MINERAÇÃO DA LUA
CONTEÚDO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3
2. GEOLOGIA ............................................................................................................. 4
3. RECURSOS LUNARES ..........................................................................................4
3.1. Elementos voláteis ....................................................................................... 5
3.2. Hélio-3 ............................................................................................................6
3.3. Água ...............................................................................................................7
3.4. Oxigênio ........................................................................................................ 8
3.5. Metais ............................................................................................................ 8
3.5.1. Ferro ..................................................................................................... 9
3.5.2. Titânio ...................................................................................................9
3.5.3. Alumínio ............................................................................................... 9
3.5.4. Sílica ................................................................................................... 10
4. USOS DOS RECURSOS LUNARES .................................................................... 10
5. LEGALIDADES .....................................................................................................11
6. REFERÊNCIAS .....................................................................................................13
É importante ressaltar que este trabalho é centrado principalmente no artigo
“Lunar Resources: A Review” de Ian A. Crawford, sendo boa parte desta matéria,
traduzido e adaptado como forma de facilitar a didática e disseminação entre
interessados, além do uso como texto base para diversos fins. Desta forma o autor
deste trabalho não toma crédito por nenhuma das informações aqui escritas e
recomenda que para as devidas citações em questões de importância, seja feita a
leitura do artigo original e das demais referências.
Grato.
1. INTRODUÇÃO
O histórico da mineração em si nos leva centenas de anos no passado,
geralmente na extração de metais brutos como prata, ouro e ferro, para confecção de
materiais de adorno, ferramentas diversas e até para uso como objeto de troca.
Após o período da revolução industrial a mineração recebeu aparelhos
mecânicos que deram um espírito industrial tanto nos processos de extração e
tratamento de bens minerais como na escala da mineração propriamente dita. Sem
discussões quanto à possíveis depleção de reservas e o caráter finito dos recursos
no planeta Terra como um todo.
Dentro desse cenário o início de processos extrativistas em objetos celestes
conquistou a imaginação de todos, em especial na Lua como corpo mais próximo da
Terra, de forma que sempre foi imaginado um fim adequado e até inevitável para o
avanço da espécie humana.
Em tempos modernos, com novas tecnologias de exploração e viagem espacial
demonstradas várias vezes através das diversas sondas e satélites enviadas por
todo o Sistema Solar, a volta à Lua não apenas para a visita mas para a instalação de
bases científicas e extrativistas nos surpreende não só pela sua factibilidade mas
pela proximidade.
Desta forma, a mineração na Lua pode ser dividida em três possíveis
raciocínios: como forma de permitir o prosseguimento da exploração, também
conhecida como In Situ Resource Utilisation (ISRU), expressão em inglês que
significa utilização de recursos locais; uso como forma de permitir o desenvolvimento
de exercícios científicos e econômicos como a fixação de base intermediária para
órbita terrestre baixa e viagens interplanetárias; e importação de recursos para
contribuição direta na economia da Terra (Crawford, 2015).
2. GEOLOGIA
A crosta lunar é composta de duas formações principais: as regiões de planalto
claros de composição majoritariamente anortosítica rica em plagioclásio Cálcico e
pobre em minerais ferro-magnesianos; e os escuros Mares lunares compostos de
fluxos basálticos dominados por minerais ricos em Magnésio, Ferro e Titânio, como
Piroxênio e Olivina.
Além das formações rochosas, a Lua é coberta por uma camada inconsolidada
de regolito com diversos metros de profundidade, dependendo do terreno, formado
pela intensa atividade meteórica. Este apesar de possuir uma consistência fina e
solta nas primeiras camadas, torna-se bem compactado conforme a profundidade.
3. RECURSOS LUNARES
Apesar de não ter atividades hidrotermais e biológicas, responsáveis pela
maioria da formação de recursos geológicos na Terra, a Lua como corpo rochoso
diferenciado faz com que processos atuantes como a cristalização fracionada pode
ter gerado diversos depósitos minerais concentrados e até acamadados.
Contudo, pela dificuldade de mapear substrato rochoso com precisão suficiente
para determinação de depósitos, de início os recursos mais destacados são aqueles
dispersos pelo próprio regolito, de maioria voláteis, ou até como subprodutos de
outras reações extrativistas. Vale notar que apesar de forte prospecto econômico
desses recursos, não serão mais lucrativos do que a retirada dos mesmos dentro do
planeta Terra, pelo menos de início, já que ainda não existe qualquer tipo de
infraestrutura para suportar uma atividade industrial na Lua. A mineração lunar
provavelmente será primeiramente feita como forma de experimentação científica e
somente após a instalação de tecnologias necessárias e suficientes é que o lucro
será justificativo.
Esses voláteis misturados no regolito não foram gerados da mesma forma que
são na Terra, de forma que a maioria é dada por intensa atividade solar, ou por
“armadilhas”, onde crateras permanentemente sombreadas, ou seja, com
desprezível ou nenhum contato com a luz solar, de forma que, expostos a
temperaturas baixíssimas, os elementos ficam como que presos congelados. Por fim
tem-se o bombardeamento de meteoritos que não só trazem elementos, como os
geram através das altas temperaturas e pressão inflingidas pelo impacto.
Vale notar que todos os elementos químicos da tabela periódicos serão
achados na lua em alguma concentração; o que torna viável sua extração, assim
como todas as coisas na economia, depende da demanda e do custo de extração.
Variáveis que mudarão radicalmente depois da formação de uma base permanente.
3.1. Elementos voláteis
Devido a falta de atmosfera considerável, a luz solar interage diretamente com
o solo. Outro fator são os ventos solares consistindo em enormes quantidades de
partículas, principalmente Hélio e Hidrogênio, que fixam-se ao solo e contribuem para
o regolito. Vale ressaltar que o melhor método de extração desses voláteis é através
do aquecimento das amostras a altas temperaturas (em média 720ºC) o que
representa uma dificuldade devido a falta de plantas energéticas na Lua
suficientemente efetivas para fornecer a energia necessária para a reação
necessária. Algumas ideias já foram propostas para contornar esse problema, sendo
a mais promissora delas o aquecimento pela concentração direta de raios solares,
catalisada pela falta de atmosfera e campo magnético, bem como a situação de
vácuo praticamente perfeito. Outros voláteis com demanda diversa encontrados em
solo lunar são Hélio, Hidrogênio, Carbono, Nitrogênio, Flúor e Cloro.
3.2. Hélio-3
Descrito como o elemento que fomentará a “corrida do ouro” no cenário de
mineração lunar, o Hélio-3 é previsto como combustível de reatores de fusão nuclear,
dada como a energia do futuro pela sua alta eficiência energética, por requerer um
praticamente nulo impacto ambiental e pela sua independência de fatores locais, ou
seja, sua viabilidade é a mesma, independente do lugar.
Contudo, essa narrativa infelizmente foi altamente exagerada, primeiramente
porquê a ideia de usina nuclear é prometida há anos e ainda não se tem uma
previsão de sua inauguração. Em segundo lugar a concentração deste elemento em
regolito lunar foi calculada em partes por milhão (15-30) e em alguns casos até partes
por bilhão, de forma que sua extração não é compensatória quando comparada com
o elemento Deutério, outro elemento proposto para a reação, que apesar de menos
eficaz na sua teórica geração de energia, é favorável pela sua abundância em águas
marinhas e seu relativamente baixo custo de extração.
3.3. Água
Dentro dos possíveis recursos a serem analisados, de início o mais importante
de se ter garantido é a água, pois apesar de não ter demanda econômica na Terra já
que qualquer método de extração de recursos hídricos neste planeta é várias ordens
de grandeza mais compensatório do que trazer o mesmo da Lua, o interesse local
seria inestimável. Dentro de um contexto de habitats humanos a água torna-se uma
necessidade, além de seu uso como combustível já que a separação dos átomos de
Hidrogênio e Oxigênio pode ser utilizada para juntos formarem combustão e
consequentemente propulsão
Felizmente análises recentes indicam que boa parte da Lua é hidratada, sendo
como hidroxila ou como molécula normal de H2O absorvida pelo solo. Os maiores
depósitos teorizados são encontrados em crateras nos polos, principalmente no polo
sul, pois, como já discutido, devido ao baixo grau de inclinação os polos possuem
crateras em sombra permanente que ficam em média a 100K (-173ºC) gerando um
ambiente perfeito para o aprisionamento de voláteis (Anand, 2010).
Apesar de que as dimensões e volume dos depósitos não serem conhecidos, a
presença de água foi registrada por sensoriamento remoto, onde uma das sondas
detectou um espalhamento de onda do radar em um comprimento de onda respectivo
à água.
Além das crateras polares, encontram-se também evidência de minerais
hidratados. Um raciocínio para a sua formação é a redução de óxidos de Ferro por
átomos de Hidrogênio trazidos por ventos solares. Estudos recentes indicam que
vidros vulcânicos de depósitos piroclásticos são hidratados, de forma que podem
conter até 1500ppm, ou seja, um metro cúbico deste solo processado geraria em
torno de 300ml de água (Crawford, 2015).
3.4. Oxigênio
Além da eletrólise de água, Oxigênio pode ser retirado de óxidos e minerais e
Sílica presente no regolito. O processo de extração mais comum é o dado pela
reação:
FeTiO3 + 2H → Fe + TiO2 + H2O
Para a reação ser feita é necessário o aumento de temperatura e uma fonte de
Hidrogênio que atua como agente redutor. De início pode ser produzido pelo regolito,
depois, como um dos produtos é água, uma simples eletrólise possibilitaria a
reciclagem do elemento. O motivo desta reação ser uma das mais promissoras é o
fato de que gera Ferro e Rutílo, que podem ter valor econômico, além da água
produzida, que seria ideal em um ambiente distante dos discutidos depósitos
hídricos.
3.5. Metais
É importante ressaltar que com algumas exceções como alguns elementos bem
raros, não é economicamente viável ir para a Lua procurar minérios para a Terra.
Contudo, o grupo dos metais serão de extrema importância para o desenvolvimento
da própria base na Lua e para uma consequente meia parada para o resto do
Sistema Solar.
3.5.1. Ferro
Apesar de sua relativa abundância, este elemento é mais encontrado em
minerais silicatos (Piroxênios e Olivina) e o mineral óxido Ilmenita. Uma outra fonte
de Ferro seria do mesmo disperso pelo regolito, de origem de meteoritos, denudação
de rochas da superfície e pela redução de óxidos ferrosos por ventos solares
A extração deste é teoricamente possível porém não tão compensatório dada a
baixa percentagem deste no solo e sua alta demanda energética, apesar de que é
um dos produtos da reação para obtenção de Oxigênio .
3.5.2. Titânio
Com o alta demanda especialmente para a engenharia aeroespacial, este
elemento possui maiores concentrações nas áreas de Mares com alto-Ti, do lado
mais perto da Lua, principalmente no mineral Ilmenita. O mais importante deste é que
este é um elemento litófilo o que significa que tem mais afinidade com fases
silicásticas e é mais presente em rochas do que ambientes metálicos. Isto somado ao
fato de que sua produção gera como subproduto Oxigênio faz com que a mineração
de Ti-O seja uma das maiores atrações económicas num cenário espaço industrial.
3.5.3. Alumínio
Bem como o Titânio, Alumínio é um elemento que terá seu polo extrativista
centrado na Lua já que é ordens de magnitude mais comum em regolito comparado a
asteroides. A extração em solo lunar vai requerer o rompimento de plagioclásio
anortosítico o que novamente será muito energeticamente intensivo apesar de que
alguns estudos mais recentes sugerem maneiras mais econômicas em questão de
energia.
3.5.4. Sílica
Por ser um elemento de grande abundância na maioria dos tipos de rochas,
a Sílica não é a primeira coisa que vem a mente quando se é avaliado a mineração
na Lua. Contudo, num contexto de economia espacial a demanda é ainda maior,
principalmente para painéis solares, e sua importação da Terra não é muito
compensatória. O problema que surge é o grau de pureza necessário para essa
tecnologia, o que talvez seja complicado de atingir em solo lunar; Alguns estudos
estão sugerindo promissores resultados.
4. USOS DOS RECURSOS LUNARES
Como já discursado anteriormente, o uso dos recursos lunares serão, pelo
menos de início, voltados principalmente para o uso local e para o desenvolvimento
de uma economia industrial espacial.
Primeiramente será preciso obter uma fonte fixa de água, tanto para
abastecimento humano como de foguetes com a divisão dos elementos e geração de
combustível. Outros voláteis como Nitrogênio e Carbono também serão importantes
no caso de iniciar agriculturas.
Uma área de alta probabilidade é a de instalações e reparos de satélites em
órbita terrestre. Já se pode notar que atualmente a dependência humana para os
diversos benefícios do uso de satélites é imensa. Contudo, este tipo de tecnologia é
caro e não pode ser trazida para reparos. Neste contexto, uma base lunar, cujo poço
gravitacional, ou seja, o custo tanto físico como financeiro é menor; onde satélites
podem ser construídos com recursos locais e enviados, da mesma forma que antigos
podem ser mais facilmente manuseado; teria uma demanda altíssima.
Por fim, a Lua poderia ser usada como uma fonte de energia. Como já discutido,
a extração de Hélio- 3 talvez não seja tão promissora como divulgado, porém, uma
alternativa viável seria a instalação de diversos painéis solares pela região equatorial
da Lua e seu envio para a Terra. (Crawford, Ian A.; 2014) calculou que a energia
retirada por painéis solares em 7 anos é a mesma que todo o Hélio-3 na lua e que, se
as conversões se manterem, a alternativa solar ganharia da fusão nuclear em apenas
1.4 anos.
5. LEGALIDADES
Uma das partes necessárias para o estabelecimento de uma base produtiva na
Lua seria o estabelecimento de parâmetros legais, que encorajariam as atividades
extrativistas enquanto que ao mesmo tempo impede que o espaço se torne motivo de
conflito internacional.
Atualmente as atividades em regiões espaciais são regidas por um punhado de
acordos assinados e tratados pela Nações Unidas, sendo a mais importante delas o
“Tratado dos princípios governando as atividades de exploração e uso do espaço
sideral, incluindo a Lua e outros corpos celestiais” de 1964, conhecido como o tratado
do Espaço Sideral, que foi assinado por 102 partes.
Dentre as outros princípios, o tratado estipula que o espaço deve ser
considerado província “de” e “para” toda a humanidade; que a Lua e outros corpos
celestes não podem ser apropriados por nenhum país, estado ou nação; e que leis
internacionais, incluindo códigos da própria Nação Unidas é valido no espaço.
No contexto atual, apesar de que nenhuma nação possa apropriar a Lua como
corpo celestial, nenhuma empresa investirá em minerações na Lua se não tiver
direito a pelo menos o extraído, o que intervém com o princípio de que os recursos
lunares devem ser para toda a humanidade.
Outras tentativas de tratados foram tentadas mas não juntaram apoio suficiente
para valer. Independente do acordo assumido, é imperativo que uma malha legal seja
estabelecida para garantir e proteger todo este contexto.
6. REFERÊNCIAS
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