Livro Biologia Molecular
Livro Biologia Molecular
Biologia Molecular
Geografia
12
História
Educação
Física
Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia
Ciências Biológicas
Biologia Molecular
Geografia
2ª edição
Fortaleza - Ceará 9
12
História
2015
Educação
Física
Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados desta edição à UAB/UECE. Nenhuma parte deste material poderá
ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autori-
zação, por escrito, dos autores.
Editora Filiada à
A autora
Parte 1
Conhecendo o
gene e o genoma
Capítulo 1
Considerações iniciais
e histórico
Objetivo
• Relacionar a estrutura dos ácidos nucléicos aos conceitos de gene e
genoma, além da integração destes à estrutura geral da célula.
1. Aspectos gerais
A sequência de DNA (Figura 1) é matéria prima para a evolução. Veja que
uma nova sequência inédita de DNA não aparece naturalmente sendo for-
mada na célula. Não surgem sequências randômicas novas, nenhum gene é
totalmente novo. O DNA só surge a partir de outro
molde (fita simples) de DNA predecessor. Então, sbarer
de onde vêm as inovações? Na manutenção e na (
cópia da informação genética, ocorrem acidentes T.G,G,A)
e erros aleatórios, alterando a sequência original
dos nucleotídeos, criando mutações. Na divisão
celular, essas mutações são passadas para a pró-
xima geração de células. Numa competição com
recursos limitados, é possível que estes mutantes
sejam eliminados. Em raras condições ambientais
especiais, esses mutantes podem permanecer,
mantendo estas mutações e mais raramente ain-
da, podem ter uma vantagem evolutiva. Essas ten-
tativas e erros aleatórios geram diversidade, que
possibilita a manutenção das espécies.
O genoma eucariótico, por sua vez, contém DNA não codificante, que,
dependendo do organismo, pode ocorrer na ordem de milhares de vezes mais
abundante que o genoma procarioto. Cerca de 98% do genoma humano (11%
em E. coli) é não codificante. Possui cerca de 3,5 bilhões de pares de bases,
cerca de mil vezes mais nucleotídeos que o de E. coli. É possível, aliás, muito
provável, que muito desse DNA não codificante possua funções regulatórias,
além de outras, desconhecidas, a serem descobertas nos próximos anos.
O produto do gene é o RNA e de forma mais direta: a proteína. A síntese
proteica não é dirigida pelo genoma diretamente, mas utiliza o RNA como in-
termediário molecular durante o processo chamado de transcrição. Na trans-
crição, uma das fitas do DNA serve como molde para que a enzima polime-
rizadora (RNA polimerase) produza a fita simples de RNA. Os vários RNAs
serão, então, usados na tradução ou síntese proteica. Esse princípio funda-
mental foi chamado de “dogma central” da Genética ou da Biologia Molecular.
O conceito de “dogma” ainda pode ser usado com reservas, pois muitas des-
cobertas posteriores têm desafiado essa fundamentação, como a transcrição
reversa. Esses conceitos serão revistos na Unidade 2.
2. Breve histórico
Apesar da estrutura clássica Watson-Crick do DNA ser conhecida desde
1953, os primeiros passos para tornar possível esse conhecimento foram ge-
rados cerca de um século e meio antes, com os trabalhos de Mendel. Os
genes, em 1865, seriam chamados de “fatores particulados”. Esses “fatores”
passariam, sem serem modificados, do progenitor para a progênie. Em 1903,
os cromossomos são visíveis nos microscópios da época e são reconhecidos
como unidades hereditárias, vistas na divisão celular. Nos organismos diploi-
des, que possuem dois conjuntos de cromossomos, uma cópia é herdada de
cada progenitor. Dessa forma, os genes também seriam transmitidos para a
próxima geração. Na década seguinte observou-se que os genes estão nos
cromossomos e que o cromossomo contém arranjos lineares de genes.
De que forma isto aconteceu? Uma objeção séria ao trabalho de Mendel
era a ausência de fatos concretos sobre o comportamento dos cromossomos
nas fases mitótica e meiótica. Quando as Leis de Mendel foram redescobertas,
em 1900, esses fatos já haviam sido confirmados, sendo utilizados, em 1903,
por Walter S. Sutton, biólogo americano. Em seu trabalho, considerado clás-
sico: “The Chromosomes in Heredity” - Os Cromossomos na Hereditariedade
(publicado no periódico Biological Bulletin, n.4). Sutton destacou a informação
de que o conjunto cromossômico é diploide e que, durante a meiose, cada
gameta recebe apenas um cromossomo de cada par de homólogos. Dessa
forma, os dados de Mendel podiam ser explicados concretamente; o gene
12 CECCATTO, V. M.
Texto complementar
A Lei Nº 11.794, de 8 de outubro de 2008, chamada "Lei Arouca" regulamenta o uso de
animais em pesquisa no Brasil. De acordo com a lei:
“Art. 1° A criação e a utilização de animais em atividades de ensino e pesquisa científica,
em todo o território nacional, obedecem aos critérios estabelecidos nesta Lei.
§ 1° A utilização de animais em atividades educacionais fica restrita a:
I – estabelecimentos de ensino superior;
II – estabelecimentos de educação profissional técnica de nível médio da área biomédica.
§ 2° São consideradas como atividades de pesquisa científica todas aquelas relacionadas
com ciência básica, ciência aplicada, desenvolvimento tecnológico, produção e controle
da qualidade de drogas, medicamentos, alimentos, imunobiológicos, instrumentos, ou
quaisquer outros testados em animais, conforme definido em regulamento próprio.
§ 3° Não são consideradas como atividades de pesquisa as práticas zootécnicas relaciona-
das à agropecuária.
Art. 2° O disposto nesta Lei aplica-se aos animais das espécies classificadas como filo Chor-
data, subfilo Vertebrata, observada a legislação ambiental.”
A Lei também cria o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal – CON-
CEA, ao qual compete:
“I – formular e zelar pelo cumprimento das normas relativas à utilização humanitária de
animais com finalidade de ensino e pesquisa científica;
II – credenciar instituições para criação ou utilização de animais em ensino e pesquisa
científica;
III – monitorar e avaliar a introdução de técnicas alternativas que substituam a utilização
de animais em ensino e pesquisa;
IV – estabelecer e rever, periodicamente, as normas para uso e cuidados com animais
para ensino e pesquisa, em consonância com as convenções internacionais das quais o
Brasil seja signatário;
V – estabelecer e rever, periodicamente, normas técnicas para instalação e funcionamen-
to de centros de criação, de biotérios e de laboratórios de experimentação animal, bem
como sobre as condições de trabalho em tais instalações;
VI – estabelecer e rever, periodicamente, normas para credenciamento de instituições
que criem ou utilizem animais para ensino e pesquisa;
VII – manter cadastro atualizado dos procedimentos de ensino e pesquisa realizados ou
em andamento no País, assim como dos pesquisadores, a partir de informações remeti-
das pelas Comissões de Ética no Uso de Animais - CEUAs, de que trata o art. 8o desta Lei;
VIII – apreciar e decidir recursos interpostos contra decisões das CEUAs;
IX – elaborar e submeter ao Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia, para aprovação,
o seu regimento interno;
X – assessorar o Poder Executivo a respeito das atividades de ensino e pesquisa tratadas
nesta Lei.”
Conheça a Comissão de Ética para o Uso de Animais - CEUA/UECE no site: http://www.
uece.br/ceua.
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11794.htm
Capítulo 2
Ácidos nucleicos
forfato
baze
nitrog
.
Auto complementação:
.
ligação entre pares de pentore
bases nitrogenadas
ederorinribore
complementares, sempre de 1. Ácidos nucleicos bribore
fita simples.
Esteroquímica: ramo da 1.1 O DNA é um polidesoxiribonucleotídeo
Química que estuda as
relações espaciais entre os
Ácidos nucleicos (DNA e RNA), as proteínas e os polissacarídeos são po-
átomos de uma molécula. límeros produzidos pela adição repetitiva de subunidades monoméricas
Tautômero: isômeros (monômeros) a uma das extremidades da cadeia em crescimento. A base
ocorrem quando duas molecular do DNA é o nucleotídeo, mais precisamente um desoxirribonu-
ou mais substâncias
apresentam fórmulas
cleotídeo. O nucleotídeo consiste em uma 2'-desoxirribose ladeada pelo
moleculares idênticas, lado direito (carbono 1') por uma base nitrogenada e do lado esquerdo (car-
mas que diferem em suas bono 5'), por um grupo fosfato. A primeira ligação é chamada N-glicosídica,
fórmulas estruturais. A e a segunda, 5'-fosfo-monoéster. A ligação fosfodiéster consiste no grupo
tautomeria é um caso
particular de isomeria
fosforil entre dois nucleotídeos adjacentes. O esqueleto de cada fita consiste
funcional, em que dois em resíduos alternados de açúcar e fosfato, projetando-se para fora como
isômeros ficam em equilíbrio o corrimão da dupla fita. Os degraus da escada são as bases nitrogenadas
químico dinâmico. ligadas por pontes de hidrogênio (Figura 3). A sequência de bases nitrogena-
Ribozima: são moléculas de
RNA, que funcionam através
das é irregular, caracterizando a informação genética, em evolução a alguns
de sua ligação à outra milhões de anos. O conjunto completo, haploide ou diploide, é chamado
molécula de RNA alvo e, via genoma. A revelação da estrutura da dupla hélice complementar de Watson
complementação, fazem e Crick mostrou que o DNA é uma estrutura simples em termos moleculares,
um corte específico na
ponte fosfodiéster. A reação
guardando, em duas fitas, a informação genética, de tal forma que qualquer
de auto-splicing ocorre por alteração pode ser corrigida a qualquer tempo.
uma transesterificação,
realizadas pelos introns do
tipo I. O conceito pode ser
aplicado aos tipos de RNA
que apresentam atividade na
tradução, como o RNAt.
Biologia Molecular 15
Embora o RNA seja fita simples, ele exibe com frequência muitas re-
giões de dupla hélice, formando auto complementação em várias regiões,
formando grampos, laços ou estruturas as mais complexas, como se vê na
formação do ribossomo. Uma característica do RNA que o capacita a formar
duplas hélices é um pareamento de bases adicional que não é do tipo Watson-
Crick (tipo comum). É o par de bases G:U, com duas pontes de hidrogênio.
Lembre-se de que a dupla fita de RNA é bastante diferente da hélice dupla
regular e extensa do DNA. Dessa forma, o RNA pode formar grande variedade
de estruturas terciárias, com alta complexidade. Essas diferentes conforma-
ções ocorrem, especialmente, pela liberdade de rotação no esqueleto de suas
regiões não-pareadas. Proteínas auxiliam a formação de estruturas terciárias
compostas por grandes moléculas de RNA, como as encontradas nos ribos-
somos. Estas proteínas revestem as cargas negativas dos esqueletos de fos-
fato, cujas cargas repulsivas desestabilizam a estrutura.
Funcionando como enzima clássica, contendo sítio ativo, sítio de ligação
para o substrato e sítio ativo para ligação com co fator, o RNA enzimático é
conhecido como ribozima. Uma das mais conhecidas é a RNAse P, envolvida
nas modificações pós-transcricionais do RNAt, a partir de longos RNAt precur- exónlintrónterón
sores. Esta é composta por RNA e proteínas. Somente a parte composta por drølicing
RNA participa da catálise. A enzima cobre cargas negativas do RNA, possibili-
tando que ele possa se ligar ao seu substrato (RNAt) negativamente carregado.
nézonlezón
Outros RNAs podem remover introns, de precursores de alguns mRNAs, tRNAs
e RNAs ribossômicos, no processamento do RNA ou RNAo splicing.
O fato do RNA ser capaz de processos catalíticos inspirou a possibilida-
de de que, num mundo primitivo, o RNA poderia ter atuado tanto como mate-
rial genético e como maquinaria enzimática. Ele teria surgido antes que o DNA
e possivelmente ter dado origem a este. O DNA, dessa forma, teria se liberado
para o armazenamento da informação genética. A ribozima, como molécula
catalítica, poderia ser considerada uma relíquia evolutiva de um mundo prime-
vo, onde o RNA teria um papel preponderante. As proteínas, mais diversas,
teriam se especializado posteriormente na sua função catalítica.
Símbolos usados em
genética molecular e
citogenética humana:
Capítulo 3
Núcleo eucariótico e
Grupos cromossômicos:
A-G, segundo os seguintes
critérios citológicos: Grupo
A (cromossomos 1 a 3)
grandes cromossomos
aproximadamente
cromossomos
centroméricos, Grupo
B (cromossomos 4 e 5)
grandes cromossomos com
centrômeros submedianos Para compreender o conceito de gene, torna-se necessário inicialmente com-
(ou sub-metacêntricos), preender a estrutura física do cromossomo e, em consequência, do núcleo
Grupo C (cromossomos 6
eucariótico ou da célula procariótica onde se insere. Portanto, o DNA está
a 12 e o cromossomo X)
cromossomos de tamanho sempre organizado como cromossomo. Experimentos mostraram que algu-
médio com centrômeros mas estruturas do cromossomo, na verdade, são determinadas sequências
submedianos (ou sub- de DNA em pontos localizados, são essenciais para a manutenção deste. São
metacêntricos), Grupo D
elas: telômeros, centrômeros e origens de replicação.
(cromossomos 13 a 15)
cromossomos de tamanho As condições do DNA no núcleo eucariótico são muito importantes para
médio acrocêntricos. facilitar a expressão do gene. Imagine o DNA como a informação contida nos
Cromossomo 13 possui um
livros de sua biblioteca. Livros não usados, geralmente, ficam empacotados
proeminente satélite no seu
braço curto. Cromossomo e localizados em condições mais difíceis de acessibilidade, enquanto que os
14 possui um pequeno livros muito usados ficam pelas mesas, abertos e prontos para serem lidos. À
satélite no seu braço curto. medida que a informação é requerida e maior é a demanda, desespiralizam-
Grupo E (cromossomos
-se as várias fibras de cromatina, possibilitando a sua leitura.
16 a 18) cromossomos
curtos com centrômeros O termo cromatina foi cunhado como termo genérico, usado pelos pri-
medianos ou submedianos meiros microscopistas (cromo = cor; tina = substância) para definir o conte-
(ou metacêntricos ou
údo do núcleo eucariótico. Alguns textos científicos referem-se às fibras de
submetacêntricos). Grupo
F (cromossomos 19 e 20) cromatina para designar partes do cromossomo que estão condensadas, em
cromossomos curtos com diferentes graus de empacotamento. De certa forma, pode-se dizer que a cro-
centrômeros metacêntricos, matina é a substância amorfa que preenche o núcleo interfásico (que não está
Grupo G (cromossomos
em divisão). Nessa fase, a célula passa por intenso metabolismo de produção
21, 22 e o Y) cromossomos
muito curtos acrocêntricos de proteínas e prepara-se para a divisão celular, replicando o seu DNA.
números de cromossomos De que forma o DNA é empacotado nos núcleos eucarióticos? As histo-
autossomos 1 – 22,
nas são subunidades proteicas usadas para empacotar o DNA. São proteínas
cromossomos sexuais: X
e Y, braço mais curto do altamente conservadas evolutivamente e carregadas positivamente, ligando-
cromossomo p, braço mais -se ao DNA por interações iônicas.
longo do cromossomo q.
O DNA faz duas voltas em torno de um octâmero de histonas. Esse
octâmero é formado pelas histonas H2A, H2B, H3 e H4, duas cópias cada. A
histona H1 ancora o DNA em torno desse arranjo. Esse conjunto é conhecido
Biologia Molecular 19
como nucleossomo (Figura 5). Cada nucleossomo é ligado a outro por uma
curta ligação de DNA nu, chamada de DNA ligador. Portanto, o conjunto de
nucleossomos aparece como contas em um colar (… – o – o – o – o – ...).
Essa configuração é identificada como cromômero. Dessa forma, o DNA eu-
cariótico encontra-se em um estado estável como polinucleotídeo complexa-
do com proteínas. O estado de contas no colar envolve então que o nucle-
ossomo é a unidade de compactação do DNA. A partir desse estado, então,
ocorre empacotamentos cada vez maiores.
Cromatina: complexo de
DNA e proteínas histonas.
Conteúdo genérico do
núcleo interfásico.
Nucleossomo: unidade
estrutural da compactação
da cromatina, consistindo
em duas voltas de fita de
DNA ao redor do octâmero
de histonas.
Regiões funcionais do
cromossomo: O centrômero
é uma região constrita do
cromossomo envolvida na
união das cromátides-irmãs.
Nele ocorre o cinetócoro,
uma reunião de proteínas
Figura 5 - Estrutura e arranjo dos nucleossomos com o DNA. específicas em que se ligam
Fonte: Griffiths et al. (1999). os microtúbulos do fuso
mitótico, na divisão celular.
Os telômeros correspondem
A cromatina, dessa forma, pode ser considerada um estado dinâmico às extremidades dos
do núcleo eucariótico. A heterocromatina é um estado de permanente con- cromossomos. A origem de
densação. Sabe-se que a heterocromatina é composta essencialmente de replicação é uma sequência
específica na qual se inicia
material não codificante, e sua inatividade transcricional é devida à sua alta
a replicação do DNA. Um
condensação. Da mesma forma, a eucromatina é a porção mais descon- característica importante
densada disponível para a leitura. Note que o conceito de cromatina e essas dessas sequências é
subdivisões são meio genéricas, facilmente aplicáveis, visíveis ao microscó- que são formadas por
sequências repetitivas em
pio eletrônico, ao núcleo interfásico. Entretanto, à medida que os cromosso-
tandem, não codificantes,
mos se dividem e se espiralizam em direção à divisão celular, as fibras de que, entretanto, são cruciais
cromatina se espiralizam formando estruturas cada vez mais condensadas e para o funcionamento do
indisponíveis, de forma geral, para a transcrição. O máximo de condensação cromossomo. Veja também:
em tandem.
dos cromossomos corresponde ao cromossomo metafásico.
Continua...
20 CECCATTO, V. M.
...Continuação
Interação DNA-histonas:
o nucleossomo forma
uma estrutura dinâmica,
permitindo um acesso
intermitente das proteínas
que se ligam ao DNA.
Portanto, o DNA envolvido
com o nucleossomo
não sofre qualquer
dificuldade em ser
replicado ou ser transcrito,
graças à remodelação
do nucleossomo.
Nucleossomos são formados
imediatamente à replicação,
deixando o DNA sempre
empacotado. Figura 6 - Cromatina interfásica em embrião de rato, mostrando, em A: as setas indi-
Sequências em tandem: cam os locais onde a cromatina está mais concentrada próximo ao envelope nuclear.
referem-se especialmente Em B: diferente tonalização. O círculo mais claro (parte superior) é o nucléolo.
a sequências repetitivas, Fonte: Ahmed et al. (2010).
as repetições ficam lado
a lado, como vagões num
trem, às vezes, com uma
pequena sequência variável
comunicante.
Acetiltransferases
(Figura 7) são enzimas
que catalisam a adição de
grupos acetil a grupos lisina
das regiões N-terminais
(“caudas”) das histonas.
Desacetilases são enzimas
que removem estas adições.
A acetilação está ligada
à alta taxa de transcrição
dessas regiões do DNA
e, da mesma forma, as
histonas desacetiladas, com
áreas reprimidas do DNA. A
metilação (feita por enzimas
metiltransferases) deixa a
cauda das histonas ligada
mais fortemente ao DNA. As
modificações nas caudas
das histonas originam sítios
de ligação para enzimas
que fazem modificações na Figura 7 - Estrutura de uma DNA metilase ligada a um oligonucleotídeo mostrando a
cromatina. base a ser metilada.
Fonte: Berg et al. (1999).
Biologia Molecular 21
FEATURES Location/Qualifiers
source 1..110
/organism="Homo sapiens"
/db_xref="taxon:9606"
/map="11p15.5"
/tissue_type="liver"
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Protein 1..110
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sig_peptide 1..24
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/product="c peptide; G00-119-349"
Region 26..110
/region_name="IlGF_insulin_like"
/note="IlGF_like family, insulin_like subgroup, specific
to vertebrates. Members include a number of peptides
including insulin and insulin-like growth factors I and
II, which play a variety of roles in controlling processes
such as metabolism, growth and...; cd04367"
/db_xref="CDD:58536"
Site order(32,35,37,108)
/site_type="other"
/note="putative receptor binding surface"
/db_xref="CDD:58536"
CDS 1..110
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/coded_by="join(J00265.1:2424..2610,J00265.1:3397..3542)"
/note="precursor"
/db_xref="GDB:G00-119-349"
ORIGIN
1 malwmrllpl lallalwgpd paaafvnqhl cgshlvealy lvcgergffy
tpktrreaed
61 lqvgqvelgg gpgagslqpl alegslqkrg iveqcctsic slyqlenycn
Fonte: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/protein/AAA59172.1
Projeto Genoma
Uma ideia considerada absurda no seu início foi a ideia de se conhecer, letra por letra,
a informação genética do ser humano, o chamado Projeto Genoma Humano (PGH). A
técnica de sequenciamento de DNA, surgida por volta de 1985, tornou possível pen-
sar estratégias que deveriam ser seguidas para um projeto desta magnitude. O maior
responsável pelo desenvolvimento da tecnologia de sequenciamento por terminação
do dideóxi, nos anos 70, foi F. Sanger, britânico, ganhador do prêmio Nobel por duas
vezes. O objetivo primordial da iniciativa pública do governo americano para o PGH
era produzir a sequência completa do genoma humano com taxas mínimas de erro.
Formou-se assim o Consórcio Internacional de Sequenciamento do Genoma Humano
(HGSC). A previsão inicial foi que, em 2005, após 15 anos, este seria completado. Nos
26 CECCATTO, V. M.
A palavra sintenia,
empregada em genética
molecular, descreve uma
situação em que diferentes
genes ou diferentes loci
gênicos estão ligados no
mesmo cromossomo, em
indivíduos ou espécies.
Nos genes sintênicos,
esta localização torna-
se preservada, assim,
rearranjos no genoma
tais como translocações
cromossômicas podem
separar dois loci, resultando
na perda de sintenia entre
eles. De forma inversa,
as translocações também
podem reunir dois loci
gênicos anteriormente
separados, resultando
em ganho de sintenia. A
sintenia compartilhada pode
refletir relações funcionais
entre os genes sintênicos,
como combinações de
alelos que são vantajosos
quando herdados juntos ou
que estão compartilhando
Figura 8 - Página inicial da ferramenta Entrez – Genome Project – apresentando mecanismos de regulação.
centenas de links para genomas, finalizados e em andamento. Etimologicamente, a
Fonte: http://www.ncbi.nlm.nih.gov palavra “sintenia” é um
neologismo usado para
descrever uma precisa
Após dez anos, mapa dos genes dá poucas pistas para tratamen- preservação da ordem dos
tos médicos loci gênicos a partir de um
ancestral comum. Os genes
Dez anos depois de o ex-presidente dos EUA Bill Clinton (1993-2001) ter anunciado que Hox nos animais são genes
o primeiro esboço do genoma humano estava concluído, a medicina ainda não viu gran- que são determinantes do
de parte dos benefícios prometidos. plano corporal, interagindo
Para os biólogos, o genoma produziu uma surpresa significativa após outra. Mas o de forma crítica entre
objetivo primário do genoma humano, de US$ 3 bilhões, era descobrir as raízes genéti- si, são essencialmente
cas de doenças comuns como câncer e Alzheimer, e criar tratamentos, no entanto, per- conservados
manece em grande parte uma ilusão. De fato, uma década após o esforço e os geneti- sintenicamente. A
cistas estão quase de volta ao início no conhecimento das origens das doenças comuns. chamada macrosintenia
Ao anunciar, em 26 de junho de 2000, que o primeiro esboço do genoma humano seria a preservação de
tinha sido alcançado, Clinton disse que ele "revolucionaria o diagnóstico, a prevenção e grandes porções de um
o tratamento da maioria ou de todas as doenças humanas". cromossomo, microsintenia,
Em entrevista coletiva, Francis Sellers Collins, então diretor da agência do genoma preservação da sintenia,
dos Institutos de Saúde dos EUA, disse que o diagnóstico genético de doenças seria preservação em poucos
alcançado em dez anos e que os tratamentos começariam a surgir talvez cinco anos genes por um tempo.
28 CECCATTO, V. M.
depois. "Em longo prazo, talvez em mais 15 ou 20 anos, vocês verão uma completa
transformação da medicina terapêutica", ele acrescentou.
A indústria farmacêutica gastou milhões de dólares para desvendar segredos genô-
micos e está começando a colocar no mercado várias drogas orientadas pela genética.
Enquanto os laboratórios continuam despejando muito dinheiro na pesquisa do geno-
ma, ficou claro que a genética da maior parte das doenças é mais complexa do que se
previa, e que são necessários muitos anos antes que novos tratamentos sejam capazes
de transformar a medicina.
A última década trouxe uma enxurrada de descobertas de mutações causadoras de
doenças no genoma humano. Mas na maioria dos casos, as descobertas só explicaram
uma pequena parte do risco de contrair a doença. E alguns cientistas começam a temer
que muitas variantes genéticas ligadas a doenças possam ser ilusões estatísticas.
O Projeto do Genoma Humano foi iniciado em 1989 com o objetivo de sequenciar,
ou identificar, as 3 bilhões de unidades químicas no conjunto de instruções genéticas
humano, encontrar as origens genéticas de doenças e, então, desenvolver tratamentos.
Com a sequência na mão, o passo seguinte foi identificar variantes genéticas que au-
mentam o risco de doenças comuns, como câncer e diabetes.
Em 2002, os Institutos de Saúde iniciaram um projeto de U$138 milhões chamado
HapMap, para catalogar as variantes comuns dos genomas europeu, asiático do leste
e africano.
Com o catálogo na mão, a segunda etapa seria ver se alguma das variantes era mais
comum nos pacientes com determinada doença do que em pessoas saudáveis. Esses
estudos exigiram grandes números de pacientes e custaram vários milhões de dólares
cada um. Quase 400 deles tinham sido concluídos em 2009. O resultado é que centenas
de variantes genéticas comuns hoje foram estatisticamente ligadas a diversas doenças.
Fonte: adaptado de Wade (2010).
Síntese da Parte
Os ácidos nucléicos consistem de polinucleotídeos. O núcleo eucariótico
contém DNA em várias condições de condensação, condição que afeta a
transcrição dos genes. A cromatina é o conteúdo eucariótico nuclear. Genes e
genomas são definidos de forma funcional, embora haja outras definições. Os
genes codificam RNA ou polipeptídeos e os genomas abrangem o conjunto
dos cromossomos. Discute-se o projeto genoma humano e dos experimentos
que levaram à descoberta da dupla fita do DNA.
Biologia Molecular 29
Atividades de avaliação
1. Explique, em termos gerais, como funciona o fluxo da informação gené-
tica (replicação, transcrição e tradução). Inclua nesta questão: principais
elementos envolvidos (enzimas e outros elementos) etapas básicas de
cada processo, em sequência e o momento em que os processos ocor-
rem na célula.
2. Procure o conceito de transcrição reversa e quais organismos a produzem.
3. Desenhe um nucleotídeo com suas moléculas constituintes, indicando as
ligações entre elas. No esquema, apresentar a diferença entre desoxiri-
bonucleotídeo e ribonucleotídeo.
4. Procure e esquematize os diferentes tautômeros das bases nitrogenadas.
5. Procure as diferentes classes de íntrons e definição mais completa de
ribozima.
6. Desenhe e legende um núcleo eucariótico com todas suas estruturas bá-
sicas: membrana nuclear, nucléolo, poros nucleares, elementos cromáti-
cos. Analisar a função de cada um deles.
7. Recorde os ciclos celulares (mitose e meiose) e suas fases.
8. Procure nos livros e materiais didáticos: informações sobre cromossomos
politênicos.
9. Procure na rede mundial de computadores: técnica de cariotipagem.
10. Procure na rede mundial de computadores: técnicas de visualização do
núcleo e de seus componentes, como por exemplo, a imunofluorescência.
11. Revise a estrutura de proteínas: o que é estrutura primária, secundária, Síntese do Capítu
terciária e quaternária.
12. Desenvolva os conceitos relacionados: domínios estruturais proteicos e
motivos estruturais proteicos.
13. Faça uma busca bibliográfica no GenBank: Visite o site do NCBI (http://
www.ncbi.nlm.nih.gov). Seguir o roteiro de busca abaixo para o PubMed;
a) No campo “Search” procure “PubMed” ou “PubMed Central” (nessa opção
somente são apresentados opções de literatura grátis para o download;
b) Digite a palavra-chave de seu interesse (veja sugestões a seguir);
30 CECCATTO, V. M.
Livros
• SCHWARTZMAN, S. Um espaço para a ciência: a formação da co-
munidade científica no Brasil. Brasília: MCT/CNPq/CEE, 2001. 307 p.
• WILMUT, I.; CAMPBELL, K.; TUDGE, C. Dolly: a segunda criação. Rio
de Janeiro: Objetiva, 2000. 394 p.
• BRODY, A. R.; BRODY, D. E. As sete maiores descobertas científicas
da historia. São Paulo: Companhia das Letras. 1999. 440 p.
Biologia Molecular 31
Filmes
• Gattaca: a experiência genética (Dir. Andrew Niccol, 1997) - fabuloso
filme sobre questões do genoma e bioética.
• Uma verdade inconveniente (Dir. Davis Guggenhein, 2006) - aqueci-
mento global.
• Sonhos tropicais (Dir. André Sturm, 2002) – a “revolta da vacina” no
Rio de Janeiro.
• Avatar (Dir. James Cameron, 2009) - fabuloso filme que exibe clona-
gem e exobiologia.
• Viagem fantástica (Dir. Richard Fleischer, 1966, refilmagem de Pieter
Kuijpers, 2005 – Viagem fantástica II – rumo ao cérebro) – Fisiologia
humana e ciência.
Sites
(Livros grátis para download)
• http://bafanaciencia.blog.br/
• http://gigapedia.com/
• http://search.4shared.com/q/1/biologia
• http://bio-livros.blogspot.com
(Instituições e associações)
• http://www2.abed.org.br/ (Associação Brasileira de Educação a
Distância - ABED)
• http://www.abep.org.br/usuario/GerenciaNavegacao.php (Asso-
ciação Brasileira de Estudos Populacionais - ABEP)
• http://www.ancib.org.br/ (Associação Nacional de Pesquisa e PG
em Ciência da Informação - ANCIB)
• http://www.sbhc.org.br/ (Sociedade Brasileira de História da Ciên-
cia - SBHC)
• http://www.sbeb.org.br/ (Sociedade Brasileira de Engenharia Bio-
médica - SBEB)
32 CECCATTO, V. M.
Referências
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J.;BAZETT-JONES, D. P. Global chromatin architecture reflects pluripotency
and lineage commitment in the early mouse embryo. Plos One, Munich, v. 5,
n. 5, p. 1-13, 2010.
ALBERTS, B.; JOHNSON, A.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS, K.; WALTER,
P. Molecular biology of the cell. 5. ed. New York: Garland Science, 2008.
1.261 p.
BERG, J. M.; TYMOCZKO, J. L.; STRYER, L. Bioquímica. 6. ed. Rio de Ja-
neiro: Guanabara Koogan, 2008. 1.114 p.
ENGSTRÖM P. G; SUI, S. J. H.; DRIVENES, O; BECKER T. S; LENHARD,
B. Genomic regulatory blocks underlie extensive microsynteny conservation
in insects. Genome Research, New York, v. 17, n. 12, p. 1898–1908, 2007.
GRIFFITHS, A. J. F.; MILLER, J. H.; SUZUKI, D. T.; LEWONTIN, R. C.; GEL-
BART, W. M. An introduction to genetic analysis. New York: W. H. Freeman
and Company, 1996. 915 p.
JEFFREYS, A. J.; WILSON, V.; THEIN, S. L. Hypervariable “minisatellite” re-
gions in human DNA. Nature, New York, v. 314, p. 67-73, 1985.
VENTER, J. C.; ADAMS, M. D.; MYERS, E. W. et al. The sequence of the
human genome. Science, Washington, v. 291, p. 1304-1351, 2001.
WADE, N. Após dez anos, mapa dos genes dá poucas pistas para tratamen-
tos médicos. Folha de São Paulo, São Paulo, 21 jun. 2010. Caderno The
New York Times, p. 1-2.
WATERMAN, T. H. Revolution for biology. American Scientist, North Caroli-
na, v. 50, p. 458, 1962.
Parte 2
Mecanismos genéticos básicos
Capítulo 4
Considerações iniciais
e histórico
Objetivo
• Apresentar os mecanismos genéticos básicos da célula referentes ao
fluxo da informação genética e as suas implicações.
1. Aspectos gerais
A informação genética em todas as células segue, a princípio, uma via de
mão única: DNA especifica a síntese de RNA, e RNA especifica a síntese
de polipeptídeos, que, posteriormente, formam proteínas. Por causa de sua
universalidade, o fluxo de informação genética DNA → RNA → polipeptídeo
(proteína) é discutido como o dogma central da Biologia Molecular, conforme
foi visto no Capítulo 1. Neste capítulo iremos detalhar um pouco mais essas
importantes etapas. Atenção, pois esses processos são a base para nosso
futuro entendimento das técnicas de DNA recombinante.
A primeira etapa, a síntese de RNA usando uma DNA polimerase
dependente de RNA, é descrita como a transcrição e ocorre no núcleo
das células eucarióticas e, em certa medida, nas mitocôndrias e cloroplas-
tos, únicas organelas que apresentam uma capacidade genética, além
do núcleo eucariótico. Podemos chamar então o RNA (qualquer tipo) de
transcrito, pois ele é sempre produto de transcrição. A segunda etapa, a
síntese de polipeptídeos, é conhecida como tradução e ocorre pela ação
dos ribossomos, grandes complexos de proteínas e RNA os quais são
encontrados no citoplasma e também em mitocôndrias e cloroplastos. As
moléculas de RNA que contêm a informação específica para um polipeptí-
deo é o RNA mensageiro (RNAm).
A expressão da informação genética segue um princípio de colinearida-
de: a sequência linear de nucleotídeos no DNA é decodificada para dar uma
sequência linear de nucleotídeos de RNA, que pode ser decodificado, por sua
vez, em grupos de três nucleotídeos (códons) para dar uma sequência line-
ar de aminoácidos no produto polipeptídeo. A tradução envolve um conceito
36 CECCATTO, V. M.
2. Breve histórico
As décadas de 1940 e 1950 foram marcadas por estudos essenciais na
Biologia Molecular. George Beadle e Edward Tatum examinaram, em 1941,
as bases bioquímicas do metabolismo em Neurospora, a relacionando o ge-
nótipo ao fenótipo, ou genes a proteínas. O paciente método desenvolvido
por eles, por meio do qual mutantes deficientes nutricionalmente, chamados
auxotróficos, não crescem em meio mínimo, mas crescem em meio com o nu-
triente do qual o mesmo é negativo. Assim, se o fungo tinha uma mutação que
o tornava incapaz de produzir arginina, este só crescia em meio mínimo con-
tendo arginina. Classificando os mutantes em grupos, foi possível caracteri-
zar quais eram os requerimentos necessários para cada grupo, determinando
qual enzima seria necessária para cada etapa, até chegar ao produto final que
é a arginina. Esse método foi usado por Adrian Srb e Normam H. Horowitz, re-
velando o ciclo de produção da arginina. Esses experimentos foram a base da
teoria um gene, uma enzima. Quando se verificou a formação multimérica de
muitas proteínas, o modelo foi modificado para um gene, um polipeptídeo.
Biologia Molecular 37
1. Replicação
Unidades discretas:
unidades descontínuas, Durante o processo de síntese
pontuais e ordenadas, de DNA (replicação do DNA),
existentes em cada gene. as duas fitas de DNA de cada
dATP, dCTP, dGTP, dTTP:
cromossomo são desenroladas
desoxi adenosina trifosfato,
desoxi citosina trifosfato, por uma enzima helicase, e
desoxi guanosina trifosfato, cada fita de DNA dirige a sínte-
desoxi timidina trifosfato. se de uma fita de DNA comple-
De forma genérica, são
mentar para gerar dois duplex
chamados de dNTPs ou
desoxiríbonucleotídeos DNA, cada um dos quais é
trifosfato. São adicionados idêntico à molécula. A replica-
à fita de DNA nascente, ção é descrita como semicon-
perdendo dois fosfatos
servativa (Figura 1), pois cada
inorgânicos. dNMP:
desoxinucleotídeo nova fita duplex contém um fila-
monofosfato. mento da molécula-mãe e uma
Primer: Trecho curto fita de DNA recém sintetizada.
e temporário de RNA
A DNA polimerase (Figura 2) é
hibridizado a uma fita
simples de DNA molde. Sua a principal enzima, a qual cata-
função é fornecer um grupo lisa a síntese de DNA, usando
3' – OH para a ligação de as fitas parentais como molde
um novo nucleotídeo.
utilizando os quatro desoxirrí-
Fita atrasada ou
descontínua (filamento bonucleotídeos (dATP, dCTP,
Figura 1 - Modelo semiconservativo da replicação
lagging): filamento de dGTP, dTTP) como precurso- do DNA. As novas fitas são produzidas sempre na
DNA replicado de forma res de nucleotídeos. direção 5'→3', adicionando novas complexidades
descontínua, a qual é
sintetizada na direção
à um mecanismo cheio de detalhes. As pontes
contrária à da abertura da de H são abertas pelas enzimas helicases. Fonte:
forquilha de replicação. Griffiths et al. (1999).
Biologia Molecular 39
Após a abertura das fitas, a enzima DNA primase (ou iniciase) adiciona
A transcrição reversa
primers de RNA a esses inícios de replicação para que possa formar a extre-
foi encontrada por meio
midade 3´- OH. Esses primers de RNA serão retirados após a polimerização, do estudo de tumores
pela própria DNA polimerase (uma outra isoforma). À medida que retira, adi- de galinhas, gatos e
ciona desoxiribonucleotídeos corretos, tapando esses pequenos buracos. A camundongos, onde vírus
com RNA foram implicados
enzima DNA ligase faz o fechamento final das pontes fosfodiéster, que não
na produção do tumor. Em
são fechadas pela DNA polimerase. 1970, David Baltimore,
A replicação do DNA é iniciada em pontos específicos, que são chama- Howard Temim e Satoshi
Mizutani descobriram uma
dos de “origens de replicação”. A partir dessa origem, o início ocorre em uma
DNA polimerase dependente
forquilha ou bolha de replicação, em que o DNA parental é aberto e bifurca-se. de RNA, chamada de
Como as duas cadeias do duplex DNA parental são antiparalelas, cada uma transcriptase reversa, a qual
funciona individualmente como modelo para a síntese de uma fita comple- permite a cópia do RNA em
DNA. A transcrição reversa
mentar antiparalela. As duas fitas correm e crescem em direções opostas,
é responsável pela inclusão,
cada uma em direção à abertura da forquilha de replicação. Entretanto, a di- nos genomas de muitos
reção do crescimento das duas novas cadeias, feita pela enzima DNA polime- tipos de sequências de DNA
rase ocorre sempre na direção 5'→ 3'. Uma das fitas demora mais para ser que foram retrotranscritas,
convertendo o RNA
feita, chamada de fita atrasada (ou descontínua), e é exatamente aquela que
unifilamentar em DNA
não está com a direção 5'→ 3' da sua fita parental em direção à abertura da bifilamentar.
forquilha de replicação. A fita oposta é chamada de líder (ou contínua).
40 CECCATTO, V. M.
RNA), e a RNA polimerase III sintetiza RNAr 5S, tRNAs e outros RNAs de
baixo peso molecular.
A transcrição, portanto, é o processo de produção de qualquer RNA,
que também pode ser chamado de transcrito. Como, na replicação, uma das
fitas do DNA é usada como molde, porém, diferente da replicação, nem todo
o DNA é transcrito, mas somente genes (no sentido funcional, que já comen-
tamos) os quais codificam polipeptídeos ou RNA. Na replicação, todo o DNA
é replicado, em tese, sem faltar uma base. Na transcrição não há primers,
primase, helicase e ligase. A enzima RNA polimerase é responsável por todo o
trabalho, mas somente quando todas as subunidades da enzima se agrupam
sobre o DNA, numa condição chamada formação da enzima RNA polimera-
se holoenzima.
A enzima possui cinco subunidades polipeptídicas: 2α, ββ' e σ (duas al-
fas, beta e beta linha e sigma). A holoenzima forma-se sobre o DNA, mais pre-
cisamente sobre a sequência promotora, ou promotor. O promotor é a sequ-
ência onde se liga inicialmente a subunidade sigma. Quando isso acontece,
outras subunidades se juntam e formam então a holoenzima, num chamado, A replicação é sempre
semiconservativa, iniciando-
assim, complexo fechado. Assim que se inicia a transcrição, justamente a se nas origens de replicação,
partir do códon de iniciação, temos um complexo aberto. Abre-se, então, uma de onde saem forquilhas
bolha de transcrição de aproximadamente 19 nucleotídeos. A bolha abre-se de replicação para os dois
na frente e fecha-se atrás, sendo conduzida pela holoenzima em direção ao lados. Utiliza primers de
RNA. A fita é produzida
final do gene. sempre na direção 5' → 3'.
O RNA possui uma ponta 5' e uma ponta 3'. Os nucleotídeos também são Os nucleotídeos utilizados
adicionados nesta direção 5´→3' pela enzima RNA polimerase. Geralmente, a para a construção do
novo DNA são dNTPs,
ponta 5' é desenhada do lado esquerdo e a ponta 3´do lado direito, como quem produzindo dois fragmentos
lê. À medida que a molécula de RNA, progressivamente, vai sendo produzida, concomitantemente:
a ponta 5' é deslocada do molde e a bolha de transcrição fecha-se atrás da po- lagging e leading. Tipos
limerase. Várias polimerases movem-se ao longo do gene, produzindo várias diferentes de enzimas
participam da replicação,
moléculas de RNA ao mesmo tempo em diferentes estágios. em ordem e sequência bem
Uma questão importante é que a RNA polimerase copia uma das fitas, a estabelecidas, finalizando
fita molde. Portanto a fita do RNA recém sintetizado é igual à fita não molde, com a retirada dos primers,
reparação pela DNA
lembrando que o RNA possui uracilas em que de timinas. Sequências de ba- polimerase e DNA ligase.
ses, quando mostradas na literatura, como as que você vê nesta publicação Todo o DNA é replicado,
e em outras, são sempre iguais ao RNA ou ao filamento não-molde, também incluindo as sequências
chamado de codificante. teloméricas. A replicação
ocorre na fase S da
Como foi dito anteriormente, a transcrição possui três fases: iniciação, interfase. Após a replicação,
alongamento e término. Existem diferenças importantes nesses estágios, tan- histonas imediatamente já se
to em procariotos quanto em eucariotos. A iniciação tem um local iniciador ligam e formam a cromatina.
que é a sequência promotora ou promotor, situada um pouco antes do có-
don de iniciação do gene (Figura 4). Essa parte upstream ao gene também
42 CECCATTO, V. M.
A numeração que é contém sequências reguladoras (veja a Unidade 4), sendo que a região pro-
colocada no gene: ...-3-2- motora é uma das mais importantes e estudadas. Por convenção, o primeiro
1+1 +2 +3... diz respeito
somente à posição do
nucleotídeo do códon de iniciação (normalmente a sequência ATG) recebe a
nucleotídeo no gene. O numeração +1. Os próximos nucleotídeos à direita continuam a numeração:
códon de iniciação é a base +2, +3, +4, assim até o fim do gene. Upstream (anterior ao gene) os nucleo-
dessa numeração (ATG tídeos recebem numeração negativa (-1, -2, etc). Nas bactérias, como a E.
= +1+2+3). Os números
negativos à esquerda
coli, encontramos as caixas (ou boxes) que são sequências consenso (Veja a
referem-se às sequências Unidade 4). O fator ou subunidade sigma é importante na ligação com o pro-
upstream ao gene. Cuidado: motor. Nas bactérias também temos vários tipos de fatores sigma, como σ70,
essa numeração não tem (o expoente 70 foi atribuido porque ela possui 70 kDa). Os diferentes fatores
qualquer relação com
ionização ou propriedades
sigma reconhecem sequências promotoras diferentes e, assim, podem trans-
químicas do gene. crever diferentes conjuntos de genes. Nos eucariotos, a transcrição é regulada
bem no ponto de início pela presença dos fatores de transcrição. Os fatores
RNA polimerase
gerais de transcrição mais a enzima RNA polimerase II formam o complexo
holoenzima:
a reunião de todos os de pré-iniciação (veja também a Unidade 4).
polipeptídeos que compõem
a enzima RNA polimerase.
RNA de baixo
peso molecular:
pequenas moléculas de
RNA nuclear usadas na
recomposição (splicing) do
RNAm.
Fita molde (para a
transcrição): uma das fitas
que servem de molde
para a RNA polimerase.
Qualquer das fitas pode
ser considerada molde,
entretanto, nem todas são. Figura 4 - Sítios promotores da transcrição. (A) procarióticos e (B) eucarióticos. Fonte:
Nos procariotos, é comum Berg et al. (2008).
ver genes, de ambos os
lados da fita.
Fatores gerais de No alongamento, em bactérias como também em eucariotes, temos a
transcrição: pequenas bolha de transcrição (Figura 5), expondo o filamento molde. Nos eucariotos,
partículas protéicas que entretanto, os íntrons são retirados pelo processo de splicing, ou recomposi-
são usadas na transcrição
eucariótica. Sua função é
ção. A recomposição reúne os éxons formando um RNAm maduro ou trans-
aumentar a afinidade da crito secundário. Portanto, só as sequências codificantes são levadas para o
enzima RNA polimerase ao citoplasma para serem traduzidas.
promotor.
Fatores específicos são
identificados com um
determinado gene e ajudam
na sua regulação, induzindo
ou reprimindo um gene
específico.
Biologia Molecular 43
Íntrons tipo I e II: íntrons 3', seguindo o movimento da RNA polimerase. Ao encontrar o grampo de RNA
autorremovíveis, ou seja, ela para e, com atividade de helicase, abre o híbrido de RNAm/DNA, liberando
independem de proteínas
para a sua recomposição
a nova fita de RNA.
(splicing). São encontrados No segundo caso, o término é direto, sem a ajuda de uma proteína.
em alguns genes de A sequência de término contém cerca de 40 nucleotídeos, terminando num
rRNA, em alguns genes
codificantes de proteínas
trecho rico em GC que é seguido por uma fileira de seis ou mais A. O RNAm
e em mitocôndrias e transcrito, portanto, é rico em GC. Essas bases formam complementação,
cloroplastos. produzindo um grampo no RNAm transcrito primário. O grampo faz com que
Sequências 5' e 3' a RNA polimerase pare a transcrição.
UTR: de “Untranslated
Region”, sequências não
codificantes, localizadas nas 3. Tradução
extremidades dos genes, as
quais são transcritas, mas A tradução é feita nos ribossomos. Estes são considerados verdadeiras má-
não traduzidas. quinas que coordenam todo o processo. Alguns fatos têm que ser apresenta-
Sequência de Shine- dos antes de compreendermos os passos essenciais da tradução. A tradução
Dalgarno: sequência
upstream ao gene, a
é um dos processos mais complexos da maquinaria celular eucariótica (e pro-
qual é encontrada no cariótica também). Os três passos essenciais já discutidos anteriormente: ini-
RNAm. Reconhecida cio, meio e fim, são acrescidos de mais dois: pré-início (ativação dos aminoá-
pelo ribossomo, faz cidos) e pós-final (modificações pós-traducionais, nas proteínas eucarióticas).
hibridização com o RNAr,
para que o primeiro
A ativação dos aminoácidos (Figura 10) consiste na ligação específica de um
códon seja colocado no aminoácido e de seu tRNA específico por uma enzima aminoacil tRNA sinte-
sítio P. Encontrada em tase. Existem 20 dessas enzimas, cada uma específica para cada “casamen-
bactérias, possui análogos to” aminoácido e RNAt. O RNAt é carregado com um aminoácido ligado à sua
em eucariotos como a
sequência Kozak.
ponta 3'. O reconhecimento dos tRNAs pela sintetase depende de sequências
Proteína rô: proteína que diferentes de nucleotídeos dos tRNAs. O aminoácido alanina (Ala) liga-se ao
auxilia na finalização da seu tRNA específico (tRNAAla), originando a seu aminoacil-tRNA (Ala-tRNAAla).
transcrição, liberando a RNA
polimerase de sua ligação
com o DNA, através de sua
atividade de helicase.
Os eventos pós
traducionais ocorrem
juntamente com o
dobramento da proteína
em sua correta forma
tridimensional. Isso ocorre
com a ajuda de proteínas
chaperonas, uma classe
encontrada em quase
todos os organismos, as
quais formam complexos
com outras proteínas,
fazendo que elas dobrem
ou voltem a se dobrar
(como no caso de eventos
de desnaturação proteíca).
Figura 12 - Comparação entre a organização gênica, transcrição e tradução entre Outras modificações
procariotos e eucariotos. Em A: o óperon triptofano mostra-se como um segmento consistem em: modificação
das cadeias laterais como a
contínuo do cromossomo de E. coli, contendo cinco genes e que codificam as en-
fosforilação, adição de grupos
zimas necessárias, passo a passo para a síntese do triptofano. Esse tipo de RNAm
fosfato por enzimas cinases,
é chamado policistrônico em comparação com o RNAm eucariótico monocistrônico. aos grupos hidroxila dos
Em B verifica-se que os mesmos genes encontram-se distribuídos em cromossomos aminoácidos serina, treonina
diferentes, e cada um forma um RNAm isolado. Observe que cada gene eucariótico e tirosina, enquanto que as
possui um promotor específico. enzimas fosfatases retiram
Fonte: Lodish et al. (1999). esses grupos. A ubiquitinação
consiste na adição de várias
cadeias de uma proteína
3.1 Código genético ubiquitina, que marca a
proteína para degradação
Observando com atenção o Quadro 1, que apresenta a conversão dos co-
por uma protease chamada
dons de DNA em aminoácidos, nota-se que alguns aminoácidos correspon- proteossomo. Sequências
dem a mais de códon. Existem 6 trincas que codificam para arginina (CGT, sinais correspondem a um
CGC, CGA, CGG, AGA, e AGG), ou seja, se no ribossomo estiver presente pequeno polipeptídio, o
qual direciona a proteína
a trinca CGT ou a trinca AGG, ocorrerá a adição de uma arginina na cadeia
para uma organela como o
polipeptídica. Outros aminoácidos possuem um número menor de códons, retículo endoplasmático, por
por exemplo: a valina corresponde a quatro códons; a isoleucina é codifica- exemplo. Se a proteína for de
da por três códons, e a fenilalanina corresponde a duas trincas. A existência membrana, esta é direcionada
para a membrana, passando
de códons que são sinônimos (determinam a introdução do mesmo aminoá-
por poros do retículo
cido na cadeia polipeptídica) faz com que o código genético seja redundante endoplasmático. Em
(ou degenerado). O único aminoácido que possui apenas um códon é a me- sua maioria, as proteínas
tionina, e o códon desse aminoácido (ATG) é sinal para o início do processo eucarióticas são inativas,
necessitando de modificações
de tradução.
promovendo ativação ou
degradação.
50 CECCATTO, V. M.
Texto complementar
Estará a sociedade preparada?
Nota: O texto abaixo foi publicado em 1967.
Novas informações estão sendo obtidas no campo da genética bioquímica numa taxa
extremamente rápida. Até agora, este conhecimento teve relativamente pouco efeito
sobre o homem. Mais informação deve ser obtida antes que aplicações práticas sejam
possíveis sendo que os problemas técnicos a serem resolvidos são formidáveis. Entre-
tanto, quando estes obstáculos forem removidos este conhecimento vai infuenciar de
forma marcante o futuro do homem. Tal poder pode ser usado sabiamente ou não,
para melhoramento ou detrimento da humanidade.
Salvador Luria disse "o progresso da ciência é tão rápido que cria um desequilíbrio
entre o poder nas mãos dos homens e as condições sociais nas quais este poder é
exercido”. Então, nem o aviso dos cientistas, a extensão da informação pública ou o
desejo dos cidadãos podem compensar pelas inadequações das instituições de lida-
rem com as novas situações.
O público entende em alguma extensão os recentes avanços na genética bioquí-
mica, mas tem somente uma vaga noção do que pode se esperar para o futuro, a
despeito dos esforços de muitos cientistas em informar o público sobre prováveis
derivações futuras.
Onde estamos hoje? A linguagem genética agora é conhecida e está claro que a
maioria, se não todas as formas de vida do planeta, usa esta mesma linguagem, com
menores variações. Mensagens genéticas simples agora podem ser quimicamente
sintetizadas. Cirurgia genética, aplicada à microorganismos é uma realidade. Genes
podem ser preparados de uma estirpe bacteriana e inseridos em outra, a qual pode
ser mudada geneticamente. Tais mudanças são herdáveis. Até agora isto não foi pos-
sível ser feito em células mamíferas.
O que podemos esperar para o futuro? Mensagens genéticas curtas mas significa-
tivas podem ser sintetizadas quimicamente. Desde que as instruções sejam escritas
na linguagem reconhecível pelas células, a mensagem poderá ser usada para o pro-
grama celular. As células poderão carregar estas instruções e o programa poderá ser
herdado. Eu não sei quanto tempo teremos antes que seja possível programar células
com mensagens quimicamente sintetizadas. Certamente, os obstáculos experimen-
tais são formidáveis. Entretanto, eu tenho poucas dúvidas que os mesmos eventual-
mente serão transpostos. A única questão é quando. Meu palpite é que as células se-
rão programáveis com mensagens sintéticas dentro de 25 anos. Se os esforços nestas
linhas forem intensificados, as bactérias poderão ser programáveis dentro de 5 anos.
O ponto que merece uma ênfase especial é que o homem pode ser capaz de pro-
gramar suas próprias células com informações sintéticas antes que seja capaz de avaliar
adequadamente as consequências de longa data destas alterações, antes de ser capaz
de formular objetivos e antes de resolver problemas éticos e morais que ainda serão
levantados. Quando o homem tornar-se capaz de instruir suas próprias células ele deve
refletir se ele tem desejo suficiente para usar este conhecimento para o benefício da
humanidade. Afirmo este problema na necessidade de resolvê-lo, porque decisões con-
cernentes a aplicação do conhecimento deve ser feita em última análise pela sociedade,
e somente uma sociedade informada pode tomar tais decisões sabiamente.
Fonte: Nirenberg (1967).
Biologia Molecular 53
Síntese da Parte
Na replicação, a dupla hélice é desenrolada na forquilha de replicação, os
nucleotídeos são polimerisados pela DNA polimerase, juntamente com a ação
de várias outras enzimas. Na transcrição, temos a enzima RNA polimerase a
qual faz a cópia em RNA dos genes. Os principais componentes da maqui-
naria de tradução são os três tipos básicos de RNA: RNAt, RNAr e RNAm. A
precisão da tradução deriva da especificidade de códon com anticódon, da li-
gação do RNAt com seu aminoácido e do inicio da tradução, em que o primei-
ro códon deve ser reconhecido pelo ribossomo. Um complexo de iniciação, o
qual reúne todos os componentes, com exceção feita a alguns fatores, reúne
as duas subunidades do ribossomo aos RNAs citados. O alongamento é feito
com o avanço do ribossomo no RNAm até chegar a um códon de finalização.
Atividades de avaliação
1. Procure em livros de Bioquímica os conceitos de anabolismo e cata-
bolismo. Dê exemplos.
2. Busque o papel das diferentes RNAs polimerases de eucariotos.
Faça um contraponto com os tipos e funções de DNAs polimerases
em procariotos.
3. Busque o passo a passo das ligações das snRNPs na formação do
spliceossomo.
4. Na leitura complementar apresentada “Estará a sociedade prepara-
da?” de 1967, o pesquisador Marshall W. Nirenberg diz “Meu palpite é
que as células serão programáveis com mensagens sintéticas dentro
de 25 anos.” Após a leitura da Unidade 5, comente sobre as previsões
de Nirenberg.
5. Ainda sobre esse texto, o que é possível dizer sobre a afirmação de
Niremberg: “está claro que a maioria, se não todas as formas de vida
do planeta, usa esta mesma linguagem, com menores variações”?
6. Observando o quadro que apresenta os códigos genéticos, que di-
ferenças encontramos entre os dois códigos apresentados? Por que
ainda consideramos o código genético universal? Verifique em outros
livros o código genético escrito com as letras do RNAm. Que diferen-
ças são verificadas?
54 CECCATTO, V. M.
Livros
• STRATHERN, P. Crick, Watson e o DNA em 90 minutos. Rio de Ja-
neiro: Jorge Zahar, 2007. 96 p.
• CHEDIAK, K. Filosofia da biologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2008. 84 p.
• DAWKINS, R. A grande historia da evolução. São Paulo: Companhia
das Letras, 2009. 472 p.
Filmes
• Criação (Dir. Jon Amiel, 2009) - história da "Origem das espécies"
de Darwin.
• O vento será sua herança (Dir. Stanley Kramer, 1960 e também refil-
magem de Daniel Petrie de 1999) - famoso "julgamento do macaco"
que ocorreu no Tennesse – EUA, em 1925, sobre o ensino do darwi-
nismo nas escolas.
• O pesadelo de Darwin (Dir. Hubert Sauper, 2004) - Ecologia e am-
biente.
Sites
(Museus e exposições científicas):
• http://www.museunacional.ufrj.br/ (Museu Nacional)
• http://www.cienciaviva.org.br/ (Espaço Ciência Viva)
• http://www.eciencia.usp.br/ (Estação Ciência da USP)
• http://www.museufritzplaumann.ufsc.br/ (Museu Entomológico
Fritz Plaumann)
• http://www.mos.org/ (Boston Museum of Science - EUA)
• http://www.miamisci.org/ (Miami Science Museum - EUA)
• http://www.mnh.si.edu/ (Museu de História Natural do Smithsonian
Institute - EUA)
Biologia Molecular 55
Referências
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Parte 3
Polimorfismo gênico e
evolução molecular
Capítulo 6
Considerações iniciais
e histórico
Objetivo
• Discutir variações genéticas e moleculares dentro do contexto evolutivo.
1. Aspectos gerais
Durante a maior parte do século vinte, o foco das pesquisas moleculares foi o re-
conhecimento dos fenótipos, identificando os produtos dos genes, as proteínas.
A partir do sequenciamento gênico vimos que, surpreendentemente, somente
uma parte do genoma eucariótico é destinada a essas proteínas. O genoma é
um sistema dinâmico, sempre em reparo e remodelamento. É mutável durante
o ciclo de vida do indivíduo e durante décadas e milênios, durante a evolução
de uma espécie, claro, dentro dos limites. As variações encontradas no geno-
ma variam de pessoa para pessoa, desde mudanças de uma base até rear-
ranjos cromossômicos em larga escala. Dessa forma, não existe um “genoma
humano”, genérico. Não existe o “normal” em qualquer sequência. O chamado
“tipo selvagem” ou wild type indica a versão mais comum ou mais frequente,
de uma característica genética na população, por exemplo, o olho vermelho
da Drosophila em relação ao olho branco, raro, o qual seria o “mutante”. O olho
é um fenótipo facilmente verificável, porém muitas variações não têm fenótipo
detectável, portanto, as variantes podem ser silenciosas, de tal forma que não
alteram visivelmente o fenótipo. A evolução molecular está em curso, porém
ainda não chegamos a compreender totalmente suas características.
Na agricultura e na pecuária, o conhecimento gênico é um grande aliado,
pois permite cruzamentos seletivos que podem aumentar ou diminuir a frequ-
ência gênica de determinadas características genéticas desejáveis de plantas
e animais. Essa seleção artificial proporcionou enormes vantagens de sobre-
vivência para o ser humano (embora estejamos pagando o altíssimo preço
ambiental desse estilo de vida). Essa seleção não é aplicável ao ser humano,
pois não é ético interferir nas liberdades individuais. O aconselhamento genéti-
60 CECCATTO, V. M.
Fosforilação oxidativa:
2. Genomas extra nucleares: mitocôndrias processo que gera ATP
e cloroplastos nas mitocôndrias. Ocorre
na membrana interna da
Sabemos que, além do genoma nuclear, existem outros genomas, nas mito- mitocôndria, requerendo
côndrias e nos cloroplastos. A teoria endossimbiótica diz que um precursor vários transportadores de
da célula eucariótica (proto eucarioto) endocitou uma possível proto bactéria elétrons diferentes, proteínas
ou célula procariótica. As mitocôndrias e os cloroplastos teriam sido formados codificadas pelo mtDNA e
genes nucleares.
pela evolução dessas estruturas (Figura 1). Acredita-se que este evento tenha Radicais livres: é um termo
ocorrido entre 1 e 1,5 bilhão de anos atrás. As bactérias fotossintéticas e as usado para designar átomo
células eucarióticas também levariam à evolução dos cloroplastos. ou molécula com existência
independente, contendo
um ou mais elétrons não
pareados, nos orbitais
externos. São altamente
reativos, capazes de reagir
com qualquer composto
situado próximo à sua órbita
externa, passando a ter
função oxidante ou redutora
de elétrons. Organelas que
metabolizam o oxigênio,
o nitrogênio e cloro, que
geram grande quantidade de
metabólitos. São as grandes
produtoras de radicais livres.
Padrões isoenzimáticos:
enzimas que apresentam de genes, considera-se que esses genes teriam sido transferidos para o ge-
padrões de isoformas
enzimáticas e, portanto, na
noma da célula hospedeira. O genoma mitocondrial consiste em uma única
eletroforese de proteínas molécula de DNA circular, altamente helicoidizada. As plantas contêm mito-
formam muitas bandas, côndrias que comportam um conjunto complexo de múltiplas moléculas circu-
ou seja, são altamente lares de DNA. Como foi comentado anteriormente, os genomas mitocondriais
polimórficas e dessa forma,
permitem que se verifique a
são muito pequenos em relação ao núcleo celular. Não possui histonas, da
variabilidade genotípica. mesma forma que as bactérias. Outra particularidade é que possui conteúdo
GC diferente do genoma, nuclear de forma que o genoma mitocondrial pode
ser separado por uma centrifugação diferencial.
As mitocôndrias e os cloroplastos presentes no citoplasma são, em ge-
ral, herdados de um só genitor (herança uniparental). Nos animais, o mtDNA é
Insuficiência cardíaca herdado quase que exclusivamente da mãe, embora a literatura acuse exce-
e polimorfismo gênico: ções. As células podem conter dezenas a centenas de organelas, sendo que
apesar dos avanços
terapêuticos no último cada uma pode conter muitas cópias do genoma dessa organela. Uma célula
século, a insuficiência de fígado de rato, por exemplo, pode conter 5 a 10 moléculas de mtDNA em
cardíaca continua sendo cerca de 1000 mitocôndrias, e o mtDNA equivale a 1% do DNA celular. É pos-
uma das principais sível que haja populações de organelas com mutações diferentes, convivendo
causas de mortalidade,
de internação hospitalar e na mesma célula, uma condição chamada heteroplasmia. Quando essa cé-
de limitação funcional em lula se divide, sua prole pode apresentar fenótipos diferentes.
todo o mundo. Nas últimas O mtDNA humano é uma molécula circular com 16.569 pb que codifi-
décadas, a influência
dos fenótipos vem sendo
cam dois rRNAs, 22 tRNAs e 13 proteínas. Essas proteínas auxiliam na fos-
utilizada para a avaliação do forilação oxidativa, mas não suprem totalmente a demanda de proteínas para
prognóstico dos pacientes, essas reações, as quais são complementadas pelos genes nucleares. Essa
porém, em um grande relação é essencial para se compreender porque certas patologias e, até mes-
número de casos, pacientes
com fenótipos semelhantes
mo, o próprio envelhecimento do organismo, causam diminuição na quantida-
evoluem de formas de de ATP. Estudos mostram que o mtDNA, com a idade, acumula mutações,
distintas. Há, portanto, a especialmente pela proximidade da produção de radicais livres produzidos
necessidade de se pesquisar pelos processos citados. Os tecidos, como músculo e cérebro, necessitam de
os fatores genéticos que
possam influenciar em um
ATP em grande quantidade e com a idade, e certas patologias associadas po-
prognóstico individualizado. dem apresentar sintomas como deficiência no movimento, devido à demanda
Os principais polimorfismos de ATP pela musculatura esquelética, diminuição no raciocínio e na memória,
envolvidos são os genes do devido à demanda nervosa e cerebral, além dos rins, fígado e pâncreas.
receptor beta adrenérgico,
o da enzima conversora de
angiotensina, da aldosterona, 3. Polimorfismo e marcadores moleculares
da angiotensina, do fator de
necrose tumoral (TNF-α) e Observando o genoma, torna-se possível verificar vários tipos de polimorfis-
do óxido nítrico. mos: polimorfismo de comprimento de fragmentos de restrição (RFLP), tra-
tado na Unidade 5, consiste de um polimorfismo que depende do genoma ser
cortado com enzimas de restrição, portanto, baseia-se totalmente na técnica.
O polimorfismo de curtas repetições em tandem são repetições de dezenas
a centenas de bases, sendo que o número de polimorfismos é herdável. A
Biologia Molecular 65
Organismos
geneticamente
modificados contêm uma
sequência nova de DNA ou
contêm DNA recombinante.
Todo transgênico é um
OGM. Existem diferenças
sutis entre os dois
conceitos. Nem todo OGM
é um transgênico, ou seja,
Figura 2 - Melancia sem sementes, rosa gigante e forrageira mais produtiva. A me- um OGM pode ter um
lancia sem semente é uma variedade triploide japonesa, resultado do cruzamento de gene overexpresso, ou
plantas diploides (2n) com tetraploides (4n), produzindo sementes triploides (3n) inviá- subexpresso, pode não
veis. Tem mais sabor e polpa, porém necessita de maior quantidade de mão-de-obra ter sido introduzido um
para fazer os cruzamentos entre as plantas 2n e 4n. Rosas e gramíneas tetraplóides. gene, mas feitas alterações
que podem aumentar a
Fonte: http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&q=Melancia+sem+semente&btnG=Pesquisar&meta=&
aq=f&aqi=&aql=&oq=&gs_rfai= expressão de um gene.
Portanto, o conceito de OGM
engloba o de transgênico.
Nos organismos poliploides, é possível distinguir os autopoliploides, que
têm conjuntos cromossômicos múltiplos com origem dentro de uma espécie,
e alopoliploides, que têm conjuntos de duas ou mais espécies diferentes. Os
alopoliploides formam-se apenas entre espécies proximamente relacionadas.
No caso de conjuntos cromossômicos diferentes, são chamados homeólogos
(parcialmente homólogos).
Mudanças na estrutura dos cromossomos devidos às quebras no DNA
também são conhecidas como rearranjos. Por exemplo, um segmento cro-
mossômico pode ser perdido, constituindo uma deleção, ou duplicado (não
confundir com duplicação gênica) ou invertido. A translocação move um seg-
mento para outro cromossomo. As causas e como ocorrem esses rearranjos
não serão discutidos aqui, mas são facilmente revisáveis nos bons livros de
estudos genéticos ou na rede mundial de computadores.
5. O valor C em discussão
Em 1948, Roger e Colette Vendrely apresentaram um trabalho que mostrava
que o conteúdo do DNA nuclear das células em todos os indivíduos é cons-
tante, dentro de uma dada espécie animal. Essa afirmativa demonstrava que
o DNA, não a proteína, era a substância na qual os genes são compostos. A
quantidade de DNA dentro de uma espécie e dentro de um mesmo indivíduo
(ressalvadas condições especiais da presença, em um mesmo organismo, de
células com diferentes níveis de ploidia) é aceita como Constante. O valor C
define a quantidade de DNA do genoma haploide, não replicado, de um indiví-
duo (Figura 3). Esse termo foi sugerido pelo biólogo canadense T. R. Gregory
em 2000. Assim, a quantidade de DNA é expressa em picogramas (pg), 10-12g
68 CECCATTO, V. M.
6. Elementos de transposição
Barbara McClintock nasceu em 1902 e estudou botânica na Cornell University
– EUA. Tentou entrar para a pós-graduação em Genética, mas não foi aceita,
por ser mulher. Conseguiu entrar na pós-graduação em Botânica e estudou os
cromossomos de milho. McClintock permaneceu na Universidade, estudando
ligação entre genes, crossing over, mapeamento gênico com rearranjos cro-
mossômicos etc. Um problema da época era a presença de grãos chamados
de variegados ou multicoloridos. Os grãos eram incolores ou pigmentados, mas
nesse caso, tinham faixas de cor. Rollins Adams Emerson, contemporâneo de
McClintock, sugeriu que essas faixas coloridas eram resultado de uma mutação
instável, porém não havia maiores explicações. McClintock sugeriu, em 1948,
que essa mutação era resultado de um gene que se movia, apresentando a
hipótese de que havia inclusive genes controladores, mas que também se mo-
viam juntos. Alfred Sturtevan, destacado geneticista da época, comentou: “eu
não compreendi uma palavra do que ela disse, mas se ela diz que é assim, deve
O transposon Mutator (Mu)
ser mesmo”. Seu trabalho somente foi reconhecido e devidamente interpretado
foi originalmente identificado
em milho e depois utilizado quando se verificou a presença de transposons nos anos 70 e 80 em prati-
para a identificação de camente todos os organismos estudados. Ela ganhou o prêmio Nobel em 1984.
genes. Possui dois genes
Estamos acostumados a sequências de DNA que ocupam seus loci gênicos
que são transcritos em
sentido inverso, a partir fielmente nos seus respectivos cromossomos nucleares e nos genomas das mito-
de promotores que estão côndrias e dos cloroplastos. Entretanto, existem sequências que, por incrível que
contidos nas repetições possa parecer, levam vidas particulares, independentes da replicação do cromosso-
terminais invertidas
mo, ou seja, não estão ligadas restritamente ao ciclo celular para se reproduzir. Nas
chamadas de mudrA
e mudrB. A proteína bactérias e em alguns eucariotos, encontramos pequenas moléculas circulares que
codificada de mudrA: MURA se replicam independentemente, nossos conhecidos plasmídeos. Como vimos, os
tem homologia com as epissomos se comportam como plasmídeos, porém se integram ao DNA hospedei-
transposases bacterianas,
ro, como um vírus, incluindo os próprios fagos que infectam as bactérias. Da mesma
sendo encontrada em
diversas espécies vegetais, forma, ocorre a dinâmica dos elementos transponíveis ou transposons (já chamados
enquanto que o outro gene de “genes saltadores”). Geralmente inserem cópias de si mesmos em outras se-
mudrB codifica para a quências ou, mesmo, ele próprio é capaz de sair de um lugar no genoma e inserir-se
proteína MURB, cuja função
em outro. Os processos de transposição ainda não são bem esclarecidos, porém o
ainda não está esclarecida.
O sistema Mutator pouco que sabemos é um pouco estarrecedor, a princípio, porém, a estranheza cos-
compreende também tuma desvanecer-se à medida que conhecemos os processos de remodelamento
sequências denominadas do genoma. Assim, veremos que a transposição tem suas semelhanças com a re-
MuLES (Mutator-like
combinação por crossing over, por exemplo.
elements), encontrados
também em arroz, algodão, Alguns elementos transponíveis carregam genes com efeitos fenotípi-
soja e Arabidopsis. cos adaptativos, como exemplo clássico, genes para resistência a antibióti-
cos. Entretanto, tem sido visto também que muitos elementos móveis podem
transportar somente genes essenciais para sua transposição, especialmente
transposases, as quais são enzimas para a transposição. Quase 50% do ge-
Biologia Molecular 71
GGCCGGGCGCGGTGGCTCACGCCTGTAATCCCAGCACTTTGGGAGGCCGAGGCGG
GCGGATCACCTGAGGTCAGGAGTTCGAGACCAGCCTGGCCAACATGGTGAAACC
CCGTCTCTACTAAAAATACAAAAATTAGCCGGGGCGTGGTGGCGCGCGCCTGTA
ATCCCAGCTACTCGGGAGGCTGAGGCAGGAGAATCGCTTGAACCCGGGAGGCGG
AGGTTGCAGTGAGCCGAGATCGCGCCACTGCACTCCAGCCTGGGCGACAGAGCG
AGACTCCGTCTC
Sequência Alu
Figura 6 - Exemplo de elemento de transposição – Sequência Alu - encontrada em
mais de um milhão de cópias no genoma humano, constituindo cerca de 11% do
nosso DNA. Na figura, vemos um cariótipo humano feminino, mostrando em tons
mais claros, os locais de concentração. A seguir, temos a sequência. Note que, dentro
destes 11%, encontramos muitas alterações devido a mutações. Portanto, elas não
são sempre iguais. A sequência Alu é um exemplo de SINE (veja Unidade 1). Várias
desordens herdáveis têm sido atribuídas à recombinação mediada por sequências
Alu, incluindo a diabetes tipo II insulinorresistente, sídrome de Lesch-Nyhan, doença
de Tay-Sachs, deficiência de componente C3, hipercolesterolemia e α-talassemia,
incluindo o Sarcoma de Ewing, o câncer de mama e a leucemia mielócita aguda.
Fonte: Batzer e Deininger (2002).
7. Mutações
O DNA é a fonte de informação genética, e a célula investe muito na manu-
tenção dessa informação. Existem vários mecanismos altamente eficientes
que proporcionam reparação ao DNA modificado ou danificado. Para que as
células e os organismos possam ter chances de sobrevivência, as sequências
de DNA devem ser passadas exatas e inalteradas para as próximas gerações.
Altas taxas de mutações significam alterações metabólicas que podem acar-
retar distúrbios agudos ou crônicos e morte. Taxas menores podem perturbar
o metabolismo de forma a ainda manter certo grau de sobrevivência do in-
divíduo, porém com possíveis repercussões na reprodução da célula ou do
indivíduo. Com a morte da estrutura ou do indivíduo antes de sua reprodução,
as mutações não são incorporadas na população, desaparecendo antes de
deixar descendentes mutantes que a perpetuem.
Biologia Molecular 73
Mutação com perda de sentido: substituição de uma base do DNA por ou-
tra; como consequência ocorre a substituição de um aminoácido por outro
na proteína codificada. A conformação da proteína pode ser alterada (ex:
anemia falciforme).
Mutação sem sentido (nonsense): substituição de uma base do DNA de tal
modo que, no RNAm, um códon que especifica um aminoácido é alterado
para um códon de parada ou o contrário. Origina uma proteína inativa mais
curta ou mais longa do que a proteína normal.
Deleção: nesse caso podem ser removidas uma única base do DNA ou mi-
lhares delas. A remoção de um número de bases que não seja múltiplo de três
altera completamente a mensagem do gene.
Inserção: o número de bases adicionadas ao DNA pode variar. A adição de um
número que não seja múltiplo de três altera completamente a mensagem do
gene. Quando é inserida uma sequência igual a outra, ocorre uma duplicação.
As mutações podem ser espontâneas ou induzidas. Mutações espontâ-
neas podem ocorrer porque as quatro bases nucleotídicas podem existir sob
duas formas diferentes, uma comum e outra muito rara (chamada tautoméri-
ca). As principais são a desaminação e a depurinação (Figura 7) e a formação
de dímeros de pirimidina (Figura 8). Quando uma base adquire, temporária ou
permanentemente, a sua forma rara, pode emparelhar-se com uma base dife-
rente. Outra causa de mutações espontâneas são erros na replicação do DNA
motivados pela DNA polimerase. Quase sempre esses erros são reparados
durante o processo de replicação
do DNA. Contudo, alguns persis-
tem. Finalmente, há erros na
meiose ou mitose (não disjunção
de homólogos ou cromatídes,
tendo como consequência a for-
mação de células com excesso
ou falta de cromossomos).
Figura 7 - As duas formas predomi-
nantes de danos espontâneos ao
DNA: (A) desaminação da adenina,
citosina e guanina, (B) depurina-
ção (perda da base purina) resul-
tante da clivagem da ponte entre a
base purina e a ribose, produzindo
um sítio apurínico (AP) dGMP =
deoxiguanosina monofosfato.
Fonte: Cooper e Hausman (2009).
Biologia Molecular 75
Figura 8 - (A) A luz UV induz a formação de dímeros de pirimidina, nos quais duas
pirimidinas adjacentes (como exemplo, duas timinas) são unidas numa estrutura de
anel em ciclobutano. (B) A alquilação é a adição de grupos metil ou etil para várias
posições nas bases do DNA. Nesse exemplo, a alquilação da posição O6 da guanina
resulta na formação de uma O6 - metilguanina. (C) muitos carcinogênicos (como o
benzo-(a)pireno reagem com as bases de DNA, resultando na adição de grupos quí-
micos à molécula de DNA.
Fonte: Cooper e Hausman (2009).
As mutações induzidas, por sua vez, são causadas por agentes mutagêni-
cos e radiações. Conforme vimos, muitas descobertas foram feitas como conse-
quência de testes militares, como o gás mostarda e a as armas atômicas. Como
resultado das pesquisas físicas e químicas, as quais tiveram grande avanço nas
últimas décadas, apareceram uma infinidade de produtos capazes de interagir
com o DNA. Por exemplo, os análogos de bases, como o 5-bromouracil, análogo
à timina, e também a 2-aminopurina, análogo à adenina. Os chamados agentes
alquilantes adicionam grupos metil e etil às bases nitrogenadas. O gás mostarda
também é um agente alquilante. Reações oxidativas são causadas pelas for-
mas reativas do oxigênio, como os radicais (livres) superóxido, peróxido de hidro-
gênio e radicais hidroxilas. Esses danificam o DNA e induzem mutações. Temos
76 CECCATTO, V. M.
8. Recombinação gênica
Se a mutação é a fonte primária de variabilidade, a recombinação gênica é
que efetivamente realiza a "mistura" entre os diferentes genes dos seres vivos.
A evolução seria extremamente lenta se não houvesse um modo de reunir ca-
racterísticas de diferentes indivíduos formando um recombinante. A mutação
em si é um fenômeno bem raro e, se a evolução dependesse apenas da mu-
tação, certamente não teríamos hoje em dia organismos tão bem adaptados
ao seu ambiente. A mutação e a recombinação agem em conjunto: a mutação
modifica o DNA, e a recombinação realiza uma mistura entre as partes modi-
ficadas de dois organismos.
A recombinação gênica acontece durante a meiose. A partir do momento que
os gametas se unem durante a fertilização, cada um deve conter apenas metade
do número de cromossomos que outras células do corpo possuem. Caso contrá-
rio, a célula fertilizada teria cromossomos a mais. Dentro das células germinativas
os cromossomos homólogos ficam pareados. Enquanto eles são comprimidos, os
cromossomos podem quebrar, e cada um pode trocar uma porção do seu material
genético pela porção correspondente de seu par. Essa forma de recombinação é o
Biologia Molecular 77
Figura 10 - Função da proteína RecA: a proteína RecA inicialmente liga-se à fita simples
de DNA, para formar um filamento de proteína - DNA. A proteína RecA, então, liga-se
à segunda para formar o complexo, formando uma região heteroduplex.
Fonte: Cooper e Hausman (2009).
78 CECCATTO, V. M.
Texto complementar
Para remover a palavra raça dos prontuários médicos no Brasil
Os avanços da genética molecular e o sequenciamento do genoma humano permiti-
ram um exame detalhado da correlação entre a variação genômica humana, a ances-
tralidade biogeográfica e a aparência física das pessoas e mostraram que os rótulos
previamente usados para distinguir raças não têm significado biológico. Pode parecer
fácil distinguir fenotipicamente um europeu de um africano ou de um asiático, mas tal
facilidade desaparece completamente quando procuramos evidências destas diferen-
ças raciais no genoma das pessoas. Uma pletora de linhas independentes de pesquisa
molecular fornece evidências científicas incontrovertíveis de que raças humanas não
existem do ponto de vista genético ou biológico. Apesar disto, o conceito de raças
persiste como construção social e cultural em nossa sociedade.
RAÇAS HUMANAS NA MEDICINA BRASILEIRA - o problema na medicina é que as
raças continuam a ser vistas como verdades biológicas e não como meras construções
sociais! Como exemplo, basta ler a bula no medicamento Cozaar, um bloqueador do
receptor da angiotensina, vendido no Brasil pela Merck Sharp & Dohme, que contém
o seguinte alerta: "Com base no estudo LIFE (Losartan Intervention For Endpoint Re-
duction in Hypertension — Intervenção com losartan para redução de desfechos na
hipertensão), os benefícios de COZAAR® (Losartan potássico, MSD) na morbidade e
mortalidade cardiovascular comparados aos do atenolol não se aplicam a pacientes
negros com hipertensão e hipertrofia ventricular esquerda". Este não é um exemplo
isolado, pois sabemos que Estados Unidos, bulas de 8% (15 entre 185) dos novos
medicamentos introduzidos de 1995 a 1998 continham advertências sobre diferenças
"raciais" em sua eficácia ou efeitos colaterais. Em 2005 a Food and Drug Administra-
tion (FDA) aprovou o medicamento BiDil® para tratamento da insuficiência cardíaca
congestiva, mas somente para negros.
Com base nos critérios de autoclassificação do censo do IBGE, em 2000 a popula-
ção brasileira era composta por 53,4% de brancos, 6,1% de pretos e 38,9% de pardos.
O que representam esses números em termos de ancestralidade genética? Essa é a
pergunta que tentamos responder usando as ferramentas da genética molecular. Os
nossos estudos demonstraram que no povo brasileiro existe um alto índice de mistu-
ra genética que torna as características de aparência física, como cor da pele, olhos,
cabelos, formatos dos lábios e do nariz, em indicadores muito pobres da origem geo-
gráfica dos ancestrais de um determinado indivíduo.
A fauna e flora dependem muito da geografia. Assim, diferentes origens geográ-
ficas significam exposições diferentes a elementos tóxicos do meio ambiente e a di-
ferentes dietas. Como consequência, emergiram polimorfismos genéticos nos genes
dos sistemas enzimáticos de detoxificação, representando adaptações seletivas ao
padrão geográfico de elementos tóxicos da flora e dieta locais. Essas variações estão
hoje em dia sendo detectadas pelos seus efeitos farmacogenéticos, já que o nosso
corpo usa os mesmos sistemas enzimáticos para metabolizar medicamentos. Pode-
mos usar em medicina clínica a aparência física, e mais particularmente a cor da pele,
como um substituto dos testes genômicos específicos? A resposta é não, especial-
mente no Brasil, onde nossos dados mostram que a correlação entre cor e ancestra-
lidade é muito imperfeita. Espera-se que possamos em breve ter à disposição testes
genômicos que nos permitam traçar o perfil farmacogenético do paciente e usar este
Biologia Molecular 79
perfil na decisão clínica. Até lá, devemos nos refrear de usar raça como substituta dos
testes farmacogenéticos.
No consultório médico, o que está sendo examinado é um paciente individual e
não um grupo populacional. A autoclassificação ou a avaliação médica do grupo racial
de um paciente não tem nenhum valor em decisões sobre o diagnóstico, o tratamento
farmacológico ou outras terapias. Isto não quer dizer que a pigmentação da pele do (a)
paciente e outras características físicas não devem ser observadas e devidamente ano-
tadas. Elas são partes integrais do exame físico e podem ter implicações clínicas. O que
queremos defender é a retirada da expressão raça dos prontuários médicos no Brasil.
Alguns autores têm argumentado que as raças podem constituir-se em sub-roga-
das de variáveis não-genéticas sociais e culturais, e que abrir mão dessa classificação
significaria perda de correlações ambientais e prejuízo para a medicina e a população.
Mas essa utilidade hipotética da classificação racial deve ser considerada no contexto
dos seus possíveis riscos, sob uma ótica de relação risco-benefício, como tudo em
medicina. Temos de tomar cuidado de não dar legitimidade a falsos indicadores e
fazer todo o esforço para abandonar essas tênues correlações, atacando com firmeza
as verdadeiras variáveis genéticas e ambientais que afetam saúde e doença.
PELO BANIMENTO DO CONCEITO - assim, o conceito de raça lembra uma casca
de banana: vazio e perigoso. Vazio, porque sabemos que raças humanas não exis-
tem como entidades biológicas. Perigoso, porque no passado, a crença de que raças
humanas possuíam diferenças biológicas substanciais e bem demarcadas contribuiu
para justificar discriminação, exploração e atrocidades, mesmo no contexto médico.
Existe consenso entre geneticistas e antropólogos que a única divisão biologica-
mente coerente da espécie humana é em bilhões de indivíduos e não em um pu-
nhado de raças. Esse fato deve ser absorvido pela sociedade e incorporado às suas
convicções e atitudes morais. Vimos acima que independente da cor, a vasta maioria
dos brasileiros tem simultaneamente um grau significativo de ancestralidade africa-
na, européia e ameríndia. O genoma de cada brasileiro é um mosaico altamente va-
riável e individual formado por contribuições das três raízes ancestrais. Assim, não
faz sentido falar em afrodescendentes ou eurodescendentes porque a maior parte
dos brasileiros tem uma proporção significativa de ascendência africana, européia e
ameríndia. Além disso, por causa da pobre correlação entre cor e ancestralidade, não
faz sentido falar sobre "populações" de brasileiros brancos ou de brasileiros negros.
Assim, a única maneira de lidar eticamente com a variabilidade genética dos brasilei-
ros é individualmente, como seres humanos únicos e singulares nos seus genomas
mosaicos e nas suas histórias de vida. Do ponto de vista médico, esta conscientização
nos leva a propor que o conceito de raça deveria ser banido da medicina brasileira e
que a palavra raça deve ser eliminada dos nossos prontuários clínicos.
Fonte: Pena (2007).
Saiba mais
A Lei de Proteção de Cultivares, Lei n° 9456, foi sancionada em 25/04/1997, a qual
consiste na proteção intelectual dos direitos de criação do pesquisador desenvolve-
dor de pesquisa genética. A Lei proíbe o uso, pelo produtor de sementes, de uma
cultivar protegida, somente poderá ser feito mediante prévia autorização do criador
da cultivar, que poderá ou não exigir o pagamento de “royalties” pela sua exploração
80 CECCATTO, V. M.
Síntese da Parte
Nesta unidade verifica-se que existem várias formas de alterar o genoma,
desde os variados tipos de mutações, recombinação, transposons e ploidias.
Muitas dessas alterações são mais conhecidas e verifica-se que possuem
funções bem definidas, como na recombinação, em que existe aumento na
variabilidade. Porém muitas, aparentemente, não trazem sentido ao genoma,
como os transposons e possivelmente podem ser deletérias, em alguns ca-
sos patológicos. Os genomas das bactérias, mitocôndrias e cloroplastos, mais
simples, são mais fáceis de serem estudados e compreendidos e fornecem
algumas pistas para compreender a evolução molecular.
Atividades de avaliação
1. Leia atentamente o resumo de congresso que segue e responda as per-
guntas:
Título: Detecção de cinco novas mutações em pacientes brasileiros com
gangliosidose GM1
URI: http://hdl.handle.net/10183/6718
Autor: Vieira, Matheus Barbosa
Orientador: Coelho, Janice Carneiro
Co-orientador: Matte, Ursula da Silveira
Data: 2006
Nível: Mestrado
82 CECCATTO, V. M.
Leituras
• PENA, S. D. J. Humanidade sem raças? 1. ed. São Paulo: Publifo-
lha, 2008. 72 p.
• BARBUJANI, G. A invenção das raças: existem mesmo raças huma-
nas? diversidade e preconceito racial. São Paulo: Contexto, 2007. 176 p.
Biologia Molecular 85
Filmes
• Homo sapiens 1900 (Dir. Peter Cohen, Suécia, 1998) - documentário
sobre racismo e eugenia.
• O ponto de mutação (Dir. Bernt Capra, 1990) - existencialismo e ci-
ência, baseado na obra de Fritjof Capra.
Sites
(Sociedades científicas brasileiras – filie-se!)
• http://www.abc.org.br (Academia Brasileira de Ciências - ABC)
• http://www.abcmc.org.br (Associação Brasileira de Centros e Museus
de Ciência - ABCMC)
• http://www.aoceano.org.br (Associação Brasileira de Oceanografia -
AOCEANO)
• http://www.fesbe.org.br (Federação de Sociedades de Biologia Experimental)
• http://www.sbac.org.br (Sociedade Brasileira de Análises Clínicas - SBAC)
• http://www.sbbq.org.br (Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia
Molecular - SBBq)
• http://www.sbfic.org.br (Sociedade Brasileira de Ficologia)
• http://www.sbfis.org.br (Sociedade Brasileira de Fisiologia – SBFIS)
• http://www.sbg.org.br (Sociedade Brasileira de Genética - SBG)
• http://www.sbi.org.br (Sociedade Brasileira de Imunologia - SBI)
• http://www.sblimno.org.br (Sociedade Brasileira de Limnologia - SBL)
• http://www.sbma.com.br (Sociedade Brasileira de Malacologia - SBMa)
• http://www.sbmicrobiologia.org.br (Sociedade Brasileira de Microbio-
logia - SBM)
• http://www.sbpcnet.org.br (Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência - SBPC)
• http://www.sbpflap.cjb.net (Sociedade Brasileira de Parasitologia - SBP)
• http://www.sbv.org.br (Sociedade Brasileira de Zoologia - SBZ)
• http://acd.ufrj.br/geologia/sbp/sbp.htm (Sociedade Brasileira de Pale-
ontologia - SBP)
86 CECCATTO, V. M.
Referências
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P. Molecular biology of the cell. 5. ed. New York: Garland Science, 2008.
1.261 p.
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Nature Reviews, New York, v. 3, p. 370-381, 2002.
BENNET, M. D.; LEITCH, I. J. Nuclear DNA amounts in angiosperms and their
modern uses - 807 new estimates. Annals of Botany, Bristol, v. 86, p. 859-
909, 2000.
COOPER, G. M.; HAUSMAN, R. E. The cell: a molecular approach. 5. ed.
Sunderland: Sinauer Associates, 2009. 771 p.
GAO, L.; YI, X.; YANG, Y-X.; SU, Y-J.; WANG, T. Complete chloroplast ge-
nome sequence of a tree fern Alsophila spinulosa: insights into evolutionary
changes in fern chloroplast genomes. BMC Evolutionary Biology, Kansas
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GREGORY, T. R. Coincidence, coevolution, or causation? DNA content, cell
size, and the C-value enigma. Biological Reviews, Cambridge, v. 76, n. 1, p.
65–101, 2001.
GUO, X.; CASTILLO-RAMÍREZ, S.; GONZÁLEZ, V.; BUSTOS, P.; FERNÁN-
DEZ-VÁZQUEZ, J. L.; SANTAMARÍA, R. I.; ARELLANO, J.; CEVALLOS,
M. A.; DÁVILA, G. Rapid evolutionary change of common bean (Phaseolus
vulgaris L) plastome, and the genomic diversification of legume chloroplasts.
BMC Genomics, London, v. 8, p. 228, 2007.
PENA, S. D. J. Para remover a palavra raça dos prontuários médicos no Bra-
sil. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 59, n. 1, p. 4-5, 2007.
Parte 4
Expressão gênica
Capítulo 8
Considerações iniciais
e histórico
Objetivo
• Apresentar aspectos da expressão gênica em procariotos e eucariotos.
1. Aspectos gerais
Como as células expressam seus genes? Toda sequência de DNA pode ser
considerado um gene? Procariotos e eucariotos expressam seus genes da
mesma forma? Vimos que nem toda molécula de DNA pode ser considerada
um gene, pois a definição funcional diz que o gene deve ser codificador de
algum RNA ou polipeptídeo. Pelo menos na maioria dos eucariotos, temos
muito mais DNA não codificante do que codificante. Obviamente, existem
muitas diferenças entre a expressão eucariótica e a procariótica. Procariotos
são unicelulares, apresentam uma expressão mais econômica e menos com- Nos grandes genomas
eucarióticos, somente
plexa, por isso, podem ser considerados modelos biológicos para estudo da
uma pequena porção de
expressão. Os eucariotos são pluricelulares, possuem células diferenciadas DNA codifica proteínas. Na
e especializadas. Os seres eucariotos partem de uma única célula que de- levedura, temos 70% de
termina (num momento exato do desenvolvimento) o início de diferenciação expressão de genes pelo
genoma, havendo um gene
em folhetos germinativos que irão se transformar em pele, ossos, cabelos,
a cada 2 Kb de sequência.
bastonetes e hepatócitos. O uso das células-tronco embrionárias é um exem- Saccharomyces cerevisiae
plo prático de que as células eucarióticas são induzíveis à diferenciação nos foi o primeiro organismo
seus primórdios. O estudo da diferenciação celular eucariótica ainda está nos eucariótico a ter o seu
genoma sequenciado. A
seus primórdios, sendo considerado um dos maiores desafios da era pós-
levedura possui 5.885 genes
-genômica. Há mais a ser descoberto ainda do que informação acumulada codificantes de proteínas.
sobre o assunto da expressão gênica. Em humanos, menos de 5%
(alguns autores colocam 1%
do genoma) é codificante.
Nos humanos ocorre um
gene para cada 130 Kb de
sequência.
90 CECCATTO, V. M.
2. Breve histórico
O biologista francês Jacques Lucien Monod nasceu em 1910, estudou Medicina
em Paris até 1940. Com a guerra, fugiu para a Inglaterra. Ele lutou na África,
onde foi ferido. Seu desejo era ser médico cirurgião. Doutorou-se em 1947,
mas não podia exercer a profissão de cirurgião devido às extensas feridas de
guerra. Buscou por várias vezes, sem sucesso, emprego com André Lwoff,
com quem tinha lutado na Segunda Guerra, em seu laboratório, no Instituto
Pasteur e sempre foi recusado. Um dia Lowoff perguntou a ele se queria traba-
lhar com bacteriófagos. Apesar de não ter a menor idéia do que Lowoff sugeriu,
ele aceitou e, assim, dedicou-se à biologia dos fagos, no Instituto Pasteur. Em
1958, François Jacob, começou a trabalhar com Jacques Monod em pesqui-
A galactosemia é um sas sobre os mecanismos de transmissão da informação genética, como os
distúrbio metabólico conceitos de RNA mensageiro e genes reguladores da célula controlam a sín-
extraordinário no qual tese de proteínas. Posteriormente, aprofundou os problemas da genética bac-
lactentes são incapazes
de utilizar a galactose
teriana, em foco no estudo dos mecanismos de sua reprodução (Sexualidade
encontrada no leite. A e Genética de Bactérias, 1961). Jacob, Monod e André Lwoff receberam o
galactose é importante Prêmio Nobel de Medicina de 1965, por essa pesquisa. É importante lembrar
além de sua capacidade de que essas descobertas não tinham as facilidades que temos hoje em termos
fornecer glicose. Também
é importante componente
de tecnologia; elas foram deduzidos inteiramente com estudos genéticos feitos
dos cerebrosídeos, em bactérias, os quais posteriormente foram confirmados com isolamento de
gangliosídeos e genes e de proteínas utilizando equipamentos e técnicas modernas.
glicoproteínas. Estes são os
constituintes das membranas
Esse trabalho tinha como premissa o conhecimento de que as células
celulares. Os cerebrosídeos bacterianas e outras poderiam responder a condições externas, regulando
e gangliosídeos formam os níveis de produção de suas principais enzimas metabólicas e/ou a ativida-
uma porção significativa de dessas enzimas. Por exemplo, se uma bactéria encontra-se em um cal-
dos lipídeos cerebrais. Nos
pacientes portadores de
do contendo lactose, em vez da glicose, que é um açúcar mais simples, a
galactosemia, a galactose bactéria tem que adaptar-se à necessidade de: 1) transporte da lactose pela
não é transformada e membrana; 2) decomposição da lactose em seus componentes glicose e ga-
acumula-se em vários lactose e 3) conversão da galactose em glicose.
tecidos, ocasionando retardo
mental severo e catarata. O Conhecia-se a produção das enzimas responsáveis por essas etapas,
fígado mostra dilatação e, mas, quando havia glicose no meio, essas enzimas eram ausentes. Os estu-
frequentemente, a doença dos foram então evoluindo pela teoria da ação alostérica das enzimas, em que
causa a morte.
postula que pequenas moléculas podiam ligar e desligar o processo. Jacob e
Monod foram os descobridores teóricos e experimentais que demonstraram
como o sistema da lactose em E. coli funcionava, através de proteínas espe-
cíficas dedicadas a reprimir a transcrição do DNA em RNA, o repressor lac.
Esse repressor (o repressor lac) é produzido em todas as células, li-
ga-se diretamente ao DNA de genes que controla e fisicamente impede o
aparelho de transcrição de ter acesso ao DNA. Na presença de lactose, o
repressor liga lactose, tornando-se não poder ligar ao DNA, bem como, a re-
Biologia Molecular 91
Os erros inatos do Esse tipo de regulação coletiva de genes em bactérias só é possível pe-
metabolismo resultam los seguintes motivos: a) os genes de um determinado metabolismo bacteriano
da deficiência enzimática
com dano direto numa
estão arranjados próximos, de forma grupal, sob regulação de um único promo-
via metabólica específica, tor; b) uma vez ativado, produz um RNA coletivo chamado de policistrônico (veja
bastante raras como a transcrição na Unidade 2), que, depois de formado, vai dar origem às várias pro-
fenilcetonúria (deficiência teínas desse metabolismo e c) a proteína regulatória geralmente está acoplada
da enzima fenilalanina
hidroxilase), homocistinúria
à presença ou à ausência de outra substância que pode ser seu ativador.
e hiperomocistinúria O repressor (ou o ativador) pertence a uma classe de proteínas que
(deficiência da enzima pertence ao metabolismo basal da célula. A presença da proteína regulatória,
cistationina B-sintase), a
qual produz níveis elevados
nesse caso, é sempre constante. Por isso, a bactéria pode responder rapida-
de homocistina e metionina mente a um aumento ou uma diminuição do triptofano. Esse tipo de expres-
na urina. A maioria dos são é chamada de constitutiva. Inúmeros genes do metabolismo fazem parte
tratamentos para essas do conjunto constitutivo de genes de uma célula, pois estão sempre sendo
patologias envolve restrição
dietética do substrato
expressos, independentemente dos fatores ambientais. Outros genes são in-
(geralmente aminoácidos), duzíveis (ativados) ou reprimíveis (inativados), mas podem ter também uma
reposição do produto final, expressão mínima constante.
depleção da substância
de armazenamento,
Ativadores bacterianos, como a proteína ativadora do metabolismo
substituição da proteína (CAP), ligam-se ao AMP cíclico (cAMP), antes que ela possa se ligar ao ópe-
mutante (como no caso da ron. Os genes ativados por CAP são, então, dependentes da concentração
galactosidase), transplante de cAMP na célula. O aumento de glicose na célula torna os níveis de AMP
(rim, no caso de cistinose e
outras, como a doença de
cíclico baixos, e o cAMP tem menos probabilidade de se ligar a CAP. Portanto,
Crushing, fígado, no caso em E. coli, a concentração de cAMP é inversamente proporcional ao nível de
da tirosinemia) e remoção glicose. Quando a glicose está baixa na célula bacteriana, os níveis de cAMP
cirúrgica, como remoção são altos. O complexo CAP-cAMP liga-se ao DNA junto ao operador lac. A
da tireoide (síndrome do
carcinoma medular da
glicose é sempre preferida porque sofre glicólise e requer menos energia me-
tireóide), baço e cólon. tabólica que outros açúcares.
Na presença de glicose, todos os outros genes de metabolismo de açú-
cares são reprimidos, num processo chamado de repressão catabólica. Essa re-
pressão coletiva é resultado do controle positivo da célula em resposta à glicose.
Uma questão interessante na regulação eucariótica: se todo gene precisa
de reguladores específicos, a expressão dessas proteínas regulatórias também
necessitaria de outras proteínas regulatórias e assim por diante. Finalmente,
um número infinito de genes seria necessário para a expressão de poucos ge-
nes. Como isso é possível? A resposta é que, além da expressão constitutiva,
existe controle pelos sinais de dentro e fora da célula, que ajustam o programa
transcricional às necessidades fisiológicas da célula. Além disso, são usadas na
forma de combinações e afetando mutuamente a sua atividade. Uma grande
fração do genoma, cerca de 10%, codifica proteínas regulatórias.
Biologia Molecular 95
O processo de splicing
alternativo modificou a
noção do gene e levou
ao entendimento de que
um gene poderia produzir
múltiplas proteínas
diferentes a partir da
uma mesma sequência.
Nesse novo contexto, a
definição ficou resumida na
expressão conhecida de
“um gene, várias proteínas”,
que representava a noção
Figura 4 – (A) Filogenia do grupo craniata mostrando localizações filogenéticas com
de uma sequência de DNA
duplicações gênicas para o gene Hox. (B) Representação esquemática da família
que possui éxons como
Hox em vertebrados. segmentos independentes
Fonte: Lynch e Wagner (2009). e que esses éxons,
dependendo do contexto
Em humanos, aproximadamente 3% de todas as gestações humanas celular poderiam fazer
terminam no nascimento de uma criança com um problema genético. A criança, proteínas diferentes.
Lembre-se do éxon shuffling
nesses casos, é perfeitamente sadia, apresentando defeitos isolados como a ou embaralhamento de
fenda labial, problemas cardíacos ou defeito do tubo neural, os quais, apesar de éxons eucariótico.
natureza multifatorial, em boa parte, são corrigidos com relativa facilidade com
102 CECCATTO, V. M.
Texto complementar
Células tronco embrionárias
Linhagens de células tronco embrionárias (células ES - do inglês embryonic stem) são
células não diferenciadas, derivadas do botão embrionário de blastócistos, que têm
como característica principal pluripotência. Ou seja, quando reintroduzidas em um
blastocisto, as células ES possuem capacidade de retomar o desenvolvimento normal,
colonizando diferentes tecidos do embrião, incluída a linhagem germinativa. Somente
aquelas linhagens de células ES capazes de colonizar a linhagem germinativa de um
embrião são consideradas altamente pluripotentes.
Quando cultivadas em condições específicas, as células ES podem ser mantidas
em seu estado não diferenciado por múltiplas divisões celulares. Por outro lado, es-
sas células podem ser induzidas a iniciar um programa de diferenciação in vitro. Por
exemplo, quando cultivadas em suspensão, as células ES formam espontaneamente
agregados de células diferenciadas chamados “corpos embrióides” (Ebs “embryoid
bodies”), que simulam o desenvolvimento de um embrião pré-implantado. Através
de análises morfológicas, imuno-histoquímicas e moleculares, encontra-se uma gran-
de variedade de linhagens embrionárias dentro dos EBs – hematopoética, neuronal,
endotelial, cardíaca e muscular.
Essas propriedades das células ES levaram ao seu uso como modelo in vitro de de-
senvolvimento embrionário precoce. Nelas, podem ser estudados os mecanismos de di-
ferenciação celular, o processo de iniciação da inativação do cromossomo X, e os efeitos
de substâncias tóxicas e biologicamente ativas no desenvolvimento embrionário in vitro.
Modelos animais para doenças genéticas humanas: nos últimos anos, células ES
vêem sendo utilizadas para produzir camundongos transgênicos e modelos animais
de doenças genéticas humanas. Esses modelos animais são importantes ferramen-
tas para o estudo das patologias associadas com uma doença específica, além de
servirem como um sistema no qual podem ser testadas, novas terapias. O recente
desenvolvimento de técnicas de manipulação do genoma de camundongos faz do
camundongo transgênico o melhor sistema disponível para o estudo de doenças ge-
néticas humanas.
Fonte: adaptado de Kerkis et al. (2001).
Biologia Molecular 103
Síntese da Parte
A regulação gênica consiste na expressão do gene mediada por diversos e
variados mecanismos em organismos procarióticos e eucarióticos. O conhe-
cimento da expressão gênica é um pouco limitado em eucariotos porque cada
gene possui uma regulação específica. Proteínas regulatórias são essenciais
nesse processo e possuem domínios de ligação ao DNA. Sua ação é mais
intensa na iniciação da transcrição, através de interação com a RNA polimera-
se. Outros mecanismos incluem a regulação por RNA, entre outros.
Atividades de avaliação
1. Procure, em livros de embriologia e desenvolvimento, como ocorre a di-
ferenciação dos tecidos multicelulares. Faça um resumo.
2. A clonagem de animais de companhia, como cães e gatos, vêm se tor-
nando um bom negócio nos EUA e na Europa. Entretanto, como a epi-
genética pode “atrapalhar” a clonagem? Dica: lembre que a epigenética
depende do ambiente gênico.
3. Pesquise doenças genéticas que ocorrem devido a alterações na ex-
pressão do gene, por exemplo, a talassemia.
4. Procure em livros os domínios e motivos de ligação ao DNA.
5. Procure resumir como o câncer é afetado pelas alterações na regulação
normal dos genes.
6. Procure o significado de “microarrays” ou “microarranjos” e como eles
podem ser usados para análise de expressão de genes.
104 CECCATTO, V. M.
Leituras
• DAWKINS, R. O gene egoísta. 1. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 2001.
230 p.
• SAGAN, C. Variedades da experiência científica. 1. ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 2008. 304 p.
Filmes
• A guerra do fogo (Dir. Jean-Jacques Annaud, 1981) - evolução hu-
mana.
• O curandeiro da selva (Dir. John McTierman, EUA, 1992) - farmaco-
logia e meio ambiente.
• A ilha (Dir. Michael Bay, EUA, 2005) - clonagem humana.
• Quanto vale ou é por quilo? (Dir. Sérgio Bianchi, 2005) - sociologia e
miséria social.
• Escola da vida (Dir. William Dear, 2005) - educação e biologia.
• O tráfico humano (Dir. Christian Duguay, 2005) – sociologia e denúncia.
Sites
Bases de dados públicas
• http://www.sciencenet.com.br
• http://www.isiknowledge.com
• http://www.scielo.br
• http://www.dominiopublico.gov.br
• http://www.prossiga.br/basesdedados
Referências
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Sunderland: Sinauer Associates, 2009. 771 p.
GRIFFITHS, A. J. F.; MILLER, J. H.; SUZUKI, D. T.; LEWONTIN, R. C.; GEL-
BART, W. M. An introduction to genetic analysis. New York: W. H. Freeman
and Company, 1996. 915 p.
KERKIS, A.; SOUKOIAN, M.; KERKIS, I.; MERKEL, C.; MELLO, M. R. B.;
PEREIRA, L. V. Células tronco embrionárias. Biotecnologia Ciência & De-
senvolvimento, Brasília, n. 20, p. 20-25, 2001.
LYNCH V. J.; WAGNER, G. P. Multiple chromosomal rearrangements structu-
red the ancestral vertebrate hox-bearing protochromosomes. PLoS Genetics,
Detroit, v. 5, n. 1, p. 1-11, 2009.
PIERCE, B. Genética: um enfoque conceitual. 1. ed. Editora Guanabara Koo-
gan: Rio de Janeiro, 2004. 788 p.
Parte 5
DNA recombinante
Capítulo 10
Considerações iniciais e
histórico
A reação da PCR foi desenvolvida por Kary Mullis, em 1983, nos Estados
Unidos. Alguns trabalhos pioneiros foram feitos em 1971, por Gobind Khorana,
que descreveu o princípio básico de replicar um DNA usando dois primers.
No processo original de Mullis, o DNA dupla fita foi separado em duas fitas
simples pelo aquecimento a 96°C. Nessa temperatura, no entanto, a DNA poli-
merase obtida de E. coli foi destruída, de forma que, a cada novo ciclo, o pes-
quisador deveria reabastecer a reação de enzima, tornando o processo muito
ineficiente. Esse problema só foi resolvido cerca de dez anos mais tarde, com
o uso da Taq DNA polimerase. O registro inicial dessa enzima, purificada da
bactéria Thermus aquaticus, obtida em fontes termais, foi publicada em 1976.
112 CECCATTO, V. M.
Eletroforese é o movimento
1. Técnicas associadas: eletroforese e enzimas de restrição de moléculas carregadas
em um campo elétrico.
Imagine uma fita de DNA cortada em vários pedaços. Como seria possível É um método importante
visualizá-los? A eletroforese pode ser uma solução adequada, a princípio. para separação de
moléculas biológicas
Com ela, o DNA migra através de uma rede de polímeros de polissacarídeos, porque, normalmente, não
puxado por uma corrente elétrica, em direção ao polo positivo. Ao caminhar, afeta a estrutura nativa
as fitas menores vão mais rápidas; as maiores, mais lentas, se enredam e de biopolímeros e devido
param mais rapidamente; as intermediárias se separam e, com o tempo, não ser altamente sensível a
pequenas diferenças em
conseguem mais caminhar, formando bandas. Cada banda contém várias fi- ambas as cargas e massa.
tas de DNA do mesmo tamanho, mas não significa que sejam iguais, apenas O meio ideal de apoio para
têm o mesmo peso. Para proteínas, a eletroforese segue o mesmo protocolo eletroforese é quimicamente
analítico. Depois de separados, é possível isolar as bandas, cortando-as do inerte, de fácil manuseio e
tem porosidade controlável.
gel, retirando-se o gel com lavagens e centrifugação e usar a sequência. Embora o papel seja o
Para acompanhar a corrida eletroforética, sempre se utiliza um marca- suporte escolhido para
dor de peso molecular. No caso do DNA, utiliza-se uma coleção de pedaços algumas aplicações, como
aminoácidos e pequenos
de ácidos nucleicos com peso molecular conhecido. Eles se distribuem e per- peptídeos, há limitações
mitem visualizar, por comparação do perfil eletroforético da amostra, o seu porque a porosidade
peso molecular. Na verdade não se considera como “peso molecular”, mas não pode ser controlada.
sim massa molecular relativa. Outra vantagem é que o uso do marcador de Géis com porosidade
controlável ou variável são
peso permite verificar se a corrida foi adequada ou não. ideais para separação de
O DNA não é corável, ou marcado, com os mesmos corantes que se uti- componentes de alto peso
lizam para a proteína. As bandas no gel de agarose são invisíveis. Para vê-las é molecular (proteínas e ácidos
nucléicos), porque eles
possível usar vários tipos de marcação, como isótopos radioativos para marcar o permitem fácil movimentação
DNA, como o 32P (Figura 2). O fósforo incorpora-se ao DNA e emite uma partícula de macromoléculas enquanto
beta que é detectável, usando filmes fotográficos (autorradiografia). Entretanto, é previnem convecção e
mais simples usar agentes intercalantes, como o brometo de etídio. Essa substân- minimizam difusão.
cia é um fluoróforo que absorve a cerca de 300 nm e libera a energia a 590 nm, na
cor laranja ou amarela, tornando as bandas de DNA visíveis num transiluminador.
114 CECCATTO, V. M.
As enzimas de restrição
são proteínas importantes
para o trabalho molecular,
especialmente aquelas
que formam pontas
adesivas (ou extremidades
coesivas). Os segmentos
onde elas cortam, ou
sítios de restrição, formam
geralmente um palíndromo
de DNA, como o reflexo num
espelho. Para a formação
do DNA recombinante,
ocorre, então, a hibridização
entre as fitas simples. Na
natureza, essas enzimas
são encontradas ocorrendo
naturalmente em diversos
procariotos. Como todas as
enzimas, existem em poucas
cópias, tornando difícil seu
isolamento no laboratório.
A maioria das enzimas são
produzidas em laboratórios
farmacêuticos que produzem
reagentes para pesquisa,
utilizando, por exemplo,
expressão da proteína de
interesse por sistemas
heterólogos. O site mais
bem estruturado, contendo
milhares de enzimas de
restrição é o REBASE
(Restriction Enzymes
Base), um repositório de
Figura 2 - Digestão de uma sequência de DNA com EcoRI e visualização da corrida dados exclusivo sobre
eletroforética. enzimas de restrição,
contendo ferramentas o
Fonte: Cooper e Hausman (2009).
reconhecimento de sítios
de restrição em sequências
1.1 Primeira aplicação da técnica: mapas de restrição ou RFLPs de nucleotídeos. Apresenta
também sua correspondente
Uma proposta muito utilizada que utiliza tanto a eletroforese quanto as enzi- enzima comercialmente
disponível (veja em http://
mas de restrição é a produção de mapas de restrição. Também conhecido
rebase.neb.com/rebase/
como RFLP ou Restriction Fragment Lenght Polymorphism ou polimorfismo rebase.html).ttv
de tamanho de fragmento de restrição. O princípio é relativamente simples.
Para entendê-lo, vamos imaginar uma atividade. Cinco ou seis alunos rece-
bem, cada um, uma fita de papel, todas quase do mesmo tamanho. Cada
um deles faz pedaços da tira, em quantidades e tamanhos que quiser. Para
116 CECCATTO, V. M.
analisar, cada aluno precisa fazer, numa superfície plana, como uma mesa,
a organização dos pedaços em ordem crescente de tamanho, de forma que
seja possível comparar todos os conjuntos ao mesmo tempo. Verifica-se de
forma um pouco grosseira, dois a dois, quais alunos formaram conjuntos mais
parecidos. Talvez seja até possível, numericamente, numa matriz, organizar
quais grupos são mais parecidos entre si e com outros grupos.
Da mesma forma, o DNA de várias espécies pode ser cortado por en-
zimas de restrição, formando um perfil eletroforético singular para aquela es-
pécie, este pode ser comparado com outros perfis e proporcionar uma com-
paração evolutiva, na qual os organismos podem ser analisados através do
polimorfismo dos fragmentos cortados por enzimas de restrição.
Esse tipo de trabalho é muito adequado para genomas pequenos ou
para produtos gerados por PCR (um único fragmento em muitas cópias).
Especialmente na microbiologia, variantes bacterianas são determinadas
por métodos fenotípicos. O polimorfismo apresentado por moléculas infor-
macionais, como proteínas e ácidos nucleicos, é utilizado como discrimina-
dor entre variantes biológicas. Nesses métodos, bactérias são submetidas
a testes morfológicos e bioquímicos, de sensibilidade a fagos e a bacterioci-
nas, perfis imunológicos (gerando sorotipos) e perfis de susceptibilidade a
agentes antimicrobianos. Esses testes são muito úteis até certo ponto, pois
conseguem determinar gênero e espécie. Entretanto, não são aplicáveis
para discriminar subespécie (estirpes e variantes). Como estão ligados ao
fenótipo, e não ao genótipo, os resultados obtidos por esses métodos depen-
dem fortemente das condições ambientais e são aplicáveis na tipagem de
apenas algumas espécies.
O genótipo não é alterado em função das alterações ambientais e fisio-
lógicas, por isso são muito usados no estudo da diversidade microbiológica,
produzindo genotipos para diferenciar de sorotipos diferentes. Organismos
geneticamente relacionados partilham características genéticas, bioquímicas
e, muitas vezes, fatores de virulência. Para a microbiologia clínica e na epide-
miologia, a genotipagem torna-se crítica, pois é possível rastrear a origem e a
disseminação de uma estirpe que se tornou causadora de um surto infeccioso
episódico, ou seja, é possível saber onde se iniciou uma contaminação.
Estringência: conjunto de
híbridas podem se formar com DNA-DNA, DNA-RNA (os primers adicionados condições que interfere
na associação das fitas
durante a replicação) e RNA-RNA. O processo de hibridização é a restaura- de ácidos nucléicos.
ção das pontes de hidrogênio entre os pares de base. A hibridização será mais Alguns fatores, como as
estável quanto maior for a complementaridade de bases entre as duas fitas. concentrações de sais e da
Uma fita simples de DNA de pouco mais de 17 a 20 nucleotídeos poderia ser sonda e a temperatura de
hibridização, influenciam
usada para localizar uma determinada sequência, por exemplo, num gel de significativamente nas
agarose, após a corrida. Evidentemente, ela necessita ser marcada com uma condições de estringência.
substância radioativa ou um fluoróforo para que seja possível sua localização. A alta estabilidade térmica
Essa pequena fita simples, marcada, é chamada de sonda molecular, ou pro- encontrada nos híbridos RNA-
RNA em relação aos híbridos
be (em inglês). DNA-RNA e DNA-DNA
Um pequeno problema ocorre nesse ponto: como pode a sonda de nu- favorece condições de alta
cleotídeos hibridizar, se os pedaços de DNA estão imersos e inacessíveis no estringência, e isso aumenta
a especificidade da reação,
polímero do gel de eletroforese? A resposta é a técnica é conhecida como ou seja, a probabilidade de a
Southern Blot. A palavra blot tem o significado de transferência, por isso, signi- sonda hibridizar apenas com o
fica transferência de Southern, conforme podemos ver no passo a passo abaixo: RNA-alvo.
1. Endonucleases de restrição são usadas para o corte de DNA de alto Epítopo: definido como
peso molecular em fragmentos menores. parte de uma molécula,
2. Os fragmentos passam por eletroforese em gel de agarose, onde são especialmente relevos de
superfície tridimensional, que
separados e formam bandas. é reconhecido, encaixando-se
3. Uma membrana de nitrocelulose é colocada sobre o gel ou abaixo, de- com precisão pelas células do
pendendo da direção da transferência. sistema imunológico, como
os anticorpos, as células B
4. Através de eletroporação (atração das moléculas de DNA por corrente ou as células T. Estes não
elétrica) ou por ação capilar (água ou solução alcalina), o DNA é transfe- precisam ser necessariamente
rido do gel para a membrana. Note que o padrão eletroforético de bandas exógenos, mas do próprio
corpo. A parte de um anticorpo
não é perdido no processo.
que reconhece o epítopo se
5. A membrana é seca em vácuo ou exposta à luz ultravioleta para fixar o chama paratopo.
DNA à membrana. Sorotipos: a definição
formal mostra que são
6. A membrana é exposta à sonda, que, então, se hibridiza ao DNA. Para microorganismos diferentes
evitar ligações não específicas, utilizam-se previamente reagentes blo- no tipo de antígenos de
queadores. superfície, ou o tipo de
microorganismo, determinado
7. Após a exposição, a membrana é lavada e procede-se à revelação, de- pela sua componente de
pendendo do tipo de marcação que a sonda carrega. Faz-se a autor- antígenos baseado em uma
radiografia (no caso de isótopos), revelação (fluoróforos ou substâncias de várias reações diferentes
antígeno-anticorpo, ou uma
cromogênicas).
subdivisão taxonômica. Por
8. O resultado é uma membrana contendo uma ou mais bandas marcadas, exemplo: existem quatro
as quais correspondem à sequência procurada. Pode-se voltar ao gel, sorotipos de vírus da dengue,
e cada um desses sorotipos é
recortar a banda correspondente e proceder a outras técnicas.
associado a uma variedade de
manifestações clínicas.
118 CECCATTO, V. M.
Variantes biológicas: 9. A temperatura de hibridização é muito importante, pois é muito fácil obter
são características mais
complexas ou mais simples,
falsos positivos. Aumentando a temperatura, ou a estringência, somente
que podem definir ou as hélices hibridizadas mais estáveis permanecerão.
compor a estrutura de um 10. Apesar de serem rotineiros em muitos laboratórios, os blots são geralmente
organismo, definindo-o
como uma nova variação
usados apenas para complementar ou confirmar resultados obtidos em ou-
em relação à outra. Portanto, tras técnicas. A ocorrência de falsos positivos, a difícil reprodutibilidade dos
os organismos mutantes perfis, os custos e as dificuldade no manuseio, o que demanda mão de obra
apresentam uma variação experiente, contribuem para isso. Apesar desses fatores, a hibridização com
(definida pelo observador)
em relação a um organismo
sondas, quando bem executada, é definitiva em diagnósticos de doenças
ancestral ou a seu tipo genéticas, devido à alta seletividade das sondas.
selvagem ou wild type. O método de Southern blot é referência ao pesquisador Edwin Southern,
As diferenças biológicas
biólogo britânico, que o desenvolveu em 1975. Como homenagem e brinca-
entre os seres humanos,
variações maiores ou deira com o biólogo, apareceram posteriormente protocolos derivativos dessa
menores entre genes, pode técnica, como o Western blot (usado para localizar proteínas específicas no gel
apresentar fenótipos que de eletroforese, com anticorpos), Northern blot (usado para RNA), Eastern blot
dão às pessoas as cores de
cabelo diferentes, tornam os
(para modificações pós-traducionais), Southwestern blot (para proteínas que se
indivíduos mais propensos a ligam ao DNA). Para o Eastern blot, múltiplas técnicas reivindicam esse nome.
certas doenças e determinar São usados para lipídeos, proteínas, glicoconjugados e epítopos de carboi-
como as pessoas reagem a dratos. Coletivamente, são modificações pós-traducionais. As proteínas trans-
medicamentos, na maioria
dos casos, como resultado
feridas são analisadas para as modificações pós-traducionais, pela detecção
de fatores hereditários e de lipídeos, carboidratos, fosforilação ou qualquer outra modificação proteica.
influência dos recursos Todos eles usam os mesmos princípios similares, utilizam uma membrana de
naturais e também dos nitrocelulose (nylon ou outro material) para receber a amostra vinda de uma
ambientes sociais. Há
grande diversidade
eletroforese, sem, contudo, perder o padrão eletroforético. O próximo passo é a
genética dentro de todas hibridização com uma sonda. Para proteínas, essa sonda é, na verdade, um an-
as populações humanas. ticorpo, produzido especificamente para localizar o antígeno. Em outros casos,
Infelizmente, muitas vezes pode ser utilizado um reagente, como cromogênios, fluoróforos, etc.
explicações biológicas
podem ser usadas para
sustentar relações racistas
entre "raça", a biologia e a
doença. Um outro exemplo
na área molecular: citocinas
(proteínas imunológicas
envolvidas em doenças
inflamatórias como a IL-6 e
TNF-alfa) aparecem com
grande variação, mesmo
em indivíduos saudáveis,
mas também são afetadas
por parâmetros como idade, Figura 3 - Técnica de transferência de Southern ou Southern blot. A mistura de
sexo, tabagismo etc. fragmentos de restrição é hibridizada (após a transferência do gel para membrana de hibri-
dização) com uma sonda específica e lida como positivo ou negativo para a hibridização.
Fonte: Lodish et al. (1999).t
Capítulo 12 YAC, BAC e MAC - Yeast
artificial chromosome (YACs)
ou cromossomo artificial de
levedura. Cada YAC inclui os
três elementos essenciais de
Plasmídios: um cromossomo: telômeros,
centrômeros e origem de
vilões e heróis
replicação. Os YACs podem
ser transferidos para células
de camundongo. BACs e
MACs são os equivalentes
para cromossomos artificiais
de bactéria e de mamíferos,
Os plasmídeos bacterianos são elementos extracromossômicos bem conhe- respectivamente. Veja as
Figuras 4, 5 e 6.
cidos (ver Unidade 3). A conjugação bacteriana envolve a transferência de
Fago λ (lambda) –
plasmídeos entre duas bactérias. São moléculas muito pequenas de dupla fita bacteriófago lambda, o
de DNA, circulares, contendo poucos genes. Possuem origem de replicação qual infecta E. coli. No
e, com isso são replicados junto com a bactéria, porém, independentemente genoma do fago, genes não
essenciais são retirados.
do cromossomo bacteriano. Genes que são carregados por plasmídios geral-
Ao serem retirados, deixam
mente estão envolvidos com a resistência a antibióticos. Espalhando rapida- pontas curtas não coesivas
mente essa resistência, quando estão sob pressão seletiva para esse fator am- que servem para receber
biental, os plasmídeos são chamados de “vilões nosocomiais”. Obviamente, o novo inserto de DNA. O
cromossomo lambda possui
o ser humano é que é culpado da resistência bacteriana, especialmente pelo
pontas curtas unifilamentares
uso indiscriminado e incorreto dos antibióticos. chamadas sítios cos que
Graças a essas características, o plasmídeo foi eleito como ferramenta são necessárias para
biogenética pelos biólogos moleculares. Os plasmídeos, na Engenharia embalar o DNA completo
na cabeça do fago. Assim,
Genética, são chamados de vetores plasmidiais, e comumente são usados são empacotados em capas
para multiplicar ou expressar genes particulares. Para isso, estão disponíveis proteicas e adicionados à
comercialmente, específicos para esses usos. Os sítios de restrição são ca- E. coli. Os fagos injetam seu
racterísticas do vetor, disponibilizados nos plasmídeos pelos próprios fabrican- DNA na célula hospedeira
em que poderá ser replicado.
tes. Inicialmente o plasmídio é cortado com uma enzima de restrição (em um Interessante é que o DNA
sítio de restrição equivalente). O gene a ser inserido é também cortado com a não será empacotado em
mesma enzima de restrição, produzindo em ambos extremidades coesivas e uma capa de fago lambda a
complementares, que permitem que se unam e formem uma molécula só, menos que tenha o tamanho
adequado (40 a 50 Kb).
ainda circular. O gene a ser replicado pode ser qualquer sequência, de qual- Apenas os fragmentos de
quer ser vivo. O plasmídeo recombinante é, então, inserido e naturalmente tamanho certo contendo
absorvido pela bactéria, ocorrendo transformação bacteriana. O processo de os genes essenciais para
transformar bactérias através de um vetor é chamado clonagem molecular. o empacotamento serão
embalados nas capas dos
Cuidado, porque esse processo não tem nenhuma ligação com a clonagem fagos e, assim, compõem
gênica (como o caso da ovelha Dolly) e também não é relacionado ao proces- um sistema “natural” de
so natural de conjugação que ocorre em bactérias. Não existe interesse em seleção dos recombinantes.
transformar as bactérias em si, buscando, por exemplo, transformar bactérias
patogênicas em não patogênicas. Não pense que as bactérias e os plasmíde-
120 CECCATTO, V. M.
os são usados como reagentes biológicos com o objetivo de replicar (ou ex-
pressar) o gene de interesse, sendo possível mantê-lo indefinidamente, dispo-
nível para os trabalhos.
Figura 4 - Estrutura do cromosso-
mo artificial de bactérias – BAC –
apresentando os genes e os locais
de inserção do gene de interesse
(nos sítios de restrição). CMR -
gene marcador para a resistência
ao antibiótico cloranfenicol. orisS,
repE, parA e parB são genes F
para replicação e regulam o nú-
mero de cópias. cosN é o sítio cos
do fago lambda (veja o glossário).
HindIII e BamHI são sítios de res-
trição nos quais é possível inserir
o gene de interesse. Existem dois
promotores: T7 e Sp6. Dois sí-
tios NotI são usados para retirar
posteriormente os fragmentos.
Fonte: Griffiths et al. (1996).
11. Inicialmente um primer de oligo dT liga-se à cauda poli A, possibilitando Eletroporação: a célula
que uma polimerase adicione nucleotídeos. No caso essa polimerase é passa por um pulso breve
de alta voltagem, o que a
a transcriptase reversa, capaz de usar um molde de RNAm para criar torna transitoriamente mais
uma fita híbrida RNAm/DNA. permeável à moléculas de
12. O RNAm é degradado com uma solução alcalina; deixa-se uma parte DNA no meio extracelular,
aumentando a frequência de
final que se autocomplementa, resultando num terminal em alça. células competentes.
13. A DNA polimerase finaliza produzindo uma fita nova DNA/DNA. Microinjeção de DNA:
uso de uma agulha muito
14. A alça é degradada com uma nuclease. fina, com a qual um hábil
15. O resultado é uma cópia de cDNA complementar ao mRNA inicial. manipulador injeta DNA
nas células uma a uma.
16. Quando todos os fragmentos estiverem complementados, entra em ação
O método é muito eficaz,
a clonagem, produzindo uma biblioteca com os fragmentos. porém trabalhoso e rende
17. A biblioteca pode ser sequenciada, apresentando uma coleção de se- poucas células competentes
por vez.
quências expressas do DNA naquele tecido.
Vetores virais: vírus
introduzem seu material
genético nas células.
2. Segunda aplicação: transgenia Um retrovírus introduz
A introdução de DNA exógeno via vetor de clonagem ou expressão, numa seu RNA nas células
hospedeiras, onde a sua
célula eucariótica animal ou vegetal é o primeiro passo para a produção de própria transcriptase reversa
animais e plantas transgênicos (Figura 7). O organismo transgênico é um or- converte seu RNA em DNA
ganismo permanentemente alterado geneticamente através de tecnologia do e então este é integrado
DNA recombinante. Entretanto, não é tão simples assim obter a inserção defi- aos cromossomos do
hospedeiro. Na técnica,
nitiva de um gene em um cromossomo da célula hospedeira. É desejável que genes virais são trocados por
esse gene esteja presente nas células filhas. Portanto, o início da produção DNA de interesse. O método
de um transgênico envolve a inserção do gene de interesse no vetor, poste- possui alta infetividade, e é
riormente, a transfecção do gene na célula, a seleção da célula recombinan- mais trabalhoso.
Terapia gênica: terapia pela
te através de genes de seleção ou genes marcadores ou repórter. O gene qual se busca a expressão
inserido deve, então, ser transcrito, traduzido pelos ribossomos e por outras de genes induzida em seres
partículas, produzindo uma proteína perfeita, no tecido certo e no tempo certo humanos ou em animais de
do desenvolvimento do organismo para que possa ser útil ao metabolismo. experimentação. Busca-se
a introdução eficiente de
A célula transfectada deve produzir um organismo completo, transgênico e, DNA num número suficiente
sabemos, quase sempre isso não é possível. de células somáticas (é
proibido o uso de células
germinativas), fazendo com
que estas expressem uma
proteína. Esta pode ser
uma proteína em déficit no
organismo ou que possa
atacar células cancerosas.
124 CECCATTO, V. M.
Plantas são mais hábeis para transgenia, pois de qualquer célula ve-
getal, em tese, podemos produzir um organismo completo (chamada totipo-
tência vegetal). O mesmo benefício não se pode fazer o mesmo com célula
animal. As células animais são pluripotentes, de uma célula embrionária. Em
tese, seria possível derivar qualquer tecido (veja a polêmica do uso de células-
Biologia Molecular 125
Paleogenética: relação
entre paleontologia e
genética para estudo de
múmias, fósseis, roupas, Figura 8 - Amplificação por PCR - A região do DNA a ser amplificada é flanqueada por duas
materiais preservados
sequências usadas para o início da síntese. A dupla fita é separada nas duas fitas simples
antigos, ovos fossilizados,
pelo calor. Os primers se ligam (oligonucleotídeos de 15 a 20 bases) de cada lado da se-
coprólitos etc. Utiliza
sequências marcadoras quência alvo. A DNA polimerase de Thermus aquaticus (Taq polimerase) é usada para
nucleares e mitocondriais e sintetizar novo DNA a partir dos primers, formando duas novas moléculas. O processo pode
primers degenerados para ser repetido inúmeras vezes, resultando na replicação controlada da sequência alvo.
estudos genéticos. Fonte: Cooper e Hausman (2009).
Biologia Molecular 127
CTNBio
Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança
Textos complementares foi criada através da
lei nº 11.105, de 24 de
A Lei de Biosegurança - Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005. março de 2005 e tem
a finalidade é prestar
“Art. 3o Para os efeitos desta Lei, considera-se: apoio técnico consultivo
I – organismo: toda entidade biológica capaz de reproduzir ou transferir material e assessoramento ao
genético, inclusive vírus e outras classes que venham a ser conhecidas; Governo Federal na
II – ácido desoxirribonucléico - ADN, ácido ribonucléico - ARN: material genético formulação, atualização e
que contém informações determinantes dos caracteres hereditários transmissíveis implementação da Política
à descendência; Nacional de Biossegurança
III – moléculas de ADN/ARN recombinante: as moléculas manipuladas fora das cé- relativa a OGM, bem
lulas vivas mediante a modificação de segmentos de ADN/ARN natural ou sintético como no estabelecimento
e que possam multiplicar-se em uma célula viva, ou ainda as moléculas de ADN/ de normas técnicas de
ARN resultantes dessa multiplicação; consideram-se também os segmentos de segurança e pareceres
ADN/ARN sintéticos equivalentes aos de ADN/ARN natural; técnicos referentes
IV – engenharia genética: atividade de produção e manipulação de moléculas de à proteção da saúde
ADN/ARN recombinante; humana, dos organismos
V – organismo geneticamente modificado - OGM: organismo cujo material genéti- vivos e do meio ambiente,
co – ADN/ARN tenha sido modificado por qualquer técnica de engenharia genética; para atividades que
VI – derivado de OGM: produto obtido de OGM e que não possua capacidade au- envolvam a construção,
tônoma de replicação ou que não contenha forma viável de OGM; experimentação, cultivo,
VII – célula germinal humana: célula-mãe responsável pela formação de gametas manipulação, transporte,
presentes nas glândulas sexuais femininas e masculinas e suas descendentes dire- comercialização, consumo,
tas em qualquer grau de ploidia; armazenamento, liberação
VIII – clonagem: processo de reprodução assexuada, produzida artificialmente, ba- e descarte de OGM e
seada em um único patrimônio genético, com ou sem utilização de técnicas de derivados. Fonte: http://
engenharia genética; www.ctnbio.gov.br/
IX – clonagem para fins reprodutivos: clonagem com a finalidade de obtenção de
um indivíduo;
X – clonagem terapêutica: clonagem com a finalidade de produção de células-tron-
co embrionárias para utilização terapêutica;
XI – células-tronco embrionárias: células de embrião que apresentam a capacidade
de se transformar em células de qualquer tecido de um organismo.
§ 1o Não se inclui na categoria de OGM o resultante de técnicas que impliquem
a introdução direta, num organismo, de material hereditário, desde que não en-
volvam a utilização de moléculas de ADN/ARN recombinante ou OGM, inclusive
fecundação in vitro, conjugação, transdução, transformação, indução poliplóide e
qualquer outro processo natural.
§ 2o Não se inclui na categoria de derivado de OGM a substância pura, quimi-
camente definida, obtida por meio de processos biológicos e que não contenha
OGM, proteína heteróloga ou ADN recombinante.
Art. 4o Esta Lei não se aplica quando a modificação genética for obtida por meio
das seguintes técnicas, desde que não impliquem a utilização de OGM como re-
ceptor ou doador:
I – mutagênese;
II – formação e utilização de células somáticas de hibridoma animal;
III – fusão celular, inclusive a de protoplasma, de células vegetais, que possa ser
produzida mediante métodos tradicionais de cultivo;
132 CECCATTO, V. M.
Síntese da Parte
O DNA recombinante é feito com o uso de enzimas de restrição. Essas en-
zimas cortam o DNA em locais específicos. A transformação de bactérias,
animais e plantas é possível com o uso das enzimas de restrição e de vetores
que fazem a ponte entre o inserto e o organismo a ser transformado ou trans-
134 CECCATTO, V. M.
Atividades de avaliação
1. Procure, leia e comente a lei de patentes e a Lei de Biosegurança. O que
elas determinam e o que têm em comum?
2. Por que os cruzamentos comuns efetuados com variedades de plantas
e animais não são considerados DNA recombinante? As raças animais
e as variedades comuns de plantas (especialmente de importância eco-
nômica, como milho, feijão, arroz) que são lançadas pelas empresas
agropecuárias ou institutos agrários têm que passar pelas avaliações do
CTNBio e pelas questões da Lei de Biosegurança? Avalie.
Arg (Arginina); Asn (Asparagina); Trp (Triptofano); Tre (Treonina); Ala (Alanina); Gli
(Glicina); Met (Metionina); Val (Valina); Leu (Leucina); Tir (Tirosina).
Leitura
• ANDRADE, A.; PINTO, S. C.; OLIVEIRA, R. S. (Orgs.) Animais de
laboratório: criação e experimentação. 1. ed. Rio de Janeiro: FIO-
CRUZ, 2002. 388 p.
• CUMMINGS, K. Concepts of genetics. Prentice Hall: New Jersey,
1997. 703 p.
• DUPAS, G. Ética e poder na sociedade da informação. 2. ed. São
Paulo: Unesp, 2004. 135 p.
• GRIFFITHS, A. J.F.; MILLER, J. H.; SUZUKI, D. T.; LEWONTIN, R.
C.; GELBART, W. M. An introduction to genetic analysis. W.H.
New York: Freeman and Company, 1996. 915 p.
• ROTHWELL, N. V. Understanding genetics: a molecular approach.
New York: Wiley-Liss, 1993. 656 p.
Sites
• Livros disponíveis na web (on-line): Bookshelf no site Entrez PubMed
(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/PubMed/):
Introduction to genetic analysis. 7th ed. Griffiths, Anthony J.F.; Gel-
bart, William M.; Miller, Jeffrey H.; Lewontin, Richard C. New York: W
H Freeman & Co; c1999.
Modern genetic analysis. Griffiths, Anthony J.F.; Gelbart, William M.;
Miller, Jeffrey H.; Lewontin, Richard C. New York: W H Freeman &
Co; c1999.
Developmental biology. 6th ed. Gilbert, Scott F. Sunderland, Massa-
chusetts: Sinauer Associates, Inc.; c2000. ISBN 0 87893 243 7.
Cursos de Genética
• a) Primer on Molecular Genetics (http://www.ornl.gov/sci/techre-
sources/Human_Genome/publicat/primer/toc.html)
• b) Intermediate Genetics (http://www.ndsu.nodak.edu/instruct/
mcclean/plsc431/)
• c) Plant Molecular Genetics (http://www.ndsu.nodak.edu/instruct/
mcclean/plsc731/index.htm)
Biologia Molecular 137
Referências
BARBOSA, A. S.; LIN, C, J. Alternativamente ao knock-out de genes em ex-
perimentos de genética reversa, podem ser adotadas estratégias que impe-
çam a tradução do RNA mensageiro (mRNA). Arquivos Brasileiros de En-
docrinologia & Metabologia, São Paulo, v. 48, n. 5, 2004.
COOPER, G. M.; HAUSMAN, R. E. The cell: a molecular approach. 5. ed.
Sunderland: Sinauer Associates, 2009. 771 p.
GRIFFITHS, A. J. F.; GELBART, W. M.; MILLER, J. H.; LEWONTIN, R. C. Mo-
dern genetic analysis. New York: W. H. Freeman and Company, 1999. 589 p.
138 CECCATTO, V. M.
Sobre a autora
Vânia Marilande Ceccatto: é bióloga, licenciada e bacharelada pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, a UNESP. Fez Mestrado em Ciências
pela Universidade de São Paulo – USP e Doutorado em Bioquímica pela
Universidade Federal do Ceará. É professora de Biologia Molecular desde 1998
na Universidade Estadual do Ceará. Está ligada ao Mestrado Acadêmico em
Ciências Fisiológicas, também da UECE.
A não ser que indicado ao contrário a obra Biologia Molecular, disponível em: http://educapes.capes.gov.br, está
licenciada com uma licença Creative Commons Atribuição-Compartilha Igual 4.0 Internacional (CC BY-SA
4.0). Mais informações em: <http://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0/deed.pt_BR. Qualquer parte ou a
totalidade do conteúdo desta publicação pode ser reproduzida ou compartilhada. Obra sem fins lucrativos e com
distribuição gratuita. O conteúdo do livro publicado é de inteira responsabilidade de seus autores, não representan-
do a posição oficial da EdUECE.
Ciências Biológicas
F
iel a sua missão de interiorizar o ensino superior no estado Ceará, a UECE,
como uma instituição que participa do Sistema Universidade Aberta do
Brasil, vem ampliando a oferta de cursos de graduação e pós-graduação
na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili-
dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorren-
tes da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e
massificação dos computadores pessoais.
Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e
a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado,
os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade
estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede-
ral e se articulam com as demandas de desenvolvi-
mento das regiões do Ceará.