Material de apoio do Extensivo
Português
Professor: Eduardo Valladares
Exercícios: Estrutura de Formação de Palavras
A questão racial parece um desafio do presente, mas trata-se de algo que existe desde há muito
tempo. Modifica-se ao acaso das situações, das formas de sociabilidade e dos jogos das forças
sociais, mas reitera-se continuamente, modificada, mas persistente. Esse é o enigma com o qual
se defrontam uns e outros, intolerantes e tolerantes, discriminados e preconceituosos, segregados
e arrogantes, subordinados e dominantes, em todo o mundo. Mais do que tudo isso, a questão
racial revela, de forma particularmente evidente, nuançada e estridente, como funciona a fábrica
da sociedade, compreendendo identidade e alteridade, diversidade e desigualdade, cooperação e
hierarquização, dominação e alienação.
Octavio Ianni. Dialética das relações sociais.
Estudos avançados, n. 50, 2004.
1. As palavras do texto cujos prefixos traduzem, respectivamente, ideia de anterioridade e
contiguidade são:
a) “persistente” e “alteridade”.
b) “discriminados” e “hierarquização”.
c) “preconceituosos” e “cooperação”.
d) “subordinados” e “diversidade”.
e) “identidade” e “segregados”.
2. (FUVEST 2011 – 2ª Fase - Questão 1) Examine esta propaganda de uma empresa de
certificação digital (mecanismo de segurança que garante autenticidade, confidenciabilidade e
integridade às informações eletrônicas).
Folha de S. Paulo, 16/03/2010. Adaptado.
Este conteúdo pertence ao Descomplica. É vedada a cópia ou a reprodução não autorizada previamente e por escrito.
Todos os direitos reservados.
Material de apoio do Extensivo
Português
Professor: Eduardo Valladares
a) Aponte a relação de sentido que existe entre a mensagem verbal e a imagem.
b) Forme uma frase correta e coerente com base em um verbo derivado da palavra “burocracia”.
c) “Estar com os dias contados” é uma das dezenas de locuções formadas a partir do substantivo
“dia”. Crie uma frase em que apareça uma dessas locuções (sem repetir, é claro, a locução
utilizada na propaganda acima).
TEXTO I
Mau humor crônico é doença e exige tratamento
Mau humor pode ser doença – e grave! Um transtorno mental que se manifesta por meio
de uma rabugice que parece eterna. Lembra muito o estado de espírito do Hardy Har Har, a hiena
de desenho animado famosa por viver resmungando “Oh dia, oh céu, oh vida, oh azar”.
Distimia é o nome dessa doença. Reconhecida pela medicina nos anos 80, é uma forma
crônica de depressão, com sintomas mais leves. “Enquanto a pessoa com depressão grave fica
paralisada, quem tem distimia continua tocando a vida, mas está sempre reclamando”, diz o
psiquiatra Márcio Bernik, coordenador do Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas
(HC).
O distímico só enxerga o lado negativo do mundo e não sente prazer em nada. A diferença
entre ele e o resto dos mal-humorados é que os últimos reclamam de um problema, mas param
diante da resolução. O distímico reclama até se ganha na loteria.
“Não fica feliz, porque começa a pensar em coisas negativas, como ser alvo de assalto ou de
seqüestro”, diz o psiquiatra Antônio Egídio Nardi, professor da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. (...)
E, se o mau humor patológico tem remédio, o mau humor “natural” também. Vários fatores
interferem no humor. O cheiro, por exemplo, que é capaz de abrir o sorriso no rosto de um
trombudo. E mais: ao contrário do que se pensa, o humor melhora com a idade!
(KLINGER, Karina. Folha on-line – www.folha.com.br, 15/07/2004.)
3. (UFRJ 2007 - Questão 1) O texto apresenta como tema central um transtorno causado pelo
mau funcionamento do timo (glândula relacionada ao controle da afetividade e da emoção).
a) Identifique a palavra que, por meio do uso de prefixo e sufixo, nomeia o portador desse
transtorno.
b) Diferencie o referido transtorno de uma outra categoria psicológica relativa ao humor
apresentada no texto, apontando a principal característica de cada uma delas.
TEXTO III
Vila dos Confins
Não há bicho mais velhaco do que urubu roceiro, morador em zona de criação, mal-acostumado
pelo daninho vício de comer umbigo de bezerro recém-parido.
Lá está o peste, de plantão. Refestelado1 que só ele, no galho alto do pé de angico esquecido no
meio do pasto. Passa homem, passa mulher e menino, passa boi, cavaleiro passa. A gente dobra
o corpo, deita mão em pedra. O urubu raciocina: mede o mal-inclinado do passante, calcula o
Este conteúdo pertence ao Descomplica. É vedada a cópia ou a reprodução não autorizada previamente e por escrito.
Todos os direitos reservados.
Material de apoio do Extensivo
Português
Professor: Eduardo Valladares
tamanho e o peso da pedra, adivinha até aonde pode chegar aquele meio quilo de maldade.
Pensa, pensa e repensa ligeiro, e continua pousado do mesmíssimo jeito. A cabo-verde alça vôo,
zunindo, e vai bater no tronco do pé de angico, dois metros abaixo do alvo: beleza de tinido faz a
pedrada, que o pau é seco, rijo, ocado pelo fogo – por isso mesmo sonoroso também. Há tipos
que respondem com fedorento arroto de desprezo. Outros, porém, mal abrem o bico em um
bocejo de pouco caso e repegam no cochilo: soneca matreira, que estão mas é de olho fechado
de mentira, tomando nota de tudo quanto acontece de importante pela redondeza. A gente grita,
xinga, sapateia, se desespera e berra os mais feios palavrões. Que o quê! Urubu nem cheirou
nem fedeu. E continua quentando sol,vigiando a vaca chegadinha no amojo2 que, mais hora
menos hora, solta a cria ainda boba do susto no rapado jaraguá3 do pastinho-de-bezerro.
O fazendeiro busca em casa a fogo-central e volta ao pasto, disposto a acabar com a maldita
assombração. Do alto do pau, o urubu pombeia4 a providência. E, quando o enjerizado aponta na
porteira do curral, longe ainda, mas de espingarda na mão, o urubu galeia 5 as juntas das pernas
engomadas de piche, estica as asas de picumã, e demuda de pouso. Comigo não, violão! De pau-
de-fogo não não, Seu Bastião!
Vai-se embora o negro-preto, voando barulhento que nem máquina de trem de ferro subindo
ladeira custosa, fluque-fluque, fluque-fluque. Bicho excomungado!
(PALMÉRIO, Mário. Vila dos confins. Rio de Janeiro: José Olympio, 1976.)
Vocabulário:
1 refestelado – acomodado despreocupadamente
2 amojo – disponibilidade de leite para a amamentação
3 jaraguá – espécie de capim
4 pombeia – observa, espreita
5 galeia – sacode, balança
4. (UERJ 2007 – 2ª Fase (LP/LIT) - Questão 7) Apreendemos o significado de muitas palavras
graças a relações que podemos estabelecer entre elas e outras que já conhecemos, como
acontece com porteira, derivada de porta. Existem em português diferentes recursos para derivar
palavras, e as formas derivadas podem pertencer à mesma classe ou a uma classe diferente da
forma primitiva. As palavras daninho e bocejo, presentes no texto III, são uma prova disso.
Explique como cada uma destas palavras foi criada morfologicamente a partir da respectiva forma
primitiva.
Este conteúdo pertence ao Descomplica. É vedada a cópia ou a reprodução não autorizada previamente e por escrito.
Todos os direitos reservados.
Material de apoio do Extensivo
Português
Professor: Eduardo Valladares
Gabarito
1. C
2. a) Há entre a imagem e o texto verbal uma relação de sentido de contiguidade, na qual um
elemento x é usado em lugar de um elemento y: o carimbo, no texto visual, é usado em lugar de
“burocracia”, no texto verbal. Em outros termos, o carimbo é o objeto escolhido para representá-
la, já que em geral é associado aos trâmites burocráticos. A tecla “delete”, no texto visual, também
em relação metonímica, representa a informatização: o mundo digital acabaria com a necessidade
de carimbar papéis, de acumulá-los, pondo fim, pois, aos expedientes burocráticos.
b) Com o verbo “desburocratizar”, derivado do substantivo “burocracia”, pode-se formar a
seguinte frase: É fundamental desburocratizar as relações cotidianas, para que o homem
disponha de mais tempo para si. Outro exemplo: Deve haver uma reforma no Judiciário para
desburocratizar o acesso à Justiça, tornando-a mais ágil.
c) Uma outra locução formada com o substantivo “dia” é perder o dia, como exemplifica a frase
a seguir: Perdi o dia tentando ser atendido nesta repartição pública. Outro exemplo, agora com a
locução valer o dia: “Você me ligou / naquela tarde vazia / e me valeu o dia”
(Tarde Vazia, Edgard Scandurra e Gaspa, grupo Ira!).
3. a) A palavra que nomeia o portador do transtorno é “distímico”.
b) A distimia diferencia-se do mau humor natural. Enquanto a distimia é uma doença, um mau
humor patológico, crônico, o mau humor natural é circunstancial e não se caracteriza como
doença.
4. Daninho é adjetivo criado por derivação sufixal a partir do substantivo dano.
Bocejo é substantivo criado por derivação regressiva a partir do verbo bocejar
Este conteúdo pertence ao Descomplica. É vedada a cópia ou a reprodução não autorizada previamente e por escrito.
Todos os direitos reservados.
Português
Estrutura e Formação de palavras
Teoria
Uma língua é constituída por um conjunto infinito de frases. Essas frases podem ser dividas em unidades
menores – as palavas – e em unidades ainda menores que apresentam significado – os morfemas. Os
morfemas são, portanto, as unidades mínimas dotadas de significados, os quais se unem e formam palavras.
Estrutura das palavras
O radical é um morfema que organiza palavras de uma mesma famíla e contém uma base comum de
significação entre esses vocábulos. Por exemplo: fiscalizar > fiscalização.
A vogal temática é um morfema que tem a função de ligar o radical às desinências que formam as palavras.
Essa junção constitui o tema (radical + vogal temática), ao qual são acrescentadas as desinências.
As vogais temáticas nominais são /a/, /e/, /o/, por exemplo: mesa; posto; pente. Já as vogais temáticas
verbais são /a/, /e/, /i/ e estão relacionadas às conjugações verbais, respectivamente, 1ª, 2ª e 3ª, por exemplo:
cantar; comer; sorrir.
As desinências são morfemas que servem para indicar o gênero e o número dos substantivos, dos adjetivos
e de certos pronomes; além do número e a pessoa dos verbos. Em português há dois tipos de desinências:
as nominais e as verbais.
As desinências nominais são dividas em gênero e número. Em relação ao número, o singular caracteriza-se
pela ausência de qualquer desinência – chamada de desinência-zero.
Gênero Número
Masculino Feminino Singular Plural
-o -a - -s
As desinências verbais são as flexões de pessoa e número expressas nos verbos por desinências especiais,
distribuídas em três grupos: desinências do presente do indicativo, do pretérito perfeito do indicativo e do
infinitivo pessoal ( = futuro do subjuntivo).
1
Português
Presente Pretérito Perfeito Infinitivo Pessoal
Futuro do Subjuntivo
Pessoa Singular Plural Singular Plural Singular Plural
1ª -o -mos -i -mos - -mos
2ª -s -is (-des) -ste -stes -es -des
3ª - -m -u -ram - -em
Os afixos são elementos que modificam o sentido do radical a que se agregam. Os afixos posicionados antes
do radical são chamados de prefixos e os que se posicionam após o radical são chamados de sufixos. Por
exemplo: apto > inapto (prefixo); aptidão (sufixo).
Processos de formação
Os dois principais processos de formação de palavras são: derivação e composição. A derivação consiste em
um processo de formação em que se usa apenas um radical para formar novas palavras. Ela pode ser dividida
em:
• Prefixal: acrescenta um prefixo à palavra primitiva – hábil > inábil
• Sufixal: acrescenta um sufixo à palavra primitiva – hábil > habilidade.
• Parassintética: acrescenta, simultaneamente, um prefixo e um sufixo ao radical – tarde > entardecer.
• Imprópria: ocorre quando a palavra muda de classe gramatical, sem modificar sua forma.
• Regressiva: ocorre quando há uma redução da palavra primitiva – debater > debate.
A composição consiste em um processo de formação de palavras em que se usa mais de um radical para
formar novas palavras. Ela pode ser dividida em:
• Justaposição: ocorre quando há uma junção de duas ou mais palavras ou radicais sem que haja
alterações sonoras e/ou ortográficas. Por exemplo: homem-aranha; pé de moleque.
• Aglutinação: ocorre quando há junção de duas ou mais palavras ou radicais e há alteração sonora e/ou
ortográficas. Por exemplo: lobo + homem = lobisomem.
2
Português
Exercícios
1. (FUVEST) Terça é dia de Veneza revelar as atrações de seu festival anual, cuja 77ª edição começa no
dia 2 de setembro, com a dramédia “Lacci”, do romano Daniele Luchetti, seguindo até 12/9, com 50
produções internacionais e uma expectativa (extraoficial) de colocar “West Side Story”, de Steven
Spielberg, na ribalta.
Rodrigo Fonseca, “À espera dos rugidos de Veneza”. O Estado de S. Paulo. Julho/2020. Adaptado
Um processo de formação de palavras em língua portuguesa é o cruzamento vocabular, em que são
misturadas pelo menos duas palavras na formação de uma terceira. A força expressiva dessa nova
palavra resulta da síntese de significados e do inesperado da combinação, como é o caso de “dramédia”
no texto. Ocorre esse mesmo tipo de formação em
a) “deleitura” e “namorido”.
b) “passatempo” e “microvestido”.
c) “hidrelétrica” e “sabiamente”.
d) “arenista” e “girassol”.
e) “planalto” e “multicor”.
2. (UNESP) Sei que estou contando errado, pelos altos. Desemendo. Mas não é por disfarçar, não pense.
De grave, na lei do comum, disse ao senhor quase tudo. Não crio receio. O senhor é homem de pensar
o dos outros como sendo o seu, não é criatura de pôr denúncia. E meus feitos já revogaram, prescrição
dita. Tenho meu respeito firmado. Agora, sou anta empoçada, ninguém me caça. Da vida pouco me
resta — só o deo-gratias; e o troco. Bobeia. Na feira de São João Branco, um homem andava falando:
— “A pátria não pode nada com a velhice...” Discordo. A pátria é dos velhos, mais. Era um homem
maluco, os dedos cheios de anéis velhos sem valor, as pedras retiradas — ele dizia: aqueles todos anéis
davam até choque elétrico... Não. Eu estou contando assim, porque é o meu jeito de contar. Guerras e
batalhas? Isso é como jogo de baralho, verte, reverte. Os revoltosos depois passaram por aqui, soldados
de Prestes, vinham de Goiás, reclamavam posse de todos os animais de sela. Sei que deram fogo, na
barra do Urucuia, em São Romão, aonde aportou um vapor do Governo, cheio de tropas da Bahia. Muitos
anos adiante, um roceiro vai lavrar um pau, encontra balas cravadas. O que vale, são outras coisas. A
lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns
com os outros acho que nem não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas
de rasa importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje
vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim é que
eu conto. [...] Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data.
O senhor mesmo sabe.
(Grande sertão: veredas, 2015.)
Para a formação do neologismo “vivimento”, o narrador recorreu ao mesmo processo de formação de
palavras observado em
a) “desemendo”.
b) “velhice”.
c) “denúncia”.
d) “reverte”.
e) “adiante”.
3
Português
3. (FATEC - adaptada) Os termos “continuidade”, “desconstrução” e “desmanche” são palavras
constituídas por diferentes processos de formação de palavras.
Assinale a alternativa cujas palavras são formadas, respectivamente, pelos mesmos processos dos
vocábulos apresentados no enunciado.
a) Idade, endeusar e venda.
b) Vivência, rememoraçaõ e renúncia.
c) Morosidade, entardecer e aguardente.
d) Idealismo, vivenciamento e desmantelar.
e) Porosidade, descontinuamente e remontar.
4. (UNIFESP – adaptada) O processo de formação de palavras verificado em “estrutural” também está
presente em
a) “futuro”.
b) “portanto”.
c) “momento”.
d) “plasticidade”.
e) “origem”.
5. (UNICAMP) Os textos abaixo foram retirados da coluna “Caras e bocas”, do Caderno Aliás, do jornal O
Estado de São Paulo:
“A intenção é salvar o Brasil”. Ana Paula Logulho, professora e entusiasta da segunda “Marcha da
Família com Deus pela Liberdade”, que pede uma intervenção militar no país e pretendeu reeditar, no
sábado, a passeata de 19 de março de 1964, na capital paulista, contra o governo do Presidente João
Goulart.
“Será um evento esculhambativo em homenagem ao outro de São Paulo.” José Caldas, organizador da
“Marcha com Deus e o Diabo na Terra do Sol”, convocada pelo Facebook para o mesmo dia, no Rio de
Janeiro.
a) Descreva o processo de formação de palavras envolvido em “esculhambativo”, apontando o tipo
de transformação ocorrida no vocábulo.
b) Discorra sobre a diferença entre as expressões “evento esculhambado” e “evento esculhambativo”,
considerando as relações de sentido existentes entre os dois textos acima.
4
Português
Gabarito
1. A
As palavras transcritas na opção [A] resultam do cruzamento vocabular, em que são misturadas duas
palavras: “deleitura” (deleite+leitura) e “namorido” (namorado+marido).
2. B
O termo “vivimento” resulta de derivação sufixal do adjetivo “vivo”, como “velhice”, do adjetivo “velho”.
3. B
A palavra “continuidade” é formada por derivação sufixal, assim como a palavra “vivência”. A palavra
“desconstrução” é formada por derivação sufixal, assim como a palavra “rememoração”. A palavra
“desmanche” é formada por derivação regressiva, assim como a palavra “renúncia”.
4. D
A palavra “estrutural” vem de “estrutura”, sendo formada a partir do processo de derivação sufixal
(acréscimo do sufixo “-al”). O momento ocorre com a palavra “plasticidade” (acréscimo do sufixo “-
dade”).
5.
a) Trata-se de uma derivação sufixal: “esculhambativo” é uma palavra formada pelo acréscimo de um
sufixo (-ivo) ao verbo “esculhambar”.
b) Apesar de derivarem do mesmo verbo (“esculhambar”), os adjetivos mencionados diferem quanto
ao seu significado. Evento “esculhambado” é sinônimo de “desorganizado, desmoralizado”; já
evento “esculhambativo” é aquele que “desmoraliza, satiriza” o evento anterior.
5
Português
Estrutura da palavra
Teoria
I. Conceito de morfema
Os morfemas são as “pecinhas” que compõem a palavra. Podemos defini-los, então, como as unidades
mínimas – cada uma com a sua responsabilidade – que compõem a palavra.
Ex.: Descapitalização
Capitalização
Capitalizar
Capital
II. Radical
Certamente, de todos os morfemas da língua portuguesa, o mais importante é o radical, pois é ele quem marca
a base semântica (como se fosse o “DNA da palavra”), consequentemente, a essência dela.
Ex.: “Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada”. (Gal Costa)
Pedra, pedreira, pedregulho.
Obs.: Quando as palavras usam o mesmo radical, dizemos que se desenvolvem termos cognatos. Devemos
ter cuidado, portanto, com os “falsos cognatos”, exemplo: bolo e bola.
III. Vogal temática
Prepara a palavra para receber outros elementos (normalmente o sufixo), ou seja: é uma das partes que
formam as palavras e tem a função de ligar o radical às desinências, constituindo o tema. Vejamos os
exemplos:
Serelepe – é uma palavra que não possui nem prefixo nem sufixo. Dessa forma, “serelp” é o radical, e “-e” é a
vogal temática.
Serelepemente – nesse caso, a vogal temática “-e” liga o radical ao sufixo “mente”.
Obs.: No caso dos verbos, a vogal temática tem a função de indicar a conjugação dos verbos: a 1ª conjugação
é marcada pela VT “-a”; a 2ª conjugação, pela VT “-e”; a 3ª conjugação, pela VT “-i”.
Ex.: Pegar
Comer
Dormir
Obs 2.: Não apresentam vogal temática as palavras terminadas em vogais tônicas (vatapá, jacaré, urubu).
1
Português
Importante!
As vogais temáticas não devem ser confundidas com as desinências indicadoras de gênero (feminino
[menina] e masculino [menino]), pois alguns substantivos não sofrem flexão de gênero, como podemos
observar na palavra “mesa” (não existe a palavra “meso”), por exemplo.
IV. Desinências nominais
São morfemas adicionados aos nomes, ou seja, sintagmas nominais (substantivos e adjetivos), e servem para
indicar as flexões nominais de gênero (DG) e número (DN).
1) Desinência de gênero (DG)
Veja o exemplo: “Amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves”. (Milton Nascimento)
• Amigo x Amiga – ambos os morfemas marcados são desinência de gênero, pois marcam a oposição
entre feminino e masculino.
Agora, vejamos a palavra “coisa”. A palavra “coiso” não existe, certo? Portanto, o “-a” é vogal temática e não
DG.
2) Desinência de número
Amigo x Amigos – o “-s” funciona como desinência de número, já que marca o plural.
Professor x Professores
Agora, vejamos a palavra “lápis”: nesse caso, não podemos dizer que “-s” é DN, pois “lápis” é uma palavra que
indica singular. O mesmo acontece com “ônibus”, por exemplo.
V. Desinências verbais
As desinências verbais indicam flexões do verbo: número e pessoa, modo e tempo. Assim, se dividem em:
1) Desinências modo-temporais (DMT)
Quando indicam os modos (indicativo, subjuntivo e imperativo) e os tempos (presente, passado e futuro).
2) Desinências número-pessoais (DNP)
Quando indicam o número (singular e plural) e as pessoas 1ª, 2ª e 3ª (eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles/elas).
Vejamos o exemplo a seguir:
Pretérito imperfeito do verbo “cantar”: Cantava/Cantavam.
Cant – radical
-a – vogal temática
-va – DMT
-m – DNP
2
Português
VI. Prefixo e sufixo
Prefixo e Sufixo são morfemas que se juntam às palavras com objetivo de formar novas palavras. Ambos são
o que chamamos de “afixos”. O nome prefixo ou sufixo é atribuído dependendo do lugar que ocupam na
palavra: se estiver antes do radical é prefixo; se estiver depois do radical, é sufixo.
Veja os exemplos:
Ingrato – “In” = prefixo de negação.
Ingratamente – “-mente” = sufixo de modo.
Solúvel – “-úvel” = sufixo de possibilidade.
Insolúvel – “In” = prefixo de negação.
VII. Consoante e vogal de ligação
As vogais e as consoantes de ligação são fonemas que aparecem no interior das palavras permitindo a
ligação entre o radical e as desinências. Elas de ligação são consideradas “elementos eufônicos”, pois estão
atreladas aos aspectos fonéticos e fonológicos (sons), contribuindo para a pronúncia de algumas palavras. É
importante enfatizar que as vogais e as consoantes de ligação não causam alteração de sentidos nas palavras.
Ex.: Café -> Cafeteira:
Café – radical
t – consoante de ligação
eira – sufixo
Habilidade:
Habil – radical
i – vogal de ligação
dade – sufixo
3
Português
Exercícios
1. (UFPE 2005) Em "continuará DESATIVADO o canal povo-rainha", a palavra em destaque é formada com
o acréscimo de um prefixo que expressa negação ou privação, como em:
a) Inflação e ingestão.
b) Inapto e inábil.
c) Amorfo e anfíbio.
d) Anáfora e êxodo.
e) Reprovar e distender.
2. (UNICAMP 2018) O brasileiro João Guimarães Rosa e o irlandês James Joyce são autores
reverenciados pela inventividade de sua linguagem literária, em que abundam neologismos. Muitas
vezes, por essa razão, Guimarães Rosa e Joyce são citados como exemplos de autores "praticamente
intraduzíveis". Mesmo sem ter lido os autores, é possível identificar alguns dos seus neologismos, pois
são baseados em processos de formação de palavras comuns ao português e ao inglês.
Entre os recursos comuns aos neologismos de Guimarães Rosa e de James Joyce, estão:
i. Onomatopeia (formação de uma palavra a partir de uma reprodução aproximada de um som
natural, utilizando-se os recursos da língua); e
ii. Derivação (formação de novas palavras pelo acréscimo de prefixos ou sufixos a palavras já
existentes na língua).
Os neologismos que aparecem nas opções abaixo foram extraídos de obras de Guimarães Rosa (GR)
e James Joyce (JJ). Assinale a opção em que os processos (i) e (ii) estão presentes:
a) Quinculinculim (GR, No Urubuquaquá, no Pinhém) e tattarrattat (JJ, Ulisses).
b) Transtrazer (GR, Grande sertão: veredas) e monoideal (JJ, Ulisses).
c) Rtststr (JJ, Ulisses) e quinculinculim (GR, No Urubuquaquá, no Pinhém).
d) Tattarrattat (JJ, Ulisses) e inesquecer-se (GR, Ave, Palavra).
3. (UNIRIO) O elemento destacado NÃO é vogal temática em:
a) Está
b) Coalhou
c) Beber
d) Poupei
e) Calço
4
Português
4. (Uerj)
O termo megahipercorporações é formado por um processo que enfatiza o tamanho e o poder das
corporações econômicas atuais.
Essa ênfase é produzida pelo emprego de:
a) sufixos de caráter aumentativo
b) prefixos com sentido semelhante
c) radicais de combinação obrigatória
d) desinências de significado específico
5
Português
5. (IBMEC-SP 2009) Em "...o sufixo "ismo" (que remete a doenças)...", mostra-se o papel desse elemento
na produção de efeitos de sentido.
Nas alternativas a seguir, o sufixo "ismo" tem sentido pejorativo, o que confirma o comentário do autor,
EXCETO em:
a) Com o bairrismo entre paulistas e cariocas, o futebol de outros estados sempre ficou de lado e,
algumas vezes, tem pouco destaque, principalmente no noticiário.
b) Cresce a oferta de produtos que contêm componentes que atuam sobre o metabolismo, reduzindo
risco de doenças como o câncer.
c) Fanatismo religioso ou convicções ideológicas rígidas são os vírus mais poderosos da cegueira
social.
d) O técnico apontou como um dos problemas de seu time, na etapa final, o excesso de preciosismo
de alguns jogadores.
e) Depois de mais de meio século de isolacionismo, o Japão mostra que a China não é o país a fazer
opções estratégicas que determinarão o futuro da Ásia.
6
Português
Gabarito
1. B
Somente na opção “B” os dois prefixos indicam negação: “inapto” = não ser apto; “inábil” = não ser hábil.
2. D
O neologismo "Tattarrattat" vem de uma tentativa de reproduzir, pelos fonemas da língua, sons do mundo
natural o que configura uma onomotopeia. Em Ulisses, a palavra designa o barulho de alguém batendo
em uma porta. Por sua vez, "inesquecer-se" é formada por prefixação, a partir da base "esquecer-se". O
prefixo em questão (in-) indica negação.
3. E
Em todas as alternativas, exceto a E, o morfema destacado é vogal temática, indicando as conjugações
verbais. Na última alternativa, “-o” é desinência modo-temporal.
4. B
O termo “megahipercorporações” traz a ênfase ao tamanho das corporações, indicando o quão
poderosas elas são, a partir dos prefixos “mega” e “hiper” que dão ideia de grandiosidade.
5. B
Na letra B, na palavra “metabolismo”, não há valor pejorativo. Todas as demais utilizam o sufixo “-ismo”
para indicar a ideias de maneira depreciativa.