Tese apresentada à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa do Instituto Tecnológico de
Aeronáutica, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências no
Curso de Física Atômica e Molecular.
CARLOS ALBERTO RIBEIRO MONERO
MAPEAMENTO DAS COMPETÊNCIAS CURRICULARES NO ENSINO DA FÍSICA
COMO PROPOSTA PARA A MELHORIA DO PROCESSO DE ENSINO-
APRENDIZAGEM
Tese aprovada em sua versão final pelos abaixo assinados:
Campo Montenegro
São José dos Campos, SP – Brasil
2007
2
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Divisão de Informação e Documentação
MONERO, Carlos Alberto Ribeiro
Mapeamento das Competências Curriculares no Ensino da Física como proposta para a melhoria do
processo de ensino-aprendizagem
São José dos Campos, 2007
170 fls.
Tese de mestrado – Curso de Física Atômica e Molecular. Instituto Tecnológico de Aeronáutica, 2007.
Orientador: Prof. D.C. José Silvério Edmundo Germano
1. Ensino da Física. 2. Competências Curriculares. 3. Aprendizagem Coletiva. Instituto Tecnológico de
Aeronáutica.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
MONERO, Carlos Alberto Ribeiro. Mapeamento das Competências Curriculares no
Ensino da Física como proposta para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem.
2007. 170 fls. Tese (Mestrado em Ciências) – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José
dos Campos.
CESSÃO DE DIREITOS
NOME DO AUTOR: Carlos Alberto Ribeiro Monero
TÍTULO DO TRABALHO: Mapeamento das Competências Curriculares no Ensino da Física como proposta
para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem
TIPO DO TRABALHO/ANO: Tese/2007
É concedida ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica permissão para reproduzir cópias desta tese e para
emprestar ou vender cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de
publicação e nenhuma parte desta tese pode ser reproduzida sem a autorização do autor.
Carlos Alberto Ribeiro Monero
Pça. Mal-do-Ar Eduardo Gomes, 50 – Vl. Acácias
12228-900 – São José dos Campos – SP
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MAPEAMENTO DAS COMPETÊNCIAS CURRICULARES NO ENSINO DA FÍSICA
COMO PROPOSTA PARA A MELHORIA DO PROCESSO DE ENSINO-
APRENDIZAGEM
CARLOS ALBERTO RIBEIRO MONERO
Banca Examinadora:
Prof. Ph.D. Reginaldo dos Santos Presidente ITA
Prof. D.C. José Silvério Edmundo Germano Orientador ITA/FIS
Prof. Dr. en Sc. Jayr de Amorim Filho Co-Orientador ITA/FIS
Prof.a Dr.a Silvia Matravolgyi Damião Membro Interno ITA/IEF
Prof. Ph.D. Felipe Afonso de Almeida Membro Interno ITA/COMP
Prof. Dr. Fernando Carvalho de Almeida Membro Externo USP/FEA
ITA
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha avó Zaida Benites Ribeiro (in
memoriam) e a minha mãe Zaira Benites Ribeiro que me
mostraram o significado da palavra "determinação", bem como
ao meu filho Victor Silva Monero que deu sentido ao conceito
de “eternidade”.
E em especial, também, a minha esposa Rosana e a minha
enteada Giuliana, que me apoiaram, incentivaram e souberam
compreender a minha caminhada até aqui.
Amo vocês...
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço a DEUS pela generosidade em dar-me condições físicas e mentais para realizar este
trabalho e deixá-lo para outros pesquisadores, pois tendo em vista que já escrevi um livro, tive
um filho e plantei uma árvore, deixo nas mãos sábias deste grande arquiteto as conseqüências
do fruto desta tese.
Ao meu orientador Prof. D.C. José Silvério Edmundo Germano que acreditou no que outros
achavam impossível, apoiando-me, incentivando-me e respeitando as minhas limitações.
Aprendi com ele que é certo dizer que a incerteza é uma excelente teoria.
Ao meu co-orientador Prof. Dr. Jayr de Amorim Filho que colaborou para a finalização deste
projeto, compreendendo o meu esforço em dividir o pouco tempo disponível entre o trabalho
e a vida acadêmica. Além da atenção dispensada e da ajuda fraternal num dos momentos mais
difíceis nesta caminhada, tenho por ele uma admiração pessoal e profissional, pois várias
idéias ousadas são de sua autoria.
Também devo um crédito especial ao Prof. Homero Santiago Maciel que soube iluminar o
meu caminho, indicando os orientadores e transformando uma rejeição e decepção em
incentivo e esperança.
Ao Prof. Dr. Carlos de Moura Neto agradeço a acolhida no ITA e toda a orientação prestada
quando tentei inicialmente ingressar na Computação.
Enfim, precisaria de uma enormidade de páginas para ser justo com todos aqueles que
contribuíram, acreditaram e participaram no desenvolvimento e na conclusão desta pesquisa.
Saibam que sou eternamente grato a todos pela paciência e tolerância, principalmente pela
importância que este desafio teve no meu projeto de vida.
6
Gostaria apenas de citar algumas pessoas que conviveram comigo durante este período de luta
árdua, desde a coragem para realizar o mestrado no ITA, na concepção da idéia, no
desenvolvimento das disciplinas, programação e finalização deste texto.
Alisson Belluomini, Alunos da Pós-Graduação do Mackenzie, Annibal Hetem (in
memoriam), Atílio Debatin, Benedito Carlos de Oliveira Maciel, Bety Jardinovisk, Carlos
Américo Domeneghetti Badia, Cido Hesler, Dr. Honório Roberto Yamaguti, Dr. José
Travassos, Dr. Paulo Sant‟ana, Dra. Érica Akemi Takahashi, Felipe Spir, Geraldo Lopes da
Silva, Helena Singer, Hélio Colaço, Hélio Majtlis, José Carlos Dias Rodrigues, José Carlos
Vitorino, José Gouvêa de Souza (in memoriam), José Lemesin, José Pereira da Silva Junior,
João Carlos Rodrigues dos Santos, Loris Tedechi, Luiz Henrique Arantes, Luiz Yoshio Ono,
Marcelo Machado, Marco Matarassi, Maurício Capra, Mário Assef, Nilton Campos Pereira,
Nizam Omar, Oficial Pedro Rodrigues, Oswaldo Fernandes, Paulo Pereira Lopes, Prof. Dr.
Arnaldo Dal Pino Junior, Prof. Dr. Arthur Hyppólito de Moura, Prof. Dr. Brett Vern Carlson,
Prof. Dr. Jakow Grajew, Prof. Dr. José Tolovi Jr., Prof. Dr. Vakulathil Abdurahiman (in
memoriam), Prof. Dr. Waldemar Setzer, Prof. Edson Nakamura, Prof. PhD. Rogério da Costa,
Profa. Dra. Claudete Moreno, Dr. Raul Gipsztejn, Prof. Dr. Reynaldo Marcondes, Severino
Carlos de Oliveira Filho, Sylvio Cimino, Sônia Lopes da Silva, Valdeci Pereira da Silva,
Vanilda Lopes Leão e Wilson Modesto.
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EPÍGRAFES
"Ninguém sabe tudo,
todo mundo sabe alguma coisa,
todo o saber está no coletivo".
Michel Serres
"Ninguém ignora tudo
Ninguém sabe tudo.
Todos nós sabemos alguma coisa.
Todos nós ignoramos alguma coisa,
por isso aprendemos sempre".
Paulo Freire
8
RESUMO
A partir da análise da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional percebemos que existe
uma lacuna entre a aplicação dos conceitos de competências e habilidades como objetivos
educacionais para o ensino básico e a aplicação destes mesmos conceitos no ensino superior.
Evidencia-se, também, um distanciamento entre as expectativas dos alunos ingressantes nas
universidades e as propostas pedagógicas ofertadas, que mantêm nos seus currículos conceitos
e conhecimentos muitas vezes superados ou defasados das exigências e práticas
mercadológicas, bem como do atendimento das demandas sociais.
Na prática, verificamos que falta uma abordagem que valorize os saberes individuais e
coletivos a partir do conceito de competências com base na LDB, inexistente nas diversas
ferramentas tecnológicas que permitem o desenvolvimento de conteúdos programáticos, a
reprodução de experimentos, o compartilhamento de informações ou mesmo a própria
avaliação dos alunos.
Desta forma, o mapeamento das competências curriculares no ensino da Física como proposta
para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem é um trabalho que visa contribuir para
uma nova abordagem na definição dos conteúdos pedagógicos do ensino superior, bem como
estimular uma discussão sobre as contribuições advindas desta abordagem.
Para isto, desenvolvemos um sistema na Internet que foi posteriormente aplicado nos alunos
ingressantes do curso de Engenharia do Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA na
matéria de Física no segundo semestre de 2006, servindo de estudo de caso para a coleta,
classificação e apresentação dos resultados, permitindo aos atores envolvidos no processo de
ensino-aprendizagem uma alternativa no estabelecimento de novas estratégias educacionais.
9
ABSTRACT
Taking the "LDB – Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional" as the starting point, we
observe that there is a gap in the application of the concepts of competences and abilities as a
basic principle to direct educational objectives for elementary school teaching when compared
to the same concepts in higher education, particularly at universities.
It is also true that there is a distance between the expectations of the students accepted in
universities and the pedagogic proposals that are offered, which maintain in their curricula
concepts and knowledge that are out-of-date compared to practices of the market, as well as,
of social demands.
In practice, we verified the lack of an approach that values individual and collective
knowledge, based on the LDB concept of competences, inexistent in the tools that permit the
development of program content, the reproduction of experiments, the sharing of information
and other applications.
Thus, the mapping of curricular competences in Physics teaching as a means for the
improvement of the learning process is the proposal of this work for a new approach in the
definition of the pedagogic contents of higher learning, as well as to stimulate discussion of
contributions to this approach.
For this, a system was developed in the Internet and applied in the Physics course of the first
year engineering students at ITA, as a case study, serving as tool for the collection,
classification and presentation of results that, by establishing new education strategies,
furnishes an alternative learning-teaching process to its participants.
10
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Número de candidatos inscritos por vaga em função do ano .................................. 59
Figura 2 – Número de candidatos inscritos por sexo em função do ano .................................. 59
Figura 3 – Número de candidatos inscritos por curso em função do ano ................................. 60
Figura 4 – Porcentual médio de candidatos inscritos por Estado entre 2003 e 2007 ............... 60
Figura 5 – Resultado do ENADE dos cursos de Engenharia do ITA em 2005 ........................ 63
Figura 6 – Resultado Geral do ENC do ITA entre 1996 e 2003 por curso .............................. 63
Figura 7 – Resultado do ENC do ITA no curso de Engenharia Civil entre 1996 e 2003 ......... 64
Figura 8 – Resultado do ENC do ITA no curso de Engenharia Elétrica entre 1998 e 2003 .... 64
Figura 9 – Resultado do ENC do ITA no curso de Engenharia Mecânica entre 1999 e 2003 . 65
Figura 10 – Atores e relacionamentos do ambiente educacional ............................................. 69
Figura 11 – Árvore de Conhecimentos no formato tradicional ................................................ 96
Figura 12 – Árvore de Conhecimentos no formato de ilha ...................................................... 96
Figura 13 - Estrutura Funcional do Sistema de Mapeamento de Competências .................... 138
Figura 14 – Home Page do sistema de mapeamento de competências .................................. 139
Figura 15 – Home Page de acesso como Usuário Mestre ...................................................... 139
Figura 16 – Página de cadastramento do usuário ................................................................... 140
Figura 17 – Módulo de Competências .................................................................................... 141
Figura 18 – Módulo de Perguntas .......................................................................................... 142
Figura 19 – Módulo de Exames.............................................................................................. 143
Figura 20 – Módulo de Relacionamento Exames x Perguntas ............................................... 144
Figura 21 – Home Page de acesso como Usuário Aluno ....................................................... 145
Figura 22 – Módulo de Avaliação .......................................................................................... 146
Figura 23 – Página de aplicação da avaliação ........................................................................ 146
Figura 24 – Relatórios do Sistema de Mapeamento de Competências................................... 149
11
Figura 25 – Relatório de Competências ................................................................................. 150
Figura 26 – Relatório de Exames ........................................................................................... 150
Figura 27 – Relatório de Alunos x Exames ............................................................................ 151
Figura 28 – Relatório de Exames x Alunos ............................................................................ 151
Figura 29 – Relatório de Alunos x Competências .................................................................. 152
Figura 30 – Relatório de Competências x Alunos .................................................................. 152
Figura 31 – Gráficos do Sistema de Mapeamento de Competências ..................................... 153
Figura 32 – Gráfico percentual total de acertos dos alunos por exame .................................. 154
Figura 33 – Gráfico percentual total de acertos dos alunos por competências ...................... 154
Figura 34 – Gráfico de análise individual e coletiva .............................................................. 155
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Percentual de crescimento por cursos no ITA entre 2003 e 2007 .......................... 61
Tabela 2 – Relação de conteúdos e disciplinas ministradas no ITA entre 1993 e 2003 ......... 169
Tabela 3 – Listagem geral das pontuações dos alunos no sistema ......................................... 170
13
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
.NET – Biblioteca de classes da Microsoft para desenvolvimento WEB
ASP – Active Server Pages
CSS – Cascading Style Sheets
EAD – Educação a Distância
ENADE – Exame Nacional de Desempenho de Estudantes
ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio
FAPESP – Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo em registro.br
HTML – HyperText Markup Language
IE – Internet Explorer
IES – Instituição de Ensino Superior
IIS – Internet Information Services
ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica
SQL – Structure Query Language
URL – Refencial Link
USP – Universidade de São Paulo
WWW – World Wide Web
14
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES .................................................................................................... 10
LISTA DE TABELAS ............................................................................................................. 12
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .............................................................................. 13
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 16
1.1 A Motivação ........................................................................................................... 16
1.2 A Legislação ........................................................................................................... 18
1.3 Dos Saberes ............................................................................................................ 22
1.4 A Descontinuidade ................................................................................................. 33
1.5 A Desconexão ........................................................................................................ 35
1.6 O Problema............................................................................................................. 40
2 METODOLOGIA ......................................................................................................... 47
2.1 Tipologia de Estudo ............................................................................................... 47
2.2 Caracterização das Variáveis ................................................................................. 48
2.3 Fatores Condicionantes .......................................................................................... 49
2.4 Planejamento Operacional da Pesquisa .................................................................. 49
3 JUSTIFICATIVA ......................................................................................................... 52
3.1 Diversidade e Coletivo ........................................................................................... 52
3.2 Escopo e Exceções ................................................................................................. 54
3.3 O Ambiente Acadêmico ......................................................................................... 56
3.4 Ingresso e Competitividade .................................................................................... 58
3.5 Hermetismo do Programa de Curso ....................................................................... 65
3.6 Os Atores ................................................................................................................ 66
4 PRINCÍPIOS TEÓRICOS ............................................................................................ 74
4.1 A Abordagem por Competências ........................................................................... 74
4.2 Mapeamento e Cartografia ..................................................................................... 91
4.3. As Árvores de Conhecimento ................................................................................ 94
4.4 Inteligência Coletiva ............................................................................................ 107
5 COMPETÊNCIAS CURRICULARES ...................................................................... 111
5.1 Competências Curriculares da Engenharia e da Física ........................................ 111
5.2 Avaliação para o Mapeamento ............................................................................. 121
5.3 Aprendizagem Coletiva ........................................................................................ 124
6 PROJETO PHYSIX .................................................................................................... 134
6.1 Apresentação ........................................................................................................ 134
15
6.2 O Projeto .............................................................................................................. 135
6.3 Tecnologia Utilizada ............................................................................................ 137
6.4 Arquitetura do Portal ............................................................................................ 138
7 RESULTADOS .......................................................................................................... 148
7.1 Relatórios .............................................................................................................. 149
7.2 Gráficos ................................................................................................................. 153
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 156
8.1 Benefícios para o Professor .................................................................................. 157
8.2 Benefícios para o Aluno ....................................................................................... 158
8.3 Benefícios Gerais ................................................................................................. 159
8.4 Proposta de Continuidade..................................................................................... 159
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 161
10 ANEXOS .................................................................................................................... 164
16
1 INTRODUÇÃO
1.1 A MOTIVAÇÃO
Antes de apresentar os fatos que motivaram a realização deste trabalho tentarei respeitar o
pensamento de NARDI (1998) quando afirma que,
"Partimos do pressuposto que toda pesquisa de cunho científico deva circunscrever o
tratamento de um problema específico, devidamente concebido pelo autor (ou autores)
da investigação. A necessidade de realização da pesquisa deve brotar da insatisfação do
pesquisador frente a um determinado problema que o questione, instigue e desafie. Na
tentativa de solucioná-lo, ou ao menos dar-lhe tratamento, o pesquisador empreende seu
trabalho."
...
"Entretanto, acreditamos que 'solucionar' ou 'resolver' um problema por intermédio de
uma pesquisa traduzida sob a forma de tese ou dissertação talvez seja muita pretensão,
ou mesmo impossível, quando este se trata de um problema relativo à Educação. Em
primeiro lugar, porque somente a prática pedagógica pode nos fornecer indicadores de
que determinado problema está ou não sofrendo processo de solução. Em segundo,
porque as raízes e causas de um problema educacional podem ser tão diversas e
múltiplas que sua solução por vezes não se encontra ao alcance de apenas um trabalho
acadêmico, exigindo, muitas vezes, transformações do sistema educacional ou até do
sistema sócio-político-econômico do país."
17
Evidentemente, se concordássemos plenamente com o autor não enfrentaríamos com
determinação os atuais problemas do ensino. Ficaríamos inertes, sujeitos apenas ao
cumprimento de normas e decretos, por vezes muito distantes da realidade da sala de aula.
Desta forma, cabe-nos uma ação.
Concordamos com NARDI (1998) quando afirma que a solução dos problemas se efetiva na
aplicabilidade da proposta dentro do ambiente escolar, com a prática pedagógica, fornecendo-
nos indicadores das melhorias no processo de ensino-aprendizagem.
Sabemos que tais indicadores podem ser aferidos numericamente de forma quantitativa ou
avaliados a partir de pesquisar qualitativas, bem como podemos considerar a capacidade e a
experiência do educador, quando a partir da sua visão holística e sensível do ambiente percebe
que ocorreram mudanças positivas no comportamento e no conhecimento dos alunos.
Este trabalho, a partir da contextualização de várias fontes de informações, procura mostrar
que existe uma lacuna entre a teoria e a prática na construção dos conteúdos curriculares a
partir do conceito de competências e habilidades, principalmente no que tange ao
entendimento e atendimento dos anseios e das necessidades atuais dos nossos alunos quando
ingressam numa universidade.
Apresentará, além da análise do material teórico e da reflexão de alguns tópicos importantes,
uma ferramenta tecnológica que colabore na aplicação e entendimento prático destes
conceitos, não somente para aplicar a teoria na prática, mas para tentar mudar a prática.
Perguntamo-nos inicialmente se o conceito de competência utilizado no ensino básico para a
definição das estratégias pedagógicas, conforme propõem a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional – LDB (1997), as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
(DCEM) e os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNs), poderia
também ser aplicado na definição dos conteúdos curriculares do ensino superior.
18
1.2 A LEGISLAÇÃO
Entendemos que a LDB trouxe vários avanços em todas as camadas do ensino quando propôs
e apresentou um referencial mínimo e comum para a construção de uma estruturação do
ensino nacional. Principalmente na mudança de foco no processo de ensino-aprendizagem,
valorizando a construção do conhecimento pelo aluno (centrado no aluno), considerando a
aplicação prática do que se aprende na escola com a dimensão do trabalho, das demandas
sociais e da sua formação integral enquanto cidadão.
Desta forma, pontuamos a seguir os principais artigos da LDB que colaboram para a
compreensão destas argumentações, bem como tentamos organizá-los para uma melhor
contextualização:
Atores
[Art. 1º] A existência de diversos atores na formação do educando: família, trabalho,
instituições de ensino e pesquisa, sociedade e manifestações culturais;
[Art. 53º - I, II e III] As universidades poderão criar, organizar e extinguir cursos e
programas desde que obedeçam às normas gerais da União ou do sistema de ensino,
bem como fixar os currículos a partir de diretrizes pertinentes, estabelecer planos,
programas e projetos de pesquisa e atividades de extensão;
[Art. 63º - II] As instituições de ensino superiores manterão programas de formação
pedagógica somente para professores que queiram se dedicar à educação básica;
19
[Art. 64º] A formação de docentes para administração, planejamento, inspeção,
supervisão e orientação educacional no ciclo básico será feita em cursos de
graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de
ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional;
[Art. 66º] A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de
pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado, podendo ser
suprimido caso haja "notório saber", reconhecido por universidade com curso de
doutorado em área afim.
Competências
[Art. 2º] Vinculação do ensino ao mundo do trabalho e à prática social para o
exercício da cidadania e a qualificação profissional;
[Art. 3º - X] Valorização da experiência extra-curricular;
[Art 9º – IV] Estabelecimento, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, das competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino
fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos
mínimos, de modo a assegurar formação básica comum;
[Art. 23º] A educação básica deverá organizar-se, podendo valer-se das competências
como critério sempre que o processo de aprendizagem assim o recomendar;
[Art. 26º] Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional
comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar,
20
por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da
sociedade, da cultura, da economia e da clientela;
[Art. 32º - I e III] Especificamente para o ensino fundamental, a LDB define que o
aluno desenvolva a capacidade de aprender, dominar a leitura, escrita e o cálculo
visando à aquisição de conhecimentos e habilidades, bem como a formação de
atitudes e valores;
[Art. 35º - I e II] No ensino médio o aluno deverá aprofundar os conhecimentos
adquiridos no ensino fundamental objetivando o prosseguimento dos seus estudos,
bem como ser capaz de adaptar-se com flexibilidade a novas condições de ocupação
ou aperfeiçoamento posterior;
[Art. 35º - IV] No ensino médio os alunos deverão compreender os fundamentos dos
processos produtivos e relacionar a teoria com a prática em cada disciplina;
[Art. 39º] O ensino profissionalizante conduzirá o aluno ao desenvolvimento de
aptidões para a vida produtiva;
[Art. 43º - I] No ensino superior, o objetivo é o de estimular a criação cultural e o
desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo para a formação
contínua;
Aprendizagem
[Art. 3º - III] Proporcionar ao aluno o pluralismo de idéias e de concepções
pedagógicas.
21
Avaliação
[Art. 12º - V e Art. 13º - IV] Tanto o estabelecimento de ensino como os docentes
deverão prover e estabelecer meios e estratégias para a recuperação dos alunos de
menor rendimento;
[Art. 24º - V – a] Na educação básica a verificação do rendimento escolar deve ser
contínua e cumulativa, prevalecendo os aspectos qualitativos sobre os quantitativos,
bem como os resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais;
[Art. 47º - 1º] As instituições deverão informar previamente aos interessados no
curso os seus programas e componentes curriculares, duração, requisitos,
qualificação dos professores, recursos disponíveis e critérios de avaliação,
obrigando-se a cumprir as respectivas condições;
A primeira leitura que podemos fazer da LDB é que existe uma separação conceitual clara
entre os níveis educacionais: infantil, fundamental, médio, profissionalizante e superior.
No ensino infantil e fundamental a lei valoriza as capacidades de leitura, escrita e cálculo,
enquanto que no ensino médio propõe que o aluno se volte para a pesquisa e ingresso no
ensino profissionalizante ou superior. Na universidade o aluno deve então preocupar-se com o
mercado de trabalho, a empregabilidade, questões econômicas e políticas globalizantes,
inerentes a vida social e a formação da cidadania.
Ou seja, cada etapa sinaliza uma preocupação formativa diferenciada, uma proposta curricular
específica e uma estratégia pedagógica personalizada, criando um rito de passagem muitas
vezes desconexo da realidade das etapas formativas dos alunos. Ressaltamos que além do
risco da descontinuidade formativa podemos induzir a uma desconexão entre os atores.
22
1.3 DOS SABERES
Segundo PRIMI (2001), dentre os diversos autores que influenciaram a concepção da LDB e a
fundamentação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) encontram-se Jean Piaget
(1896-1980), Lev Semionovitch Vygotsky (1896-1934), Philippe Perrenoud e John Bissell
Carroll (1916-2003). Assim, encontramos na legislação um viés da corrente européia de
pensamento sobre a inteligência, formação de esquemas mentais e o próprio conceito de
competência, que detalharemos neste trabalho na parte de princípios teóricos.
Como o nosso foco de estudo está voltado para a compreensão e aplicabilidade do conceito de
competência na formação do estudante universitário, daremos ênfase ao saber, encontrado
principalmente na obra de PERRENOUD (1999).
Apesar de ROPÉ (1997) definir saberes como: “conjunto de conhecimentos que o aluno
domina e que a ele pertencem particularmente (aprendizagens passadas e atuais ou
aprendizagens informais)” (p63), evitaremos por uma questão pragmática uma discussão ou
dileção sobre a definição de “saber”, principalmente conjugada no plural: “saberes”.
Buscaremos apenas estimular e instigar a construção deste entendimento a partir de uma
reflexão coletiva, ao invés de uma simples definição da palavra.
A coordenação de alguns verbos como ser, poder, ter, fazer e dar com certos substantivos
como informação, conhecimento entre outros, criam uma construção quase intuitiva e
contextualizada da função da palavra: Por exemplo: “saber ser”, “saber ter”, “saber fazer
(savoir-faire)”, “saber viver (savoir-vivid)”, “saber dar”, “poder saber”, “ter conhecimento”,
“ter informação”, “ter certeza de”, “saber de”, “saber como”, “saber que” etc.
23
Não podemos esquecer que várias destas funções são construídas a partir dos sentidos
humanos e através da capacidade cognitiva de mobilizá-los.
Entretanto, antes do desenvolvimento do significado do conceito de “saber” achamos
oportuno refletirmos sobre os princípios do “saber”, traduzido aqui da seguinte forma: “querer
ser”, “poder ser” e “saber ser”.
Nem sempre “querer ser” significa “poder ser”, bem como o fato de “poder ser” não nos
habilita a “saber ser”. “Saber ser” depende da construção molecular do “querer ser” e depende
também da construção molar do “poder ser”. São posturas que se interagem e são também
interdependentes.
Infelizmente questões sociais ou políticas públicas mal formuladas impedem a consolidação
destes princípios nos diversos níveis da sociedade, pois caso contrário o aluno conseguiria
realmente construir o seu escopo de competências.
Esta abordagem fica também interessante quando analisamos das idéias de HEGENBERG
(1999) o conceito de “saber de”, indispensável para que o ser humano desenvolva sua
condição intelectual, na criação dos contornos necessários para a compreensão dos objetos e
funções básicas existentes ao seu redor.
Na prática pedagógica significa que o aluno utilizará os sentidos e a razão para uma melhor
compreensão do mundo.
“Empregando uma terminologia interessante (recolhida em livros e artigos do pensador
espanhol Julian Marías, discípulo de Ortega y Gasset), podemos dizer que o ser humano
transforma a circunstância em mundo. Dando sentido às coisas que o cercam,
interpretando-as, o ser humano pode viver (ou, no mínimo, sobreviver). Quer dizer, o
ser humano reconhece as coisas, „entende-as‟, sabe valer-se delas, para seu benefício.
24
Em suma, o caos circundante se transforma em mundo – uma circunstância dotada,
ainda que parcial e provisoriamente, de certa interpretação”. (p25)
Deste modo, compreendemos que existe uma construção natural nas condições mínimas
necessárias para que o aluno possa comunicar-se, ser compreendido e desenvolver noções de
tempo e espaço, fundamentais para a continuidade do seu aprendizado. Isto ocorre quando se
inicia um contato com o mundo que o cerca.
Exemplificando, é a descoberta dos conceitos de “pesado” e “leve”, coisas “boas” e “más”,
“alcançáveis” e “inalcançáveis”, espaço, distância, direção, sentido, duração e tempo
decorrido. Conceitos básicos para a aprendizagem da Física (fenômenos naturais e da
natureza).
Entretanto, este “saber de” tem forte relação com a Teoria Cognitiva de Jean Piaget (1896-
1980) que define a existência de dois estágios iniciais do desenvolvimento cognitivo:
sensório-motor e pré-operacional. Nestas fases a criança percebe o mundo e passa a interagir
com ele, conforme relata MOREIRA (1999). Ou seja, no ensino infantil e fundamental o
aluno deverá adquirir conhecimentos, habilidades, atitudes e valores.
No ensino médio, conforme a LDB, o aluno precisa compreender os processos produtivos e
“saber” relacionar a teoria com a prática.
Para HEGENBERG (1999) haveria um “saber como” e um “saber que”.
O aluno começa a atuar sobre o meio, a fim de torná-lo menos agressivo e, talvez, mais
compreensível. Começa a entender as relações de causa-efeito ocorridas no mundo que o
cerca, valendo-se da lógica para encontrar as suas respostas: se tal coisa acontece, então tais
ações são necessárias e faz relação entre aquilo que aprendeu em sala de aula com o seu dia-
a-dia.
25
“Tem início, desse modo, o uso da razão, em suas primeiras manifestações. Conduzida
pelas pessoas mais experientes (no início, imitando; depois, inventando), a criança
desenvolve diversos esquemas desse tipo e alcança, com maior ou menor êxito, o que
caberia denominar saber como”. (p27)
Este “saber como” de HEGENBERG (1999) está intimamente relacionado com a fase
operatório-concreto de Piaget. Tal fase que dura dos 8 aos 12 anos, a criança começa a lidar
com conceitos abstratos como os números e relacionamentos.
Piaget define que este estágio é caracterizado por uma lógica interna consistente e pela
habilidade de solucionar problemas concretos.
Por último, HEGENBERG (1999) apresenta ainda o conceito de “saber que”:
“O ajuste intelectual do ser humano ao contorno requer mais um elemento importante –
caracterizador do conhecimento, na concepção mais corriqueira que o termo
„conhecimento‟ costuma ter. Trata-se do saber que.
Para esclarecer a questão usa-se um exemplo concreto e simples. Uma pessoa acorda,
depois de um bom sono, e indaga a si mesma: „Seria hoje um sábado?‟. Não dispomos
de um saber de, relativo a sábados. Supondo que não haja calendários ao redor, não
adianta olhar para as coisas, examinar o que está aí, em volto do leito, para descobrir se
estamos (ou não) em um sábado. Igualmente inócuo, nesse caso, é o saber como. Não
dispomos de um saber como, relativos a sábados. Entretanto, pensando um pouco,
recordando o que se passou nos dias anteriores, podemos, talvez, atingir uma conclusão
satisfatória.
...
26
Em suma, sei que hoje é sábado porque ontem foi sexta. Chegamos, dessa maneira, ao
saber que. Dito de outro modo, dispomos de complicadas teorias a respeito da
mensuração do tempo. Essas teorias envolvem informes sofisticados acerca de
movimento da Terra em torno do Sol e em volta de si mesma; acerca da divisão do
prazo da rotação da Terra em 365 unidades, repetidas em semanas, em meses e anos. No
final, servimo-nos de um esquema do tipo „Sei que ..., porque ...”. (p28)
Para Piaget, em MOREIRA (1999), existe ainda uma fase operacional-formal que se
desenvolve entre os 12 e os 15 anos de idade da criança. Nesta fase a criança passa a
raciocinar de forma lógica e sistematicamente. As deduções lógicas podem ser feitas sem o
apoio de objetos concretos.
Ressaltamos que o principal conceito na Teoria Cognitiva de Piaget é o de que a
aprendizagem dá-se através do equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, resultando
numa adaptação. Piaget argumenta que o homem é o ser mais adaptável do mundo e que
aprende desde o nascimento até a morte.
Diversos pesquisadores, como o filósofo e cientista social Jürgen Habermas, o historiador da
ciência Thomas Kuhn, o pensador marxista Lucien Goldmann, entre outros, foram
influenciados e tiveram em Piaget um interlocutor importante. No Brasil suas idéias foram
difundidas a partir do movimento da Escola Nova (1920), em que participaram Anísio
Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Cecília Meireles, Darcy Ribeiro e Florestan
Fernandes, conforme consta em WIKIPÉDIA (2007).
Em contrapartida, Piaget foi bastante influenciado por Lev Vygotsky principalmente com
relação às propostas interacionistas, e desenvolveu o postulado de que o pleno
desenvolvimento da personalidade sob seus aspectos mais intelectuais é indissociável do
27
conjunto das relações afetivas, sociais e morais. Fatores estes que constituem a vida da
instituição educacional.
Percebemos que é na abordagem afetiva de Vygotsky, quando apresenta o conceito de Zona
de Desenvolvimento Proximal, que ocorre a principal intersecção com as idéias de Piaget.
Zona de Desenvolvimento Proximal é quando existe uma diferença entre aquilo que o aluno
aprende sozinho e aquilo que consegue aprender com a ajuda do professor. Ou seja, apesar de
toda a articulação intelectual e cognitiva própria do aluno durante o processo de construção
dos seus saberes, haverá uma importante participação e influências dos atores envolvidos no
processo de ensino-aprendizagem (Wikipédia, 2007).
Em outras palavras, isto também pode significar que mesmo um aluno sendo autodidata o
professor continuará tendo um papel fundamental na sua formação.
Por esta razão é que não devemos esquecer que o primeiro artigo da LDB ressalta a
importância dos atores (família, instituição, empresas, sociedade, governo etc.) como
personagens construtores dos valores formativos no processo educacional do aluno. Por isso a
necessidade de atenção e cuidado com a criança nesta fase, principalmente porque imita e cria
seus referenciais, para posteriormente inventar novas situações visando a sua experiência
individual.
Logo, o processo de aprendizagem na fase do ensino básico, apesar das modularidades das
propostas formativas e intelectual desenvolvimentistas, somente efetivar-se-á se houver uma
preocupação e uma continuidade na formação das competências dos nossos alunos “a
posteriori”.
A próxima etapa do aluno na trilha do saber é o ensino superior, onde deve centralizar seu
interesse no desenvolvimento científico e no pensamento reflexivo, conforme a LDB.
28
Esta proposta visa dar ao aluno a certificação profissional para que possa competir no
mercado de trabalho e produzir mais conhecimento através da pesquisa.
Compreendemos que para o aluno haverá uma forte transição relacional, postural,
comportamental e conceitual, pois os objetivos e as regras mudam.
O aluno deve então preparar-se para compreender os critérios que nortearão a sua relação com
os diversos atores neste novo ambiente educacional, por vezes descobrindo tardiamente que
dele se espera outra atitude de aprendizagem.
De todas as contribuições existentes sobre a abordagem e a conceituação de saberes
educacionais, MORIN (2002) procura mostrar que tais objetivos estão cada vez mais distantes
dos problemas centrais e fundamentais para se ensinar no século XXI. Sua concepção
extrapola o ambiente acadêmico e procura ofertar ao aluno uma perspectiva mais globalizada,
planetária e ao mesmo tempo comunitária.
MORIN (2002) propõe sete saberes necessários para o ensino no século XXI:
As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão
Argumenta que a educação que teria por objetivo transmitir o conhecimento está cega,
pois em seus dispositivos, enfermidades e dificuldades não se preocupa em fazer
conhecer o que é conhecer;
O conhecimento não pode ser considerado uma ferramenta construída que pode ser
utilizada sem que sua natureza seja examinada. Define que o conhecimento do
conhecimento (talvez a epistemologia) deve ser uma necessidade primeira, pois apenas
desta forma minimizaríamos os riscos permanentes de erro e da ilusão que parasitam a
29
mente humana. Ou seja, evitar as imposições constituídas pelas castas acadêmicas e
sociais em detrimento de uma lucidez vital;
Defende, então, que deve-se incluir na educação o estudo e a compreensão das
características cerebrais, mentais, culturais dos conhecimentos humanos, de seus
processos e modalidades e disposições psíquicas.
Os princípios do conhecimento pertinente
Aprender problemas globais e fundamentais para neles inserir os conhecimentos
parciais e locais. Uma visão contrária da abordagem “think big and start small”;
Ressalta que o conhecimento não deve ser compartimentalizado ou fragmentado em
disciplinas, o que impediria o vínculo entre as partes e o todo. Idéia muito interessante
e similar a abordagem de David Bohm em “A Totalidade e a Ordem Implicada”.
Justifica que, para ser capaz de aprender os objetos, o conhecimento deve estar
contextualizado, respeitando a sua complexidade e o conjunto de relações pertinentes;
Ensinar é estabelecer relações, possibilitando unir as partes com o todo, apresentando
métodos que permitam estabelecer tais relações mútuas e influências recíprocas.
Ensinar a condição humana
Define que “o ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social,
histórico” e que esta unidade complexa da natureza está totalmente desintegrada da
educação através da estratégia de disciplinas. Ressalta a importância de o humano
encontrar a sua identidade complexa e sua identidade comum a todos os outros
humanos. Possivelmente uma visão antroposófica proposta por Rudolf Steiner;
30
Para isso, devemos reunir e organizar o conhecimento disperso nas ciências naturais,
nas ciências humanas, na literatura e na filosofia, criando um elo permanente entre
elas.
Ensinar a identidade terrena
Desenvolver a percepção no indivíduo que o seu território está inserido num contexto
maior, planetário. Apresentar desde a educação básica que existem outros
conhecimentos desenvolvidos na era planetária que tendem a crescer no século XXI;
Ensinar a história da era planetária, que se inicia com o estabelecimento da
comunicação entre todos os continentes nesta nova era. Como estas conexões
continentais imediatas podem tornar-se solidárias, explicitando as opressões e a
dominação que devastaram parte da humanidade.
Desenvolver no indivíduo uma visão mais sistêmica, para que perceba que as coisas
estão interligadas e que os mesmos problemas de vida e de morte partilham um
destino comum.
Enfrentar as incertezas
Reconhecer que apesar da ciência ter contribuído enormemente no século XX ainda
existem várias questões em aberto, o que seriam zonas de incertezas. Deste modo, a
educação deveria incluir o estudo das incertezas que surgiram através da Física e
Biologia;
31
Ensinar estratégias que permitam lidar com contingências, imprevistos, o inesperado e
a incerteza. “É preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas em meio a
arquipélagos de certeza”;
Abandonar as concepções determinísticas da história humana que sempre acreditaram
poder prever o futuro.
Ensinar a compreensão
Argumenta que a educação para a compreensão está ausente no ensino, tendo em vista
que ela é meio e fim de todo o processo de comunicação. Compreensão mútua;
Evitar que as relações humanas se constituam em barbáries por causa da
incompreensão entre raças, política e religião.
A ética do gênero humano
Apresenta a “antropo-ética” como princípio de caráter ternário da condição humana,
que é ser ao mesmo tempo indivíduo, sociedade e espécie;
Evitar ensinar ética por meio de lições de moral. Defende que o desenvolvimento
humano deve compreender o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais,
das participações comunitárias e da consciência de pertencer à espécie humana;
Estabelecer um relacionamento mútuo entre a sociedade e os indivíduos pela
democracia e compreender que a Humanidade é planetária
32
Ainda dentro desta proposta de ruptura das abordagens tradicionais do processo de ensino,
gostaríamos também de citar FREIRE (1997, 2006) e a sua “pedagogia do oprimido”, quando
identifica um viés na concepção do saber que chamou de “educação bancária”.
Conforme GADOTTI (2007):
“Na concepção bancária (burguesa), o educador é o que sabe e os educandos os que não
sabem; o educador é o que pensa e os educandos, os pensados; o educador é o que diz a
palavra e os educandos, os que escutam docilmente; o educador é o que opta e prescreve
sua opção e os educandos, os que seguem a prescrição; o educador escolhe o conteúdo
programático e os educandos jamais são ouvidos nessa escolha e se acomodam a ela; o
educador identifica a autoridade funcional, que lhe compete, com a autoridade do saber,
que se antagoniza com a liberdade dos educandos, pois os educandos devem se adaptar
às determinações do educador; e, finalmente, o educador é o sujeito do processo,
enquanto os educandos são meros objetos.
Na concepção bancária, predominam relações narradoras, dissertadoras. A educação
torna-se um ato de depositar (como nos bancos); o "saber" é uma doação dos que se
julgam sábios aos que nada sabem.
A educação bancária tem por finalidade manter a divisão entre os que sabem e os que
não sabem, entre os oprimidos e opressores. Ela nega a dialogicidade, ao passo que a
educação problematizadora funda-se justamente na relação dialógico-dialética entre
educador e educando; ambos aprendem juntos”. (p9)
33
1.4 A DESCONTINUIDADE
Estas abordagens e teorias, por vezes, têm um caráter ritualístico, de passagem, pois são
critérios para definir limites e estabelecer as regras nas relações que virão. Isto ocorrendo
ficará evidente para o aluno que houve uma transição da fase “infatil-adolescente” para uma
fase adulta e que os conhecimentos necessários para a formação das suas competências
surgirão em ciclos.
Para o professor, isto implica em deixar de ver o aluno como um receptáculo e um repositório
de conhecimentos e passa a considerá-lo então o agente da mudança e da construção de sua
própria identidade.
O aluno deve primeiramente ser competente consigo, pois nesta fase não importa como irá
armazenar o conhecimento e organizá-lo na sua mente, os esquemas básicos já estão
disponíveis para que possa desenvolver outras competências, exigidas pelo mundo do
trabalho.
O processo educacional, além de priorizar e preencher este “ecossistema cognitivo”, não se
estabelece apenas porque um diploma é ofertado ou uma prova atinge a sua pontuação, nem
porque existe o reconhecimento das suas competências. Ocorre porque a educação será
contínua, experimentada, transdisciplinar e multifacetada, a qual denominaremos de uma
abordagem “crossing”.
Outro aspecto importante é que devemos também considerar que uma criança que nasce numa
metrópole enfrentará etapas diferentes nas diversas fases do seu desenvolvimento se
compararmos com crianças de outras regiões.
34
Mas o professor universitário por sua vez espera e acredita que o educando traga consigo toda
a compreensão e todo o embasamento necessário para o acompanhamento do programa de
ensino proposto, entendendo ser desnecessária uma avaliação prévia dos conceitos e saberes
pré-existentes.
Pressupõe que todas as referências feitas ao longo do processo de ensino-aprendizagem
estejam consolidadas no aluno a partir do seu histórico escolar ou mesmo através da sua
participação em cursinhos preparatórios.
Esta expectativa do professor, na maioria das vezes confusa e incompreendida pelos alunos,
fortalece a hierarquização do saber, onde todo o conhecimento necessário está em quem
ensina. Desta forma, a instituição deve apenas disponibilizar todos os recursos necessários
para o pleno desenvolvimento dos seus objetivos educacionais e cabe ao aluno preocupar-se
com a recuperação e a continuidade do seu processo de aprendizado.
Neste momento observamos que a responsabilidade pela construção das competências e das
habilidades, papel claramente definido na proposta do ensino básico, quando analisada e
estabelecida no ensino superior, é somente do aluno. Isto porque para a LDB o que importa é
que se respeite a construção de um referencial nacional no desenvolvimento das propostas
curriculares.
Aproveitemos então o que resta na LDB, que é o respeito às pluralidades de idéias, a
valorização da experiência extracurricular e as diferenças regionais e sociais.
Finalmente, para validar e homologar o saber valorizado na construção das competências
identificamos positivamente a preocupação com a avaliação dos alunos, professores e
instituições, visando garantir a qualidade daquilo que se ensina e aprende na escola, bem
como do funcionamento deste complexo sistema educacional.
35
1.5 A DESCONEXÃO
Observamos também, a partir da experiência universitária, que durante o período letivo
existem turmas que são mais produtivas e alcançam seus objetivos pedagógicos, enquanto
outras são alicerçadas por relações conflituosas que se arrastam até a finalização das aulas.
Mesmo com todo o cuidado no desenvolvimento do conteúdo programático e utilizando
métodos que contemplem avaliações constantes, relatórios individuais das aulas, pesquisas de
satisfação, lista de exercícios ou outros tantos que procurem identificar antecipadamente
qualquer problema com o curso, evitando assim uma decepção coletiva e a perda de todo
trabalho pedagógico, algumas turmas reclamam.
Estas reclamações ocorrem habitualmente ao final do curso, quando exatamente não existe
mais tempo hábil para a recuperação de qualquer expectativa de sucesso na obtenção dos
objetivos propostos. Ou seja, parece que a máxima “o professor finge que ensina e o aluno
finge que aprende” se concretiza.
Alguns professores somente recebem um "feedback" da insatisfação dos alunos através de
outros colegas, ou por vezes diretamente de um grupo de alunos corajosos que resolvem
tomar a iniciativa de falar abertamente sobre os problemas existentes.
Existem alunos que interagem diretamente com a coordenação do curso, argumentando que o
professor não ministrou nenhum conteúdo em todos os encontros ao longo do curso, que não
fez nenhum apontamento das aulas e que não está preparado para ministrar aquela disciplina.
É claro que neste caso há um exagero nas argumentações, pois exigir que o professor assuma
totalmente a responsabilidade pela formação do aluno é correr o risco de administrar
frustrações.
36
Algumas turmas possuem características diferenciadas quando relatam seus problemas para os
professores ou coordenação do curso. Por vezes encaminhadas através de um líder, que utiliza
a sua capacidade argumentativa para convencer o coletivo do seu ponto de vista ou então
através de um representante de classe, muitas vezes eleito pela sua postura independente e
persuasiva.
As principais reclamações estão diretamente ligadas com a incapacidade didatico-pedagógica
do professor, com o conteúdo defasado e a falta de aplicabilidade e contextualização dos
assuntos apresentados em aula.
Esta desarmonia refletida principalmente nas avaliações finais, quando os resultados
individuais são insatisfatórios e as notas gerais ficavam abaixo da média naquela disciplina,
acaba por transferir para o professor toda a responsabilidade pelo baixo aproveitamento da
classe. Claro, a culpa é do professor.
Como conseqüência desta falta de entrosamento entre professor-aluno (desconexão), pode
ocorrer uma solicitação da instituição para que o professor:
Reveja o seu programa de curso;
Repense a didática adotada, bem como a forma de transmitir e apresentar o conteúdo;
Reduza o nível de exigência nas avaliações e trabalhos;
Procure manter uma comunicação mais adequada com os alunos, adotando uma
linguagem mais simples e objetiva;
Utilize estudo de casos como estratégia motivacional, permitindo assim a livre
expressão de idéias e soluções.
37
Em resumo, uma solicitação para que o professor adapte o seu programa a realidade, repense
a avaliação e adote alternativas para que os alunos possam participar das aulas e
compartilhem os saberes existentes.
Existem instituições que nada fazem, evitam interferir no diálogo professor-aluno, ignorando
a necessidade emergente da criação de um espaço para a busca de soluções para os seus
problemas educacionais.
Entretanto, outras turmas fornecem um feedback positivo, elogiando a proposta da disciplina e
a forma como os tópicos foram encadeados e abordados em sala de aula.
Neste caso, alguns alunos acabam continuando seus estudos após a universidade motivados
pelos questionamentos gerados ao longo do curso e pelo desafio de encontrarem respostas
para as demandas existentes no mundo real.
Quando este cenário se apresenta ao final do processo de ensino, surge a certeza por parte do
professor que o objetivo fora alcançado, pois ocorreu uma mudança e uma provável melhoria
no processo reflexivo e cognitivo dos alunos.
São indicadores que aparecem a partir de uma mudança no comportamento dos alunos, que
estão mais centrados, observadores, questionadores, participativos, além de comprometidos.
Praticamente nenhum conflito existiu na relação professor-aluno (conexão).
Surge, então, uma relação respeitosa e estreita entre os principais atores e conseqüentemente
uma cumplicidade na busca pelo conhecimento. Ocorre o que chamamos no dito popular de
relação "ganha-ganha".
É importante ressaltar que em certas instituições esta dualidade não merece espaço nas
reuniões departamentais, pois existe maior interesse na análise das médias, nas faltas e
desistências dos alunos, na completude das vagas, na inadimplência, nos atrasos dos
38
professores, na redução das reclamações dos coordenadores de classe, nos reajustes das
mensalidades, nas reduções de custo, nas novas normas e regulamentos governamentais,
enfim, no papel de escola-empresa.
ALVES (1993) afirma,
"Educadores, onde estarão? Em que covas terão se escondido? Professores, há aos
milhares. Mas professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor.
Educador ao contrário não é profissão: é vocação. E toda vocação nasce de um grande
amor, de uma grande esperança.
Freqüentemente o educador é mau funcionário, porque o ritmo do mundo do educador
não segue o ritmo do mundo da instituição."
...
"Eu diria que os educadores são como velhas árvores. Possuem uma fase, um nome,
uma 'estória' a ser contada. Habitam um mundo em que o que vale é a relação que os
liga aos alunos, sendo que cada aluno é uma 'entidade' sui generis, portador de um
nome, também uma 'estória', sofrendo tristezas e alimentando esperanças. E a educação
é algo pra acontecer neste espaço invisível e denso, que se estabelece a dois. Espaço
artesanal.
Mas professores são habitantes de um mundo diferente, onde o 'educador' pouco
importa, pois o que interessa é um crédito cultural que o aluno adquire numa disciplina
identificada por uma sigla, sendo que para fins institucionais, nenhuma diferença faz
aquele que a ministra. Por isso mesmo professores são entidades 'descartáveis', da
mesma forma como há canetas descartáveis, coadores de café descartáveis, copinhos
39
plásticos de café descartáveis. De educadores para professores realizamos o salto de
pessoa para funções."
Logicamente, o educador espera ser efetivo enquanto professor e tenta atingir na sua plenitude
a missão de transmitir e contribuir para que haja uma mudança de estado nos saberes da
maioria dos seus alunos.
Infelizmente sempre haverá ao longo de todo o processo de ensino um conflito, uma falta de
sincronismo institucional, uma ruptura nas relações, uma cegueira coletiva que envolva
professores, alunos, instituição e a sociedade.
Mas a prática contraria a teoria, pois: Como podemos explicar os resultados positivos com
certas turmas e negativo com outras, se o conteúdo programático é o mesmo, se a didática é a
mesma e, principalmente, se o professor é o mesmo?
Certamente não existirá uma resposta objetiva para todas estas indagações.
Porém, são questões que merecem uma investigação.
40
1.6 O PROBLEMA
Na medida em que estas ações foram incorporadas ao dia-a-dia do mundo acadêmico, desde a
seriação infantil até a profissionalizante, observamos simultaneamente uma mudança no perfil
dos alunos e principalmente um questionamento sobre as qualificações dos professores no
estabelecimento das novas estratégias pedagógicas, necessárias ao pleno atendimento das
exigências legais.
Principalmente, quando nos referimos às ciências exatas onde encontramos professores que
ainda continuam privilegiando o raciocínio quantitativo (fórmulas matemáticas, lógica etc.)
em detrimento do pensamento reflexivo, elaborando freqüentemente avaliações objetivas,
evitando assim a criação de um espaço para a discussão dos conceitos apresentados em sala de
aula.
Esta simples escolha, embasada em parte pela acomodação do professor em reformular a
maneira como transmite o conteúdo programático a cada período letivo, fazendo
ocasionalmente pequenas variações na formulação das provas e listas de exercícios, cria o que
PERRENOUD (1999) denomina de hierarquização de excelências. Ou seja, a avaliação passa
a ser o único referencial importante para validar o aprendizado do aluno.
Isto sinaliza que os saberes individuais e coletivos trazidos pelos alunos ingressantes no
ensino superior são muitas vezes ignorados, e conseqüentemente acabam levando o aluno a
desinteressar-se pelas aulas, correndo-se o risco de uma grande evasão escolar.
Solução existe. Primeiramente precisamos aceitar o hiato entre a expectativa do aluno e os
conteúdos pedagógicos propostos no ensino das ciências exatas, para então iniciarmos um
processo de mudança, pois podem existir diversos caminhos para se compreender um
fenômeno natural e se encontrar a solução para um enigma matemático.
41
Vejamos o relato de SETZER (2000):
"Há algum tempo recebi um convite de um colega para servir de árbitro na revisão de
uma prova. Tratava-se de avaliar uma questão de Física, que recebera nota zero. O
aluno contestava tal conceito, alegando que merecia nota máxima pela resposta, a não
ser que houvesse uma "conspiração do sistema" contra ele. Professor e aluno
concordaram em submeter o problema a um juiz imparcial, e eu fui o escolhido.
Chegando a sala de meu colega, li a questão da prova, que dizia: 'Mostre como pode-se
determinar a altura de um edifício bem alto com o auxilio de um barômetro.' A resposta
do estudante foi a seguinte: 'Leve o barômetro ao alto do edifício e amarre uma corda
nele; baixe o barômetro até a calçada e em seguida levante, medindo o comprimento da
corda; este comprimento será igual a altura do edifício.' Sem dúvida era uma resposta
interessante, e de alguma forma correta, pois satisfazia o enunciado. Por instantes
vacilei quanto ao veredicto. Recompondo-me rapidamente, disse ao estudante que ele
tinha forte razão para ter nota máxima, já que havia respondido a questão completa e
corretamente. Entretanto, se ele tirasse nota máxima, estaria caracterizada uma
aprovação em um curso de Física, mas a resposta não confirmava isso.
Sugeri, então, que fizesse uma outra tentativa para responder a questão. Não me
surpreendi quando meu colega concordou, mas sim quando o estudante resolveu encarar
aquilo que eu imaginei lhe seria um bom desafio. Segundo o acordo, ele teria seis
minutos para responder a questão, isto após ter sido prevenido de que sua resposta
deveria mostrar, necessariamente, algum conhecimento de Física. Passados cinco
minutos ele não havia escrito nada, apenas olhava pensativamente para o forro da sala.
Perguntei-lhe então se desejava desistir, pois eu tinha um compromisso logo em
seguida, e não tinha tempo a perder. Mais surpreso ainda fiquei quando o estudante
42
anunciou que não havia desistido. Na realidade tinha muitas respostas, e estava
justamente escolhendo a melhor. Desculpei-me pela interrupção e solicitei que
continuasse.
No momento seguinte ele escreveu esta resposta: 'Vá ao alto do edifício, incline-se
numa ponta do telhado e solte o barômetro, medindo o tempo t de queda desde a largada
até o toque com o solo. Depois, empregando a formula , calcule a altura do
edifício.' Perguntei, então, ao meu colega se ele estava satisfeito com a nova resposta, e
se concordava com a minha disposição em conferir praticamente a nota máxima a
prova. Concordou, embora sentisse nele uma expressão de descontentamento, talvez
inconformismo. Ao sair da sala lembrei-me que o estudante havia dito ter outras
respostas para o problema. Embora já sem tempo, não resisti a curiosidade e perguntei-
lhe quais eram essas respostas. 'Ah!, sim,' - disse ele; - 'há muitas maneiras de se achar a
altura de um edifício com a ajuda de um barômetro.' Perante a minha curiosidade e a já
perplexidade de meu colega, o estudante desfilou as seguintes explicações. 'Por
exemplo, num belo dia de sol pode-se medir a altura do barômetro e o comprimento de
sua sombra projetada no solo, bem como a do edifício. Depois, usando-se uma simples
regra de três, determina-se a altura do edifício. Um outro método básico de medida,
aliás, bastante simples e direto, é subir as escadas do edifício fazendo marcas na parede,
espaçadas da altura do barômetro. Contando o número de marcas ter-se-á a altura do
edifício em unidades barométricas. Um método mais complexo seria amarrar o
barômetro na ponta de uma corda e balançá-lo como um pêndulo, o que permite a
determinação da aceleração da gravidade (g). Repetindo a operação ao nível da rua e no
topo do edifício, tem-se dois g's, e a altura do edifício pode, a principio, ser calculada
com base nessa diferença. Finalmente', - concluiu, - 'se não for cobrada uma solução
Física para o problema, existem outras respostas. Por exemplo, pode-se ir até o edifício
43
e bater a porta do síndico. Quando ele aparecer; diz-se: - Caro senhor síndico, trago aqui
um ótimo barômetro; se o senhor me disser a altura deste edifício, eu lhe darei o
barômetro de presente.'
A esta altura, perguntei ao estudante se ele não sabia qual era a resposta 'esperada' para
o problema. Ele admitiu que sabia, mas estava tão farto com as tentativas dos
professores de controlar o seu raciocínio e cobrar respostas prontas com base em
informações mecanicamente arroladas, que ele resolveu contestar aquilo que
considerava, principalmente, uma farsa."
Depois deste relato fica impossível contestar a importância da contribuição de KUHN (1992)
quando afirma que o progresso científico ocorre mediante saltos e não numa linha contínua,
especialmente quando quebramos paradigmas, a rigidez científica e enfrentamos os guetos
acadêmicos.
“Uma vez que ali o estudante reúne-se a homens que aprenderam as bases de seu campo
de estudo a partir dos mesmos modelos concretos, sua prática subseqüente raramente irá
provocar desacordo declarado sobre pontos fundamentais”. (p30)
...
“Os manuais atuais de Física ensinam ao estudante que a luz é composta de fótons, isto
é, entidades quântico-mecânicas que exibem algumas características de ondas e outras
de partículas. A pesquisa é realizada de acordo com este ensinamento, ou melhor, de
acordo com as caracterizações matemáticas mais elaboradas a partir das quais é
derivada esta verbalização usual. Contudo, esta caracterização da luz mal tem meio
século. Antes de ter sido desenvolvida por Planck, Einstein e outros no começo deste
século, os textos de Física ensinavam que a luz era um movimento ondulatório
44
transversal, concepção que em última análise derivava dos escritos ópticos de Young e
Fresnel, publicados no início do século XIX. Além disso, a teoria ondulatória não foi a
primeira das concepções a ser aceita pelos praticantes da ciência óptica. Durante o
século XVIII, o paradigma para este campo de estudos foi proporcionado pela Óptica de
Newton, a qual ensinava que a luz era composta de corpúsculos de matéria. Naquela
época os físicos procuravam provas da pressão exercida pelas partículas de luz ao
colidir com os corpos sólidos, algo que não foi feito pelos primeiros teóricos da
concepção ondulatória.
Essas transformações de paradigmas da Óptica Física são revoluções científicas e a
transição sucessiva de um paradigma a outro, por meio de uma revolução, é o padrão
usual de desenvolvimento da ciência amadurecida. No entanto, este não é o padrão
usual do período anterior aos trabalhos de Newton. É este contraste que nos interessa
aqui. Nenhum período entre a antiguidade remota e o fim do século XVII exibiu uma
única concepção da natureza da luz que fosse geralmente aceita. Em vez disso havia um
bom número de escolas e subescolas em competição, a maioria das quais esposava uma
ou outra variante das teorias de Epicuro, Aristóteles ou Platão. Um grupo considerava a
luz com sendo composta de partículas que emanavam dos corpos materiais; para outro,
era a modificação do meio que intervinha entre o corpo e o olho; um outro ainda
explicava a luz em termos de uma interação do meio com uma emanação do olho; e
haviam outras combinações e modificações além dessas. Cada uma das escolas retirava
forças de sua relação com alguma metafísica determinada. Cada uma delas enfatizava,
como observações, paradigmáticas, o conjunto particular de fenômenos ópticos que sua
própria teoria podia explicar melhor. Outras observações eram examinadas através de
elaboração ad hoc ou permaneciam como problemas especiais para a pesquisa
posterior”. (p32)
45
Outro fator importante para a motivação deste trabalho foi à percepção de que somente os
alunos que se destacam no ensino médio nas disciplinas de Matemática ou Física são
incentivados a continuarem os seus estudos em ciências exatas. Contribui também para esta
continuidade a seleção de alunos egressos de escolas particulares com elevado nível de
ensino.
Recebemos a cada período letivo uma diversidade cultural, social e formativa, compondo
turmas com saberes heterogêneos e com histórico didático-pedagógico diferenciados.
Defendemos que por este motivo, o Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM) tem
importante papel nesta análise, pois colabora para a percepção das falhas e das melhorias
necessárias nas atuais condições de ensino no país a partir da avaliação das competências e
habilidades desenvolvidas ao longo da educação básica, transformando-se numa importante
ferramenta para a definição das mudanças no ensino.
Como não descobrimos nenhuma ferramenta específica que colabore para o levantamento e
identificação das competências trazidas pelos alunos ingressantes, que seja do ENEM o índice
utilizável.
Conforme, também, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(INEP), e apesar da prova não ser obrigatória, cerca de 500 instituições de ensino superior
utilizam a nota obtida pelo aluno no ENEM em seus processos de seleção.
Uma boa nota no ENEM é um dos requisitos para que o estudante concorra às bolsas de
estudos oferecidas pelo Programa Universidade Para Todos (ProUni), do governo federal.
Ou seja, existe uma proposta para estruturação do ensino básico a partir de competências e
habilidade voltadas para que o aluno prepare-se para enfrentar um mundo em constante e
rápida transformação, mas na contramão desse processo o ensino superior ainda formula e
46
estabelece suas estratégias educacionais pautado nas antigas formas de se organizar e
transmitir o conhecimento: através de conceitos.
Apenas como contribuição para a reflexão, algumas escolas públicas e privadas de ensino
médio ainda resistem em adotar o ensino da Física Moderna no conteúdo curricular, mesmo
conscientes de que ao ingressar em algumas instituições de ensino superior os alunos
necessitarão destes conhecimentos para acompanhar o conteúdo programático proposto.
Na contramão dos paradigmas emergentes da educação, apesar da disponibilidade dos
diversos recursos materiais e tecnológicos, o ensino médio carece de professores preparados
que utilizem tais ferramentas para a inserção deste novo aluno no ambiente de aprendizado
exigido para a formação por competências.
Encontramos laboratórios fechados ou materiais defasados por incapacidade de manipulação,
conhecimento ou falta de interesse dos professores. Muitas vezes porque estes professores
evitam reconhecer e expor as suas limitações perante este novo cenário educacional e
tecnológico, evitando pedir ajuda. O professor, então, se refugia atrás da sua lista de
exercícios, do quadro negro, do giz, distanciando-se a cada dia das competências e
habilidades necessárias na formação dos seus alunos.
Invariavelmente quem sofre é o aluno que não aprende, apesar da disponibilidade de recursos,
aquilo que encontrará e necessitará para competir no mundo real.
A informação não vivenciada e não experimentada não fica registrada no aluno, não se
transforma em conhecimento aplicável.
Logo, a falta do conceito de competência atinge os objetivos educacionais e também os
professores e as instituições de ensino superior.
47
2 METODOLOGIA
Este trabalho tem por objetivo investigar a aplicação do mapeamento de competência na
definição dos conteúdos curriculares ofertados aos alunos ingressantes no ensino superior,
visando contribuir para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem.
Para isto, apresentaremos a seguir a metodologia adotada neste estudo.
2.1 TIPOLOGIA DE ESTUDO
Com base em MARTINS (1994) adotaremos o método empírico-analítico que utiliza técnicas
de coleta, tratamento e análise de dados marcadamente quantitativos, privilegiando o estudo
prático e o caráter técnico.
Tal método procura estabelecer relações causais entre variáveis e informações referenciais do
ensino nacional. Há também um viés redutivista onde procuramos conhecer, descobrir e
predizer os fenômenos que ocorrem na realidade, admitindo compreensivamente os
procedimentos indutivos, dedutivos e cronológicos.
Recorremos em tempo à pesquisa de avaliação que visa tratar em especial a avaliação de
programas educacionais, métodos de ensino, categorizando-as como somativas.
48
2.2 CARACTERIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS
Conforme MARTINS (1994) é indispensável para o rigor científico da pesquisa que o
investigador identifique as principais variáveis da situação-problema objetivando estudá-las.
Por certo, cada variável possui um nível de especificação, referencial teórico e mensuração,
bem com a posição que ocupa na relação entre as causas.
Desta forma, listamos abaixo as variáveis classificadas e estudadas neste trabalho:
Variáveis independentes:
Legislação nacional que estabelece os critérios para a aplicação dos conceitos de
competências e habilidades no ensino;
Indicadores do Ministério da Educação (MEC), do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e do Setor de Vestibulares do ITA,
visando compará-los com os indicadores dos cursos de Engenharia;
Variáveis Dependentes:
Análise do currículo do curso de Engenharia do ITA para o Ensino Fundamental na
disciplina de Mecânica I;
Classificação das competências curriculares a partir dos conceitos apresentados aos
alunos do Ensino Fundamental da matéria de Física do curso de Engenharia do ITA;
Resultado das avaliações dos alunos do 2o semestre de 2006 para a matéria de Física
tabuladas no sistema de mapeamento de competências;
49
2.3 FATORES CONDICIONANTES
Para a realização da pesquisa optamos por delimitar o nosso estudo aos alunos do 2o semestre
de 2006 do curso de Engenharia do ITA ingressantes no Ensino Fundamental para a disciplina
de Mecânica I – FIS14.
Infelizmente não pudemos utilizar a estrutura interna de servidores do ITA devido aos fatores
restritivos de atualização do sistema de mapeamento de competências desenvolvido na
plataforma Microsoft a partir do banco de dados SQL Server. É política da instituição a
restrição do acesso através de conexões externas aos servidores centrais ou departamentais.
Isto limitaria o tempo para o desenvolvimento do sistema e traria transtornos para a
atualização de versões para acesso dos alunos.
2.4 PLANEJAMENTO OPERACIONAL DA PESQUISA
Com base em MARCONI (1996) criamos um planejamento para a pesquisa a partir de um
macro-cronograma de trabalho conforme a relação abaixo:
Preparação
Definição e especificação dos objetivos da pesquisa;
Elaboração de um esquema visando à arquitetura do que chamamos de mapeamento
de competências;
50
Definição dos papeis e locais de trabalho, bem como os recursos necessários para o
desenvolvimento da pesquisa;
Fases da Pesquisa
Levantamento de dados, bibliografia, artigos, teses, ensaios e materiais diversos para
contribuição dos referenciais teóricos;
Formulação clara do problema, definição dos termos, hipóteses, variáveis e
delimitação;
Definição da amostragem e seleção do material para tabulação;
Estudo das principais tecnologias que pudessem suportar o desenvolvimento e a
obtenção dos resultados da pesquisa;
Criação de um protótipo para simulação das funcionalidades e regras pertinentes ao
desenvolvimento do sistema de mapeamento de competências;
Desenvolvimento do sistema a partir da modelagem do banco de dados e do protótipo
e princípios pertinentes a estruturação da relação entre competências e avaliação;
Publicação e testes de funcionalidade do sistema de mapeamento de competências
curriculares;
Registro junto à FAPESP do endereço do sistema na Internet em www.physix.com.br.
Execução da Pesquisa
Digitação das competências pertinentes ao currículo proposto para o ensino da
disciplina de Física;
51
Digitação das questões avaliativas aplicadas nos alunos do 2o semestre de 2006 do
curso de Engenharia do Ensino Fundamental do ITA;
Cadastramento e digitação para simulação das respostas obtidas com as avaliações
reais;
Formatação da apresentação dos resultados a partir do sistema.
Relatório de Pesquisa
Tabulação, formatação e conclusões para apresentação a partir das orientações para a
apresentação de teses no ITA;
52
3 JUSTIFICATIVA
3.1 DIVERSIDADE E COLETIVO
O desafio de unir os conceitos de competência, avaliação e aprendizagem coletiva, utilizando
a tecnologia como ferramenta para a coleta de dados, visa proporcionar ao educador durante o
processo de ensino-aprendizagem uma alternativa para o estreitamento entre a proposta
curricular previamente estabelecida e os saberes individuais e coletivos dos alunos
ingressantes num curso universitário.
Entendemos por saberes individuais todas as informações e conhecimentos trazidos pelos
alunos ingressantes, acumulados ao longo do ensino básico, respeitando principalmente o
contexto no qual estava inserido (regionalidade, forma de aprendizado, valores etc.).
Conforme consta em LÉVY (1995), no prefácio de Michel Serres:
"Sua carteira de identidade, bem nomeada, comporta somente duas ou três de suas
pertinências, dentre as que ficam fixas durante toda a sua vida, pois você continua
macho ou fêmea e filho de sua mãe: na verdade, sua autêntica identidade se detalha e,
sem dúvida, se perde em uma descrição da infinidade virtual de tais categorias,
indefinidamente cambiantes com o tempo real de sua existência: ontem, você ingressou
em um clube de ciclismo, por causa de seus talentos, amanhã, por opinião, você adere a
um partido político, e esta manhã, vencedor em uma determinada prova, você foi aceito,
por concurso, em um determinado grupo de peritos.
53
Quem é você, afinal? A interseção, flutuante pela duração desta variedade, numerosa e
bastante singular, de gêneros diversos. Você não pára de tecer e coser seu próprio manto
de Arlequim, tão matizado ou confuso quanto à carteira de seus constrangimentos."
Saberes coletivos são àqueles descobertos e originados na interação com os seus pares e
outros atores inseridos neste novo contexto educacional. Como relata MOURA (2003),
"Pois bem, o Coletivo, não é o estabelecimento nem os grupos nem as instituições. O
Coletivo, como o entendemos, se orienta de tal modo que seja possível absorver a co-
existência em seu seio de uma variedade imensa de fatores, elementos e referenciais os
mais díspares. Ele deve abarcar tudo o que está presente, relacionado e inter-relacionado
à clínica, à organização, ao estabelecimento, ao Estado, aos diferentes grupos e às
instituições (tanto externas quanto internas), enfim, questões relacionadas ao ambiente
que o constitui e ao ambiente em que se encontra mergulhado."
...
“Ou seja, o Coletivo se pauta pela multirreferencialidade”. (p71)
Desta forma, o coletivo não está na diversidade e sim à diversidade é que está no coletivo. Se
pensarmos numa construção de coletivos inteligentes estaríamos buscando na verdade a
comunalidade dos saberes e não a reconstrução destes sobre uma diversidade.
Sob este aspecto acreditamos que o ensino valoriza na maior parte das vezes a categorização,
a regra, o rótulo e conseqüentemente a padronização. Assim cada realidade é particularmente
trabalhada sobre os saberes construídos e personalizados ao longo do processo de
aprendizagem, bem como apropriados aos interesses de cada aluno. Talvez derive daí à falta
de interesse no interesse do outro. Logo, por que compartilhar os meus saberes se não existe
54
interesse no outro e do outro por mim. Se minha relação é diretamente focada nos saberes
apropriados daquele que ensina.
Conforme MOURA (2003):
“Esta é uma das razões pelas quais o Coletivo não tem a dimensão de um conjunto cujos
elementos e respectivos limites estejam bem claros, delimitados e fixados, uma vez que,
em sua extrema complexidade, um simples acontecimento poderá ter uma repercussão
em maior ou menor grau, levando as suas instituições ou espaços a procurarem um
rearranjo, com um maior ou menor grau de consciência, dos investimentos e dos laços
sociais e multitransferenciais”. (p77)
3.2 ESCOPO E EXCEÇÕES
Esclarecido este conceito, ressaltamos também, que em momento algum pensamos em
abordar temas como Educação a Distância, métodos ou melhores práticas de avaliação,
tecnologias aplicadas ao ensino, ou ainda, propor uma taxionomia dos saberes coletivos, pois
qualquer tentativa de se exaurir os conceitos apresentados neste trabalho seria uma atitude
quixotesca, tendo em vista que são abordagens relativamente recentes, inovadoras, complexas
e multifacetadas.
Para a obtenção dos resultados e posterior análise realizamos um estudo de caso, tabulando as
respostas das avaliações aplicadas nos alunos ingressantes na turma do ensino fundamental do
Instituto Tecnológico de Aeronáutica do 2º semestre de 2006 na disciplina de Mecânica I,
classificando-as primeiramente por conceitos e avaliações objetivas.
55
Esta decisão está apoiada no fato de que somente seria possível obtermos resultados amplos
na medida em que testássemos o sistema de mapeamento de competências diretamente nos
alunos ingressantes ao longo do período letivo e com a participação do quadro de professores
do ensino fundamental do ITA na definição das competências exigidas para a formação do
engenheiro.
Como não encontramos nenhuma iniciativa ou referencial dentro do ITA que indicasse o
desenvolvimento ou um projeto de reformulação curricular com base no conceito de
competências e habilidades, resolvemos então a partir dos conceitos existentes simular
cenários que nos permitissem testar a ferramenta e a viabilidade da aplicabilidade deste
trabalho.
Outro aspecto importante da escolha pelo estudo de caso é a necessidade de acompanhamento
e monitoramento da amostragem da pesquisa, visando comparar resultados e evoluções que
permitam mudanças significativas na estratégia didático-pedagógica. Precisaríamos desta
forma de um prazo maior para a publicação deste trabalho.
Procuramos também, com esta iniciativa, atrair e manter um número maior de jovens
interessados neste campo da ciência, evitando a fuga de talentos, pois estaremos mais
alinhados com os objetivos da formação integral do educando.
Conforme relatamos na motivação, estamos conscientes que alguns alunos se destacam pela
maior capacidade e adaptabilidade às ciências exatas no ensino médio, não por um conceito
de "genialidade" e sim, talvez, porque a combinação de fatores motivacionais e didático-
pedagógicos contribuíram para a qualidade do processo de aprendizado. Outros alunos,
entretanto, ingressam num curso de Engenharia porque tiveram acesso e oportunidade de
freqüentarem instituições de altíssima qualidade pedagógica.
56
Este não deve ser um fato determinante ou limitante para o interesse e a escolha pelo ensino
superior em ciências exatas, pois acreditamos que todos os alunos estão aptos para
freqüentarem um curso de Física. Este tipo de crença, lamentável, indica total despreparo do
professor perante o ato de educar. Para a educação não deve existir aluno escolhido e sim
aluno motivado.
Esperamos também atrair outros leitores, não acadêmicos, em busca de uma melhor
compreensão dos assuntos aqui apresentados, numa tentativa de motivá-los no enfrentamento
deste árduo caminho que é o da pesquisa no campo educacional.
Porém, acreditamos que as justificativas relatadas a seguir são suficientes para a viabilidade
desta pesquisa.
3.3 O AMBIENTE ACADÊMICO
O Instituto Tecnológico de Aeronáutica, criado pelo Decreto 27.695 de 16 de janeiro de 1950
e regulamentado em 1954, é o órgão de ensino superior do Comando da Aeronáutica e está
localizado em São José dos Campos no Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial.
O ITA forma Engenheiros nas áreas de Aeronáutica, Eletrônica, Mecânica-Aeronáutica, Infra-
estrutura Aeronáutica e Computação. Não forma Físicos.
Mas, apesar de formar e diplomar Engenheiros, também capacita e fornece habilidades em
Física, Matemática, Administração, Economia, porque nos seus currículos oferta disciplinas
que abrangem diversas áreas do conhecimento.
57
Favorece também o surgimento de grandes empresários, além de absorver ex-alunos que
desejam continuar os seus estudos de pós-graduação em Engenharia Aeronáutica e Mecânica,
Engenharia Eletrônica e Computação, Física e Engenharia de Infra-Estrutura Aeronáutica.
Por ter um dos mais rigorosos concursos, seleciona os melhores alunos, que trazem no seu
histórico escolar excelentes notas, pois alguns alunos ingressantes são ganhadores de prêmios
em olimpíadas de Física, Matemática, Química e Computação, realizadas nacional e
internacionalmente.
Recebe também Oficiais da Ativa ou da Reserva da Força Aérea Brasileira, proposta similar a
École Polytechnique da França (http://www.polytechnique.fr).
É uma instituição que proporciona ao aluno ingressante todas as condições para que
desenvolva plenamente seus estudos, fornecendo-lhes alojamento, alimentação,
acompanhamento médico-terapêutico, orientação pedagógica, laboratórios, biblioteca, além
da perspectiva de que ao final do curso seja absorvido por empresas líderes nos diversos
segmentos de mercado. Os alunos ingressantes ficam em regime integral e realizam exames
semestrais para a avaliação da continuidade no programa.
Tem na sua proposta pedagógica o conceito de “disciplina consciente”, que estabelece regras
rígidas de estudos individualizados onde cada aluno é monitorado pelo professor e colegas no
desenvolvimento de atividades referentes a trabalhos, avaliações e exames. Atividade
individual é atividade individual e o aluno que não respeitar esta regra corre o risco de ser
advertido e posteriormente afastado da instituição.
Possui, também, um quadro de professores altamente qualificados. São doutores e
pesquisadores nos diversos ramos da engenharia, química, computação, física e matemática.
58
Ou seja, é uma referência para o ensino nacional, recebendo em média todos os anos
aproximadamente 7.000 inscritos para 130 vagas, perfazendo uma média aproximada de 50
candidatos por vaga.
3.4 INGRESSO E COMPETITIVIDADE
Anualmente ingressam no ITA alunos dos mais variados estados do país.
Conforme edital do concurso publicado em http://www.ita.br/vestibular as 130 vagas
disponíveis são dividas em duas categorias a saber: privativas e ordinárias.
As vagas privativas são destinadas a candidatos civis de ambos os sexos que fizerem opção
pela carreira militar, visando a inclusão no Quadro de Oficiais Engenheiros da Aeronáutica
(QOEng) e a ex-alunos da Escola Preparatório de Cadetes do Ar (EPCAr) e ex-cadetes da
AFA. O candidato deverá, por ocasião da inscrição, indicar sua preferência no ato da inscrição
e firmar um compromisso de disponibilidade para sua convocação para o Serviço Ativo.
As vagas ordinárias são ofertadas aos candidatos civis de ambos os sexos que desejam cursar
o ITA apenas como civis. Caso o candidato decida pela carreira militar durante o Curso
Fundamental, poderá fazer um requerimento ao final do 2º Ano Fundamental pleiteando sua
disposição para o Serviço Ativo da Aeronáutica. Deste modo, o aluno após aprovado, passa a
condição de Aspirante-a-Oficial de Infantaria, Estagiário de Engenharia.
Quando o aluno optante por uma vaga ordinária concluir o curso será nomeado Primeiro-
Tenente do QOEng por ato do Comandante da Aeronáutica.
Porém, façamos uma análise a partir dos resultados publicados pela instituição na Internet em
http://www.ita.br/vestibular referentes ao concurso do ITA no período de 2003 a 2007.
59
CANDIDATO/VAGA
80
67
61 59
60
50 47
CANDIDATO/VAGA
40
Linear
20 (CANDIDATO/VAGA)
-
2003 2004 2005 2006 2007
Figura 1 – Número de candidatos inscritos por vaga em função do ano
160
140 129 130
124
111
120
104
100
Homens
80 Mulheres
60 Linear (Homens)
Linear (Mulheres)
40
20 12 12 15
7 7
-
2003 2004 2005 2006 2007
Figura 2 – Número de candidatos inscritos por sexo em função do ano
60
3.000
2.810
2.608 Engenharia Aeronáutica
2.500 2.440 2.432
2.269
2.055 Engenharia Eletrônica
2.000 1.948
1.759
Inscritos
1503 1.610 1.629 Engenharia de Computação
1.500
1492 1463 1524
1.417 1.091
1.301 1124
Engenharia Mecânica-
1.000 1.153 Aeronáutica
921
580 Engenharia de Infra-Estrutura
522 475 479 Aeronáutica
500
367
0
2003 2004 2005 2006 2007
Figura 3 – Número de candidatos inscritos por curso em função do ano
MS MT SC AM RN
RS ES
PA 2% 1% 1% 1% 1% 1%
3%
BA 3%
DF 3%
3% SP
PE 44%
3%
GO
4%
CE
5%
PR
6%
MG
7% RJ
11%
Figura 4 – Porcentual médio de candidatos inscritos por Estado entre 2003 e 2007
61
Podemos perceber que mesmo diante de um ambiente que proporciona as condições
necessárias para que os alunos desenvolvam suas capacidades e habilidades para enfrentar o
mercado de trabalho e continuarem seus estudos de extensão e pós-graduação, surgem
algumas observações importantes.
Conforme a Figura 1 percebemos uma queda de aproximadamente 30 pontos percentuais
(29,85%) na relação candidato por vaga nos últimos 5 anos, mesmo com uma pequena
variação positiva em 2005 quando foram ofertadas um número maior de vagas no total de
cursos.
Na Figura 2, curiosamente, ocorre um aumento de aproximadamente 115 pontos percentuais
(114,29%) nos últimos cinco anos com relação ao número de inscritos do sexo feminino e um
decréscimo de aproximadamente 20 pontos percentuais (19,38%) dos candidatos do sexo
masculino.
A Figura 3 permite-nos a criação de um ranking por curso nos últimos 5 anos, conforme
quadro abaixo:
CURSO QUEDA
Engenharia de Computação 53,93%
Engenharia Eletrônica 47,64%
Engenharia de Infra-Estrutura Aeronáutica 36,72%
Engenharia Mecânica-Aeronáutica 26,88%
Engenharia Aeronáutica 26,87%
Tabela 1 – Percentual de crescimento por cursos no ITA entre 2003 e 2007
Na Figura 4 podemos perceber uma concentração do número de candidatos nos Estados de
São Paulo (44%) e Rio de Janeiro (11%), com destaque para os estados de Minas Gerais
(7%), Paraná (6%) e Ceará (5%). As participações de inscritos das regiões Norte e Sul são
muito pequenas, o que talvez demande uma maior atenção.
62
Porém, se analisarmos os alunos efetivamente aprovados, convocados e matriculados
encontraremos um cenário de diversidade cultural, onde principalmente a participação da
região nordeste se faz mais acentuada.
Porém, o que estamos tentando analisar e propor dentro do escopo deste trabalho é a análise
de uma diversidade pedagógica, ou seja, a origem escolar e curricular com base nas
competências e habilidades trazidas por estes alunos a partir do ensino básico.
Evidentemente, se considerarmos os conteúdos ensinados pelas escolas e cursinhos para estes
alunos ingressantes precisaríamos de um sistema de mapeamento de competências
curriculares de alcance nacional, diretamente interligado com as instituições de ensino,
possibilitando o cadastramento direto pelo próprio aluno.
Não é escopo deste trabalho analisar as causas refletidas e relacionadas com os indicadores
apresentados, mas acreditamos que cabe uma questão:
Podemos afirmar que a proposta curricular do ITA tem algum reflexo nos indicadores
apresentados anteriormente?
De qualquer forma, de acordo com o site do INEP (http://enade2005.inep.gov.br) o indicador
do ENADE de 2005 para os cursos de Engenharia da Computação e Engenharia Eletrotécnica
atingiram a nota máxima de 5 pontos, conforme figura a seguir:
63
Figura 5 – Resultado do ENADE dos cursos de Engenharia do ITA em 2005
Objetivando ainda contribuir para uma melhor percepção sobre a importância da instituição
na formação dos engenheiros, apresentamos os seguintes dados obtidos a partir do site do
INEP (http://www.resultadosenc.inep.gov.br/instituicao.action?inst=602) sobre o Exame
Nacional de Cursos realizado entre os anos de 1996 e 2003.
O Exame Nacional de Cursos (ENC-Provão) foi um exame aplicado aos formandos neste
período com o objetivo de avaliar os cursos de graduação da Educação Superior, no que tange
aos resultados do processo de ensino-aprendizagem.
Figura 6 – Resultado Geral do ENC do ITA entre 1996 e 2003 por curso
64
Figura 7 – Resultado do ENC do ITA no curso de Engenharia Civil entre 1996 e 2003
Figura 8 – Resultado do ENC do ITA no curso de Engenharia Elétrica entre 1998 e 2003
65
Figura 9 – Resultado do ENC do ITA no curso de Engenharia Mecânica entre 1999 e
2003
3.5 HERMETISMO DO PROGRAMA DE CURSO
Resolvemos também realizar um levantamento dos conteúdos propostos nas disciplinas
oferecidas no ITA, nas matérias de Física, entre os anos de 1993 e 2003, partindo dos
catálogos disponibilizados pela instituição gratuitamente para todos os professores e alunos.
Conforme Tabela 2 e seguindo os marcadores (“x”) para cada coluna podemos perceber que
existem conteúdos ou disciplinas idênticas, porém não contínuas.
Por que estes fatos aconteceram e concentram-se exatamente a partir de 1996?
Alguns conteúdos das disciplinas foram reformulados?
Outros conteúdos sofreram adaptação na sua descrição?
Os títulos das disciplinas foram atualizados?
66
Enfatizamos três pontos que consideramos importantes para este trabalho:
Em 1996 o ITA fez uma reformulação nos programas e conteúdos;
A LDB foi editada exatamente neste mesmo ano, o que seria uma oportunidade para a
reformulação dos programas a partir do conceito de competências;
Até o momento não temos informação da existência de qualquer iniciativa para a
adaptação dos programas com base nos conceitos de competências e habilidades
propostos pela LDB.
Logo, acreditamos que a principal justificativa para a construção de uma ferramenta para o
mapeamento das competências curriculares no ITA, a partir de um estudo de caso no Ensino
Fundamental na disciplina de Física, é uma oportunidade para iniciarmos uma articulação
coletiva entre os diversos departamentos visando à melhoria do processo de ensino-
aprendizagem e a continuidade da qualidade educacional da instituição na formação do
engenheiro.
3.6 OS ATORES
Além de constatar, refletir e pesquisar sobre as diversas dimensões envolvidas nas questões
apresentadas nesta pesquisa seremos parcimoniosos na análise com relação ao objeto
"conhecimento", tendo em vista que é o principal foco de interesse quando analisamos os
espaços antropológicos do saber humano.
Isto, também, porque os atores envolvidos em certos momentos se apresentam como
ofertantes ou demandantes de informações, compartilhando e contextualizando o
67
conhecimento, e em outros são simples consumidores, que buscam uma aplicabilidade de
acordo com os seus objetivos individuais ou coletivos.
Como explica GOFFMAN (1985), num dado ambiente, após o início de qualquer processo de
interação entre os diversos atores existentes deve-se tomar cuidado com a mudança de
postura, pois isto colocaria em risco a compreensão das regras previamente estabelecidas e
certamente os outros participantes desenvolveriam uma postura defensiva e questionadora, o
que não contribui para os resultados da aprendizagem.
"Um objetivo geral de qualquer equipe é manter a definição da situação que sua
representação alimenta. Isto implicará em que se acentue a comunicação de alguns fatos
e se diminua a comunicação de outros. Dada a fragilidade e a necessária coerência
expressiva da realidade que é dramatizada por uma representação, poderão desacreditar,
romper ou tornar inútil a impressão que ela estimula. Diz-se que estes fatos fornecem
'informação destrutiva'. Um problema básico de muitas representações, portanto, é o do
controle da informação. O público não deve adquirir informações destrutivas a respeito
da situação que está sendo definida para ele. Em outras palavras, uma equipe deve ser
capaz de guardar seus segredos e fazer com que eles sejam guardados."
Por exemplo:
Um professor que se apresenta como democrático, educador, disponível para orientar e
ajudar os alunos que apresentarem dificuldades com a disciplina e que no decorrer das
aulas percebe que os alunos não estão acompanhando a proposta programática, resolve
alterar unilateralmente o conteúdo ou aplicar avaliações rigorosas, na expectativa que
os alunos "corram atrás do prejuízo". Certamente isto sinalizará para os alunos uma
mudança nas regras e induzirá o coletivo a questionar as qualificações do professor e
sua estratégia de ensino.
68
Ou um professor inicialmente severo que com o tempo passa a tolerar atrasos na
entrega dos trabalhos, permite conversas paralelas em sala de aula, brincadeiras
durante a exposição de algum assunto, ou expõem que pouco importa se o aluno está
presente e interessado nas suas aulas. No momento da avaliação endurece nas questões
da prova e aplica uma correção rigorosa, reduzindo drasticamente as médias dos
alunos. A conseqüência desta atitude do professor levará os alunos a uma ação
defensiva tentando desqualificar as suas competências para avaliar e continuar
conduzindo os trabalhos acadêmicos.
Assim, o "conhecimento", que no início era o centro dos interesses coletivos, perde a
relevância.
A proposta curricular se desestrutura e não reflete mais os interesses da turma e o professor
fica então executando uma tarefa político-psicológica, na esperança de resgatar a
credibilidade, o interesse e relação de respeito com os seus alunos.
Neste caso, especificamente, emergirá um movimento coletivo na tentativa de esclarecer ou
assegurar a estabilidade nas relações.
O fator importante na identificação dos atores é a necessidade de interligá-los partindo das
suas comunalidades e interseções no processo de ensino-aprendizagem.
Numa primeira dimensão encontramos o professor, que desempenha o papel de ofertante,
guardião e fornecedor do conhecimento, com base numa proposta curricular, elaborada a
partir das suas convicções enquanto educador ou recebendo antecipadamente a proposta da
própria instituição. O professor relaciona-se diretamente com os alunos, com a instituição e
com outras fontes externas de conhecimento.
69
Noutra dimensão encontram-se os alunos, representando normalmente o demandante, que
através da instituição, ou melhor, de um espaço de saber, obtém do professor o produto objeto
desta relação, o conhecimento.
Existe também a instituição, que além de disponibilizar os recursos materiais e humanos para
o aluno obter o conhecimento desejado, serve de certificador deste conhecimento, entregando
a partir de regras pré-estabelecidas um documento que lhe permitirá provar para a sociedade
e/ou empregador as suas qualificações.
Um pouco distante deste universo de relações está o empregador, que estabelece as demandas
do conhecimento para a produção. Ou seja, além da capacidade reflexiva e solucionadora dos
problemas dos alunos contratados, o empregador espera certa experiência nas práticas
operacionais das funções que este aluno exercerá dentro do ambiente empresarial.
Ou ainda, o aluno será seu próprio empregador dentro deste ambiente empresarial, onde
desenvolverá seus projetos pessoais criando uma empresa para produzir ou prestar serviços
conforme as demandas sociais.
Figura 10 – Atores e relacionamentos do ambiente educacional
70
Por último, encontramos o ambiente social que suporta todas estas dimensões para que se
concretizem enquanto estrutura formalizada do relacionamento do processo de ensino-
aprendizado.
Alguns autores, como AQUINO (1996, p17), utilizam outras definições para explicar estas
relações institucionais, a saber:
Mandante: é um ator individual ou coletivo a quem a instituição responde, ou em
nome de quem ela age. É também aquele que a sustenta materialmente e se apropria
do que ela produz. Trata-se, em geral, de outra instituição, e mais comumente do
próprio Estado – no caso das escolas, certamente é o Estado;
Público: conjunto de atores coletivos e individuais que participam esporadicamente ou
potencialmente nas relações institucionais, podendo ter uma opinião decisiva quanto
mais impalpável for o objeto – é o caso das famílias e da população em geral na vida
escolar;
Clientela: são os atores visados pela ação institucional, sobre cujas relações incide a
ação institucional. Isto é, aqueles que, carentes do objeto, posicionam-se enquanto
alvo da ação dos agentes – em suma, são os alunos nas escolas;
Agentes: são os atores dominantes, cuja prática tende a delimitar a ação institucional.
Podem ser privilegiados ou subordinados, e diferenciam-se do pessoal institucional.
Estes últimos são aqueles que prestam serviços de manutenção, indispensável ao
funcionamento da instituição. Porém, não estão diretamente ligados à ação
institucional. São eles os funcionários e o pessoal de apoio em geral. Os agentes
privilegiados são os que têm a prerrogativa da guarda ou posse do objeto, e cuja
prática o (re)produz imediatamente – são os professores propriamente. Os agentes
subordinados são profissionais em formação ou pertencentes a categorias subordinadas
71
aos agentes privilegiados. São fatores ou de conformismo ou de conflitos na
instituição – estagiários, auxiliares de ensino, substitutos etc.
Concordamos que o termo “clientela” adotado por Aquino cria uma impressão ruim de que o
aluno transformou-se num produto “comoditizável” dentro do processo educacional,
importando apenas se tem recursos financeiros para cursar a universidade e que pode a partir
desta posição entender a educação apenas como mais um serviço no mercado.
O primeiro ponto abordado diz respeito à formação do professor. Suas origens, referenciais, o
local e o modo como desenvolveu seus primeiros estudos, antes de tornar-se um docente.
Valores, crenças, sua identificação com docentes mais severos ou mais liberais no passado
levariam a um comportamento semelhante. Professores cobradores de prazos, rigorosos com a
estrutura e a apresentação dos trabalhos, que deixavam claro a sua preferência por alunos
autodidatas ou que explicitamente utilizavam o resultado das avaliações para classificar os
mais inteligentes dos menos privilegiados, determinavam a sua atual identidade. Enfim, um
comportamento apoiado nas suas origens.
Outro ponto importante seria a personalidade do professor. Família, amigos, atividades
culturais, referências literárias, relações e desenvolvimento da personalidade seriam trazidos
para dentro da sala de aula. Interferindo por vezes no relacionamento com a turma.
Comunicativo, introspectivo, pragmático, prolixo, entre outros, também determinavam a
identificação com a turma. Ou seja, não apenas a sua formação estudantil como também a sua
identidade pessoal.
O segundo ponto está relacionado com a capacidade que o professor tem para lidar com a
diversidade na sala de aula. A compreensão das similaridades e das diferenças individuais
objetivando a busca e o aproveitamento de uma “ecologia da informação” conforme propõe
DAVENPORT (2000).
72
Devemos então considerar como pontos importantes de análise:
A personalidade do professor;
o ambiente onde se desenvolve a troca de informações (ambiência);
a identidade originada pela formação temporal do grupo de alunos;
a importância e a relevância do conteúdo dentro de uma contemporaneidade do
conhecimento;
os valores institucionais que norteiam e oferecem os recursos necessários para o pleno
desenvolvimento da proposta pedagógica;
e outras dimensões que levam ao encontro de novos conceitos aplicáveis a educação.
Desta forma, fica evidente que o resultado positivo das aulas depende na maioria das vezes de
uma mediação entre o ambiente instituído na sala de aula (ambiência), da capacidade do
professor de contextualizar o conteúdo apresentado e, principalmente, da colaboração e da
valorização dos saberes coletivos, através da participação dos alunos, de tal forma que o
processo de ensino-aprendizado fique mais significativo, aplicável e valorizado pelo próprio
aluno.
Para ALVES (1993),
"Com o advento do utilitarismo entretanto, tudo se alterou. A pessoa passou a ser
definida pela sua produção: a identidade é engolida pela função. E isto se tornou tão
arraigado que, quando alguém nos pergunta o que somos, respondemos inevitavelmente
dizendo o que fazemos. Com esta revolução instaurou-se a possibilidade de se gerenciar
e administrar a personalidade, pois que aquilo que se faz e se produz, a função, é
passível de medição, controle, racionalização. A pessoa praticamente desaparece,
reduzindo-se a um ponto imaginário em que várias funções são amarradas". (p15)
73
Ao longo do tempo estes fatores ocorrem em consonância, habitualmente no final das aulas
quando ouvimos dos alunos algo assim: "valeu professor, hoje foi legal".
74
4 PRINCÍPIOS TEÓRICOS
4.1 A ABORDAGEM POR COMPETÊNCIAS
A Diversidade de Conceitos
Definir competência ou encontrar um entendimento comum não é tarefa fácil. Principalmente
porque, dependendo da área de saber, o contexto e a compreensão do conceito pode mudar
radicalmente.
De acordo com DEFUNNE (2000) a idéia de competência surgiu inicialmente na Alemanha,
por volta dos anos 70. Vejamos:
“As competências diziam respeito aos conhecimentos, habilidades e atitudes do campo
profissional do futuro trabalhador, depois a educação geral incorporou essa idéia ao seu
processo pedagógico. Assim, ambas, educação geral e educação profissional, partiam de
competências definidas por um conjunto de representantes da sociedade, empresários,
sindicatos e educadores, o que ainda hoje acontece”. (p61)
Por exemplo, conforme o HOUAISS (2001) existem várias definições para o termo
competência:
Psicologia: capacidade objetiva de um indivíduo para resolver problemas, realizar atos
definidos e circunscritos.
Geral: indivíduo de grande autoridade num ramo do saber ou do fazer; notabilidade.
Sentido: soma de conhecimentos ou de habilidades.
75
Jurídico: poder detido por um indivíduo, em razão do seu cargo ou função, de praticar
atos próprios deste ou desta ou a aptidão de uma autoridade pública de efetuar
determinados atos.
Podemos também encontrar uma definição mais abrangente, conforme DEFUNNE (2000):
"O termo 'competência' aparece em vários contexto, com vários significados. Numa
interpretação mais ampla, competência designa a faculdade concedida por lei a um
funcionário, juiz ou tribunal para apreciar e julgar certos pleitos e questões; a qualidade
de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, fazer determinada coisa,
capacidade, habilitação, aptidão e idoneidade. Indica, igualmente, oposição, conflito,
luta". (p48)
DEFUNNE (2000, p50) também define competência como:
Competência é a capacidade de uma pessoa para desenvolver atividades de maneira
autônoma, planejando-as, implementado-as e avaliando-as;
Competência profissional é a capacidade de utilizar os conhecimentos e as habilidades
adquiridas para o exercício de uma situação profissional;
Competência é a habilidade de alguém utilizar seu conhecimento para alcançar algum
propósito;
Competência é a capacidade para usar habilidades, conhecimentos, atitudes e
experiências adquiridas para desempenhar bem os papéis sociais;
Competência é a capacidade para aplicar habilidades, conhecimentos e atitudes em
tarefas ou combinações de tarefas operacionais;
76
Competência ocupacional é a habilidade para desempenhar atividades no trabalho
dentro de padrões de qualidade esperados.
MELLO (2003) ressalta que o tema não é novo. Argumenta que quando nos referimos à
competência no ambiente escolar estamos na verdade dizendo o que um aluno deve aprender
e o que deve fazer posteriormente com aquilo que aprendeu. Que as competências possuem
características como:
Capacidade de mobilizar conhecimentos, valores e tomar decisões;
O que diferencia competência de habilidade é o contexto. Habilidade pode ser uma
competência por envolver outras habilidades específicas;
Para haver competência devemos dominar conhecimentos e saber mobilizá-los e
aplicá-los conforme a situação. Sem o domínio de conhecimentos e conceitos não
existe competência. A competência possui uma dimensão ética;
Devemos considerar em certas ocasiões a experiência como fator primordial para
tomarmos certas decisões e que sem esta pertinência seria imprudente a improvisação
necessária em certos momentos da vida.
Completando o raciocínio de MELLO (2003),
“Se quisermos desenvolver competências em nossos alunos, teremos de ir além do
ensino para memorização de conceitos abstratos e fora de contexto. É preciso que eles
aprendam para que serve o conhecimento, quando e como aplicá-lo. Isso é
competência”.
Na visão de PRIMI (2001) existe uma diferenciação importante entre o conceito de
competência e habilidade.
77
"A habilidade indica facilidade em lidar com um tipo de informação e para que se
transforme em competência será necessário investimento em experiências de
aprendizagem". (p4)
Vejamos também o que achamos sobre o conceito de “habilidade” nos dicionários AURÉLIO
(1994) e EDELBRA (2006):
Capacidade, destreza, agilidade.
Qualidade de alguém que age com engenhosidade e inteligência.
Qualidade que torna o sujeito apto, capaz no plano legal.
Qualidade de alguém que é capaz de realizar um ato com uma boa adaptação
psicomotora, adequada ao fim em questão.
Quem sabe fazer; que executa com agilidade e eficiência.
DEFFUNE (2000, p32) colabora para esclarecer melhor as diferenças entre habilidades
básicas e específicas:
habilidades básicas são aquelas essenciais para que alguém possa seguir sua
educação profissional e dizem respeito também à vida em sociedade;
habilidade específicas são aquelas relacionadas aos conhecimentos técnicos e às
competências demandadas por ocupações, por profissões, por atividades do
mercado de trabalho ou, de maneira mais ampla, pelo mundo do trabalho.
Na visão do MEC (2000) habilidades são desempenhos em contextos distintos envolvendo
saberes específicos e que são descritores das competências.
AUTHIER (1996) compreende competências a partir de uma visão produtiva, capitalista e
econômica.
78
"Primeira abordagem possível para o problema: de certo modo, o problema que a
produtividade deve resolver é um problema de quantidade, enquanto que o problema da
competitividade é o problema da diferenciação pela qualidade. Fazer diferente é fazer
diferente antes dos outros. Evidentemente compreendemos porque isto se chama
competitividade: ganhar a competição é essencialmente ganhar tempo, ir mais rápido.
Segunda abordagem possível: em competitividade encontramos um termo muito
interessante, a competência. De maneira geral, poderíamos dizer que provavelmente o
motor mais forte da competitividade é a competência. Então em poucas palavras, o que
eu entendo por competência? Vou chocá-los: é aquilo que você quer, a partir do
momento em que isto pode refletir uma qualidade útil de um ser humano em uma
organização coletiva. Digo isto para provocar um curto circuito em todos os debates que
poderíamos ter sobre o tema: 'o que é uma competência, um conhecimento, um saber
um savoir-faire, um saber ser...' Todas estas coisas são importantes, em relação ao uso
que faremos do termo competência. Sendo um pouco violento, diria que nós podemos
desdenhar o termo competência, e dizer: as competências são armas, armas de qualidade
humana ou simplesmente, atributos úteis aos seres humanos, à sociedade". (p1)
Ainda nesta mesma linha de raciocínio, AUTHIER (1996) propõe um conceito de “Economia
da Competência”:
"A riqueza não está no estoque, ela está nas pessoas que conhecem as pequenas porções
do estoque. Um exemplo: o problema da gestão das competências nas empresas. A
riqueza de uma empresa não é o seu repertório de competências, mas as combinações
que os homens fazem entre as competências que eles efetivamente possuem. É por isto
que decidimos não falar mais em recursos humanos mas em riquezas humanas. Isto nos
parece muito importante porque, se há um deslocamento da produtividade em direção à
competitividade, do crescimento da quantidade em direção a um crescimento da
79
qualidade, então nós passamos, e é desejável, de uma economia de produtos, de uma
economia da falta, para uma economia de conhecimentos, uma economia do
compartilhamento". (p2)
O que ressaltamos na abordagem de Authier é a dimensão das riquezas que realmente
esperamos encontrar no conceito de competência.
"É preciso saber se o que nós procuramos são competências, conhecimentos ou então se
o que procuramos é recriar eternamente pequenas células nas quais encontram-se apenas
pessoas que se parecem com você". (p6)
Para AUTHIER (2001), dentro desta visão mercantilista, capitalista ou econômica,
competência seria mobilizar riquezas humanas ao invés de recursos, substituindo a obediência
pela confiança e o comando pelo reconhecimento proporcionando uma ascendência humana
sobre os objetos tecnológicos. Significa, também, mobilizar o capital humano e esta riqueza
humana de forma coletiva, valorizando a sinergia da interação nos processos de aprendizagem
e a tomada de decisão, pois compartilhar competências é criar competitividade. Abordagem
muito pertinente, tendo em vista que os alunos certamente ouvirão este discurso quando
ingressarem no mercado de trabalho.
Porém, para LÉVY (2001) existe outra forma de definir competência:
"Entendo por competências, tanto as aptidões comportamentais (saber ser) como as
habilidades (savoir-faire, know-how) ou os conhecimentos teóricos. Cada competência
particular é reconhecida aos indivíduos pela obtenção de um 'brevê', em função de um
procedimento bem especificado (teste, admissão pelos pares, fornecimento de prova
etc.)". (p1)
80
Porém, mesmo respeitando estas diversas abordagens, achamos prudente enfatizarmos o
conceito de competências do ponto de vista da legislação.
Desta forma, optamos por seguir dois caminhos complementares: a proposta da LDB e a
abordagem de Perrenoud, que praticamente colaborou para os conteúdos e propósitos da
própria legislação.
Pré-Requisitos: Dado, Informação e Conhecimento
Diversos outros termos estão embarcados no conceito de competência. Entre eles,
principalmente, o conhecimento.
O aprofundamento do estudo do conhecimento é abordado pela epistemologia e atualmente
existem vários conceitos para esta palavra.
Partindo de um conceito menos específico, conhecimento pode ser definido como aquilo que
se conhece de algo ou alguém. Contudo, para falar deste tema achamos indispensável abordar
o conceito de dado e informação.
Algumas definições de “dado” encontradas nos dicionários AURÉLIO (1994) e HOUAISS
(2001):
É uma entidade, que pode ser armazenada, entendida ou não, quantificada e pode ser
descrita através de representações formais como: letras, números, desenhos etc.;
Elemento identificado em sua forma bruta que por si só não conduz a uma
compreensão de determinado fato ou situação;
Elemento de quantidade conhecida, que serve de base à resolução de um;
81
Elemento para a formação de um juízo;
Um referencial de um fato.
Informação também possui uma enorme gama de definições. Porém, para contextualizar
melhor o sentido do termo, definiremos informação como um “dado” com valor agregado.
Tal definição procura ao invés de valorizar o processo de transformação de dado em
informação e os agentes que influenciam nesta mudança, compreender que este processo de
transformação ocorre dentro de cada indivíduo e pode ser construído de diferentes formas.
Quem dá valor e sentido ao objeto ou fato é o humano, que constrói a sua informação.
Ousaria propor a desconstrução da palavra, visando uma melhor compreensão, da seguinte
forma: in-forma-ação. Algo que construímos dentro de nós e que visa basicamente
compreender melhor o objeto em questão, bem como apoiar uma decisão.
Informação é um patrimônio que você entrega e continua com ele.
Peter Drucker certa vez levantou a seguinte questão num ensaio da revista HSM Management:
“A informação é plana”.
Se fizermos uma reflexão sobre esta definição poderíamos pensar que:
Se a informação é plana o dado é linear;
Se o informação é plana o conhecimento é dimensional;
Se o conhecimento é dimensional a inteligência é molecular.
PERRENOUD (1999) procura mostrar que a definição de conhecimento está relacionada
diretamente com o progresso das ciências cognitivas, distinguindo três tipos principais:
82
conhecimentos declarativos: os quais descrevem a realidade sob a forma de fatos,
leis, constantes ou regularidades;
conhecimentos procedimentais: os quais descrevem o procedimento a aplicar para
obter-se algum tipo de resultado (por exemplo, os conhecimentos metodológicos);
conhecimentos condicionais: os quais determinam as condições de validade dos
conhecimentos procedimentais." (p9)
Para AUTHIER (2001) conhecimento pode ser entendido como:
"O conhecimento, de modo geral, é aquilo graças ao qual elaboramos respostas e
soluções para problemas novos. Ele pode ter dois significados aparentemente diferentes:
ele é primeiramente aquilo que me torna capaz de interpretar uma informação, de dar
um sentido a um saber; ele é também um ser humano - um conhecido - que pode ser um
aliado em uma situação problemática.
Quer seja a capacidade de dar um sentido ou de fazer alianças, o conhecimento é
possuído por uma ou mais pessoas, mas só pode ser algo humano". (p1)
Ou seja, passamos a conhecer somente aquilo que é desconhecido ou já conhecemos e ainda
não descobrimos o que já é conhecido. De qualquer forma, conhecer é realmente descobrir.
Desta forma, tendo em vista que o conceito de competência tem relação direta com a
mobilização dos esquemas cognitivos existentes em cada indivíduo para a realização de um
objetivo, seja criar, aprender, agir etc., o conhecimento participa desta conceituação porque é
o insumo que permite a mobilização deste complexo cognitivo a partir de um arcabouço de
dados e informações existentes.
Vejamos, então, como o conhecimento se relaciona com o conceito de competência.
83
Competências e habilidades na LDB
A partir do documento que apresenta informações sobre o Exame Nacional do Ensino Médio
(ENEM) editado no site do INEP (2000):
"Competência são as modalidades estruturais da inteligência, ou melhor, ações e
operações que utilizamos para estabelecer relações com e entre objetos, situações,
fenômenos e pessoas que desejamos conhecer. As habilidades decorrem das
competências adquiridas e referem-se ao plano imediato do 'saber fazer'. Por meio das
ações e operações, as habilidades aperfeiçoam-se e articulam-se, possibilitando nova
reorganização das competências". (p7)
Porém, como já pontuamos neste trabalho anteriormente, a LDB recebeu forte influência de
Perrenoud.
Basicamente, a abordagem adotada para a definição de competências é extraída da análise que
PERRENOUD (1999) faz do ensino e da construção do saber-fazer.
"Na verdade, a questão das competências e da relação conhecimento-competência está
no centro de um certo número de reformas curriculares em muitos países, mais
especialmente no ensino médio. No ensino fundamental, a formação das competências
é, em certo sentido, mais evidente e envolve os chamados 'savoir-faire elementares': ler,
escrever, etc. A partir dos oito anos, as disciplinas multiplicam-se, e a problemática
conhecimento-competência aproxima-se do ensino médio." (p12)
Perrenoud faz na introdução do livro um questionamento muito interessante: “Vamos à escola
para adquirir conhecimentos ou para desenvolver competências?”.
84
Ambos. Pois não ocorrerá o desenvolvimento de competências sem a construção de
conhecimentos. Estrategicamente podemos optar por desenvolver conceitos, grades e períodos
letivos a partir dos métodos tradicionais de ensino, o que não está errado, ou enfocar os
motivos pelos quais tais conceitos são ensinados e onde e quando serão verdadeiramente
aplicados.
"Desde que essa discussão existe, a escola procura seu caminho entre duas visões do
currículo:
uma consiste em percorrer o campo mais amplo possível de conhecimentos, sem
preocupar-se com sua mobilização em determinada situação, o que equivale, mais
ou menos abertamente, a confiar na formação profissionalizante ou na vida para
garantir a construção de competências;
a outra aceita limitar, de maneira drástica, a qualidade de conhecimentos ensinados
e exigidos para exercitar de maneira intensiva, no âmbito escolar, sua mobilização
em situação complexa." [p10]
Perrenoud também ressalta que são múltiplos os significados da noção de competência.
Porém, define o termo como sendo “uma capacidade de agir eficazmente em um determinado
tipo de situação, apoiada em conhecimento, mas sem limitar-se a ele”. (p7)
Destaca que na medida em que o aluno evolui vai enfrentando situações do dia-a-dia,
precisando por em sinergia vários recursos cognitivos complementares, entre os quais os
conhecimentos.
Para Perrenoud conhecimentos são representações da realidade, construídos e armazenados ao
longo da nossa experiência e formação. Por vezes tais conhecimentos são elementares e
esparsos, outras vezes complexos e organizados em rede.
85
Vejamos alguns exemplos de conhecimentos profundos:
analisar um texto e reconstruir as intenções do autor;
traduzir de um língua para outra;
argumentar com a finalidade de convencer alguém cético ou um oponente;
construir uma hipótese e verificá-la;
identificar, enunciar e resolver um problema científico;
detectar uma falha no raciocínio de um interlocutor;
negociar e conduzir um projeto coletivo;
Estas ações permitem as manifestações das competências que utilizam, integram ou
mobilizam os conhecimentos.
Dois exemplos são citados por PERRENOU (1999) para ilustrar tais afirmações:
"Embora conhecedor do Direito, a competência do advogado ultrapassa essa erudição,
pois não lhe basta conhecer todos os textos para levar a bom termo o assunto do
momento. Sua competência consiste em pôr em relação seu conhecimento do direito, da
jurisprudência, dos processos e de uma representação do problema a resolver, fazendo
uso de um raciocínio e de uma intuição propriamente jurídicos." (p8)
...
"Que o clínico disponha de amplos conhecimentos (em física, em biologia, em
anatomia, em fisiologia, em patologia, em farmacologia, em radiologia, em tecnologia,
etc.) não é senão uma condição necessária de sua competência. Se estivesse reduzida a
uma simples aplicação de conhecimentos memorizados para casos concretos, iria bastar-
86
lhe, a partir dos sintomas típicos, identificar uma patologia registrada e encontrar, em
sua memória, em um tratado ou em um banco de dados, as indicações terapêuticas. As
competências clínicas de um médico vão muito além de uma memorização precisa e de
uma lembrança oportuna de teorias pertinentes. Nos casos em que a situação sair da
rotina, o médico é exigido a fazer relacionamentos, interpretações, inferências,
invenções, em suma, complexas operações mentais cuja orquestração só pode construir-
se ao vivo, em função tanto de seu saber e de sua perícia quanto de sua visão da
situação." (p8)
Logo, a mobilização do conhecimento num certo contexto cria a competência, não a ação.
Perrenoud constantemente utiliza o conceito de esquemas mentais para reforçar as
capacidades de um indivíduo na mobilização dos conhecimentos para a formação das
competências.
"Ora, os esquemas de mobilização de diversos recursos cognitivos em uma situação de
ação complexa desenvolvem-se e estabilizam-se ao sabor da prática. No ser humano,
com efeito, os esquemas não podem ser programados por uma intervenção externa. Não
existe, a não ser nas novelas de ficção científica, nenhum 'transplante de esquemas'. O
sujeito não pode tampouco construí-los por simples interiorização de um conhecimento
procedimental. Os esquemas constroem-se ao sabor de um treinamento, de experiências
renovadas, ao mesmo tempo redundantes e estruturantes, treinamento esse tanto mais
eficaz quando associado a uma postura reflexiva." (p10)
No ITA, a Semana de Ciências é um dos eventos que melhor se enquadra neste processo, pois
convida os alunos a experimentar seus conceitos e validá-los perante situações inesperadas.
87
Analisando a obra de Perrenoud percebemos que o maior problema reside na implantação do
planejamento curricular por competências, pois o problema está na articulação e na definição
das melhores práticas para que tais estratégias tenham sucesso dentro do contexto escolar.
O engajamento dos atores envolvidos na gestão escolar, a possibilidade da experimentação e o
investimento em recursos apropriados para a mudança do currículo por conceito para um
currículo por competências são ainda restrições que retardam a implantação deste tipo de
prática.
Como ressaltamos anteriormente neste trabalho, solução existe. Desta forma, descreveremos a
seguir uma metodologia elaborada pelo Ministério da Educação, através da Secretaria de
Educação Média e Tecnologia, para a elaboração de um planejamento de currículos por
competências.
Metodologia Adaptada para Planejamento de Currículo por Competências
Evidentemente que existem problemas de toda ordem numa instituição de ensino para a
implantação de um currículo por competências.
Este documento, apresentado pela Coordenação Geral de Educação Profissional, e adaptado
de forma rudimentar para servir de ilustração aos propósitos deste trabalho, é um método que
bem trabalhado pode contribuir para a obtenção de respostas e decisões para a elaboração do
planejamento curricular por competências.
Logo, apresentaremos a seguir os tópicos deste roteiro que se corretamente respondido poderá
suportar o início de uma discussão sobre a proposta de uma abordagem por competências.
88
A. DA PROFISSÃO
A.1 Compreender a legislação vigente da LDB que regulamenta a profissão a partir
dos decretos, pareceres e resoluções específicas.
A.2 Se existir, compreender a legislação da profissão.
A.3 Pesquisar a existência de instituições reguladoras da profissão.
A.4 Definir as competências laborais da profissão a partir da legislação, das demandas
e das entidades reguladoras.
A.5 Analisar cenários e tendências da profissão.
A.6 Quais os conhecimentos e habilidades, gerais e específicas, da profissão?
A.7 Quais as competências necessárias para o exercício da profissão?
A.8 Quais áreas possuem interseção direta ou indireta com esta profissão?
A.9 Quais as subfunções geradas pelas ações do exercício da profissão?
A.10 Como comparar as competências requeridas para a prática da profissão com as
requeridas a partir dos referenciais curriculares nacionais?
A.11 Quais novas tecnologias surgem desta profissão ou para ela convergem?
B. DA INSTITUIÇÃO
B.1 Definir o projeto pedagógico.
B.2 Definir o perfil do aluno que se pretende formar.
B.3 Definir o estilo de aprendizagem da instituição.
89
B.4 Elaborar um plano de contingência para superar as deficiências da instituição.
B.5 Qual o perfil sócio-econômico da região onde a instituição está inserida?
B.6 Qual a implicação desta realidade na estruturação da instituição e no curso?
B.7 Existem condições mínimas necessárias para a oferta das competências exigidas
pela profissão?
B.8 O corpo docente está devidamente preparado para ofertar as competências
exigidas pela formação deste profissional?
B.9 Existe uma estratégia para integrar o aluno depois de formado no mercado de
trabalho?
B.10 Como recuperar os alunos que não atingirem os objetivos esperados?
C. DO CURSO
C.1 Definir a área foco do curso.
C.2 Quais as referências comuns proposta pelo MEC?
C.3 Qual a formação sugerida pelo MEC para a profissão?
C.4 Como este curso pode ajudar na melhoria das condições sócio-econômico-
culturais dos diversos atores envolvidos?
C.5 Quais competências serão requeridas dos alunos ingressantes e quais serão
desenvolvidas durante o curso?
C.6 Quais os conhecimentos tecnológicos, científicos e culturais que serão
apropriados, acessados e mobilizados no desenvolvimento do curso?
90
C.7 Considerando as competências a construir e as habilidade a desenvolver, quais os
critérios avaliativos a serem utilizados para compreender o desenvolvimento do aluno?
C.8 O que será aceitável para fins de certificação das competências, considerando as
exigências do mundo produtivo e da sociedade?
C.9 Existe uma estratégia para a evolução das competências estabelecidas no
planejamento do curso?
C.10 Quais as alternativas para os alunos alcançarem a formação do currículo?
C.11 Como as diversas disciplinas e matérias estão interligadas e se complementam na
definição das competências?
C.12 Como os alunos poderão exercitar as competências e habilidades exigidas na
formação curricular?
C.13 Existe a necessidade de um estágio supervisionado para a habilitação
profissional?
C.14 Qual o número máximo de alunos participantes neste processo visando garantir a
qualidade do desenvolvimento das competências e habilidades propostas no currículo?
D. DO MERCADO
D.1 O que o mercado espera da formação deste profissional?
D.2 Analisar o mercado para os egressos desta profissão.
D.3 Comparar as demandas com a realidade sócio-econômica-cultural da profissão.
D.4 Quais as competências exigidas pelas empresas para o exercício competitivo desta
profissão?
91
D.5 Qual a participação da sociedade e das empresas na definição das competências
desta profissão?
D.6 Como os atores externos podem participar ativamente da construção,
acompanhamento e avaliação do curso proposto?
D.7 Como as outras instituições estão organizadas para a formação desta profissão?
D.8 Quais as condições e os custos ofertados pelas outras instituições?
A partir do levantamento destes tópicos podemos criar uma matriz referencial de
competências visando uma melhor compreensão das demandas, das ofertas e dos resultados
esperados e necessários para o pleno desenvolvimento do planejamento pedagógico da
instituição.
4.2 MAPEAMENTO E CARTOGRAFIA
Desde os primórdios da civilização o homem transita pelos territórios investigando,
identificando oportunidades e formando comunidades que assegurem a preservação da
espécie humana, procurando também expandir os seus limites.
Esta tarefa de descoberta exige além de saberes fundamentais como localização, sentido e
distância a constituição de guias, rotas ou mapas que permitam organizar a expedição, bem
como a previsão dos estoques de suprimentos necessários para completar a tarefa, sem que
haja qualquer tipo de perda ou sacrifício. Deve saber dimensionar e provisionar demandas.
Logicamente, com um mapa em mãos o explorador poderá além de seguir em frente voltar ao
ponto de origem, podendo analisar se suas previsões estavam corretas ou necessitam de
92
ajustes, refazendo quantas vezes precisar o trajeto novamente. Com isto fará o refinamento
dos dados e informações adquiridas com a experiência, gerando com o tempo o conhecimento
sobre o território.
Após acumular este conhecimento, sua próxima missão seria compartilhá-lo com a
comunidade, tornando público e coletivo tudo que descobriu, aprendeu e as oportunidades que
encontrou. Ou seja, criar a sua história.
Em seguida a comunidade passa a questionar-se: Vale a pena mudarmos para este novo
espaço descoberto? Teríamos com esta mudança melhores condições de sobrevivência e
crescimento da comunidade?
Evidentemente que qualquer ação desta magnitude implicaria na análise de um grande
número de fatores que se organizados e registrados corretamente permitiriam um melhor
cruzamento de informações, minimizando o risco da decisão.
Além da necessidade de registrá-los, estes dados precisam fazer algum sentido na análise
decisória para que com o tempo possam gerar mais conhecimento.
Este processo passa a fazer parte da identidade da comunidade, permitindo a sua
identificação, cristalizando-se e multiplicando-se a cada geração.
O termo cartografia foi utilizado aqui para servir de analogia com os princípios de mapas de
localização utilizados para que o navegador pudesse em tempo corrigir o caminho e alcançá-
lo dentro dos prazos estabelecidos pelo desafio da exploração, e o conceito proposto para o
mapeamento de competências.
Toda esta narrativa tem relação semelhante com o processo de ensino-aprendizado,
essencialmente naquilo que consideramos objetivos educacionais.
93
Um mapa pode ser utilizado tanto pelo professor como pelo aluno para o reconhecimento dos
hiatos de conhecimento numa determinada área do saber. No nosso caso, no ensino da Física.
O professor explora, registra e compartilha aquilo que descobre e aprende com o tempo,
valendo-se sempre da observação e da pesquisa como ferramentas cartográficas. As fontes
bibliográficas e a Internet, também são mapas disponíveis de conhecimentos, formando um
processo contínuo de aprendizado coletivo a partir de hiperlinks.
Somente não podemos esquecer que do outro lado da sala de aula, paradigma que felizmente
já foi desmontado com as novas propostas pedagógicas democráticas, está o aluno,
receptáculo, zelador e futuro multiplicador desses estoques de informações e conhecimentos.
São indivíduos que têm acesso aos mesmos recursos disponíveis para o professor.
Então, o que os diferencia? O que os coloca nas posições de mestre e aprendiz?
Acreditamos que depende da forma como os problemas serão apresentados e como o coletivo
irá identificá-lo e mobilizar seus conhecimentos individuais para resolvê-los. O que conta na
verdade não é o estoque de saberes e sim se existem conhecimentos pertinentes que
mobilizados individual ou coletivamente resolverão o problema apresentado.
Neste sentido o professor leva vantagem por saber articular melhor os seus conhecimentos,
criando competências pertinentes e antecipatórias. O papel do professor passa a ser de
mediador do conhecimento e facilitador do desenvolvimento das competências pelo aluno.
Mas como identificá-los e mobilizá-los?
94
4.3. AS ÁRVORES DE CONHECIMENTO
Quando tivemos contato pela primeira vez em 2001 com o conceito das Árvores de
Conhecimentos (AdCs), percebemos que a proposta de coletivização do saber abria uma
enorme gama de pesquisas e imediatamente iniciamos os primeiros passos para o
desenvolvimento deste trabalho.
Desta forma, acreditamos ser importante o esclarecimento dos conceitos das AdCs para que
percebamos as devidas interseções com a ferramenta de mapeamento de competências
curriculares aqui apresentadas.
Conforme LAFER (2001), no início da década de 90 o filósofo Michel Sérres recebeu da
ministra Edith Cresson a missão de pensar e propor uma solução para o combate da exclusão
social, do fracasso escolar e do desemprego na França. Para isso, na parte da tecnologia,
contou com a ajuda de Pierre Lévy e Michel Authier no desenvolvimento de um programa
que pudesse reconhecer, visualizar e contextualizar os diversos saberes existentes nas escolas
francesas. O resultado desta participação deu origem ao conceito e ao programa das Árvores
de Conhecimento.
O ponto inicial para a elaboração do programa foi a necessidade de se reconhecer que a
marginalização social estava diretamente associada com o fracasso de reconhecermos a
importâncias dos saberes individuais em um coletivo e que o incentivo na troca destes
conhecimentos ajudaria a contornar tal problema.
Desta forma, é importante que reconheçamos que a diversidade dos saberes individuais,
minoria dos saberes em uso, e outros ofertados pelas instituições de ensino, permitem a
diminuição dos espaços não explorados de conhecimentos existentes nas várias áreas do
conhecimento.
95
É neste sentido que as Árvores de Conhecimentos (AdCs) foram idealizadas. Visam tratar os
estados das competências a partir de um instrumento de cartografia dos saberes coletivos. Não
é uma cartografia estática, mas dinâmica, que afere o valor da articulação de diferentes
estados. Permite a visualização entre aquilo que o indivíduo sabe-fazer e disponibiliza, aquilo
que o coletivo demanda num certo contexto e as possibilidades de aprimoramento das
riquezas deste conjunto.
Dentro dos princípios da AdC cinco abordagens são pontuais:
Registro das competências individuais;
Registro das demandas coletivas;
Sinergia entre oferta e demanda;
Identificação e articulação do saber-fazer;
Aprimoramento das competências coletivas.
As AdCs utilizam duas formas gráficas para apresentar o resultado desta cartografia:
um sistema de cores e posição poligonal formando áreas aproximadas que permite
identificar os saberes com maior incidência no coletivo e a relação com as fontes
textuais de demandas explicitadas pela comunidade;
a freqüência que estes saberes aparecem nas demandas.
96
Figura 11 – Árvore de Conhecimentos no formato tradicional
A outra forma aparece no formato de ilha onde a relação de proximidade das áreas coloridas
evidencia as competências existentes naquele coletivo e sua localização.
Figura 12 – Árvore de Conhecimentos no formato de ilha
A forma da árvore, igualmente, também nos instrui acerca da situação dos conhecimentos da
comunidade, onde os galhos marcam as diferenças de percursos de saber, enquanto o tronco
aponta os elementos mais compartilhados.
97
Na verdade, além da visualização da sinergia entre as competências e as demandas
percebemos as discrepâncias e espaços não articulados de atendimento das necessidades
coletivas.
As AdCs apresentam um mapa do território do conhecimento. Porém, conforme Alfred
Korzybski, que fundou o estudo da Semântica Geral, resume o conceito simplesmente
declarando que, "O mapa não é o território".
A primeira versão mais conhecida da AdCs foi o Gingo, que calculava por proximidade das
palavras estes relacionamentos num conjunto de textos ou base de dados, tomando por base o
conceito do Paradoxo de Condorcet, que determina que existe uma disjunção entre as
preferências do grupo e as preferências individuais.
O Gingo criava listas ordenadas dos saberes compartilhados atribuídos para cada indivíduo e a
classificação por importâncias naquela comunidade. Este processo apresenta um benefício,
porque mesmo que apenas um indivíduo seja detentor de um determinado conhecimento, ele
figurará com clareza na imagem da AdC, tornando possível o reconhecimento da
singularidade de cada percurso de saber, bem como oferecendo uma visão panorâmica dos
conhecimentos da comunidade.
A função dos atores neste processo de descoberta e sinergia define as seguintes atribuições:
INDIVÍDUO: portador dos conhecimentos representados na árvore pelos polígonos
que a compõe;
EMPREENDEDOR: aloca e propõe o uso, que mobiliza os conhecimentos
disponibilizados pelos indivíduos;
FORMADOR: quem interage e propõe caminhos de formação para estes
conhecimentos, trabalhando com as ofertas e demandas dentro do contexto.
98
Conforme LAFER (2001),
"Se tomarmos como exemplo o universo de uma escola, os indivíduos podem ser os
alunos com seus conhecimentos representados na árvore. Os empreendedores podem ser
uma feira de ciências que aloca esses conhecimentos ou um trabalho que deve ser
preparado. Já o formador pode ser a própria estrutura do ensino". (p5)
A vantagem do conceito das AdCs é que permite reconhecer as competências existentes,
mobilizá-las adequadamente e de forma rápida, permitindo que em tempo hábil e competitivo
a identificação dos diferenciais positivos e negativos dos conhecimentos dentro de uma
comunidade de aprendizagem.
O aluno deixa de ser identificado apenas pelo seu diploma e passa a condição de portador de
um perfil múltiplo de conhecimentos (brevês), podendo ainda a partir da visualização das
necessidades e dos conhecimentos de uma comunidade desenvolver de forma autônoma o seu
percurso de aprendizagem proporcionando uma maior implicação e motivação no seu
aprendizado.
Para AUTHIER (1996):
"De uma certa maneira as AdC são um meio de falar dos problemas que encontram os
homens e as mulheres e de seus esforços para tentar resolvê-los. Se tivéssemos que reter
apenas uma idéia acerca das AdC, seria esta aqui: é um instrumento que procura
facilitar ao máximo os esforços que fazem as pessoas para resolver os problemas com os
quais se defrontam. Estes problemas, nós os veremos, são múltiplos e são também
muito ligados à evolução de nossas sociedades e das tecnologias que acompanham esta
evolução.
99
Uma AdC é portanto um instrumento, no sentido do instrumento musical. Com isto
quero dizer que as AdCs não respondem sozinhas aos problemas, assim como um piano
não tocará sozinho uma música. Quando você compra uma AdC, você compra um
aparelho de som, mas um violão ou um piano. Isto significa que serão necessárias
partituras, compositores para inventar estas partituras e por fim intérpretes. Quanto
melhor for o intérprete, mais valerá a pena ter um bom instrumento. Não nos
enganemos: o resultado obtido dependerá da qualidade do piano mas também (e
provavelmente) da qualidade da música e do intérprete. Portanto, as AdCs
acompanharão melhor as pessoas que as usarem com inteligência, e particularmente
aqueles que o farão na perspectiva de uma inteligência coletiva. Claro, se esses
instrumentos caem nas mãos de pessoas que fazem qualquer coisa, que neles
introduzem qualquer tipo de partitura, teremos uma bela cacofonia; uma cacofonia que
não estará necessariamente ligada aos instrumentos em si. Se introduzirmos qualquer
coisa, a interpretamos de qualquer jeito e o resultado disto é qualquer nota, isto é uma
prova da qualidade do instrumento. Desconfie das ferramentas que dão bons resultados
quando você coloca qualquer coisa dentro: provavelmente são ferramentas falsas". (p1)
...
"O princípio humano, filosófico e ético que está por trás das AdCs é que a única forma
de dar sentido a algo é escutar o sentido que cada um dá àquilo que ele conhece 'disto'".
(p2)
De acordo com AUTHIER (1996) as AdCs devem respeitar as seguintes finalidades:
100
Capitalização
Identificação do potencial que os saberes podem oferecer uns aos outros. Tem um sentido
diferente da acumulação da informação ou mesmo do conceito de estoque de conhecimentos.
Ocorre que na prática você nunca retira mais do que aquilo que colocou no estoque, mas
colabora com a criação de sinergias que serão certamente transformadas em conhecimentos.
Sinergias somadas podem produzir inovações através de uma dinâmica nas pequenas
acumulações existentes neste estoque. Fica evidente então que nunca haverá valor na
competência se esta encontrar-se isolada.
Implicação
A interação entre os indivíduos faz surgir uma nova forma, um novo sentido para qualquer
produção coletiva. Havendo qualquer mudança no produto coletivizado conseqüentemente o
produto sofrerá uma transformação. Voltamos então à teoria da ordem implicada, oriunda da
participação de cada indivíduo no resultado do produto coletivo. Na linguagem popular
significaria "um por todos e todos por um". Após esta construção coletiva seria importante
identificarmos as contribuições individuais, o que às vezes não ocorre. A importância deste
aspecto é que podemos minimizar o paradigma da individualização, do falso "eu que fiz".
Exige que o coletivo aceite a força transformadora da sinergia e entenda a importância do
outro para a sua existência, pois você somente se percebe como sujeito enquanto o outro
existir. Na ausência do outro mudamos obrigatoriamente.
101
É neste momento que surgem as armas contra a exclusão, tendo em vista que tal fenômeno
está ligado ao fato do não reconhecimento da importância do outro no processo de
coletivização. Talvez por isso exista a necessidade da certificação, para que possamos obter a
racionalização da prática e da validação participativa no processo, de tal forma que
enobreçam certo número de saberes.
Mas, este fato pode também impedir, involuntariamente, o reconhecimento de outro número
de saberes que seriam também importantes para a identidade das pessoas.
Mutualização
A mutualização está na origem da pedagogia, praticamente exposta no Menon de Platão,
quando afirma que ofertar o saber a alguém é simplesmente fazê-lo descobrir em si mesmo
um saber que ali se encontrava de forma latente. É o conceito de redes de trocas recíprocas de
saberes. Um exemplo interessante é a comunidade Linux. Por vezes a condição social ou civil
do indivíduo inibe o encontro para que a troca dos saberes ocorra. Na escola tradicional, esta
que ficamos sentados ouvindo o professor dissertar sobre o quanto ele entende daquele
assunto, forma na verdade aprendizes passivos. Estão sentados absurdamente próximos mas
não podem conversar, trocar informações, percepções, observações. Estão presentes
diariamente num mesmo espaço de saber e não podem circular livremente neste espaço.
Confinados aos limites de suas carteiras ou mesas com computadores. A única solução é a
virtualização deste espaço (ciberesapaço).
Ciberespaço de acordo com MOURA (2001) “seria um espaço das interações entre
conhecimentos e os membros dos coletivos inteligentes, não fixados em territórios ou status”.
(p5)
102
Para LÉVY (1999) existem quatro espaços antropológicos: espaço da terra (linguagem,
técnica, religião); espaço do território (endereço, instituições); espaço da mercadoria (fluxo de
energia, matéria prima, mercadorias, capitais, mão de obra, informações); e espaço do saber
(evolução do conhecimento, produção do conhecimento, aprendizagem, saber-fazer,
competências).
"Nessa perspectiva, o ciberespaço tornar-se-ia o espaço móvel das interações entre
conhecimentos e conhecedores de coletivos inteligentes desterritorializados". (p29)
...
"O ciberespaço poderá se tornar um meio de exploração dos problemas, de discussão
pluralista, de evidências de processos complexos, de tomada de decisão coletiva e de
avaliação dos resultados o mais próximo possível das comunidades envolvidas". (p61)
Porém, retomando ao processo de mutualização é importante lembrar a estreita relação com as
idéias de Célestin Freinet (1896-1966), pedagogo francês que acreditava que o sucesso do
aprendizado estava na cooperação.
Acreditava que a educação deveria proporcionar ao aluno a realização de um trabalho real.
Sua prática pedagógica enfatizava que "ninguém avança sozinho em sua aprendizagem, a
cooperação é fundamental". Investigou a respeito de como as crianças pensavam e construíam
seus conhecimentos. Sua bandeira era a de que a aprendizagem através da experiência se faz
mais eficaz, porque se o aluno faz um experimento e dá certo, provavelmente ele o repetirá e
avançará no processo de aprendizado. Porém, não avança sozinho, precisa da cooperação do
professor.
Neste sentido, defendia a tese de que para ocorrer à sintonia e a interação positiva entre
professor-aluno os conhecimentos já existentes dos alunos deveriam ser considerados, bem
103
como o ambiente no qual estavam inseridos. O contato com a realidade do aluno é
fundamental para a consolidação do aprendizado e do desenvolvimento do prazer de aprender.
Freinet utilizava a troca de correspondências, trabalhos em grupo, aula-passeio e o
desenvolvimento de jornais escolares como prática pedagógicas para o desenvolvimento
pleno do aluno. Ressaltava, também, que o professor deveria considerar os aspectos políticos
e sociais ao redor da escola para que possa formar um ser social que atue no presente.
Para ajudar no ensino, Freinet comprou um tipógrafo e imprimia textos livres e jornais de
classe para seus alunos. As crianças colaboravam na composição dos trabalhos, discutindo e
editando-os em pequenos grupos, antes de apresentarem o resultado da classe. Estes jornais
eram trocados com outras escolas e gradualmente começaram a substituir os textos didáticos
convencionais.
Por causa desta iniciativa, Freinet foi exonerado de suas funções em 1935, pois o seu método
de ensino divergia da política oficial de educação nacional e causavam um clima de
desconfiança, principalmente pelo grande número de correspondências trocadas entre os
alunos.
Esta prática didático-pedagógica focada no trabalho visa desenvolver o pensamento lógico e
reflexivo para se alcançar a capacidade de abstração, pois executando uma atividade que
envolva o aluno automaticamente o ambiente se torna disciplinado.
É importante frisar que Freinet propunha uma escola criativa e libertadora, voltada
principalmente para as questões e condições concretas que envolviam seus alunos.
LÉVY (2001) dá um exemplo muito interessante de um projeto desenvolvido entre 1994 e
1995 e sustentado pela União Européia utilizando as Árvores de Conhecimentos.
104
Participaram deste projeto cinco universidades: Aarhus na Dinamarca, Siena na Itália,
Limerick na Irlanda, Lancaster na Inglaterra e Genebra na Suiça.
"O projeto, batizado de Nectar (Negociating European Credit Transfer and
Recognition), visava facilitar a circulação dos estudantes na Europa pela construção
cooperativa de um sistema comum de reconhecimento de saberes. Com efeito,
atualmente é difícil de estabelecer as equivalências entre diplomas europeus, e mais
ainda entre diplomas de anos, semestres ou módulos diferentes. A providência tomada
foi a seguinte. Demos um certo número de brevês a cada um dos cursos ministrados
pelos departamentos universitários dos cinco países. Esses brevês correspondiam às
competências normalmente adquiridas pelos estudantes que tivessem seguido o ensino
com sucesso. A 'tradução' dos cursos em brevês, proposta pela equipe internacional do
projeto, foi aprovada, e às vezes modificada, pelo conjunto dos professores
participantes. Passávamos assim de uma lógica do ensino a uma abordagem em termos
de competências adquiridas pelos estudantes. Uma parte da dificuldade vinha dos
recortes disciplinares, dos títulos dos cursos e de seus conteúdos que eram diferentes
nas universidades participantes do projeto, mas a linguagem da descrição de
competências em forma de brevês (mais fina, mais microscópica que aquela dos cursos)
deveria ser a mesma em todos os lugares. De maneira surpreendente este objetivo foi
atingido sem grandes problemas, particularmente graças ao uso de uma conferência
eletrônica em linha ligando todos os parceiros. Uma vez realizada a transposição de
cursos em brevês, foi fácil fazer crescer as Árvores de Conhecimentos das universidades
a partir dos registros dos resultados de seus estudantes. A árvore de cada uma das
universidades poderia ser visualizada independentemente, mas uma 'grande árvores'
reunia os estudantes das cinco instituições. Assim cada estudante podia: comunicar-se
com outros estudantes em função de seu perfil de competências e dos cursos que eles
105
tinham seguido; observar sua posição pessoal na árvore comum; determinar o perfil da
competência suplementar que ele desejava adquirir; consultar em tempo real a descrição
de todos os cursos (das cinco universidades) que o permitiriam mais facilmente
aproximar-se do perfil que ele visava. Nota-se que o estudante é levado primeiramente a
perguntar-se sobre as competências que ele deseja adquirir (ajudado nisto pela árvore) e
em seguida a consultar somente as informações sobre os cursos que ele poderá seguir
para adquirir suas competências. É com conhecimento de causa que ele pode escolher
por exemplo, ir para Siena ou Aarhus, ou continuar em Lancaster no semestre seguinte.
As mensagens eletrônicas permitem que ele possa obter informações de primeira mão
através de estudantes que seguiram os cursos em outras universidades. O estudante pode
então preparar sua viagem, visualizando a posição que terá seu brasão na universidade
que o receberá. Os brasões dos estudantes geralmente têm uma posição 'normal' na
árvore da sua universidade de origem, mas 'excêntrica' na árvore da universidade que o
recebe, à qual eles freqüentemente trazem novas competências. Durante este projeto a
equipe pôde medir até que ponto as noções de pré-requisito são relativas. Por exemplo,
nas universidades de tradição intelectual anglo-saxã, os brevês que assinalaram as
competências teóricas ou históricas geralmente estão no alto da árvore (adquiridas
tardiamente no curso), sendo que as habilidades práticas e os estudos de caso situam-se
sobretudo nos troncos (adquiridas no início do curso). As posições respectivas de brevês
correspondentes a estas competências estavam invertidas nas árvores de tradição
intelectual 'latina'. Uma das principais vantagens da abordagem validada projeto Nectar
é o efeito de não-compartimentalização internacional e de otimização dos recursos
universitários. A mesma linguagem (os brevês assinalado as competências) é utilizada
em todos os lugares, mas a especificidade de cada meio cultural e institucional é
respeitada, pois cada universidade faz crescer uma árvore diferente, refletindo a
106
originalidade de sua organização dos saberes. A mobilidade é encorajada. Cada
estudante pode passar de uma coletividade a outra, de um país a outro, conservando
sempre a mesma lista de brevês que define suas competências: esta lista (eventualmente
enriquecida por experiências sucessivas) automaticamente terá, em cada árvore, uma
forma e um valor diferentes". (p3)
Este projeto teria grande utilidade para a mobilização entre departamentos de uma mesma
instituição, como relata LÉVY (2001):
"O que foi feito em um projeto internacional agrupando cinco países pode ser realizado
a priori em um só país ou ainda mais facilmente, no interior de uma universidade, com
os mesmos efeitos de visibilidade global, de otimização de recursos, de não
compartimentação, de incitação às cooperações transversais e à mobilidade. É possível
igualmente adicionar ao brasão dos estudantes as competências oriundas da sua
experiência social ou profissional, conectar empregadores nas árvores das universidades
etc. As escolas de comércio, os estabelecimentos de pesquisa e ensino superior,
compreenderam isto e optaram pelas Árvores de Conhecimentos". (p4)
Com o tempo e com a mobilização destes esquemas cognitivos professores e alunos estarão
aptos na geração de mais conhecimento. Este processo é que dá sentido a palavra “saber” e ao
conceito de “coletivos inteligentes”.
107
4.4 INTELIGÊNCIA COLETIVA
Outro referencial teórico importante para a melhor compreensão da proposta deste trabalho é
o conceito de Inteligência Coletiva.
O termo, cunhado por LÉVY (1999) é definido da seguinte forma:
"É uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada
em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências". (p28)
COSTA (2001) complementa o conceito:
“A Inteligência Coletiva não é portanto a fusão das inteligências individuais numa
espécie de magma comunitário mas, ao contrário, a valorização e a reativação mútua
das singularidades". (p2)
Percebemos que atualmente as estruturas sociais estão organizadas sob a demanda da
ignorância e da falta de qualidade nas informações que chegam para os indivíduos,
pressupondo que sem um governo, uma regra, uma fundamentação política-social, não se
produz ou compartilha conhecimento. Parte-se da premissa que sinergias transversais são
impossíveis do ponto de vista de uma iniciativa coletiva. Um erro na vida globalizada,
diversificada e multifacetada. As tecnologias da comunicação oferecem um arsenal de
caminhos possíveis para a construção de redes sociais imediatas. Em suma, estas amarras
inibem as cooperações.
COSTA (2001) corrobora:
“É, portanto, a falta de dispositivos e ferramentas que contribui fortemente para o baixo
índice de cooperação e troca de saberes entre os indivíduos, e não um suposto
individualismo intrínseco ao ser humano. Sendo assim, acreditar na inteligência coletiva
108
é acreditar que seja possível a criação de um 'espaço do saber'. Um tal 'espaço' só pode
assumir sua plena significação quando houver um exercício próprio que 'ponha em
comum' os saberes e as competências as mais diversas de uma comunidade qualquer. A
construção do 'espaço do saber' implica então em disponibilizar toda forma de
conhecimento para cada um e para todos simultaneamente". (p2)
Evidentemente não acreditamos que haja uma proposta de individualismo intrínseco, mas que
a tecnologia cria uma dicotomia entre o isolamento físico, não presencial, ao mesmo tempo
em que permite a ruptura das fronteiras da comunicação. Mas, a linguagem é a tecnologia que
une, que permite reconhecer o outro, seus princípios, suas escolhas, sua personalidade, ou
seja, suas competências. Linguagem não apenas verbal, mas corporal, natural, compreendida
aqui num espectro mais amplo.
Podemos então a partir da obra de Lévy levantar algumas hipóteses da Inteligência Coletiva:
velocidade de evolução dos saberes: a tecnologia trouxe velocidade na
contextualização e relações científicas.
necessidade de aprender: o valor de troca e inserção social deixa de ser medido
somente pelo capital financeiro e passa a ter valor o capital intelectual e a abrangência
cultural. Processo de globalização.
surgimento de novas tecnologias: o impacto da Internet nas relações sociais.
Quanto maior a diferença dos saberes maior a possibilidade de enriquecer-se. Ou seja, o outro
deixa de ser um inimigo e passa a ser um caminho para mais conhecimento. Esta talvez seja
uma das dificuldades de se fazer trabalhar diversos agentes juntos. O conflito de interesses na
verdade não deve ser visto como uma ameaça e sim como uma oportunidade de aprendizado.
Se um agente não tem os conhecimentos necessários para executar suas atividades, deve
109
reconhecê-lo e solicitar que outro agente o auxilie. Este processo na prática é recriminado em
empresas altamente competitivas. Desta forma, um alerta para o sucesso do uso de agentes
inteligentes em ambientes competitivos pode ser um fator limitador na busca por bons
resultados.
Para Lévy o conceito de Inteligência Coletiva está fixado nos seguintes itens:
Uma inteligência distribuída por toda parte;
Uma inteligência incessantemente valorizada;
Coordenação das inteligências em tempo real;
Atingir uma mobilização efetiva das competências.
Lévy defende a tese de que para atingirmos o reconhecimento das competências e mobilizá-
las para a melhoria dos processos devemos valorizar todos os conjuntos de inteligências
existentes, distribuindo-as por toda a parte. Isto significa reconhecer que existe mais de uma
inteligência. O que GARDNER (1994) apresenta como a teoria das “Inteligências Múltiplas”:
visual-espacial, musical, verbal, lógico-matemática, interpessoal, intrapessoal, corporal-
sinestésica. Desde a publicação do trabalho inicial Gardner propôs duas novas dimensões de
inteligência: naturalista e existencialista.
Lévy considera que no momento que agrupamos as pessoas suas identidades são perdidas em
nome de uma massificação do coletivo. As competências individuais não são consideradas
para efeito de organização e composição dos interesses coletivos. Seria uma ambigüidade
entre a homogeneização e a heterogenia. Quanto mais heterogêneo mais perdemos as
características coletivas. Porém, ganhamos na alavancagem do conhecimento. Ou seja,
arriscamos a cultura, mas evoluímos no conhecimento humano.
110
Lévy também levanta a questão da geografia física e desterritorialização. Na rede os limites
são estabelecidos pelas conexões abertas ou fechadas. A formação de grupos sociais dá-se
sem a preocupação com fronteiras geográficas. Não existe mais a mão do Estado nas
organizações e estruturações das leis de como as pessoas ou os grupos devem comportar-se.
“Como deve ter ficado claro, a inteligência coletiva não é um conceito exclusivamente
cognitivo. Inteligência deve ser compreendida aqui como na expressão 'trabalhar em
comum acordo', ou no sentido de 'entendimento com o inimigo'". (1999, p26)
Conforme relata MOURA (2001):
“Seu axioma: 'Ninguém sabe tudo, todos sabem alguma coisa, todo o saber está na
humanidade. Não existe nenhum reservatório de conhecimento transcendente, e o saber
não é nada além do que o que as pessoas sabem'". (p4)
Existiria uma diferença entre Inteligência Coletiva e Coletivos Inteligentes?
Sim. Para que existam coletivos inteligentes deve primeiramente haver uma inteligência
coletiva.
111
5 COMPETÊNCIAS CURRICULARES
5.1 COMPETÊNCIAS CURRICULARES DA ENGENHARIA E DA FÍSICA
O Ministério da Educação, através do Conselho Nacional de Educação e Câmara de Educação
Superior, edita pareceres denominados Diretrizes Nacionais Curriculares, quem têm por
finalidade definir as competências e habilidades necessárias para a formação nos diversos
cursos superiores, bem como o perfil desejado para o exercício pleno da profissão.
Faremos então, com base nestes pareceres, uma breve citação das descrições de competências
e habilidades para que sirvam de referencial ao processo de simulação proposto neste
trabalho.
Iniciaremos pelo curso de Engenharia e posteriormente da Física.
Da formação do Engenheiro: Parecer CNE/CES 1.362/2001 aprovado em 12/12/2001
Conforme o documento do MEC, o grande desafio na formação do Engenheiro é a percepção
da necessidade de formação globalizante, tendo em vista o cenário mundial que utiliza
intensamente a ciência e a tecnologia como ferramentas para o estabelecimento pleno da
qualificação profissional.
Para isto, o Engenheiro precisa desenvolver capacidades de coordenar informações, interagir
com pessoas e interpretar de maneira dinâmica a realidade que o cerca.
112
“O novo engenheiro deve ser capaz de propor soluções que sejam não apenas
tecnicamente corretas, ele deve ter a ambição de considerar os problemas em sua
totalidade, em sua inserção numa cadeia de causas e efeitos de múltiplas dimensões."
Para atender estas demandas, o engenheiro precisa:
desenvolver a capacidade de coordenar informações;
aprender a interagir com as pessoas;
interpretar de maneira dinâmica a realidade;
capaz de propor soluções considerando os problemas em sua totalidade.
Conforme o próprio documento do MEC ressalta, estas reformas não têm sido inteiramente
bem sucedidas, porque os cursos existentes continuam privilegiando a acumulação de
conteúdos como forma de garantir a formação plena de um bom profissional.
O parecer esclarece, também, quais os objetivos e tendências devem ser consideradas pelas
IES na formação do Engenheiro:
cursos com estruturas flexíveis;
possibilidade de escolha da área que se quer atuar;
articulação permanente com o campo de atuação profissional;
base filosófica com enfoque na competência;
abordagem pedagógica centrada no aluno;
ênfase na síntese e na transdisciplinaridade;
preocupação com a valorização do ser humano;
preservação do meio ambiente;
113
integração social e política;
forte vinculação entre teoria e prática.
O conceito de grade curricular que formaliza a estrutura de um curso de graduação, de acordo
com a proposta de Diretrizes Curriculares, deve ser substituída por um conjunto de
experiências de aprendizado que valorizem uma sinergia entre os estudantes.
Desta forma, a compreensão do currículo vai além das atividades convencionais de sala de
aula e deve considerar atividades complementares, tais como:
iniciação científica e tecnológica;
programas acadêmicos amplos;
programas de extensão universitária;
visitas técnicas;
eventos científicos;
atividades culturais, políticas e sociais.
O perfil dos egressos de um curso de Engenheira deve compreender uma sólida formação
científica que permita ao aluno absorver e desenvolver novas tecnologias, estimulando a sua
atuação crítica e criativa na identificação e resolução de problemas. Porém, deve
concomitantemente considerar os aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientas e
culturais, a partir de uma postura ética e humanista.
Então, quais seriam as competências e habilidades necessárias para a formação do
Engenheiro? Conforme o MEC:
Aplicar conhecimentos matemáticos, científicos, tecnológicos e instrumentais à
engenharia;
114
Projetar e conduzir experimentos e interpretar resultados;
Conceber, projetar e analisar sistemas, produtos e processos;
Planejar, supervisionar, elaborar e coordenar projetos e serviços de engenharia;
Identificar, formular e resolver problemas de engenharia;
Desenvolver e/ou utilizar novas ferramentas e técnicas;
Supervisionar a operação e a manutenção de sistemas;
Avaliar criticamente a operação e a manutenção de sistemas;
Comunicar-se eficientemente nas formas escrita, oral e gráfica;
Atuar em equipes multidisciplinares;
Compreender e aplicar a ética e responsabilidade profissionais;
Avaliar o impacto das atividades da engenharia no contexto social e ambiental;
Avaliar a viabilidade econômica de projetos de engenharia;
Assumir a postura de permanente busca de atualização profissional.
Além disso, dentro deste complexo cenário de condições e qualificações necessárias, o
Engenheiro seguirá um programa curricular estruturado da seguinte forma:
Núcleo de conteúdos básicos (30%): metodologia científica, comunicação e
expressão, informática, expressão gráfica, matemática, física, fenômenos de
transporte, mecânica dos sólidos, eletricidade aplicada, química, ciência e tecnologia
dos materiais, administração, economia, ciências do ambiente, humanidades, ciências
sociais e cidadania;
115
Núcleo de conteúdos profissionalizantes (15%): algoritmos e estrutura de dados,
bioquímica, ciência dos materiais, circuitos elétricos, circuitos lógicos, compiladores,
construção civil, controle de sistemas dinâmicos, conversão de energia,
eletromagnetismo, eletrônica analógica e digital, engenharia do produto, ergonomia e
segurança do trabalho, estratégia e organização, físico-química, geoprocessamento,
geotécnica, gerência de produção, gestão ambiental, gestão econômica, gestão de
tecnologia, hidráulica, hidrologia aplicada e saneamento básico, instrumentação,
máquinas de fluxo, matemática discreta, materiais de construção civil, materiais de
construção mecânica, materiais elétricos, mecânica aplicada, métodos numéricos,
microbiologia, mineralogia e tratamento de minérios, modelagem, análise e simulação
de sistemas, operação unitárias, organização de computadores, paradigmas de
programação, pesquisa operacional, processos de fabricação, processos químicos e
bioquímicos, qualidade, química analítica, química orgânica, reatores químicos e
bioquímicos, sistemas estruturais e teoria das estruturas, sistemas de informação,
sistemas mecânicos, sistemas operacionais, sistemas térmicos, tecnologia mecânica,
telecomunicações, termodinâmica aplicada, topografia e geodésia, transporte e
logística;
Núcleo de conteúdos específicos: conhecimentos científicos, tecnológicos e
instrumentais.
Deve ainda, para completar plenamente o curso realizar um estágio supervisionado pela
instituição através de relatórios técnicos e de acompanhamento individualizado com duração
de 160 horas.
116
Da formação do Físico: Parecer CNE/CES 1.304/2001 aprovado em 06/11/2001
O Físico deve desenvolver sólidos conhecimento e estar constantemente atualizado com
relação às descobertas científicas da sua área. Deve ser capaz de abordar e tratar problemas
em aberto e tradicionais, procurando sempre identificar e propor novas formas do saber e do
fazer científico e tecnológico.
Sua postura deve ser investigativa, respeitando as diferentes formas e objetivos do seu
trabalho.
Na visão do MEC, o Físico pode optar por seguir as seguintes áreas profissionais:
Físico – pesquisador: ocupa-se preferencialmente de pesquisa, básica ou aplicada, em
universidades e centros de pesquisa. Esse é com certeza, o campo de atuação mais
bem definido e o que tradicionalmente tem representado o perfil profissional
idealizado na maior parte dos cursos de graduação que conduzem ao Bacharelado em
Física.
Físico – educador: dedica-se preferencialmente à formação e à disseminação do saber
científico em diferentes instâncias sociais, seja através da atuação no ensino escolar
formal, seja através de novas formas de educação científica, como vídeos, “software”,
ou outros meios de comunicação. Não se ateria ao perfil da atual Licenciatura em
Física, que está orientada para o ensino médio formal.
Físico – tecnólogo: dedica-se dominantemente ao desenvolvimento de equipamentos e
processos, por exemplo, nas áreas de dispositivos opto-eletrônicos, eletro-acústicos,
magnéticos, ou de outros transdutores, telecomunicações, acústica, termodinâmica de
motores, metrologia, ciência dos materiais, microeletrônica e informática. Trabalha em
117
geral de forma associada a engenheiros e outros profissionais, em microempresas,
laboratórios especializados ou indústrias. Este perfil corresponderia ao esperado para o
egresso de um Bacharelado em Física Aplicada.
Físico – interdisciplinar: utiliza prioritariamente o instrumental (teórico e/ ou
experimental) da Física em conexão com outras áreas do saber, como, por exemplo,
Física Médica, Oceanografia Física, Meteorologia, Geofísica, Biofísica, Química,
Física Ambiental, Comunicação, Economia, Administração e incontáveis outros
campos. Em quaisquer dessas situações, o físico passa a atuar de forma conjunta e
harmônica com especialistas de outras áreas, tais como químicos, médicos,
matemáticos, biólogos, engenheiros e administradores.
O documento esclarece que as instituições de ensino superior devem considerar as novas
demandas formativas que vêm surgindo nas últimas décadas, como é o caso do Engenheiro
Físico. Para isso, a formação do Físico deve ser ao mesmo tempo ampla e flexível,
desenvolvendo habilidades e conhecimentos necessários para atender as diferentes
perspectivas de atuação futura.
Do ponto de vista da formação básica e das competências essenciais ressaltamos:
dominar princípios gerais e fundamentos da Física, estando familiarizado com suas
áreas clássicas e modernas;
descrever e explicar fenômenos naturais, processos e equipamentos tecnológicos em
termos de conceitos, teorias e princípios físicos gerais;
diagnosticar, formular e encaminhar a solução de problemas físicos, experimentais ou
teóricos, práticos ou abstratos, fazendo uso dos instrumentos laboratoriais ou
matemáticos apropriados;
118
manter atualizada sua cultura científica geral e sua cultura técnica profissional
específica;
desenvolver uma ética de atuação profissional e a conseqüente responsabilidade social,
compreendendo a Ciência como conhecimento histórico, desenvolvido em diferentes
contextos sócio-políticos, culturais e econômicos.
Porém, certas habilidades básicas também são importantes independente da área escolhida:
utilizar a matemática como uma linguagem para a expressão dos fenômenos naturais;
resolver problemas experimentais, desde seu reconhecimento e a realização de
medições, até à análise de resultados;
propor, elaborar e utilizar modelos físicos, reconhecendo seus domínios de validade;
concentrar esforços e persistir na busca de soluções para problemas de solução
elaborada e demorada;
utilizar a linguagem científica na expressão de conceitos físicos, na descrição de
procedimentos de trabalhos científicos e na divulgação de seus resultados;
utilizar os diversos recursos da informática, dispondo de noções de linguagem
computacional;
conhecer e absorver novas técnicas, métodos ou uso de instrumentos, seja em
medições, seja em análise de dados (teóricos ou experimentais);
reconhecer as relações do desenvolvimento da Física com outras áreas do saber,
tecnologias e instâncias sociais, especialmente contemporâneas;
apresentar resultados científicos em distintas formas de expressão, tais como
relatórios, trabalhos para publicação, seminários e palestras.
119
Como as habilidades específicas dependem da área de atuação, o parecer recomenda:
o planejamento e o desenvolvimento de diferentes experiências didáticas em Física,
reconhecendo os elementos relevantes às estratégias adequadas;
a elaboração ou adaptação de materiais didáticos de diferentes naturezas, identificando
seus objetivos formativos, de aprendizagem e educacionais;
A formação do Físico não pode, por outro lado, prescindir de uma série de vivências que vão
tornando o processo educacional mais integrado. São vivências gerais essenciais ao graduado
em Física, por exemplo:
ter realizado experimentos em laboratórios;
ter tido experiência com o uso de equipamento de informática;
ter feito pesquisas bibliográficas, sabendo identificar e localizar fontes de informação
relevantes;
ter entrado em contato com idéias e conceitos fundamentais da Física e das Ciências,
através da leitura de textos básicos;
ter tido a oportunidade de sistematizar seus conhecimentos e seus resultados em um
dado assunto através de, pelo menos, a elaboração de um artigo, comunicação ou
monografia;
no caso da Licenciatura, ter também participado da elaboração e desenvolvimento de
atividades de ensino.
É importante lembrar que no parecer fica determinado que as instituições de ensino superiores
têm autonomia para definir as competências e habilidades específicas visando atender às
exigências do mercado. Estes podem ser estruturados modularmente de modo a atender os
120
perfis gerais definidos acima, porém com mudanças nos módulos dos últimos quatro
semestres do curso que atenderiam ao tipo de especialização necessária para a inserção do
formando na atividade almejada.
Achamos também oportuno considerar neste trabalho o conceito de núcleo comum
desenvolvido na LDB, o que representa aproximadamente metade da carga horária necessária
para a obtenção do diploma.
O núcleo comum é caracterizado por conjuntos de disciplinas relativos à física geral,
matemática, física clássica, física moderna e ciência como atividade humana.
Física Geral: Consiste no conteúdo de Física do ensino médio, revisto em maior
profundidade, com conceitos e instrumental matemáticos adequados. Além de uma
apresentação teórica dos tópicos fundamentais (mecânica, termodinâmica,
eletromagnetismo, física ondulatória), devem ser contempladas práticas de laboratório,
ressaltando o caráter da Física como ciência experimental.
Matemática: É o conjunto mínimo de conceitos e ferramentas matemáticas
necessárias ao tratamento adequado dos fenômenos em Física, composto por cálculo
diferencial e integral, geometria analítica, álgebra linear e equações diferenciais,
conceitos de probabilidade e estatística e computação.
Física Clássica: São os cursos com conceitos estabelecidos (em sua maior parte)
anteriormente ao Séc. XX, envolvendo mecânica clássica, eletromagnetismo e
termodinâmica.
Física Moderna e Contemporânea: É a Física desde o início do Séc. XX,
compreendendo conceitos de mecânica quântica, física estatística, relatividade e
aplicações. Sugere-se a utilização de laboratório.
121
Disciplinas Complementares: O núcleo comum precisa ainda de um grupo de
disciplinas complementares que amplie a educação do formando. Estas disciplinas
abrangeriam outras ciências naturais, tais como Química ou Biologia e também as
ciências humanas, contemplando questões como Ética, Filosofia e História da Ciência,
Gerenciamento e Política Científica, etc.
5.2 AVALIAÇÃO PARA O MAPEAMENTO
Quando iniciamos o desenvolvimento desta pesquisa necessitávamos de uma estratégia que
nos permitisse tabular as competências e habilidades dos alunos ingressantes no Ensino
Fundamental do ITA com questões pertinentes aos conceitos vistos no Ensino Básico.
Evidentemente que existem diversas formas de se fazer um levantamento de competências e
habilidades. Porém, neste caso achamos interessante privilegiar o processo de avaliação
objetiva, tendo em vista que é uma prática já conhecida pelos alunos ingressantes para medir
seu nível de conhecimento relacionado com certos assuntos das ciências exatas.
Gostaríamos de evitar qualquer especulação ou debate sobre formas ou melhores práticas
avaliativas, porque acreditamos que a nossa abordagem não invalida o estudo de caso
aplicado e não é o escopo deste trabalho.
Nosso objetivo é de cruzar as competências e/ou habilidades cadastradas no sistema de
mapeamento e posteriormente validá-las através de perguntas teóricas ou práticas.
Uma descrição mais detalhada das características do sistema será discutida adiante.
122
Existem, evidentemente, diversas propostas que analisam processos de avaliação, seus
objetivos, conseqüências, formas de apresentação de resultados, enfim, um universo de
autores e linhas de trabalhos bem distintas.
Quando pensamos em avaliar surgem diversas preocupações: Por que avaliar? Para que
avaliar? Como Avaliar? Qual a melhor abordagem? Que método utilizar? Quais os
instrumentos disponíveis?
Como referenciais teóricos citarão inicialmente BLOOM (1971) que define que o processo de
avaliação contempla as seguintes abordagens: a avaliação quantitativa e a avaliação
qualitativa.
Na Avaliação Quantitativa valorizam-se os instrumentos formais, como provas, teste, listas de
exercícios, que permitem o uso de escalas de medidas, notas e atribuição de conceitos. Seu
objetivo é a comprovação do grau em que os objetivos foram alcançados. Adota como
princípios os pressupostos éticos, epistemológicos e metodológicos do behaviorismo. Aplica
como técnica exames individuais, visando à verificação do progresso do aluno de acordo com
as suas características pessoais, exames em grupo, questionários e entrevistas, bem como
questionários de auto-avaliação.
Na Avaliação Qualitativa, os instrumentos de avaliação são contínuos e visam acompanhar e
orientar o aluno ao longo do curso. Esta continuidade na avaliação favorece a identificação de
problemas, e a orientação do processo de aprendizagem. Tem por objetivo a utilização de
parâmetros subjetivos, onde o professor avalia constantemente o aluno conforme a sua
participação nas atividades pedagógicas, seu interesse e seu nível de cooperação com os
colegas. Procura por princípio analisar os aspectos positivos do processo educativo
relacionados com as atitudes, participação nas tarefas propostas, interesse, espírito crítico,
autonomia intelectual e níveis de cooperação com os colegas. Como técnica, procura observar
123
as interações nos trabalhos em grupo e o êxito na obtenção de soluções de problemas em
grupo. Procura ainda, realizar anotações e comentários estruturados sobre o desenvolvimento
dos alunos.
Para BLOOM (1971) uma avaliação pode ser classificada de acordo com os seus propósitos a
partir de três abordagens:
Diagnóstica: que é realizada em dois momentos distintos do processo de avaliação.
Primeiramente no início da aprendizagem visando verificar se os alunos têm os
conhecimentos prévios sobre o conteúdo proposto e posteriormente ao longo do
processo de ensino na tentativa de formar grupos conforme as suas características para
melhor definir as estratégias e programas do curso;
Formativa: onde o aluno é avaliado continuamente ao longo do processo de ensino-
aprendizagem;
Somativa ou Final: são estabelecidos marcos e aplicados testes, normalmente durante
ou na conclusão do período.
ROPÉ (1997) também tangencia as definições de Bloom quando propõe que as avaliações
podem ser:
Formativa: diagnóstico durante a formação, que permite modificar, adaptar, melhorar
a ação em curso;
Acumulativa: diagnóstico que permite determinar a situação depois de um período
mais ou menos longo de formação;
Normativa: comparação do desempenho obtido por um aluno em relação ao grupo;
Com critérios: avaliação que fixa a desempenho atingido de acordo com condições e
exigências conhecidas.
124
Para efeito deste trabalho adotaremos a Avaliação Quantitativa com uma combinação das
abordagens diagnóstica, formativa e normativa.
5.3 APRENDIZAGEM COLETIVA
No contexto desta pesquisa, aprendizagem coletiva é todo o processo de aquisição,
compartilhamento e construção de um conhecimento em grupo, seja a partir de ambientes
presenciais ou virtuais.
É toda forma de socialização da informação que leve ao processo de descoberta, compreensão
e desenvolvimento do conhecimento em ambientes presenciais ou virtuais em grupo.
O processo de aprendizagem coletiva ocorre na medida em que os diversos atores
compartilham conhecimentos tácitos e explícitos através da utilização de diversas tecnologias
na relação "n-pra-n", onde "n" pode ser num dado momento aprendiz e noutro um mestre.
O que se busca, através do uso destas tecnologias da inteligência não é a transferência pura e
simples de certo domínio, mas o envolvimento dos atores no processo de construção desses
conhecimentos.
Partimos sempre da premissa que todos podem contribuir de alguma forma para o
desenvolvimento do ambiente de aprendizado, tornando-o rico e proveitoso.
Este novo espaço de saber, definido por LÉVY (1999) como um campo virtual de troca de
conhecimentos e competências, é agora a base para o processo de aquisição e
compartilhamento de conhecimentos.
125
Buscamos valorizar o indivíduo dentro de um espaço coletivo, aproveitando suas
peculiaridades e reforçando suas competências perante o grupo, sem isolá-lo a partir de
premissas falsas de capacidade, habilidade ou aptidão.
O conhecimento deixa de ser um produto e passa a ser um processo, gerenciável pelo
indivíduo e pelo coletivo, a partir de uma metacognição. Conforme RAMAL (1999),
"Estamos em 2069, num ambiente de estudo e pesquisa, antigamente chamado de 'sala
de aula'. Os aprendizes têm entre 12 e 16 anos e conversam com o dinamizador da
inteligência coletiva do grupo, uma figura que em outras décadas já foi conhecida como
'professor'. Eles estão levantando e confrontando dados sobre os Centros de Cultura e
Saberes Humanos (ou, como diziam antes, as 'escolas') ao longo dos tempos.
Admirados, não conseguem conceber como funcionava no século passado, um ensino
que reunia os jovens não em função dos seus interesses ou temas de pesquisa, mas
simplesmente por idades. O orientador de estudos lhes fala da avaliação: ela classificava
os alunos por números ou notas segundo seu desempenho e em função disso eles eram
ou não 'aprovados' para o nível seguinte. Os aprendizes ficam cada vez mais surpresos.
Como determinar 'níveis de ensino'? Como catalogar 'fases de conhecimento'? O que
seriam 'etapas escolares'? Em que nó da rede curricular eles se baseavam para
fundamentar isso? A surpresa maior se dá quando descobrem que essas avaliações ou
'provas' eram aplicadas a todos os estudantes do grupo. A MESMA PROVA? -
espantam-se todos. Não conseguem conceber uma situação em que todos tivessem que
saber exatamente os mesmos conteúdos, definidos por outra pessoa, no mesmo dia e
hora marcados. 'Eles não ficavam angustiados?' - comenta um aprendiz com outro. Os
jovens tentam se imaginar naquela época: recebendo um conjunto de questões a
resolver, de memória e sem consulta, isolados das equipes de trabalho, sem partilhar
126
nem construção coletiva. Os problemas em geral não eram da vida prática, e sim coisas
que eles só iriam utilizar em determinadas profissões, anos mais tarde. Imaginando a
cena, os aprendizes começam a sentir uma espécie de angústia, tensão, até mesmo medo
do fracasso, pânico de ficar na mesma série, de ser excluído da escola... 'Assim eu não
ia querer estudar', diz um deles, expressando o que todos já experimentam... Mas em
seguida, envolvidos por outros temas da pesquisa, o grupo inicia uma nova discussão
ainda mais interessante, e todos afastam definitivamente da cabeça aquele estranho
pensamento."
A relação entre professor, aluno, instituição e conhecimento vem sofrendo uma revisão de
conceitos pré-estabelecidos pelos modelos conexionistas, cognitivistas e humanistas.
Conforme relata MOREIRA (1999):
"A filosofia humanista vê o ser que aprende, primordialmente, como pessoa. O
importante é a auto-realização da pessoa, seu crescimento pessoal. O aprendiz é visto
como um todo - sentimentos, pensamento e ações - não só intelecto."
...
"Pensamentos, sentimentos e ações estão integrados, para o bem ou para mal. Não tem
sentido falar do comportamento ou da cognição sem considerar o domínio afetivo, os
sentimentos do aprendiz." (p16)
É incontestável afirmar que ao longo das últimas décadas várias instituições de ensino
apoiaram seus programas e métodos pedagógicos no conceito estímulo-resposta (E-R), onde
se supunha que todas as respostas (comportamentos) eram eliciadas por estímulos (condições
que levavam ao comportamento).
127
Caberia ao professor (guardião do conhecimento) repetir quantas vezes fossem necessárias as
lições, para que o aluno pudesse receber a aprovação no curso. Este método de ensino
certamente trouxe consigo uma necessidade de memorização dos temas apresentados como
ferramenta importante no processo de nivelamento da inteligência perante o grupo e a
sociedade.
Fica evidente que o professor tinha e tem um importante papel nesse processo. É aquele que
tem como tarefa desenvolver técnicas e métodos que estimulem o aluno a responder
adequadamente aos problemas dentro das verdades supostamente aceitas pela ciência e por
ele.
Conforme MOREIRA (1999),
"O papel do professor no processo instrucional é o de arranjar as contingências de
reforço, de modo a possibilitar ou aumentar a probabilidade de que o aprendiz exiba o
comportamento terminal, isto é, que ele dê a resposta desejada (a ser aprendida).
Portanto, a programação de contingências, mais do que a seleção de estímulos
propriamente dita, é a função principal do professor. Programar contingências significa
dar o reforço no momento apropriado, significa reforçar respostas que provavelmente
levarão o aprendiz a exibir o comportamento terminal desejado." (p59)
Em contrapartida, quando o aluno não respondia assertivamente às questões propostas pelo
mediador, deveria rever e refazer várias vezes o problema até incorporar o comportamento
correto. Somente depois deste incansável processo é que o aprendiz seria aprovado e estaria
apto para seguir para o próximo nível de conhecimento.
Isto por sua vez inibia a possibilidade do aluno de questionar aquilo que estava aprendendo e
principalmente fazer colocações de seu interesse ao professor. Quando isso ocorria
128
precipitava-se um confronto e uma atitude de desrespeito àquele que detinha o conhecimento
verdadeiro.
O processo de ensino presumia que o aluno somente estava em contato com o conhecimento
quando inserido no ambiente escolar ou orientado pelo professor. Os relacionamentos
familiares, sociais ou mediáticos não tinham muita importância. Estes ambientes somente
sofreriam influência sem jamais influenciar no processo de aprendizado.
Porém, os alunos relacionavam-se e compartilhavam seu inconformismo perante aquele
processo. Mas como o que estava em jogo era a resposta certa e conseqüentemente a nota,
nenhum aluno sentia-se encorajado a questionar algo. A expulsão pela reprovação era
temerária e a sociedade tem por hábito desclassificar o reprovado.
Podemos prever que este cenário conduz a uma atitude passiva perante o processo de
aprendizagem, transformando o aluno num indivíduo mais preocupado em memorizar
fórmulas e textos do que um ser pensante e crítico. Era mais importante agradar e atender ao
professor do que atingir seus objetivos a partir de suas características de aprendizado.
O nivelamento cultural, tendo em vista o modelo industrial da época, voltava-se para a
massificação do conhecimento. Buscava-se eficiência nos processos de ensino - produzir mais
em menos tempo. Ou seja, os alunos devem aprender exatamente a mesma coisa, do mesmo
jeito, na mesma hora e responder exatamente da mesma forma.
Para SKINNER (1996) e sua teoria do reforço o objetivo era controlar o comportamento,
como relata MOREIRA (1999):
"As pessoas tendem a se comportar do modo a obter recompensas e a evitar punições.
Em muitos casos, as ações das pessoas são descontinuadas ou aumentadas pelas
129
conseqüências dos efeitos que produzem no indivíduo. Podem-se utilizar recompensas e
situações dolorosas para modificar, implantar ou extinguir comportamentos." (p51)
Numa abordagem mais atualizada, conforme RAMAL (2000),
"Será tão importante verificar a que respostas o aluno chegou quanto saber os caminhos
utilizados para isso. Porque os percursos dizem muito mais sobre o desenvolvimento de
habilidades e competências do que as respostas."
Conforme argumentava Albert Einstein, "Imaginação é mais importante do que
conhecimento".
Esta atitude foi fazendo 'escola' e definiu também o adulto que encontramos hoje em sala de
aula, principalmente nos cursos de graduação e pós-graduação. Muitos ficam esperando a data
da prova, o critério de avaliação, o professor dizer como os trabalhos devem ser produzidos,
os prazos, as fontes de informação e o roteiro daquilo que o aluno deve memorizar para ser
aprovado.
Quando o professor rompe com este paradigma costuma encontrar várias resistências.
Relata ROGERS (apud, MOREIRA, 1999):
"Na verdade, dez ou quinze anos atrás provavelmente teria dado ao grupo ainda mais
liberdade, dando-lhe a oportunidade (e a tarefa) de construir o curso inteiro. Aprendi
que isso causa muita ansiedade, frustração e irritação comigo. (Viemos para aprender de
você! Você é pago para ser o nosso professor! Não podemos planejar o curso. Não
conhecemos o assunto.) Não sei se este ressentimento é necessário. Conseqüentemente,
por covardia ou sabedoria, passei a prover limites e exigências em quantidade suficiente
130
para que possam ser percebidos como estrutura do curso, de modo que os alunos
possam confortavelmente começar a trabalhar." (p148)
A questão aqui não é se aplicamos ou não os conceitos de Rogers, mas sim, como podemos
aplicá-los sem causar desconforto e ameaça aos alunos e ao professor.
Romper este paradigma tem sido uma tarefa árdua para aqueles que pretende inovar no
processo de ensino-aprendizado.
Hoje temos bagagens culturais diferentes na sala de aula. São alunos com interesses diferentes
e objetivos pré-estabelecidos. Fica impossível estabelecer um planejamento rigoroso sem
antes termos noção do grupo que vamos ensinar, suas características e desejos.
A abordagem que se busca é mais personalizada, pois o aluno deve ser respeitado nas suas
dimensões. Com direitos de adquirir o conhecimento do professor e os recursos que a
instituição disponibiliza.
Como oferecer algo que o aluno possa perceber como valor para os seus objetivos?
Como tirar o foco do professor e passar para a gestão das competências individuais e
coletivas?
Hoje percebemos que a postura do professor está mudando para alguém que procura ser um
“dinamizador das inteligências coletivas”.
Este novo papel também impõe ao professor uma nova forma de posicionar-se na relação com
seus alunos e na instituição a qual faz parte.
Os critérios de avaliação, que antes eram determinados somente por aquele que detinha o
poder de aprovar ou reprovar o aluno, precisam ser revistos como uma forma de envolver o
estudante e o grupo ao qual pertence fazendo com que o próprio aluno perceba que "ele é o
131
principal interessado em verificar o quanto rendeu seu estudo e como pode aprimorar as
estratégias de construção do saber", conforme RAMAL (2000).
A velocidade com que a ciência e a tecnologia (tecnociência) têm evoluído nos últimos anos
representa um impacto significativo na forma como aprendemos, evoluímos e vivemos em
sociedade.
A forma como nos organizamos e nos relacionamos com o mundo tem sua relação direta com
as transformações culturais e do conhecimento de como o ser humano percebe-se neste
contexto.
Conforme relata RAMAL (2000), as práticas pedagógicas atribuídas às instituições
tradicionais não irão sustentar-se na cibercultura.
"Na escola das próximas décadas, seremos responsáveis por formar alunos que possam
otimizar os próprios processos de construção do conhecimento."
Percebemos hoje que o mais importante não é acumular informações desnecessárias ao longo
da nossa existência, mas sim, estar preparado para acessá-la, assimilá-la e aplicá-la quanto for
necessário.
Este fenômeno nos parece mais íntimo quando pensamos nas oportunidades igualitárias
geradas pelas redes globais. Uma empresa deixa de ser competitiva somente pela força do seu
capital financeiro e passa a concorrer diretamente com empresas que possuem uma
capacidade inovadora constante e voltada para a valorização do seu capital intelectual. A
geografia deixou de ser estabelecida pelo aspecto territorial e passou a ser delimitada pelas
conexões constituídas por uma aldeia global. Para LÉVY (1999),
132
"Isto significa, por exemplo, que em uma grande empresa de um setor pode se conectar
a todo momento com qualquer outro, sem procedimento formal, com troca constante de
informação e de pessoal”.
Desta forma, é importante que o indivíduo que queremos formar tenha uma visão da
necessidade do estabelecimento de um relacionamento com diferentes culturas e diversos
saberes, objetivando trabalhar de forma cooperativa e flexível, empreendendo e criando um
novo cenário pessoal, social e político.
Tais transformações, positivas ou não do ponto de vista evolutivo da raça humana, fizeram
surgir novos modelos de aprendizado e de transferência de conhecimento, tendo como base
principalmente os recursos tecnológicos disponíveis à transferência da informação.
Para LÉVY (1999), saber utilizar as ferramentas tecnológicas para conseguir um diferencial é
questão de sobrevivência.
"A prosperidade das nações, das regiões, das empresas e dos indivíduos depende de sua
capacidade de navegar no espaço do saber. A força é conferida de agora em diante pela
gestão ótima dos conhecimentos, sejam eles técnicos, científicos, da ordem da
comunicação ou derivem da relação 'ética' com o outro. Quanto melhor os grupos
humanos conseguem se constituir em coletivos inteligentes, em sujeitos cognitivos,
abertos, capazes de iniciativa, de imaginação e de reação rápida, melhor asseguram seu
sucesso no ambiente altamente competitivo que é o nosso". (p19)
Esta evolução rápida do conhecimento humano fez surgir um novo espaço de saber,
representado pelas redes globais de comunicação.
133
Numa fração de segundos, no mundo virtual, criam-se comunidades, grupos, mercados de
troca e, principalmente, o compartilhamento do conhecimento individual e coletivo, sem que
isto cause qualquer transformação direta nas identidades regionais.
Cada indivíduo agora faz parte de um coletivo local e simultaneamente globalizado, resultado
do acesso à informação através das diversas tecnologias em rede. Aprende melhor.
134
6 PROJETO PHYSIX
6.1 APRESENTAÇÃO
Tendo em vista que a proposta deste trabalho é o mapeamento de competências curriculares
no ensino da Física de alunos ingressantes no curso de Ensino Fundamental de Engenharia do
ITA, precisávamos de alguma tecnologia que nos permitisse cruzar estas competências com
um arcabouço avaliativo que apresentasse resultados relevantes para o estabelecimento de
uma melhor estratégia de ensino-aprendizagem.
Para isso, desenvolvemos através da Internet um sistema que considera o ambiente, os atores,
as competências, as avaliações e a capacidade de comunicação entre os participantes que
permita futuras análises dos resultados obtidos com o mapeamento.
Pensamos também, para ampliar o nosso escopo futuro de atuação, que o sistema
desenvolvido deveria possibilitar a aplicação em outras áreas do conhecimento, evitando
assim um engessamento dos conceitos de competências, flexibilizando e dinamizando a
categorização para que o professor possa seguir a linha conceitual que lhe aprouver.
Como afirmado anteriormente, a tecnologia aplicada é apenas uma ferramenta para a
classificação e visualização dos resultados apresentados neste trabalho.
Ressaltamos que existem limitações técnicas enfrentadas no desenvolvimento do sistema.
Entre elas a incapacidade de habilitarmos um espaço editável para que o professor pudesse
inserir equações matemáticas através do navegador da Internet e o atendimento de dados
analíticos em tempo real e que apresentassem graficamente a localização das competências.
135
Acreditamos que estas limitações possam ser supridas na continuidade deste trabalho, bem
como através de uma parceria com a área de computação.
6.2 O PROJETO
O nome dado ao projeto Physix é uma relação entre Physics e Extended o que significaria um
prolongamento, uma extensão das dimensões pedagógicas relacionadas com a Física.
O maior desafio do projeto foi a modelagem e a arquitetura para sustentar a classificação
programática e avaliativa a partir dos conceitos de competência curricular.
Primeiramente, entender tal conceito e associá-lo com os propósitos da LDB, fornecendo
dados relevantes para a análise e a proposta de melhoria do processo de ensino-aprendizagem
foi um trabalho preliminar necessário.
Isto feito, realizamos posteriormente toda a proposta de navegabilidade e a parte visual da
forma como gostaríamos de coletar e classificar os dados pesquisados.
Inicialmente consideramos categorizar independentemente as capacidades, habilidades e
aptidões que um aluno deveria ter para participar de um curso de Física no ensino
fundamental de graduação do ITA.
Percebemos então que esse processo seria desnecessário, tendo em vista que todos os
programas de cursos de Física ofertados para os alunos ingressantes no curso de Engenharia
estavam embasados num processo tradicional de categorização por conceito ou área de saber.
Ao invés de separar ou apresentar os resultados a partir de uma categorização diversificada,
podemos agrupar tais conceitos na descrição de competências, tendo em vista que
136
capacidades, habilidades, aptidões, conhecimentos, compreensão, entre outros, poderia ser
acolhidos neste agrupamento.
Interessante também observar que o sistema de mapeamento de competências flexibiliza a
aplicabilidade do conceito de competência, pois permite ao "mestre" cadastrá-lo conforme as
suas convicções pedagógicas e necessidades curriculares.
Esta é outra dimensionalidade pertinente da administração de inteligências coletivas, pois
disponibiliza uma liberdade para que o gestor possa organizar os seus conteúdos e avaliações
da forma que lhe aprouver.
Achamos também relevante nomear o sistema como mapeamento de competências porque
buscamos não classificar respostas certas ou erradas, mas permitir ao gestor a análise do
enquadramento dinâmico que um processo de ensino-aprendizado deva ter. Ou seja, o
monitoramento constante do processo de aquisição do conhecimento, sua classificação dentro
das expectativas que o currículo exige e da minimização dos conflitos gerados pelo
distanciamento da proposta do curso com os objetivos dos alunos.
Mapeamento no sentido de cartografia, localização e direcionamento do melhor caminho a
seguir para se atingir um objetivo. No nosso caso seria a percepção dos saberes individuais
trazidos pelos alunos ingressantes e os saberes coletivos formados ao longo do processo de
ensino-aprendizagem.
Após todo o processo de modelagem e o desenvolvimento de um protótipo fizemos o cadastro
das questões aplicadas nos alunos do 2o semestre de 2006 para a disciplina de Mecânica I do
ITA.
O cadastramento dos alunos foi realizado evitando-se a identificação ou posterior
contextualização da prática pedagógica adotada neste período, bem como um grupo de
perguntas aplicadas ao longo do curso.
137
Procuraremos, então, descrever rapidamente a modelagem adotada e na seqüência explicar o
processo de utilização do sistema
6.3 TECNOLOGIA UTILIZADA
Para suportar o desenvolvimento de um sistema através da Internet poderíamos utilizar uma
tecnologia livre ou proprietária. Optamos neste caso por usar uma tecnologia proprietária da
Microsoft tendo em vista a sua consolidação e a capacidade de localização de outros
pesquisadores com habilidades para compreender, continuar e adaptar o presente trabalho.
O sistema foi desenvolvido em ASP (“Active Server Page”) que utiliza o conceito de cliente-
servidor. Todas as páginas são acessíveis porque não foram compiladas e transformadas em
arquivos executáveis. Este aspecto colabora com a possibilidade de análise e manutenção por
qualquer outro pesquisador com conhecimentos na linguagem.
Utilizamos o banco de dados Microsoft SQL Express 2005 que é gratuíto, permitindo assim, a
realização deste trabalho em qualquer outro servidor ou mesmo numa máquina local de um
usuário.
Para que o ASP e o SQL Server funcionem, precisamos instalar ou habilitar no servidor ou no
equipamento local do usuário o IIS (“Internet Information Server”), que possibilita a
interpretação e resposta em tempo real pelo servidor das requisições que as páginas
desenvolvidas em ASP farão durante o processo de navegação e acesso ao banco de dados.
A modelagem do sistema foi realizada a partir da ferramenta Microsoft Office Visio 2007.
138
Optamos por testar e desenvolver tanto o protótipo como o site no Internet Explorer 7, tendo
em vista que é um produto nativo do sistema Windows, existente nos computadores
formatados nesta plataforma.
Porém, não é fator impeditivo o acesso e navegação a partir de outros browsers.
Recomendamos apenas que os pesquisadores realizem adaptações no código procurando
evitar problemas de posicionamento de imagens, texto e outras funções necessárias.
Recomendamos, também, que se habilite a permissão para acesso de scripts desenvolvidos em
Java, pois a parte de validação de listas, entradas e campos está suportada pela tecnologia
JavaScript.
6.4 ARQUITETURA DO PORTAL
O diagrama abaixo apresenta a forma como o sistema de mapeamento de competências
curriculares foi concebido:
1. USUÁRIO
(mestre)
2. COMPETÊNCIA 3. PERGUNTA 4. EXAME
3.2. PERGUNTA x 4.3. EXAME x 5. USUÁRIO
COMPETÊNCIA PERGUNTA (aluno)
6. AVALIAÇÃO
Figura 13 - Estrutura Funcional do Sistema de Mapeamento de Competências
139
1. USUÁRIO (Mestre)
Figura 14 – Home Page do sistema de mapeamento de competências
Figura 15 – Home Page de acesso como Usuário Mestre
140
O usuário mestre tem acesso aos principais módulos do sistema, o que lhe permite incluir,
alterar e excluir competências, perguntas e exames. O mestre pode analisar o desempenho dos
alunos cadastrados, visualizar os exames e simular cenários com base nas avaliações
aplicadas.
A diferença no cadastramento entre aluno e mestre é que o aluno recebe automaticamente a
liberação para acesso ao sistema, enquanto que o mestre será validado e receberá
posteriormente a liberação pelo gestor do sistema. O que determina esta diferenciação é o
campo “GRUPO”, preenchido no momento do cadastro.
Figura 16 – Página de cadastramento do usuário
Este procedimento visa assegurar que os dados cadastrados no sistema tenham integridade e
reflitam realmente os objetivos para os quais este sistema foi concebido.
Quando um mestre cadastra uma competência, uma pergunta ou mesmo um exame, estes
dados ficarão associados ao seu código no sistema. Desta forma, qualquer alteração na base
141
de dados terá efeito somente para aquele mestre. Porém, na aplicação das avaliações, o aluno
terá acesso ao material completo cadastrado pelos mestres.
2. COMPETÊNCIA
Figura 17 – Módulo de Competências
Este módulo permite ao mestre o cadastramento de competências ou conceitos que serão
utilizadas pelo sistema para a classificação das avaliações dos alunos. Cabe ressaltar, que a
forma como as competências são cadastradas estabelecerá os resultados de análise de cenários
e os relacionamentos com as perguntas e exames. Recomendamos que antes do cadastramento
o usuário faça um planejamento detalhado dos grupos e subgrupos de competências.
Outra informação importante é que o título “competência” apenas determina um
módulo do sistema, ficando o mestre livre para lançar conceitos ou organizar os
agrupamentos da maneira como concebe o seu currículo.
142
Visando também estabelecer a criação de múltiplos níveis de competências elaboramos o
conceito de “GRUPO”, que determina a competência primária adotada pelo sistema como
fundamentação para outras classificações e hierarquizações. O “NÍVEL” identifica se aquela
competência é um grupo chave ou um subitem da competência. Neste caso, o mestre deverá
cadastrar o subitem utilizando a seguinte regra: cadastrar primeiramente o grupo como “1” e
posteriormente o nível como “0” para a competência principal. Em seguida deve cadastrar o
grupo “1” e o nível “1” que ficará como o subitem daquela competência principal. Este
sistema foi inspirado no conceito de contas contábeis.
O mestre deve fazer uma breve descrição das competências, objetivando colaborar para a
compreensão comum pelos alunos dos conceitos adotados.
3. PERGUNTA
Figura 18 – Módulo de Perguntas
Neste módulo o mestre lançará às perguntas para a futura composição dos exames. Cada
pergunta deve estar relacionada a uma quantidade suficiente de competências e o tipo de
143
questão: teórica ou prática. O título da pergunta é a chave no banco de dados, logo o sistema
validará qualquer duplicidade de perguntas. O mestre poderá cadastrar até cinco respostas
objetivas, sendo que a resposta correta terá peso “1” e as respostas erradas peso “0”. Este
critério será utilizado para classificar a pontuação individual e coletiva dos alunos, permitindo
posteriormente o mapeamento de competências.
Para cada resposta podemos associar um texto ou uma imagem, visando colaborar no
esclarecimento da questão. Esta característica foi incorporada visando permitir a inserção de
equações matemáticas através de editores específicos. O módulo ainda permite a inclusão de
uma imagem geral e a inserção de um arquivo “pdf”, para que o aluno demonstre como
desenvolveu a questão. Esta é uma característica muito importante do sistema, pois permite
que o professor avalie melhor o aluno e estabeleça uma estratégia para, se necessário, orientá-
lo sobre o tema proposto.
4. EXAME
Figura 19 – Módulo de Exames
144
Neste módulo o mestre deverá criar primeiramente um título para o exame e posteriormente
associar e ordenar as perguntas que aparecerão para o aluno. Para isto, o mestre precisa
apenas clicar no “check box” localizado ao lado da pergunta, habilitando-a, e estabelecer
numericamente (1,2,3...) a ordem que aparecerá no momento da avaliação.
O sistema possui ainda um filtro por competências para facilitar a localização e a associação
das perguntas pertinentes ao exame.
O mestre deverá, também, estabelecer um tempo máximo para a finalização do exame.
Enquanto este tempo não for atingido o aluno poderá retornar ao exame e continuar
respondendo as questões normalmente. O sistema bloqueará uma questão apenas se o aluno
tiver escolhido a resposta e salvo o exame.
Figura 20 – Módulo de Relacionamento Exames x Perguntas
145
5. USUÁRIO (Aluno)
Figura 21 – Home Page de acesso como Usuário Aluno
Após a validação do usuário e senha, o aluno poderá alterar os seus dados cadastrais, fazer
avaliações e posteriormente analisar a cartografia dos seus resultados e do coletivo.
Terá acesso também ao sistema de comunicação interna, onde poderá encaminhar e receber
mensagens de outros usuários.
146
6. AVALIAÇÃO
Figura 22 – Módulo de Avaliação
Figura 23 – Página de aplicação da avaliação
147
O módulo de avaliação apresenta uma lista completa de todos os exames cadastrados no
sistema e no momento que o aluno acessar um exame o sistema fará o registro no banco de
dados, iniciando a contagem do prazo para a sua finalização. Vencido este prazo, o aluno,
mesmo que não tenha respondido todas as perguntas do exame será impedido de acessá-lo
novamente, podendo apenas visualizar as respostas corrigidas.
O mesmo ocorrerá no caso do registro de alguma resposta no exame durante o período válido.
Depois de escolhida e enviada à resposta para atualização no banco de dados, o aluno não
poderá editá-la novamente. Somente após o término do prazo total do exame ou se responder
a todas as perguntas é que terá acesso a correção das questões.
Outras explicações
Sempre que o mestre excluir uma pergunta ou uma competência não estará excluindo
fisicamente os registros do banco de dados. Adotamos esta política visando à recuperação
futura de registros, tendo em vista que diversos exames poderão estar associados com estes
itens.
Quando se exclui um exame as perguntas associadas permanecem disponíveis para outros
cadastramentos ou relacionamento com outros exames. Neste caso, se um aprendiz deixar de
responder alguma questão do exame esta não será computada para efeito de resultado.
148
7 RESULTADOS
Conforme relatado anteriormente, o sistema de mapeamento de competências tem por
objetivo:
Valorizar os saberes dos alunos ingressantes para a construção do currículo e do
processo de ensino-aprendizagem;
Fornecer aos atores envolvidos no ambiente educacional uma ferramenta de avaliação
antecipativa, apoiada nos saberes individuais e coletivos, proporcionando maior
agilidade nas ações pedagógicas;
Permitir ao professor uma flexibilização no processo de ensino-aprendizagem com
base nos resultados do mapeamento de competências;
A partir do mapeamento das competências, os atores possam localizar os saberes
comuns e raros, colaborando para a definição das necessidades de conhecimentos,
habilidades e atitudes;
Permitir a simulação de cenários através da análise das avaliações individuais e
coletivas, melhorando a administração de coletivos inteligentes;
Fomentar a comunicação entre os atores, objetivando a aproximação e a troca dos
saberes raros;
Desta forma, passaremos a apresentar os relatórios disponíveis no sistema, bem como uma
análise dos resultados obtidos a partir da tabulação das avaliações realizadas no 2o semestre
de 2006 com os alunos ingressantes no curso de Engenharia do Ensino Fundamental do ITA.
Em anexos, apresentamos os resultados obtidos com os alunos no sistema.
149
7.1 RELATÓRIOS
Figura 24 – Relatórios do Sistema de Mapeamento de Competências
Existem quatro relatórios disponíveis no sistema:
Relação de Competências: tem por objetivo disponibilizar uma lista de todas as
competências cadastradas, para que o mestre e os alunos tenham uma visão comum às
exigências formativas;
Relação de Exames: disponibiliza tanto para o mestre como para os alunos uma
relação dos exames cadastrados no sistema;
Relação de Alunos x Exame: lista a relação de alunos por exame. Permite a seleção
de filtros como alunos, exames, ingresso e a ordem de categorização das informações;
Relação de Alunos x Competências: apresenta a lista de alunos categorizados por
competências conforme a pontuação das avaliações.
150
Figura 25 – Relatório de Competências
Figura 26 – Relatório de Exames
151
Figura 27 – Relatório de Alunos x Exames
Figura 28 – Relatório de Exames x Alunos
152
Figura 29 – Relatório de Alunos x Competências
Figura 30 – Relatório de Competências x Alunos
Ressaltamos que, principalmente os relatórios focados no cruzamento de alunos, exames e
competências, permitem tanto para o professor quanto para os alunos uma ferramenta
153
importante de análise do coletivo. O percentual, com base nas pontuações das avaliações,
demonstra o desempenho de cada aluno dentro de um cenário coletivo.
7.2 GRÁFICOS
Figura 31 – Gráficos do Sistema de Mapeamento de Competências
O sistema possui três tipos de gráficos:
Percentual total de acertos dos alunos por exame: tem por objetivo apresentar os
resultados percentuais do coletivo por exame;
Percentual total de acertos dos alunos por competências: tem por objetivo
apresentar os resultados percentuais do coletivo por competência;
Análise individual e coletiva: a partir da escolha do ano de ingresso dos alunos, o
sistema solicitará a escolha de um aluno visando compará-lo ao restante da classe,
tanto individualmente, sem a sua participação e com a sua participação.
154
Figura 32 – Gráfico percentual total de acertos dos alunos por exame
Figura 33 – Gráfico percentual total de acertos dos alunos por competências
155
Figura 34 – Gráfico de análise individual e coletiva
A figura 34 apresenta uma análise do ALUNO07.
Se nos fixássemos somente na primeira tabela do gráfico perceberíamos que o aluno não
possui um bom desempenho no curso, apresentando uma deficiência na competência
“Dinâmica”. No geral, também teve um desempenho mediano.
Mas, quando comparamos especificamente o item “Dinâmica” com e sem a participação do
ALUNO07, descobrimos uma queda no desempenho geral da turma de 5 pontos
aproximadamente.
Isto demonstra que existe um impacto quando consideramos o acervo das competências
individuais e coletivas na análise do desempenho dos alunos.
156
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nas últimas décadas, o ensino de um modo geral vem passando por uma série de
transformações, que envolvem desde a sua legislação até a forma como os seus objetivos e
conteúdos são ministrados em salas de aula.
Os diversos atores envolvidos nestas transformações sabem que estão interligados por uma
rede de tecnologias e objetivos sociais de amplo espectro, o que consolida uma
interdependência e a necessidade de uma formação mais globalizada.
Precisam lidar com a diversidade cultural, econômica, política e social dentro das escolas,
propondo novas formas de ensinar, atraindo interesses, motivando e enfrentando questões que
durante anos ficaram adormecidas.
Os professores precisam atrair os alunos para a escola e também resgatá-los para a educação,
pois se continuarem “dando aula”, fingindo que estão ensinando, nenhuma sinergia surgirá.
Atualmente, os alunos já não conseguem fingir que aprenderam, pois o mercado de trabalho
dá sinais de que não contrata porque não encontra mão de obra qualificada.
Desta forma, o trabalho aqui apresentado procura levantar estas questões no momento em que
propõe um currículo baseado em competências, pois convida os atores a romperem com a
educação tradicional, teorista e desconectada da realidade dos nossos alunos e empresas.
Demonstra, através do conceito de mapeamento das competências, inteligência coletiva e da
aprendizagem coletiva, que a avaliação dos saberes pré-existentes colabora para uma melhor
estratégia pedagógica, evitando a desconexão entre o professor e o aluno.
157
Permite o monitoramento estratégico antecipativo da evolução do conhecimento e a
flexibilização dos conteúdos programáticos, quando disponibiliza um sistema na Internet que
avalia, cruza e apresenta resultados em tempo real, coletivizando-os.
São outros tempos, valores transversalizados e informações globais, que exigem ao invés da
gestão de gerações a administração da diversidade. Os alunos são autodidatas, multi-tarefas e
possuem conhecimentos prévios sobre diversos assuntos abordados em sala de aula.
Logo, o professor precisa deixar de apenas informar e começar a formar cientistas,
pesquisadores, profissionais qualificados, avaliando corretamente e dentro de um contexto de
aplicabilidade, contrariamente ao utilitarismo.
Ressalto que todos devem participar deste processo de regaste e reconstrução da educação,
principalmente o aluno, entendendo que dele se espera o resultado. Caso contrário, não
aprende, decora. Não retém, porque não vive a experiência. Esquece a dimensão da sua
ignorância e parte para a desconstrução da história.
Desta forma, passamos a pontuar os principais benefícios deste trabalho, gerados a partir das
análises extraídas dos resultados práticos da aplicação do sistema de mapeamento de
competências.
8.1 BENEFÍCIOS PARA O PROFESSOR
Permite a rápida identificação da diversidade de desempenho por conceito,
proporcionando uma postura diferenciada na estratégia didático-pedagógica;
Permite a identificação de alunos que se destacam em diversos conceitos e
competências, proporcionando uma mudança na forma como avalia e monitora os
alunos com dificuldades de aprendizado;
158
Permite o reforço pedagógico em tempo hábil aos alunos que apresentam dificuldades
nos conceitos avaliados antes da passagem para outros estágios;
Possibilita a identificação de alunos acima da média (caso do Aluno01), podendo
transformá-los em monitores ou colaborados no processo de ensino;
Fornece informações suficientes para que o professor demonstre os resultados
coletivos e possa interagir e comunicar-se eficientemente com o grupo de alunos;
O conceito de competência exige do professor uma postura diferente perante a
apresentação e desenvolvimento do assunto em sala de aula. Precisa pensar na
utilidade, na prática, no por que daquilo que ensina. Quem quer formar?
8.2 BENEFÍCIOS PARA O ALUNO
Visualização e compreensão dos resultados obtidos para cada competência, exame e
conceito aplicado no curso;
Possibilidade de impor o seu ritmo nas avaliações;
"Feedback" imediato do resultado das avaliações;
Visualização e localização, a partir da análise da sua performance, comparando com o
coletivo;
Permite a compreensão das dificuldades de aprendizado a partir da análise dos
resultados das avaliações em tempo hábil para que possa corrigi-las, evitando desta
forma a surpresa no caso de um resultado negativo na avaliação final;
Fornece informações para que o aluno possa interagir com o professor na tentativa de
considerar o desempenho integral e não apenas aquele obtido no exame final;
159
Permite ao aluno compreender o momento em que representa o papel de consumidor,
produtor ou fornecedor de conhecimento, pois os saberes individuais ficam explícitos
dentro dos saberes coletivos;
8.3 BENEFÍCIOS GERAIS
Disponibilidade para acesso a partir de qualquer computador conectado à Internet;
Proposta que procura a partir dos referenciais de educação nacionais disponibilizar um
sistema que seja flexível o suficiente para embarcar quaisquer linhas pedagógicas na
definição de competências e habilidades;
Valorização dos saberes individuais e coletivos dentro do ambiente de ensino,
permitindo à instituição acompanhar e monitorar o desempenho do curso;
Proposta para a percepção e discussão da realidade da oferta de ensino adotada pelo
ITA e o seu alinhamento aos objetivos educacionais nacionais, independentemente da
liberdade em administrar e criar regras específicas para a formação de Engenheiros;
8.4 PROPOSTA DE CONTINUIDADE
A realização deste trabalho foi motivada principalmente pela insatisfação com o atual modelo
de ensino nas diversas instituições públicas e privadas do país.
Faltam professores capacitados, recursos pedagógicos, propostas coerentes com a realidade do
mundo no qual estamos inseridos, os alunos estão desmotivas e a cada dia se distanciando do
160
saber científico, egoístas, com sérias dificuldades afetivas e de comunicação com seus
familiares e pares dentro do ambiente escolar.
Os laboratórios continuam fechados, os recursos são direcionados para outros investimentos
que na maioria das vezes não alcançam na ponta os principais interessados, professor e aluno.
O ensino transformou-se numa empresa, interessada no ingresso de alunos que a cada mês
contribuam com as suas mensalidades para manter os altos padrões de estrutura ofertados nas
propagandas do vestibular.
O ensino médio continua distante da universidade, as empresas participam muito pouco da
elaboração de currículos no ensino superior e perdemos talentos para países estrangeiros que
ofertam qualidade e melhores condições de ensino.
Logo, sugerimos:
Evoluir na construção do sistema, adaptando-o a novas tecnologias e conceitos;
Ampliar o universo de estudo, aplicando e avaliando os resultados em outras
instituições de ensino;
Integrar com outros departamentos do ITA para contribuições conceituais e práticas;
Elaborar artigos para publicação em eventos relacionados com o tema proposto;
161
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Último acesso em: 15/09/2007.
Obs.: A indicação do site Wikipédia como referencial bibliográfico é intencional, pois procura
valorizar o conceito de coletivos inteligentes e o de inteligência coletiva. Caso contrário
este trabalho perderia o sentido.
164
10 ANEXOS
CONTEÚDO DISCIPLINA 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03
1 Lei da Termodinâmica Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x x
Gravitação
2 Lei da Termodinâmica Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x x
Gravitação
Aceleração centrífuga e de Coriolis Mecânica da Partícula x x
Algoritmos quânticos: Shor e Grover Introdução à Computação Quântica x
Análise de Fourier de um movimento Circuitos, Ondas e Óptica x
ondulatório
Análise dimensional Mecânica da Partícula x x x x
Aplicação a polímeros Simulações Numéricas de Sistemas x
Físicos
Aplicações de plasmas: tipos de Fundamentos de Gases Ionizados x x x x x x x x x x
reatores, tipos de excitação elétrica,
processos de corrosão e deposição a
plasma, outras aplicações
Aquisição e processamento dos dados: Detecção de Ondas Gravitacionais x x x x x x
aquisição dos dados, filtragem digital,
análise de ruído, limite quântico e
previsão de desempenho
Átomos Circuitos, Ondas e Física Moderna x
Átomos: modelos Circuitos, Ondas e Física Moderna x x
Atrito Mecânica da Partícula x x x x x x x
Auto-indutância e indutância mútua Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Cálculo de campos gravitacionais Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x x
Gravitação
Cálculo vetorial Mecânica da Partícula x x x x x x x
Calor Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x x
Gravitação
Campo elétrico, polarização e Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x
desolcamento elétrico
Capacitância Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Centro de massa Mecânica da Partícula x x x x
Cinemática da partícula Mecânica da Partícula x x x x
Cinemática da partícula em um plano Mecânica da Partícula x x x x x x x
Circuito de corrente alternada Circuitos, Ondas e Óptica x
Circuito LR Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Circuito RC Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Circuito RLC Circuitos, Ondas e Óptica x
Circuito RLC em série Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x
Circuitos de corrente alternada Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x x x x
Circuitos elétricos Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Coerência Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x
Coerência Circuitos, Ondas e Óptica x
Coerência Introdução à Óptica para Engenheiros x x x
Colisões Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x x x x x x x x x
Gravitação
Componentes da aceleração Mecânica da Partícula x x x x
Computação reversível Introdução à Computação Quântica x
Computador Quântico universal: Introdução à Computação Quântica x
prescrição de Deutsch
Conceito de referencial inercial Mecânica da Partícula x x x x x x x x x x x
Condutividade elétrica dos sólidos Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Condutores e isolantes Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Condutores ôhmicos e não ôhmicos Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Conservação da carga Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
165
Conservação da energia Mecânica da Partícula x x x x
Coordenadas curvilíneas Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x
Corrente elétrica Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Curvas de potencial Mecânica da Partícula x x x x x x x x x x x
Descoerência Introdução à Computação Quântica x
Desigualdade de Bell Introdução à Computação Quântica x
Diagrama de fasores Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x
Difração Introdução à Óptica para Engenheiros x x x
Difração da luz Circuitos, Ondas e Óptica x
Difração de cristais Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x
Difração de Fraunholer Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x x x
Difração de Fraunholer e de Fresnel Circuitos, Ondas e Óptica x
Dimensão fractal Simulações Numéricas de Sistemas x x x x x x x x x x
Físicos
Dinâmica da partícula Mecânica da Partícula x x x x x x x x x x x
Dinâmica de um sistema de partículas: Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x x x x x x x x x
centro de massa, momento angular, Gravitação
energia cinética
Dinâmica do corpo rígido: centro de Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x x x x x x x x x
massa, momento de inércia, momento Gravitação
angular, equação do movimento de
rotação, energia cinética de rotação,
movimento giroscópico
Dinâmica do movimento curvilíneo Mecânica da Partícula x x x x x x x x x x x
Dipolos Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Dipolos magnéticos Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Dispersão Circuitos, Ondas e Óptica x
Dispersão, interferência Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x x x
Dualidade partícula-onda Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x x x x
Dualidade partícula-onda Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Efeito Compton Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Efeito Doppler Circuitos, Ondas e Óptica x
Efeito Doppler para ondas Circuitos, Ondas e Óptica x
eletromagnéticas
Efeito fotoelétrico Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Efeito Hall Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Efeitos fotoelétrico e efeito Compton Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x x x x
Emaranhamento Introdução à Computação Quântica x
Emissão de luz pelos átomos, Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
fluorescência e fosforescência
Emissão termoiônica Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Energia do campo elétrico Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Energia do campo magnético Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Energia potencial eletrostática Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Energia potencial gravitacional Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x x
Gravitação
Entropia Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x x
Gravitação
Equação de Poisson Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Equação de Schrödinger Simulações Numéricas de Sistemas x x x x x x x x x x
Físicos
Equação diferencial de uma onda Circuitos, Ondas e Óptica x
Equações de Maxwell Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x
Equações de Maxwell: forma integral e Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x x x x
diferencial
Equações diferenciais de onda Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x
Espalhamento Circuitos, Ondas e Óptica x
Espectros atômicos Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Estudo dos dielétricos Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Experiência de Joung Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x
Experiência eletrostática Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Faixas de energia Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
166
Ferroeletricidade, piroeletricidade e Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x
piezoeletricidade
Filmes finos Introdução à Óptica para Engenheiros x x x
Filtros Circuitos, Ondas e Óptica x
Fissão e fusão nuclear Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Fluxo do campo elétrico Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Fontes de erro Introdução à Computação Quântica x
Fontes de luz Introdução à Óptica para Engenheiros x x x
Forças centrais Mecânica da Partícula x x x x x x x x x x x
Forças conservativas e energia Mecânica da Partícula x x x x x x x x x x x
potencial
Forças de atrito Mecânica da Partícula x x x x
Forças entre correntes Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Forças Inerciais Mecânica da Partícula x x
Forças não conservativas Mecânica da Partícula x x x x x x x x x x x
Forças sobre cargas em movimento Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Forças sobre correntes Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Forma diferencial das equações de Circuitos, Ondas e Óptica x
Maxwell
Fractais – introdução Simulações Numéricas de Sistemas x x x x x x x x x x
Físicos
Função de onda Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x
Geradores de tensão alternada Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x x x
Geradores de tensão alternada Circuitos, Ondas e Óptica x
Geradores de tensão alternada, Circuitos, Ondas e Física Moderna x
transformadores, retificadores
Gravitação Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x x x x x
Gravitação
Hipótese de Broglie Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Histerese ferromagnética Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Holografia Introdução à Óptica para Engenheiros x x x
Impedância complexa Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x
Independência do tempo Simulações Numéricas de Sistemas x
Físicos
Instrumentação para detecção de ondas Detecção de Ondas Gravitacionais x x x x x x
gravitacionais: interação onda-antena,
fontes de ruído, telessensores,
transdutores eletromecânicos,
transdutores eletromecânicos
paramétricos, amplificadores SQUID,
isolamento vibracional, detectores
atuais e futuros
Instrumentos ópticos Introdução à Óptica para Engenheiros x x x
Interação gravitacional Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x x
Gravitação
Interferência da luz Circuitos, Ondas e Óptica x
Interferometria Introdução à Óptica para Engenheiros x x x
Introdução à teoria cinética dos gases, Fundamentos de Gases Ionizados x x x x x x x x x x
movimento de ions e elétrons, ruptura
elétrica dos gases, ionização e
deionização, formação de descarga
elétrica, região de eletrodos, região de
paredes e região de plasma
Introdução aos Métodos de Monte Simulações Numéricas de Sistemas x x x x x x x x x x
Carlo Físicos
Lasers Circuitos, Ondas e Óptica x
Lasers Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Lasers Introdução à Óptica para Engenheiros x x x
Lei de Ampére Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Lei de Biot-Savart Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Lei de Coulomb Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Lei de Gauss Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Lei de indução de Faraday Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
167
Lei de Lenz Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Leis de Kirchhoff Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Leis de Newton Mecânica da Partícula x x x x x x x x x x x
Linhas de força Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Luz Circuitos, Ondas e Óptica x
Magnetismo terrestre Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Máquina de Turing Introdução à Computação Quântica x
Matrizes ópticas Introdução à Óptica para Engenheiros x x x
Medidas de grandezas físicas Mecânica da Partícula x x x x
Método científico Mecânica da Partícula x x x x
Métododas imagens Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Métodos de Monte Carlos e integrais Simulações Numéricas de Sistemas x x x x x x x x x x
multidimensionais Físicos
Metrologia óptica Introdução à Óptica para Engenheiros x x x
Momento angular Mecânica da Partícula x x x x x x x x x x x
Movimento Browniano Simulações Numéricas de Sistemas x
Físicos
Movimento Browniano: aplicação a Simulações Numéricas de Sistemas x x x x x x x x x
polímeros Físicos
Movimento circular Mecânica da Partícula x x x x x x x x x x x
Movimento de fluidos Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x x
Gravitação
Movimento geral sob interação Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x x
gravitacional Gravitação
Movimento ondulatório Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x
Gravitação
Movimento ondulatório: ondas em Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x x
cordas, ondas estacionárias, Gravitação
ressonância, ondas sonoras, batimento,
efeito Doppler
Movimento oscilatório: dinâmica do Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x x x x x x x x x
movimento harmônico simples; Gravitação
pêndulos, osciladores acoplados,
oscilações hamônicas, oscilações
amortecidas, oscilações forçadas e
ressonância
Movimento relativo Mecânica da Partícula x x x x x x x x x
Movimento relativo - transformação de Mecânica da Partícula x
Galileu
Movimento relativo - transformação de Mecânica da Partícula x
Galileu e Lorentz
Movimento sob a ação de forças Mecânica da Partícula x x x x x x x x x x x
conservativas
Noções básicas de acústica Circuitos, Ondas e Óptica x
Noções de Mecânica Estatística Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Noções sobre a teoria da Relatividade Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Restrita
Notação de Dirac Introdução à Computação Quântica x
Números aleatórios Simulações Numéricas de Sistemas x x x x x x x x x x
Físicos
O átomo de hidrogênio Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x x x x
O campo elétrico Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
O campo magnético Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
O espectro eletromagnético Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x x x x
O espectro eletromagnético Circuitos, Ondas e Óptica x
O núcleo atômico Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Ondas elásticas Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x
Ondas elásticas em sólidos líquidos e Circuitos, Ondas e Óptica x
gases
Ondas eletromagnéticas Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x x x
Ondas eletromagnéticas Circuitos, Ondas e Óptica x
Ondas eletromagnéticas, vetores de Circuitos, Ondas e Física Moderna x
Poynting
168
Ondas em cordas, ondas estacionárias, Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x
ressonância, ondas sonoras, batimento, Gravitação
efeito Doppler
Ondas gravitacionais: natureza, Detecção de Ondas Gravitacionais x x x x x x
derivação matemática a partir da
Relatividade Geral e emissão por fontes
astrofísicas
Ondas mecânicas Circuitos, Ondas e Óptica x
Óptica geométrica: tratamento matricial Circuitos, Ondas e Óptica x
Óptica ondulatória Introdução à Óptica para Engenheiros x x x
Oscilador harmônico quântico Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Osciladores eletromagnéticos Circuitos, Ondas e Óptica x
Outras aplicações de Mecânica Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x
Quântica
Outras aplicações modernas de Óptica Introdução à Óptica para Engenheiros x x x
Pacote de onda em uma dimensão Simulações Numéricas de Sistemas x x x x x x x x x x
Físicos
Paradoxo de Einstein-Podolsky-Rosen Introdução à Computação Quântica x
Polarização Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x x x
Polarização Circuitos, Ondas e Óptica x
Polarização Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Polarização Introdução à Óptica para Engenheiros x x x
Polarização, dispersão, interferência e Circuitos, Ondas e Física Moderna x
difração de Fraunhofer
Portas quânticas Introdução à Computação Quântica x
Potencial elétrico Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Potencial escalar e potencial vetor Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x
Princípio da conservaçào do momento Mecânica da Partícula x x x x x x x x x x x
linear
Princípio da Incerteza Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x
Princípio da Incerteza Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Princípio de equivalência Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x x
Gravitação
Princípios da Mecânica Quântica: Introdução à Computação Quântica x
estado, projetores, operadores e
medição
Princípios da Óptica de Fourier Introdução à Óptica para Engenheiros x x x
Processos de crescimento fractal Simulações Numéricas de Sistemas x x x x x x x x x x
Físicos
Projeto de lentes Introdução à Óptica para Engenheiros x x x
Propriedades de plasmas Fundamentos de Gases Ionizados x x x x x x x x x x
Propriedades magnéticas da matéria Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Propriedades ópticas dos sólidos Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Propriedades térmicas dos sólidos Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Quantização Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Quantização da carga Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Quantização da energia Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x x x x
Radiação de cargas aceleradas Circuitos, Ondas e Óptica x
Radiação de cargas aceleradas e de Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x x x x
antenas
Radiação de dipolos oscilantes Circuitos, Ondas e Óptica x
Radiação de um dipolo Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x
Radiação do corpo negro Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Radioatividade Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Raios-X Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Rede de difração Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x
Redução de sistemas de forças Mecânica da Partícula x x x x
Refenciais não-inerciais Mecânica da Partícula x x x x x x x x x
Reflexão Circuitos, Ondas e Óptica x
Refração Circuitos, Ondas e Óptica x
Refração de linhas de força nas Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x
fronteiras de dielétricos
Resistência elétrica Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
169
Ressonância em série e pararelo Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x
Retificadores Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x x x
Retificadores Circuitos, Ondas e Óptica x
Simulação de sistemas quânticos Simulações Numéricas de Sistemas x x x x x x x x x x
Físicos
Sistema Internacional de unidades Mecânica da Partícula x x x x
Sistemas de massa variável Mecânica da Partícula x x x x x x x x x x x
Sistemas ópticos Circuitos, Ondas e Óptica x
Sistemas quânticos Simulações Numéricas de Sistemas x x x x x x x x x x
Físicos
Situação experimental Introdução à Computação Quântica x
Sólidos cristalinos Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Solução numérica da equação de Simulações Numéricas de Sistemas x
Schrödinger Físicos
Solução numérica da equação de Simulações Numéricas de Sistemas x x x x x x x x x
Schrödinger, independente do tempo Físicos
Técnicas de Schlieren Introdução à Óptica para Engenheiros x x x
Teletransporte Introdução à Computação Quântica x
Temperatura Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x x
Gravitação
Teorema de Gauss Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x
Teoria de Bohr Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Teoria de Schrödinger Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x
Introdução à Física Moderna x x x x x x x x x x x
Teoria paraxial Introdução à Óptica para Engenheiros x x x
Termometria Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x x
Gravitação
Tópicos de teoria cinética dos gases Dinâmica do Sistema de Partículas e x x x x x x x x x x x
Gravitação
Trabalho e energia Mecânica da Partícula x x x x x x x
Trabalho, potência, energia cinética Mecânica da Partícula x x x x
Traçado de raios Introdução à Óptica para Engenheiros x x x
Transformadores Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x x x
Transformadores Circuitos, Ondas e Óptica x
Transformções de Galileu Mecânica da Partícula x x x x x x x
Transformções de Galileu e de Lorentz Mecânica da Partícula x x
Transitório Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x
Uso de números complexos Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x
Velocidades das ondas Circuitos, Ondas e Óptica x
eletromagnéticas
Velocidades de fase e de grupo Circuitos, Ondas e Óptica x
Velocimetria a laser Introdução à Óptica para Engenheiros x x x
Verificação experimental das leis de Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x x x x x
Gauss e de Coulomb
Vetor de Poynting Circuitos, Ondas e Física Moderna x x x x x x x x x
Vetor de Poynting Circuitos, Ondas e Óptica x
Vetores Eletricidade e Magnetismo x x x x x x x
Vetores Mecânica da Partícula x x x x
Tabela 2 – Relação de conteúdos e disciplinas ministradas no ITA entre 1993 e 2003
170
ALUNO01 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS ALUNO01 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS
1.CINEMÁTICA DA PARTÏCULA 3 3 100,00 EXAME01 3 3 100,00
2.DINÂMICA 3 3 100,00 EXAME02 3 3 100,00
3.MOVIMENTO RELATIVO 3 3 100,00 EXAME03 3 3 100,00
4.ENERGIA 3 3 100,00 EXAME04 3 3 100,00
5.SISTEMA DE PARTÍCULAS 3 3 100,00 EXAME05 3 3 100,00
ALUNO02 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS ALUNO02 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS
1.CINEMÁTICA DA PARTÏCULA 3 2 66,67 EXAME01 3 2 66,67
2.DINÂMICA 3 2 66,67 EXAME02 3 2 66,67
3.MOVIMENTO RELATIVO 3 3 100,00 EXAME03 3 3 100,00
4.ENERGIA 3 3 100,00 EXAME04 3 3 100,00
5.SISTEMA DE PARTÍCULAS 3 3 100,00 EXAME05 3 3 100,00
ALUNO03 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS ALUNO03 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS
1.CINEMÁTICA DA PARTÏCULA 3 2 66,67 EXAME01 3 2 66,67
2.DINÂMICA 3 2 66,67 EXAME02 3 2 66,67
3.MOVIMENTO RELATIVO 3 2 66,67 EXAME03 3 2 66,67
4.ENERGIA 3 3 100,00 EXAME04 3 3 100,00
5.SISTEMA DE PARTÍCULAS 3 2 66,67 EXAME05 3 2 66,67
ALUNO04 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS ALUNO04 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS
1.CINEMÁTICA DA PARTÏCULA 3 2 66,67 EXAME01 3 2 66,67
2.DINÂMICA 3 3 100,00 EXAME02 3 3 100,00
3.MOVIMENTO RELATIVO 3 2 66,67 EXAME03 3 2 66,67
4.ENERGIA 3 2 66,67 EXAME04 3 2 66,67
5.SISTEMA DE PARTÍCULAS 3 3 100,00 EXAME05 3 3 100,00
ALUNO05 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS ALUNO05 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS
1.CINEMÁTICA DA PARTÏCULA 3 2 66,67 EXAME01 3 2 66,67
2.DINÂMICA 3 2 66,67 EXAME02 3 2 66,67
3.MOVIMENTO RELATIVO 3 2 66,67 EXAME03 3 2 66,67
4.ENERGIA 3 2 66,67 EXAME04 3 2 66,67
5.SISTEMA DE PARTÍCULAS 3 1 33,33 EXAME05 3 1 33,33
ALUNO06 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS ALUNO06 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS
1.CINEMÁTICA DA PARTÏCULA 3 2 66,67 EXAME01 3 2 66,67
2.DINÂMICA 3 3 100,00 EXAME02 3 3 100,00
3.MOVIMENTO RELATIVO 3 2 66,67 EXAME03 3 2 66,67
4.ENERGIA 3 2 66,67 EXAME04 3 2 66,67
5.SISTEMA DE PARTÍCULAS 3 3 100,00 EXAME05 3 3 100,00
ALUNO07 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS ALUNO07 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS
1.CINEMÁTICA DA PARTÏCULA 3 2 66,67 EXAME01 3 2 66,67
2.DINÂMICA 3 1 33,33 EXAME02 3 1 33,33
3.MOVIMENTO RELATIVO 3 2 66,67 EXAME03 3 2 66,67
4.ENERGIA 3 2 66,67 EXAME04 3 2 66,67
5.SISTEMA DE PARTÍCULAS 3 2 66,67 EXAME05 3 2 66,67
ALUNO08 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS ALUNO08 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS
1.CINEMÁTICA DA PARTÏCULA 3 2 66,67 EXAME01 3 2 66,67
2.DINÂMICA 3 3 100,00 EXAME02 3 3 100,00
3.MOVIMENTO RELATIVO 3 3 100,00 EXAME03 3 3 100,00
4.ENERGIA 3 2 66,67 EXAME04 3 2 66,67
5.SISTEMA DE PARTÍCULAS 3 2 66,67 EXAME05 3 2 66,67
ALUNO09 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS ALUNO09 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS
1.CINEMÁTICA DA PARTÏCULA 3 2 66,67 EXAME01 3 2 66,67
2.DINÂMICA 3 2 66,67 EXAME02 3 2 66,67
3.MOVIMENTO RELATIVO 3 3 100,00 EXAME03 3 3 100,00
4.ENERGIA 3 2 66,67 EXAME04 3 2 66,67
5.SISTEMA DE PARTÍCULAS 3 2 66,67 EXAME05 3 2 66,67
ALUNO10 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS ALUNO10 PERGUNTAS ACERTOS %ACERTOS
1.CINEMÁTICA DA PARTÏCULA 3 2 66,67 EXAME01 3 2 66,67
2.DINÂMICA 3 2 66,67 EXAME02 3 2 66,67
3.MOVIMENTO RELATIVO 3 3 100,00 EXAME03 3 3 100,00
4.ENERGIA 3 3 100,00 EXAME04 3 3 100,00
5.SISTEMA DE PARTÍCULAS 3 2 66,67 EXAME05 3 2 66,67
Tabela 3 – Listagem geral das pontuações dos alunos no sistema
171
FOLHA DE REGISTRO DO DOCUMENTO
1. 2. 3. 4.
CLASSIFICAÇÃO/TIPO DATA DOCUMENTO N° N° DE PÁGINAS
TM 18 de dezembro de 2007 CTA/ITA-IEF/TM-018/2007 170
5.
TÍTULO E SUBTÍTULO:
Mapeamento das competências curriculares no ensino da física como proposta para a melhoria do
processo de ensino-aprendizagem
6.
AUTOR(ES):
Carlos Alberto Ribeiro Monero
7. INSTITUIÇÃO(ÕES)/ÓRGÃO(S) INTERNO(S)/DIVISÃO(ÕES):
Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Divisão de Ciências Fundamentais – ITA/IEF
8.
PALAVRAS-CHAVE SUGERIDAS PELO AUTOR:
Competências, Currículo, Ensino da Física, Processo de Ensino-Aprendizagem, Inteligência Coletiva,
Árvores de Conhecimento, Aprendizagem Coletiva, Portal, Avaliação
9.PALAVRAS-CHAVE RESULTANTES DE INDEXAÇÃO:
Educação superior; Currículos; Física; Habilitações profissionais; Análise qualitativa; Métodos
educacionais; Ensino; Aprendizagem; Internet; Educação
10.
APRESENTAÇÃO: X Nacional Internacional
ITA, São José dos Campos, 2007, 170 páginas
11.
RESUMO:
A partir da análise da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional percebemos que existe uma lacuna
entre a aplicação dos conceitos de competências e habilidades como objetivos educacionais para
o ensino básico e a aplicação destes mesmos conceitos no ensino superior.
Evidencia-se, também, um distanciamento entre as expectativas dos alunos ingressantes nas
universidades e as propostas pedagógicas ofertadas, que mantêm nos seus currículos conceitos e
conhecimentos muitas vezes superados ou defasados das exigências e práticas mercadológicas,
bem como do atendimento das demandas sociais.
Na prática, verificamos que falta uma abordagem que valorize os saberes individuais e coletivos a partir
do conceito de competências com base na LDB, inexistente nas diversas ferramentas
tecnológicas que permitem o desenvolvimento de conteúdos programáticos, a reprodução de
experimentos, o compartilhamento de informações ou mesmo a própria avaliação dos alunos.
Desta forma, o mapeamento das competências curriculares no ensino da Física como proposta para a
melhoria do processo de ensino-aprendizagem é um trabalho que visa contribuir para uma nova
abordagem na definição dos conteúdos pedagógicos do ensino superior, bem como estimular
uma discussão sobre as contribuições advindas desta abordagem.
Para isto, desenvolvemos um sistema na Internet que foi posteriormente aplicado nos alunos ingressantes
do curso de Engenharia do Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA na matéria de Física no
segundo semestre de 2006, servindo de estudo de caso para a coleta, classificação e apresentação
dos resultados, permitindo aos atores envolvidos no processo de ensino-aprendizagem uma
alternativa no estabelecimento de novas estratégias educacionais.
12.
GRAU DE SIGILO:
(X) OSTENSIVO ( ) RESERVADO ( ) CONFIDENCIAL ( ) SECRETO