0% acharam este documento útil (0 voto)
63 visualizações15 páginas

846 2857 1 PB

Este documento discute as variações nas grades de medidas do mercado de moda feminino e como isso causa confusão para as consumidoras. Ele apresenta estudos sobre como as marcas alteram as medidas de acordo com seus interesses e como as vendas online dificultam a compreensão dos tamanhos. Finalmente, defende a necessidade de padronização das medidas com a participação de designers para melhor atender as clientes.

Enviado por

Fernanda Fonseca
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
63 visualizações15 páginas

846 2857 1 PB

Este documento discute as variações nas grades de medidas do mercado de moda feminino e como isso causa confusão para as consumidoras. Ele apresenta estudos sobre como as marcas alteram as medidas de acordo com seus interesses e como as vendas online dificultam a compreensão dos tamanhos. Finalmente, defende a necessidade de padronização das medidas com a participação de designers para melhor atender as clientes.

Enviado por

Fernanda Fonseca
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 15

TABELA DE MEDIDAS: PADRONIZAÇÃO OU IDEALIZAÇÃO?

Gisela C. Pinheiro Monteiro, Ana Paula Lima de Carvalho, Evellyn M. Cantelmo


SENAI CETIQT; 20961-020, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil; [email protected]

Resumo
Este artigo é produto de um estudo continuado acerca do padrão estabelecido pelo mercado de
moda feminino que varia as dimensões das grades de acordo seus interesses mercadológicos.
A partir desse dado de pesquisa existente se faz necessário identificar as diversas grades de
medidas presentes no mercado de moda feminina tanto em níveis nacional e internacional.
Desse modo, foram identificadas algumas grades de medidas que se alteram de acordo com as
marcas. Assim foi feita uma análise comparativa entre os critérios elaborados por algumas
marcas, com as regras contidas na ABNT. Além disso, destacamos o crescimento das vendas
online, que representa cada tamanho da grade de peças do vestuário e suas variações desde do
considerado pequeno ao grande ou por numeração de manequim (P, M, G, GG ou 36, 38, 40
até o 44 etc.). Apresentamos como as clientes tendem a ficar confusas quando compram peças
do vestuário com informações da grade de medidas incompletas sobre o tamanho do produto.
Finalmente apresentamos estudo de casos que já visitaram a necessidade de esculpir uma
proposta metodológica que insira uma grade medidas mais precisa com a participação do
designer no processo criativo e tecnológico para atender essa demanda de mercado, que se
expressa nas aferições corpóreas femininas no âmbito nacional.
Palavras-chave: Design de Moda. Padronização de medidas. Design Emocional.
Área Temática: Tecnologia têxtil

TABLE OF MEASURES: STANDARDIZATION OR IDEALIZATION?


Abstract
This article is the product of a continuing study about the pattern established by the female
fashion market that varies the dimensions of the grids according to their market interests.
From this existing research data, it is necessary to identify the various grades of measures
present in the women's fashion market both at national and international levels. In this way,
some grids of measures have been identified that change according to the marks. Thus, a
comparative analysis was made between the criteria elaborated by some brands, with the
rules contained in ABNT. In addition, we highlight the growth of online sales, which
represents each size of garment and its variations from small to large or by mannequin
numbering (P, M, G, GG or 36, 38, 40 to 44 etc.). Here's how customers tend to get confused
when they buy garment pieces with incomplete measure grid information about product size.
Finally we present a study of cases that have already visited the need to sculpt a
methodological proposal that inserts a grid more precise measures with the participation of
the designer in the creative and technological process to meet this market demand, which is
expressed in the female body measurements in the national scope.
Key words: Fashion design. Standardization of measures. Emotional Design.
1. Introdução
No campo do design de Moda o corpo é considerado um importante veículo de
comunicação e expressão utilizado para produzir, refletir e analisar não só a nós mesmos, mas
também a outros indivíduos (OLIVEIRA; CASTILHO, 2008). No que se refere ao padrão
estabelecido pelo mercado de moda, o corpo feminino considerado “perfeito” para desfilar
com produtos de moda nas passarelas (NOVAES, 2006), foge das dimensões corporais reais
das mulheres das sociedades ocidentais atuais. O corpo da profissional denominada nos dias
de hoje de modelo, outro termo já nomeado foi de manequim, representam um referencial de
estética feminina como a verdadeira construção de um corpo ideal, isto é, quase uma escultura
que prima a perfeição das curvas e de uma silhueta mais longilínea. A partir desse dado de
pesquisa existente do culto à magreza (idem, 2006) associada ao fato de ser uma discussão da
área médica nos últimos anos, principalmente no campo da nutrição (PASSOS, 2016), que
têm publicado estudos que estimulam a busca por um corpo saudável, a partir dos produtos
alimentícios que são consumidos, assim buscando refletir acerca de uma qualidade de vida
mais do que um padrão estético. Na verdade, a magreza ainda é considerada como padrão de
beleza na moda atual, principalmente na seleção de modelos de passarela.

Este cenário está presente na produção de vestuário que, por não ter um rígido padrão
de gradação, as marcas tendem a aumentar ou reduzir a base de modelagem que cada empresa
constrói a partir das especificidades do público que atende (BASTOS; SABRÁ, 2014),
principalmente ao público feminino. Além disso, o crescimento das vendas online tem
agravado o entendimento do que realmente representa cada tamanho da grade de peças do
vestuário, ou seja, cada peça possui variações, do pequeno ao grande ou por numeração de
manequim (P, M, G, GG ou 36, 38, 40 até o 44 etc.). Desse modo, as clientes tendem a ficar
confusas quando efetuam uma compra em que as informações da grade de medidas são
imprecisas sobre o tamanho do produto, já que não há um valor de referência estipulado pela
ABNT, pois os valores anteriormente convencionados foram substituídos por um projeto de
número 17:700.04-005, contendo referenciais de medidas do corpo humano para a
vestibilidade feminina, projeto este que estava previsto para ser iniciado no segundo semestre
de 2012, porém não foi possível encontrar mais informações, apenas sobre as normas vigentes
NBR 16060:2012, que se refere à Vestibilidade masculina e a NBR 15800:2009 a
Vestibilidade infanto-juvenil.
Este estudo tem como parâmetro conceitual mostrar como o mercado de moda
feminino se comporta frente às diversas grades de medidas e múltiplas aferições, seguindo os
preceitos do design emocional, mais do que um padrão de medidas estabelecido.

2. Problema de Pesquisa e Objetivo


O problema deste artigo consiste em compreender sobre a forma como os produtos
do vestuário devem ser numerados de acordo com as normas da ABNT e, ao mesmo tempo,
refletir sobre como acontece a prática de numeração proposta por cada empresa. A
complexidade está diretamente relacionada em estabelecer critérios tangíveis para auxiliar o
consumidor na hora da compra, principalmente na compra online. Como será apresentado, a
falta de informações e de critérios que deixam o consumidor perdido. O presente estudo visa
auxiliar a produção têxtil como um todo, mas especificamente, no designer, como agente que
atua no processo criativo.
É importante frisar o que está sendo considerado como criatividade para um designer
não é simplesmente criar a partir de um desejo pessoal, mas sobre a base de dados de
pesquisa. Diversos autores que se debruçam sobre a metodologia nos projetos de design
(BAXTER, 2011; BÜRDEK, 2006; LOBACH, 2001; IDEO, 2015), explicam que a etapa
criativa está vinculada à viabilidade de produção no desenvolvimento do projeto, como pode
ser observado no duplo diamante proposto pelo Design Council (figura 1). O primeiro
diamante compreende às pesquisas e o segundo é iniciado com a etapa criativa do que pode
ser projetado, a partir de requisitos e restrições projetuais.

Figura 1- Processo criativo do designer


Fonte: Design Council, 2018.
Neste sentido, se o designer souber como funciona o processo produtivo, ele pode vir
a ser um facilitador em termos de comunicação entre o produto e o consumidor. Assim sendo,
este artigo enfoca a relação existente entre a diversidade de grades de medidas e as múltiplas
aferições, partindo do desfile da modelo com um padrão de beleza pré-determinada pela
mídia, sobretudo no caso brasileiro.

3. Revisão Bibliográfica
No mundo atual os padrões de beleza ainda estão muito relacionados à valorização de uma
estética feminina relacionada à magreza. Visto que a influência da moda e suas estruturas
corporais magras foram e têm sido paradigmas para a sociedade capitalista, assim analisamos
como isso afeta o consumidor na hora de comprar o produto, revendo os referenciais teóricos dos
conceitos pertencentes ao design emocional. Como Damásio (2004) coloca, o corpo é o local em
que as emoções e os sentimentos se manifestam fisicamente perante a sociedade, alterando-se de
acordo com as mudanças que podem ocorrer, e que são capazes de transmitir sensações. E,
também, aponta que é importante perceber a relação entre os objetos e os indivíduos, por meio das
emoções, está na definição do sentimento. O autor menciona que os sentimentos são as mudanças
associadas às imagens mentais, estando ligadas a um processo que acompanha as experiências do
indivíduo, capaz de interpretar-se através do sistema neural.
Segundo Norman (2008), o ser humano é capaz de aumentar o processo de raciocínio,
sendo assim cada vez mais pode aumentar suas expectativas em relação a um certo produto, ao se
sentir feliz e/ou confortável. Desse modo, ele explica a importância da estética do design dos
produtos e sua usabilidade, ocasionando assim uma experiência mais prazerosa na relação do
usuário com o produto. Embora este não seja um trabalho que se trata somente de design, a
utilização dos conceitos referentes ao design emocional é importante para analisarmos o
comportamento dos consumidores diante das roupas que compram no mercado de moda brasileiro.
Com esses conceitos citados acima, é possível fazer uma análise comparativa de
forma analógica entre a experiência de uma mulher em qualquer loja de roupas. Ao levarmos
em consideração as informações da tabela abaixo, imaginemos o seguinte cenário: uma
mulher com uma circunferência de quadril de 94 cm adentra em uma loja de segmento de
moda feminina e se depara com as grades de medidas menores do que a considerada como
padrão (Tabela 1). Ressaltamos que, esta mulher está acostumada a vestir a numeração 38,
porém nessa loja só consegue vestir roupas da grade 40 para cima. Se associarmos os
conceitos de Damásio nesse momento esta mulher “ativa seus sentimentos” relacionando o
fato de vestir manequim 40 às experiências prévias, na qual estava acima de seu peso atual,
imediatamente a mulher se sente frustrada e, em seguida decide não comprar o produto.
Tabela 1 – Gradação
Número Busto Cintura Quadril
36 80 cm 62 cm 90 cm
38 84 cm 66 cm 94 cm
40 88 cm 70 cm 98 cm
42 92 cm 74 cm 102 cm
44 96 cm 78 cm 106 cm
46 100 cm 82 cm 110 cm
Fonte: SENAI/Modatec, [20_ _ ].

Agora partiremos para um outro exemplo acompanhando a mesma mulher em uma


loja aonde as grades correspondem a esse quadro 1, ela entra na loja e veste o manequim
então estabelecido como referente ao 38. A mulher imediatamente se sente satisfeita com seu
corpo, e compra o produto. Então, esses exemplos ratificam o que Norman (2008) menciona
em relação às expectativas emocionais que colocamos sobre cada produto, neste estudo de
segmento de moda feminina.
Nesta perspectiva referente ao Design Emocional Desmet e Hekkert (2007), dividem
as emoções em quatro parâmetros diferentes, a saber: a avaliação, a emoção, a preocupação e
o produto. Os três primeiros parâmetros, e a sua interação, determinam se um produto provoca
uma emoção, e em caso afirmativo, qual a emoção evocada para a decisão de compra do
produto de moda. Os autores supracitados colocam a avaliação no centro dessas outras
características, indicando que as demais características levam a avaliação. A preocupação
maior neste escopo teórico é a compreensão das respostas emocionais em relação aos
produtos de consumo, assim considerando a preocupação de seus utilizadores, que buscam
uma direção para obter uma avaliação relacionada ao estímulo de bem-estar pessoal.
Ainda Desmet e Hekkert (2007), apontam para uma experiência de produtos, de um
modo geral possibilitam tipos de expressões ou reações diferentes, por exemplo: reações
fisiológicas, que são as ações enviadas do sistema nervoso; as expressivas, representadas pelo
rosto, voz, e até mesmo a postura do usuário, que estão ligadas às experiências afetivas e por
último, as reações comportamentais, que são as experiências capazes de afastar o usuário do
produto ou aproximá-lo.
McCracken (2003) atribui aos designers a responsabilidade de transformar as
qualidades físicas de algum objeto em qualidades simbólicas, de forma que o consumidor olhe
o produto e veja que houve um processo por trás, algo que foi projetado e que tenha algum
significado cultural, não somente um produto produzido para atender à demanda de mercado.
Nesta mesma abordagem Norman (2008) destaca três níveis de processamento do
design: visceral, comportamental e reflexivo:
● O nível visceral está ligado a aparência do produto. É nesse momento que o
produto deverá ocasionar uma emoção no indivíduo. Norman (idem) diz que esse
é o nível que inicia o processo afetivo.
● O nível comportamental está relacionado ao prazer e efetividade, ou
funcionalidade e usabilidade do produto. Essa etapa é o momento que o
consumidor tem um contato com o produto, em que ele analisa e experimenta.
Quando o produto apresenta um funcionamento adequado, ele gera uma ligação
emocional ao comprador.
● Por fim o nível reflexivo, está relacionado a satisfação e ao valor agregado, pode
ser através do produto em si, ou da marca, ou até mesmo do visual que o produto
causa diante da sociedade.

Na verdade, a construção desses conceitos viabiliza uma percepção real de como se


apresenta nas mais variadas formas o produto de moda há um fundo emocional com destaque
para “o nível comportamental”, como estabelecido por Norman (2008), como sendo a base do
presente estudo. Retomando o exemplo da experiência de compra da mulher, na primeira loja,
é possível definir que sua experiência foi ruim uma vez que a numeração que geralmente a
veste estava menor do que o de costume, a fazendo se sentir gorda. Desta forma, a questão
gradual de um produto pode ser capaz de influenciar numa compra.

4. Metodologia
Antes de mencionarmos a respeito da padronização das medidas no vestuário
feminino, precisamos entender como funciona o sistema de normas para medidas do vestuário
no Brasil, assim como internacionalmente no mundo globalizado. Como é sabido, a produção
em larga escala a padronização dos moldes é essencial para o sucesso da produção, o que
queremos investigar, e se essas medidas estão de acordo com o corpo real da mulher brasileira
e se a indústria de fato segue essas normas.
Na verdade, podemos constatar a partir de observação e de experimentação enquanto
consumidoras de marcas diversificadas e de trabalhos acadêmicos sob nossa orientação de
Projeto de Conclusão, tais como de Rachel Costa de Oliveira (2015) e Mayare da Silva
Teixeira (2012) há divergência entre as modelagens das lojas no mercado de moda feminina
no Brasil hoje. É possível constatar que um mesmo consumidor pode vestir de dois a três
tamanhos diferentes de uma mesma roupa, em lojas diferentes ou até mesmo numa mesma
loja. Alguns fatores explicam essa falta de uniformidade, como por exemplo, diferentes
tabelas de medidas para diferentes confecções, ou a compra de produtos importados de países
como a China, que apresenta uma outra grade de medidas.
Sabrá (2014) aponta a terceirização da produção, como um aspecto que causa ainda
mais a falta de padronização das peças, pois muitas empresas não possuem o suporte
necessário para demandar uma qualidade na produção das facções contratadas, quando se trata
das medidas utilizadas para fabricação. Outro ponto mostrado por Sabrá (2014) é que algumas
empresas adotam a prática da troca de etiquetas, que acontece quando a empresa marca uma
peça com uma numeração menor do que a correspondente, buscando satisfazer o desejo das
consumidoras, que não aceitam usar determinada numeração ou sentem-se emocionalmente
melhores por vestirem um número menor que o seu.
Segundo Roberto Chadad (apud BELLEY, 2014), presidente da Abravest (Associação
Brasileira do Vestuário) afirma que a falta de padronização no vestuário é um problema que
está presente no Brasil há mais de 15 anos, mas não é um problema brasileiro, por exemplo a
Inglaterra, por sua vez levou 50 anos para fazer um estudo antropométrico de sua população,
utilizando por anos, os materiais de pesquisa dos Estados Unidos, como o SizeUSA. Na
indústria essa padronização se faz necessária, pois o conhecimento dos dados de uma tabela
de medidas confiável torna-se possível observar as partes do corpo humano e agregar
características ergonômicas que trarão valor ao produto, e automaticamente haverá uma maior
aceitação pelo mercado consumidor (BASTOS; SABRÁ, 2014).
Na variação dos modelos em cada estação, novas modelagens se fazem necessárias,
assim a tabela de medidas pode ser considerada indispensável para o desenvolvimento da
base, pois é a partir desta base que se fazem as adaptações de modelos e das medidas da tabela
também devem ser mantidas, pois o consumidor busca cada vez mais uma roupa que lhe cairá
bem, independentemente do modelo escolhido em uma determinada sazonalidade
(TREPTOW, 2007).
De um modo geral as empresas de varejo contratam modelos de prova que servem de
base para suas modelagens das coleções. Assim cada marca define os padrões do próprio
corpo da consumidora que deseja atingir. Essas medidas então passam a ser considerada a
peça base/piloto. Assim tornando um exemplo, que ratifica essa falta de padronização. A
título de exemplificação, se a modelo A é mais alta e magra do que a B, já teremos variações
métricas suficientes para mudar a grade de uma marca para a outra.
A promessa da padronização não só visa em beneficiar as consumidoras, mas
também as próprias confecções, uma vez que facilita a comercialização das peças, tanto em
nível nacional quanto internacional. Conforme afirma Maria Adelina Pereira, superintendente
do Comitê Brasileiro de Têxteis e do Vestuário:
Há diferenças de tamanho em peças de roupas da mesma numeração produzidas por
fabricantes diferentes, o que impede que usuário possa se orientar apenas pelo tamanho
que está habituado a comprar. À medida que a padronização for adotada, o consumidor
poderá escolher a roupa de acordo com suas medidas (ABNT/CB-17, 2014).
Para as marcas que possuem um mercado online, esse problema se agrava, pois, a
experiência da consumidora com a marca se torna difícil, ao tentar escolher o tamanho certo na peça
desejada, para aquelas marcas que não oferecem as informações necessárias sobre a grade dos
produtos. Nesses casos, a padronização reduziria o número de produtos trocados ou devolvidos,
assim permitiria com que as clientes ficassem mais satisfeitas e maior fidelização à marca.
Na publicação que foi ao ar no site do SEBRAE, em 2015, o que acontece
atualmente no mercado é como ainda não existe nenhum estudo antropométrico especializado,
para as construções das bases de modelagem, as indústrias de confecção acabam ajustando
suas modelagens para os seus públicos determinados, criando assim um próprio padrão de
medida e de elaboração de tabela, gerando uma diversidade em nível nacional, tanto nas
modelagens, quanto nas medidas (PEREGRINO, 2015). O SEBRAE, nessa mesma publicação,
divulgou uma figura que mostra as oscilações existentes nas medidas de algumas marcas
conhecidas no mercado de moda feminina (figura 2).

Figura 2 – Comparação entre marcas: camisa feminina tamanho P.


Fonte: Peregrino, 2015.
A partir dos dados retirados da figura 2 referentes às medidas das partes corporais de uma
peça de roupa de camisa feminina com base na grade P é possível verificar uma diferenciação
significativa entre as 5 marcas. A diferença por centímetro em algumas partes de aferição
corpórea pode chegar até 65 cm, como é o caso do busto da marca Ellus com 45 cm e a Wee
com 110 cm. Outra diferença é em relação ao comprimento da camisa que se inicia com 59
cm da marca Ellus e termina com 71 cm da Lança Perfume, isto é uma diferença de 12 cm de
comprimento. Esses dados apontam para uma pesquisa qualitativa de padronização de
medidas em relação às marcas e ao público que se destina.
Alguns estudos antropométricos vêm sendo discutidos mundialmente, como o
realizado pela World Engeneering Anthropometry Resource (WEAR), um grupo de
pesquisadores de cinco continentes, que tem como objetivo padronizar as metodologias de
pesquisas antropométricas, permitindo que haja comparação e troca de dados das diferentes
populações, para assim criar uma base mundial de dados antropométricos. Países como
Estados Unidos, África do Sul, Japão, Holanda e Coreia do Sul, estão sendo representados
nesse estudo, assim como o INT, referente aos países da América Latina.
As normas europeias são elaboradas pelo Comitê Europeu de Normalização, e são
disponibilizadas em outros idiomas, como inglês, francês, italiano e alemão. A Europa ainda
não chegou num consenso para padronizar todas as medidas no continente, sendo assim cada
país tem o seu esquema de medidas. A escolha dos três países para discutir sobre medidas foi
a Itália por ser uma referência na moda internacional, a Argentina por ser um país da América
Latina e os Estados Unidos, que são referência de moda no ocidente.
Na Itália, duas normas se encontram em vigor até hoje, porém sujeitas a alterações: a
EN 13402-1 e EN 13402-2 e a mais atual 13402-3, as duas primeiras foram desenvolvidas em
2002, e a última em 2014. Nessas normas a medida de acordo com o corpo humano se
encontra em centímetros, e a norma ainda prevê a existência de pictogramas nas etiquetas,
símbolos em formato de desenho estilizado, indicando a posição específica das medidas no
corpo, junto com uma descrição do produto, para melhor orientação do consumidor.
As normas argentinas analisadas foram as IRAM 75300-1 75300-2 e a IRAM 75301
a 75310, todas desenvolvidas em 1998 e atualizadas em 2005, mas estão abertas para
possíveis correções. As normas foram elaboradas pelo Comitê de Normalização da Argentina,
composto por representantes das áreas de comércio e indústria têxteis do país. Elas trazem as
definições gerais de manequins e estudos antropométricos de medidas do corpo humano, que
são referência para as medidas das peças do vestuário, não interferindo no design do produto.
Em 2004 os Estados Unidos já tinham produzido o primeiro e único estudo
antropométrico, com o foco de ter uma grade de tamanhos em nível nacional. A pesquisa
analisou mais de 10.000 pessoas por 12 cidades, ao redor de todo o país. Essas pessoas,
incluindo homens e mulheres, foram medidas por body scans em 3D, e foram extraídas mais
de 200 medidas de cada corpo.
A maior diferença entre os corpos, foi em relação a etnia. Todas as variações
regionais que nós achamos, podem ser justificadas como variações étnicas, disse Jim Lovejoy,
diretor do SizeUSA e diretor das empresas TC2, the Cary e N.C, empresas de tecnologia que
proveram os equipamentos necessários para fazer a pesquisa. Assim poderia redefinir a grade
de tamanho de ambos os sexos, desenvolver uma nova grade de tamanhos específicas para
produtos específicos também, levando em consideração, idade, etnia entre outras
características levantadas pelo estudo. E é claro, possibilitar uma nova seleção de modelos de
prova, de acordo com as características específicas daquele público.
Atualmente existem órgãos normalizadores responsáveis por estudar esses corpos e
tentar trazer saídas para a indústria da moda, para esse problema. São eles o ISO
(International Organization for Standartization) e a ABNT (Associação Brasileira de Normas
e Técnicas), esses órgãos realizam estudos e elaboram os dados de acordo com a média
populacional, e o INT (Instituto Nacional de Tecnologia) que atua realizando pesquisas e
oferecendo resultados as empresas, na área da ergonomia, desde a década de 1970, com uma
ênfase na antropometria.
Existem algumas normas técnicas para a padronização do vestuário no Brasil, a NBR
13377 (1995) e a NBR 15127 (2004), estas normas propõem padrões de medidas para os
corpos nos diferentes segmentos, porém o problema é que elas não obrigatórias, sendo assim
seu cumprimento algo voluntário. Segundo o próprio portal da ABNT, em pareceria com a
SEBRAE, a NBR 16060:2012 e a NBR 15800:2009, facilitou ao fabricante de roupas a
produzirem suas peças, como também uma maior satisfação ao consumidor ao adquirir roupas
na medida certa de sua estrutura corporal. A ABNT NBR 16060, ainda traz em sua
formulação exemplos de etiquetas baseadas na vestibilidade do produto. Em cada etiqueta
teria que ter de forma legível e visível, pictogramas do corpo humano com as medidas do
corpo ou da roupa, consideradas úteis para o consumidor.
A NBR 15127 também foi cancelada pela ABNT, mas não foi exposto o motivo do
cancelamento. Ela foi substituída pela NBR ISO 7250-1, de 2010 que apresentou medidas básicas
do corpo humano, contendo uma descrição dessas medidas antropométricas, a serem s usadas
como base de comparação para os consumidores. A nova NBR 13377, ainda continua sendo
usada como referência para o vestuário feminino, já que a nova norma ainda não foi aprovada.

5. Análise dos Resultados


O fato é que a população brasileira possui grande variedade de biótipos, e Iida (2005
apud NISHIMURA; MERINO; GONTIJO, 2017) afirma que há diferenças étnicas, entre
sexos e com o próprio indivíduo no estudo das medidas antropométricas do corpo humano, ou
seja, nas diversas esferas de análise do corpo, existirão variáveis que individualizam as
referências corporais. Com base nessas afirmações, foi notado o quão complexo, e o quão
relevante pode ser um estudo antropométrico do corpo da mulher brasileira.
Em 2014 surgia um convênio entre o Comitê Brasileiro de Têxteis e do Vestuário, da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), e a Audaces, empresa brasileira que
produz tecnologia para confecções de mais de 70 países. E essa parceria funcionaria da
seguinte forma: o sistema Audaces 3D auxiliaria na nova padronização, com a utilização de
manequins virtuais, assim, mapeando os padrões das medidas médias das brasileiras, que foi
identificado com um estudo da instituição SENAI CETIQT (Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial – Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil), do Rio de
Janeiro. Com o uso desses manequins, o trabalho do ABNT/CB-17 (2014) será todo
computadorizado, e não mais a partir de modelos reais.
A instituição SENAI CETIQT desenvolveu um estudo com o propósito de orientar e
padronizar a confecção e a cadeia têxtil. O estudo (SABRÁ. et al. 2013) foi iniciado em 2006
e durou aproximadamente 7 anos, passando por várias fases até chegar a uma conclusão. Esse
estudo foi denominado SizeBR, e foi feito com o auxílio de dois body sanners, que tornaram
possível medir o corpo das brasileiras, nas diversas regiões do país.
O objetivo deste estudo foi de ter um mapeamento das medidas brasileiras para
cadeia têxtil e de confecção, e assim ter uma maior noção das diferenças corporais de cada
região, possibilitando um melhor desenvolvimento de produtos de moda. Devido ao caráter
continental do Brasil, a equipe do projeto teve que selecionar os locais que serviriam para o
plano de amostragem, para elaboração desses corpos padrões, para que houvesse um erro
mínimo na representação. A equipe foi composta por estudiosos de comportamento e
consumo e por um estatístico, que definiram os principais centros de consumo pelas cinco
regiões do Brasil (Sudeste, Sul, Nordeste, Centro-Oeste e Norte) e o plano de amostragem
recomendado pela norma ISO 15535: 2012.
A metodologia de medição para esse estudo, tomou como base referências não só
nacionais, mas internacionais como a ISO 7250 (International Standard) e a NBR 15.127, que
referenciam as normas de medição do corpo humano, para torná-la compatível com estudos
de outros países. Normas essas que foram escolhidas devido a compatibilidade das
terminologias usadas para relacioná-las à anatomia humana. (SABRÁ; SANTOS; DINIS,
2008). Em busca de um melhor entendimento sobre as características físicas que compõem as
mulheres brasileiras, foi desenvolvido um estudo no mesmo âmbito do SizeBR, para definir
um biótipo para esse grupo (BASTOS; SABRÁ, 2013).
Os critérios utilizados no estudo do Sergio e do Flávio foram os mesmos que o LEE
e outros autores utilizaram em um artigo, no qual adaptou os conceitos de classificação usados
pelo Female Figure Identification for Apparel (FFIT), e elaborou um trabalho sobre os tipos
de corpos das americanas e os comparou com o das coreanas. Nesse trabalho ele apontou sete
existentes biótipos distintos, são eles: ampulheta, ampulheta inferior, ampulheta superior,
colher, triângulo, triângulo invertido e retângulo.
Para cada um desses tipos de estrutura corporal, existe uma equação matemática
diferente para classificar os corpos das mulheres. Nessas equações, são usadas 4 medidas
corporais: a cintura, quadril, quadril alto e busto. Algumas marcas desenvolvem outras
medições em outras partes corporais como ombro, comprimento da peça, que só legitima a
nossa discussão acerca da necessidade de buscar mais uma qualificação do produto a uma
padronização imediata para atender a demanda de mercado de moda feminina.

6. Conclusão
Após a análise dos dados obtidos acerca da diversidade de grades de medidas
existentes no universo da moda feminina é possível perceber que há dois movimentos
opostos, um esforço por tentar padronizar medidas e, por outro lado, uma idealização de cada
numeração de acordo com o perfil da empresa. Estima-se que, por conta do crescimento das
vendas online para diferentes mercados, tanto nacionais como internacionais, as empresas
busquem aproximar as numerações a uma tabela com parâmetros universais, mesmo assim, é
necessário uma breve explicação ao cliente como ele deve fazer a medição corporal antes de
efetuar uma compra de vestuário. Ao longo do desenvolvimento da pesquisa foi detectado
também, que dentro de uma mesma empresa há diferentes bases. Isto acontece porque muitas
empresas terceirizam a produção e a base fica por conta de cada confecção. Este estudo está
em andamento e o intuito é refletir como o designer pode auxiliar na passagem da criação
para a produção a partir das informações fornecidas nas fichas técnicas que elabora. Espera-se
que, desta forma, o designer possa se manter inserido cada vez mais no contexto do mundo do
trabalho no mercado de moda.

7. Referências
ASSOCIAÇAÃ O BRASILEIRA DE NORMAS TEÉ CNICAS. ABNT NBR 13377:1995: medidas do
corpo humano para vestuaá rio - padroõ es referenciais - padronizaçaõ o. Rio de Janeiro.
Cancelada em 24 abr. 2012.
______________. ABNT NBR 15127:2012: corpo humano - definiçaõ o de medidas. Rio de
Janeiro. Cancelada em 16 abr. 2013 Substituíáda por: ABNT NBR ISO 7250-1:2010.
______________. ABNT NBR 15800:2009: vestuário - referenciais de medidas do corpo
humano – Vestibilidade de roupas para bebê e infanto-juvenil. Rio de Janeiro, 14 abr. 2015.
______________. ABNT NBR 16060:2012: vestuaá rio - referenciais de medidas do corpo
humano - Vestibilidade para homens corpo tipo normal, atleá tico e especial. Rio de
Janeiro, 10 out. 2016.
______________. ABNT NBR ISO 7250-1:2010: medidas básicas do corpo humano para o
projeto técnico. Parte 1: Definições de medidas corporais e pontos anatômicos. Rio de Janeiro.
______________. ABNT/CB-17 - Comitê Brasileiro de Têxteis e do Vestuário. Rio de Janeiro,
2014. AÂ MBITO DE ATUAÇAÃ O: Normalizaçaõ o no campo da induá stria teê xtil e do vestuaá rio
BASTOS, Sergio F., SABRÁ, Flávio G. A forma do corpo da mulher brasileira. in Proc. of
5th Int. Conf. on 3D Body Scanning Technologies, Lugano, Switzerland, 2014, pp. 155-167,
doi:10.15221/14.155. Disponível em: <http://www.3dbody.tech/cap/abstracts/2014/155
bastos.html>. Acesso em: 12 abr. 2018.
BASTOS, Sergio F.; SABRÁ. et al. SizeBR: o estudo antropométrico brasileiro. in Proc. of
4th Int. Conf. on 3D Body Scanning Technologies, Long Beach CA, USA, 2013, pp. 243-257,
3. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.15221/13.24>. Acesso em: 12 abr. 2018.
BAXTER, Mike. Projeto de Produto: guia prático para o design de novos produtos. 3. ed.
São Paulo: Blücher. 2011.
BELLEY, Mariana. A falta de padrão na moda brasileira. Estadão. 17 abr. 2014. Disponível
em: <http://emais.estadao.com.br/noticias/moda-e-beleza,a-falta-de-padrao-na-moda-
brasileira,1530156>. Acesso em: 2 maio 2018.
BÜRDEK, B. E. História, teoria e prática do design de produtos. São Paulo: Blücher, 2006.
DAMÁSIO, A. Em busca de espinosa. São Paulo: Schwarcz, 2004.
DESIGN Council. Designers across disciplines share strikingly similar approaches to the
creative process, which we’ve mapped out as ‘the Double Diamond’. 2018. Disponível
em: <https://www.designcouncil.org.uk/news-opinion/design-process-what-double-
diamond>. Acesso em: 1 maio 2018. Figura colorida.
DESMET, P., HEKKERT, P. Framework of product experience. International Journal of
Design. Vol. 1, No. 1. Holanda: Delft, 2007.
IDEO (USA). Toolkit. 2015. Disponível em: <www.designkit.org>. Acesso em: 14 abril de
2017.
LOBACH, B. Design Industrial: bases para a configuração dos produtos industriais. São
Paulo: Blücher, 2001.
MCCRACKEN. Grant. Cultura & Consumo. Rio de Janeiro: Mauad, 2013.
NISHIMURA, M.; MERINO, E.; GONTIJO, L. Referências de medidas da ABNT:
instrumento para a normalização do produto de vestuário, 2017.
NORMAN, D. Design emocional: por que adoramos (ou detestamos) os objetos do dia-adia.
Rio de Janeiro: Rocco, 2008.
NOVAES, Joana de Vilhena. O intolerável peso da feiura: sobre as mulheres e seus
corpos. Rio de Janeiro: Ed. Puc-Rio; Garamond, 2006.
OLIVEIRA, Ana Claudia; CASTILHO, Kathia. Corpo e moda por uma compreensão do
contemporâneo. [S. l. : s. n.]. 2008.
OLIVEIRA, Rachel Costa de. Corpo Definido: Moda fitness para mulheres
Bodybuilders. 2015. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em BACHARELADO
EM DESIGN - MODA) - CENTRO DE TECNOLOGIA DA INDÚSTRIA QUÍMICA E
TÊXTIL - FACULDADE SENAI-CETIQT. Orientador: Ana Paula Lima de Carvalho.
PASSOS, Flávio. Comer bem que mal tem? São Paulo: TRX Global’s Strategy, 2016.
PEREGRINO, Fernanda. Novo padrão de medidias do vestuário feminino otimizará
vendas. Sebrae Moda. jan. 2015. Disponível em: <http://www.sebraemercados.com.br/
novo-padrao-de-medidas-do-vestuario-feminino-otimizara-vendas/>. Acesso em: 1 maio 2018.
SABRÁ, F., SANTOS, C., DINIS, P. Estabelecendo uma metodologia para medição do corpo
humano. In: COLÓQUIO DE MODA, 2., 29 set. até 2 out. 2008, Rio Grande do Sul. Anais...
Rio Grande do Sul: FEEVALE, 2008.
SABRÁ, Flávio. Modelagem tecnologia em produção de vestuário. 2. ed. Rio de Janeiro:
SENAI CETIQT, 2014.
SENAI/Modatec - Centro de Desenvolvimento Tecnológico para o Vestuário. Modelagem
industrial feminina. Minas Gerais: SENAI FIEMG, [20_ _ ].
TEIXEIRA, Mayare da Silva. Plus size brasilidade. 2012. Trabalho de Conclusão de Curso.
(Graduação em Curso de Bacharelado em Design de Moda) - Centro de Tecnologia da
Indústria Química e Têxtil. Orientador: Ana Paula Lima de Carvalho.
8. Agradecimentos
Gostaríamos de agradecer à instituição em que trabalhamos, SENAI CETIQT, pois
nos permite entrar em contato diário com as questões do mundo do trabalho do designer na
indústria da moda.

Você também pode gostar