não eram realizadas adequadamente, uma vez que não foi constatado

nenhum tipo de critério para adoção dessas técnicas. Esses procedimentos

podem acarretar baixa eficiência do uso da água elevando os custos da produção

agrícola e podendo, ainda, levar a uma deterioração direta ou indireta da qualidade

da água disponível nas propriedades.

Os resultados das análises físico-químicas e bacteriológicas das

amostras de água coletadas estão apresentadas separadamente para as águas

utilizadas para consumo humano, Quadro 9, e para águas usadas para irrigação,

Quadro 10.

As 20 propriedades produtoras de hortaliças apresentaram, nas águas

destinadas à irrigação, concentrações de coliformes fecais acima do permissível

para "classe 1" na resolução CONAMA 20/86 indicando que essas águas recebem

carga de esgoto doméstico e/ou de adubação orgânica e por isso estão impróprias

, do ponto de vista sanitário, para a prática de irrigação por aspersão, uma vez

que estas culturas estão sujeitas a contaminação por microorganismos

248 Irrigação
Qualidade da água

patogênicos e podem pôr em risco a saúde da população que as consomem.

Quanto aos parâmetros físicos e químicos, pôde ser verificado que a grande
maioria dos reservatórios apresentaram teores elevados, principalmente de ferro,

manganês e cobre, não se enquadrando nos padrões recomendados pela

legislação vigente. As águas de poços, destinadas ao consuma humano sem

qualquer tratamento apresentaram índices elevados de colifornies fecais e .

totais para quase 80% das propriedades estudadas,

Em 50% das propriedades cadastradas o teor de nitrato na água de

poços estava bem acima do recomendado pela legislação para água potável.

Essa contaminação por nitrato pode ser atribuída a infiltração, no solo. deste

composto químico proveniente do uso intenso de fertilizantes.

Dessa forma pode-se concluir que existe um risco em potencial à saúde

da população que consome essas águas.

Irrigação 249
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

Quadro 9- Resultados das análises das amostras de água (poços)

Amostras Col. Total Col. Fecal pH Turbidez Nitrato Sol.Totais


NMP/100 NMP/100 UNT

1 0,0 0,0 5,9 0,3 5,00 118


2 16,0 2,2 6,7 0,8 29,92 316
3 16,0 0,0 4,9 0,2 14,40 169
4 0,0 0,0 6,6 0,6 9,44 81
5 16,0 16,0 6,5 0,2 1,77 36
6 16,0 2,2 6,0 0,4 3,79 45
7 0,0 0,0 4,0 0,2 51,00 198
8 16,0 5,1 5,5 0,5 31,00 156
9 16,0 0,0 4,3 0,3 110,00 863
10 0,0 0,0 4,5 0,3 56,70 225
11 16,0 16,0 6,4 0,8 21,10 91
12 16,0 2,2 5,2 0,3 11,85 62
13 16,0 16,0 5,0 1,0 29,82 138
14 16,0 0,0 4,2 1,5 59,70 169
15 16,0 2,2 4,1 0,2 73,60 247
16 16,0 0,0 3,9 0,2 78,00 232
17 16,0 16,0 4,1 0,4 136,40 391
18 16,0 5,1 4,5 0,3 9,37 124
19 16,0 0,0 5,2 0,3 0,84 49
20 16,0 16,0 4,6 0,7 2,41 61
21 9,1 2,2 4,6 0,6 2,26 52
22 0,0 0,0 5,6 0,4 1,77 48
23 16,0 5,1 5,3 0,3 5,55 9
24 16,0 0,0 5,2 0,4 16,40 220
25 16,0 16,0 5,7 0,2 6,41 75
26 16,0 5,1 5,5 0,4 6,30 144

Fonte: Paula Junior, etalli, 1994

250 Irrigação
Qualidade da água

Quadro 10 - Resultados das análises das amostras de água (Reservatórios)

Col. Col. Cor pH Turbidez OBO 000 Ferro Mn Total Nitrato Nitrito 00
Total Fecal
NMP/l0 NMP/l0 mgPtll UNT mg/I mg/I mg/I mg/I mg/I mg/I mg/I
Oml Oml
1700 1100 73 7,7 9 4 22 0,65 0,068 1,09 0,01 10,0
200 200 87 8,4 5 4 22 0,30 0,078 2,50 0,02 9,5
6000 200 83 7,6 7 2 15 0,85 0,088 1,10 na 8,0
2200 800 40 7,6 12 2 8 0,40 0,184 2,02 0,01 8,4

40 20 67 8,7 11 2 17 0,24 0,085 0,67 0,08 6,1


2200 70 146 8,8 27 2 8 1,68 0,126 na 2,01 8,0
700 200 260 7,0 46 2 18 2,24 0,144 na 0,01 na
400 200 288 7,2 66 1 8 2,38 0,129 0,02 na na
600 220 78 6,4 16 2 3 2,68 0,088 62,30 0,06 8,4
600 280 880 5,5 130 8 18 6,38 0,264 1,83 O 8,8
220 140 800 7,5 128 3 18 4,38 0,230 1,64 O 8,4
60000 13000 302 7,1 67 9 12 0,28 0,043 na 0,8 8,8
30000 12000 232 7,1 56 2 18 1,32 0,126 na 0,05 2,5
3000 3000 88 8,8 17 3 46 0,10 0,038 0,20 0,02 8,0
200 200 72 6,8 16 2 10 0,30 0,037 1,47 0,01 8,7
13000 1400 269 8,0 57 2 77 8,30 0,112 na 0,01 2,0
200 200 128 8,5 23 1 24 1,76 0,118 na 0,01 8,0
800 200 260 7,2 28 3 18 1,00 0,068 1,03 0,02 7,8
400 200 720 8,7 87 3 64 2,60 0,148 0,48 na 8,4
6000 200 130 8,0 24 3 12 2,80 0,061 1,20 0,01 8,2
80000 7000 168 7,4 27 1 86 2,40 0,482 na 0,01 6,8
3000 3000 217 8,8 26 8 28 2,50 0,680 0,58 0,02 8,0

na = não analisado

Irrigação 251
José Euclides Stipp Patemiani e José Maria Pinto

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Irrigação 253

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