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Direitos das Mulheres na África

Este documento estabelece um Protocolo à Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos relativo aos Direitos da Mulher em África. O protocolo visa eliminar todas as formas de discriminação contra as mulheres e garantir a proteção dos seus direitos fundamentais, incluindo o direito à dignidade, à vida, à integridade física e à segurança.
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Direitos das Mulheres na África

Este documento estabelece um Protocolo à Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos relativo aos Direitos da Mulher em África. O protocolo visa eliminar todas as formas de discriminação contra as mulheres e garantir a proteção dos seus direitos fundamentais, incluindo o direito à dignidade, à vida, à integridade física e à segurança.
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PROTOCOLO À CARTA AFRICANA

DOS DIREITOS DO HOMEM E DOS POVOS,


RELATIVO AOS DIREITOS DA MULHER
EM ÁFRICA
1

PROTOCOLO À CARTA AFRICANA


DOS DIREITOS DO HOMEM E DOS POVOS, RELATIVO
AOS DIREITOS DA MULHER EM ÁFRICA

Os Estados Partes ao presente Protocolo,

CONSIDERANDO que o Artigo 66 da Carta Africana dos


Direitos do Homem e dos Povos prevê a adopção de protocolos ou
acordos especiais, se forem necessários para completar as disposições
da Carta Africana, e que a Conferência dos Chefes de Estado e de
Governo, da Organização da Unidade Africana, reunida na sua
Trigésima-primeira Sessão Ordinária em Adis Abeba, Etiópia, em
Junho de 1995, endossou, através da sua Resolução AHG/Res.240
(XXXI), a recomendação da Comissão Africana dos Direitos do Homem
e dos Povos no sentido de se elaborar um Protocolo sobre os Direitos
da Mulher em África;

CONSIDERANDO IGUALMENTE que o Artigo 2 da Carta


Africana dos Direitos do Homem e dos Povos estabelece o princípio da
não discriminação com base na raça, na etnia, na côr, no sexo, na
língua, na religião, na opinião política ou qualquer outra, na origem
nacional e social, na fortuna, no nascimento ou em outra situação;

CONSIDERANDO AINDA que o Artigo 18 da Carta Africana dos


Direitos do Homem e dos Povos exorta os Estados Partes que
eliminem todas as formas de discriminação contra a Mulher e
assegurem a protecção dos direitos da Mulher, tal como estipulado em
declarações e convenções internacionais;

NOTANDO que os Artigos 60 e 61 da Carta Africana dos


Direitos do Homem e dos Povos reconhecem os instrumentos
regionais e internacionais relativos aos direitos humanos e as práticas
africanas, em conformidade com as normas internacionais dos
Direitos do Homem e dos Povos, como referências importantes para
a aplicação e a interpretação da Carta Africana;
2

EVOCANDO que os direitos da Mulher são reconhecidos e


garantidos em todos os instrumentos internacionais relativos aos
Direitos Humanos, nomeadamente a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, o Pacto Internacional relativos aos Direitos Civis e
Políticos, assim como aos Direitos Económicos, Sociais e Culturais, a
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
Contra a Mulher e o seu Protocolo facultativo outras Convenções e
Pactos Internacionais relativos aos Direitos da Mulher, como sendo
direitos humanos, inalienáveis, interdependentes e indivisíveis.

EVOCANDO AINDA a Resolução 1325 do Conselho de


Segurança das NU sobre “Mulheres, Paz e Segurança”;

NOTANDO que os direitos da mulher e o seu papel essencial no


desenvolvimento, são reafirmados nos Planos de Acção das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento em 1992, os
Direitos Humanos em 1993, a População e o Desenvolvimento em
1994, e o Desenvolvimento Social em 1995;

REAFIRMANDO o princípio da promoção da igualdade entre os


homens e as mulheres consagrado no Acto Constitutivo da União
Africana, na NEPAD e noutras pertinentes Declarações, Resoluções e
Decisões, que realçam a determinação dos Estados Africanos em
garantir a plena participação das mulheres africanas no
desenvolvimento de África, como parceiras em pé de igualdade;

NOTANDO AINDA que a Plataforma de Acção e a Declaração de


Dakar de 1994 e a Plataforma de Acção e a Declaração de Beijing de
1995 apelam a todos os Estados Membros das Nações Unidas, que
assumiram compromissos solenes de os implementar, de tomarem
medidas concretas no sentido de prestarem maior atenção aos
Direitos Humanos da Mulher, a fim de eliminar todas as formas de
discriminação e de violência com base no género;

RECONHECENDO o papel crucial das mulheres na preservação


dos valores africanos com base nos princípios de igualdade, paz,
liberdade, dignidade, justiça, solidariedade e democracia;
3

TENDO PRESENTE as Resoluções, Declarações,


Recomendações, Decisões, Convenções e outros instrumentos
regionais e sub-regionais destinadas a eliminar todas as formas de
discriminação e a promover igualdade entre homens e mulheres;

PREOCUPADOS com o facto de que, apesar da ratificação, pela


maioria parte dos Estados Membros da Carta Africana dos Direitos
do Homem e dos Povos e outros instrumentos internacionais relativos
aos direitos humanos, e do seu compromisso solene de eliminar
todas as formas de discriminação e as práticas nocivas contra as
Mulheres, elas em África continuam a ser vítimas de discriminação e
de práticas nocivas;

FIRMEMENTE CONVENCIDOS DE QUE toda a prática que


impeça ou ponha em perigo o crescimento normal e afecte o
desenvolvimento físico e psicológico das mulheres e das raparigas,
deve ser condenada e eliminada;

DETERMINADOS a garantir a protecção dos direitos das


mulheres a fim de lhes permitir o gozo pleno de todos os seus direitos
humanos;

ACORDAM NO SEGUINTE:
Artigo 1º
Definições

Para os fins do presente Protocolo, entende-se por:

a) “Carta Africana”, a Carta Africana dos Direitos do


Homem e dos Povos.

b) “Comissão Africana”, a Comissão Africana dos Direitos


do Homem e dos Povos.

c) “Conferência”, a Conferência dos Chefes de Estado e de


Governo da União Africana;

d) “UA”, a União Africana;


4

e) “Acto Constitutivo”, o Acto Constitutivo da União


Africana;

f) “Discriminação em Relação à Mulher”, toda a


distinção, exclusão ou restrição ou tratamento diferente
com base no sexo, cujos objectivos ou efeitos
comprometem ou proíbem o reconhecimento, o usufruto,
ou exercício, pela Mulher, independentemente do seu
estado civil, dos direitos humanos e das liberdades
fundamentais em todas as esferas da vida;

g) “Práticas Nocivas" (PNs), todo o comportamento, atitude


e/ou prática que afecta negativamente os direitos
fundamentais da mulher e das raparigas, como o seu
direito à vida, à saúde, à educação, à dignidade e
integridade física;
criada pela Conferência;

h) “NEPAD”, a Nova Parceria para o Desenvolvimento de


África, estabelecida pela Conferência;

i) “Estados Parte”, os Estados Parte ao presente Protocolo;

j) “Violência Contra a Mulher”, todos os actos perpetrados


contra a Mulher e que cause, ou que seja capaz de causar
danos físicos, sexual, psicológicos ou económicos,
incluindo a ameaça de tais actos, ou a imposição de
restrições ou a privação arbitrária das liberdades
fundamentais na vida privada ou pública, em tempos de
paz e durante situações de conflito ou guerra;

k) "Mulheres", as pessoas de sexo feminino, incluindo as


raparigas.
5

Artigo 2º
Eliminação da Discriminação Contra as Mulheres

1. Os Estados Partes devem combater todas as formas de


discriminação contra as Mulheres através de adopção de medidas
apropriadas no plano legislativo, institucional e outros. A este
respeito, comprometem-se a :

a) inscrever nas suas constituições e noutros instrumentos


legislativos nacionais, caso não o tenham ainda feito, o
princípio da igualdade entre homens e mulheres, e
garantir a sua efectiva aplicação;

b) adoptar e implementar efectivamente medidas legislativas


e regulamentares apropriadas, reduzindo todas as formas
de discriminação e práticas nocivas, que comprometam a
saúde e o bem-estar das mulheres;

c) integrar as preocupações das mulheres nas suas decisões


políticas, legislação, planos, programas e actividades de
desenvolvimento, e em todas as outras esferas da vida;

d) tomar medidas correctivas e acções positivas nas áreas


em que a discriminação em relação à Mulher, na lei e de
facto, continua a existir;

e) apoiar as iniciativas locais, nacionais, regionais e


continentais, que visem erradicar todas as formas de
discriminação contra a Mulher.

2. Os Estados Partes empenham-se em modificar os padrões de


comportamento sócio-culturais da mulher e do homem, através de
estratégicas de educação pública, informação e comunicação, com
vista à eliminação de todas as práticas culturais e tradicionais
nefastas e de todas as outras práticas com base na ideia de
inferioridade ou de superioridade de um ou de outro sexo, ou nos
papéis estereotipados da mulher e do homem.
6

Artigo 3º
Direito à Dignidade

1. Toda a mulher deve ter direito à dignidade inerente ao ser


humano e ao reconhecimento e protecção dos seus direitos humanos
e legais;

2. Toda a mulher tem direito ao respeito da sua pessoa e ao


desenvolvimento livre e pleno da sua personalidade;

3. Os Estados Partes devem adoptar e implementar medidas


adequadas proibindo todas as formas de exploração ou degradação da
mulher;

4. Os Estados Partes devem adoptar e implementar medidas que


garantam a defesa do direito de todas as mulheres à sua dignidade e
a serem protegidas de todas as formas de violência, particularmente a
sexual e verbal.

Artigo 4º
Direito à Vida, à Integridade e à Segurança da Pessoa

1. Toda a mulher tem direito ao respeito pela sua vida, à


integridade física e à segurança. Todas as formas de exploração, de
punição e de tratamento desumano ou degradante devem ser
proibidas.

2. Os Estados Parte comprometem-se a tomar todas medidas


apropriadas e efectivas para:

a) promulgar e aplicar leis que proíbam todas as formas de


violência contra as mulheres, incluindo as relações
sexuais não desejadas e forçadas, quer em privado quer
em público;

b) adoptar todas as outras medidas legislativas,


administrativas, sociais, económicas e outras para
prevenir, punir e erradicar todas as formas de violência
contra as mulheres;
7

c) identificar as causas e as consequências da violência


contra as mulheres, e tomar as medidas apropriadas com
vista a preveni-las e a eliminá-las;

d) promover activamente a educação para a paz, através dos


currículos escolares e da comunicação social, por forma a
erradicar elementos que legitimam e exacerbam a
persistência e a tolerância da violência contra as
mulheres e as raparigas, contidos nas crenças, atitudes
tradicionais e culturais, das práticas e estereótipos;

e) punir os autores da violência contra as mulheres e


realizar os programas de reabilitação das vítimas;

f) estabelecer mecanismos e serviços acessíveis para


assegurar a informação, a reabilitação e a indemnização
efectiva das mulheres e das raparigas vítimas da
violência;

g) prevenir o tráfico de mulheres, perseguir e condenar os


autores do mesmo e proteger as mulheres mais expostas
ao risco de tráfico;

h) proibir todas as experiências médicas ou científicas sobre


as mulheres, sem o seu consentimento prévio;

i) atribuir recursos orçamentais adequados e outros para a


implementação e acompanhamento das acções que visam
prevenir e erradicar a violência contra as mulheres;

j) garantir que, nos países onde a pena de morte ainda


existe ou nenhuma sentença seja aplicada contra
mulheres grávidas com bebés lactentes;
8

k) Garantir que mulheres e homens gozem de direito igual


em termos do acesso ao Estatuto de refugiado, e que às
mulheres refugiadas sejam concedidos os benefícios e
toda a protecção garantidos pelo direito internacional dos
refugiados, incluindo a sua própria identidade e outros
documentos.

Artigo 5º
Eliminação de Práticas Nocivas

Os Estados Parte condenam e proíbem todas as práticas


nocivas que afectem os direitos humanos fundamentais das mulheres,
e que contrariam as normas internacionais. Os Estados Partes tomam
todas as medidas legislativas e outras para eliminar essas práticas,
nomeadamente:

a) sensibilizar todos os sectores da sociedade sobre as


práticas nocivas por meio de campanhas e programas de
informação, de educação formal e informal e de
comunicação;

b) proibir, através de medidas legislativas acompanhadas de


sanções, todas as formas de mutilação genital feminina,
a escarificação, a medicação e a para-medicação da
mutilação genital feminina e todas as outras práticas
nocivas com vista à sua total erradicação;

c) prestar apoio necessário às vítimas de práticas nocivas,


assegurando-lhes os serviços de base, tais como os
serviços de saúde, a assistência jurídica e judiciária
aconselhamento e a formação que lhes permita a auto-
subsistência;

d) proteger as mulheres que correm o risco de serem


sujeitas às práticas nocivas ou a todas as outras formas
de violência, de abuso e intolerância.
9

Artigo 6º
Casamento

Os Estados Partes garantem que os homens e as mulheres


gozem de direitos iguais e que sejam considerados parceiros iguais no
casamento. A este respeito, adoptam medidas legislativas
apropriadas para garantir que:

a) nenhum casamento seja contraído sem o consentimento


pleno e livre de ambas as partes;

b) a idade mínima de casamento para as mulheres seja de


18 anos;

c) encorajar a monogamia como forma preferida de


casamento e que os direitos da mulher no casamento e na
família, inclusive em situações de poligamia sejam
encorajados e protegidos;

d) todo o casamento para que seja reconhecido como legal,


seja registado por escrito e em conformidade com a
legislação nacional;

e) os dois cônjuges escolham, de comum acordo, o seu


regime matrimonial e o lugar de residência;

f) a mulher deve ter o direito de manter o seu nome de


solteira, de utilizá-lo como bem o entender, conjunta ou
separadamente do apelido do seu esposo;

g) a mulher deve ter o direito de conservar a sua


nacionalidade, ou de adquirir a nacionalidade do seu
marido;

h) a mulher e o homem tenham o mesmo direito no que se


refere à nacionalidade dos seus filhos, sob reserva das
disposições contrárias nas leis nacionais e exigências da
segurança nacional;
10

i) a mulher e o homem devem contribuir conjuntamente


para a salvaguarda dos interesses da família, da
protecção e da educação dos seus filhos;

j) durante o casamento, a mulher tenha o direito de


adquirir bens próprios, de administrá-los e geri-los
livremente.

Artigo 7º
Separação, Divórcio e Anulação do Matrimónio

Os Estados Partes comprometem-se a adoptar medidas


legislativas apropriadas para que os homens e as mulheres gozem dos
mesmos direitos em caso de separação, de divórcio e de anulação do
matrimónio. A este respeito, garantem que:

a) a separação, o divórcio e a anulação do matrimónio sejam


pronunciados por via judicial;

b) os homens e as mulheres tenham os mesmos direitos de


pedir a separação, o divórcio ou a anulação do
matrimónio;

c) em caso de separação, divórcio ou anulação do


casamento, o a mulher e o homem tenham os mesmos
direitos e deveres em relação aos seus filhos. Em
qualquer um dos casos, o interesse dos filhos é
considerado primordial;

d) em caso de separação, divórcio ou anulação de


casamento, a mulher e o homem tenham os mesmos
direitos aquando da repartição dos bens comuns,
adquiridos durante o casamento.
11

Artigo 8º
Acesso à justiça e igualdade de protecção perante a Lei

As mulheres e os homens são iguais perante a Lei e devem ter direito


a beneficiar de igual protecção da Lei. Os Estados Partes devem
tomar as medidas adequadas para garantir:

a) acesso efectivo das mulheres aos serviços jurídicos e


legais, incluindo a assistência judiciária;

b) apoio às iniciativas locais, nacionais, regionais e


continentais destinadas a promover o acesso de mulheres
aos serviços de assistência judiciária;

c) criação de estruturas educacionais e outras apropriadas,


dando especial atenção a mulheres e à sensibilização de
todos quanto aos direitos das mulheres;

d) que os órgãos públicos, a todos os níveis sejam dotados


de meios para interpretar e aplicar correctamente os
direitos da igualdade do género;

e) que as mulheres estejam representadas igualmente nas


instituições judiciárias e de ordem pública;

f) reforma das leis e práticas discriminatórias a fim de


promover e proteger os direitos da mulher.

Artigo 9º
Direito a Participação no Processo Político
e de Tomada de Decisões

1. Os Estados Parte realizam acções positivas específicas para


promover a governação participativa e a participação paritária das
Mulheres na vida política dos seus países, através de uma acção
afirmativa e uma legislação nacional e outras medidas de forma a
garantir que:
12

a) participem em todas as eleições, sem qualquer


discriminação;

b) estejam representadas em paridade com os homens e em


todos os níveis nos processos eleitorais;

c) sejam parceiras iguais dos homens a todos os níveis de


desenvolvimento e de implementação das políticas e
programas das políticas e programas de desenvolvimento
dos Estados e das autarquias locais.

2. Os Estados Partes garantem uma maior e efectiva


representação e participação da Mulher a todos os níveis de tomada
de decisões.

Artigo 10
Direito à Paz

1. A Mulher tem direito a uma existência pacífica e a participar na


promoção e manutenção da Paz.

2. Os Estados Parte devem adoptar todas as medidas apropriadas


com vista a assegurar uma maior participação da Mulher:

a) em programas de educação para a paz e de cultura de


paz;

b) em mecanismos e processos de prevenção, gestão e


resolução de conflitos aos níveis local, nacional, regional,
continental e internacional;

c) em processos locais, nacionais, regionais, continentais e


internacionais de tomada de decisão, para garantir a
protecção física, psicológica, social e jurídica de mulheres
requerentes de asilo, refugiadas, retornadas e pessoas
deslocadas, em particular, as mulheres;
13

d) em todos os níveis dos mecanismos estabelecidos para a


gestão de campos e instalações para requerentes de
asilo, refugiados, retornados e deslocados,
particularmente mulheres;

e) em todas os aspectos de planificação, formulação e


implementação dos programas de reconstrução e
reabilitação pós-conflito.

3. Os Estados Partes tomam as medidas necessárias para reduzir


significativamente os gastos militares a favor do desenvolvimento
social em geral, e das mulheres, em particular.

Artigo 11
Protecção das Mulheres nos Conflitos Armados

1. Os Estados Partes comprometem-se a respeitar e a fazer


respeitar as normas do Direito Internacional Humanitário, aplicáveis
nas situações de conflitos armados, que afectam a população,
particularmente as mulheres.

2. Os Estados Partes, em conformidade com as obrigações que


lhes são cometidas ao abrigo do Direito Internacional Humanitário,
devem, em caso de conflito armado, proteger os civis incluindo as
mulheres independentemente da população a que pertencem.

3. Os Estados Partes comprometem-se a proteger as mulheres


candidatas a asilo, as refugiadas, repatriadas ou deslocadas no
interior do seu próprio país, contra todas as formas de violência e
outras formas de exploração sexual e garantir que seus actos sejam
considerados e julgados como crimes de guerra, genocídio e/ou
crimes contra a humanidade perante as jurisdições competentes.

4. Os Estados Partes devem tomar todas as medidas necessárias


para impedir que nenhuma criança, sobretudo as raparigas com
menos de 18 anos de idade, participem directamente nas hostilidades
e, que nenhuma criança seja recrutada como soldado.
14

Artigo 12
Direito à Educação e à Formação

1. Os Estados Parte devem tomar todas as medidas apropriadas


com vista a:

a) eliminar todas as formas de discriminação contra as


mulheres e raparigas no domínio da educação e
formação;

b) eliminar todas as referências em manuais, currículos e


meios de comunicação social que perpetuam essa
discriminação;

c) proteger as mulheres, especialmente as crianças-rapariga


contra todas as formas de abuso, incluindo o assédio
sexual nas escolas e outros estabelecimentos de ensino e
prever sanções contra os autores destas práticas;

d) proporcionar serviços de aconselhamento e reabilitação


das mulheres vítimas de abuso e assédio sexuais;

e) integrar a questão do género e a educação dos direitos


humanos em todos os níveis dos programas de ensino,
incluindo a formação de formadores.

2. Os Estados Parte devem tomar medidas específicas de acção


positiva para:

a) promover uma maior alfabetização das mulheres;

b) promover a educação e a formação das mulheres e das


raparigas a todos os níveis e em todas as disciplinas; e

c) Promover a inscrição e a retenção de raparigas nas


escolas e noutros centros de formação, bem assim a
organização de programas em prol das mulheres e das
raparigas que abandonam as escolas de forma
prematura.
15

Artigo 13
Direitos Económicos e à Protecção Social

Os Estados Parte adoptam e aplicam medidas legislativas e


outras para garantir às mulheres iguais oportunidades no trabalho e
no desenvolvimento da carreira e outras oportunidades económicas. A
esse respeito devem :

a) promover igualdade em matéria de acesso ao emprego;

b) promover o direito à remuneração igual para homens e


mulheres num mesmo emprego de valor igual;

c) garantir a transparência na contratação, promoção e na


exoneração das mulheres com vista a combater o assédio
sexual no local de trabalho;

d) permitir que as mulheres escolham livremente o seu


emprego, protegê-las contra os empregadores que violam
e exploram os seus direitos fundamentais, reconhecidos e
garantidos pelas convenções, legislações nacionais e
regulamentos em vigor;

e) criar condições propícias para promover e apoiar os


empregos e as actividades económicas das mulheres,
particularmente, no sector informal;

f) criar um sistema de protecção e de segurança social a


favor das Mulheres que trabalham no sector informal e
sensibilizá-las para que adiram a esse sistema;

g) estabelecer uma idade mínima para o trabalho, proibir o


emprego de crianças abaixo dessa idade, e proibir,
combater e punir todas as formas de exploração das
crianças, em particular, das raparigas;
16

h) tomar as medidas necessárias a fim de valorizar o


trabalho doméstico das mulheres;

i) garantir as mulheres férias adequadas e pagas, antes e


depois do parto, tanto no sector privado como no público;

j) garantir igualdade na aplicação de impostos para


homens e mulheres;

k) reconhecer às mulheres assalariadas o direito de


beneficiar dos mesmos subsídios e benefícios concedidos
aos homens assalariados, a favor dos seus cônjuges e
filhos;

l) reconhecer a responsabilidade primária dos pais de


garantir a educação e o desenvolvimento dos seus filhos,
como uma função social na qual o Estado e o sector
privado assumem responsabilidades secundárias;

m) tomar as medidas legislativas e administrativas


apropriadas com vista a combater a exploração ou a
utilização das mulheres para fins publicitários.

Artigo 14
Direito à Saúde e ao Controlo das Funções de Reprodução

1. Os Estados Parte devem garantir o respeito e a promoção dos


direitos da Mulher à saúde, incluindo a saúde sexual e reprodutiva.
Esses direitos compreendem:

a) o direito ao controlo da sua fertilidade;

b) o direito de decidir sobre a sua maternidade, o número


de filhos e o espaçamento dos nascimentos;

c) o direito de escolher livremente métodos contraceptivos;


17

d) o direito de se proteger e de ser protegida contra as


doenças de transmissão sexual, incluindo o VIH/SIDA

e) o direito de serem informadas do estado de saúde do seu


parceiro, em particular, em caso de doenças sexualmente
transmissíveis, incluindo o VIH/SIDA, em conformidade
com as normas internacionalmente reconhecidas;

f) o direito à educação sobre o planeamento familiar.

2. Os Estados Parte devem tomar medidas apropriadas para:

a) assegurar às mulheres o acesso aos serviços de saúde


adequados de baixo custo e a distâncias razoáveis,
incluindo os programas de informação, de educação e
comunicação para as mesmas, em particular, para
aquelas que vivem nas zonas rurais;

b) criar e reforçar os serviços de saúde pré e pós-natal e


nutricionais para as mulheres, durante a gravidez e o
período de aleitamento;

c) proteger os direitos de reprodução da mulher,


particularmente autorizando abortos médicos em casos
de agressão sexual, violação incesto e quando a gravidez
põe em perigo a saúde mental e psíquica da mãe ou do
feto .

Artigo 15
Direito à Segurança Alimentar

Os Estados Parte devem garantir às mulheres o direito ao


acesso a uma alimentação sadia e adequada. Neste sentido, adoptam
medidas apropriadas para:
18

a) assegurar à mulher o acesso à água potável, às fontes de


energia doméstica, à terra e aos meios de produção
alimentar; e

b) estabelecer sistemas de aprovisionamento e de


armazenagem adequados para garantir às mulheres a
segurança alimentar.

Artigo 16
Direito a uma Habitação Adequada

A Mulher tem o mesmo direito que o homem ao acesso a uma


habitação e a condições de vida aceitáveis, num ambiente saudável.
Para o efeito, os Estados Parte garantem à Mulher,
independentemente do seu estado civil, o acesso a uma habitação
adequada.

Artigo 17
Direito a um Ambiente Cultural Positivo

1. A Mulher deve ter o direito de viver num ambiente cultural


positivo e de participar na determinação de políticas culturais, a todos
os níveis.

2. Os Estados Parte devem adoptar todas as medidas


apropriadas para reforçar a participação da Mulher na
formulação de políticas culturais, a todos os níveis.

Artigo 18
Direito a um Meio Ambiente Saudável e Sustentável

1. A Mulher tem o direito de viver num meio ambiente saudável e


sustentável.

2. Os Estados Parte devem adoptar todas as medidas apropriadas


para:
19

a) Assegurar uma maior participação da mulher na


planificação, gestão e preservação do meio ambiente, a
todos os níveis;

b) Promover a pesquisa sobre novas e renováveis fontes de


energia, incluindo as tecnologias de informação e facilitar
o acesso da Mulher às mesmas e a participação no seu
controlo;

c) Proteger e assegurar o desenvolvimento dos


conhecimentos tradicionais das mulheres; e

d) garantir que os padrões apropriados sejam respeitados


para o armazenamento, o transporte e a destruição do
lixo doméstico.

Artigo 19
Direito a um Desenvolvimento Sustentável

1. A mulher tem o direito de gozar plenamente do seu direito ao


desenvolvimento sustentável. A este respeito, os Estados Partes
devem tomar todas as medidas apropriadas para:

a) introduzir a questão do género no procedimento nacional


de planificação para o desenvolvimento;

b) assegurar uma participação igual das mulheres a todos


os níveis de concepção, de tomada de decisão, de
implementação e de avaliação de políticas e programas de
desenvolvimento;

c) promover o acesso e a posse pela mulher dos recursos


produtivos, tais como a terra, e garantir o seu direito aos
bens;
20

d) promover o acesso das mulheres ao crédito, à formação,


ao desenvolvimento das técnicas e aos serviços de
extensão no meio rural e urbano, a fim de lhes assegurar
uma melhor qualidade de vida e de reduzir o seu nível de
pobreza;

e) tomar em consideração os indicadores de


desenvolvimento humano específicos, relacionados com a
Mulher na elaboração de políticas e programas de
desenvolvimento; e

f) garantir que os efeitos negativos da globalização e a


implementação de políticas e programas comerciais e
económicos sejam reduzidos ao mínimo, em relação às
mulheres.

Artigo 20
Direitos da Viúva

Os Estados Partes devem adoptar medidas apropriadas para


garantir que a viúva goze de todos os direitos humanos, através da
implementação das disposições seguintes:

a) que as mulheres não sejam sujeitas a tratamentos


desumanos, humilhantes e/ou degradantes;

b) depois da morte do marido, a viúva torna-se a tutora dos


seus filhos, salvo se isso é contrário aos interesses e ao
bem estar destes últimos; *

c) a viúva deve ter o direito de contrair novo matrimónio


com um homem de sua escolha.
21

Artigo 21
Direito à Herança

1. Uma viúva tem o direito a uma parte igual da herança relativa


aos bens do seu esposo. Uma viúva tem o direito de continuar a
habitar no domicílio conjugal, independentemente do regime
matrimonial. Em caso de novo casamento, ela conserva esse direito
se a habitação lhe pertence ou se a tiver obtido por herança.

2. As mulheres e os homens têm o direito de herdar os bens dos


seus pais, em partes iguais.

Artigo 22
Protecção Especial à Mulher Idosa

Os Estados Partes comprometem-se a:

a) garantir a protecção das idosas, e tomar medidas


específicas de acordo com as suas necessidades físicas,
económicas e sociais bem como o seu acesso ao emprego
e à formação profissional;

b) assegurar às mulheres idosas, protecção contra a


violência, incluindo o abuso sexual e a discriminação
com base na idade e garantir-lhes o direito de serem
tratados com dignidade.

Artigo 23
Protecção Especial das Mulheres Portadoras de Deficiência

Os Estados Partes comprometem-se a:

a) garantir a protecção das mulheres portadoras de deficiência,


nomeadamente através de medidas especificas de acordo
com as suas necessidades físicas, económicas e sociais, para
facilitar o seu acesso ao emprego, à formação profissional e
vocacional, bem como a sua participação na tomada de
decisões;
22

b) garantir a protecção das mulheres portadoras de deficiência


contra a violência, incluindo o abuso sexual e a
discriminação com base na doença e garantir o direito a
serem tratadas com dignidade.

Artigo 24
Protecção Especial das Mulheres em Situação de Sofrimento

Os Estados Partes comprometem-se a:

a) garantir a protecção das mulheres pobres e das


mulheres chefes de família em sofrimento, incluindo
as dos grupos populacionais marginalizados e
proporcionar-lhes um ambiente adequado à sua
condição e às suas necessidades físicas, económicas
e sociais especiais;

b) garantir o direito de mulheres grávidas, lactentes ou


em detenção, proporcionando-lhes um ambiente
adequado à sua condição e o direito a um tratamento
condigno.

Artigo 25
Reparações

Os Estados Partes comprometem-se a:

a) garantir que reparações adequadas sejam arbitradas a


qualquer mulher, cujos direitos ou liberdades, tais como
reconhecidos no presente Protocolo, forem violados;

b) garantir que essas reparações sejam determinadas pelas


autoridades judiciais, administrativas e legislativas
competentes, ou por uma outra autoridade competente
prevista pela lei.
23

Artigo 26
Monitorização e Implementação

1. Os Estados Parte devem garantir a implementação deste


Protocolo a nível nacional, e submeter no quadro do seu relatório, nos
termos do Artigo 62 da Carta Africana, as medidas legislativas e
outras tomadas para a plena realização dos direitos contidos e
reconhecidos no presente Protocolo.

2. Os Estados Parte comprometem-se a adoptar todas as medidas


necessárias e, em particular, afectar recursos orçamentais e outros
com vista à implementação efectiva dos direitos reconhecidos no
presente Protocolo.

Artigo 27
Interpretação

O Tribunal Africano dos Direitos do Homem e dos Povos é


competente para conhecer os litígios relativos à interpretação do
presente Protocolo, decorrentes da sua aplicação ou da sua
implementação.

Artigo 28
Assinatura, Ratificação e Adesão

1. Este Protocolo é submetido à assinatura e ratificação pelos


Estados Parte e é aberta a sua adesão, em conformidade com os seus
respectivos procedimentos constitucionais.

2. Os instrumentos de ratificação ou de adesão devem ser


depositados junto do Presidente da Comissão da União Africana.

Artigo 29
Entrada em Vigor

1. O presente Protocolo entra em vigor trinta (30) dias após o


depósito do Décimo-quinto (15º) instrumento de ratificação.
24

2. Para cada Estado Parte que adere ao presente Protocolo após a


sua entrada em vigor, o Protocolo entra em vigor a partir da data de
depósito pelo Estado do seu instrumento de adesão.

3. O Presidente da Comissão da União Africana deve notificar


todos os Estados Partes da entrada em vigor do presente Protocolo.

Artigo 30
Emenda e Revisão

1. Todo o Estado Parte pode submeter propostas de emenda ou de


revisão do presente Protocolo.

2. Propostas de emenda ou de revisão são submetidas, por


escrito, ao Presidente da Comissão da UA, que deve transmiti-las aos
Estados Parte dentro de um período de trinta (30) dias após a sua
recepção.

3. A Conferência dos Chefes de Estado e de Governo depois do


parecer da Comissão Africana, examina essas propostas dentro de um
período de um (1) ano, depois da notificação aos Estados Parte, em
conformidade com as disposições do parágrafo 2 deste Artigo.

3. As propostas de emendas ou de revisão devem ser são


adoptadas pela Conferência por uma maioria simples.

5. A emenda entra em vigor, para cada Estado Parte que a tenha


aceite, trinta (30) dias depois do Presidente da Comissão da UA ter
recebido a notificação da aceitação.

Artigo 31
Estatuto do presente Protocolo

Nenhuma das disposições do presente Protocolo deve afectar


disposições mais favoravelmente à realização dos direitos da Mulher
contidas nas legislações nacionais dos Estados Partes ou em todas
outras convenções, tratados ou acordos regionais, sub-regionais,
continentais ou internacionais aplicáveis nesses Estados Partes.
25

Artigo 32
Disposições Transitórias

Até à criação do Tribunal Africano dos Direitos do Homem e dos


Povos, a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos
acompanha as questões de interpretação decorrentes da aplicação e
implementação deste Protocolo.

EM FÉ DE QUE, NÓS, Chefes de Estado e de Governo da


União Africana ou os nossos Representantes devidamente
autorizados, adoptámos o presente Protocolo.

Adoptado em Maputo pela 2ª Sessão Ordinária da


Conferência da União Africana em Maputo, a 11 de
Julho de 2003.
26

CONVENÇÃO DA UNIÃO AFRICANA SOBRE A


PREVENÇÃO E O COMBATE À CORRUPÇÃO

1. República Popular e Democrática da Argélia

....................................................................

2. República de Angola

....................................................................

3. República do Benin

....................................................................

4. República do Botswana

....................................................................
27

5. República do Burkina Faso

....................................................................

6. República do Burundi

....................................................................

7. República dos Camarões

....................................................................

8. República de Cabo Verde

....................................................................

9. República Centro Africana


28

....................................................................

10. República do Chade

....................................................................

11. República Federal Islâmica das Comores

....................................................................

12. República do Congo

....................................................................

13. República da Côte d’Ivoire

....................................................................

14. República Democrática do Congo


29

....................................................................

15. República do Djibouti

....................................................................

16. República Árabe do Egipto

....................................................................

17. Estado da Eritréia

....................................................................

18. República Federal Democrática da Etiópia

....................................................................
30

19. República da Guiné Equatorial

....................................................................

20. República do Gabão

....................................................................

21. República da Gâmbia

....................................................................

22. República do Gana

....................................................................

23. República da Guiné


31

....................................................................

24. República da Guiné Bissau

....................................................................

25. República do Quénia

....................................................................

26. Reino do Lesoto

....................................................................

27. República da Libéria

....................................................................
28. Grande Jamahiriya Árabe Líbia
32
Popular e Socialista

....................................................................

29. República do Madagáscar

....................................................................

30. República do Malawi

....................................................................

31. República do Mali

....................................................................

32. República Islâmica da Mauritânia

....................................................................

33. República das Maurícias


33

....................................................................

34. República de Moçambique

....................................................................

35. República da Namíbia

....................................................................

36. República do Niger

....................................................................

37. República Federal da Nigéria

....................................................................
38. República do Ruanda
34

....................................................................

39. República Árabe Saharaoui Democrática

....................................................................

40. República de São Tomé e Príncipe

....................................................................

41. República do Senegal

....................................................................

42. República das Seychelles

....................................................................
43. República da Sierra Leone
35

....................................................................

44. República da Somália

....................................................................

45. República da África do Sul

....................................................................

46. República do Sudão

....................................................................

47. Reino da Swazilândia

....................................................................
48. República Unida da Tanzânia
36

....................................................................

49. República do Togo

....................................................................

50. República da Tunísia

....................................................................

51. República do Uganda

....................................................................

52. República da Zâmbia

....................................................................

53. República do Zimbabwe


37

...................................................................

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