Apostila de Corrosão - Rev3
Apostila de Corrosão - Rev3
“Há 3 caminhos para o fracasso: não ensinar o que se aprendeu, não praticar o que se ensina e
não perguntar o que se ignora”.
Corrosão
Introdução:
Como ciência e como tecnologia, a corrosão e a proteção anticorrosiva são relativamente novas. A mais
importante associação voltada para o assunto é, indubitavelmente, a National Association of Corrosion
Engineers – NACE, fundada nos Estados Unidos em 1944.
Em 1949, sob os auspícios das Nações Unidas, realizou-se nos Estados Unidos a United Nations Scientific
Conference on the Conservation and Utilization of Resources, na qual o Professor H.H. Uhlig, do
Massachusetts Institute of Technology – MIT, pela primeira vez apresentou uma estimativa do custo da
corrosão naquele país, o qual era da ordem de 5,5 bilhões de dólares porá ano. Naquela ocasião, Uhlig
enfatizou que era imprescindível intensificar-se o ensino da corrosão e dos meios de combate-la como
forma mais eficiente de atenuar suas consequências econômicas e materiais.
O primeiro Congresso Internacional de Corrosão Metálica foi na Inglaterra em 1961 e vem sendo realizado
desde então a cada três anos (0 7º, em 1982, teve como sede o Rio de Janeiro). A história da corrosão é,
portanto, recente. Não obstante, alguns de seus princípios básicos foram descobertos nos séculos XVIII e
XIX. Por exemplo, a passividade do ferro no ácido nítrico foi constatada por M.V. Lomonosov por volta de
1738, segundo Tomashov. O mecanismo eletroquímico da corrosão foi evidenciado nos primórdios do
século XIX, destacando-se os trabalhos de Faraday, de la Rive, Becquerel, Marianini, Walcker, Humphrey
Davy e muitos outros, concentrados mormente no período de 1815 a 1830 na Europa e principalmente na
Inglaterra. Seguiu-se um longo período de pouco estudo neste campo, reativado no século XX.
Brasil:
Conceitos:
Num aspecto muito difundido e aceito universalmente pode-se definir corrosão como a deterioração de um
material, geralmente metálico, por ação química ou eletroquímica do meio ambiente aliada ou não a
esforços mecânicos. A deterioração causada pela interação físico-química entre o material e o seu meio
operacional representa alterações prejudiciais indesejáveis, sofridas pelo material, tais como desgaste,
variações químicas ou modificações estruturais, tornando-o inadequado para o uso.
A deterioração de materiais não metálicos, como por exemplo concreto, borracha, polímeros e madeira,
devida à ação do meio ambiente, é considerada também, por alguns autores, como corrosão. Assim, a
deterioração do cimento Portland, empregado em concreto, por ação de sulfato, é considerada um caso de
corrosão do concreto; a perda de elasticidade da borracha, devida à oxidação por ozônio, pode também
ser considerada como corrosão; a madeira exposta à solução de ácidos e sais ácidos perde sua
resistência devido à hidrólise da celulose, e admite-se este fato como corrosão da madeira.
Com exceção de alguns metais nobres, como o ouro, que podem ocorrer no estado elementar, os metais
são geralmente encontrados na natureza sob a forma de compostos, sendo comum a ocorrência de óxidos
e sulfetos metálicos. Os compostos que possuem conteúdo energético inferior aos dos metais são
relativamente estáveis. Desse modo, os metais tendem a reagir espontaneamente com líquidos ou gases
do meio ambiente em que são colocados: o ferro se “enferruja” ao ar e na água, e objetos de prata
escurecem quando expostos ao ar.
Em alguns casos, pode-se admitir a corrosão como o inverso do processo metalúrgico, cujo objetivo
principal é a extração do metal a partir de seus minérios ou de outros compostos, ao passo que a corrosão
tende a oxidar o metal. Assim, muitas vezes o produto da corrosão de um metal é bem semelhante ao
minério do qual foi extraído. O óxido de ferro mais comumente encontrado na natureza é a hematita, Fe2O3
e a ferrugem é o Fe2O3 hidratado, Fe2O3.nH2O, isto é, o metal tendendo a retornar a sua condição de
estabilidade.
Importância
Os problemas de corrosão são frequentes e ocorrem nas mais variadas atividades, como por exemplo nas
indústrias química, petrolífera, petroquímica, naval, de construção civil, automobilística, nos meios de
transporte aéreo, ferroviário, metroviário, marítimo, rodoviário e nos meios de comunicação, como
sistemas de telecomunicações, na odontologia (restauração metálica, aparelhos de próteses), na medicina
(ortopedia) e em obras de arte como monumentos e esculturas.
As perdas econômicas que atingem essas atividades podem ser classificadas em direta e indiretas:
As perdas indiretas são mais difíceis de avaliar, mas um breve exame das perdas típicas dessa espécie
conduz à conclusão de que podem totalizar custos mais elevados que as perdas diretas e nem sempre
podem ser quantificados.
a. Paralisações acidentais:
• Para a limpeza de permutadores de calor e caldeiras.
• Para a substituição de um tubo corroído, o que pode custar relativamente pouco, mas a parada da
unidade pode representar grandes custos no valor da produção.
b. Perda de produto, como perda de óleo, soluções, gás ou água através de tubulações corroídas até
se fazer o reparo.
c. Perda de eficiência:
• Diminuição da transferência de calor através de produtos de corrosão em trocadores de calor.
• Nos motores automotivos, os anéis de segmento dos pistões e as paredes dos cilindros são
continuamente corroídos pelos gases de combustão e condensados. A perda das dimensões
críticas faz com que haja excesso de consumo de óleo e gasolina, quase igual ou maior do que o
causado pelo desgaste natural devido ao uso.
• Incrustações nas superfícies de aquecimento de caldeiras ocasionam o aumento no consumo de
combustíveis: incrustações de baixa condutividade térmica e elevada espessura provocam baixa
transferência de calor, ocasionando queda na eficiência da caldeira com consequente aumento no
consumo de combustível.
• Entupimento ou perda de carga em tubulações de água, obrigando a custo mais elevado de
bombeamento, devido à deposição de produtos de corrosão.
d. Contaminação de produtos:
• Caso de pequena quantidade de cobre, proveniente da corrosão de tubulações de latão ou de
cobre, que pode invalidar uma fabricação de sabão, pois os sais de cobre aceleram a rancidez,
provocando a diminuição do tempo de estocagem.
• Alterações nas tonalidades de corantes motivado por traços de metais.
• Arraste, pela água, de produtos de corrosão, como óxidos de ferro, tornando-a imprópria para
consumo humano ou para o uso industrial como, por exemplo, fábricas de laticínios, alimentos,
papel e celulose.
e. Superdimensionamento nos projetos:
• Fator comum no dimensionamento de reatores, caldeiras, tubos de condensadores, paredes de
oleoduto, tanques, estruturas de navios. Isto porque a velocidade de corrosão é desconhecida ou
os métodos de controle da corrosão são incertos.
• Em alguns casos, não há informações quanto à previsão do tempo de vida razoável de materiais
metálicos em determinados meios como, o armazenamento geológico de despejos nucleares de
alto nível, em depósitos profundos, sendo exigência do Congresso dos EUA que os containers
mantenham sua integridade durante 300-1000 anos.
Em alguns setores, embora a corrosão não seja muito representativa em termos de custo direto, deve-se
levar em consideração o que ela pode representar em:
a) Questões de segurança: corrosão localizada muitas vezes resulta em fraturas repentinas de partes
críticas de aviões, trens, automóveis e pontes, causando desastres que podem envolver perdas de
vidas humanas. Vazamentos em tubulações de gasolina, gás natural ou em tanques de
combustíveis podem causar explosões e incêndios de grandes proporções;
b) Interrupção de comunicações: corrosão em cabos telefônicos, ocasionada por correntes de fuga
existentes no solo e provenientes de corrente contínua usadas em sistemas de transporte
eletrificado;
c) Preservação de monumentos históricos: com o desenvolvimento industrial, tem-se a consequente
poluição atmosférica e com esta a possibilidade da presença de ácido sulfuroso e sulfúrico, que
atacam os materiais metálicos e não metálicos, como mármore ou concreto, usado nesses
monumentos. O ácido sulfúrico pode também ser originado, neste caso, pela presença de bactérias
oxidantes de enxofre ou de compostos de enxofre.
Custos
Outro aspecto da importância da corrosão relaciona-se com a conservação das reservas de minérios.
Tendo em vista a permanente destruição dos materiais metálicos pela corrosão, há necessidade de uma
produção adicional desses materiais para repor o que foi deteriorado, e esta parcela é muito significativa. A
literatura mais antiga reporta que 25% da produção mundial do aço tem esta finalidade.
Acrescenta-se ainda que cerca de 2/3 retornam as usinas sob forma de sucata, sendo que cerca de 10% é
totalmente destruído pela corrosão.
Considerações Energéticas
Uma importante consideração que não pode deixar de ser feita refere-se ao aspecto energético. Sabe-se
que a obtenção de um metal se faz à custa de uma certa quantidade de energia, a qual é cedida por
intermédio dos processos metalúrgicos, como se vê na clássica expressão:
➢ Redução térmica do minério de ferro, que exige o consumo de carbono, sob a forma de carvão, e
de combustível para se alcançar a temperatura de redução de cerca de 1600° C:
➢ Redução eletrolítica de alumina, Al2O3, para a obtenção de alumínio usando-se a criolita, fluoreto
de alumínio e sódio Na3AlF6, como eletrólito e fundente:
Além da energia requerida para a transformação que conduz ao metal, uma considerável parcela de
energia é perdida, tanto por irradiação quanto por convecção.
Como resultado do próprio processo de obtenção, sabe-se que os metais, nas suas formas refinadas,
encontram-se num nível energético superior ao do composto que lhe deu origem. Excetuam-se apenas os
metais nobres que são encontrados na natureza de forma metálica. Esta é, portanto, a razão
termodinâmica da espontaneidade das reações de corrosão que transformam os metais novamente em
compostos, num processo inverso ao metalúrgico. A energia liberada nessa transformação é perdida para
o meio ambiente.
Por outro lado, para manter os metais protegidos contra a corrosão há necessidade de uma parcela
adicional de energia, a qual pode ser aplicada de diversas formas, dependendo logicamente das condições
de emprego do metal. Essa energia adicional pode ser representada por revestimentos protetores,
inibidores de corrosão, proteção catódica ou proteção anódica. A proteção catódica é um método que
permite a medição precisa da quantidade de energia necessária à proteção integral de uma peça metálica
sujeita à corrosão num eletrólito.
Além disso, mais energia é consumida na produção adicional dos metais destinados à reposição dos
materiais e equipamentos deteriorados pela corrosão.
Diante deste panorama, e considerando que a energia é uma entidade cada vez mais difícil nos tempos
modernos, são de suma importância a prevenção e o combate à corrosão como forma de poupar energia.
A corrosão, além dos problemas associados com deterioração ou destruição de materiais, apresenta, sob
determinado ponto de vista, não só esse lado negativo mas, também, um lado positivo. Assim, pode-se
citar como processos corrosivos benéficos e de grande importância industrial:
✓ Oxidação de aços inoxidáveis, com formação da película protetora de óxido de cromo, Cr2O3;
✓ Anodização do alumínio, ou suas ligas, que consiste na oxidação de peças de alumínio, colocados
no ânodo de cuba eletrolítica: ocorre a formação de Al2O3, protetor, e confere bom aspecto
decorativo à peça;
✓ Fosfatização de superfícies metálicas para permitir melhor aderência de tintas: tratamento com
solução contendo ácido fosfórico e íons de zinco formando película, constituída de cristais de
fosfato de zinco e ferro, xFeHPO4.yZn3(PO4)2.zH2O, sobre a superfície metálica, possibilitando
aderência adequada da película de tinta posteriormente aplicada. A fosfatização é etapa
fundamental no processo de pintura nas indústrias automobilísticas e de eletrodomésticos.
✓ Proteção catódica com ânodos de sacrifício ou galvânicos para a proteção do aço carbono usado
em instalações submersas ou enterradas: formação de pilha galvânica na qual o cátodo é o
material a ser protegido, no caso o aço carbono, e o ânodo, material a ser corroído, pode ser zinco,
alumínio ou magnésio. Observa-se que em troca da corrosão desses metais, tem-se a proteção,
por exemplo, de tubulações, tanques de armazenamento e trocadores de calor;
✓ Aspectos decorativos de monumentos e esculturas de bronze: corrosão superficial com formação
de pátinas constituídas, geralmente, de óxidos, sulfetos e sais básicos como carbonato, cloreto e
sulfato básico de cobre que são insolúveis. Esses compostos conferem aos monumentos e/ou
esculturas colorações características: escurecimento (óxidos, sulfetos), esverdeados (sais básicos).
Definição:
Em termos de elétrons: é a perda de elétrons por uma espécie química e redução é o ganho de elétrons
por uma espécie química.
Eletroquímica: é o ramo da química que estuda a aplicação do fenômeno de transferência de elétrons, com
o objetivo de converter energia química em energia elétrica e vice-versa.
I. O número de oxidação de um elemento em uma substância simples é zero, quando no estado livre
ou elementar.
II. O número de oxidação de um elemento está entre N e N-8, onde N representa o grupo em que o
elemento está colocado na classificação periódica dos elementos. Desses valores, os mais
prováveis são os mais baixos e os mais elevados.
III. O número de oxidação do hidrogênio é, em geral, +1, exceto nos hidretos iônicos, onde é -1.
IV. O número de oxidação do oxigênio é -2.
V. O número de oxidação do flúor é -1.
VI. O número de oxidação dos halogênios cloro, bromo e iodo é -1 em todos os seus componentes
binários.
VII. Em seus compostos, os metais tem sempre número de oxidação positivos.
VIII. Quando dois não-metais se combinam, o mais eletronegativo tem número de oxidação negativo e o
mais eletropositivo tem número de oxidação positivo.
IX. Em um composto ou em um íon, entende-se por número de oxidação total de um elemento o seu
número de oxidação multiplicado pelo número de átomos com que o elemento participa na fórmula
do composto ou do íon.
X. Em um composto, a soma algébrica dos números de oxidação total de seus elementos constituintes
é zero.
XI. Em um íon, a soma algébrica dos números de oxidação total de seus elementos constituintes é
igual a carga do íon.
XII. Quando um composto apresentar diversos átomos de um mesmo elemento, deve-se levar em
consideração, para determinar o número de oxidação, a estrutura do composto.
Exemplos:
2Mg + O2 2MgO
Na equação (a) tem-se a oxidação do magnésio (perda de elétrons) e na equação (b) tem-se a redução do
oxigênio (ganho de elétrons).
Observa-se, também, que os números de oxidação variaram:
A substância magnésio (Mg), que contém átomos do elemento magnésio que se oxidou, é denominada
substância redutora ou agente redutor.
A substância oxigênio (O2), que contém átomos do elemento oxigênio que se reduziu, é denominada
substância oxidante ou agente oxidante.
Neste caso o fenômeno só pode ser explicado em termos de número de oxidação, pois neste caso não há
transferência de elétrons nem participação do oxigênio:
• O hidrogênio se oxida, pois seu número de oxidação passa de zero para +1;
• O cloro se reduz, pois seu número de oxidação passa de zero para -1.
Na Na+ + 1e
Zn Zn+2 + 2e
Al Al+3 + 3e
M Mn+ + ne
Conclui-se, portanto, que se deve procurar evitar o contato entre metais, agentes redutores, com
substâncias oxidantes como, por exemplo, oxigênio, cloro, enxofre, água que tem tendência a ganhar
elétrons (agentes oxidantes), porque deste contato poderá resultar um processo de oxirredução com
consequente corrosão do metal.
Reações de Oxirredução (Reações redox)
São reações em que há variação de número de oxidação e, em alguns casos, perda e ganho de elétrons.
O fenômeno de oxirredução é simultâneo, isto é, sempre que há oxidação (perda de elétrons) há também
redução (ganho de elétrons). Por exemplo, o ferro quando é atacado pelo ácido clorídrico desprende
hidrogênio, segundo a equação:
Fe + 2HCl FeCl2 + H2
Sendo que a soma dessas duas equações dará a equação iônica total de oxirredução:
Esta equação representa a equação do ataque de ferro metálico por ácidos não “oxidantes”, isto é, aqueles
que não tem caráter oxidante na sua parte iônica. Abaixo um exemplo com a presença de ácidos
oxidantes:
2Al + 3S Al2S3
Resumindo:
Mg + H2SO4 MgSO4 + H2
Nos processos químicos de oxirredução associados à transferência de elétrons, para se obter a equação
final da reação redox é necessário combinar as duas equações de tal maneira que, na soma das duas, não
apareçam elétrons livres. Isto porque, sendo o processo de oxirredução simultâneo, o número de elétrons
perdidos pelo redutor deve ser igual ao número de elétrons ganho pelo oxidante.
A tabela abaixo apresenta alguns dos agentes oxidantes e redutores e suas equações iônicas de redução
e oxidação, respectivamente. Esta tabela permite, com facilidade, a apresentação da equação de um
processo de oxirredução envolvendo elétrons combinando-se equações iônicas de oxidação e de redução.
Exemplos:
a) Um metal M sofre ataque do meio corrosivo constituído de solução diluída de H2SO4 ou solução de
HCl de acordo com as equações:
Se o metal for zinco, ferro ou alumínio, tem-se a equação de oxidação de cada um destes metais pelo
ácido sulfúrico ou clorídrico são:
E as equações de oxirredução que representam a corrosão destes metais pelo ácido sulfúrico ou clorídrico
são:
No caso de se usar ácido sulfúrico, tem-se a formação dos sulfatos dos metais, ZnSO4, FeSO4 e Al2(SO4)3,
e no caso do ácido clorídrico, formam-se os cloretos dos metais, ZnCl2, FeCl2 e AlCl3.
b) Um metal M imerso numa solução de ácido oxigenado que tenha o ânion oxidante, como o HNO3,
não provoca o desprendimento de hidrogênio, ocorrendo oxidação do metal e a redução da parte
iônica, NO3-, do ácido. Assim, com o zinco observa-se que:
O cobre não é atacado por ácido sulfúrico diluído, mas no caso do ácido concentrado há uma reação de
oxirredução agindo a parte aniônica, SO-24, como oxidante:
Observando-se:
o A oxidação do cobre:
A imersão de um metal, sob a forma de lâmina, placa, bastão, fio ou tela, nas soluções eletrolíticas
determina o estabelecimento de uma diferença de potencial entre as duas fases, a sólida e a líquida. Esta
diferença de potencial é, simultaneamente de natureza elétrica e de natureza química, e por isso
denomina-se diferença de potencial eletroquímico.
De uma maneira específica, o eletrodo é o sistema formado pelo metal e pela solução eletrolítica vizinha
ao metal. Assim para o caso do ferro pode-se representar como se vê na figura abaixo:
O eletrodo constituído pelo metal puro, imerso numa solução que contém íons deste metal num estado de
oxidação bem definido, é classificado como eletrodo de primeira espécie e representado por M Ɩ Mn+, a
barra vertical simboliza a interface entre o metal M e a solução contendo íons Mn+. Quando necessário,
indica-se entre parênteses a concentração ou atividade dos íons metálicos, e os outros íons presentes são
separados por vírgulas, como no exemplo em que a concentração do íon Mn+ é 0,02 molar:
A vírgula entre os íons indica que eles estão na mesma fase numa região de mesmo potencial elétrico. A
concentração para fins práticos é expressa em termos de molaridade. O sistema constituído pelo metal e a
solução tende a evoluir espontaneamente de modo a atingir um estado de equilíbrio. Este equilíbrio
eletroquímico, que ocorre nos eletrodos de primeira espécie, é normalmente representado por:
E se estabelece uma diferença de potencial entre as camadas de cargas elétricas de sinais contrários, que
existe na interface metal-solução.
O potencial do eletrodo mostra a tendência de uma reação se passar no eletrodo, isto é, dá a medida da
facilidade com que os átomos do eletrodo metálico perdem elétrons ou da facilidade com que os íons
recebem elétrons.
O potencial, medido em volt, desenvolvido em um metal imerso em uma solução 1M de seus íons, é
chamado potencial padrão ou potencial normal. Um eletrodo ou meia pilha constituída do elemento em
contato com uma solução 1 M de seus íons chama-se eletrodo padrão, meia pilha padrão ou par padrão e
representa-se, por exemplo, no caso do eletrodo de zinco:
Evidentemente, a medida de um potencial não pode ser realizada sem um valor de referência ou de um
potencial padrão. Pode-se medir o potencial de um eletrodo ligando-o a um segundo eletrodo tomado
como referência. Devido à diferença de potenciais desses eletrodos, haverá um fluxo de elétrons do
eletrodo de maior potencial para outro. Assim, valores relativos de potenciais podem ser determinados
experimentalmente comparando-se o potencial da meia pilha com o eletrodo padrão ou normal de
hidrogênio que foi escolhido como referência e, arbitrariamente, fixado como tendo potencial zero.
O eletrodo normal de hidrogênio é constituído de um fio de platina coberto com platina finamente dividida
(negro de platina) que adsorve grande quantidade de hidrogênio, agindo como se fosse um eletrodo de
hidrogênio. Esse eletrodo é imerso em uma solução 1 M de íons hidrogênio (por exemplo, solução 1 M de
HCl), através do qual o hidrogênio gasoso é borbulhado sob pressão de 1 atm e temperatura de 25 ° C.
O potencial de eletrodo padrão de um elemento é, então, a diferença de potencial expressa em volt entre o
elemento e uma solução 1M de seus íons em relação ao eletrodo normal de hidrogênio, ao qual foi
atribuído potencial igual a zero.
Pode-se agora determinar o potencial de qualquer eletrodo ligando-o ao eletrodo normal de hidrogênio.
Assim, exemplificando com o eletrodo Zn Ɩ Zn2+ (1M), tem-se esquematicamente ilustrado na figura abaixo:
Não são somente os átomos as únicas partículas capazes de ceder elétrons. Íons positivos, por exemplo,
em um estado de oxidação inferior, tendem a ceder elétrons, passando então para um estado de oxidação
superior:
Esses eletrodos, chamados de eletrodos de oxirredução ou eletrodos redox, são constituídos por um metal
inerte (geralmente de platina), imerso numa solução que contém íons em diferentes estados de oxidação.
Tem-se, então, por exemplo, os eletrodos Pt Ɩ Cr2+, Cr3+ e Pt Ɩ Fe2+, Fe3+.
O processo para determinar o potencial padrão desses eletrodos que envolvem somente íons é igual ao
usado para os eletrodos envolvendo átomos metálicos. Assim, para determinar o potencial padrão do
eletrodo Pt Ɩ Cr2+, Cr3+ usa-se o dispositivo ilustrado na figura abaixo:
Cr3+ + 1e Cr2+
Eletrodos de referência
Além do eletrodo de hidrogênio podem ser usados outros eletrodos de referência como, por exemplo,
calomelano, prata-cloreto de prata e cobre-sulfato de cobre. Os eletrodos de calomelano e prata-cloreto de
prata são considerados de segunda espécie, isto é, constituídos por um metal em contato com um sal
pouco solúvel desse metal, estando o conjunto imerso numa solução contendo os ânions do sal.
Sinal do Potencial
Quando se tem um eletrodo constituído por um metal imerso em soluções de seus íons, pode-se
considerar o potencial do eletrodo como sendo E. Este potencial será igual à diferença entre o potencial do
metal Emetal e o potencial da solução Esolução.
E = Emetal – Esolução
Quando se ligam dois eletrodos através de um circuito metálico externo obtém-se uma pilha eletroquímica.
Os eletrodos podem estar em recipientes separados ou não. No primeiro caso, para estabelecer a
condutância iônica usa-se uma ponte salina unindo os dois eletrólitos. No segundo caso usa-se uma
parede porosa separando os dois eletrólitos. A ponte salina e a parede porosa tem ainda por finalidade
diminuir a difusão entre os eletrólitos.
• De energia química, liberada pelas reações redox que ocorrem nos eletrodos, em energia elétrica.
• De energia elétrica, fornecida por fonte de corrente elétrica, em energia química, provocando
reações redox nos eletrodos.
No primeiro caso tem-se um processo espontâneo e no segundo há necessidade de uma fonte externa de
energia, no caso elétrica, caracterizando um processo não-espontâneo. Este último tipo é também
chamado de pilha eletrolítica.
Um eletrodo é denominado ânodo quando nele ocorre uma reação de oxidação e é denominado cátodo
quando nele ocorre uma reação de redução.
Toda pilha se caracteriza por uma diferença de potencial entre os seus eletrodos em circuito aberto, que é
a força eletromotriz (fem):
Em alguns livros são usados os potenciais de oxidação, isto é, M Mn+ apresentando valores de
potenciais:
Zn Zn2+ + 2e (+ 0,763 V)
Cu Cu2+ + 2e ( - 0,337 V)
Equação de Nernst
Na prática não é sempre possível, nem de interesse, ter-se as concentrações iônicas, das espécies
presentes, iguais a 1 M ou atividade unitária. Assim sendo, tem-se valores de potenciais diferentes dos
apresentados na tabela de potencial padrão. Para a determinação desses novos potenciais, emprega-se a
equação desenvolvida por Nernst:
Onde:
E = potencial observado
E0 = potencial padrão
R = constante dos gases perfeitos
T = temperatura, em Kelvin
n = número de elétrons envolvidos (modificação no número de oxidação das espécies químicas) ou
número de elétrons recebidos pelo agente oxidante ou cedidos pelo agente redutor.
F = constante de Faraday
aEst. Red = atividade do estado reduzido do eletrodo
aEst. Oxi = atividade do estado oxidado do eletrodo.
A partir da tabela de potenciais podem ser feitas algumas generalizações qualitativas que são de grande
interesse para se prever a possibilidade de uma reação redox processar-se espontaneamente. Assim, tem-
se:
a) Quanto mais elevada for a posição do metal na tabela de potenciais, maior sua tendência a ser
oxidado, isto é, a perder elétrons;
b) Metais da parte superior da tabela são fortes agentes redutores e seus íons são estáveis, ao passo
que os metais colocados abaixo do hidrogênio são menos ativos e mais estáveis, e sus íons são
facilmente reduzidos ao estado elementar;
c) A forma reduzida de um eletrodo que ocupe posição mais elevada na tabela pode reduzir a forma
oxidada de outro eletrodo que ocupe posição inferior na tabela;
d) A forma oxidada do eletrodo que ocupe posição inferior na tabela pode oxidar a forma reduzida do
eletrodo que ocupe posição superior. Deste modo, as reações que se seguem são espontâneas no
sentido abaixo indicado:
e) Quanto mais estiverem afastadas as formas oxidadas e formas reduzidas, mais facilmente a reação
entre elas se processará;
f) O potencial de um eletrodo, M, corresponde à diferença de potencial da pilha eletroquímica
constituída por esse eletrodo, M, e o eletrodo padrão de hidrogênio, onde o eletrodo da esquerda é
o eletrodo padrão de hidrogênio:
Considerando-se como oxidação-redução todas as reações químicas que consistem em ceder ou receber
elétrons, pode-se considerar os processos de corrosão como reações de oxidação dos metais, isto é, o
metal age como redutor, cedendo elétrons que são recebidos por uma substância, o oxidante, existente no
meio corrosivo. Logo, a corrosão é um modo de destruição do metal, progredindo através de sua
superfície.
A corrosão pode ocorrer sob diferentes formas, e o conhecimento das mesmas é muito importante no
estudo dos processos corrosivos.
As formas (ou tipos) de corrosão podem ser apresentadas considerando-se a aparência ou a forma de
ataque e as diferentes causas da corrosão e seus mecanismos. Assim, pode-se ter corrosão segundo:
• A morfologia – uniforme, por placas, alveolar, puntiforme ou por pite, intergranular (ou
intercristalina), filiforme, por esfoliação, grafítica, dezincificação, em torno de cordão de solda e
empolamento pelo hidrogênio.
• As causas ou mecanismos – por aeração diferencial, eletrolítica ou por correntes de fuga,
galvânica, associadas a solicitações mecânicas (corrosão sob tensão fraturante), em torno de
cordão de solda, seletiva (grafítica e dezincificação), empolamento ou fragilização pelo hidrogênio.
• Os fatores mecânicos – sob tensão, sob fadiga, por atrito, associada a erosão.
• O meio corrosivo – atmosférica, pelo solo, induzida por microrganismos, pela água do mar, por sais
fundidos.
• A localização do ataque – por pite, uniforme, intergranular, transgranular.
➢ Uniforme.
➢ Por placas.
➢ Alveolar.
➢ Puntiforme ou por pite.
➢ Intergranular (ou intercristalina).
➢ Intragranular (ou transgranular ou transcristalina).
➢ Filiforme.
➢ Por esfoliação.
➢ Grafítica.
➢ Dezincificação.
➢ Empolamento pelo hidrogênio.
➢ Em torno do cordão de solda.
Uniforme -> a corrosão se processa em toda a extensão da superfície, ocorrendo perda uniforme de
espessura, chamada por alguns de corrosão generalizada, mas essa terminologia não deve ser usada só
para corrosão uniforme pois pode se ter, também, corrosão por pite ou alveolar generalizadas, isto é, em
toda a extensão da superfície corroída.
Por placas -> a corrosão se localiza em regiões da superfície metálica e não em toda sua extensão,
formando placas com escavações.
Alveolar -> a corrosão se processa na superfície metálica produzindo sulcos ou escavações semelhantes a
alvéolos, apresentando fundo arredondado e profundidade geralmente menor que o seu diâmetro.
Puntiforme ou por pites -> a corrosão se processa em pontos ou em pequenas áreas localizada na
superfície metálica produzindo pites, que são cavidades que apresentam o fundo em forma angulosa e
profundidade geralmente maior do que o seu diâmetro.
Intergranular -> a corrosão se processa entre os grãos da rede cristalina do material metálico, o
qual perde suas propriedades mecânicas e pode fraturar quando solicitado por esforços
mecânicos, tendo-se então a corrosão sob tensão fraturante.
Tipos de corrosão: Gentil, Vicente. Corrosão: Vicente Gentil – 3. Ed. – São Paulo: Livros Técnicos e Científicos, pág. 40.
Intragranular -> a corrosão se processa nos grãos da rede cristalina do material metálico, o qual,
perdendo suas propriedades mecânicas, poderá fraturar à menor solicitação mecânica, tendo-se
também a corrosão sob tensão fraturante.
Filiforme -> a corrosão se processa sob a forma de finos filamentos, mas não profundos, que se
propagam em diferentes direções e que não se ultrapassam, pois admite-se que o produto de
corrosão, em estado coloidal, apresenta carga positiva, daí a repulsão. Ocorre geralmente em
superfícies metálicas revestidas com tintas ou metais, ocasionando o de3slocamento do
revestimento. Tem sido observada mais frequentemente quando a umidade relativa do ar é maior
que 85% e em revestimentos mais permeáveis à penetração de oxigênio e água ou apresentando
falhas, como riscos, em regiões de arestas.
Esfoliação -> a corrosão se processa de forma paralela à superfície metálica. Ocorre em chapas
ou componentes estrudados que tiverem seus grãos alongados e achatados, criando condições
para que inclusões ou segregações, presentes no material, sejam transformadas, devido ao
trabalho mecânico, em plaquetas alongadas.
Empolamento pelo hidrogênio → o hidrogênio atômico penetra no material metálico e, como tem
pequeno volume atômico, difunde-se rapidamente em regiões com descontinuidades, como
inclusões e vazios, ele se transforma em hidrogênio molecular, H2, exercendo pressão e
originando a formação de bolhas, daí o nome de empolamento.
Em torno do cordão de solda → forma de corrosão que se observa em torno do cordão de solda.
Ocorre em aços inoxidáveis não-estabilizado ou com teores de carbono maiores que 0,03%, e a
corrosão se processa intergranularmente.
No estudo dos processos corrosivos devem ser sempre consideradas as variáveis dependentes
do material metálico, do meio corrosivo e das condições operacionais, pois o estudo conjunto
dessas variáveis permitirá indicar o material mais adequado para ser utilizado em determinados
equipamentos ou instalações.
São afirmativas erradas, porque não consideram a compatibilidade entre meio e material, pois
sabe-se que:
▪ Os ácidos inoxidáveis podem sofrer corrosão, como ocorre com o aço AISI 304 em
presença de cloreto em meio ácido.
▪ O ácido sulfúrico concentrado pode ser armazenado em tanques de aço carbono, o que
não pode ser feito para o ácido diluído – o ácido sulfúrico concentrado ataca inicialmente o
aço carbono, formando sulfato ferroso, FeSO4, que fica aderido no costado do tanque, e,
como é insolúvel no ácido concentrado, protege contra posterior ataque; já o ácido sulfúrico
diluído, está mais ionizado pela água, sendo mais corrosivo e formando:
Também sulfato ferroso, mas, nesse caso, não protetor, pois é solúvel em ácido diluído.
▪ Água com pH ~ 10, isto é, alcalina ou básica, não é corrosiva para aço carbono, em
temperaturas normais, tanto que soluções concentradas de hidróxido de sódio, NaOH,
soda caústica, são armazenadas em tanques de aço carbono. Em águas de alimentação
de caldeiras, também é usual o pH ~ 10 para minimizar a possibilidade de corrosão.
Entretanto, metais como Al, Zn, Sn e Pb sofrem corrosão, em soluções com pH elevados,
formando sais solúveis.
Na ausência de água:
➢ O cloro seco não ataca o aço inoxidável AISI 304, mas o titânio reage rapidamente de
forma exotérmica.
➢ O oxigênio reage com o aço inoxidável formando película protetora de óxido de cromo,
Cr2O3, mas o titânio pode sofrer oxidação sob a forma de violenta reação exotérmica.
Na presença de água:
✓ O cloro ataca rapidamente o aço inoxidável, pois forma-se ácido clorídrico, HCl, devido à
reação:
Já o titânio para ficar passivado, precisa de pequena quantidade de água, sendo resistente
ao cloro úmido.
Referências:
Gauto, Marcelo. Química Industrial / Marcelo Gauto, Gilber Rosa – Porto Alegre: Bookman,
2013.
Fonseca, Martha Reis Marques da. Química : ensino médio / Martha Reis. – 2. Ed. – São
Paulo : Ática, 2016. Vol. 2
Mortimer, Eduardo Fleury. Química : ensino médio / Eduardo Fleury Mortimer, Andréa
Horta Machado – 3. Ed. – São Paulo : Scipione, 2016. Vol. 2
Gentil, Vicente. Corrosão: Vicente Gentil – 3. Ed. – São Paulo: Livros Técnicos e
Científicos.