E N S I N O S E C U N D Á R I O - Cursos Científico-Humanísticos Educação Literária
Português | 10ºano Ficha
de
Poesia Trovadoresca – CANTIGAS DE AMIGO trabalho autónomo
Nome:_________________________________________________nº_____ Turma______Data____/____/____
A - Lê atentamente a cantiga transcrita. Em caso de necessidade, consulta o glossário.
Ai Deus, se sab’ ora meu amigo
com’ eu senlheira1 estou en Vigo!
E vou namorada!
Ai Deus, se sab’ ora meu amado
5 com’ eu en Vigo senlheira manho2!
E vou namorada!
Com’ eu senlheira estou en Vigo,
e nulhas3 guardas non ei comigo!
E vou namorada!
10 Com’ eu en Vigo senlheira manho,
e nulhas guardas migo4 non trago!
E vou namorada!
E nulhas guardas non ei comigo,
ergas5 meus olhos que choran migo!
15 E vou namorada!
E nulhas guardas migo non trago,
ergas meus olhos que choran ambos!
E vou namorada!
Martim Codax (CV 887, CBN 1281),
in TORRES, Alexandre Pinheiro, 1987.
Antologia da Poesia Trovadoresca Galego-Portuguesa. 2.a ed.
Porto: Lello & Irmaos (p. 156) (1.a ed.: 1977)
1. sozinha;
2. estou, permaneco (1.a pessoa do presente do indicativo do verbo
“maer”: estar, permanecer);
3. nenhumas;
4. comigo;
5. a não ser, senão.
Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
1. Identifica, fundamentando, o género da poesia medieval a que pertence o poema.
2. Comprova a natureza paralelística da cantiga.
B - Lê atentamente a cantiga transcrita. Em caso de necessidade, consulta o glossário.
1 Fui eu, fremosa, fazer oraçon,
non por mia alma, mais1 que viss’ eu i2
o meu amigo, e, poi-lo non vi,
vedes, amigas, se Deus mi perdon,
5 gran dereit’ é de lazerar3 por en4,
pois el non vẽo, nen aver5 meu ben.
Ca6 fui eu chorar (destes) olhos meus,
mias amigas, e candeas7 queimar,
non por mia alma, mais polo achar,
10 e, pois non vẽo, nen o dusse8 Deus,
gran dereit’ é de lazerar por en,
pois el non vẽo, nen aver meu ben.
Fui eu rogar muit’ a Nostro Senhor,
non por mia alma candeas queimar,
15 mais por veer o que eu muit’ amei
sempr’, e non vẽo, o meu traedor;
gran dereit’ é de lazerar por en,
pois el non vẽo, nen aver meu ben.
Afonso Lopes de Baião (CBN 738, CV 339),
in TORRES, Alexandre Pinheiro, 1987.
Antologia da Poesia Trovadoresca. Porto: Lello & Irmãos (p. 64)
1. mas; 2. aí; 3. lamentar, chorar; 4. gran dereit’ é de lazerar por en: é muito justo que sofra por isso;
5. haver; 6. Porque; 7. velas; 8. trouxe.
3. Resume a situação que motivou o estado emocional da donzela, fundamentando a
tua resposta com citações do texto.
4. Transcreve os elementos linguísticos que identificam o destinatário das palavras do
“eu” e analisa o papel desempenhado por essa entidade.
5. Identifica os traços caracterizadores do “amigo” (v. 3) e relaciona-os com os
sentimentos expressos no refrão.
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C - Lê atentamente a cantiga transcrita.
I
Ai fals'amig'e sem lealdade,
ora vej'eu a gram falsidade
com que mi vós há gram
temp'andastes,
ca doutra sei eu já por verdade
a que vós atal pedra lançastes.
Amigo fals'e muit'encoberto,
ora vej'eu o gram mal deserto
com que mi vós há gram
temp'andastes,
ca doutra sei eu já bem por certo
a que vós atal pedra lançastes.
Ai fals'amig', eu nom me temia
do gram mal e da sabedoria
com que mi vós há gram
temp'andastes,
ca doutra sei eu, que o bem sabia,
a que vós atal pedra lançastes.
E de colherdes razom seria
da falsidade que semeastes.
D.Dinis
6. Identifica, justificando, o tema da cantiga.
7. Elabora uma caracterização psicológica
a) da amiga;
b) do amigo.
8. Explicita o sentido da única metáfora presente no refrão.
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D - Lê atentamente a cantiga transcrita.
- Amiga, faço-me maravilhada
como pode meu amigo viver
u os meus olhos nom pode veer
ou como pod'alá fazer tardada;
ca nunca tam gram maravilha vi:
poder meu amigo viver sem mi;
e, par Deus, é cousa mui desguisada.
- Amiga, estad[e] ora calada
um pouco, e leixad'a mim dizer:
per quant'eu sei cert'e poss'entender,
nunca no mundo foi molher amada
come vós de voss'amig'; e assi,
se el tarda, sol nom é culpad'i;
se nom, eu quer'en ficar por culpada.
- Ai amiga, eu ando tam coitada
que sol nom poss'em mi tomar prazer,
cuidand'em como se pode fazer
que nom é já comigo de tornada;
e, par Deus, porque o nom vej'aqui,
que é morto gram sospeita tom'i,
e, se mort'é, mal dia eu fui nada.
- Amiga fremosa e mesurada,
nom vos dig'eu que nom pode seer
voss'amigo, pois hom'é, de morrer;
mais, por Deus, nom sejades sospeitada
doutro mal del, ca des quand'eu naci,
nunca doutr'home tam leal oí
falar, e quem end'al diz, nom diz nada.
D.Dinis
9. Esclarece a relação entre as duas pessoas que dialogam na cantiga.
10. Explicita, justificando, a crítica feita na primeira estrofe ou cobla.
11. Refere as qualidades do amigo apresentadas pela segunda interlocutora.
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TÓPICOS DE CORREÇÃO:
A - 1. Trata-se de uma cantiga de amigo, dado que se expressa um sujeito poético feminino (“eu senlheira”, v.
2, “namorada”, refrão) que manifesta os seus sentimentos (“E vou namorada!”, refrão) e a sua tristeza (“meus
olhos que choran migo!”, v. 14, “meus olhos que choran ambos”, v. 17) por estar sozinha, sem a companhia
do “amigo” (v. 1) (“eu senlheira estou en Vigo!”, v. 2). A dor da ausência do apaixonado e a angústia da
solidão são manifestadas nas apóstrofes iniciais das duas primeiras estrofes a “Deus”, que a donzela faz
confidente do seu estado emocional.
2. Podemos comprovar a natureza paralelística da cantiga pelo facto de existirem seis estrofes e dezoito
versos, ainda que apenas cinco versos sejam semanticamente diferentes, incluindo o refrão (vv. 1, 2, 8, 14 e
refrão). Os versos organizam-se segundo o esquema típico do paralelismo anafórico e semântico: A B refrão;
A’ B’ refrão; B C refrão; B’ C’ refrão; C D refrão; C’ D’ refrão.
B - 3. A donzela foi “fazer oraçon” (v. 1), ou seja, partiu em peregrinação. Contudo, como a própria
confessa, a decisão de ir “rogar muit’ a Nostro Senhor” (v. 13) e “candeas queimar” (v. 8) não se deveu
à sua devoção e religiosidade, mas antes ao desejo de encontrar, no espaço da romaria, o seu amigo:
“non por mia alma, mais que viss’ eu i / o meu amigo” (vv. 2-3); “non por mia alma, mais polo achar” (v.
9); “non por mia alma [...], / mais por veer o que eu muit’ amei” (vv. 14-15). Como ele “non vẽo” (vv. 10
e 16) e não o pôde ver (v. 3), a donzela mostra-se angustiada, conforme o primeiro verso do refrão
confirma.
4. O sujeito poético dirige-se às amigas – “amigas” (v. 4) e “mias amigas” (v. 8), a quem revela as suas
verdadeiras intenções ao partir em romaria e com quem partilha os seus sentimentos. Assim, como é
típico na cantiga de amigo, as amigas funcionam como confidentes da donzela e testemunhas do seu
estado emocional e das causas que o motivam.
5. O “amigo” (v. 3), não tendo aparecido na romaria, é caracterizado como “traedor” (v. 16), sugerindo
que o encontro estaria previamente marcado. Por não ter comparecido, frusta as expetativas da
donzela, que sente justificado o seu sofrimento, conforme salienta no refrão.
C – 6. A amiga queixa-se das traições do amigo, acusando-o de ter como prática enganar as
namoradas.
7. a) A amiga apresenta-se zangada e revoltada por causa do caráter traidor do amigo, que ela
sabe que enganou outra. [No dístico final, a amiga exprime o desejo de que ele acabe por colher o
castigo merecido.] b) O amigo é caracterizado como falso e dissimulado.
8. A única metáfora presente no refrão ocorre no seu verso final: «a que vós a tal pedra
lançaste», em «pedra»: trata-se de uma metáfora extremamente expressiva: do mesmo modo que
quem atira uma pedra a alguém magoa essa pessoa, também o amigo magoava as namoradas ao trai-
las.
D-9. As duas pessoas que dialogam na cantiga são duas jovens mulheres, sendo a segunda confidente
da primeira: esta conta-lhe do seu espanto por o seu amigo não ter regressado para estar junto dela,
demorando-se onde se encontra – : «como pod'alá fazer tardada», v. 4. O argumento do qual ela se
serve para justificar a sua admiração é liricamente de grande beleza: «como pode meu amigo viver / u
os meus olhos nom pode veer», vv. 5 e 6. A segunda interlocutora, a confidente, sossega a amiga
garantindo-lhe a fidelidade do amigo – [se não veio ainda é de certeza porque não pode].
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10. Respondido parcialmente em 1. Mas a amiga critica o amigo por ele não ter ainda regressado para
junto dela, não entende como ele pode viver sem ela.
11. Para ela, ao amigo ausente não pode ser assacada qualquer culpa. Ela faz-lhe um grande elogio,
mostrando-se conhecedora do grande amor que ela tem à sua amiga e caracterizando-
-o como fiel; desculpa-o ou explica a sua ausência dizendo que se ainda não veio de onde está é
porque não conseguiu; no último verso da cantiga chega mesmo a dizer que quem disser mal dele não
sabe o que anda a dizer…
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