UNIDADE I,II,III e IV - Gênero: Lutas, Conquistas e Desafios
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Conteúdo – Aula I
Um Começo de Conversa
A expressão “gênero” tem sido muito utilizada nos mais diferentes espaços e
das mais variadas maneiras. Entretanto, na maioria das vezes, ela é utilizada
de forma equivocada e, por isso, torna-se necessária uma melhor
compreensão do termo. Para dar início aos nossos estudos e reflexões,
pensemos nos anos iniciais de nossa vida: ao nascermos somos identificados
como meninos ou meninas segundo o sexo que naturalmente se apresenta no
nosso corpo. Depois, ao longo dos anos, vamos sendo educados segundo os
valores e padrões de nossa cultura, que definem como devemos "ser" como
nos comportarmos como meninos e meninas.
Assim, para as diferenças sexuais anatômicas, vão sendo criados papéis
distintos para o masculino e o feminino, tanto na nossa cultura ocidental, como
em outras culturas. Isso equivale dizer que as diferenças do sexo, que são
naturais, acabam sendo utilizadas para a construção de desigualdades sociais
entre homens e mulheres. A história tem mostrado, ao longo dos séculos, que
as diferenças biológicas do sexo apresentam uma realidade pouco favorável às
mulheres, uma vez que em seus desdobramentos, com raras exceções, as
sociedades que vieram sendo construídas caracterizam-se como sociedades
patriarcais.
É importante esclarecer que, ao contrário das percepções que temos sobre as
diferenças sócio-étnico-raciais que se dão muitas vezes, de forma imediata,
não percebemos com a mesma rapidez diferenças culturais marcantes para o
ser humano: o tornar-se mulher ou homem.
Nesse sentido, temos dois grandes desafios a enfrentar: o primeiro diz respeito
a tentar melhor compreender, por meio de poucas páginas, um assunto que
é complexo e político; e o segundo se relaciona aos estereótipos, caricaturas,
rótulo relacionados ao tema que estão presentes e são decorrentes de um
processo cultural e social em que estamos envolvidos, desde o nosso
nascimento.
Sem a intenção de esgotar a complexa e ampla temática e muito menos de
“levantar bandeiras” ou utilizar discursos que promovam a “guerra dos sexos”,
vamos discutir, refletir, estudar como as relações sociais e a sociedade podem
se tornar melhores a partir da nossa compreensão sobre as questões
das relações de gênero; de outras formas de enxergar a nossa realidade e da
nossa tomada de consciência quanto a importância de rever alguns conceitos e
comportamentos nossos.
Mas, o que é gênero?
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O que a educação, a escola, as professoras, os professores e você têm a ver
com as questões sobre "gênero"?
Protestos no Irã - PARA NEDA
Ficha Técnica:
Um filme sobre Neda Agha-Soltan, símbolo da liberdade iraniana. Neda foi
baleada e assassinada nas ruas de Teerã por ocasião da eleição presidencial
em 2009. Os protestos foram registrados em celulares e divulgados nas telas
de computador do mundo inteiro, dando origem ao filme.
Título original: Protests in Iran - FOR NEDA
Diretor: David Fanning
Gênero: Documentário
Ano: 2009
Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos
Linguagem: Inglês
Duração: 88 Minutos
Assista ao triller do vídeo Protestos no Irã - PARA NEDA
Alargando a Compreensão do Termo Gênero
A construção do conceito de gênero, que busca explicar as relações sociais
entre homens e mulheres, não se deu de uma hora para outra: passou por
fases e etapas de amadurecimento ao longo das décadas.
A expressão 'gênero' começou a ser utilizada justamente para indicar que as
diferenças entre homens e mulheres não são apenas de ordem física,
biológica. Como a cultura vai definindo os papéis feminimos e masculinos nas
sociedades para além da diferença sexual anatômica, as questões relativas ao
gênero não podem mais serem pensadas isoladas da cultura e de suas
infindáveis manifestações, ou seja, falar de relações de gênero é falar das
características atribuídas pela sociedade e sua cultura a cada sexo. (SAYÃO;
BOCK, 2002)
Enquanto as diferenças sexuais biológicas são naturais e imutáveis, as
relações de gênero são estabelecidas por convenções sociais, variam segundo
a época e os padrões culturais e, portanto, podem ser modificadas. A diferença
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biológica é apenas o ponto de partida para a construção social do que significa
ser homem ou ser mulher. A distinção de conceitos (biológico x cultural) deve
ser ressaltada porque, como não se trata de fenômeno puramente biológico,
podemos constatar que ocorrem mudanças na definição do que é ser homem
ou mulher ao longo da história e em diferentes culturas. Desse modo, se
as relações homem e mulher são um fenômeno de ordem cultural e podem ser
transformadas, a educação desempenha importante papel nesse sentido.
O termo gênero não se refere somente à mulher, uma vez que diz respeito às
relações e às práticas sociais construídas entre homens e mulheres. O termo
gênero designa todas as relações sociais presentes na sociedade: como entre
pessoas do mesmo sexo, ou seja, entre mulheres entre si e homens entre si
desde crianças. Como são construções sociais, essas relações são
reproduzidas ou alteradas no ritmo e na velocidade de cada realidade social e
se manifestam de formas diferentes dependendo de cada lugar e de cada
época.
Compreender o conceito de gênero nos permite identificar os valores,
expectativas e papéis atribuídos aos homens e às mulheres, bem como as
regras de comportamento decorrentes desses valores. Com isso, fica evidente
a interferência desses valores e regras no funcionamento de instituições
sociais, entre elas, a escola.
As relações de gênero constituem-se em um dos principais aspectos que
fundam as relações sociais como um todo. Pensar as relações de gênero
também permite pensar nas diferenças de sexo e de gênero sem transformá-
las em desigualdades, ao contrário, em equidade de gênero. Essas diferenças
não podem servir como ponto de partida para justificar qualquer tipo
de discriminação e desigualdade na atribuição de papéis sociais. A
menstruação, tensão pré-menstrual - TPM, a maternidade e a menopausa, por
exemplo, que são ocorrências presentes no sexo feminino, não podem ser
consideradas motivo para que as mulheres sejam consideradas superiores ou
inferiores aos homens, por essas especificidades apenas diferentes.
Como a escola - instituição e espaço por excelência formador e/ou
(de)formador de valores, comportamentos – pode interferir na (re)construção
dos valores atribuídos a homens e mulheres?
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(SAYÃO; BOCK, 2002).
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Referências
AUD, Daniela. Educar meninas e meninos: relações de gênero na
escola. São Paulo: contexto, 2006, 100p. Disponível em: . Acesso em:
20 mar. 2011.
CARVALHO, Marília Pinto de. Quem são os meninos que fracassam
na escola? Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 121, jan./abr. 2004.
CARVALHO, Marília Pinto de . Por que tantos meninos vão mal na
escola? Critérios de avaliação escolar segundo o sexo. In: 30a Reunião
Anual da Anped, 2007, Caxambu - MG. 30ª Reunião anual da Anped: 30
anos de pesquisa e compromisso social, 2007. p. 1-15.
COSTA, Suely Gomes. Gênero e História. In:ABREU Martha e SOIHET
Rachel (org.). Ensino d e História conceitos temáticas e metodologia. Rio
de Janeiro: Casa da Palavra, 2003.
CURSO Gênero e diversidade na escola. Formação de Professor as/es
em Gênero, Sexualidade, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais .
Ministério da Educação . Secretaria Especial de Políticas para as
Mulheres. Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial, 2010
LOURO, G L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-
estruturalista. 2001. Disponível em: . Acesso em: 20 mar. 2011.
PINTO, C. R. J. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo:
Editora Fundação Perseu Abramo, 2003
SAIÃO, Y; BOCK, S.D. Relações de Gênero. Disponível em:. Acesso em
20 mar. 2011.
SCHWARTZAN,S .Tempo de Capanema.Rio de Janeiro, Paz e terra,
1948:112.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise
histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, v.20, n.2,p.71-99, 1995.
SCHUMAHER, S. & VITAL BRAZIL, E. (orgs.). Dicionário Mulheres do
Brasil. De 1500 até a atualidade. Rio de Janeiro.
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Conteúdo – Aula III
Tornar-se Mulher ou Homem ao Longo da História
O conceito de gênero não pode ser pensado dissociado do movimento
feminista, pois resulta de um processo que nele teve suas origens. Além do
movimento feminista, outros importantes movimentos ocorreram no final da
década de 1960 em alguns países dos vários continentes. Entre eles estão
os movimento estudantil e movimento hippie que, em comum, traziam a
contestação dos papeis e comportamentos sexuais, até então, apontadas como
únicos que deveriam ser seguidos. No final da década de 1970, além de outras
questões associadas à temática das mulheres, as diferenças sexuais já tinham
se tornado pauta das reivindicações feministas.
A utilização do termo gênero associado à divisão natural entre os sexos, foi ao
longo dos anos e debates se distanciando das explicações iniciais, tendo por
objetivo ultrapassar a concepção natural de sexo. Buscava-se assim, enfatizar
a questão dos papéis sociais e discutir as questões relativas às diferenças
sexuais e a instauração das desigualdades, tendo por referência tais
diferenças.
Essa ampliação do entendimento do termo gênero tornou-se possível após as
publicações e debates decorrentes das produções de duas importantes
estudiosas feministas da Universidade de Sussex, na Inglaterra, durante os
anos 70: Joan Scott e Gayle Rubin. Elas tomaram como referência o fato como
as pessoas são educadas para ter comportamentos diferenciados, de acordo
com a natureza sexual, isto é, pelo fato de terem nascido macho ou fêmea da
espécie humana. Em suas pesquisas, estas estudiosas constataram que em
todas as partes do mundo e em todas as épocas registradas pela história,
sobre as sociedades patriarcais se manteve a subordinação da mulher ao
homem.
Concluíram que não se tratava de fixar-se sobre a 'opressão da mulher', ou 'o
problema da mulher', como um assunto em si, mas explorar as relações de
gênero, ou seja, as relações sociais que a sociedade foi construindo e
passando de geração em geração, cristalizando papeis diferenciados para
mulheres e homens, que possibilitaram a subordinação do gênero feminino ao
masculino. Além de ser uma questão cultural, trata-se principalmente de uma
questão política, ou seja, da relação de poder reforçadas pela construção de
situações que envolvem homens e mulheres caracterizadas pela simetria e
desigualdade nas relações. De acordo com esta visão, nascer macho ou fêmea
é um assunto da natureza. (SAYÃO; BOCK, 2002). Por outro lado, a educação
que machos e fêmeas recebem e o comportamento que apresentam em
sociedade, isto sim, é um fenômeno cultural e, portanto sofre variações.
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Com o tempo, o alargamento do entendimento sobre as questões de gênero e
o aprofundamento conceitual no tratamento dessa questão possibilitaram, além
de ultrapassar a associações entre gênero e sexo, a superação de enfoques
presos a uma oposição binária e maniqueísta entre homens e mulheres. Tais
enfoques apresentavam a questão das mulheres na sociedade, ora sob o
ângulo da vitimização, ora apontando sua superioridade em relação aos
homens em sua "eterna luta contra o sexo oposto". Nesse processo de
ampliação do entendimento de gênero, a antropóloga americana MARGARETH
MEAD destaca o peso da cultura na determinação dos papeis sexuais, das
condutas e comportamentos de homens e mulheres.
No Brasil, segundo Costa(2000), os estudos das relações de gênero foram
recebidos na academia como forma de equacionar os impasses relativos à
produção historiográfica sobre mulheres. Nas últimas décadas do século XX, o
interesse pelo estudo das relações de gênero tem levado a uma fecunda
produção, cujas abordagens se inserem no campo da interdisciplinaridade,
num diálogo cada vez mais promissor entre as diferentes ciências sociais, e
nelas a educação.
Estudos sobre questões como diversidade, identidade e alteridade contribuem
para que as produções sobre as relações de gênero incorporem a perspectiva
da multiplicidade, da especificidade e da heterogeneidade, constituindo de
forma cada vez mais ampliada, um rico campo de estudos. Significa afirmar
que além de ser estudado por várias áreas do conhecimento, as questões de
gênero se fazem presentes nos debates que abordam também as questões
étnico-raciais, as relacionadas à sexualidade, à saúde, ao trabalho, aos direitos
humanos, para citar alguns desses estudos.
Se por um lado diversidade de produções revela a riqueza da temática, por
outro lado, apesar dos avanços teóricos e metodológicos ocorridos nas últimas
décadas, indica existirem, trabalhos que acabam ainda por associar gênero às
mulheres como palavras que se explicam mutuamente. Esse fato demonstra
que, nos espaços entendidos como privilegiados, a exemplo da academia, a
compreensão e a distinção de ambas as categorias se dão em tempos,
momentos e ritmos distintos, resultam de estudos, descobertas e de um
processo de amadurecimento por parte de seus autores/as. Tais enganos se
devem, entre outros fatores, à amplitude que o termo assume por ser utilizado
não apenas nas ciências sociais, mas também em outros áreas do
conhecimento, tornando ainda mais ampla e complexo o debate.
Em nossa realidade percebe-se que, embora estejam presentes a todo
momento de nosso cotidiano, as relações de gênero ainda não têm sido objeto
de discussão em muitos espaços acadêmicos como poderiam. Um exemplo é
que, em muitas Instituições de Ensino Superior - IES não é ofertada sequer
uma disciplina que trate de forma mais específica e pontual essa questão.
Felizmente, já em outras em outras IES, há não apenas disciplinas, como
cursos, periódicos e núcleos de pesquisa que há anos vêm discutindo essa
temática e suas relações interdisciplinares com importantes contribuições.
Ainda está presente na problemática do gênero um desafio: tanto
os movimentos feministas de diversos países quanto os estudiosos da História
das Mulheres contam com a adesão de poucas mulheres.
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Uma das razões que podem explicar esse fato, diz respeito às questões
culturais que nos envolvem, podendo, como já foi visto, reforçar e cristalizar
noções deturpadas e estereotipadas que envolvem as questões de gênero e
aumentam o distanciamento dos debates e melhor entendimento sobre o tema.
Outra pista está relacionada a forma como entendemos e lidamos com alguns
elementos que nos constituem como pessoas, cidadãos e cidadãs: identidade
de gênero, identidade sexual, diversidade, alteridade são algumas delas.
Para além das possibilidades apontadas acima, há entretanto, uma certeza:
Conhecer e tomar consciência de outras formas de convivência e de ver a
realidade implica em sermos desafiados a romper com posições anteriores
mais cômodas e consideradas mais seguras, porém desiguais, por na maioria
das vezes não atender de forma igualitária aos homens e às mulheres. O
respeito à complexidade, às contradições e ambiguidades que envolvem
questões referentes ao tornar-se mulher ou homem, as relações entre homens
e mulheres e entre estes entre si deve ser o compromisso de cada um de nós.
Nesse sentido a educação ocupa um papel de grande relevância.
Veja a terceira parte do documentário Simone de Beauvoir (Veja no navegador
Internet Explorer) .
Educação de Meninas e Meninos
Como sabemos a educação de meninas e meninos, iniciada na família,
continua na escola. Por isso a atuação de professores e professoras na sala de
aula não é neutra. Eles podem contribuir tanto para perpetuar e reforçar noções
discriminatórias relativas às diferenças de gênero, como por outro lado, para
atenuá-las e ajudar alunos e alunas a pensar uma outra realidade que não
tenha como única referência o modelo ideal de masculinidade ou feminilidade.
Por isso,
oferecer apenas aos meninos bola, bicicleta e skate, por exemplo, indica-lhes
que o espaço público é deles, ao passo que dar às meninas somente
miniaturas de utensílios domésticos (ferro de passar, máquina de lavar roupa
etc.) é determinar-lhes o espaço privado, o espaço doméstico. Queremos dizer
que nos jogos como bonecas, fogõezinhos, panelinhas e ferrinhos de passar as
garotas, da infância e adolescência vão se familiarizando com trabalho
doméstico, como se não houvesse alternativas às mulheres que não interesse
com o cuidado do lar e de filhos/as. (CURSO GÊNERO DIVERSIDADE NA
ESCOLA, 2010, p. 2).
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Fonte: Marcos Ribeiro, Menino brinca de boneca? p. 50
Veja o vídeo Um Fato Duas Visões - Feminilidade, masculinidade e gênero,
falando sobre o assunto supracitado.
Leitura Complementar
Escolarização de meninas e meninos brasileiros: o desafio da co-educação.
Desafio
As discussões sobre relações de gênero não têm por finalidade defender uma
oposição entre homens e mulheres, levantar bandeiras em favor de uma visão
distorcida de feminismo ou outras ações parecidas, que estamos acostumados
a ver.
Fonte: www.portuguelandia.com.br.
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A existência desses e de outros estereótipos sobre as mulheres, movimento
feminista e relações de gênero é reforçada por meio das mídias, das
brincadeiras e piadas que são reproduzidas aparentemente de forma ingênua.
Nosso principal objetivo é esclarecer, trazer à tona estudos e posicionamentos
que demonstram como as questões relativas a esse tema foram, ao longo dos
séculos, sendo apropriadas de forma incorreta. Buscamos defender também a
diferença entre homens e mulheres, mas diferença que não seja confundida
com discriminação e desigualdade.
Mais importante que sabermos o que exprime a expressão relações de gênero
é entendermos o seu significado em nossas vidas, como elas se manifestam
em nosso cotidiano, nas relações sociais que estabelecemos com as pessoas
que estão à nossa volta.
Como a escola pode contribuir no entendimento do significado das relações de
gênero no cotidiano?
Referências
AUD, Daniela. Educar meninas e meninos: relações de gênero na
escola. São Paulo: contexto, 2006, 100p. Disponível em: . Acesso em:
20 mar. 2011.
CARVALHO, Marília Pinto de. Quem são os meninos que fracassam
na escola? Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 121, jan./abr. 2004.
CARVALHO, Marília Pinto de . Por que tantos meninos vão mal na
escola? Critérios de avaliação escolar segundo o sexo. In: 30a Reunião
Anual da Anped, 2007, Caxambu - MG. 30ª Reunião anual da Anped: 30
anos de pesquisa e compromisso social, 2007. p. 1-15.
COSTA, Suely Gomes. Gênero e História. In:ABREU Martha e SOIHET
Rachel (org.). Ensino d e História conceitos temáticas e metodologia. Rio
de Janeiro: Casa da Palavra, 2003.
CURSO Gênero e diversidade na escola. Formação de Professor as/es
em Gênero, Sexualidade, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais .
Ministério da Educação . Secretaria Especial de Políticas para as
Mulheres. Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial, 2010
LOURO, G L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-
estruturalista. 2001. Disponível em: . Acesso em: 20 mar. 2011.
PINTO, C. R. J. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo:
Editora Fundação Perseu Abramo, 2003
SAIÃO, Y; BOCK, S.D. Relações de Gênero. Disponível em:. Acesso em
20 mar. 2011.
SCHWARTZAN,S .Tempo de Capanema.Rio de Janeiro, Paz e terra,
1948:112.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise
histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, v.20, n.2,p.71-99, 1995.
SCHUMAHER, S. & VITAL BRAZIL, E. (orgs.). Dicionário Mulheres do
Brasil. De 1500 até a atualidade. Rio de Janeiro.
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Conteúdo – Aula IV
Práticas Escolares
Como sabemos, depois da família, a escola é a responsável pela educação e
através dela, pela formação dos meninos e das meninas. Por isso, ela exerce
grande influência quanto ao reforço de valores e de comportamentos
inicialmente aprendidos na família. Ao mesmo tempo em que ela reforça é
também produzida pelos sujeitos que ela (com)forma.
Desse modo, também estão presentes
no cotidiano da escola, desde os
primeiros anos de vida das crianças, o
aprendizado de se tornarem mulheres
ou homens. A esse
respeito importante publicações,
resultantes de estudos e pesquisas,
muito tem contribuído para que todos
profissionais da comunidade
educativa entendam melhor o seu
papel na educação de meninos e de
meninas e no reforço de valores de
comportamentos que a médio e longo
prazos poderão interferir de forma negativa em suas vidas. Isto porque, como
já afirmado, é na escola que passam pelos processos iniciais de socialização
e endoculturação.
Por essa razão é importante compreender o papel dos educadores e
educadoras e da escola como um todo. A escola pode e deve formar para o
exercício da cidadania, do respeito à diversidade e para o repúdio e combate
cotidiano ao sexismo, à misoginia, à homofobia (não só contra a violência
feminina).
Gênero Sexualidade
Muitas são as discussões quando o
assunto é sexualidade. As mais
polêmicas se reportam a
homossexualidade. Os variados
posicionamentos tentam explicar a
origem da sexualidade, carregados
de juízos de valores e preconceitos.
Vemos através das mídias, as mais
diversas posições assumidas.
Entretanto, debates e programas com o objetivo de maior esclarecimento sobre
essa questão são pouco abordados, principalmente pela mídia televisiva.
Resta-nos então propor que o tema, ainda considerado tabu em muitos
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aspectos, seja abordado em outros espaços de formação como por exemplo,
na família e na escola, o que também vem acontecido de forma ainda inibida.
Movimento Feminista
O movimento feminista, na maioria das vezes, ainda é cercado por estereótipos
e caricaturas que o associam à permanente guerra entre os sexos, visto de
forma preconceituosa por vários segmentos sociais e pelas próprias mulheres.
Entre as representações e estereótipos já existentes está o rótulo atribuído às
pessoas que se dedicam estudar e melhor conhecer o tema: estereótipos e
caricaturas.
Entre algumas mulheres que se destacaram dentro do movimento está Betty
Friedan, considerada por muitos estudiosos a precursora do conceito de
gênero. No Brasil, entre as várias mulheres estão a jornalista Carmen Silva e a
física, economista e escritora Rose Marie Muraro.
Embora existente em décadas anteriores, o movimento feminista ganhou
grande visibilidade nos anos de 1970, junto a importantes movimentos que
ocorrem no final da década de 1960 em alguns países dos vários continentes.
Entre eles estão os movimento estudantil e movimento hippie e uma de suas
bandeiras: a contestação dos papeis e comportamentos sexuais.
Leituras Complementares
Uma história do feminismo no Brasil
Céli Jardim Pinto relata a história do Movimento Feminista no Brasil. Segundo a
autora,ao levantar bandeiras como o direito ao voto e à eleição, à igualdade de
salários perante aos homens e à proteção contra os abusos no ambiente de
trabalho (como o assédio sexual), o movimento feminista tem contribuído
sistematicamente para tornar o Brasil um país mais democrático, superando
sua origem autoritária e oligárquica. (PINTO, 2003).
Clique aqui para acessar o artigo.
A escrita feminista de Carmen da Silva
Texto de Ana Rita Fonteles Duarte publicado no Caderno Espaço Feminino, v.
17, n. 01, Jan./JuL. 2007 retrata alguns dos aspectos da vida e obra de Carmen
da Silva.
Clique aqui para acessar o artigo.
Memórias de uma mulher impossível - Cinco sobre cinco
Documentário sobre a vida e obra de Rose Marie Muraro considerada
legalmente com a Patrona do Feminismo Nacional.
Direção: Márcia Derraik.
Assista ao vídeo - Memórias de uma mulher impossível - Cinco sobre
cinco (Veja no navegador Internet Explorer).
Referências
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AUD, Daniela. Educar meninas e meninos: relações de gênero na
escola. São Paulo: contexto, 2006, 100p. Disponível em: . Acesso em:
20 mar. 2011.
CARVALHO, Marília Pinto de. Quem são os meninos que fracassam
na escola? Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 121, jan./abr. 2004.
CARVALHO, Marília Pinto de . Por que tantos meninos vão mal na
escola? Critérios de avaliação escolar segundo o sexo. In: 30a Reunião
Anual da Anped, 2007, Caxambu - MG. 30ª Reunião anual da Anped: 30
anos de pesquisa e compromisso social, 2007. p. 1-15.
COSTA, Suely Gomes. Gênero e História. In:ABREU Martha e SOIHET
Rachel (org.). Ensino d e História conceitos temáticas e metodologia. Rio
de Janeiro: Casa da Palavra, 2003.
CURSO Gênero e diversidade na escola. Formação de Professor as/es
em Gênero, Sexualidade, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais .
Ministério da Educação . Secretaria Especial de Políticas para as
Mulheres. Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial, 2010
LOURO, G L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-
estruturalista. 2001. Disponível em: . Acesso em: 20 mar. 2011.
PINTO, C. R. J. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo:
Editora Fundação Perseu Abramo, 2003
SAIÃO, Y; BOCK, S.D. Relações de Gênero. Disponível em:. Acesso em
20 mar. 2011.
SCHWARTZAN,S .Tempo de Capanema.Rio de Janeiro, Paz e terra,
1948:112.
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histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, v.20, n.2,p.71-99, 1995.
SCHUMAHER, S. & VITAL BRAZIL, E. (orgs.). Dicionário Mulheres do
Brasil. De 1500 até a atualidade. Rio de Janeiro.
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A Educação, a Escola, os Professores e as Relações de Gênero: O que temos
com isso?
Tudo. Porque a escola é uma instituição e um espaço por excelência formador
e (de)formador de valores, comportamentos, atitudes que não se dão sozinhos.
Porém eles são naturalizados, são incentivados e/ou reprovados e reprimidos
por nós, sem muitas vezes, nos darmos conta disso.
Falar de relações de gênero e de educação é falar do contínuo exercício da
reflexão e da ação coletiva que são dinâmicos. Realizamos o permanente
aprendizado no exercício cotidiano com as diferenças e nesse caso, diferenças
sexuais, que muitas vezes são utilizadas para justificarem as brincadeiras, os
rótulos e o desrespeito diante da diferenças de gênero.
A partir das questões até aqui apresentadas ficam outras questões:
O que a educação escolar tem a dizer sobre os principais problemas relativos à
intolerância que cada vez se fazem mais presentes nas sociedades
contemporâneas?
Como a escola tem administrado as questões relativas ao gênero e à
sexualidade?
Não podemos nomear todas as diferenças que não aceitamos, provenientes
das relações de gênero, que são reforçadas pelas práticas escolares, mas
podemos pelo menos citar algumas, para além daquelas que distinguem a cor
azul como sendo a do sexo masculino e a rosa como do sexo feminino,
aspecto presente na educação de meninos e de meninas. Não se trata de
deixar de usar tais cores, mas ampliar a sua utilização para outras que não
sejam exclusivas para um ou outro sexo. Podemos assim, fazer a nós
mesmos algumas provocações.
Educar para uma sociedade democrática que valorize a equidade de gênero,
saudável, porque conta com a participação de homens e mulheres. É esse o
objetivo que devemos buscar.
Estereótipos, Caricaturas, Rótulos: Algumas Provocações Necessárias
Gênero e sexo não são sinônimos, mas estão relacionados. O gênero, como
um conjunto de ideias e representações sobre o masculino e o feminino, cria
uma determinada percepção sobre o sexo anatômico. As relações de gênero
se reportam à sexualidade, ao comportamento dos corpos, às escolhas
sexuais, à construção da identidade de gênero.
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Como temos pensado nas diferenças de comportamentos sexuais como
nomeadores de orientações sexuais?
A heterossexualidade deve sempre ser considerada uma norma e
a homossexualidade e o homossexualismo patologias?
O cotidiano das escola e as práticas escolares têm servido para pensarmos as
diferenças enquanto oportunidades de intercâmbios, de mudança de
mentalidades e atitudes ou de reforço de comportamentos discriminatórios e de
situações de desigualdades?
Além das relações entre os sexos opostos, o conceito de gênero inclui a noção
de que os sistemas de poder e de subordinação se estabelecem também entre
pessoas do mesmo sexo, de mesma classe, de mesma etnia etc. Assim, tais
relações se travam entre mulheres, como já indicado, entre homens, que, por
sua vez, podem ser jovens, velhos(as), negros(as) e brancos(as), e
de raças/etnias diversas, ricos(as) e pobres, enfim, seres humanos em sua
diversidade, portanto, plurais, imersos em tantas e tantas contingências
históricas. A noção de gênero, por esse entendimento, des-oculta uma gama
de relações sociais escondida pela outrora noção universal, única, de homem e
de mulher, em geral empregada nos estudos iniciais sobre as mulheres. Tal
pluralidade de experiências indicaria que as práticas sociais presentes nos
sistemas de poder e de subordinação e as desigualdades sociais podem conter
outras, de complementaridades e de consentimentos, situações transversas, o
tempo todo de mão dupla, dialéticas, enfim. (COSTA, 2003).
Não podemos nos esquecer que as visões naturalistas reforçam as injustiças e
as desigualdades. E se essas existem, como as pessoas podem ser felizes?
Ao utilizarmos o masculino genérico – quando falamos de uma maioria
feminina – estamos adotando o discurso da neutralidade ou reforçando a
desigualdade nos tratamentos?
Se pensarmos nas diferenças entre meninos e meninas como construções
sociais na escola, perceberemos que essas diferenças se prestam como
organizadoras do espaço social?
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Muitas vezes constumamos ouvir: "as meninas são mais caprichosas que os
meninos. As meninas são disciplinadas, organizadas, cuidadosas, esforçadas".
E se o menino for muito quieto, meigo, disciplinado, organizado e ainda por
cima, não gostar de futebol?
O que você tem a dizer a respeito da afirmativa que se segue?
Ao criarmos expectativas para o comportamento de meninos e meninas e
reforço para esses comportamentos, na verdade não permitimos que nossos
alunos criem a sua identidade de gênero, pois senão todos, uma grande
maioria irá se esforçar para ser exatamente aquilo que atribuímos a eles/as.
E quanto ao tratamento dispensado à educação de homens e mulheres,
mencionado no documento que se segue? Ficou no século passado ou ainda
está presente entre nós?
"O Estado educará ou dará condições para educar a infância e a juventude
para a família. Devem ser os homens educados de modo a que se tornem
plenamente aptos para a responsabilidade de chefes de família. Às mulheres
será dada uma educação que as torne afeiçoadas ao casamento, desejosas da
maternidade, competentes para criação dos filhos e capazes da administração
da casa." (SCHWARTZAN, 1948, p. 112).
Diante das questões apresentadas é importante refletir sobre alguns
questionamentos que nos faz Guacira Louro (2001).
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Afinal, é "natural" que meninos e meninas se separem na escola, para os
trabalhos de grupos e para as filas? É preciso aceitar que "naturalmente" a
escolha dos brinquedos seja diferenciada segundo o sexo? Como explicar,
então, que muitas vezes eles e elas se misturem" para brincar ou trabalhar? É
de esperar que os desempenhos nas diferentes disciplinas revelem as
diferenças de interesse e aptidão "características" de cada gênero? Sendo
assim, teríamos que avaliar esses alunos e alunas através de critérios
diferentes? Como professores e professoras de séries iniciais, precisamos
aceitar que os meninos são "naturalmente" mais agitados e mais curiosos do
que as meninas? E quando ocorre uma situação oposta à esperada, ou seja,
quando encontramos meninos que se dedicam a atividades mais tranquilas e
meninas que preferem jogos mais agressivos, devemos nos "preocupar", pois
isso é indicador de que esses/as alunos/as estão apresentando "desvios" de
comportamento? (LOURO 2001, p. 63 e 64)
Como temos tratado essas questões em casa, na escola e nos cursos de
licenciatura e de formação de professores e professoras?
Referências
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escola. São Paulo: contexto, 2006, 100p. Disponível em: . Acesso em:
20 mar. 2011.
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na escola? Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 121, jan./abr. 2004.
CARVALHO, Marília Pinto de . Por que tantos meninos vão mal na
escola? Critérios de avaliação escolar segundo o sexo. In: 30a Reunião
Anual da Anped, 2007, Caxambu - MG. 30ª Reunião anual da Anped: 30
anos de pesquisa e compromisso social, 2007. p. 1-15.
COSTA, Suely Gomes. Gênero e História. In:ABREU Martha e SOIHET
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de Janeiro: Casa da Palavra, 2003.
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em Gênero, Sexualidade, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais .
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Mulheres. Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
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LOURO, G L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-
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PINTO, C. R. J. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo:
Editora Fundação Perseu Abramo, 2003
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20 mar. 2011.
SCHWARTZAN,S .Tempo de Capanema.Rio de Janeiro, Paz e terra,
1948:112.
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histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, v.20, n.2,p.71-99, 1995.
SCHUMAHER, S. & VITAL BRAZIL, E. (orgs.). Dicionário Mulheres do
Brasil. De 1500 até a atualidade. Rio de Janeiro.
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O feminismo no Brasil: suas múltiplas faces
Claricia Otto
Universidade Federal de Santa Catarina
Uma história do feminismo no Brasil.
PINTO, Céli Regina Jardim.
São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2003. 119 p. (Coleção História do Povo
Brasileiro).
Céli Regina Jardim Pinto tem formação em história e é doutora em ciência
política pela Universidade de Essex, na Inglaterra. É professora na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde desenvolve suas atividades
de docência e pesquisa, tendo sido coordenadora do Programa de Pós-
Graduação em Ciência Política. Atualmente, orienta dissertações e teses e
coordena projetos de pesquisa sobre as relações entre as organizações não-
governamentais (ONGs), principalmente as ONGs feministas, a sociedade civil
e o Estado. Publicou livros e artigos no Brasil e no exterior sobre os espaços
públicos e a participação política da mulher no Brasil, além de trabalhos e livros
de análise do discurso político brasileiro.
No livro Uma história do feminismo no Brasil, organizado em quatro capítulos e
baseado em informações das escritoras do feminismo Albertina Costa, Anette
Goldberg, Mary Castro, Moema Toscano, Mirian Goldberg, Mirian Grossi,
Miriam Moreira Leite, Schuma Shumaher, Sonia Álvares e Vera Soares, Céli
Pinto sinaliza que são múltiplos os objetivos, as manifestações e as pretensões
do feminismo brasileiro. Em decorrência de ser um movimento difuso, nessa
obra, destaca as principais tendências, situando-as em dois momentos: o
primeiro, do final do século XIX até 1932, é o período tratado no primeiro
capítulo; o segundo, do feminismo pós-1968, abordado nos outros três
capítulos.
No primeiro capítulo, "Em busca da cidadania", Céli Pinto discorre sobre o
conjunto diverso de manifestações do movimento feminista, identificando duas
tendências, que tiveram início no final do século XIX e se estenderam pelas
três primeiras décadas do século XX. A primeira tendência teve como foco o
movimento sufragista liderado por Bertha Lutz. Chama essa tendência de
feminismo "bem comportado" para sinalizar o caráter conservador desse
movimento, o qual não questionava a opressão da mulher. Nesse sentido, a
luta para a inclusão das mulheres à cidadania não se caracterizava pelo desejo
de alteração das relações de gênero, mas como um complemento para o bom
andamento da sociedade.
Céli Pinto chama a segunda tendência de feminismo "malcomportado", vertente
que reúne uma gama heterogênea de mulheres (intelectuais, anarquistas,
líderes operárias) que, além do político, defendem o direito à educação e falam
em dominação masculina, abordam temas que para a época eram delicados,
como, por exemplo, a sexualidade e o divórcio. Há uma terceira vertente que a
autora chama de "o menos comportado dos feminismos", que se manifesta
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especificamente no movimento anarquista e no Partido Comunista, tendo como
expoente Maria Lacerda de Moura. Ademais, a fundação do Partido
Republicano Feminino, em 1910, a fundação da Federação Brasileira para o
Progresso Feminino (FBPF), em 1918, o jornalismo feminista e o feminismo
anarquista são tópicos tratados nesse capítulo.
Com o golpe de 1937 ocorre um longo período de refluxo do movimento
feminista que se estende até as primeiras manifestações nos anos 1970. No
entanto, isso não significa que durante esse longo período as mulheres não
tiveram nenhum papel no mundo público; muito pelo contrário, houve
momentos importantes de participação da mulher, como o movimento no início
da década de 1950 contra a alta do custo de vida, por exemplo. Céli Pinto, ao
longo dos capítulos aborda esses grupos de mulheres de forma circunstancial
em decorrência de seu objetivo principal que, segundo ela, é o de destacar os
grupos feministas, isto é, os que problematizaram e lutaram pela transformação
da condição de dominação à qual as mulheres estavam submetidas.
No segundo capítulo, "O novo feminismo nasce da ditadura", a autora centra-se
na década de 1970. A emergência do feminismo em pleno governo Médici
determinou que ele surgisse dentro e fora do país e em boa parte no exílio. Na
Europa e nos Estados Unidos havia cenários de grande efervescência política,
de revolução dos costumes, de radical renovação cultural, enquanto no Brasil o
clima era de ditadura militar, repressão e morte. As características que o
movimento feminista teve nos dois hemisférios estão intimamente ligadas a
esses cenários, sendo que os primeiros grupos feministas em 1972, em São
Paulo e no Rio de Janeiro, foram inspirados no feminismo do Hemisfério Norte.
Em 1972 ocorrem eventos que apontam para a história e as contradições do
feminismo no Brasil: o congresso promovido pelo Conselho Nacional da
Mulher, liderado pela advogada Romy Medeiros, e as primeiras reuniões de
grupos de mulheres em São Paulo e no Rio de Janeiro, de caráter quase
privado, o que seria uma marca do novo feminismo no Brasil.
A presença de Romy Medeiros indica uma espécie de transição entre o velho e
o novo feminismo, entre o que já se chamava de feminismo "bem-comportado",
à moda Bertha Lutz, e um novo feminismo "malcomportado" que começou a
enfrentar questões consideradas tabus. Entre os eventos que marcaram a
entrada definitiva das mulheres e das questões por elas levantadas, na esfera
pública, destaca-se ainda o Ano Internacional da Mulher, em 1975, decretado
pela Organização das Nações Unidas (ONU). O feminismo no Brasil se
fortalece com o evento organizado para comemorar o Ano Internacional,
realizado no Rio de Janeiro sob o título "O papel e o comportamento da mulher
na realidade brasileira", e com a criação do Centro de Desenvolvimento da
Mulher Brasileira.
Esse evento foi organizado com base em dois grupos informais e isso é
particularmente importante, pois, além de informais, esses grupos tinham
caráter privado, quase de um encontro de amigas. Foram esses grupos que se
reuniram, buscaram o patrocínio da ONU e montaram o citado evento que se
tornou um marco na história do feminismo no país. Esse evento suscitou
resistências por parte dos poderes constituídos conforme o atesta o
depoimento de uma das organizadoras: "inventamos o nome pomposo de
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'Pesquisas sobre o papel e o comportamento da mulher brasileira' para não
usar o termo 'feminista', que assustava as pessoas" (p. 57). O ano de 1975 foi
também o da organização do Movimento Feminino pela Anistia, fundado por
Terezinha Zerbini. As mulheres exiladas nos Estados Unidos e na Europa
voltavam para o Brasil trazendo uma nova forma de pensar sua condição de
mulher, em que somente os papéis de mãe, companheira e esposa (submissa
e dócil) não mais serviam.
No terceiro capítulo, "O feminismo na redemocratização", Céli Pinto centra-se
na década de 1980 e demonstra de que forma o feminismo enfrentou a
redemocratização. Diz que duas questões tiveram de ser enfrentadas: a
unidade do movimento ameaçada pela reforma partidária de 1979, que dividiu
as oposições, e a relação do movimento feminista com os governos
democráticos que viriam a se estabelecer, principalmente quando o Partido do
Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) começou a ganhar as eleições
estaduais.
Surgiram grupos feministas temáticos, como também houve espaço para o
surgimento e o desenvolvimento do que se poderia chamar de feminismo
acadêmico, ancorado no Departamento de Pesquisa da Fundação Carlos
Chagas, em São Paulo, e em pesquisas de ciências humanas e educação
realizadas nas grandes universidades do país, em algumas das quais surgiram
Núcleos de Pesquisa em Estudos da Mulher.
A partir de 1985, foram criadas as delegacias especializadas. O feminismo, as
feministas e as delegacias da mulher não resolveram a questão da violência,
mas a criação das delegacias foi um avanço na medida em que a mulher
passou a ser reconhecida como vítima de violência. O segundo tema que se
tornou central no movimento feminista a partir da década de 1980 foi a
implantação do Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM),
pelo Ministério da Saúde, que envolvia três temas: planejamento familiar,
sexualidade e aborto.
No quarto e último capítulo, "A virada do milênio", Céli Pinto aborda o
movimento feminista a partir da década de 1990, salientando, porém, que não
pretende abarcar todas as manifestações do feminismo na contemporaneidade.
Sinaliza dois cenários importantes para a identificação das novas formas que o
pensamento e o movimento feminista tomaram: o primeiro refere-se à
dissociação entre o pensamento feminista e o movimento; o segundo, à
profissionalização do movimento por meio do aparecimento de um grande
número de ONGs, a mais pública expressão do feminismo na virada do século.
Cita, como exemplos da atuação das ONGs, algumas organizações: o Centro
Feminista de Estudos e Assessoria (CCFMEA), criado em 1989, com sede em
Brasília (www.cfemea.org.br); as ações em Gênero, Cidadania e
Desenvolvimento (AGENDE), igualmente com sede em Brasília. Tanto o
CCFMEA e a AGENDE atuam na esfera da alta política. Já a Articulação da
Mulher Brasileira (AMB), criada para preparar a ida das mulheres brasileiras à
Conferência Mundial de Pequim em 1995, atua como contraponto,
assessorando e organizando os movimentos de base. Outra ONG, formada em
1991, foi a Rede Nacional Feminista de Saúde e Direitos Reprodutivos
conhecida como Rede Saúde, que congrega 110 filiadas em 20 estados. Cita
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ainda a Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação (CEPIA), a
Assessoria Jurídica (THEMIS) e o Comitê Latino-Americano e do Caribe para a
Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM). Menciona, como significativa, a
página eletrônica do Governo Federal na Internet, uma seção com informações
sobre projetos em debate no Congresso Nacional, sobre programas em
ministérios e informações em geral relativas aos direitos das mulheres
(www.redegoverno.gov.br/mulhergoverno).
Céli Pinto ressalta um tipo de organização que atua no campo da política e não
se relaciona diretamente com o Estado, mas principalmente com as mulheres
das camadas populares, organizando-as e buscando aumentar o seu poder
para agirem na esfera pública. A GELEDÉS, por exemplo, tem uma forte
atuação contra o racismo envolvendo homens e mulheres, e entre os seus
programas encontram-se as oficinas de sexualidade e saúde, o Projeto Rapper
e o SOS Corpo, de Recife. Igualmente, cita que, entre as ONGs ligadas à
Associação Brasileira de ONGs (ABONG), é possível verificar uma
multiplicidade de manifestações de mulheres em movimentos populares, em
sindicatos e em partidos políticos, que trazem para a discussão as questões
dos direitos das mulheres.
Embora saliente a importância das ONGs como uma nova forma de arena
política, Céli Pinto aponta os limites dessas organizações, como, por exemplo,
a necessidade de se guiarem pela agenda das fundações internacionais em
função dos critérios para o recebimento de fundos e a institucionalização. Faz
um alerta ao dizer que a tendência para a profissionalização por meio de ONGs
pode estar indicando a volta de um "feminismo bem-educado".
Finalizando, pode-se inferir que, ao evidenciar a existência de múltiplas
identidades e de um feminismo difuso na sociedade, Céli Pinto vislumbra que o
sujeito na história não é mais o de uma figura universal, tendo o homem como
o protagonista. A presente obra está inserida no contexto da História Social,
uma vez que a abordagem está voltada para a história das mulheres. De uma
forma didática, a autora elabora uma síntese sobre os marcos dos grupos
institucionalizados. Embora a expansão e os limites desses movimentos
organizados não sigam uma operação direta ou linear, a narrativa de Céli Pinto
segue uma forma linear ao tecer considerações sobre a existência desses
grupos, apresentando uma visão geral das várias tendências do feminismo no
Brasil. Os leitores e as leitoras, porém, têm a tarefa de nuançar os
pensamentos, a forma historiográfica em cada uma dessas tendências.
É necessário pensar tais tendências como um estudo dinâmico na política de
produção do conhecimento. A obra de Joan Scott e Judith Butler, Feminists
Theorize the Political, por exemplo, é composta de artigos nos quais se
demonstra o modo de como abordar o feminismo do ponto de vista da política e
da teoria ao mesmo tempo. Há que se ressaltar, na abordagem da autora, a
renovação teórica na ampliação dos horizontes acerca das múltiplas faces do
feminismo no Brasil, assim como a criação e a historicização das
subjetividades, o modo como as relações entre os sexos foram construídas em
determinado tempo histórico e contexto político.
Enfim, Céli Pinto preocupa-se com a vertente dos movimentos organizados
com vistas à conquista da cidadania – os movimentos feministas. A abordagem
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diz respeito às mulheres notáveis, as que se destacaram no campo da política.
Entrementes, existe a vertente das abordagens posteriores à irrupção da
história social, como, por exemplo, o enfoque ao cotidiano, ao trabalho, entre
outros. Nessa linha estão os trabalhos de Natalie Z. Davis, Michelle Perrot,
Maria Odila da Silva Dias, autoras que buscam desmistificar concepções
vinculadas à submissão e à docilidade, apontando para as táticas de
resistência e de sobrevivência encetadas pelas mulheres.
Embora esse trabalho esteja inserido nas discussões contemporâneas acerca
da história do feminismo no Brasil, as múltiplas faces desse movimento
requerem um relato mais complexo. As discussões atuais em torno das
contribuições recíprocas entre a história das mulheres e a do movimento
feminista e também das construções sociais acerca do gênero apontam para
uma maior complexidade.
Dicas de vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=gjY-K9KPXyU - Memórias de uma mulher impossível -
Cinco sobre cinco
Documentário sobre a vida e obra de Rose Marie Muraro considerada
legalmente com a Patrona do Feminismo Nacional.
Direção: Márcia Derraik.
Simone de Bouvair – documentário
https://www.youtube.com/watch?v=IrXD1Hdtqrk