FACULDADE FUTURA
TENDÊNCIAS ATUAIS DA
EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO
INCLUSIVA
VOTUPORANGA – SP
1 A INCLUSÃO SOCIAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS
Fonte: www.catracalivre.com.br
Incluir quer dizer fazer parte, inserir, introduzir. E inclusão é o ato ou efeito de
incluir. Assim, a inclusão social das pessoas com deficiências significa torná-las
participantes da vida social, econômica e política, assegurando o respeito aos seus
direitos no âmbito da Sociedade, do Estado e do Poder Público.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Organização das
Nações Unidas (ONU), em 1948 relaciona os seguintes direitos que valem para todos,
isto é, os chamados direitos humanos ou da cidadania:
Direitos Civis: direito à liberdade e segurança pessoal; à igualdade
perante lei; à livre crença religiosa; à propriedade individual ou em
sociedade; e o direito de opinião (Art. 3° ao 19).
Direitos Políticos: liberdade de associação para fins políticos; direito de
participar do governo; direito de votar e ser votado (Arts. 20 e 21).
Direitos Econômicos: direito ao trabalho; à proteção contra o
desemprego; à remuneração que assegure uma vida digna, à
organização sindical; e direito à jornada de trabalho limitada (Arts. 23 e
24).
Direitos Sociais: direito à alimentação; à moradia; à saúde; à
previdência e assistência; à educação; à cultura; e direito à participação
nos frutos do progresso científico (Art.25 ao 28).
2 FUNDAMENTOS LEGAIS DO AEE
Fonte: www.diversidadenarua.cc
Plano de Desenvolvimento da educação-PDE.
Política Nacional de educação Especial na perspectiva da educação
inclusiva.
Decreto nº6571 de 17/09/2008, regulamenta o AEE, como um dos
serviços disponibilizados pela educação especial.
Parecer nº13 do CNE
Resolução nº4 do CNE.
Esses direitos foram conquistados arduamente nos últimos 200 anos. Contudo,
segundo as condições históricas de cada país, podem ser descumpridos ou bastantes
fragilizados, o que indica que o esforço do Estado e da Sociedade por sua vigência
deva ser permanente. Uma coisa é certa: para fortalecê-los entre nós, a Sociedade e
o Estado brasileiros devem agir com base no princípio da associação interdependente
dos direitos, isto é, o cumprimento efetivo de um depende do cumprimento dos outros.
Por exemplo, o direito à igualdade perante a lei depende do direito de votar e ser
votado, o qual está por sua vez associado ao direito de opinião aos direitos à educação
e à saúde.
Quando isto não ocorre, os direitos de todos perdem as suas forças e, em
consequência, os direitos específicos das pessoas com deficiência também. Ora, se
o direito universal à saúde não está associado aos demais e além disso, é cumprido
de modo insuficiente pelo Estado, o direito à saúde específico das pessoas com
deficiência igualmente será fragilizado ou mesmo negado.
Portanto a inclusão social tem por base que a vigência dos direitos específicos
das pessoas com deficiência está diretamente ligada à vigência dos direitos humanos
fundamentais. Em virtude das diferenças que apresentam em relação às demais, as
pessoas com deficiência possuem necessidades especiais a serem satisfeitas. Tal
fato significa que:
Os direitos específicos das pessoas com deficiências decorrem de suas
necessidades especiais;
É preciso compreender que as pessoas não deficientes e as pessoas
com deficiências não são “iguais”.
O exercício dos direitos gerais bem como nos direitos específicos destas
últimas está diretamente ligado à criação de condições que permitam o
seu acesso diferenciado ao bem-estar econômico, social e cultural.
Assim orientada, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu, em
1975, a Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiências. Ponto de chegada de
uma luta histórica de entidades nacionais e internacionais e, em particular, das
próprias pessoas com deficiências e de suas organizações, a Declaração tornou-se,
em todo mundo, o ponto de partida para a defesa da cidadania e do bem-estar destas
pessoas, assegurando os seguintes direitos:
O direito essencial à sua própria dignidade humana. As pessoas com
deficiência,
Independente da origem, natureza e gravidade de suas incapacidades,
têm os mesmos direitos que os outros cidadãos, o que implica no direito
de uma vida decente, tão normal quanto possível;
As pessoas com deficiência têm os mesmos direitos civis e políticos dos
demais indivíduos. O parágrafo 7° da Declaração dos Direitos do
Deficiente Mental indica a possibilidade de limitar ou de suprimir tais
direitos no caso das pessoas com deficiência mental;
O parágrafo 7 da Declaração dos Direitos das Pessoas Mentalmente
Retardadas estabelece: “Sempre que pessoas mentalmente retardadas
forem incapazes devido à gravidade de sua deficiência de exercer todos
os seus direitos de um modo significativo ou que se torne necessário
restringir ou denegar alguns ou todos estes direitos, o procedimento
usado para tal restrição ou denegação de direitos deve conter
salvaguardas legais adequadas contra qualquer forma de abuso. Este
procedimento deve ser baseado em avaliação da capacidade social da
pessoa mentalmente retardada, por parte de especialistas e deve ser
submetido à revisão
Periódica e ao direito de apelo a autoridades superiores”;
As pessoas com deficiências têm o direito de desenvolver capacidades
que as tornem, tanto quanto possível, autoconfiantes;
O direito ao tratamento médico, psicológico e reparador, incluindo
próteses e órteses, visando a sua reabilitação, bem como o acesso a
serviços que as habilitam a desenvolver capacidades voltadas para sua
integração ou reintegração social;
As pessoas com deficiência têm o direito à segurança social econômica
e a um nível de bem-estar digno. Elas têm o direito, segundo suas
capacidades, ao emprego ou de participar de ocupação útil e
remunerada;
O direito a que suas necessidades especiais sejam incluídas no
planejamento econômico e social;
As pessoas com deficiência têm o direito de viver com sua família e de
participar das atividades sociais. Elas não serão submetidas, mesmo em
suas residências, a tratamento diferente (discriminatório) que não seja o
necessário para melhorar o seu bem-estar. Se a sua permanência em
instituição especializada for indispensável, o ambiente e as condições
deverão ser as mais próximas da vida normal;
O direito à proteção contra toda a exploração e todo o tratamento
discriminatório, abusivo e degradante;
As pessoas com deficiência têm o direito ao apoio jurídico qualificado
quando tal apoio mostrar-se indispensável para sua proteção. Se
processos judiciais forem estabelecidos contra elas, o procedimento
legal respeitará as suas condições físicas e mentais;
As organizações das pessoas com deficiência devem ser consultadas
em todos os assuntos que dizem respeito aos direitos mencionados;
As pessoas com deficiência, suas famílias e a comunidade devem ser
plenamente informadas, pelos meios apropriados, dos direitos contidos
na Declaração.
Pode-se perceber que a inclusão social das pessoas com deficiência depende
do seu reconhecimento como pessoas, que apresentam necessidades especiais
geradoras de direitos específicos, cuja proteção e exercício dependem do
cumprimento dos direitos humanos fundamentais.
3 AS NORMAS LEGAIS DE GARANTIA DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA OS DIREITOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Fonte: saberprevidenciario.com.br
Logo no artigo 1° da Constituição são mencionados dois dos fundamentos que
amparam os direitos de todos os brasileiros, incluindo, é claro, as pessoas com
deficiência: a cidadania e a dignidade.
Cidadania: é a qualidade de cidadão. E cidadão é o indivíduo no gozo
de seus direitos civis, políticos, econômicos e sociais numa Sociedade,
no desempenho de seus deveres para com esta.
Dignidade: é a honra e a respeitabilidade devida a qualquer pessoa
provida de cidadania.
São fundamentos que orientam os objetivos de nossa República, tais como,
“construir uma sociedade livre, justa e solidária “; “erradicar a pobreza e a
marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais” e “promover o bem de
todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação”.
A expressão o bem de todos indica que os direitos e deveres da cidadania
pressupõem que todos são iguais perante a lei, com a garantia de que são invioláveis
o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (Artigo 5°).
Todavia, as pessoas com deficiência possuem necessidades especiais que as
distinguem das outras. Desta forma, é importante compreender que, além dos direitos
relativos a todos, as pessoas com deficiência devem ter direitos específicos, que
compensem, na medida do possível, as limitações e/ou impossibilidades a que estão
sujeitas.
Por isto é preciso repetir que os não deficientes e as pessoas com deficiência
não iguais, no sentido de uma igualdade apenas abstrata e formal, isto é, que não
considera as diferenças existentes entre os dois grupos.
E que as pessoas com deficiência apresentam necessidades especiais, que
exigem um tratamento diferenciado para que possam realmente ser consideradas
como cidadãos. Assim, a Constituição estabelece as seguintes normas relativas:
3.1 Ao Trabalho
Art. 7° - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros
que visem à melhoria de sua condição social:
XXXI. Proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e
critérios de admissão do trabalhador com deficiência.
Art.37 – Administração pública direta, indireta ou fundacional, de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos Princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e, também ao seguinte:
VII. A lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as
pessoas com deficiência e definirá os critérios de sua admissão.
3.2 À Atenção do Estado (Poder Público) à saúde e proteção
Art. 23 – é competência comum da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos
Municípios:
II cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas
com deficiência.
Art. 24 – Compete a União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre:
XIV. proteção e integração social das pessoas com deficiência
4 O MOVIMENTO DE INTEGRAÇÃO SOCIAL DAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA
Fonte: www.pessoascomdeficiencia.com.br
O movimento pela integração da pessoa deficiente, na Europa, pode ser
considerado como decorrente da conjunção histórica de três fatores, segundo
estudiosos do assunto: o advento das duas grandes guerras mundiais, o
fortalecimento do movimento pelos Direitos Humanos e o avanço científico.
Como consequência das duas grandes guerras, surgiu nos países atingidos
uma grande quantidade de pessoas mutiladas, debilitadas e perturbadas
mentalmente. As sociedades desses países viram-se diante da necessidade de criar
formas de atendimento e reintegração desses indivíduos ao meio social. Além disso,
o curto intervalo entre as duas guerras e o número de baixas ocorridas gerara um
déficit de mão de obra, o que levou à implantação de programas de educação, saúde
e treinamento para que trabalhadores deficientes pudessem preencher as lacunas da
força de trabalho europeia (SANTOS, 1995; CORREIA, 1997).
A aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o fortalecimento
dos movimentos de luta em defesa dos direitos civis, influenciados pelas grandes
transformações sociais ocorridas ao longo da segunda metade do Século XX, estão
na gênese das recentes disposições de igualdade de oportunidades educativas para
crianças com necessidades educacionais especiais. Despontava, então, uma fase de
esperança e luta por melhores tempos, espelhada num renascimento humanista, cada
vez mais crescente e que atingiu seu auge nos anos 60. Nesse período, ocorreu uma
mudança de perspectiva em relação ao tipo de inserção das pessoas deficientes na
força de trabalho, que havia sido originada no pós-guerra. A demanda, que antes tinha
por objetivo preencher lacunas, agora se daria no sentido de integrar os indivíduos
deficientes com base em seus direitos como seres humanos e indivíduos pertencentes
a uma sociedade (SANTOS, 1995; CORREIA, 1997).
Paralelo aos dois fatos já mencionados, o avanço científico dessa época trouxe
informações importantes sobre aqueles grupos considerados minorias sociais.
Estudos sociológicos, realizados nos Estados Unidos, citados por Santos (1995),
revelaram a escassez ou carência total de acesso às provisões sociais, de saúde e
educacionais, pelas minorias étnicas.
Pesquisas nas áreas médica, educacional e psicológica defendiam uma
abordagem menos paternalista em relação aos indivíduos deficientes e enfatizavam
que a “excepcionalidade”, necessariamente, não deve se constituir num impedimento
total para a aprendizagem dos indivíduos deficientes, nem significar uma incapacidade
deles em frequentar o ambiente escolar.
As novas tendências no campo educacional, em oposição à visão positivista,
trariam à tona a concepção de educação como instrumento para o desenvolvimento
de um saber e de uma consciência críticas; com abordagens pedagógicas centradas
no aluno, visando a sua formação, como futuro cidadão, como agente social ativo e
histórico.
Os movimentos a favor da integração dos deficientes mentais surgiram nos
países nórdicos no início da década de 60, quando, em 1950, na Dinamarca, traçava-
se pela primeira vez, um plano para integração de crianças portadoras de deficiência.
A ideia da integração nascia para derrubar a prática da exclusão social a que foram
submetidas as pessoas portadoras de deficiências, durante vários séculos.
Na década de 60, observou-se um boom de instituições especializadas que
ofereciam aos grupos específicos de indivíduos deficientes, todos os serviços
possíveis correspondentes àqueles encontrados fora da instituição, disponibilizados
para a população considerada normal. A segregação continuava, só que agora no
âmbito institucional, dentro de escolas especiais, centros de reabilitação, oficinas
protegidas de trabalho, clubes recreativos especiais, etc. (SASSAKI, 1997).
Ao final daquela década, a ideia de integração social foi ampliada e o objetivo
da nova abordagem passou a promover a integração das pessoas portadoras de
deficiência nos sistemas sociais gerais, como a educação, o trabalho, a família e o
lazer. O fator propulsor de tal mudança de perspectiva foi a elaboração e a divulgação
de um importante princípio – o princípio da normalização (SASSAKI, 1997).
Em 1969, na Dinamarca, Nirje – Diretor da Associação Sueca para Crianças
Retardadas - formula o princípio da normalização, que se constituiria na base
conceitual do processo de integração social dali em diante. Em sua redação inicial, o
princípio referia-se apenas a pessoas com deficiência, como se pode constatar: “O
princípio de normalização significa colocar ao alcance dos retardados mentais, uns
modos e umas condições de vida diários o mais parecido possível às formas e
condições de vida do resto da sociedade” (STEELNLANDT 1991, in CARVALHO,
1997, p.45).
Este princípio foi generalizado a partir de 1972, por Wolfensberg, para todas as
pessoas com deficiências e contemplou tanto os meios possíveis, quanto os
resultados alcançados. Isto quer dizer que, para Wolfensberg, a normalização era a
utilização de meios tão culturalmente normativos quanto fosse possível para
estabelecer e/ou manter condutas e características pessoais o mais culturalmente
normativas quanto fosse possível (STEELLANDT, 1991).
O pressuposto básico do princípio da normalização era que toda pessoa
portadora de deficiência, especialmente, as deficientes mentais, tinham o direito de
experienciar um estilo, ou padrão de vida, que fosse comum ou normal à sua própria
cultura, ou seja, a todos os membros de uma sociedade deveriam ser oferecidas
oportunidades iguais de participar em atividades comuns àquelas partilhadas por seu
grupo de pares (MENDES, 1994).
Definida como um princípio ou como um objetivo a ser alcançado, a
normalização não era específica da escola; ela passava a englobar os diversos
aspectos da existência em sociedade e de todas as etapas de vida dos indivíduos com
deficiência. Além disso, o princípio da normalização não permaneceu restrito aos
fatores relacionados à vida dos indivíduos afetados por uma incapacidade ou uma
dificuldade, ele passava a envolver também todas as outras pessoas que estavam em
contato com aqueles indivíduos, ou seja, sua família e a sociedade que se
relacionasse com eles (DORÉ et. al., 1996).
Fonte: www.casadaptada.com.br
Uma das opções de integração escolar denominava-se mainstreaming, ou seja,
“inserção na corrente principal” e seu sentido seria análogo à existência de um canal
educativo geral, que, em seu fluxo, vai carregando todo tipo de aluno com ou sem
capacidade ou necessidade específica. Pelo conceito de mainstreaming, o aluno
portador de deficiência, ou com dificuldades de aprendizagem, deve ter acesso à
educação, sendo que essa formação deverá ser adaptada às suas necessidades
específicas (MANTOAN,1998).
Foi a partir da década de 80 que a integração social, como movimento, teve
seu maior impulso com o fortalecimento da luta pelos direitos das pessoas portadoras
de deficiência. No Brasil, essa influência é vista, claramente, na redação dos textos
oficiais que normatizaram o atendimento educacional especial.
Ocorreu, também nessa década, a despeito das críticas iniciais, o
desenvolvimento de estratégias de operacionalização do princípio de normalização
por meio de integradores. O processo de “mainstreaming” firmou-se como filosofia de
integração amplamente aceita (MENDES, 1994).
A defesa da integração social da pessoa com deficiência, sem dúvida alguma,
foi um avanço social muito importante, pois teve o mérito de inserir esse indivíduo na
sociedade de uma forma mais efetiva, se comparado à situação anterior de
segregação. Entretanto, se o processo de integração social tem consistido no esforço
de inserir na sociedade pessoas com deficiência que alcançaram um nível compatível
com os padrões sociais vigentes, tal esforço tem se mostrado unilateral em nossos
dias; um esforço somente da pessoa portadora de deficiência e de seus aliados - a
família, a instituição especializada e algumas pessoas envolvidas na causa da
inserção social - segundo Sassaki (1997).
Da forma como está sendo realizada hoje, a integração escolar/social pouco ou
nada exige da sociedade em termos de modificação de atitudes, de espaços físicos,
de objetos e de práticas sociais. A sociedade “cruza seus braços” e aceita o deficiente
desde que ele se torne capaz de adaptar-se ao seu contexto social e às formas de
desempenhar os papéis sociais necessários.
Essa prática reflete o, ainda vigente, modelo médico de compreensão da
deficiência. O modelo médico de compreensão da deficiência significa compreender
este fenômeno tendo, como referência, um conjunto de significados construídos
historicamente, fundamentados em uma explicação médica da deficiência. Dentro de
uma visão organicista de Ser Humano, a explicação médica focaliza a deficiência no
indivíduo desviante, enfatiza o diagnóstico e prognóstico clínico (a médio e longo
prazo) e tem como objetivo fundamental: classificar, comparar e normatizar o
desviante.
O modelo médico de deficiência parte do pressuposto de que as pessoas
portadoras de uma deficiência são doentes e debilitadas, pois estão afastados de um
“estado normal” de condição humana, que, nesse caso, seria aquele estado
considerado dentro da norma – o ser normal, o ser saudável.
Por conta das diferenças que apresentam os deficientes, dentro desse modelo,
são discriminados como incompetentes para o exercício de atividades sociais
(educação, lazer e trabalho), desconsiderados em seus direitos e deveres,
reconhecidos como indivíduos incompetentes para aprender, pensar e decidir,
estando submetidos a um permanente estado de dependência em relação a outras
pessoas. De forma geral, nas interações sociais realizadas tendo como referência este
modelo de compreensão do fenômeno, as pessoas acabam se relacionando com o
quadro etiológico da condição deficiente e não com o seu portador.
O modelo médico de compreensão da deficiência está arraigado na realidade
da educação especial brasileira e, em parte, tem sido responsável pela resistência da
sociedade em aceitar a necessidade de mudar suas estruturas e atitudes para inserir
em seu meio os indivíduos com deficiência, de modo a favorecer-lhes o
desenvolvimento pessoal, social, educacional e profissional. Partindo do pressuposto
de que a deficiência é um problema existente exclusivamente na pessoa deficiente, a
sociedade sempre foi levada a crer que bastaria oferecer a esses indivíduos algum
tipo de serviço especializado e o problema estaria solucionado.
Fundamentado em um modelo médico de deficiência, que “tenta ‘melhorar’ as
pessoas com deficiência para adequá-las aos padrões da sociedade”
(WESTMACOTT, in SASSAKI, 1997), o processo de integração social tem
concentrado esforços no sentido de inserir na sociedade pessoas com deficiência que
já tenham alcançado um nível de desempenho compatível com os padrões sociais
vigentes. O processo de integração baseado num modelo médico de deficiência, para
Sassaki, pouco ou nada exige da sociedade no que se refere a mudanças de atitudes,
de espaços físicos, de objetos e de práticas sociais.
De forma geral, a defesa do modelo de integração escolar do indivíduo com
deficiência por meio do processo de mainstreaming está muito presente nos projetos
de Educação Especial desenvolvidos, atualmente, no Brasil. No processo de
mainstreaming, o aluno deficiente deve ter acesso à educação, sendo sua formação
escolar adaptada às suas necessidades específicas.
Para que tal objetivo seja alcançado, deve haver uma diversidade de
possibilidades e de serviços disponíveis a esse aluno, opções que vão da inserção
em classes regulares ao ensino em escolas especiais. O processo de integração,
nesse modelo, é representado por uma estrutura denominada “sistema de cascata”
em que é oferecido ao deficiente um ambiente menos restritivo possível, em todas as
etapas da integração, com a garantia desse aluno poder transitar ao longo do
“sistema”.
“Mainstreaming“ seria uma concepção de integração parcial, porque o sistema
de cascata prevê serviços segregados que não ensejam o alcance dos objetivos da
normalização. Os alunos que se encontram em serviços segregados, raramente se
deslocam para outros menos segregados (MANTOAN, 1998).
O sistema de cascata e as políticas de integração no modelo mainstreaming,
em muitos casos, acabam sendo usados pela escola para ocultar o seu fracasso em
relação a alguns alunos, isolando-os e somente integrando aqueles que não
constituem um desafio à sua competência (DORÉ et al.,1996).
A seleção dos alunos que se enquadram nas situações de mainstreaming é
feita utilizando-se um processo de avaliação e seleção (supostamente “objetivo”), que
irá apontar quais serão elegíveis para serem integrados. Entretanto, a objetividade
desse processo é questionável e os critérios utilizados, em muitos casos, são
subjetivos, arbitrários e inadequados para revelar a real condição daquele aluno.
Seguindo o curso das transformações das práticas sociais relacionadas à forma
de inserção social das pessoas com necessidades especiais e aos tipos de
atendimento oferecidos a eles, observamos o surgimento de uma quinta fase, na
segunda metade da década de 80, incrementando-se nos anos 90: é a fase da
Inclusão Escolar.