Prof.
Paula Kegler
Disciplina: Psicodiagnóstico
Princípios Norteadores na Elaboração de Documentos
O psicólogo, na elaboração de seus documentos, deverá adotar como
princípios norteadores as técnicas da linguagem escrita e os princípios éticos,
técnicos e científicos da profissão.
Princípios Técnicos da Linguagem Escrita
O documento deve, na linguagem escrita, apresentar uma redação bem
estruturada e definida, expressando o que se quer comunicar. Deve ter uma
ordenação que possibilite a compreensão por quem o lê, o que é fornecido
pela estrutura, composição de parágrafos ou frases, além da correção
gramatical;
O emprego de frases e termos deve ser compatível com as expressões
próprias da linguagem profissional, garantindo a precisão da comunicação,
evitando a diversidade de significações da linguagem popular, considerando a
quem o documento será destinado;
A comunicação deve ainda apresentar como qualidades: a clareza, a concisão
e a harmonia. A clareza se traduz, na estrutura frasal, pela seqüência ou
ordenamento adequado dos conteúdos, pela explicitação da natureza e
função de cada parte na construção do todo. A concisão se verifica no
emprego da linguagem adequada, da palavra exata e necessária. Essa
“economia verbal” requer do psicólogo a atenção para o equilíbrio que evite
uma redação lacônica ou o exagero de uma redação prolixa. Finalmente, a
harmonia se traduz na correlação adequada das frases, no aspecto sonoro e na
ausência de cacofonias.
Princípios Éticos
Na elaboração de DOCUMENTO, o psicólogo baseará suas informações na
observância dos princípios e dispositivos do Código de Ética Profissional do
Psicólogo. Enfatizamos aqui os cuidados em relação aos deveres do psicólogo
nas suas relações com a pessoa atendida, ao sigilo profissional, às relações
com a justiça e ao alcance das informações - identificando riscos e
compromissos em relação à utilização das informações presentes nos
documentos em sua dimensão de relações de poder;
Torna-se imperativo a recusa, sob toda e qualquer condição, do uso dos
instrumentos, técnicas psicológicas e da experiência profissional da Psicologia
na sustentação de modelos institucionais e ideológicos de perpetuação da
segregação aos diferentes modos de subjetivação. Sempre que o trabalho
exigir, sugere-se uma intervenção sobre a própria demanda e a construção de
um projeto de trabalho que aponte para a reformulação dos condicionantes
que provoquem o sofrimento psíquico, a violação dos direitos humanos e a
manutenção das estruturas de poder que sustentam condições de dominação
e segregação;
Deve-se realizar uma prestação de serviço responsável pela execução de um
trabalho de qualidade cujos princípios éticos sustentam o compromisso social
da Psicologia. Dessa forma, a demanda, tal como é formulada, deve ser
compreendida como efeito de uma situação de grande complexidade.
Princípios Técnicos
O processo de avaliação psicológica deve considerar que os objetos deste
procedimento (as questões de ordem psicológica) têm determinações
históricas, sociais, econômicas e políticas, sendo as mesmas elementos
constitutivos no processo de subjetivação. O DOCUMENTO, portanto, deve
considerar a natureza dinâmica, não definitiva e não cristalizada do seu objeto
de estudo;
Os psicólogos, ao produzirem documentos escritos, devem se basear
exclusivamente nos instrumentais técnicos (entrevistas, testes, observações,
dinâmicas de grupo, escuta, intervenções verbais) que se configuram como
métodos e técnicas psicológicas para a coleta de dados, estudos e
interpretações de informações a respeito da pessoa ou grupo atendidos, bem
como sobre outros materiais e grupo atendidos e sobre outros materiais e
documentos produzidos anteriormente e pertinentes à matéria em questão.
Esses instrumentais técnicos devem obedecer às condições mínimas
requeridas de qualidade e de uso, devendo ser adequados ao que se propõem
a investigar;
A linguagem nos documentos deve ser precisa, clara, inteligível e concisa, ou
seja, deve-se restringir pontualmente às informações que se fizerem
necessárias, recusando qualquer tipo de consideração que não tenha relação
com a finalidade do documento específico;
Deve-se rubricar as laudas, desde a primeira até a penúltima, considerando
que a última estará assinada, em toda e qualquer modalidade de documento.
Modalidades de Documentos
Decorrentes de Avaliação Psicológica
Relatório /
Atestado Parecer
Declaração Laudo
Psicológico Psicológico
Psicológico
- NÍVEL DE COMPLEXIDADE +
É um documento que visa a informar a
Declaração
ocorrência de fatos ou situações
objetivas relacionados ao atendimento
psicológico, com a finalidade de declarar:
a) Comparecimentos do atendido e/ou do seu
acompanhante, quando necessário;
b) Acompanhamento psicológico do atendido;
c) Informações sobre as condições do
atendimento (tempo de acompanhamento,
dias ou horários). Neste documento não
deve ser feito o registro de sintomas,
situações ou estados psicológicos.
Estrutura
a) Ser emitida em papel timbrado ou apresentar na
Declaração
subscrição do documento o carimbo, em que conste nome e
sobrenome do psicólogo, acrescido de sua inscrição
profissional (“Nome do psicólogo / N.º da inscrição”).
b) A declaração deve expor:
-Registro do nome e sobrenome do solicitante;
-Finalidade do documento (por exemplo, para fins de
comprovação);
-Registro de informações solicitadas em relação ao
atendimento (por exemplo: se faz acompanhamento
psicológico, em quais dias, qual horário);
-Registro do local e data da expedição da declaração;
-Registro do nome completo do psicólogo, sua inscrição no
CRP e/ou carimbo com as mesmas informações;
- Assinatura do psicólogo acima de sua identificação ou do
carimbo.
Declaração
É um documento expedido pelo psicólogo que
certifica uma determinada situação ou
estado psicológico, tendo como finalidade
afirmar sobre as condições psicológicas de
Psicológico
quem, por requerimento, o solicita, com fins de:
Atestado
a) Justificar faltas e/ou impedimentos do
solicitante;
b) Justificar estar apto ou não para atividades
específicas, após realização de um
processo de avaliação psicológica, dentro
do rigor técnico e ético que subscreve esta
Resolução;
c) Solicitar afastamento e/ou dispensa do
solicitante, subsidiado na afirmação
atestada do fato, em acordo com o disposto
na Resolução CFP nº 015/96.
Estrutura:
Psicológico
A formulação do atestado deve restringir-se à
Atestado
informação solicitada pelo requerente, contendo
expressamente o fato constatado. Embora seja
um documento simples, deve cumprir algumas
formalidades:
a) Ser emitido em papel timbrado ou
apresentar na subscrição do documento o
carimbo, em que conste o nome e sobrenome
do psicólogo, acrescido de sua inscrição
profissional (“Nome do psicólogo / N.º da
inscrição”);
Estrutura:
b) O atestado deve expor:
Psicológico
-Registro do nome e sobrenome do cliente;
Atestado
-Finalidade do documento;
-Registro da informação do sintoma, situação ou
condições psicológicas que justifiquem o
atendimento, afastamento ou falta – podendo
ser registrado sob o indicativo do código da
Classificação Internacional de Doenças em
vigor;
-Registro do local e data da expedição do
atestado;
-Registro do nome completo do psicólogo, sua
inscrição no CRP e/ou carimbo com as mesmas
informações;
-Assinatura do psicólogo acima de sua
identificação ou do carimbo.
Psicológico
Atestado
Os registros deverão estar transcritos de forma
corrida, ou seja, separados apenas pela
pontuação, sem parágrafos, evitando, com isso,
riscos de adulterações. No caso em que seja
necessária a utilização de parágrafos, o psicólogo
deverá preencher esses espaços com traços.
Atestado
Psicológico
Psicológico
Parecer é um documento fundamentado e resumido
sobre uma questão focal do campo psicológico cujo
Parecer
resultado pode ser indicativo ou conclusivo;
O parecer tem como finalidade apresentar resposta
esclarecedora, no campo do conhecimento
psicológico, através de uma avaliação especializada,
de uma “questão-problema”, visando a dirimir
dúvidas que estão interferindo na decisão, sendo,
portanto, uma resposta a uma consulta, que exige de
quem responde competência no assunto.
Estrutura: O psicólogo parecerista deve fazer a
análise do problema apresentado, destacando os
aspectos relevantes e opinar a respeito,
considerando os quesitos apontados e com
Psicológico
fundamento em referencial teórico-científico.
Havendo quesitos, o psicólogo deve respondê-los
Parecer
de forma sintética e convincente, não deixando
nenhum quesito sem resposta. Quando não houver
dados para a resposta ou quando o psicólogo não
puder ser categórico, deve-se utilizar a expressão
“sem elementos de convicção”. Se o quesito estiver
mal formulado, pode-se afirmar “prejudicado”, “sem
elementos” ou “aguarda evolução”. O parecer é
composto de 4 (quatro) itens:
-Identificação
-Exposição de Motivos
- Análise
- Conclusão
O relatório ou laudo psicológico é uma
apresentação descritiva acerca de situações e/ou
condições psicológicas e suas determinações
históricas, sociais, políticas e culturais, pesquisadas
Psicológico
no processo de avaliação psicológica. Como todo
DOCUMENTO, deve ser subsidiado em dados
Relatório
colhidos e analisados, à luz de um instrumental
técnico (entrevistas, dinâmicas, testes psicológicos,
observação, exame psíquico, intervenção verbal),
consubstanciado em referencial técnico-filosófico e
científico adotado pelo psicólogo;
A finalidade do relatório psicológico será a de
apresentar os procedimentos e conclusões gerados
pelo processo da avaliação psicológica, relatando
sobre o encaminhamento, as intervenções, o
diagnóstico, o prognóstico e evolução do caso,
orientação e sugestão de projeto terapêutico, bem
como, caso necessário, solicitação de
acompanhamento psicológico, limitando-se a
fornecer somente as informações necessárias
relacionadas à demanda, solicitação ou petição.
Estrutura: O relatório psicológico é uma peça de
natureza e valor científicos, devendo conter narrativa
Psicológico
detalhada e didática, com clareza, precisão e
Relatório
harmonia, tornando-se acessível e compreensível ao
destinatário. Os termos técnicos devem, portanto,
estar acompanhados das explicações e/ou
conceituação retiradas dos fundamentos teórico-
filosóficos que os sustentam. O relatório psicológico
deve conter, no mínimo, 5 (cinco) itens:
-Identificação
-descrição da demanda
-Procedimento
-Análise
-Conclusão
Validade dos Conteúdos dos Documentos
O prazo de validade do conteúdo dos documentos escritos, decorrentes das
avaliações psicológicas, deverá considerar a legislação vigente nos casos já
definidos;
Não havendo definição legal, o psicólogo, onde for possível, indicará o prazo
de validade do conteúdo emitido no documento em função das características
avaliadas, das informações obtidas e dos objetivos da avaliação;
Ao definir o prazo, o psicólogo deve dispor dos fundamentos para a
indicação, devendo apresentá-los sempre que solicitado.
Guarda dos Documentos e Condições de Guarda
Os documentos escritos decorrentes de avaliação psicológica, bem como
todo o material que os fundamentou, deverão ser guardados pelo prazo
mínimo de 5 anos, observando-se a responsabilidade por eles tanto do
psicólogo quanto da instituição em que ocorreu a avaliação psicológica;
Esse prazo poderá ser ampliado nos casos previstos em lei, por
determinação judicial, ou ainda em casos específicos em que seja necessária a
manutenção da guarda por maior tempo;
Em caso de extinção de serviço psicológico, o destino dos documentos
deverá seguir as orientações definidas no Código de Ética do Psicólogo.