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Petróleo

"Escureceu" A Baía da Guanabara


Talvez você more na praia, como outros 36 milhões de brasileiros. Com
certeza come peixe, camarão ou mexilhões de vez em quando ou curte férias
à beira-mar. Não importa qual a sua relação com o Oceano Atlântico - o certo
é que a qualidade de suas águas afeta, e muito, sua qualidade de vida.
Apesar disso, em geral ninguém dá importância à poluição dos oceanos.
Tanto é que o litoral brasileiro recebe mais de 3 mil toneladas diárias de
dejetos, sobretudo esgotos e efluentes industriais, e ninguém fala nada.

Mas essa história começou a mudar em 18 de janeiro. Todos os jornais


deram: um duto avariado da PETROBRÁS permitiu que 1,3 milhões de litros
de óleo contaminassem o maior cartão postal do país, a Baía de Guanabara.
Além de ser multada em R$51 milhões com base na lei dos crimes
ambientais, a empresa teve de distribuir cestas básicas e indenizações para
mais de 600 pescadores que produziam 1 tonelada de pescado por dia e
agora perderam seu ganha-pão. No total, seus prejuízos devem chegar à
R$110 milhões.

Vazamento de óleo da PETROBRÁS, na Baía da Guanabara,


causa o maior desastre ambiental marítimo da história
brasileira.

Muito da punição se deve à pressão dos cidadãos. Primeiro, foi o sindicato


dos funcionários da PETROBRÁS, que lembrou que já havia alertado a
empresa sobre a fragilidade do duto. Depois foram os ambientalistas, que
formaram forças-tarefas para limpar centenas de aves recobertas de
petróleo. O Ministério Público carioca pediu (mas não conseguiu) o
fechamento da Refinaria Duque de Caxias, origem do acidente e responsável
por 14% do refino de petróleo nacional. A pressão não foi em vão: em
propaganda paga em todos os jornais, a empresa admitiu: "A PETROBRÁS
não tem desculpa".

Tanta repercussão é inédita no país. Já os acidentes são muito comuns. Nos


últimos 30 anos, houve cerca de 150 vazamentos associados ao Terminal
Marítimo Almirante Barroso, em São Sebastião, no litoral norte paulista, por
falhas nos dutos, falta de dispositivos de segurança nas embarcações ou
problemas na manutenção dos navios. Em abril do ano passado, seis praias
do município foram afetadas por um derramamento de petróleo de um
emissário da PETROBRÁS. Na época, o presidente da companhia, Philippe
Reichstul, prometeu que esse tipo de impacto ambiental nunca se repetiria.

A própria PETROBRÁS foi responsável pelo maior acidente industrial da


história do Brasil - um vazamento seguido de explosão em Vila Socó, Cubatão
(SP), em 1984, que matou 98 pessoas. Também esteve envolvida no maior
acidente da Baía de Guanabara, só não foi maior porque ocorreu na entrada
da Baía. Mesmo assim, contaminou varias praias da zona sul do Rio de
Janeiro.

Acidentes envolvendo a estatal do petróleo podiam ser contados às dezenas


nas décadas de 1970 e 1980. Em 1978, por exemplo, o navio liberiano
Brasilian Marina, contratado pela PETROBRÁS, derramou 6 mil metros cúbicos
de óleo nas praias de São Sebastião. Nos anos de 1990, porém, tornaram-se
mais raros. Só que o aumento dos volumes de petróleo manipulados e do
tamanho dos petroleiros acabaram ampliando os riscos.

Não que a contaminação dos oceanos seja uma exclusividade da estatal


brasileira. Na véspera do último Natal, o petroleiro Erika, fretado pela
empresa franco-belga Totalfina, recobriu 400 quilômetros da costa da
Bretanha, na França. O maior derramamento de petróleo de que se tem
notícia - 42 mil toneladas espalhadas no Alasca, em março de 1989 - foi obra
do petroleiro Exxon-Valdez, da multinacional americana Exxon. Para
minimizar o desastre, a empresa já gastou mais de US$2,5 bilhões nesses
dez anos.

O prejuízo não é só financeiro. O petróleo mata ou debilita peixes, aves,


moluscos, vegetação costeira - a maioria das formas de vida que encontra
pela frente. Bancos de corais levam décadas até recobrar-se totalmente,
porque o óleo inibe sua capacidade reprodutiva. O óleo adere às asas das
aves, impedindo-as de voar, contamina seu sistema digestivo. A mancha
também muda o fluxo alternado de água doce ou salgada que produz a
riqueza dos mangues. As plantas menores já não conseguem crescer e as
árvores, com as raízes sufocadas, podem perder suas folhas. Com isso, os
crustáceos que se alimentam de folhas decompostas passam apuros.

Dez anos após a catástrofe do Exxon-Valdes, a Alasca ainda não se


recuperou. Até hoje o mar deixa uma marca oleosa nas rochas. As orcas têm
dificuldade para se reproduzir e os leões-marinhos nascem e morrem mais
jovens. No caso do acidente francês do mês passado, há quem estime que
mais de 300 mil aves já morreram. Ainda é cedo para prever todas as
conseqüências do derramamento no Rio, mas sabe-se que o óleo atingiu
1434 hectares da Área de Proteção Ambiental de Guapimirim, a reserva mais
importante da Baía de Guanabara. Talvez ela leve mais dez anos para se
recuperar, como o Alasca. Azar do caranguejo-uçá, cuja época de reprodução
coincidiu com a do acidente. Um relatório do IBAMA, a agência ambiental
federal, diz que é possível que a espécie tenha se extinguido com o óleo.

Mangue, onde tudo começa


O mangue é um dos melhores caldos de cultura que existem. Típico das
costas tropicais, forma-se nos fundos de baías e estuários, ambientes onde a
maré, misturada à água doce quase parada, favorece os depósitos de
sedimentos e detritos orgânicos. Com essa abundância de nutrientes, é a
incubadeira favorita de muitas espécies de peixes, camarões, caranguejos e
moluscos. Estes, por sua vez, atraem gaivotas, guarás, capivaras e outros
animais que buscam alimento.

Uma das poucas espécies de árvores se repetem em todos os mangues


brasileiros, do Amapá até o sul de Santa Catarina. Entre as mais comuns está
a Rhizophora mangle, famosa pelas raízes que saem do tronco, fazendo com
que pareça com um candelabro invertido. Outras espécies desenvolvem
pneumatóforos, raízes que crescem de baixo para cima e afloram acima do
nível das águas. Tanto os pneumatóforos quanto as raízes da Rhizophora têm
pequenos poros, as lenticelas, que ajudam a planta a respirar. Nas áreas
mais protegidas do vento crescem também orquídeas e bromélias.

Fundamentais para a manutenção dos estoques de pesca e de toda a fauna


aquática, os mangues são preservados por leis estaduais e federais, que
proíbem a formação de aterros, os desmatamentos e outros tipos de
ocupação. Eles também são importantes por impedir a erosão da costa,
atingida por ventos e marés, Por fim, ajudam a filtrar e depurar a água dos
rios, que costuma carregar nitratos e fosfatos em excesso, resíduos de
fertilizantes arrastados pela chuva. Apesar de seu valor, os mangues são
bastante ameaçados pela extração madeireira, a ocupação imobiliária, a
aquacultura e os derramamentos de óleo.

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