CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO (PUNIV)
TEXTO DE APOIO DA 11ª CLASSE
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA SOCIOLOGIA
(Texto provisório e não corrigido)
Organizado Por: Arão D. Chingala (Docente)
“Aryclenes Donana”
Luanda, 2022
Unidade I – Introdução ao estudo da sociologia
1. Sociologia como conhecimento
A sociologia é uma área das ciências sociais que procura compreender os fenómenos
sociais, tal como compreender o homem, sua existência e sua relação com o meio. Estes
constituem sempre o objecto de estudo de análise e de pesquisa dos sociólogos e que, de
alguma forma, contribuíram para o surgimento da sociologia como ciência.
1.1. A origem e o desenvolvimento da sociologia
Podemos dizer que a sociologia como tal nasce na França, entre 1830 e 1839, século
XIX, quando o filósofo e matemático Auguste Comte procurava formular um campo do
saber que se ocuparia na análise dos fenómenos sociais. Ou seja, um campo autónomo
que fosse capaz de estudar as questões que afligiam as sociedades, onde caberiam neste
campo áreas como a psicologia, economia, direito entre outras.
Inicialmente a sociologia foi sugerida que fosse chamada de Física social, mas Auguste
Comte, no seu projecto (Filosofia Positiva) a chamou de sociologia. A Física social
seria essa ciência que se ocuparia no estudo da “sociedade”.
Apesar deste detalhe importante sobre a origem da sociologia, as questões sociais e a
tentativa de compreender o homem na sociedade nas mais variadas vertentes, embora
numa dimensão diferente, é muito antiga.
Essas reflexões todas sobre a vida do homem na sociedade apresentadas por pensadores
antigos contribuíram para o desenvolvimento teórico da sociedade e abriram o caminho
para as pesquisas sociais e para o surgimento da sociologia como ciência.
Mas como uma ciência independente das demais ciências sociais, Émile Durkheim é
considerado por muitos como o fundador da sociologia pelo facto de determinar regras
de rigor científico para sociologia (regras do método sociológico) e o seu objecto de
estudo: os factos sociais.
1.1.1. Premissas históricas
A sociologia nasce na França, como já mencionamos anteriormente, fruto de dois
grandes acontecimentos revolucionários:
Revolução Industrial1 (1760-1840) que ocorreu inicialmente na Inglaterra e
posteriormente noutros países europeus, e trouxe mudança no mundo do trabalho, na
sociedade e na economia.
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O processo marcado pela substituição da energia física (animais e homens) pela energia mecânica. A
Revolução Industrial é um conjunto transformações no processo produtivo… A introdução das máquinas.
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A revolução industrial marcou o início da passagem de trabalho manufacturado para o
trabalho mecanizado e revolucionou mudanças profundas em todas as áreas da vida
socioeconómica, política e cultural
No plano económico – a formação socioeconómica feudal aos poucos foi dando
lugar às capitalistas, com isso novo modo de produção, novas forças produtivas,
técnicas e relações sociais de produção. O centro de produção deixa de ser o
campo “terra” e passa para a cidade “fábricas”, novas relações entre o produtor e
o produto de trabalho, novo horário e ritmo de trabalho, a economia planificada
ou de subsistência foi dando lugar à economia do mercado.
Plano social – surgimento de novas estruturas sociais, instituições e valores
sociais, novas classes de relações sociais, novos antagonismos de classes
(burguesia e o operário) e com isso, o aumento de conflitos, tensões, e
insatisfações sociais.
Plano político – o sistema político feudal foi dando lugar ao sistema capitalista
dirigido pela burguesia e sua ideologia.
Plano cultural – movimento da população do campo para cidade buscando
melhores condições de vida, modificando as formas de viver.
Revolução Francesa2 (1789) (revolução política) altera a lógica do país mais populoso
da Europa (França), naquele tempo, e influencia todos os países. Fruto desta revolução é
o novo sistema político que é instalado na França. A carta da declaração da liberdade
dos homens (Liberdade, igualdade e fraternidade) é um dos ganhos da revolução, e que
tem impacto na sociedade francesa e o resto do mundo.
Essa revolução derrubou o anterior sistema político “Ditadura absolutista” que vigorava
naquele tempo, onde Rei detinha todos os poderes. Esse sistema foi derrubado e alterou-
se o panorama político da França e do resto da Europa.
Essa nova configuração política trouxe consigo muitas modificações e tensões que
tiveram impactos sociais muito fortes.
A sociologia aparece exactamente para estudar as alterações sociais daquela época.
1.1.2. Os precursores da sociologia
Como destacamos antes, a tentativa de compreender o homem na sociedade nas mais
variadas vertentes, embora numa dimensão diferente, é muito antiga.
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Movimento revolucionário que derruba o sistema da monarquia absolutista (o rei tinha todo poder) para
instaurar a república.
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A preocupação remonta desde os antigos filósofos do período helénico como Platão,
Aristóteles e Santo Agostinho e os pensadores do iluminismo.
As reflexões sobre a vida do homem em sociedade apresentadas por esses pensadores
antigos contribuíram para o desenvolvimento teórico da sociedade e abriram o caminho
para as pesquisas sociais e para o surgimento da sociologia como ciência.
Os precursores da sociologia são aqueles que trataram dos fenómenos sociais,
estudar o homem na sociedade, sem serem sociólogos como tal.
Os estudos destes não obedeceram as regras científicas sociológicas, mas abriram as
portas para a sua construção.
Entre os precursores, destacam-se:
Pensadores helénicos: Platão (429-341 a. C.) com sua obra A república e Aristóteles
(384-322 a. C.) com a obra A política, foram os primeiros a tratar de tais problemas de
maneira sistemática e separada da religião, mas não independente dos regimes políticos
e económicos. As obras dos dois sábios tiveram muita repercussão e sua influência se
faz sentir até aos nossos dias. Santo Agostinho (354-430 a.C.) com a obra A cidade de
Deus apresentou ideias e análises básicas para as modernas concepções jurídicas e até
sociológicas.
Idade média: No século XIII podemos destacar São Tomás de Aquino (1226-1274)
com sua obra Summa theologica retomou os processos e as ideias de Aristóteles, para se
manifestar sobre as relações inter-humanas.
Renascença: Nesse período apareceram obras vigorosas em que se propunham normas
entrosadas de política e economia, destacando-se Campanella (1568-1639) com a obra
Cidade do sol, Thomas Morus (1478-1535) com a obra Utopia – que é considerado um
romance político e social muito avançado para aquela época, Maquiavel (1469-1527)
com a obra O príncipe, Thomas Hobbes (1588-1679) com a obra Leviatã – esses dois
consideravam ser a vida da sociedade baseada no uso da força, Locke (1632-1704) com
a obra Ensaios sobre o entendimento humano – que contribuiu para filosofia, psicologia
e educação.
O século XVIII: Neste século apareceram obras de grande valor no campo da política,
economia e sociologia. Destacam-se Montesquieu (1689-1775) com a obra Espírito das
leis, analisou o papel da lei e dos poderes políticos na sociedade; Adam Smith (1723-
1790) com a obra A riqueza das nações relacionou suas análises económicas com o
conjunto da sociedade; Jean Jacques Rousseau (1712-1778) com a obra Contrato social
teve decisiva influência na revolução democrática e na história das instituições. Sua
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primordial importância consiste na apresentação de uma teoria para fundamentar a
legitimidade do poder político. Saint Simon (1760-1825) criador dos Falanstérios
estabeleceu uma correlação entre sentimentos e as estruturas sociais. É verdadeiro
fundador do socialismo, autor da famosa frase “dê cada um de acordo com sua
capacidade e a cada um de acordo com a sua necessidade”.
Os primeiros sociólogos
Auguste Comte, Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber
Auguste Comte (1798-1857) nasceu na França, Montpellier, no dia 19 de Janeiro de
1798 e morre em Paris, no dia 5 de Setembro de 1857.
Foi primeiro a utilizar de forma sistemática o termo “sociologia”, parece que de má
vontade, porque o belga Adolphe Quetelet tinha-lhe sugerido o termo de “física social”
que lhe agradava mais.
Entretanto, a primeira formulação do termo “sociologia” encontra-se numa página
manuscrita de Sieyès onde alinha vários neologismos possíveis a partir do termo
“social”.
Segundo Comte, somente devem ser válidas as análises das sociedades quando feitas
com verdadeiro espírito científico, com objectividade e com ausência de metas
preconcebidas.
Os estudos das relações humanas deveriam constituir uma nova ciência “Sociologia”. A
sociologia, segundo Comte, não deveria limitar-se apenas à análise, mas propor normas
de comportamento.
Alguns princípios básicos de Comte são: Prioridade do todo sobre as partes: para
compreender e explicar um fenómeno social particular, devemos analisá-lo no contexto
global a que pertence. Ele divide a sociologia em Estática social (ou sociologia estática)
– estudo da ordem das sociedades em determinado momento histórico e Dinâmica
social (sociologia dinâmica) – estudo da evolução das sociedades no tempo;
considerava que tanto a sociologia estática quanto a sociologia dinâmica deveriam
analisar a sociedade de uma determinada época, fazendo correlação com sua História e
com a História da Humanidade. A sociologia de Comte é sociologia comparada, tendo
como quadro de referência a História Universal.
O progresso dos conhecimentos é característico da sociedade humana: existe uma
coerência entre o estágio dos conhecimentos e a organização social. A sucessão de
gerações, com seus conhecimentos, permite uma acumulação de experiências e de saber
que constitui um património espiritual objectivo e liga as gerações entre si.
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O homem é o mesmo por toda parte e em todos os tempos: por possuir idêntica
constituição biológica e sistema cerebral. Mostra ao homem o conhecimento do seu
papel na história e na sociedade.
Classifica a sociedade com sua Lei dos Três Estados: 1º Estado teológico ou fictício:
que explica os diversos fenómenos através do sobrenatural. Esse estado subdivide-se em
fetichismo: em que o homem confere vida, acção e poder sobrenaturais a seres
inanimados e animal; politeísmo: atribui a diversas potências sobrenaturais ou deuses
certos traços da natureza humana (motivações, vícios, etc.) e monoteísmo: quando se
desenvolve a crença num Deus único. 2º Estado Metafísico ou abstracto: aqui as
explicações sobre a natureza das coisas e a causa dos acontecimentos são feitas
baseando-se nas ideias (abstracto), 3º Estado positivo ou científico: busca a explicação
das coisas através da observação científica e do raciocínio, formulando leis.
Suas obras: Curso de filosofia positiva (1830-1842) e Política positiva (1851-1854).
Karl Marx nasceu na então Prússia Renana, em Trèves, no dia 5 de Maio 1818 e morre
no dia 14 de Março de 1883.
Sua principal contribuição deve-se ao facto de ter desenvolvido a sociologia,
salientando que as relações sociais decorrem dos modos de produção. O postulado
básico do marxismo é o determinismo económico, que salienta o factor económico
como determinante da estrutura do desenvolvimento da sociedade.
Para satisfação de suas necessidades, o homem actua sobre a natureza, relações técnicas
de produção.
Para Marx, a sociedade divide-se em infra-estrutura e supra-estrutura. A infra-
estrutura é estrutura económica formada das relações de produção e forças produtivas.
A supra-estrutura divide-se em dois níveis: (1) a estrutura jurídico-política: formadas
pelas normas e leis que correspondem a sistematização das relações já existentes; (2) a
estrutura ideológica: filosofia, arte, religião, etc., justificativa do real, é formado por um
conjunto de ideias de determinada classe social que defende seus interesses através de
suas ideologias. Sendo infra-estrutura determinante, toda mudança social se origina das
modificações das forças produtivas e relações de produção.
Sua obra O Capital (1867-1895).
Émile Durkheim nasceu na França, Épinal, no dia 15 de Abril de 1858 e morre em
Paris, no dia 15 de Novembro de 1917.
Considerado o fundador da sociologia como ciência independente das ciências socais.
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Seu contributo vai desde a delimitação do objecto de estudo da sociologia, criação de
métodos de pesquisa/investigação para a sociologia. Para Durkheim, a sociologia deve
estudar os factos sociais, e esses factos sociais devem ser considerados como coisa.
No plano metodológico, a par da visão de considerar factos sociais como coisa,
aconselha a explicar o social pelo social, distinguir o normal do patológico.
Obras do autor: A divisão do trabalho social (1893); As Regras do Método Sociológico
(1895); O suicídio (1897).
Max Weber nasceu na Alemanha, em Erfurt (Turíngia) no dia 21 de Abril de 1864 e
morre em Munique no dia 14 de Junho 1920.
Para Weber, a sociologia é o estudo das interacções significativas de indivíduos que
formam uma teia de relações sociais, sendo seu objecto a compreensão da conduta
social ou acção social.
Define acção social como conduta humana, pública ou não, a que o agente atribui
significado subjectivo.
Essa acção, para ele, apresenta-se em quatro formas ou categorias (características):
1º A acção tradicional: relativa às tradições antigas.
2º A acção afectiva: relativo à emoção ou outra reacção habitual.
3º Acção valorativa ou visando o valor: agindo de acordo os valores da
sociedade/grupo, ou seja, com o que outros indivíduos esperam de nós.
4º A acção visando os fins aos meios: agindo de acordo os fins preconizados e
pensados.
Obras principais: A ética protestante e o espírito do capitalismo (1905); Economia e
sociedade (1922) publicação póstuma.
1.2. Noção e objecto de estudo da sociologia
Para melhor compreensão, comecemos com a definição etimológica da sociologia.
A palavra sociologia é de origem híbrida, pois ela deriva de dois termos de origem
diferentes: do latim (sócius= companheiro, agrupamento, parceiro, sociedade) e do
grego (logos= tratado de, ciência). Numa tradução livre diríamos que,
etimologicamente, a sociologia é a ciência que estuda a sociedade.
E como pode ser definida a sociologia?
A sociologia pode ser definida como estudo científico da vida humana, dos
grupos sociais, da sociedade, do mundo humano como um todo.
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Objecto de estudo da sociologia
Toda e qualquer ciência tem o seu foco principal. No caso da sociologia, segundo
Giddens, esse foco é muito vasto, indo das interacções entre indivíduos quando se
cruzam na rua, até ao estudo das relações internacionais e do terrorismo.
Para Émile Durkheim, a sociologia deve estudar os Factos sociais. Para Max Weber a
sociologia deve estudar a Acção social. E Karl Marx propõe os meios de produção ou
capital.
Os factos sociais e suas características
Facto social é o objecto de estudo proposto por Durkheim. Para ele, “os factos sociais
são toda maneira de agir, fixa ou não, susceptível de exercer sobre o indivíduo uma
coerção exterior, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma
existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter”.
Os factos sociais apresentam as seguintes características específicas:
1- Exterioridade: Em relação às consciências individuais. As maneiras de agir, de
pensar e de sentir são exteriores às pessoas, porque as precedem, transcendem, e
a elas sobrevivem. Os factos sociais transcendem os indivíduos. Existe antes e
depois da existência do indivíduo.
Exemplo: quando desempenhamos nosso papel de cidadãos, de filhos, de adeptos de
uma religião, ou um outro papel, estamos a praticar deveres definidos fora de nós e dos
hábitos individuais – como é o caso do direito e dos costumes.
2- Coercibilidade: As normas de conduta ou de pensamento, além de externas aos
indivíduos, são dotadas de poder de coerção, porque se impõem aos indivíduos,
independente de suas vontades.
A força coerciva aparece assim que tentamos opor resistência à mesma. E as
sanções podem ser drásticas, leves ou indirectas. A pressão dos factos sociais
manifesta-se de duas formas: subjectivamente (quando se impõe às nossas
consciências); objectivamente (a reacção que provoca no grupo a nossa não
submissão a eles.
Exemplo: Quando deixamos de cumprir com as nossas obrigações legais, a sociedade
lança mão para punir nossa atitude. Quando o nosso comportamento não constitui
transgressão à lei, mas às convicções da sociedade (como portar-se mal à mesa, vestir-se
inadequadamente ou falar de modo impróprio), podemos ser alvos de riso, zombaria e
afastamento dos amigos.
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3- Generalidade: Consciência colectiva, isto é, o conjunto das maneiras de agir, de
pensar e de sentir, é característica geral de determinado grupo ou sociedade.
1.3. A sociologia e outras ciências sociais
A sociologia e outras ciências sociais dedicam-se ao estudo científico das relações
humanas, utilizando métodos apropriados. O esforço de compreender o comportamento
humano a partir de uma perspectiva científica, na tentativa de descobrir padrões - “leis”
– na interacção humana. Mas isso nem sempre foi fácil tendo em conta a complexidade
dos seres humanos. Os seres humanos nem sempre funcionam de forma previsível, de
acordo com os padrões automáticos.
As ciências sociais, o ramo que estuda a sociedade e o comportamento, incluem:
Antropologia, Criminologia, Economia, História, Ciência Política, Psicologia,
Sociologia e outras.
O ramo das ciências sociais partilham o mesmo interesse, que é estudar o super
orgânico. Ou seja, o seu interesse é voltado para o homem em sociedade. Apesar disso,
cada ciência tem o seu olhar particular. Por exemplo: A SOCIOLOGIA vai estudar as
relações sociais, as formas de associação, factos sociais e a acção social; e a
Antropologia Cultural vai estudar semelhanças e diferenças culturais, origem e história
das culturas do homem, sua evolução e desenvolvimento, estrutura e funcionamento, em
qualquer lugar e tempo.
1.3.1. A unidade do social e a diversidade das ciências sociais
Há uma unidade das ciências sociais no sentido de que todas se dedicam ao
comportamento e condicionamento do homem na sociedade, ou seja, todas elas
assentam na vida humana em sociedade.
A diversidade deve-se ao facto de cada uma delas adoptar perspectivas diferentes no
estudo do comportamento e condicionamento do homem na sociedade. Na Economia
estuda-se as escolhas do homem em termos de necessidades e bens; Na Antropologia, as
características específicas de cada sociedade individualizada; Na Política faz-se o estudo
do poder e do seu exercício.
1.3.2. A complementaridade e interdependência nas ciências sociais
Para compreender a realidade social é necessário ter em conta às muitas facetas que a
vida das pessoas tem. Há um aspecto económico, aspecto legal, aspecto religioso,
aspecto político, etc.
No caso da sociologia, que entende a vida social como um todo, busca auxílio a outras
ciências sociais que estudam particularmente um ou outro aspecto da sociedade humana.
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Por exemplo, a sociologia, a fim de compreender uma determinada sociedade, tem de
ter conhecimento da Economia, Ciência Política, História, Antropologia, Direito, e a
interacção com o resto do mundo.
Isso não acontece apenas com a sociologia. As ciências sociais têm essa relação de
interdependência e de complementaridade. Outras ciências sociais, para compreender
determinadas situações da vida humana, também recorrem à Sociologia para o efeito.
1.3.3. A articulação entre sociologia e outras ciências sociais
História, Demografia, Direito e Economia
Tal como já foi referido, a compreensão do social nos remete a uma abordagem
multidisciplinar. A sociologia enquadra-se nesta categoria, e clama por uma variedade
de outras ciências sociais, incluindo História, Demografia, Direito, Economia,
Antropologia. Ciência Política, Psicologia, etc.
Sociologia e História
As ciências sociais possuem em si um carácter histórico. Toda sociologia surge e se
desenvolve na base de dados históricos, num determinado espaço e tempo. E a história,
como ciência que estuda o presente orientado pelo passado, é dinâmica e renova-se com
base em dados sociológicos.
Sociologia e Demografia
Demografia estuda a população desde aspectos que envolvem as taxas de natalidade,
mortalidade, crescimento natural e crescimento populacional, etc. Estes aspectos têm
um carácter social e alteram as estruturas sociais. A articulação entre elas permite-nos
compreender a estreita relação que pode existir entre a vida social global e a dimensão
da população.
Sociologia e Direito
Direito enquanto conjunto de actos jurídicos que proíbem e sancionam determinados
comportamentos e condutas condenáveis que caracterizam as relações humanas,
representa uma instituição social importante, pois dá uma imagem real de organização
sociopolítica. Funciona como controlo social, regula comportamento humano por
intermédio das leis e normas (direitos e obrigações). As duas formas do direito: direito
positivo (legal ou escrito) e direito consuetudinário ou costumeiro (baseado nos
costumes) relacionam o direito à sociologia pelo facto de o direito ser visto como um
facto social.
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Sociologia e Economia
A economia centra na produção e distribuição de bens e serviços na sociedade. Os
economistas estudam o que cada sociedade escolhe para produzir e como produz, como
as pessoas interagem e cooperam para produzir bens. Sendo a economia uma ciência da
“escolha”, face às necessidades humanas e aos recursos escassos, há que se fazer
escolhas: o que vamos produzir? Como vamos produzir? Para quem vamos produzir?
As respostas a estas interrogações sobre a economia promovem a ligação à sociologia.
2. A sociologia como ciência
Os fundadores da sociologia consideravam-na científica na medida em que a sociologia
utilizava métodos para chegar a conclusões comprováveis.
A ciência envolve estudo sistemático de métodos empíricos, análise de dados, de
pensamento teórico, avaliação lógica e argumentos.
A sociologia será uma ciência, uma vez que utiliza métodos empíricos (quantitativo e
qualitativo, observação e experiência), ferramentas teóricas e lógica para criar um corpo
de conhecimento sobre a sociedade humana.
Método em sociologia
Método é o caminho para se chegar às conclusões comprováveis. Nesta ordem de ideia,
os fundadores da sociologia consideravam-na científica porque a sociologia utilizava
método semelhante aos das ciências naturais e físicas. Esse método assentava-se na
observação e na experimentação.
2.1. O conhecimento científico em ciências sociais
Genericamente, uma ciência tem que ter uma teoria e um método. O conhecimento em
sociologia resulta de um processo sistemático de indagação (investigação) para sua
produção, apoiado em procedimentos e ferramentas teóricas e metodológicas
harmonizadas.
Em ciências sociais a investigação exige dois requisitos: que seja científica (métodos
rigorosos) e adequada ao objecto em estudo. Aqui, há duas características presentes: a
multiplicidade e a dependência contextual. A multiplicidade resulta da existência de
diferentes abordagens e/ou métodos (Exemplo: métodos indutivos, dedutivos, técnicas
quantitativas e qualitativas; pesquisas extensivas e intensivas). A dependência
contextual refere-se à relação do investigador face ao contexto sociocultural em que está
inserido, não podendo dissociar-se deste, e partilhando questões e métodos com outros
investigadores.
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A sociologia por estudar o social assenta numa multiplicidade de métodos e paradigmas
e que depende do contexto.
2.2. A objectividade em ciências sociais
As ciências sociais não são objectivas, na medida em que um geólogo analisa uma
pedra. A sociologia estuda o homem em sociedade. Ao contrário das pedras, os homens
são auto-conscientes e têm vontades racionais e irracionais.
O facto de não se puder estudar o homem e a sociedade tal como se estuda uma pedra,
não retira a objectividade à sociologia. Os sociólogos podem fazer perguntas directas
aos seus objectos de estudo “a pessoa na sociedade” e encontrar respostas. Essa
interacção pode ser fiável. A fiabilidade e a validade do método da sociologia garantem
a objectividade da sociologia.
2.3. A atitude científica e atitude ideológica
A atitude científica começa com um método de estudo objectivo. O objectivo último é
encontrar as causas e as relações entre os fenómenos analisados sem exprimir juízos de
valor. E esse método científico e objectivo permite questionar as conclusões.
Já a atitude ideológica consiste em explicar e interpretar os factos por meio do senso
comum, valores e preconceitos.
O objectivo da procura do conhecimento científico é estabelecer as causas e relações, e
não criar juízos de valor.
Exemplo: Em sociologia, se tivermos que analisar as causas pelas quais os homens são
bem mais remunerados do que as mulheres, devemos criar algumas variáveis que
podem ser verificáveis e validadas ou não, como: “maior disponibilidade dos homens,
maior força física, maior produtividade, menor absentismo. Tentar justificar o facto
apenas com a máxima de que “os homens merecem ter mais rendimentos que as
mulheres” é uma premissa ideológica ou não científica.
2.4. A pesquisa científica
A investigação científica obedece determinadas estratégias (métodos) e usa
instrumentos para obter os dados de análise (técnicas).
Métodos e técnicas de pesquisa em ciências sociais:
Método experimental, método de medida ou análise extensiva e método de casos ou
análise intensiva
Nas ciências sociais, os métodos e técnicas servem para recolher, analisar e dar validade
aos conhecimentos.
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Métodos: aqui nos referimos aos procedimentos ou etapas concretas da investigação
com a finalidade de dar resposta.
Técnicas: referimo-nos às ferramentas ou aos instrumentos utilizados ao longo da
investigação.
Na investigação sociológica, alguns métodos e algumas técnicas são preferenciais.
Método experimental
Consiste na realização de observações com recolha de dados para comprovar uma
relação causal entre duas variáveis. Ao aplicar, constitui-se dois grupos homogéneos:
um é o grupo de controlo (que não é introduzida a variável) e o outro grupo é
experimental (que é introduzida a variável). Desta forma, verifica-se, através da
observação, se a variável é a causa dos efeitos verificados.
Exemplo: Ao estudar o sucesso dos alunos, podemos levantar a hipótese que “em
matemática, usando metodologia mais prática como os exercícios enquadrados no seu
dia-a-dia”, os alunos terão melhores resultados. A hipótese é terem ou não melhores
resultados. Aplicando num grupo experimental essa metodologia, vai constatar-se se os
alunos terão melhores resultados ou não, quando comparados com o outro grupo.
Método de medidas ou análise extensiva
Esse método privilegia a quantidade ao invés de profundidade dos dados e obter
generalizações, pelo que é aplicado a um elevado número de pessoas. É comum neste
método utilizar-se a amostra para concluir sobre a tendência geral. Utilizam-se
normalmente entrevistas (por telefone) ou questionários.
Exemplo: As sondagens eleitorais, sondagens sobre determinadas preferências entre os
consumidores.
Método de casos ou análise intensiva
Aplica-se quando se pretende analisar uma realidade em profundidade. As informações
procuradas são precisas e pormenorizadas. O público-alvo é mais reduzido e há mais
proximidade entre o público-alvo e o pesquisador/investigador.
Exemplo: Um estudo detalhado de uma empresa ou um grupo de indivíduos reduzido
sobre sua cultura.
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2.5. Os modelos sociais
Modelos sociais são formas culturais adoptadas por sociedades, com as características
distintas de outras sociedades.
Entende-se por modelos sociais o conjunto de atitudes, condutas e valores (materiais e
espirituais) colectivos e aceites e desejados pela sociedade em cada fase histórica da sua
evolução.
Os modelos desempenham um papel fundamental na vida social e acarretam aquilo que
socialmente é aprovado e guiam as acções do homem de forma individual e colectiva.
Normalmente são modelos cobiçados na totalidade ou parcialmente, como aqueles a
atingir por outras sociedades. E isso faz deles os modelos sociais ideais e, logo, outras
sociedades tendem a adoptá-los, aceitando as modificações culturais que estas trarão
(aculturação).
Tipos de modelos sociais
Podemos apontar dois tipos de modelos sociais: modelos técnicos e modelos culturais.
Modelos técnicos podem ser as fórmulas práticas que guiam o comportamento
individual e colectivo na vida quotidiana. Exemplo: Modo de cultivo, técnica de
construção civil, etc.
Modelos culturais são modelos simbólicos que reflectem os valores globais como
identidade, a ética, o direito, a religião, a arte. Exemplo: a maneira de ser e estar de uma
sociedade é orientada por determinados princípios.
A interdependência entre os modelos sociais, métodos e técnicas de investigação
Os modelos relacionam-se com os métodos e as técnicas na medida em que os modelos
condicionam em grande medida o tipo de métodos e técnicas a adoptar numa
determinada investigação. Cada sociedade tem suas características e, dependendo do
assunto a investigar, haverá técnicas e métodos mais indicados para ter resultados
eficazes. Em outras palavras, os modelos e técnicas de investigação devem ter em conta
o tipo de sociedade.
Exemplo: Aplicar um questionário complexo a um grupo ou sociedade iletrada vai
enviesar os resultados, porque haverá o risco de não perceberem correctamente as
perguntas.
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