ESPECIAL LEITURA & ESCRITA
O papel
das funções
executivas
Em um mundo que pede pessoas ágeis, resolutivas e
criativas, desenvolver esse conjunto de habilidades cognitivas
é essencial. Conhecê-las e compreender sua importância
é fundamental para criar estratégias para estimular,
em nossas crianças, empatia, raciocínio, proficiência em
leitura e escrita e o pensamento “fora da caixa”
Rochele Paz Fonseca
C
omo você ou seu filho ou aluno se sai em organizar suas tarefas
no decorrer do dia? E em executá-las? Como inibe a vontade
de comer um chocolate antes da refeição principal? E de xin-
gar uma pessoa com uma palavra socialmente indesejada só
porque está com raiva ou sentindo frustração? Como faz quando algo
que planejou tem de ser replanejado por algum fator ou etapa ter saído do
controle? Consegue em apenas uma vez ler dez parágrafos consecutivos
de um texto e resumi-lo oral ou por escrito depois?
42 NEUROEDUCAÇÃO
NEUROEDUCAÇÃO 43
do alcance de um ou mais objeti- co comum.
vos, exigindo que nos adaptemos Vários termos são listados na li-
a fatores internos ou externos para teratura como componentes das FE:
Transpor nossos atingirmos metas, das mais simples planejamento, organização, sequen-
conhecimentos do às mais complexas. As FE são acio- ciamento, categorização, velocidade
nadas quando necessitamos sair do de processamento, automonitora-
nível de linguagem nosso padrão de funcionamento mento, monitoramento externo,
oral para o de (default mode), isto é, quando não iniciação, inibição, fluência verbal,
podemos mais agir no nosso “pilo- tomada de decisão, resolução de
escrita é um dos to automático”. problemas, flexibilidade mental, abs-
marcos de maior Algumas metáforas para as FE:
maestro de uma orquestra, líder
tração, teoria da mente, entre outros.
Recentemente, três componentes
complexidade de uma empresa, controlador de principais se destacam na literatura
tráfego aéreo, entre outras. A que conforme proposto pelo psicólogo
cognitiva da vida de mais tenho usado com sucesso ulti- Akira Miyake, da Universidade do
todas as pessoas mamente é da caixa d’água. A água Colorado, e colaboradores em 2000,
da caixa d’água deve ser distribuída modelo revisitado pela neurocien-
para várias torneiras e chuveiro(s) tista canadense Adele Diamond, da
de uma residência. Quanto maior a Universidade da Colúmbia Britâ-
Esses são exemplos de deman- demanda de água, ou seja, quanto nica: (1) memória de trabalho ou
das reais e cotidianas das habili- mais torneiras, descargas e chuvei- memória operacional, (2) controle
dades cognitivas mais colocadas ros estiverem sendo utilizados ao inibitório e (3) flexibilidade cogniti-
em pauta para quem se interessa mesmo tempo, mais a caixa d’água va, todos relacionados às FE de alta
por neuropsicologia e por neuro- enche; no entanto, temos de respei- complexidade, que também são três:
ciências aplicadas à educação: as tar o limite de uso simultâneo para (a) raciocínio, (b) resolução de pro-
funções executivas (FE). Você cer- essa mesma caixa d’água ter tempo blemas e (c) planejamento.
tamente já ouviu falar nelas. Uma hábil de voltar a encher. Assim, as A memória de trabalho é tipo
área em desenvolvimento no Brasil, FE podem ser interpretadas como de memória que nos permite execu-
aliás, é a neuropsicologia escolar, nosso distribuidor de água, ou seja, tar duas ou mais tarefas ao mesmo
que estuda as relações entre funções nosso distribuidor de energia cog- tempo e relacioná-las com diferentes
cognitivas e desempenho e funcio- nitiva para as tarefas mais novas, informações armazenadas em ou-
nalidade acadêmicos. mais complexas e executadas ao tros sistemas de memórias (como a
As FE são as funções cognitivas mesmo tempo em nosso cotidiano. memória de longo prazo e a de cur-
mais complexas do ser humano. São to prazo). Por exemplo, para com-
as mais relacionadas a outras fun- TRÊS COMPONENTES BÁSICOS preender um texto, precisamos man-
ções da cognição humana, como As FE já foram interpretadas ter o que acabamos de ler em mente
atenção, linguagem e memória. As como uma única função cogni- (na memória episódica de curto pra-
mais associadas ao sucesso pessoal, tiva. No entanto, cada vez mais zo), relacionar com o que conhece-
acadêmico e laboral, assim como a cientistas demonstram múltiplos mos a respeito do assunto ou do fato
índices de saúde mental e física. domínios ou componentes que as (na memória semântica ou episódica
O conceito mais tradicional formam, principalmente pelas dis- de longo prazo), e, ainda, relacionar
que se pode encontrar na literatu- sociações encontradas em pacien- com o que vai ser lido. Essa corrente
ra nacional e internacional é que tes crianças e adultos em estudos de múltiplas tarefas que demandam
as FE são habilidades cognitivas de neuropsicologia clínica: alguns memórias é orquestrada pela memó-
recrutadas quando há tarefas de componentes estão mais fortes, ria de trabalho.
supervisão, coordenação, revisão e mais desenvolvidos ou preservados O controle inibitório (conheci-
organização de pensamentos, emo- do que outros, mostrando que não do também como inibição, controle
ções e comportamentos em busca podem pertencer a um único tron- de impulsos e/ou freio inibitório) é
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ESPECIAL LEITURA & ESCRITA
Legenda
a nossa habilidade de resistir a in- Por sua vez, as FE mais superio- municação, socialização, de noções
terferências internas ou externas, de res, como raciocínio e resolução de matemáticas e de FE.
ordem mais racional (inibição fria) problemas, são muito relacionadas A criança necessita recrutar
ou emocional (inibição quente) à inteligência fluida, ou seja, àquelas componentes diversos das FE para
para que possamos pensar e execu- dimensões da inteligência humana conseguir “fazer uma ponte” da lin-
tar uma tarefa ou processar uma in- consideradas mais flexíveis e mais guagem oral para a escrita, transfe-
formação predominante. Esse com- suscetíveis à estimulação ao longo rindo seus conhecimentos de uma
ponente das FE é superdependente da vida. Todos esses componentes para outra, alternar e evoluir nos
e relacionado à atenção concen- são essenciais para o desenvolvi- seus modos de aderir a regras de um
trada e focalizada ou seletiva, isto mento cognitivo e socioemocional mundo predominantemente mais
é, aquele tipo de atenção que nos do ser humano. lúdico da pré-escola à escolarização
permite focar predominantemente formal, com aumento gradativo da
algo por determinado tempo. LEITURA, ESCRITA sistematicidade e de “cobranças”.
A flexibilidade cognitiva ou E MATEMÁTICA Transpor nossos conhecimentos
mental é aquela habilidade de al- Aprender a ler, escrever e calcu- do nível da linguagem oral para ler
ternarmos tarefas, de adaptarmos lar é uma das aprendizagens mais e escrever, isto é, para o nível de lin-
nosso modo de pensar, de mudar importantes e complexas do ser hu- guagem escrita, é um dos marcos de
da estratégia ou adotar um plano B mano, podendo ser continuamente maior demanda, de maior comple-
e assim por diante. Assim, podemos aprimorada ao longo da vida. No xidade cognitiva da vida de todas
ver de diferentes ângulos e nos ajus- período pré-escolar, da aprendiza- as pessoas. Sempre que avançamos
tar às variadas demandas do dia a gem informal à educação infantil, para um passo maior e mais difícil,
dia. Está muito relacionada à criati- as crianças vão desenvolvendo suas mas de grande importância e neces-
vidade humana. habilidades de linguagem oral, co- sidade como este, as FE entram em
NEUROEDUCAÇÃO 45
SINAIS DE DIFICULDADES EXECUTIVAS
Quando, em geral, dois ou mais componentes das FE se encontram
abaixo do esperado para uma criança, um adolescente ou um adulto
(em comparação a outros indivíduos em desenvolvimento típico com
características semelhantes ao da pessoa avaliada), é considerada a
hipótese de disfunção executiva. Equipes escolares e/ou médicos
podem solicitar uma avaliação neuropsicológica caso observem os
seguintes sinais, de acordo com uma revisão sistemática publicada
no Applied Neuropsychology: Child em 2016.
DISFUNÇÃO DA MEMÓRIA DE TRABALHO: DIFICULDADES EM...
• seguir instruções de tarefas, principalmente daquelas com mais
de duas partes
• manter em mente, por tempo suficiente, informações recém-
ouvidas ou lidas para poder usá-las no futuro
• fazer cálculos ou solucionar problemas matemáticos
mentalmente, sem que alguém dê pistas ou uso de papel/apoio
concreto
• organizar narrativa nova ou recontar narrativa escutada,
respeitando a cronologia dos eventos
• ao ler, conectar a informação de um parágrafo com o outro,
prejudicando a compreensão leitora
DISFUNÇÃO DO CONTROLE INIBITÓRIO: DIFICULDADES EM...
• esperar a vez de falar, interrompendo seus interlocutores
• postergar seus ganhos
• pensar antes de falar ou de agir, com tendência a respostas
impulsivas, sem pensar antes em alternativas
• manter a concentração durante o período necessário até concluir
uma ou mais tarefas
• controlar as emoções, tendendo a manifestar com maior
frequência e intensidade raiva, frustração e tristeza
DISFUNÇÃO DA FLEXIBILIDADE COGNITIVA: DIFICULDADES EM...
• lidar bem com mudanças de planos ou saída da rotina
• resolver problemas com criatividade
• desapegar de detalhes e pensar no todo, no contexto
• mudar de estratégias para resolver problemas
• compreender e aplicar metáforas e provérbios em seu cotidiano
Fonte:
Neuropsychological stimulation of executive functions in children with typical de-
velopment: a systematic review. C. Cardoso, N. Dias, A. Seabra, R. Fonseca. Applied
Neuropsychology: Child, pág. 1-21, 2016.
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ESPECIAL LEITURA & ESCRITA
jogo. Então, desde associar um som
(fonema) a uma letra (grafema)
unir o significado de várias sílabas
em uma palavra reconhecida a par-
tir de sua primeira sílaba até manter
na mente o primeiro parágrafo para
que o segundo, depois de lido, tenha
significado, componentes das FE
são necessários para supervisionar
e distribuir energia cognitiva para
lermos e escrevermos. A cada nova
e mais complexa etapa da aquisição
da leitura e da escrita, maior será a
demanda das FE.
Mais especificamente, cada vez
mais estudos e observações clíni-
cas e escolares trazem evidências
de relação entre FE e dificuldades
de leitura, escrita e/ou matemáti-
ca, assim como com os transtornos
específicos de aprendizagem (disle-
xia, com prejuízo na leitura; disor-
tografia, com prejuízo na expressão
escrita; discalculia, com prejuízo na
matemática). Como podemos ver,
muitos dos sinais relatados ante-
riormente ocorrem no contexto de
leitura, escrita e/ou matemática.
O componente executivo mais
relacionado a tais dificuldades é a
memória de trabalho. No entanto,
cada vez mais controle inibitório,
flexibilidade cognitiva, velocidade
de processamento, planejamento e Legenda
teoria da mente têm sido conside-
rados habilidades precursoras ou conteúdo lido com seu significado,
mediadoras do desenvolvimento e isto é, associando uma “memória fo- quanto mais complexo e novo for o
da aprendizagem do ler, escrever e tográfica” da palavra com represen- texto lido, maior será a circuitaria de
calcular. tações mais automáticas de sílabas e FE ativada em nossa mente.
Na aprendizagem da leitura, partes das palavras com o que que- Na aprendizagem da escrita, a
por exemplo, espera-se que a criança rem dizer. Enquanto a criança esti- criança mantém todos os possíveis
adquira primeiramente uma leitura ver usando predominantemente a grafemas representantes de um mes-
pela rota fonológica, ou seja, som rota fonológica, maior será a deman- mo fonema e toma a decisão de qual
por som, grafema por grafema, “si- da de FE. Logo após, ao transicionar usar, inibindo os demais por memó-
labando” e lendo mais lentamente; para a rota lexical, cada vez mais vai ria lexical ortográfica. Para produzir
para que progrida e se torne mais inibindo palavras que não caberiam um texto, tarefa difícil até mesmo na
fluente, rápida e eficiente, deve ad- no contexto do conteúdo lido. Pos- universidade (eu que o diga para es-
quirir a rota lexical, relacionando o teriormente, até o fim da nossa vida, crever este texto), temos de planejar,
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transpor ideias em nível oral para o Assim, defende-se um contínuo bientes culturalmente menos ricos,
escrito, unir construção de sílabas, de desenvolvimento de componen- em que a criança é cobrada por
sentenças em parágrafos e conectá- tes das FE de acordo com a deman- atividades predominantemente ro-
-los entre si rumo a um texto coeso, da, na medida em que nosso cérebro tineiras, sem um grau crescente de
coerente, que faça sentido e cumpra e nossa mente funcionam por eco- complexidade, nem um contexto
seu(s) objetivo(s), flexibilizando, nomia cognitiva: só usamos aquilo excessivamente demandante (com
ainda, a linguagem usada de acordo que nos é solicitado ou exigido e objetivos de difícil alcance para a
com o público-alvo. só desenvolvemos aquilo que é útil. criança, isto é, tão inalcançáveis
Por fim, na aprendizagem da Quanto maior a demanda de ler, es- que não há recursos cognitivos mí-
matemática, por si só tão cultu- crever e calcular ou de tarefas com- nimos para completar a tarefa na-
ral e universalmente associada a plexas, como se comunicar e intera- quele momento) são ideais para o
níveis maiores de dificuldades na gir socialmente, maior e melhor ten- desenvolvimento das FE.
vida escolar, transpor nossos sen- derá a ser o desenvolvimento cogni- Estas se desenvolvem aos pou-
sos numéricos (noções gerais de tivo e, especificamente, das FE. Do cos, com picos de desenvolvimento
quantidade) para a representação bebê ao adulto idoso, quanto mais o dependentes do componente e da
linguística, visual e abstrata de interação entre fatores bioló-
números e para os fatos arit- gicos (idade, sexo) e fatores
méticos (cálculos básicos mais
simples e automatizáveis) re-
Quanto maior a demanda socioculturais (tipo de esco-
la, qualidade e quantidade de
quer muita memória de tra- de ler, escrever e calcular ou escolarização, frequência de
balho e flexibilidade mental. hábitos de leitura e de escrita).
Resolver problemas matemá- de tarefas complexas, como Assim, a estimulação natural
ticos, de simples a complexos, interagir socialmente, maior pelas fases da vida é a ideal.
envolve manter oralmente ou Qualquer estimulação
por escrito em mente as diver- e melhor tenderá a ser o deve ser planejada, executa-
sas operações embutidas, rela- desenvolvimento cognitivo da e constantemente revisa-
cionar os “sub-resultados” en- da com base na ideia de um
tre si e chegar ao resultado fi- como um todo contínuo de demanda versus
nal. Esse jogo mental de ideias oferta. Por exemplo, são con-
que ativa muito de linguagem siderados pontos cruciais para
também é a maior concretização indivíduo for exposto a um ambien- o desenvolvimento de flexibilidade
das FE que pode existir. te cognitivamente rico em contexto cognitiva aqueles períodos que exi-
significativo social e emocional- gem mais dessa habilidade, como a
COMO TRABALHÁ-LAS? mente, melhor será o cenário de de- transição da pré-escola para escola
O desenvolvimento das FE é senvolvimento de sua memória de (diminuição do lúdico, aumento da
gradativo e se estende até o fim da trabalho, de seu controle inibitório, sistematização), da escrita em le-
vida, sendo seu auge, para homens, de sua flexibilidade cognitiva, entre tra bastão para script e cursiva, da
aproximadamente aos 35 anos e, outras habilidades executivas. unidocência para a multidocência
para mulheres, aos 30. Assim, na Funcionamos, então, como a (transição das séries com um único
idade da alfabetização, muitas ha- caixa d’água mencionada anterior- professor para as séries de professores
bilidades executivas básicas estão mente. Nem um ambiente pouco especializados em disciplinas), entre
desenvolvidas, possibilitando a demandante – por exemplo, filhos outros.
aquisição da leitura, da escrita e da de cuidadores parentais super- Os educadores são os princi-
matemática. Ao mesmo tempo, ao protetores que assumem as FE de pais modeladores e estimuladores
ler, escrever e calcular, crianças vão seus filhos em vez de estimulá-los das FE, na medida em que fazem a
retroalimentando seu sistema exe- gradativamente à autonomia e à mediação das múltiplas aprendiza-
cutivo e aprimorando suas FE pela independência conforme sua fase gens informais e formais no árduo
demanda do cotidiano. de desenvolvimento –, nem ou am- e longo processo de escolarização.
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ESPECIAL LEITURA & ESCRITA
DICAS PARA ESTIMULAR AS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA CRIANÇA
1 Brincar, sem ser exposta necessariamente a
contextos de grande sistematização antes da
vida escolar, ou seja, deve-se evitar uma “inflação do
6 Contação de histórias com a participação de alunos
diferentes, cada um acrescentando uma parte, em
construção coletiva.
cognitivo” sob grande custo socioemocional, como
agenda cheia de cursos e de atividades formais,
com pouco tempo de brincadeiras com mediadores
emocionalmente significativos.
7 Jogos de categorização, de Stop, ou que requeiram
respostas rápidas.
2 Apresentar naturalmente o mundo da leitura e
da escrita, desenvolvendo interesse espontâneo
8 Atividades de educação física com circuitos, pois
estimulam a flexibilidade cognitiva e o controle
inibitório à luz da psicomotricidade (as habilidades
e curiosidade sobre os livros (exemplo: leitura de motoras são precursoras e mediadoras das FE).
histórias em casa, em livrarias, em feiras do livro etc.).
3 Canções que aumentam gradativamente em
detalhes vão estimular a memória de trabalho.
9 Tarefas de organização e planejamento
de atividades.
4 Dramatizações auxiliam no desenvolvimento da
flexibilidade cognitiva, pois papéis são alternados.
10 Pedir possibilidades de resolução de problemas
com base em um modelo inicial de como resolver.
5 Conversação que enfatizem a hora de cada um
falar auxiliam também na evolução da flexibilidade
11 Na leitura, escrita e matemática, o professor pode
ajudar no início, estimulando que os estudantes
continuem a atividade. É útil separar as instruções
mental. em subpartes e depois agrupá-las gradativamente em
instruções maiores.
NEUROEDUCAÇÃO 49
vez mais a sociedade está pedindo
pessoas ágeis, resolutivas, mas ao
mesmo tempo com habilidades so-
ciais de viver em grupo e criativas.
Precisamos nos desenvolver e esti-
mular o desenvolvimento de nos-
sas crianças como seres empáticos,
com raciocínio suficiente, como
leitores e escritores proficientes na
própria língua saibam pensar “den-
tro e fora da caixa” (do usual) quan-
do for necessário. As FE são, além
de para escola, para a vida, e preci-
samos cuidar delas! Nesse sentido,
Legenda ler, escrever e calcular são uns dos
melhores estímulos naturais. w
As FE precisam ser inicialmente Educadores sobre Neuropsicologia
modeladas a partir de um contínuo da Aprendizagem (Cena), com ên-
entre contextualização, significação fase em funções executivas e aten-
e sistematização. É necessária disci- ção, e o Programa de Estimulação LEITURAS SUGERIDAS
plina para a promoção das FE, assim Neuropsicológica da Cognição em Funções executivas: o que são?
como de rotina para a organização Escolares (PENcE), com ênfase nas É possível estimular o desen-
volvimento dessas habilida-
cognitiva e emocional, para depois, funções executivas. Outros estão des? C. Cardoso, N. Dias, A. Se-
gradativamente, essa rotina ir sendo sendo desenvolvidos por pesqui- abra, R. Fonseca, em Cardoso, C.
flexibilizada conforme a demanda. sadores e neuropsicólogos da área, O. e Fonseca, R. P. (págs. 18-33).
Há programas de estimula- em consolidação no nosso país, de PENcE. Ribeirão Preto, Book Toy,
ção preventiva das FE que visam neuropsicologia escolar. Todos têm 2016.
o bom desenvolvimento de seus como mediador o professor! No Executive functions. A. Dia-
mond, em Annual Review of
componentes no cotidiano escolar. entanto, é possível estimular as FE Psychology, no 64, págs. 135-
São preventivos porque auxiliam na no cotidiano de crianças e estudan- 168, 2013.
intervenção clínica ou escolar antes tes, como brincadeiras, canções, Programa de Intervenção sobre
que as dificuldades executivas apa- contação de histórias e jogos (veja a autorregulação e funções exe-
reçam e possam gerar ou potencia- quadro na pág. 49). cutivas – Piafex [The interven-
lizar prejuízos secundários como Por fim, pouco se sabe perto do tion program for self-regulation
and executive functions]. N.
dificuldades de aprendizagem. que se pretende e se precisa saber Dias e A. Seabra, Memnon, 2013.
São exemplos: (1) para idade pré- sobre as FE. Elas despertam o inte- The unity and diversity of exe-
-escolar, o Programa de Interven- resse e a motivação de pesquisado- cutive functions and their con-
ção em Autorregulação e Funções res, educadores, neuropsicólogos e tributions to complex ‘frontal
Executivas (Piafex); (2) para idade vários profissionais de áreas afins lobe’ tasks: a latent variable
analysis. A. Miyake e outros, em
escolar, início ensino fundamen- em busca de estudo sobre a rela-
Cognitive Psychology, no 41,
tal, o Programa de Capacitação de ção entre FE e aprendizagem. Cada págs. 49-100, 2000.
Development of executive
A AUTORA function during childhood. Y.
Moriguchi, P. Zelazo e N. Cheva-
Rochele Paz Fonseca é psicóloga e fonoaudióloga, especialista em neuropsicolo- lier. Frontiers in Psychology. Re-
gia e pós-doutora em clínica e neurociências, em neurorradiologia e em ciências search Topic. DOI: 10.3389/978-
biomédicas. Coordenadora do grupo de pesquisa Neuropsicologia Clínica e Expe- 2-88919-800-9
rimental (GNCE) da PUCRS. Autora de programas de capacitação e de estimula- CENA. J. Pureza e R. Fonseca.
ção de funções executivas na escola. Book Toy, 2016.
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