PSICOTERAPIA COGNITIVA
7º sem. Prof. Rose Carvalho
O que são Transtornos Depressivos?
Definição de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM-5)
Caracterizam-se por tristeza (humor depressivo) suficientemente grave ou
persistente para interferir no funcionamento e, muitas vezes, para diminuir o
interesse ou o prazer nas atividades. A causa é multifatorial, envolve
hereditariedade, alterações nos níveis de neurotransmissores, alteração da
função neuroendócrina e fatores psicossociais.
• A depressão tem alto impacto na vida do paciente e de seus familiares, com
significativo comprometimento nos aspectos sociais, ocupacionais, outras áreas
de funcionamento e risco de suicídio.
• O transtorno de humor depressivo constitui um grande problema de saúde
pública.
• Segundo a OMS , o grau de incapacitação devido aos transtornos depressivos é
maior do que em outras doenças crônicas e recorrentes, como hipertensão,
diabetes melito, artrite ou dor lombar crônica.
• Sendo a depressão uma doença comum, com alta morbidade e mortalidade com
consequências individuais e familiares e alto custo para a sociedade, conhecer a
efetividade das alternativas terapêuticas é essencial.
Causas: Multifatoriais
Fatores de risco que podem contribuir:
• Genética: estudos indicam a existência de um componente genético. Estima-se
que esse componente represente 40% da suscetibilidade para desenvolver
depressão;
• Bioquímica cerebral: há evidencias de deficiência de substancias cerebrais,
chamadas neurotransmissores. São eles, Serotonina, Noradrelina e Dopamina
que estão envolvidos na regulação da atividade motora, do apetite, do sono e do
humor;
• Histórico familiar ( perdas precoces, abusos, etc);
• Transtornos psiquiátricos correlatos (ansiedade crônica, bipolaridade, borderline,
etc);
• Eventos estressores: eventos situacionais podem desencadear episódios
depressivos naqueles que tem uma predisposição genética a desenvolver o
transtorno (uso excessivo de tecnologia (cel., rede sociais), cansaço devido ao
excesso de estudo e trabalho, pandemia etc;
• Disfunções hormonais;
• Dependência de álcool e drogas ilícitas;
• Traumas psicológicos;
• Doenças cardiovasculares, endocrinológicas, neurológicas, neoplasias entre
outras;
• Alimentação inadequada, sedentarismo;
• Conflitos conjugais;
• Mudança brusca de condições financeiras e desemprego;
• Abuso de álcool e outras drogas: o uso de drogas pode oferecer uma gratificação
imediata satisfatória. Mas logo que esse efeito passa, essas substâncias contribuem
para a intensificação dos sintomas depressivos. Uma pessoa que já tenha a
predisposição desta doença, pode encontrar no abuso de drogas e bebidas
alcoólicas o gatilho para o desenvolvimento do transtorno;
• Idosos: o crescimento da população idosa e a falta de apoio e estrutura de muitos
países para receber essas pessoas também constrói um cenário bastante propício
para o desencadeamento da doença do século.
Diagnóstico:
O diagnóstico da depressão é clínico, feito pelo médico após coleta completa da
história do paciente e realização de um exame do estado mental. Não existe
exames laboratoriais específicos para diagnosticar depressão.
Critérios diagnósticos para depressão conforme o DSM-5
Sintomas:
Presença de pelo menos cinco entre os nove critérios: devem persistir por pelo
menos duas semanas e um deles deve ser obrigatoriamente humor deprimido ou
perda de interesse/prazer.
• 1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme
indicado por relato
• subjetivo (p. ex. sente-se triste, vazio ou sem esperança) ou por observação feita
por outra pessoa (p.
• ex., parece choroso) (Nota: em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável).
• 3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (por exemplo,
mudança de mais de5% do peso corporal em menos de um mês) ou redução
ou aumento no apetite quase todos os dias. (Nota: em crianças, considerar o
insucesso em obter o peso esperado).
• 4. Insônia ou hipersonia quase diária.
• 5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias.
• 6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.
• 7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem
ser delirantes) quase todos os dias (não meramente autorrecriminação ou
culpa por estar doente).
• 8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão quase todos
os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outra pessoa).
• 9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação
suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano
específico para cometer suicídio.
Classificação : ( DSM-5)
O termo depressão é utilizado com frequência para se referir a qualquer um dos
vários transtornos depressivos.
Alguns estão classificados no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM-5) por sintomas específicos:
• Transtorno depressivo maior (muitas vezes chamado depressão maior)
• Transtorno depressivo persistente (distimia)
• Outro transtorno depressivo específico ou inespecífico
Outros são classificados pela etiologia:
• Transtorno disfórico pré-menstrual
• Transtorno depressivo decorrente de outra condição médica
• Transtorno depressivo induzido por substância/medicação
Tratamento:
• O tratamento é medicamentoso e psicoterápico. A escolha do antidepressivo é
feita com base no subtipo da Depressão, nos antecedentes pessoais e familiares,
na boa resposta a uma determinada classe de antidepressivos já utilizada, na
presença de doenças clínicas e nas características dos antidepressivos.
• Segundo a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), o estigma é um dos
principais obstáculos ao tratamento adequado dos transtornos psiquiátricos.
Muitas pessoas evitam procurar o psiquiatra, ou até mesmo custam a reconhecer
os primeiros sinais de doenças como depressão e ansiedade, por causa do
preconceito que ainda está relacionado à psiquiatria. Muitas vezes transtornos do
tipo são associados à loucura ou até mesmo a coisas banais, que não
necessitariam de um tratamento.
• O tratamento pode ser realizado na Atenção Primária, nos Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS) e nos ambulatórios especializados.
• De acordo com uma pesquisa conduzida pelo Ibope em agosto de 2019 , 53% das
pessoas entre 18 e 24 anos acredita que a maioria dos antidepressivos não
funciona ou não sabe opinar sobre isso. 57% dos brasileiros de todas as faixas
etárias acha que o psicólogo é o profissional mais adequado para o quadro. Além
disso, 44% das pessoas não falaria sobre a depressão no trabalho.
• Diminuiu-se o estigma, então a pessoa começa a buscar mais tratamento,
conversa mais sobre o assunto, então a doença aparece mais. Estamos
quebrando o preconceito em relação à saúde mental.
O modelo cognitivo da depressão
• Na década de 60 , Albert Ellis e Aaron Beck chegaram à importante conclusão de
que a depressão resulta de hábitos de pensamentos extremamente arraigados e
descreveram os conceitos fundamentais da TCC. Beck16,17 observou que humor
e comportamentos negativos eram usualmente resultados de pensamentos e
crenças distorcidas e não de forças inconscientes como sugerido pela teoria
freudiana.
• Em outras palavras, a depressão podia ser compreendida como sendo decorrente
das próprias cognições e esquemas cognitivos disfuncionais.
• Os pacientes com depressão acreditam e agem como se as coisas estivessem
piores do que realmente são. Esta nova abordagem enfatizando o pensamento foi
denominada por Beck de "terapia cognitiva " (TC). Atualmente, conta com mais
de 300 ensaios clínicos controlados que atestam sua eficácia, sendo a abordagem
psicoterápica com maior amparo empírico.
• Assim a TCC tal como desenvolvida por Beck, é a mais bem pesquisada forma de
tratamento envolvendo qualquer transtorno psicológico.
• Muitos estudos e metanálises indicam que ela é efetiva no tratamento da
depressão, seja leve, moderada ou grave.
• Além disso, a efetividade da TCC na depressão é tão ou mais robusta do que a
farmacoterapia ou outros tipos de intervenções psicológicas (por exemplo,
terapia interpessoal ou tratamento de apoio).
• A TCC tem tido o benefício adicional notado em muitos estudos: provoca resposta
mais duradoura em comparação com o tratamento farmacológico e pode
proporcionar um efeito substancialmente protetor quanto às recorrências.
Tríade cognitiva da depressão
• O modelo cognitivo de Beck para a depressão pressupõe
dois elementos básicos: a tríade cognitiva e as distorções
cognitivas.
A tríade cognitiva consiste:
• na visão negativa de si mesmo, na qual a pessoa tende a
ver-se como inadequada ou inapta (por exemplo: "Sou
uma pessoa chata ", "Sou desinteressante ", "Sou muito
triste para gostarem de mim ");
• na visão negativa do mundo, incluindo relações,
trabalho e atividades (por exemplo: "As pessoas não
apreciam meu trabalho "), e
• na visão negativa do futuro, o que parece estar
cognitivamente vinculado ao grau de desesperança.
• Os pensamentos mais típicos e expressões verbais sobre a visão negativa do
futuro incluem: "As coisas nunca vão melhorar ", "Nunca vou servir para nada
" ou "Nunca serei feliz ". Quando tais pensamentos se associam à ideação
suicida, a desesperança torna-os mais intensos, e a morte pode ser
compreendida pelos pacientes depressivos como alívio para a dor ou
sofrimento psicológicos ou como saída diante da percepção de uma situação
como impossível de ser suportada.
• Beck e colaboradores observaram que o paciente deprimido elabora sua
experiência de maneira negativa e antecipa resultados desfavoráveis para seus
problemas.
• Esta forma de interpretar os eventos e as expectativas funcionam como uma
espécie de propulsor de comportamentos depressivos que, por sua vez,
ratificam, após nova interpretação, os sentimentos pessoais de inadequação,
baixa auto-estima e desesperança.
Distorções cognitivas
• As distorções cognitivas, compreendidas como erros sistemáticos na percepção e
no processamento de informações, ocupam lugar central na depressão. As
pessoas com depressão tendem a estruturar suas experiências de forma
absolutista e inflexível, o que resulta em erros de interpretação quanto ao
desempenho pessoal e ao julgamento das situações externas.
• As distorções cognitivas mais comuns nos pacientes deprimidos foram
observadas por Beck como um sistema tipológico e, dentre elas, encontram-se a
inferência arbitrária (conclusão antecipada e com poucas evidências), abstração
seletiva (tendência da pessoa a escolher evidências de seu mau desempenho),
supergeneralização (tendência a considerar que um evento ou desempenho
negativo ocorrerá outras vezes) e personalização (atribuição pessoal geralmente
de caráter negativo).
• Uma série maior de distorções é descrita por Beck e outros. As distorções
decorrem de regras e pressupostos, que são padrões estáveis adquiridos ao longo
da vida do indivíduo com depressão.
• Essas regras e crenças são sensíveis à ativação de fontes primárias como o
estresse e frequentemente levam a estratégias interpessoais ineficazes.
Aplicação da terapia cognitiva
• A TC da depressão é um processo de tratamento que ajuda os pacientes a
modificarem crenças e comportamentos que produzem certos estados de humor.
As estratégias terapêuticas da abordagem cognitivo-comportamental da
depressão envolve romper o ciclo vicioso cognitivo e trabalhar três fases:
1) foco nos pensamentos automáticos e esquemas depressogênicos;
2) foco no estilo da pessoa relacionar-se com outros;
3) mudança de comportamentos a fim de obter melhor enfrentamento da situação
problema (ativação comportamental).
• Uma das vantagens da TCC é o caráter de participação ativa do paciente no
tratamento, de modo que ele (ou ela) é auxiliado a:
• a) identificar suas percepções distorcidas;
• b) reconhecer os pensamentos negativos e buscar pensamentos alternativos que
reflitam a realidade mais de perto;
• c) encontrar as evidências que sustentam os pensamentos negativos e os
alternativos;
• d) gerar pensamentos mais acurados e dignos de crédito associados a
determinadas situações em um processo chamado reestruturação cognitiva.
• Há críticas equivocadas quanto à TCC de que os terapeutas desta abordagem
teriam tendência a estabelecer o "poder do pensamento positivo ". Na verdade, a
TC é baseada no poder do pensamento realista, isto é, na extensão em que se
pode conhecer a realidade.
• No tratamento da depressão, este aspecto tem grande relevância clínica, pois
ajuda o paciente a considerar as crenças verdadeiras ou não relacionadas aos
fatos, auxiliando o julgamento realístico dos fatores que mantêm a depressão.
• As sessões de terapia cognitiva são habitualmente estruturadas e direcionadas
para auxiliar o paciente a solucionar seus problemas atuais. Neste contexto, o
paciente aprende habilidades de solução de problemas, pensamento e
comportamento que ele utilizará não apenas durante o tratamento, ele utilizará
durante todo o decurso de sua vida visando a continuidade de seu bem-estar
psíquico.
• Uma importante parte do tratamento é auxiliar pacientes a aprender como
avaliar a validade e a utilidade de seus pensamentos negativos e como responder
a eles de uma forma realista. Os pacientes, quando aprendem a fazer isso, se
sentem melhor e tornam-se capazes de comportar-se mais funcionalmente.
Ativação comportamental
• Como o alívio dos sintomas é o objetivo inicial do tratamento, o comportamento
é importante nesta abordagem. Uma das bases teóricas dos procedimentos do
tratamento para a depressão na TC vem da teoria de Lewinsohn que diz que a
aprendizagem social e o reforço positivo são fatores que contribuem para o início
e a manutenção dos estados depressivos.
• Sua teoria afirma que os pacientes sentem depressão porque estão
experimentando redução no reforço geral do mundo externo – decorrente da
redução do reforço positivo e/ou excesso de experiências aversivas. A depressão
é conceituada nesse modelo como um círculo vicioso (ciclo da depressão)de
retraimento gradual do paciente ante as atividades positivas e a perda
exponencial do reforçamento.
• Assim, o terapeuta precisa trabalhar de modo incisivo para aumentar o
envolvimento do paciente deprimido em atividades de reforço e interações
sociais.
• As estratégias comportamentais empregadas na TC são derivadas do modelo de
psicopatologia de Lewinsohn e são empregadas de forma flexível. Essas
estratégias são planejadas especificamente para o paciente em questão e usadas
de modo a envolvê-lo, proporcionar alívio dos sintomas e obter dados relevantes
para o processo terapêutico.
• A técnica fornece ao paciente e ao terapeuta dados sobre como o paciente está
funcionando. O agendamento de atividades pode ser usado para planejar tarefas
comportamentais e registrar os resultados. Isto desfaz a necessidade do paciente
tomar decisões quanto ao que fazer – as atividades que deve experimentar já
estão decididas. Além disso, o procedimento dá ao paciente controle sobre seu
tempo, reconhece seus esforços no sentido de realizar atividades e registra as
realizações verdadeiras.
• O agendamento e o monitoramento de atividades, pode ser uma ferramenta
poderosa usada nos pacientes com depressão.
• Este é instruído a registrar suas atividades a cada hora, durante alguns dias. O
registro é feito na medida do possível nas situações, a fim de evitar as distorções
decorrentes do humor depressivo e de dificuldades de memória.
• O agendamento de atividades pode ser usado de forma flexível pelo clínico e pelo
paciente para monitorar as atividades (corrigir distorções sobre o modo como o
paciente pensa que está passando seu tempo e para avaliar as atividades
associadas ao domínio e ao prazer), para agendar atividades prazerosas e
atividades produtivas (particularmente para os pacientes deprimidos que se
permitem essas atividades) e para identificar as atividades ligadas a afetos muito
positivos ou muito negativos.
• Esta técnica pode representar um apoio poderoso a ser usado com os pacientes
em tratamento farmacológico, pois estes podem registrar os efeitos colaterais, as
atividades e as mudanças nos sintomas. Esta intervenção relativamente simples
pode mostrar a relação entre os sintomas depressivos e a falta de
comportamentos propositados e positivos, abrindo, assim, caminho para a
resolução de problemas.
• Na TCC, os déficits em habilidades são conceituados como fatores que podem
contribuir para a depressão. Por exemplo, se o indivíduo não consegue lidar com
relacionamentos interpessoais, ele perde importante oportunidade de gerar
retorno sob a forma de reforço positivo. Uma contribuição significativa de Beck e
outros pesquisadores para o modelo é a ideia de que, além da redução do reforço
positivo, o paciente deprimido amplia seus sintomas pelas avaliações cognitivas e
conclusões falhas que tira da falta de reforço positivo.
• Por exemplo, os pacientes deprimidos realizam cada vez menos atividades e
concluem que não há solução para eles. Quando o terapeuta ajuda o paciente a
mudar o comportamento, isto traz evidências diretas de que as avaliações
cognitivas estão incorretas.
• O paciente então tem um poderoso exemplo de como as imprecisões em seu
pensamento levaram a emoções e respostas comportamentais disfuncionais, e o
tratamento avança por meios cognitivos e comportamentais rumo à correção do
problema.
Reestruturação cognitiva
As sessões iniciais são também dirigidas à definição dos problemas dos pacientes,
elaborando-se a conceituação cognitiva ou formulação do caso. Nessas sessões, o
terapeuta ajudará o paciente a identificar:
1) as crenças disfuncionais específicas associadas à depressão;
2) as distorções cognitivas mais comuns e a caracterização dos pensamentos
automáticos;
3) as reações fisiológicas, emocionais e comportamentais consequentes aos
pensamentos;
4) que comportamentos foram desenvolvidos para enfrentar as crenças
disfuncionais;
5) como as experiências anteriores têm contribuído na manutenção das crenças do
paciente. A seguir, uma vez que o paciente tenha conhecimento sobre os fatores
mantenedores do comportamento depressivo, serão aplicadas nas sessões
intermediárias técnicas que auxiliem o paciente no manejo dos sintomas.
Evocação de pensamentos e pressupostos
• A depressão gera imobilidade e pessimismo. Assim, os pacientes apresentam
dificuldade para começar qualquer tarefa e para identificar as vantagens de
realizar alguma atividade. Técnicas que ajudem a identificar os pensamentos e
como estes afetam as emoções e comportamentos parecem ter papel
fundamental para ajudar os indivíduos com depressão.
• Deve-se recordar que a meta da TCC é facilitar a remissão da depressão e ensinar
o paciente a ser seu próprio terapeuta. As técnicas cognitivas devem auxiliar as
metas da terapia e não devem ser utilizadas como processo que gere
dependência.
• O aprendizado do paciente como "terapeuta de si mesmo " deve facilitar o
enfrentamento da recorrência dos sintomas e as sessões finais da terapia devem
abordar este fator.
• A volta dos sintomas depressivos durante o tratamento de manutenção com
antidepressivos é, infelizmente, comum, ocorrendo numa taxa que varia entre 9 e
57% nos diferentes estudos. Assim, outra questão importante diz respeito à
capacidade da TCC em prevenir depressão unipolar recorrente,
comparativamente aos tratamentos farmacológicos.
• O paciente deve ser estimulado a enfrentar os problemas de depressão e o
terapeuta não deve ajudá-lo em cada problema, pois isso pode privá-lo de
fortalecer suas próprias habilidades.
Uma série extensa de técnicas cognitivas e a discussão de suas aplicações pode ser
encontrada no excelente manual de técnicas de Leahy.
Explicação de como os pensamentos geram sentimentos
• Uma pergunta direta realizada pelo terapeuta, como "o que você pensou
exatamente naquele momento? " ou "o que acaba de passar por sua mente
agora? ", quando o paciente exibe mudança do humor, pode ser completada com
uma tabela na qual se descreva em duas colunas paralelas:
1) Eu penso que...;
2) Portanto, sinto-me... Pode haver no início deste tipo de recurso dificuldades
para identificar corretamente pensamentos e sentimentos, podendo ser necessária
ajuda do terapeuta para este fim.
• Uma das técnicas iniciais da terapia cognitiva consiste em identificar, testar a
realidade e corrigir as conceituações distorcidas e crenças disfuncionais do
indivíduo, substituindo-as por outras crenças e ideias que possibilitem ao
indivíduo experienciar novos comportamentos e emoções menos prejudiciais a
ele mesmo e, como consequência, aos outros.
• As técnicas para corrigir as distorções utilizam a aplicação da lógica e de regras de
evidência e experimentos reais para testar as crenças errôneas ou
exageradamente negativas, buscando o ajustamento de informações à realidade.
Através da psicoterapia cognitiva, o indivíduo aprende a dominar problemas e
situações vistas como insuportáveis. As alterações do conteúdo das estruturas
cognitivas modificam o estado afetivo e o padrão comportamental.
Registro de pensamentos disfuncionais
Este tipo de recurso aumenta a objetividade e facilita que o indivíduo se lembre de
eventos, pensamentos e sentimentos ocorridos entre as sessões. Geralmente, o
indivíduo necessita de treinamento para o uso do diário, sendo capaz de identificar
os pensamentos automáticos apontando primeiro os estados emocionais.
O recurso envolve um registro aonde são anotados, sequencialmente, o evento e o
pensamento que se sucedeu ao evento – que ocorre quando de uma emoção ou
comportamento problemático.
Existe uma coluna adicional para o registro de uma nota referente a quanto o
paciente acredita que aquele pensamento seja verdadeiro. Esta coluna ajudará
progressivamente o indivíduo na identificação dos pensamentos automáticos
disfuncionais que se constituam em foco de atenção mais produtivo.
• A seguir, registra-se a emoção e avalia-se o grau de emoção (numa escala de 0 a
10 ou 0 a 100). Para ajudar o paciente, comparações com o máximo de emoção
(por exemplo, tristeza) podem ser úteis para uma avaliação mais realista. Os
registros de pensamentos também incluem uma coluna de evidências, bem como
uma coluna para gerar o pensamento alternativo sobre a situação. Finalmente,
pede-se ao paciente que quantifique o quanto acredita no novo pensamento,
assim como a intensidade da emoção.
Seta ou flexa descendente
• Pensamentos automáticos negativos ou disfuncionais podem revelar-se
verdadeiros em algumas situações. Sentir-se rejeitado ou inapto para
determinada atividade pode estar efetivamente acontecendo com o paciente. O
que é importante nesses casos é investigar quais são as crenças subjacentes que
potencializam o pensamento, questionadas através de um método de
questionamento socrático denominado seta descendente.
• A flexa descendente é uma técnica de intervenção cognitiva importante na
terapia cognitivo comportamental. A utilização da técnica “seta descendente” é
implementada através de uma série de perguntas com o objetivo de se descobrir
o esquema básico subjacente (as crenças intermediárias) a partir dos
pensamentos de nível mais superficial chega-se a identificar a crença central. Essa
técnica é introduzida quando, a partir de um problema apresentado, segue-se
perguntando: “Se isso ocorresse, que significado teria para você?”
• Esta técnica é também utilizada para ajudar o paciente a desenvolver um
raciocínio autônomo para questionar as evidências e criar pensamentos e
avaliações alternativas. Esta confrontação das evidências dos pensamentos pode
ajudar o paciente a despotencializá-las, reduzindo os sentimentos de medo,
tristeza ou desmotivação. A seta descendente é uma técnica bastante útil e ajuda
a atingir crenças que mantêm o quadro depressivo.
Duração do tratamento e remissão dos sintomas
• Ainda que haja pacientes que necessitem de um número maior de sessões para o
tratamento com TCC, normalmente a terapia prioriza o atendimento em curto-
prazo, com um número de sessões variando de 12 a 20. As sessões estruturadas
auxiliam os pacientes também a desenvolverem um senso de controle pessoal; ao
aprenderem técnicas para serem "terapeutas " de si mesmos, contribuem
também para a redução do tempo de terapia.
• Pacientes com transtornos de personalidade podem levar mais tempo em
terapia, até mais de 12 meses .Estes pacientes, muitas vezes, tendem a
abandonar mais facilmente o tratamento e o terapeuta deve estar atento aos
comportamentos de adesão do paciente. Adicionalmente, deve-se estar atento às
possibilidades de abandono ou interrupção precoce do tratamento após a
remissão dos primeiros sintomas que tendem a manter o indivíduo com menos
atividade e menos confiante. À medida que os sintomas melhoram, pode haver
tendência ao abandono precoce do tratamento.
Prevenção de recaídas
• As sessões finais de terapia são destinadas à avaliação dos ganhos na terapia e à
prevenção de recaída. A melhora do paciente pode ser fornecida como recurso
para o enfrentamento de novas situações que incluam perdas e adaptações a
novas situações-problema. Desde o início, destacar que a terapia tem tempo
limitado, desmistificar o processo terapêutico relacionando-o com a identificação
dos pensamentos, seus questionamento e reestruturação, aumentar a confiança
do paciente a partir de seus ganhos e solicitar progressivamente o papel ativo do
paciente são recursos que facilitam também o processo para finalização da
terapia e gerar confiança no paciente para dar prosseguimento à vida.
• Nesse sentido, vale a pena destacar que é necessário ensinar o paciente a lidar
com a possibilidade de retorno dos sintomas depressivos. Ruminações sobre
recorrência de sintomas depressivos e suas implicações aumenta o risco de
recaída.
Prevenção
• Manter um estilo de vida saudável:
• Ter uma dieta equilibrada;
• Praticar atividade física regularmente;
• Combater o estresse concedendo tempo na agenda para atividades prazerosas;
• Evitar o consumo de álcool;
• Não usar drogas ilícitas;
• Diminuir as doses diárias de cafeína;
• Rotina de sono regular;
• Não interromper tratamento sem orientação médica.
Em conclusão, a TCC tem se apresentado como uma das abordagens que
apresentam mais evidências empíricas de eficácia no tratamento da depressão,
quer oferecida de forma isolada para casos leves e moderados ou em combinação
com farmacoterapia, em casos mais graves.
Bibliografia e Referências:
• Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5. ª edição ou DSM-5 é um manual
diagnóstico e estatístico feito pela Associação Americana de Psiquiatria (2014).
• LIMA, M. S. et al. Depressão. In: KNAPP, P. (Org.). Terapia cognitivo-comportamental na prática
psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed; 2004. (pp. 168-192).
• HOFMANN, S.G. Introdução à Terapia cognitivo-Comportamental Contemporânea. Porto Alegre:
Artmed, 2014. (Capítulo 8 - Lidando com a Depressão, pp. 121-134)
• Beatriz Pianowski Luy in: http://www.psicosaude.com.br/ler_artigos.php?codArt=32
• Beck, Judith. Entrevista com Judith Beck. Rev. bras.ter. cogn. v.2 n.2 Rio de Janeiro dez. 2006.
• http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
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• Dattilio, F. M. & Freeman, A. (1998). Compreendendo a Terapia Cognitiva. São Paulo: Editorial Psy
• http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462008000600004