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ABORTO - Ética

Este documento discute dois argumentos principais no debate sobre o aborto: (1) O argumento de Michael Tooley que defende que o aborto é permissível porque fetos não têm autoconsciência e, portanto, não têm direito à vida. (2) O argumento de Donald Marquis que defende que o aborto é errado porque priva o feto de uma vida futura valiosa. O documento analisa os pontos fortes e fracos de cada argumento.

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ABORTO - Ética

Este documento discute dois argumentos principais no debate sobre o aborto: (1) O argumento de Michael Tooley que defende que o aborto é permissível porque fetos não têm autoconsciência e, portanto, não têm direito à vida. (2) O argumento de Donald Marquis que defende que o aborto é errado porque priva o feto de uma vida futura valiosa. O documento analisa os pontos fortes e fracos de cada argumento.

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1 – Discussão ética do aborto

ABORTO: análise crítica das abordagens


de Michael Tooley e Donald Marquis

Universidade de Lisboa, Faculdade de Direito e Letras Curso


de Pós-graduação em Ética, Direito e Pensamento Politico.

Autor: Sílvio Marques


Revisão: Elsa Josina

RESUMO:
Este artigo centra-se na discussão ética do aborto, destacando dois dos principais
argumentos pró-vida e pró-escolha, apresentando os pontos fortes e fracos de cada uma
das perspetivas. Uma vez que a abordagem de Michael Tooley sobre a moral do aborto é
baseada em argumentos psicológicos, foi necessário fazer uma apresentação resumida de
dois dos argumentos da identidade pessoal – neo-lockeano e animalismo – para mais tarde
se formalizar uma crítica ao argumento tooliano. Quanto à abordagem de Donald
Marquis, a pesar de evitar o caminho de Tooley, não saiu ileso das críticas de David
Boonin.
PALAVRAS-CHAVE: Aborto, identidade pessoal, direito moral à vida, críticas.
1. O problema do aborto
ma das questões mais debatidas em Ética Aplicada é sem dúvida a questão
do aborto que dado a sensibilidade e a maneira como os interlocutores se
U envolvem na discussão, torna-se difícil controlar os ânimos.
A questão do aborto divide inicialmente o debate em dois grupos – pró-
vida radicais e pró-escolha radicais – que, em função das exceções que cada um admite
ao longo da discussão, se torna inegável a existência de outras posições mais moderadas.
Entre os que se posicionam como defensores da liberdade de escolha das mulheres – pró-
escolha ou liberal –, alguns (os mais radicais) pensam que o aborto é sempre permissível,
enquanto outros (os menos radicais) aceitam que a partir de uma determinada fase da
gravidez (mais avançada) o aborto torna-se objetável ou mesmo profundamente errado.
De igual modo, os que se posicionam a favor da vida – pró-vida ou “conservadores” –
condenam o aborto em todas as situações possíveis, enquanto uma posição menos radical
admite a realização do ato abortivo em situações consideradas sensíveis como quando a
continuação da gravidez põe em risco a vida da mulher; a gravidez resulte de um ato de
violação; o feto sofre de deficiência ou doença que afeta gravemente a qualidade de vida
expetável.
2 – Discussão ética do aborto

Ao mergulhar cada vez mais na natureza do aborto, as dificuldades tornam-se mais claras
e desafiadoras. Por exemplo, os defensores mais radicais do valor sagrado e inviolável da
vida enfrentam a questão sobre qual das vidas se deve preservar – é inviolável – nas
situações em que o desenvolvimento do feto encurta a vida da mãe. Os que declaram que
mesmo nestas situações não se deve abortar, optam, claramente, por considerarem o
direito de vida do feto mais forte do que o direito da mãe, pelo que terão de justificar essa
escolha já que além do direito à vida, supostamente igual para ambos, à mãe é-lhe
acrescida o seu direito de decidir o que acontece em e com o seu corpo, pelo que parece
justificável atribuir-lhe a última palavra nas situações em que claramente a sua vida se vê
ameaçada (assim sugere Judith Thomson).
Os pró-escolha mais radicais enfrentam o desafio de justificarem a supremacia do direito
de escolha em relação ao direito à vida do feto, ou seja, o que torna o direito do domínio
do próprio corpo superior ao direito à vida do feto? Bem, é aceitável a afirmação de que
uma sociedade só é livre se de facto os seus membros tiverem o direito de disporem dos
seus próprios corpos. Entretanto, se levarmos em conta a afirmação de John Stuart Mill a
respeito da liberdade e do principio do dano: “O único fim para o qual as pessoas têm
justificação, individual ou coletivamente, em interferir na liberdade de ação de outro, é a
autoproteção” 1, observámos que se justifica a supressão do direito do próprio corpo à
mulher que voluntariamente decide causar dano ao feto sem que este represente uma
ameaça a continuidade de sua vida.
Por outra, os pró-escolha moderados enfrentam o delicado desafio de explicarem a partir
de que altura é imoral abortar ou a partir de que momento o feto ganha direito à vida.
Contudo, a discussão moral do aborto antecipa a discussão jurídica. Assim, ao se admitir
o aborto como uma pratica imoral enfrenta-se a questão básica de se saber quando e
porquê razão é o aborto imoral. Pois, se não houver erro nenhum em se matar um feto
humano, então não se justifica a proibição jurídica do aborto. No entanto, ao se olhar o
aborto com os mesmos olhos que se olha a morte deliberada de uma criança ou adulto,
torna-se inegável a condenação moral do aborto e justificável a condenação jurídica.
Com isso, vamos concentrar-nos apenas nas questões éticas do aborto e para início de
discussão, formulamos a questão pelas seguintes premissas:
(1) Todos os seres humanos têm direito à vida;
(2) É errado matar deliberadamente um ser humano, prima facie;
(3) Os fetos e recém-nascidos são seres humanos;
(4) Por isso, quer o aborto como o infanticídio são moralmente errados.
A primeira e a segunda premissa são aceites nas perspetivas que nos propusemos a estudar
(perspetiva da autoconsciência e a perspetiva do futuro-como-nosso): o direito à vida é
fundamental para qualquer ser humano. E por isso, é condenável o assassinato, pelo
menos, enquanto principio prima facie, pois em casos de autodefesa, por exemplo,
podemos querer afirmar que se justifica matar deliberadamente o agressor, ainda que ele
tenha o direito à vida.
No entanto, o debate entre pró-vida e pró-escolha assenta necessariamente na terceira e
quarta premissa. Enquanto os pró-vida olham para o feto como um ser humano com a
mesma dignidade de um homem adulto, os pró-escolha argumentam que o feto ainda não
1
em Sobre a Liberdade (Edições 70, no prelo), o princípio do dano.
3 – Discussão ética do aborto

cumpre os requisitos de um ser humano, principalmente o requisito da racionalidade que


constitui um dos argumentos chave da filosofia liberal. Por isso, argumentam os liberais,
o feto não deve gozar dos mesmos direitos que goza um ser humano adulto,
nomeadamente, o direito à vida, pelo que se consideram falsas as premissas três e quatro.
2. Argumento pró-escolha – Michael Tooley
Em 1972, Michael Tooley publicou o debatido artigo “Aborto infanticídio”, tornando-se,
desde então, um dos mais poderosos instrumentos de defesa das convicções pró-escolha
radical.
Tooley parte do principio de que a racionalidade, para ser mais especifico:
autoconsciência, é a principal caraterística que diferencia o ser humano dos outros
animais e, portanto, é pela ausência da autoconsciência nos animais não humano que torna
a morte destes menos objetável do que a morte de uma pessoa humana2. Com isso, se é a
autoconsciência o critério usado para que os homens tenham forte direito à vida3 em
relação aos animais, então também deve ser a autoconsciência o critério necessário para
que se rejeite o direito moral à vida aos fetos – uma vez que estes ainda não podem ser
considerados pessoas humanas.
Para defender essa posição radical do aborto, Michael começa por argumentar que se um
determinado individuo tem um certo direito, isto implica que os outros indivíduos fiquem
condicionados a uma determinada obrigação. No entanto, a obrigação fica dependente do
desejo do individuo ao qual se atribuiu o direito.
Atribuir um direito a um individuo é afirmar algo sobre obrigações prima face que outros
indivíduos têm no sentido de agir, ou de se abster de agir, de certa maneira. No entanto, as
obrigações em questão são condicionais, estando dependentes da existência de certos desejos do
individuo ao qual se atribui o direito. Assim, se um individuo nos pedir para destruirmos uma coisa
a que ele tem direito, não violaremos o seu direito a essa coisa caso a destruamos. Isto sugere a
seguinte analise: “A tem direito a X” significa aproximadamente o mesmo que “se A deseja X,
então os outros estão sob uma obrigação prima facie de se abster de realizar ações que o privariam
de X”4

A partir do argumento do desejo como base necessária para que se respeite os direitos
atribuídos a determinada pessoa, Tooley parte, em seguida, ao conceito mais especifico
do direito à vida que, segundo ele, está ligado à autoconsciência e ao desejo de continuar
a viver. Entretanto, destaca que continuar a viver não é simplesmente desejar que o nosso
organismo se mantenha vivo, mas desejar que continuemos vivos enquanto sujeito de
experiências e de outros estados mentais.
Se pela autoconsciência os indivíduos ganham forte direito moral à vida, pelo desejo de
continuar à viver os indivíduos exigem a que se respeite o seu direito de viver. Assim,
Tooley destaca que o desejo de continuar a viver é fundamental para que se condene o
assassinato de uma pessoa.

2
Entende-se por pessoa humana, um ser pensante, consciente de si, que se encontra estreitamente
relacionado com um certo animal da espécie Homo sapiens.
3
Segundo essa perspetiva do direito moral à vida, todos os seres viventes têm, a princípio, direito moral à
vida. Entretanto, esse direito é mais forte ou mais fraco em função dos estados mentais que apresentam.
Assim, uma arvore tem menos direito à vida do que um cão, um cão menos do que um homem. Pela logica,
um feto tem menos direito moral à vida do que um homem adulto, isto porque ainda não é capaz de
conceber-se a si mesmo.
4
Galvão, 2017, pp.212
4 – Discussão ética do aborto

Aqui a ideia básica é que os desejos que uma coisa pode ter estão limitados aos conceitos que ela
possui. Aplicar isto ao presente caso resulta na conclusão de que uma entidade não pode ser tipo
de coisa capaz de desejar que um sujeito de experiencias e de outros estados mentais exista a não
ser que possua o conceito de um sujeito desse género. Alem disso, uma entidade não pode desejar
que ela própria continue a existir enquanto sujeito de experiencias e de outros estados mentais a
não ser que acredite que ela própria é agora um sujeito desse género. Isto completa a tese segundo
a qual uma condição necessária para uma coisa possuir um forte direito a vida é a coisa possuir o
conceito de um eu enquanto sujeito continuo de experiências, e acreditar que ela própria é uma
entidade desse género5.

Com isso, uma vez que o feto não tem consciência de si próprio – não se pode conceber
como sujeito de experiencia – e consequentemente não pode ter desejo de continuar à
viver enquanto sujeito de estados mentais, Tooley conclui que nem o feto nem mesmo o
recém-nascido podem ser considerados pessoas e por isso não têm direito moral à vida.
Realmente, se o critério para se atribuir direito moral a vida for a autoconsciência e o
desejo de continuar a viver a condição que obriga os outros seres humanos a respeitarem
esse direito, então não restam dúvidas de que não existe imoralidade nenhuma em causar
morte aos fetos e às crianças recém-nascidas, porque é inegável – estudos científicos
assim confirmam – a inexistência de autoconsciência e desejo de continuar a viver nos
mesmos.
Entretanto, será o desejo de continuar a viver a condição necessária para que se respeite
o direito à vida? Imaginemos que determinado sujeito – podemos chamá-lo por alfa –
consciente de si próprio e cheio de desejo pela vida, mas que em determinado momento,
devido a uma grave doença mental, manifesta o desejo de pôr fim a própria vida. Será
que ainda assim teremos de respeitar o direito à vida de alfa? Será correto matar alfa, já
que ele mesmo terá manifestado o desejo de pôr termo a própria vida? E se em vez de ter
sido afetado por uma grave doença mental, alfa se encontra em coma temporária. Será
certo os familiares, parentes ou amigos optarem por terminar com à vida dele já que em
estado de coma alfa não pode manifestar desejos? Podemos ainda sugerir uma terceira
questão: e se em vez de estar em coma, pensarmos que alfa terá perdido numa aposta
todos bens que estimava e que por conta dessa perda terá desejado pôr fim a própria vida.
Será correto matar alfa, já que terá ele mesmo manifestado o desejo de não continuar a
viver?
Tooley responde negativamente a estas questões, argumentando que “o direito de um
individuo a X pode ser violado não só quando ele desejar X, mas também quando ele
agora desejaria X caso não se verificasse uma das seguintes situações: (i) ele está
emocionalmente desequilibrado; (ii) ele está temporariamente inconsciente; (iii) ele foi
condicionado para desejar a privação de X” (1972; 83).
À primeira vista, parece existir alguma inconsistência no argumento de Tooley pelo fato
de não criar para o feto e o recém-nascido uma categoria baseada nos mesmos princípios
que levaram à criação da categoria (ii). Por exemplo, partindo do fato de que ambos –
feto/recém-nascido e os indivíduos temporariamente inconsciente – partilham as mesmas
características: ambos pertencem à família homo sapiens e ambos se encontram
temporariamente inconscientes – não se percebe por que razão é impermissvel matar os
indivíduos da categoria (ii), a pesar da sua inconsciência, e permissível matar os fetos e
os recém-nascidos.

5
TOOLEY, Michael. Aborto e Infanticídio. In: GALVÃO, Pedro. Pensar para o outro: uma analise
critica. Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2017, pp 212
5 – Discussão ética do aborto

Quanto aos indivíduos da categoria (iii), fica clara a ideia de que o desejo de continuar a
viver não é um critério rigoroso, pelo menos enquanto condição para que se respeite a
vida de um individuo, pois nalguns casos, por exemplo, no caso dos indivíduos da
categoria (iii), o desejo presente não é tido em conta.
Para essa aparente inconsistência, Peter Singer (2002) esclarece que a decisiva diferença
entre um – o feto e o recém-nascido – e outro – os indivíduos temporariamente
inconscientes – está no facto de os indivíduos nas categorias (ii) já terem sido sujeitos de
experiência ao passo que o feto e o recém-nascido nunca terem sido esse tipo de sujeito.
Essas razões – a preocupação indireta do utilitarismo clássico em não suscitar nos outros o medo
de que possam ser as próximas vitimas, o peso dado pelo utilitarismo das preferências aos desejos
das pessoas, a ligação de Tooley entre o direito à vida e a capacidade de se encarar a si própria
como sujeito mental com continuidade e o principio do respeito pela autonomia – baseiam-se todas
no fato de as pessoas se considerarem entidades distintas com um passado e um futuro. Não se
aplicam àqueles que não são e nunca foram capazes de se ver deste modo. 6

Vejamos, será que o desejo deve estar sempre ligado à autoconsciência para que seja
considerado relevante? Consideremos, por exemplo, um recém-nascido que, por causa de
um acidente, sobrevive durante apenas uma semana. Durante essa semana, desejou o colo
da mãe, o leite da mãe e um certo conforto que só podia vir do pai. O fato de em
determinado momento o recém-nascido ter mantido alguns desejos e experimentado
novos, não serão elementos relevantes para que se possa afirmar que nesta curta passagem
de tempo o recém-nascido terá sido um sujeito de experiência? Ou só é sujeito de
experiência o indivíduo capaz de conceber-se a si mesmo? Para beneficio do debate,
admitimos que só os indivíduos conscientes podem ter experiências. No entanto,
continuaremos a explorar o argumento de Tooley, analisando a consistência da
autoconsciência enquanto critério de atribuição do direito à vida.
2.1 A identidade pessoal e o aborto
A força do argumento de Tooley assenta numa base puramente psicológica: a razão, a
pessoa, o fundamental para que se atribua direito à vida aos indivíduos. Entretanto, ao
fazer isso, Tooley expõem-se à velha discussão da metafisica sobre a identidade pessoal7:
quando começa a nossa existência, quando termina e o que somos realmente? Para os
descritos problemas, várias são as correntes que se propõem a responder e uma delas é a
neo-lockeana que, ao que parece, é a abordagem usada por Tooley para justificar o critério
da racionalidade na sua defesa do aborto.
Segundo a abordagem neo-lockeana, o critério de identidade de um ser humano não pode
ser o seu aspeto físico – uma vez que este está em constantes mudanças –, mas sim o
aspeto psicológico, essencialmente a memoria.
Necessariamente, X = Y se e só se y se recorda de experiencias e de ações de X – ou vice-versa.

Ou seja, o que determina que o sujeito A que vimos ontem é o mesmo sujeito de hoje são
as memorias ou as experiências que ambos partilham. Assim, a nossa existência tem inicio
na nossa memoria e uma vez que não temos presente a memoria do feto ou do recém-
nascido, conclui-se que enquanto sujeitos de experiência (pessoa), nunca fomos nem feto
nem recém-nascido. E, portanto, a perda completa e irreversível da memoria significa o
fim da pessoa que somos.

6
SINGER, PETER. Ética pratica. Lisboa: Gradiva, 2002. pp173-174
7
Para a melhor compreensão deste assunto, veja-se GALVÃO. Identidade pessoal. Compendio em linha:
GALVÃO, 2013.
6 – Discussão ética do aborto

As pessoas humanas mudam constantemente. Será literalmente correto, então, falar de identidade
pessoal ao longo do tempo? Sendo tantas as diferenças entre, por exemplo, Locke aos 15 anos e
Locke aos 60 anos, como poderemos dizer que são a mesma pessoa? Num sentido de “mesma”,
aquele que corresponde ao conceito de identidade qualitativa, Locke aos 60 anos não é a mesma
pessoa que era aos 15 anos, dado que o sexagenário tem qualidades muito diferentes das do
adolescente. Contudo, apesar de qualitativamente diferentes, o sexagenário e o adolescente são
numericamente idênticos. “Locke aos 15 anos” e o “Locke aos 60 anos” referem a uma única
pessoa, não duas8.

Contudo, uma vez que nem o feto e nem mesmo o recém-nascido têm consciência de si
mesmo – consequentemente memoria – não podem ser considerados pessoas ou mesmo
sujeitos de experiencia. Logo, o aborto e o infanticídio não podem ser considerados a
morte de uma pessoa, ou seja, matar um homem adulto não é o mesmo que matar um feto
ou um recém-nascido.
A abordagem neo-lockeana é muito criticada por deixar varias questões em aberta, por
exemplo:
Imaginemos que o corpo de uma certa pessoa – chamemos-lhe alfa – fica irremediavelmente
destruído, mas o seu cérebro permanece intacto. Cada um dos seus hemisférios é transplantado
para um corpo diferente, sendo ambos os hemisférios qualitativamente idênticos. Após o
transplante, duas pessoas despertam – alfa x e afla y – nos novos corpos. Será que alfa sobreviveu
a pesar da destruição do seu corpo? Se sim, qual dos dois é alfa?

Se o critério da identidade pessoal for a memoria – conforme sugerem os neo-lukeanos –


seria inconsistente dizer-se que alfa deixou de existir após a destruição do seu corpo.
Entretanto, ao aceitar que alfa continua a existir, embora em corpo diferente, enfrentamos
o delicado desafio em determinar qual dos dois é alfa. Se dizermos que é alfa x,
precisaremos justificar a razão da escolha de um e não de outro uma vez que ambos são
psicologicamente idênticos a alfa na mesma medida.
Se afirmarmos que alfa passou a ser os dois – alfa x e alfa y – seria falso, dado que a
identidade é transitiva: se alfa fosse alfa x e alfa y, então alfa x seria alfa y, o que não é
verdadeiro pelo fato de estarmos a falar de pessoas numericamente diferentes e com
colocação distintas no espaço e no tempo. Essa concessão fere os princípios da lógica,
segundo a qual: uma coisa não pode ser duas.
Ora, se a base da perspetiva de Tooley – abordagem neo-lockeana – revela-se
inconsistente enquanto teoria da identidade pessoal, o critério de Tooley – baseado na
autoconsciência ou pessoa, também é inconsistente enquanto teoria moral do direito à
vida. Por essa razão, não serve como critério de atribuição do direito à vida. Entretanto,
vamos continuar a analisar as inconsistências da teoria tooliana.
Outro argumento que revela as fragilidades da teoria de Tooley é o argumento animalista
sobre a identidade pessoal. Este diz o seguinte:
Cada um de nós simplesmente é o seu organismo. Ou seja, que cada pessoa humana é
numericamente idêntica a um certo animal humano (o inverso, claro, não é verdade, dado que
existem animais humanos que não são pessoas). Desta forma, cada um de nós começou a existir
quando o seu organismo começou a existir, pelo que já fomos não só um recém-nascido, mas
também um feto, antes disso um embrião, porventura até um zigoto. E cada um de nós deixará de
existir quando o seu organismo deixar de existir, o que poderá acontecer bastante depois de se
extinguirem todas as nossas capacidades mentais, como atestam os casos de estado vegetativo
persistentes. As nossas condições de persistência são as condições de persistência dos animais

8
GALVÃO, PEDRO, 2013, pp1-2
7 – Discussão ética do aborto

humanos: nenhuma forma de continuidade psicológica é necessária para a persistência de um


animal humano, isto é, para a nossa persistência. 9

Norman Ford partilha da ideia animalista do homem e clarifica que o homem não pode
ser considerado conceção estritamente biológica, mas que toma o corpo como parte
integrante do que se denomina pessoa. Segundo esse entendimento, não é possível
separar, por exemplo, um cérebro do pensamento da mente. Um é com o outro, de modo
que refuta o dualismo corpo-mente que constitui, em verdade, uma unidade
psicossomática. Assim, a pessoa é um ser humano individual que tem a possibilidade de
praticar atos mentais e corporais graças à natureza humana10
O feto, nesse sentido, é considerado uma pessoa, pois possui uma natureza humana;
assim, é somente uma questão de tempo para que possa desempenhar atos que fazem parte
dessa sua natureza. Como Ford destaca, os fetos são pessoas com potenciais, e não
pessoas potenciais, sendo irrelevante o fator de desenvolvimento de alguma anomalia
congénita que limite a sua realização integral.11
Patrick Lee e Robert. George, outros defensores da pessoa biológica, acrescentam que é
um equívoco definir a pessoa humana separada do corpo. Assim, acentua-se a ideia de
que o homem tem uma importância intrínseca e isto está ligado a própria natureza humana
e não a um atributo acidental, que permitiria denominá-lo como pessoa.
Para estes autores e para o animalismo, em geral, fica clara a ideia de que não se pode
definir a pessoa humana separada do corpo, pois é pelo corpo que o homem expressa a
inteligência:
Não há como proceder à semelhante distinção em termos de afastamento total, pois a inteligência
– sua manifestação – dependeria da matéria do corpo para expressar-se. N’outras palavras, há
inteligibilidade no mundo material, e o intelecto humano não pode dissociar-se do corpo para
realizar-se12

Fica também claro que a perspetiva da racionalidade como critério do direito moral à vida
sugerida por Michael Tooley (1972) e apoiada por Peter Singer (2002) é discriminatória
e inconsistente, isto porque os homens desenvolvem essa capacidade em graus diferentes
e, se esse fosse o critério para se atribuir dignidade aos homens, então os que a têm em
menor grau seriam menos dignos do que os que a têm em maior grau, ou seja, os mais
racionais teriam um forte direito à vida enquanto que os menos teriam um fraco direito à
vida:
A importância e dignidade humanas não dependem do integral desenvolvimento dessas
habilidades – racionalidade – mas simplesmente do fato de possuírem uma natureza humana e uma
capacidade para tanto, que é inerente a espécie. O atributo de ser uma pessoa, caso dependesse da
aquisição de certa racionalidade – como expressamente argumentam autores como Peter Singer –
, ensejaria uma distinção odiosa entre os seres humanos, conforme uma qualidade que não é
essencial, a racionalidade (e a inteligência), havendo, mesmo entre os racionais, diferenças de
valor de acordo com o grau de desenvolvimento dessa capacidade. Assim, a importância e os

9
OLSON, Eric. The Human Animal: Personal Identity Without Psychology. In: GALVÃO, Pedro.
Identidade Pessoal. Lisboa: Compêndio em Linha de Problemas de Filosofia Analítica, 2013, pp10-11
10
FORD, Norman M. The Prenatal person: ethics from Conception to birth. In: ORTEGA, Luciano. O
conceito de pessoa moral como critério para analise do aborto provocado: considerações
interdisciplinares. São Paulo. 2011, pp254

11
ORTEGA. 2011, pp 246
12
ORTEGA, 2011, pp248
8 – Discussão ética do aborto

valores não devem depender de um atributo que varie em graus: dai a eleição da natureza humana
e a capacidade de desenvolvimento que se revelam as mais adequadas para as questões morais. 13

Como vimos, o critério de Tooley contém inconsistência lógica na base do argumento –


conforme vimos no problema de alfa – e se revela discriminatório – conforme sugerem
Patrick Lee e Robert. George.
Vamos agora explorar um outro argumento dentro da discussão moral do aborto. Desta
vez, analisámos o argumento de Donald Marquis – argumento pró-vida.
3. Argumento pró-vida – Donald Marquis
Em abril de 1989, pela prestigiada revista de filosofia The Journal of Philosophy, Donald
Marquis publicou um dos seus mais notáveis artigos –"Why Abortion is Immoral", em
português: por que o aborto é imoral – que se tornou uma referência obrigatória nos
debates sobre o aborto.
Com o objetivo de demonstrar a imoralidade do aborto, Marquis começa por apresentar
vários argumentos que justificam o mal da morte, destacando-se dois deles: o argumento
do futuro-como-nosso também conhecido por abordagem da privação e o argumento da
descontinuidade.
Para o primeiro – o argumento do futuro-como-nosso –, Marquis diz o seguinte:
O que torna a morte má, não é a brutalidade com que se arranca a vida da vitima nem o efeito da
ausência da vitima sobre os familiares e parentes. Se assim fosse, não haveria mal algum na morte
de um eremita ou de um individuo cujos amigos acham fácil fazer novos amigos. Mas, a morte é
má por causa do efeito que causa a vitima: a perda da vida priva o individuo de todas as
experiencias, atividades, diversões, projetos, e prazeres que, de outra forma, teriam constituído o
futuro valioso do individuo 14.

Para melhor compreendermos essa abordagem, pensemos num jovem cheio de vontade
de viver e com enormes sonhos por realizar. No entanto, morre instantaneamente ao ser
atropelado por um autocarro. Neste caso, a morte é má porque não só anula a realização
de todos os seus sonhos como também o impede, completamente, de continuar a usufruir
todos os bens que tinha. Assim, comparativamente a tudo o que deixa de ter em função
da morte, o indivíduo teve uma perda irreparável, o que é mal. No outro caso, imaginemos
um outro indivíduo com grave e incurável doença. Consciente do futuro doloroso que o
espera, manifesta o desejo de por fim a própria vida, pelo que os médicos e os familiares
realizam esse desejo. Neste caso, seguindo o raciocínio de Marquis, a morte do indivíduo
não é má, comparando-a a vida de dor e sofrimento que lhe estava reservado.
O futuro de um feto, normalmente, inclui um conjunto de experiências, projetos,
atividades e outras que são idênticas ao futuro dos seres humanos adultos e das crianças
recém-nascidas. Uma vez que o futuro-como-nosso dos adultos é suficiente para explicar
a imoralidade do assassinato, torna-se também suficiente para justificar a imoralidade do
aborto e do infanticídio.
Esclarecido a primeira abordagem, passemos a segunda – a abordagem da
descontinuidade da vida:
O outro argumento sobre o mal de matar alguém é baseado no fato óbvio de que as pessoas
valorizam a experiência de viver e desejam que essa valiosa experiência continue. Portanto, pode-
se dizer, que o que torna o assassinato errado é a descontinuação da experiencia de viver. Vamos

13
ORTEGA. 2011, pp249
14
MARQUIS, DONALD. Why Abortation is immoral. EUA: The Journal of Philosophy; 1989, pp02
9 – Discussão ética do aborto

chamar a este: o argumento da descontinuação. Está expetativa examina o mal da morte, baseando-
se no fato óbvio de que as pessoas desejam fortemente continuar a viver. Isso sugere que o que
torna o assassinato errado é o facto de se impedir a realização de um desejo forte e fundamental –
continuar a viver – cujo cumprimento é necessário para que se possam realizar outros desejos que
qualquer individuo possa ter15.

A base dessa abordagem é muito parecida a defendida por Michel Tooley. Porém, a
diferença reside no fato de Tooley limitar o desejo aos humanos autoconscientes enquanto
que Marquis estende-o a todos os seres humano independentemente da sua condição
psicológica.
Como se pode observar, Marquis defende o direito moral à vida do feto a partir de uma
propriedade que os fetos normais partilham com os seres humanos adultos – o futuro
valioso: matar é errado porque o ato de matar impõe a privação de um futuro-como-nosso,
pelo que o mal de matar não depende do alvo da privação: se é errado privar os adultos
ou as crianças de um futuro-como-nosso, então também é errado impor essa privação aos
fetos. Com isso, Marquis evita passar pelo desafio metafisico da identidade pessoal a que
Tooley se sujeitou ao definir a racionalidade como critério do direito à vida.
Ambos [os argumentos do mal da morte] são a chave para a explicação de como a imoralidade do
aborto pode ser demonstrada sem recorrer a questão da racionalidade (pessoa). A racionalidade
não pode ser um argumento definitivo dentro da discussão do direito moral a vida16.

Marquis, argumenta ainda que a abordagem da descontinuidade não fica apenas pelas
coisas que os indivíduos valorizam no momento presente, inclui também as coisas que se
vão valorizar a medida que os indivíduos se desenvolvem.
Algumas partes do meu futuro não são valorizadas por mim agora, mas acabarão por ser
valorizadas por mim à medida que eu for ficando mais velho e os meus valores e capacidades
forem mudando. Quando sou morto, fico privado tanto daquilo que valorizo agora, e que teria feito
parte da minha vida pessoal futura, como daquilo que eu iria valorizar. Logo, quando morro fico
privado de todo o valor do meu futuro. O facto de me infligirem esta perda é aquilo que, em última
análise, torna errado o ato de me matarem. Parece assim que aquilo que torna profundamente
errado, prima facie, o ato de matar qualquer ser humano adulto é a perda do seu futuro 17.

Essa observação reforça a comparação que se estabelece entre o feto e o ser humano
adulto, destacando que da mesma forma que os seres humanos adultos podem valorizar
hoje o que desvalorizaram ontem, o feto, apesar de não poder valorizar hoje, valorizará
amanhã.
Assim, Donald argumenta que para a reflexão da moralidade do aborto, não precisamos
analisar detalhadamente as condições que tornam valiosa a vida dos seres humanos como
nós nem precisamos discutir se a consciência dos outros animais se assemelha a nossa ao
ponto de concluirmos que também têm uma vida valiosa – “futuro-como-nosso”,
conforme diz Marquis – basta apenas admitirmos que o facto de termos um futuro valioso
é uma condição suficiente para não sermos mortos. Com isso, matar um individuo com
“futuro-como-nosso” é, prime facie, errado. Portanto, mesmo que o feto não possa exercer
agora as suas faculdades mentais, ainda assim não deixa de ter um futuro valioso, pelo
que é imoral matá-lo18.
Marquis não apresenta um critério único para condenar o aborto. Porém, apresenta
diversos argumentos que combinados tornam objetável o aborto. No entanto, o argumento
15
MARQUIS, 1989, pp02
16
MARQUIS, 1989, pp.06
17
MARQUIS, 1989, pp.2
18
GALVÃO, PEDRO. Uma defesa do argumento de Marquis contra o aborto. Lisboa: critica. 2007, pp06
10 – Discussão ética do aborto

do futuro-como-nosso é em si mesmo suficiente para condenar a morte de fetos e


infanticídios, assim considera Marquis.
A pesar do cuidado exemplar com que Tooley argumenta contra o aborto, a sua perspetiva
não está isenta de críticas, uma delas foi recentemente (2003) avançada por David Boonin,
no livro “A defense of abortation”.
No seu livro, Boonin argumenta que existem duas categorias de desejos: desejos
ocorrentes e desejos disposicionais. São desejos ocorrentes aqueles que em função de os
querermos realizar, os temos presente em nossos pensamentos. Por exemplo, estar com
sede de água. Enquanto que os disposicionais são aqueles que apesar de não estarem
presentes nos nossos pensamentos, são do nosso interesse. Por exemplo, a pesar de não
pensarmos constantemente na possibilidade de morrermos queimados, é do nosso
interesse que isso não aconteça caso fossemos confrontados com a possibilidade.
Depois de esclarecer essas duas categorias de desejos, Bonnin apresenta outras duas
categorias: desejos atuais e desejos ideias.
Os desejos atuais, segundo Boonin, são os ocorrentes e os disposicionais, ou seja, os
desejos do individuo num determinado momento (ex: o desejo de tomar um copo de
água). Já os desejos ideias são os que se referem ao que realmente os indivíduos deveriam
desejar se não tivessem limitados cognitivamente (ex: se o individuo soubesse que o copo
de água que deseja tomar está envenenado, com certeza que não o tomava). Assim, para
resumir, o desejo ideal é o desejo atual – desejo ocorrencial e disposicional – corrigido.
A partir dessa descrição dos desejos, Bonnin declara que de um modo geral é errado, pelo
menos enquanto principio prima facie, frustrar os desejos dos outros e, é ainda mais grave
frustrar os desejos mais forte dos outros. Nessa lógica de pensamento, o assassinato de
uma pessoa é imoral por este frustrar todos os desejos da vítima:
Imaginemos, por exemplo, um voyeur – pessoa que obtém prazer ao observar atos sexuais ou
práticas íntimas de outras pessoas – que tenta justificar o seu comportamento alegando que, sempre
que observa mulheres na sua intimidade, elas não se encontram conscientes do seu desejo de
privacidade. Pode ser verdade que, enquanto estão a ser observadas sem o saberem, as mulheres
não têm um desejo ocorrente de privacidade, mas isto não justifica a conduta do voyeur, pois
aquilo que importa, tornando moralmente objetável essa conduta, é o facto de ela frustrar o desejo
de privacidade que as mulheres possuem disposicionalmente. Mas suponha-se que uma dessas
mulheres sofre de uma forma patológica de exibicionismo, de tal modo que nem mesmo
disposicionalmente tem um desejo atual de não ser observada por estranhos na sua intimidade. Isto
não torna menos objetável a conduta do voyeur. Se a mulher não sofresse de uma doença
psicológica, também desejaria não ser observada por estranhos, pelo que lhe é atribuível o desejo
ideal de privacidade que é frustrado sempre que o vouyer a observar sua intimidade 19”

Com isso, Boonin conclui que só os indivíduos que têm desejos atuais – ocorrenciais ou
disposicionais – podem ter desejos ideais. No entanto, os indivíduos ausentes dos desejos
atuais – como o caso dos fetos – não podem ter desejos frustrados – porque não desejam.
E por isso, não há qualquer imoralidade em evitar o futuro de um individuo que nunca
desejou alcançá-lo.
A crítica de Boonin comete o mesmo erro que a abordagem de Tooley, no sentido de
reconhecer a autoconsciência como a base fundamental para que determinado desejo seja
considerado relevante. Assim, os desejos dos indivíduos inconscientes, como os do feto,
não são considerados relevantes dentro da sua abordagem. No entanto, é curioso o

19
BOONIN, DAVID. A defense of abortation. In: GALVÃO, PEDRO. Uma defesa do argumento de
Marquis contra o aborto. Lisboa: critica. 2007, pp06.
11 – Discussão ética do aborto

argumento usado por Boonin para defender que os recém-nascidos têm desejos atuais –
os necessários para que a sua frustração seja considerada imoral: “Um bebé recém-
nascido tem desejos conscientes atuais. Tem o desejo de desfrutar a sensação de calor,
por exemplo, e a experiencia de saciar a fome.20”
Ora bem, se os desejos atuais dos recém-nascidos – baseados no desejo de continuar a ter
a experiencia do calor e de saciar a fome – autorizam a atribuição de um desejo ideal, por
que não atribuir desejos ideais aos fetos, baseando-se no desejo atual que o feto tem de
continuar a alimentar-se a partir do corpo da mãe?
Por outra, Marquis, no seu argumento futuro-como-nosso, não relevou a condição da
consciência como determinante para que se condene o assassinato de um homem. O mal
da morte, segundo Marquis, está no futuro que se priva, independentemente da vitima ser
ou não um individuo autoconsciente.
Como vimos, a pesar do grande esforço dos filósofos, a questão da moralidade do aborto
continua aberta e desafiadora. Dado que a discussão jurídica é precedida pela moral,
torna-se cada vez mais urgente a discussão filosófica do assunto uma vez que muitas das
legislações são criadas tendo por base as conclusões éticas.

20
PEDRO,2007, pp9
12 – Discussão ética do aborto

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GALVÃO, Pedro. (2017). Pensar para o outro: uma análise critica. Lisboa: Centro de
filosofia da Universidade de Lisboa.
GALVÃO, Pedro. (2013). Identidade Pessoal. Lisboa: Compêndio em Linha de
Problemas de Filosofia Analítica.
GALVÃO, PEDRO. (2007). Uma defesa do argumento de Marquis contra o aborto.
Lisboa: Crítica.
MARQUIS, Donald (1989). Why Abortation is immoral. EUA: The Journal of
Philosophy.
ORTEGA, Luciano. (2011). O conceito de pessoa moral como critério para analise do
aborto provocado: considerações interdisciplinares. São Paulo.
THOMSON, Judith. (1971). A Defense of Abortion. Philosophy & Public Affairs (vol.1,
n.1, 1971).
SINGER, Peter. (2002). Ética pratica. Lisboa: Gradiva.

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