AUGUSTO BOAL / Biografia resumida
Augusto Pinto Boal (Rio de Janeiro, 16 de março de 1931 — Rio de Janeiro, 2 de maio de 2009)
foi diretor de teatro, dramaturgo e ensaísta brasileiro, uma das grandes figuras do teatro
contemporâneo internacional. Fundador do Teatro do Oprimido, que alia o teatro à ação
social, suas técnicas e práticas difundiram-se pelo mundo, de maneira notável nas três últimas
décadas do século XX, sendo largamente empregadas não só por aqueles que entendem o
teatro como instrumento de emancipação política mas também nas áreas de educação, saúde
mental e no sistema prisional.
Nas palavras de Boal:
O Teatro do Oprimido é o teatro no sentido mais arcaico do termo. Todos os seres humanos
são atores - porque atuam - e espectadores - porque observam. Somos todos 'espectatores'.
O dramaturgo é conhecido não só por sua participação no Teatro de Arena da cidade de São
Paulo (1956 a 1970), mas sobretudo por suas teses do Teatro do oprimido.
Sua obra escrita é expressiva. Com 22 livros publicados e traduzidos em mais de vinte línguas,
suas concepções são estudadas nas principais escolas de teatro do mundo. O livro Jogos Para
Atores e Não Atores trata de um sistema de exercícios ("monólogos corporais"), jogos
(diálogos corporais) e técnicas teatrais além de técnicas do teatro-imagem, que, segundo o
autor, podem ser utilizadas não só por atores mas por todas as pessoas.
Foi vereador do Rio de Janeiro de 1993 a 1997.
Augusto Boal nasceu no subúrbio da Penha, Rio de Janeiro.[2] Filho do padeiro português José
Augusto Boal e da dona de casa Albertina Pinto, originários de Justes, Vila Real.[3] Desde os
nove anos dirigia peças familiares, com seus três irmãos. Aos 18 anos vai estudar Engenharia
Química na antiga Universidade do Brasil, atual UFRJ, e paralelamente escrevia textos teatrais.
Na década de 1950 enquanto realizava estudos em nível de Ph.D em Engenharia Química, na
Columbia University, em Nova York,[4] estuda dramaturgia na School of Dramatic Arts,
também na Columbia, com John Gassner, professor de Tennessee Williams e Arthur Miller. Na
mesma época, assistia às montagens do Actors Studio.
Teatro de Arena
Em 1956, Augusto Boal passa a integrar o Teatro de Arena de São Paulo, a convite de Sábato
Magaldi e José Renato. O Arena tornou-se uma das mais importantes companhias de teatro
brasileiras, até o seu fechamento, no fim da década de 1960.
Sua primeira direção é Ratos e Homens, de John Steinbeck, que lhe valeu o prêmio de
revelação de direção da Associação Paulista de Críticos de Artes, em 1956. Seu primeiro texto
encenado foi Marido Magro, Mulher Chata, uma comédia de costumes. Depois de uma série
de insucessos comerciais e diante da perspectiva de fechamento do Arena, a companhia
decide investir em textos de autores brasileiros. Superando as expectativas Eles Não Usam
Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri, dirigido por José Renato, torna-se um grande sucesso,
salvando o Arena da bancarrota. O grupo ressurge, provocando uma verdadeira revolução na
cena brasileira, abrindo caminho para uma dramaturgia nacional.
Para prosseguir na investigação de um teatro voltado para a realidade do Brasil, Boal sugere a
criação de um Seminário de Dramaturgia que se tornará o cenário de vários novos
dramaturgos. As produções, fruto desses encontros, vão compor o repertório da fase
nacionalista do conjunto nos anos seguintes. Sob direção de Boal o Arena apresenta
Chapetuba Futebol Clube, de Oduvaldo Vianna Filho, 1959, segundo êxito nessa vertente.
Arena e Oficina
Em 1964
Depois de dirigir, em 1959 A Farsa da Esposa Perfeita, de Edy Lima, Boal apresenta Fogo Frio,
de Benedito Ruy Barbosa, A Engrenagem, adaptação dele e de José Celso Martinez Corrêa do
texto de Jean-Paul Sartre.
Em 1961, Antônio Abujamra dirige um outro texto de Boal, José, do Parto à Sepultura, com os
atores do Oficina, que estreia no Teatro de Arena. No mesmo ano, o espetáculo Revolução na
América do Sul estreia, com direção de José Renato. Augusto Boal se torna um dos mais
importantes dramaturgos do período.
Em 1962, o Arena inicia nova fase: a nacionalização dos clássicos. José Renato deixa a
companhia e Boal torna-se líder absoluto e sócio do empreendimento. Encerra-se a vida de
encenações dos textos produzidos no Seminário de Dramaturgia.
Em 1963 encena O Noviço, de Martins Pena e Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee
Williams, no teatro Oficina, em colaboração com grandes artistas do teatro brasileiro, tais
como o cenógrafo Flávio Império e Eugênio Kusnet, responsável pela preparação dos atores.
Ainda desta fase são O Melhor Juiz, o Rei, de Lope de Vega e Tartufo, de Molière, produções
de 1964.
Depois do golpe militar, Boal dirige no Rio de Janeiro o show Opinião, com Zé Kéti, João do
Vale e Nara Leão - depois substituída por Maria Bethânia). A iniciativa surge de um grupo de
autores (Oduvaldo Vianna Filho, Paulo Pontes e Armando Costa) ligados ao Centro Popular de
Cultura (CPC) da UNE, posto na ilegalidade. O grupo pretendia criar um foco de resistência
política através da arte. De fato evento é um sucesso e contagia diversos outros setores
artísticos. O Opinião 65, exposição de artes plásticas no Museu de Arte Moderna do Rio de
Janeiro (MAM-RJ), surge na sequência, aglutinando os artistas ligados aos movimentos de arte
popular. Esse é o nascedouro do Grupo Opinião.
A partir de Opinião, Boal inicia o ciclo de musicais no Arena, com Gianfrancesco Guarnieri e
Edu Lobo, apresentando Arena Conta Zumbi (1965), primeiro experimento com o sistema
curinga[5] onde oito atores se revezam, fazendo todas as personagens. O sucesso de público
abre caminho para Arena Conta Bahia, com direção musical de Gilberto Gil e Caetano Veloso, e
Maria Bethânia e Tom Zé no elenco.
Em seguida, é encenado Tempo de Guerra, no Oficina, com texto de Boal e Guarnieri, poemas
de Brecht e vozes de Gil, Maria da Graça (Gal Costa), Tom Zé e Maria Bethânia, sob a direção
de Boal.
No ano seguinte, é a vez do espetáculo Arena Conta Tiradentes, centrado em outro
movimento histórico de luta nacional - a Inconfidência Mineira. Também uma aplicação do
sistema curinga, a peça não propõe retratar os fatos de forma ortodoxa e cronológica, mas
criar conexões com fatos, tipos e personagens que se referem constantemente ao período pré
e pós-1964.
A Primeira Feira Paulista de Opinião, concebida e encenada por Boal no Teatro Ruth Escobar, é
uma reunião de textos curtos de vários autores - um depoimento teatral sobre o Brasil de
1968. Estão presentes textos de Lauro César Muniz, Bráulio Pedroso, Gianfrancesco Guarnieri,
Jorge Andrade, Plínio Marcos e do próprio Boal. O diretor apresenta o espetáculo na íntegra,
ignorando os mais de 70 cortes estabelecidos pela censura, incitando a desobediência civil e
lutando arduamente pela permanência da peça em cartaz, depois de sua proibição.
Em 1976, ao escrever a peça Lisa, a Mulher Libertadora, Boal compôs, em parceria com Chico
Buarque, a música Mulheres de Atenas, baseada na história das mulheres da Grécia Antiga. A
canção fez grande sucesso, ao ser lançada por Chico em seu disco Meus Caros Amigos.
Em 2018, Clarice Boal organizou a Feira Brasileira de Opinião, em alusão à Feira organizada em
1968 por Augusto Boal. O local escolhido foi o Memorial Luiz Carlos Prestes, em Porto Alegre.
Exílio
Com a decretação do Ato Institucional nº 5, em fins de 1968, o Arena viaja para fora do país,
excursionando, entre 1969 e 1970 pelos Estados Unidos, México, Peru e Argentina. Boal
escreve e dirige Arena Conta Bolívar. Em seu retorno, com uma equipe de jovens recém-saídos
de um curso no Arena, cria o Teatro Jornal - 1ª Edição, experiência que aproveita técnicas do
agitprop e do Living Newspaper, grupo norte-americano dos anos 1930 que trabalhava com
dramatizações a partir de notícias de jornal.
A Resistível Ascensão de Arturo Ui, de Brecht, é a última incursão de Boal no sistema curinga,
que entretanto não acrescenta grandes novidades na linguagem do grupo.
Em 1971, Boal é preso e torturado. Na sequência, decide deixar o país, com destino à
Argentina, terra de sua esposa, a psicanalista Cecília Boal. Lá permanece por cinco anos e
desenvolve o Teatro Invisível. Naquele mesmo ano, Torquemada, um texto seu sobre a
Inquisição, é encenado em Buenos Aires.
Em 1973, vai para o Peru, onde aplica suas técnicas num programa de alfabetização integral e
começa a fazer o Teatro Fórum. Em 1974, seu texto Tio Patinhas e a Pílula é encenado em
Nova York.
No Equador, desenvolve, com populações indígenas, o Teatro Imagem. Esse período é
representado por Boal em seu texto Murro em Ponta de Faca.
Muda-se para Portugal, onde permanecerá por dois anos. Ali, com o grupo A Barraca, realiza a
montagem A Barraca Conta Tiradentes, 1977. Apresenta também um espetáculo musical
"Zumbi", com a participação, entre outros, de Sérgio Godinho e Francisco Fanhais. Lá também
escreve Mulheres de Atenas, uma adaptação de Lisístrata, de Aristófanes, com músicas de
Chico Buarque.
Finalmente, a partir de 1978 estabelece-se em Paris, onde cria um centro para pesquisa e
difusão do teatro do oprimido, o Ceditade (Centre d'étude et de diffusion des techniques
actives d'expression). Lá, com ajuda de sua esposa desenvolve um teatro mais interiorizado e
subjetivo, o Arco-íris do desejo (Método Boal de Teatro e Terapia).
Enquanto isso, em São Paulo (1978) Paulo José dirige, para a companhia de Othon Bastos,
Murro em Ponta de Faca, texto em que Boal enfoca a vida dos exilados políticos.
Boal visita o Brasil em 1979, para ministrar um curso no Rio de Janeiro, retornando, no ano
seguinte, juntamente com seu grupo francês, para apresentar o Teatro do Oprimido, já
consagrado em muitos países.
Em 1981, promove o I Festival Internacional de Teatro do Oprimido. Volta ao Brasil
definitivamente em 1986, instalando-se no Rio, onde inicia o plano piloto da Fábrica de Teatro
Popular, que tinha como principal objetivo tornar acessível a qualquer cidadão a linguagem
teatral e cria o Centro do Teatro do Oprimido.
Homenagem
Uma das canções de Chico Buarque é uma carta em forma de música - uma carta musicada
que ele fez em homenagem a Boal, que vivia no exílio em Lisboa, quando o Brasil estava sob a
ditadura militar. A canção Meu Caro Amigo, dirigida a ele, foi gravada originalmente no disco
Meus Caros Amigos 1976.
Augusto Pinto Boal é Patrono da Presidente/ALB/Piracicaba/SP Academia de Letras do Brasil. A
primeira escritora a imortalizar Augusto Boal em Academia de Letras foi a escritora Branca
Tirollo aos 12 de agosto de 2009 na cidade de "Piracicaba São Paulo".
Centro de Teatro do Oprimido-CTO
O Centro de Teatro do Oprimido, surgido em 1986, é um centro de pesquisa e difusão, que
desenvolve metodologia específica do Teatro do Oprimido em laboratórios e seminários,
ambos de caráter permanente, para revisão, experimentação, análise e sistematização de
exercícios, jogos e técnicas teatrais. Nos laboratórios e seminários são elaborados e produzidos
projetos sócio-culturais, espetáculos teatrais e produtos artísticos, tendo como alicerce a
Estética do Oprimido. O CTO foi a única instituição que teve a direção artística de Augusto Boal
nos seus últimos 23 anos de vida. A filosofia e as ações desta instituição visam à
democratização dos meios de produção cultural, como forma de expansão intelectual de seus
participantes, além da propagação do Teatro do Oprimido como meio, da ativação e do
democrático fortalecimento da cidadania. O CTO implementa projetos que estimulam a
participação ativa e protagônica das camadas oprimidas da sociedade, e visam à
transformação da realidade a partir do diálogo e através de meios estéticos, tendo o notório e
notável saber da metodologia do Teatro do Oprimido. Dessa forma o Centro de Teatro do
Oprimido desenvolve projetos na área da educação, saúde mental, sistema prisional, pontos
de cultura, movimentos sociais, comunidades, entre outros. Por conta de sua natureza
humanística e do potencial do Teatro do Oprimido, está atuante em todo o Brasil e em países
como Moçambique, Guiné-Bissau, Angola e Senegal. Equipe do CTO: Coordenação Político-
Artística Geo Britto, Coordenação Artístico-Política Helen Sarapeck, Olivar Bendelak, Claudete
Felix, Flávio Sanctum, Monique Rodrigues e Alessandro Conceição. Curinga Internacional:
Barbara Santos e Claúdia Simone. Curinga Regional: Claudio Rocha, Kelly di Bertolli e Yara
Toscano. Assistente de Curinga; Janna Salamandra. Consultoria de Imagem: Cachalotte Matos.
Finanças: Graça Silva. Assessoria Jurídica: Victor Gabriel, Avenida Mem de Sá 31, Lapa, Rio de
Janeiro, Brazil. 55 21 2232 5826 / 2215 0503 Mais informações: www.cto.org.br
Teatro popular e Mandato
Boal preconizava que o teatro deve ser um auxiliar das transformações sociais e formar
lideranças nas comunidades rurais e nos subúrbios. Para isto organizou uma sucessão de
exercícios simples, porém capazes de oferecer o desenvolvimento de uma boa técnica teatral
amadora, auxiliando a formação do ator de teatro.
Em 1993 foi eleito vereador no Rio de Janeiro pelo Partido dos Trabalhadores. Exerceu seu
mandato até 1997, aprovando 13 leis que ele cita serem "desejo direto do povo". O livro
"Teatro Legislativo" conta em pormenores sobre seu mandato.
Nobel
Augusto Boal foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 2008, em virtude de seu trabalho com o
Teatro do Oprimido. Em março de 2009, foi nomeado pela Unesco embaixador mundial do
teatro.
Morte
Augusto Boal morreu na madrugada de um sábado por volta das 2h 40min do dia 2 de maio de
2009, aos 78 anos, no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Samaritano, em Botafogo,
na Zona Sul do Rio, por insuficiência respiratória. Boal sofria de leucemia.
Sobre a importância de Boal para o Teatro
Suas ideias, adotadas em diversas iniciativas em todo o mundo, renderam-lhe um
reconhecimento que pode ser expresso nos seguintes comentários, que figuram no seu livro
Teatro do oprimido e outras poéticas políticas (ISBN 85-2000-0265-X):
"Boal conseguiu fazer aquilo com que Brecht apenas sonhou e escreveu: um teatro alegre e
instrutivo. Uma forma de terapia social. Mais do que qualquer outro homem de teatro vivo,
Boal está tendo um enorme impacto mundial" - Richard Schechner, diretor de The Drama
Review.
"Augusto Boal reinventou o teatro político e é uma figura internacional tão importante quanto
Brecht ou Stanislavski." - The Guardian.
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