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Epvmdp - 2021 - Editado

Este documento apresenta um livro sobre encontros de preparação para a vida matrimonial na dinâmica paroquial. O livro é lançado em uma edição especial para celebrar os cinco anos da exortação Amoris Laetitia e apoiar a ação pastoral no que concerne à família. O livro discute temas importantes para a preparação de casais como as recomendações da Igreja, os temas a serem abordados e como organizar a estrutura dos encontros na paróquia.
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Epvmdp - 2021 - Editado

Este documento apresenta um livro sobre encontros de preparação para a vida matrimonial na dinâmica paroquial. O livro é lançado em uma edição especial para celebrar os cinco anos da exortação Amoris Laetitia e apoiar a ação pastoral no que concerne à família. O livro discute temas importantes para a preparação de casais como as recomendações da Igreja, os temas a serem abordados e como organizar a estrutura dos encontros na paróquia.
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André Parreira

ENCONTROS DE PREPARAÇÃO
PARA A VIDA M ATRIMONIAL
na dinâmica paroquial

Edição especial

Apoio e distribuição::
ENCONTROS DE PREPARAÇÃO PARA A VIDA
MATRIMONIAL NA DINÂMICA PAROQUIAL
Edição Especial - Ano Família Amoris Laetitia

Distribuição gratuita em formato digital (pdf).


Direitos reservados. Reprodução proibida para fins comerciais.
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por
qualquer forma e/ou quaisquer meios ou arquivada em qualquer
sistema ou banco de dados sem a permissão do autor.

Edição: André Luís Parreira - [email protected]

O ano da Amoris Laetitia

Em 19 de março de 2021, a Igreja comemora cinco anos da


publicação da exortação apostólica Amoris Laetitia
sobre a beleza e a alegria do amor familiar.

O Papa Francisco determinou como Ano "Família Amoris Laetitia"


ao período de 19 de março de 2021 à 26 de junho de 2022 (início
do X Encontro Mundial das Famílias em Roma com o Santo
Padre).
Apresentação da Edição especial e gratuita do livro “Encontros
de Preparação para a Vida Matrimonial
na Dinâmica Paroquial

Em 19 de Março de 2021, a Exortação apostólica pós- sinodal Amoris


Laetitia, do Papa Francisco, completa cinco anos. Desta data a 26 de
junho de 2022, toda a Igreja é convidada ao estudo e à revisão da
ação pastoral no que concerne à família, a partir desta Exortação.
Como guia de reflexão e estudo, o Dicastério para os Leigos, a
Família e a Vida, apresenta 12 percursos com famílias para aplicar a
"Amoris Laetitia", sendo que o primeiro deles é “Fortalecer a pastoral
da preparação para o matrimônio com novos itinerários
catecumenais”.

Com efeito, o Papa, refletindo sobre o caminho de preparação dos


noivos para o matrimônio, afirma que estes “devem poder captar o
fascínio duma união plena que eleva e aperfeiçoa a dimensão social
da vida, confere à sexualidade o seu sentido maior, ao mesmo tempo
que promove o bem dos filhos e lhes proporciona o melhor contexto
para o seu amadurecimento e educação.” (Amoris Laetitia, n. 205).
Assim, para também colaborar com esta necessária ação de toda a
Igreja e, principalmente, da Pastoral Familiar e de movimentos
dedicados à família, o livro “Encontros de Preparação para a Vida
Matrimonial na Dinâmica Paroquial”, escrito e organizado pelo Prof.
André Parreira, pai de família, com grande atuação teórica e
prática nesta temática, é novamente publicado em uma edição
especial. Com o apoio e o selo da Seção brasileira do Pontifício
Instituto Teológico João Paulo II para as Ciências do Matrimônio e
Família, o livro, que já havia sido lançado na perspectiva da Amoris
Laetitia, recebeu um novo capítulo e vários destaques da Exortação
aplicados a questões bastante práticas. E, como edição celebrativa, o
livro é distribuído gratuitamente em formado pdf (um e-book).

Tendo como foco a preparação próxima para o matrimônio, etapa


ainda bastante conhecida como "Cursos ou Encontros de Noivos", o
livro procura responder à diversas perguntas sobre o tema, tais como:
Quais as recomendações da Igreja sobre a preparação para o
Matrimônio? Quais as etapas dessa preparação? O que significa o
catecumenato recomendado pelo Papa Francisco? Quais os temas
realmente necessários? Qual a forma recomendada para os Encontros
de Preparação para a Vida Matrimonial? Como organizar a estrutura
dos encontros na paróquia? Quem pode ajudar nesta missão? Qual o
momento ideal para o casal frequentar os encontros? Há um prazo de
validade dos certificados de participação? E os casais que já moram
juntos, precisam participar dos encontros? Estas perguntas e muitas
outras são respondidas de forma didática a partir da análise dos
documentos da Igreja, mas, em especial, a partir das reflexões da
Amoris Laetitia.

Certamente, aqueles e aquelas que desejarem contar com um rico


material de aprofundamento e apoio no que diz respeito à ação da
Igreja em favor da preparação ao matrimônio, visto como resposta a
um chamado específico que Deus faz ao homem e à mulher, ficarão
contentes por ter em mãos este livro.

Salvador, 15 de Março de 2021

Prof. Dr. Pe Rafael Cerqueira Fornasier


Diretor da Seção brasileira do Pontifício Instituto João Paulo II
para as Ciências do Matrimônio e da Família
Apresentação da 1ª. edição impressa

André Parreira tem dado uma grande colaboração na busca de


caminhos para ajudar os jovens a se prepararem para o casamento.
O seu livro sobre os encontros de preparação para o matrimônio foi
uma luz para quem se dedica a este trabalho pastoral. Além dos
conteúdos distribuídos em vários encontros, propõe uma nova
metodologia de como apresentar os assuntos. A novidade consiste
na organização de pequenos grupos para favorecer o diálogo entre
os participantes.

A preparação para o matrimônio é um dos temas mais recorrentes


nos documentos da Igreja sobre a família. Há uma preocupação com
a desestruturação dos casamentos nos nossos dias. Uma preparação
adequada dos jovens para assumirem tão grande responsabilidade
na vida é uma grande ajuda. A nova proposta de encontros está
recebendo grande acolhida. Muitas paróquias estão adotando o
novo método de preparação para o matrimônio.

O novo livro “Encontros de Preparação para a Vida Matrimonial –


na dinâmica paroquial” é uma complemen- tação do primeiro
(Matrimônio: Encontros de Preparação). Fornece, sobretudo,
elementos para os dirigentes aprofundarem a reflexão sobre os
assuntos estudados. Muito valiosa é a apresentação de bibliografia
sobre a temática, principalmente os documentos da Igreja.

Com alegria apresento este novo livro do André. Que possa ser um
estímulo para todos os que se dedicam em ajudar os jovens na
preparação do matrimônio. A família é um grande tesouro na vida
de cada pessoa e também da sociedade.

Florianópolis, 15 de Outubro de 2018.

Dom Wilson Tadeu Jönck


Arcebispo de Florianópolis
SIGLAS UTILIZADAS

No texto, o número após a sigla identifica o parágrafo do documento.

AL - Exortação Apostólica Amoris Laetitia, Papa Francisco, 2016.

CIC - Catecismo da Igreja Católica, 1992.

FC - Exortação Apostólica Familiaris Consortio, Papa São João


Paulo II, 1981.

PSM - Preparação para o Sacramento do Matrimônio, Pontifício


Conselho para a Família,1996.

DAP – Documento conclusivo do CELAM de Aparecida, 2007


Introdução

O Papa Francisco afirma, na exortação apostólica Amoris Laetitia,


que: “a complexa realidade social e os desafios, que a família é
chamada a enfrentar atualmente, exigem um maior empenhamento
de toda a comunidade cristã na preparação dos noivos” (Papa
Francisco, AL206).

Este maior empenhamento pode ser entendido de muitas maneiras e


em muitos momentos, mas uma delas é, com certeza, aprofundar os
encontros de preparação para o matrimônio, conhecidos por outros
nomes como Cursos de Noivos, Encontros de Noivos, Escola de
Noivos etc. Estes constituem a Preparação Próxima, uma etapa de um
amplo percurso constituído também pela Preparação Remota e a
Imediata. Seja qual for a terminologia, esta etapa, a de Preparação
Próxima, deve ter a dimensão que bem definiu São João Paulo II na
Familiaris Consortio, a dimensão de uma catequese pré-matrimonial
capaz de apresentar e discutir questões fundamentais para um
verdadeiro discernimento vocacional. Contudo, as outras etapas
devem também ser contempladas e cuidadosamente trabalhadas,
pois “a preparação para o matrimônio deve ver-se e atuar-se como
um processo gradual e contínuo” (FC66: Exortação Apostólica
Familiaris Consortio, Papa São João Paulo II).

“Há várias maneiras legítimas de organizar a preparação próxima


para o matrimônio e cada Igreja local discernirá a que for melhor,
procurando uma formação adequada que, ao mesmo tempo, não
afaste os jovens do sacramento.” (Papa Francisco, AL207)

Além das recentes orientações do Papa Francisco por meio da


Amoris Laetitia (2016), diversos foram os chamados da Igreja nos
últimos 50 anos para uma reestruturação deste momento. Após o
Concílio Vaticano II, o tema Preparação para o Matrimônio começou
a receber mais atenção por parte da Igreja, devido ao novo contexto
social que vinha se instalando. A Constituição Pastoral Gaudium et
Spes (1965) dedicou diversos parágrafos à situação familiar. A partir
desta, vários documentos abordaram o tema e destaco a Familiaris
Consortio (1981) e o documento Preparação para o Sacramento do
Matrimônio (1996). Todos são harmoniosos ao afirmar que a
Preparação Próxima demanda “tempo e cuidados necessários” e
que os percursos de preparação para o matrimônio sejam propostos
também por cônjuges capazes de acompanhar os nubentes antes do
casamento e nos primeiros anos de vida matrimonial.

Um dos mais importantes e recentes documentos da CNBB sobre a


família, o Diretório da Pastoral Familiar (Doc. 79 da CNBB, 2004)
manifesta preocupação quanto à Preparação Próxima, afirmando, no
parágrafo 5, que: “muito ainda resta por fazer: uma preparação
adequada para o matrimônio, pois muitos “Cursos de Noivos”, apesar
de obrigatórios, estão desatualizados”.

Nos últimos anos, encontramos paróquias e dioceses que deram


passos firmes em favor da renovação da preparação para o
matrimônio. Mas diante das dimensões do Brasil e do elevado
número de dioceses e paróquias, ainda há muito por fazer.

Há vários anos venho estudando e falando sobre o tema. Foram


inúmeras palestras e cursos de formação, dentro e fora do Brasil, bem
como momentos de discussão e apoio a diversas paróquias, dioceses
e regionais da CNBB na jornada de renovação da estrutura que é,
sem dúvida, uma das mais importantes na esfera da Pastoral Familiar,
a preparação para o matrimônio.

Ao final das palestras ou cursos, é comum que os participantes


solicitem os slides utilizados ou algum esquema do conteúdo. Com
tal objetivo, apresento este livro, uma síntese das palestras e cursos
sobre as orientações gerais da Igreja para a preparação próxima para
o matrimônio.
A preparação para o matrimônio na Amoris Laetitia

“Convido as comunidades cristãs a reconhecerem que


é um bem para elas mesmas acompanhar o caminho
de amor dos noivos.” (Papa Francisco, AL207)

Nos últimos anos, a preparação para o matrimônio ganhou novo e


merecido destaque, pois foi um dos eixos de trabalho do Sínodo dos
Bispos sobre a família em 2014 e 2015. Em 2016 o Papa Francisco
publicou a Exortação Apostólica Amoris Laetitia, que pode ser
considerada uma resposta ao sínodo. Nela, a preparação para o
matrimônio é citada em vários pontos, mas recebe também um
subcapítulo inteiro dedicado ao tema, dos parágrafos 204 ao 216,
intitulado “Guiar os noivos no caminho de preparação para o
matrimônio”. Além deste, em vários outros parágrafos há orientações
e reflexões sobre o tema.

“A decisão de casar e constituir família deve ser o


resultado de um discernimento vocacional.” (Papa
Francisco, AL 72).

Na Amoris Laetitia ficam reforçadas as três etapas, a Remota, a


Próxima e a Imediata. A Preparação Remota começa no ventre e
perpassa a vida até que um namoro esteja se transformando em
noivado, sendo constituída por todas as ações que estimulem a
vocação matrimonial e trabalhem em favor dela, começando na
vivência dos pais e passando pela catequese, crisma, encontros de
namorados e outras iniciativas.
E sobre a etapa próxima, o Papa nos orienta que “a preparação
dos que já formalizaram o noivado, quando a
comunidade paroquial consegue acompanhá-los com
bom período de antecipação, deve dar-lhes também a
possibilidade de individuar incompatibilidades e
riscos” (Papa Francisco, AL 209),

Retomando o conceito de acompanhar. Ele fala, insistentemente, no


acompanhamento dos noivos, o que é a chave para uma boa
catequese matrimonial. Acompanhar é um dos verbos mais fortes na
exortação e aparece 19 vezes em todo o texto. É o acompanhamento,
por exemplo, que permite que os agentes conheçam melhor os noivos
e estes se abram expondo suas dúvidas e inseguranças.

“Reitero a necessidade de um catecumenato


permanente para o sacramento do matrimônio que
diz respeito à sua preparação, celebração̧ e aos
primeiros tempos sucessivos”. (Papa Francisco, 27/09/2018)

Diante das características específicas de cada diocese e também em


respeito às iniciativas regionais, o Papa não dá uma receita fixa, mas
afirma que “há várias maneiras legítimas de organizar
a preparação próxima para o matrimônio e cada
Igreja local discernirá a que for melhor, procurando
uma formação adequada que, ao mesmo tempo, não
afaste os jovens do sacramento.” (Papa Francisco, AL 207)

Contudo, tal liberdade de organização deve ser guiada pelos


princípios básicos reunidos nos vários documentos que disciplinam o
tema. A Amoris Laetitia, bem como alguns pronunciamentos do
Papa dão continuidade às recomendações do documento Preparação
para o Sacramento do Matrimônio (1996), ao dizer que a etapa
próxima merece tempo e cuidado necessários, que seja feita de
encontros frequentes e que o centro seja a doutrina natural e cristã
sobre o matrimônio.
“Trata-se duma espécie de «iniciação» ao
sacramento do matrimônio, que lhes forneça os
elementos necessários para poderem recebê-lo com
as melhores disposições e iniciar com uma certa
solidez a vida familiar.” (Papa Francisco, AL 207)

O Papa nos esclarece que não é questão de banir as palestras da


preparação para o matrimônio, mas de ajustá-las aos momentos mais
oportunos. Elas podem e devem continuar existindo na dinâmica
paroquial e nas outras etapas da preparação. Isto fica claro quando o
Papa Francisco diz que “habitualmente, são muito úteis os
grupos de noivos e a oferta de palestras opcionais
sobre uma variedade de temas que realmente
interessam aos jovens”. (Papa Francisco, AL 208)

No parágrafo 211, o Papa nos orienta que, tanto a Preparação


Próxima como a remota “devem procurar que os noivos
não considerem o matrimônio como o fim do
caminho, mas o assumam como uma vocação que os
lança para diante, com a decisão firme e realista de
atravessarem juntos todas as provações e momentos
difíceis”. (Papa Francisco, AL 211)

O Papa Francisco também cita claramente a etapa que, infelizmente,


ainda é pouco conhecida no Brasil, a Preparação Imediata, necessária
àqueles que passaram pela Etapa Próxima, que são os Encontros de
Preparação para a Vida Matrimonial, e decidem prosseguir para o
altar. Nessa etapa, “é importante esclarecer os noivos
para viverem com grande profundidade a celebração
litúrgica, ajudando-os a compreender e viver o
significado de cada gesto” (Papa Francisco, AL 213).

A Amoris Laetitia nos convoca à reflexão e à ação para oferecer


sólido itinerário de motivação, discernimento e preparação àqueles
que buscam o matrimônio. É um documento tão belo e profundo que
necessita ser lido, ou melhor, estudado várias vezes. Mas, além de
estudar, é necessário rever nossa ação pastoral a partir dele! Neste
livro indicamos apenas alguns pontos específicos à organização e
desenvolvimento dos EPVM - Preparação Próxima, que são gotas
diante de um oceano que nos ofereceu o Papa Francisco.

1 - O Setor Pré-Matrimonial

O Setor Pré-Matrimonial é um dos três setores, ou três frentes de


missão da Pastoral Familiar. Ele é amplo e não se restringe
unicamente aos encontros de preparação para a vida matrimonial,
mas por sua vez se divide também em três etapas: a Preparação
Remota, a Preparação Próxima e a Preparação Imediata. Embora este
material tenha como foco específico a Preparação Próxima, convém
uma breve descrição das três etapas.

1.1 Preparação Remota: é bastante anterior ao casamento e tem


em vista, principalmente, a formação dos valores familiares. Pode se
articular com outras pastorais envolvidas com crianças, adolescentes
e jovens, bem como namorados. O Diretório da Pastoral Familiar
(Documento 79 da CNBB) afirma que “a preparação remota é básica.
Sobre ela se apoiam as posteriores. Abrange um período bastante
grande da vida do ser humano como cidadão e como cristão. Tem seu
início no seio da família e percorre o caminho da escola, da catequese
da primeira eucaristia e crisma” (parágrafo 264)

“Nesse período é muito significativo criar condições para a formação


integral dos adolescentes e jovens para a educação da afetividade e
da sexualidade humana. Também é importante aproveitar a
oportunidade daqueles que já frequentam os movimentos e grupos de
jovens da comunidade para lhes oferecer um fundamento da
preparação para o matrimônio.” (parágrafo 266)
E o Papa Francisco nos diz, na Amoris Laetitia: “... é preciso ajudar
os jovens a descobrir o valor e a riqueza do matrimônio. Devem
poder captar o fascínio duma união plena que eleva e aperfeiçoa a
dimensão social da vida, confere à sexualidade o seu sentido maior,
ao mesmo tempo que promove o bem dos filhos e lhes proporciona o
melhor contexto para o seu amadurecimento e educação.” (Papa
Francisco, AL205)

1.2 Preparação Próxima: deve oferecer suporte ao discernimento


final para o casal sobre a decisão de assumir o matrimônio e será
detalhada a seguir, neste material. Podemos, por hora, utilizar a
definição de São João Paulo II, na Familiaris Consortio: “Esta
catequese renovada de todos os que se preparam para o matrimônio
cristão é absolutamente necessária, para que o sacramento seja
celebrado e vivido com retas disposições morais e espirituais.”
(FC66).

1.3 Preparação Imediata: é a última etapa antes da celebração do


matrimônio. Ela deve ser um momento de reflexão e recolhimento,
com retorno a alguns temas já tratados na Preparação Próxima
quando houver necessidade, mas com ênfase na preparação da
celebração, tanto no aspecto litúrgico quanto no aspecto interior
(oração, reflexão e reconciliação). Sobre esta etapa, comenta o Papa
Francisco: “é importante esclarecer os noivos para viverem com
grande profundidade a celebração litúrgica, ajudando-os a
compreender e viver o significado de cada gesto;” (Papa Francisco,
AL213)

2 - A quem se destina este livro?

Este livro é especialmente destinado a todos aqueles que se dedicam


à Preparação para a Vida Matrimonial, especialmente aqueles que em
sua Etapa Próxima por meio dos Encontros, Cursos ou Escolas de
Noivos, sejam membros da Pastoral Familiar ou membros de
diversos grupos, movimentos ou serviços presentes nas paróquias. A
preparação para o matrimônio não é uma atividade complementar na
vida paroquial, mas sim fundamental, pois “a preparação para o
casamento é de primeira importância” (CIC1632: Catecismo da
Igreja Católica).

3 - O que é, exatamente, a Preparação Próxima?

A ideia de um itinerário, catecumenato ou catequese para o


matrimônio vem sendo proposta na Igreja há anos. Para dar um
exemplo, temos em São João Paulo II, na Exortação Familiaris
Consortio, a definição deste comento como Catequese Pré-
Matrimonial.

O documento Preparação para o Sacramento do Matrimônio


(Pontifício Conselho para a Família, 1996), afirma que a Preparação
Próxima constitui uma etapa de formação que possa oferecer
verdadeira catequese sobre o matrimônio, em que “seja dada a
possibilidade de verificar a maturidade dos valores humanos próprios
da relação de amizade e de diálogo que caracterizam o noivado.”
(PSM32)

O Papa Bento XVI, no discurso por ocasião da inauguração do ano


judiciário do Tribunal da Rota Romana, em 2011, bem resume a
responsabilidade da preparação para o matrimônio, recomendando:
“que haja o máximo cuidado pastoral na formação dos nubentes e na
prévia verificação das suas convicções acerca dos compromissos
irrenunciáveis para a validade do sacramento do matrimônio. Um
sério discernimento a este propósito poderá evitar que impulsos
emotivos ou razões superficiais induzam os dois jovens a assumir
responsabilidades que depois não saberão honrar” (Bento XVI,
2011)1.

No Brasil, o Diretório da Pastoral Familiar (Documento 79 da


CNBB, 2004) sugere a etapa próxima seja feita de itinerário de
encontros, ao que denomina Encontros de Preparação para a Vida
Matrimonial – EPVM.

Podemos citar também que, na América Latina, o Celam de


Aparecida (2007) já sugeria renovar a preparação através de
itinerários: “Para tutelar e apoiar a família, a pastoral familiar pode
estimular, entre outras, as seguintes ações: [...] c) Renovar a
preparação remota e próxima para o sacramento do matrimônio e
da vida familiar com itinerários pedagógicos de fé.” (DAP, 437)
Tantas diretrizes demonstram a preocupação e interesse da Igreja
para que os casais respondam o “sim” às perguntas feitas no
momento da celebração com grande consciência. Essa consciência é
fruto do conhecimento sobre o significado do sacramento e da adesão
aos compromissos dele derivados. Assim, os EPVM devem ajudar os
noivos a consolidarem a intenção de contraírem o matrimônio ou
mesmo a concluírem que não possuem vocação, consciência ou
adesão necessária para este ato.

O Diretório da Pastoral Familiar (Documento 79 da CNBB) afirma


que “trata-se de um momento de amadurecimento para a decisão
final” (parágrafo 268).

Desta forma, os EPVM precisam ser capazes de instruir sobre o


Sacramento do Matrimônio e seus compromissos para favorecer o
maduro discernimento do casal. A partir dos EPVM o casal
deverá entender o matrimônio como vocação e se sentir
seguro para contraí-lo. Mas os EPVM também devem
favorecer que o casal tome a decisão de adiar ou romper o
relacionamento, caso conclua não estar preparado ou não
ser esta a vocação de um dos noivos ou mesmo do casal.

A quarta das sete catequeses preparatórias para o Encontro Mundial


de Famílias com o Papa, em Dublin, 2018, nos provocou a seguinte
reflexão: “Quanto acompanhamento e quanto discernimento os
jovens casais conseguiram desfrutar antes de dar o grande passo de
sua vida, que é o sacramento do matrimônio? Devemos começar a
oferecer-lhes o que é devido.” (Dicastério para os Leigos, Família e a
Vida, grifo do autor)

E agora em 2021, o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, na


celebração dos cinco anos de publicação da Amoris Laetitia,
apresenta 12 percursos com famílias para aplicar a "Amoris
Laetitia" propostos para este ano, sendo que o primeiro deles é:
“Fortalecer a pastoral da preparação para o matrimônio com novos
itinerários catecumenais em nível diocesano e paroquial (cf. AL 205-
222) para oferecer uma preparação ao matrimônio remota, próxima e
imediata e um acompanhamento dos cônjuges nos primeiros anos de
casamento. Um compromisso confiado de modo particular aos casais
que, com os pastores, se tornam companheiros de viagem dos
namorados, noivos e dos esposos mais recentes.

Desta forma, em sintonia com tal proposta, apresentamos esta edição


revisada e ainda mais focada na Amoris Laetitia, como forma de
contribuir com a organização destes itinerários de catequese pré-
matrimonial nas paróquias.

3.1 Sendo mais específico…

O parágrafo anterior define o objetivo geral dos EPVM, que é


alcançado de forma mais eficiente quando desdobrado em objetivos
específicos. Estes ficam claros no documento PSM - Preparação para
o Sacramento do Matrimônio nos parágrafos de número 32 à 49, dos
quais destaco: “Os noivos deverão ser instruídos sobre as exigências
naturais ligadas ao relacionamento interpessoal homem-mulher no
plano de Deus sobre o matrimônio e sobre a família: o conhecimento
em ordem à liberdade de consentimento como fundamento da sua
união, a unidade e indissolubilidade matrimonial, a reta concepção de
paternidade-maternidade responsável, os aspectos humanos da
sexualidade conjugal, o ato conjugal com as suas exigências e
finalidades, a reta educação dos filhos. Tudo isto orientado para o
conhecimento da verdade moral e para a formação da consciência
pessoal.
A preparação próxima deverá certamente prever que os noivos
possuam os elementos basilares de caráter psicológico, pedagógico,
legal e médico, concernentes ao matrimónio e à família. Todavia,
especialmente no que se refere à doação total e à procriação
responsável, a formação teológica e moral deverá ter um
aprofundamento particular. De fato, o amor conjugal é amor total,
exclusivo, fiel e fecundo (cf. Humanae Vitae, 9).” (PSM35)

Tais parágrafos citam o conteúdo mínimo a ser trabalhado com os


noivos nos EPVM, que podem ser desmembrados nos seguintes
temas, entre outros:

• O amor conjugal cristão tendo como base o amor entre Cristo


e a Igreja;

• O relacionamento interpessoal, o conhecimento de si mesmo e


do outro, sendo o diálogo imprescindível para a vida
conjugal;

• O significado do sacramento do matrimônio e seus


compromissos para a vida conjugal: fidelidade,
indissolubilidade e fecundidade;

• Os ensinamentos da Igreja sobre a sexualidade na vida dos


cônjuges;

• O compromisso da fecundidade e a vivência da paternidade


responsável bem como, quando necessária, a vivência dos
métodos naturais de regulação da natalidade;
• O compromisso de educar os filhos na fé católica;

• A celebração do matrimônio na liturgia da Igreja;

• Alguns aspectos do Direito Canônico sobre as condições para


celebração e validade do matrimônio.

4 - Sugestões Gerais

O Papa Francisco comentou: “Pergunto-me quantos destes jovens


que frequentam os cursos pré-matrimoniais entendem o que significa
«matrimônio», sinal da união entre Cristo e a Igreja. «Sim, sim»,
dizem sim, mas compreendem isto? Têm fé nisto? Estou persuadido
de que é necessário um verdadeiro catecumenato para o Sacramento
do matrimónio, e não se limitar a fazer a preparação mediante duas
ou três reuniões e depois ir em frente.”(Papa Francisco, 2017) 4

O comentário do Papa não é novidade, pois a Igreja nos pede, há


muitos anos, “promover melhores e mais intensos programas de
preparação para o matrimónio” (FC66) e afirma que, na Preparação
Próxima são]" necessários encontros frequentes, num clima de
diálogo, de amizade, de oração, com a participação de pastores e
de catequistas” (PSM37).

Para que os noivos possam vivenciar profundos momentos de


preparação, uma verdadeira “catequese pré-matrimonial”, este
material tem seu foco na estruturação de EPVM que permitam o
acompanhamento dos noivos por meio de “encontros frequentes”, o
que é conhecido também por vários nomes como Encontros
Personalizados, Encontros por Acolhimento, por Acolhida ou por
Acompanhamento etc.

É neste sentido que apresento algumas sugestões.


4.1 Publicidade

Ainda é comum que os noivos tomem conhecimento da exigência de


participação dos EPVM somente quando procuram a paróquia para
dar início ao processo matrimonial. Este é um fato lamentável, pois
os EPVM precisam ser vivos na vida paroquial, com ampla
divulgação nos avisos das missas, informativos paroquiais, bem
como nas pastorais, movimentos e serviços para que estejam sempre
presentes na mente dos paroquianos. Hoje, o uso da Internet e das
redes sociais é importante ferramenta para a evangelização e deve ser
também utilizada para divulgar os EPVM.

O início e encerramento dos encontros durante missas é algo bastante


importante, pois além de atraírem à missa muitos noivos que estão
afastados, serve de boa propaganda para toda a paróquia.

Não somente os EPVM, mas as outras etapas da preparação assim


como todas as atividades que tenham a família como objetivo, devem
ser amplamente divulgadas e apresentadas. Já em 1992, o documento
de Santo Domingo, CELAM, mostrava o lugar que estas atividades
precisam ter na vida paroquial: "É necessário fazer da pastoral
familiar uma prioridade básica, sentida, real e atuante." (Santo
Domingo, 64)5

É natural que nas regiões onde se cristalizaram os "cursos de noivos


de fim de semana" haja resistência da comunidade e, até mesmo de
sacerdotes, para a adequação em direção aos EPVM, da forma como
a Igreja recomenda. Diversas são as alegações, como a não aceitação
dos casais, a falta de tempo para a frequência às reuniões, a falta de
disposição dos "palestrantes" para se tornarem catequistas pré-
matrimoniais etc. Minha experiência e também os muitos
depoimentos de agentes, padres e bispos atestam que essa etapa
turbulenta é superada com a apresentação à comunidade dos EPVM
como um avanço, uma melhoria na preparação a fim de favorecer a
constituição de famílias mais sólidas e de matrimônios realmente
válidos, onde os noivos saibam o que estão assumindo. É questão de
mudança de mentalidade, pois uma vez realizada a adequação, em
poucos anos os EPVM já se tornam parte da vida paroquial, da
mesma forma que os necessários anos de preparação para a primeira
comunhão e crisma. Para estes, não é comum encontrarmos pessoas
reclamando do tempo de preparação. Da mesma forma deve
acontecer com o matrimônio, que seja buscado por casais que amem
a Igreja e, por isso, sejam capazes de dedicar tempo na preparação,
mesmo à custa de algumas renúncias.

A realidade, em muitos casos, pode não ser esta, sendo que


muitos casais desejam o casamento na Igreja Católica, mas sem a
formação e convicção necessárias. Nesta situação, os EPVM são
ainda mais importantes, pois podem ser a oportunidade de formação
e reflexão que os casais tanto necessitam. Mas não se pode
desvalorizar o sacramento diante do receio de que casais não aceitem
participar da preparação e desistam de se casar. Cair na tentação de
ofertar a preparação cada vez mais reduzida para atender aos
interesses dos casais que dizem não ter tempo - mas têm tempo para
todos os outros preparativos - seria o mesmo que reduzir o tempo de
formação dos sacerdotes para alguns meses para atender eventuais
"vocacionados" que julgam impossível cursar todo o tempo de
seminário.

Uma rotina de informes como avisos paroquiais e folhetos enviados


aos movimentos, pastorais e entregues nas portas das igrejas, bem
como postagens nas redes sociais etc, pode tornar a preparação para o
matrimônio bem conhecida e não uma surpresa para quando os casais
iniciam a documentação matrimonial. Os informes precisam ser
claros, apontando a necessidade de antecedência, a forma - reuniões
semanais - e a exigência de participação por parte da Igreja. Além
disso, a partir do conhecimento ou indicação de terceiros, casais de
namorados e noivos sem impedimentos para o matrimônio,
podem ser abordados pessoalmente e convidados a participarem dos
EPVM. Esta é uma atitude missionária: ir ao encontro dos casais da
paróquia e se interessar por eles.

Assim, os encontros podem se tornar conhecidos a ponto de serem


buscados espontaneamente pelos casais de namorados firmes, noivos
ou mesmos de coabitantes.

4.2 Época ideal para a participação dos EPVM

É também objetivo geral dos EPVM levar os noivos a tomarem a


decisão de adiar ou romper o relacionamento, caso concluam não
estarem preparados ou não ser esta a vocação de um dos noivos ou
mesmo do casal. Esse ponto fica comprometido quando os noivos
frequentam os encontros em data próxima ao casamento, ainda que os
encontros sejam profundos e de grande reflexão. Tanto a capacidade
de reflexão do casal quanto a eventual ruptura de um relacionamento
se tornam mais difíceis com a proximidade da data da celebração. O
Papa Francisco, na Amoris Laetitia, nos orienta que a antecipação
da preparação favorece o casal na identificação de incompatibilidades
e riscos ao matrimônio: “A preparação dos que já formalizaram o
noivado, quando a comunidade paroquial consegue acompanhá-los
com bom período de antecipação, deve dar-lhes também a
possibilidade de individuar incompatibilidades e riscos.” (Papa
Francisco, AL209)

Os EPVM são parte do discernimento do casal e o ideal é que o


casamento seja marcado após a realização dos encontros, que
oferecem melhores resultados quando realizados no início do noivado
ou até mesmo antes dele, quando o casal planeja noivar. Contudo,
não sendo possível desta forma, o recomendado é que se programem
para encerrar os encontros com a antecedência mínima de seis meses
da data do casamento. Reforço que os noivos somente terão
condições de praticar tal antecedência se tiverem pleno conhecimento
da exigência de frequência aos encontros, o que implica um contínuo
trabalho de publicidade conforme o item anterior.

4.3 Os EPVM são adequados para aqueles que já coabitam


maritalmente e podem contrair matrimônio?

O número de casais que constituem um lar sem vínculo do


matrimônio é cada vez maior. Mas também tem sido crescente a
busca do Sacramento do Matrimônio por parte desses casais
coabitantes que não possuem impedimento canônico (como um
matrimônio anterior válido), conhecidos também por amasiados. Já
se constata, em algumas realidades, que o número de noivos
coabitantes, com grande proporção de coabitação de vários anos,
parece superar o número de noivos da forma natural - a que está nos
planos de Deus para o casal.

Esta é uma desafiadora realidade pastoral, principalmente do ponto


de vista de atrair estes casais para momentos de reflexão, formação e
discernimento maduro. Mas, do ponto de vista da preparação para o
matrimônio, isso não representa significativas mudanças na estrutura
dos EPVM. No magistério da Igreja não encontramos referências
específicas sobre a preparação de casais coabitantes, pois são
casamentos como os outros e, por isto, já são objeto da doutrina que
não deixa dúvidas ao afirmar que “esta catequese renovada de todos
os que se preparam para o matrimônio cristão é absolutamente
necessária, para que o sacramento seja celebrado e vivido com retas
disposições morais e espirituais”. (FC66, grifo do autor)

Note que a Familiaris Consortio já se afastava da expressão “noivos”


e isso acontecia (e acontece) justamente para abranger a todos que se
preparam para o sacramento. A expressão “noivos” pode ter efeito
restritivo e afastar aqueles que não são noivos da forma tradicional,
excluindo de um lado aqueles que ainda não oficializaram o noivado
e, de outro, aqueles que já coabitam. É verdade que o termo ‘noivos’
é abrangente e pode ser aplicado a todos os que estão se preparando
para o casamento, até mesmo aos que já vivem juntos. Mas no
entendimento popular não é assim e os coabitantes acabam se
excluindo deste grupo.

No Brasil, o Diretório da Pastoral Familiar, publicado pela CNBB em


2004, quando se refere à preparação próxima para o matrimônio
(parágrafo 268), menciona entre aspas “cursos de noivos” e a define
como Encontros de Preparação para a Vida Matrimonial. E, ao invés
de falar em noivos, o documento fala em “candidatos ao
matrimônio”.

De fato, do ponto de vista da necessidade de preparação, não há


distinção se o casal já constitui um lar mesmo antes do casamento ou
se segue o caminho do noivado da dentro do projeto de Deus. A
preparação é algo “absolutamente necessário” para todos os que se
preparam para o matrimônio e não somente para aqueles que não
vivem juntos ou não possuem filhos.

Por meio da preparação para o matrimônio, se bem estruturada, os


casais podem adquirir novos conhecimentos, reavaliar conceitos e
práticas de suas vidas. Nenhum casal, nem mesmo os agentes da
própria preparação, são tão instruídos e experientes a ponto de não
existir nada a ser acrescentado.

Se houver possibilidade, é interessante que o atendimento de casais


maduros seja feito por agentes também maduros, mediante
disponibilidade da equipe. Este aspecto permite abordagens
vivenciais mais de alguns temas. Mas, de modo geral, os temas são os
mesmos. Não podemos considerar, por exemplo, que um casal que já
tenha passado da idade fértil não tenha que discutir paternidade
responsável e métodos naturais. O acesso à bela doutrina da Igreja é
fundamental para a formação católica integral e, além de tudo, é
direito do casal conhecê-la. Os documentos da Igreja não apontam
diferenças de conteúdos para as diferentes situações dos noivos.
Desta forma, não há motivos para que existam dois grupos ou duas
estruturas de preparação para o matrimônio dentro de uma paróquia.
Se todos precisam da preparação e os temas são os mesmos, separar
aqueles que se preparam para o matrimônio em função da forma
como vivem poderia ser entendido como uma segregação e, além
disso, a fragmentação e criação de estruturas não terminariam nunca.
Primeiro separaríamos os casais que coabitam dos que não coabitam,
depois separaríamos os que coabitam sem filhos dos que possuem
filhos. Depois, os que têm filhos adultos dos que têm filhos crianças
etc.

Além disso, há bons motivos para que todos participem juntos, como
a riqueza das partilhas. Em alguns temas, os casais que coabitam há
anos podem auxiliar os mais jovens como, por exemplo, no tema
sobre educação de filhos e as finanças do lar. Por outro lado, os
jovens que vivem a castidade podem mostrar que isso não é utopia,
mas real possibilidade.

Todos os casais que desejam contrair o matrimônio,


independentemente de suas histórias de vidas e tempos de
convivência, mesmo aqueles que terão "casamentos coletivos ou
comunitários", podem ser encaminhados à equipe do Setor Pré-
Matrimonial para a participação nos EPVM.

4.4 Prazo de validade do certificado dos EPVM

Em algumas realidades fala-se em um prazo validade para os EPVM,


como um ou dois anos, por exemplo. Contudo, é de se questionar a
necessidade de se estipular um prazo, pois o casal que segue o
noivado após ter realizado os encontros demonstra ter alcançado os
objetivos, ainda que o noivado se estenda por alguns anos. De forma
prática, não é compatível haver um prazo de validade e, por outro
lado, convidar os namorados firmes e noivos a participarem dos
EPVM da forma mais antecipada possível, como é o mais
recomendado.

Algo que pode ser alegado, tanto da parte dos noivos quanto da parte
dos agentes, é a sensação de haver uma lacuna, de estar faltando algo
quando o casal participa dos EPVM com muita antecedência e não
nos meses próximos ao casamento. Tal sensação existe
principalmente quando não é oferecida a última etapa da preparação
"às vésperas" da celebração do matrimônio, nos meses ou semanas
que o antecedem: a Preparação Imediata (conforme 1.3).

Além disso, e de modo complementar, podem ser oferecidos a todos


os casais da paróquia, casados ou não, momentos de reflexão e
formação com temas variados, até mesmo os temas já trabalhados nos
EPVM, como um ciclo permanente de palestras ou grupos de
partilha.

4.5 Carga horária dos EPVM

O documento Preparação Para o Sacramento do Matrimônio


(Pontifício Conselho para a Família, 1996) é claro ao afirmar que a
Preparação Próxima demanda “tempo e cuidado necessários”.

Cada tema essencial necessita ser bem trabalhado, com momentos


para partilhas em grupo, conversas do casal e, se possível, atividades
de aprofundamento como textos complementares, vídeos ou filmes,
pesquisas etc. Tendo acompanhado grupos de noivos por vários anos,
acredito que não é possível bem desenvolver cada tema em um
encontro (uma reunião) com menos de 90 minutos, excluindo-se as
atividades complementares. Alguns temas necessitam de mais de uma
reunião para serem bem trabalhados, podendo ser divididos em duas
ou mais partes.

Desta forma, para serem contemplados os oito temas essenciais,


acredito que não se deva pensar em uma carga horária total menor
que 15 horas de estudos e partilhas entre noivos e catequistas.

Contudo, pode-se ir além. Há experiências bastante positivas de


EPVM com carga horária bem superior a 15 horas e que se
desenvolvem durante vários meses. Há dioceses do Brasil e do
mundo que estruturam a preparação para o matrimônio em vários
meses. Como um marco histórico, devemos saber que em 1967, São
João Paulo II, enquanto arcebispo da Cracóvia, na Polônia, iniciou
um programa de preparação para o matrimônio com duração de um
ano.

Para a realização dos encontros, diversas dioceses utilizam livros e


apostilas com indicações dos temas a serem trabalhados ou criam
roteiros para os encontros. Em língua portuguesa, sugiro o livro
Matrimônio: Encontros de Preparação (Edições CNPF, 2016), um
subsídio da Pastoral Familiar do Brasil, que apresenta 11 encontros
no modelo de leitura, partilha e atividades complementares. Contudo,
este número não é máximo, mas sim um ponto de partida. Além dos
encontros do livro, pode-se ir adiante por bastante tempo, valendo-se
de textos para reflexão, celebrações, filmes e momentos de
confraternizações, favorecendo o acompanhamento cada vez mais
próximo entre agentes da preparação e casais que se preparam para o
matrimônio. Isto é uma verdadeira ação de acompanhamento, tão
necessária e recomendada pela Igreja, especialmente pelo Papa
Francisco.

Caso a opção seja por utilizar um material próprio, recomendo que


este tenha a autorização do bispo diocesano, pois a preparação para o
matrimônio é de extrema importância e o material deve ser fiel ao
Magistério da Igreja.

Note que nos referimos à carga horária dos EPVM, mas outras
iniciativas em favor da formação de namorados, noivos e casais de
forma geral podem acontecer paralelamente nas paróquias por meio
de palestras, encontros, oficinas e outros recursos.
4.6 Palavras-chave na estrutura dos EPVM

Em sintonia com a Amoris Laetitia, que tem o verbo “acompanhar”


como uma de suas palavras- chave, os agentes de preparação para a
vida matrimonial devem se esforçar para caminharem mais próximos
dos noivos, na perspectiva de criar vínculos e se tornarem referência
para eles. O caminho recomendado para isto é promover diversos
encontros, evitando-se um curso condensado em poucas horas e em
poucos dias, o que também é claramente orientado nos documentos
da Igreja, especialmente no documento Preparação para o
Sacramento do Matrimônio “...serão necessários encontros frequen-
tes, num clima de diálogo, de amizade, de oração, com a participação
de pastores e de catequistas” (parágrafo 37)

Outro aspecto que aproxima os agentes dos noivos e favorece a


partilha é o afastamento do modelo de palestras e a aproximação do
modelo de leituras e reflexões em grupos, no “clima de diálogo, de
amizade, de oração”. Assim, os encontros podem ser organizados
com pequenos grupos que caracterizam um ambiente de partilha e
amizade.

Pode-se planejar de forma que alguns agentes se encontrem com


alguns casais de noivos, mas também há realidades onde o(s)
agente(s) acompanha(m) somente um casal de noivos. Não há um
número fixo, o importante é que o grupo seja sempre pequeno, pois
isso promove a partilha e criação de vínculos.

Os encontros devem ser simples. No modelo de leitura e partilha em


pequenos grupos não é necessária a preparação slides, vídeos e
outras apresentações, como acontecem nas tradicionais palestras.
Assim, elimina-se a barreira do medo de falar em público e favorece-
se que muitas pessoas da comunidade possam colaborar como
agentes de preparação para a vida matrimonial.
Contudo, não havendo, de forma alguma, a possibilidade de se
organizar o encontro em grupos de partilhas e seja necessário utilizar
o modelo de palestras para o atendimento de um grupo maior, é
necessário cuidar para que as palestras sejam atraentes, mas também
consistentes e fiéis à Igreja.

De forma geral, deve-se ter em mente que os EPVM precisam ter


como peças estruturais as seguintes palavras-chave:
acompanhamento, vínculo, partilha, discernimento vocacional,
encontros frequentes, pequenos grupos, conteúdo e antecipação.

4.7 Onde realizar os EPVM?

Em se tratando de famílias, nada melhor que o ambiente familiar para


a realização dos encontros. Diversos movimentos e serviços que se
estruturam sobre reuniões nos lares podem testemunhar a riqueza de
se reunir em família. Contudo, não sendo possível, os encontros
podem acontecer em outros ambientes, como salas paroquiais.

O documento 12 da CNBB, Orientações Pastorais sobre o


Matrimônio já orientava em 1978: "Menos formal que o “curso de
noivos”, esse catecumenato pode ser realizado nas casas,
acompanhando cada casal de noivos ou agrupando vários. Ele
expressa muito mais a participação da comunidade, e integra
progressivamente os novos casais na vida eclesial. "(CNBB)6

O ideal é que os encontros aconteçam sempre com o mesmo grupo,


não havendo rodízio de agentes e temas. Ao invés de se ter casais
especialistas em determinados temas, os agentes de preparação para a
vida matrimonial devem trabalhar com todos os temas, isto favorece
também a criação de vínculo e o desenvolvimento de boas amizades,
que permite aprofundamento das partilhas e verdadeiro
discernimento vocacional.
O ambiente deve primar pela simplicidade e informalidade. Em todas
as reuniões deve haver uma Bíblia disponível, pois sempre deve
haver uma leitura bíblica. Estimulem os noivos a terem e a utilizarem
suas Bíblias.

"Juntamente com os Padres sinodais, expresso o vivo desejo de que


floresça «uma nova estação de maior amor pela Sagrada Escritura da
parte de todos os membros do Povo de Deus, de modo que, a partir
da sua leitura orante e fiel no tempo, se aprofunde a ligação com a
própria pessoa de Jesus".(Bento XVI, VD, 72)7

4.8 E depois dos EPVM?

Os EPVM não são o final da preparação. Além de ser necessária


ainda a oferta da preparação imediata, a formação é uma caminhada
constante. Os casais precisam de apoio e acompanhamento e, assim,
aqueles que os acolheram durante os EPVM devem procurar
manter contato com momentos de oração e partilha até a data do
casamento, além de uma boa amizade, que é o melhor apostolado.

“Os Padres sinodais afirmaram que «os primeiros anos de


matrimónio são um período vital e delicado, durante o qual os
cônjuges crescem na consciência dos desafios e do significado
do matrimónio. Daí a necessidade dum acompanhamento
pastoral que continue depois da celebração do
sacramento.”(Papa Francisco, AL 223)

Nas dioceses onde há a Pastoral Familiar estruturada, o setor Pós-


Matrimonial deve caminhar bem entrosado com o setor Pré-
Matrimonial para organizar momentos de convivência de modo que
os casais se sintam apoiados e confortáveis para frequentar as
atividades pós-matrimoniais. Onde não há Pastoral Familiar
estruturada, os movimentos e grupos de famílias podem caminhar
juntos com o setor pré-matrimonial para proporcionar esta transição.

“As paróquias, os movimentos, as escolas e outras instituições


da Igreja podem desenvolver várias mediações para apoiar e
reavivar as famílias. Por exemplo, através de recursos como
reuniões de casais vizinhos ou amigos, breves retiros para
casais, conferências de especialistas sobre problemáticas muito
concretas da vida familiar, centros de aconselhamento
conjugal, agentes missionários preparados para falar com os
casais acerca das suas dificuldades e aspirações, consultas
sobre diferentes situações familiares (dependências,
infidelidade, violência familiar), espaços de espiritualidade,
escolas de formação para pais com filhos problemáticos,
assembleias familiares. A secretaria paroquial deveria ter
possibilidades de receber com cordialidade e ocupar-se das
urgências familiares, ou encaminhá-las facilmente para quem
possa dar ajuda. Há também um apoio pastoral que se verifica
nos grupos de casais, sejam eles de serviço ou de missão, de
oração, de formação ou de mútua ajuda. Estes grupos
proporcionam a ocasião de dar, de viver a abertura da família
aos outros, de partilhar a fé, mas ao mesmo tempo são um
meio para fortalecer os cônjuges e fazê-los crescer.”(Papa
Francisco, AL229)

4.9 A equipe de agentes para os EPVM

“Nesta pastoral, tem grande importância a presença de casais


de esposos com experiência. A paróquia é considerada como o
lugar onde casais especializados podem colocar à disposição
dos casais mais jovens a sua ajuda, com o eventual apoio de
associações, movimentos eclesiais e novas
comunidades.”(Papa Francisco, AL223)
Nas equipes de agentes que oferecem os EPVM podem e devem
colaborar os casais unidos pelo sacramento do matrimônio, mas
também os solteiros e os religiosos consagrados, bem como os
viúvos. Estes, especialmente, já viveram o matrimônio e podem dar
grandes contribuições. De forma geral precisam amar a Igreja e
valorizar o sacramento do matrimônio.

Os agentes devem ser, sobretudo, fiéis católicos que saibam ser


enviados pela Igreja e “sejam pessoas de doutrina segura e fidelidade
indiscutível ao Magistério da Igreja” (PSM43).

Os agentes não são, necessariamente, membros da Pastoral Familiar.


Podem ser membros dos diversos movimentos e serviços, bem como
leigos, sacerdotes e religiosos de institutos, congregações e de novas
comunidades ou também leigos engajados na vida paroquial que se
disponham a servir a Igreja neste trabalho pastoral. Em todas as
ações em favor da família, o que inclui a preparação para o
matrimônio, os casais são chamados a serem protagonistas.

“Os casais experientes e formados devem estar dispostos a


acompanhar outros nesta descoberta, para que as crises não
os assustem nem os levem a tomar decisões
precipitadas”(Papa Francisco, AL232)

Contudo, é importante que todos os agentes mantenham constante


diálogo com a Pastoral Familiar nas dioceses onde ela estiver
implantada. Esta age como articuladora e norteadora das ações
relativas à preparação para o matrimônio, tal como pede a Igreja em
seus documentos.

"A pastoral familiar há de cuidar da formação dos futuros esposos e o


acompanhamento dos cônjuges, sobretudo, nos primeiros anos de sua
vida matrimonial."(Santo Domingo, 222)

4.10 Passo a passo dos EPVM


A partir dos documentos da Igreja, e do conhecimento de diversas
realidades e iniciativas, apresento uma sugestão ou um "esquema",
dentre os vários possíveis, para o funcionamento dos EPVM, desde a
inscrição dos noivos até o momento do encerramento (cientes de que
o acompanhamento e orientação não terminam no momento do
encerramento)

I - Inscrição dos candidatos ao matrimônio

Com a publicidade constante durante todo o ano, os noivos serão


motivados a procurarem a secretaria paroquial ou os responsáveis
pelos encontros (que podem fazer plantões nas igrejas após as
missas) para se inscreverem nos EPVM.

É interessante que a ficha de inscrição solicite informações de cada


um dos noivos, como:

- nome e endereço completo;

- religião;

- se são batizados, fizeram primeira comunhão e são crismados;

- tempo de namoro e noivado;

- se moram junto;

- se possuem filhos do casal e de relacionamentos anteriores,


citando as idades dos filhos;

- se são viúvos e há quanto tempo, bem como o tempo de vida


matrimonial;
- se participam de alguma pastoral, movimento ou serviço;

- se possuem data marcada do casamento e qual a data.

A ficha pode indicar os dias e horários para os encontros, tendo em


vista as disponibilidades dos agentes. Os noivos podem marcar na
ficha os horários que preferem.

II - Distribuição dos noivos

A equipe pode se reunir ou deixar a cargo de uma secretária a


distribuição dos noivos diante das possibilidades destes e dos
agentes, tomando o cuidado para manter grupos pequenos. Havendo
disponibilidade na equipe, é interessante que em cada grupo esteja
mais de um casal de agentes, o que enriquece a troca de experiências.

Quando há noivos amasiados (convivência marital) há vários anos e,


especialmente, com filhos, acredito ser adequado que sejam
acolhidos por casais também com mais tempo de casamento.

III - Primeira reunião

A primeira reunião serve de conhecimento entre todos os noivos e


toda a equipe, onde é explicado o funcionamento dos EPVM. Após a
oração inicial, o(a) coordenador(a) de toda a equipe ou o pároco dá as
orientações gerais e os grupos se dividem, reunindo os noivos e seus
agentes acolhedores. É enriquecedor quando esta reunião acontece
após uma missa e nesta os noivos sejam apresentados à comunidade.
IV - Reuniões temáticas

O local deve ser preparado com carinho. Sugerimos que haja uma
imagem da Sagrada Família e uma Bíblia. Pode-se deixar garrafas
com água no local da reunião e até café ou chá. Cuide-se para haver
momentos de canto, escolhendo previamente as músicas e
prepararem o instrumento ou o aparelho como CD Player,
computador etc.

É muito importante que os casais acolhedores já tenham lido os


encontros, de modo a conhecerem a temática, para não improvisarem
durante a reunião com os noivos. Melhor ainda é que a equipe tenha
se preparado em encontros para estudo e discussão dos temas, como
um programa de formação dos agentes que, aliás, deve ser contínuo
com a introdução de temas diversos e atuais. Também devem portar
fichas com questões complementares, que podem ser abordadas
durante os encontros. Faça-se o registro de presença dos noivos e, se
houver alguma falta, planejem-se encontros de reposição.

Cada reunião deve começar com uma oração inicial e também


terminar com uma oração. No desenvolvimento dos temas, a partir de
um texto base, cuide-se para haver momentos de partilha.

Para maior aproveitamento dos temas, aconselho que o intervalo de


tempo entre as reuniões não seja inferior a uma semana. Este
intervalo pode ser bem aproveitado com proposição de atividades
para os casais, bem como o envio de textos, músicas, vídeos e demais
recursos como e-mail e Whats App.

Sugiro combinar com o pároco a sua participação em algum(s)


encontro(s).

V - Encerramento

O último encontro pode também começar com a Santa Missa na qual


os noivos podem ser apresentados novamente e abençoados. Após a
missa, pode-se acontecer um momento de confraternização
envolvendo também os pais dos noivos.
OBS: Reforço que, aqui apresentei somente
sugestões como um ponto de partida, mas há outras formas de
organização para se chegar aos objetivos da Preparação Próxima em
sintonia com as orientações da Igreja, segundo as palavras-chave
recomendadas em 4.6.

4.11 Situações especiais

Não podemos esquecer que a comunidade não é uma uniformidade e,


portanto, situações especiais que dificultem a realização plena de
todos os encontros podem acontecer. Nestes casos, o pároco deve ser
consultado e procedimentos especiais podem ser propostos a partir de
seguro discernimento pastoral. Em pouco tempo, situações especiais
passam a ser previsíveis, assim como as soluções mais adequadas.

Ofertar encontros personalizados a partir da disponibilidade dos


casais é uma bela atitude do catequista que se preocupa com seus
catequizandos. Hoje também temos a possibilidade de reuniões à
distância por meio de serviços como o Skype. Diversas opções
existem, mas devemos ter em mente que reduzir drasticamente o
tempo de preparação ou os temas estudados pode parecer uma
ajuda frente a alguns obstáculos, mas não constituem um real
benefício para os casais. O grande bem que podemos oferecer aos
casais é a possibilidade de se casarem com segurança e
conhecimento.

5. Os EPVM são adequados a todas as paróquias?

Acredito que as explicações e citações neste material, todas


amparadas em documentos da Igreja, já sejam suficientes para
apontar que os EPVM constituem um caminho legítimo para realizar
uma verdadeira catequese pré-matrimonial, ainda que seja necessário
vencer inércias e romper barreiras.
“A pastoral em chave missionária exige o abandono deste cômodo
critério pastoral: “fez-se sempre assim. Convido todos a serem
ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as
estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas
comunidades”. (Papa Francisco, EG, 33).

Contudo, sabemos que há realidades mais desafiadoras que outras,


embora estejamos convictos de que a Igreja não recomenda algo
impossível. A adequação da estrutura pode ser um processo lento a
depender de resistências, inércias ou também de equalização de
variáveis específicas. Nestes casos, que não pode ser resultado de
comodismo, pode ser necessário manter por certo tempo a estrutura
de palestras condensadas em poucos dias, como único recurso de
preparação para o matrimônio.

Deve-se ter em conta que esta alternativa representa um estado de


exceção diante das claras recomendações da Igreja.

Utilize-se também de dinâmicas e momentos que promovam a


conversas a dois, mas trate-se de zelar pela coerência do conteúdo de
forma que eventuais dinâmicas e trabalhos de grupo não relativizem a
doutrina.

“... transmitir, com um conhe- cimento suficiente e aprofundado e


com o testemunho de vida, as verdades de fé e as responsa- bilidades
ligadas ao matrimónio.” (PSM43)

Ainda que seja necessário executar este modelo de exceção, deve-se


cuidar para haver ampla divulgação paroquial e estabelecer a
antecipação de, no mínimo, seis meses como diretriz para a
participação. Deve-se, também, agendar um momento em particular
com cada casal de noivos para que os agentes conheçam os noivos,
estabelecendo algum vínculo e se colocando à disposição para
acompanhá- los, além de convidá-los para todas as oportunidades de
formação e reflexão, especialmente sobre o tema família.

6. Temas Essenciais para os EPVM

A seguir comento brevemente alguns tópicos a serem abordados nos


temas essenciais. São pontos mínimos e que devem ser ampliados a
partir da experiência de cada agente de preparação para a vida
matrimonial.

6.1 O amor conjugal cristão tendo como base o amor entre Cristo
e a Igreja.

Neste tema, sugere-se confrontar o conceito e modelo de amor que se


tem em nossos dias (o eterno enquanto dure) com os conceitos
bíblicos. Diferenciar paixão de amor.

O amor é bem mais que o simples desejo de ficarem próximos. É um


sentimento emanado pela origem divina, que só terá explicação aos
olhos da fé, criado por Deus no início da criação: “Não é bom que o
homem esteja só” (Gn 2,18).

Ninguém deve escolher um cônjuge de maneira técnica em busca do


par perfeito. O amor não é algo técnico, não é uma sociedade
empresarial. Ele vem de Deus, que usa de inúmeras maneiras e
situações ao semear o sentimento nos corações. Sempre haverá algo
que aproximou o casal. Alguns se sentiram atraídos já no primeiro
encontro, outros depois de tempos de convivência ou amizade etc.
Mas com o andar do relacionamento o sentimento deve evoluir.

O amor vai além da paixão e do gostar. O ser humano gosta de tudo


que é prazeroso. Gosta de música, filmes, leituras, comidas e também
de outro ser humano que lhe dá carinho e atenção. É comum uma
pessoa querer se casar porque se sente bem ao lado do namorado(a) e
com ele(a) passam momentos agradáveis. Mas a decisão de casar não
pode ser tomada por esse aspecto. Deve-se procurar identificar se o
sentimento é mesmo amor. Amor implica compromisso de lutar para
que o outro seja melhor mesmo nos momentos mais difíceis.
“Maridos amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se
entregou por ela.” (Ef 5,25)

Um texto no qual se pode refletir o real sentido do amor (caridade) é


1Cor 13,1-8.

Sugiro a leitura dos parágrafos 131 e 132 da Exortação Apostólica


Amoris Laetitia do Papa Francisco.

6.2 O relacionamento interpessoal e o conhecimento de si mesmo


e do outro. Diálogo: imprescindível para a vida conjugal.

Num tempo de tecnologia onde todos parecem conectados uns aos


outros, a comunicação real anda comprometida. Mesmo com
centenas ou milhares de amigos nas redes sociais, a maioria das
pessoas sustentam uma aparência que não é real. Não é fácil se deixar
conhecer. Muitos namorados e noivos conseguem sustentar uma
imagem, uma aparência e um temperamento que não são verdadeiros.
Mas nos primeiros meses do casamento são revelados, quando já
conquistaram o que queriam e se sentem seguros por terem casados.

Quantas pessoas dizem que foram conhecer o temperamento do


marido (ou da esposa) depois do casamento? Quantos reclamam que
com o passar dos anos o cônjuge se revelou uma pessoa
completamente diferente?

Certamente, o conhecimento vai ocorrendo durante toda a vida. Mas


quem casa já deve conhecer bastante o cônjuge, como fruto de
namoro e noivado bem vividos. Ou seja, namoro e noivado com
muito diálogo, disposição para conhecer e abertura para deixar se
conhecer.

É muito importante neste tema mostrar que o conhecimento do


cônjuge é fundamental para uma vida matrimonial equilibrada. Mais
importante do que sentir-se bem ao lado do(a) noivo(a) no tempo de
noivado cheio de compromissos, passeios, festas e diversões, é
dedicar tempo para conversarem e deixar o interior transparecer.

Cada participante pode ser levado a refletir, por alguns minutos:


Você se ama? Conhece suas próprias limitações? Seus piores
defeitos? Suas melhores qualidades?

Aqueles que se preparam para o casamento devem questionar se são


capazes de conviver com pensamentos e comportamentos diferentes,
se estão dispostos a aceitar o outro com suas diferenças e até
limitações. Os noivos precisam ser motivados a praticar a
reconciliação diária, como momento muito importante ao equilíbrio
do casal.

Sugiro a leitura dos parágrafos 136 e 137 da Exortação Apostólica


Amoris Laetitia, Papa Francisco.

6.3 O significado do Sacramento do Matrimônio e seus


compromissos para a vida conjugal: fidelidade, indissolubilidade
e fecundidade.

Será que todos que se casam na Igreja têm a exata noção do que é o
sacramento do matrimônio? Possuem as disposições necessárias para
contraí-lo? Estão dispostos a assumirem os compromissos dele
derivados? Quais devem ser as motivações de um casal que deseja se
casar na Igreja?

A dimensão sacramental do matrimônio é, talvez, o aspecto mais


importante da preparação para o matrimônio. É dela que derivam
todos os outros entendimentos e compromissos. É justamente este
aspecto que tem faltado a muitos casais que entendem o matrimônio
unicamente como a união de duas pessoas e não o cumprimento de
uma vocação. Por isso, é necessário rever (ou prover) o
conhecimento sobre sacramentos, como sinais visíveis e eficazes da
graça, instituídos por Jesus Cristo, para nossa santificação.

Cada sacramento não é um ato simbólico, mas um ato de fé, um sinal


visível de uma realidade invisível. Observe a força da expressão
realidade invisível, ou seja, algo que é real, existe mas não vemos. E
mesmo que não vejamos, sentimos e percebemos os resultados em
nossa vida, como a graça de Deus e a luz do Espírito Santo. Veja que
é algo extremamente sério e não pode ser tratado simplesmente como
cultura ou superstição, do modo que vemos muitas pessoas se
dirigem aos sacramentos.

Na Bíblia há diversas passagens alusivas aos sacramentos. Veja


algumas:

• BATISMO: Mt 28, 19 ; Mc 16, 16


• CONFIRMAÇÃO: At 8, 14-17
• EUCARISTIA: Jo 6, 48-58, Lc 22, 19ss ; Mt 26,27-28
• PENITÊNCIA: 1 Jo, 1,8
• UNÇÃO DOS ENFERMOS: Tg 5,14-15, Mc 6,13
• MATRIMÔNIO: Mt 19,3-9; Gen 1,28; Gen 2,24, Ef 5, 31-33
• ORDEM: At 20,28, Jo 15,16

O Sacramento do Matrimônio recebe destaque em toda a Bíblia. Bem


no início, em Gênesis encontramos “Não é bom que o homem
esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada.”
(Gen,2,18) e logo em seguida “Por isso o homem deixa o seu pai
e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que
uma só carne.”(Gen,2-24).
No tempo de Jesus as festas de casamento, as bodas, eram grandes
festividades e foi em uma delas, em Caná, que Ele fez seu primeiro
milagre. (você se lembra qual é esse milagre?) Ao final da Bíblia, no
livro do Apocalipse, a figura das núpcias é também explorada como o
encontro da Igreja com seu Senhor. “Do princípio ao fim, a Escritura
fala do matrimônio e do seu «mistério», da sua instituição e do
sentido que Deus lhe deu, da sua origem e da sua finalidade, das suas
diversas realizações ao longo da história da salvação, das suas
dificuldades nascidas do pecado e da sua renovação «no Senhor» (1
Cor 7, 39), na Nova Aliança de Cristo e da Igreja (96).” (CIC1602)

Não devemos ter dúvidas que o matrimônio é algo especial diante dos
olhos de Deus, por isso é um sacramento. Por meio dele nascem as
famílias como planejadas por Deus e construtoras da civilização do
Amor.

Devemos ser claros e não ter receio de proclamar o matrimônio como


sacramento e não apenas como costume social. E enquanto
sacramento produz efeitos naturais e sobrenaturais.

O sim dito pelo casal deve ser muito sincero e consciente. Por meio
dele, experimentarão por toda a vida, como efeito sobrenatural, "a
graça salvífica que se destina a aperfeiçoar o amor dos cônjuges e
fortificar sua unidade indissolúvel. Esta graça própria do sacramento
do matrimônio destina-se a aperfeiçoar o amor dos cônjuges e a
fortalecer a sua unidade indissolúvel. Por meio desta graça, «eles
auxiliam-se mutuamente para chegarem à santidade pela vida
conjugal e pela procriação e educação dos filhos". (CIC 1641)

Podemos dizer que aí cada um assume o dever de trabalhar na


santificação do outro, levando em conta os vários aspectos já
comentados em temas anteriores.

Mas também, como efeito natural, ou seja, compromisso da parte


humana, assumem o matrimônio na unidade e indissolubilidade com
uma única pessoa, na fidelidade ao cônjuge.

A unidade significa a exclusividade do amor esponsal de um para


com o outro, passando também pela unidade de objetivos, onde o
maior dele é a santificação do cônjuge. Isso tudo implica também na
fidelidade. Todos sabemos da grande noção de fidelidade que
envolve as expressões da sexualidade, dos pensamentos aos atos. Mas
devemos também lembrar que a fidelidade integral se concretiza
fazendo da própria vida um serviço ao cônjuge e toda a família,
direcionando a estes todos os seus objetivos. De modo resumido é
assumir que todas as dimensões de qualquer um dos cônjuges - o
trabalho e carreira profissional, o estudo, filhos, aquisição de bens, o
tempo de descanso etc – devem ser consideradas como também
dimensões do matrimônio, pertencentes ao casal e ordenado para o
bem comum deles e não simplesmente do modo como vem se
destacando em nossa sociedade: “cada um por si.”

A indissolubilidade é um ponto questionado atualmente, onde as


pessoas querem ser totalmente independentes, até mesmo de Deus, e
fazerem todas as experiências que passam em suas cabeças. Mas ela
confirma aos noivos que do mesmo modo que o Senhor não desiste
da salvação de sua Igreja, um cônjuge não pode desistir da
santificação do outro. “Não separe o homem o que Deus uniu. “(Mt
19,6).

Mais uma vez devemos ser corajosos e proclamar que o casal que não
acredita na indissolubilidade deve avaliar melhor se o compromisso
que assumirão na Igreja será verdadeiro e se devem mesmo assumi-
lo. É oportuno lembrar aos noivos que deverão responder à algumas
perguntas e isto não é apenas formalidade ou encenação:

 É de vossa livre vontade e de todo o coração que


pretendeis fazê-lo?
 Vós que seguis o caminho do matrimônio, estais
decididos a amar-vos e a respeitar-vos, ao longo de
toda a vossa vida?

 Estais dispostos a receber amorosamente os filhos


como dom de Deus e a educá-los segundo a lei de
Cristo e da sua Igreja?

Não podemos concordar que casar na Igreja pode ser somente mais
uma etapa de uma série de festividades e cerimoniais para dizer à
família e amigos que decidiram viver realmente juntos.

Todos devem saber que assumirão um compromisso diante de Deus e


da comunidade. Se tiverem o conhecimento real do que assumirão e
estiverem dispostos, Deus lhes concederá a graça necessária para
vencer obstáculos a fim de cumprir os compromissos assumidos. Mas
não é mágica, a bênção de Deus se completa com nossa disposição
para construir um lar realmente cristão. Resumindo, podemos dizer
que a validade da celebração do sacramento do matrimônio se baseia
na liberdade para contraí-lo e na disposição para viver a
indissolubilidade, fidelidade e fecundidade. Para memorizar, o
vínculo matrimonial deve ser: livre, total, fiel e fecundo. Em
Inglês a memorização é mais fácil, pois é conhecida com os 4 “F” do
matrimônio: Free, Full, Faithful e Fruitful.

Sugiro a leitura do parágrafo 72 da Exortação Apostólica Amoris


Laetitia do Papa Francisco.

6.4 Os ensinamentos da Igreja sobre a sexualidade na vida dos


cônjuges.

Falar em sexualidade hoje ainda é um tabu. Mas este tabu se inverteu,


pois o desafio agora é falar da sexualidade no plano de Deus e não da
vivência da sexualidade disseminada em nosso tempo.
Hoje, fala-se em sexo como se fosse a coisa mais importante da
existência humana. Todos os meios de comunicação querem associar
seus produtos com sexo, pois a propaganda será sucesso na certa.

Mas na Igreja, Mãe e Mestra, encontramos os ensinamentos que


devem ser repassados aos noivos. Sugiro que devamos começar por
responder uma pergunta que povoa a mente de muitos católicos: O
ato sexual é somente para ter filhos?

E a resposta é não. A Igreja não ensina isso. O ato sexual tem duplo
objetivo, denominados unitivo e procriativo. O Catecismo nos
ensina que “pela união dos esposos realiza-se o duplo fim do
matrimônio: o bem dos cônjuges e a transmissão da vida.”
(CIC 2363) E, neste tema, trataremos especialmente do aspecto
unitivo, deixando o procriativo para o tema seguinte.

Por unitivo entendemos aquilo que une, que provoca a união do casal.
Não somente a união física, pois aí seria somente um “contato”, mas
a união completa, de corpo e alma, como uma comunhão espiritual.
“No casamento, a intimidade corporal dos esposos se torna um sinal e
um penhor de comunhão espiritual.” (CIC 2360)

Isso também demonstra a importância da união e satisfação do casal.


Tão importante que “o casal que não se realiza na vida sexual
pode passar por sérias crises e até separação.”

Em 1951 o Papa Pio XII já ensinava que “o próprio Criador


estabeleceu que nesta função os esposos sentissem prazer e satisfação
do corpo e do espírito. Portanto, os esposos não fazem nada de mal
em procurar este prazer e em gozá- lo.” (CIC 2362)

O catecismo ainda afirma que “A sexualidade é fonte de alegria e


prazer.” (CIC 2362)
Assim, devemos todos reconhecer que o ato sexual é um ato
sacramental e é algo muito bonito. Mas não é algo sempre automático
e realizador como todos esperam. Depende sempre de disposição e
envolvimento de corações para que ambos se realizem.

Ora, que parte da sua vida não necessita esforço e dedicação? Porque
empenhamos tempo no estudo e preparação para a vida profissional,
que nos rende dinheiro, e pouco dedicamos ao crescimento de nosso
relacionamento?

É preciso que se conheça as diferenças entre o casal e, que no campo


da realização sexual, são muitas. O trabalho começa pelo interesse
em fazer o cônjuge sentir-se amado(a) e valorizado(a) em todos os
momentos da vida, independentemente de esperar ou não por uma
relação sexual. O sexo é a celebração do amor que já é vivido em
cada momento do dia e não uma solução para os problemas e
desencontros do casal.

Para conseguir chegar ao orgasmo, a mulher precisa ser


verdadeiramente amada, respeitada, valorizada, protegida, etc, pelo
seu esposo; mais do que entregar o corpo, ela tem que entregar o
coração. O ato sexual para ela não começa na cama, mas no café da
manhã, no beijo da despedida quando ele sai para o serviço, no
telefonema que ele deu durante o dia, naquela rosa, etc. E mais,
mesmo nos dias em que a relação sexual não será possível, o amor
concreto se faz presente.

Com empenho, os cônjuges devem se ajudar para se realizarem


juntos. Veja o que comenta o São João Paulo I, papa, em livro escrito
ainda antes de seu pontificado: “Os sexólogos verificam que a curva
de excitação da mulher é diferente da do homem: sobe e desce mais
lentamente... O homem deve ter em conta estas diferenças. Neste
campo existe um ritmo ditado pela natureza, que os cônjuges devem
encontrar para chegarem no mesmo momento, ao ponto culminante
da excitação sexual.”
É comum encontrar mulheres dizendo que não sentem atração para se
relacionarem sexualmente com seus maridos, pois há muito tempo já
não sentem prazer e atingem o orgasmo. É preciso que os dois
dialoguem e procurem as causas e, juntos, trabalhem para superar as
dificuldades. Em geral a mulher é quem mais sofre pela falta de
empenho do marido em ajudá-la a se realizar. Mais uma vez o Papa
João Paulo II define claramente a situação: “Quando ela não encontra
nas relações sexuais a satisfação natural, ligada ao ponto culminante
da excitação sexual (orgasmo) é de temer que não sinta plenamente o
ato conjugal. Às vezes, é a consequência do egoísmo do homem que,
ao buscar apenas a sua própria satisfação, muitas vezes de uma
maneira brutal, não sabe ou não quer compreender os desejos
subjetivos da mulher... A mulher começa então a evitar as relações
sexuais e sente uma repugnância por elas”. (Papa São João Paulo II,
livro Amor e Responsabilidade, Rei dos Livros, Lisboa, 1979, p.267)

A falta de realização plena nas relações sexuais afeta o


relacionamento dos casais. Alguns fingem não existir esse problema
e vivem anos forjando uma realização que não existe. Outros partem
para a infidelidade. Outros ainda tentam todo o tipo de depravações
dentro do matrimônio como filmes pornográficos e objetos eróticos.
Mas isso também não vai longe. Um dia esses recursos também se
esgotam.

Um casal não pode viver assim. A vida sexual conjugal é dádiva e


também compromisso. De um lado deve-se retirar as ideias de pecado
em tudo, pois é lícito que o casal se conheça, expresse deus desejos,
se toque e se acaricie como verdadeira expressão de amor e doação
mútua. De outro lado, os cônjuges “devem saber manter-se nos
limites de uma moderação justa” (Papa Pio XII, 1951, CIC, 2362).

Só a dedicação para a realização do cônjuge, a doação plena, abertura


ao diálogo, disposição para mudar e empenho para rezar construirão
um casal realizado. Assim, há um desafio a ser lançado aos noivos:
trabalharem em conjunto para que alcancem a esperada Harmonia
Sexual. Isso pode não acontecer em dias, semanas ou meses. Alguns
casais levam anos para isso, mas com amor devem trabalhar para
superar este o desafio.

Neste tema, recomendo fortemente que os agentes se interessem e


conheçam mais sobre o belo trabalho do Papa São João Paulo II,
fruto de anos de estudo e acompanhamento de casais, agora
conhecido como Teologia do Corpo. Este é, talvez, o melhor
caminho para a vivência da sexualidade de modo saudável e cheia de
significados.

Sugiro a leitura dos parágrafos 150 e 151 da Exortação Apostólica


Amoris Laetitia do Papa Francisco.

6.5 O compromisso da fecundidade, a paternidade responsável e


a vivência dos métodos naturais de regulação da natalidade.

“Deve-se encorajar os esposos para uma atitude fundamental de


acolhimento do grande dom dos filhos.” (Papa Francisco, AL223)

“A fecundidade é um dom, um fim do Matrimônio, porque o amor


conjugal tende naturalmente a ser fecundo. O filho não vem de fora
acrescentar-se ao amor mútuo dos esposos; surge no próprio
âmago dessa doação mútua, da qual é fruto e realização” (CIC
2366).

O Matrimônio e o amor conjugal estão por si mesmos ordenados para


a procriação e educação dos filhos”. Mesmo com tanta beleza na
geração dos filhos, é necessário ter responsabilidade, ou seja, buscar
uma paternidade e maternidade responsáveis.

Através do Catecismo, a Igreja nos ensina que “por razões justas, os


esposos podem querer espaçar os nascimentos de seus filhos. Cabe-
lhes verificar que seu desejo não provém do egoísmo, mas está de
acordo com a justa generosidade de uma paternidade responsável”
(CIC 2368).

Destaco que a Igreja é muito clara em tudo o que orienta e usa a


palavra “espaçar”, que não é sinônimo de determinar a quantidade.
Por espaçar subentende-se haver também um ponto de partida, ou
seja, um primeiro. E que o espaçamento seja motivado por razões
justas.

Quando fala-se em razões justas, leva-se em consideração várias


situações, como saúde física ou psicológica, maturidade afetiva do
casal, situação financeira, profissional e outras. Uma razão justa
também pode ser alguma restrição de saúde do casal e,
principalmente, da mulher, para que não se ponha em risco a vida
gerada e, até mesmo, a da mãe.

Mas, atualmente há um risco a que estamos expostos, o de pensar que


o mundo está cheio demais e faltará alimento para todos. Muitos de
nós aprendemos, na escola, a respeito das previsões catastróficas da
Teoria de Malthus sobre o crescimento populacional e a produção de
alimentos. Hoje vemos que o problema não é o crescimento da
população, mas a falta de partilha e de políticas públicas justas.
Somos tentados a pensar que a densidade populacional é a causa
da pobreza de um país. Mas isso não é verdade. Observemos países
ricos, com alta densidade populacional e sem desigualdades sociais,
como Japão, Alemanha, Inglaterra, Suíça e outros. O Papa Francisco
também afirmou que a pobreza não tem relação com a população:
“Posso dizer, todos podemos dizer, que a causa principal da pobreza
é um sistema econômico que tirou a pessoa do centro e colocou o
deus dinheiro; um sistema econômico que exclui, exclui sempre:
exclui as crianças, os idosos, os jovens, sem trabalho... e que cria a
cultura do descartável que vivemos. Estamos habituados a ver
pessoas descartadas. Este é o motivo principal da pobreza, não as
famílias numerosas” (Papa Francisco Boletim da Santa Sé, 21 de
Janeiro de 2015).

Do lado oposto à família numerosa, está aquela com o filho único.


Não comento aqui as motivações, pois podem ser várias, sejam
doenças, problemas financeiros ou muitas outras questões pessoais.
Afinal, as razões justas são de discernimento do casal e de mais
ninguém.

Mas devemos ter em conta que criar filho único é um desafio, por
mais hábeis e dedicados que sejam os pais.

O casal assume no altar “aceitar os filhos que Deus os confiar” e


devem refletir muito sobre o que isto significa ou farão um
compromisso mentiroso, o que pode invalidar o matrimônio.

Contudo, não se pode esquecer que estamos sujeitos à natureza e,


mesmo sendo desejados, os filhos podem não chegar. Esgotados os
recursos científicos adequados – o que exclui inseminação artificial
–, o casal tem outras formas de exercer a paternidade e
maternidade.

O Catecismo também nos fala sobre isso: “O Evangelho mostra que a


esterilidade física não é um mal absoluto. Os esposos que, depois de
terem esgotado os recursos legítimos da medicina, sofrerem de
infertilidade, unir-se-ão à cruz do Senhor, fonte de toda fecundidade
espiritual. Podem mostrar sua generosidade adotando crianças
desamparadas ou prestando relevantes serviços em favor do
próximo” (CIC 2379).

Quando um casal tem bem refletido sobre a necessidade de se


espaçar, é hora de conhecer as opções naturais, em sintonia com
nossa fé. É comum ouvirmos pessoas que desconhecem os motivos
pelos quais a Igreja recomenda o uso de métodos naturais de
regulação da natalidade. E, sem conhecer, acabam por criticar e fazer
diversas acusações.
Às vezes, até mesmo católicos praticantes são tentados a também
dizer que a Igreja está ultrapassada, que esse “papo de natural” não
funciona e que o melhor é usar preservativos e anticoncepcionais.

Ao recomendar uma “atitude natural” e condenar os métodos


artificiais, a Igreja não o faz simplesmente para rejeitar os avanços
científicos ou porque seja “careta”, mas sim porque avalia um
conjunto muito maior de questões envolvidas na situação.

Os casais devem saber é que as funções unitiva e procriativa são


inseparáveis. Isto quer dizer que não podemos colocar barreiras à
possibilidade de haver uma concepção durante um relacionamento
sexual. O que se pode fazer, tendo em vista ua regulação da
natalidade baseada em “razões justas”, é se abster das relações nos
períodos de fertilidade da mulher.

No ano de 1968, com o avanço dos métodos artificiais (especialmente


a pílula), o Papa Paulo VI, apoiado por uma equipe que estudou o
tema por cinco anos, publicou a encíclica Humanae Vitae, que,
entre outras coisas, mostrou a posição da Igreja, contrária a tais
métodos. O Catecismo da Igreja Católica e vários outros documentos
atuais, como a Exortação Amoris Laetitia do Papa Francisco,
reforçam a questão.

Com os métodos artificiais bloqueia-se o processo generativo natural,


utilizando fármacos ou dispositivos mecânicos que tornam também
artificial a união conjugal. Por tais razões, a Igreja não aprova os
anticoncepcionais, preservativos ou ainda estratégias como o coito
interrompido e todos os outros meios que separam o caráter unitivo
do procriativo.

Veja o que nos diz o Catecismo: “A continência periódica, os


métodos de regulação da natalidade baseados na auto observação e
nos recursos aos períodos infecundos estão de acordo com os
critérios objetivos da moralidade. Estes métodos respeitam os corpos
dos esposos, animam a ternura entre eles e favorecem a educação
de uma liberdade autêntica” (CIC 2370).

Em compensação, é intrinsecamente má “toda ação que, ou em


previsão do ato conjugal, ou durante a sua realização, ou também
durante o desenvolvimento de suas consequências naturais, se
proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação”
(CIC 2370).

É comum escutarmos casais dizerem que não se adaptam a um


método natural e que, por isso, usam os artificiais, que lhes conferem
mais segurança. Há casos especiais e que necessitam de orientação de
especialistas, mas a utilização dos métodos naturais é possível para
todos.

Os métodos naturais de regulação da natalidade propiciam uma


sincera convivência do casal. De forma natural, o casal é orientado a
conhecer o ciclo reprodutivo e a não se relacionar genitalmente nos
dias de fertilidade, caso pensem que o momento não é adequado para
uma gravidez. Dessa forma, o relacionamento sexual é valorizado e
capaz de promover um relacionamento sincero e completo, um
compromisso entre o casal.

Há também outros benefícios. Imaginemos um casal que não sabe


esperar e vive o sexo como mais um imediatismo em sua vida. Como
vão se comportar no momento em que necessitarem ficar dias ou
meses sem sexo, em virtude de viagens ou questões de saúde?
Saberão olhar para o cônjuge com carinho, expressar seu amor, dar
beijos e abraços carinhosos sem a intenção de que isso termine em
uma relação sexual?

O autocontrole e a disposição para amarem-se de forma plena,


mesmo nos períodos em que não podem manter relações sexuais,
constituem pontos fundamentais para a utilização de um método
natural. Além disso, a opção por não utilizar substâncias químicas ou
outros meios artificiais traz ao casal mais saúde e realização.

E há ainda a vantagem de não se necessitar de dinheiro para o


seguimento dessa proposta, bastando haver boa vontade e disposição
do casal para conhecerem o próprio corpo e acompanhar o ciclo
reprodutivo.

Com um método natural, os esposos renunciam em alguns momentos,


responsavelmente e de comum acordo, à relação sexual, respeitando
as leis naturais, criadas por Deus, caso pensem não ser o momento
adequado para uma gravidez.

E ao contrário do que muitos pensam, os métodos naturais não são


obsoletos. Hoje podemos contar com métodos naturais
cientificamente pesquisados (tais como o Método de Billings e
Creighton Model) e as técnicas a eles associadas (temperatura basal,
cristalização da saliva, avaliação do colo do útero etc).

O destaque é que este tema não significa obrigatoriamente uma


“aula” sobre como utilizar um método natural. Há vários métodos e
técnicas, a escolha deve ser do casal. Também ainda é comum não
haver no grupo de agentes instrutores habilitados para ensiná-los.
Então, este tema é uma motivação para a existência, a simplicidade
de uso, os benefícios para o casal, a eficácia e, mais ainda, a
moralidade dos métodos naturais diante da imoralidade dos métodos
artificiais.

É importante que os agentes tenham indicações de pessoas que


possam instruir no uso de métodos naturais, caso haja interesse da
parte dos noivos. Ideal seria entregar uma ficha com indicações dos
métodos e casais disponíveis.

Sugiro a leitura dos parágrafos 82, 83 e 167 da Exortação Apostólica


Amoris Laetitia do Papa Francisco.
6.6 O compromisso de educar os filhos na fé católica.

O casal assume no altar a educar os filhos na fé católica. Para isso, é


necessário que se esforcem por viver a fé no seu dia a dia. Precisam
viver e conhecer a fé que professam, o que pode ser feito através de
boas leituras, estudos e conversas com casais experientes. Também é
muito importante a participação ativa na vida paroquial, com o
engajamento em pastorais que nos ajudem na caminhada, como, por
exemplo, a Pastoral Familiar e outros grupos, movimentos e serviços
que envolvam a família.

É muito importante a vivência da espiritualidade dentro do lar, pois


ele é também uma igreja, é a Igreja doméstica. O lar de um casal que
assumiu o sacramento do Matrimônio deve ter fé viva, deve contagiar
a todos pela sua vivência. É assim que se prepara o ambiente para a
educação dos filhos na fé católica.

Podemos citar belos exemplos nas famílias dos santos, em que a


vivência da fé e a vida de oração foram de terminantes na vocação
dos filhos, como os pais de São João Paulo II e os pais de Santa
Teresinha, estes canonizados. O casal que vive a fé no dia a dia tem
força para superar os momentos difíceis e sentir que Deus habita em
seu coração.

Lembrar que Deus está conosco e nos permite viver cada novo dia.
Por isso, devemos nos lembrar dele ao acordar e ao dormir. O casal
deve fazer sua oração nestes dois momentos mas também, durante o
dia, buscar um momento de oração pessoal. Orações simples nos
ajudam a buscar a sintonia com Deus Pai e também com Maria,
escolhida por Deus para ser mãe de Jesus e nossa. Podemos começar
o dia louvando a Deus com a oração do Glória ou saudando Nossa
Senhora com a Ave-Maria. São hábitos pequenos que fazem a
diferença e podem ser praticados pelo casal enquanto este se arruma
ou prepara o café da manhã.

Além das orações em casal, devem buscar seus momentos a sós com
o Senhor em uma crescente intimidade de oração que gera frutos para
si e para a família. Ao iniciar o dia é de grande riqueza entregar ao
Senhor os seus afazeres do dia e ao terminar o dia buscar um exame
de consciência seguido de uma oração.

Mas podem e devem conhecer um pouco mais sobre a fé e, assim,


cultivar o amor a Deus. A leitura do Evangelho do dia é um passo
importante na vida do casal. Hoje, além da Bíblia, o Evangelho do
dia pode ser encontrado na internet e em aplicativos para celular. Até
mesmo dentro do ônibus pode-se lê-lo e meditá-lo por alguns
instantes. Mas o ideal seria reservar algum tempo em um cantinho
tranquilo para fazer isso.

Os casais devem ser motivados a viverem os mandamentos da Igreja:

1. participar da missa inteira nos domingos e de outras festas de


guarda e abster-se de ocupações de trabalho;

2. confessar-se ao menos uma vez por ano;

3. receber o sacramento da Eucaristia ao menos pela Páscoa da


ressurreição;

4. jejuar e abster-se de carne, conforme manda a Santa Mãe


Igreja;

5. ajudar a Igreja em suas necessidades.

Devem cultivar o domingo e dias santos com alegria, reconhecendo-


os como dias do Senhor, e organizar o dia para participar da
Eucaristia com tranquilidade e amor, conhecendo cada parte da
celebração. Uma família católica precisa ter seus momentos de
oração muito bem definidos e resguardados.

Um lar será mais feliz quanto mais próximo de Jesus ele estiver. Veja
que belo comentário do Papa Francisco: “É preciso simplicidade:
para rezar em família, é necessário simplicidade! Rezar juntos o Pai-
Nosso, em torno da mesa, não é uma coisa extraordinária: é fácil. E
rezar junto o terço, em família, é muito belo e dá tanta força! E
também rezar um pelo outro: o marido pela esposa; a esposa pelo
marido; os dois pelos filhos; os filhos pelos pais, pelos avós... Rezar
um pelo outro. Isto é rezar em família, e isto fortalece a família: a
oração”.

Sugiro a leitura do parágrafo 173 da Exortação Apostólica Amoris


Laetitia do Papa Francisco.

6.7 A celebração do matrimônio na liturgia da Igreja.

A celebração do matrimônio não pode ser uma criação própria do


casal e de outras pessoas, mas deve seguir um rito, definido pela
Igreja e fundamentado teologicamente. A celebração festiva e muito
bem preparada com a participação de familiares e amigos, a
fotografia e filmagem, o cuidado com a roupa, ornamentação e outros
detalhes fazem parte desse momento tão especial. Mas não podemos
perder o foco da celebração do sacramento. Veja o que nos orienta o
Conselho Pontifício para a Família / Vaticano: "Cuidar-se-á de que os
particulares da celebração matrimonial sejam caracterizados por um
estilo de sobriedade, de simplicidade, de autenticidade. O tom de
festa não deverá, de fato, ser prejudicado por excesso de pompa."
(PSM71)

Todos os detalhes, da escolha da igreja, pontualidade, passando por


cantos, leituras e padrinhos (testemunhas) devem ter sentido
litúrgico.
Os ministros do matrimônio: O sacramento do matrimônio é o único
que é ministrado pelos próprios contraentes, ou seja, os próprios
noivos são os ministros do matrimônio. O padre representa a Igreja e,
ao invés de celebrar um matrimônio, o assiste e preside a celebração,
confirmando que seja celebrado dentro da forma correta e que o casal
possui as predisposições necessárias. Contudo, a celebração pode
também ser presidida pelo bispo, diácono ou até um leigo autorizado
pelo bispo. Por isto é importante que o casal procure por um
sacerdote ou adequado presidente da celebração com bastante
antecedência e tenha com ele uma boa conversa, pois ele precisa
conhecer o casal e suas motivações antes de atestar, em nome da
Igreja, a validade do sacramento.

A celebração: A celebração do matrimônio pode ocorrer de 3 formas:


dentro da missa da comunidade(horário padrão), com missa marcada
especialmente para o casamento ou como celebração do matrimônio
sem missa. A primeira recomendação da Igreja é que procure se
realizar dentro de uma missa da comunidade, para que todos possam
também testemunhar e rezar pelo casal, sendo um acontecimento e
compromisso comunitário. Mas, por questões culturais, essa forma é
pouco freqüente e o que mais acontece é a celebração em horários
especiais.

Em todos os 3 casos, há um rito a ser seguido. Na celebração sem


missa, deve haver: Ritos Iniciais, Leitura da Palavra de Deus seguida
da Homilia, Diálogo com os noivos e Consentimento, Bênção e
colocação das alianças, Oração dos fiéis, Bênção nupcial, oração do
Pai Nosso e Bênção final com despedida.

Havendo celebração da missa, o rito da celebração da matrimônio é


inserido após a homilia, com o Diálogo dos Noivos, Consentimento,
Bênção e colocação das alianças, seguindo o rito da missa a partir da
Oração dos Fiéis.

O Diálogo com os noivos é parte onde o presidente da celebração faz


três perguntas aos noivos (que respondem 3 vezes SIM de forma que
todos possam ouvir).

1) É de livre e espontânea vontade que pretendem se unir em


matrimônio? (Sim um ao outro)

2) Prometem se amar e serem fiéis por toda a vida ? (SIM à


indissolubilidade e à fidelidade).

3) Estão dispostos a acolher e educar os filhos na Lei de Cristo e


da Igreja? (SIM à fecundidade).

No Consentimento, os noivos de mãos dadas, dizem um ao outro:

Noivo: Eu (“fulano”), te recebo, (“fulana”), por minha esposa, e te


prometo ser fiel, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença,
amando-te e respeitando-te todos os dias de minha vida.

Noiva: Eu (“fulana”), te recebo, (“fulano”), por meu esposo, e te


prometo ser fiel, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença,
amando-te e respeitando-te todos os dias de minha vida.

Algumas dioceses e editoras católicas oferecem folhetos para


celebração, o que favorecem a participação da assembleia de fiéis.
Em outros casos, seguindo-se o rito, pode-se criar próprios folhetos
com orações, músicas e leituras escolhidas, sempre apresentando
previamente ao pároco o projeto do folheto para revisão. O ideal seria
escolher tudo isso junto com o padre que assistirá a celebração.

Em qualquer uma das formas, a escolha de leituras, orações e cantos


merece atenção especial. Deve-se cuidar para que tudo favoreça o
clima de oração, conforme já estudamos nos temas anteriores.

A escolha da Igreja: Mais do que fotos e aparências, a escolha da


igreja tem sentido litúrgico. O casamento não é um fato isolado e de
único interesse dos noivos e suas famílias. A celebração do
matrimônio deve ser uma celebração comunitária e, por isso, diante
da paróquia onde os noivos participam das celebrações e se integram
como parte de uma comunidade. Por isso, a Igreja recomenda que o
matrimônio seja celebrado na paróquia de um dos noivos ou onde
eles frequentam, para que seja dentro do ambiente religioso no qual
eles vêm sendo formados.

"Os matrimônios sejam celebrados na Paróquia onde uma das partes


contraentes tem domicílio, ou quase domicílio ou residência há um
mês, ou, tratando-se de vagantes, na Paróquia onde, na ocasião, se
encontram; com a licença do próprio Ordinário ou do próprio pároco,
podem ser celebrados em outro lugar." (Cf. Código de Direito
Canônico, cânon 1115)

É importante que sejam buscadas as orientações diocesanas e


paroquiais e transmitidas aos noivos sobre questões como escolha e
função dos padrinhos (testemunhas), música, ornamentação,
fotografia e filmagem, cerimonial etc.

Sugiro a leitura do parágrafo 212 da Exortação Apostólica


Amoris Laetitia do Papa Francisco.

6.8 Alguns aspectos do Direito Canônico sobre a validade do


matrimônio

Não somente os noivos, mas também seus familiares e agentes


devem ficar atentos quanto à possíveis impedimentos para que o
sacramento seja realmente válido. O Código de Direito Canônico,
que é o conjunto das regras que organiza a Igreja elenca as situações
que tornam inválido o Matrimônio, ou seja, atestam sua nulidade.
Alguns podem impedir sua realização, outros acusam que ele foi nulo
por defeito de Consentimento ou por falta de forma. São um total de
dezenove motivos, separados em trê s categorias: falhas de
Consentimento, impedimentos dirimentes e falta de forma canônica.

Não se trata de uma abordagem jurídica, mas uma noção geral. Os


noivos, após tomarem conhecimento desse tema, devem ser
direcionados ao pároco caso tenham dúvida sobre a existência de
algum impedimento ao matrimônio deles.

Começo com os impedimentos, ou seja, as situações que não


permitem que a celebração seja realizada:

- Idade (cânon 1083): no Brasil, a CNBB adota o critério de 18


anos para homens e 16 anos para mulheres;

- Impotência (cânon 1084): incapacidade de ter uma relação


sexual completa. Isto não deve ser confundido com
esterilidade, que não impede o Matrimônio.

- Vínculo (cânon 1085): ter um vínculo de Matrimônio anterior


que não tenha sido declarado nulo e em que o cônjuge esteja
vivo.

- Disparidade de culto (cânon 1086 – cf. cânones 1124s): para


casamento com cônjuge não cristão, deve ser solicitada
dispensa ao bispo.

- Ordem Sacra (cânon 1087): não podem contrair Matrimônio:


bispos, padres e diáconos, exceto se tiverem recebido
dispensa do papa. Observe que há a figura do diácono
permanente casado, mas que recebeu o diaconato após o
Matrimônio.

- Profissão religiosa perpétua (cânon 1088): não podem contrair


o Matrimônio as pessoas que fizeram voto religioso público e
perpétuo de castidade, como freiras e freis, exceto se tiverem
recebido dispensa do papa.
- Rapto (cânon 1089): o Matrimônio não pode ser realizado se
um dos cônjuges tiver sido sequestrado, raptado para tal.

- Crime (cânon 1090): o Matrimônio não pode ser realizado se


tiver acontecido um crime, como o assassinato de alguém
para casamento com o(a) viúvo(a) ou assassinato do
cônjuge para término do próprio Matrimônio.

- Consanguinidade (cânon 1091): o Matrimônio não pode ser


realizado entre todos os ascendentes e descendentes (pais e
filhos, avós e netos) e entre parentes até o quarto grau.

- Afinidade (cânon 1092): esta é a relação existente entre os


cônjuges validamente casados e os consanguíneos do outro.
Este impedimento torna sempre inválido o Matrimônio entre
um dos dois e os ascendentes ou descendentes do outro. Quer
dizer que os viúvos não podem casar validamente com
sogro, sogra, enteado, enteada. Na linha horizontal, não há
impedimento: um viúvo pode casar-se com uma irmã de sua
falecida esposa.

- Honestidade pública (cânon 1093): aquele que vive uma união


ilegítima (concubinato) está impedido de se casar com os
filhos ou os pais de seu(sua) companheiro(a).

- Parentesco legal por adoção (cânon 1094): não pode ser


realizado o Matrimônio entre o adotante e o adotado ou entre
um destes e os parentes mais próximos do outro, exceto por
dispensa do bispo, assim como para os outros impedimentos
anteriores.

Há também os defeitos que analisam se o Consentimento, que é o ato


de vontade pelo qual um homem e uma mulher se entregam, foi feito
com falhas, como:
• Falta de capacidade para consentir (cânon 1095)

• Ignorância (cânon 1096)

• Erro (cânones 1097-1099)

• Simulação (cânon 1101)

• Violência ou medo (cânon 1103)

• Condição não cumprida (cânon 1102)

E, por fim, há ainda a Falta de forma canônica na celebração do


matrimônio (cânones 1108-1123). Forma canônica é o conjunto
de elementos exigidos para a celebração ritual do casamento.
Requer-se, com efeito, que a cerimônia se realize perante o
pároco do lugar e, pelo menos, duas testemunhas (padrinhos).
O pároco pode delegar a sua atribuição a outro sacerdote, a um
diácono ou, em situações especiais, também a certos leigos
denominados testemunhas qualificadas.

Ao término deste tema, recomendo que seja promovido um momento


de conversa entre o casal de noivos e o pároco a fim de
aprofundamento e identificação de possíveis impedimentos. Não se
trata de antecipar o diálogo canônico, ato oficial do Processo de
Habilitação Matrimonial, pois este deverá acontecer no momento em
que o casal der entrada na documentação para o casamento. Mas
trata-se de antecipar possíveis situações que constituem
impedimentos que, se identificadas somente às vésperas do
casamento, acabam por ser ignoradas.

7 - Temas adicionais
Como sugestão, apresento alguns temas adicionais:

 Relacionamento com a família do cônjuge.


 Dinheiro, bens e consumismo.
 A Sagrada Família e a santidade da minha família.
 Crescimento na vida espiritual.
 Equilíbrio entre carreira profissional e família.
 Dedicando tempo à família.
 Educação dos filhos.
 Como lidar com tendências homossexuais na família.
 O perigo da Ideologia de Gênero para a família.
 Aprofundamento sobre a sexualidade e afetividade a partir da
Teologia do Corpo.
 Método de Ovulação Billings.
 Outros Métodos Naturais de Regulação da Natalidade.
 Dependência de álcool e drogas.
 Internet e pornografia.
 Dependência da internet.
 A influência dos amigos na relação do casal.
 Adoção de crianças ou idosos.
 Envelhecer com qualidade de vida.
 O suporte aos pais na velhice.

Tais temas podem constituir aprofundamento e prolongamento dos


EPVM, orientando novas reuniões do mesmo grupo. Mas também
podem ser promovidas palestras com esses e outros temas mais
durante o ano (e não apenas na Semana da Família), abertas a todos
os fiéis, como mais uma ação da paróquia em favor das famílias,
como nos recomenda o Papa Francisco ao dizer que: “habitualmente,
são muito úteis os grupos de noivos e a oferta de palestras opcionais
sobre uma variedade de temas que realmente interessam aos jovens”.
(AL208)
8 - Principais Referências Bibliográficas

Bíblia Sagrada, Ed Ave Maria

Catecismo da Igreja Católica, 1992

Constituição Pastoral Gaudium et Spes – Vaticano II, 1968.

Documento 12 da CNBB - Orientações Pastorais sobre o


Matrimônio, 1978.

Documento 79 da CNBB - Diretório da Pastoral Familiar, 2004.

Documento de Santo Domingo, CELAM, 1992 Encíclica Humanae


Vitae, Paulo VI, 1968.

Exortação Apostólica “Familiaris Consortio”, João Paulo II, 1981.

Exortação Apostólica Amoris Laetitia, Papa Francisco, 2016.

Exortação Apostólica Verbum Domini, Papa Bento XVI, 2010.

Matrimônio: Encontros de Preparação, André Parreira e Karina


Parreira, CNPF, 2016.

O Método Billings, Evelyn Billings, Paulus, 1983.

Preparação para o Sacramento do Matrimônio – Pontifício Conselho


para a Família, 1996.

Sexualidade Humana: Verdade e Significado – Pontifício Conselho


para a Família, 1995

Teologia do Corpo para principiantes, Christopher West, Paulinas,


2009

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